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http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 O CONTEXTO CLIMATOBOTÂNICO DA BACIA HIDROGRÁFICA VAZA-BARRIS-BA E SUAS RELAÇÕES COM O PROCESSO DE DESERTIFICAÇÃO Irialinne Queiroz Rios Universidade Estatual de Feira de Santana [email protected] Raquel de Matos Cardoso do Vale Universidade Estadual de Feira de Santana [email protected] INTRODUÇÃO A Bahia possui 289 municípios classificados como Áreas Susceptíveis à Desertificação — 86,8% do território — onde vive uma população de cerca de 3,7 milhões de pessoas (BRASIL, 2004). Inserida nessa região, a Bacia Hidrográfica Vaza Barris (BHVB), com #13.272# km2, está localizada no nordeste da Bahia, entre as coordenadas 39º46’12’’ e 37º46’15’’ W e 09º36’36’’ e 10º45’43’’ S e engloba total e/ou parcialmente 14 municípios (Figura 01). Encontra-se sob a ação de clima semiárido, com forte intermitência hidrográfica (AB’SABER, 1974, 1977) e incidência de secas entre 60 e 80% na maior parte de seu território (BRASIL, 2004) que engendraram bases econômicas sustentadas predominantemente na pecuária extensiva. Por sua vez, os processos de desertificação operantes na região estão relacionados ou derivam desse contexto socioambiental. Em 1997 foi promulgada a Lei Federal Nº 9433 para instituir a Política Nacional de Recursos Hídricos e o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e, no seu artigo 1º, inciso V, a bacia hidrográfica é descrita como a unidade territorial de atuação para a referida Lei, o que demonstra sua importância para a gestão territorial dos recursos hídricos. Concordando com essa premissa e, por entender que os recursos hídricos fazem parte dos sistemas ambientais, tomar a bacia hidrográfica como uma unidade de análise 2670

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O CONTEXTO CLIMATOBOTÂNICO DA BACIAHIDROGRÁFICA VAZA-BARRIS-BA E SUAS

RELAÇÕES COM O PROCESSO DEDESERTIFICAÇÃO

Irialinne Queiroz Rios

Universidade Estatual de Feira de Santana

[email protected]

Raquel de Matos Cardoso do Vale

Universidade Estadual de Feira de Santana

[email protected]

INTRODUÇÃO

A Bahia possui 289 municípios classificados como Áreas Susceptíveis à

Desertificação — 86,8% do território — onde vive uma população de cerca de 3,7 milhões de

pessoas (BRASIL, 2004). Inserida nessa região, a Bacia Hidrográfica Vaza Barris (BHVB), com

#13.272# km2, está localizada no nordeste da Bahia, entre as coordenadas 39º46’12’’ e

37º46’15’’ W e 09º36’36’’ e 10º45’43’’ S e engloba total e/ou parcialmente 14 municípios

(Figura 01). Encontra-se sob a ação de clima semiárido, com forte intermitência hidrográfica

(AB’SABER, 1974, 1977) e incidência de secas entre 60 e 80% na maior parte de seu território

(BRASIL, 2004) que engendraram bases econômicas sustentadas predominantemente na

pecuária extensiva. Por sua vez, os processos de desertificação operantes na região estão

relacionados ou derivam desse contexto socioambiental.

Em 1997 foi promulgada a Lei Federal Nº 9433 para instituir a Política Nacional

de Recursos Hídricos e o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e, no seu

artigo 1º, inciso V, a bacia hidrográfica é descrita como a unidade territorial de atuação para

a referida Lei, o que demonstra sua importância para a gestão territorial dos recursos

hídricos. Concordando com essa premissa e, por entender que os recursos hídricos fazem

parte dos sistemas ambientais, tomar a bacia hidrográfica como uma unidade de análise

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espacial requer a adoção de uma abordagem sistêmica e se justifica na necessidade de se

considerar, além da rede de drenagem, os diferentes elementos da paisagem que a

compõe: solos, relevo, vegetação, clima, bem como a ação antrópica — uma vez que esta

ocasiona alterações na dinâmica natural — visto a estrita dependência, reciprocidade e

relações entre eles. Botelho (1999, apud VITTE et al, 2007) ratifica a ideia ao afirmar que

diversos pesquisadores chamam a atenção para a bacia hidrográfica como uma unidade

natural da superfície terrestre, na qual é possível reconhecer e estudar as inter-relações

existentes entre os diversos elementos da paisagem e os processos que atuam na sua

esculturação, tal como a erosão. Por sua vez, por via de conceituação, (GUERRA et al, 1999

apud SACRAMENTO, 2005 ) a bacia hidrográfica é reconhecida como unidade natural,

correspondendo a uma determinada área da superfície terrestre, cujos limites são criados

em função da drenagem — escoamento superficial e subsuperficial das águas. Num outro

âmbito, a bacia hidrográfica pode ser vista como recurso natural dotado de valor, de acordo

com o uso que dela pode ser feito.

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Figura 1

Para Lima e Zakia (2000, apud TEODORO et al, 2007) as bacias hidrográficas são

sistemas abertos, que recebem energia através de agentes climáticos e perdem energia

através do deflúvio, podendo ser descritas em termos de variáveis interdependentes, que

oscilam em torno de um padrão, e, desta forma, mesmo quando perturbadas por ações

antrópicas, encontram-se em equilíbrio dinâmico. Assim, qualquer modificação no

recebimento ou na liberação de energia, ou modificação na forma do sistema, acarretará em

uma mudança compensatória que tende a minimizar o efeito da modificação criada e a

restaurar o estado de equilíbrio dinâmico. No entanto quando essa restauração ou

capacidade de resiliência do sistema não é alcançada, o estado de equilíbrio é rompido,

acarretando em processos de dano e de degradação da bacia hidrográfica.

Dada à importância vital da água é interessante considerar, nos estudos sobre

áreas em desertificação, os recursos hídricos e a degradação ambiental, abordados sob o

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entendimento da bacia hidrográfica como unidade físico-territorial própria para a gestão e

planejamento ambiental (NASCIMENTO, 2010) em especial por se tratar de um domínio

climático onde a água é elemento escasso. Junto a isso, levantar questões sobre manejo do

solo e conservação da cobertura vegetal também se mostram pertinentes.

A desertificação é um processo de degradação aguda que atinge as regiões

áridas e semiáridas, primeiras a serem povoadas em toda a história humana e, em muitas

delas, ergueram-se impérios e majestosas civilizações que forjaram a moderna cultura

ocidental e oriental (MATALLO JR, 2001). Tomando como exemplo o Brasil, observa-se que a

exploração extrativista e a dinâmica de produção do período colonial, trouxeram como

resultado, o isolamento das populações e das economias coloniais dos processos

capitalistas emergentes, baseados na crescente incorporação de tecnologias voltadas para o

aumento da produtividade e da produção. O autor ainda destaca que, por outro lado, as

economias coloniais se mantiveram em escalas de subsistência, com baixos níveis de

tecnologia e capitalização e, portanto, sem as condições mínimas para o desenvolvimento,

ou seja, atraso tecnológico e instauração de um padrão de exploração dos recursos naturais

insustentáveis, face às demandas a que deveriam atender. Um período marcado por ações

que contribuíram para ampla degradação ambiental, que se prolonga por mais de

quinhentos anos, em detrimento de ainda tímidas práticas sustentáveis.

O semiárido brasileiro apresenta susceptibilidade natural ao processo de

desertificação, não só em função do clima, mas também das classes de solo, mas os

principais fatores são as ações humanas, em virtude do manejo inadequado e insustentável

dos recursos naturais (SOARES et al., 2011). Ou seja, a degradação ambiental não só se

manifesta pela sensibilidade natural do sistema, mas pelos setores produtivos do meio

rural.

Adotado na Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação

(ONU/CCD, 1994), a degradação da terra refere-se à redução ou perda, nas zonas áridas,

semiáridas e subúmidas secas, da produtividade biológica ou econômica das lavouras

irrigadas, terras agrícolas ou grama, pasto, floresta e matas, resultantes de utilizações da

terra, ou a um processo ou combinação de processos, incluindo os que resultam de

atividades humanas e padrões de habitação, tais como, erosão do solo causada pelo vento

e/ou água; deterioração do produto químico, físico e biológico ou propriedades econômicas

e de solo; e, em longo prazo, perda de vegetação natural. Esta compreensão ampla e

integrada da natureza da degradação ambiental orientou os estudos sobre o contexto

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climatobotânico da BHVB e a identificação das formas em que se manifestam processos de

desertificação a ele associados.

Para tanto foi necessário analisar a cobertura vegetal e da terra (BRASIL, 2006)

por meio da fotointerpretação das imagens do sensor Landsat 5 TM em diferentes datas —

216/67 de 01.2007; 215/67 de 12.2006; 216/67 de 11.2008; 215/67 de 11.2008 — para

permitir avaliar as variações sazonais, pois o padrão das coberturas em região semiárida,

responde com muita evidência aos condicionantes climáticos. Após recortar a área da bacia

nas imagens, foram geradas composições coloridas, recorrendo ao ArcMap 10, a fim de

identificar a cobertura vegetal e da terra, bem como, superfícies em diferentes dinâmicas e

degradações. Optou-se por aplicar o Índice da Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI),

por ser mais adequado à localização geográfica tropical da bacia. Para este fim foi utilizado o

software ENVI 4.7.

O CONTEXTO CLIMATOBOTÂNICO NA BACIA HIDROGRÁFICAVAZA-BARRIS

A BHVB encontra-se em contato geológico de rochas Pré-cambrianas e

Mesozóicas, com ocorrências ígneas do Proterozóico Superior já bastante arrasadas e

pediplanadas, e tabuleiros dissecados onde afloram os sedimentos cretáceos da Bacia

Sedimentar Recôncavo-Tucano. Sob tais circunstâncias têm-se relevos fortemente

contrastados por estes fatores litoestruturais. A configuração climática do nordeste

brasileiro, elucidada inicialmente por Nimer (1989) está relacionada a quatro sistemas

atmosféricos oriundos de norte, leste, sul e oeste. Trabalhos mais recentes (MOLION e

BERNARDO, 2000, 2002; FERREIRA e MELLO, 2005; DANNI-OLIVEIRA e MENDONÇA, 2007;

MARENGO, 2008) atribuem a semiaridez regional à subsidência e inversão psicrotérmica, ou

seja, forte inversão de temperatura e de umidade, que ocorre sobre a região. A ZCIT e os

sistemas frontais inibem esta dinâmica e produzem chuvas. Perturbações ondulatórias nos

alísios, mais frequentes nos anos de La Niña, associadas às brisas de mar e de terra,

constituem mecanismos de mesoescala importantes para as chuvas locais e são

responsáveis por 30% a 40% dos totais anuais.

O regime pluviométrico na BHVB apresenta chuvas concentradas nos meses de

fevereiro a maio e seca de agosto a outubro, período marcado por NDVI muito baixo (-0.40 –

0.08, Figura 1). As maiores temperaturas na região da bacia encontram-se distribuídas entre

novembro e março, sendo janeiro e dezembro os meses mais quentes. A variação das

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médias anuais, de acordo com o balanço hídrico (BAHIA/SEI, 1999) está entre 22,7ºC e

24,6ºC, ou seja, baixa amplitude térmica anual. Apesar de janeiro e dezembro serem sempre

os meses mais quentes, não é necessariamente os mais chuvosos, o que confirma a

influência de outros elementos na dinâmica da atmosfera, nos diferentes setores da bacia,

pois as maiores precipitações ocorrem em fevereiro, março e maio. Assim, dezembro, mês

do solstício de verão, onde tem início a maior incidência de radiação solar sobre a região,

pode trazer fortes chuvas para o verão. Para Marengo (2011, pg. 388) “as variabilidades

temporais e espaciais das precipitações pluviométricas constituem uma característica

marcante do clima da região nordeste do Brasil, em particular sobre a porção semiárida”.

Janeiro e dezembro, na maioria dos municípios, são também os meses de maior

Evapotranspiração Potencial (EP), o que acarreta em maior perda de umidade para os

sistemas solo-planta e hídrico.

O mapa de isoietas e hipsometria (Figura 02) demonstra que há diferença

pluviométrica significativa na região — os maiores índices, entre 700 e 900mm, são

concentrados na porção leste da BHVB, de barlavento e de menor continentalidade. Ou seja,

os tabuleiros que ocupam o centro da bacia, com 776 a 926m de altitude, tornam-se uma

barreira à passagem de correntes atmosféricas úmidas para as depressões à oeste da bacia,

tornando-as mais secas, com valores pluviométricos entre 400 e 500mm. As repercussões

destas características climáticas regionais se refletem e podem ser entendidas pela análise

sazonal do NDVI.

A partir de uma análise conjunta da paisagem, compreende-se que as

características climáticas e geomorfológicas delimitam os tipos de vegetação, em função da

presença de tabuleiros, depressões e serras. VELOSO (2013) identificou nas superfícies

arrasadas do interior do nordeste brasileiro, a formação de caatinga caducifólia espinhosa,

condicionada às chuvas muito irregulares da frente intertropical de verão, sujeita a

prolongados períodos de estiagem; nos tabuleiros arenosos, caatinga arbustiva entremeada

por elementos arbóreos; nas depressões, caatinga arbustiva com raros elementos arbóreos;

e caatinga dos “inselbergs” e depressões, com caatinga em moitas esparsas recortadas por

crassos espinhosos.

A caatinga reveste um solo que, na época das chuvas, é protegido por incipiente

cobertura rasteira e, na estação seca, aflora nu entre profusa ramificação desfolhada, onde

a insolação e as enxurradas são os componentes da dinâmica de erosão em lençóis d’água

(VELOSO, 2013). É desta forma que a caatinga se constitui um ambiente ecologicamente

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vulnerável aos processos erosivos de perda solo. Apesar de compreender formações

caducifólias com serrapilheira, a umidade necessária para sua decomposição química é

baixa e não possibilita maior agregação dos nutrientes no solo, e, ao mesmo tempo, boa

parte é perdida por enxurradas.

Figura 2: Mapa de isoietas sobre hipsometria - BHBV

As mudanças sazonais que acompanham a dinâmica temporal da vegetação

podem ser observadas de modo mais claro por meio da análise comparativa entre as duas

estações que caracterizam a região. A Figura 3 mostra que os valores do NDVI no período

chuvoso são mais elevados (0.28 - 0.70), correspondendo a uma maior atividade

fotossintética da vegetação. Na ausência de chuvas (Figura 4) esses valores são muito

menores (-0.40 – 0.08), ampliando a área com baixa, ou quase nula, atividade da vegetação

— árvores desfolhadas e/ou solos expostos.

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Figura 3: Mapa do NDVI da BHVB no período chuvoso (01/2007 – 12/2006).

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Figura 04 – Mapa do NDVI da BHVB no período (11.2008 – 11.2008)

Entende-se que as áreas onde os valores de NDVI se mantêm elevados em

ambos os períodos — chuvoso e seco — podem constituir estratos de vegetação com baixa

caducifolia na estação seca, podendo ser setores mais úmidos ou menos secos. Da mesma

forma, áreas onde os valores de NDVI permanecem baixos no período chuvoso,

correspondem a solos expostos, lajedos, ou afloramentos, e/ou à caatinga sensu stricto com

alto grau de caducifolia. No entanto, as variações na intensidade da atividade fotossintética

podem estar associadas a fatores diversos, desde as características da cobertura vegetal, as

quais podem se diferenciar a partir da influência do relevo e dos solos ou dos

condicionantes climáticos, aos diferentes usos da terra nas várias porções da bacia.

USO E COBERTURA DAS TERRAS

Na escala de mapeamento deste estudo (1:150.000) foi possível discriminar 15

(quinze) classes de uso e cobertura das terras. Considerando que foi visualizado nas

imagens e verificado em levantamentos de campo a existência de superfícies erosivas

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passíveis de vetorização, optou-se por incluí-las no mapa. Esta decisão permitiu localizar

espacialmente tais superfícies e demonstrar a degradação dos solos da BHVB,

requalificando o trabalho de interpretação do mapa, tornando-o, mesmo que de forma

incipiente, um mapa para análise integrada.

Figura 5: Mapa de uso, cobertura e degradação dos solos na BHVH

O processo de vetorização das classes foi realizado por fotointerpretação das

imagens Landsat 5 TM, considerando as feições e elementos identificados, utilizando

algumas propriedades das imagens como, cor, textura e rugosidade. O mapa do NDVI foi

muito importante por exibir as diferenças sazonais na densidade da cobertura vegetal e,

desta forma, proporcionar melhor controle na interpretação das classes, sobretudo das

caatingas.

Em termos quantitativos, é predominante a classe Agropecuária, recobrindo

38,5% da bacia, distribuída em áreas de baixa declividade, entre 0 e 10% (RIOS e VALE, 2014).

Nestes espaços agro-ocupados são encontrados os mais baixos valores de NDVI (0.0 a 0.08)

tanto no período seco quanto no chuvoso, o que expressa menores índices de atividade

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fotossintética da cobertura vegetal e acentuada antropização. A agropecuária caracteriza-se

como uma matriz da paisagem na porção leste da bacia, principalmente sobre os

pedimentos da depressão sertaneja, entrecortada por manchas de remanescentes de

caatinga, que correspondem a aproximadamente 5% da área mapeada. A classe é

identificada também junto à borda oeste dos tabuleiros, onde existem declividades mais

suaves, diferentemente da borda leste, na qual acontece uma ruptura mais abrupta (RIOS e

VALE, 2014). Essa morfologia permite uma dinâmica de deposição de material

detrítico-sedimentar em pedimentos funcionais, nas partes mais deprimidas do relevo

(borda leste dos tabuleiros), caracterizando áreas aplainadas e com solos propícios para

desenvolver a agricultura. Identificou-se em campo grande número de propriedades que

praticam agricultura de sequeiro e familiar.

As caatingas ocupam 52,2% da BHVB, mas apresenta diferenças

fitofisionômicas , sobretudo quanto à densidade, estratificação e altura do dossel, bem

como de sua composição florística, aspectos que possibilitaram distinguir 04 classes.

A Caatinga Arbórea-arbustiva com muito alta antropização, recobre 22,3% da bacia

e está restrita ao seu alto curso, municípios de Uauá, Canudos e Jeremoabo. Caracteriza-se

por baixa, ou ausência de cobertura vegetal, devido à pecuária extensiva, além de

apresentar os mais baixos índices pluviométricos da bacia (Figura 2). A criação de caprinos e

ovinos é dominante, ocupa todos os espaços e é praticada em meio à caatinga, sem que

haja significativa supressão da vegetação, porém existem inúmeras manchas de solo

totalmente exposto e que não se recompõe na estação chuvosa. Os mapas do NDVI

demonstram esta situação que pode ser interpretada como resultante da maior aridez —

precipitações entre 400 e 500 mm anuais — solos mais pedregosos e caatingas mais

rústicas, do tipo hiperxerófila, com presença de cactáceas e bromeliáceas, que, numa ação

conjunta, impuseram uma menor capacidade de resiliência da vegetação, nesse setor da

bacia.

A Caatinga Arbórea-arbustiva com alta antropização, que ocupa 13,5% da bacia, e a

Caatinga Arbórea-arbustiva com média antropização, 5,3%, foram separadas levando-se em

conta, sobretudo, as características espectrais das imagens — textura e cor — que

permitiram identificar superfícies mais ou menos vegetadas. O NDVI foi muito relevante para

separar essas duas classes. Esta caatinga ocorre nas bordas e encostas dos tabuleiros e, na

dependência das declividades e da incidência da pecuária extensiva caprina e bovina,

podem apresentar maior ou menor superfície pisoteada e exposta à erosão e radiação solar

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direta.

Sobre os topos tabuleiros ocorre Caatinga Arbórea-Arbustiva com baixa

antropização, onde a densidade da cobertura é diretamente proporcional à altitude,

ocupando em conjunto, aproximadamente, 6,1% da área da bacia. Os espaços ocupados por

estas caatingas constituem parte dos maiores fragmentos deste bioma na região nordeste

da Bahia, por ser adaptado às chuvas irregulares e temperaturas elevadas, bem como às

condições morfopedológicas do semiárido. Parte desta caatinga encontra-se protegida na

Estação Ecológica Raso da Catarina, o que explica sua maior primitividade, apesar da ainda

presença de gado solto dentro dos seus limites.

Os Remanescentes de caatinga ocorrem sobre serras e constituem formações

arbustivas com presença de cactáceas, bromeliáceas e palmeiras, que se distribuem em

5,0% da área da bacia. Estas serras apresentam neossolos litólicos e pedregosidade, comum

na borda leste da bacia, cujo contexto ambiental, em conjunto com o grau de antropização,

ainda não provocou níveis elevados de degradação. Tais remanescentes, visualizados

também em campo, apresentam-se conservados, no entanto, podem também deixar de

existir em curto ou médio período de tempo, devido à sua dimensão espacial muito

pequena e ao seu isolamento espacial.

A classe Serras e afloramentos rochosos compõem 2,8% da área da bacia,

apresentando ora uma cobertura de caatinga com NDVI alto (0.4 a 0.7), mesmo em período

seco, ora valores muito baixos (-0.4 a 0.08) na porção oeste da bacia. A persistência destes

relevos rochosos está associada aos fatores geológicos — lineamentos estruturais derivados

de falhas (inversas e/ou de empurrão) em gnaisses, xistos, quartzitos e mármores do Gr.

Macururé (BAHIA, 1978). Encostas rochosas de alta declividade favorecem processos

termoclásticos e formação de tálus, sobre os quais, há certo adensamento da caatinga

arbustiva e arbórea.

Em menor dimensão espacial, apenas 0,2% da bacia, ocorre a classe Vegetação

de fundo de vale, desenvolvida nas ravinas, por vezes profundas, que recortam as encostas

dos tabuleiros. Destaca-se por apresentar uma cobertura vegetal mais densa do que sua

área de entorno, o que mantém, de certo modo, o equilíbrio ambiental da unidade, uma vez

que, a vegetação desacelera a erosão remontante. Assim, esperam-se ocorrer solos melhor

estruturado e maior potencial de recarga hídrica para a rede de drenagem.

A Agricultura irrigada, praticada em somente 0,5% da bacia, é atividade

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econômica rural muito relevante. É desenvolvida em propriedades de melhor infraestrutura

rural, no médio curso do rio Vaza-Barris — trecho mais largo do seu vale — aproveitando o

potencial dos solos da planície aluvial. A captação é feita diretamente no rio e é utilizada nos

cultivos de pimentão, tomate, cebola, melancia, milho e feijão, cuja produção é

comercializada na região. As práticas de manejo dessas culturas incluem adubação química

e defensivos e, no preparo do solo, máquinas agrícolas convencionais.

A classe Superfície de erosão remontante foi nitidamente identificada por meio das

cicatrizes de erosão dispostas nos tabuleiros. Ocorrem em 2,5% da bacia, sobre áreas

elevadas (561 – 650 m) e de maiores declividades (25 – 80%) em solos arenosos friáveis

(RIOS e VALE, 2014) fatores que promovem o recuo pluvial das cabeceiras das ravinas. Este

processo está relacionado à presença de conglomerados, arenitos e folhelhos da Formação

Marizal (BAHIA, 1978), cujas fácies mais inconsolidadas concorrem para maior erosão, que

desagrega os conglomerados e gera extensa cobertura rudácea de baixo NDVI (0,0 a 0,08).

As Superfícies de incisão linear localizadas ao sul do açude de Cocorobó, em

Canudos, correspondem ao que foi denominado por Ab’Saber (1977) como Altos Pelados

“interflúvios desnudos das colinas rasas, nos quais mais de 80% da cobertura vegetal foi

retirada, favorecendo a remoção da camada superficial do solo e o aparecimento de

fragmentos de quartzo”. Estas superfícies pedregosas exibem também afloramentos de filito

muito resistentes, vegetação esparsa predominantemente arbustiva, e sulcos difusos e

ramificados, que evoluem para ravinas. Apesar de corresponder a apenas 1% da bacia,

revela dinâmicas geomorfológicas importantes para se pensar no processo de

desertificação. A ocupação da bacia por rebanhos caprinos, ovinos e bovinos, promoveu

processos de erosão sobre solos friáveis, tornando-os fortemente vulneráveis à

morfogênese, que pode evoluir para desertificação.

Pode se considerar que a Mata ciliar inexiste, pois apenas 0,7% da bacia

apresenta algum tipo de vegetação ripária, cuja importância é vital para o fluxo gênico da

fauna e dispersão da flora. Constituem faixas estreitas e descontínuas de pouca relevância

ecológica e geomorfológica, considerando-se o regime sazonal do clima da região.

CONCLUSÃO

Os limites interfluviais da BHVB circunscrevem espaços biofísicos

significativamente diferenciados, os quais abrigam atividades produtivas dependentes das

características locais destes espaços. Dentre elas têm-se os totais pluviométricos que

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incidem na bacia — 700 a 900mm na porção leste e 400 a 500mm na oeste, relacionados à

barreira orográfica imposta pelos tabuleiros que ocupam o centro da bacia, com 776 a 926m

de altitude. As repercussões derivadas se refletem nas tipologias da cobertura das terras,

sobretudo, na fitofisionomia das caatingas e na produção do espaço, identificadas por meio

da análise sazonal do NDVI. Os valores do NDVI no período chuvoso são mais elevados (0.28

a 0.70), correspondendo a uma maior atividade fotossintética; no seco são muito menores

(-0.40 a 0.08) o que indica a magnitude da redução pluviométrica e dos efeitos da

sazonalidade sobre a vegetação. As superfícies vegetadas, total ou parcialmente

desfolhadas, as áreas de cultivo abandonadas, e os solos expostos, têm suas áreas

ampliadas, de tal forma, que os registros espectrais nas imagens de satélite, não deixam

dúvidas quanto à dimensão da sazonalidade presente na região.

Setores onde o NDVI se mantém elevado tanto na estão chuvosa quanto na seca

correspondem à caatinga com baixa caducifolia, podendo ser menos secos. Da mesma

forma, onde os valores de NDVI permanecem baixos no período chuvoso, correspondem a

solos expostos, lajedos, ou afloramentos, e/ou à caatinga sensu stricto ou com alto grau de

caducifolia. No entanto, as variações na intensidade da atividade fotossintética podem estar

associadas a fatores diversos, desde as características da cobertura vegetal, as quais podem

se diferenciar a partir da influência do relevo e dos solos, até aos diferentes usos da terra

nas várias porções da bacia.

A agropecuária é a atividade produtiva mais importante, em especial a pecuária

extensiva de caprinos, ovinos e, secundariamente de bovinos, e é praticada em 38,5% da

área da bacia, principalmente sobre os pedimentos da depressão sertaneja. Nestes espaços

são encontrados os mais baixos valores de NDVI (0.0 a 0.08) tanto no período seco quanto

no chuvoso, o que indica acentuada antropização. O manejo extensivo da pecuária

fragmenta a caatinga e “preserva” remanescentes em manchas irregulares, que

correspondem a aproximadamente 5% das áreas ocupadas. As caatingas — em diferentes

graus de antropização — ocupam 52,2% da bacia, mas apresenta importantes diferenças

fitofisionômicas, sobretudo quanto à densidade, estratificação e diâmetro do dossel, bem

como de sua composição florística. A capacidade de resiliência dessa vegetação depende de

vários fatores — relevo, solos e distribuição das chuvas — bem como do tipo de manejo

praticado nas atividades rurais.

É neste cenário que o processo de desertificação tem início. Constata-se que na

BHVB este processo é derivado de variáveis que envolvem desde a fragilidade ecológica e

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morfoclimática, até às atividades produtivas rurais, que em conjunto, aceleram a

degradação ambiental, reduzem a resiliência dos sistemas socioambientais e geram uma

dinâmica que retroalimenta e perpetua os danos que vêm atingindo a bacia. Processos mais

evidentes foram mapeados — superfícies de erosão remontante e de incisão linear — que

apesar de atingirem uma pequena área da bacia, menos de 4,0%, constituem processos

areolares persistentes e muito ativos, que têm gerado chãos pedregosos intitulados Altos

Pelados, por Aziz Ab’Saber, já em 1977.

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O CONTEXTO CLIMATOBOTÂNICO DA BACIA HIDROGRÁFICA VAZA-BARRIS-BA E SUAS RELAÇÕES COM O PROCESSO DE DESERTIFICAÇÃO

EIXO 6 – Representações cartográficas e geotecnologias nos estudos territoriais e ambientais

RESUMO

A dinâmica de fragmentação da vegetação no semiárido é fator para pensar a desertificação. A

caatinga constitui ambiente vulnerável à erosão do solo e exposição da superfície aos efeitos

desagregadores da chuva. Os restos orgânicos necessitam de chuva e longo tempo para

decomposição, e podem permanecer íntegros na seca. Contudo, as chuvas torrenciais os remove

por lençóis d’água e inviabiliza sua incorporação aos solos. Assim, a evolução intrínseca

solo/planta torna-se comprometida. Nesse cenário, investiga-se a desertificação, à luz do contexto

climatobotânico e da dinâmica dos usos das terras e dos remanescentes de caatinga, essenciais

na análise da degradação dos solos e da irreversibilidade do processo.

Para avaliar a cobertura vegetal foram interpretadas imagens Landsat 5 nos períodos seco e

chuvoso por condicionarem a tipologia e o padrão de cobertura vegetal, e criado o Índice da

Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI). Os valores encontrados mostraram-se concordantes

com as realidades observadas na bacia. Com esse resultado e composições coloridas foi

construído o mapa de uso e cobertura das terras, recorrendo ao ArcMap 10, a fim de identificar

áreas em diferentes dinâmicas e níveis de degradação.

Em termos quantitativos predominou a Agropecuária, que recobre mais de 38% da bacia,

distribuídas em áreas de baixa declividade — entre 0 e 10% — e isoietas entre 400 – 500 mm.

Nessa, são encontrados os mais baixos NDVI (0.0 a 0.08) em ambas as estações, o que expressa

baixa, ou mesmo ausente, atividade fotossintética e acentuada antropização. A pecuária, com

supressão da vegetação, acelera o processo de erosão e perda do solo por processos pluviais

que carreiam o horizonte superficial, o mais fértil do manto pedológico, reduz o potencial de

produtividade e compromete a vegetação, inclusive de gramíneas. Estas são dinâmicas que

demonstram a fragilidade do sistema ambiental local/regional que, sob pressão antrópica, tem

desenvolvido processos de desertificação.

A segunda maior classe — Caatinga Arbóreo-Arbustiva com antropização muito elevada —

recobre mais de 22% da BHVB, restrita aos municípios de Uauá, Canudos e Jeremoabo.

Caracteriza-se por baixa ou ausência de vegetação, devido à pecuária extensiva predominante,

além de apresentar os mais baixos índices pluviométricos (400 – 500 mm). As áreas que

mantiveram altos valores de NDVI (0.41 – 0.70) e os mais baixos níveis de antropização, em ambos

os períodos, correspondem à Caatinga Arbóreo-Arbustiva (25% da bacia). A Caatinga

Arbóreo-Arbustiva com antropização média, Caatinga Arbóreo-Arbustiva com antropização alta,

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Agricultura Irrigada, Vegetação de fundo de vale, Serras e afloramentos rochosos, Superfície de

erosão remontante, Remanescentes de caatinga, Superfície de incisão linear, Mata Ciliar, atingem

15% da bacia.

A análise do processo de desertificação nessa bacia reúne variáveis que envolvem desde a

fragilidade ambiental natural morfoclimática, até às formas com que as atividades econômicas

rurais têm sido realizadas. Aceleram a degradação ambiental, via supressão da cobertura vegetal

e do manejo inadequado, bem como, há carência de tecnologias sociais capazes de estabelecer,

de forma eficiente, a convivência com o semiárido. Por consequência tem-se a geração de uma

dinâmica em cadeia que se retroalimenta e perpetua os aspectos negativos e danosos ao sistema

ambiental.

Palavras-chave: Cobertura vegetal, uso das terras, sistema ambiental.

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