Condenados a crescer

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    Condenados a crescer

    Marcos Gouva de Souza ([email protected]), diretor geral

    da GS&MD Gouva de Souza

    A histria parece se repetir. No ltimo trimestre de 2008 o mundo

    tambm vivia o agravamento da crise financeira que havia se

    iniciado com os problemas do mercado imobilirio e que se

    alastrou posteriormente para todo o sistema financeiro, quebrando

    bancos e espalhando suas consequncias, sentidas at hoje, por

    outros mercados.

    Os pessimistas de planto, economistas e jornalistas, com raras e

    honrosas excees, imediatamente sinalizaram as dramticas

    repercusses que haveria imediatamente no Brasil. Uma busca

    nos ttulos e nas matrias da poca vai mostrar quem foram os

    arautos do caos naquele momento.Naquele momento a massa salarial continuava se expandindo, o

    crdito ao consumo crescia e, de fato, o que se alterou foi a

    confiana do consumidor, impactada pela dimenso dos

    problemas que se aproximavam. Ao final do ano a massa salarial

    havia crescido 6,9%, o PIB evoluiu 5,1%, o consumo das famlias

    4,1% e as vendas do varejo 9,1%, apesar da perda de ritmo noltimo trimestre.

    A ao do governo, com planos de estmulos e reduo de

    impostos; e mais as empresas e entidades preocupadas com

    essas perspectivas se mobilizaram para criar um quadro de

    reverso desse comportamento, movimento que poca se

    convencionou chamar de Marolinha, homenagem forma como

    o presidente reagiu ao tsunami financeiro global.

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    O consumo e as vendas andaram de lado, com menor

    crescimento, at o primeiro trimestre de 2009. A partir da o ano

    teve um excelente desempenho, tendo o varejo crescido 5,9%

    sobre a expanso de 9,1% do ano anterior e, apesar do

    crescimento negativo do PIB de 0,2%, com evoluo de 7% do

    consumo das famlias naquele ano.

    O fator mais relevante para esse soluo vivido pela economia e o

    consumo foi a mudana da confiana do consumidor, abalada

    durante a internalizao da crise global e que durou at o primeiro

    semestre de 2009.

    O quadro atual lembra demais esse perodo. A crise agora na

    Europa e, mais do que os bancos, so os pases que enfrentam

    os principais problemas. Espanha, Portugal, Grcia e Itlia, por

    enquanto, tm que mostrar como iro pagar a conta dos

    descontroles e de uma poltica social liberal e insustentvel.

    E, evidentemente, o potencial risco de envolvimento global grande, porm menor do que quando o problema envolvia os

    Estados Unidos, por ser a maior economia do mundo e aquela

    com maior interconexo com outros pases.

    Para compensar esse quadro, o fato de que a China assume um

    papel cada vez mais decisivo no cenrio global. O potencial risco

    para o Brasil existe e sempre existir, mas a realidade dosnegcios no mundo real mostra um cenrio absolutamente

    distinto, ainda que com algum ajuste de curto prazo.

    As vendas do varejo continuam se expandindo, apoiadas no

    crescimento de consumo das famlias impulsionado pela

    expanso de 6% da massa salarial, da oferta de crdito e do nvel

    de emprego. Mais uma vez, a Confiana do Consumidor tem

    papel decisivo e no perodo de agosto e setembro reduziu-se,

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    induzindo os consumidores a uma postura mais cautelosa de

    compras, em especial nos bens durveis, mais dependentes do

    crdito de longo prazo. J a partir de outubro, parece se iniciar um

    novo ciclo de melhoria do humor do mercado que pode sinalizar

    boas vendas no perodo do Natal, mas que dever mostrar um

    ndice de crescimento inferior mdia do ano, de 7% at

    setembro.

    Com a continuidade da expanso da massa salarial, pelo aumento

    da renda real das famlias e do emprego, associada com a oferta

    de crdito e a melhoria da confiana do consumidor, estamos

    condenados a crescer (como disse um amigo recentemente)

    tambm em 2012-2014, talvez em ndices inferiores ao passado

    recente, mas positivos e relevantes em escala global.

    Sem dvida esse crescimento no se far homogneo para todos

    os setores econmicos, com claros problemas para alguns setores

    industriais, nem em todas as regies brasileiras. Mas, aindaassim, desafiando o pessimismo de muitos, talvez at mesmo da

    maioria, estamos condenados a crescer.