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Condição humana contra “natureza” Adriana Cavarero Judith Butler

Condição Humana Contra Natureza

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Condição Humana Contra Natureza

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  • Condio humana contra naturezaAdriana CavareroJudith Butler

  • Cavarero:

    A humanidade como abstrata e universal

    Inumano x No-humano

    como se a natureza humana fosse uma questo que no tem a ver com o lugar da espcie humana na classificao do mundo dos seres vivos, mas sim com o modo como os humanos desvelam para si mesmos o paradoxo da sua humanidade

  • Butler:

    Qual o significado de natureza humana?

    Humano, segundo Aristteles, definido em contraposio ao animal, mas, sem deixar de s-lo.

    Provavelmente importa mais observar que o in-humano acaba sendo usado, por exemplo, tanto para descrever a crueldade do torturador, quanto o estado a que a vtima torturada reduzida

  • [...] o inumano que pertence ao humano como sua extrema, mas constitutiva possibilidade.

    O ser humano enquanto vulnervel e a violncia como inscrita de maneira essencial na condio humana.

    Cristo figura como representatividade do humano essencialmente vulnervel

  • Cristo como representante no s da vulnerabilidade humana mas, tambm, [d]a superao final da fragilidade e mortalidade humana mediante a promessa da volta a Deus

    A vulnerabilidade implica numa obrigao tica, de encontrar condies onde essa vida frgil possa prosperar. Por outro lado, essa mesma vulnerabilidade precisamente o que nos torna propensos violncia e tambm s prticas que nos envolvem na perspectiva de destruio da prpria vida.

    A conservao do self faz com que o humano seja vulnervel e agressivo, e uma vez que esse acontece no contexto da relacionalidade, deve-se canalizar sua violncia para fins construtivos.

  • A vulnerabilidade no s torna cada ser humano exposto violncia do outro, mas transforma cada outro em vtima potencial de sua prpria violncia

    A tortura seria [...] o paradoxo de um trabalho em favor da desumanizao do humano que, mesmo assim, confirma o humano enquanto essencialmente vulnervel.

    Pergunta: [Q]ualquer conceito natural de self excluir necessariamente a prpria condio humana da esfera da tica?

  • Resposta: [H] uma verso da psicanlise, alis atualmente bastante prevalecente, que rejeita o estado natural dos impulsos do self, ao mesmo tempo que rejeita o estatuto de cientificidade para a teoria psicanaltica

    Se existe agressividade na criana (naturalizao da violncia), ela existe devido ao contexto relacional do cuidado.

    Nem a propenso para destruir e nem a responsabilidade tica para com o outro so partes integrais de uma natureza humana, singular em cada indivduo: todas dependem de um contexto relacional.

    Papel da tica psicanaltica: dar conta da ansiedade trabalhando com ela, cultivando-a e refletindo sobre ela. Isso atravs do reconhecimento do medo de que o outro seja eu mesmo, querendo eu expeli-lo ou incorpor-lo.

  • O risco do [...] discurso que insiste na necessidade de que o adulto supere a assimetria prpria das relaes da infncia reforando o conceito de que a autonomia do self reforaria uma evoluo necessria a idias de independncia (do outro, no contexto relacional)

    A dependncia , ento, central para a tica da relao e que o self tambm constitudo por essa dependncia que no age apenas na infncia

    A necessidade da desconstruo da narrativa de que o self precisa ser diferenciado de forma autnoma e independente. Vejo, sim, o perigo de que o sonho, velho e moderno, da autonomia do self acabe trocando a relao por indistino e a dependncia por incorporao

  • Concordncia com a dependncia relacional do self e que esta no uma caracterstica infantil a ser superada na vida adulta. A dependncia co-extensiva vida e, sem ela, a vida no se sustenta

    Na minha perspectiva, a infncia no o que a idade adulta deixa para trs, mas o que volta em formas psquicas de que a vida adulta deve dar conta

    No possvel o reconhecimento de nenhuma histria individual sem que essa esteja ligada entre vrias outras formas individuais, em contextos relacionais

    Gostaria de sugerir, modestamente, que deveramos ter em conta o fato de que o humano pode revoltar-se contra a humanidade, prpria e de outrem, e que, no s, efetivamente o faz, mas s vezes o faz pois considera insuportvel a sua prpria condio humana