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CONGRESO INTERNACIONAL DE HISTORIA DE LAS · virada do século XIX para o XX, embora o nosso recorte temporal tenha de ser ampliado ... econômica da revolução industrial estava

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CONGRESO INTERNACIONAL DE HISTORIA DE LAS

CAJAS DE AHORROS Murcia 16-18 de octubre 2008

Casa Montepio dos Artistas: pecúlio e auxílio mútuo

numa sociedade do Recôncavo da Bahia

Luiz Fernando Saraiva

Professor Assistente da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Doutorando em História Social pela Universidade Federal Fluminense

[email protected]

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Centro de Artes, Humanidades e Letras

Praça Ariston Mascarenhas, s/n

Cachoeira/BA

44360-000

Rita de Cássia da Silva Almico

Professora Assistente da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Doutoranda em História Social pela Universidade Federal Fluminense

[email protected]

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Centro de Artes, Humanidades e Letras

Praça Ariston Mascarenhas, s/n

Cachoeira/BA

44360-000

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CONGRESO INTERNACIONAL DE HISTORIA DE LAS CAJAS DE AHORROS Casa Montepio dos Artistas: histórico e papel exercido no século XIX

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Casa Montepio dos Artistas: pecúlio e auxílio mútuo

numa sociedade do Recôncavo da Bahia

Luiz Fernando Saraiva

Rita de Cássia da Silva Almico

1. Introdução

Ao contrário de uma historiografia européia, os estudos sobre caixas econômicas,

montes de socorro, de auxílio-mútuo e montepios no Brasil são bastante escassos. Poucos

pesquisadores se debruçaram sobre este tema cujo entendimento talvez seja fundamental

para compreendermos aspectos sobre a organização social e formas de convivência de uma

parcela significativa da população do Brasil ao longo do século XIX. Estamos nos

referindo àqueles setores que, nos dizeres de Gilberto Freyre, viveriam entre “senhores e

escravos, com uma rala e insignificante lambugem de gente livre sanduichada entre os

extremos antagônicos”, ou ainda, segundo Maria Sylvia de Mello Franco, “Os homens

livres na ordem escravocrata”.1

Especificamente nestes segmentos destacam-se os artesãos mais ou menos

especializados, também chamados de artífices, ou aqueles que exerciam a “arte liberal” – o

grupo se constitui de uma miríade de profissões como pedreiros, pintores, escultores,

barbeiros, “mestres de carpina” (carpinteiros), gráficos, marinheiros, trabalhadores do

comércio, operários de diversos ramos de indústria, maquinistas, trabalhadores das

empresas de transportes, marceneiros, e outros. Grupos multi-étnicos e multi-facetados por

definição, ocupavam papéis intermediários na sociedade brasileira de difícil identificação,

clivagens políticas e de interesses faziam com que tivessem comportamentos fluídos em

vários sentidos, ora identificando-se com os interesses dominantes, ora colocando-se

próximos a interesses mais populares e dos escravos, mas sempre traduzindo as

contradições dessa sociedade em leituras e comportamentos próprios. Se os estudos no

campo da História Social que tratam dos setores intermediários da sociedade imperial

brasileira avançaram muito nos últimos anos, tal não se deu em relação às formas de

organização econômico-social como Instituições auto-geridas de Assistencialismo,

Mutualismo, Montepios e Pecúlios que foram formados principalmente por indivíduos

destes grupos.

A importância que os setores ditos „livres‟ irão adquirir ao longo do século XIX,

bem como as suas participações cada vez mais expressivas em diversos aspectos da vida

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econômica das várias regiões do país é assunto relativamente pouco explorado na

historiografia pertinente, embora acreditemos que seus alcances sejam bastante

consideráveis. Trata-se, entre outras possibilidades, de entender as várias formas de

encadeamento que as economias regionais brasileiras promoveram de acordo com a maior

ou menor capacidade da produção de artigos primário-exportadores, ou de uma produção

voltada para um mercado interno mais ou menos distante, ou ainda, de uma economia que

podia operar no nível da subsistência. É possível avaliar, sob esta ótica, os desdobramentos

que uma atividade econômica regionalmente localizada pode imprimir à determinada

sociedade seja no nível do trabalho especializado, das inovações ou modernizações que se

vinculam a processos de urbanização e industrialização de matrizes variadas.2

Neste trabalho, longe de buscarmos preencher esta lacuna na historiografia,

pretendemos iniciar uma discussão sobre esta temática utilizando para isto o olhar da

História Econômica. Isto significa dizer que, aqui, faremos uma abordagem da composição

e papel da Casa Montepio dos Artistas Cachoeiranos, sociedade de pecúlio fundada em

21 de fevereiro de 1874, na cidade de Cachoeira na Bahia, com o objetivo de entendermos

alguns destes múltiplos desdobramentos. Pretendemos acompanhar esta associação até a

virada do século XIX para o XX, embora o nosso recorte temporal tenha de ser ampliado

para buscarmos as origens destas instituições ainda no início do século dezenove. Vamos

utilizar ainda para efeitos de comparação o Montepio Geral de Economia dos Servidores

do Estado, criado em 1835 no Rio de Janeiro, então capital do Império brasileiro e o

Montepio Casa dos Artistas de Salvador criado na capital da província da Bahia em

1852.

A comparação nos serve em alguns sentidos fundamentais: o primeiro é a

localização destas três associações – uma na Corte, a capital do Império e as outras duas na

província da Bahia – uma no rico interior açucareiro e fumageiro e a outra na cidade da

Bahia,3 grande centro urbano, comercial e político. Além disto, a „natureza‟ destas

sociedades se diferencia, visto ser o Montepio Geral de Economia dos Servidores do

Estado aparentemente de cunho „privado‟ embora com relações muito próximas ao

Estado; a sociedade Montepio Casa dos Artistas de Salvador surge de um „racha‟ entre

uma sociedade anterior conforme se verá e a Casa Montepio dos Artistas Cachoeiranos

de uma iniciativa dos vários „artistas‟ do recôncavo baiano. Também é importante

percebermos que estas associações terão „dimensões‟ diferentes em termos de número,

perfil e contribuição dos associados, além do que suas trajetórias para o período da

pesquisa serão igualmente distintas, demonstrando aspectos importantes destas instituições.

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Cabe-nos destacar os vários aspectos assumidos no desenvolvimento destas

sociedades no passado, tanto pela ótica da economia, quanto pelas origens da previdência

do país, passando pelos direitos trabalhistas – no que diz respeito à organização dos

trabalhadores – e reivindicação dos mesmos, entre vários outros aspectos. Essas

instituições, seja de cunho público ou privado, ainda têm muito que nos oferecer e

contribuir na construção do conhecimento histórico.

Para iniciarmos nossa discussão, não é demais localizar o leitor na conjuntura

histórica em que esta se insere. O Brasil do século XIX, além de imperial era baseado na

escravidão e, portanto, tinha nos negros e particularmente nos africanos sua principal mão-

de-obra. Isto é significativo por refletir em toda a sociedade – tendo heranças ainda em

nossos dias – as características de uma sociedade escravista. Fruto da expansão marítima

que os Estados europeus iniciaram ainda no século XV, a colônia portuguesa na América

teria sido tomada por portugueses que para cá vieram em busca de riquezas para seus

cofres, o que lhes conferia poder de sustentação para o modelo de Estado Nacional desse

período. Sua base escravista lhe daria uma das características do que Caio Prado Júnior

convencionou nomear de „plantation‟: produção em grande escala de um produto principal

em grandes propriedades com mão-de-obra escrava. 4 Durante todo o período colonial esta

seria a caracterização mais geral do Brasil e isto não ficaria muito diferente no pós-

independência. A manutenção da escravidão lhe conferiu ares de país continental, numa

espécie de acordo entre a Coroa e as oligarquias proprietárias de escravos. O século XIX

surgia então como uma Monarquia Imperial que também se baseava na escravidão,

latifúndios e agroexportação – e nos seus desdobramentos.5

Este novo Estado, erigido no início do século XIX, iria estruturar-se aos poucos,

com medidas governamentais que visavam, também paulatinamente, formar o corpo

político e econômico desta sociedade – algumas continuidades e outras rupturas com seu

passado colonial. No que nos concerne aqui, gostaríamos de chamar a atenção para

algumas questões que se ligam mais diretamente à temática dos Montepios.

A primeira será a modernização desta sociedade dentro dos padrões de civilização

exaradas da Europa; em vários aspectos já bastante estudados, o Estado Imperial brasileiro

começou a construção de uma “Civilização nos Trópicos”. A vinda da Família Imperial,

ainda em 1808, deflagrou este processo em inúmeras frentes, do ponto de vista das

instituições associativas e culturais; várias foram criadas, entre estas, destacam-se a

Academia de Belas Artes, fundada a partir da vinda da missão cultural francesa. Também a

criação de escolas superiores como as Escolas de Medicina da Bahia (Salvador) e a do Rio

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de Janeiro, as Academias Militares do Exército e da Marinha e a posterior criação das

escolas de Direito de São Paulo e do Recife nos servem de ilustração.6

De acordo com este processo de modernização e racionalização da sociedade,

iremos encontrar ainda em 1832 os primeiros movimentos de se criar no Brasil “Caixas

Econômicas” e Montepios que visassem promover o „bem-estar‟ dos trabalhadores em

geral.7 Reflexo deste esforço foi a publicação do opúsculo O Homem Benfazejo ou das

Vantagens que Resultam da Fundação da Caixa Econômica dos Povos Civilizados de

autoria de Pierre-Edouard Lemontey (1762 – 1826), que havia sido editado na França ainda

em 1825. No Brasil a obra foi publicada graças ao esforço do médico da família real, o

também francês José Francisco Xavier Siguaud, dentro de uma coleção geral intitulada

Biblioteca Constitucional do Cidadão Brasileiro. Siguaud, além de médico, atuou

intensamente em atividades editoriais como a publicação a partir de 1827 do Jornal do

Commércio, um dos mais importantes periódicos do Império Brasileiro. Participou ainda

da fundação da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro e do Instituto dos Cegos na

capital do Brasil, o atual Instituto Benjamin Constant.8

Pierre-Edouard Lemontey por sua vez é tido como um dos primeiros a pensar em

uma “sociologia do trabalho”, preocupando-se com os efeitos deletérios que a expansão

econômica da revolução industrial estava operando na Europa. Tendo participado da

Revolução Francesa em suas várias fases, ao final de sua vida (1825) publicou cerca de

quatro „histórias exemplares‟ tendo como personagem central Monsieur Bruno com alguns

conselhos para criação de Caisse d'épargnes et de prévoyance, ou seja, as casas de

poupança e providência como forma de se ampliar as formas de mutualismo para além das

irmandades e mesmo dos montepios que segundo o personagem criado por Lemontey “O

Monte pio é sobre o caminho do Hospital; mas a Caixa Econômica é o caminho que

conduz a uma vida sossegada, feliz e honrada”.9 A obra traria ainda uma proposta de

estatuto das Caixas Econômicas que será, em parte, utilizado por várias associações

fundadas no país no século XIX conforme se verá mais à frente.

Cumpre destacar ainda que esta preocupação com as Caixas Econômicas fosse

recorrente em vários países da Europa desde o final do século XVIII, sendo que em muitos

deles, como na França e na Inglaterra, assistimos à fundação das Caisse d'épargnes et de

prévoyance, inclusive com importante papel financiador de atividades econômicas.10

Um segundo ponto seria que, sob a ótica da produção, a construção deste Estado

Imperial trará mudanças econômicas que terão conseqüências bastante duradouras. A

primeira e de maneira quase involuntária será a queda do exclusivo metropolitano11

com a

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„Abertura dos portos às nações amigas‟, em 1808, e os „Tratados de comércio, aliança e

navegação‟, de 1810, que irão, de acordo com João Manoel Cardoso de Mello, interiorizar

parcela significativa dos capitais promovidos pelo comércio atlântico e também as decisões

de investimentos.12

As „construções‟ empreendidas durante este período inicial buscavam atender às

demandas de uma economia de agroexportação que então se baseava em alguns produtos

principais na pauta de exportações: o café, o açúcar, o algodão e o tabaco. Também havia o

problema de baixa capacidade de arrecadação, o que fazia do Brasil um Estado deficitário

na balança entre despesas e receitas. Dessa forma, desde muito cedo o Estado buscava

ampliar sua capacidade de arrecadação e manutenção através do incentivo à

agroexportação. A luta empreendida pelo Estado e pelos agentes privados pela manutenção

do tráfico é talvez o mais visível, mas não o único, fator neste sentido. Também a criação

do Horto Imperial – embora sob outra ótica –, ainda no período joanino, propunha-se

aclimatar diversas plantas visando buscar variantes aos tradicionais produtos agrícolas

também será essencial nesse projeto.13

A queda do exclusivo metropolitano também se fazia sentir no incentivo à

diversificação econômica com o apoio às manufaturas e atividades comerciais, além da

revogação do „Alvará Régio de 1785,‟ em 1810, que proibia as manufaturas têxteis e de

ferro no território da ex-colônia, várias licenças e loterias serão dadas à diversas

manufaturas que irão se desenvolver neste período, segundo o estudo do professor Geraldo

Beauclair.14

Também a criação de instituições como a Associação dos Assinantes da Praça

de Comércio do Rio de Janeiro (que irá posteriormente dar origem à Associação

Auxiliadora da Indústria Nacional) desde cedo irá criar canais de financiamento que darão

início a uma série de novas atividades, diversificando ainda mais essa sociedade.15

O contexto político conturbado no final da década de 1820 e durante a década de

1830 irá „atrasar‟ mas não inviabilizar essas reformas estruturais para a construção do

Estado brasileiro. Talvez mesmo por causa destes conflitos, assistimos nesse período, a

partir de iniciativas „privadas‟, à criação das 1ª Associações mutualistas e autogeridas que

irão diferir das antigas instituições coloniais como as Santas Casas de Misericórdia e as

Irmandades Leigas. Ainda em 1827 surgiu o Montepio do Exército, em 1834 a Caixa

Econômica da Cidade da Bahia e, em 1835, o já citado Montepio Geral de Economia

dos Servidores do Estado. É importante ressaltar que em pleno período regencial marcado

por turbulências e forças que quase levaram à fragmentação do território brasileiro a

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criação destas instituições visavam sempre a “Economia, Perseverança e Socorro nas

Dificuldades”.16

O período que se seguiu foi marcado pelas tentativas de conciliação dentre os

setores que compunham o Estado brasileiro e pela continuidade dos esforços para a

expansão da economia e das rendas públicas. Dentro deste contexto de modernização da

economia em 1844, o então Ministro Alves Branco promove uma alteração de cunho fiscal

que intencionava aumentar a arrecadação do governo em cima de tarifas de importação.

Visto ter o país uma economia pouco complexa, baseada quase que exclusivamente no

setor agroexportador, a forma encontrada pelo então Ministro e Chefe do Gabinete

Ministerial era tarifar as importações, para atingir maior capacidade de receita para o

governo. Longe de querer promover uma política protecionista para a nascente indústria

nacional, esta política previa o aumento de impostos, embora esta reforma fosse assumir

um papel protecionista de forma não intencional e a „indústria‟ – ainda nascente – bem

como as „atividades produtivas‟ irão ser beneficiadas com tal ato.17

Consoante a essa medida, o ano de 1850 também iria ser marcante para a economia

nacional. Neste mesmo ano seriam promulgados o Código Comercial Brasileiro, a Lei

Eusébio de Queiroz, que reafirmava o fim do tráfico internacional de escravos, e a Lei de

Terras.18

Esta última lei será tomada conjuntamente com a proibição do tráfico

internacional de escravos africanos, e garantia o acesso à terra somente através da compra -

o que inicia no país a transição para o trabalho livre sobre o rígido controle do Estado e dos

grupos rurais.19

Esta medida acabaria por afastar da propriedade fundiária as camadas da

população despossuídas e que, a partir daí, teriam grande dificuldade ao acesso à terra,

senão como trabalhadores e/ou posseiros. Essa medida irá indiretamente contribuir para um

maior desenvolvimento das atividades urbanas por parte de uma população livre, porém

destituída de propriedades e que tentará escapar do controle direto dos grandes fazendeiros.

A saída podia ser, para alguns, as cidades e as possibilidades novas que se abriam com o

desenvolvimento paulatino destes centros urbanos.

A proibição do tráfico internacional de escravos além de anunciar um „horizonte

possível‟ para o fim do sistema escravista também „libertava‟ poderosos capitais antes

empregados no comércio com a África e que em parte serão utilizados em variados

empreendimentos nas principais praças do antigo comércio escravista do país.20

A

diminuição gradativa do número de escravos a que iremos assistir a partir de então irá

também contribuir para o aumento do número de trabalhadores livres em diversas funções

até então quase sempre exercida pelos cativos.21

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A convergência desses fatores foi coroada com o sancionamento da lei no 556, de

25 de junho de 1850, que promulgava o tão esperado Código Comercial Brasileiro. O

Decreto que o criaria seria o de número 737, de 25 de novembro de 1850, que determinava

a ordem do Juízo no processo Comercial. Ao dar ao país uma legislação mercantil própria,

o Código Comercial atuou como a lhe conferir maioridade para a prática comercial, nos

dizeres de Bárbara Levy.22

Com o Código Comercial, a criação de sociedades anônimas e o inicial

desenvolvimento de empresas de cunho associativas ampliariam ainda mais a necessidade

de crédito e maior quantidade de moedas na economia. Para o Rio de Janeiro, Maria

Bárbara Levy destaca que já em 1855 eram negociadas na recém-criada Bolsa de Valores

(1845):

(...) 16 empresas sendo regularmente cotadas no

pregão: eram quatro bancos, quatro companhias de

transporte, três de serviços públicos, uma de

construção naval, uma perfumaria, uma empresa de

colonização agrícola e mais duas cujo ramo de

atividade não foi possível identificar.23

Dois problemas que enfrentava a economia brasileira naquele momento, que aqui

nos parece importante ressaltar, são: a baixa mercantilização desta e a falta de uma prática

de crédito institucionalizada e solidificada. Ambas poderiam estar diretamente ligadas à

estrutura escravista a que o país estava submetido até fins do XIX. Numa economia de

base escravista o meio circulante é escasso pela pouca necessidade de moeda, visto que a

maioria dos trabalhadores sendo cativos, não possuíam remuneração pelo seu trabalho.

A despeito da escravidão como característica fundante desta economia, o conjunto

de reformas e construções que viemos superficialmente acompanhando – junto com a

vigorosa expansão da cafeicultura na região centro-sul e o aumento da exportação de

gêneros tropicais em outras regiões do Império como se desprende na tabela I – irão

promover significativas transformações. Um grande desenvolvimento de atividades

terciárias como indústrias, manufaturas, casas comerciais, bancos e outras instituições que

irão contribuir para mudanças significativas no perfil de nossa sociedade.24

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Tabela I: Brasil: Pauta das Exportações (Valor - milhões de libras) Datas Café Açúcar Algodão Borracha Couros

e Peles Fumo Cacau Outros Total

1821-30 7,4 10,7 8,1 0,0 5,3 1,0 0,2 5,8 38,5

1831-40 23,9 13,3 5,8 0,2 4,3 1,0 0,3 5,8 54,6

1841-50 24,3 15,0 4,2 0,3 4,9 1,1 0,5 6,7 57,0

1851-60 55,4 20,9 6,2 2,5 7,7 2,8 1,1 10,5 107,1

1861-70 67,1 19,3 28,9 5,4 9,0 4,6 1,4 16,0 151,7

1871-80 116,6 24,3 17,3 11,3 10,8 7,0 2,7 15,4 205,4

1881-90 124,0 19,5 8,8 15,6 6,4 5,4 3,3 16,5 199,5

Obs.: * o item „Outros‟ consistia em produtos como erva-mate, diamantes, ouro, castanhas do Pará, madeiras,

farinha de mandioca, aguardente e outros produtos, sobre os quais não se dispões de informações estatísticas

confiáveis.

Fonte: IBGE. Anuário Estatístico 1939/1940. In: NOGUEIRA, Dênio. Raízes de uma Nação. Rio de

Janeiro, Forense Universitária, 1988. p. 342.

2. Santas Casas, Irmandades e Montepios: da Caridade ao Assistencialismo e

Mutualismo – pertinências do caso brasileiro

Na Europa as primeiras instituições associativas entre os homens-livres – que não

fossem servos e que exercessem alguma atividade „especializada‟ – foram as Corporações

de Ofício e as Confrarias Religiosas que surgiram, de acordo com Henri Pirenne, do

fortalecimento do poder comunal ainda no século XI. Estas associações teriam se inspirado

nas corporações mercantis e em ordens religiosas e teriam destacada atuação caritativa,

além de associarem-se à proteção de determinadas atividades profissionais da concorrência

externa. 25

Tais associações possuíram diversas outras funções durante todo o longo período,

„evoluindo‟ em várias direções e mesmo sendo „exportadas‟ para as colônias espanholas e

portuguesas na América. No século XVIII e, particularmente na Espanha, os montes de

piedad surgiram como parte da luta contra a usura, protegendo trabalhadores que recorriam

a empréstimos ou tinham dificuldades no final de suas vidas.26

Como já visto, em grande

parte da Europa estas instituições passaram ainda a se organizar ao final do XVIII e início

do XIX como Caixas Econômicas, Cajas de Ahorro, Caisse d'épargnes et de prévoyance.

Isso demonstra um forte caráter de racionalização do crédito e das atividades financeiras.

No Brasil, de acordo com diversos autores, as corporações de ofício ou confrarias

religiosas não irão ter a mesma dimensão que na Europa ou mesmo na América Espanhola.

Tal fato se dava principalmente pela manutenção da escravidão, o que acabava por

disseminar as atividades dos artífices entre os escravos, tanto que “transformou em

maioria de cativos os dito oficiais”.27

Dessa forma os artífices europeus, além de pouco

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numerosos, teriam dificuldades de se associarem aos escravos e grupos étnicos distintos do

seu. Assim, as entidades de natureza associativa que surgiram ainda no período colonial

foram as Santas Casas de Misericórdia ou as irmandades devocionais leigas.

A primeira dessas instituições será Santa Casa de Misericórdia de Santos fundada

na capitania de São Vicente, em 1543 e, quarenta anos depois, a Santa Casa de

Misericórdia do Rio de Janeiro (1584), ambas com ênfase assistencial e não mutualista.

Durante todo o período colonial e mesmo no Império serão fundadas ao lado das Santas

Casas dezenas de irmandades leigas, compostas pelos diferentes extratos sociais. Assim,

grosso modo, as ordens terceira do Carmo referiam-se aos grandes proprietários de terras e

comerciantes, da mesma forma, as ordens terceiras do Rosário e de São Benedito eram

normalmente erigidas por escravos ou negros forros. Os recortes étnicos e pertencimento a

grupos sociais eram a tônica dessas associações que possuíam forte caráter devocional

além de caritativo. Normalmente a principal preocupação destas irmandades era o bem

morrer, ou seja, garantir aos associados funerais e enterros dignos.28

Com a construção do Estado Brasileiro em início do século XIX, a situação dos

trabalhadores livres pouco se alterou. Na Constituição Imperial outorgada em 1824 vemos

no artigo 179 das Disposições Gerais as únicas referências aos trabalhadores livres em toda

a carta

Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e

Políticos dos Cidadãos Brasileiros, que tem por base a

liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é

garantida pela Constituição do Império. (...) XXV. Ficam abolidas as Corporações dos Ofícios,

seus juízes, escrivães e mestres.

(...)

XXXI. A Constituição também garante os socorros

públicos.

A alínea XXV encerrava, portanto, as poucas corporações existentes no país apesar

dos protestos do Visconde de Cairú, importante político que havia migrado junto com a

Corte portuguesa para o Brasil.29

Já a alínea XXXI, apesar de garantir os socorros

públicos, nunca foi regulamentada. Desta forma, o auxílio público aos trabalhadores se

dava normalmente por leis „excepcionais‟ tomadas de acordo com as circunstâncias

urgentes ou graves que assolassem o país, como foi o caso de guerras ou catástrofes

naturais como enchentes ou secas.

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Com a promulgação do Código Comercial Brasileiro, em 1850, o seu artigo 79

trazia o seguinte texto: “os acidentes imprevistos e inculpados, que impedirem aos

prepostos o exercício de suas funções, não interromperão o vencimento de seu salário,

contando que a inabilitação não exceda três meses contínuos”.30

A partir desse período,

ou ainda, em caso de falecimento do trabalhador, a família ficaria desamparada e sem

ganhos.

Uma possível saída para esses eventos adversos seria a filiação a alguma sociedade

que trouxesse “Economia, Perseverança e Socorro nas Dificuldades”, ou o que

representasse proteção em momentos de dificuldades para o trabalhador e sua família. É

fato que, na ausência de proteção estatal ampla, várias categorias de trabalhadores se

associaram para juntarem pecúlios que lhes assegurassem ou às suas famílias algum

sustento em casos especiais. Tais associações poderiam ter conotação beneficente ou de

auxílio mútuo e suas regras eram definidas em Assembléias e constavam em atas de

abertura das mesmas.

Os montepios já haviam surgido ainda na fase colonial do Brasil e normalmente por

ordem régia. Tal se deu, por exemplo, no ano de 1795 quando o Príncipe Regente

autorizou a criação do Plano de Beneficência dos Órfãos e Viúvas dos Oficiais da Marinha,

o primeiro a ser criado no Brasil. No decorrer do século XIX, outras iniciativas estatais e

privadas irão aparecer: o Montepio do Exército (1827) e o Montepio dos Servidores do

Estado - civis e militares - (1835), como já visto; a Caixa de Socorro para os trabalhadores

das Estradas de Ferro do Estado (Decreto nº 3.397, de 24-11-1888), Montepio para

Empregados dos Correios (Decreto nº 9.212, de 26-3-1889) e a Caixa de Pensão dos

Operários da Imprensa Nacional (1889) são outros exemplos.

Especificamente sobre as Caixas Econômicas, vemos que a penetração das mesmas

no Brasil será bastante reduzida, em 1834 era fundada a Caixa Econômica da Cidade da

Bahia, no dia 13 de Junho, em Salvador. A iniciativa da criação partiu de 171 cidadãos da

„praça‟ e rapidamente esta instituição se transformou em uma referência na oferta de

crédito na vida da província.31

Aqui neste trabalho nos interessam particularmente os

Montepios, que tinham originalmente o significado de monte santo – que queria dizer que

aquela poupança era sagrada e se destinava apenas ao pagamento das pensões. Essas

sociedades tinham natureza mutualista e buscavam, além de pecúlio sob a forma de

poupança, trazer alguma segurança para o trabalhador ou sua família em casos de

necessidade. Como não havia no Brasil uma legislação trabalhista, e, por ser uma

sociedade escravista, tanto trabalhadores livres quanto os escravos, buscavam nesse tipo de

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associação uma forma de se resguardar de imprevistos – no caso dos escravos podia servir

para juntar em forma de poupança o que era necessário para comprar sua liberdade em

forma de alforria; para os demais trabalhadores, funcionava como forma de precaução para

mortes e acidentes. Os escravos costumavam se reunir nas Irmandades e, geralmente, eram

ligados a alguma paróquia de santos católicos. Os demais trabalhadores usavam os

Montepios como forma de casa de poupança, onde a contribuição mensal poderia ser

resgatada em momentos de necessidade ou morte.

No Código Comercial de 1850 somente uma referência se encontra sobre os

Montepios, trata-se de artigo que diz respeito à proteção que gozem alguns ativos contra a

penhora e execução em caso de dívidas contraídas. Vejamos a redação.

Art. 529. Não podem ser absolutamente penhorados os

bens seguintes:

§ 1.º Os bens inalienáveis.

§ 2.º Os ordenados e vencimentos dos Magistrados e

empregados públicos.

§ 3.º Os soldos e vencimentos dos militares.

§ 4.º As soldadas da gente de mar, e salários dos

guarda-livros, feitores, caixeiros e operários.

§ 5.º Os equipamentos dos militares.

§ 6.º Os utensílios e ferramentas dos mestres e oficiais

de ofícios mecânicos, que forem indispensáveis às

suas ocupações ordinárias.

§ 7.º Os materiais necessários para as obras.

§ 8.º As pensões, tenças e montepios, inclusive o dos

Servidores do Estado.32

Percebe-se de acordo com o Código Comercial que os pagamentos mensais

realizados pelos montepios seriam protegidos, o que significa o reconhecimento por parte

do Estado da importância que tais instituições vinham adquirindo na sociedade brasileira.

O próprio crescimento do número de montepios e instituições similares fez com que o

governo, em 1860, baixasse um decreto regulamentando o funcionamento dos mesmos. De

acordo com as disposições deste decreto imperial de 19 de dezembro, todas as sociedades

desse cunho existentes no país, assim como as que viessem a constituir-se a partir de então,

deveriam submeter seus estatutos à Seção dos Negócios do Império do Conselho de Estado

para que recebessem autorização para funcionamento. Entre as sociedades incluíam-se as

associações beneficentes, de auxílio mútuo, de categorias profissionais, os clubes literários

e esportivos, os grêmios recreativos e até mesmo as irmandades religiosas. Também

estavam sujeitas ao referido decreto as sociedades que estivessem funcionando

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previamente, mediante o envio dos estatutos para apreciação do Conselho, que deveriam

obedecer em futuras alterações.

Os estatutos deveriam ser enviados à autoridade

competente especificando o nome da entidade, a sua

sede, os seus fins, a duração prevista, o valor da

contribuição mensal, a forma como se pretendiam

empregar os fundos sociais, os serviços prestados, as

atribuições dos administradores e da assembléia geral,

o modo de administração, as condições para admissão

e eliminação dos sócios, bem como o número destes.33

Mediante autorização para reunião e obedecendo à ordem, trabalhadores de

diversas categorias poderiam se reunir e fundar associações que pudessem lhes servir. A

partir da elaboração de estatutos que regeriam tais entidades era possível a fundação das

mesmas que deveriam, de acordo com o decreto acima referido, enviar as atas destas

sessões ao Conselho de Estado que analisaria os ditos estatutos e, quase sempre, sugeria

alterações na redação dos documentos. Se aprovado, o estatuto oficial da associação era

disponibilizado para os sócios e, em alguma medida, divulgado para conhecimento do

público em geral. Esta regra atingia a todos os trabalhadores, fossem eles escravos,

libertos, idosos, comerciantes, empresários, religiosos, artistas, etc.34

Este decreto seria

revogado em 1872 dando maior autonomia às associações, principalmente no que diz

respeito à escolha de seus diretores; a revogação completa da lei só ocorreria em 1882.35

3. O Montepio Geral dos Servidores do Estado e a Montepio Casa dos Artistas de

Salvador, aproximações para um estudo de caso

Como já vimos, no Brasil a primeira entidade de cunho „privado‟, sob a forma de

montepio, foi o Montepio Geral dos Servidores do Estado (Mongeral) a 10 de Janeiro de

1835. Foi formada por funcionários públicos que através do recebimento de jóias (que era

o direito de associar-se aos montepios) e das mensalidades pagaria uma pensão aos sócios

remidos, suas viúvas e filhos até certa idade. Este montepio será um dos mais antigos e

significativos do Império brasileiro, a análise de sua trajetória é importante para qualificar

a trajetória dos demais montepios destacando principalmente suas diferenças. Grande parte

das informações que iremos destacar vem da obra de Montepio Geral de Economia dos

Servidores do Estado – Ligeiro Resumo do seu 1º Centenário 1835 – 1935 organizado

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pelo secretário do montepio Alfredo Leal de Sá Pereira e de alguns relatórios que tivemos

acesso como o do biênio 1887 a 1889 feito pelo presidente à época o Visconde de

Paranaguá.

De acordo com o regimento do Montepio – bastante semelhante na forma ao

proposto pelo livro O homem benfazejo – a 1ª assembléia seria realizada assim que o

montepio tivesse 100 sócios, e nessa ocasião seria eleito por voto secreto a diretoria com 1

presidente, 1 tesoureiro, 1 secretário e dois diretores; seriam sorteados ainda 12 diretores-

adjuntos para acompanharem à diretoria nas necessidades e reuniões extraordinárias. Esta

1ª assembléia geral ocorreu em 14 de junho de 1835.36

A primeira diretoria além de organizar os estatutos e tomar as primeiras

providências para a consolidação do Montepio, conseguiu do governo que as repartições da

fazenda nas províncias funcionassem como representantes do montepio (tanto no

recolhimento das contribuições, quanto no pagamento das pensões), além do direito de

quatro loterias anuais para compor o patrimônio da Instituição. Estes fatos, conforme ficará

mais claro, demonstram que, apesar de sua natureza privada, a associação sempre irá

contar com o auxílio do governo ao longo de sua trajetória. Este auxílio se dará de várias

formas: loterias, isenções de impostos e taxas, empréstimos, doação de imóvel,

empréstimos e perdão de dívidas.

Este grande poder que o Montepio irá gozar junto ao Estado Imperial Brasileiro

esteve obviamente ligado ao „público‟ da associação e também à escolha estratégica de

seus presidentes e diretores. Em uma lista dos presidentes da instituição de 1835 até 1900

encontramos cinco Conselheiros do Estado; um Senador, um Desembargador, um

Marquês, três Viscondes e um Barão. Também a maioria dos diretores e secretários será

composta de Conselheiros, Desembargadores, Juízes, ou dito de uma outra forma, a „elite‟

dos funcionários públicos e da própria sociedade imperial.37

Esta escolha de presidentes

com importantes trajetórias políticas iria inclusive trazer problemas de administração ao

Montepio, tanto que em 1859 ocorrerá uma reforma em seus estatutos criando o cargo de

Vice-presidente “pois sendo frequentemente Ministro de Estado o ocupante da presidência

do montepio, via-se este bastante prejudicado com as ausências constantes do seu

presidente” .38

Embora não seja possível identificar exatamente as categorias sociais dos membros

deste montepio, fica claro que a maioria era formada por funcionários públicos mais

elevados o que o diferencia bastante das congêneres criadas no século XIX. Vemos, por

exemplo, no relatório do Marquês de Paranaguá para o biênio 1887 – 1889 a adesão de

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novos sócios ao montepio como o Coronel Antônio José Maria Pego Junior, dos Capitães

Agrícola Ewerton Pinto e Alexandre Carlos Barreto, do Alferes Antônio José Lino da

Costa, além do Barão de Aguiar de Andrade ou Francisco Xavier da Costa Aguiar de

Andrada, que além de ter sido Juiz de Direito foi ainda embaixador brasileiro em várias

missões diplomáticas. 39

As jóias, mensalidades e taxas de inscrição pagas pelos funcionários eram

obviamente bem maiores do que as cobradas pelos outros montepios do país, bem como as

pensões também eram significativamente maiores do que as das outras associações. Para

efeitos de comparação, vemos que os Montepios das Casas dos Artistas de Salvador e de

Cachoeira cobravam como jóias e diploma (que servia como inscrição) a quantia de

22$000 (vinte e dois mil réis) e mensalidades no valor de 1$000 (mil réis), normalmente

estes valores eram fixos. Já no Montepio Geral dos Servidores do Estado, a inscrição, jóias

e mensalidades variavam de acordo com a idade e as „faixas‟ de pensão pretendida pelos

„candidatos‟; para o biênio de 1887 – 1889 as inscrições custavam entre 200$000 a

2:400$000 (duzentos mil réis e dois contos e quatrocentos mil réis, respectivamente); já as

jóias ficavam entre 282$000 e 4:608$000 (duzentos e oitenta e dois mil réis e quatro

contos e seiscentos e oito mil réis, respectivamente). As mensalidades por sua vez

variavam entre 2$500 e 118$000 (dois mil e quinhentos réis e cento e dezoito mil réis,

respectivamente).40

Um outro aspecto que chama atenção vai ser o grande número de membros do

Montepio Geral. Não temos os dados exatos, porém coligindo as informações de vários

relatórios temos que os números de sócios do Montepio seriam de acordo com o gráfico I,

bem superiores às demais instituições. Isto é obviamente bem fácil de entender, o

Montepio Geral dos Servidores do Estado era uma instituição „nacional‟ além do que o

número de funcionários públicos era de longe uma das maiores „categorias profissionais‟

do período.

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Gráfico 1: Número de Membros do Montepio Geral dos Servidores do Estado (anos

selecionados)

0

200

400

600

800

1000

1200

1836 1847 1853 1859 1901

anos

no

de s

ócio

s

Fonte: PEREIRA, Alfredo Leal de Sá. Montepio Geral de Economia dos Servidores do Estado – Ligeiro

Resumo do seu 1º Centenário 1835 – 1935. Rio de Janeiro: (reeditado) Jornal do Comércio, 1952, p. 04. 06,

07, 09, 10

Ao longo do século XIX várias reformas foram feitas nos estatutos, como a

admissão de sócios com mais de 60 anos em 1837 e depois, em 1844, se tomará a idéia de

proporcionalidade das contribuições de acordo com a idade dos sócios. Inicialmente o

Montepio utilizava prédios de repartições públicas como sua sede e, em 1841, aluga a sua

sede na travessa das belas artes no 09. Esta sede será doada ao Montepio pelo Estado em

1854 o que demonstra os sucessivos benefícios que o governo dava a essa instituição.41

Quanto ao patrimônio dessas instituições, é comum encontrar uma variada gama de

ativos, como hipotecas, penhores, prédios, títulos da dívida pública entre outros; tal não era

o caso do Montepio dos Servidores do Estado. A instituição possuía, por exemplo, em

1847, 1.689 títulos da dívida pública como componente de seu patrimônio, já em 1889 o

número de apólices de títulos da dívida pública geral e provincial era 7.580. Esta „opção‟

por títulos da dívida pública é outra influência direta que percebemos da obra de Lemontey

/ Siguaud, pois lemos na proposta de estatuto do referido O homem benfazejo em seu

artigo 6º que: “O capital depositado em Caixa será empregado logo que se possa em

Apólices da Dívida Pública”.42

Tal fato demonstra ainda que a associação apesar de sua

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grande quantidade de investimentos, „canalizava‟ todos os seus recursos em ativos

„seguros‟ pouco contribuindo dessa forma com os empreendimentos que cresciam no país

nesse momento.

Também eram variadas as formas de contribuição. Por ter uma natureza de agregar

trabalhadores que serviam ao Estado e por ser este Estado presente nas mais variadas

repartições distribuídas pelo país e, ainda, por ser este país de proporções continentais visto

sua extensão territorial, alguns casos, além de curiosos, demonstram a preocupação em

poupar através da contribuição e dos arranjos feitos para não faltar com esse pagamento.

Um sócio residente no Pará, receoso de perder a

inscrição por falta de pagamentos, devido a

dificuldades de comunicação com esta longínqua

Província, enviou à Diretoria em depósito, uma

apólice da Dívida Pública, cujos juros anuais

representavam justamente a contribuição à que era

obrigado.43

As dificuldades encontradas por estas associações, via de regra, são da ordem da

inadimplência de seus sócios, no caso do Montepio Geral dos Servidores do Estado as

dificuldades aparentemente se darão mais pela gestão, grande número de pensões pagas,

fraudes diversas e extravio de recursos da instituição. A partir de 1864 assiste-se a

constantes reclamações da diretoria da crise que estaria por desabar por sobre a associação,

algumas medidas serão tomadas para contornar estas dificuldades financeiras: diminuir

salário dos funcionários; desconto de 10% das pensões pagas; instalação de várias

Comissões Médicas para avaliar os ingressantes – no intuito de averiguar o estado de saúde

dos mesmos; pedir ao governo que as loterias passassem a ser mensais (12 por ano) e não

apenas 04 – fato conseguido pelo decreto de 22 de agosto de 1866. Em 1867 – 1869 a

diretoria aumentou o desconto de 10% para 20% das pensões pagas. Quando da 3ª

presidência do Conselheiro José Maria da Silva Paranhos, o Visconde do Rio Branco (1869

– 1871) outras reformas foram empreendidas: continuação das loterias mensais; fim do

pagamento dos impostos relativos a estas mesmas loterias; maior fiscalização da real

situação de saúde e idade dos sócios; organização de „tabela de vida média‟; e, diminuição

das pensões para viúvas de „novas núpcias‟.44

A crise irá continuar e em 1885 vemos mais alguns dos favores que o governo e a

Câmara dos Deputados davam ao montepio quando

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Apelando a Diretoria do Montepio para o Governo

Imperial conseguiu que a assembléia geral legislativa

extinguisse o pernicioso sistema das loterias

provinciais serem organizadas e vendidas na corte.

Estas loterias faziam grave concorrência às loterias

gerais, principalmente as concedidas ao Montepio45

Esta prática irá prejudicar os interesses de outros montepios que se valiam de

favores de seus governos provinciais para aumentarem as suas rendas, tal será o caso do

Montepio Casa dos Artistas de Salvador que recebia da província da Bahia o direito a

algumas dessas loterias. Neste mesmo ano a sede do Montepio Geral sofre um atentado via

incêndio criminoso em 03 de setembro, com envolvimento do escrivão nas fraudes,

conforme se apurou. O Incêndio, além dos prejuízos materiais, irá destruir para

significativa da documentação da instituição, essas constantes fraudes não ocorriam apenas

na sede, tanto que em 1887 – 1889 o Visconde de Paranaguá irá abolir a prática de recibos

avulsos porque, segundo este, a prática permitia todo tipo de abusos por parte daqueles que

recebiam as mensalidades. Também instituiu o exame obrigatório para todos os

ingressantes no montepio, denotando as constantes fraudes que ocorriam com o pagamento

de pensões bastante expressivas a sócios que pouco ou nada contribuíram com a

instituição.

Pela análise dos dados gerais da contabilidade do Montepio, podemos perceber que

a crise pela qual a instituição passava estava diretamente ligada também ao número

insuficiente de sócios em relação às despesas, principalmente com o pagamento das

pensões. No gráfico II podemos perceber que o pagamento das jóias, inscrições e

anuidades eram muito aquém dos gastos necessários. As contas somente fechavam com os

juros pagos pelas apólices e pelas rendas consideráveis dadas pelas loterias.

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Gráfico 2: Receitas Totais, Jóias Anuidades e Inscrições e Despesas do Montepio

Geral dos Servidores do Estado

0

500000000

1000000000

1500000000

2000000000

2500000000

1835

- 37

1839

- 41

1843

- 45

1847

- 49

1851

- 53

1855

- 57

1859

- 61

1863

- 65

1867

- 69

1871

- 73

1875

- 77

1879

- 81

1883

- 85

1887

- 89

1891

- 93

1895

- 97

1899

- 01

biênios

réis

despesas receitas Jóias, Anuidades e Inscrições

Fonte: Movimento financeiro do Montepio Geral de Economia dos Servidores do Estado desde Janeiro de

1835 a Dezembro de 1934, In: PEREIRA, op. cit p. Anexo.

Dentro das fontes de renda do Montepio ao longo do período estudado (1835 até

1900), a menor parte foi aquela ligada aos pagamentos efetuados pelos sócios, cerca de

24% do total; as loterias dadas pelo governo e os juros das apólices correspondiam

respectivamente a 35% e 41% da renda conforme fica claro no gráfico 3. Essa situação

demonstrava a fragilidade do Montepio e o alto grau de dependência para com o Governo

o que justifica tantas ingerências políticas por parte dos presidentes e da diretoria da

instituição. Dez anos após a fundação do Montepio, as mensalidades e jóias não eram mais

suficientes para o pagamento das pensões dos sócios - o que nos mostra a falta de um

planejamento mais racional ou „abusos‟ por parte da concessão dos benefícios.

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Gráfico 3: Percentual de Jóias e Anuidades; Juros de Apólices e Loterias nas rendas

do Montepio Geral dos Servidores do Estado

24%

41%

35%

Jóias, anuidades, etc Juros de apólices Loterias

Fonte: Idem.

Essas receitas variaram ao longo do tempo, entretanto desde a sua origem o

Montepio dos Servidores do Estado foi dependente das rendas das apólices e loterias

conforme se verifica no gráfico a seguir. A partir da década de 1870 podemos perceber que

a renda dada pelos pagamentos dos sócios será declinante até o período final por nós

analisado. Podemos notar ainda que quando da concessão de 12 loterias para o montepio

em vez das quatro anteriores em 1864, conforme visto, crescerá substancialmente a

participação dessa fonte de renda para a instituição. Já no biênio 1867 – 1869 as loterias

ultrapassam o pagamento das mensalidades e jóias como forma de arrecadação, sendo que

no biênio de 1883 – 1885 houve uma queda significativa nesta renda e isso justificou o

pedido de intervenção do governo nas loterias provinciais. Fica também patente como os

juros gerados pelos títulos da dívida pública foram importantes e as mais constantes fontes

de receita. As apólices da dívida pública tiveram também um crescimento espetacular

durante todo o período do montepio, passando de 297$600$000 (duzentos e noventa e sete

contos de réis) no biênio 1835 – 1837 para 7:554:700$000 (sete mil, quinhentos e

cinqüenta e quatro conto e setecentos mil réis) ou um crescimento da ordem de 2.538,54 %

para um período de 65 anos. Este patrimônio era superior ao de vários bancos existentes no

período, assim, percebe-se que, quando o governo imperial reduzia os juros pagos pelos

títulos, a depreciação do patrimônio e rendimento do montepio era considerável,

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provocando queixas constantes da diretoria, como foi o caso em 1885 quando o governo

passou a pagar 5% e não mais 6% de juros das apólices da dívida pública.

Gráfico 4: Evolução das Jóias e Anuidades; Juros de Apólices e Loterias nas rendas

do Montepio Geral dos Servidores do Estado

0

200000000

400000000

600000000

800000000

1000000000

1200000000

1835

- 37

1839

- 41

1843

- 45

1847

- 49

1851

- 53

1855

- 57

1859

- 61

1863

- 65

1867

- 69

1871

- 73

1875

- 77

1879

- 81

1883

- 85

1887

- 89

1891

- 93

1895

- 97

1899

- 01

anos

em

réis

Jóias, anuidades, etc Juros de apólices Loterias

Fonte: Idem.

A diminuição do número de sócios que se percebe nos relatórios no final do

Império irá agravar a crise da Instituição o que levará a mais reformas como as que em

1884 eliminaram “o gozo da pensão em vida” pelos associados e regras mais rígidas para

concessão de pensão a parentes. Implicará também mais socorros públicos como o perdão

de dívidas de empréstimos contraídos ao governo ou o parcelamento dos mesmos. Desta

análise sumária do Montepio dos Servidores do Estado, vemos que o conceito de „privado‟

era bastante relativo em uma sociedade como a do Brasil Império. Suas finanças

demonstram ainda que a capacidade deste montepio em desdobrar seus investimentos em

outros setores da economia foi bastante reduzido, para não dizer inexistente.

Para termos um padrão de comparação mais aceitável com os demais montepios do

país, vamos passar neste ponto a analisar o Montepio Casa dos Artistas de Salvador. As

origens deste Montepio é anterior à sua fundação, segundo Maria Conceição Barbosa da

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Costa e Silva em cuja obra nos baseamos nessa parte do trabalho. Em 1832 foi criada a

Sociedade dos Artífices da cidade de Salvador, instituição que atuava como um montepio,

embora tivesse uma estrutura semelhante à das irmandades da época, pois tinha como

padroeira Nossa Senhora de Sant‟Anna. Aparentemente a cisão de alguns associados nos

anos de 1851 e 1852 se deu em relação ao destino das economias da instituição, pois

alguns dos membros queriam retirar os depósitos investidos em penhores para colocarem

na Caixa de Comércio recém-fundada na cidade (1849). Vários sócios, liderados por João

Isidoro Pereira, reagiram a essa ação denunciando-a como favorecimento pessoal de um

grupo ligado à referida caixa.46

Estes „dissidentes‟ fundaram formalmente em 02 de fevereiro de 1853 a nova

instituição que contava com 19 membros na ata de fundação, Na ata dessa fundação

declara-se patrono do montepio Sua Majestade Imperial D. Pedro II e a instituição teria

como objetivo investir os recursos captados para serem “empregados nos benefícios e

justos fins de socorrer os Associados”.47

Em 1859 o estatuto será modificado e sua função

melhor explicitada.

Socorrer a aquele de seus sócios que por moléstia, ou

alguma outra circunstância prescrita neste Estatuto se

acharem impossibilitados de proverem os meios de

subsistência; assim como às viúvas e órfãos e às mães

e irmãs dos sócios que falecerem sem deixar filhos.48

As funções do Montepio seriam então: 1º) o pagamento de remédios e as consultas

médicas, além de um pagamento semanal ao associado enquanto durasse a doença; 2º) uma

pensão para as viúvas, filhos, ou mães e irmãs após o falecimento do associado; 3º) todas

as despesas de um funeral digno; e, 4º) dotes a serem pagos para as filhas ou irmãs do

associado conforme se depreende para além dos estatutos, da leitura das atas da instituição.

As fontes de arrecadação do Montepio seriam as jóias, mensalidades, bolsas de caridade

(eram passadas em todas as reuniões e os sócios deviam voluntariamente doar), donativos e

subvenções auferidas pelo poder público.49

As jóias sofreram reajustes de preço, entre 1852 e 1854 eram no valor de 5$000

(cinco mil réis) em 1856 passaram para 8$000 (oito mil réis), em 1860 20$000 (vinte mil

réis) e no final do XIX passaram custar 22$000 (vinte e dois mil réis); o diploma da

sociedade valia 1$000 (mil réis) que era o mesmo preço da anuidade. O sócio seria remido

após 20 anos de pagamento ou então, quando morresse em dia com o Montepio, havia

ainda a possibilidade de se quitar de uma vez todas as despesas, pagando-se a quantia de

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200$000 (duzentos mil réis) o que aparentemente somente ocorreu duas vezes para todo o

período estudado.

No início se cobrava multa pelo atraso nas mensalidades, mas já em 1857 esta

prática foi abolida. Também se permitia ao sócio quitar mais de uma mensalidade, sendo

que as formas de pagamentos eram extremamente variadas dificultando uma análise da

contabilidade mais geral. Também havia um número significativo de sócios que

abandonavam o Montepio porque não pagavam mais as mensalidades, embora não

tenhamos os números exatos.50

O dinheiro recolhido das Bolsas de Caridade e das contribuições dos sócios

honorários era colocado em contas à parte e dados como dotes das órfãs dos associados. O

restante do dinheiro recolhido era investido em várias casas bancárias existentes em

Salvador nesse período como na Sociedade de Comércio, no Banco da Bahia, na Caixa

Reserva Mercantil e na Caixa União Comercial, aparentemente a prática de investimento

em penhor foi posta de lado pelos associados após a quebra da Caixa Comercial em 1868,

que investia também nesta atividade.

Em 1858 o presidente da província da Bahia cedeu ao Montepio autorização para

realizar 20 loterias (5 por ano) isentas dos impostos provinciais. A partir de 1865 o

Montepio passou a receber 666$660 (seiscentos e sessenta e seis mil e seiscentos e sessenta

réis) por ano do governo provincial; em1869 o subsídio passa a ser de 1:000$000 (um

conto de réis) até 1884, quando será interrompido. Aparentemente a partir de 1890 com a

proclamação da República voltam os subsídios do Governo Estadual.

Entre outras formas de arrecadação temos doações realizadas pelos sócios

honorários, hipoteca de imóveis, amortizações de letras, aluguéis de cômodos sublocados e

importância arrecadadas em festivais beneficentes. Em 1893 a associação comprou a sua

sede que custou cerca de 10:000$000 (dez contos de réis) além de ter adquirido uma

quadra no cemitério da Quinta dos Lázaros para o enterro dos sócios que se dispusessem a

comprar uma sepultura.

Entre as várias despesas as maiores eram o auxílio doença e o pagamento de

pensões aos parentes dos associados. Inicialmente pagava-se 4$200 (quatro mil e duzentos

réis) por semana para um doente, a partir de 1860 esse valor passa a ser de 8$000 (oito mil

réis por mês) – segundo a autora, tal fato se deu por causa da Guerra do Paraguai –

entretanto da análise das receitas e despesas da instituição percebe-se que os gastos

estavam chegando a um limite „perigoso‟ e, portanto, seriam necessários cortes e ajustes.

De qualquer maneira as duas hipóteses não são excludentes, tanto que em 1869 pede-se ao

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presidente de província autorização para se reduzir os valores pagos às viúvas e demais

pensionistas.

O atendimento aos doentes normalmente era feito por médicos que ofereciam

gratuitamente atendimento aos associados e recebiam o título de sócios honorários. Vários

outros cidadãos „de bem‟ irão ser convidados para serem sócios honorários, normalmente

eram escolhidos pela capacidade de fazerem doações à instituição ou por serem políticos

influentes que acabariam por beneficiá-la de alguma forma. Somente em um caso houve a

recusa de alguém em aceitar ser sócio honorário, foi o caso do Barão de Palma ou Antônio

de Freitas Paranhos alegando não pertencer a „mesma linhagem dos associados‟.

Ainda segundo Silva, a prática do montepio de ajudar os sócios em momentos de

moléstias aumentou consideravelmente com o tempo, o que junto com as despesas das

pensões agravaram as contas da associação. A partir de 1890 a associação deixa de prestar

este tipo de apoio por começar a ter problemas sérios de caixa. Demonstrando ainda

características bem marcantes do século XIX, algo que nunca se alterou no montepio foi o

valor e o próprio pagamento dos enterros – o bem morrer seria fundamental nessa

sociedade e o grande orgulho de seus membros, tanto que era uma obrigação de todos os

sócios acompanharem os funerais dos associados.

Entre outras despesas do montepio, a conservação na quadra do cemitério, as

reformas no prédio e na capela particular da irmandade e o pagamento dos ordenados dos

funcionários também se tornaram significativas ao longo do período. A análise dos dados

está incompleta, pois faltam os registros contábeis para o período de 1871 até 1889, sendo

que haverá um equilíbrio financeiro nas duas primeiras décadas da instituição (1853 –

1870). O saldo do montepio nesse período seria de 16:178$052 (dezesseis contos, cento e

setenta e oito mil e cinqüenta e dois réis), fora os juros, caso das aplicações financeiras – o

que não foi anotado na contabilidade.

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Gráfico 5: Receitas e Despesas do Montepio Casa dos Artistas de Salvador (1852 –

1879 / 1890 – 1900)

0

5000000

10000000

15000000

20000000

25000000

1852

1854

1856

1858

1860

1862

1864

1866

1868

1870

1872

1874

1876

1878

1880

1882

1884

1886

1888

1890

1892

1894

1896

1898

1900

anos

em

réis

receita despesa

Fonte: Tabelas 1 e 2 Receita e Despesa Sociedade Montepio dos Artistas, Silva, op. cit. pp 75 – 88.

Como faltam os dados entre 1871 e 1889, percebemos que o período seguinte (de

1890 até 1900) é marcado por um descompasso entre receita e despesas, sendo que neste

período o déficit do montepio será de menos 3:323$030 (três contos, trezentos e vinte e

três mil e trinta réis). Embora a compra da sede em 1893 tenha sido um investimento

considerável, irá „fragilizar‟ as já combalidas finanças da instituição. Percebe-se ainda que

a maior parte das rendas do Montepio eram de fato o pagamento das jóias e mensalidades,

tanto que os anos em que se terá uma „folga considerável em suas receitas comparadas com

as despesas serão os anos de 1859 e 1895 quando respectivamente se associaram ao

montepio 106 e 87 novos sócios as maiores adesões registradas na trajetória da associação.

No final do século a sociedade irá lutar contra o esvaziamento pois o número de

sócios cai bastante e esta crise dará o tom melancólico com que os diretores irão se dirigir

aos associados e também ao poder público pedindo auxílio para a instituição.

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Gráfico 6: Receitas e Despesas do Montepio Casa dos Artistas de Salvador (1852 –

1879 / 1890 – 1900)

0

20

40

60

80

100

120

1852

1854

1856

1858

1860

1862

1864

1866

1868

1870

1872

1874

1876

1878

1880

1882

1884

1886

1888

1890

1892

1894

1896

1898

1900

anos

no

de i

nscri

tos

CMA Salvador

Fonte: Idem, ibidem

Em uma rápida análise comparativa, apontando ainda os limites das fontes

pesquisadas, podemos entender que os dois Montepios aqui abordados seriam marcados

muito mais por diferenças do que por semelhanças. Embora mais racional do ponto de

vista da estrutura e objetivos, visto que não prestava auxílio para os doentes e também não

contribuíam com funerais, o Montepio Geral dos Servidores do Estado terá uma

administração marcada pelos favores públicos e pelo descontrole de suas contas. As altas

pensões pagas aos funcionários ainda em vida ou aos seus parentes, bem como os desvios

de verba que ocorreram mas que não podem ser identificados na contabilidade geral

certamente contribuíram para essa situação, embora o auxílio do governo tenha sido

diversas vezes socorrido a Instituição. O perfil social dos membros desse montepio

também será bastante diferenciado dos demais montepios abordados, formado por parte

significativa dos setores dominantes do país, a experiência de seus membros será, como

tantas vezes na história do Brasil, marcada pela estatização das perdas e privatização dos

lucros.

Por sua vez, o Montepio Casa dos Artistas de Salvador irá ter um perfil distinto,

composto pela população ensanduichada de Salvador, se diferenciou das irmandades e

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demais associações devocionais pela questão da profissão e de não possuir recortes étnicos

expressamente delimitados – embora na realidade a clivagem racial fosse existente, sendo

a maioria de seus membros negros, mulatos, mestiços. Diferenciou-se ainda do Montepio

dos servidores do Estado pelo seu perfil muito mais popular e por uma contabilidade com

um peso muito „menor‟. Embora recebendo ocasionalmente apoio do Estado e dos setores

dominantes, essa associação irá manter suas contas na „fronteira‟ possível, até porque a

própria lógica do montepio era a do auxílio entre os pares, e os membros Montepio dos

Artistas de Salvador não encontrava estes pares no Estado. A manutenção da “morte

oitocentista” será também indicativo das permanências culturais dessa sociedade e os

limites de seus investimentos também são indicativos dos limites dessa economia.

4. Economia e sociedade do Recôncavo da Bahia

Para analisarmos a importância e a dimensão que irá ter o Montepio Casa dos

Artistas de Cachoeira, faz-se necessário, mesmo que sucintamente, uma análise da

economia da região do Recôncavo na qual a associação se inseria. Uma das províncias

mais importantes do Império no século XIX, a província da Bahia era marcada pela

agricultura de exportação baseada na escravidão. Vários produtos saíam pelo porto

principal da província, o de Salvador, em direção aos países europeus, principalmente,

desde o período colonial. O Recôncavo além do principal „centro‟ produtor da província

tinha um aspecto, abordado por Barickman, de possuir três grandes artigos comerciais

produzidos na mesma região: a cana-de-açúcar, o fumo e os produtos de subsistência –

estes últimos voltados para o mercado interno. 51

No período colonial, principalmente nos séculos XVII e XVIII, parte do Recôncavo

Sul, mais precisamente o trecho navegável do baixo Rio Paraguaçu e o povoado (Vila) de

Cachoeira, jogou um papel especial nas rotas de comércio em direção ao hinterland (Sertão

do São Francisco e Minas Gerais) de um lado, e em direção aos mercados consumidores da

Europa e África de outro, constituindo-se em um entreposto do que se produzia para

exportar e do que se importava do império português. Como a região era pródiga em

termos de recursos naturais, inclusive pastagens, foram desenvolvidas, neste local, várias

atividades produtivo-primárias e também produtivo-secundárias, como a fabricação de

açúcar e de charutos.

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O território da colônia foi incorporado ao circuito internacional de comércio devido

a atividades extrativistas dos vegetais, particularmente da madeira denominada pau-brasil.

Estas atividades desenvolveram-se principalmente na Mata Atlântica ao sul de Salvador,

mas no Recôncavo, entretanto, não foram as únicas, pois além da extração de produtos

vegetais houve também a minerais e animais Ao extrativismo, segue-se ainda no século

XVI a produção de açúcar, atividade que combinava a agricultura com o processamento

industrial da cana, constituindo o denominado complexo açucareiro. As demais atividades

econômicas nesta fase colonial da história nacional eram subsidiárias à produção

açucareira, entre elas a criação extensiva de bovino, que se estendia pela zona de transição

para o semi-árido, a mata fina ou agreste e entrava no semi-árido. A produção de raízes e

tubérculos, como a mandioca, frutas, poucos cereais e posteriormente fumo e algodão,

estes últimos também se constituindo mercadorias do comércio internacional, integravam o

elenco de atividades conduzidas no período pelo mesmo tipo de agente que teve origem no

extrativismo e por pequenos produtores independentes a ele anteriormente articulado.

Estas outras atividades não chegaram, contudo, a ter o peso da cana de açúcar, que,

pela sua hegemonia, moldou no Nordeste relações de produção e uma sociedade que viria a

ser a marca do Brasil, influenciando a construção do conjunto de instituições, de

mentalidades e de valores. Com exceção de uma atividade agrícola atomizada de poucos

homens livres, a produção extrativa e não extrativa no Brasil se organizava utilizando

como força de trabalho a mão-de-obra escrava dos índios e, posteriormente, das

populações africanas. Esta fase colonial da história nacional é conceituada por alguns

historiadores como pré-capitalista, estando associada à grande propriedade da terra,

outorgada pelo poder colonial a senhores da nobreza, e, por outros, como plenamente

capitalista, por estar vinculada ao capital mercantil e aos circuitos internacionais de

acumulação.

Não obstante, ser pré ou plenamente capitalista, a principal atividade desta

economia, a açucareira, entra em uma profunda crise cujo início é datado por alguns como

1830, quando o açúcar perde a liderança de exportações da recém nação brasileira. As

origens desta crise, em geral associada com a concorrência do açúcar produzido nas

Antilhas, estariam, na incapacidade da classe de senhores de engenho de se adaptar às leis

de 1850 (Fim do Tráfico) e 1871 (Lei do Ventre Livre) e também na mentalidade

estritamente escravista, que não concebia alterações nas relações de produção e nem nas

forças produtivas, mantendo a rotina nas técnicas agrícolas e agroindustriais e não

introduzindo inovações tecnológicas.

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O que nos cabe ressaltar é que, inserido numa sociedade de tradição escravista

agrícola exportadora, a cidade de Cachoeira teria papel fundamental na distribuição desses

produtos, tanto para o interior baiano, como para o porto que levaria tais produtos para o

mercado internacional; faria também o papel inverso, ou seja, de distribuir os produtos

chegados pelo porto via importação. Dessa forma, a cidade assumiria ares de encontro e,

por isso, caráter mercantil e de passagem de várias tropas e embarcações que faziam a

distribuição aludida acima. Como característica desse tipo de cidade, a gama de serviços

oferecidos seria diversificado e, portanto, aglutinaria em seu espaço trabalhadores com

várias funções, algumas bastante especializadas.

5. O Montepio Casa dos Artistas de Cachoeira

Uma das formas de associação dos trabalhadores especializados, residentes na

cidade de Cachoeira e adjacências, aos quais nos referimos na parte anterior deste trabalho

seria a Montepio Casa dos Artistas de Cachoeira52

. Esta instituição53

será fundada em 19

de fevereiro de 1874 “com o fim de instalarem uma associação beneficente de socorros”.54

Na Assembléia de abertura, nas dependências da Irmandade do Senhor São Benedito na

cidade de Cachoeira. Foi escolhido ainda como protetor da entidade o “Divino Mestre

Nosso Senhor Jesus Christo” e o „artista‟ José Clarião Lopes, um dos sócios fundadores,

tomando a palavra fez um pequeno discurso, demonstrando a utilidade e importância de tal

instituição, em que o artista tinha “um arrimo para as vicissitudes da sorte, e a viuvez e

orfandade um abrigo seguro”.55

Uma parte significativa da documentação da instituição se perdeu nas constantes

enchentes que assolaram as cidades de Cachoeira e São Félix banhadas pelo Rio Paraguaçu

no século XX. Assim, grande parte das análises por nós empreendidas se dará pela

descrição das atas e dos poucos documentos fiscais e seriais encontrados. Desses dados

chama atenção a “Relação de Sócios do Montepio Casa dos Artistas Cachoeiranos” de

1902 onde encontramos a escrituração dos sócios, sua situação na instituição (remidos,

eliminados, benfeitores e pagantes). Tais dados foram agregados nos gráfico 7 e 8 que

seguem abaixo

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30

Gráfico 7: Número de Associados da Casa Montepio dos Artistas

(1874 – 1900)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

1874

1875

1876

1877

1878

1879

1880

1881

1882

1883

1884

1885

1886

1887

1888

1889

1890

1891

1892

1893

1894

1895

1896

1897

1898

1899

1900

anos

No

de

In

sc

riç

õe

s

Fonte: Relatórios da Casa Montepio dos Artistas

Ao todo entre 1874, quando foi criada a sociedade, até a virada do século em 1900

o Montepio Casa dos Artistas de Cachoeira teve 519 associados. Pela análise dos dados

podemos perceber que o Montepio iniciou suas atividades com cerca de 18 sócios e no ano

seguinte conseguiu a expressiva adesão de novos 42 membros. Nos dois anos seguintes

cerca de 47 novos membros se associaram; 15 em 1876 e 32 em 1877. Assim, quatro anos

depois de fundada o Montepio já possuía 107 membros, número significativo para a

população da cidade e se compararmos com o Montepio dos artistas de Salvador que nos

quatro primeiros anos conseguiu a adesão de 255 membros. Nos anos que se seguiram

vemos uma queda no número de novas adesões que se prolongará pelos primeiros anos da

década seguinte, sendo que em 1881 será um dos únicos anos que não registramos

nenhuma novo sócio.

Mesmo sendo a associação uma instituição com pendores abolicionistas, conforme

se verá, a expectativa da abolição e as mudanças por ela geradas podem ter sido um dos

motivos que levou busca de formas de se garantir algum patrimônio. Assim vemos uma

tendência crescente de novos associados a partir de 1885 sendo que o ano de 1893 será

aquele com o maior número de novas inscrições – cerca de 70 no total. A nova legislação

que passou a regulamentar os montepios no país pode explicar este aumento, ao mesmo

tempo, acreditamos que as transformações com o final do Império e a passagem para a

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República tenham também aumentado a insegurança da população de artesãos do

Recôncavo que passou a buscar investimentos mais „seguros‟ em uma época de grande

turbulência e mudanças econômicas. Cumpre assinalar que também no Montepio de

Salvador os anos seguintes à proclamação da república foram de inscrições maciças,

indicando a possibilidade de um padrão nas adesões à sociedades do mesmo tipo.

Por volta de 1900, a situação do montepio seria a seguinte: dos 519 associados que

passaram pelo montepio, cerca de 135 já haviam falecido e seus parentes recebiam apoio

da associação; havia ainda 202 sócios contribuintes como se percebe abaixo:

Gráfico 8: Situação do Montepio Casa dos Artistas em 1900

202 / 39%

5 / 1%

135 / 26%

78 / 15%

99 / 19%

eliminados remidos falecidos beneméritos pagantes

Fonte: Relatórios da Casa Montepio dos Artistas

Nota: o 1º número refere-se aos valores absolutos e o 2º número à percentagem (Ex: 202/39%)

Chama atenção no caso do montepio o número de pessoas que saíram da sociedade,

pois, dos 519 associados, 99 ou 19,05% não conseguiram pagar as mensalidades ou

pediram para sair sendo normalmente definidos como „eliminados‟. Na documentação

estudada não aparece a data em que tais sócios saíram, sendo que então somente podemos

assinalar o número final e não percebermos a evolução dos mesmos. De qualquer maneira

é interessante notar uma média relativamente baixa de sócios eliminados o que pode ser

indicativo de fortes laços de solidariedade para os membros da instituição.

Da mesma forma é bastante expressivo o número de pessoas que conseguiram

„empatar‟ uma soma considerável quitando suas contribuições – 78 ou 15,02% do total de

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associados conseguiram tal proeza –, tendo se tornado „remidos‟. O fato do valor para se

quitar o montepio ser de 200$000 (duzentos mil réis) tanto para Cachoeira como para

Salvador mostra um fato peculiar do Montepio de Cachoeira se comparado ao da capital da

província, onde Silva aponta somente dois sócios em situação idêntica. No limite dado

pelas fontes, podemos pensar em „estratégias‟ distintas dos associados das duas cidades,

além de demonstrarem formas de acumulação em paralelo ao Montepio.

Cabe assinalar aqui os sócios honorários ou beneméritos, para o período estudado

tivemos um total de cinco, sendo três deles expressivos líderes políticos da região, e

mesmo além da província, como o Barão Homem de Melo associado em 1878. O barão foi

Francisco Ignácio Marcondes Homem de Melo, político e magistrado brasileiro originário

de São Paulo tendo sido presidente de diversas províncias e da Bahia em 1874, além de

inspetor da Instrução Pública do Município da Corte (Rio de Janeiro) durante o período de

1874 a 1878. Outro foi o 2º Barão do Iguape ou Ignácio Rodrigues Pereira Dutra associado

em 1883 e que ainda era comandante da Guarda Nacional na região. Já o Barão de Lacerda

Paim ou Honorato Antonio de Lacerda Paim era, por sua vez, médico, tendo sido deputado

na constituinte baiana em 1891 se associou ao montepio em 1900.

O médico Francisco Romano de Souza, herói da Guerra do Paraguai, tornou-se

sócio benemérito em 1886 e, a exemplo do Montepio de Salvador, também prestava

atendimento voluntário aos sócios enfermos. Como também parece ter sido o caso do

Farmacêutico Helvécio H. Sapucaia associado como benfeitor desde 1876.56

Estas

estratégias eram, portanto, bastante semelhante para as duas associações, somente que no

caso do Montepio dos Artistas de Cachoeira não encontramos na análise da

documentação concessões públicas como subvenções ou loterias, indicando tratar-se no

caso mais de uma questão de status e reconhecimento social pelos setores dominantes e

benefícios diretos (como exames e remédios) do que favores políticos.

Quanto à composição social dos membros do montepio, não existe uma lista

completa das profissões, mas da leitura de algumas atas confirma-se o perfil de artífices de

profissões variadas como no caso de Salvador. Eram carpinteiros, mestres pedreiros,

pintores, operários da ferrovia, ou genericamente chamados “aqueles vivem da arte

liberal”. A localização geográfica dos sócios correspondia grosso modo às vilas e distritos

do recôncavo, eram moradores de Cachoeira, São Félix, Maragogipe, Muritiba e regiões

vizinhas, demonstrando ainda o alcance significativo que a vila de Cachoeira possuía ainda

no final do século XIX. De perfil bastante variado, alguns eram proprietários de escravos

pelo que se vê da documentação quando em 1881 em uma sessão solene um sócio “liberta

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um seu escravo” tendo em vista a homenagem de 10 anos da morte do poeta abolicionista

baiano Castro Alves. Aparentemente as inclinações abolicionistas da associação irão

conviver em harmonia com a propriedade de cativos, no caso aludido, denota uma

diferenciação social entre os perfis de riqueza dos membros do montepio.

Pela análise das atas do Montepio, podemos indicar como alguns dos eventos mais

importantes da associação. Assim, em 18 de outubro de 1874, foram aprovados os estatutos

pelo governo e, então, foi feito depósito de jóias, estipuladas em 20$000 (vinte mil réis)

pelos sócios instaladores e os subseqüentes. O total arrecadado foi de 462$000

(quatrocentos e sessenta e dois mil réis), além de ter-se iniciado o pagamento de

mensalidades em primeiro de novembro do mesmo ano.57

No biênio de 1876-1877, a nova

diretoria tomou posse e lhe foram entregues pela anterior os bens que a sociedade possuía:

três cautelas do Banco Mercantil da Bahia no valor de 233$000 (duzentos e trinta e três mil

réis), 218$780 (duzentos e dezoito mil, setecentos e oitenta réis) em moeda corrente, 60

recibos de mensalidades referentes a 60$000 (sessenta mil réis), um arquivo, duas cadeiras

de braço, uma escrivaninha com caneta e pena aparelhadas de ouro, uma bolsa e sete livros

que têm a escrituração da sociedade. Como a Casa Montepio dos Artistas de Cachoeira

ainda funcionasse na Irmandade de São Benedito, em 28 de maio de 1876 houve uma

discussão inicial sobre a necessidade de uma sede própria, visto que a sociedade

funcionava desde a fundação na dita Irmandade. Chegou-se ao consenso dessa necessidade

e, também, de uma contribuição por parte dos sócios para arrecadar quantia que pudesse

ampliar os fundos da sociedade e então pudesse adquirir um prédio para funcionamento em

sede própria. Houve doações por parte dos sócios presentes para iniciar tal processo.58

Também há a preocupação sobre a capacidade de ampliação da renda e posse do

Montepio. Em três de setembro de 1876 há um pedido, por parte do Tesoureiro, de retirada

do dinheiro do Montepio depositado no Banco Mercantil da Bahia por ter rendimentos

muito pequenos (somente 3% ao ano) e que estes sejam cambiados em apólices da dívida

pública geral, com rendimento melhor e, portanto, melhoria da arrecadação para a

instituição.59

A real possibilidade de adquirir sede própria surge em 29 de novembro do mesmo

ano. Aparece nesta ata a intenção e o pedido de autorização para comprar um sobrado de

dois andares que irá à leilão público, o que foi decidido positivamente por unanimidade

dos presentes.60

Este prédio próximo à Câmara Municipal e em uma das ruas mais

importantes da cidade é, ainda hoje, a sede da sociedade.

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Diversas datas assumirão ares de solenidade para o montepio, além da já citada

homenagem ao poeta Castro Alves, também a sessão de 13 de maio de 1888 por ocasião da

abolição da escravidão no país tomou ares de acontecimento social, visto ter a Sociedade

nítida e explícita intenção de louvar a publicação da lei áurea. Nos dizeres de um dos

sócios “esta lei que torna este grandioso Brasil realmente livre”. É importante perceber

que, além das atividades fundamentais deste tipo de associação de trabalhadores, também

havia uma função social do encontro, de espaço para as manifestações dos acontecimentos,

de cunho regional ou nacional, mais relevantes. 61

Quanto ao patrimônio da sociedade Montepio Casa dos Artistas de Cachoeira, é

possível perceber por suas atas sua capacidade de acumulação e de diversificação de bens.

O patrimônio pode ser conhecido pelas suas atas, onde o tesoureiro presta contas

trimestralmente do estado das finanças que cabe a ele cuidar. Entre esses bens, podemos

vislumbrar, além do prédio que serve de sede para a sociedade, mobília – algumas

importadas; jóias – provenientes de penhores que serviam de garantias para empréstimos

concedidos pelo Montepio; imóveis hipotecados – que compõem hoje um número de casas

distribuídas pela cidade e que são alugadas desde o século XIX, além de material para

funcionamento das reuniões. As formas de renda da sociedade também eram variadas:

aluguéis dos imóveis pertencentes ao Montepio, doações dos sócios, caixa de beneficência

(também eram doações) e juros das hipotecas e penhores.

As hipotecas, importante ativo das fortunas, tanto de indivíduos quanto de empresas

e sociedade de variadas naturezas, foi, durante o século XIX e início do XX, além de uma

forma de garantia de dívida, mecanismo de acumulação de bens assegurado pela lei de

execuções presente no Código Comercial de 1850.62

Era possível, desta forma, emprestar

e, no caso de não pagamento da dívida no prazo estipulado – no caso das hipotecas,

geralmente prazos mais longos –, executar a hipoteca judicialmente, o que certamente

contribuía para aumento de patrimônio, principalmente de imóveis para o credor. No caso

do Montepio, houve um acréscimo de imóveis bastante substancial para o acervo da

sociedade em questão. Embora seja limitada a documentação que nos possibilite ver estes

imóveis sendo adquiridos – seja por compra, ou por execução de hipotecas de dívidas –

não é incomum ver em suas atas a discussão acerca da decisão de executar algum devedor,

ou ainda, de cobrar aluguéis de imóveis que vão surgindo e constituindo este patrimônio à

medida que avançamos na documentação pesquisada.

Diferentemente das duas associações estudadas, o montepio de Cachoeira não irá

apresentar sinais de crise no período final do século XIX, para tanto, além de sua fundação

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ter se dado em período posterior as outras aqui abordadas, o que significou que os custos

com pensões, auxílio aos doentes e funerais foram „menores‟, aparentemente também

contribuiu a „estratégia‟ dos associados em capitalizarem o patrimônio da instituição em

hipotecas, imóveis empréstimos e penhores levados a cabo pelo próprio montepio. Uma

análise mais acurada dos investimentos do montepio encontra-se prejudicada pela falta da

documentação contábil, porém a capacidade de adquirir imóveis como forma de expansão

do patrimônio chama a atenção por se diferenciar dos outros montepios estudados que

somente possuíam a própria sede e, aparentemente também não investiram em

empréstimos e hipotecas. O caráter limitado de uma cidade no interior – embora fosse uma

animada praça comercial – parece ter tido um efeito mais positivo no caso do Montepio de

Cachoeira, concentrando ainda os sócios que se dispersariam em outras associações como

parece ter sido o caso do Montepio dos Servidores do Estado e dos Artistas de Salvador. A

diversificação das atividades econômicas, como no caso dos empréstimos sobre penhora e

hipotecas, parece cumprir ainda certas funções creditícias que na Corte e na Capital da

Província eram realizadas por instituições especializadas, diminuindo os „espaços‟ de

atuação destes montepios.

Seria interessante a análise das razões dos empréstimos realizados pelo Montepio,

bem como do perfil dos tomadores de empréstimos (se eram ou não sócios) e dos juros

praticados em tais operações. No limite assinalado pelas fontes percebe-se, entretanto, que,

além de um investimento possível, os empréstimos serviam como financiamento de setores

da população excluídos do sistema financeiro „oficial‟ e que também teriam dificuldades

em contrair empréstimos com os capitalistas locais. Dessa forma, o Montepio cumpria uma

importante função social em uma economia com forte movimento de transformação.

O Montepio Casa dos Artistas de Cachoeira terá uma trajetória singular dentro de

vários montepios no país. Enquanto a maiorias das instituições desse tipo entrarão em crise

nos anos 1930, o Montepio de Cachoeira continuará desenvolvendo suas atividades,

mesmo que de outras naturezas, embora no que diz respeito ao serviço de amparo aos

sócios tenha tido seu último ato em 1994, com o pagamento do funeral do então sócio que

ocupava o cargo de tesoureiro da sociedade. Hoje em dia, suas atividades resumem-se

principalmente na administração do patrimônio, sem que haja contribuição mensal dos

sócios.

***

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Notas de referência: 1 FREYRE (1983), p. IX; e, FRANCO (1969).

2 PIRES (2004).

3 Cidade da Bahia é a forma como Salvador aparece frequentemente citada na documentação do período, o

que de denota o seu papel central na formação cultural da província. Para entender a importância da cidade

de Salvador cf. principalmente. MATOSO (1992), pp 39 – 43. 4 PRADO JÚNIOR (2000).

5 MALERBA (2003).

6 CARVALHO (1980).

7 PEREIRA (2001).

8 FERREIRA (1998).

9 LEMONTEY (1832).

10 MARTÍNEZ SOTO (2005), p. 06.

11 O conceito de exclusivo metropolitano vem de NOVAIS (1995).

12 CARDOSO DE MELLO (1985).

13 CARVALHO (1980). E também, MOTA (1986).

14 OLIVEIRA (1992).

15 PIÑEIRO (2002).

16 Esse era o lema da Caixa Econômica da Cidade da Bahia cf. SOUZA (2003), p. 48.

17 LEVY (1994).

18 Idem, ibidem.

19 MARTINS (1979).

20 Cf. além de LEVY, op. cit.

21 Sobre a extensa discussão acerca dos escravos e as funções desempenhadas por estes na sociedade colonial

e imperial brasileira cf. SCHWARTZ (2001), particularmente o capítulo A historiografia recente da

escravidão brasileira. 22

LEVY, op. cit 23

LEVY, op. cit. 24

GUIMARÃES (1997). 25

PIRENNE (1963). 26

MARTÍNEZ SOTO, op. cit, p. 06. 27

SILVA (1998), p. 21. 28

REIS (1991). 29

SILVA, op. cit. p. 22. 30

Código Comercial Brasileiro de 25 de novembro de 1850. Disponível em: www.planalto.gov.br . 31

SOUZA (2003), p. 48. 32

Ver o código comercial disponível em: www.planalto.gov.br Título III, capítulo II: Da penhora, grifo

nosso. 33

Decreto Imperial no. 2711, de 19 de dezembro de 1860, § 5o do art. 32. 34

PEREIRA, op cit. 35

SILVA JÚNIOR (2003). 36

PEREIRA (1952), p. 04. A referência ao estatuto proposto vem da obra de LEMONTEY, op. cit. pp 32 –

39. 37

Sobre a discussão da estrutura ocupacional do Estado Imperial Brasileiro cf. CARVALHO, op cit. 38

PEREIRA, op. cit., p. 10. 39

Relatório Montepio Geral dos Servidores do Estado biênio 1887 – 1889, Anexo, tabela III. 40

Idem, ibem 41

Idem, ibidem. p. 09. 42

LEMONTEY, op. cit, p. 33. 43

Idem, ibidem, p. 09. 44

Idem, ibidem. p. 12 45

Idem, ibidem. p. 12. 46

SILVA (1998). 47

Ata de Fundação do Montepio Casa dos Artistas de Salvador apud: SILVA, op. cit, p. 37 48

SILVA, op cit. 49

Idem, p. 53. 50

Idem, p. 54. 51

BARICKMAN (2003). 52

Também chamado na documentação como Montepio Casa dos Artistas Cachoeiranos.

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53 Toda a documentação consultada para a confecção deste trabalho foi gentilmente cedida para consulta pelo

atual Presidente da Sociedade Montepio Casa dos Artistas Cachoeiranos, senhor Carlos Aragão, a quem

agradecemos publicamente a atenção e disponibilidade em nos atender e dar acesso às informações acerca

desta sociedade. 54

Atas de Assembléia da Sociedade Montepio Casados Artistas de Cachoeira doravante (19/02/1874). 55

Idem, ibidem. 56

AASMCAC (15/03/1876) 57

AASMCAC (10/02/1874) 58

AASMCAC (28/05/1876) 59

AASMCAC (03/09/1876) 60

AASMCAC (29/11/1876). 61

AASMCAC (13/05/1888). 62

Cf. ALMICO (2007).

Bibliografia:

Leis:

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Decreto Imperial no. 2711, de 19 de dezembro de 1860, § 5o do art. 32.

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