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AS MÍDIAS SOCIAIS E O PROCESSO DE INTERAÇÃO SOCIAL UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O MARKETING DANTAS, Ana Lúcia de Faria Lucena Doutora [email protected] RIZZARDI, Patrik Estudante do curso de Administração [email protected] RESUMO O presente artigo tem como finalidade ampliar a discussão sobre os processos de interação social e as mídias sociais. Para a isso foram apresentadas as idéias de autores como Berguer e Luckmann (2003) que abordam sobre o conhecimento que rege a conduta da vida cotidiana, quando a realidade social da vida cotidiana é partilhada entre os indivíduos num sistema de relação onde, entre outros, ocorre a interação face a face. Segundo os autores, na interação face a face a subjetividade do outro é mais acessível em função da existência de inúmeros sintomas. Para eles, essa situação é a única que consegue reproduzir os sintomas, que por sua vez pode reduzir a subjetividade do outro. Somente nesta situação a subjetividade do outro é expressivamente “próxima”. Ou seja, para os autores, a interação face a face é a principal experiência vivenciada no processo de interação social. Por outro lado, uma das realidades incontestáveis atualmente é a utilização generalizada das redes sociais, seja ela, Orkut, fotolog, chat, blog ou os mais recentes como o facebook e twitter, que mesmo não existindo a relação face a face promove uma interação social. Estas ferramentas têm como finalidade principal a relação virtual dos usuários. De fato, em todos estes meios de relacionamentos, constatamos a existência da interação entre usuários, mas também não podemos esquecer que existe da mesma forma a interação entre maquinas, sistemas, software, componentes responsáveis pela existência das redes sociais, ou seja, variáveis interdependentes que em conjunto resultam na interação do todo. Em face deste contexto o estudo teve como objetivo geral relacionar as teorias de Berguer e Luckmann (2003) na obra “A construção social da realidade” com os processos de interação social utilizados nas redes sociais. Entre os principais resultados estão algumas reflexões que podem contribuir para que as empresas possam ampliar a atuação do marketing nas redes sociais. Durante o desenvolvimento do estudo foram utilizados os seguintes procedimentos metodológicos: pesquisa exploratória e descritiva, desenvolvido por meio de pesquisa bibliográfica e documental, que contou com alguns dos resultados da pesquisa realizada na UNICA/SOCIESC e que

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AS MÍDIAS SOCIAIS E O PROCESSO DE INTERAÇÃO SOCIAL UMA

CONTRIBUIÇÃO PARA O MARKETING

DANTAS, Ana Lúcia de Faria LucenaDoutora

[email protected]

RIZZARDI, Patrik Estudante do curso de Administração

[email protected]

RESUMO

O presente artigo tem como finalidade ampliar a discussão sobre os processos de interação social e as mídias sociais. Para a isso foram apresentadas as idéias de autores como Berguer e Luckmann (2003) que abordam sobre o conhecimento que rege a conduta da vida cotidiana, quando a realidade social da vida cotidiana é partilhada entre os indivíduos num sistema de relação onde, entre outros, ocorre a interação face a face. Segundo os autores, na interação face a face a subjetividade do outro é mais acessível em função da existência de inúmeros sintomas. Para eles, essa situação é a única que consegue reproduzir os sintomas, que por sua vez pode reduzir a subjetividade do outro. Somente nesta situação a subjetividade do outro é expressivamente “próxima”. Ou seja, para os autores, a interação face a face é a principal experiência vivenciada no processo de interação social. Por outro lado, uma das realidades incontestáveis atualmente é a utilização generalizada das redes sociais, seja ela, Orkut, fotolog, chat, blog ou os mais recentes como o facebook e twitter, que mesmo não existindo a relação face a face promove uma interação social. Estas ferramentas têm como finalidade principal a relação virtual dos usuários. De fato, em todos estes meios de relacionamentos, constatamos a existência da interação entre usuários, mas também não podemos esquecer que existe da mesma forma a interação entre maquinas, sistemas, software, componentes responsáveis pela existência das redes sociais, ou seja, variáveis interdependentes que em conjunto resultam na interação do todo. Em face deste contexto o estudo teve como objetivo geral relacionar as teorias de Berguer e Luckmann (2003) na obra “A construção social da realidade” com os processos de interação social utilizados nas redes sociais. Entre os principais resultados estão algumas reflexões que podem contribuir para que as empresas possam ampliar a atuação do marketing nas redes sociais.Durante o desenvolvimento do estudo foram utilizados os seguintes procedimentos metodológicos: pesquisa exploratória e descritiva, desenvolvido por meio de pesquisa bibliográfica e documental, que contou com alguns dos resultados da pesquisa realizada na UNICA/SOCIESC e que apresentou elementos importantes no sentido de contribuir com as discussões sobre este novo fenômeno: as redes sociais. Os dados da pesquisa contribuíram para ampliar a discussão sobre a importância das interações sociais e sua influencia nas mídias sociais.

PALAVRAS-CHAVE: Mídias Sociais, marketing e interação social.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo apresenta algumas reflexões alcançadas durante o desenvolvimento

do projeto de pesquisa realizado na UNICA/SOCIESC, em Florianópolis, que abordou sobre

os processos de interação social segundo os autores Peter L. Berger e Thomas Luckmann e o

uso das redes sociais segundo Raquel Recuero.

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Na obra “A construção social da realidade” os autores Berger e Luckmann (2003)

abordam sobre o conhecimento que rege a conduta da vida cotidiana, quando a realidade

social da vida cotidiana é partilhada entre os indivíduos num sistema de relação onde, entre

outros, ocorre à interação face a face. Segundo eles, na interação face a face a subjetividade

do outro é mais acessível em função da existência de inúmeros sintomas, como as expressões

faciais, movimentos corporais, entre outros.

Para eles, essa situação é a única que consegue reproduzir os sintomas, que por sua

vez pode reduzir a subjetividade do outro. Somente nesta situação a subjetividade do outro é

expressivamente “próxima”. Ou seja, para os autores, a interação face a face é a principal

experiência vivenciada no processo de interação social.

Por outro lado, uma das realidades incontestáveis atualmente é a utilização

generalizada das redes sociais, seja ela, Orkut, fotolog, chat, blog ou os mais recentes como o

facebook e twitter, que mesmo não existindo a relação face a face promove uma interação

social. Estas ferramentas têm como finalidade principal a relação virtual dos usuários. De

fato, em todos estes meios de relacionamentos, constatamos a existência da interação entre

usuários, mas também não podemos esquecer que existe da mesma forma a interação entre

maquinas, sistemas, software, componentes responsáveis pela existência das redes sociais, ou

seja, variáveis interdependentes que em conjunto resultam na interação do todo.

A partir deste contexto o presente estudo tem como objetivo geral relacionar as teorias

de Berguer e Luckmann (2003) na obra “A construção social da realidade” com os processos

de interação social utilizados nas redes sociais.

Quanto aos procedimentos metodológicos adotados, o estudo possui um caráter

exploratório e descritivo, realizado por meio de uma pesquisa bibliográfica e documental.

Segundo Vergara (2000) pesquisa exploratória é realizada em área na qual há pouco

conhecimento acumulado e sistematizado, ou seja, tem como objetivo aprimorar idéias,

levantar hipóteses sobre assuntos pouco explorados. Já a pesquisa descritiva procura obter

informações e descrever características de determinada população ou fenômeno. Pode

estabelecer correlações entre variáveis e definir sua natureza.

Para Gil (2002) A pesquisa bibliográfica é o estudo sistematizado e desenvolvido a

partir de material impresso ou automatizado publicado em livros, revistas, jornais, rede

eletrônicas, e que seja de acesso público. E a pesquisa documental é realizada em documentos

pertencente a órgãos públicos e privado de qualquer natureza, ou com pessoas: registros,

regulamentos, circulares, ofícios, memorandos, balancetes, disquetes, cartas pessoais, dentre

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outros. Como fontes de dados para o presente estudo foram utilizados os dados de pesquisa

realizada com os alunos da UNICA/SOCIESC sobre o uso das mídias sociais.

O artigo está estruturado da seguinte forma: primeiramente são apresentadas as idéias

de Berguer e Luckmann (2003), em seguida são abordados alguns aspectos sobre as

interações nas redes sociais, depois os temas são relacionados ao estudo realizado e, por fim,

são apresentadas algumas reflexões que podem contribuir para o marketing.

2 INTERAÇÃO SOCIAL E REDES SOCIAIS

Segundo Berger e Luckmann (2003), antes de pensarmos em interpretar o mundo

coerente em que vivemos, devemos entender a realidade da vida cotidiana, ou seja, levar em

consideração todos aqueles fatores intrínsecos, uma vez que este “mundo coerente” nada

mais é do que a realidade interpretada e subjetivada de modo a dar sentido para cada um. Da

mesma forma como se dá na interação social, onde esta é considerada por caráter subjetivo,

ou seja, a realidade é constantemente interpretada pelos diferentes atores sociais.

Neste mundo coerente, supracitado, existe também o consenso de que a formação

desta realidade não é tão somente individual, ou seja, a interpretação subjetiva extrapola o

membro em si e parte para a um supersistema, muito mais amplo. Sistema este que origina o

pensamento e a ação dos homens comuns, sendo então firmado por este como real.

Ainda conforme os autores, esta interpretação tomada como real pelos homens

comuns relaciona-se ao contexto do que definimos de “senso comum”, que possui vários

vieses de estudo e que também define a realidade cotidiana. Logo, esta interpretação é de

suma importância uma vez que possui uma suposição pela qual aos homens torna-se

inquestionável.

Dentro desta idéia, há a percepção da consciência e que ela é sempre intencional, ou

seja, o que o autor quer dizer é que independentemente do que fazer em relação a qualquer

coisa seja ela pessoa ou objeto, que esta ação não será abstrata tão pouco inerte, que sempre

isto implicará na lucidez e que pouco importa o objeto da experiência. O que de fato é objeto

de estudo dos autores, é o caráter intencional comum de toda consciência.

Para os autores, a consciência está presente em diversas esferas da realidade. Ela

pode, e é participante de múltiplas realidades, nas quais é totalmente possível a sua transição

de uma para outra, mas que para isso é preciso o desvio da atenção de uma para outra.

Subentende-se que uma não existe ao mesmo tempo em que a outra, e vice versa, e que a

transição entre elas é denominada pelos autores como uma espécie de “choque”. A mais

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comum, destas transições, seria o sonho. O deslocamento de uma realidade a outra, dá-se ao

ato de acordar, onde uma das realidades é instantaneamente finalizada dando lugar a segunda,

mesmo que depois da transição possam existir “restos” da realidade vivenciada

anteriormente, são os chamados “restos diurnos” ou lembrar-se do que sonhou.

A realidade, a que passamos a maior parte do dia, a que chamamos de real, também é

aquela “realidade por excelência”, e é nesta que a tensão e a consciência tangenciam o

máximo da vida cotidiana, uma vez que nesta há uma imposição muito mais maciça, concisa,

de caráter urgente e mais intenso. Isso tudo porque, é nesta realidade que posicionamos o

nosso “aqui e agora”, pois é este o foco da nossa atenção no cotidiano, ou seja, a zona a qual

está mais próxima o “eu” como pessoa é a minha própria manipulação corporal, que domina e

modifica o meu cotidiano, ou seja, direciona, baseado na minha atenção principal, aquilo que

estou fazendo, fiz ou farei.

Importante também é o fato de que não é possível, não atualmente, existir sem que

haja, sem que exista a interação e comunicação, seja com alguém, grupo ou com o mundo.

Esta relação deve existir, pois, corresponde a uma atitude natural do ser humano e uma

atitude natural dos outros também, uma vez que há compreensão pelo outro ator social e que

isto define o meu “aqui e agora”, porém é exatamente isso que pode definir o recíproco disto,

uma vez que o “aqui” para mim é o “lá” de outra pessoa, e da mesma forma como o “agora”

não pressupõe o mesmo para o outro ator.

Por isso, o conhecimento do senso comum é o conhecimento que eu partilho com os

outros nas rotinas normais, evidentes da vida cotidiana, e a realidade desta é admitida como

nossa realidade por excelência. Para concluir-se tal, não longe precisa-se ir ou entender, pois

o simples fato da presença torna isso factível, ou seja, por si só verificável.

Ainda segundo Berguer e Luckmann (2003), no que é um dos objetivos centrais deste

trabalho, existe a interação social na vida cotidiana, esta, partilhada com os outros. Os autores

defendem que a mais importante experiência dos outros ocorre na situação face à face e que

este tipo de interação é o protótipo para todas as outras que derivam desta. Neste tipo de

interação eu convivo, entendo, aprendo o outro e isto torna-se recíproco, pois é neste

momento que o “aqui e o agora” colidem, ou seja, para os dois atores este posicionamento

temporal permanece idêntico a ambos enquanto dá-se a situação face à face. Isto quer dizer,

que neste momento, existe a reciprocidade e que tudo isso está acessível a ambos, o que

conclui-se que nesta, existe uma subjetividade, uma variabilidade de interpretações que

teoricamente não está presente em outros tipos de interação, pois à medida que a interação

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face à face distancia-se, surge a variabilidade em relação a subjetividade acentuando a

existência de relações “remotas”.

Isto porque na primeira, o outro, o ator ao qual compartilho a interação face à face é

na sua plenitude real, pois não só o vejo mais também partilho da realidade a qual naquele

momento coexiste a ambos. Noutras interações, genericamente, existe a duvida da

tangibilidade, da existência do outro, se é real ou não, diferente do contato face a face.

Logo, esta subjetividade se traduz em flexibilidade. A interação face à face é dotada

de flexibilidade, pois é muito difícil se impor padrões, de como será a reação a qualquer tipo

de atitude, não é possível introduzir um padrão ou qualquer outra determinação nesta linha.

Sendo assim, na interação face a face dificilmente existe um padrão em função da

subjetividade, ou seja, mesmo sendo reduzida esta relação ainda é caracterizada pela

existência da subjetividade.

Embora, os padrões da relação face à face não sejam determinados, algumas destas

interações já vêm padronizadas devido a nossa rotina. Este padrão, na verdade denominado

“tipificadores” estabelecem esquemas que facilitam a identificação de algumas variáveis.

Essas tipificações são o que usamos para determinar “homens”, “mulheres”, “ingleses”,

“europeus”, “vendedores”. Estas tipificações nos ajudam, até o ponto em que não

conheçamos alguma destas tipificações. Estas tipificações, são de forma geral, recíprocas,

assim como conheço o outro dentro de uma tipificação, este faz o mesmo processo, e da

mesma forma, estas tipificações tornam-se progressivamente anônimas a medida que a

interação face à face distancia-se. Assim como deve-se verificar-se o contato direto ou

indireto, contato verificado pelo primeiro com meus parentes e segundo por outros que

conheço subjetivamente, logo, o anonimato cresce destes que são mais próximos para os

últimos.

O grau de anonimato pode ser medido também analisando o quanto intimo o outro é

para mim. Vejo minha esposa, ou esposo, com a mesma freqüência com que vejo meu chefe,

mas este é menos importante pra mim e não tenho relações mais intimas, ou seja, é

relativamente anônimo pra mim. A idéia é que a medida que nos distanciamos das

tipificações e do “aqui e agora” progressivamente anônimas ficam as pessoas e as relações.

Os processos existentes durante as interações sociais, como a relação face a face, as

tipificações, o anonimato, entre outros, são dinâmicos e extremamente flexíveis e, por fim, o

conhecimento desses processos deve fazer parte da formação do profissional do século XXI.

Por outro lado, também podemos fazer uma analise dos processos de interação social

a partir de fatos e fenômenos sociais. Assim, o século XXI está sendo marcado por uma série

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de fenômenos que vêm atraindo pessoas em todo o mundo, entre estes, cotamos como

exemplo a eleição do presidente Barack Obama em 2008, a primavera Árabe e o terremoto do

Japão ambos em 2011, e muitos outros eventos que ocorreram e que ainda irão acontecer. E o

que estes fenômenos, tão diferentes, possuem em comum?

Para Recuero (2010) estes fenômenos representam uma profunda mudança das formas

de organização, identidade, conversação e mobilização social, que ocorrem em função do

advento da comunicação mediada pelo computador. Conforme a autora essa comunicação

amplificou a capacidade de conexão, permitindo que redes fossem criadas e expressas nesses

espaços, representadas pelas redes sociais mediadas pelo computador.

Segundo Recuero (2010) uma rede social é definida como um conjunto de dois

elementos: atores e suas conexões. Segundo ela, o “Ator” é uma pessoa, responsável por

moldar as estruturas sociais. Porém um ator pode ser percebido de varias formas, pois um

mesmo ator pode utilizar diversas formas de redes sociais (facebook, Orkut, fotolog, twitter)

ou em alguns casos utilizar somente uma delas. Sendo que todos eles, representam,

expressam elementos de personalidade e individualidade, no caso de um perfil particular, ou

personalidade e coletividade caso estejamos falando de uma “comunidade” no Orkut ou no

facebook, por exemplo.

Quando a autora coloca que os atores apresentam na rede social sua personalidade,

está querendo dizer, que ali, naquele perfil, o ator está criando uma identidade. Mesmo se

tratando de uma identidade virtual, pois na maioria dos casos, existe a exposição pessoal de

inúmeras características que por sua vez são exatamente a descrição intrínseca da qual o ator

crê representar. Estas informações, juntamente com atores, são o que permitem que estas

existam e sejam identificáveis na internet.

A autora ainda lembra, que nas interações intermediadas pelas redes sociais, não

existe a interação face a face, logo, o julgamento de um ator em relação a outro e vice versa,

sempre dar-se-á por meio da leitura, das palavras, das informações expressas naquele

“perfil”. Este julgamento vai formar a minha percepção em relação ao outro, e para que esta

possa ser mais individualizada e mais empática, os atores disponibilizam então além de

informações também fotos. Elementos esses, que podem contribuir para reduzir a

subjetividade das interações.

A individualização e a empatia são dois fatores fundamentais para que possa existir

uma estruturação de comunicação, pois a reprovação de um ator em relação a outro, impede

antes mesmo que exista, a interação. Portanto, uma vez identificado o perfil, sendo este

aprovado e proporcionado aceitação por assimilação começamos a falar de interação social.

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Esta interação, por vezes, pode ser melhor desenvolvida quando os atores dividem

perspectivas iguais ou parecidas, como por exemplo compartilhar gostos, estilos de musicas,

rotinas, paixões, participar de “comunidades” que representem opiniões ou exteriorizações

particulares dentre outros fatores, conhecidos como o “self” de cada ator. Lembrando ainda

que cada ator pode ser identificado de diversas formas, ou pode ser um blogueiro, um ator no

Orkut, outro no facebook e assim por diante. Dessa forma, pode-se sugerir que os esquemas

tipificadores também estão presentes nesta forma de interação social: as redes sociais.

Por este motivo, a percepção que tenho em relação ao ator, a impressão na qual

desenvolvo é muito importante, pois determina a interação e a construção deste processo,

uma vez que com o surgimento de inúmeras redes sociais, fez com que as informações

pudessem e fossem mais complexas, logo, as percepções e expressões tornaram-se mais

complexas (RECUERO, 2010).

Além da importância dos atore, Recuero (2010) destaca a relevância das conexões,

que “em uma rede social são constituídas de laços sociais, que por sua vez, são formados

através da interação social entre os atores. Dessa forma a autora cita as conexões como sendo

o principal foco do estudo das redes sociais, pois a sua variação que altera as estruturas desse

grupos, e podem ser divididas em: interação, relação e laços sociais – capital social.

As conexões nada mais são do que as responsáveis pela estrutura e existência de todo

este conjunto. Por ordem de subordinação, pode-se dizer que a interação é a matéria prima

das relações e dos laços sociais. As duas segundas não podem existir sem que exista a

primeira, esta condição é necessária, pois é a interação que constitui a minha orientação para

o outro, no sentido mais amplo da palavra. A interação é o direcionador para a existência da

segunda.

É neste primeiro momento que se constituem as coordenadas para a orientação com

relação às expectativas, conversação, reações, ou seja, estamos falando de um ponto em

particular e que serve de norte para todas estas variáveis e que sua presença torna-se

indubitável: a comunicação. Todo este processo possui um caráter comunicacional e todo o

mecanismo de estudo em relação a interação, a relação e ao laço baseia-se na comunicação.

Para Recuero (2010) mesmo que mediada por um computador e outras partes

integrantes que possibilitam o funcionamento e manutenção do sistema, a comunicação entre

os atores torna-se totalmente possível se não mais acessível. Porém, não consideremos toda

comunicação com simultânea ou recíproca instantaneamente, logo, estamos falando de uma

falta de sincronia, conhecida e utilizada pela autora como comunicação assíncrona. Estamos

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falando de algo não imediato, não simultâneo, estamos falando de um momento temporal de

interação diferente para dois atores.

Esta definição fica clara quando pensamos num email, que pode ou não ser

respondido imediatamente após seu recebimento, mas o fato de existir um temporalidade para

obter uma resposta torna este um elemento assíncrono. Não tão somente um email, mas

qualquer outra ferramenta que possa ser utilizada que possa gerar comunicação e que esta

seja não seja respondida de imediato, estaremos necessariamente falando de uma

comunicação assíncrona.

Para Recuero (2010) a interação social no ciberespaço pode ocorrer de forma síncrona

ou assíncrona. A comunicação síncrona é aquela que simula uma interação em tempo real, já

a assíncrona a expectativa de resposta não é imediata, conforme apresentado anteriormente.

Primo (2003, apud RECUERO, 2010, p.33) ainda define duas forma de interação

mediada por computador: a interação mútua e a interação reativa. A “ interação mútua é

aquela caracterizada por relações interdependentes e processos de negociação, em que cada

interagente participa da construção inventiva e cooperada da relação, afetando-se

mutuamente; já a interação reativa é limitada por relações determinísticas de estimulo e

resposta.”

Ainda com base em Recuero (2010), a interação reativa seria totalmente reducionista,

pois limita as ações do ator, faz com que as ações sejam unidirecionais, não permitindo ao

usuário criar, mudar. Por sua vez, a interação mútua é o contrario desta, pois permite a

interação, aquela que pode ser criada, negociada e criativa, existe a possibilidade da troca,

portanto mútua.

Tratando-se de redes sociais, podemos constatar a existência de ambas as interações,

porém com maior freqüência a mútua. Uma vez que esta permite a inventividade que pode

gerar relações mais complexas do ponto de vista social, diferentemente da reativa, que devido

suas limitações, reduz a própria possibilidade de existir relações sociais, tão pouco laços

sociais.

Ainda segundo a autora, salientando e determinando este termo, temos a matéria

prima, composta por dois elementos, para a confecção dos laços sociais. A interação mediada

pelo computador é o mantenedor de relações sociais que em conjunto são as responsáveis

pela existência das redes sociais, ou seja, todos estes elementos, trabalhando juntos, são os

responsáveis por gera laços sociais.

Uma importante constatação apontada por Recuero (2010) é que há uma

multiplicidade de ferramentas que possibilitam a comunicação entre os atores, onde a

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interação se dá principalmente pelos registros como textos, fotos, vídeos e outros. Este fato

difere da relação face a face, que no momento seguinte ao fato as mensagens podem ser

esquecidas pelos atores. Já nas mídias sociais e nas redes sociais os registros das interações

permanecem mesmo depois do ator estar desconectado do ciberespaço, o que possibilita uma

analise dos comportamentos dos atores.

Conforme apresentado por Berger e Luckmann (2003), a relação face a face ainda

possui um auto grau de subjetividade que é reduzida pela possibilidade de se capturar outras

informações por meio dos comportamentos e atitudes, como por exemplo, expressões faciais,

corporais, etc. Nas mídias e redes sociais a subjetividade pode ser reduzida a partir dos

registros, ou conforme Recuero (2010) “os rastros”, deixados pelos atores.

Portanto, mídias sociais e nas redes sociais podem servir como um importante

instrumento para auxiliar e direcionar o marketing, uma vez que permite a análise se

interações sociais de forma concreta, por meio dos registros, os “rastros” deixados no

ciberespaço.

A partir das reflexões sobre o uso das mídias sociais a seguir são apresentadas

algumas analises a partir da pesquisa que foi realizada na UNICA/SOCIESC e que

apresentou alguns elementos importantes no sentido de contribuir com as discussões sobre

este novo fenômeno: as redes sociais.

3 AS REDES SOCIAIS E AS INTEREÇÕES SOCIAIS

No final do ano de 2010 foi realizada uma pesquisa com o objetivo de produzir e

analisar informações sobre o uso das ferramentas de networking social por parte dos alunos

da UNICA/SOCIESC e suas interações nas redes sociais. Porém, somente no início de 2011

os dados foram tabulados e analisados. O questionário foi aplicado com um total de 132

alunos e alunas, dos cursos de graduação em Administração da Certificação FGV, Ciências

Contábeis e Engenharia de Produção.

A investigação constatou que 100% dos alunos entrevistados utilizam alguma mídia

social, entre as principais estão: orkut, facebook, twitter, YouTube, Msn, também foram

amplamente utilizados o Google e o Wikpedia como principais fonte para pesquisas.

Conforme o Gráfico 1, sobre as mídias sociais a mais utilizada, em primeiro lugar foi

o Msn com 91%, seguido do You tube 89% e o Orkut com 84%. Em quarto lugar ficou o

Facebook, fato que atualmente nos chama atenção, pois este cenário representa a realidade no

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momento da aplicação da pesquisa, em dezembro de 2010 que certamente difere da realidade

atual.

Orkut You Tube Twitter Msn Facebook Linkedin

84.1% 89.4%

26.5%

90.9%

51.5%

11.4%

Gráfico 1 – Mídias Sociais mais utilizadas pelos alunos da UNICA/SOCIESC.Fonte: elaborado pelo autor a partir da pesquisa realizada em 2010.

Se a mesma pesquisa fosse aplicada neste ano (2012) acredita-se que o facebook

certamente seria a ferramenta de maior acesso, pois o ano de 2011 foi marcado pelo grande

aumento de usuários desta ferramenta.

Segundo Degásperi (2011) em 2011, no mundo o facebook tinha mais de 800 milhões

de usuários ativos, com mais de 2 bilhões de posts, curtidos e comentados por dia. Sendo que

75% dos usuários são de fora dos EUA e a pagina esta disponível em 70 línguas.

Ainda segundo o mesmo autor, nos últimos anos o Brasil vem aumentando

significativamente o número de pessoas conectadas à internet, em 2011 40% da população

do país já estava on line. No facebook foram registrados mais de 30 milhões de usuários

ativos, que representa cerca de 16% da população do país, sendo o Brasil já é o 6º país do

mundo a utilizar a ferramenta.

Uma importante característica do Orkut e também do facebook é que ambas são redes

sociais que possuem inúmeras opções de iteração entre os usuários, e de acordo com Recuero

(2010) os seus “rastros” ficam registrados no ciberespaço mesmo depois do usuário estar

desconectado. Também são ferramentas onde ocorrem os processos de interação social de

forma síncrona, onde a interação é em tempo real; e principalmente assíncronas, onde a

expectativa de resposta não é imediata.

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A partir da importância da interação social no dia a dia das pessoas, pode-se sugerir

que as mídias digitais com maior poder de interação, onde a subjetividade do outro pode ser

reduzida, ou quem sabe, ousar em dizer, onde a interação se aproxima de uma relação face a

face. Nestas mídias ocorre uma maior interação entre os usuários, por isso, uma tendência ao

aumento do número de usuários, como ocorreu com o facebook no ano de 2011.

Em outra pergunta do questionário foi verificado o que os alunos mais procuram nas

mídias sociais, para responder a questão foi disponibilizado um quadro com uma intensidade

de 0 até 5, onde 0 significa a menor intensidade e 5 a maior intensidade quanto a motivação

para o uso das mídias sociais.

Para efeito desse estudo destacamos apenas o item com maior intensidade, que foi

justamente o “contato com os amigos” com 52% das motivações. Somando todas as escolhas

com intensidades entre 1 e 5, também obtemos o item “contato com os amigos” como o mais

escolhido pelos alunos, conforme apresentado no Gráfico 2.

Ler notícias

Divulgar meu próprio conteúdo

Contato com os amigos

Obter informações de lazer/entretenimento

Me divertir como passatempo

Contatos profissionais/negócios

Conhecer pessoas

Pesquisar sobre produtos e serviços

Fazer reclamações

Participar de promoções

Trabalhos acadêmicos

Atualização/conhecimento intelectual

Outros

78.8%

61.4%

90.9%

81.8%

75.8%

71.2%

61.4%

70.5%

41.7%

55.3%

68.2%

62.9%

3.8%

Gráfico 2 – Motivação para o uso das Mídias Sociais pelos alunos da UNICA/SOCIESC.Fonte: elaborado pelo autor a partir da pesquisa realizada em 2010.

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A informação de que 90% dos alunos entrevistados utilizam as mídias sociais para

manter contatos com os amigos corrobora com as análises anteriores, onde, a interação social

é um importante fenômeno que é reproduzido nas mídias sociais.

Estas são apenas algumas reflexões sobre este importante fenômeno do século XXI,

as mídias sociais. Estas análises devem ser ampliadas e aprofundadas, visando contribuir,

entre outros para a empresa do século XXI, onde o marketing está intrinsecamente ligado à

vida das pessoas. Propagandas, promoções, divulgações, tudo isso está presente no dia a dia.

Nas empresas, pode ser encarado como o processo de gestão mais próximo do cliente,

assumindo seu papel de influenciar o consumidor na hora da compra e na tomada de decisão.

Por fim, as grandes corporações atualmente atentam ao uso inteligente das mídias

sociais e procuram sempre mensurar seus impactos nos resultados em vendas e proximidade

com o cliente. Os gestores de Marketing devem buscar se atualizar constantemente para

manter-se informados quanto ao uso das ferramentas (Facebook, Orkut, Twitter, LinkedIn,

etc.) e assim, aplicá-las ao seu devido uso na comercialização e divulgação de seus produtos.

4 CONSIDERAÇOES FINAIS

O presente estudo teve como finalidade ampliar a discussão sobre os processos de

interação social e as mídias sociais. No decorrer do estudo foram relacionadas as teorias de

Berguer e Luckmann (2003) na obra “A construção social da realidade” e de Recuero (2010)

em “Redes sociais na internet”.

Em seguida foram apresentados alguns dos resultados da pesquisa realizada na

UNICA/SOCIESC e que apresentou alguns elementos importantes no sentido de contribuir

com as discussões sobre este novo fenômeno: as redes sociais. Os dados da pesquisa

contribuíram para ampliar a discussão sobre a importância das interações sociais e sua

influencia nas mídias sociais.

Por fim, destaca-se a importância das empresas e dos gestores de marketing no

sentido da importância do uso das mídias sociais.

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KOTLER, Philip; KARTAJAYA, Hermawan; SETIAWAN, Iwan. Marketing 3.0: as forças que estão definindo o novo marketing centrado no ser humano. São Paulo: Elsevier Campus, 2010.FERRELL, O. C.; HARTLINE, Michael D. Estratégia de Marketing. Tradução da 3. ed. norte-americana. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.LAKATOS, Eva M; MARCONI, Marina de Andrade.  Fundamentos de metodologia científica.  3. ed. rev. ampl.  São Paulo: Atlas, 1991.RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2010. ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Projetos de estágio e pesquisa em administração: guias para estágios, trabalhos de conclusão, dissertações e estudo de casos. São Paulo: Atlas, 2006.VERGARA Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas, 2000.