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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X CONHECIMENTO COMO PRÁTICA EMANCIPATÓRIA: O CASO DA FRENTE DE MULHERES NEGRAS DE CAMPINAS E REGIÃO Julia de Souza Abdalla 1 Resumo: Nesse texto, apresentarei fragmentos preliminares de minhas observações de campo com a Frente de Mulheres Negras de Campinas e Região, apontando para sua atuação como agente de conhecimento. Composta por aproximadamente 20 coletivos e mulheres de diferentes gerações, sexualidades, classes, etc., a Frente, desde sua formação em 2015, se constitui como um importante foco de mobilização feminista e antirracista na cidade. Sublinharei a produção de conhecimento como um dos principais aspectos do ativismo da Frente, em três etapas. Em primeiro lugar, discuto seu papel como articuladora das experiências de suas sujeitas, estruturando-as através de sínteses construídas coletivamente e levando em conta preocupações, diferenças e similaridades entre elas. Em seguida, analiso os fluxos e trajetórias desse conhecimento entre os coletivos e a Frente ou seja: em que medida o conhecimento produzido e/ou sistematizado na mesma contribui para os debates de cada coletivo e vice-versa, complexificando suas questões e expandindo da interseccionalidade de gênero e raça para incluir outros elementos. Por fim, me volto ao movimento de expansão exterior à Frente, pensando sua participação em ambientes decisórios, instâncias de pressão política e social, na academia, entre outros, entendendo tal participação como um instrumento de impressão de uma perspectiva das mulheres negras em todos esses espaços. Para isso, me apoiarei em documentos, entrevistas, observações de eventos, entre outros. Palavras-chave: Mulheres negras. Interseccionalidade. Conhecimento. Introdução Esse texto trata do papel do conhecimento na práxis emancipatória das mulheres negras da Frente de Mulheres Negras de Campinas e Região, um grupo político com aproximadamente 2 anos de atividade. O tema é um recorte da minha pesquisa de doutorado, em curso, que é voltada a compreender os sentidos práticos da noção de interseccionalidade, uma noção cara aos feminismos contemporâneos e que vem se tornando um imperativo para movimentos emancipatórios que se querem plurais e preocupados com justiça social. Para tanto, acompanho as atividades da Frente e realizo entrevistas com suas participantes, tentando compreender de que modo a noção de interseccionalidade é operacionalizada em suas práticas políticas e intelectuais 2 . Como conceito mínimo, interseccionalidade remete ao reconhecimento de que formas de opressão vistas como distintas - como aquelas resultantes da desvalorização e marginalização por raça - são empiricamente entrelaçadas com outras, como as de gênero, sexualidade, nacionalidade e 1 Doutoranda em Sociologia no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH/Unicamp, Campinas, São Paulo, Brasil). 2 A respeito das relações entre experiência, intelectualidade e ativismo nos feminismos negros, ver: Collins, 2000, Cap.2.

CONHECIMENTO COMO PRÁTICA …€¦ · das participantes estejam presentes no local para cuidar ... identidade plural e pautas ... permanente esteve vinculada à percepção que “O

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

CONHECIMENTO COMO PRÁTICA EMANCIPATÓRIA: O CASO DA FRENTE DE

MULHERES NEGRAS DE CAMPINAS E REGIÃO

Julia de Souza Abdalla1

Resumo: Nesse texto, apresentarei fragmentos preliminares de minhas observações de campo com

a Frente de Mulheres Negras de Campinas e Região, apontando para sua atuação como agente de

conhecimento. Composta por aproximadamente 20 coletivos e mulheres de diferentes gerações,

sexualidades, classes, etc., a Frente, desde sua formação em 2015, se constitui como um importante

foco de mobilização feminista e antirracista na cidade. Sublinharei a produção de conhecimento

como um dos principais aspectos do ativismo da Frente, em três etapas. Em primeiro lugar, discuto

seu papel como articuladora das experiências de suas sujeitas, estruturando-as através de sínteses

construídas coletivamente e levando em conta preocupações, diferenças e similaridades entre elas.

Em seguida, analiso os fluxos e trajetórias desse conhecimento entre os coletivos e a Frente – ou

seja: em que medida o conhecimento produzido e/ou sistematizado na mesma contribui para os

debates de cada coletivo e vice-versa, complexificando suas questões e expandindo da

interseccionalidade de gênero e raça para incluir outros elementos. Por fim, me volto ao movimento

de expansão exterior à Frente, pensando sua participação em ambientes decisórios, instâncias de

pressão política e social, na academia, entre outros, entendendo tal participação como um

instrumento de impressão de uma perspectiva das mulheres negras em todos esses espaços. Para

isso, me apoiarei em documentos, entrevistas, observações de eventos, entre outros.

Palavras-chave: Mulheres negras. Interseccionalidade. Conhecimento.

Introdução

Esse texto trata do papel do conhecimento na práxis emancipatória das mulheres negras da

Frente de Mulheres Negras de Campinas e Região, um grupo político com aproximadamente 2 anos

de atividade. O tema é um recorte da minha pesquisa de doutorado, em curso, que é voltada a

compreender os sentidos práticos da noção de interseccionalidade, uma noção cara aos feminismos

contemporâneos e que vem se tornando um imperativo para movimentos emancipatórios que se

querem plurais e preocupados com justiça social. Para tanto, acompanho as atividades da Frente e

realizo entrevistas com suas participantes, tentando compreender de que modo a noção de

interseccionalidade é operacionalizada em suas práticas políticas e intelectuais2.

Como conceito mínimo, interseccionalidade remete ao reconhecimento de que formas de

opressão vistas como distintas - como aquelas resultantes da desvalorização e marginalização por

raça - são empiricamente entrelaçadas com outras, como as de gênero, sexualidade, nacionalidade e

1 Doutoranda em Sociologia no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH/Unicamp, Campinas, São Paulo,

Brasil). 2 A respeito das relações entre experiência, intelectualidade e ativismo nos feminismos negros, ver: Collins, 2000,

Cap.2.

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religião. O cruzamento dessas injustiças não é simples, como uma sobreposição ou encontro

geométrico ou hierarquizado. Irredutível a uma de suas vias e inseparável, a forma de opressão a

que estão submetidos os sujeitos situados nas intersecções é única, um produto singular e original3.

Por isso, um olhar voltado às questões das mulheres (implicitamente, brancas) ou dos negros

(implicitamente, homens), não responderá às questões das mulheres racializadas. Ainda, a falha em

articular as dimensões de racismo e sexismo presentes em sua opressão pode produzir novas

desigualdades, já que o desconhecimento da interação de estruturas de opressão impede que se

considere os modos como sua opressão pode interagir com novas estratégias políticas para combate-

la. Assim, como as estratégias dos movimentos antirracistas e feministas sozinhas tende a não

abordar suas questões diretamente, “a informação deve ser direcionada estritamente a essas

mulheres para alcança-las” (Crenshaw, 1991, p.1250) – “adotar apenas uma dessas análises

constitui uma negação de um aspecto fundamental de [sua] subordinação e impede o

desenvolvimento de um discurso político que empodere as mulheres racializadas” (Crenshaw, 1991,

p. 1252).

Se o conhecimento está na base da formação do ativismo voltado à emancipação das

mulheres negras, fornecendo elementos à sua luta, a construção desse conhecimento implica em um

processo de recuperação histórica, devendo ser ancorada nos contextos concretos e historicamente

definidos das mulheres negras. Por isso, é estratégia necessária dos movimentos sociais correlatos

recuperar as histórias das mulheres negras e suas biografias, assim como suas interpretações dessas

histórias e deslocar significados negativos atribuídos socialmente às suas sujeitas, a perspectiva do

opressor, substituindo-os por uma identidade política coletiva valorizada. Nesse processo, são

avançadas novas visões coletivas da sociedade, que, partindo do olhar do subordinado, tecem

renovadas estratégias de resistência política. Quero argumentar que a Frente realiza esses

movimentos/passos4 – mais: que é por meio de sua ação política que os identifico como integrantes

de uma prática interseccional – ao: (1) forjar um sujeito político coletivo coerente em um terreno

pleno de diferenças, (2) dialogar com outros atores sociais, os coletivos que a compõe, desdobrando

desse diálogo um “mapa social” e (3) disputar a importância dessa perspectiva em espaços

institucionais e na esfera pública como um todo.

Construção de identidades compartilhadas

3 Cf., a esse respeito, a ideia de matriz de dominação (Collins, 2000, Cap.2). 4 Evidentemente, essa separação é sobretudo analítica, não refletindo o modo como a Frente organiza suas atividades.

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A Frente de Mulheres Negras de Campinas e Região se formou a partir de uma organização

de mulheres de diversos coletivos da região para ir à Marcha das Mulheres Negras de Brasília em

20155. A organização começou a se concretizar por meio do Sarau das Aliadas, evento realizado a

fim de obter fundos para que essas mulheres pudessem participar da Marcha, que continua a ser

realizado pela Frente. Além deles, a outra atividade habitual da Frente são as plenárias, espaços

exclusivos às participantes da Frente e mulheres negras, nas quais organizam-se os eventos, pautas e

participação em atos, reuniões e mobilizações de outros grupos sociais, até então mensais6. São o

momento de diálogo e deliberação interna do grupo quanto à estratégia e foco político, nas quais a

organização das atividades ensaia deslocamentos nas construções de gênero e raça padrão. Por

exemplo, é costume dessas plenárias que os maridos, namorados, filhos e outros homens próximos

das participantes estejam presentes no local para cuidar das crianças, fazer a comida e cuidar das

necessidades gerais das mulheres ao longo da plenária. O manifesto da Frente foi elaborado em uma

dessas plenárias, e também foi numa delas que foi decidido que a Frente passaria a ser permanente.

Os debates nessas reuniões iniciais ultrapassaram questões relativas à organização para a

Marcha. A carta divulgada pela organização nacional da Marcha (MARCHA, 2015) já vinha sendo

discutida em alguns coletivos, de modo que havia um acúmulo de opiniões e críticas ao conteúdo da

mesma. Essas críticas constituem um primeiro momento de formação de conhecimento comum,

que, acredito, será um dos pilares de sustentação da identidade coletiva construída na Frente. Eram

elas, principalmente: (i) a ideia de bem-viver, pouco específica, de modo a não incluir, por exemplo,

condições de trabalho e a ampliação do sistema de cotas; (ii) um caráter implicitamente

heteronormativo, em que as questões pertinentes às mulheres lésbicas e transexuais não eram

debatidas satisfatoriamente. A partir das discussões realizadas nessas reuniões e em reuniões dos

coletivos participantes, foi construído o manifesto alternativo que seria levado pela organização de

Campinas a Brasília, cuja intenção era compor criticamente com a proposta da Marcha,

especificando algumas questões e ampliando parte das discussões. Dessas reuniões, debates e

organização por fundos para a ida, foi se formando a Frente de Mulheres Negras de Campinas7.

5 A princípio, a necessidade dessa articulação era por conta dos recursos limitados que o poder público disponibilizava

para o evento, que impediria que a maior parte das interessadas participasse. Por poder público, refiro-me aqui à

SEPPIR (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, de alcance nacional), cuja alocação de recursos para

a Marcha de 2015 foi mais estrutural, e à CEPPIR (Coordenadoria da Igualdade Racial, estadual), que investiria na ida

das mulheres paulistas para o evento, porém contava com recursos escassos, que não cobririam a ampla necessidade de

apoio. 6 Como trata-se de um espaço exclusivo, nunca estive em uma das plenárias, o que creio que seja um limite a ser

refletido na pesquisa. Assim, as informações a respeito delas são extraídas de entrevistas e comentários. 7 A primeira reunião foi chamada por uma representante da CEPPIR para discutir a ida à Marcha. O posicionamento em

favor de uma organização autônoma a partir daí chegaria à formação da Frente na Semana da Mulher Afrolatina e

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O Manifesto da Frente de Mulheres Negras de Campinas e Região, que até hoje estrutura

suas ações coletivas, foi elaborado por meio de uma dinâmica aberta em que cada uma das mulheres

presentes respondia à questão “Por que marchamos?”. Seus 45 pontos versam sobre a experiência

social compartilhada por mulheres negras, e também outros grupos sociais, expressando uma

identidade plural e pautas políticas multifocais, dentre as quais, significativamente, incluem-se

pontos diretamente voltados à afirmação identitária e ao empoderamento político, além de “pelo

reconhecimento e preservação dos saberes materiais e imateriais da população negra” (Manifesto,

2016, p.2). A redação reflete a heterogeneidade política da Frente, que pode ser atribuída à

organização inicial em torno da Marcha de 2015, em que a participação abrigou expressiva

diversidade para além do cruzamento de gênero e raça e pronunciado foco na militância antirracista,

com diversas ênfases (pela tolerância com as religiões de matriz africana, recuperação da memória

do movimento negro de Campinas, patrimônio histórico e cultural, etc.). Esse ponto de partida, que

parece ser um dos comuns aos movimentos de mulheres negras no Brasil8, foi o início da tessitura

da Frente, com um grupo bastante heterogêneo e experiente de militantes trazendo experiências de

participação em grupos distintos para a construção da Frente. Dentre as falas que compuseram o

manifesto, destaco:

O que mais tem me mobilizado a pensar a importância dessa Marcha é o fortalecimento

da nossa aliança enquanto mulheres negras. Eu acho que é a minha maior expectativa,

desejo nesse processo todo é esse fortalecimento, que a gente se encontre em nós. Cada

vez que a gente, quando estiver marchando, quando a gente estiver fazendo as nossas

coisas com todas essas demandas de direitos e necessidades concretas que a gente tem,

de violências que a gente sofre, mas que a gente consiga fortalecer a nossa aliança de

mulheres negras, porque eu acho que é a partir disso que a gente consegue as outras

coisas todas, né? (RIBEIRO, 2015).

A passagem de um modelo em que a Frente era composta por indivíduos para outro, em que

os coletivos assinam o Manifesto e são representados pela Frente, agora de caráter permanente, foi

um processo rápido. Isso indica que a necessidade de uma organização plural e multifocal de

mulheres negras foi sentida na formação inicial da Frente, já que a decisão de transformação em

permanente esteve vinculada à percepção que “O racismo não vai ter fim com uma marcha em

Brasília, então a gente decidiu e discutiu que a nossa luta ia ser continua, e todos os dias”

(Entrevista).

O sarau, por sua vez, é uma atividade aberta ao público realizada geralmente uma vez por

mês. Quando a Frente se torna permanente, sua proposta migra da obtenção de fundos para a de um

espaço de socialização, de troca entre os presentes, com apresentações artísticas, discussões

Caribenha, em julho de 2015. Nesse primeiro momento, a Frente era exclusivamente voltada a essa organização, mas

em poucos meses foi decidido seu caráter permanente. 8 Cf. Moreira, 2007.

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políticas e intervenções voltadas ao mútuo conhecimento dos indivíduos e coletivos, com ênfase na

opressão de raça e gênero. É um espaço, nessa medida, de reforço da comunidade e dos laços de

pertencimento e aliança, em que as mulheres da Frente não só se enraízam como uma importante

parte da militância da cidade, como falarei mais adiante, mas também refinam sua compreensão de

seu próprio grupo. O sarau não pode ser situado exclusivamente em uma das dimensões nas quais

divido as atividades da Frente. Por isso, volto a me referir a ele nos próximos tópicos do texto.

Fluxos do conhecimento entre a Frente e os coletivos

A Frente é integrada por grupos que concentram debates e ações importantes, em alguns

casos historicamente, na cidade de Campinas, tais como a discussão de sexualidade, a salvaguarda e

divulgação de aspectos da cultura negra e de periferia e braços da militância feminista, antirracista e

interseccional. Tais grupos também são importantes pontos de apoio da comunidade e desenvolvem

estudos e debates que visam à recuperação da memória negra da cidade, confronto de perspectivas

sobre as questões pertinentes ao movimento, diálogos de conjuntura, respostas a questões

prementes, etc9.

O vínculo aos coletivos não se restringe ao apoio formal, mas corresponde a um

compromisso firmado com uma montagem de pautas e sua transmissão em uma rede de coletivos e

focos de militância (emblematicamente, de raça e/ou gênero), e à recepção e incorporação de pautas

dessa rede. Essa troca se dá em duas camadas, uma política, por meio de compromissos de apoio

mútuo, e uma relativa ao conhecimento. Na segunda, trata-se de formações, atividades e discussões

que ampliam o escopo de preocupações da Frente, recortando áreas focais para sua reconstrução da

história e identidade política das mulheres negras campineiras.

Dois exemplos interessantes são os das relações da Frente com o grupo Aos Brados!!10 e

com o Coletivo de Mulheres Negras Lélia Gonzalez. No primeiro caso, trata-se de uma interação

9 Estão na Frente os grupos: Aos brados!! A Vivência digna da sexualidade; Associação de Mulheres Guerreiras; Casa

de Cultura Afro Fazenda Roseira; Casa de Cultura Tainã/ Rede Mocambos; Coletivo de Mulheres Negras Lélia

Gonzalez; Coletivo Feminista Rosa Lilás; Coletivo de Negras e Negros Raízes da Liberdade; CONEPPA (Coletivo

Negro com Práticas Pedagógicas em Africanidades); Djumbo; FECONEZU (Festival Comunitário Negro Zumbi);

Flores do DIC; Grupo de Mulheres na Periferia; Grupo de teatro e danças populares Urucungos, Puítas e Quijengues;

Promotoras Legais Populares Cida da Terra; Movimento Negro de Pedreira; Movimento Negro Unificado (MNU);

Raízes de Dandá; SOWETO Organização Negra; Comunidade Jongo Dito Ribeiro; Sindicato das Domésticas de

Campinas 10 O Aos Brados!! é um coletivo misto formado principalmente por jovens adultos e voltado à discussão sobre

sexualidades e ao ativismo nesse sentido. Sua formação remete ao rompimento de um grupo com um coletivo por

direitos LGBTT mais antigo em Campinas. Esse rompimento é associado a divergências de raça e classe, sintetizadas

também na figura de uma de suas fundadoras, uma militante de longa data nos movimentos antirracistas e populares da

cidade.

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que foi, principalmente por meio de uma de suas fundadoras, responsável pela inserção do debate

de sexualidade nas questões centrais à Frente11. Essa integração pode ser vista pela participação das

mulheres da Frente nas formações dos AB e nas demandas por falas a respeito nas atividades da

Frente, dentre as quais destaco a noite de debates com tema Roda de conversa mulheres negras e

sexualidade – conversas intergeracionais na Semana da Mulher Afro-latina e Caribenha de 201612,

uma das três noites de atividades da semana. Dela participaram como debatedoras: a fundadora do

AB; uma militante transfeminista; a dirigente da Associação das Mulheres Guerreiras de Campinas,

formada para disputar direitos das prostitutas; uma senhora do Sindicato das Trabalhadoras

Domésticas, que falou sobre a sexualidade na idade avançada; e a rapper Luana Hansen. Em outros

momentos, como quando uma das participantes da Frente organizou uma reunião dos coletivos

feministas de Campinas para debater os problemas que davam origem ao Nenhuma a Menos da

cidade, essa militante tem sido chamada a falar sobre mulheres negras e sexualidades, marcando a

preocupação desses grupos com a incorporação dessa variável.

O Coletivo de Mulheres Negras Lélia Gonzalez, por sua vez13, tem realizado há alguns

meses uma série de formações no ambiente da Frente voltadas à discussão dos parâmetros históricos

nos quais a história negra se desenvolve, sendo elas: interseccionalidade – experiências empíricas;

Além da Escravidão - liberdade e cidadania; Panafricanismo; Mestiçagem, miscigenação e

branqueamento. Por meio dessa série de formações, resultado de pesquisas das integrantes do Lélia

e das quais as mulheres da Frente têm participado, o Lélia realiza um movimento de refinamento do

conhecimento referente às mulheres negras de Campinas, do estado de São Paulo e brasileiras,

especificando e distinguindo-as nesses três níveis. Por outro lado, com suas atividades com grupos

periféricos, buscam articular transversalmente a identidade forjada no cruzamento raça e gênero por

várias perspectivas distintas, também incluídas em suas formações e debates com a Frente. Essa

metodologia se relaciona a um debate presente desde o início do Lélia, sobre a necessidade de

discussão sobre a noção de interseccionalidade e sua definição como fundamentalmente situada

contextualmente:

[...] Então se a gente que fazer aqui um debate sobre interseccionalidade, como que a

gente vai construir esse debate? É fazendo uma leitura da experiência das mulheres

negras no Brasil... [...] Mas minha visão sobre isso é que a gente só se forma

11 Essa questão não é só importante, mas fundacional no pensamento político que foi sintetizado na Frente, como se vê

em sua construção como uma das principais críticas ao manifesto da Marcha de 2015. 12 Essa Semana é um importante momento de concentração anual de atividades e protestos. Em 2016, adicionalmente, a

Semana celebrou o primeiro aniversário da Frente. 13 O Coletivo de Mulheres Negras Lélia Gonzalez é composto por mulheres em diversos estágios da formação

universitária, interessadas em debater o cruzamento gênero e raça e em realizar intervenções em grupos periféricos,

principalmente com dinâmicas que privilegiem a articulação e transmissão de conhecimento.

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politicamente... a gente tem a experiência nossa, que já vai estar nessa formação, mas a

gente precisa expandir esse conhecimento, porque é uma experiência... não só subjetiva,

é objetiva, mas pessoal. Ou seja, eu sou uma mulher negra, mas eu sou uma mulher

negra heterossexual, vim da periferia mas não são todas as mulheres que vieram do

mesmo lugar que eu, não são todas as mulheres negras que tem a mesma realidade que

eu... nesse sentido, diversidade de gênero, sexual, enfim... aí a gente foi também

pensando nessas atividades, pra poder nesse percurso de entender o que é ser uma

mulher negra no brasil, o que é esse universo, mulheres negras... que é um universo. [...]

Nós temos que ler mulheres negras brasileiras se a gente tá se propondo a fazer um

negócio sério. A gente tem que conhecer e estudar os movimentos de feministas negras

brasileiras. Não só ler, participar. Aí entra a frente: conviver com essas pessoas. [...] A

gente não pode pegar essas experiências e ir transplantando, que eu acho que é uma

coisa que estão fazendo muito atualmente. Na minha opinião, esse coletivo [Lélia], eu

enxergo ele nessa chave: nós estamos trilhando um caminho para pensar o que é ser

mulher negra brasileira, pra organizar isso, pra poder nos formar e formar outras

pessoas, contribuir também nesse sentido (Entrevista).

A pauta do Lélia de construir uma interseccionalidade à brasileira, alimentada tanto em suas

atividades prioritárias quanto por meio do acesso de algumas de suas militantes à academia, tem

sido vetor de refinamento da compreensão dos elementos pertinentes à formação identitária das

mulheres negras na Frente. A prioridade diz respeito à recuperação de mulheres negras apagadas

dos relatos históricos e acadêmicos tradicionais e a novos olhares voltados à compreensão do

cotidiano de mulheres negras em diversas situações de marginalização e exclusão. Por meio desse

empreendimento, o Lélia tem se formado como um berçário para novos debates e para o avanço de

antigas pautas dos movimentos feministas e antirracistas. Essa formação de uma interseccionalidade

erigida em solo brasileiro passa pela formulação de novos conceitos e métodos, mais adequados à

compreensão do nosso próprio contexto. Nesse sentido, vale destacar as discussões sobre privilégio

e acesso14, realizada no Lélia, e a discussão de sexualidade periférica15 desenvolvida no AB, como

uma chave para pensar o cruzamento de gênero, raça, sexualidade e classe e criticar o caráter elitista

e branco dos movimentos LGBTT.

Nesse diálogo, formam-se novos conceitos, métodos e perspectivas voltados à compreensão

das experiências plurais e heterogêneas que caracterizam a experiência social das mulheres negras.

Com isso, é possível enxergar a própria Frente como uma experiência de aliança interseccional, em

que a reconstrução da pluralidade social permite perceber que a identidade forjada nas instâncias

14 Essas discussões, em curso, refinam compreensões sobre a experiência social demarcada por gênero e raça e suas

diferenças de outras experiências. 15 A noção de periferia é um interessante eixo de pensamento empregado pela Frente e por vários de seus coletivos.

Embora ainda careça de mais investigação, essa noção me parece articular elementos de classe, raciais, territoriais e

culturais. Em geral, me parece referir-se a uma “periferia do universal”, como desvio de padrão normativo social, e,

nessa medida, funcionando como espaço para aglomeração de uma série distinta de demandas. É interessante notar

como em seu aspecto territorial essa noção pode estar vinculada às reformas urbanas de Campinas ao longo do Século

XX, responsáveis pela expulsão dos grupos pobres, racializados e marginalizados do centro da cidade.

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exclusivas da Frente não é estanque, mas está em diálogo com outros projetos políticos que a

ampliam, desenvolvem e fortalecem.

Trajetórias na esfera pública

Nessa última parte, chamarei atenção para algumas das interações da Frente com outros

atores na esfera pública, apresentando notas preliminares acerca: (i) dos momentos em que a Frente

ou seus coletivos se dirigem à esfera pública, transportando o sujeito político e as demandas e

posicionamentos das mulheres e coletivos que representa; (ii) da rede de coletivos interligada à

Frente, mas não signatários do manifesto, assim como outras filiações de suas participantes,

alianças e grupos que apoia; (iii) de suas relações e pontos de encontro com a academia e da

formação de uma intelectualidade pública.

No primeiro ponto, trata-se dos saraus, atos, formações e intervenções que a Frente realiza,

em que dialoga com outras militâncias, grupos e com a sociedade em geral. Essas atividades, além

de estarem associadas a uma política de protesto e contestação, visam construir uma base comum de

temas à militância feminista e antirracista, aproximando perspectivas na construção de um projeto

comum. Nos saraus, por exemplo, para além do diálogo colocado entre os coletivos e as dimensões

de refinamento do projeto identitário e político comum avançado pela Frente, intenta-se um

estreitamento de laços com outros grupos de militância da cidade, alicerçando sua participação e

importância nesse quadro. Um exemplo interessante é o Sarau de julho de 2016, em que a Frente

comemorou um ano de existência. Nesse evento, foi proposta uma dinâmica de tributo às mulheres

negras importantes na história de resistência popular campineira, uma femenagem, em que todas as

indicadas seriam nomeadas, desde que tivessem pelo menos 60 anos de idade. Com isso, o sarau foi

frequentado por uma série de pessoas cuja biografia tem importância na conquista de direitos e

visibilidade das mulheres negras de Campinas, reforçando os símbolos de luta e resistência das

mulheres negras, e reforçou seu vínculo e filiação com a história de resistência negra campineira16.

Tanto quanto nas plenárias e outras atividades, o sarau também é um espaço em que se levantam

questões que direcionam aos vácuos na história da população negra local com os quais os estudos

interseccionais também estão preocupados. Essa história e pautas apagadas das narrativas

convencionais passam por um esforço de reconstrução coletiva nesses eventos, como destaca a fala

de uma das ativistas sobre o sarau de aniversário mencionado acima:

[...] foi bom porque é uma coisa que é bem diferenciada das ações que a gente costuma

fazer em movimentos sociais. Mas é importante também, porque uma coisa que eu vi lá e

16 A respeito das particularidades de Campinas na história da resistência negra, ver: Slenes, 2011; Ribeiro, 2016.

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para mim foi importante aprender é dar valor pra outro tipo de conhecimento, sabe? Outra

forma de você entender o mundo, porque tem pessoas ali que vão morrer e não escreveram

nada, não porque elas não sabem, mas porque talvez não tiveram oportunidade ou porque

escolheram transmitir aquilo de outra forma, entendeu? Falando com o grupo dela de

outras maneiras, que trocaram esse tipo de conhecimento (Entrevista).

Aqui, assim como nas formações abertas ao público, este conhecimento aparece como

formas de troca intelectual que transmitem parte da história apagada dos registros oficiais e

reforçam os vínculos da comunidade17.

Além dos eventos organizados pela Frente, sua participação em atos e intervenções

coletivas, como participação em reuniões partidárias abertas, em plenárias da Câmara de

Vereadores, a seleção de participantes para montar o movimento Nenhuma a Menos de Campinas,

os debates por pautas prioritárias com candidatos nas eleições, entre outras, me parecem evidenciar

a proposta de impressão de uma perspectiva própria das mulheres negras organizadas em todas as

instâncias de deliberação política da cidade. Dentre estas, me parecem exemplares a construção do 8

de março de Campinas e da Marcha Zumbi, realizada no 20 de novembro, nas quais algumas

participantes da Frente estiveram presentes com a finalidade de disputar as bandeiras, demandas e

organização dos eventos para que fossem levadas em conta as pautas e a representação das

mulheres negras campineiras. Essas interações trazem à tona alguns dos entraves para a inclusão

dessas perspectivas18, assim como a interligação de coletivos e pautas políticas centradas na Frente

por meio de suas participantes. Refiro-me a coletivos que essas mulheres integram, mas que não

estão inseridos na Frente, e a grupos políticos com os quais essas mulheres forjam alianças sem

participar19. Essas relações evidenciam outras intersecções e encontros possíveis, cuja convergência

possibilita a elaboração de projetos comuns, a ampliação do debate de ambos os grupos por meio da

noção de marginalização e a fortificação do projeto de aliança interseccional que aos poucos vai

tecendo uma rede no ativismo campineiro e possibilitando a impressão de uma perspectiva das

mulheres negras – e dos grupos apoiados por elas – em todos os aspectos da vida pública.

Finalmente, é digna de nota a atuação e relações das mulheres da Frente com a academia,

onde parte delas está inserida. Essa inserção é um dos principais pontos de origem da discussão

sobre privilégios, uma vez que Campinas conta com duas grandes universidades majoritariamente

17 Essas atividades públicas parecem bastante relacionadas ao crescimento da Frente, especialmente à medida em que

são propostas atividades de apresentação dos coletivos e da própria Frente. Outro fator possivelmente relevante é a

escolha da Casa de Cultura Tainã, que tem um importante papel histórico na articulação da resistência política e cultural

da população negra e de periferia em Campinas, como principal sede desses eventos. Ela pode ser entendida como um

fator de atração não apenas dos moradores dos bairros próximos quanto dos movimentos sociais. 18 Cf. Silva, 2016. 19 Creio serem exemplares nesse sentido o coletivo Saravá Axé, grupo de estudos e formulação de estratégias e políticas

públicas voltadas à inserção das religiões afro-brasileiras no cenário político, e grupos transfeministas de Campinas,

com os quais as mulheres da Frente têm uma relação de apoio mútuo e debate.

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inacessíveis à grande população negra do município e do estado – entre elas, a Unicamp, cuja

adesão à política de cotas, que já era assunto superado nas universidades federais, ocorreu apenas

nos últimos meses. Além da discussão de cotas, fortemente influenciada pelos movimentos negros

da cidade e pelo Núcleo de Consciência Negra da Unicamp, do qual participam importantes

militantes da Frente e de outros movimentos antirracistas, a problematização das condições de

inserção não apenas da população negra, mas de sua permanência e de temas de interesse dessa

população é parte importante das críticas da Frente. É significativo, ainda, que as inseridas se

esforcem por fazer com que esses temas penetrem no ambiente acadêmico e que, tanto por essa

ação quanto pela pressão política construída por essas mulheres, os debates pertinentes a Campinas

tenham tomado proporções nacionais, com publicações no Geledés, Intercept, Blogueiras Negras e

outras redes de amplo acesso. Trata-se da formação de uma intelectualidade pública, que força a

academia no sentido de tornar-se socialmente referenciada e cujos resultados não têm sido de pouca

monta.

Conclusão

O objetivo desse texto foi evidenciar uma das facetas da construção identitária e ativismo

das mulheres negras participantes da Frente de Mulheres Negras de Campinas e Região, o

conhecimento, bem como seu papel na formulação de um projeto político positivo e no

desenvolvimento de uma intelectualidade pública e socialmente referenciada.

Para tanto, em um primeiro momento, apontei para a construção coletiva de uma identidade

política fundada, embora não irrestritamente, no cruzamento de gênero e raça, em que o

conhecimento é balizado por meio da recuperação de histórias e pautas apagadas, reforçando o

sentido de pertencimento, comunidade e resistência desses grupos. Ao produzir conhecimento e

informação direcionados às mulheres negras, a Frente disputa e expande os discursos políticos do

feminismo e do antirracismo e oferece noções de si autoconstruídas às suas participantes, com as

quais podem deslocar as imagens estereotipadas e negativas das mulheres negras construídas pelo

opressor. É extremamente importante esse processo de autoformação de imagens com as quais

possam se identificar (PHC, 2000), opondo-se à homogeneização que integra a desumanização das

mulheres negras desde o processo colonial20.

No segundo ponto, a construção de conhecimento proposta pela Frente é acrescida de outras

pautas e histórias, destacando um de seus marcos cognitivos – qual seja: o dos valores socialmente

relativos das identidades, sintetizado na noção de privilégio. Por meio de noções como

20 Cf. Lugones, 2014.

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desumanização, silenciamento, apropriação, periferia, marginalização e o próprio privilégio, que

tomam como sujeitos históricos os subordinados socialmente, e como olhar fundante sua

perspectiva acerca da sociedade, o conhecimento produzido, indissociável da política e do ativismo

da Frente, caminha no sentido contrário do hegemônico, inaugurando novas leituras e mapeamentos

dos conflitos sociais. Partindo dessas relações e da diversidade de pautas, prioridades e

entendimentos a respeito da sociedade, é possível compreender a própria Frente como uma

experiência de aliança interseccional.

Por fim, no terceiro ponto, a expansão para fora da Frente se relaciona com a impressão das

perspectivas ressignificadas ou reconstruídas na Frente em todos as instâncias da vida social e

política, outras associações e alianças que contribuem à formação de uma leitura da sociedade e dos

sujeitos marginalizados, e à luta pela ampliação da participação das mulheres negras na política e na

academia e pela inserção de suas preocupações nessas instâncias. Nesse sentido, pode ser vista

como uma pressão por adequação da vida coletiva às pautas e necessidades das mulheres negras, em

que o projeto de conhecimento não-hegemônico transmuta-se em ação política.

Com isso, espero ter mostrado a importância das visões construídas coletivamente e de

forma autônoma, assim como que o ativismo das mulheres negras, ao ultrapassar o foco exclusivo

em suas próprias questões tanto por meio de alianças políticas quanto por suas preocupações

intelectuais, avança uma visão universal de humanidade, em conexão com outros grupos com os

quais se entrecruzam, e um renovado projeto de resistência coletiva.

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Acesso em 20 de junho de 2017.

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RIBEIRO, ALESSANDRA. Matriz Africana em Campinas: territórios, memória e representação.

Tese de doutorado. Centro de Ciências Exatas, Ambientais e de Tecnologia, PUC-Campinas, 2016.

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SLENES, ROBERT W. Na senzala, uma flor. Esperanças e recordações na formação da família

escrava. 2ª edição. Campinas: Editora da Unicamp, 2011.

Knowledge as emancipatory practice in Frente de Mulheres Negras de Campinas e Região

Astract: In this article, I present preliminary observations of my field work with Frente de

Mulheres Negras de Campinas e Região, pointing to the aspect of knowledge production.

Composed by somewhat 20 political groups and women of diverse generations, sexualities, classes,

etc., it has been since its foundation in 2015 an important focus of feminist and anti-racist efforts in

Campinas. I outline its knowledge production aspect and its importance in three stages. Firstly, by

debating its role in articulating its subjects’ experiences and structuring those by means of

collectively built synthesis, which take into consideration their main concerns, differences and

similarities. Secondly, I discuss the fluxes and paths of knowledge among the collectives and

Frente, considering the contributions of the debates carried out in the latter for internal debates of

the former, and vice-versa. Looking at this transit suggests outcomes such as more complex

debates, including a notion of intersectionality that moves from gender and race to encompass many

other variables in their political practice. Finally, I turn to its exterior movement, as participation in

decision-making processes, political pressure instances, academia, etc. act as tools for forcing a

Black women’s perspective in each of these spaces.

Keywords: Black women. Intersectionality. Knowledge.