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Consciência do SER Reflexões por Sofia Morgado Compilação de artigos publicados em http://www.universodeluz.net

Consciência do SER

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Textos de Sofia Morgado sobre consciência, sobre o SER, sobre a acção e a reacção, sobre os relacionamentos, sobre as formas de estar na vida, formas de estar e de SER.

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Consciência do SER

Reflexões por Sofia Morgado

Compilação de artigos publicados em

http://www.universodeluz.net

Índice

Prefácio ................................................................................................................3

Nota do autor ........................................................................................................4

Desabafo... Amar o Mundo ......................................................................................5

Desilusões .......................................................................................................... 10

Filosofando... Sobre acção e reacção ...................................................................... 12

Filosofando... Sobre a unidade ............................................................................... 15

Filosofando... Sobre consciência............................................................................. 17

Filosofando... Sobre postura e atitude..................................................................... 18

Magia................................................................................................................. 20

Mestre Interior .................................................................................................... 21

Mundo Físico-Espiritual ......................................................................................... 23

Rumos ............................................................................................................... 31

Pequenas Alegrias................................................................................................ 33

Amor ................................................................................................................. 34

Bem e Mal .......................................................................................................... 36

Crianças ............................................................................................................. 38

Trocas Energéticas ............................................................................................... 40

Diversão............................................................................................................. 45

O Casamento ...................................................................................................... 47

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Prefácio

Nos dias que correm muito se fala sobre o tempo, mas todos se esquecem que ele não existe. Somos nós que o fazemos, todos têm o seu tempo, ele é uma criação humana e ao mesmo tempo inexistente porque intemporal. O que é real é a nossa forma de vermos os outros e cada coisa que nos rodeia.

Esta pequena compilação de textos, leva-nos a “parar no tempo” e pensar o que podemos mudar para que a vida mereça ser vivida e o que podemos fazer para alcançar a tão almejada felicidade.

A solução passa segundo a autora por amarmo-nos mais como somos, com todas as nossas qualidades e com os nossos defeitos, só assim podemos dizer de “boca cheia” sim eu amo o meu próximo como a mim mesmo.

O passado e futuro não podem fazer parte do vocabulário de cada um de nós: o passado porque já passou e não se repete e o futuro porque pode até não chegar. Viver o presente, o hoje é o lema que cada um deve levar ao expoente máximo.

Outra solução para conseguirmos ser felizes passa por olharmos tudo e todos com os olhos do coração pois eles enxergam mais além, vêem a simplicidade das coisas, que é onde reside na maior parte das vezes a razão.

A autora relembra-nos, como se de um mandamento se tratasse, que devemos assumir a responsabilidade das nossas acções pois nós somos o que fazemos, acabando essas acções inevitavelmente por se repercutir no mundo exterior.

Faça de alma e coração aquilo que realmente gosta, sem olhar para o que ainda tem à sua frente; acredite no poder da sua mente (ela pode fazer milagres); leve até ao fim aquilo que se propõe fazer;

E principalmente acredite em magia, ela realmente existe pois para que tudo aconteça da forma como idealizamos basta crer.

Existe magia melhor do que essa?

Sara Cardoso

Consciência do SER 3

Nota do autor

Estas palavras são partes da minha forma de ser e estar e

consequência da minha visão colorida do mundo.

Só tenho a agradecer ao universo por todas as experiências que têm

chegado até mim e a que tenho chegado e pelo arco-íris que é a

própria vida.

Sofia Morgado

4 Consciência do SER

Desabafo...

Amar o Mundo

Depois de muitas fases diferentes na minha vida, houve uma que me marcou muito e não

deixa de influenciar o meu modo de ver as coisas.

Houve uma altura em que lidei com muita gente muito diferente e tinha a calma interior

necessária para parar um pouco e observar o que me rodeava. Comecei a olhar para as

pessoas de uma outra forma, nem sei bem como... Como se as olhasse com outros olhos.

Não havia uma única pessoa que não achasse bonita e quanto mais observava maior era

essa beleza.

Sabe muito bem sentir que os outros são lindos e encontrar a nossa beleza nos outros.

Alguém um dia disse sabiamente que os outros são o espelho de nós próprios. E não digo

isto porque procurava ver a minha beleza nos outros, mas sim que realmente encontrei a

minha beleza nos outros. Quase como se o sentimento tivesse partido de fora para dentro

e não de dentro para fora. Sentia-me bem ao encontrar beleza em cada pormenor quase

como um pintor que, ao olhar um campo colorido, encontra a sua calma interior. Como

poderei explicar o que encontrei naquele momento, não nos outros mas em mim?

Quando um amigo verdadeiro (se é que a amizade pode alguma vez não o ser) mostra

uma parte da sua maneira de ser que achamos menos positiva, não o julgo porque o amo

tal como ele é. Posso-lhe deixar clara a minha posição em relação a isso, mas aceito-o tal

como é.

No entanto, é mais difícil aceitar da mesma forma alguém que me é indiferente. E nesse

momento, em cada pessoa que encontrava, não atribuía a mínima importância a essas

‘falhas’ que me pareciam ínfimas perante a beleza de cada um. Por isso digo que me

encontrei nos outros, tal qual um pintor encontra a paz ao olhar o seu quadro real. Apesar

de, como todas as fases da nossa vida, essa também ter passado e já não ver as coisas

assim tantas vezes quantas desejava, sinto que não perdi essa capacidade. E todos nós

temos essa capacidade que por um ou outro motivo vem ao de cima e nos mostra um

mundo completamente novo, com mais cor.

Algumas pessoas sempre me consideraram uma pessoa com uma visão demasiado cor-

de-rosa das coisas, mas até me acho bem moderada (porque realista é uma palavra

completamente desadequada a seja que visão for). Mas será errado, para o meu caminho,

dar cor à minha visão do mundo? Mesmo se isso me faz sentir bem? Se me enche o peito

Consciência do SER 5

e me leva a outros estados de alma? Se serena a minha mente e me traz paz de

espírito...?

Quando me lembro desses momentos, consigo sentir amor pelas pessoas à minha volta

instantaneamente e não acho isso errado de forma alguma. Tudo fica mais brilhante. E

torna-se muito mais fácil a cada vez que o fazemos. Como não sou mais nem menos que

os restantes, porque somos um só, você pode experienciar o mesmo e mais ainda.

Experimente e sinta, respire, inspire a energia que está em todos nós e em tudo à nossa

volta. A energia amorosa que teimamos em bloquear e não deixar fluir.

Porque não conseguimos dizer ao outro que o amamos? Amo os meus pais, amo o meu

irmão, amo a minha família, amo os meus amigos e tenho a mesma capacidade de amar

cada um que encontro. Cabe-me a mim permiti-lo ou não. E quem dá essa permissão

senão a nossa mente? Amar é um estado natural e inato, faz parte da nossa natureza. O

nosso coração é realmente do tamanho do mundo e nós teimamos em manter as suas

portas fechadas.

Eu amo o que faço, eu amo a vida. Neste momento, ao ler este texto, poderá pensar que

só posso estar apaixonada. É verdade, estou apaixonada pela vida. Aliás, sempre fui

apaixonada pela vida, apesar de todas as cambalhotas que ela nos ‘obriga’ a dar para

seguir o nosso caminho.

Amo porque ao amar chamo mais amor à minha vida. Amo porque amar faz bem, porque

me faz sentir bem. Como posso não ver o mundo cor-de-rosa, mesmo com todas as suas

discórdias e nuvens cinzentas? Amo as nuvens cinzentas que dão uma luz diferente à

paisagem, que permitem a humidade que dá vida a outros seres. Amo as discórdias que

nos permitem apreciar de forma única os momentos de serenidade e plenitude.

Amo a beleza do mundo como uma criança olha à sua volta e encontra a cada instante

uma nova forma de se expressar, uma nova oportunidade de o fazer da melhor forma

porque a cada instante consegue fazer cada vez melhor... é só querer.

Amo cada instante de dúvida, mesmo que não no momento, mesmo me deixando cair

pelo seu peso, porque a dúvida me faz continuar da melhor forma. A dúvida obriga-me a

questionar os meus mecanismos e formas de pensar, obriga-me a largar certos

automatismos e a crescer mais um pouco.

Mesmo uma borboleta, antes de mostrar as suas asas, vai construindo a sua beleza

interiormente até que ela se torne visível. Mesmo a borboleta tem um dia de largar o seu

casulo para que possa crescer e voar. Assim são os nossos pensamentos e crenças, como

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um casulo que de vez em quando precisa ser renovado para podermos crescer mais um

pouco, para podermos voar e mostrar um pouco da beleza que cada um tem dentro de si.

Por isso, duvidar é saudável, empurra-nos para a frente, faz-nos pensar e chegar a

conclusões.

Duvide, cresça, liberte-se... ame!

Consciência do SER 7

Onde está a Felicidade?

Nós procuramos sempre ter mais e mais. Todos nós o fazemos. Procuramos sempre o que

não temos. Queremos ter uma casa maior, um carro melhor, um computador novo...

Corremos atrás da felicidade nessas coisas, mas será que a encontramos? Não. É apenas

uma felicidade fugaz, que dura até descobrirmos outra coisa a almejar. Todos nós

procuramos ser felizes e poucos se consideram como tal. Porquê? É assim tão difícil

encontrar a felicidade? Não, se a procurarmos dentro de nós.

A felicidade é um estado de ser e não algo exterior a nós. Porque é que umas pessoas

sentem felicidade com certas coisas e outras nem por isso? A diferença está na forma de

encarar as coisas.

Quando não a procuramos fora de nós e nos encontramos connosco, encontramos a

felicidade no riso duma criança, no desabrochar duma flor, no canto dos pássaros, no pôr

do sol, num simples livro e em muitas outras pequenas coisas a que não costumamos

ligar.

E se nós vivermos momento a momento? Decerto seremos mais felizes. E não julgue que

não tem tempo para apreciar todas estas coisas. Tem tempo, sim. Aprendi por mim

própria que o tempo somos nós que o fazemos. Muitas vezes me ouviam dizer que não

tinha tempo para isto ou aquilo, que tinha coisas para fazer e andava sempre a correr

dum lado para o outro. Como tudo na vida é por fases, tive várias fases "sem tempo". Mas

olhando de outra forma para as coisas, passei a andar mais devagar, a ter mais tempo e a

fazer as mesmas coisas. Como?! Não deixando a vida passar por mim. Se calhar até

demoro o mesmo tempo que demorava a fazer as mesmas coisas, mas estava sempre a

pensar no que tinha de fazer a seguir, sempre a olhar para o relógio e não desfrutava o

momento.

Agora, ando mais devagar, sorrio mais para o que me rodeia e tento centrar-me apenas

naquilo que estou a fazer no momento. Assim, quando chega o fim do dia, penso em tudo

o que fiz com carinho, com um sorriso, em vez de lembrar que passei o dia a correr e ficar

com a sensação que ficou algo por fazer. O segredo está na nossa forma de estar.

Nós passamos a vida a pensar no que não fizemos ontem, no que alguém nos fez no outro

dia ou naquilo que queremos vir a fazer... sempre passado e futuro. Mas segundo a nossa

concepção do tempo, o passado nunca mais será e o futuro nunca vem. O que nos resta

então? O presente. Que é exactamente o que significa, um presente, uma bênção. Resta-

8 Consciência do SER

nos então o Aqui e Agora. Experimente viver um dia que seja centrando-se plenamente no

Aqui e Agora. Vai ver que algo vai mudar. Dedique-se completamente ao momento, com

carinho, com devoção e a vida lhe sorrirá. É mais do que viver o momento, é ser o

momento.

De certeza já reparou que os apaixonados vêem o mundo cor-de-rosa e as pessoas

amarguradas vêm tudo cinzento. O que muda? O mundo? Não. Muda a forma de olhar as

coisas, a forma de estar, a devoção. Então, viva o momento, seja aquilo que faz.

Quando for a caminho de casa, olhe para tudo como se fosse a primeira vez, como se

olhasse pelos olhos duma criança. Repare em cada pormenor. Mas em vez de se queixar

porque está frio demais ou calor demais, barulho de mais, a chover demais... procure o

lado bom de cada uma dessas coisas. É como a tal história do copo meio de água,

enquanto uns olham e acham que está meio cheio, outros olham e acham que está meio

vazio. Experimente olhar de outra forma.

Quando for passear o cão, mesmo que esteja frio e não lhe apeteça, vista uma camisola

mais grossa e desfrute o momento. Pense nesse momento como seu e dele, um intervalo

naquilo que estava a fazer para passear e respirar fundo.

Tem uma pilha de roupa para engomar e não gosta nada? Quais são as suas opções? Pode

deixar para fazer depois e acumular mais ainda, pode pagar a alguém para o fazer por si,

pode fazê-lo contrariado e lamentando-se o tempo todo, ou pode fazê-lo desfrutando o

momento.

O orçamento não permite contratar os serviços de alguém e tem mesmo de tratar daquela

roupa? Se o fizer contrariado, o mais provável é correr-lhe mal, demorar mais tempo e

depois lembrá-lo penosamente. Já que tem de o fazer, que seja um momento de

qualidade.

Se tentar desfrutar ao máximo o momento, o tempo parecerá até passar mais depressa.

Como? Experimente ligar o rádio, escolha uma música gostosa, esqueça tudo o resto e vá

cantarolando... Concentre a sua atenção no que está a fazer e faça-o com carinho.

Experimente!

Ponha o seu coração em cada tarefa e a vida será mais leve e alegre.

Consciência do SER 9

Desilusões

Nós queixamo-nos de sofrer desilusões ao longo da nossa caminhada e em como sofremos

com elas. Erguemos até muros e outras barreiras para nos defendermos dessas

desilusões, impedindo que muito mais chegue até à nossa vida.

Mas o que é uma desilusão senão o fim duma ilusão? Nós damos significados às coisas,

esperamos que estas sejam desta ou daquela forma sem darmos espaço para que se

movam por si mesmas, para que se mostrem. E assim vamos criando uma ilusão de que

algo ou alguém é de certa forma. Com o correr do tempo acabamos por ver que as coisas

não são estáticas, imutáveis, e acabamos por sofrer uma desilusão.

O que é a desilusão senão o fim duma ilusão? Quando apenas nós nos podemos deixar

iludir... Preferimos iludir-nos, imaginando como será o momento seguinte?

Imaginar não é a palavra certa a usar neste contexto porque é bom usar a nossa

imaginação para criar. Mas por vezes agarramo-nos às nossas criações e não lhes damos

asas, deixamo-las ali, dentro duma gaiola, onde as podemos controlar, e esperamos que

elas cheguem até nós exactamente daquela forma e quando elas passam por nós nem as

reconhecemos... e continuamos à espera... até que nos desiludimos.

Preferimos continuar iludidos e não ver todas as oportunidades que nos vão chegando de

tornar as nossas criações reais? Deixemo-las voar por si próprias, dando-lhes asas!

Devemos dar-lhes margem de manobra porque nada é imutável, nós vamos alterando as

nossas vidas a cada passo, mesmo que inconscientemente, e não podemos esperar que

algo que criámos antes nos vá preencher da mesma forma quando as coisas já são

diferentes. Então devemos confiar um pouco em tudo o que há de misterioso e

inexplicável e deixar que as coisas tomem forma por si próprias, já fora da gaiola em que

as criámos. Assim veremos que as coisas serão ainda melhores do que esperávamos e

que cada desvio do plano original tem uma razão de ser, tornando mais possível o

objectivo final. E deixemo-nos deslumbrar por cada descoberta...

E porquê não querer desilusões? Por acaso preferimos viver na ilusão? Devemos então

evitar iludir-nos pelos desejos criados na nossa mente. Há que saber distinguir as coisas.

Já reparou em quantas vezes o seu raciocínio o levou a uma desilusão? E quantas vezes

sentiu o mesmo ao ter seguido a sua intuição, em seguir apenas o que sentia?

10 Consciência do SER

Nós habituámo-nos a usar exclusivamente a razão, usando maioritariamente o hemisfério

esquerdo do cérebro e sofremos com essa escolha. Não abafe a voz da sua intuição e do

seu coração. Verá que evitará enganos e ilusões porque esta ‘voz’ se baseia em

percepções do que realmente é e não no nosso modo de pensar e sistema de crenças.

Consciência do SER 11

Filosofando...

Sobre acção e reacção

Muitas vezes se cai na generalização sobre aquilo que nos acontece. Acontece-nos algo

menos positivo e começamos com lamentos do tipo " a mim tudo me acontece " ou "mas

porquê, fiz algum mal a alguém?". Ou então, caímos no outro extremo e dizemos que

tudo aquilo tinha de ser e pronto. Na minha percepção, nenhuma das hipóteses está

correcta e estão ambas correctas. Pois...

Se é verdade que as coisas nos acontecem por um motivo, também o é que esse motivo

partiu de nós. A lei do karma ajuda-nos a compreender isto um pouco melhor. Esta lei

mostra-nos o delicado equilíbrio do universo e como todas as nossas acções têm

consequências que passam muitas vezes por outras pessoas e voltam a nós como um

boomerang. Essas acções não compreendem apenas aquilo que possamos fazer aos

outros, mas também aquilo que fazemos a nós próprios com pensamentos, palavras e

acções. Cada pensamento é uma acção, já foi até provado cientificamente. Vejamos as

coisas duma outra forma...

Tudo é composto por moléculas, átomos, protões, electrões, neutrões, etc. (lá vem ela

com a história da energia...) E do ponto de vista destas partículas nós não somos sólidos,

certo? Então, ao andarmos, além de provocarmos uma deslocação de ar (de outras

partículas), há uma interacção entre as nossas partículas e as do ambiente que nos

rodeia. Então, cada movimento nosso provoca sempre uma qualquer reacção consoante o

que seja a acção. E, tendo em conta que o pensamento é uma forma de energia, é fácil de

perceber que um simples pensamento possa causar também uma reacção. Esse

movimento vai causar um outro movimento que por sua vez vai causar um outro porque

está tudo interligado... tal como quando lançamos uma pequena pedra num lago.

Podemos, então, imaginar o alcance que pode ter uma simples acção, um simples

pensamento. E como não vivemos dentro dum buraco negro nem num saco de congelação

a vácuo, todas estas trocas energéticas provocam uma resposta algures. Depois, além

deste simples exemplo, intervêm mais factores que podem ter os mais variados nomes. E

tendo em conta que o universo é vastíssimo, esse efeito pode não chegar de imediato

(sendo o conceito de imediato muito subjectivo...). Mas este assunto dá pano para

mangas e é óptimo para filosofar, por isso não me vou alargar mais por aqui.

Como ia dizendo, aquilo que nos acontece tem uma razão de ser. Experimente olhar para

trás, na sua vida, e observe calmamente cada experiência por que passou, mais ou menos

positiva, e veja o que tirou dela. Não superficialmente, mas analise bem e verá que

12 Consciência do SER

sempre tirou alguma coisa de bom: uma aprendizagem, um fortalecimento de algo... o

que for. Procure bem e veja se não procurava ou não lhe fazia falta esse resultado na sua

vida. Bem, até pode achar que não, mas veja se não lhe foi útil mais tarde ou talvez ainda

venha a ser...!

Então, se a cada momento da sua vida tem uma opção a tomar (se há-de fazer isto ou

aquilo, se vai por um lado ou pelo outro, se sente aquilo ou aqueloutro...) e se cada acção

tem uma reacção, pode perceber que a cada momento está a criar a sua vida. Depois,

dependendo de outros factores e outras decisões/acções complementares, cada acção

pode ter um efeito maior ou menor, tal como a pedra no lago, dependendo da forma como

a atira, da força, do vento, da água - enfim, duma série de factores -, provocando ondas

maiores ou menores. E essas ondas podem fazer-se sentir por mais ou menos tempo,

criar uma onda de volta ou não... Sendo assim, cada acção é sempre diferente e nada

pode ser comparado porque o conjunto de factores nunca é exactamente igual.

Experimente meditar em tudo isto e ver onde as conclusões o levam.

A cada momento estou a criar a minha vida. E se tenho a oportunidade de criar uma vida

melhor porque não fazê-lo?! Tenho a oportunidade de escolher o que sinto (pode

continuar a ser um processo automático ou pode tornar-se consciente), tenho a

oportunidade de escolher aquilo que penso sobre os outros (para benefício de mim

mesma)... Posso escolher uma série de coisas que passam pelos outros ou só por mim.

Mesmo em situações que parecem surgir por imposição do destino, em que parecemos

não ter hipótese de escolha... olhe de novo... no mínimo, podemos mostrar várias versões

de nós mesmos. E não se desculpe perante a vida dizendo que não tem culpa de ser como

é. Todos nós temos responsabilidade sobre a nossa maneira de ser.

É verdade que muitos factores contribuem para nos moldarmos, mas nós temos sempre a

palavra final, o aceitar ou não a forma como aquela experiência nos molda, escolhendo

uma das várias hipóteses. Já viu como pessoas diferentes sob as mesmas circunstâncias

de vida, são afectadas de formas diferentes? Então, aí tem. Existe algo chamado

personalidade, carácter, maneira de ser, sim. Mas também aí temos responsabilidade. É

fácil atirar as culpas para algo exterior a nós próprios, sentimos a consciência mais leve.

Agora, imagine se cada um de nós assumir a sua responsabilidade. Claro que vamos

querer o melhor para nós. E ao mesmo tempo, querer o bem ao próximo será fruto não de

altruísmo, mas sim de egoísmo. Sim e não. Mas tudo varia consoante o conceito de cada

um. E daí, seja por que razão for, dando-lhe o nome que queiramos, é muito mais

benéfico para nós e em consequência... para os outros. Ou será ao contrário?

Consciência do SER 13

Vale a pena pensar nisto!

14 Consciência do SER

Filosofando...

Sobre a unidade

Se não compreende/percebe as coisas segundo o conceito de karma, experimente vê-las

de outra forma. Tudo é composto por energia, então, somos parte de um todo, certo?

Como se cada um de nós fosse uma parte dum corpo maior. Então, porque haveríamos de

magoar deliberadamente a nossa perna, o nosso pé, a nossa orelha...?

Podemos sempre magoar-nos sem querer, por inconsciência, distracção ou o que lhe

quisermos chamar e decerto existem outras formas de lidar com esse facto, mas não

temos porque fazê-lo deliberadamente. O que nos falta é essa consciência do todo, da

unidade que somos e de que fazemos parte.

Isto leva-nos à mesma conclusão, o fazer o bem ao "outro" (outro membro do mesmo

corpo) por altruísmo ou por egoísmo. Mas e então? Somos nós que temos um conceito

errado do egoísmo?

Esquecemos também um outro ‘pormenor’. Todas as pessoas envolvidas num conflito, por

exemplo, têm cada uma a sua parte da responsabilidade. Seja por terem feito algo, por

ter criado a oportunidade de alguma forma (pensamento, etc.) ou por terem dado a

oportunidade ao outro. Sim, porque muitas vezes uns dão a outros (inconscientemente) a

oportunidade de expressarem as suas escolhas, de mostrarem a sua essência ou de

poderem reaprender algo. Isto é muito complexo a nível mental porque podemos pensar

“como pode uma ‘vítima’ de algum crime escolher que aquilo lhe aconteça?” Mas escolhe-

o de alguma forma, não necessariamente a um nível consciente, mas a nível da alma.

Claro que nós não gostamos de sofrer e não escolhemos passar por uma ou outra situação

com esta consciência de que falamos, mas por vezes só assim compreendemos alguma

coisa a um nível maior.

E por outro lado será que não gostamos mesmo de sofrer? Se sofremos com algo que nos

dizem, por exemplo, o que nos faz realmente sofrer? Serão as palavras, será o acto da

outra pessoa ou será algo em nós mesmos?

Se somos todos parte dum todo muito maior, a única forma de não nos magoarmos a nós

próprios é se nos amarmos. Então, ame-se para poder amar os outros.

É fácil dizermos que gostamos de nós próprios, mas geralmente fazemo-lo apenas

superficialmente. No entanto, os outros costumam ser o espelho de nós próprios. E nos

outros encontramos as nossas falhas, os nossos pormenores mais sombrios, tudo aquilo

Consciência do SER 15

de que não gostamos em nós. Quando se encontrar em conflito com alguém, mesmo que

seja um conflito interno, e se sentir irritado com essa pessoa, experimente parar e olhar

bem dentro de si, procure a verdadeira razão dessa irritação. Esse espelho não traz as

coisas exactamente da mesma forma que elas são em nós, ou seja, se não gostamos da

nossa parte mais crítica, lidamos com pessoas críticas. Nem sempre é assim tão simples,

temos de procurar bem fundo.

Este exercício mostra-nos, se assim quisermos, a verdadeira razão dos nossos conflitos e

mostra-nos que essa razão reside em nós, não é um factor externo como gostamos de

fazer acreditar a nós próprios. E fácil dizer que reagimos assim ou assado, fizemos isto ou

aquilo, porque alguém nos fez fazer assim. Mas essa pessoa apontou-nos uma arma e

obrigou-nos a fazê-lo? Então sejamos honestos connosco.

Experimente e descubra-se!

16 Consciência do SER

Filosofando...

Sobre consciência

Já reparou como facilmente se dão acidentes quando estamos distraídos com qualquer

coisa? E como geralmente temos de fazer as coisas de novo e levamos muito mais tempo

a concluir qualquer tarefa? Acontece também que estas tarefas acabam por não ficar no

seu melhor porque também não demos o nosso melhor para as realizar. Então e se

experimentarmos colocar a nossa consciência em tudo o que fazemos? Não poupa tempo

fazendo o contrário, acredite que sei o que digo, pois sempre me considerei uma pessoa e

mente multitarefa. Mas vou descobrindo que fazer uma coisa de cada vez com plena

consciência me traz mais benefícios. Fica a tarefa finalizada, dou o meu melhor, mais

depressa (de certo modo) e com mais qualidade.

É difícil para uma pessoa que costuma fazer várias coisas ao mesmo tempo, mas vou

conseguindo... ás vezes, outras vezes ainda não. Mas há que começar por qualquer lado.

Experimente!

Ao lavar a louça, faça-o de pleno coração e em plena consciência, não a pensar no que

tem de fazer a seguir ou no que deixou por fazer, mas encontre-se em cada movimento…

na peça de louça que segura nas mãos... em como é bonita a sua forma... em como sente

a água nas mãos... em como é divertido brincar com a espuma... sei lá! Invente! Divirta-

se com o que faz! Pode até pensar que não tem tempo para essas palermices. Mas serão

palermices ou será realmente mais divertido? E já reparou como duas pessoas com o

mesmo tempo para fazer a mesma tarefa, podem ter uma percepção do tempo

completamente diferente? Pois é! O tempo é relativo.

De certeza que já sentiu uma tarde no trabalho parecer interminável (se não, é bom

sinal...) e outras vezes houve em que nem deu por ela. A percepção do tempo varia

conforme muitos factores e um deles tem a ver com a diversão, ou melhor, com o espírito

do momento.

Experimente!

Consciência do SER 17

Filosofando...

Sobre postura e atitude

Muitas vezes ouvimos alguém dizer que só faz as coisas certinhas e corre tudo mal, por

isso tem de começar a fazer o mesmo que os outros, sem se importar com o sofrimento

alheio.

Se alguma vez pensar o mesmo em relação a algo, experimente então fazer o contrário do

seu hábito. Mas não faça nada contra a sua natureza ou que lhe desagrade. Se acha que

será mais feliz fazendo algo com que não se identifica, engana-se. O resultado passa mais

pela atitude do que pela acção. É lógico que a acção condiciona o resultado, mas, a nível

de 'dar certo ou falhar', é mais uma questão de atitude.

Experimente fazer seja o que for que vá contra a sua natureza e veja se isso o faz sentir-

se melhor. Dificilmente.

Agora experimente fazer algo em que acredita profundamente e veja a diferença. Sente-

se bem só pelo facto de agir de acordo com as suas convicções. Então, não pense que

quanto mais mal se faz, mais sorte se tem. Isto é uma ilusão.

Independentemente da acção, se você acredita profundamente no que faz tem mais

probabilidades de sucesso. E por vezes este acreditar, quando acreditamos, é muito

superficial. Porquê? Um dos motivos é pensar assim mesmo, que só de outra forma

conseguiria, ou se fizesse como fulano, ou que já tentou antes e nunca conseguiu.

A nossa mente tem um poder enorme, poder que nós menosprezamos e usamos

inconscientemente da pior forma. Se já fazemos as coisas a pensar que vamos tentar, já

estamos a criar obstáculos, já estamos com reservas. Tentar e fazer ou conseguir não são

de forma alguma sinónimos. É muito importante a nossa postura, a nossa atitude, os

nossos pensamentos e as nossas palavras. Este é um conjunto de factores muito

importante para o sucesso dos nossos empreendimentos.

Experimente mudar pequenos detalhes na sua forma de falar, a forma como emprega

certas palavras. Use menos ses, menos 'tentar', mais 'vou', mais 'escolho' em vez de

'quero' ou, pior, 'queria', mais 'sim' e menos 'não'... As palavras são apenas nomes que se

dão a ideias, a palavra em si é como um símbolo isolado, apenas uma representação

gráfica.

18 Consciência do SER

Se lhe pedir para fechar os olhos e serenar um pouco e, então, pedir para pensar num

elefante ou apenas falar num elefante, a primeira coisa que lhe vem a mente será um

elefante. (Se não fechar os olhos nem serenar a mente acontece o mesmo, mas a nossa

mente é constantemente bombardeada de pensamentos e mensagens e geralmente não

nos damos conta do processo.)

Agora, se lhe pedir para não pensar num elefante, o que lhe vem à mente? ...Um elefante.

Então, a palavra 'não' não veio acrescentar nada a ideia. O mesmo se passa com tudo o

resto. Se você está a tentar não fazer algo, coloque as coisas de outra forma. Deixe

sempre claro à sua mente aquilo que quer fazer e não o contrário. Assim, pondo as coisas

na prática, se quer ir jogar futebol logo à noite, não diga 'vou tentar não faltar ao futebol'

porque a ideia da frase é faltar ao futebol. Isto parece uma coisa tão idiota quanto

simples, mas comprovadamente real.

Depois existe também o outro lado da questão. Desmontada a frase, ficamos com a ideia

e a negativa. Já vimos que o 'não' não vai anular a ideia, mas como qualquer outra

palavra também tem valor. E o valor que atribuímos à palavra não, desde que nos

conhecemos como gente, é um valor negativo. Já deve ter ouvido dizer que se quer

vender alguma coisa tem de perguntar 'quer um...?' em vez de 'não quer um...?'. Esta é

uma das mais conhecidas técnicas de marketing e publicidade porque se sabe o impacto

das palavras sim e não. Posto isto, enfatize o sim nas suas frases, substituindo o não.

Com o tempo perceberá a diferença.

Isto significa também estar mais atento às suas próprias palavras e pensamentos, coisa

cada vez mais difícil no nosso dia a dia em que tornamos tudo automático e nos

mantemos sempre ocupados com o que foi e o que está para ser.

Esta atenção é importante por muitos motivos, inclusive enquanto está atento a alguma

coisa está-lhe a transmitir energia e a dar espaço para que esse algo cresça e flua. Depois

então, liberte essa ideia, para que se manifeste.

Consciência do SER 19

Magia

Há uns tempos atrás, a filha de uma amiga minha, com uns 8 anos, influenciada pelos

livros de Harry Potter da irmã mais velha, veio-me perguntar se existia magia. Disse-lhe

que sim e ela na sua inocência perguntou-me como poderia usar magia para o quarto ficar

arrumado num piscar de olhos. Por um minuto fiquei sem saber o que lhe dizer, até que

lhe disse que não lhe sabia responder, mas que nada era impossível.

"Mas existe ou não magia?" perguntou-me ela.

“Existe magia, sim,” respondi-lhe “e tu sabes isso no momento em que nasce um bebé,

quando se abre uma flor, quando sentes a chuva cair-te na cara e fechas os olhos para a

sentir... isso é magia!”

Acho que ela não percebeu naquele momento, estava interessada em questões mais

práticas, mas espero que numa dessas situações ela se lembre dessas palavras porque sei

que as crianças absorvem tudo o que transpiramos para elas.

Porque deixámos de acreditar na magia? Pode não se revelar como nós fantasiámos, mas

existe de facto. Ela existe em cada pequena coisa que a vida nos dá. Podemos encontrar

magia num olhar, num momento, num acontecimento.

Podemos não encontrar magia ao agitar uma varinha de condão, mas encontramo-la

certamente ao observar um simples nascer do sol, ao deixarmo-nos tocar pelo riso duma

criança, ao encontrarmo-nos nos olhos de alguém...

No entanto, deixámo-la nas nossas infâncias e reclamamos que a vida não tem qualquer

magia. Pior ainda, ensinamos as crianças a cedo desacreditarem a magia. E acreditar em

magia não é acreditar em Pai Natal, mas é acreditar que, se desejarmos com muita força,

os nossos sonhos se podem concretizar. É encontrar a magia da vida em cada pedaço de

nós e dos outros...

A magia existe, cabe-nos a nós reconhecê-la ou não, fazê-la acontecer ou não...

20 Consciência do SER

Mestre Interior

Hoje em dia encontramos muitos mestres pelo nosso caminho. Todos eles têm o seu

mérito, todos levam algo àqueles com quem contactam. Mas quem procura os mestres

não se deve esquecer de aprender a levantar-se pelo próprio pé. Não deve agarrar-se a

algo exterior.

O nosso maior mestre somos nós próprios. Por mais difícil que seja aceitar isso, nós temos

acesso ao conhecimento dentro de nós. Os outros trazem-nos algo, mostram-nos muitos

caminhos, mas somos nós quem tem de decidir o que aproveitar para a nossa vida porque

somos nós quem tem de viver com o resultado das nossas escolhas. Só nós sabemos qual

o nosso caminho e por melhores que sejam as intenções, os outros não devem empurrar-

nos na direcção que eles acham ser melhor para nós próprios ou que consideram ser a

mais acertada. Cada pessoa é única, assim como a sua percepção.

O que me faz lembrar uma história daquelas que nos chegam por e-mail e que já li há

alguns anos. Era algo assim, embora possa ser contada de diversas maneiras...

Uma professora resolveu dar uma aula diferente e levou os alunos, crianças pequenas, a

uma experiência no exterior. Chegados lá, ela colocou uma pequena venda nos olhos dos

pequenos, levou-os até ao pé dum elefante e disse-lhes para identificarem o que tinham à

sua frente através dos seus sentidos. Os pequenos, todos à volta do elefante, tocavam-no

e imaginavam o que seria.

O pequeno que estava por trás do elefante, sentiu o rabo do animal e achou que era uma

corda com toda a certeza, pois tinha-a sentido. Outro que estava junto a uma pata, disse

ser o tronco duma árvore com toda a certeza, pois sentia a textura, a dimensão e o

formato. Outro sentiu um dos dentes do elefante, outro sentiu uma orelha e por aí

adiante, dizendo serem coisas diferentes...

Cada um deles dizia estar certo, pois falava do que tinha sentido e nada lhe podia tirar

essa certeza. Mas nenhum deles tinha uma visão geral, apenas uma parte do todo e

sempre baseado no seu próprio conhecimento do universo. Cada um deles estava certo na

sua percepção, apesar de todas serem diferentes e indicarem coisas diferentes, mas era

apenas uma parte de algo muito maior. Só quando conheceram o todo, compreenderam o

que os outros sentiram e lhes deram também razão. Tal como estes alunos, nós vivemos

a vida com um véu a cobrir-nos os olhos, algo idêntico àquilo a que muitas filosofias

chamam de Maya. Maya significa ilusão.

Consciência do SER 21

Mas este véu é necessário para podermos percepcionar as coisas desta maneira e é útil na

nossa caminhada. Embora uns possam usar um véu mais opaco que outros, todos nós

estamos acertados nas nossas percepções. E é natural que estas percepções se vão

alterando ao longo da nossa vida. Como muitas vezes são contradizentes e seja comum

sentirmos esta certeza interior, julgamos que antes estávamos errados. Mas estaríamos

errados ou estaríamos num outro local da nossa caminhada em que sentimos o mesmo

elefante duma outra forma? Por duas opiniões serem opostas, não significa que apenas

uma esteja correcta. Isso só funciona na lógica e a lógica é racional e matemática. A

matemática aplica-se na vida, mas não chega nunca a ser a própria vida.

Por isso existem também tantas religiões diferentes, tantas quantas as percepções da

espiritualidade. Apesar de nenhuma delas ser a própria espiritualidade, elas são

percepções diferentes dum todo que servem a cada um naquele ponto da sua caminhada.

O que não faz com que cada uma delas deixe de clamar ser a única verdadeira.

Então, voltando à questão inicial, muitas vezes podemos sentir a tendência de seguir um

mestre exterior e esquecer o nosso próprio conhecimento, a nossa própria maneira de

sentir o mundo. Não é bom apoiarmo-nos em alguém por muito tempo e

incondicionalmente. Dê espaço à sua intuição, assim como à sua razão (porque somos o

'equilíbrio' de ambas) e permita-se caminhar pelo seu pé. Sinta o entusiasmo de aprender

e de chegar lá por si.

É muito grande a tentação de impormos as nossas ideias aos outros porque gostamos

deles e achamos que estas os podiam ajudar. Mas já lhe deve ter acontecido dizer a

mesma coisa vezes sem conta a determinada pessoa e a ideia não entrar até que

acontece algo e essa pessoa compreende por si própria. Então você pensa "mas eu

cansei-me de te repetir o mesmo". Pois...! Mas a informação só entra no momento certo,

da maneira mais apropriada para cada um e quando essa pessoa permitir.

É bom que partilhemos as nossas ideias para podermos tirar as nossas conclusões e

darmos a mesma oportunidade aos que nos rodeiam, mas devemos dar apenas as

ferramentas para que essa pessoa possa construir por ela própria.

22 Consciência do SER

Mundo Físico-Espiritual

Há muito tempo atrás, li algures um texto sobre a nossa ligação com os outros no

contexto espiritual e sobre o conceito do todo e da individualidade aparente. O autor deste

texto fazia uma analogia interessante deste conceito. Experimente tamborilar os dedos

sobre uma folha de papel. Olhando por debaixo da folha de papel, vêm-se quatro cabeças

de dedos a tocar a folha parecendo ser todos independentes. Ao ver por baixo, não há

forma de saber que eles pertencem todos a uma mesma mão, parecem ser quatro 'coisas'

separadas, cada uma tocando o papel a seu tempo. Só por cima da folha dá para ver que

são quatro dedos, todos da mesma mão, do mesmo corpo. Olhando a nossa

espiritualidade sob esta luz, podemos entender que neste mundo tridimensional em que

vivemos, aparentamos ser pessoas separadas dum todo, indivíduos... Mas nem tudo o que

parece é.

Podemos dizer que sob uma folha invisível que separa o mundo físico do mundo espiritual,

vemos tudo o que nos rodeia como formas separadas. Se nós víssemos o que nos rodeia

como parte de nós e nós parte do resto, um todo, não faria muito sentido qualquer

experiência física. Isto porque nós necessitamos 'ser' entidades separadas para nos

podermos (enquanto todo) experienciar de muitas formas diferentes (enquanto

indivíduos). O que nos leva ao eterno equilíbrio entre a luz e a escuridão, o bem e o mal,

etc. A luz não sabe que é luz se sempre viveu no meio da luz e foi a única coisa que

conheceu. Para saber o que é a luz, tem de ir até à escuridão e poder ver a diferença, ver

o efeito que a sua luz tem à sua volta e então poder experienciar-se da forma que preferir

para atingir algum objectivo maior.

Quando estamos na mais perfeita escuridão, não vemos nada à nossa volta porque tudo o

que nos rodeia faz parte dum todo, faz parte dessa escuridão em que estamos envoltos. E

ao andarmos no meio da escuridão, podemos sentir que estão lá outras coisas ao

tropeçarmos nelas, mas mesmo para sentirmos os objectos que nos rodeiam dentro desse

escuro, precisamos poder sentir. Enquanto alma, espírito, ou como lhe queiramos chamar

as coisas apenas são, não existem formas nem densidade, não existem conceitos, não

existem sentidos, não existem sentimentos ou emoções, tudo apenas é. Então, para este

todo se poder sentir, se poder conhecer, necessita separar-se, experienciar-se nas mais

diversas situações e só o mundo tridimensional o torna possível. Possível de se sentir no

outro, sentir a tristeza, a alegria, o amor, o ódio, a compaixão... Possível de se conhecer

através da comparação entre o que é e o que não é, apesar de tudo fazer parte de si.

Consciência do SER 23

No entanto, torna-se difícil, mesmo sem conceitos, experienciar aquilo que se conhece de

uma outra maneira, conhecendo a verdadeira natureza do todo. É preciso olhar, sentir,

vivenciar, como um bebé olha para o mundo à sua volta, sem saber o que esperar do

resto do todo, melhor... sem se saber parte do todo. Assim, cada parte de si mesmo tem

de 'esquecer' a realidade maior para poder apreender da melhor forma.

Imagine que tem um jogo que o vai ajudar a atingir um determinado objectivo. Esse jogo

consiste numa qualquer acção passada entre algumas personagens diferentes e você tem

de escolher uma delas. Depois de escolher a sua personagem, o seu peão, encontra

diversas situações ao longo do jogo nas quais tem de agir conforme esse papel que

assumiu (do tal personagem), de outra forma o jogo não fará sentido e terminará. Mas

torna-se difícil pensar como aquele personagem que nem sabe bem como é, uma vez que

sabe fazer parte dum jogo. Torna-se difícil porque tem o conhecimento maior (do jogo) e

tem o seu conhecimento, a sua forma de ser, pensar e estar. Então, para poder passar

essas etapas que vai encontrando pelo caminho (cujo objectivo final é levarem-no onde

quer que o jogo o leve) vai ter de entrar na pele desse personagem, agir como ele agiria,

mas sem que o seu conhecimento anterior interfira. Assim conseguirá chegar ao fim do

jogo e atingir o seu objectivo.

Agora imagine que houve qualquer coisa que faltou jogar pelo meio porque se esqueceu

ou não teve oportunidade e você quer passar por essas outras etapas para que o seu

objectivo seja plenamente atingido. Então, você volta a jogar, criando as condições para

que possam surgir essas etapas nas suas jogadas. Imagine, então, que está a jogar com

mais pessoas e que jogam a feijões ou que vão criando créditos. E imagine que cada uma

das suas jogadas pode criar um débito ou um crédito a um dos outros jogadores e vice-

versa. No final do jogo, mesmo sabendo que é um jogo, pode sempre jogar de novo para

saldar os créditos e tentar equilibrar as coisas. Então, você volta a jogar. E vai tentar criar

todas as condições para que as coisas se equilibrem.

A vida não é nenhum jogo passado na arena dos Deuses do Olimpo que se divertem com

as reacções inconsequentes (para si) das suas jogadas. Mas se lhe quiser chamar um

jogo, não se esqueça que ele é o seu jogo, em que as suas jogadas podem criar

equilíbrios ou desequilíbrios mais ou menos aparentes na sua caminhada, prolongando ou

encurtando, mais ou menos, a caminhada até às suas metas finais.

24 Consciência do SER

Pedras no Caminho

Ao lidarmos com outras pessoas e com o mundo, vamo-nos deixando afectar por uma

série de situações, não pelas situações em si, mas pelo que elas representam para nós.

E de onde vêm estas conotações que lhes damos? De tudo aquilo que vamos

apreendendo, que vamos racionalizando e dos significados que vamos atribuindo às

coisas. É trabalho da nossa mente. E se por vezes nos dá jeito esta identificação

automática duma situação, outras vezes caímos em erros crassos. A nossa mente é muito

útil, mas nós pegámos em algumas funções mínimas – porque ela é capaz de muito mais -

e generalizámos os conceitos. Não damos sequer margem para manobra.

Ao darmos os significados que queremos às coisas, por mais certezas que tenhamos,

muitas vezes enganamo-nos. Mas continuamos a fazê-lo. Quando alguém nos diz algo que

nos magoa, o que nos magoa realmente? São as palavras? Os actos? Ou são aquilo que

representam para nós (palavras e actos)? Cada um de nós, enquanto indivíduo, tem

experiências diferentes e significados diferentes para as coisas que experiência. Então já

pensou que aquilo que certa acção representa para si, pode não significar o mesmo para o

outro? E acha mesmo que o outro devia adivinhar o que representa para si? Já lho disse?

Porque não adivinha o que a situação representa para o outro? E mesmo quando acha que

o outro fez de propósito para o tirar do sério, porque o faz? Porque ele quer? Deixe-se

afectar ou não, mas a responsabilidade é sua.

Todas estas situações se vão tornando pesos no nosso caminho, pesos que carregamos

por nossa vontade e, quer queiramos ou não, nos vão afectando para o resto da

caminhada.

Estes pesos são como pedras na nossa mochila que tornam o caminho mais duro, tornam

cada passo mais difícil que o anterior porque o cansaço se vai apoderando de nós e,

mesmo levando a mochila nas nossas costas e fora da nossa vista, aquele peso vai sendo

cada vez mais aparente. Mas no dia em que decidimos deitar fora algumas dessas pedras

sentimos um alívio enorme e o caminho parece-nos outro.

Se a sua mochila levar muitas pedras, dificilmente conseguirá manter-se direito, verá

cada obstáculo no caminho com uma dimensão muito maior, não se deterá para observar

as flores. E quanto às suas relações com os outros? Experimente abraçar alguém com um

peso enorme nas costas. Não conseguirá fazê-lo plenamente, não conseguirá mantê-lo...

Mas a mochila é nossa e fomos nós que lá colocámos as pedras, cabe-nos a nós atirá-las

fora ou transportá-las ao longo do caminho.

Consciência do SER 25

Faça uma pequena experiência.

Ao lidar com alguém, ao lhe dizerem algo sobre si ou sobre o seu trabalho, por exemplo,

não estabeleça quaisquer tipos de correspondências com o que essa pessoa disse, não

pense muito no assunto, não racionalize, apenas observe. Experimente até fazê-lo com

um sentimento de amor ou compaixão pela outra pessoa. Sinta o efeito que tem em si.

Depois, faça como costuma fazer, lembre-se de outras situações idênticas ou espere que

aconteça alguma outra situação. Pense sobre isso, pense no que a pessoa quereria

realmente dizer, nos pensamentos escondidos por trás das palavras, dê-lhes o significado

que quiser. Sinta a diferença.

Deixou-se afectar mais pela situação em si ou pelo significado que lhe atribuiu na sua

mente? Pense bem no assunto, sinta e observe com sinceridade. Faça este exercício só

para si, não tem que justificar os seus sentimentos e reacções a ninguém. É bom

pensarmos sobre aquilo que nos dizem, estarmos abertos ao conteúdo das mensagens

que chegam até nós das mais diversas formas, mas há que fazê-lo com peso e medida,

não sobrevalorizando, não generalizando...

Agora experimente, numa outra situação, perguntar à outra pessoa aquilo que quer

realmente dizer, pergunte aquilo que não compreender, aquilo que lhe fizer confusão.

Diga e pergunte o que lhe vai dentro. Mas sem se deixar levar pela sua mente e as suas

conjecturas, observe apenas. Faça como uma criança na idade dos porquês, que não se

cala perante as suas dúvidas tentando imaginar o significado de cada coisa nova e

atribuindo os significados já conhecidos às novas situações (como nós geralmente

fazemos). Sinta a diferença. Se calhar até reparou como uma situação não tinha nada a

ver com aquilo que pensava, era até bem mais leve. E sentiu a diferença de peso? O

acréscimo de peso que a sua mente lança para dentro da sua mochila?

Sente-se, relaxe, feche os olhos, respire fundo e veja-se a percorrer um caminho com

uma mochila pesada às costas. Veja-se a abrir a sua mochila e tirar lá de dentro algo que

uma situação provocou em si, a emoção/reacção/sentimento preso à acção que alguém

teve para consigo, veja-se a colocá-la dentro duma bonita caixa, faça um embrulho bonito

e ofereça de volta à pessoa que lho deu. Faça-o com amor, diga-lhe que já não precisa de

carregar esse peso consigo e que o liberta. Veja a outra pessoa a aceitá-lo e observe a

caixa a desaparecer já fora do seu alcance. Aquele peso desapareceu, já não o incomoda a

si nem à sua relação com a outra pessoa, bem pelo contrário.

26 Consciência do SER

Mesmo que não se lembre quem lhe provocou certa ‘reacção’ - por exemplo, ao longo da

vida muitas pessoas dizem coisas que nos marcam, que nos ajudam a não gostar de nós

próprios ou nos deixam hábitos que não queremos para nós – não se preocupe com o

rosto da pessoa ou com o facto de ser um ou mais indivíduos, use essa personagem

simbolicamente.

Se for alguma preocupação não causada por alguém, experimente atirar esse peso para

dentro de um poço à sua frente, ouça-o chegar lá no fundo e tape de novo o poço,

afastando-se muito mais leve do que lá chegou. Sinta a diferença.

Assim é, também, com as perdas na nossa vida.

É difícil lidar com perdas seja a que nível for, seja a perda dum ente querido, a perda dum

amigo (mesmo por uma qualquer discussão/divergência), a perda dum companheiro,

duma situação... sejam estas perdas físicas ou não.

Tudo passa pela forma de encarar as perdas e principalmente pela forma de encarar a

vida. Muitas vezes essas perdas lembram-nos de todas as coisas que gostávamos de ter

feito e não fizemos. Por isso é tão importante fazer as coisas consoante as vamos

sentindo, ir dizendo o que vamos sentindo...

Então, quando enfrentamos uma perda a qualquer nível é bom processarmos tudo aquilo

que temos a processar para não carregarmos pesos desnecessários ao longo do nosso

caminho.

Veja-se na frente da pessoa que perdeu, fisicamente ou não, diga-lhe aquilo que acha que

ficou por dizer, observe, sinta o amor crescer dentro de si e envolvê-lo a si e à situação.

Agradeça a essa pessoa todas as coisas boas que lhe proporcionou e aceite a sua parte da

responsabilidade de todas as coisas menos boas. Não se justifique de nada, não tem de o

fazer, sinta apenas e seja o seu próprio observador.

Deixe, então, essa pessoa partir com amor (diga-lho mesmo) porque o maior amor é

quando se abre mão, é um amor não egoísta, é quando se dá asas para que quem se ama

voe, mesmo que para longe de nós. Esse amor não dói, não magoa, o que faz sofrer são

os limites que a nossa mente impõe ao nosso coração. Esse amor é o dar e não o receber.

Veja esse amor como um belo pássaro que voa das suas mãos para o cimo duma árvore,

que canta de alegria pelo seu acto de amor, que mostra a sua plumagem voando

majestosamente pelos céus, iluminando o seu sorriso e o sorriso de todos os que o vêm

atravessar os seus horizontes.

Consciência do SER 27

Pode até parecer-lhe difícil fazê-lo, senti-lo, mas se essa for a sua vontade então será

fácil. E a sua vontade é você que a dita, não o seu corpo, não a sua cultura, não a sua

educação, não os outros, não a forma como os astros o ‘influenciam’... A sua vontade é

sua, é aquilo que a mente lhe diz e que nem sempre anda de mãos dadas com a voz do

seu coração. Centre-se no seu coração, deixe-o falar, deixe-o crescer, deixe-o tomar

forma. Torna tudo muito mais fácil, torna a caminhada muito mais leve e prazerosa.

Vá libertando a sua mochila aos poucos e tenha atenção em todas as pedras que lá vai

colocando. Serão mesmo necessárias? Qual seria a diferença na sua vida se não as

carregasse consigo? Seria melhor? Então porque as carrega? Do que tem medo? De

esquecer algo ou alguém? De se magoar? Será que está a impedir que se magoe ou a

impedir a felicidade de chegar até si?

28 Consciência do SER

Pré-conceitos

Há algum tempo vi uma notícia na televisão sobre o lançamento duma nova Barbie,

diferente e sem preconceitos. Achei piada às respostas dadas na rua sobre se as mães

comprariam aquela boneca às suas filhas. A Barbie vem em lingerie e tem até um cinto de

ligas vestido, mas... nada mais que isso! Surpreendeu-me imenso que todas as mulheres

entrevistadas tivessem dito que nunca comprariam uma Barbie daquelas às filhas apesar

de a acharem gira.

No dia seguinte presenciei também um comentário menos feliz feito a uma criança bem

pequena sobre umas pessoas de cor que passavam na rua. Não criticando os autores,

porque cada um segue a sua opção de vida, apenas pergunto se gostaremos do mundo

com todas as discórdias e confusões existentes geradas pelo preconceito (ou pré-

conceito).

Como podemos dizer às nossas crianças para não dizerem isto ou aquilo porque é ‘feio’,

para não fazerem assim ou assado porque não se faz, se os primeiros exemplos partem

de nós? É algo tão simples e tão importante que influencia alguém talvez por uma vida

inteira.

E que reflexos poderão ter estes actos inconscientes no futuro de quem nos é mais

querido? Quereremos nós dificultar-lhes as coisas? Já pensou em como cada um destes

nossos actos e palavras irreflectidas vão crescendo e todos juntos fazem a

comunidade/sociedade, o país, o mundo e se reflectem nas vidas de todos? Não é exagero

pensar assim porque cada um de nós é uma semente e não podemos fazer algo só porque

o outro também faz. Os actos dos outros não servem de desculpa à nossa preguiça. Cada

um de nós faz parte do todo.

Lembro-me de há uns 8 anos atrás fazer uma viagem de comboio com outras duas

pessoas e uma delas ter atirado lixo pela janela. Bem... hoje sou bem mais calma, mas

posso dizer que fiquei como os cães quando eriçam o pêlo da nuca! Lembro-me dessa

pessoa me responder que a beira da linha já estava cheia de lixo!... Mas se estava cheia

de lixo é porque há mais pessoas a pensar assim! Agora imagine se todos pensassem da

mesma forma... vivíamos numa enorme lixeira. E lá porque os outros fazem, será que nós

gostamos de ver as coisas assim? Bem, para quem gostar pode sempre fazer o mesmo

em casa, mas deixar quietas as nossas ruas porque são comuns.

Consciência do SER 29

Mas se eu não gosto, vou contribuir para que fique ainda pior? Vou dar o exemplo para

ainda mais pessoas fazerem o mesmo? Ou vou dar o exemplo a quem quiser estar atento,

sem impor os meus hábitos a ninguém, mas mostrando que existem diferentes formas de

estar? Mostrar que se calhar não é assim tão difícil fazer a diferença porque se virmos

bem, existem tantos que a fazem...

Li algures, um dia, umas analogias que se aplicam muito bem... nós agimos como se

tivéssemos vindo ao planeta Terra passar férias ou, melhor ainda, teimamos em

permanecer na pausa para o café...!

Pior é, ainda, quando fazemos tudo isto à frente de crianças... Crianças que vêm os

adultos como os grandes que querem ser um dia.

Mas, voltando à questão inicial, ao ver a notícia fiquei a pensar nos preconceitos criados

logo desde cedo. Qual o mal duma Barbie em cuecas? Lembro-me duma das mães dizer

que depois a filha gostava e queria andar assim vestida pela rua. Não que eu veja algum

mal nisso, mas e se a mãe lhe oferecesse uma roupa para ela vestir por cima para

mostrar à criança que aquela era apenas uma roupa interior muito bonita? Também não

estou a dizer que devam comprar aquela Barbie só porque é diferente ou porque têm de

ter o brinquedo novo, mas fiquei surpreendida com as reacções à mesma. Não digo que

estejam certas ou erradas (conceitos muito subjectivos), mas realmente o mal está na

cabeça de quem o vê. Nós vamos sujando o que uma criança tem de puro e depois não

sabemos ‘onde é que elas aprendem essas coisas’.

30 Consciência do SER

Rumos

“Quando aprendes a falar contigo próprio verificas que a Comunicação com os outros

melhora, amplia-se e enriquece-se.”

Marta Cabeza

Como podemos esperar comunicar com os outros se não comunicamos connosco? Como

podemos dizer e mostrar aos outros o que queremos se nós próprios não sabemos? É

importante olhar bem dentro de nós e ouvirmos o coração... ouvirmos com o coração. É

importante sabermos onde estamos e onde queremos ir para que possamos direccionar os

nossos passos no sentido certo para aquilo que queremos atingir. Se soubermos o que

sentimos e no que acreditamos, se conhecermos a nossa essência, podemos ser melhor

quem somos e comunicar melhor com os outros, sem dúvida alguma. E podemos fazê-lo

ouvindo-nos a nós próprios, comunicando connosco...

Ao longo da nossa caminhada vamos ouvindo, lendo, vendo, captando muitas coisas de

inúmeras formas e, se não existir essa comunicação interior, vamos ficando confusos,

vamo-nos enchendo das opiniões dos outros, das experiências dos outros, dos gostos dos

outros... Vamos fazendo as coisas só por fazer, damos por nós a viver a vida só por viver,

sem objectivos nossos. É importante pararmos e sentirmos qual é o nosso verdadeiro

caminho, se aquilo que fazemos é uma vontade nossa ou exterior a nós. É importante

sermos sinceros com nós próprios... sermos autênticos.

Muitas vezes tendemos a fazer o que os outros esperam de nós, mesmo não indo de

encontro às nossas vontades, e por vezes até achamos que o fazemos por motivos muito

nobres. Mas e a nossa vida, quem a vive? Se nós não estivermos bem, em algum ponto

do caminho olhamos para trás e lamentamos tudo o que foi feito. E em prol de quê?... de

quem?

É bom fazermos algo pelos outros sim, desde que estejamos a ser sinceros connosco e

que seja esse o caminho que queremos tomar de coração. Dessa forma nunca nos

poderemos arrepender do que fazemos, desde que cada passo seja consciente,

verdadeiro, dado de coração.

E se achamos que deixámos de nos ouvir a nós próprios, algures pelo caminho, temos

sempre a oportunidade de endireitar o rumo dos nossos passos, para que eles nos levem

onde queremos ir.

Consciência do SER 31

Não deixemos de viver as nossas vidas por nada. Não é egoísmo, não é crueldade. É amor

pelo nosso ser. Se estivermos bem, podemos deixar os outros bem com maior facilidade.

Claro que se estamos bem, não conseguimos ver ninguém mal e é inevitável querermos

ajudar, mas essa vontade virá de dentro, não será um sentido de dever ou obrigação. É

tudo uma questão de equilíbrio. E se nós estivermos bem e equilibrados não cairemos em

extremos nem em excessos.

Por tudo isto e muito mais, é muito importante conhecermo-nos, sabermos quem somos e

para isso devemos olhar para dentro e escutar com atenção.

32 Consciência do SER

Pequenas Alegrias

Já reparou que quando ouve uma música triste o seu humor tende a alterar-se mesmo

que por momentos? Especialmente se for uma música de que goste e não resista a entrar

na onda e até cantarolar. E se ouvir mais que uma? O seu humor permanece alterado por

mais tempo. Também já deve ter reparado o contrário - que uma canção alegre tem o

condão de lhe levantar o espírito e a moral, especialmente se gostar muito e se ouvir

várias seguidas.

Então, porque temos a tendência para ouvir músicas tristes quando estamos tristes? Será

porque gostamos de estar nesse estado de alma? Hummm...

E se quando estamos tristes experimentarmos ouvir um álbum inteiro de música alegre? É

inevitável que o nosso humor melhore um pouco.

Quando estou tristonha por algum motivo, existe algo que me deixa para cima. Sempre

deixou. A mim o que me deixa feliz é ver uma mulher grávida ou uma criança pequena.

Se a criança se ri para mim então, derreto-me no instante e a tristeza some de vez. E a

si?

Quando estiver triste, curta a tristeza porque tem uma razão na certa, mas não a

prolongue. Não deixe de ver os sorrisos que a vida lhe mostra nem fazer a vida perder

outros sorrisos. Não se agarre à sua tristeza. Leve o seu tempo a curti-la e assim que ela

mostrar as suas asas deixe-a voar. A não ser que goste de se sentir triste...

Mas se prefere estar alegre, aproveite cada alegria que encontra no seu caminho.

Quando o seu cachorro o chatear a pedir festas (e falo nos meus exemplos), em vez de

respirar fundo e lhe chamar chato, olhe-o nos olhos e deixe-se enternecer pelo olhar

carinhoso que ele lhe lança num pedido de festas ou de brincadeira. E sinta um momento

de alegria antes de voltar ao que estava a fazer.

Verá que a vida lhe parecerá mais leve.

Consciência do SER 33

Amor

Amor. Muitas vezes temos medo desta palavra, temos medo de a aplicar no nosso

discurso racional. E porquê? Não é amor o que sentimos pelos nossos pais, irmãos, filhos,

avós...? Não é amor o que sentimos pela pessoa ao lado de quem caminhamos na nossa

vida, pelos nossos amigos? Então qual a dificuldade? Talvez esta dificuldade tenha várias

causas como a responsabilidade que achamos que vem junto. Responsabilidade por

exemplo de fazer feliz quem nos ama. Mas será essa responsabilidade real e sensata? Não

devemos nós ser os responsáveis pela nossa felicidade? Não o seremos?

A felicidade é um estado de alma, não algo que possa ser dado, trocado, vendido ou

comprado. A felicidade sente-se e enquanto seres que pensam, aprendem e apreendem,

os nossos sentimentos não são constantes, são como as águas dum lago que reflectem e

reagem à interacção do meio que as envolve. A felicidade tem de partir de dentro de nós

mesmos.

O que é para si ser feliz? É não ter problemas de ordem alguma? Conhece alguém que

seja feliz dessa maneira? É não ter desilusões emocionais? É ter mais dinheiro? É ter mais

saúde? Uns são felizes duma maneira, outros de outra. Geralmente achamos que

seríamos felizes apenas duma outra forma... com aquilo que nos falta.

Experimente olhar para trás na sua vida e recordar um momento de intensa felicidade

como o nascimento dum filho ou o alcançar duma meta que há muito ansiava. Recorde

toda a situação. Sente? Neste momento está feliz. E o que mudou? O seu estado de alma.

Tudo o resto continua igual há momentos atrás. Assim é também com outras emoções e

sentimentos.

Experimente fazer uma meditação, sentindo cada um deles: alegria, tristeza, raiva, amor,

felicidade... Se consegue sentir a emoção a qualquer momento é porque você e ela não

são um só. O problema é que nos identificamos com as nossas emoções como se

fossemos elas próprias, identificamo-nos com as nossas imagens de nós mesmos como

quem olha a sua imagem reflectida no lago e pensa que é ele próprio. Exercite a sua

capacidade de sentir, exercite a sua mente e seja feliz quando quiser.

Outro motivo para a dificuldade no uso da palavra amor vem da nossa tentativa de o

quantificar. Porque é que temos de gostar mais de uns e menos de outros. Porque é que

há amor de mãe, amor de irmãos e amor de relação amorosa? Quais os diferentes graus

de amor? Amor é puro, é querer bem... é tantas coisas que não existem palavras que o

definam em toda a sua essência.

34 Consciência do SER

A nossa forma de amar os outros pode ser diferente consoante a nossa experiência com

cada pessoa e consoante todos os outros sentimentos e emoções que vêm junto, mas

amor é amor. Não há amar mais ou amar menos, há experiências diferentes, há o sentir

melhor ou não, há o haver mais oportunidades de o experienciar da melhor forma ou

não... há n variáveis, mas amar não é uma delas. Claro que todo este conceito faz parte

da minha forma de estar neste momento e nem todos partilham da mesma opinião, mas o

objectivo é apenas fazê-lo pensar e não fazê-lo pensar da mesma forma que eu.

Porquê ter medo da palavra amor? Porquê ter medo do próprio amor? O amor é puro, é

intrinsecamente bom e é uma nossa característica inata. Só temos de soltar as amarras

que colocamos intencionalmente nos nossos corações e deixá-los bater e correr

livremente.

Consciência do SER 35

Bem e Mal

"Afinal o que é o Bem e o Mal? Que é o mal senão o próprio bem torturado pela sua fome e sede?

Nós somos bons quando nos esforçamos por dar de nós próprios, mas não somos maus quando nos

limitamos a procurar o lucro. Quando lutamos pelo lucro, somos simples raízes que se agarram à

terra e sugam o seu seio, mas, tal como a fruta não pode dizer à raiz "sê como eu, madura e plena

e sempre generosa", pois para a fruta dar é uma necessidade, como para a raiz receber é uma

necessidade.

Nós somos bons quando andamos rumo ao nosso objectivo, firmemente e com passos intrépidos;

porém, não somos maus quando caminhamos coxeando.

Pena é que as gazelas não possam ensinar as tartarugas! Para uns a ânsia de alcançar o seu Eu-

Divino é como uma torrente que se precipita impetuosamente para o mar, carregando os segredos

das colinas e as canções das florestas. Para outros, é uma corrente preguiçosa que se perde em

meandros e serpenteia, arrastando-se antes de atingir a costa. Mas, tanto uns como outros

alcançarão esse Eu-Divino."

Kalhil Gibran, O Profeta

O que é o Bem e o Mal? São apenas conceitos, ou melhor, pré-conceitos que variam de

pessoa para pessoa, de situação para situação. Já deve ter reparado que algo que

considerou errado e mau no passado, já não tem esse significado para si. Use a

justificação que usar, tenha o motivo que tiver, o seu olhar sobre essa situação mudou e a

situação continua a ser a mesma.

Então, podemos compreender que o bem e o mal de alguma acção se resume a ser bom

ou mau para algum objectivo que queiramos atingir. O caminho certo ou errado depende

da nossa meta. Nós queremos atingir algo e determinada acção pode ser errada por nos

deixar mais longe do nosso objectivo ou uma escolha pode ser certa por nos ajudar a lá

chegar. Mas como somos todos diferentes e não há um caminho igual (embora todos nos

levem ao mesmo sítio) uma opção errada para um pode ser a mais correcta para outro. E

ao pensarmos nisto, devemos elevar um pouco a nossa mente e espírito porque tem um

alcance muito maior. Um crime, um suicídio, um erro, são opções certas ou erradas para

determinada pessoa, em determinado momento, para atingir determinado objectivo.

Julgar as acções dos outros é como entrar num filme a meio e sair antes do fim.

Nós tendemos a catalogar tudo em certos padrões e achamos que esses padrões devem

ser comuns. É muito fácil dizer aos outros o que eles deveriam fazer, como se deveriam

36 Consciência do SER

comportar. Mais difícil é dar a cada um a sua opção de escolha e respeitá-la. Sem a raiz, a

fruta não chegaria a existir e nem o meio que a envolve poderia desfrutar da sua bela e

rica presença.

Existe algo mais belo que ver uma flor desabrochar por si só? O maior Amor é quando

damos liberdade ao que 'está separado' de nós, quando abrimos mão do nosso egoísmo e

deixamos os outros crescerem e desabrocharem por mérito próprio. Este egoísmo de que

falo não é o de querer as coisas para nós, não é que não queiramos dividir/partilhar, mas

porque não queremos abrir mão da sua presença. O mesmo acontece quando perdemos

alguém, sentimos dor porque queremos essa pessoa ao pé de nós, porque amamos essa

pessoa.

Mas o maior amor é quando deixamos essa pessoa ir, e quando lhe damos liberdade para

ela viver a sua opção. É necessário um ritual de despedida, mesmo para a nossa mente,

mas é necessário também deixar ir. Tem tudo a ver com viver o momento ou ficar

agarrado ao passado. Nós agarramo-nos ao que passou porque todas as emoções que

sentimos nos dão o sentido da vida, mas sentimo-nos mais vivos se vivermos cada

momento e cada emoção nova que ele possa trazer.

É muito fácil dizer o que queremos para os outros, mas e o que queremos para nós? A

maior parte das vezes nem sabemos bem o que queremos. Será que nos concentramos

nos outros apenas para não nos vermos a nós próprios? Para não sentirmos o peso da

nossa responsabilidade? Para não assumirmos os nossos actos? Acho graça quando

alguém diz que não podia ter feito diferente porque desde que se conhece que é assim.

Acho graça porque nós não somos pedras e até uma pedra pode deixar que o vento e a

água a mudem, tem essa opção. Nós temos a opção de ser de uma forma ou de outra.

Pode ser difícil deitar fora todas as cascas com que nos protegemos ao longo dos tempos,

tudo aquilo que fomos apanhando à nossa volta. As coisas não se fazem de repente. Mas

é nossa opção viver com essas cascas ou libertá-las. Dizemos que alguém é assim ou

assado porque teve uma determinada infância. É verdade que tudo o que nos rodeia nos

vai moldando, especialmente enquanto crianças, mas mesmo a este nível temos a opção

de ser assim ou libertarmos certo padrão quando tomamos consciência dele. Somos os co-

criadores da nossa vida e devemos tomar consciência disso se queremos obter o melhor

da nossa caminhada.

Consciência do SER 37

Crianças

Se tem ou já teve crianças pequenas em casa, ou se tem convivência com crianças

pequenas, já deve ter reparado como elas aprendem as coisas muito depressa. Aprendem

com tudo o que vêm. Lembro-me de coisas mínimas de algumas crianças com quem já

lidei, como fazermos um som estranho para captar a atenção do bebé ou fazermos uma

brincadeira qualquer e passado um bocado ou num outro dia dar com ele a fazer-nos o

mesmo ou a aplicar numa brincadeira, mesmo só tendo feito uma única vez.

Faz-nos pensar na enorme responsabilidade que temos ao lidar com crianças. Não apenas

relativa àquelas coisas que se tem de ter em atenção com um bebé, mas relativa ao facto

de sermos um ponto de referência na aprendizagem da criança, mesmo com crianças que

não fazem parte do nosso dia a dia.

Eu não tenho e ainda não tive crianças pequenas em casa a não ser de visita, mas tenho

como exemplo o meu sobrinho, o meu afilhado, os filhos dos amigos... E deixam-me

maravilhada com estas pequenas/grandes aprendizagens.

É uma enorme responsabilidade a nossa. Quando eles são bebés aprendem muito mais

rápido porque ainda não ergueram muros, barreiras, conceitos, preconceitos, mas ao

longo da sua vida continuam a captar duma maneira incrível tudo aquilo que se passa à

sua volta. Este processo passa é a ser cada vez menos consciente... por eles e por nós.

Assim sendo, podemos aceitar a responsabilidade de que somos nós, todos os que

rodeamos as crianças, que vamos sendo os seus exemplos e modelos de futuro. Como

podemos dizer que a juventude é assim ou assado sem assumir a nossa responsabilidade?

Claro que não deveremos generalizar, comparar nem exagerar, mas e se pensarmos nisso

a sério? Basta uma reacção, um dia, na frente duma criança, para que ela saiba que

aquilo pode ser feito. Claro que se não pudesse, não o faríamos, mas o que queria dizer

era que ela pensa que aquilo está bem, que não gera consequências. Isto enquanto

pequenas porque quando maiores, elas já criaram mais ou menos um conjunto de valores

e padrões que usam para identificar as reacções dos outros e delas próprias. Mas esse

conjunto de valores é formado por tudo o que viram / ouviram / sentiram antes de

chegarem a esse ponto.

Com que consciência ralhamos com uma criança que diz que o outro menino é mau

porque não brincou com ela, se lhe dizemos a ela própria que ela é má ou feia se não

come a sopa toda? Com que consciência damos um sermão a uma criança por ela ter

batido noutro menino por não ter feito o que ela queria, se dizemos e mostramos que não

38 Consciência do SER

gostamos da criança se ela se porta mal? Estes são exemplos muito gerais e que podem

ter resultados diversos, mas são decerto os suficientes para nos darem que pensar.

Como podemos esperar “acreditar” no amor incondicional enquanto adultos, se quando

fomos crianças nos mostraram que o amor tinha hora, razão e lugar? Como podemos

amar tudo o que nos rodeia se crescemos com desamores, ódios e rancores à nossa volta?

Veja o que esses desamores lhe trouxeram, de que forma afectam a sua vida no presente,

como a afectaram no passado? Não estou a dizer que tudo isso foi errado, pois tudo teve

o seu contexto e foi o melhor que cada um soube fazer no seu momento. Nem interessa

arranjar culpados para o que se passou, resta-nos sim aprender com isso, ver o que nos

trouxe e usar essa aprendizagem da melhor maneira possível – corrigindo os nossos

erros, construindo um outro futuro e, mais importante, um outro presente.

Consciência do SER 39

Trocas Energéticas

Falando de novo de energia, da energia de que somos feitos e nos envolve... existem as

mais variadas formas de nos recarregarmos energeticamente. Uma das formas de nos

alimentarmos de energia é através da comida. Mas acabamos por deixar com o corpo a

função de tirarmos do alimento tudo aquilo de que precisamos. Tornamos a refeição

automática, breve, complemento de outros afazeres, olhando-a com um mal necessário. E

deixamos que o corpo cumpra a sua função, tirando toda a nossa consciência do processo.

Pois...! Com o acumular e acumular destas e doutras situações, não nos podemos queixar

se o corpo não cumprir as suas funções como desejaríamos.

A refeição é uma das formas de repor os níveis energéticos do nosso corpo e deveria ser

um processo consciente, absolutamente consciente. Sem pano de fundo de jornais ou

novelas - com sentimentos dissonantes à mistura -, sem as conversas acesas e

carregadas que nos tempos que correm vão sendo substituídas pela televisão, sem o

engolir apressado que se segue duma digestão dura - quase sem a ajuda das funções da

nossa boca, e com uma série de outros empecilhos resumidos pelo nosso constante

estado de confusão mental e conversa ensurdecedora que acontece dentro de nós.

Já reparou como muitas vezes está tão embrenhado nesta sua conversa interior que não

dá pelo resto que se passa à sua volta? Nunca lhe aconteceu ter chegado a casa sem

sequer se lembrar do que encontrou pelo caminho? Digo isto porque já me aconteceu

muitas vezes ir a conduzir em direcção a casa, começar a pensar, ligar o piloto automático

e apagar literalmente... chegava a casa e não me lembrava nem por onde tinha vindo...

Usar estes empecilhos na hora da refeição não é muito saudável para nós. Na hora da

refeição, como em qualquer outra tarefa, devíamos dedicar-nos exclusivamente à tarefa

que temos em mãos, alimentarmo-nos. Deveríamos desligar todos os outros aparelhos,

incluindo a nossa mente, e usar apenas o nosso corpo, os nossos sentidos, a nossa

consciência no acto de nos alimentarmos. Se é fácil de dizer, também é fácil de fazer, é só

querer.

Nós não nos alimentamos da comida e sim daquilo que ela nos proporciona, o corpo tira

do que ingerimos aquilo que precisa para gerar energia, começando de seguida todos os

processos de transformação. Então, deveríamos ter cuidado com tudo o que ingerimos,

mas era preciso que nos importássemos connosco!

Este cuidado passa desde os alimentos, que são na sua maioria muito pouco naturais,

passando por todo o tipo de processos antes de chegar na nossa casa e na nossa boca -

40 Consciência do SER

cada um desses processos deixando a sua marca e tirando a sua contrapartida -, até à

sua preparação, feita muitas vezes sem vontade, e nas condições já referidas (tv,

confusão mental, sentimentos e energias dissonantes). Se tudo aquilo que fazemos é uma

constante troca de energia, o preparar duma refeição também o é. Então, imagine-se a

cozinhar pensando nas suas tristezas, raivas e angústias, impregnando a comida com esse

tipo de energias e imagine o resultado ao ingerir toda essa miscelânea. Consegue

imaginar?

Agora imagine-se a preparar uma refeição com amor, com gosto, com atenção e carinho,

pensando que vai absorver tudo aquilo que der naquele momento. Imagine-se, então, a

comer esse preparado e a ingerir todos esses sentimentos bons ao mesmo tempo,

impregnados na comida, essa atenção, essa serenidade... Viu a diferença? Faz diferença

mesmo. Até num restaurante pode notar quando a comida o deixa para cima ou quando

fica mal disposto sem sequer saber porquê. Imagine como estaria o cozinheiro ou

cozinheira ao preparar as refeições. Estaria sereno, a fazê-lo com carinho, com gosto, com

pensamentos positivos? Ou estaria irritado porque lhe tinha corrido mal o dia desde que

se tinha posto a pé ou porque o gás tinha acabado na altura mais incómoda? Pois...!

Pense um pouco naquilo que quer ingerir porque depois não pode escolher ingerir os

sentimentos positivos e deixar os outros na beira do prato.

Temos, também, a nossa respiração, uma outra forma de nos alimentarmos

energeticamente. Aí está outra função sobre a qual tomamos consciência apenas de

tempos a tempos. Nós, literalmente, esquecemo-nos de respirar, a nossa respiração

tornou-se superficial, carregando o mínimo de ar e de energia a um sistema que vive de

ambos.

Já reparou como respira um bebé? E já reparou como geralmente um bebé tem uma

barriga mais desenvolvida que se vai alterando depois com o tempo? Vai-se alterando

precisamente quando ele vai desaprendendo de respirar. Nós e a nossa estética, a que

damos tanto valor, não queremos nem pensar nisso! Os bebés respiram pela barriga, ou

melhor, expandido o abdómen. Eles inspiram profundamente, dilatando a barriga, e

soltam longamente o ar. Nós temos uma respiração apressada, muitas vezes contendo-a e

damos ao nosso corpo o mínimo possível deste sopro vital.

Não é por respirarmos menos que deixamos de inspirar todas as porcarias que lançamos

na atmosfera. Mas é respirando que damos ao nosso ser a oportunidade de retirar o

máximo daquilo que inspira e que damos oportunidade de desatrofiarmos todos os

músculos que quase dormem há décadas.

Consciência do SER 41

Mas além da respiração e da alimentação, podemos retirar energia de tudo o que nos

rodeia. Quantas vezes paramos um pouco para cheirar as flores, para olhar o sol, as

nuvens, as estrelas? Quantas vezes paramos para olhar o mar, sentir o vento soprar na

cara, sentir a areia debaixo dos pés, em suma, tomar consciência da beleza de tudo o que

nos rodeia? Quantas vezes reparou naquela árvore imensa por que passa todos os dias a

caminho do trabalho? E quanto tempo olha as gaivotas quando faz o percurso diário de

barco? Vê-as pelo canto do olho ou fica a observá-las nos seus voos e mergulhos que

acompanham o barco? Todos os dias, a cada instante, desprezamos estas formas de nos

ligarmos ao que nos rodeia e recarregarmos as nossas baterias.

Preferimos tirar energia dos nossos relacionamentos. Há-de reparar, por exemplo

enquanto nos transportes ou no café, nas trocas energéticas inconscientes entre as

pessoas à sua volta. Entre pais e filhos, entre amigos, companheiros, há sempre uma

'luta' energética. Mesmo numa simples conversa há uma luta pela razão ou simplesmente

pela atenção do outro. Quando numa conversa com alguém, ao dar-lhe atenção, ao ouvir,

está a dar energia ao outro, energia essa que deveria vir de volta, mas nem sempre assim

acontece. Já deve ter reparado como se sente cansado, irritado ou algo parecido, depois

de conversar com certas pessoas. E também já deve ter reparado que há certas pessoas

que o deixam a sentir-se muito bem depois de ter estado ou falado com elas. É tudo uma

questão de energias, não só o padrão vibratório dessa pessoa, mas também o equilíbrio

ou desequilíbrio dessa troca que houve.

Muitos relacionamentos não resultam devido a esta nossa má gestão de recursos.

Num casal, a troca é inevitável e talvez na maioria das vezes há um membro dominante

no casal. Esse membro vai-se alimentando da energia do outro, alimentando um

desequilíbrio nessa troca. Muitas vezes, no início duma relação, ainda naquela fase de

conhecimento, de exploração, ou mesmo por ser uma nova situação, não há essa

necessidade, mas com o passar do tempo o espaço de cada um vai sendo cada vez menor

e ambos vão recarregando as suas energias cada vez menos do que os rodeia e cada vez

mais um do outro.

Esta situação começa a ser muito pesada, a energia acaba por não ser suficiente para

ambos, vem a fadiga e a inevitável instabilidade de humor. Muitos relacionamentos

acabam sem se saber muito bem quando ou porque começaram as brigas e os conflitos.

Começam até pelas coisas mais pequenas gerando a tal bola de neve.

É muito importante que cada pessoa, enquanto parte integrante de um casal ou não,

mantenha o seu espaço. Um espaço onde se possa movimentar à sua medida, sem entrar

42 Consciência do SER

nos limites dos outros e sem que entrem nos seus limites. É necessário e não vai contra

nada a não ser a necessidade de controlo, mesmo que inconsciente, de alguns outros

indivíduos. Mantenha o seu espaço e deixe que o seu companheiro mantenha o seu. Isto é

importante para o bom funcionamento da vossa relação. Nós não somos donos de

ninguém, nem os pais dos filhos, nem os filhos dos pais, nem as mulheres dos maridos,

nem os maridos das mulheres. É necessário compreender este pormenor para atingir a

nossa felicidade.

Cada indivíduo tem de experienciar a vida por si, errar por si, atingir a vitória por si. Claro

que nós podemos ajudar os outros naquilo que pudermos, 'devemos' mesmo fazê-lo, mas

ajudar o outro não significa fazer as coisas por ele. Ajudar o outro pode ser mostrando-lhe

onde pode encontrar uma bicicleta para chegar mais depressa ao seu destino, apontar-lhe

a direcção que o leva onde ele quer ir (não por onde nós achamos que ele quer ou deve ir)

ou por vezes até oferecendo-lhe o transporte, mas não lhe colocando os pés nos pedais da

bicicleta ou segurando-lhe o volante numa dada direcção.

Deixe que o outro (seja pai, mãe, filho, amigo...) escolha o seu próprio caminho, mesmo

que este não seja paralelo ao seu. Mesmo que lhe pareça ser o caminho errado a tomar,

certifique-se apenas de que ele sabe onde aquele caminho o leva (a ele, não a si) e sinta-

se feliz por ele estar no caminho que escolheu para a vida dele e por ser o caminho que o

faz feliz. Quem sabe até se o caminho dele não volta a se aproximar do seu, trazendo-o

mais enriquecido? Já viu se todos nós caminhássemos na mesma direcção, na mesma

altura, não faria sentido sequer haver o caminho, estaríamos todos parados no mesmo

ponto sem sítio para onde ir. Assim temos muitas opções e cabe-nos mostrar a nós

próprios o melhor de nós mesmos e do nosso sentido de orientação.

No fim do caminho, podemos ver se realmente nos levou onde pensávamos. Se não levou,

só temos de olhar para trás, ver onde devíamos ter virado ou não, aprender com a

caminhada e encontrar um outro caminho, uma outra forma de lá chegar. Raramente nos

levará onde os outros disseram que nos levava porque os outros não vêem pelos nossos

olhos nem experienciam através da nossa vida e não existem duas mentes ou corpos em

todo o mundo que sejam exactamente iguais. Mas podemos e devemos permanecer

abertos ao que os outros nos mostram da sua experiência de vida, não julgando - porque

nunca vamos poder estar naquele momento em que eles estiveram exactamente na

mesma pele em que eles estiveram - mas apreendendo, retirando o que quer que faça

sentido para nós e que queiramos experienciar por nós próprios ou não.

Consciência do SER 43

Então, não vale a pena forçar o outro a mudar e a gostar do mesmo que nós gostamos,

podemos, sim, mostrar-lhe o que é e dar-lhe a sua oportunidade de escolha, respeitando

a sua opção. É preciso respeitar a individualidade aparente de cada um.

E ao ajudar o outro, faça-o apenas porque quer, sempre. Ao ajudar sempre porque quer

não cai no erro de cobrar a ajuda que prestou. O outro não lhe deve nada, nem você deve

nada ao outro. Essa cobrança é outra responsável por muitos atritos em muitos

relacionamentos. Para que só possa acontecer aquilo que já alguém dizia: "arrependa-se

daquilo que não fez e nunca daquilo que fez", faça com que os seus actos sejam coerentes

consigo mesmo.

Pense em tudo isto, pense em como consciente ou inconscientemente controla as suas

relações ou se deixa controlar por elas, pense em si, pense no outro, pense no que sente,

pense no que o outro sente, pense naquilo que quer na sua vida e qual o melhor caminho

neste momento que o leve até lá, pense de que formas se alimenta de energia, pense de

que formas de energia se alimenta, pense como pode melhorar esse recarregar de

energias... pense!

Pense, mas não se perca a pensar... encontre-se.

Mantenha o foco, mantenha a sua atenção, mantenha a sua consciência naquilo que faz,

naquilo que sente, naquilo que pensa, naquilo que vê... naquilo que é.

E apenas seja!

44 Consciência do SER

Diversão

Muitas vezes se tem uma ideia errada de que espiritualidade é sinónimo de seriedade.

Espiritualidade é sinónimo de seriedade no sentido de responsabilidade perante a vida,

mas não significa que não seja também sinónimo de muitas outras coisas como

brincadeira e diversão. As pessoas estranham quando vêm que alguém dedicado ao seu

lado mais espiritual tem imenso sentido de humor, mas isso não significa que essa pessoa

não leve as coisas a sério.

Há brincar e brincar. Uma coisa é literalmente brincar com a nossa vida e não a

aproveitar. Outra coisa diferente é ir brincando ao longo da vida.

Se em cada tarefa colocarmos um pouco de diversão, as coisas mudam radicalmente.

Sorria mais... brinque mais... Deixe-se envolver por um simples espirro. Já reparou como

os bebés se divertem quando descobrem o espirro? Com a idade e o hábito, acabamos por

banalizar este pequeno gesto, mas espirrar é divertido! Descobri isso com uma criança. É

algo que sai do nosso controle, é espontâneo, é intenso, faz cócegas, sabe bem, liberta...

Já experimentou dar os bons dias ao sol? Ele dá-lhe os bons dias a si! Experimente dizer

bom dia ao primeiro pássaro que vê pela manhã. Experimente dizer bom dia às suas

plantinhas.

Experimente dizer bom dia ao escritório quando é o primeiro a chegar. É divertido! Sabe

bem. Deixa-nos bem-humorados. E quando estamos bem-humorados, divertidos, as

coisas correm muito melhor e podemos descobrir o nosso lado espiritual em cada

pormenor diário. Pode tornar estes pormenores monótonos ou não. A escolha é sua.

Sei bem que nem sempre é fácil. Por vezes, deixamo-nos levar tão longe pela nossa

mente que é difícil ficar no agora e encontrar o nosso centro. Mas assim que damos por

isso, temos a oportunidade de escolha para centrar a nossa atenção na direcção que

queremos... ou não.

Então?!... Ânimo leve!

Divirta-se com os pormenores mais simples da vida. Brinque ao longo do seu caminho

sem que isso desvie a atenção do seu rumo e no caso de isso acontecer... é só voltar a

corrigir a direcção. É comum olhar-se para trás e ver que queríamos muito ter feito algo

de certa maneira e nunca chegámos a fazer por este ou por aquele motivo. Então, não é

Consciência do SER 45

importante atribuir culpas, mas sim pô-lo em prática. Porque não? Já não pode? Ou já não

quer? Se não quer, não vale a pena lamentá-lo. Se quer, faça-o. Vai sempre a tempo.

A nossa espiritualidade deve ser posta em prática, não é só tecer teorias. É fácil falar

sobre as coisas, o difícil é fazê-las. É fácil darmos conselhos sobre a melhor forma de levar

a vida, dizer aos outros como deveríamos fazer as coisas, mas no que toca a colocá-los

em prática as coisas mudam de figura. É fácil deixarmo-nos envolver por certos padrões e

perdermos de vista as nossas convicções, mas também é muito fácil termos essa

consciência. É só aproveitar essas tomadas de consciência para voltar a corrigir o nosso

rumo. E é muito mais proveitoso e prazeroso do que ficar de braços cruzados só porque

nos achamos numa posição confortável. Então ponhamos em prática aquilo em que

acreditamos.

Se acha que devia haver mais amor e compaixão, coloque mais amor e compaixão em

tudo o que faz e na sua forma de lidar com os outros. Se acha que o mundo não devia ser

tão egoísta, deixe os seus egoísmos de lado e partilhe mais da sua verdadeira essência

com os outros. Quando falamos em partilha não é só no aspecto material da vida, é

também a partilha de nós próprios, da nossa vida, das nossas emoções, sentimentos,

alegrias, amores, momentos...

Então... espiritualidade não é reclusão, celibato, ausência de riso, solidão...

Espiritualidade é vida, é ser em total consciência e plenitude.

46 Consciência do SER

O Casamento

Afinal o que é o casamento? É um tema muito subjectivo, chegando mesmo a ser

polémico, mas na minha maneira de ver é uma união entre duas pessoas que se amam. E

será necessário provar essa união, esse amor? Não vejo o casamento como um contrato

e, por isso, faz-me confusão o assinar de papéis.

Não existindo razão para provar a quem quer que seja se um casamento foi realizado ou

não, acho que o acto em si serve ou serviria apenas para mostrar ao mundo a felicidade

dos dois ou como uma consagração do amor do casal. Mas na prática não é isso que

acontece. Por muito frio que possa parecer o meu comentário, acho que hoje em dia

quase só se casa por tradição, por costume. O casamento tornou-se na cerimónia, no

contrato pré-nupcial, nos votos...

A maior parte das pessoas que casa pela igreja, fá-lo porque fica bem, fá-lo porque os

outros esperam que o faça, fá-lo porque existe um sonho herdado da noiva entrar de

branco na igreja, fá-lo porque é bonito. Correndo o risco de parecer demasiado frívola,

acho todo o ritual muito hipócrita. Atenção que não estou a falar das pessoas, mas do

acto em si. As pessoas deixam-se levar por inúmeros factores, muitas vezes

inconscientemente.

Quanto à situação, poucas são as pessoas que sentem de facto aquilo que estão a fazer

em toda a sua dimensão. As pessoas casam porque está assim instituído, porque uma

união de facto ainda não é muito bem vista perante a sociedade. Porque, porque,

porque...

Na maior parte das vezes, os noivos nem seguem ou sequer acreditam na religião,

tentando escapar o máximo às reuniões de preparação para o matrimónio. Então porquê

fazer algo em que não se acredita?

A noiva, ou alguém por ela, gasta um balúrdio num vestido que servirá um só dia quando

muitas vezes falta tanto do básico... Muitas pessoas são capazes de sacrifícios por este

símbolo, muitos se endividam por isso. E já nem entro no campo dos símbolos porque o

vestido branco simboliza algo que já não faz sentido nos dias de hoje... tornou-se apenas

numa vaidade. E não critico essa vaidade se é algo feito de coração...

Gastam-se disparates numa recepção que só serve para mostrar que seguimos a tradição.

Onde geralmente se convidam pessoas que já nem se vêem há imenso tempo, mas que

fica bem convidar. Pela qual outros ficam ofendidos porque não foram convidados. Na

Consciência do SER 47

minha opinião faz muito mais sentido ser uma comemoração a dois ou com aqueles de

quem gostamos muito e que gostam muito de nós. Não acredito que os noivos se dêem

assim tão bem com as 70 ou 150 pessoas que convidam para o casamento. Seja a razão

porque fica bem ou porque significa uma lua-de-mel mais longe.

Não estou desgostosa com nenhuma situação, não houve nenhum casamento que me

tenha corrido mal (estou muito bem neste ponto do meu caminho), embora possa

parecer... Simplesmente é a minha forma de ver as coisas até este momento.

Mas existem mais coisas com que não concordo, como por exemplo com os votos que se

fazem no altar. Primeiro porque não foram escolhidos pelos noivos. É algo que está

instituído e quem vai casar ‘tem’ de dizer o sim àquilo que foi decidido que estaria bem

(seja de que forma for e por quem for, o meu objectivo aqui não é discutir religião... não

tenho absolutamente nada contra). Mas não foram os noivos - quem vai aceitar os votos -

quem decidiu aquilo a que vão dizer que sim. É certo que o fazem porque querem, mas

farão de total consciência? Ou será porque é o que todos fazem? Então porquê fazê-lo por

fazer? Será melhor prometer algo sem convicção? Fazer promessas vãs não prejudica só

aqueles a quem fazemos as promessas, mas antes de mais a nós próprios.

Não digo que o casal não gostasse de cumprir de alguma forma aquilo com que se

compromete nesse momento, mas cumprir é algo muito diferente de fazer de coração e

isso só sabemos no momento porque cada momento é diferente. Nós sabemos muito bem

que a vida é feita de escolhas e é uma constante mudança e sabemos que muitas

escolhas que fizemos no passado já não fazem o mínimo sentido no presente. Então como

nos podemos comprometer com algo para o resto da vida sabendo isto? Sabendo que na

vida tudo está em evolução... sabendo que corremos o risco de mudar de ideias em

relação a tudo? E não é só uma questão de mudar de ideias, de achar que queria casar e

depois já não querer, vai mais além do que isso. Nós crescemos, amadurecemos,

evoluímos a cada passo do nosso caminho. É natural que as nossas ideias, pensamentos,

objectivos também se vão desenvolvendo e evoluindo em direcções diferentes.

Tendo tudo isso em mente, tendo em mente a quantidade de divórcios que existem, tudo

aquilo que nos vai acontecendo ao longo do caminho por esta ou aquela razão, serão

estes votos sinceros? Não será preferível fazer um voto sincero, estar numa relação de

alma e coração? Será que não se evitariam muitos problemas causados pela obrigação,

pelo compromisso tomado um dia em que tudo era diferente?

Quantas histórias já ouvimos de casais que viveram felizes tantos anos até ao dia em que

se casaram legalmente? Porque será que isso aconteceu quando a única coisa que mudou

48 Consciência do SER

foi a assinatura no papel? Dá que pensar, mesmo sabendo que cada caso é um caso e que

existem outros factores.

Esta forma de ver as coisas não implica a anarquia numa relação, não implica a falta de

compromisso ou responsabilidade (que são coisas muito diferentes), não implica relações

etéreas, passageiras ou menos verdadeiras... De forma alguma! Não significa que uma

relação não dure para toda a vida, se calhar até dura mais sem o peso dos votos e

obrigações sobre os ombros porque os dois sabem que estão pelo puro prazer de estar, se

é que me faço entender.

Significa, isso sim, fazer algo de coração, estar por completo numa relação, numa

situação, por escolha própria. Como em tudo o resto na vida...

Hoje em dia já é um pouco diferente, mas existe uma idade própria para se casar, existe

uma idade própria para se constituir família, ter filhos... existe uma idade para estudar,

uma idade para começar a trabalhar... Não vou entrar em detalhes porque a

responsabilidade nada tem a ver com a obrigação. O sentido de responsabilidade está em

cada um de nós, não se pode obrigar ninguém a ser responsável e é claro que também

não significa que deixemos de incutir esse sentido nos outros ou que sejamos demasiado

permissivos em relação ao que se passa à nossa volta. Mas porquê seguir um padrão?

Porque é que cada um tem de ser e fazer como os outros à volta? Porque fica mal se

assim não for. Porque fica mal ser diferente.

Não tenho problemas em admitir que já estive prestes a seguir o mesmo que todos os

outros, por assim dizer, só pela sensação que tinha de seguir na mesma direcção.

Confesso que tive casamento marcado e que mesmo estando de alma e coração na

relação e não esperando que algum dia as coisas corressem menos bem, aceitei seguir

algo em que não acreditava. Confesso que já antes pensava assim em relação ao

casamento, mas me deixei levar pelo que ficava bem, pelos desejos daqueles que gostam

de mim. Mas, mesmo não tendo sido por isso que não o tenha feito, temos oportunidade

de escolher a cada momento, temos oportunidade de parar e nos centrarmos no nosso ser

e fazer aquilo em que realmente acreditamos. A cada momento temos a oportunidade de

escolher como nos queremos experienciar e estas tomadas de consciência são mesmo

muito importantes. Especialmente se não queremos um dia olhar para trás e ver como

desejaríamos que tudo tivesse sido diferente. Se dermos cada passo (ou o máximo) com

consciência e vivermos cada situação verdadeiramente, tudo será diferente.

Neste momento não o faria pelos outros, seja casar ou o que for. Escolho fazer apenas

aquilo em que acredito. Porque o meu caminho é muito importante para mim e, não

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desrespeitando os caminhos de ninguém, especialmente daqueles de quem gosto, vou

procurar sempre fazer as coisas da melhor forma para mim. Existem coisas que podemos

fazer pelos outros, mesmo não sendo aquilo que procuramos, mas que fazemos porque

queremos fazer e isso não vai contra tudo o que disse antes. Mas significa não fazer por

obrigação ou muito menos com sacrifício. É do pior que podemos fazer a nós próprios e

aos outros. Não é nenhuma forma de egoísmo. Tenho a certeza que não gostaria de saber

que alguém fez alguma coisa por mim contrariado ou com sacrifício. Dificilmente qualquer

um de nós gostaria.

Quando duas pessoas se amam e querem caminhar lado a lado não precisam de o fazer

de certa maneira só porque é o costume. Precisam, isso sim, não deixar de ser quem são

e encontrarem-se cada vez mais a si próprias, seguindo de acordo com o que sentem,

com o que acreditam, com o que a intuição lhes diz. Se forem sempre sinceros um com o

outro e consigo próprios a cada momento, tenho a certeza que a relação chega mais longe

e mesmo havendo uma separação ao longo da caminhada, terá valido cada momento,

terá valido mais do que muitas relações mais longas porque foi realmente vivida.

Fui criada de uma forma muito convencional, tenho os meus pais casados um com o outro

e cresci numa família dentro do conceito de normalidade da sociedade, mas a tradição já

não é o que era e penso duma forma um pouco diferente, como muitos outros, mas

diferente do convencionado, do padronizado. É algo muitas vezes difícil, mas tento sentir

mais do que pensar. Acho que o casamento não é aquela assinatura perante a lei e sim

todo um conjunto de situações e formas de estar a dois, não concordo com os votos que

são feitos quando se casa – como é que se pode prometer a alguém que se vai ficar junto

até que a morte os separe se a vida é uma constante mudança e os caminhos de duas

pessoas se podem afastar radicalmente a qualquer ponto do caminho?

Não significa que não se queira estar junto, que não se goste o suficiente para querer ficar

junto até ao resto da vida com aquela pessoa, mas é uma questão de consciência. Nós

não sabemos como será o futuro e por vezes os nossos passos levam-nos para caminhos

bem diferentes. Imagine que duas pessoas se amam e caminham lado a lado e ao longo

caminho, naturalmente, os seus caminhos vão-se afastando muito um do outro até

estarem tão longe, serem tão diferentes, que o continuar juntos implica o sacrifício de

umas das partes, sacrifício de ideais, de sonhos, de partes de si mesmo. Preferia anular-

se para manter essa relação? Preferia que o outro se anulasse para continuarem juntos?

Ou preferia que ambos se experienciassem no seu melhor, seguissem o seu caminho e

suas aprendizagens? Quem sabe mais tarde os caminhos não se encontrariam de novo?

Deste modo, ao olhar para trás é sempre com alegria e sensação de realização e plenitude

e nunca de forma pesarosa e dorida. O hoje não volta mais e só temos uma oportunidade

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para viver cada experiência. A experiência seguinte já será outra. Cada passo nosso nos

trás sempre algo. E mesmo havendo uma separação em algum momento no nosso

caminho, se formos sempre verdadeiros e estivermos no momento com consciência, essa

separação não poderá ser dolorosa.

E se duas pessoas que se amam, casassem só porque lhes apetecia muito celebrar o seu

amor e o fizessem duma forma muito sua, rodeadas de quem realmente queriam ou

mesmo sozinhas, escolhessem fazer votos ou não, mas que pelo menos os fizessem de

coração e consciência, com as suas próprias palavras e sentimentos?

E se duas pessoas que se amam se unissem duma forma diferente do tradicional, fazendo

apenas aquilo em que acreditam, fazendo da sua forma de estar a dois o casamento?

Não vai contra as leis do homem e muito menos contra as leis de Deus, que são as leis do

Amor e na certa encontrariam uma forma de experienciar duma maneira mais bonita e

enriquecedora porque tudo seria único, verdadeiro, no momento. Não é uma utopia. Cabe

a cada um de nós escolher experienciá-lo ou não.

Eu escolho viver em plenitude, procurando fazer que cada momento seja eterno enquanto

dure. E você, o que escolhe?

Ficou tanto por dizer que precisava se tornar uma conversa a dois!

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FICHA TÉCNICA: Título: Consciência do SER Autor: Sofia Morgado Contacto: [email protected] Por: http://www.universodeluz.net Foto da capa por: Sofia Morgado Copyright © 2003 Sofia Morgado

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