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CONSEQUÊNCIAS DA MODERNIZAÇÃO AGRÍCOLA · desenvolvimento da geografia e os novos rumos dos países e da sociedade com a globalização. Ainda Moreira (2008), muito além de um

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CONSEQUÊNCIAS DA MODERNIZAÇÃO AGRÍCOLA

NA AGRICULTURA FAMILIAR

Autor: Evaldo Bonin1

Orientadora: Roseli Alves dos Santos2

Resumo

Este artigo é fruto da intervenção pedagógica feita na Escola Estadual Cristo Redentor do município de Nova Prata do Iguaçu cujo objetivo principal era conhecer os efeitos da modernização agrícola sobre a agricultura familiar e contribuir para a permanência do jovem no campo. Para chegar ao resultado final foram feitas análises das Diretrizes Curriculares do Ensino de Geografia e ao mesmo tempo estudado os conceitos de lugar, paisagem, região e espaço geográfico, pois eles estão presentes no dia a dia de cada pessoa, bem como os conteúdos estruturantes da geografia. Para entender como ocorreu a formação da estrutura fundiária no sudoeste paranaense este artigo traz um breve histórico da ocupação dessa região a qual contribuiu para o desenvolvimento da agricultura familiar, e tem hoje uma participação importante na geração de renda e mão de obra no campo, mesmo tendo sofrido as consequências negativas da modernização da agricultura. Isto foi possível ser percebido durante os trabalhos de campo realizados durante a aplicação do projeto.

Palavras chave: Modernização; Agricultura Familiar; Capitalismo; Políticas Públicas.

Abstract

This article is the result of the educational intervention made in the State School Cristo Redentor of the city of Nova Prata do Iguaçu whose main objective was to ascertain the effects of agricultural modernization on the family farm and help the young stay in the field. To reach the final analysis were made of the Curriculum Guidelines for Teaching Geography and while studying the concepts of place, landscape, region and geographical space, they are present in everyday life of each

1 Professor Especialista em Geografia Física da Escola Estadual Cristo Redentor. 2 Professora Doutora em Geografia da Graduação e Pós-graduação da Unioeste Campos de Francisco Beltrão.

person as well as structuring the contents of geography. To understand how the structure formation occurred in southwestern Paraná land this article offers a brief history of the occupation of this region which contributed to the development of family farming, and today has an important role in income generation and labor in the field, even having suffered the negative consequences of modernization of agriculture. This could be seen during the field work conducted during the implementation of the project.

Keywords: Modernization, Agriculture Family, Capitalism, Public Politics.

Introdução

O objetivo deste artigo é entender as consequências da modernização

agrícola na agricultura familiar, através do Programa de Desenvolvimento

Educacional (PDE), que se constitui em uma política do Estado do Paraná destinada

aos professores da rede pública, cuja duração é de dois anos, sendo que no

primeiro o professor fica afastado 100% de suas atividades, no segundo ano o

afastamento é de 25% da carga horária de trabalho.

O projeto foi implementado com alunos dos 9° ano da Escola Estadual Cristo

Redentor do município de Nova Prata do Iguaçu e está dividido em três partes,

sendo que a primeira faz uma análise do ensino da geografia na perspectiva das

Diretrizes Curriculares do Ensino da disciplina, falando também de conceito de lugar,

paisagem, região e espaço geográfico os quais são fundamentais no ensino e

aprendizagem de geografia.

A segunda parte trata da história da ocupação e desenvolvimento do campo

no sudoeste do Paraná região onde está localizado o município de Nova Prata do

Iguaçu, que começou com os índios e caboclos até a chegada dos colonizadores

descendentes de europeus.

Por último é feito um estudo da contribuição do ensino da geografia para a

compreensão da modernização da agricultura e suas consequências para a

agricultura familiar, para isso os trabalhos de campo foram importantes.

1 O Ensino de Geografia na perspectiva das Diretrizes Curriculares da

Educação Básica

A produção acadêmica em torno da concepção de geografia passou por

diferentes momentos gerando diferentes reflexões sobre os objetivos e métodos do

fazer geográfico, de certa forma, essas reflexões influenciaram e ainda influenciam

muitas das práticas de ensino.

Para Rua et all (2005, p. 3), a geografia tem uma participação de destaque

entre as disciplinas que são trabalhadas na escola, pois ela trabalha o espaço do

qual ele faz parte, levando este educando a ter uma visão completa e crítica do

espaço que é construído pelo homem através do trabalho e da sociedade onde ele

esta inserido, pois toda pessoa ao ingressar na escola já traz consigo uma

caminhada e uma certa experiência, portanto a geografia pode aproveitar esta

vivência e basear nela o ensino formal, pois toda ação passa a ser mais eficiente

quando fundada nas relações entre a teoria e a prática.

Para as diretrizes curriculares (SEED, 2008, p. 25), o professor precisa

aprofundar sua discussão a respeito da produção do conhecimento, dos métodos e

determinantes políticos, econômicos, sociais e ideológicos, isso vai possibilitar ao

professor uma melhor organização de seu trabalho pedagógico e um melhor

entendimento dos conteúdos da sua disciplina o que vai ajudar na formação de um

sujeito mais atuante na sociedade e que pelo conhecimento possa participar das

decisões da sociedade.

Ainda de acordo com as diretrizes curriculares (SEED, 2008, p. 38), o

homem sempre precisou recorrer à natureza para conseguir a sua sobrevivência e

essa relação foi sua primeira forma de organização, porém com o passar do tempo o

homem foi criando novas necessidades e neste processo a relação homem natureza

e homem com o próprio homem também foi mudando, ainda neste sentido as

diretrizes curriculares apresenta:

Essas transformações ocorreram cada vez mais intensamente ao longo da segunda metade do século XX e originaram novos enfoques para a análise do espaço geográfico, além de reformulações no campo temático da geografia.

Do ponto de vista econômico e político, a internacionalização da economia e a instalação de empresas multinacionais, em vários países do mundo alteraram as relações de produção e de consumo, bem como entre regiões, entre países e entre os interesses que representam os organismo supranacionais, trazendo para as discussões geográficas assuntos ligados (SEED 2008, p. 43).

Para ensinar geografia é importante que o professor trabalhe os conceitos

de lugar, paisagem, região e espaço geográfico, pois eles estão presentes no dia a

dia de cada pessoa, se o aluno tiver uma noção desses conceitos ficará mais fácil

compreender o seu próprio espaço. Durante a implementação do projeto esses

conceitos embora não de uma forma aprofundada foram estudados, o que facilitou

para a compreensão do assunto visto em sala de aula e também nos trabalhos de

campo que foram realizados.

O conceito de lugar na atualidade é importante na geografia e trabalhar com

ele facilita a compreensão por parte dos alunos do mundo em que ele vive para que

ele possa além de entender, participar da sociedade em que vive e ajudar nas

decisões tomadas que dizem respeito a ele. Desta forma quando realizamos o

trabalho com os alunos a cerca da modernização, buscamos entender as

características do lugar onde cada um vive, os alunos que participaram do projeto 14

são filhos de agricultores e moram no campo, enquanto que 4 são filhos cujos pais

trabalham e residem na cidade.

Nova Prata do Iguaçu município onde foi implementado o projeto possui

cerca de 10.500 habitantes sendo que quase metade da população reside e trabalha

na agricultura, os pioneiros do município na sua maioria vieram dos estados do Rio

Grande do Sul e Santa Catarina. De acordo com os dados dos Censos realizados a

população diminuiu com o passar do tempo, analisando os possíveis motivos dessa

diminuição, um deles foi a modernização da agricultura, pois houve uma redução no

número de propriedades e de proprietários, com as novas técnicas de produção,

com as políticas públicas para a agricultura muitos produtores foram forçados a

vender suas propriedades e buscar melhores condições de vida em cidades maiores

em outros municípios.

Diante dessa realidade e para ajudar os alunos entenderem a história e os

motivos que levaram o município passar por essa situação é fundamental trabalhar o

conceito de lugar de uma forma mais ampla a fim de poderem entender a realidade

do seu próprio lugar, onde eles vivem e poderem ter uma visão real do passado e do

presente, para realizarem uma inserção positiva e construtiva no espaço futuro.

Para Moreira (2008), com essa visão, o lugar ganha nova abrangência de

significado deixando de ser compreendido apenas como um espaço produzido, ao

longo de um determinado tempo, pela natureza e pelo homem, para ser visto como

uma construção única, singular, carregada de simbolismo e que agrega ideias e

sentidos produzidos pelas pessoas que habitam um determinado lugar.

Desta perspectiva teórica, a singularidade dos lugares pode ser um atrativo para investimentos econômicos globais, pode mantê-los como reserva para o futuro, ou ainda, pode ser motivo de desinteresse que os condena ao abandono. (SEED, 2008. p. 61).

Segundo Moreira (2008), os lugares apresentam certa singularidade e

devido ao grande e rápido crescimento nos últimos tempos das redes de

comunicação e de transporte, passou a existir uma maior interação entre os

diferentes lugares, embora haja uma hierarquização de acordo com suas

infraestruturas logísticas conectadas.

O conceito de lugar mudou bastante à medida que surgiram novos estudos

com autores diferentes que escrevem a respeito do assunto, tendo como base o

desenvolvimento da geografia e os novos rumos dos países e da sociedade com a

globalização.

Ainda Moreira (2008), muito além de um espaço físico, de uma paisagem

repleta de elementos e de referências peculiares passíveis de descrições objetivas e

racionalizadas, o lugar, na visão humanística, constitui-se como uma paisagem

cultural, campo da materialização das experiências vividas que ligam o homem ao

mundo e as pessoas, e que despertam os sentimentos de identidade e de

pertencimento no individuo, são, portanto, fruto da construção de um elo efetivo

entre sujeito e o ambiente em que vive.

Pensando em uma geografia que leve os educandos a pensarem e

entenderem a sociedade em que vivem de modo que possam ajudar na busca de

soluções para os possíveis problemas. Outro conceito que precisa ser entendido por

eles é o conceito de paisagem.

Para estudar o lugar podemos começar pela paisagem, outro conceito da

geografia importante para compreender a realidade do lugar onde se vive. Portanto

os alunos do município de Nova Prata do Iguaçu convivem com um cenário onde

predomina a agricultura, mesmo os que moram na cidade tem influência no seu dia

a dia do panorama do campo, pois muitos compram produtos alimentícios direto do

produtor, por ser uma cidade pequena a paisagem do campo esta presente no dia a

dia das pessoas, embora tenham ocorrido algumas mudanças ainda predomina a

agricultura familiar.

O conceito de paisagem em geografia começou a ser elaborado ainda no

século XIX pelos naturalistas, ficou marcado pelas diferenças entre paisagem natural

e humanizada. Mas na atualidade este continua sendo um conceito importante como

ponto de partida para compreender a dinâmica do lugar.

Para analisar a paisagem e atingir o significado de espaço é necessário que os alunos compreendam que a paisagem atende a funções sociais diferentes, é heterogênea, porque é um conjunto de objetos com diferentes datações e esta em constante processo de mudança. Portanto, a análise pedagógica da paisagem deve ser sentido de sua aproximação do real estudado, por meio de diferentes linguagens. (Cavalcante, 2005 apud SEED, 2008, p. 55).

De acordo com as diretrizes curriculares (SEED, 2008, p.54), para a

geografia crítica as paisagens não se autoexplicam, pois elas fazem parte de uma

totalidade socioespacial determinadas por interesses econômicos e políticos

definidos por relações internacionais.

A paisagem, assim como o espaço, altera-se continuamente para poder acompanhar as transformações da sociedade a forma é alterada, renovada suprimida para dar lugar a outra forma que atenda as necessidades novas da estrutura social. (Santos 2007, p. 57).

Pensando na formação de um aluno consciente das relações socioespaciais

de seu tempo o professor precisa trabalhar a realidade do aluno e da sociedade em

que vivem, portanto a geografia precisa trabalhar os conceitos das abordagens

críticas dessa disciplina.

Uma das formas para se trabalhar com o conceito de paisagem é explorar a

percepção dos alunos sobre o que eles veem, isto pode ser feito através de

fotografias, ou mesmo fazendo com que eles observem as diferentes imagens no

seu lugar de convívio, muitas vezes tem-se a noção que paisagem é só o bonito,

porém, ela é o conjunto dos elementos naturais e culturais que podem ser vistos em

um lugar.

Embora existam especificidades do lugar, a história é um elo importante na

formação da região sudoeste do Paraná, portanto lugar é um outro conceito

importante a ser abordado no ensino de geografia em sala de aula pois a história

dos municípios da região sudoeste todos tiveram uma forte contribuição dos

colonizadores descendentes de europeus que desenvolveram a agricultura familiar e

ao mesmo tempo sofreram as consequências da modernização da agricultura.

É importante abordar, também, em sala de aula, como as identidades espaciais são construídas e mantidas nos lugares frente ao processo de globalização. O aluno deve compreender que no lugar são observadas as influências, a materialização e também as resistências ao processo de globalização. A abordagem dos conteúdos específicos torna-se mais significativa quando se estabelece relações entre o que é estudado e o que faz parte do lugar onde o aluno esta inserido. Lembrando-se, ainda, da relevância em não reduzir o conceito de lugar ao de localização (SEED, 2008. p. 62).

É neste contexto que aparece a importância do conceito de região, que de

acordo com as diretrizes curriculares (SEED, 2008). Por muito tempo e até as

primeiras décadas do século XX.

As regiões foram configurando-se por meio de processos orgânicos, expressos através da territorialidade absoluta de um grupo, onde prevaleciam suas características de identidade, exclusividade e limites, devidas à presença desse grupo, sem outra mediação. A diferença entre área se devia a essa relação direta com o entorno. Podemos dizer que, então, a solidariedade característica da região ocorria, quase que exclusivamente, em função dos arranjos locais (Santos 1996 apud SEED, 2008, p.56).

Com o passar do tempo surgiram correntes críticas, de base marxista as

quais passaram a definir região considerada, de acordo com Santos (2006), como

uma síntese concreta e histórica dos processos sociais, como produto e meio de

produção e reprodução de toda a vida social.

Para Santos (1996 apud SEED, 2008), no mundo globalizado em que

vivemos, onde as trocas são bastante grandes e feitas de forma veloz, também as

regiões mudam de forma e de conteúdo rapidamente.

Nessa perspectiva as sociedades que possuem meios e técnicas mais

evoluídas, fazem com que as transformações feitas por essa sociedade sejam

maiores sobre os espaços por elas dominados, o desenvolvimento dessas relações

permitiu que houvesse, tanto no âmbito global, quanto regional, um desenvolvimento

desigual nas formas de apropriação dos recursos, e consequentemente,

estabeleceram-se relações de poder dentro das regiões e de uma sobre as outras.

Todos esses conceitos são importantes para um melhor entendimento da

geografia e da sociedade, porém um conceito chave para essa compreensão é o

conceito de espaço geográfico, pois ele é formado por elementos naturais e por

elementos culturais que são criados pela sociedade e também por elementos

imateriais, como a cultura e o poder, ao mesmo tempo em que o espaço pode ter

diferentes funções e diferentes formas as quais são dadas pelas pessoas que nele

vivem.

Para Santos (2007, p. 74), até os nossos dias o espaço é utilizado pela

sociedade como uma forma para aumentar as desigualdades sociais, porém para

melhorar as condições de vida da sociedade precisamos melhorar a organização do

espaço, precisamos reformulá-lo e criarmos uma política de consumo que não esteja

atrelada ao capitalismo.

Os construtores do espaço não se desembaraçam da ideologia dominante quando concebem uma casa, uma estrada, um bairro, uma cidade. O ato de construir esta submetido as regras que procuram nos modelos de produção e nas relações de classe suas possibilidades atuais. (Santos, 2007, p.36-37).

Para as Diretrizes Curriculares (SEED, 2008, p. 68-69) o objeto de estudo da

geografia em sala de aula deve ser o espaço geográfico e para que possamos ter

uma ideia crítica de educação precisamos ter claros os conteúdos estruturantes da

geografia os quais compreendem:

- Dimensão econômica do espaço geográfico;

- Dimensão política do espaço geográfico;

- Dimensão socioambiental do espaço geográfico;

- Dimensão cultural e demográfica do espaço geográfico.

O professor deve trabalhar esses conceitos em sala de aula para que o

aluno entenda o espaço geográfico em todas as escalas e que ele possa atuar na

construção da sociedade e de seu próprio espaço.

Durante a realização da intervenção pedagógica a dimensão econômica do

espaço apareceu durante as entrevistas feitas com os proprietários os quais

relataram a visão que tinham da produção e da organização da propriedade e o

lucro que conseguiam e que conseguem hoje na mesma propriedade.

Ao trabalhar os textos os quais mostravam as políticas públicas para o

campo que existiam durante a chamada revolução verde e as que existem hoje ficou

claro a dimensão política do espaço, isto foi mostrado também durante as palestras

feitas com os alunos quando foi falado da importância da agricultura familiar para a

produção de alimentos e geração de empregos.

A dimensão socioambiental foi possível observar durante as explanações

feitas pelos proprietários em relação a forma e a quantidade de agrotóxicos que

usavam e que usam hoje. Também foi relatado que durante a mecanização da

propriedade não se tinha o cuidado com a mata ciliar e com as nascentes de água,

hoje ao perceber o assoreamento dos cursos de água já foram recuperadas as

vegetações.

As análises feitas dos dados dos Censos demográficos percebeu-se que o

município de Nova Prata do Iguaçu teve uma redução no número de habitantes, ao

mesmo tempo em que foi estudada a história de ocupação da região sudoeste foi

possível perceber a dimensão cultural e demográfica do espaço geográfico.

Os conteúdos estruturantes e os conteúdos específicos devem ser tratados pedagogicamente a partir das categorias de análises – relações espaço temporais e relações sociedade natureza – e do quadro conceitual de referência. Por meio dessa abordagem, pretende-se que o aluno compreenda os conceitos geográficos e o objeto de estudo da geografia em suas amplas e complexas relações. (SEED, 2008.p.69).

Portanto estudar os conteúdos estruturantes e específicos de geografia bem

com os conceitos trabalhados possibilita aos alunos entenderem como aconteceu a

ocupação e o desenvolvimento da agricultura no sudoeste do Paraná desde que a

região era habitada pelos índios até os dias atuais.

Ao olhar a história podemos observar como os espaços vão sendo

redimensionados pela lógica estruturante de cada sociedade.

2 A Agricultura no Sudoeste do Paraná: um pouco da história

Para a FETRAF Sul (2007), até o final dos anos 40 do século XX, a região

sudoeste paranaense era habitada pelos índios das tribos Kainganges e Guarani.

Era, portanto, uma grande área de terra, sem demarcação de fronteiras e tomada

por conflitos desde o início do século passado dentre os quais podemos citar três:

A) Disputa territorial entre Brasil e Argentina;

B) Guerra do contestado, entre Paraná e Santa Catarina;

C) Instalação das três colônias militares (Chapecó, Chopin e Iguaçu);

Os poucos habitantes aproveitavam a abundância de recursos naturais para

alimentação e manutenção da família. A atividade agrícola era inexistente, havia

apenas a criação de gado de forma extensiva nos campos de Palmas. O espaço

geográfico era definido em uma relação direta com a natureza e por vezes, a ela

subordinado.

Para os indígenas, a terra é um espaço integrado à vida da comunidade e

não pode ser dividida ou apropriada privadamente, a terra comunitária é essencial

para a reprodução da tribo ou da nação indígena.

Atualmente, os indígenas acantonados em suas reservas são “obrigados” a

desenvolver a agricultura comercial moderna, em geral na forma coletiva e sob o

controle rígido da FUNAI, para garantir o abastecimento e como imposição para a

sua adaptação à civilização dominante. O atual sistema de tutela do índio ou o

mantém subjugado ou desestrutura sua identidade aniquilando-o.

Já no final dos anos de 1930 e início dos anos de 1940, um importante fluxo

migratório formado por caboclos, na sua maioria oriundos de outras regiões, como

os campos de Palmas e do estado do Rio Grande do Sul, iniciaram o povoamento

do sudoeste do Paraná.

Como destaca a FETRAF Sul, atraídos pelas terras devolutas da região e

pela abundância de recursos naturais, duas correntes migratórias deram origem a

população cabocla regional: a primeira, formada por agregados e posseiros das

fazendas de Palmas, que não encontravam mais oportunidade de trabalho na lida do

gado; a segunda, famílias caboclas do Rio Grande do Sul que trabalhavam de

arrendatários e posseiros nas regiões do planalto médio e alto Uruguai, que foram

pressionados a deixar as suas terras com a chegada da imigração europeia.

Tanto os caboclos de Palmas quanto os do Rio Grande do Sul que

chegaram à região não tinham na propriedade a base jurídica da terra (título de

propriedade). Eram famílias que cultivavam a terra em sistema de uso-fruto.

Para a cultura cabocla, a terra é espaço e lugar de vida, necessária para a

reprodução biológica, social e religiosa da família, incluindo o compadrio. Para o

caboclo, o trabalho é necessário; porém, é parte relativa da vida. É o fluxo da vida

que comanda o uso do tempo, o qual subordina o trabalho. Por isso, as técnicas de

produtividade pouco significam. O caboclo estabelece uma relação com o natural

que o torna parte de si mesmo, e sua preservação é essencial para a vida. O

excedente é produzido para garantir a reprodução familiar e a qualidade de vida.

Para o caboclo, a floresta não é lugar de refúgio. A mata era o lugar mais

propício para a sobrevivência da população cabocla, por dois motivos:

A) A floresta é uma terra livre onde não existe propriedade privada;

B) Da floresta pode-se conseguir quase tudo o que se necessita para o

sustento familiar.

A chegada ao sudoeste paranaense, no final dos anos 1940, dos colonos

descendentes de europeus, vindos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul,

revolucionou completamente o regime de apropriação da terra e o sistema de

utilização do solo até então existente na região.

A ocupação com base na pequena propriedade (propriedade familiar)

significou, em primeiro lugar, a eliminação do uso coletivo dos recursos naturais,

(caça, pesca, erva mate, frutas, águas etc.), sobre cuja base se apoiava a economia

cabocla. A floresta rapidamente deixou de existir como um espaço aberto e do qual

o agricultor podia retirar a riqueza de seu interesse: a mata não é mais de todos.

Para os colonos vindos do sul, a terra, obviamente, tem outros valores. É um

bem de negócio e deve ser destinada à produção de mercadorias para a venda, à

intensificação da atividade agrícola e pecuária, a geração de renda, a acumulação

de capital e, consequentemente, ao título de propriedade para poder dá-la em

garantia nos financiamentos bancários. Uma proposta completamente contrária a

lógica cabocla.

A transição do espaço caboclo para a nova realidade estabelecida pelos

colonos de origem européia não se reduz a implantação do regime de apropriação

da terra pela propriedade familiar. É todo um modo de vida novo que se implanta.

Com o grande fluxo populacional de colonos que chegaram à região,

rompeu-se, definitivamente, com as formas de uso coletivo da terra, seja para a

agricultura seja para a criação. Abandonou-se a herança da cultura cabocla.

Os títulos individuais das terras e a demarcação dos limites das

propriedades assumem papel importante no novo regime fundiário da região. À

medida que a região recebia nova levas de imigrantes gaúchos e catarinenses, as

terras iam sendo divididas cada vez mais e os recursos naturais iam se tornando

cada vez mais escassos.

A exploração agrícola e pecuária adotada pelos colonos descendentes de

europeus manteve-se enquanto a estrutura fundiária permitiu, ou seja, ao cair a

produtividade em uma determinada área, os agricultores compravam uma nova ou

derrubavam mais uma área de mata virgem. Enfim, havia reserva natural para

acomodar os filhos que constituíam a nova família.

O elemento essencial de sustentação das famílias era o aproveitamento da

boa fertilidade e da capacidade de produção dos solos dessa região. Isso se

estendeu, aproximadamente, até os anos de 1970.

A história de ocupação e desenvolvimento de uma região deve ser levada

em consideração quando trabalhado os conteúdos na escola, pois é através da

história que os alunos irão entender o presente, encontrando suas raízes.

3 Contribuição do ensino de Geografia para compreensão da modernização da

agricultura

A escola pública brasileira, nas últimas décadas passou a atender um

número cada vez maior de estudantes vindos das classes populares, devido a isso a

escola pública precisa conhecer a sociedade em que vivemos as suas necessidades

e através disso encontrar soluções para melhorar as condições de vida através do

ensino.

Para as Diretrizes Curriculares (SEED, 2008, p. 14) a escola esta em busca

constante de formas as quais contribuam para uma melhor qualidade de vida da

sociedade, o papel dela define-se de formas muito diferenciadas. Para que a escola

possa trabalhar os conteúdos com uma visão crítica precisa que o professor tenha

essa visão, precisa levar em consideração as seguintes questões: De onde vêm

nosso educando? Que referências sociais e culturais trazem para a escola?

Um sujeito é fruto do seu tempo histórico, das relações sociais em que e esta inserido, mas é, também, um ser singular, que atua no mundo a partir do modo como compreende e como dele lhe é possível participar. (SEED, 2008, p.14).

Para os cadernos temáticos educação do campo da SEED (2008, p.32), a

escola precisa a ajudar a enraizar as pessoas em sua cultura, que pode ser

transformada, recriada a partir de interação com outras culturas, mas que ao mesmo

tempo precisa ser conservada, porque não é possível fazer formação humana sem

trabalhar com raízes e vínculos, sem identificar as raízes não há como ter projetos.

Portanto a escola precisa trabalhar com a memória do grupo e com suas raízes

culturais e isto quer dizer também que se deve ter uma grande resistência a

imposição de padrões culturais os quais possam contribuir para o desaparecimento

da própria cultura, a escola deve também combater a dominação cultural a qual não

contribua para o desenvolvimento da sociedade.

O município de Nova Prata do Iguaçu possui sua economia baseada na

agricultura, os alunos que estudam na Escola Estadual Cristo Redentor em grande

parte são filhos de agricultores, portanto trabalhar assuntos relacionados à sua

realidade poderá contribuir para melhorar sua visão da cultura que esta relacionada

ao campo e ao mesmo tempo ajudar na visão de organização da propriedade

melhorando as condições financeiras tornando a propriedade viável.

Ainda de acordo com os cadernos temáticos educação do campo (SEED,

2008, p.35-36), a escola precisa se colocar como um novo desafio no processo de

construção de políticas públicas, a educação deve ser construída a partir das

demandas, da luta e das experiências dos sujeitos que vivem no campo, deve-se

questionar a ausência de políticas educacionais para os povos do campo, o modelo

de uma educação empobrecida, inferiorizada, a qual não contribui para a realidade

da vida no campo, pois no Brasil a educação foi baseada como forma de ascensão

social ou vista a partir das demandas da industrialização e do processo de

urbanização vivido a partir do século XX.

Ainda de acordo com este caderno temático (SEED, 2008), a falta de

compromissos políticos e também devido aos resquícios de matizes curriculares

vinculadas a uma economia agrária baseada no latifúndio, no trabalho escravo, em

técnicas arcaicas de produção, que compreendem que para trabalhar na terra não é

necessário escolarização isto tem contribuído para aumentar as dificuldades

principalmente dos pequenos proprietários que não tiveram uma política agrícola

voltada para sua realidade.

Para Vieira (2004, p.37), não pode se trabalhar sem a compreensão

histórica, apenas de forma aparente, sem o entendimento das relações existentes,

fato que impossibilita o desenvolvimento da concepção crítica e concedendo ao

aluno, a visão apenas aparente, muitas vezes a pequena propriedade de

subsistência, as relações de parceria no campo e sua relação com a monocultura e

com a grande propriedade empresarial é vista como se houvesse uma relação de

harmonia entre essas realidades tão diferentes.

Ainda para Vieira (2004, p. 39) a escola precisa levar o educando a entender

a modernização da agricultura a qual teve um objetivo capitalista, onde os setores

da economia foram se adaptando as novas relações de trabalho, porém foram os

grandes empresários das cidades ligados ao setor os maiores beneficiados, junto

com os segmentos empresariais do campo, fazendo aumentar a concentração da

renda e surgir os sem terras, os sem teto, e os sem trabalho, a modernização

agrícola foi para atender o interesse do capital nacional e internacional, quando

deveria a atender os interesses dos pequenos proprietários.

O modelo de modernização agrícola adotado pelo Brasil não foi adequado,

principalmente para a agricultura familiar, pois atendeu prioritariamente os interesses

dos grandes produtores.

Este modelo é hoje, mais do que nunca, questionado pelas condições do próprio mundo moderno. No Brasil, para se tornar efetivamente moderna, a agricultura deve dissociar-se dos interesses arcaicos, ligados à concentração fundiária e ao crescimento extensivo, para adotar uma dinâmica efetivamente moderna, que valorize o espaço rural, tanto do ponto de vista ambiental quanto socialmente e se comprometer com as necessidades fundamentais da população brasileira. Com estes objetivos, os agricultores familiares, isto é, aqueles que vivem do seu trabalho nas atividades agrícolas, devem se preparar para ocupar um espaço importante na construção de um novo modelo de agricultura para o país. (Bergamasco e Wanderlei, 1995, apud Delma Pessanha Neves, 2007, p.224).

Portanto a geografia deve trabalhar os assuntos referentes à agricultura de

forma a ajudar os alunos a refletirem a história da agricultura no país e ao mesmo

tempo valorizar a agricultura familiar.

Os estudos referentes às questões agrárias são fundamentais para se

compreender a realidade brasileira. Conforme Costa (2010) o meio rural sempre foi

lugar de dominação política e econômica, a paisagem urbana sofre influências das

transformações do campo ao mesmo tempo em que as mudanças nas cidades,

promovem alterações na organização do campo.

No Brasil a expansão do processo de acumulação capitalista no campo

apesar de ter ocorrido desde o inicio da colonização, cujo sistema estava baseado

no capitalismo europeu e a organização da colonização era baseada na produção

agrícola para a exportação e utilizava trabalho escravo, foi mais acentuado depois

da década de 1950 e isso ocorreu da forma como o capital passou a explorar as

relações sociais, a natureza, apoiado pelas ações do governo.

Segundo Martins (1981), a organização das relações sociais e produtivas é

alterada ao longo do tempo, refletindo desta forma na organização do espaço.

Assim, o latifúndio tradicional vai sendo substituído pelo chamado agronegócio,

refletindo de forma direta os interesses do capital.

Para Choma (2008), outra característica é que cada vez mais o agro negócio

controla todas as etapas da produção, desde o mercado de insumos, passando

pelas técnicas de produção, pesquisas em áreas como genética e biotecnologia; aos

sistemas de financiamento e redes de comercialização.

Martins (1981) chama a modernização pós 1960 de conservadora, pois

ocorre uma modernização nos meios de produção, mas não nas relações de

produção, o desenvolvimento do capitalismo no campo acelerou e intensificou a

modernização chamada de dolorosa, desigual e conservadora.

Para o produtor familiar as informações da expansão do capitalismo no

campo foram divulgadas pelos meios de comunicação de massa, pelos programas

de governo de modernização e do desenvolvimento rural, pela assistência técnica e

também pelas grandes empresas. Como destaca Silva (2003) tudo isso foi

transformando a agricultura numa fornecedora de matéria prima para a indústria e

promovendo a industrialização da agricultura.

A expansão do capitalismo no campo trouxe grandes modificações nas

atividades agrárias, com a incorporação da tecnologia veio o aumento da

produtividade e redução do número de trabalhadores. Segundo Martins (1981), a

modernização tecnológica limitou a demanda de mão de obra somente em alguns

períodos do ano, essa mão de obra excedente foi por algum tempo absorvida na

cidade por setores da indústria que não necessitavam de mão de obra

especializada, mas esses setores das indústrias também estão se modernizando.

Para Silva (2003), a partir da segunda metade do século XX as

transformações decorrentes do avanço das relações capitalista de produção passam

a promover mudanças significativas no espaço geográfico. O ritmo da reprodução

ampliada do capital incorpora novos espaços, por meio de uma nova divisão social e

territorial do trabalho. O avanço das técnicas, os seus usos fazem aumentar a

intensidade da exploração do trabalho.

Essas transformações provocam o aumento da concentração da propriedade

da terra, o latifúndio passa a ser visto como uma grande empresa geradora de lucros

para uma pequena classe dominante enquanto os pequenos proprietários são

expropriados e tem sua mão de obra explorada.

Muitas vezes por traz das super safras, das exportações do aumento da

produção se escondem indicadores do desemprego dos conflitos no campo e de

desequilíbrios ambientais.

Para Brum (1988, p.69), a modernização agrícola brasileira foi direcionada

basicamente para a expansão do complexo agroindustrial, atendendo os interesses

da indústria e dos grandes proprietários, essa modernização teve forte tendência a

fixação das monoculturas regionais, a viabilização e consolidação da empresa rural

capitalista, acompanhada da progressiva desestabilização e consequentemente uma

grande diminuição da pequena propriedade rural de agricultura familiar, ocorrendo

uma forte concentração de terras, pois os pequenos proprietários ficaram

descapitalizados não tiveram condições de acompanhar o novo sistema implantado

no Brasil.

Essa mudança da agricultura tradicional para a chamada agricultura

moderna fez aumentar a dependência da agricultura em relação à indústria.

Segundo Bianchini (1996), os próprios meios que levaram a agricultura moderna ao

sucesso estão mudando sua base, pois elas retiraram excessivamente e

degradaram os recursos naturais dos quais a agricultura depende.

Desta forma Gliesman (2000) explica que a agricultura moderna é

insustentável, ela não pode continuar a produzir comida suficiente para a população

global em longo prazo, porque deteriora as condições que a torna possível.

No Brasil, o crédito rural criado em 1964 viabilizou financeiramente os

pacotes tecnológicos, além de disponibilizar aos agricultores o crédito com o objetivo

de consumo de insumos modernos, criação e desenvolvimento dos complexos

agroindustriais, sementes selecionadas etc. durante muito tempo, o crédito rural foi

praticamente exclusividade dos grandes proprietários de terras.

No entanto, a maioria das propriedades rurais do país pertence a

agricultores familiares, embora com menor área. De acordo com a secretaria de

agricultura familiar em 2006 eram 13,8 milhões de pessoas em 4,1 milhões de

estabelecimentos familiares, o que corresponde a 77% de população ocupada na

agricultura, cerca de 60% dos alimentos consumidos pela população é produzido por

agricultores familiares, isso justifica a elaboração de políticas públicas que visem o

fortalecimento da agricultura familiar, criando oportunidade de trabalho e reduzindo o

êxodo rural, além de diversificar a produção e fortalecer a economia dos pequenos

municípios.

As políticas públicas para a agricultura familiar surgiram na década de 1990

devido ao fortalecimento dos movimentos sociais do campo e a necessidade dos

órgãos públicos intervirem na exclusão social que ocorria. Hoje os agricultores

familiares podem contar com alguns programas de crédito como o PRONAF que tem

o objetivo de fortalecimento da agricultura familiar e atender essas famílias de forma

diferenciada para integrá-las a cadeia do agronegócio, proporcionando aumento de

renda e agregando valor ao produto e a propriedade. Este sistema oferece algumas

vantagens para os produtores como a obtenção de financiamentos de custeio e

investimento com encargos e condições adequadas a realidade da agricultura

familiar.

Outro exemplo, de uma forma de organização comum no sudoeste do

Paraná, são as cooperativas como a CRESOL que atua nos estados do sul do Brasil

com o sistema de crédito solidário, o qual tem o objetivo de conhecer a realidade do

agricultor, de ser administrado pelos próprios agricultores e conceder empréstimos

aos pequenos agricultores os quais não tem acesso ao crédito em outros bancos.

Se analisarmos os dados do IBGE, as consequências da modernização

agrícola na agricultura familiar no período de 1970 e 1985 são visíveis, nesse

período houve um aumento na área destinada as pastagens em torno de 32%,

aumento das lavouras temporárias em 59%, diminuição do emprego no campo e

aumento do êxodo rural, concentração fundiária, marcada pelo desaparecimento de

66.257 estabelecimentos agrícolas de 0 a 10 hectares e 28. 689 com área entre 10 e

100 hectares, aumento do trabalho temporário e surgimento dos sem terra.

Também nesse período o número da população rural e urbana mudou

bastante, até o inicio da década de 1970 o Paraná tinha uma base rural, a população

rural superava a urbana, durante a década de 1970 essa situação se inverte, a

população urbana passa a superar a rural. De acordo com o IBGE, em 1960, a

população urbana atingia cerca de 30,91% e a rural era de 69,09%, em 1980, a

população a população urbana passou para 58,93% e a rural caiu para 41,07%.

Em 1991 esse quadro se acentuou ainda mais a população urbana atingiu

73.35% e a rural diminuiu para 26,65%. As causas dessa inversão podem ser

atribuídas em grande parte a modernização da agricultura que não chegou, de forma

plena, aos pequenos proprietários.

Podemos perceber que a modernização da agricultura gerou grandes

transformações na agricultura paranaense, atualmente a agricultura familiar é

responsável por quase a metade da produção agropecuária do Brasil e do Paraná,

segundo os dados estatísticos oficiais, os quadros a seguir mostram a importância

da agricultura familiar para a economia do estado.

Número de Estabelecimentos Agropecuários Número de Estabelecimento

Agropecuário %

Mesorregião Geográfica

Total Agricultura

Não Familiar

Agricultura Familiar

Total Agricultura

Não Familiar

Agricultura Familiar

Noroeste 37.723 8.400 29.323 100% 22.3 77.7 Centro

Ocidental 21.310 4.540 16.770 100% 21.3 78.8

Norte Central 54.272 12.865 41.407 100% 23.7 76.3 Norte

Pioneiro 29.661 6.305 23.356 100% 21.3 78.7

Centro Oriental

19.174 4.549 14.625 100% 23.7 76.3

Oeste 53.216 9.464 43.752 100% 17.8 82.2 Sudoeste 44.479 4.947 39.532 100% 11.1 88.9 Centro Sul 41.368 7.780 33.588 100% 18.8 81.2

Sudeste PR 39.390 4.725 34.665 100% 12.0 88.0 Met. Curitiba 30.458 4.569 25.889 100% 15.0 85.0

Paraná 37.1051 68.144 302.907 100% 18.37 81.63 Tabela 1: Estabelecimentos agropecuários/condição do produtor de agricultura familiar

Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 2006.

Os dados mostram que no Paraná 81.63% dos estabelecimentos são

considerados de agricultura familiar a região norte central possui um maior número

de estabelecimentos não familiares, enquanto que a região sudoeste apresenta o

maior percentual de estabelecimentos de agricultura familiar 88.9%.

Número de Estabelecimentos Agropecuários Número de Estabelecimento

Agropecuário %

Mesorregião Geográfica

Total Agricultura

Não Familiar

Agricultura

Familiar Total

Agricultura Não Familiar

Agricultura Familiar

Noroeste 116.381 41.423 74.958 100% 35.6 64.4 Centro

Ocidental 64.498 23.460 41.038 100% 36.4 63.6

Norte Central 189.708 90.047 99.661 100% 47.5 52.5 Norte Pioneiro 91.152 37.800 53.352 100% 41.5 58.5

Centro Oriental

60.638 23.906 36.732 100% 39.4 60.6

Oeste 147.233 37.108 110.125 100% 25.2 74.8 Sudoeste 127.473 20.316 107.157 100% 15.9 84.1 Centro Sul 124.051 28.535 95.516 100% 23.0 77.0

Sudeste PR 112.416 16.222 96.194 100% 14.4 85.6 Met. Curitiba 83.534 17.949 65.588 100% 21.5 78.5

Tabela 2: número de ocupantes nos estabelecimentos agropecuários Fonte: IBGE – Censo Agropecuário 2006.

Ao analisarmos os dados em relação ao pessoal ocupado podemos observar

que a agricultura familiar é responsável em ocupar cerca de 70% das pessoas, a

região sudoeste ocupa o maior percentual de pessoas na agricultura familiar 85.6%

seguida da região oeste que ocupa 74.8%.

Diante desses dados podemos afirmar que o setor agrícola do sudoeste

paranaense sofreu as consequências da modernização agrícola, porém ainda possui

seu setor fundiário baseado na agricultura familiar, setor este que nos últimos anos

vem sendo beneficiado com os programas de governo voltado para este setor.

Segundo os dados do Censo agropecuário (2006), o IBGE aponta que

apesar de cultivar uma área menor com lavoura, 17,7%milhões de hectares a

agricultura familiar é a principal produtora de alimentos básicos para a população

brasileira, pois ela é responsável pela produção de 87% da mandioca, 70% do feijão,

46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 21%, do trigo, e 16% da soja.

Ainda de acordo com Censo agropecuário (2006), quanto a ocupação da

mão de obra no Brasil a agricultura familiar ocupa 15,3 pessoas por 100 hectares,

enquanto a agricultura não familiar ocupa 1,7 pessoas por 100 hectares, portanto

esses dados comprovam a superioridade da agricultura familiar em geração de

empregos no campo.

Quando se fala em estabelecimentos a agricultura familiar possui 4.367.902

estabelecimentos o que corresponde a 84%, enquanto a agricultura não familiar

possui 807.587 estabelecimentos isto corresponde a 15,60% do total, se

compararmos a área total a agricultura familiar ocupa 24,3% enquanto a não familiar

ocupa cerca de 75%.

Martins (1981) já acenava no sentido em que os dados apontam diz:

Alguns argumentam pela superioridade da grande propriedade na produção agropecuária, que pode mais facilmente desenvolver as suas forças produtivas, utilizar maquinaria, etc. Essa afirmação é capciosa. Para que haja a grande unidade de produção não é necessário que haja a grande unidade de propriedade. A extensão não esta irremediável e necessariamente vinculada a extensão da propriedade, a não ser na cabeça do capitalista, daquele que não imagina o crescimento econômico senão com base na exploração do trabalho alheio (Martins, 1981, p.149).

Para a EMBRAPA (s/d) a melhoria da renda deste segmento, por meio da

sua maior inserção no mercado, tem impacto importante no interior do país e, por

consequência, nas grandes cidades e para possibilitar o devido incremento na

renda, é necessário que os agricultores tenham acesso a mais tecnologia que

atendam as suas necessidades, crédito barato o que em parte já tem a sua

disposição através do programa PRONAF que tem o objetivo de fortalecimento da

agricultura familiar e atender essas famílias de forma diferenciada para integrá-las a

cadeia do agronegócio, proporcionando aumento de renda e agregando valor ao

produto e a propriedade. Este sistema oferece algumas vantagens para os

produtores como a obtenção de financiamentos de custeio e investimento com

encargos e condições adequadas a realidade da agricultura familiar.

Ainda de acordo com EMBRAPA (s/d) os agricultores familiares precisam

modernizar seus sistemas gerenciais e organizativos, além disso, precisam buscar

informações a respeito dos programas de governo os quais contemplam a

agricultura familiar e buscar parcerias com sindicatos, EMATER e outras entidades a

fim de buscar ajuda para melhorar sua visão em relação a agricultura.

Podemos encontrar várias definições de diversos autores para agricultura

familiar. A FAO (1994) define a agricultura familiar como sendo aquela onde a

gestão da unidade produtiva é feita por pessoas que mantém entre si laços de

parentesco e casamento. A maior parte do trabalho é feito por membros da família e

os meios de produção embora nem sempre a terra pertença a família.

O setor agrícola do sudoeste do Paraná de certa forma resistiu aos efeitos

da modernização agrícola implantada no país, pois ainda possui sua estrutura

fundiária baseada na pequena propriedade de agricultura familiar. O quadro a seguir

mostra um esquema da modernização agrícola no sudoeste do Paraná e no Brasil.

Período Características no

sudoeste do Paraná Características brasileiras

Década de 1930 a 1950.

- Povoamento e colonização efetiva - Pequena propriedade. - Produção de alimentos - Comerciante local.

- Perda de importância do complexo rural. - Formação da indústria a jusante da agricultura. - Implantação de estradas. -Industrialização brasileira. -Marcha para o oeste.

Década de 1960

- Sementes selecionadas - introdução da “soja solteira”. - Assistência técnica e extensão rural – ACARPA. - GETSOP. - ASSESOAR. Comerciante local.

- Implantação do SNCR. - Projeto de desenvolvimento industrial do Paraná. - Políticas de garantia de preços mínimos. - Criação do estatuto do trabalhador rural. - Criação do sistema nacional de assistência técnica e extensão rural. - Avanço da frente de migração interna para o centro oeste brasileiro.

Década de 1970

- Utilização da força mecânica. - Implantação das cooperativas. - Lojas de produtos agro veterinários.

- Reestruturação das cooperativas agrícolas. - Constituição de cadeia agroindustrial. - Urbanização.

Década de 1980

- Uso de insumos químicos. - Força mecânica. - Cooperativas. - Crescimento das cidades - Implantação das agroindústrias – CAIS.

- Diminuição do crédito subsidiado. - Aumento das exportações dos produtos agroindustriais.

Década de 1990

- Plantio direto. - Crédito para a agricultura familiar. - Agroindústrias CAIS. - Desenvolvimento de políticas de desenvolvimento local. - Agroindústrias familiares e artesanais.

- Aceleração da abertura econômica, desregulamentação do mercado e reestruturação produtiva. - Crescimento econômico. - privatizações. - verticalização agrícola e agroindustrial. - MODERFROTA. - PRONAF.

Tabela 3: Esquema de modernização agrícola no sudoeste do Paraná. Fonte: SANTOS, 2008

Como relatamos anteriormente o fato da maioria dos alunos da Escola

Estadual Cristo redentor serem de origem rural, especificamente da agricultura

familiar, torna relevante a compreensão deste processo de formação espacial da

agricultura no sudoeste do Paraná, que embora com ritmo diferenciado, segue a

lógica estruturante de modernização capitalista do campo.

Durante a implementação do projeto os alunos foram trabalhando diferentes

assuntos relacionados a agricultura: conceitos de agricultura familiar, expansão do

capitalismo no campo, políticas públicas para o campo, modernização da agricultura

por meio de textos, aulas teóricas e palestras feitas por representantes de entidades

ligadas ao setor agrário do município. Foram organizados dois trabalhos de campo

em duas propriedades de agricultura familiar, onde os alunos tiveram a oportunidade

de fazerem perguntas aos proprietários e ouvirem a história de cada um deles em

relação a propriedade e da visão que tinham e que tem hoje a respeito da

organização e da produção da propriedade.

Nos trabalhos de campo realizados durante a aplicação do projeto foi

possível observar através dos relatos feitos pelos proprietários visitados, que a

modernização agrícola na forma em que foi implantada no Brasil trouxe

consequências negativas para esses agricultores, os dois proprietários vieram para

Nova Prata do Iguaçu na década de 1960, oriundos do Rio Grande do Sul na época

da colonização do município, quando chegaram a nova morada praticavam a

agricultura de subsistência e destinavam o excedente para o comércio, porém com o

passar do tempo e com vontade de aumentar os lucros com a propriedade, foram

convencidos em mecanizar suas propriedades e adquirirem máquinas agrícolas as

quais não correspondiam a suas realidades.

Passaram a plantar a soja que para eles iria trazer bons resultados, o que

segundo eles não aconteceu, os filhos conforme iam atingindo certa idade, vendo as

dificuldades em sobreviver buscavam melhores condições de vida na cidade.

Para o primeiro proprietário visitado esta situação começou a mudar depois

que dois filhos que permaneceram na propriedade, passaram a buscar

conhecimento e parcerias junto a EMATER e sindicato dos trabalhadores rurais do

município, com isso passaram a desenvolver novas práticas de produção e

organização, optaram em basear a produção da propriedade de 12 hectares na

produção de leite, olericultura e piscicultura, cuja produção é destinada ao comércio

local, segundo o proprietário a produção que não é maior pela falta de mão de obra

não é suficiente para atender a demanda de consumo.

Ainda de acordo com o proprietário a renda é suficiente para a sobrevivência

das duas famílias que trabalham na propriedade, sobrando para investir e melhorar

a estrutura da propriedade. Outra preocupação é em relação ao meio ambiente, pois

foi recuperada a mata ciliar próximo as nascentes de água e ao longo do curso do

córrego que passa na propriedade conseguindo água para o consumo das pessoas,

dos animais, para a irrigação da plantação e para abastecer os tanques onde é feito

a criação dos peixes.

Figura 1: Alunos em visita a açude de peixes.

Fonte: BONIN, 2011

A segunda propriedade visitada possui 20 hectares de terra. Segundo o

proprietário os três filhos do casal saíram de casa para trabalhar em São Paulo, com

o passar do tempo e com o avanço da idade não conseguia mais cuidar do sitio, que

era pouco lucrativo, estava prestes a vender a propriedade e morar na cidade, foi

quando os filhos decidiram que um deles iria voltar para cuidar dos pais e da

propriedade.

Segundo relato do filho, no inicio não foi muito fácil, pois a propriedade

estava bastante desestruturada, mas aos poucos foi investindo e buscando formas

de melhorar a renda, para isso buscou junto aos órgãos competentes formas e

projetos para tornar a propriedade viável, passando a investir principalmente na

produção de leite, e para a produção ser maior investiu na melhoria da pastagem,

manejo, irrigação, e outras formas para melhorar a produção e a renda que,

segundo relato, vem aumentando a cada dia.

Ainda foi relatado que na área que não é utilizada para pastagem é plantado

milho, feijão, soja e outros produtos os quais servem para o consumo e sobrando

para ser comercializado. Ao ser questionado sobre a pretensão de voltar a trabalhar

na cidade, o proprietário foi seguro em responder que não, pois o lucro que

consegue é muito superior que conseguiria trabalhando em outra atividade, portanto

conforme o mesmo para isso é preciso conhecimento, organização e incentivos dos

órgãos competentes.

FIGURA 2: Alunos em visita a irrigação de pastagem

Fonte: BONIN, 2011

Considerações Finais

Após a aplicação do projeto de intervenção pedagógica com os alunos, pode

ser percebido que mesmo os alunos sendo filhos de agricultores familiares, eles

trazem uma visão capitalista em relação à agricultura, isto se deve a maneira que foi

imposta e os objetivos da modernização agrícola no nosso país, outro problema

percebido é a falta de mão de obra, as pessoas não mostram interesse em trabalhar

na agricultura preferindo trabalhar na cidade. Diante desses resultados pode-se

perceber que as escolas localizadas em municípios que possuem sua economia

baseada na agricultura precisam trabalhar de forma distinta, de forma a levar esses

jovens a terem uma visão diferente e que através dela consigam organizar a

propriedade conseguindo viver da renda gerada por ela, sem precisarem sair em

busca de trabalho na cidade, para isso precisamos mudar nossa forma de trabalhar

com os alunos, ensinando e mostrando formas de organizar a propriedade e que as

políticas públicas sejam voltadas cada vez mais para a pequena propriedade de

agricultura familiar.

As atividades desenvolvidas foram importantes para ampliar o conhecimento

dos alunos a cerca da realidade local e inclusive possibilitar o conhecimento e o

reconhecimento do seu lugar, observando a construção dos conceitos essenciais da

geografia no contexto do cotidiano dos alunos.

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