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ABR/JUN 2009 51 Consórcios internacionais de empresas de construção civil: o caso da Mota-Engil C A S O S por Susana Costa e Silva e Maria João de Sousa Consórcios internacionais de empresas de construção civil O caso da Mota-Engil RESUMO: A escolha, uso e gestão dos modos de entrada constitui uma componente crítica na estratégia de empre- sas internacionais que tem sido amplamente estudada ao nível do negócio internacional. Dentro dos modos de entrada, todavia, uma menor atenção tem sido dada aos modos de entrada como forma de acesso a mercados internacionais. Este estudo procura responder à questão de «como» internacionalizar, perspectivando o consórcio como o modo mais exequível de entrada em determinados mercados por parte das empresas de construção. As razões que determinam a sua escolha têm a ver com aspectos respeitantes às especificidades dos projectos, dos mercados e da empresa em causa. Na primeira parte deste estudo, é apresentada revisão de literatura relativa- mente a consórcios enquanto modo de entrada e instrumento de internacionalização utilizado pelas empresas de construção. Dali resulta uma matriz de análise que revela as motivações conducentes à sua escolha. Na segunda parte, é exposto o estudo de caso do grupo Mota-Engil, como fonte potencial de informação que poderá contribuir para a compreensão do fenómeno em estudo noutros contextos. O caso permite corroborar as motivações encon- tradas para a formação de consórcios. O estudo termina com um conjunto de contributos, limitações e sugestões para futuras investigações. Palavras-chave: Consórcio, Internacionalização, Modos de Entrada, Construção TITLE: Consortia in the internationalization of construction firms - a case study ABSTRACT: The choice, use and management of foreign operation modes are an important component of interna- tional business strategy, which has been widely studied within international business literature. However, amongst the entry modes, there is one that has been receiving less attention: consortia. This study intends to answer the question of «how» to internationalize, anticipating the consortium as the most feasible way for construction firms to enter in certain markets. The reasons which determine its choice are related with aspects concerning the speci- ficity of the projects, markets and of the firm in question. In the first part of the study, is introduced the revision of literature already existing about consortia as an entry mode and a tool of internationalization used by construction firms, resulting in a framework which reveals the motivations that lead to their choice. In the second part, it is pre- sented the case study of Mota-Engil, as a potential source of valuable information which may contribute to the understanding of the phenomenon under study. The case-study allows corroborating the motivations found to cre- ate the consortia. The study culminates with a combination of contributions, limitations and suggestions for future researches. Key words: Consortia, Entry Modes, Internationalization, Construction

Consórcios internacionais de empresas de construção civil · ABR/JUN 2009 51 Consórcios internacionais de empresas de construção civil: o caso da Mota-Engil CAS O S por Susana

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ABR/JUN 2009 51 Consórcios internacionais de empresas de construção civil:

o caso da Mota-Engil

C A S O S

por Susana Costa e Silva e Maria João de Sousa

Consórcios internacionais de empresas

de construção civil

O caso da Mota-Engil

RESUMO: A escolha, uso e gestão dos modos de entrada constitui uma componente crítica na estratégia de empre-

sas internacionais que tem sido amplamente estudada ao nível do negócio internacional. Dentro dos modos de

entrada, todavia, uma menor atenção tem sido dada aos modos de entrada como forma de acesso a mercados

internacionais. Este estudo procura responder à questão de «como» internacionalizar, perspectivando o consórcio

como o modo mais exequível de entrada em determinados mercados por parte das empresas de construção. As

razões que determinam a sua escolha têm a ver com aspectos respeitantes às especificidades dos projectos, dos

mercados e da empresa em causa. Na primeira parte deste estudo, é apresentada revisão de literatura relativa-

mente a consórcios enquanto modo de entrada e instrumento de internacionalização utilizado pelas empresas de

construção. Dali resulta uma matriz de análise que revela as motivações conducentes à sua escolha. Na segunda

parte, é exposto o estudo de caso do grupo Mota-Engil, como fonte potencial de informação que poderá contribuir

para a compreensão do fenómeno em estudo noutros contextos. O caso permite corroborar as motivações encon-

tradas para a formação de consórcios. O estudo termina com um conjunto de contributos, limitações e sugestões

para futuras investigações.

Palavras-chave: Consórcio, Internacionalização, Modos de Entrada, Construção

TITLE: Consortia in the internationalization of construction firms - a case study

ABSTRACT: The choice, use and management of foreign operation modes are an important component of interna-

tional business strategy, which has been widely studied within international business literature. However, amongst

the entry modes, there is one that has been receiving less attention: consortia. This study intends to answer the

question of «how» to internationalize, anticipating the consortium as the most feasible way for construction firms

to enter in certain markets. The reasons which determine its choice are related with aspects concerning the speci-

ficity of the projects, markets and of the firm in question. In the first part of the study, is introduced the revision of

literature already existing about consortia as an entry mode and a tool of internationalization used by construction

firms, resulting in a framework which reveals the motivations that lead to their choice. In the second part, it is pre-

sented the case study of Mota-Engil, as a potential source of valuable information which may contribute to the

understanding of the phenomenon under study. The case-study allows corroborating the motivations found to cre-

ate the consortia. The study culminates with a combination of contributions, limitations and suggestions for future

researches.

Key words: Consortia, Entry Modes, Internationalization, Construction

REVISTA PORTUGUESA E BRASILEIRA DE GESTÃO52

C A S O S

Susana Costa e Silva e Maria João de Sousa

Susana Costa e Silva

[email protected]

Doutora em Marketing e Negócio Internacional (University College Dublin, Irlanda). Professora Auxiliar da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade

Católica Portuguesa, Porto, Portugal. Directora do Mestrado em Marketing, Directora do Departamento de Marketing e Investigadora do Centro de Estudos

de Gestão e Economia dessa faculdade. Consultora nas áreas de Marketing e Negócio Internacional.

PhD in Marketing (University College de Dublin, Ireland). Senior Lecturer of Economics and Management Faculty of Portuguese Catholic University, Oporto,

Portugal. Director of the MSc in Marketing, Director of the Marketing Department and Researcher at CEGE of that college. Consultant in Marketing and

International Business.

Doctorada en Marketing y Negocio Internacional (University College Dublin, Irlanda). Profesora Auxiliar de la Faculdade de Economia e Gestão da

Universidade Católica Portuguesa, Porto, Portugal. Directora de la Maestría en Marketing, Directora del Departamento de Marketing e Investigadora del

Centro de Estudos de Gestão e Economia de la misma universidad. Consultora en las áreas del Marketing y Negocio Internacional.

Maria João Guedes de Sousa

[email protected]

Mestre em Marketing (UCP). Monitora da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica Portuguesa, Porto, Portugal.

MSc in Marketing (UCP). Tutor of Economics and Management Faculty of Portuguese Catholic University, Oporto, Portugal.

Máster en Marketing (UCP). Monita de la Facultad de Economía y Gestión de Empresas Universidad Católica Portuguesa, Porto, Portugal.

Recebido em Novembro de 2008 e aceite em Maio de 2009.

Received in November 2008 and accepted in May 2009.

em Portugal, tem sido característico de um determinado sec-

tor de actividade: o sector da construção, nomeadamente na

sua vertente internacional. Neste seguimento, a questão que

se coloca é: como é que os consórcios permitem às empre-

sas internacionalizar-se? Procurar-se-ão ainda delinear

quais as determinantes que levam à escolha deste modo de

entrada por parte das empresas para traçar a sua estratégia

internacional.

Na literatura anglo-saxónica os consórcios são tratados

como non-equity joint ventures e distinguem-se das equity

joint ventures (EJV) por não envolverem a criação de uma

e forma a conseguir expandir a sua actuação a outros

países, a empresa necessita de definir de forma clara

e categórica a sua estratégia no que respeita aos

modos de entrada. De entre os vários modos de entrada à

disposição das empresas, nenhum pode ser apontado como

o melhor, devendo antes considerar-se a existência daquele

que melhor se adequa a determinado contexto (Chang,

1995; Folta, 1998; Hennart, 1991; Reddy et al., 2002; Wil-

liamson, 1991).

Neste artigo, pretende-se estudar um dos modos de

entrada em particular: o consórcio. Este modo de entrada,

D

TITULO: Consorcios internacionales de empresas de construción civil: el caso de Mota-Engil

RESUMEN: La selección, uso y manejo de los modos de entrada es un componente crítico en la estrategia de las

empresas internacionales que han sido ampliamente estudiados en el comercio internacional. Entre los modos de

entrada, sin embargo, se ha dado menos atención a los modos de entrada como un medio de acceso a los mercados

internacionales. Este estudio trata de responder a la pregunta “cómo” internacionalizar, observa al consorcio como

el modo más factible de entrada en determinados mercados de las empresas de construcción. Las razones que deter-

minan la elección tienen que ver con aspectos relativos a proyectos específicos, los mercados y la empresa de que se

trate. En la primera parte de este estudio se presenta la revisión de literatura sobre los consorcios, como forma de

entrada y la herramienta utilizada por la internacionalización de las empresas de construcción. Sigue una serie de

análisis que pone de manifiesto las razones de su elección. La segunda parte se expone a un estudio de caso del grupo

Mota-Engil, como una fuente potencial de información que puede contribuir a la comprensión del fenómeno en estu-

dio en otros contextos. El caso permite que las motivaciones encontradas que apoyan la formación de consorcios. El

estudio concluye con una serie de contribuciones, limitaciones y sugerencias para futuras investigaciones.

Palabras clave: Consorcio, La Internacionalización, La Entrega, La Construcción

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C A S O S

Consórcios internacionais de empresas de construção civil:

o caso da Mota-Engil

Vahlne, 1977; e Teoria das Redes – Johanson e Mattsson,

1988; Axelsson e Johanson, 1992).

Independentemente da explicação que conduz à abor-

dagem internacional, a contratação é considerada como

uma opção entre três, sendo as outras duas a exportação e

o investimento directo estrangeiro (ver Figura 1).

entidade à parte, dotada de personalidade jurídica, através

da contribuição equitativa de capital dos parceiros da

cooperação (Erramilli et al., 2002; Hagedoorn e Narula,

1996). Surge aqui a peculiaridade deste modo de entrada,

que permite às empresas agruparem-se, num determinado

período de tempo, para partilhar recursos, dividir riscos e

dissolver facilmente a cooperação, após a finalização do

projecto. Esta forma de entrada parece estar pouco explo-

rada na literatura de negócios internacionais (Ireland et al.,

2002; Kumar e Nti, 1998; Narula e Dunning, 1998; Reuer

e Arino, 2002), o que suscita um maior interesse no seu

estudo.

A elevada frequência do recurso ao consórcio, bem como

as várias situações em que este se aplica, justificam a neces-

sidade de aprofundar o tema, sendo por isso o nosso objec-

tivo inferir em que medida este modo de entrada potencia a

internacionalização das empresas.

Revisão de literatura

• Os consórcios como modo de entrada

Na tentativa de melhor compreender o que é que leva as

empresas a estender as suas actividades a novos mercados

internacionais, procuramos focar-nos nas explicações cuja

unidade de análise é a empresa. Dentro destas, uma parte

importante dedicou-se essencialmente ao estudo das multi-

nacionais e às razões que levam as empresas a tornarem-se

multinacionais (Teoria do Ciclo de Vida do Produto – Vernon,

1966; Paradigma OLI – Dunning, 1971; e Teoria da Inter-

nalização – Buckley e Casson, 19761).

Outras explicações, porém, assumem uma maior interac-

tividade e dinamismo em termos de decisões, debruçando-se

essencialmente sobre a concretização de acções sobre a

forma como a empresa perspectiva o seu futuro em merca-

dos internacionais (Teoria da Internacionalização por

Estágios – Johanson e Wiedersheim-Paul, 1975; Johanson e

Figura 1

Classificação básica dos modos de entrada

em mercados internacionais

A elevada frequência do recurso ao consórcio,

bem como as várias situações em que este se aplica,

justificam a necessidade de aprofundar o tema,

sendo por isso o nosso objectivo inferir em que medida

este modo de entrada potencia a internacionalização

das empresas.

De facto, apesar da literatura existente neste âmbito ofere-

cer diversas tipologias de classificação dos modos de entra-

da, estas coincidem, geralmente, nos critérios de análise:

risco e grau de controlo. Anderson e Gatignon (1986) defen-

dem que o modo de entrada óptimo resulta dum trade-off

entre o grau de controlo que a empresa pretende exercer e

o nível de risco que esse objectivo implica.

Assim, podem classificar-se os modos de entrada de acor-

do com as variáveis controlo, risco e flexibilidade, de onde

resultam três grupos:

• Modos de Exportação: baixo controlo, baixo risco, elevada

flexibilidade;

• Modos Contratuais: controlo e risco partilhados, pro-

priedade partilhada;

• Modos de Investimento: elevado controlo, elevado risco,

baixa flexibilidade.

De acordo com esta tipologia, o consórcio constitui um

modo de entrada contratual. Este género de contratos

ocorre quando as empresas detêm algum tipo de van-

tagem competitiva e, isoladamente, não são capazes de

tirar partido dela por vários constrangimentos, embarcan-

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C A S O S

Susana Costa e Silva e Maria João de Sousa

figura jurídica, e tendo por base a análise teórica que lhe é

dada em termos de literatura de negócios internacionais,

constitui uma non-equity e non-corporate joint venture. Por

outro lado, sendo uma figura jurídica relativamente comum

em Portugal, não o é noutros países, merecendo portanto a

nossa atenção a realidade neste país.

• Os consórcios na actividade de construção

A literatura existente em termos de marketing da activi-

dade de construção internacional é muito escassa (El-Higzi,

2001). A construção constitui uma prestação serviços e, co-

mo tal, é uma actividade de grande complexidade por todas

as características próprias, inerentes à natureza não conven-

cional dos serviços. A indústria da construção caracteriza-se

por ser de capital intensivo, sendo a disponibilidade finan-

ceira um factor decisivo.

do em actividades de cooperação com outras empresas e

organizações.

O consórcio ou contratual joint venture é formado tendo

como alvo a execução de um determinado projecto de

duração limitada (Sillars e Kangari, 2004), que, pelas suas

especificidades, normalmente risco e investimento elevado,

requer o trabalho conjunto de duas ou mais empresas para

atingir um objectivo comum. São acordos de cooperação

formais entre empresas que não envolvem a partilha de

capital nem a criação de uma nova entidade legal. As

partes mantêm portanto a sua autonomia jurídica e estra-

tégica.

No âmbito da tipologia das joint ventures, os consórcios

de construção internacional podem ser definidos:

• quanto à nacionalidade: tanto podem ser apenas consti-

tuídos por empresas nacionais, como englobar também

empresas internacionais. Este aspecto depende em grande

parte das especificidades dos mercados onde a empresa

pretende realizar a sua incursão;

• quanto à participação financeira: consideram-se non-equi-

ty joint ventures, uma vez que as empresas parceiras não

contribuem com capital no momento da associação de

interesses (Chan et al., 1997; Sengupta e Perry, 1997);

• quanto às partes envolvidas: no caso em estudo, os con-

sórcios são maioritariamente privados, constituídos ape-

nas por empresas de direito privado. Contudo, verificam-se

algumas excepções para consórcios mistos, sempre que

empresas estatais que dominam o mercado, em determi-

nada actividade especializada, participam em consórcios

com empresas privadas;

• quanto à forma jurídica: consideram-se non-corporate

joint ventures, dado os consórcios serem uma forma de

cooperação entre empresas não dotada de personalidade

jurídica, «com um carácter simplificado e flexível, sem pôr

em causa a autonomia jurídica e a independência

económica de cada um dos consorciados» (Vasconcelos,

1999, p. 19);

• quanto à duração: consideram-se joint ventures tran-

sitórias, já que este tipo de «cooperação entre empresas é

de carácter temporário, limitada a objectivos concretos e

determinados» (Vasconcelos, 1999, p. 20).

Desta análise importa realçar que o consórcio, enquanto

As actividades de construção internacional

são marcadas pela combinação das capacidades

de gestão de negócio e de projecto com a mobilidade

de factores de produção e com a localização e ligação

entre as indústrias de suporte. Além dos riscos típicos

inerentes a um projecto de construção doméstica,

a nível internacional, as empresas estão sujeitas

a uma complexa e subtil rede de riscos políticos,

económicos e culturais.

Por outro lado, há factores que impulsionam o crescimen-

to internacional das empresas desta indústria, como é o caso

da assistência governamental sob a forma de tratados

económicos que reduzem as barreiras do comércio, dos pro-

gramas de assistência à exportação e dos pacotes de ajuda

(El-Higzi, 2001; Gunhan e Arditi, 2005). Para além disso,

uma parte importante do negócio da construção é fomenta-

do pelo investimento público (Tiong, 1990; Ye e Tiong,

2000), pelo que é fundamental a empresa obter suporte

político para o projecto de construção que pretende desen-

volver (Ling et al., 2005).

A construção internacional difere da construção doméstica

em diversas áreas. As actividades de construção interna-

cional são marcadas pela combinação das capacidades de

gestão de negócio e de projecto com a mobilidade de fac-

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C A S O S

Consórcios internacionais de empresas de construção civil:

o caso da Mota-Engil

tores de produção e com a localização e ligação entre as

indústrias de suporte (Ling et al., 2005). Além dos riscos típi-

cos inerentes a um projecto de construção doméstica, a nível

internacional, as empresas estão sujeitas a uma complexa e

subtil rede de riscos políticos, económicos e culturais (Ashley

e Bonner, 1987; Han e Diekmann, 2001).

Como já se disse, na literatura existente é dado pouco

relevo ao estudo dos consórcios, enquanto modo de entra-

da. O foco está reservado às EJV, sendo os consórcios trata-

dos de forma muito superficial (Beamish e Banks, 1987; Luo

e Park, 2004; Wang e Nicholas, 2007). Em termos de con-

sórcios, no sector de construção, os estudos existentes são

ainda mais escassos, sendo os modos de entrada tratados

de forma generalista.

Este estudo concentra-se no consórcio enquanto escolha

resultante de um possível trade-off entre controlo e compro-

misso de recursos, já que o que acontece é que, perante um

projecto de grande dimensão, em que o montante de recur-

sos necessários para investimento é elevado, as empresas,

individualmente, conseguem reduzir o montante de recursos

por si investidos ao formar um consórcio com outras empre-

sas. O consórcio é, por isso, frequentemente escolhido por

cumprir uma série de objectivos e se enquadrar nas

restrições que se colocam às empresas de construção, dadas

suas características intrínsecas, como se procura demonstrar

na Figura 2.

Devido à natureza complexa das actividades, do processo,

do ambiente e da organização dos negócios de construção,

as empresas estão bastante expostas a um elevado nível de

risco (Bing et al., 1999). Assim, vários investigadores identi-

ficaram a partilha do risco como uma motivação importante

para constituir alianças inter-empresariais (Kogut, 1991;

Oliver, 1990; Powell, 1987), que, como o consórcio, trans-

ferem risco e controlo para outras empresas (Brouthers,

1995).

O investimento é também um factor particularmente

condicionante da actuação das empresas de construção.

Este é um sector de capital intensivo em que, para se con-

seguir levar a cabo os projectos, é necessário um grande

nível de compromisso de recursos e, por conseguinte, um

avultado investimento. Desta forma, as empresas de cons-

trução juntam-se em consórcios para contribuir com recursos

físicos, de capacidade, de experiência ou de financiamento

(Badger et al., 1995; Chan et al., 1997) necessários à real-

ização do projecto.

Ao formarem consórcios, alcança-se também a dimensão

necessária para a adjudicação dos projectos de grande

envergadura. As empresas de menor dimensão, por exem-

plo, encontram nos consórcios uma oportunidade de cresci-

mento e de realização de receitas ao tornarem-se parceiras

de empresas maiores e com mais recursos (Sillars e Kangari,

2004).

Por não implicarem propriedade comum nem a cons-

tituição de uma entidade legal à parte, os consórcios pro-

porcionam uma maior flexibilidade estratégica. Enquanto

alianças non-equity, os consórcios oferecem uma maior

margem de manobra na tomada de decisão (Das e Teng,

1996).

Este modo de entrada funciona ainda como uma forma de

ultrapassar as barreiras à entrada impostas, em muitos mer-

cados, pelas empresas locais que se unem de forma a difi-

cultar o acesso da concorrência externa. Ao constituírem

consórcios com parceiros locais, as empresas estrangeiras

conseguem obter um maior grau de abertura às suas activi-

dades, por parte das entidades do país de destino (Shen e

Wu, 2001).

Metodologia

Pretende-se compreender o processo pelo qual os eventos

e as acções ocorrem. Neste seguimento, o estudo de caso

representa-se como uma solução a seguir, já que, neste

caso, o grau de controlo exercido pelo investigador sobre os

eventos não existe, e uma vez que o estudo se centra num

fenómeno actual no seu contexto natural (Yin, 1994). Para

além disso, a necessidade de recolher informação detalha-

da junto dos gestores de topo revelou-se como a via mais

apropriada a seguir em termos de metodologia de investi-

gação qualitativa (Whitla et al., 2006).

Já no que diz respeito à escolha do caso da Mota-Engil,

actualmente o maior grupo de construção em Portugal, jus-

tifica-se pelo extenso uso dos consórcios enquanto instru-

mento de internacionalização por parte daquela empresa.

Os consórcios são tradicionalmente encarados como sendo,

frequentemente, a única opção de entrada nalguns merca-

REVISTA PORTUGUESA E BRASILEIRA DE GESTÃO56

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Susana Costa e Silva e Maria João de Sousa

dos. Assim, este caso ajuda a perceber e a explicar as moti-

vações que conduzem as empresas no sentido da adopção

deste modo de entrada, podendo ainda contribuir para

instruir possíveis acções de gestão em áreas afins.

O caso da Mota-Engil

A construção constitui o sector que mais emprego gera, a

nível europeu, dado que dele dependem actualmente 26

milhões de trabalhadores, directa ou indirectamente2.

O alargamento da União Europeia a muitos dos países

do ex-Bloco de Leste tem levado à criação de novas oportu-

nidades de negócio e consequentes operações interna-

cionais de expansão para novos mercados, sendo o Leste da

Europa a zona onde mais projectos se têm desenvolvido. As

grandes construtoras europeias cruzam-se então em concur-

sos públicos de países como a Polónia, República Checa,

Figura 2

Motivações para a escolha do consórcio no sector da construção

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C A S O S

Consórcios internacionais de empresas de construção civil:

o caso da Mota-Engil

Eslováquia, Hungria, Roménia, Ucrânia e Rússia, associadas

normalmente a empresas locais de alguma dimensão, pelo

conhecimento das mesmas ao nível do mercado, legislação,

aspectos ambientais e de segurança.

Por outro lado, em África, o grande boom da construção

tem-se verificado em Angola, até ao ano passado com um

crescimento de 26% ao ano, o que permite a entrada de

muitas construtoras portuguesas nesse mercado. De referir,

ainda, a ameaça que as empresas chinesas constituem, ao

nível da concorrência, apesar da qualidade dos trabalhos

desenvolvidos ficarem aquém do standard de qualquer

empresa europeia do sector. Este menor índice de qualidade

percebida naquelas empresas é essencialmente decorrente

da utilização de mão-de-obra chinesa de baixo custo, da

oferta de serviços em troca de contrapartidas comerciais

com o apoio do Estado chinês e da prática de dumping nos

preços de mercado.

A Mota-Engil, um dos principais grupos económicos priva-

dos em Portugal, explora e desenvolve um portfólio integra-

do de negócios centrado na cadeia de valor da construção

com níveis de desempenho alinhados com as melhores

práticas internacionais. Líder no mercado nacional, o grupo

ocupa, a nível europeu, a 67.ª posição no ranking das maio-

res empresas no sector da construção3. O mercado interna-

cional representava, em 2007, 43% da actividade de cons-

trução do grupo4, actualmente presente em 20 países.

Na estratégia do grupo Mota-Engil, os consórcios cons-

tituem meios singulares de abordagem dos mercados sob

determinadas circunstâncias que formam um conjunto de

motivações, tal como foi atrás descrito na Figura 1. Por seu

lado, a Figura 3 enquadra os consórcios do grupo Mota-

-Engil no âmbito dessas mesmas motivações, mostrando que

estas se encontram presentes aquando do processo de

tomada de decisão relativo ao modo de entrada a adoptar.

(ver Figura 3, p. 58).

• O risco

O sector da construção é, como já foi referido, de elevado

risco associado (Zhi, 1999), pelo tipo de serviço que presta,

pois envolve sempre grandes investimentos e enormes

exigências em termos de disponibilidade de meios técnicos e

humanos. Quando o grupo pretende executar determinado

projecto, o consórcio surge como o meio adequado para a

disseminação do risco. Isto porque, em consórcio, o risco

inerente ao projecto deixa de incidir apenas sobre uma

empresa, para passar a ser repartido pelos consorciados

(Ling et al., 2005). O risco é, assim, menor para cada

empresa individualmente.

As chamadas «obras de arte»5, sempre dotadas de eleva-

da complexidade técnica e elevados índices de segurança,

são maioritariamente executadas em consórcio, com vista à

minimização do risco associado. Em vários países do conti-

nente africano, cuja entrada implica um risco considerável,

sobretudo nos casos de risco político elevado, o consórcio

constitui o modo de actuação adoptado pela Mota-Engil,

com vista a garantir algum apoio entre os parceiros da

cooperação.

• O investimento

Os projectos de grande dimensão exigem um nível subs-

tancial de investimento em termos de recursos, que uma só

empresa nem sempre é capaz de colmatar. A solução encon-

trada pelo grupo é a de, em conjunto com outras empresas

especializadas, formar um consórcio forte para reunir recur-

sos financeiros, físicos e de know-how e partilhar riscos.

Por exemplo, este tipo de cooperação é o instrumento uti-

lizado pela Mota-Engil para conseguir realizar aquela que é

considerada a maior obra de construção civil da cidade de

Luanda, em Angola: as Torres Atlântico, com um investimen-

to de 110 milhões de euros. O mesmo ocorre em

Moçambique, onde o consórcio Mota-Engil/Soares da Costa

executa a Ponte sobre o Rio Zambeze, a maior infra-estrutu-

ra realizada no país desde a sua independência, orçada em

66 milhões de euros. O facto de ser uma obra que implica

a mobilização de recursos materiais e humanos de grande

importância e especificidade, dita a necessidade da for-

mação de um consórcio de forma a serem conseguidos os

montantes de investimento necessários.

• A flexibilidade

Quando o objectivo da cooperação está perfeitamente

definido num determinado prazo curto e pré-estabelecido, o

grupo procura materializá-la sob a forma de um contrato

flexível que lhe permita dissolvê-la, sem restrições, aquando

REVISTA PORTUGUESA E BRASILEIRA DE GESTÃO58

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Figura 3

Motivações do grupo Mota-Engil para a escolha do consórcio

da finalização do projecto a que se destina (Wang e

Nicholas, 2007). O consórcio é a opção tomada por não

implicar a constituição de uma entidade legal resultante do

investimento de capital entre as partes (Wang, 2007). Cada

parte coopera como uma entidade legal separada e supor-

ta as suas próprias responsabilidades. O consórcio está

sujeito ao mínimo de barreiras administrativas, consumindo

menos tempo e sendo mais económico, em termos buro-

cráticos, do que as EJV.

Frequentemente, o consórcio funciona para a Mota-Engil

como «porta» de entrada em determinados países. O objec-

tivo é angariar conhecimento local e procurar estabelecer

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Consórcios internacionais de empresas de construção civil:

o caso da Mota-Engil

uma rede de contactos no país de acolhimento (Strassmann,

1898), para depois poder passar a uma actuação autónoma

que lhe permita começar a cimentar uma posição de mer-

cado e a melhorar o nível de flexibilidade das opções

tomadas. O mesmo se aplica a obras de prazo pré-definido

e curto, como a Ponte sobre o Rio Catumbela, na província

angolana de Benguela.

O condicionalismo do tempo aponta no sentido de um

modo de actuação que possa ser diluído facilmente no

momento da conclusão da obra, sem implicar, para os par-

ceiros, altos custos de saída irrecuperáveis. Para o grupo, o

atributo flexibilidade significa a adaptabilidade do consórcio

aos locais onde se encontra a operar e aos meios de que dis-

põe.

• A dimensão

Quando o projecto a concurso é de elevada dimensão, o

que acontece designadamente em mercados internacionais,

e exige um grande esforço de investimento, o usual é o

grupo tentar concorrer em consórcio à adjudicação da obra.

Procura associar-se a outras empresas que detenham a

experiência e a capacidade técnica necessárias para a reali-

zação do projecto. A complementaridade das empresas em

termos de equipamentos, recursos humanos e know-how

torna o consórcio capaz de conseguir a dimensão e organi-

zação imprescindíveis para a concretização da obra a con-

curso.

Por outro lado, em mercados de forte crescimento, o

grupo sente necessidade de aceder aos concursos em con-

sórcio com players internacionais. Isto porque, apesar de

líder no mercado doméstico, nem sempre a Mota-Engil pos-

sui a força e a dimensão necessárias para ombrear com as

maiores empresas do sector a nível internacional.

A importância da abordagem sob consórcios, em determi-

nados mercados, está também relacionada com a intensi-

dade da concorrência aí presente. Os mercados da Europa

Central e de Leste, por exemplo, altamente concorrenciais e

atractivos, deixam antever uma luta feroz entre os gigantes

do sector com uma dimensão superior à do grupo, a actuar

de forma isolada. Daí serem mercados onde se revela cru-

cial a entrada via consórcios, já que estes proporcionam a

concentração de empresas associadas por um objectivo

comum (Terpstra e Simonin, 1993), limitando assim a acção

da concorrência, uma vez que os concorrentes passam fre-

quentemente a parceiros em consórcio.

• As barreiras à entrada

Em mercados com reduzido grau de abertura ao investi-

mento estrangeiro e com elevado grau de proteccionismo,

os consórcios com empresas locais constituem uma forma

do grupo conseguir entrar e conquistar awareness para

poder, posteriormente, desenvolver as suas actividades

(Kogut, 1988; Ling et al., 2005). Os parceiros, estrangeiros

e locais, podem complementar-se mutuamente: as empresas

domésticas, têm melhor conhecimento das condições de tra-

balho locais, da localização das fontes de recursos humanos

e materiais, enquanto as empresas estrangeiras trazem para

o consórcio um grande nível de expertise em termos finan-

ceiros, tecnológicos e de gestão (Raftery et al., 1998).

O mercado espanhol é apontado como um bom exemplo

desta situação. Devido ao forte proteccionismo e associa-

tivismo que caracteriza o sector de construção espanhol,

torna-se difícil para uma empresa estrangeira conseguir

actuar nesse mercado. Daí que, até hoje, o grupo considere

ainda não ter realizado obras de referência no sector da

construção em Espanha. E aponta como possível causa o

facto de ainda não ter conseguido formar nenhum consórcio

com empresas espanholas para a adjudicação de projectos.

Por outro lado, a Martifer (empresa do grupo) é já a

empresa de construções metálicas mais forte em Espanha.

A explicação pode residir no facto de esta empresa ter ante-

riormente formado um consórcio com a Somague, que é

espanhola. Porventura daí terá surgido o convite feito à

Martifer para trabalhar em Espanha.

O envolvimento estatal neste sector é elevado, tendo sido

O consórcio funciona para a Mota-Engil como «porta»

de entrada em determinados países. O objectivo

é angariar conhecimento local e procurar estabelecer

uma rede de contactos no país de acolhimento,

para depois poder passar a uma actuação autónoma

que lhe permita começar a cimentar uma posição

de mercado e a melhorar o nível de flexibilidade

das opções tomadas.

REVISTA PORTUGUESA E BRASILEIRA DE GESTÃO60

C A S O S

Susana Costa e Silva e Maria João de Sousa

identificada, em estudos anteriores, uma série de barreiras

legais impostas por alguns governos à entrada das empre-

sas de construção internacionais. Muitas vezes, os governos

favorecem as empresas locais em detrimento dos constru-

tores internacionais, estipulando que o projecto deve ser

concluído por um construtor nacional.

A incompatibilidade dos standards técnicos dos diferentes

países é outra dificuldade enfrentada pelas empresas de

construção a actuar internacionalmente (Whitla et al., 2006).

Assim, mesmo que o grupo tenha o investimento necessário

para embarcar em determinado projecto e a sua aversão ao

risco seja reduzida ao ponto de não sentir necessidade de

encetar um processo de cooperação, as barreiras à entrada

levantadas pelo governo e pelas empresas locais fazem,

muitas vezes, do consórcio a única alternativa para con-

seguir penetrar nesses mercados.

Conclusão

• Principais contributos

A nível científico, este estudo contribui para aprofundar o

conhecimento de um modo de entrada que parece pouco

explorado em termos de literatura de negócios interna-

cionais. Em termos de estratégia empresarial, o consórcio

mostra-se como uma ferramenta de uso recorrente para a

abordagem dos mercados internacionais por parte das

empresas de construção. Esta investigação ajuda ainda a

compreender os motivos e os benefícios que levam as

empresas a optar pelo consórcio, contribuindo ainda para

uma caracterização mais completa deste modo de entrada.

A matriz de análise do consórcio proposta neste artigo

pode contribuir para avaliar a performance deste instrumen-

to de internacionalização ao alcance das empresas. Pelo

confronto entre as motivações que levam à internacionaliza-

ção com as lacunas que o consórcio procura suprir, poder-

-se-á concluir acerca da utilidade e adequação deste modo

de entrada face a determinada conjuntura. Assim, na com-

paração entre as diferentes alternativas, o consórcio surge

como a ideal perante uma sequência de condicionalismos

que o colocam como a única forma que a empresa dispõe

para concretizar determinada estratégia de internacionaliza-

ção. São factores como o investimento, o risco, a flexibili-

dade, a dimensão e as barreiras à entrada que funcionam

como motivações à formação de consórcios e estão rela-

cionados com as especificidades do projecto, do mercado e

da empresa, conforme demonstra a esquematização da

Figura 4 (ver p. 61).

Em consórcio, as empresas:

• conseguem diluir o risco inerente aos projectos e merca-

dos internacionais;

• alcançam o investimento necessário à internacionalização;

• garantem alguma flexibilidade de decisão num ambiente

de grande instabilidade e em constante mutação como

são os mercados internacionais;

• conquistam a dimensão conjunta imprescindível à adjudi-

cação e execução dos grandes projectos;

• contornam as barreiras à entrada instauradas pelo go-

verno do país de destino e pela associação dos empre-

sários locais que dificultam a actuação externa.

Enquanto modo de entrada, o consórcio possibilita a inter-

nacionalização, visto constituir uma ferramenta de ajuste da

empresa às condicionantes internas e externas da sua

expansão a novos mercados. Este facto pode representar

uma importante implicação deste estudo ao nível da gestão.

Esta perspectiva, segundo a qual este modo de entrada pode

funcionar como solução para os problemas com que, muitas

vezes, os gestores se deparam, poderá ser incluída na pon-

deração estratégica realizada aquando da delineação da

actividade internacional das empresas.

Em vez de colocarem de parte determinados projectos e

mercados por não se acharem detentoras das forças

necessárias à dissipação das suas fraquezas e à ultrapas-

sagem das ameaças características da abordagem interna-

cional, as empresas devem perspectivar o consórcio como o

meio de acesso às novas oportunidades que se lhes colocam

quotidianamente.

Assim, mesmo que o grupo tenha o investimento

necessário para embarcar em determinado projecto

e a sua aversão ao risco seja reduzida ao ponto de não

sentir necessidade de encetar um processo

de cooperação, as barreiras à entrada levantadas

pelo governo e pelas empresas locais fazem,

muitas vezes, do consórcio a única alternativa

para conseguir penetrar nesses mercados.

ABR/JUN 2009 61

C A S O S

Consórcios internacionais de empresas de construção civil:

o caso da Mota-Engil

• Limitações do estudo e sugestões para futuras in-

vestigações

Uma das limitações deste estudo prende-se com a opção

metodológica do estudo de caso. O facto de se ter

enveredado pela utilização de um design de caso único

pode comprometer as potencialidades de generalização

analítica, dadas as especificidades da empresa estudada.

Contudo, julga-se que a sua escolha permitiu desenvolver

um caso adequado por dar resposta à questão de investi-

gação e acessível por ser susceptível de maior compreen-

são.

O propósito do estudo centrou-se na realização de entre-

vistas até ao ponto de saturação, a partir do qual os dados

a recolher já não acrescentam valor à investigação. Pensa-

-se, desta forma, que a representatividade qualitativa se

cumpre, tendo as entrevistas efectuadas fornecido infor-

Figura 4

Matriz de análise dos consórcios

REVISTA PORTUGUESA E BRASILEIRA DE GESTÃO62

C A S O S

Susana Costa e Silva e Maria João de Sousa

mação rica e possibilitado a constatação da concordância

dos entrevistados em relação aos temas questionados.

O alargamento desta investigação a outros casos repre-

sentativos da problemática em estudo constitui uma sugestão

para trabalhos futuros, passível de preencher as lacunas ao

nível da representatividade, atrás enunciadas. Poder-se-á

comparar os resultados obtidos neste estudo e conseguir

uma possível corroboração dos mesmos com a inclusão de

diferentes realidades empresariais. O enriquecimento das

ilações retiradas pode obter-se mediante a replicação em

empresas que actuam em contextos semelhantes, em termos

de actividade internacional.

Outra questão que poderá funcionar como ponto de par-

tida para estudos futuros é o confronto das estratégias adop-

tadas pelas empresas de construção nacionais, em termos

de modos de entrada, com as opções a esse nível por parte

das empresas estrangeiras. Será interessante averiguar a fre-

quência com que se coloca a opção do consórcio às cons-

trutoras internacionais. Sugere-se ainda a análise da con-

sonância das motivações e conjunturas que conduzem essas

empresas à eleição do consórcio, enquanto actuação inter-

nacional, com as que resultaram da análise realizada neste

estudo. Inferir acerca do peso que cada motivação, indivi-

dualmente, detém no momento da escolha do modo de

entrada, poderá ser outro ponto susceptível de investigação

futura. �

Notas

1. Para mais desenvolvimentos sobre as teorias explicativas da

internacionalização, ver Lorga (2003), Internacionalização e Re-

des de Empresas: Conceitos e Teorias, Editorial Verbo, Lisboa.

2. In Mota-Engil, 2007a.

3. In Deloitte, 2008.

4. In Mota-Engil, 2007b.

5. O termo «obras de arte», na actividade de construção, refere-se

a pontes, viadutos e túneis.

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