48
NRAU Novo Regime de Arrendamento Urbano O novo paradigma da política social da habitação Publicação da Responsabilidade de _ Distribuição Gratuita_ Janeiro de 2008_ nº1 Habitação e Reabilitação Urbana Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra Secretário de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades

Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

NRAUNovo Regime

de Arrendamento Urbano

O novo paradigmada política social da habitação

Publicação da Responsabilidade de _

Distribuição Gratuita_ Janeiro de 2008_ nº1

Habitação e Reabil itação Urbana

Construção Sustentávelno projecto Ponte da Pedra

Secretário de Estadodo Ordenamento do Territórioe das Cidades

Page 2: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

índice

editorial

habitação

Entrevista ao Prof. Dr. João Ferrão

Secretário de Estado

do Ordenamento do Território

e das Cidades

IHRU

Apresentação do novo IHRU

Instituto da Habitação

e da Reabilitação Urbana

habitação

Plano Estratégico

de Habitação 2007-2013

habitação

Programa “FeiraJovem”

Habitação a Custos Controlados

reabilitação urbana

Prémio INH/IHRU,

Prémio RECRIA

e Prémio ACESSIBILIDADE

_1

_2

Director:

Eng. Nuno Vasconcelos

Projecto e Produção:

Dr. Luís Macedo e Sousa

Design Gráfico e Paginação:

Maria Alexandra Silva

Conteúdos:

redacção da Causas Comuns

Impressão e Acabamento:

Gráfica Europam

Tiragem:

7.500 exemplares

Depósito Legal: 269353/07

nº1_Janeiro 2008

Causas Comuns é uma publicaçãoperiódica do Instituto da Habitaçãoe da Reabilitação Urbana

ficha técnica

_8

inovação

Habitação Sustentável

no projecto Ponte da Pedra

reabilitação urbana

Bairro das Alagoas

reabilitação urbana

Projecto Rabo de Peixe

habitação social

Bairros Críticos:

Cova da Moura, Lagarteiro,

Vale da Amoreira

arrendamento

NRAU - Novo Regime

de Arrendamento Urbano

arrendamento

Porta 65 - Jovem

_9

_14

_17

_22

_26

_30

_38

_33

_42

Page 3: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

editorial

SEDE

Av. Columbano Bordalo

Pinheiro, nº 5,

1099-019 LISBOA

Telefone_ 217231500

FAX_ 217260729

contactos

A Habitação e tudo o que significa enquanto conceito civilizacional e depromessa de dignidade humana, e a Reabilitação Urbana, num sentido deredescoberta, identificação e memória são, tendem a ser cada vez maisCausas Comuns.

O novo Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana corresponde ànecessidade e expectativa de encontrar respostas adequadas à medida dosdesafios que se colocam no que à habitação se refere.“Uma habitação acessível, adequada e integrada na malha urbana, contribuipara cidades mais justas”, como muito bem afirmou o Secretário de Estadodo Ordenamento do Território e das Cidades.Perceber que a sociedade evolui e como evolui, as novas necessidades dosagregados habitacionais, criar oportunidades para os mais jovens e,genericamente, para os que vivem com maiores dificuldades, assumir o papelque deve ter a Reabilitação Urbana, são domínios passíveis de se estabelecercom ambição e compromisso com todos, como foi recentemente evidenciadona Quinzena da Habitação que decorreu sob a égide da Presidência Portuguesada União Europeia.É a isso que se refere este projecto informativo agora iniciado – uma apostana partilha de experiências e informação, de abertura ao conhecimentorenovado e plural.Esperamos que venha a merecer o seu agrado.

O PRESIDENTE DO CONSELHO DIRECTIVO

DELEGAÇÃO

Rua D. Manuel II, nº 296 – 6º,

4050-344 PORTO

Telefone_ 226079670

FAX_ 226079679

SIPA – Sistema de informação

para o Património

Forte de Sacavém – Rua do Forte

do Monte Cintra

2685-141 SACAVÉM

A Correspondência para esta publicação deve ser enviada para:

Direcção de Informação, Estudos e Comunicação do Instituto

da Habitação e da Reabilitação Urbana

Av. Columbano Bordalo Pinheiro, n.º 5, 1099-019 LISBOA

www.portaldahabitacao.pt

Page 4: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

habitação

“Integrar a habitação na política das cidades, passar do velho

paradigma da habitação social para o novo paradigma da

política social da habitação”, ou ainda “uma política de

Habitação nunca pode ser uma política de Obras Públicas”

são afirmações de João Ferrão, Secretário de Estado do

Ordenamento do Território e das Cidades que esclarece

algumas das linhas de orientação do Governo para o sector.

Page 5: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

Colocar a Habitaçãono centro do debate políticoProf. João Ferrão_Secretário de Estado do Ordenamento

do Território e das Cidades

texto_Carlos Peralta

fotos_Filipe Guerra

Quais são as linhas de fundo do Governo para

o sector da Habitação?

Há duas linhas de fundo fundamentais.Em primeiro lugar, colocar a Habitação no centrodo debate político e, em segundo lugar, ter uma visãodiferente da que tem dominado até agora esse debate.

Pode concretizar?

Primeiro, colocar a questão da habitação no debatepolítico dado que perdeu relevância nos últimosanos, quer do ponto de vista político, quer do pontode vista mediático. Os primeiros resultadosdo diagnóstico do Plano Estratégico da Habitaçãomostram que este assunto merece um relevo que nãotem tido. Esta política cria também exigênciasparticulares quanto aos modelos de financiamentoque queremos, num contexto de crescente contençãoorçamental e em que não há acesso a fundosestruturais, porque a Habitação não correspondea uma competência específica da União Europeia.

E quanto à visão diferente?

Tradicionalmente, em Portugal (e noutros países), aHabitação esteve integrada em Ministérios das ObrasPúblicas e correspondia a uma política relativamenteautónoma. Com a actual configuração, integramosesta questão no Ministério do Ambiente e do

Desenvolvimento do Território e especificamentena Secretaria de Estado do Ordenamento do Territórioe das Cidades.Tenho ouvido comentários ao factode não haver Secretaria de Estado da Habitaçãoo que pode parecer contraditório com a afirmaçãode termos de pôr a habitação no centrodo debate político.Esta organização revela a nossa visão.A Habitação, os seus problemas e soluções devemser formuladas e concretizadas tendo porenquadramento uma política mais genérica: a políticadas cidades. Além disso, a política da Habitação temde se articular fortemente com outras políticas,a da mobilidade, a da acessibilidade para todos,a da construção sustentável. Portanto, pressupõeuma grande cooperação interministerial.

Qual é a mudança de fundo?

Temos de passar do velho paradigma da habitaçãosocial para o novo paradigma da política social dahabitação. Não é apenas um jogo de palavras, é umavisão diferente. Depois podemos ver os váriosinstrumentos que têm sido produzidos e as iniciativasdesenvolvidas, de certa maneira experimentais, queilustram e aprofundam este novo tipo de intervenção.

Causas Comuns_ Jan2008_ 03

Da habitação socialà política social da habitação.

Page 6: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

Quais foram as prioridades no âmbito

dessas alterações?

Esta política social da habitação tem formasde intervenção, públicos-alvo, modelosde governação e de financiamento que são distintosdos anteriores. Exige instituições,instrumentospróprios e dispositivos de monitorização, de avaliaçãodas políticas e de informação ao cidadão.Temos um pacote de intervenções que permitemconsolidar essa política. A primeira componente é ainstitucional, caso do IHRU. (Ver caixa)

Até agora, nunca foi elaborado um Plano Estratégico

da Habitação, o que está a acontecer agora.

Como vê o Governo esse plano?

A execução da política de habitação privilegiao nível local, é uma política de proximidade.Quem está no terreno, quer do lado dos beneficiários,quer do das autoridades ou no dos promotores, podedisponibilizar as soluções mais correctas.Cabe ao Estado o papel de enquadramento reguladore estratégico: fiscalizar, informar e avaliar.Com base nesses vários dispositivos, os outros actoresdesenvolverão os seus instrumentos de formaa se articularem com as funções do Estado, sendoque os municípios têm instrumentos própriosarticulados com esse documento.

Passa pelos Planos Directores Municipais?

Em relação ao que estamos a falar não são tantoos instrumentos de gestão territorial como os PDM.Pensamos, não há uma decisão em definitivo,faz parte do diagnóstico do Plano Estratégico, que,como em muitos outros países, os municípiosganhariam em desenvolver, por sua iniciativa,um instrumento como os Planos Locais de Habitação,onde fazem diagnóstico e definem metas.Temos de discutir com os municípios, pois estesdevem ter uma visão de médio prazo em relaçãoao que querem fazer em matéria de habitação.

Também aqui haverá mudanças?

Até agora, nem o Estado – neste caso o INH – tinhaum documento estratégico global, nem as autarquiastinham o seu plano para a habitação. Queremos queuns e outros tenham uma visão estratégica e, combase nisso, se estabeleça uma contratualização debase plurianual, que permita estabelecer e definiro tipo de relação entre os apoios do IHRU e os queos municípios vão desenvolver.

Sempre que se fala em habitação pensa-se no

betão. Há outras vertentes?

Uma das consequências imediatas da integração daHabitação nesta Secretaria de Estado foi odesenvolvimento de uma visão sócio-urbanística.Quando falamos de Habitação não falamos só decasas, também falamos de pessoas, espaços urbanose de um enquadramento mais genérico quanto àpolítica de cidades. A questão da habitação envolvequestões distintas, a construção de casas novas, amobilização de edifícios devolutos, ou, em termosmais genéricos, os estímulos ao mercado dearrendamento, são dimensões que devem reflectiruma visão simultaneamente social e urbanística.

O que não acontecia antes...

O modelo convencional da Política de HabitaçãoSocial estava muito focalizado no segmento daspessoas que não tinham acesso a uma habitaçãocondigna. Hoje há outras questões igualmenteimportantes, como a componente dos jovens ou dosidosos, ou ainda dos proprietários com fracos recursosque não conseguem reabilitar as suas casas paraentrar no ciclo virtuoso de aplicação do NRAU -Novo Regime de Arrendamento Urbano, aumentandoas rendas. Esta política de habitação é focalizada,

Política de habitaçãofocalizada, mas policêntrica.

habitação

Page 7: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

mas policêntrica. Tem vários focos concretos,que depois podem ser apoiados por instrumentosdistintos, porque se trata de realidades diversificadas.

O Plano Estratégico 2007-2013 tem metas definidas?

Não há um Plano Estratégico sem metas.Estas são muito importantes porque permitemmonitorizar a situação e avaliar os resultados obtidos.Permite, se necessário, rever procedimentosou aspectos. Um Plano Estratégico sem metas apontapara o infinito e desresponsabiliza.O limite de 2013 coincide, com vantagens, como ciclo comunitário, porque embora a Habitação nãopossa beneficiar directamente dos fundos estruturais,há elementos que caminham em simultâneo,como operações de reabilitação, intervençõesem espaço público, ou determinados equipamentosou infra-estruturas fundamentais para melhoraro habitat e a qualidade de vida das pessoas.

E quanto à velha questão da compra de casa versus

arrendamento, como a vê o Governo?

Tradicionalmente existiam duas dimensõesdominantes sobre como intervir em matériade habitação: os apoios dados pelo Estado à aquisiçãode casa, através da bonificação de juros, ou atravésda tradicional Política de Habitação Social quepressupunha a construção pública de casas,ou seja, falamos da construção de novas casas.Essas duas componentes continuarão, mas têmde ser compensadas por outros tipos de intervenção,onde estamos a investir fortemente:a dinamização do mercado de arrendamento,o desenvolvimento de procedimentosde gestão – a Porta 65, em grande parte, é isso –entre a oferta e a procura, e a questão da reabilitação,aproveitando-a para resolver o problema do acessoa uma habitação condigna.

Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana

Uma política de habitação mais inteligente, transparente e eficiente.Uma componente institucional da nova política é o novo Institutoda Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU). O Secretário de Estado,João Ferrão, fala do papel do Instituto, do seu Conselho Consultivobem como do Observatório da Habitação e da Reabilitação Urbana:

“A alteração do Instituto Nacional de Habitação (INH) para Institutoda Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) não é apenas uma renomeação.Significa que a missão do ex-INH foi redefinida, manteve muitas dascomponentes anteriores, mas foi alargada a outros domínios. A designaçãoReabilitação Urbana no próprio título do Instituto mostra a aposta quefazemos e mostra como entre as questões da habitação e da reabilitação(embora com alguma autonomia relativa) existe uma forte articulação.É fundamental que o IHRU seja, de facto, a autoridade nacional nestesdois domínios. Para o ser tem que ter competências e tem de mobilizarrecursos que permitam concretizar essa missão.O IHRU resulta de um processo de fusão que integra três entidades, o INH,o IGAPHE cuja extinção estava anunciada há muitos anos e a Direcção--Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, cujas competências foramrepartidas entre o Instituto de Gestão do Património Arquitectónicoe Arqueológico (IGESPAR), sendo que as suas competências são partilhadascom o IHRU.Este processo de fusão está ainda em curso, porque é complexo.Como a elaboração de um Plano Estratégico terá de ser sempre muitoparticipada, a própria missão do IHRU é enriquecida ouvindo e trabalhandoem conjunto com as entidades-chave do sector. Enquanto estamos a fazero Plano Estratégico da Habitação aumentámos o número e diversificámosos representantes do Conselho Consultivo do IHRU. Dou muita importânciaa esta componente. Queremos um Conselho Consultivo que representea diversidade e até as tensões e as contradições dos vários interessesdo sector da Habitação. Essas entidades devem poder pronunciar-se sobreo que pensamos fazer e dispor de informação em primeira mão paraacompanhar o que está a acontecer. No fundo, que sejam co-autoresda avaliação que fazemos das nossas políticas.Nesse sentido, o Plano Estratégico num plano, e esse Conselho Consultivoalargado e distinto, noutro, são duas formas de abrir e tornar a políticade habitação mais participada, transparente e sublinhar o que os inglesesdesignam de accountability, a prestação de contas.Dentro desta óptica, o Observatório da Habitação e da Reabilitação Urbanaé outra componente fundamental. Não podemos desenvolver políticas,concretizar instrumentos e depois não avaliar os seus resultados, impactose efeitos. Temos de o fazer permanentemente. De certa maneira, o PlanoEstratégico, que dá o pano de fundo, o Conselho Consultivo alargadoe diversificado, que faz o acompanhamento e o Observatório, que disponibilizaa todos informação sobre o que está a ser feito, formam uma espéciede triângulo. Este torna esta política de habitação mais inteligente,transparente e eficiente”.

Causas Comuns_ Jan2008_ 05

Page 8: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

São instrumentos mais virados

para o parque já existente?

O mercado de arrendamento, a reabilitaçãoe a gestão entre a procura e a oferta privilegiamo que já existe. Vamos requalificar o que já existe,para criar condições de conforto e segurançapróprias de uma sociedade moderna e vamos,ao mesmo tempo, resolver o problema do acessoà habitação através destes procedimentos.Não somos contra a construção de novas habitações,mas acreditamos que há que balancear estascondições com estas três novas componentes que,em parte, se reforçam reciprocamente.

A Bolsa de Habitação e Mobilidade prende-se com

a vertente da gestão que acabou de referir?

Sim, em Portugal, vários inquéritos sociológicosmostram que um dos principais obstáculosà mobilidade geográfica é o facto das pessoas teremadquirido casa e estarem a pagar empréstimosbancários. Isso cria uma situação de dependênciae impede a mobilidade. Daí que a Política de Habitaçãotenha de ser enquadrada pela Política de Cidadese de se cruzar com outras políticas que, sendoautónomas, estão ligadas. Podemos ter uma políticade mobilidade geográfica, profissional, social, mastem de se articular com a Política de Habitação.Acreditamos que a mobilidade é um factor essencialda democratização das sociedades contemporânease do desenvolvimento das economias.

Um dos projectos de reabilitação urbanaé a Iniciativa Bairros Críticos, que envolveCova da Moura, Lagarteiro e Vale da Amoreira...Na Iniciativa Bairros Críticos tivemos em consideraçãoa aprendizagem com o programa URBAN, umainiciativa comunitária. Isso permitiu-nos percebermelhor as vantagens, potencialidades e limitaçõesde uma intervenção que se quer verdadeiramentesócio-urbanística. É uma intervenção integrada,envolve várias componentes e não apenasa de construção, quer de habitação, equipamentosou infra-estruturas. Estas iniciativas incluemdimensões imateriais, que têm que ver com formaçãoe inclusão social. Evidentemente, levámos em contaexperiências de intervenção integrada em áreasproblemáticas que conhecíamos de outros países eque obedeciam a instrumentos e políticas distintas,na óptica das chamadas comunidades sustentáveis.

É difícil criar uma iniciativa desse tipo?Pressupõe uma engenharia institucionale organizacional complexa. Primeiro, exige grande

habitação

Page 9: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

Política de habitação focalizada, mas policêntrica.

coordenação e entendimento entre diversosministérios. É claro que quem comanda politicamentea intervenção é um ministério, uma tutela,mas isso não quer dizer que trabalhe sozinho.A segunda dificuldade é exigir uma articulaçãoe coordenação entre a Administração Centrale as Autarquias Locais, dada a sua forte ligação como âmbito municipal. Em terceiro lugar, queríamosdar relevo à participação das populações, das entidadeslocalizadas no bairro ou que aí têm intervenção.Com o pano de fundo das experiênciasem Portugal e no estrangeiro, sabendo quenão temos uma cultura consolidada deste tipode intervenções, decidimos lançar, a títuloexperimental, a Iniciativa Bairros Críticos.

O objectivo é generalizá-las?Sim, em condições diferentes, no contextofavorável em termos de financiamento criado noâmbito do Quadro de Referência Estratégico (QREN)para o período 2007-2013. Por isso, arrancámos comum número limitado de experiências-piloto paraaprender, criar exemplos positivos e evitar erros.A iniciativa Bairros Críticos, em si, não se vaimultiplicar. Vai-se limitar a estas três experiências.Tratou-se de uma iniciativa do Governo para a qualconvidámos algumas autarquias.

A que corresponde o conceito Cidade Justa, CidadeSegura?Esta expressão era o tema central do Dia do Habitatde 2007 definido pela ONU. Coincide com a nossavisão, sobretudo a ideia de uma intervenção integradaao olhar para a Habitação.A segurança surge aqui em sentido muito amplo,da pessoa estar confortável na sua existência.Não se limita à segurança nas ruas, também se refereàs relações familiares, à convivialidade, ao mercadoe segurança no emprego. É associar segurança com

uma sociedade mais justa, com mais cidadania,uma visão distinta do passado, ao mesmo tempoque resolve, previne e antecipa.Estamos não só a resolver os problemas de ontem,mas a preparar melhor o futuro.

É isso a urbanização das políticas sociais?Nesta nova visão das Políticas Públicas de âmbitosocial faz parte o que tem vindo a ser dito em algunsforuns como a urbanização das políticas sociais,ou melhor, prefiro dizer a territorialização das políticassociais. A formulação de políticas sociais nãopode ser cega. Há linhas estratégicas globais,mas têm de se ajustar a cada um dos territórios.Esta ideia de urbanização das políticas sociaisou a territorialização das políticas sociais é tambémum objectivo fundamental.

Causas Comuns_ Jan2008_ 07

Page 10: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

IHRU_Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana

O IHRU - Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, IP, resulta de

redenominação do antigo Instituto Nacional da Habitação (INH), tendo

nele sido integrados o Instituto de Gestão e Alienação do Património

Habitacional do Estado (IGAPHE) e parte da Direcção-Geral dos Edifícios

e Monumentos Nacionais (DGEMN).

O IHRU, IP tem por missão assegurar a concretização da política definida

pelo Governo para as cidades e com outras políticas sociais e de

salvaguarda e valorização patrimoniais, assegurando a memória do

edifício e s sua evolução. Conciliar os princípios e os valores do serviço

público, com rigor financeiro e uma nova filosofia de organização e

funcionamento subjacente à reforma da Administração Pública em curso,

tal é o desafio que se coloca ao IHRU.

Conselho DirectivoPres. Eng. Nuno VasconcelosVCD Dra Mafalda ReynoldsVCD Dra Maria João Freitas

Gabinete de ProjectosEspeciais

Gabinete de ProjectosSócio Territoriais

Dra Virginia Sousa

Gabinete de Sistemasde InformaçãoArq. Victor Reis

ConselhoConsultivo

FiscalÚnico

Direcção de Habitaçãoe Reabilitação UrbanaArq. Manuel Madruga

Dep. de Análise deProgramas e Certificação

Arq. Vasco Folha

Dep. de Gestão deProgramas e Fiscalização

Eng. Paulo Reis

Dep. de Programasde Reabilitação

Dra Fátima Ferreira

Direcção de Arrendamentoe Gestão do Património

Eng. Paula Pereira

Dep. de Gestãodo Património

Eng. Jorge Lopes Dias

Dep. de Incentivoao Arrendamento

Eng. Angenor Afonso

Direcção de InformaçãoEstudos e ComunicaçãoDr. Luís Macedo e Sousa

Direcção de GestãoFinanceira

Dr. Jorge Morgado

Direcção de Administraçãoe Recursos HumanosDra Isabel Sá Costa

Dep. de InformaçãoBiblioteca e Arquivo

Dr. João Vieira

Dep. de RelaçõesInternacionais

Comunicação e DivulgaçãoDra Margarida Alçada

Dep. PlaneamentoControlo Financeiroe Gestão de Risco

Dr. Carvalho Pereira

Dep. de Contabilidadee Tesouraria

Sr. Pereira da Silva

Dep. de RecursosHumanos

Dra Rita Mendes

Direcção JurídicaDra Isabel Dias

Delegação do PortoEng. Defensor Castro

Dep. de Contrataçãoe ContenciosoDra Olivia Mira

Dep. de Gestãode Programas de Habitação

e Reabiliração UrbanaEng. Gabriela Castro

Dep. de Gestãode Prgramas deArrentamento

Eng Diomar Santos

Page 11: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

Causas Comuns_ Jan2008_ 09

A necessidade de encontrar soluções

para cerca de 40 mil famílias

que ainda sofrem carências habitacionais

levou o IHRU a seleccionar uma equipa de peritos

que diagnosticasse e apresentasse alternativas às políticas actuais.

O resultado é o Plano Estratégico de Habitação 2007-2013

que vai ser apresentado, em Março deste ano,

à Secretaria de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades.

Page 12: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

Prof. Dra. Isabel Guerra

texto_D. S. / redacção Causas Comuns

Das propostas entregues emresposta ao concurso públicolançado pelo Instituto de Habitaçãoe Reabilitação Urbana (IHRU) paraa criação de um planode habitação, encontravam-se duascomplementares: uma do Centrode Estudos Territoriais do InstitutoSuperior de Ciências do Trabalhoe Empresas e outra do Institutode Recursos e Iniciativas Comunsda Universidade do Porto.As propostas fundiram-se e deramorigem ao Plano Estratégicode Habitação 2007-2013 (PEH)que visa, fundamentalmente,a adequação das políticas dehabitação aos públicos-alvoe à diversidade geográfica nacional.Espera-se que os resultadosdo plano sejam “pragmáticos,exequíveis e modernos” e querespondam às necessidadesdas famílias portuguesas.Apesar das propostas reflectiremum trabalho coeso, a equipa

de Lisboa, liderada porIsabel Guerra, tem o papelde coordenação das dimensõesteóricas da revisão de políticasde habitação, enquanto quea equipa do Porto, liderada porNuno Portas, tem um forte domíniosobre as dimensões regionais dasdinâmicas habitacionais,dedicando-se, em maiorprofundidade a esta realidade.Além disso, a empresa AugustoMateus & Associados, liderada porAugusto Mateus e SandraPrimitivo, apoia o trabalho no queconcerne às questões financeiras.Primeiro, foi necessário fazer umdiagnóstico, que se processa emdois sentidos: “um primeiro olharsobre as famílias que estãodesalojadas e precisamde habitação” e um outro olharsobre “as casas que não estão nomercado”. É “neste casamento dasnecessidades e da disponibilidadehabitacional” que a equipatrabalha, explica Isabel Guerra.A dimensão das carências constituiainda um grande volume:

actualmente, estima-se que estejaminscritas nos serviços das câmarasmunicipais cerca de 40 mil famíliascom necessidade urgentede habitação; das que estãoalojadas, cerca de 180 mil(inquilinos e proprietários) vivemem casas (primeira residência)em forte estado de degradação,sem “condições para as pessoasviverem”. A estes números, junta-se o problema de cerca de meiomilhão de famílias que habitamem sobrelocação.No que respeita à disponibilidadede alojamento, a equipa do PEHapurou que existem cerca de 350mil casas vagas, das quais maisde metade são na zona de Lisboa(apesar de parte estar também emnecessidade de reabilitação).A questão que se coloca, então,é de que forma este capital podeser usado para responderàs necessidades. O desafio, devidoaos escassos recursos disponíveis,é encontrar soluções em queo próprio mercado possa responderàs necessidades da população.

Um novo paradigma

para a habitação em Portugal

habitação

Page 13: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

O que passa pelo “tipo de apoio”disponibilizado às famíliasem situação de insolvência,acredita Isabel Guerra.

Uma vez que o Plano Estratégicode Habitação 2007-2013 não foiainda entregue para discussãoà Secretaria de Estadoda Habitação, Isabel Guerra nãoquer ainda referir-se a medidasconcretas. Mas adianta que o vectorfundamental será a necessidadede uma mudança de paradigmasnas políticas de habitaçãoe de mentalidades dos decisores,dos beneficiários e da sociedadecivil em geral.Em primeiro lugar, é necessáriorever o papel dos governos:

“As políticas de habitação estãosobretudo formatadas paraum Estado provisor”, explicaa investigadora do Centrode Estudos do Território. No futuro,terá que se fazer uma inversãoneste olhar para um “Estadoregulador”, um “Estado que apoiao acesso ao mercado para aquelesque, por razões de insolvência, nãotenham acesso” a ele.É necessária, portanto, “umamudança na lógica do Estado”.Neste contexto, “o grosso daspolíticas vai ter de ser feito menosna provisão directa de habitaçõese mais na capacidade de gerarmecanismos de isenção fiscal,renegociação entre políticasde habitação e políticas da cidade,que permitam obter recursos parafamílias necessitadas e chamarà responsabilidade parceirosprivados, que podem ter um papelfundamental, salientaIsabel Guerra.Em segundo lugar, é precisotransformar a visão dominante

sobre as famílias em situaçãode insolvência. Por um lado, devereavaliar-se a situaçãodo realojamento; quando pensamosneste assunto, “pensamosem bairros sociais, não em casas”[ver caixa], uma ideia “que nãoexiste mais” noutros paísesda Europa, tomados como modelopara a elaboração do PEH.A política de realojamento, nestenovo paradigma, tem de passarpor incluir as famílias emnecessidade em contextosde habitação residencial propíciosà reconstrução da sua vida sociale profissional.Outra ideia preconcebida é quea insolvência apenas aconteceem casos de pobrezaou em situações como o retornode África depois de 1974.No entanto, no contexto actual,abrem-se cada vez maispossibilidades à ocorrênciade situações de insolvência súbita,causadas por um dos três D’s(doença, desemprego ou divórcio).Este cenário também tem que fazerparte do novo paradigmade políticas habitacionais.Em qualquer dos casos (insolvênciapersistente, ou insolvência súbita)o realojamento deve ser visto como uma situação temporária – atéà reconstrução de uma cenáriofinanceiro mais favorável a cadaagregado – e não como umasolução definitiva, em que

Mudança

de paradigma,

mudança

de mentalidades

Causas Comuns_ Jan2008_ 11

Page 14: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

a Câmara Municipal realojaa família e lhe confere direitovitalício a habitação social.Resumindo, terão que se criarcondições para uma mudançade mentalidades, quer ao nível dosbeneficiários, quer ao nívelda liderança.Em terceiro lugar – e devido nãosó à premência de mudançade paradigma, mas tambémà necessidade de colmatara escassez de recursos disponíveis,uma vez que grande parte da fatiado orçamento de Estado para ahabitação (cerca de 80 por cento)é empregue nas bonificações doscréditos – é necessário envolverdiversos parceiros nas políticaspara a habitação, especialmenteautarquias e privados.

As autarquias serão desafiadasa efectuar “planos locais dehabitação”, onde devem identificar“as necessidades” e as “dinâmicasde habitação” na área do concelho,de modo possibilitar a criaçãode uma plano que compatibilizeas duas componentes. Por outraspalavras, terão de encontrarsoluções locais, onde o Estado“regulador” possa actuar.Isabel Guerra admite que as autar-quias terão de fazer um esforçoadicional para cumprir esta neces-sidade, mas assegura estarpositivamente “surpreendida” coma “enorme experiência autárquicano domínio da habitação”.Finalmente, os parceiros privadospoderão ser fundamentais parao colmatar dos problemas

habitacionais. Já existem empresasmodelo que têm dado um preciosocontributo nesta matéria, masa solução, aqui, poderá ter quepassar por legislação mais rigorosa(como a que existe em Espanha,em que a construção civil estáobrigada a um imposto imóvelsobre a construção de edifícios,por exemplo) e solidária. Tudodependerá da vontade políticado “Estado regulador” e da sensibi-lização da sociedade civil.Por enquanto, fica o diagnóstico:existem suficientes casas parasuprir as necessidades dos agregadosfamiliares. O que não existe aindasão políticas concretas paraconcretizar esta compatibilidade, nemuma mentalidade social madurapara uma mudança de paradigma.

habitação

Um dos maiores problemas de habitação em Portugal

está relacionado com a forte degradação dos bairros sociais,

que devido ao seu isolamento, criaram áreas de instabilidade

urbana, especialmente na periferia de Lisboa, nas zonas

de Loures e da Amadora.

Muitos dos seus habitantes são filhos de imigrantes,

portugueses de quarta geração, que enfrentam taxas

de desemprego que chegam a estar perto dos 60 por cento.

Apesar do PEH ter uma forte componente de estudo

e propostas para estas áreas, Isabel Guerra acredita

que a complexidade do problema ultrapassa o domínio

da habitação. Seria necessário uma política multidisciplinar

a nível nacional, inclusiva de vários parceiros do Estado

e da sociedade civil para revitalizar esta componente urbana

e promover a sua “integração urbanística não estigmatizada”.

Era preciso “um Plano Marshall” para os bairros sociais.

Um Plano Marshall para os Bairros Sociais

Page 15: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

A importância das autarquiasprende-se também com o factode, apesar de Portugal ser um paíspequeno, apresentar um fortequadro de diversidade geográficano que respeita aos problemashabitacionais. Actualmenteas políticas de habitação têm umalcance nacional, sem diferenciaçãogeográfica, outra questão queo Plano Estratégico de Habitação2007-2013 terá que fazer face.Existem cinco situações específicas:para começar, a zona mais caren-ciada do país é a região do Valedo Ave. “É muito densamentepopulacionada, as habitações têmmuito má qualidade” e apresenta-se,simultaneamente como um doslocais com maior número de agre-gados em situação de carênciae sobrelocação. “Penso que estaé a região a olhar com maisatenção”, refere Isabel Guerra.Em segundo lugar, coloca-seo problema das periferias dasgrandes cidades. Aí, junta-seà decadência do parque habitacional(edifícios clandestinos e/ou commá qualidade de construção,edificados nas décadas de 60 e 70)com poucas possibilidades nomercado a uma crescente população

migrante, de baixos recursos comdificuldades de obter condiçõeshabitacionais aceitáveis.Terceiro, assiste-se cada vez maispersistentemente à desertificaçãodas grandes cidades.Apesar do Plano Especial de Realo-jamento, Lisboa e Porto ainda estãolonge de chegar ao nível de qualidadehabitacional necessário. Na capital,o problema prende-se essencialmentecom a degradação do parquehabitacional, abandonado, e os altospreços das casas que se encontramno mercado. Já na cidade do norte,a questão encontra-se na degrada-ção das “vilas”, que estão a cair,“em situação de sobrelocação,humidade, doenças…”.O quarto problema relaciona-secom áreas as de grande pressãoturística como o Alentejo e, princi-palmente, o Algarve. Os residentesou veraneantes estrangeiros, commaior poder de compra, contribuempara o inflacionamento dos preçosda habitação, dificultando aosresidentes locais a aquisiçãoou aluguer.Finalmente, as zonasrurais isoladas padecem de umatipologia diferente de problemas:a ambiguidade do registo depropriedade. Ao facto de a populaçãodesses locais, regra geral aldeiasisoladas, estar envelhecida e ter“pouca capacidade de acessoà enorme complexidade de umsubsídio” soma-se a ausênciade documentos que atestema propriedade, absolutamente

necessários para procederàs melhorias habitacionais de quenecessitam. Muitas vezes, o queestá em questão não é mais do queo alargamento das portas para darpassagem a uma cadeira de rodasou a adaptação de equipamentosdomésticos a necessidades espaciaisdos seus habitantes. Mas o costumeda casa passar de geraçãoem geração sem notificaçõesou adições aos processos legaisimpossibilita, simplesmente,o acesso às políticas. Com estadiversidade de problemas, o grandenúmero de famílias carenciadase o número de habitações semcondições que ainda existe emPortugal, é fundamental umamudança de políticas habitacionais,que passam pelo aproveitamentodas condições actuais do mercado,mas sobretudo pela mudançade paradigma e mentalidadesde todos os parceiros envolvidos.Juntar todos estes factores e trans-formá-los em medidas concretasé o objectivo fundamental do PlanoEstratégico de Habitação 2007--2013, que vai ser entregue no IHRUe na Secretaria de Estado do Ordena-mento do Território e das Cidadesem Março de 2008. A ser aprovadoprocederá a uma mudança doparque habitacional em Portugal,que poderá ser diferente já em2013. “Temos que ir devagar,porque os recursos não são muitos,mas vamos em frente. Sabemosqual é o caminho.”, remata.

A diversidadegeográficados problemasde habitação

Causas Comuns_ Jan2008_ 13

Page 16: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

Câmara da Feira apostaem moradias para jovens

Programa

“feirajovem”

é um sucessoA Câmara Municipal de Santa

Maria da Feira está a colher os

frutos de um projecto «semeado»

há três anos, quando criou

um programa que disponibiliza

aos jovens habitação a custos

controlados.

De um primeiro protocolo para

500 habitações assinado com

construtoras aderentes, o

feirajovem – assim se designa a

iniciativa – tem prontas as

escrituras

da primeira centena.

texto_ J.R. / redacção Causas Comuns

«Mas essas habitações apresentam

uma tipologia muito especial»,

acrescenta de imediato o presidente

da edilidade, Alfredo Henriques.

«São moradias que,

a par da qualidade da construção

e dos acabamentos, constituem

o principal atractivo deste

programa na Feira», completa

o autarca. Em terras de Santa Maria

o município aposta decididamente

numa habitação que

pense nos jovens.

A Feira, de resto, regista uma

experiência assinalável neste

campo da habitação social.

Essa experiência, contudo, passou

muito pelo tradicional sistema

de «concentrar pessoas em prédios

de cinco ou seis andares», lamenta

Alfredo Henriques, para quem

«a vida em condomínios precisa

de uma grande mentalização,

implica muita sensibilidade para

se viver em harmonia».

Na óptica do arquitecto Silva

Garcia, autor dos projectos feira

jovem erguidos nas freguesias de

Fornos e de S. João de Ver,

«a ideia das moradias, dos duplex,

têm uma adesão espantosa no seio

dos jovens de hoje».

«Da forma como eles escolhem

e decidem as coisas, vemos que

os jovens pensam e agem hoje com

mais racionalidade, atentam

ao pormenor, e esteticamente

são exigentes», diz Silva Garcia.

Garantida a qualidade da obra,

e perante a competitividade

do preço, as habitações promovidas

no quadro do financiamento

facultado pelo Instituto

da Habitação e Reabilitação Urbana

são uma alternativa deveras

aliciante. Esta é a opinião,

unânime, recolhida por

CAUDAS COMUNS junto de novos

titulares de habitação jovem

na Feira. «Programas como este

Muita Procura

habitação

Page 17: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

Causas Comuns_ Jan2008_ 15

obrigam naturalmente a ter em

atenção as condições económicas

dos destinatários, jovens em

princípio de vida», recorda

o vereador do Planeamento

e Urbanismo, José Manuel Oliveira.

«A tipologia criada joga, de uma

forma bem concebida, em modelos

de habitações unifamiliar,

bifamiliar e multifamiliar, aquilo

a que eu chamo tipologia

encaixada», considera

José Manuel Oliveira.

Vejamos o exemplo do empre-

endimento “Encosta do Castelo”,

na freguesia urbana de Fornos,

em pleno centro histórico - não

só da cidade como do país, não

estivéssemos a falar do embrião

do Condado Portucalense.

Na coluna do castelo medieval,

uma vivenda T4 bifamiliar,

dispondo de 125 m2, tem um preço

de venda de 79.950 euros.

Espaços ajardinados, parque

infantil e campo de ténis envolvem

um conjunto habitacional

privilegiado com qualidade ambiental.

Dados de outro empreendimento

exemplar, na freguesia de Mozelos,

com início das obras previsto

para o passado mês de Dezembro,

apresentam um conjunto

habitacional de 56 fogos,

constituído por dois edifícios

em forma de U e um outro

em banda, com 44 T3 e 12 T4.

As áreas em Mozelos são

de 114 e 125 m2, respectivamente,

habitações desenvolvidas

altimetricamente em quatro pisos:

cave, rés-do-chão e dois andares.

«A dificuldade pode estar

na obtenção de terrenos, porque

para as casas não nos faltam

inscrições», revela o vereador

responsável pela Habitação.

«A Câmara estará sempre aberta

a assinar protocolos com

as empresas que queiram investir

na construção a custos

controlados», junta o presidente

Alfredo Henriques. A primeira

dessas empresas a “descobrir”

a Feira foi a Efimóveis, construtora

responsável pelos projectos

do Castelo e do Areal.

João Moreira é administrador

da Efimóveis, acredita neste tipo

de produto e acha que «este é que

é o caminho». «Temos margens

curtas, mas é um negócio rentável»,

afirma, garantindo que a empresa

que dirige se sente bem a trabalhar

nesta área, de tal forma que

«estamos também a estudar

soluções para o arrendamento

jovem que iremos propor ao IHRU».

«O apoio do Estado é muito

importante, e as parcerias com

as autarquias, que seleccionam

O “segredo”

do êxito

Page 18: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

habitação

os mais necessitados, criam

um sistema acessível para aquisição

de habitação acessível», completa

o administrador João Moreira,

para quem «o bom exemplo

da Feira queremos estendê-lo

ao resto do país».

O “segredo” do êxito do feirajovem,

para o arquitecto Silva Garcia,

«passa pela valorização de aspectos

aparentemente menores», como

é a necessidade de «compreender

o meio». Vejamos: «Nesta região

de Santa Maria da Feira, as pessoas

prestam uma grande atenção

à cozinha, usam muito esta parte

da casa, portanto há que investir

seriamente nas cozinhas».

E Silva Garcia dá mais exemplos:

nos interiores das habitações

é fundamental para os jovens uma

linguagem de modernidade;

usar materiais contemporâneos,

bastante apelativos aos jovens;

evitar o excesso de desenhos;

tratar cuidadosamente os espaços

exteriores. «Qualidade de habitação

não é só arrumar bem as pessoas,

elas devem usufruir da sua

habitação uma imagem agradável»,

conclui o arquitecto.

O programa feirajovem dirigido

em Fornos e em S. João de Ver,

avança já em mais três freguesias

do concelho: Mozelos,

S. Paio de Oleiros e Souto.

Continuando a depender da adesão

manifestada, a Câmara Municipal

de Santa Maria da Feira prevê

a construção de empreendimentos

neste sistema em todas as restantes

freguesias. «Para os jovens

do concelho e população em geral»,

como diz a promoção do feirajovem.

Investimento públicoem habitação, permite fixar

população jovem

IHRU financia 212 fogos,

destinados a jovens,

em Santa Maria da Feira

O Instituto da Habitação e da Reabilitação

Urbana encontra-se a financiar através

de empréstimos bonificados, estes três

empreendimentos habitacionais, num valor

global de 10 milhões de euros, um dos quais,

o de Mozelos, num total de 56 fogos se prevê

estar concluído em Julho de 2009.

Page 19: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

Têm em comum o propósito de distinguir boas ideias,que passaram de intenções no papela obras postas em prática no terreno.Distinguem soluções eficazes ao nível da habitação social e da reabilitação urbanae premeiam projectos inovadores no combateàs barreiras que condicionam a mobilidade.Estes três prémios sublinham a importância de uma arquitectura humanizada e de olhos postos no futuro.O Arquitecto Vasco Folha acompanhou estes prémios desde a primeira edição e conhece bemos pilares que sustentam cada um deles.

Causas Comuns_ Jan2008_ 17

Page 20: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

Arq. Vasco Folha

texto_Débora Henriques

Este é o prémio mais antigo. Quando foi criado há19 anos para premiar os melhores conjuntos dehabitação de interesse social, qual foi a meta definidapara esta distinção?

Este foi um prémio criado com o intuito de divulgare premiar as promoções que eram consideradas maisinteressantes. Não é um prémio monetário, é umadistinção simbólica. Começou por chamar-se apenas

Prémio INH e este ano passou a designar-se PrémioINH/IHRU, porque a entrega coincidiu com a transiçãodo Instituto Nacional da Habitação para Instituto daHabitação e da Reabilitação Urbana. Em cada ano,o prémio reporta-se aos planeamentos concluídosno ano anterior. O Prémio foi pegar naquelespromotores institucionais da habitação de custoscontrolados, que sempre foram as cooperativas, osempresários enquanto construtores de habitação decustos controlados e também os municípios.

E mantiveram-se sempre estas três modalidades depromoção: municipal, cooperativa e privada?

Na primeira edição houve um único prémio. Mashouve fases em que as cooperativas eram muitomais eficientes do que os outros que ainda estavama começar e portanto os melhores empreendimentoseram sempre cooperativos. Nos últimos anos,passaram a ser as empresas de construção a termelhores resultados. Tem variado ao longo dos anos,mas justificou-se a divisão em três grupos. Maistarde, também as Instituições de Solidariedade Socialvieram associar-se como promotores, ainda que semconstituir um grupo autónomo. Nos últimos anos,apareceu uma quarta vertente referente ao estatutofiscal cooperativo, que é um regime especial que ascooperativas podem utilizar. É outro tipo de promoçãoque não devia misturar-se com os outros, porquepermite áreas melhores e custos mais altos.

PRÉMIO INH/IHRU . PRÉMIO RECRIA . PRÉMIO ACESSIBILIDADE

Mais do que boas intenções,queremos premiar resultados!

PRÉMIO INH/IHRU

reabilitação urbana

Page 21: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

Causas Comuns_ Jan2008_ 23

A atribuição deste prémio envolve visitasao conjunto construído e em uso e há um contactodirecto com os projectistas, os promotores,os construtores e os próprios moradores.É importante esta proximidade com o resultado final?

Esta não é uma premiação tradicional para projectosde arquitectura. Todos os prémios estão divididospor obras concretizadas. Não encaramos as obrasapenas numa lógica de projecto ou de um estudode ideias. Em concursos de ideias, terão de seras Ordens Profissionais a liderar o processo.Nós estamos direccionados para resultados, parasituações concretizadas em obra.As obras existem quando estão concretizadas.Antes disso, são só intenções.

São vários os critérios de avaliação para a atribuiçãodeste prémio. Quais destacaria como os principaisrequisitos?

Esta é uma avaliação integrada que vai desdea qualidade do projecto, à qualidade das“envolventes”, isto é, do espaço público que envolveo projecto e também a qualidade da construçãoe a própria apropriação que as pessoas fazemdo espaço. O júri está atento ao projectoe à concretização. Um júri multidisciplinar, composto

representantes do LNEC, das Ordens dos Arquitectose Engenheiros, representantes da federação dascooperativas e dos construtores e também

a Associação Nacional de Municípios.Nas últimas edições, associou-se tambéma Associação de Paisagistas.

Este é um prémio que já passou por várias mãos...

Este ano está na 9ª edição. Foi criado no IGAPHEe esteve sob a sua responsabilidade durante quatroou cinco anos. Passou depois para o INH, quandoeste passou a liderar o Programa Recria e o respectivoprémio. Este ano, já está a ser dinamizado pelo IHRU.

Na altura, qual foi o motor de arranque desteprémio? Hoje mantêm-se as directrizes definidashá quase dez anos?

O Recria é um programa voltado para a requalificaçãourbana e está também ligado ao apoioao arrendamento. Com este prémio, fomose continuamos a ir à procura das melhores soluçõesque dão resposta aos requisitos do programa.Este prémio procura ajudar com mais um reforçode comparticipação aos promotores que concluiramas suas obras de uma forma que o júri consideroumais interessante.Um júri também multifacetado, que neste casoconta também com a participação das Associaçõesde Proprietários e de Inquilinos.

PRÉMIO RECRIA

Causas Comuns_ Jan2008_ 19

pelo Presidente do Instituto que lidera o júri e por

Page 22: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

Ao longo dos anos, e fruto tambémdas transformações no próprio conceitode reabilitação urbana, foram acrescentados novoscritérios de avaliação?

No Prémio INH, houve a partir de certa altura umamaior incidência nos critérios do espaço público.No Prémio Recria começa também a haver umamaior preocupação, não só com o edifício em si,mas também com as implicações que o edifício podeter em termos de requalificação urbana. Mas acimade tudo, conta a qualidade do produto final.E há também um forte sentido pedagógico nesteprémio. É importante perceber até que pontoos projectos vão ser exemplares e ajudar a queem determinada zona e nas zonas vizinhas,as boas práticas se repitam.

Prolongar o ciclo de vida dos edifícios é tambémuma forma de economizar recursos. Este prémiopode ser encarado como estímulo à sustentabilidade,no contexto do problema da habitação?

Sim, mas neste momento é uma área em que prémiosfuturos terão uma dimensão maior. O Prémio Recriaé dirigido apenas para um programa específico.Com a nova legislação de reabilitação e com a suaaplicação no terreno, é natural que a questão dosprémios na área da reabilitação venha a ser muitomais ampla e mais abrangente do que é hoje.Não só em relação a programas apoiados institu-cionalmente, como são hoje o Recria ou o Rehabita

por exemplo, mas também virados para a própriareabilitação de uma forma ampla, independentementede serem ou não apoiados pelo Estado.

A programas como o Recria são muitas vezes

apontados alguns constrangimentos na aprovação

de candidaturas, avaliações complexas e alguma

burocracia no processo de atribuição de apoios.

O Prémio Recria reflecte de alguma forma estas

fragilidades?

O Prémio leva a essa reflexão. Há de um modo geral,pouco envolvimento técnico da Administração Centralnestes processos, que fazem basicamente uma avaliaçaofinanceira. A área técnica, acaba por serda competência das Câmaras. O resultado qualificadoda obra é valorizado quando os municipios têmestrututras técnicas que podem apoiar e acompanharessas obras. É mais dificil noutras zonas havercandidaturas ao prémio, porque não têm grandecapacidade técnica ou financeira. Ás vezes per-dem-se oportunidades de fazer óptimas reabilitaçõesem zonas em que não há estes apoios.

Esta é a primeira edição de um prémio que estáintegrado no I Plano de Acção para a Integraçãodas pessoas com deficiência 2006 -2009...

No âmbito desse Plano foi assinado um protocolocom o Instituto Nacional de Reabilitação (INR)e dentro desse protocolo, uma das acçõesé o lançamento do Prémio. O pano de fundo foia publicação em Agosto de 2006, do último decreto--lei referente a mobilidade e acessibilidade.Este Prémio pretende encontrar soluções inovadoras,já construídas. É um prémio que vai cobrir tudo

reabilitação urbana

PRÉMIO ACESSIBILIDADE

Page 23: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

o que tenha sido concluído até ao final deste anoe as candidaturas podem ser feitas até meadosde Janeiro. É um prémio monetário, mas simbólico.Não sabemos ainda qual vai ser a frequência desteprémio e também não fazemos ideia se vão aparecersoluções efectivamente inovadoras ou se as candi-daturas vão ser relativas a soluções meritórias,mas que não trazem propriamente muita inovação.

Este prémio destina-se a promotores de edifícios

novos mas também reabilitados...

Sim, é aberto. É o único em que não há um contactodirecto com os possiveis candidatos. Nos outros,enviamos cartas para os potenciais candidatos, que nóssabemos que estão em condições de concorrer.Neste, pomos um anúncio nos jornais e quem tiverobras que correspondam a estas preocupações, podecandidatar-se. Aos elementos do júri que avaliamtambém os outros dois prémios, junta-se aqui o INR.

Acredita que há hoje, uma maior sensibilidade social

e uma maior noção da forma como as estruturas

arquitectónicas podem ser castradoras para pessoas

com mobilidade condicionada?

Acho que essa sensibilidade é hoje maior, mas soumuito crítico nesse aspecto. As questões não sãotécnicas, mas culturais e questões de decisão política.

Fazer construção sem problemas de acessibilidadedo ponto de vista técnico sempre se soube fazer.Os supermercados não têm barreiras arquitectónicas,nunca tiveram. É preciso pôr o carrinho lá em cimapara fazer muitas compras. Aí nao há dúvidas.As outras situações são de outra ordem: ou não hádecisão política ou estão em causa questões culturais.

Que obra de grandes dimensões, me daria como

exemplo de um projecto que contempla soluções

eficazes para a eliminação de barreiras à

mobilidade?

Tudo o que esteja relacionado com superfíciescomerciais está resolvido, porque é uma questãode interesse. Até aqui a questão tem sido sempre essa.Penso que isso possa começar a ser transformado como cumprimento de uma legislação, com preocupaçõestécnicas e com uma cultura de integração. Nós nãofazemos portas com um metro e meio de alturae bastava baixarmo-nos um pouco. Mas são feitas comuma altura que tem a ver com a generalidade dapopulação. A questão da acessibilidade é essa.Se é para toda a gente, tem que haver maneirade qualquer pessoa, seja em que circunstancia fôr -de cadeira de rodas, com um carrinho de bebé,ou um carrinho de compras - não ter problemasde acessibilidade.

Causas Comuns_ Jan2008_ 21

Page 24: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

inovação

Nasceu em Leça do Balio, Matosinhos,

o primeiro complexo habitacional sustentável,

construído de acordo com as mais avançadas técnicas

de conservação de energia, água e gestão de resíduos.

É o projecto PONTE DA PEDRA, referência europeia já

galardoada com o Prémio IHRU 2007 de Promoção Cooperativa.

1_

Page 25: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

texto_J. R. / redacção Causas Comuns

«As cooperativas que levantaramesta obra aproveitaram umaexcelente oportunidade de inovara habitação e mostrar uma novaforma de olhar a sustentabilidade»,disse à CAUSAS COMUNSGuilherme Vilaverde, presidenteda união das cooperativasNortecoope, Sete Bicase CETA – a NORBICETA –responsável pelo projecto.Essa oportunidade tem o nomede SHE (“Sustainable Housingin Europe”), um programacomunitário de apoio à construção

de empreendimentos amigosdo ambiente que reduzam gastose rentabilizem recursos. Este ano,quatro países receberam distinçõespelo cumprimento exemplar dosobjectivos do SHE - a Dinamarca,a França, a Itália e Portugal.PONTE DA PEDRA valeuo galardão “Energia Sustentávelna Europa 2005 – 2008”.Entre outras vertentes, a atençãodo júri do Prémio IHRU conferiuo projecto no quadro da promoçãocooperativa e no âmbitodo estatuto fiscal - habitaçõesa custos controlados.«Para além disso, junta Guilherme

Vilaverde, tivemos o privilégiode usufruir de uma parceriatransnacional, onde as soluçõestécnicas surgiram da cooperaçãoentre as universidades de Atenase do Porto».Uma parceria entre as faculdadesde Engenharia grega e portuguesa,que reforçaram de formaextraordinária o projecto estudandosoluções técnicas amigasdo ambiente, funcionou comochancela indispensável paraa obtenção de financiamento juntoda União Europeia no âmbitodo programa «HabitaçãoSustentada na Europa».

Projecto Ponte da Pedra é referência comunitária

A promoção cooperativada construção sustentável

imagens recolhidas do

livro “O Primeiro

Empreendimento

Cooperativo de

Construção Sustentável

em Portugal - da velha

fábrica à cidade

cooperativa da

Ponte da Pedra”:

1_Pormenor dos

arranjos exteriores do

empreendimento e

paineis de azulejos de

Alfredo Barros

2_Aspecto do espaço

exterior envolvente ao

parque infantil

2_

Causas Comuns_ Jan2008_ 23

Page 26: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

inovação

Na PONTE DA PEDRA, esse respeitopelo ambiente cumpre conceitosbem definidos. O engenheirocoordenador desta obra, DanielLucas, destaca, desde logo,os principais: a reciclagem daságuas das chuvas e do nívelfreático para rega dos espaçosverdes e alimentação das sanitas,e a energia alternativa obtidaatravés dos painéis solares que,por sua vez, proporcionam águaquente à rede sanitária.A manutenção da qualidadedo ar em todos os compartimentosda habitação, criando uma redede ventilação que garante o seutratamento e renovação emquaisquer circunstâncias, aliadaa uma optimização das componentestérmica e acústica, assim comoà utilização de materiais comisenção de toxicidade, constituem

outros aspectos integrantesda sustentabilidade ambiental.A espessura das paredes nos fogosdo complexo habitacionalda PONTE DA PEDRA foi estudadapara acumular calor no Invernoe manter uma temperatura frescano Verão. Os estores nas janelassão controlados por célulasfotoeléctricas.São 101 fogos, numa área de cercade 25.000 m2, em configuraçãopoligonal, antes ocupada por umafábrica de cortumes altamentepoluente. A construção, quecontempla as tipologias T2 e T3,esteve a cargo da Sociedadedo Cávado. A assinatura finalé do arquitecto António Carlosde Oliveira Coelho. O empreendimentoorçou os 9 milhões de euros,financiados a 85% pelo IHRU.«O preço final da venda dosapartamentos, esclareceo presidente da NORBICETA, ficounove por cento mais elevadodo que o tradicional, mas esse

sobrecusto é recuperável nestesprimeiros cinco anos por viada grande redução nos consumosenergéticos, principalmente gásnatural e energia eléctrica». «A União Europeia, de resto,financia três por cento do custoadicional da construção», esclareceo líder da entidade promotora.

A habitação sustentada é umarealidade do futuro de que a Europajá hoje beneficia. Portugal, comeste exemplo implantadono município de Matosinhos, estáa partir de agora na linha da frente.E é uma referência porquê?«Porque provamos que somoscapazes de desenvolver qualquerprojecto, os outros países olhampara nós, e a nível nacional vemoscom satisfação que já há maisexemplos destes a nascer»,responde Guilherme Vilaverde.

Respeito pelo

Ambiente

As casas do futuro

3_ 4_

3_Pormenor das

torneiras com valvulas

termostáticas para

controlo de

temperatura, utilizadas

nos chuveiros

4_Pormenor de botão

de descarga de

autoclismo, com fluxo

normal (6 litros) e fluxo

reduzido (3 litros)

5_Contentores para

recolha selectiva de

lixos, colocados com o

apoio dos serviços

urbanos

6_Ecopontos nos

espaços exteriores

Page 27: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

Habitação integrada

O planeamento da construção sustentávelcomeça logo na fase da escolha do terreno.O projecto é pensado em exclusivo, de per se,enquanto unidade única e não comoum “projecto-tipo” que tanto pode ser erguidoem Bragança, em Coimbra ou em Évora.Quer isto dizer que a tradicional “planta-tipo”não é sustentável.Construir, ocupar, demolir, tudo é planeadocom a preocupação de não agredir o ambiente.Na fase de elaboração do projecto, a localizaçãojá tem que ser conhecida e objecto de estudoprévio, aproveitando as condições naturaisdo espaço e consertando a sua integraçãoambiental.O empreendimento cooperativo da PONTEDA PEDRA começou, precisamente, pelarequalificação de toda a zona em que estáinserido. Do primeiro traço no papel atéao fim da vida do complexo, todo o cicloda sua existência está previsto.De forma sustentada.

O complexo habitacional da PONTEDA PEDRA, que proporcionasignificativas poupançasambientais e domésticas, foi aindaclaramente valorizado porintervenções de arte urbanae parterres d’eaux ( canteirosde água, em tradução livre ) quecomplementam os elementosde natureza viva implementadosno espaço público.As habitações construídas destaforma, sob critérios sustentáveis,reduzem em quarenta por centoo consumo de água, a propagaçãoe a emissão de resíduos, bem comoa extracção de materiais naturais.Ao mesmo tempo, as emissõesde dióxido de carbono podembaixar até cinquenta por cento.

De acordo com a nova legislaçãosobre Certificação Energética,a aplicação destas «regras»no projecto cooperativo da PONTEDA PEDRA foi determinante paraos reconhecimentos que obtevea nível nacional e comunitário.Como enfatizou o secretáriode Estado do Ordenamentodo Território e das Cidades,João Ferrão, durante a cerimóniade entrega, em Outubro, do PrémioIHRU 2007 ao empreendimentoda NORBICETA, este exemplodemonstra que a procurade soluções para a mobilidadede todos, o assumir de responsa-bilidades ambientais e a aquisiçãode consciência social constituemo caminho a seguir.

6_5_

Causas Comuns_ Jan2008_ 25

Page 28: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

O projecto tem

o nome do bairro.

Alagoas, no município

do Peso da Régua,

em plena capital

do vinho e da vinha,

centro da mais famosa região

demarcada do mundo.

Uma empreitada

de requalificação, liderada pelo

Instituto da Habitação,

transformou aqui uma

insustentabilidade crónica

em qualidade urbana

a todos os níveis.

Em três anos.

reabilitação urbana

texto_J. R. / redacção Causas Comuns

O Bairro das Alagoas na Réguafoi construído em 1979 parafamílias de condição social muitomodesta, uma boa parte delasdesalojadas das zonas ribeirinhasdo Douro por motivo das cheias.Ao longo de quase três décadasviveu o estigma dos bairrosmalditos, marginais, e tornou-sesímbolo da guetização social.«Era uma zona periférica da urbe,sem qualquer tipo de atenção,esquecida, abandonada, e hoje,após uma intervenção físicae social, está totalmente reabilitada- a cidade cresceu naquela direcção

e abraçou-a», resume parao CAUSAS COMUNS o vereadorda Habitação na Câmara Municipalde Peso da Régua, Mário Montes.A solução para o caso do “BairroVerde” – assim se chamavao complexo de habitação socialerguido na antiga Quinta dasAlagoas - deu o primeiro passoem 2005, quando o Institutoda Habitação conseguiu com êxitoinscrever esta área degradadada Régua no Programa “VelhosGuetos, Novas Centralidades»,financiado pela AssociaçãoEuropeia de Livre Comércio - EFTA.«A candidatura enquadrou-senuma nova política de cidades,

Bairro das Alagoasera um guetohá três anos

Page 29: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

estendendo o conceito tradicionala um domínio mais vasto quearticule a perspectiva económica,social e ambiental», explicaa representante do IHRUno Projecto, Maria João Freitas.«Para além da sustentabilidadeambiental e a requalificaçãourbana, os objectivos visavamtambém assegurar a coesão sociale a qualidade de vida, utilizarinovação e conhecimentoorganizacional», sublinhou.

«A reabilitação dos prédiosseguiu-se à reabilitação exteriordo bairro social, um processopermanentemente acompanhadopela câmara municipal», recordaMário Montes, para quem o êxitodo projecto estratégico Alagoas«está à vista: o espaçoencontra-se perfeitamenteintegrado na cidade, em todasas suas envolventes».

Até hoje, ronda o milhãoe 700 mil euros o investimento,comparticipado em 85% pela EFTA.São oito blocos habitacionais, vintee duas entradas, onde residemaproximadamente 600 moradores,num total de 160 famílias. Vintepor cento dessas famílias sãode etnia cigana. Trajectóriasde vida de pobreza e de exclusãosocial, entrecruzadas com a degra-dação progressiva do ambiente,pintaram com as piores coresa guetização do bairro, conferindo--lhe uma imagem negativaextremamente difícil de apagar.«O estigma que se vivia no BairroVerde era interior e exterior»,analisa o arquitecto FernandoSeara, coordenador do ProjectoAlagoas. Segundo Fernando Seara,os problemas estruturaisdiagnosticados deram origema outros problemas específicos,como a inexistência de gestãoconsolidada, uma intervençãodescontinuada no tempo.

Como potencialidades foram,contudo, identificados algunsaspectos positivos por viado crescente envolvimentoda centralidade urbana. Isto é,foram criadas no bairro infra-estruturas na educação – umaescola EB 2.3, outra P3e um jardim-escola –, na segurançapública – um posto da GNR –,e no comércio – um supermercadode média superfície. Foram pontosde partida para a intervençãono terreno. Segundo o arquitectoFernando Seara, para se ter umanoção do trabalho que terminaráno próximo mês de Março,é imprescindível abordar a vastae rica panóplia de acções praticadaem Alagoas, divididas por quatroáreas de intervenção: Residentes,Ambiente construído, Gestãoe comunicação, e Representaçõessócio-espaciais. «Estão todasinterligadas e o nível de sucessoobtido é bastante elevado», refereo coordenador do projecto.

2_

Causas Comuns_ Jan2008_ 27

Esforço conjunto

Page 30: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

reabilitação urbana

Sobre os Residentes, as acçõesabrangem formação, qualificaçãoprofissional e mercado de trabalho,actividades com crianças,cidadania, ambiente e saúde.Realizaram-se ou estão a decorrercursos de jardinagem, informática,cozinha, apoio à família.As “oficinas de Verão”implementam competências sociais.As “feiras de profissões”desenvolvem uma aproximaçãoao papel da escola, e iniciativascomo “novas experiências”ministram conhecimentosde cabeleireiro e outras.O envolvimento dos jovensabrange a animação sócio-cultural,a recuperação dos espaçosexteriores através da pintura, fériasdesportivas e o regresso à escolaem turmas do Plano Integrado deEducação e Formação, as “PIEFs”.

O incremento das actividadesextra-escolares, como idasao cinema, teatro, visitas de estudoe realização de feiras do livroocupam igualmente lugar centralnos programas de acçãopara os jovens.Paralelamente à renovaçãode espaços decorre a renovaçãode mentalidades. O apoio à associa-ção de moradores, fomentando-sea participação dos cidadãos nasactividades promovidas, porexemplo, pelas associaçõesculturais da cidade da Réguae outras onde se realizemespectáculos. O objectivo passapela abertura do bairro, outroraculturalmente fechado, ao exterior.Os “Serões” são bom exemplode participação social, ondese recordam aprendizagense se reconstroem ligações entreos moradores. No ambientee saúde, a população descobriuo sentido cívico em montareco-pontos, recolher

medicamentos, formar brigadasanti-lixo e plantar árvores.Acompanham, de resto, o trabalhona área «Ambiente reconstruído»,onde se tem destacado a renovaçãode infra-estruturas (sistemasde água, esgotos, águas pluviais,iluminação públicae estacionamento).Para isto tornou-se fulcral umarede sólida de parcerias comentidades como o Institutode Emprego e FormaçãoProfissional de Vila Real,Associação de Desenvolvimentoda Régua, Centro de Empregoda Régua, Associação Regionalde Apoio ao Deficiente, CâmaraMunicipal do Peso da Régua,Associação Comercial e Industrialdos Concelhos de Peso da Régua,Santa Marta de Penaguiãoe Mesão Frio.O Projecto Alagoas dispõeda colaboração do LaboratórioNacional de Engenharia Civil,e é gerido por uma Comissão

Moradorese parceiros

Page 31: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

Executiva composta pela Câmarada Régua, pelo Centro Distritalda Segurança Social de Vila Reale o pelo IHRU, que preside.«Ele entrelaça de forma muitaespecial a reabilitação físicado edificado com o desenvol-vimento da auto-estima e dascompetências sociais dos habitantesdo território intervencionado»,considera Francisco Rochada direcção do Institutoda Segurança Social.

Na conclusão do Projecto Alagoas,o derradeiro desafio tem a ver coma continuidade da obra.«Acabado o projecto e extintaa equipa de executivos, há quedeixar garantido o seu plenofuncionamento», chama a atençãoo arquitecto Fernando Seara.E explica: «Todas as estruturas,todo o pessoal empenhado neste

trabalho deverá ficar a trabalhardirectamente com o bairro paraque as acções possamprolongar-se no tempo».Na realidade, «seria uma enormeperda que fossem ignorados todosos incrementos alcançados», alertaFrancisco Rocha. Segundoo responsável da Segurança Socialque integra a Comissão Executiva,«do mesmo modo não pode serdesperdiçado o envolvimento dosmuitos Parceiros que tambémcontribuíram decisivamente parao sucesso desta intervenção».A sensibilização e a formaçãocontinuarão no futuro como áreasnevrálgicas no programa «VelhosGuetos, Novas Centralidades».É uma das chaves do êxito doProjecto Alagoas, que o vereadorMário Montes vê como «excelentemodelo para exportação».«À Câmara da Régua tem chegadomuita curiosidade e interesse sobreos resultados aqui obtidos, umasolução possível para aquilo que

noutras zonas designam por bairrosproblemáticos».«Pelas característicasinovadoras deste modelode intervenção e de gestão,não temos dúvidas que estamosem presença de uma boa prática

que poderá ser divulgada,difundida e aplicada em outrosterritórios», espera, com fundadasexpectativas, Francisco Rocha.E o vereador da Câmara do Pesoda Régua, Mário Montes, reveladesde já os próximos candidatos:«São doze famílias de ciganosabandonadas há dezoito anosna Barragem de Bagaúste». Quantoàs Alagoas, os seus moradoresestão agora a mobilizar-se paraem breve discutir nos seus “serões”a reabilitação do antigo nomedo bairro. É que o medoe a vergonha de outrora foramsubstituídos pelo orgulho de hojeem habitar o Bairro Verde.

5_

Causas Comuns_ Jan2008_ 29

Exemplo a seguir

Page 32: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

Está a um ano de terminar

uma intervenção na vila

açoreana de Rabo de Peixe que

teve o apoio dos Fundos EFTA

e do Ministério do Ambiente.

Esta iniciativa vai muito além

da simples construção

de novos equipamentos,

desenvolve um amplo

programa de acções

de intervenção social

consideradas essenciais para

desenvolver princípios

básicos de cidadania,

dado o isolamento em que

têm vivido os seus habitantes.

texto_Carlos Peralta

“Rabo de Peixe é um projecto muitoimportante para a freguesiade Rabo de Peixe do concelhoda Ribeira Grande. Trata-se de umapopulação muito fechada, muitodependente da actividade da pesca,onde qualquer projecto de inter-venção social tem tido dificuldadeem dar frutos. Há ainda uma fortedependência da figura masculinana estrutura familiar sendo,portanto, difícil libertar certospreconceitos, resultado do isola-mento. Há mães muito jovens,problemas de alcoolismo e outrosproblemas sociais muito complexos”.

Quem o afirma é Mafalda Reynolds,vogal do Conselho Directivodo Instituto da Habitação e Reabili-tação Urbana (IHRU), organismoresponsável pela implementaçãodeste projecto e que suporta,através do PIDDAC, os 15 por centode financiamento que os FundosEFTA não cobrem.Os fundos EFTA (AssociaçãoEuropeia de Livre Comércio), agorachamados Fundos EEE (EspaçoEconómico Europeu), atribuem85 por cento a todos os projectoselegíveis, cabendo o restanteàs autoridades nacionais.Segundo Mafalda Reynolds,“o projecto teve como intenção

Velhos Guetos, Novas Centralidades

Mudar de vidaem Rabo de Peixe

reabilitação urbana

Escola do 1.º ciclo

Page 33: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

intervir em três áreas: ambiente,infra-estruturas sociais e identidade,sendo a estratégia criarinfra-estruturas com vistaao desenvolvimento de princípiosmais fortes de cidadania.Foi atendendo à necessidade,ao querer dar outras alternativase possibilidades aquelas pessoase estrutura social, que se enquadrouesta iniciativa”.O projecto desenvolve acçõesde intervenção, que interagem comum plano de obras visandotransformar Rabo de Peixe,dotando a localidade de umconjunto de infra-estruturas sociaisalém de outras básicas, comoo abastecimento de águae o saneamento.“Os pressupostos paraas obras e a definição dosequipamentos apoiados tiveramem consideração o aparecimentode novas dinâmicas sociaispara criar novas oportunidades”,esclarece a responsável do IHRU.

Este projecto tem os fundos EFTAe o Ministério do Ambiente comoentidades financiadoras, o IHRU tema função de gerir e representaro Governo da Repúblicana Comissão Executiva que inclui,ainda, representantes do GovernoRegional, da Câmara Municipalda Ribeira Grande e da Juntade Freguesia de Rabo de Peixe.No terreno, para gerir todasas vertentes do projecto, foi criadauma equipa de proximidade,a Equipa Executiva Local.No processo de integraçãoforam também envolvidos,como donos de obra ou parceiroslocais, além dos já referidos,as IPSS, a Santa Casada Misericórdia da Ribeira Grandee associações cívicas.A Equipa Executiva Local integrauma gestora e tem várias valências,

que vão da gestão financeiraà presença de psicólogos, sociólogos,animadores culturais e trabalhamtodas as vertentes previstas.O Laboratório de Engenharia Civil,explica Mafalda Reynolds,“é o agente de monitorização, devidoaos regulamentos dos Fundos EFTA,que obrigam que uma entidade nacional idónea e independentede nós e dos donos da obra acom-panhe o projecto. Face ao projectoapresentado e aos planos anuaiso LNEC faz um relatório trimestralpara os Fundos EFTA”.Este projecto tem duas vertentes,a de intervenção sociale a de ambiente construído.Na área social, as intervençõescobrem vários aspectos, de ondese destacam formação e qualificaçãoprofissional, promoção do emprego,educação, saúde, quer materno-infantil, quer na adolescênciae comunitária, ambiente, estudode problemas sociais e implemen-tação e acções organizadas.

Envolvimentoglobal

4_

Causas Comuns_ Jan2008_ 31

Page 34: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

reabilitação urbana

“Este projecto é muito ambiciosoe inclui um conjuntode equipa-mentos que não existiamconcentrados naquela zona.Certamente que o impacto vai sermuito grande”.Os equipamentos a que se referea Vogal do Conselho Directivodo IHRU são um complexodesportivo, um centro familiar,um Centro de Artes e Ofícios,uma Escola Profissional, um CentroComunitário e Centro de Juventude

e as sedes do clube desportivoe do clube naval de Rabo de Peixe.“Houve a preocupação que todoeste esforço de investimento tenhagrande sustentabilidadenos próximos anos de utilização.Por isso, está-se já a trabalhar comtodos os parceiros que vão geriresses equipamentos”,e prossegue:“Por exemplo, a construção docomplexo desportivo, que incluiuma piscina de 25m e um ginásio,está instalado junto a escolas, masos gestores destes equipamentosestão sensibilizados para, depoisdos períodos afectos às actividadesdessas escolas, poderem ser usadaspor outras pessoas do concelho

e de outros concelhos. É que,no concelho da Ribeira Grandenão existe uma piscina de 25maquecida. Têm de ir a Rabo dePeixe. E isso tem a grandevantagem de trazer pessoas de forapara partilhar espaços e criaras rupturas que, até agora, têmsido difíceis”.E conclui Mafalda Reynolds,“o projecto vai acabarem Dezembro de 2008, tendo tidoinício em Janeiro de 2005,embora os trabalhos preparatóriose candidatura sejam anteriores.A escola, por exemplo, já vaifuncionar no próximo ano lectivo.

http:/www.eftarabodepeixe.com/

Ambiente construído- Forte conjuntode equipamentos

2_1_

Page 35: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

Até 2013 o IHRU tem a seu cargo

a qualificação e reinserção de três bairros críticos.

Cova da Moura, Vale da Amoreira e Bairro do Lagarteiro

são locais com características diferentes,

que requerem intervenções de variados tipos.

A coordenadora do projecto,

Virgínia Leite de Sousa, fala de um trabalho

integrado que pretende acabar com a exclusão.

Causas Comuns_ Jan2008_ 33

Page 36: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

habitação social

Intervenção em bairros críticos contacom a participação de moradores e ministérios

Este projectonão é apenas do IHRU,

mas de um conjunto de parceiros

Dra. Virgínia Leite de Sousa

texto_Sofia Velez

Como é feita a qualificação e reinserção urbana

de bairros críticos?

O primeiro pressuposto é que esse bairro sofrade determinado tipo de exclusão. Quando dizemosque queremos qualificar e reinserir um determinadobairro, queremos que ele deixe de ser segregadoe que todos os que o habitam sejam cidadãosde pleno direito. E, portanto, isto parte de umdiagnóstico das diferentes zonas para se entenderquais são os níveis de exclusão dessas áreas. Depois,faz-se um plano que tente, com todos os moradores,elaborar um projecto que insira essa área geográficana sua freguesia, ou território, para deixarde ser uma área segregada.

O projecto conta com vários intervenientes.

Quem são?

São todas as organizações públicas e privadas queactuam nesse espaço. São representantes dosmoradores, associações, pessoas e técnicosde instituições locais e da administração central,mas que têm serviços ou funções desconcentradasnaquele local. Estou a falar na saúde, segurançasocial ou emprego. É um conjunto imenso de parceirosque está a actuar naqueles locais.

Para já, o projecto de qualificação e reinserção

centra-se em 3 bairros críticos (Cova da Moura,

Bairro do Lagarteiro e Vale da Amoreira), cada um

com as suas especificidades. Quais são as principais

exigências de cada um dos locais?

Deve-se começar por princípios que orientaram todoo trabalho e que são comuns aos três projectos.Queremos que os projectos sejam mobilizadorese com capacidade de impacto estrutural.Se não forem feitos com as pessoas e comas organizações que operam e que representamos seus moradores, se não mobilizarem toda a genteno sentido da mudança, não vamos ter um projectocom impacto estrutural. Vamos fazer algumas acçõesimportantes, mas não vamos fazer a mudança.Porque as pessoas que operam no local não vãomudar. E esta é a primeira questão. Depois, sãoprojectos integrados. Todos os sectores,coordenadamente, actuam em função de um problemaque diagnosticaram no mesmo tempo e no mesmoespaço. Queremos, nos três bairros, que todos osparceiros participem e que esta coordenação sejaestratégica. Temos, também, novas formasde financiamento como princípios de orientação.Normalmente há um projecto com um determinadofinanciamento e nós adaptamos as acções.Aqui, temos um programa aberto em que vamos

Page 37: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

procurar o financiamento em função do que queremosresolver. Não estamos condicionados a um orçamentopré-estabelecido.

Mas há um plafond definido…

Há um plafond e uma candidatura que asseguramuma base clara da equipa e de outras acçõesno território. Temos financiamento para questõescentrais. Noutros casos, quer o IHRU quer as câmarasmunicipais colocam-se no terreno para resolver essetipo de intervenção. Temos outras situações, ainda,em que vamos à procura do financiamento.

Destes três bairros, qual é o que tem maiores

necessidades?

São completamente diferentes porque dependedo que estamos a equacionar em termosde necessidades. Foi um dos critérios de selecção.Um é um bairro social (Bairro do Lagarteiro), outroé uma área de ocupação clandestina (Cova da Moura)e um outro é uma freguesia (Vale da Amoreira).São diferentes porque este é um programaexperimental. Queremos mesmo perceberas diferenças. E cada um tem o seu conjuntode necessidades que, obviamente, também divergem.

Destes três casos, a ocupação clandestina pode ser

uma situação mais difícil de intervir?

É evidente que a Cova da Moura é uma intervençãomuito mais complicada. Mas, por outro lado, também

nos obriga a cumprir mais os princípios de orientação,a trabalhar mais com os parceiros, a ser mais inovador.É mais desafiante em termos de intervenção.

Há aqui toda uma questão social e de segurança

que leva a que muitos tenham medo de entrar no

bairro, incluindo a própria polícia. Como é que se

torna a Cova da Moura atractiva para quem está

de fora?

Quando se vai à Cova da Moura pode-se lá voltar.Primeiro, legalizando-se todo o território e as casas,trabalhando na área da formação profissionale da segurança. E tentando valorizar o que estálá e que é único. Se calhar, se os cabeleireirosafricanos que lá existirem tiverem boas condições,e se saiba que é higienicamente bom, que nãohá problemas de segurança por entrar no bairro,as pessoas vão lá. Há muitas questões que estão ali.A primeira – e mais complicada - é a questãodo território. E tem de se perceber como é que selegaliza, como é que se preserva o que é importantepreservar e deitar abaixo, o que é necessário parase reconstruir. E saber trabalhar com a população.

Já fizeram esse levantamento?

Está a ser feito. Houve um trabalho de diagnóstico,depois de planificação e a intervenção está no terrenodesde Outubro. Neste momento, está o LNEC[Laboratório Nacional de Engenharia Civil] a fazero levantamento do que está construído para saber

Causas Comuns_ Jan2008_ 35

Page 38: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

o que se pode reabilitar, o que se reabilita mas precisade alterações e o que não tem reabilitação.Depois serão reconstruídas casas nesses locais?

Depois deste trabalho haverá uma outra equipa queirá para o terreno por concurso para fazer o planode pormenor. Em termos de plano de pormenor, podehaver algumas casas que tenham de ser demolidaspara que o desenho urbano onde se consiga viverpossa existir.

Nestas questões de ocupação de território, uma das

críticas que a opinião pública aponta é o facto de

haver ocupações ilegais, com pessoas a receberem

subsídios e a quem depois são dadas casas. Como é

que vão dar a volta a esta questão?

As pessoas já têm a sua casa.

Mesmo que ilegalmente construída?

Sim, mas esse ilegal, nalguns casos, tem 30 anos.Há situações em que a justiça é sempre relativa.Porque, objectivamente, aquelas pessoas que vivemali necessitam de casa. Construíram-na, algunsno pressuposto de que o terreno era público, pornecessidade. Este não é o caso único, antes fosse,de ocupação dos clandestinos. As pessoas que vivemna Cova da Moura e que necessitam de casa, digamosque sob o ponto de vista ético – provavelmente nãosob o ponto de vista legal, isso é uma questão queeu nem sei responder – têm de ter a sua casa.Porque também os poderes públicos deixaram queas pessoas construíssem sem que, no imediato,tivessem qualquer tipo de intervenção.

Vai haver alguma contrapartida? As pessoas vão

pagar alguma quantia pelas casas?

A questão será discutida por parceiros locais.No momento em que se proceder à legalização,provavelmente as pessoas também terão de pagara sua quota-parte. Mesmo que o terreno fique para

a câmara – que é essa a hipótese – e que as pessoasfiquem com direito de superfície, obviamente quehá aqui um valor que poderão ter de pagar.Mas isso também terá de ser avaliado em função dosrecursos da população.

Algumas vezes assiste-se à passagem

de um “barril de pólvora” de um local para outro.

Este projecto pretende o contrário: em vez

de separar as pessoas, pretende reabilitar os espaços.

Não seria mais fácil dividir pessoas, em vez

de reabilitar todo um foco de problemas?

Provavelmente era uma opção, mas ali há questõesculturais e de relações entre as pessoas que são muitofortes. É uma vivência que pode ter problemas,mas que tem imensas oportunidades e aspectos muitopositivos. Para a opinião pública é mais fácil colocaras pessoas em vários sítios porque a visibilidade dosproblemas deixa de existir. Eles continuam, mas nósnão os vemos e descansamos. Toda a gente da Covada Moura que optar por sair, tem oportunidade paraisso. Estão em aberto todas as opções.Esse apoio está previsto. Ninguém é expulso à forçae ninguém é obrigado a ficar, o que também eraoutra forma de violência. E terão todo o apoio.

Em relação aos outros bairros.

No caso do Lagarteiro, como é feita a intervenção?

Não é certo que venhamos a intervir no Lagarteiroporque ainda não foi assinado o protocolo de parceria,nomeadamente com a Câmara Municipal do Porto.Trata-se de um bairro social em muito mau estadono que diz respeito ao edificado e à envolvente.É um bairro muito fechado sobre si.Do ponto de vista físico, precisa de reabilitaçãourbana. Do ponto de vista social, há um conjuntode trabalho a fazer, sobretudo em relação ao insucessoe abandono escolar, à questão do desemprego,da formação profissional. Há um sem número

habitação social

Page 39: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

de questões que se colocam neste bairro de populaçãobastante pobre. No Lagarteiro, a intervençãoé na requalificação urbanística e ambiental do bairro,todo um trabalho relacionado com a saúde porquehá muitas dependências, a segurança activa, a escola.

Qual é a realidade do Vale da Amoreira?É conhecido como uma freguesia, um territóriocompletamente fragmentado. Tem bairros sociais,bairros de promoção privada e uns que não sãode promoção privada nem sociais porque já foramvendidas as casas. Nesta confusão, a própria freguesiaé fragmentada e auto-centrada.O Vale da Amoreira tem grandes potencialidades,nomeadamente nas expressões artísticas.Tem lá um conjunto grande de artistas, dos melhoresa nível nacional e internacional. Por outro lado,há insucesso e abandono escolar. Isto faz um ciclovicioso em que as pessoas têm poucas habilitaçõese não entram no mercado de trabalho.Há também a questão do multiculturalismo.Depois, temos um espaço urbano com uma parteabandonada. Pretende-se fazer a requalificaçãodo território nos bairros que pertencem ao IHRU.Noutros bairros, vamos tentar que a centralidadedo trabalho seja na expressão artística com a criaçãode um centro. Está em discussão o conteúdo funcional,mas já há terreno e estamos na fase de reflectir comtoda a gente. Para que seja um meio de atingir, pelaarte, alguns dos objectivos que temos aqui: combatero insucesso e o abandono escolar.

Ainda é recente, mas como é que as pessoas têmrecebido este projecto?Há sempre um misto de grande adesão e de um certotemor porque a mudança é complicada.É preciso confiar que esta mudança é para melhor,que são respeitados os princípios da iniciativa,que não vamos ser demagógicos.Eu penso que é normal que as pessoas estejaminquietas. Em termos de adesão, de tentar resolveros problemas que são colocados, na mobilizaçãodas pessoas, tem sido excelente. Não se pode exigirmais. Este projecto não é apenas do IHRU,é do conjunto dos parceiros que lá está.

Causas Comuns_ Jan2008_ 37

Page 40: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

arrendamento

O arquitecto Vítor Reis

é o responsável técnico pela plataforma informática

do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU)

que apoia um vasto leque de entidades que trabalham

com questões relacionadas com a actualização de rendas

ou com os coeficientes de conservação dos imóveis.

Sobre o novo sistema, sublinha que é pioneiro

na interoperabilidade entre as várias entidades,

aposta na não existência de papéis “físicos” e pretende que

a informação esteja apenas à distância de um clique.

Page 41: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

texto_Carlos Peraltafotos_Filipe Guerra

Qual o papel do IHRU dentro do

Novo Regime de Arrendamento

Urbano (NRAU)?

Dentro do NRAU, o IHRU teve trêspapéis. Numa primeira fase,coordenou o sistema que levouà construção da plataformainformática. Esta actividadeenvolveu um conjunto vastode entidades – LaboratórioNacional de Engenharia Civil(LNEC), Ordens profissionais,Direcção-Geral de Contribuiçãoe Impostos (DGCI), Institutode Informática da SegurançaSocial, Unidade de Missão paraa Sociedade do Conhecimento.Numa segunda etapa, o IHRU,através da empresa Opensoft crioua plataforma de backoffice

e de apoio aos utilizadores.Temos um serviço vocacionadopara os apoiar os utilizadores, sejados vários serviços públicos, sejamos particulares (arrendatáriose senhorios). Por último, o terceiro

papel tem que ver coma actualização das rendas, já queé o IHRU que faz a gestão directade todos os processos de atribuiçãodo subsídio de renda.

Como funciona esta plataforma

logística de apoio ao NRAU?

O NRAU é um sistema queresponde a um conjuntode 12 tipos de utilizadores, ou seja,há 12 tipos de pessoas ou entidadesque precisam da plataforma paraoperar. Essas entidades sãosenhorios, arrendatários, seusrepresentantes, técnicos, engenheiros,arquitectos e engenheiros técnicoscertificados para fazer as vistorias,ordens profissionais que validamestes mesmos técnicos.Depois existem ainda os Serviçosde Finanças da DGCI, as câmarasmunicipais, onde existemtesoureiros, membros das comissõesarbitrais, árbitros e todo o processoadministrativo subjacente.Finalmente, os serviços da Segu-rança Social onde são entregues

os pedidos de subsídio, sem esquecerque no final da linha está o IHRU.

Qual foi o desafio proposto ao

IHRU?

O nosso desafio foi criar umaplataforma onde estes 12 tiposde pessoas tratassem os processosonline, sem que houvesse duplicaçãode informação, de forma integradae o mais possível em tempo real.A plataforma funciona exclusi-vamente na internet. Existe umabase de dados única, alojadano Instituto, partilhada por todasas entidades que acedem ao sistema.

Qual é a grande inovação trazida

por esta plataforma?

Procurámos transportar parao sistema as boas práticasem termos europeus de sistemasde informação.Primeiro, disponibilizar os serviçosonline, para que as pessoas lhesconsigam aceder facilmente.Depois, procurar que responda emtempo real, para que não tenham

O Novo Regime do Arrendamento Urbano

IHRU cria plataformainformática pioneira

Causas Comuns_ Out-Dez2007_ 39

Page 42: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

arrendamento

de estar à espera do processode actualização de rendas.Também procurámos a desmateria-lização dos processos, isto é, quenão haja papel. É certo que aindahá desconfianças, mas o objectivoé que as pessoas não tenhamde andar com papéis de um ladopara o outro, pelo que a informaçãoestá guardada à distânciade um clique.Além disso, há também a externali-zação da introdução dos dados,ou seja, deixamos de escreveros pedidos, dados ou informaçãopara serem as próprias pessoasa fazê-lo. Finalmente, a nãoduplicação da informação.

Refere-se à interoperabilidade...

Quando temos os sistemas todosintegrados, a informação queaparece é a correcta. Por exemplo,quando se insere um dado númerode contribuinte, a informação queaparece é a que está no cadastroda DGCI. Em Portugal, este sistemaé o primeiro que utiliza de formaalargada uma novidade dossistemas de informação, a chamadainteroperabilidade, em que umdado sistema opera e interage com

outros, seja com o da SegurançaSocial ou com o das Finanças.Além disso, partilha a informaçãocom as câmaras municipaise os técnicos. A interoperabilidadeé um sistema aberto em que pessoas,que podiam ter diferentes basesde dados, partilham a informação,interoperando entre si.Essa é grande inovação quea plataforma veio permitir e que,é de facto, a primeira a esta escalaa operar em Portugal.

Como está estruturado o portal?

Existe uma área pública, o portalpropriamente dito, ao qual acedeo público em geral. Depois existeuma área privada, exclusiva dasduas partes envolvidas no processode actualização de rendas –senhorios e arrendatários – ondepodem calcular rendas, obterinformação e podem despoletartodo o processo. Existe uma outraárea reservada às câmarasmunicipais, para fazer a gestãodos processos de atribuição doscoeficientes de conservação dosprédios. Finalmente, existe umaárea, também privada, partilhadapor todas as entidades das váriasinstituições envolvidas, a chamadaplataforma de integração,ou a extranet, ondetodos podem interagir.

Este sistema foi pensado para as

rendas novas, isto é, para os

contratos de arrendamento

recentes?

Não, este sistema foi concebidopara as rendas antigas. O NRAUdestina-se às rendas habitacionaisanteriores a 1990 e nãohabitacionais anteriores a 1995.Está disponível na plataforma umconjunto de mecanismosde actualização faseada da renda.Neste sistema, do ponto de vistada actualização das rendas,os beneficiários são, em primeirolugar, os senhorios.Mas, os arrendatários tambémbeneficiam, na medida em queestão disponíveis mecanismos dedefesa dos seus interesses.É a partir daqui que se desenvolvemos processos. Por exemplo,o senhorio pode querer quea actualização das rendas ocorranum período mais curto.A lei prevê a existência de períodosde actualização das rendas quevariam entre dois, cinco ou dezanos. De acordo com a legislação,o senhorio, quando inicia o proces-so de actualização de rendas, podecomunicar esse processo em cincoanos. Mas o arrendatário podeinvocar a idade ou rendimentosbaixos e, a partir daí, obter umfaseamento em dez anos.Se o senhorio invocar que a casa

Informação

Partilhada

Page 43: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

não está a ser usada, apesardo arrendatário continuar a pagara renda, pode actualizar a rendaem dois anos.

Quais são as ferramentas

disponibilizadas e como

funcionam?

O portal tem uma área pública,onde foi colocada toda a legislaçãodisponível, as minutas das cartasque podem ser trocadas e todaa informação sobre as actualizaçõesde rendas.Também disponibilizamos umsistema de simuladores, quepermitem fazer o apuramentodo valor das rendas, isto parao caso de se querer verificaro impacto que a actualizaçãoirá ter. Na área privada existea informação pessoal e sensíveldas pessoas, onde é tratadoo processo de actualizaçãode rendas ou dos coeficientesde conservação, as ferramentasde trabalho das câmaras municipais,das ordens profissionais, da DGCI.

Quantos simuladores existem?

São três, a actualização das rendas,a ficha de determinação do estadode conservação e o subsídiode renda. É fundamental tera noção que a actualização dasrendas só pode acontecer se setiver verificado a conjugação

de duas coisas: o prédio ter o seuvalor patrimonial actualizado(feito pelas Finanças) e se o seuestado de conservação for aceitável.Sem a determinação destes doiselementos não é possível fazero cálculo da nova renda.

Mas há muitos senhorios

que têm optado por deixar

o valor patrimonial dos seus

imóveis baixo...

Dentro de algum tempo, a lei iráprovocar a actualização do valorpatrimonial independentementedo valor das rendas cobradas.Será bom que os senhoriosavancem com o processode actualização, porque é a únicaforma que têm de amortecero impacto da actualizaçãodo valor patrimonial.

Houve ou vai haver alguma

divulgação para que os cidadãos

saibam da existência desta

plataforma?

Temos vindo a fazer essadivulgação. A questão é que estesistema se destina a um universorestrito de pessoas. Não estamosa falar de algo que o públicoem geral necessite. As associaçõesde proprietários e de inquilinose as ordens profissionais,participam no processo desde inícioe conhecem o sistema.

Quantos utilizadores esperam

ter no site?

Este é um site que funcionade forma fechada quantoaos utilizadores. As pessoas paraentrarem têm de escrevero seu número de contribuinte, têmde possuir a sua senha dasdeclarações electrónicas e só assimse autenticam.Temos contabilizado 15 mil pessoascomo utilizadores registados,que utilizam o sistema.Entre estas contam-se técnicos dascâmaras municipais, particulares,senhorios, arrendatários, técnicos,ordens profissionais, o próprioinstituto. Actualmente existem oitomil processos, é algo que estáa crescer todos os dias.Estão a surgir cerca de 500 novosprocessos por mês.

Qual é o universo que está por

base deste sistema?

Fala-se num universo de 400 milcasas arrendadas. Mas é importanteter presente que neste número,provavelmente, estão muitas casasvazias, porque os seus arrendatáriosentretanto faleceram. Assim, aprobabilidade do número dearrendamentos se reduziraceleradamente, é grande. Estamosa falar de um sistema que, dentrode 10 a 12 anos, provocará a suaprópria extinção.

Causas Comuns_ Out-Dez2007_ 41

Page 44: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

texto_Carlos Peralta

O Porta 65 Jovem é apenas

um dos instrumento de uma

iniciativa mais ampla, a iniciativa

a Porta 65. Que eixos são esses?

A iniciativa Porta 65 prevê,

além do Porta 65 - Jovem, mais

três eixos ou instrumentos, a saber:

Porta 65 - Bolsa de Habitação

e Mobilidade, Porta 65 - Gestão

e Proximidade e Porta 65 -

Residência (Coabitação) Apoiada.

Dos quatro instrumentos referidos

só um foi, para já, regulamentado

e arrancou. Os outros estão

em fase de criação e de lançamento

nos próximos meses.

Em Setembro foi publicada

legislação específica que cria

o novo regime de apoio aos jovens

arrendatários: o Porta 65 - Jovem

que substitui o anterior Incentivo

ao Arrendamento por Jovens

(IAJ). Quer comentar?

O IAJ era um programa com

15 anos, que vinha de 1992,

durante a sua vigência apoiou

cerca de 152 mil agregados e que

nunca foi revisto. Tratava-se de

um programa que, por exemplo,

não associava o valor da renda

aos rendimentos dos jovens.

Os conceitos novos que foram

introduzidos no Porta 65 Jovem

resultam de um estudo muito

profundo que fez uma avaliação

dos 15 anos do IAJ, os pontos

fortes e os pontos fracos.

Foi com base nesse estudo que

se concebeu o novo regime.

O que muda, no essencial,

em relação ao IAJ?

Há diferenças no que respeita aos

beneficiários, às rendas, o conceito

de renda num regime e noutro,

em termos de rendimento o que

era considerado como rendimento

limite num e noutro, taxa

de esforço, em termos de tipologia

porque no IAJ não havia o conceito

de adequar a tipologia do fogo

à tipologia da família, ao número

arrendamento

Apoio ao arrendamento para jovens

Porta 65 Jovemresponde às novasrealidadesA Iniciativa Porta 65 tem como missãopromover um mercado de arrendamentopara habitação e, como tal, insere-se no âmbitodas atribuições do Instituto da Habitação eReabilitação Urbana. Entre os instrumentosprevistos de execução do Porta 65já foi regulamentado e está em execução,o designado Porta 65 Jovem. Mafalda Reynolds,vogal do Conselho Directivo traçao essencial deste novo regimede apoio ao arrendamento jovem.

Page 45: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

de pessoas do agregado familiar,

a duração do apoio, a coesão social,

a coesão territorial.

Por exemplo...

No caso dos beneficiários, jovens

só, em família ou em coabitação

jovem em qualquer dos regimes

são sempre jovens até 30 anos,

mas, agora, se se tratar de um casal

jovem um dos elementos pode ter

até 32 anos. Por outro lado no IAJ

não havia fixação de idade mínima

e isso era uma das distorções

possíveis, havia pessoas com

15/16 anos que se candidatavam.

Agora os jovens só podem ser

candidatos se tiverem

mais de 18 anos.

O Porta 65 Jovem já está em

funcionamento?

Após a publicação da portaria

no final de Novembro 30/11/07,

foi aberto, no início de Dezembro

o primeiro período de candidaturas,

ainda em 2007, anunciado

no Portal da Habitação com os dias

em que está aberto o periodo

de entrega das candidaturas..

Candidatura que também difere

em relação ao IAJ?

Enquanto no IAJ em qualquer

altura do ano se podia apresentar

as candidaturas, neste sistema há

quatro períodos por ano em que

os jovens se podem candidatar,

depois há uma seriação e uma

verificação dos critérios

de elegibilidade.

Segue-se a atribuição também

em função de um valor financeiro,

uma dotação fixada para

os beneficiários daquele período.

Como é evidente, os primeiros

pagamentos deste primeiro período

de Dezembro de 2007

só serão processados em 2008.

Como é feita a transição entre o

IAJ e o Porta 65 Jovem?

As pessoas abrangidas pelo IAJ

têm um regime transitório.

O subsídio era atribuído durante

um ano. Outra diferença entre

os dois regimes é que o IAJ era

atribuído por um ano com

a possibilidade de renovar por mais

quatro e agora o Porta 65

é atribuído por um ano e apenas

mais dois.

As pessoas que estão no primeiro

ano do IAJ podem ir até ao seu

términus. Por exemplo, se a pessoa

iniciou o seu processo em Maio

de 2007 recebe no regime do IAJ

até Abril de 2008 e pode-se

candidatar nesta primeira fase.

Se reunir as condições de

elegibilidade do Porta 65 - Jovem

é-lhe atribuido o novo subsídio

e suspenso o pagamento

do subsídio do IAJ.

Outra grande diferença com

o passado é a chamada “desma-

terialização”, ou seja,

a ausência de papéis, tudo se

passa numa plataforma “on line”?

O IAJ tinha um processo criado

há 15 anos muito burocratizado,

todo feito manualmente.

Agora é tudo desmaterializado,

ou seja o acesso à plataforma

é através das declarações

electrónicas, da “password”

da inscrição nas declarações

electrónicas nas Finanças, o que

qualquer pessoa, hoje, tem de fazer.

A partir disso têm-se uma partilha

de informação muito forte com

as autoridades que interagem

neste processo.

As fragilidades do passado

desaparecem com esta possibilidade

que tivemos de criar uma

plataforma que vai certificar

e cruzar todas as informações

evitando todas as “fugas” que

possam existir. Nesse aspecto

é um processo muito mais seguro

na sua efectiva aplicação.

As candidaturas serão

submetidas pela Internet...

Os jovens até podem fazer

as candidaturas em casa porque

os formulários estão todos

desmaterializados na plataforma.

O preenchimento do formulário

da candidatura implica o acesso

Causas Comuns_ Jan2008_ 43

Page 46: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

a vários menus, que incluem

instruções e esclarecimentos.

O Portal 65 Jovem aponta

também a coesão territorial

e reabilitação urbana.

De que modo?

Esse estímulo é, de facto, com

o critério de um parâmetro que

atribui uma subvenção superior

com uma majoração

de 10 por cento se as casas

alugadas estiverem situadas

em determinadas zonas – centros

históricos ou concelhos rurais

de baixa densidades; no fundo

é um sinal de que a política actual

tem um enfoque muito grande

na reabilitação urbana e na coesão

territorial, não será tudo,

mas é mais um sinal.

Quanto a verbas envolvidas

de que valores se está a falar?

Está inscrita e publicada

no Orçamento Geral do Estado

para o Arrendamento Urbano

e Habitacional uma verba

de 38 779 milhões de euros, cerca

de 40 milhões euros. Este valor

destina-se a todos os regimes em

que há subsídio ao arrendamento,

ou seja, o restante do IAJ até

Agosto de 2008, o NRAU e para

a Porta 65 Jovem.

No que respeita ao Porta 65, Jovem

concretamente, a distribuição

do subsídio não tem de ser igual

para todos os quatro períodos

anuais. Podem ser anunciados

“plafonds” diferentes para cada

período, por exemplo maior neste

primeiro período para arrancar

com mais força e depois”plafonds”

mais baixos no segundo e terceiro

período de candidaturas.

Em resumo o que destacaria

em relação à Porta 65 Jovem?

A mais valia que traz este

programa é ter revisto, ter

analisado num estudo que foi feito

ao regime que existia e ter-lhe

dado outra visão mais adequada

à realidade dos tempos de hoje.

O regime de há 15 anos

correspondia a uma realidade

e visava dar a uma alternativa

às bonificações que havia,

igualmente criadas nessa altura,

para apoiar a aquisição de fogos,

a bonificação do crédito aos jovens.

O IAJ apareceu como o apoio

do Estado ao arrendamento, o que

nessa altura era uma alternativa.

Em anos mais recentes foi decidido

cancelar todos os apoios a novas

candidaturas para bonificação

ao crédito jovem.

Agora, uma vez que deixou de

entendeu fazer uma avaliação de

todo o outro sistema e montar um

novo regime de apoio aos jovens,

mas já com regras diferentes

sócio-económica dos jovens, quer

aos novos estilos de vida destes.

haver o apoio ao crédito, o Estado

e mais adequado, quer à realidade

Page 47: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

Candidaturas On-Line

nos meses de Abril/Setembro/Dezembro

Page 48: Construção Sustentável no projecto Ponte da Pedra · Projecto e Produção: Dr. Luís Macedo e Sousa ... Projecto Rabo de Peixe habitação social Bairros Críticos: Cova da Moura,

novas tecnologias

patrimónioarquitectónico

solos

arrendamento

habitação

habitação social

reabilitação urbana

inovação

vidas

em mudança qualidade de vida

urbanismo

investigação

IHRU_Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana