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A Europa em movimento Construir a Europa dos Povos A União Europeia e a cultura Comissão Europeia

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A Europa em movimento

Construir a Europa dos PovosA União Europeia e a cultura

Comissão Europeia

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A presente publicação é editada nas seguintes línguas oficiais da União Europeia: alemão,dinamarquês, espanhol, finlandês, francês, grego, inglês, italiano, neerlandês, português esueco

Comissão EuropeiaDirecção-Geral da Imprensa e ComunicaçãoPublicaçõesB-1049 Bruxelles

Manuscrito concluído em Dezembro de 2001

Na capa: uma cena de Pane e Tulipani de Silvio Soldini, filme que recebeu o apoio doprograma MEDIA da União Europeia. Ver p. 20

Uma ficha bibliográfica encontra-se no fim desta obra

Luxemburgo: Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias, 2002

ISBN 92-894-3181-4

© Comunidades Europeias, 2002Reprodução autorizada

Printed in Belgium

IMPRESSO EM PAPEL BRANQUEADO SEM CLORO

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Construir a Europa dos PovosA União Europeia e a cultura

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Uma comunidade de culturas 3

A partilha de culturas 5Obras-primas ao alcance de um cliqueMons na esteira de Babel

Estimular a criação 10Toscanini contra o desempregoOs direitos de autor: incentivar a criaçãoBailarinos nómadas

Preservar e valorizar o património 14O teatro, uma disciplina multimediaÖland salva o seu passado

Um sector económico muito particular 18Vender cultura na Internet

A União Europeia e o mundo 21Cinema dos dois lados do Mediterrâneo

Sumário

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«Assinalar uma nova fase no processode integração europeia iniciado com ainstituição das Comunidades Euro-peias», continuar a criação de uma«união cada vez mais estreita entre ospovos da Europa…»: a vontade mani-festada pelos signatários do Tratadoda União Europeia, em Maastricht, em1992, aponta no sentido de umaEuropa dos povos. E esta Europapassa necessariamente pela cultura:pela primeira vez, a União era dotadade competências próprias neste domí-nio.O Tratado institui igualmente a «cida-dania europeia» que completa — enão substitui — a cidadania nacional.Aquele conceito traduz os valores fun-damentais partilhados pelos europeuse sobre os quais assenta a construçãoeuropeia, que se apoia igualmentenuma formidável herança culturalcomum. Acima de divisões geográfi-cas, religiosas ou políticas, as corren-tes artísticas, científicas ou filosóficasinfluenciaram-se e enriqueceram-semutuamente ao longo dos séculos,constituindo o património de que hojese podem reclamar as diversas cultu-ras da União. Com efeito, por maisdiferentes que sejam, os povos euro-peus partilham uma história que situaa Europa no mundo e na qual sefunda a sua especificidade.

É aí que se inscreve o «modelo cultu-ral europeu», entre o respeito pelaexpressão cultural própria de cadapovo e os intercâmbios, as acções decooperação, que alimentam e enri-quecem cada cultura.

Daí também que a política conduzidapela União tenha apostado sempreem evidenciar os traços comuns dospatrimónios europeus, em reforçar osentimento de pertença a uma mesmacomunidade, sempre no respeito dasdiversidades culturais — nacionais ouregionais —, bem como em contribuirpara o desenvolvimento e a difusãoculturais.

O Tratado de Maastricht não se limitaa consagrar a cultura como um sectorpor direito próprio da acção europeia:vincula a União à obrigação de levarem conta os aspectos culturais no con-junto das suas políticas. Os apoios for-necidos pela União no âmbito dassuas políticas regionais ou sociais (ummontante mínimo de 500 milhões deeuros por ano) fazem da Europa umagente de peso no desenvolvimentocultural.

Uma comunidade de culturas

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Mas, para além do investimento finan-ceiro, o papel da União consiste emfomentar os intercâmbios culturais, acooperação entre os operadores cul-turais e a circulação de obras. Na prá-tica, trata-se de implicar os cidadãos,os artistas, os profissionais da culturaem projectos e redes europeus, de esti-mular o conhecimento mútuo das res-pectivas criações culturais, de reforçaras capacidades de expressão de cadaum dos povos da União. Os projectosque figuram na presente brochura sãoapenas alguns exemplos entre muitos.

Desde o ano 2000, com base em pro-gramas pioneiros no domínio do patri-mónio, da tradução e da cooperaçãoartística, a União lançou o primeiroprograma-quadro de vocação estrita-mente cultural e a sua força motriznesta matéria: «Cultura 2000». A suadotação de 167 milhões de euros paraum período de quatro anos pode pare-cer modesta em comparação com ototal das despesas da União. Contudo,são numerosas as políticas comunitá-rias que, de forma horizontal, abor-dam igualmente a cultura, na suaacepção mais lata: para além das polí-ticas regional e social, as políticaspara a educação e a formação, os pro-gramas de investigação científica, as

iniciativas em prol das línguasapoiam, mediante as suas actividadesno terreno, a ideia de uma Europa plu-ral exprimindo-se em nome de umpatrimónio comum.

Uma Europa plural, sim, mas tambémuma Europa que leva os valores dadiversidade e do diálogo para alémdas suas fronteiras. Esta preocupaçãoé fundamental nos acordos celebra-dos pela União com países terceiros:a preservação do património mundial,o conhecimento mútuo da produçãocultural, o apoio às actividades cultu-rais locais, os intercâmbios entre asregiões e os países constituem formasde contribuir para o desenvolvimentosocial e a concórdia entre os povos.

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A partilha de culturas

No intuito de aproximar os povos e de lhes dar a conhecer a suahistória comum, a União Europeia incentiva todas as oportunida-des de encontro e intercâmbio entre europeus. Se, por um lado,pretende desenvolver um espaço cultural que lhes seja comum,por outro, a União confere especial importância à preservação dascaracterísticas específicas das culturas que a compõem, comosejam as línguas faladas pelas minorias.

Todos os anos, o Conselho de Minis-tros da Cultura selecciona «cidadeseuropeias da Cultura». Atenas,Avinhão, Berlim ou Helsínquia bene-ficiaram de apoio da União para aorganização de concertos, espectácu-los, exposições ou conferências deenvergadura europeia, para que eramconvidados nomes de toda a Europa.Graças ao programa de apoio à gemi-nação de cidades, milhares de locali-dades estabelecem laços duradourosde cooperação e de intercâmbio. E,por toda a Europa, as «Jornadas doPatrimónio», que convidam regular-mente o grande público a (re)desco-brir as riquezas artísticas acumuladasao longo dos tempos, registam umfranco sucesso.

Uma iniciativa como os Netd@ysEuropa fomenta a utilização dos novosmeios de comunicação no domínio daeducação e da cultura e, sobretudo,incita os cidadãos a participarem acti-vamente na vida cultural. Anualmente,é organizada em toda a Europa umasemana Netd@ys, durante a qual asescolas, as associações de jovens, oscentros culturais, etc., são convidadosa expor e a partilhar os resultados dosrespectivos trabalhos, servindo a tec-nologia como apoio às realizaçõeshumanas: contos em suportes multi-media, artigos sobre temas da cultura

e da história realizados pelas diversasescolas, ateliers de educação para aimagem publicitária, espectáculosmultimedia, exposições virtuais…

Para além das acções que convidamos europeus a encontrarem-se e acolaborarem, a União financia nume-rosos projectos que contribuem con-cretamente para a democratização doacesso do público à cultura e ao patri-mónio. O projecto Debora (Digitalaccess to books of the Renaissance —acesso digital a livros do Renasci-mento) desenvolve instrumentos quetornam acessíveis a utilizadores comligação à Internet colecções digitali-zadas de documentos que datam doséculo XVI, provenientes de váriasbibliotecas europeias. O Debora cons-titui um dos muitos exemplos doapoio concedido pela União amuseus, bibliotecas e outras insti-tuições culturais que desejem colocaras suas colecções à disposição de umpúblico mais vasto.

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O contacto com a cultura é igual-mente uma questão do foro da edu-cação: educar para o conhecimentoda cultura contemporânea, mas tam-bém para a descoberta daquela queune as gerações e caracteriza ospovos. Em termos sociais, é de inte-gração que se trata. No apoio quepresta aos sistemas educativos, aUnião incentiva as actividades peda-gógicas que valorizam o patrimónioou a diversidade das culturas. Noplano económico, está em jogo a com-petitividade da Europa. Mais recente-mente, nas políticas europeias, foiredefinido o próprio conceito de edu-cação. Hoje, é comummente aceiteque a aprendizagem se faz não ape-nas na escola, mas também após efora dela. Nos programas da UniãoEuropeia, as noções de «aprendiza-gem ao longo da vida», de «educaçãoinformal» e de «aprendizagem elec-trónica» («eLearning») convivem comas concepções tradicionais de ensino.

Circular para conhecer melhor

Vários dos programas da União Euro-peia favorecem a mobilidade dosnacionais dos Estados-Membros, bemcomo dos países candidatos à adesãoe de outros países do mundo. Podedar-se o caso de um arquitecto suecoque aprende os segredos do ofício emBolonha; de um adolescente francêsque parte à descoberta de outras cul-turas durante uma estadia de váriosmeses no norte de África; de outro quereside um semestre no Reino Unidopara aperfeiçoar o seu conhecimentode línguas... Os números falam por si:desde 1987, mais de um milhão deestudantes realizou estadias noestrangeiro graças ao programa Sócra-tes, enquanto o programa «Juven-tude» mobiliza, desde 1995, mais de400 000 jovens europeus.

Estes intercâmbios, aos quais é ine-rente a descoberta de outras culturas,podem estruturar-se em torno detemas culturais — como no caso deum projecto desenvolvido no âmbitodo programa «Juventude», que reuniujovens de quatro países da baciamediterrânica (Argélia, Grécia, Tuní-sia, Itália) para um intercâmbio sobrea arte e a cultura no Mediterrâneo.

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OBRAS-PRIMAS AO ALCANCE DE UM CLIQUE

As galerias e os museus de arte europeus estão recheados de tesouros escondidos. Infelizmente, a possi-bilidade de aceder a eles através da Internet continua a ser, muitas vezes, limitada. Seja por falta de meiosou de organização dos arquivos, o resultado é o mesmo: obras-primas que não é possível admirar sempercorrer centenas de quilómetros. Actualmente, já se encontra disponível a tecnologia necessária paraassegurar o acesso à distância com qualidade às colecções. O projecto «Artiste», que congrega quatrograndes museus de arte europeus (os Uffizi de Florença, a National Gallery e o Victoria and Albert Museumde Londres, bem como o Museu do Louvre de Paris) e parceiros privados ligados ao sector da edição e dasnovas tecnologias da informação, está a passar esta ideia à prática. Lançado em 2000, o projecto levarádois anos e meio até concluir a digitalização, a catalogação e a colocação em rede de reproduções deelevada qualidade de obras da pintura. Uma benesse para investigadores, estudantes de arte, bem comopara os editores de conteúdos ou os meios de comunicação social.

O «Artiste» é mais do que uma simples operação de digitalização das obras: colocará à disposição de estu-dantes, investigadores e historiadores uma série de instrumentos de grande utilidade para os respectivostrabalhos. Mais concretamente, a elevadíssima definição das imagens fornecidas possibilita os cotejosentre pintores e épocas na utilização da cor, no estilo e até no próprio tipo de pincelada. Vejamos o casode um conservador de museu desejoso de ilustrar um catálogo sobre os diferentes estilos na pintura. Bastar--lhe-á especificar o estilo que o «Artiste» se encarregará de pesquisar todas as pinturas a ele correspon-dentes disponíveis na base de dados. Este é apenas um exemplo entre as múltiplas possibilidades propor-cionadas pelo projecto a todos os amantes e profissionais das belas-artes, financiado pelo quintoprograma-quadro de investigação e desenvolvimento tecnológico da União Europeia.

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As línguas, pilares da cultura

O ano de 2001 foi proclamado comoo Ano Europeu das Línguas. Tratou-sede um passo fundamental para umapolítica a longo prazo destinada aincitar os europeus a conheceremduas línguas, para além da sua línguamaterna. Concretizou-se mediante aorganização de uma campanha quecelebrou todas as línguas faladas naEuropa. No decurso de 2001, vilas ecidades tornaram-se «torres de Babel»improvisadas: casas, cafés, escolas eoutros espaços abriram-se a conver-sações multilingues.

A aprendizagem das línguas é umaconstante da acção europeia nosdomínios da educação e da formação.E, se as línguas abrem portas paraoutras culturas, o seu desconheci-mento dificulta a comunicação den-tro da Europa e no estrangeiro. É porisso que, através de um programa-quadro de investigação e desenvolvi-mento tecnológico e do programa«eContent» (conteúdos digitais euro-peus nas redes mundiais), a Uniãoincentiva o aperfeiçoamento de ins-trumentos linguísticos que permitam,por exemplo, a tradução automáticaou a pesquisa de documentos emdiversas línguas na Internet.

A União empenha-se igualmente empossibilitar a descoberta de autoresestrangeiros através de traduções. Ini-ciativas como o Festival Internacionalde Poesia de Estocolmo ou a rede«NEW Theatre» contribuem para adivulgação no plano internacional deautores e a circulação das suas obras.Uma parte do orçamento afectado àcooperação cultural na Europa é cana-lizado para o apoio à tradução e àdifusão de obras literárias. Assim, sãomais de 800 os livros já traduzidosdesde 1996, entre os quais se incluem:Der Zahlenteufel, de Hans MagnusEnzensberger, do alemão para ogrego; Smokove Vlivadite, de JordanRadickov, do búlgaro para o italiano;The European Renaissance, de PeterBurke, do inglês para o francês e o ita-liano; Barão de Teive: Educação doEstóico, de Fernando Pessoa, do por-tuguês para o norueguês.

Finalmente, a União contribui para apreservação das suas línguas regio-nais e minoritárias. Catalães, bretões,galeses... — estima-se que cerca de 40milhões de europeus falem uma lín-gua autóctone diferente da línguaoficial do seu Estado. O respeito peladiversidade linguística constitui umdos fundamentos da União.

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MONS NA ESTEIRA DE BABEL

Entre 17 e 26 de Setembro de 2001, a cidade de Mons, na Bélgica, lançou-se na esteira de Babel atravésde um festival linguístico aberto a todos.

O objectivo? «Sensibilizar o máximo de cidadãos para a importância e a riqueza cultural do conhecimentode línguas, seja por razões de compreensão motivadas por interesses profissionais, de desenvolvimentopessoal ou de abertura aos outros... Mas também para incentivar a população da cidade a envolver-se nosprocessos de aprendizagem, quaisquer que sejam as suas motivações, a sua idade, o meio sociocultural…»,lia-se no sítio dedicado ao evento.

E não faltaram as ocasiões. As mesas dos restaurantes «serviram» conversações em dinamarquês, em inglêsou ainda em grego, animadas por professores de línguas. Um festival de canto, mímica e teatro permitiuaos docentes do ensino básico, bem como aos seus alunos, partilharem os seus dotes linguísticos com opúblico. Em colaboração com os comerciantes locais, foi também organizado um concurso de adivinhas.Criou-se ainda uma corrente de amizade e, graças à Internet, os habitantes de Mons puderam comunicarcom os habitantes de diversos países da União Europeia.

Durante estes 10 dias, o alemão, o inglês, o espanhol, o dinamarquês, o grego, o italiano, o neerlandês eaté mesmo as línguas gestuais espalharam-se pela cidade. O projecto enquadrava-se no âmbito do AnoEuropeu das Línguas.

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Um festival de teatro itinerante, umarede de composição musical em linha,a tradução de uma obra literária emvárias línguas: eis exemplos de activi-dades culturais, entre outras, apoia-das pelo programa «Cultura 2000».Com uma duração limitada (organi-zação de eventos, manifestações oufestivais) ou de carácter permanente(constituição de redes de cooperação),estes projectos incentivam a troca deideias, o contacto com as obras e osseus criadores. Para os artistas, a pos-sibilidade de trabalharem em contex-tos menos habituais e de enriquece-rem a sua visão do mundo pelocontacto com outras realidades cons-titui uma inestimável fonte de inspi-ração.A Europa converte-se assimnuma imensa caixa de ressonância.

Os profissionais da cultura

A União Europeia conta com cerca desete milhões de profissionais activosno sector da cultura. Gestores e ani-madores de projectos, formadores nasdisciplinas de arte, produtores, todospodem participar em acções de coo-peração plurianuais ou na organi-zação de eventos com dimensão euro-peia ou internacional apoiados peloprograma «Cultura 2000». A criaçãopor peritos europeus de um softwaredestinado às escolas de arquitecturaou ainda a organização de um festi-val dedicado à literatura nórdica porparceiros dinamarqueses, suecos ebritânicos são apenas dois exemplosentre outros projectos de dimensãoeuropeia.

Estimular a criação

A pouco e pouco, vai-se construindo um espaço cultural europeu,alimentado pelo desejo de artistas com origens diversas de tra-balharem juntos e darem a conhecer as suas obras para além dasfronteiras nacionais. Mas, para estimular a criação e a circulaçãodestes livros, destes filmes ou destes espectáculos, é necessárioestabelecer um enquadramento jurídico adequado a nível euro-peu. Desde a inspiração primeira à difusão pública da obra, ascriações europeias e os seus artistas encontram-se no centro daacção comunitária no domínio cultural. São incentivadas todas asformas de expressão artística — dança, teatro, artes visuais e plás-ticas, cinema, literatura, música.

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TOSCANINI CONTRA O DESEMPREGO

A falta de saídas em determinadas profissões artísticas e a dificuldade de conciliar a liberdade de criaçãocom a necessidade de ganhar a vida frustra muitas vocações. Com base nesta constatação, a fundaçãoArturo Toscanini propõe, desde meados dos anos 90, formações destinadas a músicos no desemprego. Oseu primeiro projecto foi proporcionar uma formação de alto nível numa orquestra sinfónica a oito músicossem trabalho. Repartidos em três secções (metais, instrumentos de sopro e cordas), os cursos eram minis-trados por professores, instrumentistas ou solistas experimentados, provenientes de orquestras concei-tuadas ou das mais reputadas escolas de música europeias e americanas. Actualmente, o projecto Mythosretoma a mesma filosofia de imersão no meio profissional, integrando o recurso às novas tecnologias e àrealidade virtual num programa de formação à distância vocacionado, desta feita, para solistas, coristas,músicos e técnicos de ópera.

Para além das competências musicais, as formações da Fundação Toscanini enveredam por uma abor-dagem pragmática do mundo do trabalho. Insiste-se na capacidade de organização e promoção das obrasno mercado discográfico. Graças a esta metodologia, os participantes tomam consciência das oportuni-dades de emprego no mundo da música. A formação de grupos mistos compostos por estudantes e de titu-lares consagrados da orquestra sinfónica Arturo Toscanini, uma das mais prestigiadas da Itália, constituio aspecto mais gratificante do projecto para estes músicos. Os programas de formação da Fundação Tosca-nini beneficiam, desde o início, do apoio do Fundo Social Europeu.

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Como qualquer outro sector, a culturabeneficia da liberdade de circulaçãoreconhecida pelo Tratado da UniãoEuropeia. Mas, à semelhança dosoutros sectores, a cultura tem tambémnecessidades específicas em termosde formação e emprego dos seus tra-balhadores. Para os estudantes e osprofissionais do sector cultural, nãosão raras as oportunidades de estudo,formação ou emprego no estrangeiro.No âmbito das suas missões, os pro-gramas europeus em matéria de edu-cação e formação profissional —Sócrates e Leonardo da Vinci — abran-gem as vertentes culturais, artísticase artesanais, desde a formação inicialaté cursos avançados. Fomentam amobilidade de pessoas dentro daescolaridade ou a frequentar acçõesde formação (projectos de estágios

internacionais, de intercâmbio deexperiências, visitas de estudo, etc.).Apoiado pelo programa Leonardo daVinci, o projecto Cortex proporcionaaos profissionais, aos formadores eaos candidatos a emprego uma pla-taforma de contacto e intercâmbio naInternet: o sistema fornece informaçãosobre formações, estágios e postos detrabalho de carácter cultural naEuropa, permitindo uma selecção emfunção das competências académicase individuais. Além disso, o FundoSocial Europeu, o principal instru-mento da política social da Comuni-dade, contribui para a luta contra odesemprego e favorece a inserção pro-fissional através de diversos meios,entre os quais se incluem o teatro e aescrita.

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OS DIREITOS DE AUTOR: INCENTIVAR A CRIAÇÃO

Os direitos de autor e os direitos conexos são «a moeda de troca» das obras de arte nas nossas sociedades.Asseguram a compensação financeira dos autores e de outros intervenientes (artistas-intérpretes ou execu-tantes, produtores e radiodifusores). Os direitos de autor protegem ainda a relação entre uma obra e o seucriador, que pode, por exemplo, zelar pela correcta utilização daquela e evitar que seja ilegitimamente alte-rada. Com o advento da era digital, a música, os filmes ou os livros, desligados de qualquer suporte mate-rial, podem ser reproduzidos e circular com uma liberdade sem precedentes. Estas novas possibilidadestécnicas resultam num crescimento significativo do sector de bens e serviços protegidos pelos direitos deautor e direitos conexos, mas expõem igualmente as obras a utilizações ilegais em larga escala. Desde oinício da década de 90, a União Europeia tem vindo a elaborar um quadro jurídico comum que harmonizaas normas de protecção daqueles direitos. Em Maio de 2001, este acervo foi completado com uma novadirectiva relativa à protecção dos direitos de autor e direitos conexos na sociedade da informação. Prevêum quadro regulamentar adaptado ao contexto virtual e globalizado das redes informáticas e estabeleceum equilíbrio entre a protecção dos direitos e o acesso dos europeus às obras em condições claramentedefinidas. Os Estados-Membros dispõem de um período até ao fim de 2002 para aplicarem a directiva anível nacional.

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BAILARINOS NÓMADAS

No ano 2000, a União Europeia elegeu nove «cidadeseuropeias da Cultura». O «Trans Danse», um festival itine-rante apoiado pelo programa «Cultura 2000», apro-veitou o ensejo para se deslocar a sete delas e fazer umponto da situação da dança contemporânea na Europa.Foi uma oportunidade para tomar consciência daimportância da evolução verificada nesta disciplina: otrabalho dos coreógrafos, com uma frequência cada vezmaior, convoca outras formas de expressão artística.Regularmente, o teatro, a música, o multimedia sãoconvidados para a ribalta.

«Trans Danse» reuniu sete companhias oriundas deAvinhão, Bergen, Praga, Bolonha, Helsínquia, Reiquia-vique e Bruxelas. À razão de uma semana em cadacidade, os coreógrafos envolvidos neste projecto apre-sentaram as suas criações, organizando paralelamenteestágios de aperfeiçoamento abertos a bailarinos profis-sionais, mas também a amadores e a artistas de outrasdisciplinas. No termo do seu périplo europeu, a rede«Trans Danse» identificou os pontos fortes e fracos docontexto em que evolui a dança contemporânea naEuropa, o que fornece pistas de reflexão preciosas parafuturas iniciativas europeias. BJ

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O audiovisual é objecto de umaatenção muito particular na políticacultural da União Europeia, sendo-lheconsagrado um programa específico— MEDIA. Os seus objectivos são múl-tiplos: incentivar o desenvolvimento ea difusão de obras, fomentar a apren-dizagem de técnicas de escrita, possi-bilitar aos profissionais do audiovisualo aprofundamento das suas com-petências em matéria de gestão finan-ceira e comercial ou de novas tecno-logias. O programa MEDIA apoiaainda numerosos ateliers de cinema

(escrita de guiões, produção, ani-mação) e festivais de cinema europeu,tais como os de Marselha (FestivalInternational du Film Documentaire),Osnabrück (European Media Art Fes-tival) ou Salonica (Festival Internacio-nal do Filme).

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Restaurar um bairro histórico, resgatardo esquecimento uma tradição popu-lar, para além das vantagens que sepodem retirar do ponto de vista turís-tico, é uma forma de devolver à comu-nidade local o seu dinamismo e a suaidentidade. A associação Euroregio, daBélgica, dedica-se precisamente, emcolaboração com parceiros franceses,gregos e italianos, a perpetuar a memó-ria cultural dos povos europeus. Quer setrate de património arqueológico oumonumental, de documentos etnográ-ficos ou tradições populares, a Eurore-gio reúne documentos filmados que, emseguida, coloca à disposição de tele-visões nacionais e regionais, centros deinvestigação e agentes ligados à edu-cação de toda a Europa. O programa«Cultura 2000» consagra cerca de umterço do seu orçamento a projectosdesta natureza, que tenham em vista apreservação e sensibilização para aherança comum aos povos europeus. Osprojectos podem orientar-se para a for-mação de profissionais do sector, parao intercâmbio de experiências ou paraa criação de suportes multimedia.

Para além do «Cultura 2000», váriosoutros instrumentos da União Euro-peia levam em consideração a preser-vação e a valorização do património.O Fundo Europeu de Desenvolvimento

Regional afecta recursos financeirosconsideráveis a projectos regionais deapoio ao desenvolvimento, que, emdeterminados casos, comportam umadimensão de «restauro e valorizaçãodo património». Assim, para o período2000-2006, a Grécia encontrou-se emcondições de lançar um vasto pro-grama cultural de 605 milhões deeuros, dois terços dos quais são fundoscomunitários, que se orienta, numadas suas vertentes, para a preservaçãoe a promoção do património arqueo-lógico, nomeadamente mediante oapoio à modernização dos museus edos serviços que oferecem ao público.

No âmbito das acções da União emprol do ambiente, há igualmente mar-gem para apoiar projectos com umadimensão cultural. Em Carnac, naFrança, situa-se a mais importanteconcentração de megálitos da Europa.Muito procurado pelos turistas, o localestava a tornar-se vítima do seu pró-prio sucesso e da afluência cada vezmaior de visitantes. Com o apoio doprograma ambiental LIFE, foi lançado,entre Julho de 1994 e Janeiro de1999, um projecto de preservação ede valorização de Carnac, que visavaconsciencializar os turistas para os ris-cos de deterioração provocados pelasua passagem.

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Preservar e valorizar o património

Actualmente, as acções de preservação e de valorização do patri-mónio cultural realizadas pela União Europeia dizem respeito tantoao património arquitectónico, à envolvente ambiental, ao mobiliá-rio e às obras artísticas como ao património imaterial. As tradições,as práticas sociais, os conhecimentos e as técnicas são plenamentelevados em consideração na definição do património comum aospovos da Europa. Um vestígio da era romana, uma paisagem natu-ral de excepção possuem interesse não só aos olhos dos habitan-tes de um determinado local, mas de todos os europeus.

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O TEATRO, UMA DISCIPLINA MULTIMEDIA

Como seriam as representações teatrais em Pompeia ou no teatro de Dióniso, hoje desaparecidos? Parater uma ideia, uma imagem, ainda por cima em realidade virtual e a três dimensões, vale mais do que umalonga palestra. Sobretudo quando essa imagem, acompanhada dos efeitos de som e luz adequados, dá aimpressão de se poder dizer: «Eu estava lá!»

Graças aos conhecimentos de especialistas, de arquitectos e de arqueólogos, assim como ao talento deprogramadores informáticos e de artistas do multimedia, o projecto «Theatron» permite reviver as sensaçõesexperimentadas pelos espectadores da época, proporcionando uma perspectiva nova e dinâmica à históriada arte. Uma justa evolução das coisas, ou não tivesse o teatro, desde os seus primórdios, recorrido aomultimedia avant la lettre.

O objectivo do projecto consiste em colocar estes instrumentos inovadores à disposição de docentes, estu-dantes e investigadores interessados na história das práticas teatrais desde a Grécia Antiga aos nossosdias. Os instrumentos recorrem a modelos das estruturas arquitectónicas, a técnicas de animação, a basesde dados gráficos e textuais, bem como ao VRML (realidade virtual), encontrando-se disponíveis em CD--ROM e na Internet.

O projecto, apoiado pela União Europeia entre 1994 e 1998, no âmbito do seu quinto programa-quadrode investigação e desenvolvimento tecnológico, congrega diversos parceiros europeus provenientes daAlemanha, da Grécia, da Itália, dos Países Baixos e do Reino Unido.

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ÖLAND SALVA O SEU PASSADO

Na ilha de Öland, o anúncio da venda pelo Estado da propriedade de Skäftekärr não tardou a provocaruma reacção unânime da população. Foi imediatamente criada a associação «Vision Skäftekärr», que reúne600 habitantes do norte da ilha, dispostos a não assistirem ao desaparecimento de uma das mais belasjóias arquitectónicas do seu património histórico. Graças à intervenção dos fundos estruturais da UniãoEuropeia, entre 1994 e 1999, a associação conseguiu adquirir a propriedade e salvar o edifício principal,construído inicialmente, em 1860, para albergar uma escola agrária. As suas instalações acolhem hoje ummuseu, uma sala de exposições, um salão nobre e uma cafetaria. No edifício realizaram-se igualmentecursos de formação profissional destinados a dinamizar a economia local. No parque circundante, os visi-tantes podem admirar cerca de 140 espécies de árvores centenárias, algumas delas muito raras. Nasalamedas, inúmeros vestígios de construções datadas do século III ao século VIII servem de cenário areconstituições históricas, autênticos quadros vivos animados por figurantes com trajes da época. Ao longodestas reconstituições, o público pode redescobrir os métodos tradicionais de fabrico de ferramentas eutensílios nos ateliers de animação. Até à data, mais de 40 mil visitantes puderam desfrutar do encantoda propriedade de Skäftekärr.

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A investigação europeia colocou-seigualmente ao serviço do património.O quinto programa-quadro de investi-gação tecnológica debruça-se sobre odesenvolvimento sustentável das cida-des europeias, dimensão culturalincluída. Os projectos apoiados anali-sam as estratégias de preservação aexecutar, os efeitos perversos doturismo ou as possibilidades deinserção de monumentos antigos emnovos enquadramentos urbanos. Osprojectos podem assumir a forma deestudos dos mecanismos de degra-dação de imóveis, de aperfeiçoa-mento de instrumentos e métodos derestauro do património ou de medidasde acompanhamento, tais como con-ferências de especialistas, bolsas deinvestigação, etc.

A tecnologia digital ao serviço do património

As iniciativas no domínio do patrimó-nio cultural europeu podem, tambémelas, tirar partido das possibilidadesproporcionadas pelas tecnologias dasociedade da informação, tanto emacções de conservação como emacções de exploração comercial.

Por exemplo, já se perderam, total ouparcialmente, muitos filmes queremontam às origens do cinema, con-servados, na sua maioria, em película,um suporte particularmente frágil. Atransferência destas obras para supor-tes digitais, supostamente inalterá-veis, veio somar-se às técnicas clássi-cas de preservação e restauro. Tendoem conta o tempo e os meios neces-sários a uma tarefa desta enverga-dura, o programa MEDIA concedeauxílio financeiro às parcerias entreperitos em tecnologia digital e res-ponsáveis de cinematecas, bem comoaos programas de formação específi-cos.

No intuito de expandir a sociedade dainformação na Europa, o programa-quadro de investigação e desenvolvi-mento tecnológico da União incentivaas indústrias ligadas ao multimedia,as instituições culturais e as universi-dades a cooperar no quadro de par-cerias. Beneficiando da experiência edos recursos do sector privado, asbibliotecas, os museus e os arquivospodem desenvolver novos produtos eserviços, rendibilizando as suas poten-cialidades na economia da «culturaelectrónica». É o que faz o projecto deinvestigação «3D-Murale», que reúneparceiros austríacos, belgas, britânicose suíços, proporcionando aos profis-sionais intrumentos para o arquivo ea reconstituição virtual de vestígios esítios arqueológicos. Após o termo doprojecto, em 2003, o grande públicopoderá aceder através da Internet aeste património reconstituído.

Os projectos podem igualmente recor-rer aos programas europeus que esta-belecem a ligação entre a inovação eo mercado. Assim, o programa «TEN--Telecom» fomenta o lançamento deserviços em redes informáticas euro-peias e mundiais. O projecto «Chance»é disso um exemplo concreto. Permitea turistas ou a investigadores da his-tória da arte localizar, através da suabase de dados em linha, o museu oua colecção privada em que se encon-tra determinado quadro, escultura ouartefacto histórico. Por seu turno, oprograma «eContent» centra a suaacção na exploração comercial deconteúdos digitais europeus e ajudaas empresas de conteúdos a adapta-rem os seus produtos e serviços a mer-cados estrangeiros.

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Um sector económico muito particular

A cultura é um sector económico importante e, como tal, rege-sepelas normas constantes do Tratado da União Europeia, nomea-damente as disposições relativas à liberdade de concorrência e decirculação no mercado interno. No entanto, a União tem em linhade conta a especificidade da cultura, tanto nas políticas que lançaa nível europeu como nas relações que mantém com o resto domundo.

Ao abrirem as suas fronteiras comuns,ao estimularem as transacções e alivre concorrência, os Estados-Mem-bros da União pretenderam incentivaro desenvolvimento económico daEuropa e a competitividade das suasindústrias. No entanto, reconhecem àsobras culturais um estatuto específico,devido à sua dupla natureza: são bense serviços de carácter económico, queoferecem oportunidades consideráveispara a criação de riqueza e deemprego; mas são também os porta-dores das nossas identidades culturaisque reflectem e modelam as nossassociedades.

É por este motivo que o desenvolvi-mento do sector cultural não foi intei-ramente entregue às leis do mercadoe que a União zela pela integraçãodesta sensibilidade específica emtodas as suas políticas. As subvençõesestatais às empresas privadas são nor-malmente limitadas, mas o facto de oTratado consagrar a preservação e apromoção da diversidade cultural, nasquais os auxílios públicos desempe-nham um papel significativo, revelou--se importante em matéria de apli-cação das regras de concorrênciaeuropeias. O Tratado reconhece igual-mente a importância do papel cultu-ral, social e democrático do serviçopúblico de radiodifusão.

Em relação aos bens culturais, existemlimitações ao próprio princípio de livrecirculação no mercado interno: o Tra-tado autoriza os Estados-Membros amanterem medidas de proibição oude restrição sempre que estejam emcausa tesouros nacionais com especialvalor artístico, histórico ou arqueoló-gico.

A nível mundial, as regras comerciaisaplicáveis são definidas nas nego-ciações realizadas pelos membros daOrganização Mundial do Comércio(OMC). Neste âmbito, a União nãoassumiu qualquer compromisso deliberalização no sector audiovisual, deforma a manter a sua liberdade deacção em termos de preservação epromoção da diversidade cultural, oque não impede uma abertura muitoconsiderável do mercado europeu:embora a União produza mais filmesdo que os Estados Unidos, 75% dasreceitas das salas de cinema euro-peias vão para filmes americanos…

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VENDER CULTURA NA INTERNET

Imaginemos que um turista pretendeadquirir objectos culturais em um ouem vários museus de uma região quevisitou; ou que um museu pretendeeditar um catálogo em CD-ROM, recor-rendo a um produtor multimedia; ouainda que um coleccionador dequadros deseja alargar, através daInternet, o leque de potenciais compra-dores de uma das suas peças maispreciosas.

Numa altura em que a cultura selança no comércio electrónico, oprojecto Regnet visa prestar serviçosúteis a todos os agentes destemercado em franca efervescência. «Oconceito de livraria digital não sepode limitar a um contexto técnicoque permite o acesso a conteúdosdigitalizados. Urge introduzir novosmecanismos de cooperação entre asdiversas partes (organizações cultu-rais, indústrias, administrações, etc.)».Nesta convicção, o projecto Regnetreúne museus, bilbiotecas e opera-dores informáticos de dez países euro-peus, incluindo a Bulgária e a Rússia,para criar uma plataforma comum decomércio electrónico de bens eserviços culturais com base em tecno-logias de ponta. Os promotores doprojecto, que foi lançado com o apoiodo programa-quadro de investigaçãoe desenvolvimento tecnológico etermina em meados de 2003, esperamconseguir associar-lhe qualquer coisacomo 3 000 museus.

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Com efeito, os filmes europeus depa-ram-se com dificuldades de difusãofora do seu país de origem. Indepen-dentemente das suas qualidadesintrínsecas, os meios financeiros deque dispõe um filme na fase de desen-volvimento e de distribuição condi-cionam o seu êxito. É este o domíniode acção privilegiado do programaMEDIA, que intervém a montante e ajusante da produção propriamentedita, de modo a incrementar a circu-lação de filmes e outros tipos de obrasaudiovisuais europeias em toda aEuropa.

Para além dos aspectos económicos,a circulação de filmes europeus den-tro do espaço comunitário favorece oconhecimento recíproco das culturaseuropeias. Rosetta, dos irmãos Dar-denne, Pane e tulipani, de Silvio Sol-dini, Todo sobre mi madre, de PedroAlmodovar, Le fabuleux destin d’Amé-lie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet, sãofilmes largamente difundidos no terri-tório da União graças ao programaMEDIA.

Ainda no sector audiovisual, a direc-tiva «Televisão sem Fronteiras» esta-belece um quadro jurídico para garan-tir a liberdade de circulação deemissões europeias de televisão noterritório da União, bem como umtempo de difusão maioritário paraobras europeias nos canais de tele-visão. Por último, a União e o seuBanco Europeu de Investimento auxi-liam a indústria audiovisual a conso-lidar as suas bases financeiras e a ace-lerar o processo de adaptação àstecnologias digitais.

No plano fiscal, os bens culturaisestão sujeitos ao IVA, mas, parafomentar a criação artística e alargaro acesso à cultura, alguns desses bens,nomeadamente os livros, beneficiamda aplicação de uma taxa de tribu-tação reduzida. Além disso, para pre-servar a diversidade da produção lite-rária, é permitida a instauração desistemas de preço fixo, desde que nãorestrinjam a liberdade de circulaçãode mercadorias entre Estados-Mem-bros.

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Em determinados casos, a União abreos seus programas que possuam umadimensão cultural destinados aosEstados-Membros à participação deEstados terceiros, que podem ser paí-ses candidatos à adesão, países doEspaço Económico Europeu (Islândia,Noruega, Listenstaine) ou países comos quais foram celebrados acordos deassociação ou de cooperação.

Após a queda do muro de Berlim, aUnião lançou dois novos instrumentospara facilitar a transição do antigobloco comunista para a economia demercado: o programa Phare preparaos países da Europa Central e Orien-tal para a adesão à UE; e o programaTacis financia acções de cooperação ede assistência entre a União e os Esta-dos que integraram a ex-União Sovié-tica. Os países parceiros são incenti-vados a estabelecer laços decooperação entre si através de projec-tos que possam ter pontos de con-tacto com o domínio da cultura.

Ao longo da década de 90, asrelações da União com os seus par-ceiros da bacia do Mediterrâneo, deÁfrica, da América Latina ou da Ásiaforam-se enriquecendo com uma ver-tente cultural e que ocupam um lugarimportante no diálogo cultural a nívelregional e com a União.

É o caso do acordo de Cotonu, con-cluído entre a União e 77 países deÁfrica, das Caraíbas e do Pacífico, doqual constam, com o devido destaque,a preservação do património, dos valo-res e das respectivas identidades des-ses países. Neste quadro, a Uniãoapoia o desenvolvimento da indústriacinematográfica local, a organizaçãode manifestações culturais e a implan-tação de equipamentos culturais. Parao período entre 2000 e 2003, afectouainda 4,8 milhões de euros destina-dos à política cultural do Mali, nome-adamente à remodelação do museunacional de Bamako e à abertura detrês museus regionais, mas tambémao financiamento de filmes, de pro-jectos de teatro ou de exposições defotografia.

A União Europeia e o mundo

Ao abrir os seus programas à participação de países terceiros, aoestabelecer parcerias com países de outros continentes, ao esten-der a sua acção para o Leste numa perspectiva de alargamento, aUnião Europeia acrescenta uma dimensão cultural às suas relaçõesexternas. Os conceitos de intercâmbio e de diálogo culturais entrea União e o resto do mundo são fundamentais, à semelhança doque acontece entre os Estados europeus.

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CINEMA DOS DOIS LADOS DO MEDITERRÂNEO

As suas fontes de inspiração são diversas, mas a sua linguagem é universal. O cinema é um dos mais impor-tantes agentes de difusão cultural que existem. Todavia, na Europa, os nomes de grandes cineastas comoYussef Chahine ou Salah Abu Seif não vêm espontaneamente à ideia de muita gente. Em ambos os ladosdo Mediterrâneo, os públicos conhecem mal o cinema que se vai fazendo na outra margem. Desde o mêsde Março de 2000, «Cinema Med», o projecto trienal de cooperação entre a União Europeia e o mundomediterrânico-árabe procura colmatar esta lacuna.

«Cinema Med» estrutura-se em três partes:

• 2000/2001: circulação de um festival de cinema dos paísesmediterrânico-árabes por sete cidades europeias, de Palermoa Edimburgo. Esta iniciativa, que pretende ser uma mostra decinema da margem sul e possibilitar encontros entre os reali-zadores e o público, destina-se a facilitar a distribuição docinema árabe na Europa;

• 2001/2002: realização de um workshop, no qual dois autoreseuropeus irão dar aulas de escrita de guiões em duas univer-sidades árabes (Marraquexe e Beirute);

• 2002: lançamento de uma acção de valorização do patri-mónio cinematográfico mediterrânico consagrado à filmo-grafia de Salah Abu Seif, um dos grandes realizadores egípcios.A pretexto desta retrospectiva, o projecto «Cinema Med»pretende levar os arquivos europeus e árabes a cooperar noâmbito de um projecto de restauro e preservação dos filmesdo cineasta.

«Cinema Med» enquadra-se no programa «Euromed audiovisual», que estabelece laços de cooperação entreoperadores europeus e mediterrânicos do sector audiovisual. «Euromed audiovisual» integra-se na terceiravertente (social, cultural e humana) da parceria euromediterrânica.

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Outra documentação

☛ No portal da Comissão na Internet, «A Europa e a cultura», encontram-se disponíveis documentos, novidades e outra informaçãosobre os temas abordados na presente brochura(http://europa.eu.int/comm/culture/).

O respeito e a compreensão mútuosindependentemente das diferençasculturais e religiosas encontram-seigualmente subjacentes à parceriaque liga a União Europeia aos 12 paí-ses da margem sul do Mediterrâneo,no âmbito da qual se realizam acçõesde cooperação nos domínios doaudiovisual, do património cultural eda juventude.

Por último, a União Europeia e o seusEstados-Membros cooperam comoutros organismos internacionais acti-vos no sector da cultura, tais como aUnesco ou o Conselho da Europa. Emmuitos casos, trata-se de uma coope-ração pontual, que se traduz na orga-nização de reuniões de interessemútuo, de campanhas de sensibili-zação comuns, ou no co-financia-mento de projectos. No entanto, ovigoroso crescimento da importânciainternacional de determinadasquestões, designadamente o debatesobre a diversidade cultural, imprimea esta cooperação um carácter cadavez mais político.

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Comissão Europeia

Construir a Europa dos PovosA União Europeia e a cultura

Série: A Europa em movimento

Luxemburgo: Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias

2002 – 23 p. — 16,2 x 22,9 cm

ISBN 92-894-3181-4

Ao dotarem a União Europeia de competências culturais, os governos dos Estados-Membrospropunham-se criar uma Europa dos povos. Para o efeito, confiaram-lhe a missão desensibilizar os europeus para a história e os valores que lhes são comuns, de fomentar o seuconhecimento das obras e do património europeus, sempre no respeito das especificidadesculturais locais e regionais. Mais concretamente, pretenderam favorecer os intercâmbiosculturais dentro da Europa, abrir a cidadãos, artistas e profissionais da cultura aparticipação em projectos europeus, estimular a criatividade e facultar o acesso em maislarga escala à cultura.

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Mais informações sobre a União EuropeiaNa Internet, através do servidor Europa (http://europa.eu.int), há informações em todas as línguas oficiais da UniãoEuropeia.

EUROPA DIRECT é um serviço telefónico gratuito que ajuda a encontrar respostas às questões sobre a União Europeia efornece informações acerca dos direitos e oportunidades de que os cidadãos da UE beneficiam: 8002 09 550.

Para obter informações e publicações em lingua portuguesa sobre a União Europeia, pode contactar:

GABINETE DO PARLAMENTO EUROPEU

Gabinete em PortugalCentro Europeu Jean MonnetLargo Jean Monnet, 1-6.°P-1269-070 LisboaTel.: (351) 213 57 80 31/213 57 82 98Fax: (351) 213 54 00 04Internet: www.parleurop.ptE-mail: [email protected]

GABINETE DA COMISSÃO EUROPEIA

Gabinete em PortugalCentro Europeu Jean MonnetLargo Jean Monnet, 1-10.°P-1269-068 LisboaTel.: (351) 213 50 98 00Internet: euroinfo.ce.ptE-mail: [email protected]

Existem representações ou gabinetes da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu em todos os Estados-Membros daUnião Europeia. Noutros países do mundo existem delegações da Comissão Europeia.

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Ao dotarem a União Europeia decompetências culturais, osgovernos dos Estados-Membrospropunham-se criar uma Europados povos. Para o efeito,confiaram-lhe a missão desensibilizar os europeus para a

história e os valores que lhes são comuns, de fomentar o seuconhecimento das obras e do património europeus, sempre norespeito das especificidades culturais locais e regionais. Maisconcretamente, pretenderam favorecer os intercâmbiosculturais dentro da Europa, abrir a cidadãos, artistas eprofissionais da cultura a participação em projectos europeus,estimular a criatividade e facultar o acesso em mais largaescala à cultura.

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-40-01-456-PT-C

SERVIÇO DAS PUBLICAÇÕES OFICIAISDAS COMUNIDADES EUROPEIASL-2985 Luxembourg

PT

ISBN 92-894-3181-4

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