Construção em adobe na região de Setúbaldb-heritage.lnec.pt/Apresentacoes/Faria_adobe... · para esconder que eram de terra mas também por razões estéticas Por vezes em vez

Construção em adobe na região de

Setúbal Contributo para a sua conservação

Paulina Faria

[email protected]

MAEDS, 20 Maio 2017

Projeto DB-HERITAGE

mailto:[email protected]

Sumário

• Paredes de edifícios antigos no Distrito de Setúbal

• Exemplos de edifícios de alvenaria de adobe em Setúbal

• Vantagens/inconvenientes de alvenarias de adobe

• Constituição genérica de edifícios com paredes de adobe

• Reabilitação de edifícios com adobe • Considerações finais

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Paredes de edifícios antigos no distrito de Setúbal

Diferentes usos /tipos: edifícios correntes (habitação ou similar), edifícios industriais, … Diferentes constituições Ao nível das paredes: -Paredes de alvenaria de pedra irregular argamassada

Paredes de edifícios antigos no distrito de Setúbal

-Paredes de alvenaria de adobe

Existem em edifícios por todo o distrito; menos em zonas urbanas por a maioria ter sido já destruída Só se reconhecem quando os rebocos (exteriores ou interiores) estão deteriorados Apresentam grande durabilidade, enquanto mantidos; se expostos à água (pela cobertura ou rebocos), a degradação é acelerada Vamos ver alguns exemplos !

Exemplos de edifícios de alvenaria de adobe em Setúbal

Edifício abandonado em alvenaria de adobe na Av. Jaime Cortesão, Setúbal (2015)

Edifício com paredes de alvenaria de adobe na Estrada Nacional 10, Paio Pires (2016)


Parede de alvenaria de adobe de edifício em Vendas de Azeitão (2016)


Vestígio de parede de alvenaria de adobe em Vendas de Azeitão (2016) Comparação com restantes Resíduos de Construção e Demolição…



Vantagens/inconvenientes das alvenaria de adobe

Vantagens ???? Desvantagens ???


Algumas vantagens -Degradação natural no final de vida, ao contrário do que sucede com a maior parte dos outros materiais de construção, que constituem RCD - Massa elevada:

- Confere inércia térmica (no Verão, capacidade de desfasar os picos de calor do exterior e no interior, que não chega a aquecer demasiado, comparativamente a construção corrente; no Inverno, capacidade de libertar lentamente energia calorífica absorvida por fontes descontinuas) - Confere isolamento acústico

- Higroscopicidade – capacidade de contribuir para o equilíbrio higrotérmico do ambiente interior


Algumas desvantagens - Fraca resistência sísmica, tal como outras paredes antigos

- Necessidade de reabilitação para garantir melhor comportamento em caso de sismos

- Suscetibilidade à água - Necessidade de proteção/manutenção corrente para reduzir ascensão capilar de água a partir do solo, entradas de água pela cobertura, por redes prediais e pelas superfícies exteriores das paredes

- Tratam-se de paredes diferentes das outras paredes antigas e, como tal, têm de ser intervencionadas/reparadas de forma adequada

Constituição genérica de edifícios com paredes de adobe

Porque interessa conhecer a constituição das construções de adobe? Porque acham que as devemos preservar ? Necessitam de reabilitação? Porque não só conservar? Para reabilitar é preciso conhecer bem a sua constituição Cada caso é um protótipo - No entanto vamos ver a constituição mais comum de edifícios com paredes de adobe


Alvenarias de adobe: constituídas por unidades de alvenaria (os adobes) assentes com argamassa. Em Setúbal, geralmente de 1 único piso. Os adobes podem ser de terra, terra e fibras naturais ou terra e cal aérea

As argamassas de assentamento são da mesma terra dos adobes, de terra e cal aérea ou só de cal aérea


As alvenarias executam-se de acordo com um “aparelho”, que significa a forma como os blocos de adobe são dispostos

Há muitas variantes, principalmente dependendo da dimensão dos adobes e da espessura pretendida para a parede

Há sempre que desencontrar juntas entre fiadas da alvenaria

½ vez 1 vez 1 vez e 1/2 2 vezes


As paredes de alvenaria de adobe são por vezes reforçadas estruturalmente: - Por tirantes e gatos

Os tirantes são elementos metálicos ou de madeira que atravessam transversalmente duas paredes opostas e que são rematados pelo exterior das paredes por gatos metálicos -Por contrafortes ou gigantes

Estes são mais usados em edifícios não urbanos e são constituídos por alvenaria posicionada pelo exterior, perpendicularmente às paredes principais


As paredes de compartimentação interior eram por vezes também de alvenaria de adobe ou então de tabique: tábuas de madeira com ripado de madeira ou canas, preenchido com argamassa de terra ou terra e cal aérea


As aberturas de portas e janelas eram pequenas e geralmente tinham uma verga (pequena viga superior) em madeira Em edifícios não de habitação, as portas podiam ser mais largas (caso da figura ao lado) As portas e janelas eram de madeira e vidro simples


As paredes de adobe têm de ser (e ser mantidas) revestidas por rebocos exteriores e interiores

Foto: Arq. José Lima

Os rebocos interiores podem ser de argamassas de terra; os exteriores têm de ter cal. Usam-se assim argamassas de terra, terra e cal ou só cal aérea. Os rebocos exteriores eram caiados; a caiação constituía uma consolidação e proteção superficial do reboco

Foto: Arq. José Lima Os rebocos interiores, geralmente de terra, antigamente eram caiados, para esconder que eram de terra mas também por razões estéticas Por vezes em vez da caiação aplicavam-se barramentos: revestimentos finos de pasta de cal e pó de pedra


A estrutura de cobertura dos edifícios de alvenaria de adobe é geralmente de madeira, em asnas completas ou com vigas apoiadas nas próprias paredes


Asna de Palladio


Cobertura com asnas de Palladio


A cobertura tem revestimento de telha cerâmica de barro vermelho Podia ter forro por exemplo de canas ou em solho de madeira


O pavimento estava em contacto com o terreno; geralmente era de terra batida ou com ladrilho cerâmico de barro vermelho Raras vezes (menos do que sucedia noutras zonas do país) o pavimento era sobre-elevado: com uma estrutura de pavimento em vigas e soalho de madeira, sobre um desvão ventilado existente entre o terreno e o pavimento


Para garantir essa ventilação existiam aberturas na base de paredes opostas

O que acham que necessita de reabilitação ? Como devemos atuar ? Possibilidades e prioridades de intervenção ?

Reabilitar construções de adobe

Reabilitação estrutural e higrotérmica A reabilitação estrutural vai depender muito do estado de cada construção Convém avaliar o estado dos tirantes, se existirem Muitas das medidas de reabilitação estrutural pretendem contribuir para que as paredes de adobe estejam secas São assim medidas que também vão contribuir para a reabilitação higrotérmica E são medidas que, muitas, podem ser aplicadas em simultâneo


Reabilitação estrutural e higrotérmica

Uma boa medida será a avaliação da drenagem superficial da chuva junto à construção Qualquer medida para que a água da chuva (ou rega) seja drenada para fora da construção interessa – inclinação do terreno Se a fundação da parede estiver a alguma profundidade, pode executar-se uma pequena vala periférica exterior, preenchida com brita grossa, que ajude à secagem da base da parede e reduza assim a ascensão capilar


Reabilitação estrutural e higrotérmica Se houver pé direito suficiente, uma boa medida é realizar no interior um pavimento sobre-elevado, e estabelecer a sua ventilação em paredes opostas, de novo para reduzir a ascenção capilar Isto pode ser executado através da disposição de elementos de cofragem perdida e betonilha apenas com armadura construtiva Se o pavimento deixar de ficar em contacto com o terreno e passar a estar sobre-elevado não há qualquer problema em aplicar como revestimento de piso qualquer material



Mas uma boa medida será a aplicação de um reboco exterior compatível com a parede de adobe (porque muito provavelmente o existente ou é antigo e está ineficiente por envelhecimento, ou não é compatível e por isso deve ser substituído antes que degrade demais a parede) mas armado através de uma rede embebida na sua camada de base Um reboco compatível só pode ser de argamassas de cal aérea, eventualmente aditivadas por uma pozolana

Uma pozolana pode ser pó de tijolo ou telhas antigas: vai tornar a argamassa de reboco um pouco hidráulica, endurecendo mais rapidamente e ficando mais durável



A proteção do reboco deve ser conferida por uma caiação ou pintura com tintas de silicatos Existem tintas de cais já “industriais” com boa durabilidade

Os construtores/pedreiros atuais não estão muito habituados a utilizarem argamassas de cal aérea Por isso é muito importante que os técnicos da construção (engenheiros, arquitetos) lhes indiquem/prescrevam todas estas necessidades


Reabilitação estrutural e higrotérmica Se houver necessidade de refazer juntas da alvenaria, devem ser aplicadas argamassas também de cal aérea Deve ser evitada a abertura de roços nas paredes de adobe; dentro do possível, as instalações técnicas devem ser estudadas e por vezes ficarem à vista ou tapadas por rodapés ou sancas; os roços que forem estritamente necessários têm de ser preenchidos com argamassa também de cal aérea O reboco interior, se ineficiente ou inadequado, pode ser refeito com argamassa de terra, terra e cal ou só cal aérea, deixado à vista ou caiado


Os rebocos interiores com

argamassas de terra estão a ser muito utilizados nos países mais desenvolvidos (em paredes de terra e noutras paredes mais correntes) por: • motivos de eco-eficiência

(incluindo aspectos de ecologia, contributo para o conforto ambiental e a saúde dos ocupantes)

• motivos estéticos (cor e

textura), sendo deixados “à vista”




Podem ser obtidas várias cores e texturas

Reabilitação estrutural, higrotérmica (e acústica)

Tem de ser avaliado o estado estrutural da cobertura Pode ser necessário substituir partes de vigas de madeira (reparar) ou pode ser necessário refazer toda a cobertura Nesse caso pode ser mantido o material (madeira) ou alterar-se para estrutura de aço leve Soluções com base em betão armado são mais pesadas e menos compatíveis

Na cobertura tem de ser colocado material de isolamento térmico (ou térmico e acústico – neste caso aglomerado negro de cortiça ou lá mineral) com um mínimo de 4cm de espessura Em função do estado estrutural da cobertura, e da necessidade de incluir novos materiais/camadas, assim se poderá otimizar a colocação do isolamento e de forro/teto falso


Reabilitação higrotérmica (e acústica)

Tem de ser avaliado o estado das janelas e portas Pode bastar serem reparadas ou ser necessário serem complementadas ou mesmo substituídas

Os materiais a utilizar podem variar mas, sendo as janelas geralmente pequenas, a área de aro é significativa Dentro do possível deve evitar-se a colocação de caixilharia de alumínio sem corte térmico, principalmente pelas condensações que podem ocorrer no interior, e que vão contribuir para o humedecimento da parede

Em zonas com ruído, é mais vantajoso colocar mais uma janela que substituir a existente

Caso haja interesse em ampliar a abertura de vãos, a situação terá de ser analisada do ponto de vista estrutural


Considerações finais

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• Cada construção é geralmente um protótipo; mesmo quando há duas quase iguais, a sua localização, envolvente, ocupação e usos são distintos

No entanto espera-se ter contribuído para:

‒ Um melhor conhecimento acerca das construções existentes no distrito de Setúbal com paredes de alvenaria de adobe

‒ Algumas possibilidades para a reabilitação eco-eficiente deste tipo de construções

MUITO OBRIGADA PELA VOSSA ATENÇÃO!

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