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Práticas alternativas vencem preconceito e ganham espaço no SUS Processo de inclusão de alunos especiais enfrenta barreiras por falta de pessoal especializado Poucos hotéis da capital oferecem acessibilidade a turistas com necessidades especiais Maioria dos universitários vive alheia à militância estudantil e às disputas políticas na UFS Comunicação Campanha contra a baixaria na mídia completa uma década de enfrentamentos Saúde Compradores compulsivos demoram a perceber que são vítimas de um vício e precisam de tratamento 3 Justiça Embora pouco conhecida, Lei Maria da Penha melhora atenção às mulheres agredidas 12 14 15 11 13 16 Saúde Equoterapia ajuda a reabilitar pessoas com deficiências físicas, sensoriais e mentais Universidade Universidade Cidadania História & Sociedade Sincretismo religioso em dia de festa não garante práticas ecumênicas ao longo do ano Cultura Há dez anos uma rua rouba a cena do teatro sergipano e conquista palco e público Educação Cresce a oferta de idiomas estrangeiros em Aracaju, além de inglês e espanhol, incluindo o japonês Foto: André Teixeira 12 Foto: Tatiane Melo 9 7 10 Jornal Laboratório da graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe Trânsito da Grande Aracaju precisa de mais espaço para bicicletas, mais educação dos motoneiros e menos poluição dos veículos automotores (p. 4 e 5) Ano 9-Nº 32 Você é a favor da redução da maioridade penal? [email protected] Mobilidade urbana exige atenção a motos, bicicletas e poluentes Contexto ConteXtando Foto: Daniel Nascimento

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Page 1: Contexto 32 PDF

Práticas alternativas vencem preconceito e ganham espaço no SUS

Processo de inclusão de alunos especiais enfrenta barreiras por falta de pessoal especializado

Poucos hotéis da capital oferecem acessibilidade a turistas com necessidades especiais

Maioria dos universitários vive alheia à militância estudantil e às disputas políticas na UFS

Comunicação Campanha contra a baixaria na mídia completa uma década de enfrentamentos

Saúde Compradores compulsivos demoram a perceber que são vítimas de um vício e precisam de tratamento3

JustiçaEmbora pouco conhecida, Lei Maria da Penha melhora atenção às mulheres agredidas12

14

15

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16

Saúde Equoterapia ajuda a reabilitar pessoas com deficiências físicas, sensoriais e mentais

Universidade

Universidade

Cidadania

História & SociedadeSincretismo religioso em dia de festa não garante práticas ecumênicas ao longo do ano

CulturaHá dez anos uma rua rouba a cena do teatro sergipano e conquista palco e público

EducaçãoCresce a oferta de idiomas estrangeiros em Aracaju, além de inglês e espanhol, incluindo o japonês

Foto: André Teixeira

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Foto: Tatiane Melo

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7

10

Jornal Laboratório da graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe

Trânsito da Grande Aracaju precisa de mais espaço para bicicletas, mais educação dos motoneiros e menos poluição dos veículos automotores (p. 4 e 5)

Ano 9-Nº 32

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Mobilidade urbana exige atenção a motos, bicicletas e poluentes

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Editorial

2 ContextoOpinião

A redução da maioridade penal é um tema recorrente na socie-dade brasileira e rico na argumentação dos dois lados, a favor e contra. A discussão sobre o assunto vem sendo fomentada pela apresentação de propostas de emenda constitucional (PECs) por parte de legisladores favoráveis, enquanto outros setores da sociedade civil buscam combater sua aprovação. Em julho deste ano, o deputado federal André Moura (PSC/SE) apre-sentou a PEC nº 57/2011, propondo alterar o artigo 228 da Constituição Federal, que passaria a ter a seguinte redação: São penalmente imputáveis os maiores de 16 anos de idade”. A PEC 57 também acrescenta o seguinte parágrafo: “§ 1º A imputabilidade penal do maior de 16 (dezesseis) anos será

Reduzir a maioridade penal é a solução?

“Acho que, mesmo havendo tal redução, o adolescente infrator estaria sujeito a um sistema penitenciário defasado. Apenas deve-se cogitar uma redução da idade penal quando houver uma reestruturação no sistema judiciário. Ou, talvez, considerar um ponto importante: os recursos destinados para as instituições de ressocialização para menores de idade, que se encontram também problemáticas.” - Ana Rita Souza, aluna do curso de Letras da UFS.

“Um resultado mais efetivo para a redução dos crimes seria uma política educativa mais eficiente e de maior qualidade. Se o governo investisse mais na qualificação dos professores e em escolas públicas mais estruturadas, acredito que a mudança de uma realidade social perigosa para uma realidade mais agradável viria a acontecer. Mesmo que isso demore alguns anos, acho que daria resultados significativos.” - Caroline Machado, aluna do curso de Psicologia da UFS.

“A prisão de menores de 18 anos não impede que crimes sejam cometidos, nem sua reincidência. O problema real é de base, como condições sociais e de estruturação familiar. O suporte aos menores é mais frutificável que sua repreensão drástica, porque os induz a seguir as regras sociais; quadro mais difícil de se estimular em adultos, uma vez que seus pensamentos e orientações já foram formados e consolidados. Esse período, antecedente aos 18 anos, é justamente o período de formação pessoal, onde toda fisiologia amuderece, interferindo diretamente nos comportamentos, o que pode, de certo modo, ‘perturbar’ adolescentes sem apoio emocional e social.” - Ana Caroline Ferreira, estudante de Medicina da UFS.

“Essa não seria uma medida eficaz para a diminuição da criminalidade no país. O importante é garantir aos adolescentes o acesso à educação gratuita e de qualidade, além de saúde, moradia, emprego etc, para que os jovens não vejam a criminalidade como única solução para os problemas sociais que enfrentam. Esses jovens infratores, como são chamados, são vítimas também, dada a condição social em que se encontram.” - Tânia Viana, pós-graduanda em Antropologia na UFS.

“Não acredito na eficácia das medidas socioeducativas. Afinal, seja um delito de furto, seja um genocídio, o menor de idade, terá, no máximo, uma punição de três anos de internação. Não há outra solução em pequeno e médio prazos para a prevenção do crime. Os problemas sociais devem ser corrigidos com mais urgência ainda, mas são programas em longo prazo. Enquanto isso, a parte distinta da sociedade não pode ser submetida ao medo constante que assola as vítimas em geral, principalmente quando se sabe da inimputabilidade do seu algoz.” - Luiz Carlos dos Anjos Silva Júnior, estudante do curso de Direito da Unit.

“Com o crescimento absurdo dos meios educacionais e de comunicação em massa, nada justifica que um adolescente de 16 anos não tenha possibilidade de distinguir o lícito do ilícito. Isto é, com a certeza do confortável manto da impunidade, os menores continuam conscientemente a dirigir sua conduta, na imensa maioria das vezes, ao ato delituoso.” - Leonardo Vilanova, estudante do curso de Direito da Unit.

“Sou a favor, pois os jovens têm que responder inteira-mente por seus atos, como cidadãos adultos. A nossa legislação é muito tolerante com os infratores e não intimida os que pretendem transgredir a lei. Se os jovens de 16 anos têm o discernimento para votar, eles devem ter também idade suficiente para responder diante da Justiça por seus crimes. Não seríamos os pioneiros na redução, não é nada revolucionário mas, com certeza será algo que intimidará os jovens agressores. No meu tempo, shopping era lugar seguro, de lazer com minha família. Hoje, se você nao ficar esperto, leva cadeirada na praça de alimentação.” - Sérgio Rafael Oliveira, estudante do curso de Engenharia de Produção da UFS.

“Sou a favor. Não que essa medida seja a solução para reduzir a criminalidade no Brasil, associação que muitas vezes a mídia tenta forçosamente fazer, mas simplesmente porque um adolescente de 16 anos, sobretudo conside-rando o estágio da nossa sociedade atual, possui toda a condição intelectual para discernir entre o que é certo ou errado e assumir os seus próprios atos.” - Lucas Fontes, estudante do curso de Direito da Unit.

SIM

determinada por intermédio de perícia e decisão judicial, pro-ferida em cada caso com fundamento nos fatores psicossociais e culturais do agente”. No entanto, segundo Danival Falcão, presidente do Conselho Estadual de Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA-SE), a partir da implantação do ECA, em 1990, crianças e adolescentes são considerados pes-soas em desenvolvimento e sujeitos de direitos. Para ele, a socie-dade se precipita ao procurar combater o problema sem identi-ficar as causas, sendo o Estado o responsável pela recuperação de adolescentes em conflito com a lei. O ConteXtando desta edição ouviu posições favoráveis e contrárias. E você, leitor(a), de que lado está? Por quê?

NÃO

Julie Melo Braga

ConteXtando

Global Print Editora Ltda. Tel (31) 31981100

Coordenação editorial: Profª. Drª. Sonia Aguiar

Universidade Federal de SergipeCampus Prof. José Aloísio de CamposAv. Marechal Rondon, s/n, São Cristóvão - SE

Reitor:Prof. Dr. Josué Modesto dos Passos SubrinhoVice-reitor:Prof. Dr. Angelo Roberto Antoniolli

Pró-Reitor de Graduação:Prof. Dr. Paulo Heimar Souto

Diretor do CECH:Prof. Dr. Jonatas Silva Meneses

Chefe: Prof. Dr. Fernando Luiz Barroso

Fones:(79) 2105-6921 (chefia)(79) 2105-6919 (secretaria)

E-mail: [email protected]

Jornal Laboratório do curso de Jornalismo

Contexto

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o:

Adler Berbert Oliveira Andrea de Cerqueira WanderleyAnne Samara Torres do N. SantosAntônio André Teixeira Bruna Santos Guimaraes Catarina Menezes Schneider Daniel Nascimento Cunha Daniele Melo Elaine Cristina Brandao Casado Eloy Santos Vieira Erivaldo Francisco dos Santos Junior Igor Bezerra de Almeida Jose Leidivaldo Oliveira Jovaldo Rodrigues de Oliveira Junior

Departamento de Comunicação Social (DCOS)

Impressão:

Leia e passe adiante!

Leia e passe adiante!

Julie Melo Braga Larissa Regina Santos do Nascimento Lohan Miranda Montes Lorena Larissa Carvalho Barbosa Lucas Peixoto Lima Mairon Hothon do Nascimento Torres Maria Luiza de Oliveira Alves Bastos Mariana Oliveira Viana Monique Cristine Garcez Barros Morgana Borges Brota Nara Melo Barreto Tatianne Santos Melo Taylane Cruz Santos Silva Verlane Santos Estacio

Versão digital: http://issuu.com/contextoufs/docs/contexto32Edição concluída em dezembro de 2011

Tiragem: 1.000 exemplares

Para onde vamos?

“Mobilidade urbana” virou mais uma dessas expressões da moda, que todo muito repete sem saber muito bem o que significa, embora possa intuir. Ela sinaliza uma preocupação das grandes regiões metropolitanas de todo o mundo com as consequências do crescimento vertiginoso no deslocamento de pessoas e veículos, sem a correspondente expansão dos espaços de circulação: ruas, avenidas, viadutos, calçadas, praças e caminhos alternativos como ciclovias, ferrovias, metrô e monotrilho.Embora ainda faça parte da grande maioria dos municípios brasileiros que têm menos de um milhão de habitantes, Aracaju já começa a sentir os efeitos de uma capital cuja região metropolitana vem crescendo sem planejamento urbano, com livre expansão do setor imobiliário e permissividade no transporte individual motorizado. Basta olhar os exuberantes anúncios de apartamentos que chegam a ter quatro vagas de garagem e o número de acidentes envolvendo motocicletas e motonetas, para se ter noção do tamanho do problema que está se desenhando. Isto sem contar os efeitos no ar que respiramos, por mais que haja tecnologias anti-poluição para veículos automotores.Três matérias desta edição do Contexto (pg. 4 e 5) mostram apenas a ponta do iceberg dessa questão, sinalizando que possuir a “terceira maior malha cicloviária” do país não é suficiente para transformar a bicicleta e um meio de transporte incorporado às atividades cotidianas, e não apenas para lazer de fim de semana. A começar pela ausência de bicicletários em pontos de grande concentração de pessoas, como escolas, universidades e áreas comerciais.Trata-se, portanto, de uma questão fundamental para a tão alardeada “qualidade de vida” e para o exercício da cidadania, focos também de outras reportagens desta edição. Como o direito de não se expor à “baixaria na mídia” (pg.3); de ter acesso à diversidade cultural de graça ou a baixo custo (p.10); de usufruir de tratamentos alternativos na rede do Sistema Único de Saúde (p.11). Ainda falando em direitos, o Contexto mostra que o crescente esforço de inclusão de pessoas com deficiências físicas, mentais e sensoriais ainda enfrenta barreiras na rede hoteleira e na própria Universidade, embora uma iniciativa social ofereça esperança por meio da equoterapia (pgs. 12 a 14). Enquanto isso, a maioria dos universitários abre mão de participar das decisões políticas que são tomadas em seu nome pela militância (p.15), mas as mulheres agredidas encontram alento e proteção na Lei Maria da Penha (p.16). Veja também: a mudança de frequência nos bares (p.6) e na procura por idiomas estrangeiros (p.7); os rumos da fotografia sergipana (p.8); o confronto entre sincretismo e ecumenismo religioso (p.9); e os dilemas dos compradores compulsivos (p.12). Boa leitura!

outubro-dezembro/2011

Page 3: Contexto 32 PDF

Baixaria na mídia: você também consome

Eloy Vieira e Monique [email protected]; [email protected];

ção dos meios de comunicação nas mãos de poucas famílias, inclusive políticos que são concessionários de canais televisivos”.

Contexto outubro-dezembro/20113

http://portal.mj.gov.br/sedh/pndh3/pndh3.pdf

http://oexpressobandeirante.com/?p=1342

http://www.proconferencia.com.br

http://www.fndc.org.brhttp://www.eticanatv.org.br

C

Há 10 anos, a luta contra a “baixa-ria”, prática muito comum na

mídia, tem ganhado espaço no debate público. Um grande exemplo disso é a campanha “Quem financia a baixaria é contra a cidadania”, que surgiu em 2002, após as discussões geradas na VII Con-ferência Nacional de Direitos Humanos, realizada em Maio do mesmo ano, e des-de então atua no sentido de denunciar emissoras e anunciantes de televisão que desrespeitam os princípios éticos dos ci-dadãos. Desde 2004 o ‘Dia Nacional de Combate a baixaria na TV’ tem fomen-tado discussões acerca do assunto, e, em geral, a data se dá no mês de outubro.

A campanha foi criada pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câ-mara dos Deputados, com a ajuda de mais de 80 entidades da sociedade civil dis-tribuídas em 17 Estados do Brasil e já rea-lizou diversas intervenções em programas televisivos que feriram os direitos huma-nos através dos conteúdos veiculados du-rante suas programações. É a partir desta campanha que a sociedade civil ganhou espaço aqui no país, uma vez que não há nenhum órgão para a intermediação entre os meios de comunicação e as audiências.

A Constituição brasileira garante ao cidadão que a mídia deve estar compro-metida com educação, cultura e infor-mação, sempre levando em conta os va-lores éticos e sociais vigentes. Porém, diariamente é possível visualizar o des-respeito e o descaso com os direitos do cidadão. Muitos meios de comunicação afirmam que veiculam esse tipo con-teúdo impróprio porque o ‘povo gos-ta’, já a população alega que consome a “baixaria” porque não tem opção. Mas afinal, o que é “baixaria” e como pode-

Em geral, a veiculação de conteúdos de baixa qualidade tem basicamente um objetivo: agregar audiência. Este tipo de conteúdo é considerado estratégico, pois permite que o máximo de pessoas, mes-mo sem alfabetização ou qualquer tipo de letramento, possam consumir o conteú-do sem muita criticidade. “A máxima do censo comum diz que o povo gosta desse tipo de conteúdo. Se apenas esse con-teúdo é oferecido para o povo, é isso que vai ser consumido”, avalia Paulo Victor.

Em meio a essa discussão, Guga Oliveira abre espaço para distinguir os ter-mos ‘popular’ e ‘sensacionalista’, por esta-rem intrinsecamente ligados ao tema em questão. Para ele muitas vezes esses dois conceitos se confundem porque estão ligados às classes mais baixas. “Os jornais populares são uma tendência no mundo todo, no Brasil e em Sergipe também, e eles devem servir ao povo, formando um público-leitor”. Quando questionado sobre as manchetes chamativas e outros artifícios utilizados pelo jornal, o editor defende que tudo é feito pensando em atrair e chamar atenção do público-leitor. “Uma de nossas últimas edições vendeu mais de 50 mil exemplares nas bancas, e se não houver algo atraente, esse jornal sobra nos pontos de venda”, constata.

O pesquisador paulista Henrique De-marchi lembra que o cenário da Comu-nicação no Brasil favorece a proliferação deste tipo de conteúdo e o descumprimen-to da Constituição. Para ele, a ausência do Estado e o monopólio da mídia são os maiores problemas. “Faltam mecanismos de fiscalização mais efetivos de controle sobre o que é veiculado pela mídia. Outro problema é o fato de haver a concentra-

Mobilização

No Brasil há diversos órgãos e insti-tuições que atuam no combate a “bai-xaria”. Dentre eles estão o Conselho de Psicologia, o Sindicato dos Jornalistas e a Associação Brasileira de Rádios Co-munitárias. Além disso, já existiram al-guns movimentos que trabalharam com a questão da qualidade da programação tele-visiva, como a ONG Midiativa, o grupo ‘O Amanhã dos Nossos Filhos’ (OANF), o Fórum Nacional Pela Democratização da Comunicação (FNDC) e a organiza-ção não governamental TVER, que foi o ponto de partida da campanha “Quem financia a baixaria é contra a cidadania”.

Além da campanha, esta articulação en-tre a sociedade civil organizada e o poder político resultou também no projeto de lei nº 1600/2003, do deputado Orlando Fan-tazzini, então filiado ao PT-SP. Com ele, os objetivos da campanha deveriam ser concretizados com um “Código de Ética para a Programação Televisiva Brasileira”. O objetivo deste projeto era oferecer al-ternativas de informação, cultura e lazer aos telespectadores, com isenção, plu-ralidade, responsabilidade, interesse pú-blico e Direitos Humanos, contudo, o projeto encontra-se arquivado na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.

Dentre algumas das principais ações realizadas pela campanha, houve o caso do programa ‘Tardes Quentes’, da emis-sora RedeTV!. Este conteúdo recebeu, por conta de uma ação civil pública, inter-venções por reproduzir cenas que agredi-

mos explicar sua utilização pela mídia?Segundo Paulo Victor Melo, represen-

tante em Sergipe do Coletivo Intervozes, instituição que luta pela democratização da comunicação em todo o país, “baixa-ria” é tudo aquilo que é veiculado e viola os direitos humanos. Uma definição seme-lhante a esta é apresentada pelo jornalista e mestre em Comunicação Midiática e professor da Unisalesiano em Araçatuba (SP) Carlos Henrique Demarchi. Para ele, a “baixaria” corresponde às situações em que os limites éticos, morais e esté-ticos são desrespeitados pelos meios de comunicação. Ele informa que os casos mais comuns são exposição das pessoas ao ridículo, exploração abusiva de crian-ças e adolescentes e apologia ao crime. Ainda na mesma linha, Guga Oliveira, editor-chefe do jornal sergipano Super Popular, afirma que “baixaria” é o mesmo que sensacionalismo, ou seja, seria a ex-ploração além do conteúdo tido popular.

Qual o objetivo desta prática?

am os princípios éticos dos cidadãos. Na época de exibição do ‘Tardes Quentes’, o programa foi retirado do ar durante um mês, e em seu lugar foram exibidas diver-sas programações educativas que foram produzidas por entidades da sociedade civil, apoiadas pelo Ministério Público Federal. O programa que substituiu o ‘Tardes Quentes, apresentado por João Kleber, recebeu o nome de ‘Direitos de Resposta’, e veiculou discussões sobre temáticas ligadas aos Direitos Humanos.

Mas essa não foi a única ação rea-lizada pela campanha, que em 2004 con-seguiu intervir em programas policia-lescos como Cidade Alerta (TV Record) e Brasil Urgente (TV Bandeirantes), que, por determinação da justiça, desobe-deciam aos critérios da classificação in-dicativa e deveriam ser exibidos somente depois das 22 horas. Outro exemplo foi o Programa Domingo Legal (SBT) que foi tirado do ar devido a uma falsa en-trevista a membros do PCC em 2005.

Em Sergipe, segundo Paulo Victor, a discussão sobre os Direitos Humanos e suas relações com a mídia foram incorpo-radas à Semana pela Democratização da Comunicação, realizada entre 17 e 20 de Outubro, mas até o fechamento desta ma-téria o ‘Dia Nacional de Combate à Baixa-ria na TV’ ainda não tinha data certa.

Fonte: divulgação

Denúncias realizadas entre os meses de maio e dezembro de 2010

Arte: Monique Garcez

Saiba mais:

XVII Ranking da baixaria na TV

C

Comunicação´

Page 4: Contexto 32 PDF

sob responsabilidade dos Detrans - que é obrigatória há anos em outros estados, será obrigatória em Sergipe a partir do mês de abril de 2012.

Segundo Adema a qualidade do ar em Aracaju é boa. A amostragem refere-se ao entorno de 1000 metros da Estação de Coleta da Qualidade do Ar no Dis-trito Industrial de Aracaju. O gerente de fiscalização ambiental da Adema, Augus-to Leão, informou que apenas a partir de 2012, quando serão adquiridos quatro HI-VOLs (equipamento para aferição da qualidade do ar), poderá ser melhorada a pesquisa quanto ao impacto ambiental provocado pelos poluentes veiculares e industriais na capital.

Quanto aos poluentes contidos no combustível, o enxofre é o que causa maior preocupação. Nos anos 1970/80, o índice de enxofre contido no diesel - cujo ideal é de 15 partes por milhão, che-gou a 13.000 ppm. O diesel vendido hoje nos postos comuns contém 1800 ppm. O plano da Agência Nacional do Petróleo, que regula a quantidade do componente no combustível, é começar a fornecer o ‘diesel urbano’. Benjamim Reis, Subger-ente de Projetos de Atividades da Cadeia do Petróleo da Adema informou que quatro postos piloto serão implantados em Sergipe, com fornecimento do die-sel S10, que contem apenas 10 ppm de enxofre.

Sobre a qualidade do ar em Aracaju o biólogo Clóvis Franco, professor da UFS, informou-nos que é insuficiente e imprecisa a aferição atual devido ao local e ao número de equipamentos utilizados. “O uso do diesel de má qualidade asso-ciado ao péssimo estado de manutenção do transporte coletivo e de veículos par-ticulares” além da “falta de fiscalização por parte do Poder Público” permitem a indiscriminada emissão de substân-cias cancerígenas na atmosfera. De uma forma geral “as medidas tomadas hoje são as que deveriam ter sido tomadas há 100 anos.” Professor Clóvis vê a situação atual como sem esperança. “Não estou sendo apocalíptico e sim pragmático e realista.” Ele compara a situação atual a um avião caindo com o motor parado e como solução tentam alimentar o piloto.

“São enérgicas as medidas a serem to-madas. O fornecimento de combustíveis alternativos ou com menores níveis de poluentes são medidas insuficientes”. O professor cita o cientista e ambiental-ista inglês James Lovelock para definir bem a situação: ‘Somos perigosamente ignorantes de nossa própria ignorância, e poucas vezes tentamos ver as coisas como um todo.’

Para saber mais:www.recursosnaturais-se.blogspot.comwww.who.int/es/index/htmlwww.adema.se.gov.br

4 ContextoMeio ambiente

A silenciosa morte que chega pelo ar Saiba como a poluição adoece e mata milhões de pessoas todos os anos

outubro-dezembro/2011

André [email protected]

C

Melecas pretas. Eis o resultado do primeiro dia do repórter ao andar pelas ruas de São Paulo em maio de 2009. Dois dias depois maior susto: 3000 mor-tos estampavam matéria de quarto de página no jornal O Estadão. Foi essa a média de mortos na capital paulista no ano anterior devido a problemas respira-tórios ocasionados pela poluição atmos-férica. Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, dióxido de enxofre, monóxido de carbono, óxido de azoto, material particulado e demais poluentes emitidos por veículos movidos a com-bustível fóssil contaminam a atmosfera e matam milhões de pessoas sem encostar um para-choques sequer em suas vítimas.

Por poluição atmosférica entende-se que seja qualquer contaminação do ar por meio de desperdícios gasoso, líquido ou sólido que ameace a saúde humana, animal ou vegetal, além provocar danos materiais ao ecossistema. Pode reduzir a visibilidade do tráfego rodoviário, pro-vocar chuvas ácidas, inversões térmicas e outras anomalias de ordem natural.

A OMS divulgou em setembro de 2011 um relatório onde informa que a má qualidade do ar é responsável pela morte prematura de pelo menos dois milhões de seres humanos todos os anos nas grandes metrópoles.

Da madeira ao CO2 e ao enxofre“Os registros da história indicam que

na fase pré-industrial a poluição do ar se dava na queima de madeira e carvão em cidades com grande concentração popu-lacional, piorando gradativamente do início da Revolução Industrial até os dias de hoje”, diz a professora de História Eudorica Luciana. “Os benefícios e o progresso dela advindos não significa-ram o mesmo para o meio ambiente. Na maioria das vezes suas evoluções reper-cutiram reveses ambientais em todas as partes do mundo”, acrescenta.

Pelo elevado número de mortos, al-guns incidentes ambientais envolvendo poluição atmosférica se destacam na história. Em 1930, na Bélgica, no perío-do de dois dias cerca de 60 moradores do vale de Meuse morreram devido a au-sência de ventos e da não dispersão dos poluentes das fábricas locais. Na Pensil-vânia, EUA, uma inversão térmica nos anos 1940 fez o mesmo na cidade de Do-nora, onde ocorreram 20 mortes em cur-to espaço de tempo. No inverno de 1952, em Londres, 4.000 pessoas morreram. A indústria e os aquecedores domésticos à base da queima de carvão foram a causa. No ano de 1984 , o pior: um acidente na fábrica de pesticida pertencente à norte americana Union Carbide vazou aproxi-madamente 40 toneladas de gases letais, ocasionando a morte de 7.500 pessoas na

cidade indiana de Bhopal. Estima-se que desde o acidente outras 16.000 pessoas tenham morrido em decorrência dele.

No Brasil, a cidade paulista de Cu-batão entre os anos 1970 e 80 lançava mil toneladas diárias de poluentes no ar, além de outras tantas nos rios e ter-ras da região. Mundialmente conhecida nos anos 1980 como “Vale da Morte”, Cubatão foi sem dúvida o caso mais emblemático da poluição industrial na-cional. Isso representou a morte e má qualidade de vida de milhares de pessoas nos mais de 30 anos de desenvolvimento industrial da região.

Qualidade do ar em Sergipe No dia a dia a poluição que mata deva-

gar, aos poucos vai se descortinando e encontrando seus índices. No Brasil, se-gundo o relatório da OMS de 2011, o ar de Belo Horizonte mata mais de um por dia (389/ano). O de São Paulo mata treze (4.745/ano) . O Rio de Janeiro continua lindo, mas a qualidade do seu ar é quase duas vezes pior que a da capital paulista.

As vítimas desse assassino invisível, na grande maioria das vezes não sabe o

que os atingiu. Além de milhares de in-ternações, há o prejuízo de bilhões de reais aos cofres públicos. Segundo in-formações fornecidas pela Secretaria de Estado da Saúde de Sergipe, entre os anos de 2005 e 2008 o número de óbi-tos relacionados a doenças respiratórias chega 2.649. Mas esse número não pode ser atribuído exclusivamente aos poluen-tes veiculares, pois não há como efetuar tal medição.

Os problemas gerados pela poluição são muitos. Além dos diretamente propi-ciados à saúde humana, prejudica ecos-sistemas através das mudanças climáticas, afeta a estrutura dos prédios e do pat-rimônio histórico das cidades, provoca chuva ácida, que mata plantas e animais.

Aracaju possuía, segundo o Depar-tamento Nacional de Trânsito (Dena-tran) até setembro de 2011, 134.986 au-tomóveis movidos a gasolina ou etanol, e outros 35.888 veículos a diesel, entre caminhões, ônibus, camionetas, etc. Um detalhe importante: por determinação do Conama a inspeção veicular, exame que mede a quantidade de poluentes e ma-terial particulado emitido pelos veículos,

Inspeção obrigatória de poluentes veiculares em Sergipe só a partir de abril de 2012

Foto: André Teixeira

Page 5: Contexto 32 PDF

Obstáculos no trajeto das bicicletasJovaldo Rodrigues

[email protected]

Contexto outubro-dezembro/20115

Aracaju cresce em duas rodas

Foto: Morgana Brota

Transportes

C

Numa cidade como Aracaju, onde o trânsito vem se tornando cada vez

mais intenso, elevar a bicicleta ao status de meio de transporte parece ser uma tendên-cia crescente. E um olhar mais atento não deixa escapar: os ciclistas urbanos estão ali, muitas vezes espremidos entre um carro e uma calçada, mas definitivamente dispos-tos a ocupar um espaço que também é de-les por direito. Essa empreitada, no entan-to, não é fácil, e usar a bicicleta diariamente se configura num verdadeiro desafio, mes-mo com os 58 km que foram adicionados à malha cicloviária de Aracaju nos últimos 8 anos, tornando-a a terceira maior do Brasil.

De acordo Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT), Aracaju possui uma malha cicloviária de 70 quilô-metros de extensão, distribuídos por mais de 10 bairros da capital. A SMTT estima que uma média de 40 mil pessoas utilize esse espaço. O estudante de Engenha-ria Mecânica da Universidade Federal de Sergipe (UFS) Epifânio Júnior, 24, é uma delas. “Vou tanto para a UFS como para o trabalho. Gosto da bicicleta pela facili-dade de locomoção pelo trânsito”, afirma. No entanto, mesmo que as ciclovias sejam rotas para o ciclista pedalar sem maiores dificuldades, já que não há confronto di-reto com veículos motorizados, ainda é

possível encontrar algumas dificuldades. Obstáculos para os ciclistas urbanos

realmente não faltam, e a violência no trânsito é um dos mais difíceis de superar. “A maioria dos condutores não respeita o ciclista e, quando não há uma ciclovia por perto, fica bastante difícil pedalar en-tre os carros”, afirma a designer Monique Alves, que há pouco mais de um ano re-solveu adotar a bicicleta como meio de transporte. “Só não uso para ir ao traba-lho porque o escritório fica no outro lado da rua da minha casa”, afirma Monique.

Outro agravante na rotina dos ciclistas urbanos é a falta de locais para estaciona-mento de bicicletas. Atualmente, Aracaju conta com um bicicletário na praça Fausto Cardoso e outro na General Valadão, que juntos têm capacidade para abrigar 40 bici-cletas. Também há 30 paraciclos no Centro da cidade. Mesmo assim o número é insu-ficiente e muitos ciclistas não os conside-ram confiáveis. “A questão da segurança é preponderante. Já dei uma boa olhada nos bicicletários do Centro e definitivamente não deixaria minha magrela ali. E o mes-mo vale para a UFS, que nem conta com um bicicletário, na verdade”, afirma Ad-son Rocha, graduando de Administração.

Apesar desses obstáculos o estudante é um ciclista urbano fervoroso e não dispen-sa o uso diário da sua bicicleta para cumprir o expediente no emprego. Como Adson trabalha em horário comercial e, geralmen-te, volta para casa na hora do almoço, usa

a bicicleta quatro vezes ao dia, e a maior parte do seu trajeto é na movimen-tada avenida Barão de Maruim. “A violência no trânsito assusta, mas nun-ca me impediu de usar a bicicleta como meio de transporte”, afirma.

Esclarecimentos

De acordo com Fabrí-cio Lacerda, coordenador de ciclomobilidade da SMTT, esses problemas não estão sendo ignora-dos pela prefeitura, que já trabalha para solucio-ná-los. A respeito da falta de interligação entre as ciclovias, o coordenador explica que há projetos para conectá-las. “A plan-ta da cidade prevê esse tipo de construção, mas é um projeto futuro que levará tem-po. Não é para este ano”, admite Lacerda. Já sobre a questão da falta de bicicletários, o coordenador diz que também há planos da prefeitura para a construção de novos estacionamentos. “Hoje existem, sim, es-tudos para novas instalações, como para-ciclos em prédios públicos, por exemplo. Ainda há muita coisa a ser feita, o poder público sabe que existe essa demanda e está consciente desse papel”, acrescenta.

A arquiteta e urbanista Emanuele Car-

valho, gestora do Departamento de Divisão de Projetos da UFS (Dipro), assegura que a universidade também possui planos para a construção de bicicletários. “A ideia já exis-te. Por enquanto, não sabemos onde serão colocados, mas temos conhecimento que há essa necessidade”, esclarece. Emanuele diz ainda que estudantes já se manifesta-ram sobre a questão, mas admite que por ora a Dipro está dando prioridade aos tra-balhos já iniciados, como o estacionamen-to para motocicletas. Em relação ao prazo para quando esse planejamento terá inicio, a arquiteta declara que a avaliação do pro-jeto ocorrerá a partir do momento que as obras atuais na UFS forem concluídas.

Morgana [email protected]

Com muita propaganda e pagamen-tos facilitados, andar sobre duas

rodas vem se tornando cada vez mais aces-sível para os sergipanos, principalmente em veículos com menos de 50 cilindradas (cc). As chamadas motonetas são vendidas até em supermercados. Segundo Ana Pau-la Feitosa, gerente de uma grande reven-dedora, as saídas de motonetas superaram, proporcionalmente, as vendas de motos. “Não precisa emplacar, nem usar capacete e, por isso, não tem como identificar em caso de roubo, só pelo chassi”, explicou.

Na loja em que ela trabalha, a primeira leva de motonetas foi vendida em apenas uma semana. “Foram 20 motonetas e já te-mos mais de 20 propostas para a nova leva. Muitos que vêm comprar, com 14, 15 anos, já saem pilotando sem saber direito. Reco-mendamos o uso de capacete, mas sabe-mos que não há exigência legal”, afirmou.

A quantidade de motociclistas nas ruas e a ausência de legislação específica vêm complicando o trânsito das cidades, em especial o da capital, por onde circulam atualmente 215 mil veículos, dos quais 50 mil são motos, segundo o assessor de comunicação da Superintendência Mu-nicipal de Transporte e Trânsito de Ara-caju (SMTT), Jairo Alves. “Cerca de mil veículos entram por mês somente na capi-

tal, ‘apertando’ assim o trânsito”, alertou. Além disso, acidentes envolvendo moto-ciclistas ocuparam a segunda posição en-tre os registrados em todo o estado pelo Departamento de Trânsito de Sergipe (De-tran-SE), no primeiro semestre de 2011.

Para Alves, contabilizar o número des-ses ciclomotores em circulação atualmente é impossível, mas o seu impac-to na circula-ção de veículos em Aracaju é incontestável .

“Existe rela-ção direta entre número de in-serção de moto-netas no merca-do e o problema sobre o espaço no trânsito ara-cajuano. Elas são causadoras de muitos pro-blemas, pois, normalmente, os comprado-res desses veículos são jovens inexperien-tes”, declarou.

Em 2009, a Câmara Municipal de Ara-caju (CMA) teve em mãos um projeto que criava uma legislação específica, porém não

vingou. Segundo o presidente da Câmara, Emannuel Nascimento, o projeto de lei que registraria e licenciaria os ciclomoto-res foi inicialmente aprovado, mas acabou revogado em maio deste ano. O processo de discussões, contudo, ainda está aberto. “Revogamos para rediscutir, pois as taxas

que são cobra-das para empla-camento e regis-tro são caras e os compradores são consumidores de baixo poder aqui-sitivo”, declarou.

Para Eman-nuel Nascimen-to, é importante que haja um pla-nejamento urba-no em Aracaju para os próximos anos. “Os órgãos municipais estão discutindo essa questão. O Plano de Mobilidade Ur-

bana já está sendo elaborado pela SMTT e a Câmara está esperando para que seja aprovado até o final deste ano”, afirmou.

O assessor de comunicação SMTT, Jairo Alves, afirma que muitas ruas da capital não podem sofrer mudanças es-

truturais. “Algumas ruas têm de ter pre-servadas as suas estruturas históricas e, neste aspecto, não há como modificar”. Porém, algumas mudanças já estão sen-do providenciadas. “Estamos proibindo estacionamento completo ou só de uma via, para que algumas ruas fiquem livres”.

Educação permanenteSegundo Alves, a SMTT instituiu um

comitê formado por vários membros da sociedade para discutir esses problemas e apresentar formas de aliviar o “afogamen-to” do trânsito. “O Comitê de Segurança Viária, que atua em várias cidades por todo o mundo, é uma solicitação da Organiza-ção das Nações Unidas (ONU) para di-minuir mortes em acidentes nas ruas. Em Aracaju, cerca de 40 entidades participam do comitê gestor, que funciona desde mar-ço e atua, por exemplo, em escolas e no trânsito, e disseminam a ideia de conscien-tizar motoristas e motoqueiros”, afirmou.

O vereador Emannuel Nascimento defende a educação permanente para o planejamento urbano através da lei de sua autoria que incentiva o respeito ao Códi-go Nacional de Trânsito, em vigor desde 2010. Para o presidente da Câmara Munici-pal de Aracaju, este é o primeiro passo para reorganização do tráfego da capital. “Não há outra forma a não ser a orientação no trânsito”, afirmou.

Lorene [email protected]

Foto: Lorene Vieira

Adson pedala diariamente

Motonetas invadem mercado aracajuano

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No Vila Botequim, no bairro Garcia, a fre-quência de mulheres em dias de competições, seja ao lado de seus companheiros ou de amigas, já chegou à casa dos 60%, segundo o gerente Nel-son Brito. No Última Sessão, que exibe simulta-neamente várias partidas em diferentes telões, o percentual de mulheres durante a semana gira em torno de 20%, mas costuma aumentar nos dias

assistiu o UFC lá porque tinha aula no dia se-guinte. “Mesmo vendo em casa, adorei”, admite.

Na opinião do estudante de Ciências Con-tábeis Kayran Lopes, de 20 anos, as mulheres decidem ver os jogos de futebol no bar como desculpa para beber. “Não que recrimino, mas é só para isso mesmo. No caso do UFC, elas as-sistem porque estão gostando cada vez mais de esportes violentos, e também estão praticando. Elas estão adquirindo o gosto masculino pelas

6 ContextoComportamento

Bares de Aracaju faturam mais com a transmissão de jogos e lutas

outubro-dezembro/2011

Andréa [email protected]

Torcedor que se preze acompanha de per-to a saga de 38 rodadas do seu time em

busca do título do Brasileirão. Assistir até os jogos realizados “fora de casa”, mesmo que por meio da televisão, é obrigação para os que se dizem aficionados por um clube. E já não é só de fute-bol que vive o brasileiro. A nova onda é vibrar e torcer também pelas lutas livres, ou arte marciais mistas, antigamente conhecido como vale-tudo, cujo campeonato mais famoso é o UFC, sigla em inglês de Ultimate Fighting Championship.

Em Aracaju, assistir futebol, lutas ou qual-quer outro esporte em bares já virou hábito, fato que vem contribuindo para alavancar a receita dos estabelecimentos. Os proprietários se ani-mam com esse público, trocam as televisões por telões e criam promoções para os dias de futebol.

O Última Sessão, bar localizado na Ave-nida Beira Mar, bairro Treze de Julho por exemplo, foi criado com essa ideia, segundo o gerente Paulo César Medeiros. “Como meu pai sempre prezou pelo ambiente familiar, o bar nasceu com o objetivo de exibir as parti-das de futebol para as famílias que gostam de se reunir para torcer. Por isso, nossa renda é 100% em cima da exibição de jogos”, afirma.

Gibaldo Bernardes, gerente do Brandy’s Bar, na Praça da Imprensa, fronteira entre os bairros Treze de Julho e São José, também usufrui dessa tendência. “O pessoal vem mais aqui para apre-ciar uma boa cerveja, conversar e sair do estresse cotidiano. E nada melhor para desestressar do que uma partida de futebol”, avalia. O Brandy’s atinge seu maior movimento às quartas, aos sá-bados e aos domingos, com a exibição de jo-gos de futebol. Segundo o gerente, nestes dias o movimento do bar cresce em torno de 30%.

A vez das torcedoras

Comprar o um pacote de pay per view e assis-tir aos jogos sozinho em casa, já não anima qual-quer torcedor. Vários preferem levar a euforia das arquibancadas para os bares, onde o ambiente é de diversão e paz, sem confrontos de torcidas.

de jogos. Na avaliação do gerente, Paulo César Medeiros, “o público feminino vem crescendo justamente por oferecermos essa diversidade”.

Para a “flamenguista roxa” Anne Grazie-le Mota, 21, estudante de Administração, o bom mesmo é ver seu time do coração acom-panhada das amigas e do namorado. “Prefiro assistir o Mengão fora de casa, pois a emoção é maior e posso gritar mais do que na minha casa”, comenta. Já a estudante de Direito Iva-nir Santana, de 21 anos, diz que frequenta ba-res tanto para conversar com amigos quanto pelo futebol, pois acha melhor assistir os jogos em locais abertos. Além disso, considera que o ambiente do bar “propicia mais envolvimen-to emocional com o time e a própria torcida”.

A universitária afirma que a paixão pelo futebol é vem desde os 06 anos, quando seus pais a levavam para assistir as partidas no es-tádio. Mas com o passar do tempo, a prática foi ficando perigosa, principalmente nas con-centrações pós-jogos de futebol. Sua família optou, então, por assinar um pacote de canais de esporte. “Nós trouxemos o estádio para casa, agora fazemos uma mini concentração em todos os jogos do nosso time em casa, o que também não significa dizer que eu não vá mais aos bares assistir os jogos. Digamos que eu posso escolher onde assistir”, afirma Ivanir.

O fênomeno das lutas-livres

Para Jackson Rodrigo dos Santos, 26, bancá-rio, o que mais interessa assistir são os campeo-natos de lutas livres. “Como não tenho TV por

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Elaine [email protected]

Vila Botequim, um dos bares com alto índice feminino

Foto: Andrea Cerqueira

assinatura em casa e o UFC só passa em canal fe-chado, venho para o bar para poder acompanhar a luta”, diz. No último campeonato realizado no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, em agosto de 2011, a presença feminina foi massiva em vários bares da cidade. Bruna Azevedo, estudante de Administração, de 24 anos, que não perde um jogo do Corinthians em um bar, diz que só não

Foto: Elaine Casado

Paulo Medeiros, gerente do Última Sessão

Villa Botequim recebe grande público feminino nos fins de semana

Foto: Andrea Cerqueira

coisas”, diz. Para a estudante de enfermangem, Larissa Cristina, 22, a reação dos homens ao gosto feminino por lutas é de espanto. “Eles ge-ralmente se assustam quando uma mulher diz que gosta de luta, ainda mais quando de fato gosta e conhece bem. E quando é uma meni-na com carinha de delicada e do nada diz que adora luta... Ninguém espera mesmo!”, conta.

A ciência explica Quem estuda o assunto vê a forma como

as mulheres assistem às lutas e futebol como uma forma de adoração ao símbolo mascu-lino. É um gosto que pode ser definido pelas regras (ou falta de) e pelo culto ao corpo de um lutador. “Os homens valorizam a força e a ca-pacidade técnica de um esporte praticado por homens e exaltam atributos vinculados à bele-za quando são praticados pelo sexo feminino.

Em uma sociedade de espetáculo do cor-po, uma competição como o UFC, desperta nas mulheres o gosto pela competição e tam-bém por quem compete. São corpos bem tor-neados e sem pelos, em que a possibilidade de sangue e excitação é muito maior”, analisa o professor Felipe Quintão, do Centro de Edu-cação Física e Desporte da Universidade Fe-deral do Espírito Santo (Ufes), em entrevista à Revista Criativa na edição de Agosto deste ano.

Já na análise da psicóloga Alexandra Ca-mila Blanco, o crescente interesse pelas lutas-livres e jogos de futebol pelas mulheres reflete a busca por ações semelhantes aos dos homens, o que nem sempre evidencia a igualdade en-tre homens e mulheres perante a sociedade.

“Hoje, é normal que homens e mulheres assistam a esportes juntos, uma vez que com a revolução feminina, elas buscam uma posição de igualdade com os homens. No entanto, esta atitude nem sempre é saudável, pois homens e mulheres têm pensamentos e comportamento diferenciados. Se acreditamos sermos iguais não teremos o direito de questinar comportamentos que não nos agradem, analisa Alexandra.

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Aracaju amplia oferta de idiomasContexto outubro-dezembro/2011

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Gíria esportiva:dê um drible nissoIlustração: Lucas Peixoto

Educação e Esportes

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Você consegue entender todos os termos de uma narração esportiva?

Se sua resposta for sim, parabéns. Você faz parte de um seleto grupo de conhecedores da área. Na maioria dos casos, os espectadores não conseguem compreender muitos termos e jargões das várias modalidades esportivas. Até porque há também diferenças regionais.

O drible entre as pernas, por exemplo, é “caneta” no sul do Brasil e “tabacada” em algumas partes do interior da Bahia. Jogar a bola por cima do adversário chama-se “cha-péu” ou “cuia” no Nordeste. Mas no Rio Grande do Sul é entendida como “gauchinha” e no Sudeste pode ser uma “chaleira”.

A utilização de metáforas e gírias serve como uma maneira de prender a atenção da audiência e envolvê-la na partida. No basquete existe, por exemplo, a “cesta de chuá”, que significa uma bola que caiu na rede sem tocar em parte nenhuma da tabela. Já no vôlei há o famoso “rally”, espécie de “troca de passes” entre os jogadores até que o lance seja fina-lizado com um ponto. Esses dois termos não sofrem variações regionais, diferentemente do futebol, que é um esporte mais popular.

Os diferentes termos técnicos e jargões

são disseminados, sobretudo, pelos repórteres e narradores esportivos, cuja forma de mostrar um jogo de futebol, basquete ou vôlei varia de acordo com cada mídia. Para quem trabalha em rádio, a utilização de jargões é muito mais recorrente. Reconhecida como “teatro para cegos”, a transmissão ra-diofônica trabalha com criação de imagens mentais e valorização dos lances para dar vida à narração. No caso da TV, muitos mo-mentos não precisam ser narrados nem su-pervalorizados, pois o telespectador está vi-sualizando o lance com seus próprios olhos.

Rádio x Televisão Segundo o locutor esportivo e narrador da

Liberdade AM de Sergipe Antônio Barbosa existem diferenças de estilo nas transmissões de rádio e televisão. No primeiro, cabe ao narrador citar o nome do atleta que domina a bola, posicionamento no campo ou na quadra, além de falar sobre o adversário que ele tem à frente, se conseguiu se livrar ou não, os chutes para o gol ou arremesso para as cestas, etc.

“Quando a bola sai do campo, o locutor de rádio precisa dizer por onde foi que ela saiu, e quem a botou pra fora, para que o ouvinte fique absolutamente por dentro do assunto. Já na televisão, não precisa nada disso. Nesse caso, o narrador de televisão se limita a iden-tificar para o telespectador o atleta que faz

a jogada, porque quem está assistindo sabe, logicamente, o posicionamento dos jogadores e da bola”, explica Barbosa, que já narrou três Copas do Mundo e cinco Copas América.

Impedimento Outro grande desafio da narração es-

portiva é fazer com que o telespectador en-tenda o incompreensível “impedimento”. Para falar sobre este controverso lance, a equipe do Contexto conversou com o ár-bitro sergipano da CBF – Confederação Brasileira de Futebol Antônio Hora Filho. Para ele, o impedimento não é um bicho de sete cabeças. Trata-se, basicamente, de uma irregularidade cometida quando o jogador recebe a bola à frente do penúltimo defen-sor adversário – contando com o goleiro.

O impedimento é algo complexo princi-palmente para o bandeirinha, e exige bastante atenção ao lance. “O assistente deve estar alinhado ao penúltimo defensor e imaginando uma linha que se origina em sua posição e que vai se estendendo até a linha lateral do lado con-trário do campo. O complicado é ‘fotografar na mente’ o momento exato do passe e marcar a possível irregularidade”, explica Hora Filho.

Contexto selecionou alguns termos de três modalidades esportivas: futebol, vôlei e bas-quete, com suas linguagens técnicas e jargões clássicos. Teste o seu vocabulário esportivo.

Já escutou alguma vez a expressão alemã “guten morgen”? Consegue pronunciar

a palavra norueguesa “unnskyldning”? Sabe o que significa “grazie mille” no italiano? Quando o assunto é língua estrangeira o bom e velho inglês sempre resolve os nossos prob-lemas. Muitos também já se garantem no es-panhol e até mesmo no francês. No entanto, basta mudar o idioma para que simples ex-pressões como ‘bom dia’, ‘desculpa’ e ‘mui-to obrigado’ virem verdadeiras incógnitas.

Foi-se o tempo em que saber apenas in-glês ou francês era sinônimo de diferencial. O fortalecimento do Mercosul e a emergên-cia de novos países no cenário mundial chamou a atenção para outras culturas e idiomas. Seguindo essa tendência de globa-lização, o mercado de trabalho torna-se cada vez mais exigente na avaliação das qualifi-cações profissionais dos candidatos, e sa-ber se comunicar em outros idiomas conta bastante na hora de conseguir uma vaga.

Mas se você ficou preocupado em iniciar imediatamente a aprendizagem de uma des-sas línguas é melhor ter calma. Achar escolas ou até mesmo professores particulares que ensinem idiomas não tão comuns em Sergipe pode exigir paciência, embora aos poucos essa realidade venha se modificando. Em Ara-caju, turmas de italiano e de japonês já estão sendo ofertadas nas escolas da rede Wizard. O curso do idioma nipônico tem uma média de duração de dois anos, enquanto o de ita-liano prolonga-se por dois anos e meio. Nos dois casos o aluno ainda tem a opção de es-colher por aulas particulares ou em grupo.

A vez do alemão Com um pouco mais de destaque que as

outras, o alemão vem se tornando uma op-ção mais acessível para aqueles que querem fugir do eixo tradicional. A língua de Goethe, Hegel, Weber e outros tantos pensadores tem conquistado cada vez mais adeptos no Brasil e no mundo. Segundo a revista Deutschland, já são cerca de 70 mil alunos matriculados em mais de 120 escolas oficiais de alemão espalha-das pelo globo. Só na América Latina são 34.

Magdalena Brendel e Julie Staudenmaier são professoras de alemão na capital sergi-pana. Germânicas autênticas, elas começaram ministrando aulas particulares, mas perce-beram no aumento da procura pelo idioma uma oportunidade de montar um negócio próprio. Hoje, elas dirigem a primeira e única escola do estado voltada exclusivamente para o ensino da língua, que atende, em média, 60 alunos, “o que já é muito”, ressalta Magda-lena. Ela também revela a principal dificul-dade dentro de sala para quem quer aprender alemão: a gramática “O alemão tem alguns aspectos particulares que são mais difíceis

que a gramática de inglês e que são bem dife-rentes da gramática do português. Por isso é que o aluno tem que estudar de verdade”, explica. Um desafio e tanto para quem vai aprender um idioma com quatro casos gram-aticais, três gêneros, verbos com prefixos separáveis e palavras com 20 letras ou mais.

Falando à distância

Se nenhuma dessas opções anteriores lhe agrada, o jeito é correr para a internet e pro-curar sites que fornecem esse tipo de ensino. As opções de interatividade, ferramentas e preços são variadas, e o leque de idiomas disponíveis vai desde os mais comuns, como o inglês e o espanhol, chegando aos menos disseminados, como russo, árabe e hebraico.

Essa foi a alternativa encontrada pela pro-fessora Cíntia Menezes. Fluente em espanhol e inglês, e com conhecimentos básicos em italiano, ela decidiu aprender norueguês por uma questão de satisfação pessoal. Como não encontrou escolas ou professores que ensin-assem o idioma, resolveu então optar pelo autodidatismo. Além de utilizar o livro com áudio da série ‘Teach Yourself Norwegian’, Cíntia incluiu nas suas rotinas de estudo o site Livemocha, uma rede social internacional de ensino de idiomas na qual usuários podem trocar informações e ter acesso a ferramentas audiovisuais. “Com a Internet fica fácil prati-car o idioma. O Livemocha é bastante dinâmi-co e ajuda a manter a disciplina”, afirma.

Inglês para vários fins

Além de toda essa oferta de línguas es-trangeiras pouco usuais, os cursos de idiomas agora oferecem turmas de inglês para fins es-pecíficos. Quem, por exemplo, planeja viajar para fora do Brasil e precisa de dicas básicas de conversação imediata, ou participa de re-uniões de negócios em que necessita entender termos específicos do ramo, já existem sa-

las de aula que se adequam ao seu interesse. Em Aracaju, as ofertas são variadas, mas

o grande destaque são as turmas de inglês para concursos públicos. Com duração mé-dia de um ano, os cursos são voltados para leitura e interpretação de textos que irão ajudar o candidato na hora da resolução das questões da prova. O auxiliar de escritório Pedro Alves, que prestará dois concursos públicos este ano, confirma o benefício da temática especializada: “é muito melhor entrarmos em um curso focado nas nos-sas necessidades, com um professor capaz de te ajudar da melhor forma possível”.

Duas outras modalidades também se de-stacam: a de “Business” (Negócios) e a “May I Help You?” (Posso ajudar?), do FISK. A primeira, oferecido pelo Inlingua, com três anos de duração, foca-se em adultos que desejem desenvolver suas habilidades no idioma americano para negócios ou para co-municação no ambiente de trabalho. As au-las preparam os alunos para, por exemplo, apresentações orais, efetuar negociações, escrever emails, entre outros benefícios.

A segunda foi criada pelo Centro de En-sino FISK, de olho na visibilidade que a Copa do Mundo de 2014 dará ao Brasil. A escola de idiomas, que atua no país em regime de fran-quia, lança a novidade no intuito de preparar os profissionais da área de turismo (taxistas, hoteleiros, guias, etc.) para receber turistas es-trangeiros. “Os principais diferenciais dessa modalidade são: conversação imediata, fra-ses situacionais e vocabulário temático”, ex-plica a professora do curso Raquel Rodrigues.

Diante de tantas opções, o mais importante a ser feito, antes de se matricular, é pesquisar o que melhor lhe favorece e se encaixa no seu perfil. Analise as vantagens e desvantagens dos cursos , a qualidade do material disponív-el, e a metodologia aplicada. Depois disso, é só começar a praticar. “Good luck!”.

Adler Berbert

Lucas Peixoto

[email protected]

[email protected]

Igor de [email protected]

Ilustração: Lucas Peixoto

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Page 8: Contexto 32 PDF

das disciplinas fotografia e Iluminação e Fotojornalismo I. A exposição foi incor-porada ao calendário anual de atividades do Departamento acadêmico da Universi-dade e é passou a ser realizada no fim da cada ano.

Desde então a fotografia vem ganhan-do no espaço acadêmico uma importância, semelhante à que tinha na década de 1990. Em novembro de 2010, os alunos de Co-municação, com o apoio das professoras Mª Beatriz Colucci e Renata Voss, realiza-ram um encontro com os fotógrafos Jairo Andrade e Alejandro Zambrana, que re-presentava o Trotamundos, para conversar sobre a fotografia no estado. No evento, que lotou o auditório do departamento de Geografia da UFS, Zambrana aproveitou para contar um pouco sobre as atividades do Coletivo e um pouco sobre o seu traba-lho autoral.

Em 2011, uma parceria entre a turma de Fotojornalismo II e Fotografia Publici-tária I resultou na montagem da exposição “A cidade, os seres e o ambiente”, que in-tegrou as atividades de abertura do 1ª En-contro Interdisciplinar de Comunicação Ambiental (EICA).

Saiba mais:Trotamundos: http://goo.gl/e9CQCEica: http://goo.gl/o4IXb

ContextoHistória e Sociedade outubro-dezembro/2010

Daniel [email protected]

grafar era um hobby elitista. Era muito caro ser fotógrafo naquela época”, lembra Benedito Santos, que montou muitas ex-posições de grandes nomes da fotografia brasileira, como Valter Firmo, Ângela Ma-galhães, Rosa Gauditano, Araquém Alcân-tara, entre outros. Os diversos eventos da semana, além trazer para o público sergi-pano um pouco do que acontecia no ce-nário nacional, revelava talentos locais. Al-guns desses ficaram conhecidos em todo o país e fora dele, como é o caso de Marcio Garcez, que fez sua primeira exposição in-dividual durante a Semana.

Amigos da fotografiaA Semana Sergipana de Fotografia ga-

nhou repercussão tão grande que passou a participar do circuito nacional. Juntamente com eventos em outros estados, formava uma espécie de preliminar para a Semana Nacional de Fotografia. “Vinha gente de todo lugar para ver e participar. Mais ou menos uns três meses antes a galeria (Ál-varo Santos) me cedia e eu passava a tra-balhar só para a Semana. Foi por causa da Semana que surgiu a Asafoto”, conta Be-nedito Santos, referindo-se à Associação Sergipana de Amantes da Fotografia.

A Asafoto foi criada por Marcio Gar-cez, junto com outros fotógrafos, como Gorete Nascimento e Nilma Sucupira (já falecido), com o objetivo de reunir e in-tensificar as ações de fotografia no estado. Depois de problemas internos, a associa-ção encerrou suas atividades no final da década de 1990.

RetomadaCom o fim da Semana, em 1998, a fo-

tografia sergipana passou dez anos “hiber-nando”. Eventos significativos só voltaram a acontecer em 2010, de uma forma ainda tímida, depois do surgimento de novos coletivos de fotografia, como o Trotamun-dos. Criado em 2009 e formado por Ale-jandro Zambrana, Ana Lira, Arnon Gon-çalves, Marcel Hora e Zak Moreira, este grupo é hoje o mais importante do estado e vem realizando diversas atividades, como cursos, palestras e exposições.

O Coletivo começou com o projeto ‘quem faz a foto?’, uma oficina oferecida pelo grupo no Centro de Atenção Psi-cossocial (CAPS) Jael Patrício de Lima, na Zona Norte da capital, que resultou numa exposição na Sociedade Semear. No ano seguinte, com o apoio da Prefei-tura Municipal de Aracaju, o projeto foi repetido durante as comemorações do

Na passagem da década de 1980 para a 90, a fotografia em Sergi-

pe vivia seu grande momento, com a re-alização frequente de inúmeras atividades. Eram exposições, mostras, salões, oficinas e workshops que se espalhavam por va-riados espaços não só de Aracaju como também de outros municípios. “Era um movimento muito forte. Tinha exposição em todos os espaços: as galerias eram ocu-padas, além delas, os correios, os bancos”, lembra Benedito Santos, fotografo, mode-lo, ator e diretor de artes visuais da Galeria Álvaro Santos conhecido como Benedito Letrado. Em 1989 nascia o primeiro Sa-lão de Fotografia da Galeria Álvaro San-tos (GAAS). Dois anos depois veio a 1ª Semana Sergipana de Fotografia, promo-vida pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), e organizada por iniciativa da pro-fessora e fotógrafa Eliane Veloso.

Bons tempos

aquelesA Semana teve sete edições, das quais

cinco sob o comando da professora Elia-ne, que teve que se aposentar precocemen-te devido a um problema de visão. As duas últimas edições tiveram como responsável a fotógrafa e historiadora Naide Barboza, que havia conhecido sua antecessora anos antes, em uma semana de fotografia de Ouro Preto (MG). Elas trabalharam juntas desde a 1ª Semana. “Eliane veio da Fun-dação Joaquim Nabuco para trabalhar na UFS. Foi durante esse período que funda-mos a Semana. Na época eu trabalhava na antiga Secretaria Municipal de Cultura, que virou a Funcaju”, conta Naide.

Além das exposições, eram realizados oficinas e minicursos durante a Semana. “Tinha estética, fotografia básica, luz e sombra, história da fotografia, fotografia de book e tantas outras. A gente ia com o pessoal das oficinas fotografava e ainda montava um mostra no fim da semana. Era uma correria só”, brinca Benedito.

“A cidade se envolvia. Era uma propos-ta de aglutinar toda a população, mas foto-

aniversário da cidade. Vários projetos vieram em seguida, mas o que consagrou o grupo foi o ‘Conversando Fotografia’, evento mensal cujo objetivo é “agregar profissionais, amadores e interessados em discutir caminhos para o desenvolvi-mento da fotografia em Sergipe”.

Foram vários os nomes que já passa-ram pelo espaço. Ainda em 2010, fotógra-fos como Jorge Henrique, Jairo Andrade e Oliver Garcia debateram seu trabalho e a fotografia sergipana no auditório do Espa-ço EMES. O projeto sofreu algumas mu-danças mas ainda é realizado e atrai cada vez mais amantes da fotografia. Em 2011, o Conversando passou a ser realizado no auditório da Sociedade Semear e passou a ser aberto por uma pequena exposição do artista convidado.

O Trotamundos foi inserido como re-presentante em Sergipe no Catálogo da Rede de Produtores Culturais da Fotogra-fia do Brasil. A lista foi lançada durante no ultimo ‘Paraty em Foco’, encontro interna-cional de fotografia realizado na cidade de Paraty-RJ em setembro de 2011.

De volta à academiaParalelamente a essa movimentação, o

Departamento de Comunicação Social da UFS vem realizando algumas atividades na área. Em 2009, promoveu a 1ª Mostra UFS de Fotografia Universitária, montada a partir da produção fotográfica dos aluno-

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Benedito Letrado

Era uma vez um dos maiores eventos da fotografia no Brasil...

Fotos: Daniel Nascimento

Conversando fotografia

Convite da últimaSemana Sergipana de Fotografia

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Senhora da Conceição, a Igreja Católica não reconhece a devoção de qualquer di-vindade pagã. “Respeitamos o passado re-ligioso de todas as pessoas, mas a prática de adoração a deuses e entidades estran-hos aos dogmas católicos para nós é in-concebível”, ressalta Fabiano Santos.

Santos e entidadesFilha de Mãe Marizete, uma das mães

de santo mais antigas e respeitadas de Aracaju, Jussara Lessa, afirma que a rela-ção entre os adeptos do Candomblé e a os católicos é bastante harmoniosa. “Geral-mente quem é do Candomblé, também é batizado na Igreja Católica e não fazemos qualquer tipo de restrição aqui”, assegura Jussara.

Situado no bairro América, zona oeste da cidade, o terreiro de Mãe Marizete recebe diariamente várias pessoas para consultas ou algum tipo de apelo para amor, negócios e doenças. “O trabalho que desenvolvemos aqui é idêntico ao de outras religiões, inclusive com muito amor e sinceridade. Mas por conta do precon-ceito velado, por setores do catolicismo ou da sociedade, muita gente prefere o anonimato”, revela a filha de santo.

Para Marcelo Santos, há uma dife-rença clara entre os santos católicos e as entidades do candomblé: “enquanto os primeiros são venerados pelas graças

Cada qual no seu cultoEm Aracaju, 8 de dezembro representa um

dos poucos momentos em que as duas religiões se aproximam e festejam suas respectivas divin-dades, Nossa Senhora da Conceição e Oxum. Embora não seja reconhecida nem pelo calen-dário católico, nem pelo Estado brasileiro (que é laico), Oxum é um dos orixás mais queridas das religiões afro. Segundo a mitologia africana, é ela que reina sobre a água doce dos rios, que é dona do ouro, símbolo da riqueza, e que comanda o amor, a intimidade, a beleza e a diplomacia. As oferendas a Oxum são feitas na Orla de Atalaia desde as primeiras horas do dia oito.

Já para os católicos, venerar a Imaculada Conceição significa lembrar umas das muitas faces da Virgem Maria, mãe de Cristo. Missas e procissões são realizadas e homenagens são prestadas durante todo o dia nas igrejas, capelas e templos católicos. Fiéis se aglomeram para fa-zer preces e orações. Assim como acontece em Salvador, por ocasião da Lavagem do Bonfim, os aracajuanos se aglomeram desde cedo na Ca-tedral Metropolitana da capital para comemorar. Durante todo o dia, missas e procissões marcam as homenagens dos católicos à santa, enquan-to adeptos do candomblé se reúnem em frente à igreja para fazer suas homenagens. Eles dão banhos de ervas nos devotos, com objetivo de abrir caminhos e trazer boas energias.

Segundo Marcelo Conceição Santos e Fabiano Santos, estudantes concludentes de Teologia do Seminário Maior Nossa

Limites do sincretismo religiosoJosé Leidivaldo e Júnior Santos

[email protected]; [email protected]

alcançadas de Deus em suas vidas, es-ses últimos têm o poder de operar mila-gres”. Ainda de acordo com o seminar-ista, há outra diferenciação nas relações da Igreja com outras religiões: “O diálogo ecumênico entre católicos e evangélicos se dá em virtude dos princípios da fé: úni-co Deus e Cristo como salvador. Já com essas religiões pagãs o que há são práticas inter-religiosas, por possuírem elementos desconhecidos à fé cristã”, destaca San-tos.

Todo dia 8 de dezembro são realizadas em Aracaju festas em homenagem a Nossa Senhora da Conceição, considerada pelos católicos como a padroeira da Cidade, e a Oxum, orixá de de-voção dos seguidores do Candomblé. As cele-brações, que acontecem em diversos pontos da capital, têm sua maior concentração na Catedral Metropolitana, no Centro, onde os adeptos das duas vertentes de fé se reúnem em uma só ho-menagem.

Mas esta não é a única celebração em co-mum entre os dois grupos religiosos. Em 17 de janeiro, por exemplo, cultua-se ao mesmo tem-po o Senhor do Bonfim e Oxalá; no dia 2 de fevereiro, é a vez de Nossa Senhora dos Nave-gantes e Iemanjá, entre outros que acontecem no decorrer do ano. Esse sincretismo religioso tem sido alvo de várias pesquisas acadêmicas, ora justificado como uma convivência pacífica, ora como uma forma de escamotear os conflitos entre negros e brancos no processo de forma-ção da sociedade brasileira.

Rainer Souza, Mestre em História pela Uni-versidade Federal de Goiás, está entre os que consideram que o respeito e a tolerância entre as religiões são originários do processo de co-lonização do Brasil. Para ele, os portugueses, de origem católica, reagiam passivamente, em sua grande maioria, às manifestações religiosas afri-canas. “Ao manterem suas tradições religiosas, muitas nações africanas alimentavam as antigas rivalidades contra outros grupos de negros atin-gidos pela escravidão. Com a preservação desta hostilidade, a organização de fugas e levantes nas fazendas poderia diminuir sensivelmente”, afirma Souza em artigo publicado no site Brasil Escola.

Já o antropólogo da Universidade Federal de Alagoas, José Maria Tenório, discorda de tal aceitação passiva dos católicos para com a re-ligião africana. Em artigo publicado no site do Itaú Cultural, ele afirma que os colonizadores portugueses viam as danças e rituais africanos como feitiçaria que deveria ser reprimida, o que levava os devotos do Candomblé a “acender uma vela para o orixá e rezar para um santo”.

Os dois pesquisadores concordam é que a religião de origem africana, que até então era frequentada somente por negros, passou a es-tabelecer um diálogo com pessoas brancas, que se declaravam de origem católica, como aponta o professor doutor da Universidade de São Pau-lo (USP), José Reginaldo Prandi. Segundo ele, o fato de escravos também participarem de cele-brações católicas, mesmo reconhecendo a sua fé nos orixás uma série de trocas e incorporações entre as religiões.

Rainer Souza concorda e complementa: “Nesse sentido, ao mesmo tempo em que pode-mos ver a presença de equivalências e proximi-dades entre os cultos africanos e as outras religi-ões estabelecidas no Brasil, também temos uma série de particularidades que definem várias di-ferenças. Por fim, o sincretismo religioso acabou articulando uma experiência cultural própria”.

Contexto outubro-dezembro/20119

Festa da padroeira de Aracaju põe em xeque as práticas inter-religiosas

Para Católicos, Nossa Senhora da Conceição; para candomblecistas, Oxum: todos juntos no dia 8 de dezembro em Aracaju

Foto: André Texeira

História & Sociedade‘

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Fabiano Santos defende dogmas católicos

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Na avaliação de Ivo Adnil, atual presi-dente do SATED/SE, Ilma Fontes sem-pre esteve na trincheira das questões polêmicas que envolveram a cultura sergipana. “Muito autêntica e politizada creio que foi muito incompreendida por seus pares por conta da sua forte per-sonalidade e atitude. A sua contribuição tem sido importante ainda em nossos dias quando ela consegue levar até para o meio político a suavidade da arte”, com-pleta Adnil.

Para ampliar e democratizar o acesso ao te-atro, a casa criou o projeto ‘Temporada’. A in-tenção é criar uma agenda de apresentações em que diversas peças teatrais são mantidas em car-taz por quatro meses, a um preço acessível. O público conta ainda com o “Cabaret Convida”, projeto que promove mensalmente a apresen-tação de uma banda local após os espetáculos teatrais. Oficinas de dança, teatro, bateria e circo também integram as atividades e fazem parte do projeto ‘Acesso’, iniciativa da casa que pretende ofertar cursos para quaisquer interessados pela arte e pela cultura. Ainda a serviço da cultura sergipana, os integrantes da companhia levam diversão e humor aos seus adeptos, através do programa ‘Rua da Cultura’, veiculado aos sába-dos, das 14h às 16 h, pela rádio Aperipê FM.

“As atividades desenvolvidas proporcionam maior contato do público com a diversidade e as manifestações culturais existentes. Isso acaba contribuindo para a formação de plateia, tendo em vista que o público que frequenta as salas de teatro ainda é restrito. Essa realidade precisa ser modificada, pois o teatro, além de ser sinô-nimo de entretenimento, é também uma forma de promover o aprendizado”, avalia Ícaro Olavo Alves, aluno da oficina de teatro que se tornou oficineiro.

A Casa, que também apoia apresentações de outros grupos, mantém de outubro a dezem-bro de cada ano oito peças em cartaz, um feito considerado inovador. “A Casa é a única no país a receber tantos espetáculos em temporada de uma só vez. Entendemos isso como uma forte preocupação e dedicação à cultura no estado de Sergipe”, destaca o coordenador.

10 ContextoCultura

Casa Rua da Cultura em cenaoutubro-dezembro/2011

Verlane Est[acioverlane_estacio@mail.

Criada em janeiro de 2007, com a ideia inicial de ser a sede da Companhia Teatral Stultífera Navis, a Casa Rua da Cultura cresceu e ampliou sua área de atuação. De sede, passou a ser um espaço de aprendizado e vem se transformando ao longo dos anos em um pólo difusor da cena cultural de Aracaju.

Mantida como Ponto de Cultura pelo Mi-nistério da Cultura, e com o apoio da Prefeitu-ra Municipal de Aracaju, através da Fundação Municipal de Cultura e Turismo (Funcaju), a Casa, durante seus cinco anos de existência, tem recebido um público diversificado e gradativo. Segundo Lindemberg Monteiro, o público é o principal ator. “Recebemos aqui crianças, jovens e adultos de todas as classes interessados em te-atro, música e circo. Já que partimos do pressu-posto de que todos têm direito à cultura, não

Com o objetivo de reunir espetáculos tea-trais e fomentar manifestações culturais,

a Companhia de Teatro Stultífera Navis deu iní-cio, há dez anos, ao projeto Rua da Cultura. Uma iniciativa sem fins lucrativos que surgiu, primei-ramente, para suplantar o olhar desleixado que se tinha da cultura sergipana, além de ocupar os espaços públicos com música, apresentações de grupos folclóricos, peças teatrais e qualquer outra manifestação que democratizasse o acesso do público à cultura local. Um projeto que deu certo. Tão certo que, há cinco anos, sob a dire-ção de Lindemberg Monteiro e de uma equipe de voluntários, todos parte da Companhia, sur-giu a Casa Rua da Cultura, que funciona na praça Camerino, no Centro.

Um dos segredos é a divulgação de boca em boca, utilizada para dar visibilidade aos projetos da Casa. A equipe responsável pela comunica-ção (formada por artistas da companhia) realiza panfletagens e elabora estratégias de divulgação em redes sociais e através do popular. “Através das redes sociais, conseguimos ampliar nossa divulgação para um público cada vez maior. Também pedimos que as pessoas indiquem nosso trabalho para os amigos e os convidem para prestigiar nossas apresentações. Estas são as principais ações que fazem com que as pesso-as prestigiem os espetáculos”, contou uma das integrantes da assessoria de comunicação e tam-bém atriz, Anne Samara Torres.

é viável restringi-la a um grupo, a um gueto. É preciso que as portas se abram e que as pessoas tenham acesso livre”, declarou.

ProjetosA companhia Stultífera Navis iniciou suas

apresentações em 2002, no Teatro Atheneu, com o espetáculo ‘Almanaque’. Foi quando seus integrantes perceberam a necessidade de construir e fortalecer a produção cultural ser-gipana. Para estruturar tal ideia, transformram a Rua Vila Cristina (onde fica o teatro) na Rua da Cultura, que passou a reunir artistas das mais diversas áreas culturais. Tempos depois, a Rua da Cultura ocupou o centro histórico da cidade e, de lá pra cá, vem transformando a área dos mercados centrais, todas as segundas-feiras, em sinônimo de arte e cultura. C

Taylane [email protected]

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Ilma Fontes e sua resistência ao ordinário

nesse campo foi o “Prêmio Capital”, criado para homenagear artistas e co-laboradores da arte que influenciam o comportamento ou o modo de pensar da sociedade sergipana, seja inovando ou resgatando os hábitos culturais do esta-do. Em sua sétima edição, em outubro de 2011, a premiação abrangeu 30 catego-rias, cujos contemplados foram escolhi-dos por um grupo de 15 jurados, com-posto por profissionais da cultura local e de mais nove estados do Brasil e também por votação popular via internet.

Anne Samara [email protected]

Médica, jornalista, editora, poeti-sa, escritora, roteirista, produ-

tora cultural, diretora de cinema e, prin-cipalmente, uma provocadora social. Esta é Ilma Fontes, fundadora e editora do mais antigo periódico alternativo de Aracaju e atualmente curadora do Espa-ço Cultural da Assembléia Legislativa de Sergipe (Alese). É aí que ela desenvolve, desde 2003, um trabalho de pesquisa e exposição das obras de diversos artistas sergipanos.

Reconhecida por sua tragetória na cena cultural sergipana, Ilma Fontes já publicou livros e roteiros de cinema, pro-duziu diversos longas e curta-metragens, foi presidente da Fundação Municipal de Cultura e Turismo, fundadora do Sin-dicato dos Artistas e Técnicos em En-tretenimento e Diversão - SATED/SE e membro fundadora da Casa do Poeta de Aracaju. Também dirigiu o Complexo Cultural Lourival Baptista e participou em incontáveis júris de Teatro, Música, Poesia, Literatura, Fotografia e Cinema por todo o Brasil.

Natural de Aracaju, mas com de-scendência holandesa e portuguesa, ela tem sido uma incansável defensora da igualdade e da liberdade de expressão,

seja na imprensa, seja na arte. Aos 64 anos, essa mulher que foi casada 12 vez-es, mas se orgulha de nunca ter se torna-do dependente, descreve-se como uma “transformadora de costumes” e não se furta a relembrar alguns de seus momen-tos de ousadia da juventude.

“Eu lembro de uma vez, quando era jovem, em que fui à praia usando um biquíni que comprei no Rio de Janeiro. Ele cobria quase toda a barriga e metade das coxas, mas mesmo assim teve pais ti-rando seus filhos da praia para que eles não vissem aquilo. Na época em que pas-sei a usar calça jeans baixaram até por-taria na universidade para me impedir de entrar lá vestida daquele jeito”, conta ela.

ResistênciaIlma Fontes chegou a pensar em en-

trar para o MR-8 (grupo radical de es-querda que atuou na ditadura militar), mas descobriu que sua revolução seria feita com palavras e não com armas. Então fundou, há 20 anos, “O Capi-tal: jornal de resistência ao ordinário” e nunca mais parou de contribuir para o desenvolvimento da cena sociocultural sergipana.

Uma de suas principais iniciativas

Ilma Fontes em sua casa

Foto: Anne Samara Torres

com

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O poder das bolinhas, agulhas e plantas

Mairon Hothon: [email protected]

Mariana Viana: [email protected]

Contexto outubro-dezembro/201111

SUS de Sergipe já oferece atendimentos de medicina complementar e alternativa

Homeopatia: bolinhas adocicadas de fácil absorção

Foto: www.portaldosmisterios.com

Saúde

Foto: AAN / Daniel Nascimento

Tratamento das agulhas é oferecido no Cemar de Aracaju

Há quase dez anos a Organiza-ção Mundial da Saúde (OMS),

vem desenvolvendo uma estratégia glob-al para facilitar à integração das práticas de medicina complementar e alternativa (MCA), como a homeopatia, a acupun-tura e a fitoterapia, nos sistemas de saúde nacionais. No Brasil, algumas dessas práticas são consideradas especialidades médicas regulamentadas pelo Ministério da Saúde (MS) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), sendo oferecidas em algumas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS).

Na rede municipal de Aracaju, a ho-meopatia e a acupuntura estão disponíveis apenas no Centro de Especialidades Médicas (Cemar), no conjunto Augusto Franco, zona sul da capital. Já a fitoterapia é oferecida como prática complementar e integrativa em cinco Unidades de Saúde da Família (USF). Medicamento ou placebo?

Entre as práticas de MCA, a homeopa-tia é a mais disseminada no Brasil. Quem diria que o método de tantas diluições e dinamizações para tratar sintomas através da “lei dos semelhantes”, criado no século XVIII pelo médico alemão Samuel Hahn-emann, fosse atingir tamanhas proporções e curar tantas pessoas no século XXI. A homeopatia é reconhecida como especiali-dade médica no Brasil desde 1980 e foi incluída no SUS em 2006.

Muito ainda precisa ser feito para mel-hor implementação da prática na saúde pública. “É preciso que os médicos da rede pública encaminhem mais pacientes para a homeopatia, que haja uma parce-ria maior entre as especialidades médicas”, diz o homeopata Agnaldo Santos, que além de atuar em consultório particular, é médico de Saúde da Família no Cemar. O médico ressalta que a homeopatia ne-cessita de mais divulgação para ser popu-larizada, o que pode ser feito através de palestras e campanhas de conscientização.

Muitos alopatas alegam que os efei-tos homeopáticos não passam de placebo (melhoria dos sintomas derivada apenas da disposição psicológica do paciente para a cura). Controvérsias à parte, a homeopa-tia trouxe qualidade de vida para Nadja Melo, de 40 anos. “Nunca imaginei que aquelas bolinhas docinhas fossem fazer tanto efeito. Hoje minhas duas filhas são tratadas com homeopatia, seja para cólica, enxaqueca ou ansiedade. Ela tem a respos-ta certa para cada sintoma.” Diagnóstico e tratamento

“O médico, para poder diagnosticar, precisa ouvir, e desta forma acolher o pa-ciente” afirma o médico Agnaldo Santos, que atua há 20 anos nesta prática. Dife-

rente da alopatia, a homeopatia considera toda a conjuntura física e mental do paci-ente para diagnosticá-lo. Para isto é funda-mental uma eficiente anamnese, conversa que o médico tem com o paciente no iní-cio da consulta para entender quais males físicos e psicológicos estão gerando os sin-tomas descritos, o que contribui para o diagnóstico.

O princípio da homeopatia é o da “lei dos semelhantes”, que consiste em tratar uma doença com substâncias que produ-zem numa pessoa saudável, os sintomas semelhantes aos que a pessoa doente apre-senta. Estas substâncias são encontradas em reduzidas quantidades nos rémedios homeopáticos, que ainda assim passam por diversas diluições e potencializações É neste processo meticuloso de fabricação que está a cura pela homeopatia. Os re-médios tanto podem ser líquidos quanto sólidos, neste último caso em formato de glóbulos adocicados ou tabletes (sem açú-car). Na chamada “homeopatia unicista” podem também ser ministrados em por-ções trituradas e embaladas em papéis do-brados.

Homeopatia x alopatiaComo em toda a medicina, a ho-

meopatia tem seus limites. A depender do quadro do paciente, se faz necessário sub-stituir a medicação homeopática por outra mais convencional, a fim de minimizar a dor do paciente. Os homeopatas afirmam poder auxiliar no tratamento tanto para as dores agudas quanto das crônicas, se não exclusivamente, pelo menos com os medi-camentos homeopáticos associados com os alopáticos. Em casos de acidentes, quando o tratamento tem que ser imedia-to, é imprescindível a utilização de medi-camentos alopáticos e posteriormente, em processo de recuperação, caso o paciente queira, pode-se aliar ambas as medicações.

Antes dos processos cirúrgicos, os ho-meopatas recomendam que os pacientes tomem uma medicação homeopática para minimizar o sangramento durante o ato cirúrgico e, posteriormente, para auxiliar no processo de cicatrização. Tanto nesses casos quanto nos de lesões graves, os médi-cos não consideram a hipótese de eliminar totalmente os remédios alopáticos.

Sem medo das agulhasA acupuntura é outro tratamento

médico alternativo também disponível no SUS. No entanto, apesar de reconhecida pelo CFM em sua resolução nº 60, de 1985, a prática ainda não foi regulamen-tada por Lei Federal, o que permite que seja exercida por qualquer pessoa que faça algum curso de especialização, mesmo sem formação médica.

Vinculada à medicina oriental, a acu-puntura considera o corpo como um grande circuito elétrico de pontos de ener-gia chamados de meridianos, que quando estimulados atuam no combate aos sinto-mas das doenças e no equilíbrio do organ-ismo. A técnica consiste, comumente, na aplicação de agulhas, da espessura de um fio de cabelo, em pontos específicos do corpo a fim de equilibrar e harmonizar a pessoa. Ela também pode ser aplicada com ventosas e moxa, ou com eletroacupun-tura, utilizada em tratamentos estéticos que têm efeito regulador em rugas, enri-jecimento muscular e redução de gorduras localizadas.

“A acupuntura é um tratamento que não utiliza medicamentos, curando a pes-soa como um todo, tratando o estado físi-co e emocional”, afirma a médica Eliete Wolf, que atua há mais de dez anos em Sergipe, onde ainda há poucos profission-ais de saúde adeptos a tipo de tratamento. Ela explica que esta abordagem pode ser realizada em qualquer idade, salvo em ca-sos de pessoas que tenham algum prob-lema grave de coagulação sanguínea ou no primeiro trimestre de gestação de mul-heres que não se submetiam a essa prática antes de engravidarem.

Como em qualquer outro tratamento, pode acontecer de algum paciente não re-sponder bem à acupuntura, mas esta não apresenta efeitos colaterais, garante a acu-punturista. Wolf ressalta ainda que a es-pecialidade só não cura em casos graves, mas serve como importante auxiliar no tratamento de várias doenças.

Um exemplo prático deste tratamento vem da cabeleireira Loirane Firme, 58, que faz acompanhamento há quatro anos recomendado por seu médico reumatolo-gista, o qual diagnosticou o quadro de LER/DORT (Lesão por Esforço Repeti-

tivo/ Distúrbio Osteo-muscular Relacio-nado ao Trabalho). “Antes eu tinha até enxaqueca e precisava tomar vários re-médios, mas agora me sinto bem melhor. Na primeira vez, aquelas agulhinhas da-vam um choquinho, depois passava. Hoje quando estou aqui no consultório relaxo e até durmo. Um tratamento muito bom, Eu recomendo”, diz Loirane. Caminhos da fitoterapia

A fitoterapia, tratamento de doenças com o uso de plantas e ervas medicinais, é a mais antiga das MCAs: calcula-se que seja anterior ao ano 2.000 a.C., caracteri-zando-se como uma prática que continua viva até hoje. Com forte herança da cultura popular, por ter seu conhecimento trans-mitido oralmente pelos povos, a fitotera-pia é uma prática médica e farmacêutica autorizada pela Política Nacional de Plan-tas Medicinais e Fitoterápicos, aprovada por meio do Decreto nº 5.813, de 2006, que estabelece as diretrizes e linhas priori-tárias para o seu desenvolvimento e acesso seguro.

O professor do departamento de Bio-química da Universidade Federal de Ser-gipe (UFS), Charles Estevam, explica que essa medicina natural, apesar de antiga ainda é muito pouco explorada. “Existem poucos laboratórios e indústrias do ramo que queiram estudar e desenvolver técni-cas desta área médica. Em Sergipe, por ex-emplo, há apenas uma disciplina no curso de Farmácia e pesquisas [isoladas] em nú-cleos das universidades”, diz.

Estevam diz que a prática, conhecida como medicina caseira, já é considerada científica, servindo como coadjuvante nos tratamentos médicos de maior com-plexidade e como cura para os males mais simples e se não coletados de forma cor-reta podem provocar efeitos adversos, por isso da importância de orientações de profissionais da saúde. Segundo ele, mui-tas plantas encontradas em nossa região podem ser cultivadas em casa, para tratar problemas corriqueiros, como as com efei-tos anti-inflamatórios, anti-cicatrizantes e problemas digestivos. Além disso, podem ser utilizadas das crianças aos idosos.

Em Aracaju, as cinco USFs que ofer-ecem a fitoterapia são as do conjunto Or-lando Dantas, Sol Nascente, Médici e nos bairros Aloque e Jabotiana, todas fiscaliza-das pela Vigilância Sanitária. A Secretaria da Saúde espera que com os dados do 1º Censo das Práticas Integrativas, realizado em setembro de 2011, nas 43 Unidades de Saúde, possa pleitear recursos especí-ficos para esta especialidade médica junto ao MS.

Onde Encontrar:Homeopatia e Acupuntura: Cemar (Rua: Maria Nazareth Barros Santos, sn, Conj. A. Franco - Tel: 3179-3004Fitoterapia:http://aracaju.se.gov.br/userfiles/relacao_unidade.pdf

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6 ContextoSaúde

Quando comprar se torna uma doençaoutubro-dezembro/2011

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Foto Divulgação (Site Not 1)

Entrar em uma loja e comprar tudo o que se vê pela frente, sem

se preocupar com o saldo do cartão, é o desejo de muitos. Porém, esse comporta-mento é um indício do que os psicólogos caracterizam como Oneomania, termo atribuído a viciados em compras. Apesar de ser um transtorno recente, os shopa-holics, como são conhecidos, tem torna-do cada vez mais comum, independente da idade, sexo ou classe social.

Segundo Cybele Rabelo, professora de Psicologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), as pessoas que apre-sentam esse distúrbio são impulsivas e submetem-se ao consumismo como de-fesa, ou seja, se apegam ao ato de com-prar para compensar uma carência afe-tiva ou de autoestima , e supostamente preenchem um vazio existencial quando compram. “Mas isso é um engano incon-sciente”, afirma a professora.

Carla Pereira, gerente de uma loja de roupas unissex em Aracaju, observa que esse crescimento é o reflexo da socie-dade que se importa cada vez mais com a beleza. “Tem virado rotina uma pessoa entrar na loja procurando uma blusa e sair com mais três peças de roupas. Elas querem sentir-se bonitas, felizes, e o jeito que têm encontrado para refletir esse es-tado de espírito é através das compras”, diz.

Porém, a vendedora destaca que esse não é mais um comportamento exclusiv-amente feminino. Consumista assumido, o estudante, Michel Barbosa, 23 anos, é um dos exemplos dessa nova geração de

homens preocupados com a boa aparên-cia. Apesar de nunca ter saído para com-prar como forma de relaxamento, admite que já comprou objetos que não utilizou. Na maioria das vezes, porém, o estu-dante garante que usa tudo o que com-pra. “Principalmente quando vou viajar ou para uma festa, gosto de comprar roupas”, afirma.

O vício por comprar“Sentia um êxtase absoluto”, descreve

L.M., 21 anos, ao lembrar-se dos mo-mentos em que recebia a sacola de com-pras das mãos do vendedor. “Antes de comprar eu sentia muita ansiedade. Aos poucos, essa sensação ia acabando e eu começava a me sentir culpado, frustrado e irresponsável. A culpa me deixava tão deprimido que eu precisava me dar um presente. Era um ciclo vicioso”, relem-bra o jovem.

O autoengano nem sempre é percep-tível. L.M., por exemplo, só descobriu que era viciado em comprar durante ses-sões de terapia na qual tratava de outro problema. “O vício por compras não foi o motivo para eu procurar a terapia. Du-rante as sessões eu sempre falava que me sentia um pouco compulsivo por com-prar, foi então que descobri a doença”, conta.

A doençaA linha que divide um desejo normal e

o vício é muito tênue. Segundo a psiquia-tra Helena Ávila, para distinguir esses dois comportamentos é preciso fazer algumas indagações: comprou alguma coisa porque precisava? Utilizou alguma

vez o que comprou ou só guardou? Não conseguiu frear o desejo e comprou mes-mo endividado? Antes de comprar, fica ansioso e vem aquele pensamento com-pulsivo? Se as respostas forem positivas, talvez seja um indício da doença.

A doença pode ser comparada ao ví-cio de drogas devido à forma como ela se apresenta. Ansiedade, culpa e crise de abstinência são sintomas presentes no compulsivo. A partir do momento que comprar torna-se um vício, a pessoa sen-te-se refém da sua própria vontade.

Tratamento“Foram dois anos de muito autocon-

trole e substituição de pensamentos. Eu também evitava ir aos shoppings e quan-do passava por lojas, virava o rosto”, de-clara L.M. Segundo a psiquiatra Helena Ávila, o sofrimento de L.M ao tentar combater a doença é recorrente, pois é preciso frear aquilo que lhe dava mais prazer.

No início da compulsão, o mais co-mum é alguém próximo ao viciado per-ceber que há algo fora do normal. Porém, com o passar do tempo e do aumento da gravidade da doença, a pessoa consegue perceber que precisa de ajuda. “A pessoa que tem esse vício não sai da realidade, por isso consegue perceber que está fora de controle”, explica a psiquiatra.

A não aceitação da doença também é uma fase normal, já que muitos paci-entes só veem isso como uma forma de estar bem consigo mesmo. Durante o tratamento, além do acompanhamento psicológico, algumas vezes são usados medicamentos para controlar a ansie-

dade extrema causada pela doença.

Existe a cura?Segundo a psiquiatra, para haver uma

recuperação da doença, é preciso muita persistência e força de vontade do paci-ente. “O tratamento é bastante doloroso e o paciente precisa, principalmente, do apoio da família para continuar”, ex-plica. Ela acrescenta que muitas vezes os psiquiatras tratam a doença de forma pontual, ou seja, só veem a compulsão e não o que está além dela.

Depois de dois anos de tratamento, L.M. diz que encara a situação com bom humor e prefere não conversar muito sobre o assunto, pois recorda o quão complicado foram aqueles anos de trata-mento. “Apesar de estar controlado, per-cebo que não me curei completamente da doença, mas ainda assim, quando eu estou mal me presenteio. Só que ao invés de 30 presentes numa tarde, me dou a- penas dois.”, finaliza.

Equoterapia reabilita deficientes

Assinatura repórteremail@provedor

Assinatura repórteremail@provedor

Tatianne [email protected]

“Meu filho evoluiu muito depois que iniciou o tratamento equoterapêu-

tico. An-tes, o corpo dele era tão mole que parecia que não tinha osso. Agora, ele tem equilí-brio, consegue ficar sentado. Agradeço muito a Deus”. O depoimento da mãe de Fábio Cardoso, portador da paralisia cerebral, relata bem o benefício que a Equoterapia traz aos seus pacientes.

A equoterapia é um método terapêuti-co que utiliza o cavalo como instrumento para reabilitação, o trabalho é realizado através de uma equipe profissional mul-tidisciplinar formada por pedagogo, as-sistente social, psicólogo, fisioterapeuta, equitador, quatro auxiliares-guia e coor-denador. De acordo com a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE), os profissionais são obrigados a fazer um curso básico ou avançado para aprender a manejar com o cavalo e para saber tam-bém quais os procedimentos a serem to-mados com cada criança em casa situação.

Fundado há quase 19 anos, o único Centro de Equoterapia de Aracaju, local-izado no Parque da Cidade, favorece mais de 100 crianças, adolescentes e adultos

porta-doras de deficiências físicas, sen-soriais e mentais. Muitas pessoas ainda não sabem da existência de um local que pratica equoterapia no estado. “Na di-reção anterior tinha pouca di-vulgação, as mães ficavam sabendo do centro apenas através de outras mães. Até mes-mo médicos não sabiam que aqui existia”, relata o coordenador geral da As-sociação Sergipana de equoterapia (ASE), Alcyr Gaspar.

O tratamento se divide em três: hipo-terapia (o paciente não tem condi-ções de guiar o cavalo sozinho, precisa de um profissional em montaria dupla); equita-ção terapêutica (o paciente tem condições de conduzir o cavalo sozinho, precisa so-mente da ajuda de um profissional na lat-eral); hipismo adaptado (o paciente prati-ca alguns exercícios de hipismo).

Ao longo das sessões terapia, consta-tam-se nos pacientes melhorias na coor-

denação motora, no equilíbrio corporal, na au-toconfiança, na auto-estima, en-tre ou-tros. “O nosso objetivo maior é melhorar o difícil compor-tamento das cri-anças. O vín-culo com animal é a melhor manei-ra de socializar

eles”, conta a fisioterapeuta da ASE Wil-sonita Ubirajara. Por dia a ASE recebe 20 crianças em cin-co turnos com início às 7h30. A Equote-rapia é um tratamento complementar, a terapia ocorre apenas uma vez por se-mana pela manhã, com duração de trinta minutos. À tarde não funciona, devido à falta de condições financeiras para pagar mais funcionários.

Para entrar no Centro de Equoterapia os pré-requisitos exigidos são um relatório

dos médicos que acompanha o deficiente, uma foto, o preenchimento de uma ficha e depois uma avaliação dos profissionais da instituição. O tratamento é contra-in-dicado para pessoas com obesidade (risco a segurança), epilepsia (não controlada), processo inflamatório no reumatismo, es-coliose (acima de trinta graus) e alergia a pelo de cavalo.

A ASE é uma associação filantrópica que vive à custa de doações de empresas, e da mensalidade simbólica no valor de R$ 35,00 que é cobrada aos pacientes. “Na realidade, um tratamento desse fora do estado custa em torno de R$300,00. Nós temos gente que vem de Penedo em Alagoas somente para fazer a terapia aqui”, informa Alcyr Gaspar.

Algumas mães sentem a falta de sub-sídio do governo de Sergipe. “O estado precisa ajudar mais o Centro para suprir as dificuldades financeiras. Aqui não é brincadeira, é como se fosse um hospital, faz parte do tratamento da criança. Até pensei em juntar as mães para procura-mos o governador, alguém mais influente para pedir ajuda”, desabafa Jane Barreto, mãe de um paciente autista.

Foto: Tatianne Melo

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Acessibilidade: um problema social

Larissa Nascimento e Lorena [email protected] e [email protected]

Contexto outubro-dezembro/201113

Grande parte dos hotéis de Sergipe ainda causam transtornos aos turistas especiais

Foto:Larissa Nascimento

Cidadania‘

Banheiro adaptado para deficientes físicos em hotel da capital.

Hoje o Brasil se prepara para dois eventos esportivos de extrema im-

portância: a Copa que ocorrerá em mea-dos de 2014 e as Olimpíadas que acon-tecerão em 2016. Por esses motivos o país finalmente decidiu pôr em prática algo que já estava previsto na constitu-ição desde 1988. Porém o que se percebe é a falta de capacitação tanto na estru-tura física quanto na postura dos profis-sionais para atender adequadamente os portadores de necessidades especiais.

A declaração de Salamanca afirma que todos têm direito igualmente a lazer, in-dependentemente de seu nível social e intelectual, e que os órgãos competentes têm a obrigação de garantir para que to-das as necessidades pessoais e coletivas sejam supridas. Teoricamente esta decla-ração feita pela Unesco, que foi inserida na Constituição Brasileira em 1994, res-peita e oferece suporte àqueles indivídu-os portadores de deficiência mental e/ou física. Porém, na prática encaramos uma realidade completamente distorci-da e adaptada a favor dos hotéis que se auto-intitulam cem por cento acessíveis.

No entanto, o estado de Sergipe, que possui grande parte da sua econo-mia voltada para o turismo, se encaixa no “perfil brasileiro de hotelaria”, ou seja, o estado que possui inúmeros ho-téis, a maioria deles localizados no prin-cipal ponto turístico da capital, a Orla de Atalaia. Estes, porém não possuem sequer o mínimo de estrutura necessária para a locomoção de pessoas com mobi-lidade ou capacidade intelectual limitada.

Segundo Gean de Paula Santos, adepto do movimento de acessibilidade e mem-bro do Conselho Municipal de Defesa e de Direitos da Pessoa com Deficiência, o turismo em Sergipe ainda encontra-se mal estruturado quando nos referi-mos à acessibilidade. “O que acontece

no turismo de Sergipe é que ele não está envolvido com cidadania, a grande maioria é turismo de negócio. Se fosse ligado à cidadania, inclusão social da pessoa com deficiência, aí sim todas as piscinas, todos os equipamentos usa-dos dentro dos hotéis seriam adapta-dos. Mas eles só visam o lucro real, não estão pensando no conforto do cliente portador de alguma deficiência”, diz ele.

Os obstáculos no caminho dos “turis-tas especiais” ainda se faz presente ape-sar dos sinais de crescimento do mer-cado voluntário voltado a esse público. Para Lourdes Moreira, assistente social da Secretaria de Turismo e membro do Conselho Estadual dos Direitos da Pes-soa com Deficiência, os empresários do ramo estão envolvidos em oferecer ser-viços diferenciados para esse quadrante de mercado. Mas para Gorette Medeiros, Presidente do Conselho Municipal de Defesa e de Direitos da Pessoa com De-ficiência, isso não funciona na prática. “Nós fomos visitar alguns hotéis da capi-tal para saber a acessibilidade que eles possuem e percebemos que a grande maioria não está cem por cento prepara-da, há muito a ser feito ainda”, afirma.

Soluções e problemasPor outro lado, Michel Guidoni, ge-

rente geral de um hotel da capital, garante atender plenamente às necessidades das pessoas com deficiência. “Hoje o nosso hotel é totalmente acessível, possui ram-pas de acesso, todas as áreas sociais pos-suem banheiros adequados para deficien-tes, para cadeirantes principalmente, com portas largas e de correr, barras de segu-rança, vasos adaptados. Também temos dois apartamentos que são totalmente adaptados, a nossa área de lazer conta com a piscina e uma academia que o cadeirante consegue chegar até lá sem obstáculos”,

afirma. Porém, quando pergunta-do se o hotel oferece as mesmas facili-dades nas dependências destinadas ao lazer, o gerente afirma que infelizmen-te essas áreas não são adaptadas, con-tradizendo a declaração inicial de que o hotel estaria cem por cento adaptado.

A falta de treinamento e de estrutu-ra dos espaços afins ainda é realidade na maioria dos estabelecimentos e ini-be a vontade dos “turistas especiais” de conhecer o mundo não adaptado. É o que nos conta o cadeirante Oscar Lindo Wanderley Romero, 22 anos, publicitá-rio argentino radicado em Aracaju, para quem a falta de acessibilidade existe tan-to no setor privado quanto público. “É notório que os setores privados possuem uma maior acessibilidade em seus locais. Na capital os locais mais importantes não possuem acessos adequados. A tão conhecida Orla de Atalaia, por exemplo, deve possuir talvez cinco rampas para acesso da calçada, sendo que a maioria ou tem um carro parado ou está toda que-brada ou nem existe mais”, desabafa ele.

O publicitário faz ainda um comparati-vo com outros lugares que já visitou, dei-xando evidente o quanto ainda somos ca-rentes no que diz respeito ao turismo e às atividades destinadas a essa parcela da po-pulação em nosso estado. “Tenho a chance de sempre estar fora do país, lugares como França, Argentina, Inglaterra, Madri,

entre alguns outros, e o que pude notar é que tanto o setor privado quanto o público respeitam os portadores de necessidades especiais. Na França, por exemplo, esco-lho onde sentar em um restaurante, pois o local é pensado para todos, não é como no Brasil, que por muitas vezes tive que sentar em locais não preferíveis, pois era o único local reservado para deficiente”, conta ele.

Segundo Gorette Medeiros, a lei não tem sido cumprida por todos os estabele-cimentos por que não esta sendo regula-mentada. “Precisa partir do próprio Esta-do e do município essa iniciativa, só assim poderemos dar capacidade a essas pessoas de inserir no mercado do turismo, só que infelizmente nós não temos ainda esse quadro em nosso estado”, complemen-ta. Já Lourdes Moreira finaliza afirmando que se as autoridades governamentais e ligadas as entidades turísticas começarem a respeitar e dar acessibilidade as pesso-as com deficiência, a sociedade também começaria a seguir esse exemplo. “Todo trabalho social de mudança, até de pen-sar, de cultura, é um processo lento, mas eu vejo perspectivas de mudança e para isso precisamos ter um trabalho em con-junto: governos, empresários e comu-nidade. A comunidade precisa entender que a pessoa com deficiência também é capaz de usufruir dos atrativos turís-ticos. É um trabalho de sensibilização e acreditamos no alcance de melhorias”.

Foto:Divulgação

Tirolesa para portadores de deficiência física.

Socorro, a 132 quilômetros de São Pau-lo, tem quase duzentos anos e hoje é

um exemplo de cidade acessível. Os ho-téis, restaurantes, farmácias, parques e o comércio são totalmente adequados às normas de acessibilidade. O Parque dos Sonhos, por exemplo, oferece diversas ati-vidades para o turista portador de alguma deficiência, garantindo assim bem-estar e diversão para seus visitantes. “Socor-ro passou dois anos para ser constru-ída e hoje oferece de tudo para pessoas portadoras de algum tipo de deficiên-cia, da caminhada ao rapel. Os avanços

que acontecem nessa cidade estão sendo um espelho para tornar o turismo mais s.acessível para o deficiente, por isso foi convidada pelo comitê responsável pela organização de eventos esportivos no Brasil afim de trabalhar a acessibilida-de dos hotéis”, explica Gorette Medeiro Socorro oferece atividades como escalada, rapel, rafting, arvorismo, entre outras destinadas a pessoas portadoras de qualquer tipo de deficiência física ou mental.

Socorro/SP: Referência em acessibilidade

Saiba mais:http://www.estanciadesocorro.com.br/socor-ro_acessivel/

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Formada em Química pela UFS, Analu Bar-bosa acompanha Higo Déda, graduando em Educação Física. Segundo ela, quando surgiu a oportunidade de ser intérprete, o medo foi ine-vitável, mas superado nos primeiros dias de tra-balho. “Me perguntava se daria certo, daí resolvi arriscar. Mas acho maravilhoso. Estou adorando descobrir coisas. Eu me descobri como intérpre-te”, comemora. Além disso, o bom relaciona-mento entre os dois torna o convívio mais fácil. Eles até criam sinais próprios para as atividades do curso. “Higo é quase meu irmão. Temos a mesma idade, trocamos experiências”, afirma.

Mas nem tudo são flores. Entre os obstácu-los está o preconceito de alguns colegas com os PNEs e de alguns professores em relação aos in-térpretes. “Eu faço um trabalho de formiguinha, vou explicando de um por um o nosso papel”, declara Analu. Ela defende ressaltando que os professores docentes devem chamar a atenção e cobrar aos alunos PNEs da mesma maneira com que chamam a atenção e tratam os outros alunos. Afinal, eles são iguais.

Na opinião do coordenador do Deape, a própria sociedade ainda é excludente, pois o in-gresso na universidade dos PNEs ainda é peque-no. “Apesar das informações têm chegado com mais facilidade aos alunos do ensino médio através de palestras e pela Semana de Gradua-ção da UFS, ainda sobram vagas para os alunos especiais”, afirma.

Buscando minimizar ações preconceituosas, a Pró-Reitoria de Graduação (Posgrad) promo-ve oficinas de conscientização para professores de toda a Universidade. “O problema é que ape-nas um pequeno número de professores parti-cipa. Vamos voltar a fazer ainda em 2011, em todos os centros e em todos os campi”, promete o Pró-Reitor Sandro Holanda.

Além da falaAs quatro graduações que preenchem o seu

currículo - Ciências da Computação (Unifacs), Designer Gráfico (Ucsal), Pedagogia (FSBA) e Libras (UFSC) - além de pós-graduação em metodologia de ensino superior e mestrado em

Universidade para todos Os alunos especiais na UFS estão matricu-

lados em diversos cursos. No campus Alberto de Carvalho, em Itabaiana, a aluna Lívia Marita Bispo de Oliveira é a única aluna com necessi-dade de atendimento especial. Portadora de de-ficiência auditiva, a estudante do 3° período de Sistemas de Informação conta que o receio em concorrer ao vestibular foi inevitável, mas logo superado. “No início os professores ficavam um pouco tensos porque não sabiam como se co-municar comigo”, diz.

Para ela, o maior obstáculo aque enfrentou desde o ingresso na Universidadeestá relaciona-do aos intérpretes, ausentes nas primeiras aulas, e a contante troca desses acompanhantes. Em contrapartida, Lívia conta com ajuda dos pro-fessores e dos colegas para minimizar as dificul-dades. “Há muitos estudantes que sabem Libras (Linguagem Brasileira de Sinais). Não têm pre-conceito, fui recebida muito bem”, afirma.

A realidade não é diferente no campus de São Cristóvão. Aluno do 4° período em Edu-cação Física, Higo Déda afirma que a falta de intérprete dificultava a sua aprendizagem, com-prometendo o seu desenvolvimento nas discipli-nas. “Eu copiava tudo que o professor passava em sala e depois estudava sozinho em casa”, revela. De acordo com ele, a receptividade foi boa. “No início muitas pessoas queriam me aju-dar, mas os professores ficavam meio sem jei-to”, diz, revelando também que apesar disso, a relação com os colegas acabava ao sair da sala de aula, pois ele não era chamado para as atividades extra curriculares da turma, como festas.

PercalçosA maior queixa dos PNEs na UFS é em re-

lação à falta intérpretes e acompanhantes, fun-damentais como apoio durante as aulas e para os deslocamentos no campus. Os únicos pré-requisitos para exercer a função é possuir ensino superior completo e dominar a Libras.

Universidade sem barreiras

Nara [email protected]

Educação, já mostram o potencial da professora do departamento de Educação Larissa Rebou-ças. Natural de Salvador (Bahia), Larissa já nas-ceu com surdez profunda, mas esse diferencial não a impediu de fazer concurso e ser aprovada em primeiro lugar para professora assistente do departamento de Educação, em 2010. Atual-mente ela é a única docente da UFS portadora de necessidade especial. Segundo ela, após a sua aprovação a maior dificuldade está em conseguir intérprete. “Até o agora [outubro] não tenho in-térprete. Ministro aula sozinha para 83 alunos ouvintes, sem monitor, sem apoio, sem nada. Ensino através do alfabeto manual”, lamenta.

De acordo com Paulo Heimar, em virtude do Governo Federal não ter autorizado até o momento a realização de concurso público para os cargos de intérprete e leitor, a contratação

desses profissionais é feita por meio de um con-trato. “No caso da professora Larissa, a contra-tação está em fase de licitação”, informa.

Além disso, ao começar a trabalhar Larissa constatou que o seu departamento estava pouco preparado para lidar com uma professora sur-

da. “Fico frustrada quando falo oral com professores e alunos e não me entendem”, desabafa.

Para divulgar a importân-cia e potencializar o interesse em relação à apredizagem da Libras, Larissa tem realizado eventos, como seminários e o I Workshop de Libras, que reuniu cerca de 100 alu-nos, distribuídos entre os ní-veis básico e intermediário. Ela também é a idealizado-ra do Grupo de Pesquisa de Estudos Surdos de Sergipe (GPESSE), que é composto por ouvintes e portadores de necessecidades especiais que se reunem frequentemente para discutir sobre surdez.

Três anos após adotar o sistema de contas, inclusive para portadores de necessidades espe-ciais (PNEs), a Universidade Federal de Sergipe (UFS) ainda está se adequando à presença desses alunos. O número de concorrentes com algum tipo de deficiência vem é crescendo a cada edi-ção do vestibular. Mas a Universidade está pron-ta para recebê-los?

Considera-se PNE quem apresenta, em ca-ráter permanente, perdas ou reduções de sua es-trutura ou função anatômica, fisiológica, psico-lógica ou mental, que geram incapacidade para certas atividades, tendo-se em vista o padrão considerado normal para o ser humano. Para in-gressar na UFS como cotista nessa modalidade, o candidato deve se autointitular como PNE no ato de inscrição no Processo Seletivo (PS). Pelo PS Em 2011, ingressaram 35 pessoas. Para 2012, estão inscritas 144, distribuídas entre 46 cursos de todos os campi da Universidade (São Cristó-vão, Laranjeiras, Itabaiana e Lagarto). A gradua-ção mais procurada, pelo terceiro ano consecu-tivo, é Medicina.

Para atender a necessidades especiais, a Uni-versidade realiza uma ação articulada junto ao Ministério da Educação (MEC) através do Pro-grama Acessibilidade na Educação Superior (Incluir), que visa garantir o pleno acesso desses alunos à vida acadêmica das Instituições Fede-rais de Ensino Superior (Ifes). A meta é eliminar barreiras comportamentais, pedagógicas, arqui-tetônicas e de comunicação. De acordo com o coordenador do Departamento de Assistência Pedagógica (Deape), Paulo Heimar, as ações têm como objetivo dar um suporte aos alunos logo após a matrícula. “A Coordenação de Con-curso Vestibular (CCV) encaminha os dados dos PNEs aprovados ao Deape, que entra em conta-to com os estudantes”, explica Heimar.

Atualmente cinco alunos são acompanhados pelo departamento: dois deficientes visuais (gra-duandos em Letras e Música no campus de São Cristóvão) e três deficientes auditivos (graduan-dos em Educação Física e Pedagogia no campus de São Cristóvão, e Sistemas de Informação no campus Alberto Carvalho, em Itabaiana).

O suporte está relacionado à contratação de acompanhantes e de intérpretes, que trabalham sob o monitoramento do Deape. “Todos pos-suem intérpretes. Para o deficiente visual, nós contratamos bolsistas para auxiliar no desloca-mento dentro do campus e levar os textos do aluno até a biblioteca para transcrevê-los para Braile, através de um programa de computa-dor”, afirma o coordenador do departamento.

Mas isso não quer dizer que esses são os úni-cos casos na Universidade. Segundo Paulo Hei-mar, há alunos PNEs que não solicitam apoio ao Deape por não encontrar empecilhos para seguir na graduação. Há ainda casos eventuais que também são de responsabilidade do Depar-tamento. “Tem alunos com grande perda visual, alunos com esclerose múltipla e até alunos que, em virtude de acidente vascular cerebral (AVC), necessitam de auxílio”, informa.

Contexto outubro-dezembro/201114

Portadores de necessidades especiais ainda sonham com acessibilidade plena na UFS

Foto: arquivo pessoal

Foto: arquivo pessoal

Higfo e Analu: companehirismo além da sala de aula.

Lívia é a única estudante com deficiência auditiva no campus de Itabaiana

Larissa Rebouças: quatro graduações e muita força de vontade

Universidade‘

Foto: Nara Barreto

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Política

Crise na política universitária?

Maluh Bastos

Lohan [email protected]

[email protected]

Contexto outubro-dezembro/2011 15

Pesquisa aponta que mais de 90% dos estudantes não se interessam

Símbolo da UNE no DCE passa despercebido por alguns estudantes da UFS

Foto: Maluh Bastos

A União Nacional dos Estudantes (UNE) é a principal entidade do

movimento estudantil brasileiro e repre-senta os estudantes do ensino superior. Foi fundada em 1937, no I Congresso Nacional dos Es-tudantes, com o objetivo de discu-tir temas políticos e sociais. A UNE hoje lidera as prin-cipais reivindica-ções estudantis. Sua principal luta é por uma reforma uni-versitária que ga-ranta qualidade de ensino, democratize o acesso e garanta a permanência dos jovens na Universi-dade.

José Serra (PSDB) e Lindberg Farias (PT) são duas personalidades políticas atuais importantes que já passaram pelo movimento estudan-til. Lindberg, por exemplo, foi quem

liderou os estu-dantes da União no movimento dos “Caras pin-tadas” em 1992. Serra, por sua vez, representou a UNE na época do Golpe Militar e teve que buscar exílio fora do país. Hoje, Lindberg é senador do Rio de Janeiro, enquanto José Serra é ex-governador de São Paulo.

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Apenas 5,8% dos estudantes das universidades brasileiras partici-

pam periodicamente de movimentos estu-dantis, segundo uma pesquisa realizada em julho de 2011 pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Nacionais de Ensino (Andifes), através do Fórum de Pró-Reitores de Assuntos Estudan-tis das Instituições Federais (Fonaprace). Mas esses dados não desanimam as cor-rentes políticas que atuam na Universidade Federal de Sergipe (UFS), que continuam tentando arrebanhar mais alunos e fortifi-car seus respectivos grupos.

De acordo com o pró-reitor de Assuntos Estudantis da instituição, Mário Resende, o movimento estudantil (ME) é importante por ser uma espécie de ‘movimento social’, com a diferença de se cons-tituir por um grupo de estudantes que acredita em uma bandeira política e por ela luta. “No Brasil, o ME remonta ao século XIX, quando os estudantes contestaram a escravidão e em parte foram importantes para a implanta-ção da República”, explica o pró-reitor.

Além disso, segundo Resende, com organização da União Nacional dos Es-tudantes (UNE), em 1937, os MEs esti-veram ainda mais presentes na história do Brasil. “Os movimentos são extremamente importantes no processo de formação política da vida estudantil e cidadã”, opina. “Particularmente em um país cuja tradição de militância partidária não é forte como o nosso, é através do movimento que os estudantes aprendem a entender os mean-dros das lutas políticas que ocorrem a nível macro”, acrescenta.

Porém, os dados da pesquisa da Fonaprace comprovam que o desinteres-se pelo assunto ainda é forte. Ressalte-se que, de acordo com a mesma pesquisa, no Nordeste, cerca de 61,21% dos estudantes nunca participaram de nenhum movimen-to estudantil. Para Resende, esta é uma questão problemática. “Ora, se mais de 90% dos discentes não observam ser im-portante participar das decisões políticas, conforme aponta a pesquisa do Fonaprace, o que esperar desses cidadãos na condução e renovação política do país?”, questiona.

DificuldadesFazendo jus à pesquisa divulgada, as

opiniões dos estudantes da UFS são, em sua maioria, bastante negativas quando questionados sobre o assunto, por motivos diversos. “Eles ligam mais para interesses políticos e pessoais, do que para a Universi-dade”, diza Ana Caroline Carmo, aluna do curso de Letras. Matheus Oliveira, do 4º período de Relações Internacionais, acha que a intenção é boa, mas não suficiente. Ele, que já participou de eventos políticos quando era estudante do Ensino Médio, concorda com Ana Caroline. “O que vejo

na realidade da universidade são movimen-tos que partem de um ideal saudável – o de representar as demandas estudantis –, mas, em geral, tendem a se deixar guiar por deturpações ideológico-partidárias”, frisa.

Para Lays Vanessa, estudante de Ciên-cias Sociais, a política estudantil é apenas um reflexo do que acontece dentro da so-ciedade, da qual a universidade faz parte. Há grupos, alianças e pensamentos políti-cos que não fogem à lógica da política mu-nicipal, estadual ou federal. “É a forma que os estudantes encontram de serem repre-sentados em diversas instâncias da univer-sidade e em ambientes fora dela”, salienta.

Carla Santos, estudante do curso de Geografia, considera que “geralmente todos prezam por qualidade e assistên-

cia estudantil, mas cada corrente política universitária tem ligação com algum par-tido político, logo, não é totalmente livre, porque segue determinadas regras dessas correntes”.

Grupos na UFSDentro da pequena porcentagem dos

interessados, alguns grupos políticos estu-dantis se destacam. Na UFS, dentre todas as correntes políticas existentes, duas delas vêm disputando acirradamente o coman-do do Diretório Central dos Estudantes (DCE), chamando a atenção dos alunos com suas propostas e enfrentamentos.

O grupo Integração, que está à frente do DCE desde 2008, é hoje conduzido pelo presidente Fernando Carvalho. Para

ele, a Integração visa contemplar todos os estudantes da Universidade na busca por um caminho em comum. “Nossa maior diretriz hoje é representar os 27.800 estu-dantes da UFS e os que virão, dentro de um ponto de vista mais democrático pos-sível”, frisa Fernando.

Do outro lado, existe o grupo ‘Da luta não me retiro’, que faz oposição à Inte-gração. “A nossa vontade é mostrar para o conjunto dos alunos que existe uma outra forma de movimento na Universidade”, explica Pedro Alves, militante do Coletivo Nacional Barricadas Abrem Caminhos que compõe o grupo “Da luta não me retiro”.

Mesmo diante de uma sociedade desa-creditada em política e alheia à dinâmica estudantil, estes movimentos permanecem e se fortificam dentro da UFS. Através de uma votação que ocorre de quatro em quatro anos e que convoca todos os estu-dantes, sem exceção, são eleitos represent-antes para ser ‘a voz’ do corpo discente da Universidade, no comando do DCE. São estas eleições que as correntes disputam, por meio de suas chapas políticas. “As chapas universitárias estão dentro do que compõe o ME”, sintetiza Mário Resende.

Apesar dos constantes embates de ideo-logias, as chapas têm, sim, um ponto em comum: defendem a pró-atividade e par-ticipação direta de todos os estudantes - os mais de 90% que a pesquisa da Fonaprace aponta - na vida política da universidade. “Temos que mostrar para eles e para o povo que há pessoas sérias que estão se movimentando para mudar algo”, afirma Pedro Alves, da chapa da oposição. Fer-nando Carvalho, da Integração, também explica que estudantes devem participar e destaca a importância do voto. “Apesar de não votar ser uma decisão que considero política, nosso trabalho é convocar o es-tudante para participar cada vez mais do movimento estudantil”, pontua.

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16 ContextoJustiça

Fui agredida, o que fazer?Guia de sobrevivência com base na Lei Maria da Penha

outubro-dezembro/2011

Daniele [email protected]

violência se inicia. “Tem cinco anos que eu não quero mais ele, sempre foi muito grosso, falava alto comigo, gritava, e depois aquela mão amea-çando me bater, batia e batia sem pena. Eu não imaginava que ia chegar a esse ponto. No últi-mo domingo ele tentou me matar e fiquei de-sesperada, eu não aguentava mais sofrer na mão dele”, relata A.S.M.T., de 32 anos, que aguardava a ser atendida na Delegacia.

Segundo uma das funcionárias do DAGV, que trabalha na área há mais de vinte anos, os principais fatores inibem a mulher de chegar até a delegacia são a dependência financeira em re-lação ao agressor e o medo de ser morta por ele. “O que eu vejo é que a maioria das mulheres que chegam aqui dependem financeiramente do agressor, e geralmente também têm filhos com ele. Isso cria um medo, tanto de que a vida dela seja ameaçada, quanto em relação à vida dos fi-lhos. Esse medo foi inibido um pouco pela Lei Maria Penha, que traz medidas de proteção” ex-plica a funcionária.

Proteção e abrigo

Depois que a mulher presta depoimento e o boletim de ocorrência é materializado, inicia-se o processo de investigação que vai apurar tudo que foi relatado pela mulher. Caso ela esteja com medo de voltar para casa ou não tenha outro local para ficar enquanto o processo é encami-nhado ao judiciário, a Lei Maria da Penha prevê medidas protetoras, que visam assegurar a vida da mulher que está denunciando a violência.

“Quando mulher está com medo de voltar para o antigo lar conjugal, nós representamos por uma medida protetiva (pede o afastamento do agressor) que é encaminhada ao judiciário. Em seguida, a mulher é acompanhada pela Polí-cia para retirar do lar os seus filhos e seus bens, e em seguida é conduzida para a Casa Abrigo, onde permanecerá enquanto o agressor ainda estiver em casa. Assim que a medida protetiva for deferida pelo judiciário, o agressor é retira-

Mãos geladas. Olhar desconfiado. Passos fir-mes. No rosto, a expressão de sofrimento aos poucos dá lugar a uma aceno de esperança. As mãos agora ajudam a contar os detalhes, e o medo vai perdendo espaço para a confiança de que, a partir desse momento, um pesadelo dei-xará de ser real. Tensão e alívio se misturam nos olhares daquelas mulheres que buscam ajuda, que buscam a libertação de uma situação que aflige milhares delas todos os dias: a violência de seus parceiros.

Elas vão chegando aos poucos na Dele-gacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), com marcas físicas ou psicológicas, confiantes ou não, algumas às vezes chegam desnorteadas, sem saber o que fazer, sem saber como agir. Mas o que fazer quando se é agredi-da? Qual deve ser a primeira ação dessa mulher?

“O primeiro passo é procurar a delegacia mais próxima, de preferência que venha para a Delegacia de Proteção à Mulher, porque aqui nós temos um atendimento especializado de acolhi-mento. Quando ela chegar na Delegacia, um bo-letim de ocorrência (B.O.) será registrado. Esta é a primeira ação para que o inquérito policial seja aberto, as investigações comecem e as medidas necessárias sejam tomadas”, explica a delegada Thaís Lemos Santiago, diretora do Departa-mento de Atendimento aos Grupos Vulneráveis (DAGV), onde funciona a Delegacia Especiali-zada.

Razões do medoA mulher agredida não deve se calar diante

do medo. Muitas acreditam que uma injúria, uma ofensa, uma ameaça não são enquadradas como tipos de violência, desconhecendo as formas de agressão que são abrangidas pela Lei Maria da Penha (n° 11.340, de 7 de agosto de 2006). A violência contra mulher pode ser classificada em cinco tipos: física (lesa a saúde e a integridade física), psicológica (danos à psique da mulher), moral (danos à honra), patrimonial (danos aos bens/patrimônios da mulher) e sexual (quan-do é forçada a ter relações com o agressor). Ao contrário do que a maioria acredita, a violência psicológica, apesar de não deixar sinais físicos, é considerada umas das piores agressões contra a mulher.

“A agressão psicológica é aquela que não deixa marcas externas e provoca um verdadeiro estrago no emocional nessa mulher, deixando-a psicologicamente deprimida. Ocorre quando o homem ameaça, humilha, chantageia, quando ele tem aquela vigilância constante sobre essa mulher, como se fosse uma perseguição, todos esses atos que venham impedir a liberdade de ir e vir da mulher, que venha humilhá-la, desprezá-la, diminuí-la, tudo isso é violência psicológica” explica a delegada Thaís Santiago.

As agressões geralmente começam com uma injúria, um xingamento, depois uma ameaça, uma agressão física e podem resultar até em homicídio. Assim, a partir do momento em que a mulher não reclama, não exige o fim daque-le comportamento de seu parceiro, um ciclo de

do do lar e a vítima pode retornar em segurança para sua casa”, esclarece a diretora do DAGV.

Antes que a mulher saia da delegacia e seja levada para o Abrigo, outras medidas são toma-das, pois na maioria dos casos, depois da denún-cia ficam pendentes questões como guarda dos filhos, pensão, entre outras. “Tudo é encaminha-do a partir daqui. Depois do boletim de ocor-rência, a mulher é conduzida aos Conselhos de Serviço Social, para ter acompanhamento sócio-psicológico paralelo ao acompanhamento poli-cial, e é encaminhada também para a Defensoria Pública, para as questões de partilha de bens, guarda de filhos, pensão alimentícia, que nós não resolvemos aqui, por se tratarem de ques-tões cíveis”, detalha Thaís Santiago.

O mais importante é dar o primeiro passo, é dizer não à violência contra a mulher, e denun-ciar o agressor, não admitindo nenhuma forma de agressão. “Todo tipo de agressão é grave, principalmente a que não deixa marcas, que encaramos com muito mais gravidade porque destrói o emocional da mulher, destrói a auto-estima, destrói até mesmo a convivência com o restante dos familiares. É muito complicado. A mulher não pode se colocar nesse papel de sem importância e se subestimar”, alerta a delegada.

Outra questão delicada são os reflexos da violência no seio da família, principalmente em relação aos filhos que presenciam essas agres-sões e podem, no futuro, se tornarem reprodu-tores. “O que a gente reforça é que os atos de violência que são vividos em casa futuramente vão ser reproduzidos pelos filhos. Então, se a mãe acha que é uma bobagem tentar barrar esse comportamento do pai agressor e denunciar, não é bobagem, pois aquele comportamento violento sendo visualizado pelos filhos está sen-do aprendido, e um dia essas crianças que são vítimas serão autores de violência. Os atos se re-produzem. Por isso é muito importante denun-ciar para que os agressores não fiquem impunes e que essa violência tenha um fim”, avalia a dire-tora do DAGV.

Entrada do Departamento de Atendimento aos Grupos Vulneráveis

Foto: Daniele Melo

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Saiba mais:

Lei Maria da Penhahttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htmCampanha Ponto Final na Violência contra as Mulheres http://www.campanhapontofinal.com.br/in-dex.php.

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