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CONTEXTO HISTÓRICO DA PEÇA BEATA MARIA DO EGITO A revolta (ou sedição ) de Juazeiro foi um confronto que ocorreu em 1914, entre as oligarquias cearenses e o governo federal provocado pela interferência do poder central na política estadual nas primeiras décadas do século XX. Ocorreu no sertão do Cariri, interior do Ceará, e tinha como liderança o Padre Cícero Romão Batista. Tudo começou, quando o presidente Hermes da Fonseca criou a política das salvações com o intuito de conter seus opositores. Através da política das salvações, o atual presidente tinha como promover a intervenção federal nos estados, evitando assim que oposicionistas fossem eleitos para o governo estadual. Ele tinha como objetivo, neutralizar o poder das oligarquias mais poderosas do Ceará, que estavam sobre o controle do senador gaúcho José Gomes Pinheiro Machado, um político que tinha grande influência entre os coronéis do Norte e Nordeste brasileiro. Como atual prefeito de Juazeiro em 1911, Padre Cícero entra na disputa contra Hermes da Fonseca para manter a família Acioly no poder. Em 1912, a intervenção federal derrubou a família Acioly do poder. Padre Cícero foi eleito como vice-governador naquela mesma época e continuou também com o cargo de prefeito de Juazeiro do Norte. Ele era considerado um homem santo no sertão nordestino. Chamavam-no de Padim Ciço. Em 1914, o então nomeado interventor (governador), o coronel Marcos Franco Rabelo, após romper com o Partido Republicano Conservador, passou a perseguir Padre Cícero, destituindo- o dos cargos que exercia e ordenando a prisão do sacerdote. O deputado federal Floro Bartolomeu, montou um batalhão para defender padre Cícero, que era seu amigo pessoal. O grupo era formado de jagunços e romeiros. Quando os soldados de Franco Rabelo chegaram em Juazeiro do Norte, se depararam com uma cidade totalmente cercada por um alto muro de pedra, como na época da Idade Média. A construção foi erguida em apenas 7 dias e chamada de Círculo da Mãe de Deus. Sem condições de destruírem o Círculo, os soldados retornaram á cidade de Crato para pedirem reforços. Franco Rabelo enviou mais soldados e um canhão. Mesmo assim, as forças rabelistas foram facilmente derrotadas pelos revoltosos. Após a expulsão dos soldados de Franco Rabelo, Floro Bartolomeu vai até o Rio de Janeiro para conseguir mais aliados. Os revoltosos seguem para Fortaleza com o objetivo de derrubar o governador. No Rio de Janeiro, Floro consegue o apoio do senador Pinheiro Machado. Quando os revoltosos chegaram em Fortaleza, uma

Contexto Histórico Da Peça Beata Maria Do Egito

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História

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CONTEXTO HISTRICO DA PEA BEATA MARIA DO EGITO

Arevolta(ousedio) deJuazeirofoi um confronto que ocorreu em 1914, entre as oligarquias cearenses e o governo federal provocado pela interferncia do poder central na poltica estadual nas primeiras dcadas do sculo XX.Ocorreu no serto do Cariri, interior do Cear, e tinha como liderana o Padre Ccero Romo Batista.Tudo comeou, quando opresidenteHermes da Fonseca criou a poltica das salvaes com o intuito de conter seus opositores. Atravs da poltica das salvaes, oatualpresidente tinha como promover a interveno federal nos estados, evitando assim que oposicionistas fossem eleitos para o governo estadual. Ele tinha como objetivo, neutralizar o poder das oligarquias mais poderosas do Cear, que estavam sobre o controle do senador gacho Jos Gomes Pinheiro Machado, um poltico que tinha grande influncia entre os coronis do Norte e Nordeste brasileiro.Como atual prefeito de Juazeiro em 1911, Padre Ccero entra na disputa contra Hermes da Fonseca para manter a famlia Acioly no poder. Em 1912, a interveno federal derrubou a famlia Acioly do poder. Padre Ccero foi eleito como vice-governador naquela mesma poca e continuou tambm com o cargo de prefeito de Juazeiro do Norte. Ele era considerado umhomemsanto no serto nordestino. Chamavam-no de Padim Cio.Em 1914, o ento nomeado interventor (governador), o coronel Marcos Franco Rabelo, aps romper com o Partido Republicano Conservador, passou a perseguir Padre Ccero, destituindo- o dos cargos que exercia e ordenando a priso do sacerdote. O deputado federal Floro Bartolomeu, montou um batalho para defender padre Ccero, que era seuamigopessoal. O grupo era formado de jagunos e romeiros.Quando os soldados de Franco Rabelo chegaram em Juazeiro do Norte, se depararam com uma cidade totalmente cercada por um alto muro de pedra, como na poca da Idade Mdia. A construo foi erguida em apenas 7 dias e chamada de Crculo da Me de Deus. Sem condies de destrurem o Crculo, os soldados retornaram cidade de Crato para pedirem reforos. Franco Rabelo enviou mais soldados e um canho. Mesmo assim, as foras rabelistas foram facilmente derrotadas pelos revoltosos. Aps a expulso dos soldados de Franco Rabelo, Floro Bartolomeu vai at o Rio de Janeiro para conseguir mais aliados. Os revoltosos seguem para Fortaleza com o objetivo de derrubar o governador. No Rio de Janeiro, Floro consegue o apoio do senador Pinheiro Machado. Quando os revoltosos chegaram em Fortaleza, uma esquadrilha da Marinha imps um bloqueio martimo em toda a orla da cidade. Cercado, Franco Rabelo foi deposto.Hermes da Fonseca convocou novas eleies, onde Benjamin Liberato Barroso foi eleito governador e Padre Ccero foi novamente eleito como vice-governador. Aps a revolta, Padre Ccero foi excomungado pela Igreja Catlica no fim da dcada de 1920, mas continuou sendo venerado como santo e profeta pela populao camponesa.No ano de 1909, as articulaes polticas envolvendo a sucesso presidencial estabeleceram uma ciso entre as elites paulista e mineira. De um lado, os oligarcas de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul apoiaram a candidatura do marechal Hermes da Fonseca. Por outro, as elites paulistas e baianas refutaram o retorno de um militar presidncia optando pela escolha do aclamado intelectual Rui Barbosa. A diviso formada na poca acabou abrindo caminho para uma intensa disputa eleitoral. Os mineiros articulavam os antigos mecanismos de fraude eleitoral e controle dos resultados desenvolvidos no meio rural. J os paulistas, projetavam a sua vitria desenvolvendo um discurso modernizador a ser agraciado pelo eleitorado urbano. Rui Barbosa, estudioso de grande envergadura, seria o grande executor de tais transformaes. Mesmo com uma agitada campanha eleitoral, Rui Barbosa acabou sendo derrotado pela fora que as oligarquias tinham nos primrdios do sculo XX. Chegando ao cargo de presidente, Hermes da Fonseca adotou uma poltica econmica bastante conservadora, atrelando-se aos antigos mecanismos de regulao de preos, compra e estocagem da produo cafeeira. Entretanto, do ponto de vista poltico, observamos aes polmicas e conflituosas. A forte oposio de alguns oligarcas ao seu mandato e a forte influncia do senador gacho Pinheiro Machado foram alguns dos motivos que aliceraram a chamada poltica de salvaes. Tal poltica consistia na deposio de todos os agentes polticos que no fossem declaradamente apoiadores de Hermes da Fonseca. Ao longo de seu mandato, as deposies surtiram efeito em alguns estados como Pernambuco, Alagoas e Bahia. Do ponto de vista histrico, as salvaes no representavam uma quebra da hegemonia oligrquica. Nesse episdio vemos somente um rearranjo do poder que ainda se preservava nas mos de uma mesma elite. A excluso de grande parte da populao ainda era a regra comum. No por acaso, tal perodo fora marcado por importantes rebelies como a Revolta da Chibata, ocorrida em 1910, no Rio de Janeiro, e a Guerra do Contestado, desenvolvida em Santa Catarina, no ano de 1914.Por Rainer SousaMestre em HistriaCrtica Dirio de So Paulo por Oscar Nimitz 04/07/1961A Beata Maria do Egito personagem principal da pea do mesmo nome escrita por Rachel de Queiroz, aparece como uma das figuras mais curiosas da nossa dramaturgia. Vinda do seio do povo, autntica como ele. O teatro brasileiro atravessa no momento uma fase em que se d grande nfase ao popular. Emprega-se essas palavras com vrias acepes. popular, no sentido de saborosa observao do povo, o teatro de Suassuna. popular o teatro de Ablio Pereira de Almeida, que h pouco, na peaEm Moeda Corrente do Pasmostrou-se capaz de interessar o pblico por uma situao dramtica. So populares, no sentido poltico, as experincias do Teatro de Arena, culminando com a peaA Semente. Popular, no sentido mais genuno, esta Beata, surgindo vestida de freira, e ao mesmo tempo que solta frases piedosas e ergue as mos em prece, arregimenta peregrinos para guerrear ao lado do Padre Ccero. Misto de santa e de louca, ouvindo vozes que a aproximam de uma doente mental, atormentada pelo desejo de luta e pela pregao religiosa, a beata colhida ao vivo nas pequenas cidades cearenses, demonstra a pujana que pode ter o teatro, cujas razes repousam de fato no quadro social brasileiro. Maria do Egito, transportada da barca e do barqueiro de Santa Maria Egipcaca para o Nordeste, surge como a mais autntica personagem tirada dentre os simples. Calcada na realidade, assume outras dimenses. Representa o prprio esprito do povo. A mistura de religiosidade e superstio, to comuns em nossa gente, faz de sua pessoa. O misticismo do brasileiro transparece nos quatro nicos personagens da pea; cada um, a seu modo, enfrenta o problema do sobrenatural. O Coronel Chico Lopes, chefe poltico local, integra-se menos no problema: preocupa-o mais a manuteno do posto. Cabo Lucas representa o homem comum, cuja crena irrompe diante da presena da santa. O Tenente aparece como porta-voz do raciocnio e da razo, o nico que procura conhecer a verdade e que, por isso mesmo, acaba sendo destrudo. A Beata, famosa pelos milagres, conhecida como agitadora do povo, encarna o fanatismo e todas as consequncias deste. Esta figura de mulher presta-se a uma srie de anlises. Do ngulo psicolgico, a menina enjeitada em casa de religiosos, crescendo sem pai e sem me, adotando o dever sagrado como causa nica da existncia. Mas Maria do Egito vai alm da fiel, que assiste missa e acredita nos mandamentos. Junto com o rosrio pode usar o punhal. E f, para ela, s a f que envolve seu padrinho, o poderoso Padre Ccero, do Juazeiro, e os estranhos romeiros que o seguem. A Beata pertence ao quadro agitado da poca, tanto poltico como social. Aproxima-se mais de uma combatente. Como diz o tenente em uma de suas falas, propondo admiravelmente o problema: afinal de contas, que a jovem? Santa? Louca? Mistificadora? Ou a mistura das trs? Psiquiatricamente, poderia ser uma doente, paranoide, dominada por ideias de grandeza, com mania religiosa e falta de senso crtico e moral. Entrega-se ao tenente apaixonado antepondo ao corpo aquilo que julga ser a f, na esperana que a libertem para cumprir a misso. Seu procedimento revela perda das propores reais dos acontecimentos. Mas ao lado da bem-aventurada ou doida, Maria do Egito mulher; para o Tenente, s a mulher de tranas compridas, perturbadora, que lhe concede uma noite e depois, misteriosamente, recusa-se a admitir o amor. Acima de tudo, com esta obra Rachel de Queiroz compe um esplndido estudo sobre a mentalidade popular, focalizando o prisma religioso com inusitada grandeza e potico vigor. A pea funciona dramaticamente; e preciso realar a linguagem, cuidada, literria e ao mesmo tempo, compreensvel e coerente. Os dilogos provam que se pode usar a lngua corretamente, sem perder o senso popular e as caractersticas teatrais. Merece louvou a iniciativa do diretor Osmar Rodrigues Cruz que escolheu a pea para o Teatro Experimental do Sesi. Dentro do nvel amador, o espetculo em si bastante bom. Salientam-se Wanda Orsi como a Beata, embora lhe falte a transcendncia que deve ter o papel; e a sinceridade interpretativa de Ednei Giovenazzi, que apresenta qualidades de ator. (inOsmar Rodrigues Cruz Uma Vida