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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE TUTELA COLETIVA NÚCLEO ARARUAMA Página 1 de 30 Ação Civil Publica n.º 000454-28.2014.8.19.0052 Agravante: Miguel Alves Jeovani Agravado: Ministério Público Agravo de Instrumento nº 0005663-37.2014.8.19.0000 (eletrônico) Décima Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. CONTRARRAZÕES DE AGRAVO DE INSTRUMENTO EGRÉGIO TRIBUNAL COLENDA DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL DOUTA PROCURADORIA DE JUSTIÇA Trata-se de AGRAVO DE INSTRUMENTO interposto por MIGUEL ALVES JEOVANI, com pedido de reforma da r. decisão do M.M. Juízo da 2ª Vara Cível da Comarca de Araruama, no que toca ao seu afastamento cautelar do cargo de prefeito municipal e à decretação da indisponibilidade de seus bens. 1 da admissibilidade do recurso Vez que estão presentes os requisitos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade, oficia o Ministério Público pelo conhecimento do agravo. 2 Do mérito recursal No mérito, requer o desprovimento do recurso pelas razões que passa a expor.

CONTRA RAZÕES DO MP - AGRAVO MIGUEL

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Ação Civil Publica n.º 000454-28.2014.8.19.0052

Agravante: Miguel Alves Jeovani

Agravado: Ministério Público

Agravo de Instrumento nº 0005663-37.2014.8.19.0000 (eletrônico)

Décima Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio

de Janeiro.

CONTRARRAZÕES DE AGRAVO DE INSTRUMENTO

EGRÉGIO TRIBUNAL

COLENDA DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL

DOUTA PROCURADORIA DE JUSTIÇA

Trata-se de AGRAVO DE INSTRUMENTO interposto por

MIGUEL ALVES JEOVANI, com pedido de reforma da r. decisão do M.M.

Juízo da 2ª Vara Cível da Comarca de Araruama, no que toca ao seu

afastamento cautelar do cargo de prefeito municipal e à decretação da

indisponibilidade de seus bens.

1 – da admissibilidade do recurso

Vez que estão presentes os requisitos intrínsecos e

extrínsecos de admissibilidade, oficia o Ministério Público pelo

conhecimento do agravo.

2 – Do mérito recursal

No mérito, requer o desprovimento do recurso pelas razões

que passa a expor.

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2.1 – Da alegação da nulidade da diligência de busca e apreensão

Inicialmente, cumpre ao Ministério Público rechaçar com

veemência as inverdades lançadas pelo agravante ao alegar a nulidade da

diligência de busca e apreensão, não se compreendendo o que pode

acrescentar à defesa a narrativa de fatos que sabidamente não guardam

correspondência com a realidade.

Afirma que as diligências não foram realizadas por Oficiais de

Justiça, mas por Promotores de Justiça e seus Agentes.

Basta examinar os autos da ACP para se constatar a lavratura

por vários Oficiais de Justiça dos respectivos autos de apreensão. O

próprio Advogado que subscreve o recurso em apreço se dirigiu a um dos

Promotores de Justiça solicitando a exibição do mandado de busca e

apreensão, sendo informado que os mandados estavam na posse dos

Oficiais de Justiça responsáveis pela diligência, que se encontravam no

interior da Prefeitura. Conforme requerido no pedido de expedição dos

mandados de busca e apreensão, foi autorizado pelo M.M. Juízo que os

Promotores de Justiça acompanhassem a diligência para justamente

permitir a análise de documentos no local, evitando, assim, apreensões

desnecessárias.

Alega, também, que contribuintes foram impedidos de

deixarem os prédios conforme “fatos denunciados nas redes sociais”.

Sinceramente, se fossemos trazer aos autos o que se fala nas redes sociais

a respeito do agravante, seria de corar a todos nós. Mas isso, para o

processo, é irrelevante. Pelo contrário, foi solicitado que o público

presente deixasse o prédio, o que foi feito tão logo começou a operação,

tomando o cuidado de antes deixar agentes nas portas de saída do prédio

a fim de evitar que processos, objetos da ordem de busca e apreensão,

fossem retirados da prefeitura.

Devidamente rebatidos os argumentos iniciais, passa-se à

análise das razões recursais.

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2.2 – Do Afastamento Cautelar

Sustenta o agravante, em apertada síntese, o seguinte:

a) que a decisão judicial guerreada de afastamento do cargo não foi

fundamentada devidamente;

b) que o agravante não sabia e não tinha como saber dos fatos

imputados;

c) que a indisponibilidade de bens não se justifica vez que os

subsídios têm natureza alimentar.

Cumpre consignar, ab initio, que em face da r. decisão lançada

pelo Culto Magistrado na análise dos pedidos preliminares veiculados na

Ação Civil Pública, foram opostos, pelo Ministério Público, Embargos de

Declaração, que ensejaram a complementação da decisão preliminar nos

termos a seguir expostos:

“Fls. 200/202: Recebo os embargos declaratórios do Ministério Público, eis que presentes seus requisitos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade. No mérito, verifico que assiste razão ao Ministério Público quando afirma que houve omissão na r. decisão embargada quanto à exposição do risco que a manutenção dos réus servidores nos respectivos cargos públicos que ocupam representa à instrução processual. Observe-se que é admissível o afastamento provisório de agentes ocupantes de cargos públicos com base no poder geral de cautela conferido ao juiz pela norma do artigo 798 do CPC. Contudo, é imperioso reconhecer que a norma do artigo 20, parágrafo único, da Lei de Improbidade Administrativa contempla regra específica que deve ser observada. O texto da citada norma é o seguinte: Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença condenatória. Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa competente poderá determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo de remuneração, quando a medida se fizer necessária à instrução processual. Como se pode notar, a regra em questão exige a demonstração da necessidade da medida de afastamento para assegurar o regular desenvolvimento da instrução processual, razão pela qual passamos a examinar a matéria, a fim de sanar a omissão apontada pelo ora embargante. Reportando-me aos argumentos já exaustivamente expostos na r. decisão embargada de fls. 83/88, concluo que os elementos de convicção amealhados até aqui pelo Ministério Público conferem ampla verossimilhança à tese autoral de que houve uma constituição de um esquema tendente a beneficiar sociedades empresárias, empresários e agentes públicos corruptos em detrimento da livre

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concorrência e participação nos certames licitatórios do Município, com séria repercussão para o Erário. Também como já salientado anteriormente por este juízo, o funcionamento desse esquema estaria fundamentalmente lastreado na montagem artificial de procedimentos administrativos tendentes a viabilizar a compra de produtos e a contratação de serviços pelo Município, com a ocultação deliberada dos atos, a fim de restringir a participação nas licitações a determinados empresários e sociedades ligados aos agentes públicos demandados. Daí porque fomos levados a concluir que seria absolutamente temerária para a gestão dos recursos públicos a manutenção dos réus MIGUEL ALVES JEOVANI, BERTA ANTUNES DE SOUZA, THEREZA CRISTINA F. MARTINS, SEBASTIÃO DOS SANTOS FONSECA, TATIANA DA SILVA ANDRADE e FELIPE ROULIEN AZEREDO GUEDES CAMILO (fl. 85/86) em seus respectivos cargos. Mas é claro que o risco aventado não se apresenta apenas em relação à sanidade da administração e do erário públicos. Vale dizer, se levarmos em conta que os indivíduos mencionados foram alegadamente capazes, mesmo após a instauração formal de um inquérito civil no âmbito da Promotoria de Tutela da Cidadania, de forjar atos administrativos de publicação de editais em jornais que nunca circularam de fato e tentar cooptar empresários que figuram como testemunhas de suas prática ímprobas (v. fls. 212-214 do IC em apenso), é claro que poderão tornar fazê-lo no curso da instrução processual, com intuito de frustrar a elucidação da verdade e, em consequência, o resultado prático da presente ação civil pública. Ora, é evidente que, sendo as principais testemunhas fornecedoras de produtos de serviços para o Município, a manutenção dos réus à frente da condução dos procedimentos licitatórios pode resultar em pressões e tentativas espúrias de cooptação dessas pessoas, em troca da possibilidade de continuarem a manter relações negociais com o poder público e, assim, garantir sua subsistência empresarial. Por outro lado, se levarmos em consideração a existência de sólidos elementos indicativos da adulteração de datas de atos administrativos, é lícito concluir que fatos dessa natureza podem voltar a ocorrer. Ante os fundamentos aqui expostos, os quais passam desde já a integrar a r. decisão embargada, entendo que o afastamento provisório dos réus acima listados é medida que se impõe como forma de também se resguardar a instrução processual”.

Assim, a já bem fundamentada decisão de afastamento e

indisponibilidade de bens, passou a ser irretocável.

Não há dúvidas, por certo, de que o réu sabia do “esquema”

para fraudar licitações. Diante do resultado da busca e apreensão, se

agigantaram os indícios de que o Setor de Licitações da Prefeitura de

Araruama era uma fábrica de processos licitatórios fraudados para

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beneficiar determinados grupos. Vai muito além da licitação da merenda

escolar.

A pertinência do afastamento cautelar do cargo para

resguardar a instrução processual, conforme autorizado pelo Parágrafo

único do art. 20 da lei 8.429/92, é inconteste.

Como bem assinalado pelo Douto Magistrado, mesmo após ter

sido deferida vista ao Município dos autos, tendo a Procuradoria do

Município extraído cópia do Inquérito Civil, que já continha elementos

contundentes de provas de que a licitação da merenda escolar, processo

nº 61/2013, era uma fraude, insistiram na manutenção do esquema com a

ocultação das licitações posteriores, manutenção dos servidores

envolvidos nas suas funções, inclusive o réu Sebastião, pessoa central no

esquema, foi promovido, pasmem doutos julgadores, a Presidente da

Comissão de Licitações.

Ora, se sabedor da investigação em curso, o réu não tomou

qualquer medida para estancar a fábrica de fraudes de processos

licitatórios, pelo contrário, parece que repetiu os meios e depois os

alterou, por decorrência lógica, no curso da instrução, não se eximirá de

fazer tudo que for necessário para influenciar na produção de provas.

Ressalta-se que, entre as testemunhas, há funcionários

públicos municipais com vínculo precário com o Município consistente em

contrato temporário de trabalho, vulneráveis às pressões, como é o caso

da testemunha William da Silva Carvalho Santos, funcionário público

municipal, contratado por contrato temporário de trabalho, responsável

pela publicação e distribuição dos jornais com os atos oficiais do

Município (fls. 210/211 dos autos da ACP):

“Que exibido o encarte supostamente da edição

número 2, contendo os contratos e licitações da

prefeitura de Araruama (fls. 15 e 16 do anexo 1),

com data de 10 a 18 de janeiro de 2013, afirma

que a edição circulou sem esse encarte; que tem

certeza que no mês de janeiro esse encarte à

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edição nº 2 não circulou (...); que esse encarte só

chegou as suas mãos depois do mês de janeiro; que

trabalha na prefeitura desde o ano de 2002; que

sempre os avisos de licitações eram afixados no

quadro de avisos no corredor, em frente ao setor

de licitações no 1º andar; que neste ano não tem

mais visto serem afixados esses avisos de licitação;

que colocaram um quadro de avisos no 2º andar,

ao lado da Procuradoria, onde colocam alguns

avisos de licitação; que inclusive foi colocado nesse

quadro os avisos de licitação do encarte da edição

nº 2, mas depois do mês de janeiro”.

Outra testemunha fundamental, a Presidente do COMAE

(Conselho Municipal de Fiscalização da Merenda Escolar), que é professora

do Município, também precisa ser preservada. Disse em seu depoimento:

“que a declarante acompanha a publicação dos

atos oficiais do município, inclusive mantém em

pasta os recortes do DO com os editais de licitação;

que neste ano, com certeza absoluta, até o dia

25/02/2013 não circulou qualquer publicação

oficial contendo os editais de licitação do ano de

2013, tanto é que no dia 25/02 quando a

declarante foi na Prefeitura pegar as publicações,

foi informada que nada havia; que também

procurou no quadro de avisos que fica afixado no

corredor da prefeitura, onde são afixados os

editais de licitação e nada havia”.

Outro depoimento da Sra. Maria Cândida, às fls. 207, deixam

claros os fatos, revelando nova tentativa de fraude na licitação da

merenda escolar, mesmo após ter ciência dos fatos investigados. A

referida senhora informou que na véspera do dia marcado para a

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licitação esteve no setor de compras e foi informada pelo réu Sebastião

que não havia nada previsto. Dois dias antes da licitação marcada para

14/08, a própria Secretária de educação dizia desconhecer a licitação. Ao

ser exibida a edição nº 49, a Presidente do Conselho da Merenda Escolar

mostrou sua indignação, dizendo que havia sido enganada. Relata que no

dia 1º de agosto indagou pessoalmente ao Prefeito Miguel Jeovani

sobre o motivo de não haver licitação para a merenda e ele se limitou a

dizer que iria ver.

Era tão certo o esquema de cartas marcadas, que no dia

seguinte ao agendado para a licitação (de 14 de agosto), que, conforme

depoimento da Senhora Cândida, foram entregues grandes quantidades

de gêneros alimentícios nas escolas, muito embora o contrato de

fornecimento houvesse expirado há quase três meses. Vale reproduzir as

palavras perspicazes da distinta senhora sobre a distribuição da merenda

no dia 15 de agosto:

“Que mesmo que a licitação tenha ocorrido no dia

de ontem, é de se estranhar muito que o vencedor

da licitação já tenha comprado, recebido e

distribuído tantos gêneros alimentícios de um dia

para o outro, a não ser que já soubesse

previamente que seria o vencedor da licitação”. –

fl. 208.

E não são somente servidores públicos municipais que podem

ser objeto de retaliação. Outras testemunhas são comerciantes da cidade,

que dependem para a sustentação de suas atividades empresarias das

vendas para o município.

Mesmo após o início das investigações, uma das empresárias

recebeu o indecoroso convite para dar cobertura à licitação pelo réu Felipe

Haje, que indagado pelo funcionário se não temia manter a fraude já que

os fatos eram investigados pelo Ministério Público, disse que se fosse

chamada para depor era só mentir, deixando claro que o cabeça do

esquema de fraude era o próprio prefeito. Trata-se do depoimento de

Tânia Maria Pacheco Leal, sócia da firma Azulão. O depoimento merece

leitura atenta. A seguir, reproduz-se parte dele:

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(. . .) Que a empresa foi constituída no ano de

1996; que há cerca de 15 anos participa de

licitações no município de Araruama; que as

licitações sempre forma abertas; que retirava

o edital normalmente e participava das

licitações, tendo ganhado algumas e perdido

outras; que desde que o Prefeito Miguel

Jeovani assumiu o cargo, não mais vem

conseguindo retirar os editais de licitação

na prefeitura (... ); que a declarante desde o

início do ano tem ido semanalmente, às vezes

três vezes na semana, no setor de licitações

da prefeitura para indagar sobre licitações

para aquisição de gêneros alimentícios,

inclusive merenda escolar, sempre recebendo

a informação de que não havia licitação; que

sempre é atendida por Sebastião e Tatiane

que informam a inexistência de licitação; que

garante que o anexo número 2 da edição do

Jornal Correio da Cidadania contendo os

avisos de licitações não circulou juntamente

com o encarte principal da edição; que não

conseguiu ter acesso a esse jornal com a

publicação da merenda escolar; que essa

licitação foi arranjada para a empresa

Alabama vencer; que os Sócios Luiz e Felipe

aparentam ser testas de ferro, pois quem

conhece o mercado sabe que eles não têm

condições e conhecimento de mercado para

fornecerem tamanha quantidade; que o que

se comenta é os verdadeiros Donos seriam o

Sérgio Ribeiro (Da Gigi) e o Élson; que

juntamente com Reginaldo, da Pool Piscinas,

vencem todas as licitações que lhes interessa,

através de empresas com laranjas; que já

ouviu falar que os três foram coordenadores

da campanha de Miguel Jeovani para

prefeito; que pode asseverar que antes de 14

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de agosto, dia marcado para nova licitação

da merenda escolar, a edição de número 49

do Jornal O Correio de Notícias, que ora que é

exibido com o aviso de licitação da merenda

escolar não circulou; que somente soube da

licitação, que seria realizada no dia 14, no

dia 15; que na verdade os jornais com os atos

contendo os avisos de licitação só são

disponibilizados depois que as licitações

ocorrem; que a firma da declarante venceu

licitação no ano passado, na modalidade

registro de preços, com contrato vigente até

meados de 2013, para fornecimento de

merenda escolar; que como mudou o governo,

passou a procurar informações na prefeitura

sobre o fornecimento de gêneros para a

merenda, vez que estava próximo do início do

ano letivo; que no início de janeiro de 2013,

foi até à Secretaria de Educação, onde

contatou a Nutricionista Jurema para saber

sobre as necessidades de itens de merenda, a

fim de se programar, pois tinha contrato em

vigor; que para sua surpresa, já que não

havia qualquer aviso de licitação para

merenda, bem como ter sido informada da

inexistência de procedimento licitatório por

Sebastião e Tatiana , no setor de compras, foi

informada por Jurema que Luizinho e Felipe,

que constam como sócios da Alabama,

estiveram na Secretaria que seriam eles que

passariam a fornecer os gêneros alimentícios

da merenda escolar, pedindo a relação de

gêneros para atender a merenda esco lar em

um mês e em três meses; que Jurema falou

que perguntou a sua chefe sobre o assunto e

ela autorizou que passasse as informações a

Luiz e a Felipe (.. . )

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(.. .)que há cerca de 20 dias, salvo engano no

dia 1º de agosto, recebeu ligação de

Roberto Farjado, conhecido como Gaúcho,

fornecedor de pães e afins, dizendo que

Felipe e Luizinho (sócios da Alabama)

queriam falar com a declarante e com ele;

que marcou encontro com eles na entrada

da Rua XV de Novembro, em frente a uma

vidraçaria; que chegando lá estavam Luiz,

Felipe e Roberto; que Luiz e Felipe

propuseram à declarante e a Roberto que

dessem cobertura para a empresa deles na

licitação da merenda, apresentando

proposta; que eles disseram que eles

mesmos ganhariam a licitação, mas em

troca a declarante poderia escolher um ou

dois itens dos gêneros alimentícios, no valor

de R$ 150.000,00, que a empresa da

declarante venderia para a empresa deles,

que, por sua vez, forneceria para a

merenda escolar; que o mesmo foi proposto

a Roberto da Padaria escolher para ele os

itens que lhe interessariam, dentro do valor

de R$ 150.000,00; que Luiz e Felipe disse

que a merenda escolar seria ganha por eles

e mais duas empresas do Rio de Janeiro;

que a declarante indagou o motivo de não

se publicar o aviso de licitação e permitir

que todos concorressem, eles responderam

que não era coisa deles, mas sim que era

compromisso político deles lá em cima,

referindo-se ao Prefeito Miguel, pois deviam

muito; que Luiz e Felipe disseram que

ganhariam pouco com a licitação, dando a

entender que havia pessoas por trás deles,

após Roberto Gaúcho contestar o fato de

eles não abrirem as licitações para que

todos participassem; que a declarante

perguntou a Felipe e ao Luiz não ficavam

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preocupados com a consequência desses

atos irregulares, ainda mais que o

Ministério Público estava investigando a

licitação da merenda, tendo Felipe

respondido que era só ir no Ministério

Público e responder sempre a mesma coisa

que nada aconteceria; que depois dessa

conversa, no início de agosto, passou a ir

na prefeitura duas ou três vezes por

semana para indagar sobre a licitação da

merenda, mas sempre era informada por

Sebastião e Tatiana que não tinha data

marcada e que o processo não estava no

setor; que a declarante só foi chamada para

a fase inicial de cotação de preços, tendo

apresentado a cotação, mas não lhe foi

dado acesso ao processo licitatório após

aberto para apresentação de propostas; que

ficou sabendo que a licitação da merenda

no dia 14 de agosto foi adiada devido a

diligência do Ministério Públ ico ocorrida na

semana passada na sede da prefeitura.

Além dessa empresária, outros pequenos empresários são

testemunhas importantes do processo, sendo inequívoco que a

manutenção do Prefeito no cargo, além de possibilitar-lhe pressionar

testemunhas e fraudar documentos, também seria forte fator

intimidatório das testemunhas que dependem economicamente do

Município.

Não se sustenta a corriqueira alegação de que nada sabia. O

réu Miguel Jeovani, na qualidade de prefeito Municipal e ordenador de

despesas do Município, além de autorizar todos os atos violadores da lei,

sabia de tudo que se passava, eis que alertado em carta protocolizada na

prefeitura pelo empresário Carlos Castanho, bem como, conforme se

conclui pelas declarações da Presidente do COMAE, Sra. Cândida Maria,

procurou também ocultar a existência da licitação. Ademais, ante a

magnitude do esquema de fraude, permite-se afirmar que não era possível

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que fosse iludido por tantas pessoas, sendo que todos os funcionários

réus exercem cargos de confiança no município.

O afastamento cautelar se deu na forma autorizada por lei e

com amplo respaldo doutrinário e jurisprudencial:

Dispõe o predito art. 20 da Lei nº 8.429/92:

"Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos

direitos políticos só se efetivam com o trânsito em

julgado da sentença condenatória.

"Parágrafo único. A autoridade judicial ou

administrativa competente poderá determinar o

afastamento do agente público do exercício do

cargo, emprego ou função, sem prejuízo da

remuneração, quando a medida se fizer necessária

à instrução processual”.

Salta aos olhos que, conforme detalhadamente apontado na

inicial, foi fraudado todo o processo licitatório para a entrega do

fornecimento de merenda escolar aos réus do núcleo empresarial. Mesmo

com a investigação em andamento, novamente através do processo

licitatório 9.241/13 (fl. 220), tentou-se nova fraude para beneficiar o

mesmo grupo que só foi evitada pelo acompanhamento de perto desta

Promotoria com o envio de agentes do GAP para acompanhar a suposta

licitação. Depois, a empresa Fort Lauderdale, dos mesmos sócios da

Alabama, com o mesmo depósito, ainda é habilitada para participar da

nova licitação e celebra contrato para fornecer a maioria dos gêneros

alimentícios. Assim, demonstra o réu o firme propósito de utilizar-se do

cargo para fins pouco republicanos.

Os atos praticados pelo réu são graves e vulneram os

princípios basilares inerentes à administração pública, da honestidade,

legalidade, impessoalidade e moralidade (art. 37, CF, e arts. 4º, e 11 da lei

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8.429/92). Ainda, a persistência na prática ilícita expõe o erário a

considerável risco.

Com pertinência, anotam Marino Pazzaglini Filho, Márcio

Fernando Elias Rosa e Waldo Fazzio Júnior, em sua obra "Improbidade

Administrativa - Aspectos Jurídicos da Defesa do Patrimônio Público" - Ed.

Atlas - 1.a Ed. - 1996 pág. 181 que o afastamento cautelar se justifica

sempre que for "indispensável para garantir a efetividade dos

princípios constitucionais da Administração Pública, por certo mais

privilegiado que o direito individual que restringe."

Sobre o afastamento cautelar, verifica-se que é medida

plenamente reconhecida pelo STF, nos casos de improbidade

administrativa, como no seguinte acórdão relatado pela Eminente Ministra

Ellen Gracie:

SUSPENSÃO LIMINAR N. 30-6

PROCED.: BAHIA

RELATOR : MINISTRO PRESIDENTE

REQTE.(S): MUNICÍPIO DE PORTO SEGURO

ADV.(A/S): EDUARDO ANTÔNIO LUCHO FERRÃO E

OUTRO(A/S)

REQDO.(A/S): TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª

REGIÃO

INTDO.(A/S): MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Julgamento 28/06/2004

Publicação DJ 02/08/2004 P - 00034

Despacho

1 - José Ubaldino Alves Pinto Júnior, declarando-se,

neste ato, representante do Município de Porto Seguro -

BA, formulou o presente pedido de suspensão da liminar

deferida pela Segunda Seção do Tribunal Regional

Federal da 1ª Região que, recebendo, em 03.12.03, ação

de improbidade administrativa movida pelo Ministério

Público Federal, deferiu os pedidos de afastamento do

cargo de prefeito municipal ocupado pelo requerente, de

quebra de seu sigilo fiscal e bancário e de

indisponibilidade de seus bens.(...). 2. Reclamação.

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Liminar concedida pelo Superior Tribunal de Justiça.

Causa de pedir fundada em princípios constitucionais

genéricos, que encontram sua concreta realização nas

normas infraconstitucionais que disciplinam as

múltiplas atividades da Administração Pública.

Usurpação da competência desta Corte. Vícios no

julgado. Inexistência. Embargos de declaração

rejeitados." Além disso, verifico que o exame da

aplicação do art. 20 da Lei nº 8.429/92 ao caso sob

apreciação já foi realizado pelo órgão competente para

tanto, ou seja, a Presidência do Superior Tribunal de

Justiça. Em decisão publicada no DJ de 02.02.04, o

eminente Ministro Nilson Naves, então presidindo

aquela Corte, indeferiu o pedido formulado pelo

requerente na SL nº 55, na qual destacou não ter sido

demonstrada a lesão à ordem pública apontada pelo

requerente, "pois o afastamento cautelar de prefeito

processado por improbidade administrativa é

providência admitida pelo ordenamento jurídico,

impondo-se sempre que a sua permanência no cargo,

de qualquer forma, ofereça embaraço à instrução

processual, como, aliás, já foi reconhecido pela

Segunda Seção do Tribunal Regional Federal da 1ª

Região, perante a qual tramita o feito", concluindo mais

a frente que "as razões alinhadas pelo Parquet Federal

no bojo da ação de improbidade, que dão conta dos

percalços enfrentados no curso da fase investigatória -

ocultação e destruição de documentos, coação de

testemunhas, entre outros -, atribuídos ao requerente e

a pessoas sob ordens suas, bem justificam o receio de

que a manutenção dele no cargo poderá obstaculizar a

adequada instrução processual". Após a obtenção deste

provimento, que lhe foi desfavorável, e acabou

transitando em julgado, o requerente resolveu renovar

a sua pretensão, desta vez diante da Presidência deste

Supremo Tribunal Federal, órgão manifestamente

incompetente que não pode substituir-se nas atribuições

resguardadas ao egrégio Superior Tribunal de Justiça. 4

- Por todas estas razões, na linha da jurisprudência

firmada nesta Corte e em conformidade com o parecer

da douta Procuradoria-Geral da República, julgo extinto

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o presente pedido de suspensão de liminar, pela

manifesta incompetência da Presidência desta Corte

para apreciá-lo, e determino o seu arquivamento, nos

termos do art. 21, § 1º do RISTF. Publique-se. Brasília,

28 de junho de 2004 Ministra Ellen Gracie Vice-

Presidente (art. 37, I )

No mesmo sentido são as decisões do STJ:

Processo AgRg na SLS 467 / PR

AGRAVO REGIMENTAL NA SUSPENSÃO DE LIMINAR E

DE SENTENÇA

2007/0084255-8 Relator(a) Ministro BARROS

MONTEIRO (1089) Órgão Julgador CE - CORTE

ESPECIAL Data do Julgamento 07/11/2007 Data da

Publicação/Fonte DJ 10.12.2007 p. 253. Ementa.

AGRAVO REGIMENTAL. SUSPENSÃO DE LIMINAR.

PEDIDO DE AFASTAMENTO TEMPORÁRIO DE

PREFEITO. INVESTIGAÇÃO POR ATOS DE

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDÍCIOS DE

MALVERSAÇÃO DO DINHEIRO PÚBLICO. GARANTIA

AO BOM ANDAMENTO DA INSTRUÇÃO PROCESSUAL.

LESÃO À ORDEM PÚBLICA.

– Visualiza-se, no caso, risco de grave lesão à ordem

pública, consubstanciada na manutenção, no cargo,

de agente político sob investigação por atos de

improbidade administrativa, perfazendo um total de

20 ações ajuizadas até o momento, nas quais existem

indícios de esquema de fraudes em licitações,

apropriação de bens e desvio de verbas públicas.

– O afastamento do agente de suas funções, nos

termos do art. 20, parágrafo único, da Lei n.

8.429/1992, objetiva garantir o bom andamento da

instrução processual na apuração das

irregularidades apontadas, interesse de toda a

coletividade.

- Homologada desistência requerida pelo 1º agravante

(Município de Jaguariaíva).

Agravo não provido. Acórdão. Vistos e relatados estes

autos, em que são partes as acima indicadas, decide a

Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça, por

1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE TUTELA COLETIVA NÚCLEO ARARUAMA

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unanimidade, negar provimento ao agravo regimental

nos termos do voto do Sr. Ministro Relator, na forma do

relatório e notas taquigráficas precedentes que

integram o presente julgado. Votaram com o Sr. Relator

os Srs. Ministros Humberto Gomes de Barros, Cesar

Asfor Rocha, Ari Pargendler, José Delgado, Fernando

Gonçalves, Felix Fischer, Aldir Passarinho Junior, Gilson

Dipp, Hamilton Carvalhido, Eliana Calmon, Paulo

Gallotti, Laurita Vaz, João Otávio de Noronha, Castro

Meira e Arnaldo Esteves Lima. Ausentes,

justificadamente, a Sra. Ministra Nancy Andrighi e,

ocasionalmente, os Srs. Ministros Nilson Naves,

Francisco Falcão, Luiz Fux e Teori Albino Zavascki.

"[...] Em se tratando de improbidade administrativa, só

há uma hipótese tolerável de intervenção do Poder

Judiciário nos demais Poderes para afastar agentes

políticos: Art. 20, parágrafo único, da Lei 8.429/92. 4.

Vale dizer: a gravidade dos ilícitos imputados ao agente

político e mesmo a existência de robustos indícios contra

ele não autorizam o afastamento cautelar, exatamente

porque não é essa a previsão legal. 5. A decisão que

determina oafastamento cautelar do agente político por

fundamento distinto daquele previsto no Art. 20,

parágrafo único, da Lei 8.429/92, revela indevida

interferência do Poder Judiciário em outro Poder,

rompendo o delicado equilíbrio institucional tutelado

pela Constituição. 6. Surge, então, grave lesão à ordem

pública institucional, reparável por meio dos pedidos de

suspensão de decisão judicial [...] Para que seja lícito e

legítimo o afastamento cautelar com base no Art. 20,

parágrafo único, da Lei 8.429/92, não bastam simples

ilações, conjecturas ou presunções. Cabe ao juiz indicar,

com precisão e baseado em provas, de que forma -

direta ou indireta - a instrução processual foi

tumultuada pelo agente político que se pretende

afastar." (AgRg na SLS 857 RJ, Rel. Ministro HUMBERTO

GOMES DE BARROS, CORTE ESPECIAL, julgado em

29/05/2008, DJe 01/07/2008, REPDJe 14/08/2008)

"[...] A norma legal, ao permitir o afastamento do

1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE TUTELA COLETIVA NÚCLEO ARARUAMA

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agente político de suas funções, objetiva garantir o bom

andamento da instrução processual na apuração das

irregularidades apontadas, contudo não pode servir de

instrumento para invalidar o mandato legitimamente

outorgado pelo povo nem deve ocorrer fora das normas

e ritos legais. [...]" (AgRg na SL 9 PR, Rel. Ministro

EDSON VIDIGAL, CORTE ESPECIAL, julgado em

20/10/2004, DJ 26/09/2005, p. 158)

O afastamento do cargo público também é medida atinente ao

poder geral de cautela, pelo que seu deferimento exige a presença dos

requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora, exaustivamente

demonstrados na presente petição.

Sobre o poder geral de cautela são bastante válidas as palavras de

Luiz Rodrigues Wambier e outros, em Curso Avançado de Processo Civil,

Processo Cautelar e Procedimentos Especiais. 4 ed. Revista dos Tribunais. Pág

35), quando afirmam:

“A existência deste poder é conseqüência da

impossibilidade de se tipificar todos os perigos possíveis.

Isto porque as cautelares nominadas (a que a lei deu

nome), como arresto ou seqüestro, são tipificadas em

função de um tipo específico de perigo descrito pela lei.

Claro que é impossível ao legislador pensar em todos os

perigos possíveis”

Dispõe o artigo 798 do CPC:

“Art. 798 - Além dos procedimentos cautelares

específicos, que este Código regula no capítulo II deste

livro, poderá o juiz determinar as medidas provisórias

que julgar adequadas, quando houver fundado receio

de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause o

direito da outra lesão grave e de difícil reparação”.

Desta forma, entende o Ministério Público que não há

qualquer reparo a fazer na decisão que culminou com o afastamento do

agravante do cargo.

1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE TUTELA COLETIVA NÚCLEO ARARUAMA

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2-3 – Da Indisponibilidade dos Bens

A decisão agravada, quanto à decretação de indisponibilidade

de bens, também se revela bem fundamentada e de acordo com o

ordenamento jurídico vigente.

O escopo do pedido de indisponibilidade deriva de evitar que

os réus não frustrem futura execução de decreto condenatório referente à

aplicação das multas previstas no art. 12, da Lei de Improbidade

Administrativa e ao próprio ressarcimento do dano.

A indisponibilidade de bens, malgrado possa inicialmente

parecer possuir a natureza de sanção, a partir de uma primeira leitura do

art. 37, § 4º, da Constituição da República, não tem, em verdade, natureza

de medida cautelar, a qual busca garantir o resultado prático do processo,

com a efetiva aplicação das sanções por improbidade administrativa, pois

não se vislumbra uma típica tutela de urgência, como descrito acima,

mas sim uma tutela de evidência, uma vez que o periculum in mora não

é oriundo da intenção do agente dilapidar seu patrimônio e, sim, da

gravidade dos fatos e do montante do prejuízo causado ao erário, o que

atinge toda a coletividade.

Vale registrar que aqui se busca a concessão de medida

cautelar de indisponibilidade de bens, medida esta que tem por espeque o

poder geral de cautela do Juízo, e que pode ser concedida

incidentalmente, não devendo ser confundida com o seqüestro de bens a

que alude o art. 16 da Lei n. 8.429/92, já que seu fundamento se encontra

não apenas no poder geral de cautela do Juízo, mas também na própria

Constituição da República (art. 37, § 4º) e no art. 7º da Lei de Improbidade

Administrativa.

Convém, ainda, trazer à colação a autorizada lição do

eminente Rogério Pacheco Alves acerca da distinção entre as duas

medidas cautelares em tela, a saber:

1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE TUTELA COLETIVA NÚCLEO ARARUAMA

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“Embora reconheçamos que, por força da atecnia

legislativa, a sistematização do assunto é tarefa

árdua, pensamos – partindo da premissa de que a lei

não contém expressões inúteis -, que a

indisponibilidade de bens, por sua amplitude, volta-se

à garantia da reparação do dano, material ou moral,

causado pelo agente. Direciona-se, assim, às hipóteses

previstas no art. 10 da Lei de Improbidade. Já o

seqüestro, providência cautelar de calibre mais

estreito por recair sobre coisa certa, tem por escopo a

conservação dos valores e bens ilicitamente auferidos

pelo agente no exercício da função pública,

direcionando-se, deste modo, às hipóteses previstas no

art. 9º (enriquecimento ilícito)” (in Improbidade

Administrativa. P. 638. Obra em co-autoria com

Emerson Garcia).

Tecidas tais considerações, se vislumbra a existência dos

requisitos autorizadores da medida cautelar em questão.

Com efeito, o fumus boni iuris resta devidamente comprovado

a partir dos fatos narrados nos itens anteriores, bem como dos autos do

da Ação Civil Pública em testilha.

De outro lado, se percebe, nitidamente, a configuração do

segundo requisito autorizador da medida cautelar de indisponibilidade de

bens, o chamado periculum in mora.

Este, por seu turno, apesar da doutrina e da jurisprudência

reputarem despicienda sua demonstração, posto presumido, se mostra,

in casu, manifesto em função da facilidade que será propiciada pela mora

na concessão da prestação jurisdicional aos réus para dilapidarem

dolosamente seu patrimônio, com o desiderato de frustrar a aplicação das

multas previstas no art. 12, da Lei de Improbidade.

1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE TUTELA COLETIVA NÚCLEO ARARUAMA

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Inclina-se, no sentido do que o Ministério Público sustenta, a

melhor doutrina pela sua implicitude relativamente às condutas de

improbidade administrativa, de sua presunção pelo art. 7º da Lei nº

8.429/92, o que dispensa o autor da demonstração da intenção de

dilapidação ou desvio patrimonial por parte do réu.

Nesta linha, pontifica Fábio Medina Osório que “O periculum

in mora emerge, via de regra, dos próprios termos da inicial, da gravidade

dos fatos, do montante, em tese, dos prejuízos causados ao erário”,

sustentando, outrossim, que “a indisponibilidade patrimonial é medida

obrigatória, pois traduz conseqüência jurídica do processamento da ação,

forte no art. 37, § 4º, da Constituição Federal” (Improbidade

administrativa – Observações sobre a Lei 8.429/92. 2ª ed. Porto Alegre:

Síntese, 1998, pp. 240/241).

Do mesmo pensar é José Roberto dos Santos Bedaque, para

quem a indisponibilidade prevista na Lei de Improbidade é uma daquelas

hipóteses nas quais o próprio legislador dispensa a demonstração do

perigo de dano, tal como se dá com relação às medidas cautelares típicas

de um modo geral (seqüestro, arresto etc) e com relação às ações

possessórias e aos embargos de terceiros (“Tutela Jurisdicional Cautelar e

Atos de Improbidade Administrativa”. In Improbidade Administrativa –

Questões Polêmicas e Atuais. São Paulo: Malheiros, 2001).

De fato, exigir a prova, mesmo que indiciária, da intenção do

agente de furtar-se à efetividade da condenação representaria, do ponto

de vista prático, o irremediável esvaziamento da indisponibilidade

perseguida em nível constitucional e legal, conclusão que se vê

confirmada pela jurisprudência:

1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE TUTELA COLETIVA NÚCLEO ARARUAMA

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“Ação Civil Pública. Defesa do patrimônio público.

Legitimidade do Ministério Público. Indisponibilidade de

bens. 1- ‘O Ministério Público possui legitimidade ativa

para propor ação civil pública visando o ressarcimento

de danos causados ao patrimônio público por prefeito

municipal’ (REsp 159231/Humberto). 2 – A

indisponibilidade patrimonial na ação civil pública para

ressarcimento de dano ao Erário deve atingir bens na

medida em que bastam à garantia da indenização”

(STJ, REsp nº 226863/GO, 1ª Turma, Rel. Min. Humberto

Gomes de Barros, DJU 04.09.2000, p. 123).

"Improbidade administrativa. Indisponibilidade dos

bens pertencentes aos envolvidos. Afastamento do

exercício de suas funções. Possibilidade. Lei 8.429/92.

Art. 37, § 4º, da CF. Cabível a indisponibilidade dos

bens dos envolvidos, por se tratar de medida

acautelatória e ter por objetivo assegurar eventual

ressarcimento ao erário. É de rigor o afastamento dos

réus do exercício das funções que ocupam, a fim de

garantir transparência à instrução processual.

Aplicação da Lei 8.429/92 e art. 37, § 4º, da CF.” (TRF

3ª Região – AI nº 97.03.013406-8/SP, 2ª Turma, Rel.

Juiz Célio Benevides, DJU 29.10.1997)

“Agravo de instrumento. Improbidade Administrativa

(Lei nº 8.429/92). Ação Cautelar de Seqüestro de bens

em defesa do patrimônio público. Concessão de liminar.

Legitimidade do Ministério Público.

1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE TUTELA COLETIVA NÚCLEO ARARUAMA

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1. O Ministério Público tem legitimidade para

defender e proteger o patrimônio público (arts. 127

e 129, da CF).

2. A apreciação de medida liminar é ato que se insere

no poder geral de cautela do juiz. Quando

indeferitório, só pode ser revisto se foi praticado

com abuso de poder ou ilegalidade flagrante.

3. A indisponibilidade patrimonial (art. 37, § 4º, da

CF), in casu, é medida que visa assegurar o

resultado útil da ação ajuizada pelo Ministério

Público Federal.

4. Agravo improvido” (TRF 2ª Região, AI nº 29.232 –

AC nº 98.0225495-9/RJ, 3ª T., Rel. Juiz Federal

Conv. Júlio Cezar Martins, DJU 14.09.1999, p. 130).

"[...] Na busca da garantia da reparação total do

dano, a Lei nº 8.429/92 traz em seu bojo medidas

cautelares para a garantia da efetividade da

execução, que, como sabemos, não são exaustivas.

Dentre elas, a indisponibilidade de bens, prevista no

art. 7º do referido diploma legal. 3. As medidas

cautelares, em regra, como tutelas emergenciais,

exigem, para a sua concessão, o cumprimento de

dois requisitos: o fumus boni juris (plausibilidade do

direito alegado) e o periculum in mora (fundado

receio de que a outra parte, antes do julgamento da

lide, cause ao seu direito lesão grave ou de difícil

reparação). 4. No caso da medida cautelar

de indisponibilidade, prevista no art. 7º da LIA,

não se vislumbra uma típica tutela de urgência,

como descrito acima, mas sim uma tutela de

evidência, uma vez que o periculum in mora não

1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE TUTELA COLETIVA NÚCLEO ARARUAMA

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é oriundo da intenção do agente dilapidar seu

patrimônio e, sim, da gravidade dos fatos e do

montante do prejuízo causado ao erário, o que

atinge toda a coletividade. O próprio legislador

dispensa a demonstração do perigo de dano, em

vista da redação imperativa da Constituição

Federal (art. 37, §4º) e da própria Lei de

Improbidade (art. 7º). 5. A referida medida

cautelar constritiva de bens, por ser uma tutela

sumária fundada em evidência, não possui caráter

sancionador nem antecipa a culpabilidade do

agente, até mesmo em razão da perene

reversibilidade do provimento judicial que a

deferir. 6. Verifica-se no comando do art. 7º da Lei

8.429/1992 que a indisponibilidade dos bens é

cabível quando o julgador entender presentes fortes

indícios de responsabilidade na prática de ato de

improbidade que cause dano ao Erário, estando o

periculum in mora implícito no referido

dispositivo, atendendo determinação contida no

art. 37, § 4º, da Constituição [...] O periculum in

mora, em verdade, milita em favor da sociedade,

representada pelo requerente da medida de

bloqueio de bens, porquanto esta Corte Superior

já apontou pelo entendimento segundo o qual,

em casos de indisponibilidade patrimonial por

imputação de conduta ímproba lesiva ao erário,

esse requisito é implícito ao comando normativo

do art. 7º da Lei n. 8.429/92.

[...] A Lei de Improbidade Administrativa, diante

dos velozes tráfegos, ocultamento ou dilapidação

1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE TUTELA COLETIVA NÚCLEO ARARUAMA

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patrimoniais, possibilitados por instrumentos

tecnológicos de comunicação de dados que tornaria

irreversível o ressarcimento ao erário e devolução

do produto do enriquecimento ilícito por prática de

ato ímprobo, buscou dar efetividade à norma

afastando o requisito da demonstração do

periculum in mora (art. 823 do CPC), este,

intrínseco a toda medida cautelar sumária (art.789

do CPC), admitindo que tal requisito seja presumido

à preambular garantia de recuperação do

patrimônio do público, da coletividade, bem assim

do acréscimo patrimonial ilegalmente auferido. 9. A

decretação da indisponibilidade de bens, apesar da

excepcionalidade legal expressa da desnecessidade

da demonstração do risco de dilapidação do

patrimônio, não é uma medida de adoção

automática, devendo ser adequadamente

fundamentada pelo magistrado, sob pena de

nulidade (art. 93, IX, da Constituição Federal),

sobretudo por se tratar de constrição patrimonial.

10. Oportuno notar que é pacífico nesta Corte

Superior entendimento segundo o qual

a indisponibilidade de bens deve recair sobre o

patrimônio dos réus em ação de improbidade

administrativa de modo suficiente a garantir o

integral ressarcimento de eventual prejuízo ao

erário, levando-se em consideração, ainda, o valor

de possível multa civil como sanção autônoma. 11.

Deixe-se claro, entretanto, que ao juiz responsável

pela condução do processo cabe guardar atenção,

entre outros, aos preceitos legais que resguardam

1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE TUTELA COLETIVA NÚCLEO ARARUAMA

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certas espécies patrimoniais contra

a indisponibilidade, mediante atuação processual

dos interessados - a quem caberá, p. ex., fazer

prova que determinadas quantias estão destinadas

a seu mínimo existencial. 12. A constrição

patrimonial deve alcançar o valor da totalidade da

lesão ao erário, bem como sua repercussão no

enriquecimento ilícito do agente, decorrente do ato

de improbidade que se imputa, excluídos os bens

impenhoráveis assim definidos por lei, salvo

quando estes tenham sido, comprovadamente,

adquiridos também com produto da empreitada

ímproba, resguardado, como já dito , o essencial

para sua subsistência.

[...] Assim, como a medida cautelar de

indisponibilidade de bens, prevista na LIA, trata de

uma tutela de evidência, basta a comprovação da

verossimilhança das alegações, pois, como visto,

pela própria natureza do bem protegido, o

legislador dispensou o requisito do perigo da

demora. No presente caso, o Tribunal a quo

concluiu pela existência do fumus boni iuris, uma

vez que o acervo probatório que instruiu a petição

inicial demonstrou fortes indícios da ilicitude das

licitações, que foram suspostamente realizadas de

forma fraudulenta. Ora, estando presente o fumus

boni juris, como constatado pela Corte de origem, e

sendo dispensada a demonstração do risco de

dano (periculum in mora), que é presumido pela

norma, em razão da gravidade do ato e a

necessidade de garantir o ressarcimento do

1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE TUTELA COLETIVA NÚCLEO ARARUAMA

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patrimônio público, conclui-se pela legalidade da

decretação da indisponibilidade dos bens. [...]" (REsp

1319515 ES, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA

FILHO, Rel. p/ Acórdão Ministro MAURO CAMPBELL

MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em

22/08/2012, DJe 21/09/2012)

"[...] O entendimento conjugado de ambas as

Turmas de Direito Público desta Corte é de que,

a indisponibilidade de bens em ação de

improbidade administrativa: a) é possível antes

do recebimento da petição inicial; b) suficiente a

demonstração, em tese, do dano ao Erário e/ou

do enriquecimento ilícito do agente,

caracterizador do fumus boni iuris; c) independe

da comprovação de início de dilapidação

patrimonial, tendo em vista que o periculum in

mora está implícito no comando legal; d) pode

recair sobre bens adquiridos anteriormente à

conduta reputada ímproba; e e) deve recair sobre

tantos bens quantos forem suficientes a assegurar

as consequências financeiras da suposta

improbidade, inclusive a multa civil. [...] Ademais,

a indisponibilidade dos bens não é indicada

somente para os casos de existirem sinais de

dilapidação dos bens que seriam usados para

pagamento de futura indenização, mas também

nas hipóteses em que o julgador, a seu critério,

avaliando as circunstâncias e os elementos

constantes dos autos, afere receio a que os bens

sejam desviados dificultando eventual

1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE TUTELA COLETIVA NÚCLEO ARARUAMA

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ressarcimento. [...]" (AgRg no AREsp 20853SP, Rel.

Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA

TURMA, julgado em 21/06/2012, DJe 29/06/2012)

"[...] A indisponibilidade acautelatória prevista na

Lei de Improbidade Administrativa (art. 7º e

parágrafo único da Lei 8429/92) tem como escopo

o ressarcimento ao erário pelo dano causado ao

erário ou pelo ilícito enriquecimento. 2. A ratio

essendi do instituto indica que o mesmo é

preparatório da responsabilidade patrimonial, que

representa, em essência, a afetação de todos os

bens presentes e futuros do agente improbo para

com o ressarcimento previsto na lei. [...] Deveras,

a indisponibilidade sub examine atinge o bem de

família quer por força da mens legis do inciso VI do

art. 3º da Lei de Improbidade, quer pelo fato de que

torna indisponível o bem; não significa expropriá-lo,

o que conspira em prol dos propósitos da Lei

8.009/90. 5. A fortiori, o eventual caráter de bem

de família dos imóveis nada interfere na

determinação de sua indisponibilidade. Não se trata

de penhora, mas, ao contrário, de impossibilidade

de alienação, mormente porque a Lei n.º 8.009/90

visa a resguardar o lugar onde se estabelece o lar,

impedindo a alienação do bem onde se estabelece a

residência familiar. No caso, o perigo de alienação,

para o agravante, não existe. Ao contrário,

a indisponibilidade objetiva justamente impedir que

o imóvel seja alienado e, caso seja julgado

procedente o pedido formulado contra o agravante

1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE TUTELA COLETIVA NÚCLEO ARARUAMA

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na ação de improbidade, assegurar o ressarcimento

dos danos que porventura tenham sido causados ao

erário. 6. Sob esse enfoque, a hodierna

jurisprudência desta Corte direciona-se no sentido

da possibilidade de que a decretação

de indisponibilidade de bens, em decorrência da

apuração de atos de improbidade administrativa,

recaia sobre os bens necessários ao ressarcimento

integral do dano, ainda que adquiridos

anteriormente ao suposto ato de improbidade. [...]"

(REsp 806301 PR, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA

TURMA, julgado em 11/12/2007, DJe 03/03/2008)

Conforme se demonstrou à exaustão, a conduta dos

requeridos reflete não só violação aos princípios constitucionais como

também dano ao erário, do que deve resultar o seu integral ressarcimento

em favor do ente público.

A obrigação de reparar o dano é regra que se extrai, já de

muito, dos arts. 186 e 927 do Código Civil, tendo merecido expressa

referência por parte do texto constitucional (art. 37, § 4º) e pela própria

Lei de Improbidade Administrativa (art. 5º). Trata-se de um princípio geral

do direito e que pressupõe: a) a ação ou a omissão, dolosa ou culposa, do

agente; b) a constatação do dano, que pode ser material ou moral; c) a

relação de causalidade entre a conduta do agente e o dano verificado; d)

que da conduta do agente surja o dever jurídico de reparação.

Deste modo, verificada, a partir da disciplina contida na Lei nº

8.429/92, a ocorrência de ato de improbidade administrativa, o acervo

patrimonial dos agentes públicos e dos demais e eventuais demandados

1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE TUTELA COLETIVA NÚCLEO ARARUAMA

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estará sujeito à plena responsabilização, aplicando-se, aqui, a regra geral

de que o devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com

todos os seus bens “presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas

em lei” (art. 591 do Código de Processo Civil).

O desiderato de “integral reparação do dano” será

alcançado, assim, por intermédio da declaração de indisponibilidade de

tantos bens de expressão econômica quantos bastem ao

restabelecimento do status quo ante. É o que estabelece o art. 37, § 4º,

da Constituição Federal, regra que vai encontrar correlata previsão na Lei

nº 8.429/92, art. 7º( "Quando o ato de improbidade causar lesão ao

patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito, caberá á autoridade

administrativa responsável pelo inquérito representar ao Ministério

Público, para a indisponibilidade dos bens do indiciado. Parágrafo único. A

indisponibilidade a que se refere o caput deste artigo recairá sobre bens

que assegurem o integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo

patrimonial resultante do enriquecimento ilícito") .

Assim, com o escopo de assegurar a efetividade das futuras

condenações e suas pertinentes execuções por quantia certa, e com

fundamento no art. 7º, da Lei n. 8.429/92 combinado com o art. 12 da Lei

n. 7.347/85, e de acordo com o poder geral de cautela deste Douto Juízo,

justifica-se a indisponibilidade dos bens dos ora demandados,

observando-se que esta, no entanto, não deverá incidir sobre os

proventos e salários eventualmente percebidos pelos réus.

Sobre a alegação da natureza alimentar dos subsídios,

apesar de o M.M. Juízo não ter determinado a indisponibilidade dos

subsídios, oficia o MP no sentido de constar expressamente no acórdão

a ser lavrado que a indisponibilidade não incide sobre os subsídios.

1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE TUTELA COLETIVA NÚCLEO ARARUAMA

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4- DO PREQUESTIONAMENTO

Requer o Ministério Público que V. Exas. se manifestem

expressamente sobre os dispositivos legais acima citados, quais sejam:

art. 5º, incisos LIV e LV, 37, caput e § 4º, 93, IX da CRFB; art. 798 do

Código de Processo Civil; arts. 7º, 9º, 10, 11, 12 e 20, parágrafo único da

Lei 8429/92; art. 12 da Lei 7347/85 e arts. 1,§3º e 2º da Lei 8437/92,

possibilitando desta forma a interposição de eventual Recurso Especial

e/ou Extraordinário.

5 – CONCLUSÃO

Ante o exposto, requer o Ministério Público que seja o agravo

conhecido e, no mérito, improvido, fazendo constar apenas a ressalva de

que a indisponibilidade de bens decretada não incidirá sobre os subsídios

do réu.

Araruama, 20 de fevereiro de 2014.

Fabrício Rocha Bastos

Promotor de Justiça

Matrícula 4858