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FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS . FMU FERNANDO PEREIRA ALQUALO CONTRATO ELETRÔNICO DECOMPRA E VENDA SOB A LUZ DOCODIGO DEDEFESA DO CONSUMIDOR São Paulo 2007

Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

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Page 1: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS . FMU

FERNANDO PEREIRA ALQUALO

CONTRATO ELETRÔNICO DE COMPRA E VENDA SOB A LUZ

DO CODIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

São Paulo

2007

Page 2: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

SINOPSE

O oresente trabalho busca verificar o contrato eletrônico com

enfoque nas relações de consumo de compra e vendã realìzada na

internet.

Analisa, em suma, a defìnição de contrato eletrônico, sua

validade jurídica e sua incidência no Código de Defesa do Consumidor.

Aìnda neste sentido traz soluções para dÌrimir conflitos nesse aspecto,

tendo em vista que não possui uma legislação específica para tÍatar do

assunto.

Por fim, trata do direito de arrependimento, oferta ao público,

conflitos de competência e legislação aplicável para dirimir conflitos

decorrentes de relacões de consumo realiza através da internet.

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SUMÁRIO

CAPITULO I

Contrato Eletrônico

l .Concêi to. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . , . . . . . . . . . 16

2,Formação dos contratos elêtrônicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 8

2.1 ,Momento da formação do contrato elehônico. . . . , , , , , , , . , , , , . . . , . . . . , . . . . . . . . . . . . . . . . . . . , , . . . .20

2.2. Locâl da formação do contrato êletrônico. . , . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . , . . . . . . . . . . . . . . . . . . , , , . . . . . . . , .26

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CAPÍTULO III

Código dê Defesa do Consumidor e compra ê vènda eletrônice

3. 1. lmportância do tema.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . , , . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .43

3.2. Contrato eletrônico de adesão e Contratos eletrônicos pâritários.,................4S

3.3. Responsabi l idade do Provedor de Acesso.. . . . . . , , , , . . . . . . . . . . . . . . . . , , . , , , . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47

3.4. Direi to de arrependimento. . . , , . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . , , , , , . . .53

3,5. Oferta ao consumidor no contrato eletrônico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . , . , . . . . .57

3.6. Do foro para dirimir conflitos ..,,.........59

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INTRODUçÃO

A tecnologia trouxe ao mundo as relaçÕes virtuais, em que as pessoas se

relacionam e caminham por estradas virtuais. É um mundo que praticamente inexiste

fisicamente, contudo, produz efeitos reais no mundo real, ou seja, no plano Íísìco.

Esse novo padrão de relacionamento humano (lnternet) aproximou por

demais as pessoas, pois a comunicação pode ser feita em tempo real, inclusive com

transmissão de imagens, muito embora as pessoas estejam extremamente

separadas fisicamente.

Nesse novo mundo, qual seja o mundo virtual, é que desponta também as

relâçõês comercias e demais relaçôes jurídicas, surgindo, então, o contrato

eletrônico. Evidentemente, essa relação virtual sempre produzirá efeitos no mundo

real, já que a entregâ do produto ou serviço sempre repercutirá efeitos no mundo

real.

Destârte, váriâs são as indagaçóes sobre qual tratamento jurÍdico que

deve ser dado ao contrato celebrado por este novo meio? Contrato eletrônico é

válìdo? Aplica-se ao Código de Defesa do Consumidor? Tem força probante? Pode

ter sua existência provâda?

O objetivo principal deste trabalho é identìficar no plâno juídico o contrato

eletrônico e analisalo estritamente sob o Código de Defêsa do Consumidor, ou seja,

iremos produzìr uma reflexão maior no âmbito das relações de consumo,

principalmente na compra e venda.

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CAPÍTULO I

CONTRATOS ELETRÔNICOS

1. Conceito

Tratando-se de assunto novo, no meio jurídico, não há consenso entre os

doutrinadores quanto a designação correta para os contratos realizados em

ambiente digital, sendo mais freqüentes as expressóes contratos virtuais e contratos

eletrônicos. Neste trabalho, opta-se pela expressão contrato eletrônico, por ser mais

difundida no Brâsil e na comunidade internacional, sendo a designação

recepcionada pelos pÍojetos de lei brasileiros sobre comércio eletrônico, em trâmite

no Congresso Nacional.

Na visão de Ronaldo Alves de Andradel, contrato eletrônico é o negócio

juridico celebrado mediante a transferência de informaçóes entre computadores e

cujo instrumento pode ser decalcado em mídia eletrônica.

Dessa forma, aduz o ilustre autor que entram nessa categoria os contratos

celebrados via correio eletrônico, Internet, intranet, EDI (Eletrônic Date Interchange)

ou qualquer outÍo meio eletrônico desde que permita a representação física do

negócio em qualquer mídia eletrônica, como CD, disquete, fita de áudio ou vídeo.

Complementando sua opinião, leciona que quâlquer tipo de contrato pode

ser concluído por rede de computadores, desde que seja efetuado com respeito às

normas legais aplicadas ao contrato.

ANDRADE, Ronaldo Alves. Contrato Eletrónico no Novo Código Civil e no Código de Deíesa doConsumidof, Sào Paulo: l\4anole. 2004, p. 31

t6

Page 7: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

Para Valéria Elias de Melo Gregores2, contrato eletrônico é o vincuto

juridico criâdo através de declaração de vontade emanada por meio eletrônico, com

a finalidade de estabelecêr reìâções entre as pessoas.

Ainda mais sucinta é a definição de Sheila do Rocio Cercal Santos Leal3,

quando assevera contrato eletrônico ser aquele em que o computador é utìlizado

como meio de manifestaçáo e de instrumentalização da vontade das partes.

Malgrado sejâ sucinta a conceituaçáo dã ilustre doutrinadora,

conseguimos extraìr um denso entendimento sobre o contrato poÍ meio eletrônico,

vez que traduz os principais pontos sobre esse inovado meio de contrataçâo.

Dentre todos conceitos aqui declinados, nitidamente observamos que o

contrato eletrônico não tem um perfil, ou melhor, natureza distinta das dos contratos

em geral. Não sê trata de nova espécie não tipificada de contrato, como são, por

exemplos, os contratos de leasing, de franquia, de cartão de crédito, etc. Na

realidadê, é tâo somente um novo e atual meio de se efetivar um contrato e não um

gênero ou espécie nova de contrato.

Por isso, Sheila do Rocio Cercal dos Santos Leal" insiste em frisar que os

contratos êletrônicos não devem ser confundidos em contratos derivados da

informática ou informáticos, pois estes se caracterizam por possuírem objeto

contrâtual voltado ao ambiente digital, tais como contratos de fornecimento de

conteúdos a Websitê, de desenvolvimento de Websites, de criação e veiculação de

anúncios publicitários em lnteÍnet. dentre outros.

'GREGORES, Valéria Elias dê [,4êlo. Comprâ e Vênda Êletrônica e suas implicações, São Paulo:Método. 2006. o. 38.3 LEAL, Sheilâ do Rocio Cercal Santos. Contratos Eletrônicos, Vêlidade Jurídica dos Contfatos ViaInternet, Sáo Paulo: Atlas.2007 o.79.4 LEAL, Sheita do Rocio Cêrcal dantos. Contratos EleÍônicos, Validade Juridica dos Con{ratos ViaInternel. São Paulo: Atlas. 2007 0.79.

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Page 8: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

2. Formação dos contratos eletrônicos

Questão bastante controvertida e objeto de várias teorias, refere-se ao

momento em que se forma o contrato eletrônico, em rczão da necessidade dê se

ifixar quando se dá o efetivo acordo de vontade.

Sabemos que para validade do negócio jurídico, é mister a existência do

elemento vontade, e que, sem o mesmo, o negócio jurídico náo existe. Todavia,

também é de nosso conhecimento, que não basta apenas esse elemento, pois é

necessário que essa vontade sejâ manifestada, para que a outra parte tenha

conhecimento da efetiva intençâo de realização do negócio.

Daí porque muitos autores lecionam, com algumas dlvergências, que

versam sobÍe o presente(Subitem.,César Viterbo N4atos Santolim" assevera que

"especialmente no caso dos contratos por computador 'stricto sensu', a

manifestação da vontade é feita de forma tácita e, às vezes, através do silêncio

circunstanciado".

Ronaldo Alves de Andrade€, citando êm sua obra o ilustre Miguel Angel

Moreno Navarrete sustenta que o consentimento e a exteriorizaçáo da vontade

,humana podem se manifestar de diferentes formas (gestos, palavras, escritos, fax;

correio eletrônico, etc.), nâo êxistindo, portanto, um consentimento eletrônico, mas

sim uma forma eletrônica de consentir.

Para Valéria Elias de l\4elo GregoresT, todavia, a manifestação de vontade

nos contratos eletrônicos se apresenta da mesma forma que nos atos jurídìcos em

u SnltoLttrrt, Cesar Viterbo Matos, Formaçâo e êficácia probalóriâ dos comraros porcompuladof,São Paulor Saraiva, 1995, p. 286 NAVARRETE. Apud. ANDRADE, Ronaldo Alves. Contrato Eletrônico no Novo Código Cìvjl ê noçódigo de DeÍesa do Consumidor, Sào Pêulo: Manolê. 2004. p. 32.' GREGORES, VêlèÍia Elias de lúêlo. CompÉ ê Vendâ Eletrônica e suas implicações, São Pâulo:l\4étodo. 2006. o. 41.

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geral, uma vez que o computador é apenas o meio usado para a declaração dê

vontade. Explica a autora, ainda, que os meios util izados não câusam nenhuma

mudança na mânifestação da vontade.

No mesmo sentido, encontra-se o entendimento do professor Ronaldo

Alves de Andradee âo afirmar que a formaçáo do contrato eletrônico não difere dos

demais contratos; dá-se como em todo negócio jurídico, ou seja, pela convergência

da mânifestação de vontade das partes. Complementa, que a única distinção reside

na maneira como a vontade é manifestada, uma vez que no contrato eletrônÌco a

vontade dos contratantes é exteriorizada por meio de um instrumento tecnológico de

informática e transmitidâ de um computador a outro, de modo que a vontade de

contratar, tanto do policitante como do oblato não e transmitida diretamente a outra

parte contratante, mas para um computador.

2.1 Momento da formacão do contrato eletrônico

Para que possamos entender melhor o momento da formação dos

contratos eletrônicos, considerando se ele se deu entre presentes ou entre

ausentes, importanteéìos ensinamentos de Miguel Maria de Serpa Lopese no sentido

de que o conceito de contrato envolve a existência de um acordo de vontades, e que

esse acordo depende, necessariamente, de dois movimentos indispensáveis à

viabilidade de sua conclusão, qual seja a oferta e a acéitaçâo.

" ANDRADE, Ronaldo Alves. Contrato Elêtfónico no Novo Código Civil e no Código de Defesa doonsumidor, São Paulo: Manole. 2004, p. 32.

" LOPES, l\4iguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil: fontes da obrigação, conÍalo, RÌo dê JaneirolFreitas Bastos, 1996, v. 3, p. 99.

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De igual forma, o ilustre professor Silvìo Rodrigueslo afirma que íorma-se

o contrato pelo encontro concordante de duas declarações receptícias e, isso ocorre,

portanto, quando a proposta emanada do proponente (também chamado policitante)

é aceita pela pessoa a quem foi dirigida. isto é. o oblato.

Maria Helena Diniz", contudo, assevera que três são as fases para a

formação do contrato, quâis sejam a negociações prelìminares, â oferta e a

aceitaçâo. Assim, admite a incidência de responsabilidade de natureza

extracontratual:

Na hipólese de um dos pa{icipantes criar no ouko a expêctativa de que onegócio será celebfado, levando-o a despesas, a não contratar comtercekoou altefêr plênos de sua atividade imediata, e depois desislir,injustificada e arbikariamente, causando-lhe prejuÍzos, terá por isso, êobrigação de ressarcir todos os danos.

Como podemos observar, a doutrina não encontra muitas dificuldades na

conceituação do contrato que, em suma, define como o encontro de duas

declaração !e vontâde pârtindo de dois sujeitos diversos com um fim comum.

Salienta-se que a vontade é essencial para idêntificar o momento da formaçáo

contratual.

Torna-sê ainda mais importante o estudo relativo se formação do contrato

eletrônico se deu entre presentes ou ausentes, quando temos em mente que,

segundo o disposto no art. 427 do Código Civill2, a proposta obriga o proponente,

salvo quando o contrário constar de seus termos, da nâtureza do negócio proposto

ou das circunstâncias que cêrcam o caso concreto.

to ROOnIGUeS, Sitvio. Curso dé Dirèito Civi l . V. 3, São Pâulo: Saraiva. 2006, p. 68l^ DlNlZ, l\4aria Helena. Código Civil Anotado. São Paulo. Sarâiva. 2005,p. 410-413.' ' Código Civi l .2006, art. 427.

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Para Ronaldo Alvês de Andradel3, acontece o mesmo com o contraÌo

eletrônico sendo que a convergência de vontades ocorre e considerã-se formado o

contrato quando uma das partes fâz a oferta de contratar e outra manifesta sua

aceitação.

Porém. complementando com o entendimento de Valéria Elias de Melo

Gregoresl4, nos contratos eletrônicos essa oferta e posterior aceitação teria que

partir, obrigatoriamente, do meio eletrônico, sob pena de não se caracterizâr como

tal.

Nesse sentido, Guilherme Magalhães Martinsl5 assinala:

"a- Nas formas conlratuais em tela, a utilização do meio eletrônico,inobstante a verificâção de circunstâncÌas que lhe sào peculiares, não afastaa incidência da mesma variêdade de situações e êventos que podem virocoraêr na fase de formação dos contratos em geral,

Oportuno dizer, que a questão nodal da oferta de contratar sobreleva

quando feita entre partes fisicamente não presentes, por que nesses casos medeia

certo tempo entre a ofêúâ e a âceitação, sem que o ofertante ou o aceitante tenham

certeza de que suas manifestações de vontade tenham sido recebidas pela outra

parte. Portanto, podemos notar que há necessidade de verificar o momento e o lugar

em oue o contrato se considera formado.

Em outras palavras, a questão que trát. dificuldades aos doutrinadores é

quando o contrato é celebrado entre ausentes, A primeira dificuldade encerrada na

questão diz respeito à defìnição de ausênciâ, pois observamos que o Código Civill6

13 ANDRADE, Ronaldo Alvês. Contrato Eletrônico no Novo Código Civil e no Código de DeÍesa doConsumidor.São Paulo: Manole.2004. D. 32.la Gnecones, valériâ Elias dê l\4elo. compra e venda EleÌÍônca e suas implicações, são Paulo:l\4étodo. 2006. D. 43.'u luARTtt.tS, Guithêrme Mâgalhães. Formação dos Contratos Eletrônicos de Consumo Via tnternêl,Rio de Janeiro: Forense.2003. o.123.16 código civil. 2006, art. 428, cãput.

2l

Page 12: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

não a da, limitando-se a mencionar tal circunstância quando no art. 428 regula a

questão atinente à náo obrigatoriedade da proposta.

Segundo Ronaldo Alves de Andrâde17, a ausência não seria física, mas

decorrente da Ìmpossibilidade de contato imediato, de forma que se considera entre

presentes o contrato em quê a proposta seja imediatamente conhecida pelo oblato.

Ou seja, o oblato emite sua aceìtação, a qual é imediâtamente conhecida

pelo proponente. lsso porque, afirma que daí a previsão legal no sentido de ser entre

presentes o contrato celebrado pelo telefone; pois esse meio de comunicação

permite que a proposta e a aceitaçâo sejam prontamente conhecidas pelas partes,

inexistindo qualquer dlstância no que concerne ao conhecimento da proposta e da

acêitação.

Desta feita, assevera o ilustre autor, que a contratação eletrônica será

cêlebrada entre presentes quando for feìta on line, vale dìzer, quando os

computadores do proponente estiverem ligados e Íisicamente conectados um ao

outro por uma linha telemática - telefônica - no momento da celebração da avença,

de forma que a proposta remetida ao proponente possa ser imediatamente recebida

pelo oblato, que por seu turno poderá de imediato enviar sua aceitação.

O mesmo autorls também classifica contrâto eletrônico entre presentes, a

contratação decorrente de oferta pública feita em site, tendo em vista que o site

funciona como um estâbelecimento tal qual dispóe em um câtálogo eletrônìco

produtos e sêrviços.

Assevera, âindâ, que as empresas que celebram contrato pela internet, a

maìoria das vezes se tratando de compra e venda, ofertam seus produtos ou

' ANDRADE, Ronaldo Alves. Contrato Életrónico no Novo Código Civil e no Código de DeÍêsa doConsumidof.São Paulo: l\4ânole. 2004. p. 36.tu ANDRADE, Ronaldo Alves- contrâto Eletrônico no Novo código civil e no Código de DeÍesa doConsumidor.São Paulo: l \4anole. 2004. p. 41.

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Page 13: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

serviços em um site e quem quiser contratar precisará apenas acessalo e enviar a

aceitaçáo ao contrato ofertado.

No que tange a celebração

Andradels assinala que ocorrerá quando

comunicaçáo simultânea, sendo cefto

computador do oblato estiver off l ine,

computadores na qual está conectado o

Como exemplo, cita o autoÍ o e-mail.

Sheila do Rocio Cercal Santos Leal2o, com base no arl.. 428 do Código

Civil Brasileìro de 2002, concluiu quanto ao momento da formação do contrato

eletrônico da seguinte forma:

a) se a contrataçáo for interpessoal

simultânea, com manifestação imediata dâ vontade do

aceitante e do ofertante, como no sistema lCQ,

videoconferência, ou similares, considera o contrato

entre presentes e formado no momento imediatamente

posterior ao da oferta;

b) se a contratação for interpessoal náo

sìmultânea, como por êxemplo, por meio de correio

eletrônico, o contrâto deve sêr equiparado ao contrato

epistolar e, como tal será considerado entÍe ausentes

tu ANDRADE, Ronaldo Alves. Contrato Elêtrônìco no Novo Código Civilconsumidor.São Paulo: l\4anole. 2004. p. 43.20 LEAL, sheiìa do Rocio cefcal Santos. contfatos Êletrônìcos, ValidadeInternet, São Paulor Atlas.2007 p. 114.

do contrato eletrônìco entre ausentes,

não for cêlebrado on line, ou seja, por

que tal situação ocorrerá quando o

vâle dizer, não conectado à rede de

computador do ofertante ou policitante

ê no Código de Defesa do

Jurídica dos Contfatos Via

Page 14: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

e formado no momento em que a mensagem

eletrônicâ é expedida.

c) sê a contratação for interâtiva (sem a

presença simultânea do fornecedor e do consumidor),

medìante o que se convencionou chamar de estado de

oferta pública permanente, considera-se o contrato

entÍe ausentes e, nêssa condiçáo concluido no

momento em que a aceitâçáo é expedida pelo usuário

da lnternet.

Note-se que nessa última classificaçâo, a autora não admite a oferta

pública como um meio de contrataçáo entre ausentes, afirmando que nessa

modalidade de contratar não existe a presença simultânea do fornecedor e do

consumÌdor.

Nessa mêsma linhâ, importante o ensinamento de Valéria Gregores2l

explicando que "toda vez que as partes estiverem conectadas num mêsmo sltê ou

dentro de uma sala de bate-papo, ou mesmo através de Chat, ou programas como

lCQ, Messenger etc., onde as pessoas conversam diretamente, ou seja' on /inê e,

através desses meios, fizerem proposta e aceitação de forma imediata e direta, o

contrato é tido com entre presentes, e seus efeitos são produzido imediatamente".

Entretanto, preceitua a mesma autora que "quando a oferta for feita

através de siÍes, que deixam as ofertas abertas permanentemente ao público em

geral ou mesmo à própria parte, através do e-mâiì enviado à pessoa específìca, e o

'' GREGOREs, valéria Elias de lMelo. Compra e venda Eletrônica e suas implicaçôes' são Paulo:Método. 2006, p. 46.

Page 15: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

oblato enviar posteriormente a aceitação, entendemos que o contrato é formado

entre ausentes, face o lapso temporal entre a oferta e aceitâção".

Cumpre-nos. saliànta que, Andrade22 entende que é contrato formado

entre presentes, tendo o site como apenâs um estabelecimento on line e para

contratâr o produto ali exposado, basta acessálo ê aceitar a oferta, muito embora

concorde com o entendimento que o e-mail é contrato formado entre ausenres.

Aliás, impoúante a colocação de Paulo Sá Elias23, explicando que náo há

como considerar o e-mail tradicional como comunicação entre presentes, tendo em

vista a quebra de instantaneidade, pois, ao enviar e-mail, nâo é possível garantir em

que momento chegará ao destino desejado.

Podemos verificar, que âtravés do meio elêtrônico, efetivâmênte há a

possibilìdade de formação de um vínculo jurídico capaz de gerar todos os efeitos

comuns realizadas pelos meios convencionais,

2.2 Localda formação do contrato eletrônico

O Código Civil Brasileiro dispõe em seu artigo 43S, que o local de

formaçâo do contrâto será aquele onde foi proposto. No entanto, a internet e capaz

de ligar pessoas de um lugar ao outro do pianeta, mediante o envio e recepção de

mensagem eletrônica simultânea. Daí a começar uma série de duvidas sobre o local

exato da formação do contrato eletrônico, que veremos a seguir.

- ANDRADE, Ronaldo Alves. Contrato Eletrônico no Novo Código Civil e no Código de Defesa doConsumidor, São Paulot N4anole. 2004, p. 43._ ELIAS, Paulo de Sá, Breves consjderações sobre â foÍmação do vÍnculo conhâhlêl e a internel,Rêvista de Direito Privado, São Paulo, Revisla dos TÍìbunais, n. 6, p. 197, êbr_-jun. 2001.

Page 16: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

Para Sheila Leal2a, o contrato eletrônico interpessoal (ex: MSN, chât,

videoconferência), é possível determinar tecnicâmente o local onde foi iniciada a

comunicação, por conseguinte, estabelecendo onde a proposta Íoi gerada. Contudo,

complementa que em se tratando de contratos eletrônicos interativos, a contratação

sê reâliza através de um website. lsso significa, que o titular pode estar em um local,

o domínio ou endereço físico em um outro terrìtório, o servidor ou endereço físico em

uma terceira localidade e o cliente ou usuário do site em um quarto local.

Uma das solução apontadas pela autorã para solução do problema é a

aplicação do disposto no aÍtigo da lei Modelo da Uncitral (Comércio Eletrônico da

United Nations Comission on lnternational Trade Law), posto que, de acordo com

êste dispositivo, uma declaração eletrônica será considerada expedida e recebida no

local onde o remetente e o destinatário. respectivamente, tenham seu

estabelecimento.

Percebe-se que nessa visáo, não se leva em consideração nem o

endereço do website, nem o endereço físico do servidor, mas sim o local do

domicÍlio ou estabelecimento das paúes. Leâ1, acrescenta, ainda, que caso o

remêtente ou destinatário não possuam estabelecimento, considera-se como tal o

local de suâ residência atual.

Para ANDRADE25, também citando a lei modelo da Uncitrâ|, sustenta na

mesma linha, afirmando que o contrato eletrônico celebrado por computador móvel

(lap top, notebook, pâlm top, etc...), "é na verdade uma extensáo do domicílio do

contratante, mormente se considerarmos que a tecnologia informática hoje permite

que uma pessoa carregue em um computador portátil um verdadeiro escritório, de

'o LEAL, sheila do Rocio cercal santos- contraloslnternet. São Paulo: Atlas.2007 p. 117-118.'u ANDRADE, Ronaldo A'ves. Contrato EletfônicoConsumldor.São Paulo: Manolé. 2004. 0. 48.

Eletrónicos, Validade Juridica dos Contratos Via

no Novo Código Civil e no Código de Defesa do

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Page 17: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

forma que essa máquina em realidade é uma parte do espaço físico e do domicílio

de uma pessoa".

Destarte, no entendimento do autor o computador está sendo util izado

como mero instrumento, não podendo por isso ser considerado o local onde está

situado como o locâl do contrato, pois os efeitos da relação jurídica seráo produzidos

nos domicílìos dos respectivos contratantes, e não necessariamente onde está

locâlizado o computador.

Vê-se, que com relação ao local de formação do contrato eletrônico, a

doutrina não encontra muitas justificâtivas para ensinâr que ocorre no domicílio do

proponente. A saída jurídica que encontram para sustentaçâo dessa tese, está

escorada tão somente na referida lei modelo da Uncitral.

No entanto, o mesmo não ocorre quândo questionamos qual serÌa a

jurisdição ou lei aplicável nos contratos eletrônicos internacionais. lsso porque, na

hipótese da compra ter sido efetuada pela Internet, por ofertantê e consumidor que

encontram em território diversos, surge uma série de complicãçóes no sentido de

definìr quâl legislação que será aplicada.

Contudo, no que tange a legislaçáo a ser aplicada, discutiremos mais

adiante, no câpítulo ll l, sendo que é considerado um momento mais oportuno para

nosso trabalho.

2'7

Page 18: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

CAPITULO II

VALIDADE E FORÇA PROBANTE DO CONTRATO ELETRÔNICO

2. 1 Considerações Preliminares

Os contratos eletrônicos apresentam discussões polêmicas quanto à

validade, vez que, para alguns doutrÌnadores, os contratos eletrônicos não podem

ser efetivamente tratados como documentos jurídicos devido a insegurança que

proporcionam ao se contratar eletronicâmente, para outros, o contrato firmado

eletronicamente se enquadra perfeitamente no conceito legal de documento, eis que

podem representar um ato ou fato jurídico e sua validadê dêpende dâ câpacidade de

mântê-lo íntegro e não deteriorável para manter sua confiabilidade.

Neste contexto, é perfeitamente é aplicável o entendimento de Sheila

Leal26, quando aduz que o contrato, ao lado de suas funções social e econômica,

desempenha também o pâpel de proporcionar segurança e estabilidade aos

respectivos contratantes, de modo que a validade jurÍdica dos contratos está

estritamente ligada com a sua função básica de outorgar segurança às partes que

dele participam,

Os maiores problemas, dentre tantos, de se contratar eletronicamente é a

veracidade da idêntidade das partes, posto que estas não se presumem; o

resguardo da integridade do conteúdo do contrato, que é vulnerável a violaçâo, o

que o torna uma prova frágil para o processo, de modo a ser recomendável atribuir

ao documento caráter indiciário de início de prova; e ausência de assìnatura de

próprio punho dos contratantes, sendo legâlmente válida a utilização de assinatura

digital ou criptografia.

tt LEAL, Sheila do Rocio Cercalsêntos. Contfatos Elêtfônicos, Validade Jurídica dos Contrâtos Vialnternet. São Paulo: Atlas.2007 b.129.

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Page 19: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

Não obstante, quando o contrâto celebrâdo por meio eletrônico não for

fixado em nenhum suporte eletrônico, inexistirá qualquer documento físico

comprovando a feitura do contrato, sendo nesse caso a avença contratual

âssemelhada ao contrato celebrado verbalmente, uma vez oue nessas formas

contratuais inexiste base física representativa da realização do contrato

Ainda que o contrato eletrônìco seja um documento com menores

formalidades que o contrato escrito, historicamente, alguns doutrinadores têm

definido o documênto como algo mâterial, uma representação exterior do fato que se

quer provar.

Neste sentido, é válida a definição de CHIOVENDA,T, para quem

"documento, em sentido amplo, é toda representaçáo material destinada a

reproduzir determinada manifestaçâo do pensamento, como uma voz fixada

duradouramente".

Em face dâ legìslação vigente, as mensagens eletrônicas sâo tratadas

como provâ circunstancial da transaçáo ou contrato, mas não propriamente como

um escrito. O documento eletrônico deve ser aceito como prova, a partir do princípio

do livre convencimento do juiz, na forma do art. 332 do Código de Processo Civil28,

em cujos termos são hábeis para provar a verdade dos fatos, ainda que não

nominados, todos os meios legais e moralmente legítimos.

E célebre opinião do Mestre Dr. Ronaldo Alves de Andrade2s, ao aduzir

que o contrato firmado eletronicamente constitui um documênto criado Dara

representar um ato jurídico emanâdo da mente humana, ou seja, documento indireto

' ' CHIOVENDA, lnsl i tuições de Diíeito PÍocessualCivi l . vol. 3. p.127.'" Estabelece in verbls quê: "todos os meios legaÍs, bem como os moralmente legítirnos, ainda quenão especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, êm que se funda a açãoou a dêfesâ"." ANDRADE, Ronaldo Alves. Contrato Etetrônico no Novo Código Civil ê no Código de Defesa doConsumidof, São Paulo: l \4anolê. 2004. D. 90

29

Page 20: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

oe prova, que representâ diretamentê um fato, sem intervenção da mente humanâ.

Ressalta-se que o sistemâ processual brasileiÍo não faz distinçâo quanto à forçâ

probante do documento escrito e da reprodução mecânicâ prevista no art.3g3 do

Código de Processo Civil.

Em consideração que o contrato eletrônico vem decatcaoo num

documento não vedado por lei, é plena e legalmente admissível a sua realização por

meio eletrônico. Na mesma direção caminhou Flávio Luiz yarshell3o, ao âssentar

que: "o documento é plenamente admissivel como meio de prova, desqe que para

tanto, sejam observadas as garantias individuais constitucionalmente previstas e os

princípios de ordem pública."

Oportuno ressaltar ainda que, no direito comparado, a Lei Modelo sobre

Comércio Elehônico da UNCITRAL trouxe alguns princípios, no sentjdo de dar

suporte ao documento crlado eletronicamente. pelo princípio da equjvalência

funcional, decorre a regra de que nenhum ato jurídjco pode ser considerado inválido

pelo simples fato de ter sido celebrado por transmissão eletrônica, bem como que o

suporte eletrônico cumpre as mesmas funções do documento tradicional.

Trata da eficácia jurídica dos documentos eletrônicos, o projeto de Lei

sobre o Comércio Eletrônico da Ordem das Advogados do Brasil, em seu an. 14 que

dispôe ,'h yerblb:

"Art. 14. Considera-se original o documento eleÍônico assinado pelo seu

autor mediante sistema criptográfico de chave pública.

3:Y.1RSï"EL!, Ftávio Luiz, Efìcácia probatôria do documento etetrônjco. Rêpertório tOB deJutsprudência. Caderno 3. 0.489.

30

Page 21: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

S1.o Consìdera-se cópia o documento eletrônÌco resultante da digitalização

de documento físico, bem como a materialização física de documento eletrônico

original.

S2.o Presumem-se conformes o original, as cópias mencionadas no

parágrafo antêrior, quando

No entanto, embora ausente uma legislação especíÍica para o termo

eletrônico, náo há nenhum impedimento de que o documento eletrônico seja

relacionado como uma nova espécie de prova, pois se não for submetido a nenhuma

ação externa no sentido de alterá-lo, é perfeitamente apto a provar a verdade dos

fatos, como qualquer outro documento.

2.2 Documênto Eletrônico

Moacyr Amaral dos Santos3l entende documento como sendo a "coisa

representativa de um fato e destinada a fixá-lo de modo permanente e idôneo,

rêproduzindo-o em juí2o".

Partindo de tal premissa, o documento eletrônìco pode ser entendido

como a descrição de um fato definido por meio de um computador e armazenado em

formato específico, capaz de ser traduzido ou âpreendido pelos sentidos mediante o

emprego de programa aproprìado.

31 SANTOS, MoacyrAmaral. Primeiras l inhas de direito processual civi l .18. ed. São Paulo: Saraiva,1997. V. 2. o. 385.

31

Page 22: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

Ou ainda, conforme o conceito de Marcacini3z, documento eletrônico é

uma seqüêncìa de biÍs que, traduzida por meio determinado programa de

computador, seja representativa de um fato.

O Projeto de Leì Brasileiro no 4.906/01, em seu 20 artigo, inciso I, define

documento eletrônico como "a informação gerada, enviada, recebida, armazenada

ou comunicada por meios eletrônicos, ópticos, opto-eletrônicos ou similafes "

A legislação possibilita, através da Lei no 9.800, de 26 de maio de 1999, a

utìlìzaçáo de fac-simile ou similar para a prática de atos que dependam de petição

escrita, permitindo assim, a transmissão de documentos por meio de redes de

comunicação entre computadores.

Conforme a definição de Mauricio Mattes3, os documentos eletrônicos,

assim como os tradicionais, podem ser representativos de um fato (e talvez com

maìor capacidade, uma vez que guardam além dos caracteres, imagens, sons e

outras informações que o papel tradicional nâo poderia dê igual forma), preservando

as demais câracterlsticas do tradicional, como a possibilidade de consulta ulterior do

contêúdo nele contido.

Sheila Leal3a, difeÍencia o documento tradìcional materializado do

documento eletrônico. No quâl aquele comporta a quâlìficâção em documento

original (único) e cópiâs (reproduções). Já o documento eletrônico pode ser

transferìdo e armazenado em outros computadores, em disco flexíveis, em CDs, sem

perder a característica de documento dìgital. Pode ser reproduzido infinitas vezes e,

desde que sejã seguida a mesma seqüência de bits, Ter-se-há sempre o mesmo

3'? l\4ARcAClNl, Augusto Tavares Rosa. Direìlo e iníormática: uma abordagem jurÍdica sobrê

"cJiptografia. Rio de Janeiro: Forensê, 2002, p. 66." IúATTE, l\4auÍicio. Internet ComeÍcio elêtron co São Paulo: LTr. 2001, p. 66.to LEAL, Sherla do Rocio Cercal Sanlos. Contfatos EletÍônicos, Validade Jurídica dos Conlratos Vialnternet. São Pâulo: Atlas. 2007 p. i52.

32

Page 23: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

documento, nzâo pela qual não se pode falar em original e em cópia do documento

eletrônico.

Ronaldo Alves de Andrade35 acrescenta que trata-se de documento

escrìto, na mêdida em quê qualquer que seja a base eletrônìca dê dados, o que nela

estiver inserido estará em linguagem escrita, codificâda é verdade, mas que

possibìlìta conversão para a linguagem escrita usual e para documento cartáceo.

Todavia, como não se trata de linguagem escrita natural, não produzirá os efeitos do

art. 368 do Código dê Processo.civil, cuja redaçáo estabelece que "as declarações

constantes do documento particular, escrito e assinado, ou somente assinado,

pÍesumem-sê verdadeiras em relação ao signatário". lsto porque, na época da

ediçáo do referido diploma legal, não se falava em documento eletrônico, e como

não se pode equiparar, no plano legal, a assinatura manuscrita 'a digital, também

não é possÍvel, sob o prisma do Código de Processo Civì|, equiparar legalmente o

documento eletrônico ao escrito, embora no plano da realidade, tanto o documento

escrito sobre papel quanto o escrito sobre suporte material eletrônico sejam

documentos escritos.

2.3. Elementos de validade dos contratos eletrônicos

Os contratos eletrônicos. como todos os mais, devem satisfazer

determinadas condições quê digam respeito ao seu objeto, que deve ser lícito em

conformidade com a lei, à sua forma e às partes capazes.

'u ANDRADE, Ronaldo Alves. Contrato Eletrônico no Novo Código Civil e no Código de Dêfesa doConsumidor. São Paulo: l\4anole. 2004. D. 63

33

Page 24: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

Neste sentido, o autor Luis Henrique Ventura36 aduz que se estas sáo as

condições de validade dos contratos em geral, também são as condiçÕes de

validade de um contrato por meio eletrônico. Tendo em vista que ainda não há lei

específìca que estabeleça condições especiaìs para o contrato eletrônico, taìs como

um ambiente seguro.

A segurança da contratação eletrônica provém, primeiramente, da

autenticidade das partes contratantes em que se possa identificâr a sua capacidade

jurídica para o advento. Deste modo, se faz necessário que os mecanismos de

segurânçâ eletrônìcos garantam que o documento, de fato, se refira ao seu autor.

Sheila Leal37 acrescenta que a validade de um documento eletrônico

depende de sua autenticidade, que pode ser obtida pelo desenvolvimento de um

processo que confiÍme a identìdade das partês e garanta a fonte das mensagens

eletrônicas.

Afirma, ainda neste sentido, Cersar Viterbo Santolim3E que para a

manifestação de vontade seja levada a efeito por um meio eletrônico (isto é, não

dotado de suporte cartáceo, que se constitui no meio tradicional de elaboraçâo de

documentos), é fundamental que estejam atendidos dois requisitos de validade, sem

os quais tal procedimento será inadmissível:

â) o meio utilizâdo não deve ser adulterável sem deixar vestígios; e

b) deve ser possível a identificação do emitente da vontade registrada.

tt VENTURA, Luis Henrique. comércio e contratos eletrônicos: aspêcios juÍdicos. Bauru, SPr Edipro,4001. P. 48.'' LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos Elêtrônicos, Validade Jurídica dos Contfatos Vialnternet. São Paulo: Atlas.2007 o.154.33 SANTOLIM, César Vjtêúo Matos. Fofmaçâo e eficácia probâtóriâ dos contralos por computador.São Paulor Saraiva. i995. o.33.

34

Page 25: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

Outro reouisito de validade dos contratos eletrônicos é a confidencialidade

dos dados dos contratantes, pois os contratos realizados êm ambientes digitais

devem assegurâr aos contratantes privacidade e segurança de sigilo de dados da

transação.

A exteriorização inequívoca das vontades dos contratantes inseridas em

documentos eletrônicos estâo sujeitas a vários graus de modificaçáo e podem ser

facilmente alterados resultando na adulteração do próprio conteúdo e/ou do objeto

do contrato.

Ensinâ Augusto Tavares Marcacini3e que não estando presos aos mêios

em que foram gravados, os documentos eletrônicos são prontamente alteráveis,

sem deixar qualquer vestÍgio físico. Textos, imagens ou sons, são facilmente

modificados pelos próprios programas de computador que os produziram, ou se não,

por outros programas que permitam editá-los, byÍe por byÍe.

A integridade do contrato eletrônico, sendo também um requisito de

validade, está associada ao fato de se poder assegurar que o documento não sofreu

qualquer tipo de alteraçâo, fraude ou adulteraçâo dê conteúdo, sem que isto possa

ser percebido.

Deve-se observar ainda que para a segurança da contratação em meio

eletrônico consubstanciada em documentos eletrônicos, é imprescindível a dataçâo.

Não bastasse todos os requisitos ora listados. encontra-sê nâ doutrina o

requisito do não repúdio, que tem por finalidâde a prova perante terceiros, de que

uma mensagem eletrônica foì devidamente realizada, admitìda e anviada por

determinada pessoa e recebida por outra.

3e IVARCACINI, Auguslo Tavafes Rosa. Direito e informálicâ: umâ âbordagèm jurídicâ sobrecriptografia. Rio de Janei.o: Fofensê, 2002, p. 32.

35

Page 26: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

Sheila Lealao aduz que a não rejeição tem por finalidade garantir que o

remetente de uma mensagem eletrônica não tenha a possibilidade de negar o seu

envio e as informâções nêla contidas e, de igual modo, o receptor não possa se

esquivar de haver recebido a mensagem, repudiando-a. Para, tanto, deve haver

segurança quanto à identidade do emissor e do receptor e à integridade da

mensagem âtravés do sistema de assinatura digital com criptografia assìmétrica.

2.4. Assinatura Digital

Na definiçâo de Marcacinial, a assinâtura digital é o resultado de uma

operação matemática, utilizando âlgoritmos de criptografia assimétrica, e não se

confunde com a imagem dìgitalizada de uma assinatura manuscrita, nem tampouco

com uma senha de âcêsso usada para adentrar sistemas variados, como, por

exemplo, o acesso à intemet ou à caixa do correio eletrônico.

Neste sentido, Valéria Gregoresa2, sustênta que a assinatura de um

documento tem por finalidade identificar autoria e a veracidade do seu conteúdo,

devendo, portanto, a identificaçáo ser feita por meio idôneo e sêguro, que não

permita a sua modificação. E diante da necessidade de certeza e veracidade da

autoria do documento informático, surgiu a denominada assinatura eletrônica, assim ,

iaghamada porque necessita de meios informáticos para a sua efetivaçáo.

oo LEAL, Sheila do nocio Cercal Santos. Contratos Eletrônicos, Vêlidadê JurÍdica dos Contratos ViaInternet. São Paulo: Atlas. 2007 0.156.41 MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Difeito e informátìca: uma abordagem jurÍdica sobrecJiptografia. Rio dê Janêiroi Forcnse,2002, p.32." GREGORES, Valéria Elias de lllelo. Compra e venda êletrônica e suas implicações. São Pauloll\4étodo. 2006. o. 89.

36

Page 27: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

Sheila Leâl 43 observa que as assinaturas dìgitais preenche, os requisitos

de autenticidade, integridade e não repúdio dos documentos eletrônicos. A

identidâde do "signatário" da firma eletrônica é feita pela prova da posse da chave

privada. Ao encriptâr a mensagem com sua chave privada, o autor sabe que só a

sua chavê pública correspondente poderá decifrá-la, assim, o destinâtário da

mensagem, ao aplicâr a chave públicâ, pode verificar a autenticidade da mensagem

e a identìdade do emitente.

A lei modelo da UNICITRAL. elâborada em 1996. com a adicão do aÍt. 5o

em 1998, estabelece que não será negado efeito legal ao documento apenas por

Ter sido elaborado por meio eletrônico, sendo certo que o a(. 60 equipara o

documento eletrônico ao documento material e o aft, 76 complementa o

reconhecimento lêgãl da âludida criação eletrônica, equiparando a assinatura

autógrafa à assinatura eletrônica.

Para garantir a invioiabilidade dos documentos eletrônicos, foi criado um

sìstema dê segurança que tem como base um processo de codificação secreta. A

criptografia.

Esse método possibilita a imutabilidade do documento, visto que, funciona

com a util ização de duas chaves dìstintas: a chave privada, que é êxciusiva e fica

em poder do proprietário do sistema, e uma chave pública que é dishibuída para

todos com quem mantém contato.

Segundo Ronaldo de Andradeaa esse sistema garante nâo só a assinatura

digital identificadora do emitente, como também a inviolabilidade do conteúdo da

mensagem, uma vez que, tecnicamente, é praticamente impossível â adulteração da

a3 LEAL, Sheila do Rocio Cercâl Sanlôs. ConÍatos Eletrônicos, validâde Jurídi6a dos Contratos vialnternet. São Paulo: Atlas. 2007 o. 163.'. ANDRADE, Ronaldo Alves. Contrato Eletrônico no Novo Código Civil e no Código dê Defêsa doConsumidor. São Pâulo: lManole.2004. o.71

Page 28: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

assinaturâ e do conteúdo de mensagem, uma vez que a chave só abre o documento

assinado digitalmente, de forma que se ele for alterado a chave náo abrirá, sendo,

dessa formâ, possível saber se o documento foi adulterado.

Assim, o sistema de criptografia torna o contrato eletrônico imutávê|,

portanto, para cada documênto distinto, sefá util izada uma assinatura digital,

oferecendo maior segurança e autenticidade ao documento eletrônico.

O mesmo autor citando Renâto Muller e Sérgio Ricardo Gonçaìvesa5, aduz

que sustentam a tese de que a crìptografia autentica o documento e é capaz de

gerar conseqüências, poìs prova ao destinatário que o subscritor assinou o

documento, tornando-o uma manifestação ìnequívoca da suâ vontade; não se pode

ser falsificada, pois somente o subscritor tem esta chave que lhe permite assiná-lo

(esta pÍesunção depende do autor manter sua chave em sigilo e de acordo ditames

que lhe forem impostos pela autoridade certificadora); não podê ser usada de novo,

pois ela se amolda ao documento em sua essênciâ e, como tal, não pode ser

transferida; impede que o documento seja modificâdo em qualquer de suas

câracterísticas depois de assìnado pelo autor, em virtude de se amoldar ao conteúdo

existênte no momento em que foi apostâ ao texto; não pode ser contestada se

util izar um sistema aprovado e estiver com sua certificaçáo válìda. Torna-se uma

prova de que o signatário marcou o documento.

A assinatura digitâl pode ser aplicada por qualquer indivíduo que tenha

conhecimento da senha ou código de seguranç4, é passível, legalmente, a util ização

por terceiros, porém é ilícito quando esses dados sigilosos são obtidos por meio de

fraude e utiìizados indevidamente, sendo, nesse caso, difícil a comprovação, uma

vez oue não há como se definir quem a util izou.

" 'ANDRAoE APUD. BLUlvl, Renato Muller da Silvâ Opicê, GONçALVES, Ricardo NIârques. Asassinaluras eletrônicas e o direito brasileifo, cit., p. 303.

38

Page 29: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

da nulidade das cláusulas abusivas, poìs o consumidor, em geral pârte ma fraca do

contrâto, poderá ser extremamente prejudicado pela inserção de cláusula eletiva de

foro que estabeleça a competência territorial do fornecedor, que poderá estar

domiciliado em locaì distante e ou inacêssível.

Complementa o autor sustentando que "além disso, há a questão da

soberania, na qual um país não pode impor a âplicação de sua lei e jurisdiçâo fora

dos seus limites territoriais, quanto mais num espaço que agrupa hoje mais de cem

milhÕes de pessoas espâlhas por todo o mundo num espaço virtual,"

63

Page 30: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

coNcLUsÃo

De forma inquestionável, câdâ vez mais os computadores ligado à rede

mundial de computadores está sendo usado para realizações de transaçóes

comerciais, principalmente a compra e venda.

Face toda essa evolução tecnológica, muito embora muitos autores

afirmem que no Brasil a internet ainda estejâ dando seus primeiros passos, se faz

necêssária uma reflêxão dos conceitos jurÍdicos, para aplicação por esse novo meio

de contratar.

Verificamos no presente trabalho que, de forma pacífica, a doutrina

caracteriza o contrato eletrônico como apenas um novo meio dê contrâtar, portanto,

não se trata de um novo tipo de contrato inonimado, sendo certo que, salvo quando

a lei exigir forma específica para contratar, o contrato eletrônico poderá servir de

meio para celebração de qualquer contrato.

Entendemos que o contrato eletrônico é materialmente representado em

mldia elekônica, como por exemplo, CD, disquete, vídeo, etc., denominado

documento eletrônico, escrito em linguagem codifica de bits. Partindo dessa

premissa, o documento eletrônico pode ser digitâlmente assinado com a utilização

de um código, que permite a perfeita identificaçáo do contratante (assinatura

eletÍônica), de forma mais segura que a assinâtura autógrafa, que podemos

constatar ser falsificada mais facìlmente que a eletrônica.

Não obstante a ausência de lei própria pâra regulamentação dos contratos

eletÍônìcos, náo estão desprovidos de validade e obrigatoriedade jurídica, pojs,

conforme já sustentado anteriormente, a inovação trazida com a contrâtâção em

64

Page 31: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

meio eletrônico, via internet, diz respeito âo meio em que se opera a contratação e

não à natureza jurídica do contrato.

Nos contratos eletrônicos de consumo, as partes devem agir com boa-fé

objetìva, oportunidade em que o fornecedor deve informar o consumidor sobre todas

as qualidades do produto, identificação do fornecedor, confirmação da aceitação da

proposta e aviso explícito quanto ao direito de arrependimento previsto no art.49 do

Código de Defesa do Consumidor.

Por outro lado, o consumidor tâmbém dêve agir com extrema boa-fé ao

fazer valer esse direito, sendo certo que nâ ocasião de conhecer perfeitamente o

produto, ou o fornecedor der a oportunidade dele conhecê-lo antes da compra - por

exemplo na compra de um carro viâ intêrnet um convite explícito do fornecedor para

realização de um teste - drive - não deve ser aplicado o referido dispositivo em favor

do consumidor.

PoÍ fim, concluÍmos que, embora o contrato eletrônico seja recepcionado

pelo Código de Defesa do Consumidor ê demais legislaçôes pertinen€s, somenre

com uma lei especifica voltada à regulamentação do comércio e contratação em

meio eletrônico, criará uma esfera maior de confiança na contrataçáo em meio

viÍuale contribuirá por demais no desenvolvimento do comércio eletrônico no Brasil.

o)

Page 32: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

BIBLIOGRAFIA

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VENTURA, Luis Henrique. Comércio e contratos eletÍônicos: aspectos jurÍdicos.Bauru, SP: Edipro, 2001.

67

Page 34: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

Verificamos também que, muitos âutore: sustentam no sentido que

assinatura digital é efetivamente assinatura, de natureza diferente da autógrafa, é

verdade, mas assinatura, uma vez que cumpre a mesma função daquêla, sobretudo

quando se tratã de assinatura autógrafa ilegível, que nem sequer permite

identificação por perícia grafológica.

Concluindo, ainda, que a util ização da assinatura dÌgital não tem a

finalidade de substituir a assinatura autógrafa, mas apenas, servindo-se do avanço

tecnológico e dâ necessidade de um meio próprio de identificação das pessoas no

comércio eletrônico e, por conseqüência, trãzer uma maior segurança aos

contratantes.

2.5. Firma eletrônica e disoositivos util izáveis

Para a validade de um documento eletrônico, faz-se nêcessária a

presença de uma entidade com autoridade certificadorâ, que a finalidade de reunir

dados necessários para identificaçâo de cada portador das chaves, trazendo

segurança aos contratantes, principalmente quanto à cêrteza de identidade dê quem

utiliza.

David Dinizao âlerta sobre a necessidade de procedimentos que

determinem a pertinência do par de chaves e seu prazo de validade, com o correlato

direito a repudiálas caso estejam vencidas, ou sejâ, detectada fraude, o que pode

ser feito por uma entidade certificadora.

46 DlNlz, David Monteiro. Documentos eletrônicos: assÌnaturas digitais. São Paulo: LTr, 1999, p. 33

39

Page 35: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

Sendo esta autoridade, um órgão independente, todavia têm quer ser

habilitado legalmente para exercer funções semelhantes às dos cartórios

convencionâis. Em virtude desta similitude de funcóes, esta âutoridade têm recebido

o nome de caftóio digital.

Discrimina Vatéria GregoresaT, que a função desta autoridade é criar um

par de chaves criptográficas para o usuário, possibilitar a publicidade das chaves

públicas numa lista ou num repositório que possâ ser consultado por qualquer

interessado, bem como atestaÍ a identidade do mesmo. Posteriormente a aferição

da identidade física do usuário é que a certificadora poderá emitir uma espécie de

certificado contendo a chave pública para o acesso do documento.

Neste sêntido, o documento eletrônico se trata de um documento

autêntico, cujo valor deve ser legâlmente equiparado ao de um documento notarial

cujo conteúdo deve ser cuidadosamente espêcificado pela lei, sendo basicamente

composto pelo nome e demais elementos de identificaçáo da pessoa do titular, da

chave pública que lhe é atribuída e da assinatura digital ê chave pública da

autoridade certificadora.

Complêmentando, Sheila Lealas exemplifica que a certificação digital pode

ser usada para várias finalidâdes, desde as operaçÕes mais sìmples, como

identificar o grupo de amigos que sê comunica em tempo rcal, na intemet, atë a

identificação segura dâs partes de um contrato eletrônico cujo objetivo envolva uma

transação de milhões de reais. Assim, dependendo do grau de confiança que se

pretenda conferir à certificação, variam os seus procedimentos.

" GREGORES, Valéfia Elias de Melo. Compra e venda elêtrônica e suas implicações. São Paulo:l\4étodo. 2006. D. 95.ot LEAL, Sheilado Rocio Cercal Santos. Conlratos Elêtónicos. Validâdê JuÍdicâ dos Contratos ViaInlernet, São Paulo:Atlâs. 2007 o. '164.

40

Page 36: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

O Projeto de Lei Brâsileiro

requisitos a serem observados para os

em juÍzo:

no 4.906i01, no artigo 11, prescreve os

certificados digitais tenham valor probante

Art. 1'1. Para fazer prova, em juízo,, em relaçáo âo titular indicado no

certìficado, é necessário que, no ato de sua expedição:

l- o titulâr tenha sido pessoalmente idêntificâdo pelâ autoridade

ceÍificadorâi

ll - o titular haja reconhecido ser o detentor da chave privada

correspondente à chave pública para a qual tenha solicitado o certificado;

ll l - tenham sido arquivados registros Íísicos comprobatórìos dos fatos

previstos nos incisos anteriores, assinados pelo titular.

Nas palavras de Ronaldo de Andradeae, a Medida Provisória n. 2,200-

212001, que instituiu a ICP-Brasil, estabelece que a assinatura digital deve ser

criptografada pelo sistema de chaves, fixando um modelo de verificação de

identidade das partes por um critério técnico que hoje é apropriado e obedecendo ao

atual êstado da técnica, criando um sistema híbrido no qual a equiparação do

documento eletrônico ao cartáceo só se dá se â certificação da assinatura digital for

feita por certificadora integrante da ICP-Brasil.

Expllca o autorso que o certificado da ICP-Brasil, estabelece vários níveis

de certificados de segurança. Em azâo disso, a assinatura digital pode ser aposta

4s ANDRADE, Ronaldo Alves. Contrato EletÍônico no Novo Código Civil e no Código de Defesa doConsumidor, São Paulor l\4anole. 2004, p. 84."'ANDRADE, Ronaldo Alves. Contfato ElêtrÒnico no Novo Código Civil e no Código de Defesa doConsumidof, São Paulo: ftrânole. 2004, p. 88.

4l

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pot soflware existente no computador do titular dâ assinatura ou por um elemento

externo conectado ao computador, permite a assinatura digital de documentos.

Sheila Leal51, conclui ainda, que a implementação de uma política de

apoio aos negócios reallzados pela irfemeÍ e â regulamentação dos meios

eletrônicos conferirão maior segurança e credibilidade aos negócios reâlizados na

rede e, em conseqüência, contribuiráo significativamente para o crescimento do

comércio eletrônico no Brasil.

tt LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santos. Contratos Eletrônicos. Validade Jufídica dos coniratos viaInternet, São Paulo:Atlas. 2007 p. 168.

42

Page 38: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

CAPITULO III

Código de Defesa do Consumidor è compra è vènda eletrônica

3.1. lmportância do tema

O Código de Defesa do Consumidor, instituído pela lei 8.078 de 1990, é

um exemplo marcante da interferência do Estado, ãtravés do seu poder legislativo,

nas relações contratuais, sendo mencionado pela doutrina, pois, como uma das

mais importantes realizaçôes legislativas dos princÍpios constitucionais da atividade

econômica.

O código reflete a intervenção do Estado nas relaçóes contratuais de

consumo, com o escopo de compensar as disparidades que ocorrem corolário do

dèsequilÍbrio social. Reconheceu, portânto, no consumidor brasileiro a

vulnerabilidade, procurando não limitar suâ liberdade contratual, mas garantir-lhe a

autonomia privada, buscando sua proteção como partê contrâtual mais fraca, Aliás,

a proteção do consumidor, está inserta dentre os direitos e garantias individuais, no

artigo 54, inciso XXX|l, da Constituição Federâl Brasileira de 1988.

Na lição de Cláudia Lima Marquess2, a proteção contratual do consumidor

no Códìgo de Defesa do Consumidor, ocorre na fase pré-contratual e durante a

execucão do contrato:

tt |\4ARQUES, Cláudia Lima. contratos no código dêrêlações contratuais. ed. São Paulo: RT, i995, p. 289.

Defêsa do Consumidor: o novo regime das

43

Page 39: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

No primeiro momento criâ o código novos direitos parâ consumidores e novosdeveres pafa os fornecêdores de bens, visando assêgurar a suâ proteção nafasè pré-conÍratuêl e no momento da formaçáo do vínculo No segundomomento, cria o código normas proibindo expressâmente as cláusulasabusivâs nestes contÍatos, assegurando, assim, uma pfoteção a posteriori doconsumidor, atÍavés de um efetivo conlrole judicial do contêúdo do contfatode consumo.

Destarte, mister se torna no presente trabalho o estudo aprofundado da

incidência dessa nova modalidade de contratar no Código de Defesa do

Consumidor, não bastasse pelo fato do códìgo não regulamentar o contrato

eletfônico em seus dispositivos, mas também em decorrência dessa fundamental

proteçáo contÍatual do consumidor.

Para Ronaldo Alves de Andrades3 os negócios jurídicos celebrados no

espaço cibernético têm ainda mais relevância no seu estudo devido a existência do

instìtuto da boa-fé, posto que não há qualquer contato físico entre os dois pólos da

rêlaçáo contratual. Vejamos:

- - No caso do contâlo elettônico de compra e vênda, por exemplo, oconsumidor não vè o vendedor nem o produto; por ouko lado, o vendedof náovê o comprador e tarnpouco tem condições de verifìcar imedialamente suaidêntidade e suas condições econômica de cumprir o contrato. PoÍtanto, aqui,a boa-fé revela-se de gfande importância, sobrelevando a credibìlidade, ahonêstidade e a lealdade ianto do vêndêdor como do comprador. O primeiroporque é fornecedor e tem a obrigação dê agir com lealdade colocando àvendâ produlos que eíetivamente tem seu estoque e reâlizando a enlrega dâmêrcadoria adquiridâ no prâzo contrâtado, procedendo com lealdade ehonêstidade, sem abusaf do consumidor, dentro da boê prática empresarialO consumìdor, de sua parte, dévêrá âgir da mesmâ íorma, não lesando ofornecedor e agindo, também, com honêstidade e lealdâde

Complementa o autor, destacando que o contrato eletrônico pode ser

realizado de forma a não configurar relação de consumo, definida como relaçáo

bus,,;ress Ío business ou "b2b" Entretanto, na esmagadora maioria dos casos

configurará uma retaçáo de consumo,. definidâ como business to consumer ou "b2c"

u'ANoRADE, Ronaldo Alves. contrato EÌetrônico no Novo código civil e no código de oefêsa doConsumidor. São Paulor Manole.2004, p. 106.

Page 40: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

Por isso, a importância de verificarmos se o contrato eletrônico configura

relação de consumo, pois, evidentemente que quando o contrato eletrônico tÍouxer

em seu bojo uma relação de consumo, ela será regida pelo Código de Defesa do

Consumidor, de maneira que o contrato será formado, interpretado e execuEoo

segundo as normas do aludido Código. Todavia, na hipótese de náo configurar como

relaçáo de consumo, deixaremos de tecer comentários por náo ser objeto do

presente trabâlho.

3.2 Contratos eletrônicos de adesão e contratos eletrônicos paritários

Segundo Silvio Rodriguessa, o contrato de adesão é aquele em que rooas

as cláusulas são previamente estipuladas por uma das partes, de modo que a outra,

no geral mais fraca ê na necessidade de contratar, náo tem poderes para debater as

condições, nem introduzir modificaçôes, no esquema proposto, Sâlienta o autor, que

o contÍatante no contrato de adesão aceita tudo em bloco ou recusa tudo DoÍ inteiro.

Nos mêlhores ensinamentos de Cláudia Lima Marques55, no contrato de

adesão é oferecido âo público em modelo uniforme, necessitando apenas, via de

regrâ, das informaçôes dâ parte aderente, do preço e do objeto. Nessa modalidade

contratual, as cláusulas já bem pré-estabelecidas unilateralmente pela parte

contratante economicamente mais forte (fornecedor), sem que a outÍa parte

(consumidor) possa discutir ou modificaÍ substânciâlmente seu conteúdo.

Em seu artigo 54, o Código de Defesa do Consumidor classifica os

contratos de adesão da seguinte formâ:

::RODRIG_U-ES,, Silvro. Curso de Dtreito Civit. V. 3, Sáo pauto: Saraiva .2006, p. 44." MAROUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesâ do Consumjdor. são paulo: Revista dosÌribunais, 1992. p. 31 e 47-50.

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Page 41: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

Art.54. Contrato de adesão é aquele cuja as cláusulas tenhamsido aprcvadas pela autoridade compelênle ou estabêlecidas unilâteralmentepelo fornecedor de pÍodutos ou serviços, sem que o consumidor possâmodificaf substancialmenle o sêu conteúdo.

Podemos observar, que nâo há maiores dificuldades pela doutrina nâ

definição do contrato de adesáo no Código de Defesã do Consumidor.

Em se tratando dê contrato eletrônico por adesão, Sheila Leal56 nos

ensina que náo difere dos contratos em geral, destacando somente a forma em que

ã manifestação da aceitãçáo do aderente é realizada:

Nâs conbatações interativas o aderenle manifesta sua aceitaçãoao cticaf o mouse do computêdof sobre as palavras que âparecem na tela,tais como aceito sÌm, concordo, sem a possibil idêde de discutir ou alteraf ascondições e os termos da contratação, cafactefizando a contfalação poradesão com incldència no Código de Defesa do Consumidor e,subsidiariamentg, as demais normas do sislema. comoallveis com osprincÍpios gerais que inÍoímam as noÍÍnas de defesa do consumtoor.

Nessa mesma linhã, Guilherme Magalhães MartinssT, comenta sobre a

necessidade da manìfestação de vontâde do usuário nos contratos eletrônicos por

adesão:

Como modalidade particular de contratos de adesão, no campode contratação eletfônica, impende destacaf as chamadas licênças clicwwrap(clickwrap agreements ou point-and-clik agreements), usualmentesubmelidas à concordância do usuário do produlo o! servico. contendocláusulas aceÍca da sua presÌação. sêndo assim denoninadas. pois suavalidade se basêia no ato de apêÍar o botão de acêitação (freqüentementepor intefmédio do mouse), guardando grênde similitude para com as licençasshfink-wrãp utilizadas na comefcialização de softwares, nas quais a aceilaçâoocorrê no ato da aberiufa da êmbalagem que contém supoftes físicos ondêse encontra o pfogrêma.

'u LEAL, Sheila do RocÌo Cercal Santos. Contrâtos ÉÌêtÍônicos, Validade Jurídica dos Contratos Vialnternet, São Paulo:Atlas. 2007 p.105'' MARÌjNS, Guilherme lúâgêlhães. Formaçáo dos ContÍatos Eletrônicos de Consumo Via Internet,Rio dê Janeiro: Forênse. 2003. o. 138.

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Page 42: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

Martinsss, citando a doutrinâ e jurisprudência americanâ e do Reino Unjdo,

aponta dois sentidos djferentes para a solução do problema da admissibilidade do

contrato eletrônico de adesão enquanto manifestação de vontade, no âmbito do

Direito Comparado:

No Reino Unido, no caso Betâ V. Adobe (1996), precêdentelufisprudencial objeto de fortes cíticas na doutrinâ entendeu a Cou(,ofÌ:::l?l ":"o:":"

oue a ticença de ptástico ser;a apenas uma condiçãormposta pelo titular de dtÍetros âo contralo de compÍa e venda das cólias dosoftware, sendo insuficÌentê, pof si só, à celebraçaó Ao contrato, cula vãtúaàenão sefiâ de modo algum afetada. Já nos Estados Uniáos'um càióconsiderado pioneho em sede de validâde e caÍálef vinculanle dasmênifeslaçòes dê vonÌade íormuadas a parl,r de ta.s Lcenças é o Hotmail,Jurgaoo pêta suprêma corte do estado da Califórnia (.1997). tendo sido os réuscondenâdos em razão ao envio de ê-mail não solicitâdos, a pâÍtir das caixasde coíe;o elekônico da Hotmail, culo contÍato com os rèus inclula umacláusulas pÍoibindo o Soam

3.3 Responsabilidade do provedor de acesso

Para examinarmos a incidência dâ responsabilidade civjl nos negócios

jurídicos celebrados eletronicamente pela Internet, far-se_á necessário dejxar

algumas observaçóes a respeito do instituto da responsabilidade civil.

Maria Helena Dinizss, anota que pâra definir a responsabilidade civil

baseia-se na culpa, conceituândo-a como â obrigação de alguém reparar dano

causado a outrem por fato seu, ou fato de pessoas ou coisas que dele oepenoam.

Acrescenta Serpa Lopes60, na definiçáo da mencionada corrente, que

responsabilidade civil é "a obrigaçáo de reparar dano, seja por decoÍrer de uma

53 MACQUEEN lvamy. Apud. t\,4ARTtNS, Guitherme Magaìhães. Formação dos ConlratosEletrónicos de Consumo Vja IntêÍnet, R:o de Janeko: forenãe. ZOO:. p. t aà'." DlNlZ, MaÍia Hetena, Curso de diíeito civil: fesponsaOifiOaae

-ivif,

bão Èãuto: Saraiva, zooz, v. 7, p.33-34.60 LOPES,,. Miguêl Maria de Sêrpa, Curso de difeito civil: tontes aconkatuais das obngaçõês,.esponsabilidade civit, 4 ed., RÍo dê Janêiro: Freilas Basios, 1995, v. S. D. iSó. - - -

4'7

Page 43: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

culpa ou de uma circunstância legal que a justifique, como a culpa presumida, ou por

umâ circunstância merâmente objetiva".

Duas teorias existem na doutrina acerca da responsabilidade civil, qual

seja a teoria da responsabilìdade civil subjetiva e a teoria da responsabilidade civil

objetiva,

Na explìcação de Washington de Barros Monteiro6l, a teoria da

responsabilidâde subjetiva assenta-se exclusivamentê na culpa. Portanro, o oever

de indenizar pressupõe sempre a existênciâ de culpa (lato sensu), abrangendo o

dolo (plêno conhecimento do mal e direta intenção de o praticar) e a culpa (stricto

sensu), violaçâo de um dever que o âgente podia conhecer e acatar.

Destaca o autor, a necessidade da ocorrência de um dano contra o direito,

uma relação de causa e efeito entre o dano e o fato imputável ao autor e sua culpa,

qualquer que seja sua extensão, sendo inadmissível a responsabilidade civil,

especìalmente o dever de reparar o dano, sem culpa,

Contudo, na teoria da responsabilidade objetiva, assevera Barros Monteiro

que a responsabilidade sê funda e se apresenta diante de duas faces: a

responsabilidade decorrente do risco e a decorrente do dano objetivo.

A primeira delas, decorrente do risco, já é bastante aplicada em nossa

legislação, doutrina e jurisprudência, notâdamente nas situaçóes de direito do

trabalho, ao conceder ao empregado vitimado o dìreito de indenização, mesmo que

náo exista nenhumâ culpâ do empregador. Aliás, salienta o autor que no direito

moderno, a tendência é substituir a responsabilidade pela reparação, a culpa pelo

risco e a responsabilidade subjetiva pela objetiva.

" MONTEIRO, Washington de BaÍros, Cufso de Direito Civit: direito das obrigações,20 parte,pás.

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Page 44: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

Percebemos, portanto, que a responsabilìdade civìl decorre náo só do

dano causado por culpa do agente, como também daquele decorrente de um

simples fato seu porque, no seu exercício de sua atividade, acarretou prejuízo a

outrem e, com isso, fìcou obrigado a reparar. lsto significa, que mesmo fato

praticado por terceiros incide agora em responsabilidade objetiva.

Segundo Valéria Gregores62, os contratos celebrados por meio da Internet,

exceçáo âos feitos entre particulares e entre pessoas jurídicas sem finalidade de

consumidor final, todos os demais sáo de responsabilidade objetiva.

Nesse propósito, acrescenta que não pode deixar de observar a obrigação

dos contratantes dê guardar na conclusão e na execução dos contratos os princÍpios

de probidade e de boa-fé, previsto no at|. 422 do Código Civil BrasileiÍo63. Aliás,

importântê mencionar os ensinamentos do ilustre professor Humberto Theodoro

Juniofa ao afirmar que, no art. 40, inciso ll l, do CDC, o pÍincípio da boa-fé foi

colocado como um dos fundamentos da tutelado consumidor; entretanto, a lei 8.708

de 1990, ao institucionãlizar a responsabilidâde civil do fornecedor como objetiva,

isto é, como independente de culpa, impede o mesmo de alegar esse princípio para

isentar-se do dever de reparar o dano sofrido pelo consumidor.

Notadamente, acerca das relações de consumo firmadas pela Internet,

verificamos algumas indagações sobre a Responsabilidade Civil do provedor de

acesso, tendo em vista que os servìços deste não se limitam a servir como ponte de

acesso entre uma pessoa e a Internet; âlém disso o provedor armazena as

mensagens recebidas pelos seus clientes, hospeda suas respectivas home pages e

u' GREGORES, Valéria Elias de Mêlo. Compra ê Vendâ Eletrônica e suas implicaçÕes, São PaulolMétodo. 2006. o. 112.:3 cód.go civil bíasilêiío dê 2002, aí|.422. capul." ' JUNIOR, Humberto Theodoro, Conlratos: pÍinclpiosconlemporâneo. Abrandamênto dos prin6Ípos lradicionaisCódigo de Defêsa do Consumidor, Revista dos Tribunais,n. 765, p. 31-33, jul. 1999.

gerais. Tendências do direìto contratualIntervenção estatâl crescentê. lmpacto doSão Paulo. Revista dos Tribunais. ano 88.

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Page 45: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

prestam diversos outros serviços, que vão desde o conteúdo de sua própria página

na lntêrnet âo fornecimento de discos virtuais nos ouais o cliênte oode armazenar

seu arquìvos e, assim, liberar espaço do disco de seu próprio computador.

Portanto, nas palavras de Ronaldo Alves de Andrade65, "o objeto prìncipal

do contrato de acesso à Internet é proporcionar o provedor de acesso do seu clìente

à Internet, bem como receber sua correspondência eletÍônica".

A responsabilidade do provedor de acesso em relaçáo aos consumidores

que contratam seus serviços, nos termos do art.389 do Códìgo Civil brasileiro,

ressalta evidente no que tange aos danos emergidos da relação contratuaì do

provimento de acesso. Entrementes, ante o disposto nos arts. 12, 13, 18 e 19 do

Código de Defesa do Consumidor, seria o provedor de acesso solidariamente

responsável por quaisquer danos advindos aos seus clientes oriundos de relações

de consumo realizadas por estes com o fornecimento de produtos ou serviços pela

lnternet?

Para Andrade6€, náo há responsabilidade do provedor, eis que nâo exìste

interlìgação entre o objeto do contrato de provimento de acesso e o dano

experimentado pelo consumidor, ou melhor, nos seus dizeres:

Analisândo eshitamente o objeto do contrato dê provimento de acesso,somos levado a declinâr que não há responsabilidade do provedor, já quenáo há interligação entfe o objeto do contrato dê provimento de acesso e odano êxpe.imentado pelo consumidor em razão da aquisiçáo de produlo ouserviço, peta Internet, por meio de contrato eletrônico fÌrmado com oulraempresa, sêm quê houvesse qualquer participação do provedor nessarêlacão iurÍdica contratual.

6s ANDRADE, Ronaldo Alves. Contfato EletrônÌco no Novo Código Civil e no Código de Defesa doConsum;dor, Sáo Paulot Mar,ole.2004, p. 124."ANDRADE, Ronaldo Alves. Contfato Eletrônico no Novo Código Civile no Código de Defesa doConsumidor, São Paulo: Manole.2004, p. 125.

50

Page 46: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

Sustenta seu entendimento, afirmando que o provedor de acesso não é

garantia de todos os fornecedores que realizam fornecimento pela Internet, e se

porventura houvesse, não teríamos mais nenhum provedor de acesso. Vejamos:

O provedor de acesso não é garantia de todos os fornecedores que reâlizamfornecimento pela InteÍnet, já que não Participa da cadeia de todas âsrelações de consumo realizêdas na grande rêde. Aliás, se âssim fossè,certamênte não terÍamos nenhum provedol dê acesso, uma vêz que lâlatividade diÍlcilmente resullarìa em lucro parâ sêus empÍeitêiros Ademais,ninguém pode respondeÍ por danos que nem remotamente provocou Nãopode o provedor, por exemplo, rêsponder pelo defêito apresentado polauiomóvel adquirido por cliente seu pela intêrne, pela simples razão dê nãoler pê cipado da cadeia de fornecimento. Nesse caso, ê relação dêfornecimento entre o provedor e o clìente que adquiriu o automóvel é tão sópermitir o acesso a InteÍnet, e o certo é que essa relaçáo de consumo nãotêm qualquer ligâçâo fáìica ou jurÍdica com aqueloulra, não se podendo,portanto, impor ao provedor de êcesso quêlquer responsabil idade por danoadvÌndo daquela relação de ôonsumo. Se fosse posslvel sustentar aresponsabilidade do ptovedor de acesso por encontrar_sê ele na cadeia dêfornêcedorês, teíamos que incluir nesse rola empresa de telefonia porquefornece as linhas teleÍônica, os fabricantes de fios a cabo porque fornecem omeio material para o pfovimento de acesso, ê, por íim, o estado por têrconcedido o seruiço de telefonia que permite o acesso a lntêrnêt. No entânto'pafece-nos que a lista dos fornecedores o enumerada no Código de Defesado Consumidor reÍere-se àqueles que eÍetivamente, de alguma forma,diretamente forneceram detefminado produto ou serviço.

Nessa mesma lìnha, segue as l içôes de Valéria Elias de Melo Gregores6T,

tal qual aduz que não há responsabilidade civil do provedor de acesso nas relações

de consumo via Internet. Sustentâ seu entendimento, dentre outros motivos, também

no sentido que, na hipótese da responsabilidade rêcair sobre o provedor de acesso,

seria o mesmo que responsabilizar a linha telefônica usada para celebrar uma

transação comercial. Vejamos:

Para nós, não há que se falar em responsabilidade do provedof de acesso noque se refere às transações comerciais on line, porque não é obrigado a terâcêsso ao conteúdo da páginê ê, ainda, porquê não partÌcìpou danegociação. Na píópria InleÍnet. acabamos nos depârando com umavêrdadeira cadeia de fornecedorês e, âssim, para se apljcar o entendimentode que o ptovedof deve responder pelas oferlas feìtas no sites, têr_se-ia que

u? GREGORES, Valéria Elias de Melo. Compra e vendâ Eletrônica e s!âs implicações, São Paulo:[4étodo. 2006. p. 1'17.

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Page 47: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

afirmar também quê todos os Íofnêcedores, por estarem ligados entrê sj,independênte da função que exercem na cadeia, também serlamresponsáveis. Afinaj, para que o cônsumidor possa rêalizar a compra on line,primeiramente ele precisa dispor de uma linha telefônica, que vai possibjlilaf oacesso ao provedof, depois ele pÍecisa ter um acesso com um Drovedor ê.por fim, entrar num determinado site.

Explicando melhor seu entendimento, â autora compara o proveqor qe

acesso com linha telefônica, correspondência e até mesmo televisáo, no caso

publicidades feita através dela, ou nas suas palavras:

Veja que, em situação pêrecida, como a venda por leleÍone, pêla televlsão oupor correspondéncja, não se fala em responsêbilìdade da concessionáriêiêlêfônica, nem da redê de televisão, ê muito menos das aqénciâs do correio.Sêria bastante inleíessante a Rede Globo se Íesponsabilizãr pela venda feitâpelas Casas Bahia, porq!e ela fez pfopaganda em seu canal.

Embora não acredite nâ responsabilidade do provedor de acesso, citando

Antônio Joaquim Fernandes, Gregores68 afirma que muitos autorês defendem o

entendimento que o provedor de acesso também é responsável Delo dano causaoo

ao consumtdor:

Vêjamos o entendimenlo dê Anlônio Joâquim Fernandes que suslenla que oconsumidor utiliza os seÍv;ços do provedor Inlêrnet paÍâ ter acesso ê umtefceiro - umã agência de notÍcias, no Brasil ou no êxtêrior. ou uma êmDresadìstÍibuidorâ de produtos - sendo o terceiro quem satisfaz as necessidadesdo consumidor. Veja que o autor identifica um terceiro, oue satisfaz asnecessidades do consumìdor. EnÍetanto o autor, ao examinar a cláusula oueestabêlece quê o pÍovedor não se responsâbiliza pelas kansações comerciaisefêluadas online, sustenta que a mesma é nula. visto qúe os nêgóciosconcretizâdôs via internet implicam maior atenção do provedoi, nocumprimênlo do devêr de bem infofmar. l\ruito êmbora sustente que anatureza da responsabjlidade do provêdor é extrâcontratual, foi a presiacãode sêus serviços que possioi i tou a rêalização do negócio enÍe o consumidore o tercetro,

*.FERNANDÊS, Antônio Joaquim. Apud. cREGORES, Vatéria Elias de Mêto. Compra e VendaEletrônica ê suas implicações, São paulo: l\rétodo. 2006, p. 117.

52

Page 48: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

3.4 Direito de arrependimento nos contratos eletrônicos

Ê sabido que o consumidor conectado à internet tem à sua disposição

uma variedade de produtos colocados em sua frente pêlos fornecedores, pâra atraÍ-

los para compra dos produtos.

Portanto, esse é outro tema que não poderÍamos deixar de comentar

nosso trabalho, qual seja à aplìcação do art. 49 do Código de Defesa

Consumidofs nos contratos realizados via ìnternet.

O consumidor que ãdquire o produto e o mesmo é entregue em sua

resìdência ou local por ele determinado, porventura pode ocorreÍ dele não ficar

satisfeito. Nesse caso, teria o consumidor internauta direito de arrependimento, de

manêira que pudesse devolver o produto e ter seu dinheiro de volta? Ou ainda, o

fornecedor tem dìreito de se arrepender, revogando sua ofeÍtâ?

A lei 9.0078/9070, precêitua que a partir do momento em que a proposta foi

aceita, o fornecedor nâo poderá mais revogar a oferta, posto que, com eìa, as pârtes

já se encontram vinculadas. Entretanto, deixa de ser obrigatória nos termos do art.,

429 do códìgo Civil BrasileiroTl, isto é, se antes dêlâ, ou simultaneamente, chegar

ao conhecimento da outra parte â retratação do proponente.

Por outro lado, o art, 49 da lei 9.078i90i'zreza o direito de arrependimento

pelo consumidor, podendo desistir do contrato no pnzo de 7 (sete) dias, a contar de

sua assinatura, ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a

contratação ocorrer fora do estabelecimento comercial, espêcialmente por telefone

ou no domicílio.

no

do

: : código de Defesa do consumidoÍ, aÍt. 49, caput.:: Código de Defêsa do Consumidor, art. 30, caput.: l Art. 1081, l l , CCi1916'' Código dê Defesa do Consumidor, art. 49, caput

53

Page 49: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

Destarte, â primeira dificuldade que encontramos na discussão do temâ

versa sobre a seguinte indagação: A venda realizada pela Internet, seria uma vendâ

realizâdâ fora do estabelecimento comercial e, portanto, em domicílio?

Para entendermos como a doutrina se posiciona em relação a questão

suscitada, devemos ter umâ relevante noçáo de estabelêcimento comerciâl no

mundo virtual. Fábio Ulhoa CoelhoT3 conceìtua estabelecimento empresarial,

explÌcando que trata-se de um conjunto de bens reunidos pelo empresárìo para

exploraçáo da atividade econômica, complementando, aduz que esse conjunto de

bens abrange tanto os materiais (estoque de mercadorias, mobiliários, veículos, êtc.)

como os imateriais (marcas, tecnologias, ponto, etc.)

Valéria Elias de l\.4elo GregoresTa, citando também o autor Fábio Ulhoa em

sua obra, faz uma distinção entrê estabelecimento físico e estabelecimento virtual,

sustentando que a diferença entre o fÍsico ou virtual vai depender do meio de acesso

dos consumìdores adquirentes interessados nos produtos e nos serviços, ou

virtualidades que o empresário oferece ao mercado, e que "se o acesso dos

consumidores é feito pelo deslocamento destes no espaço até o imóvel em que

encontra-se instalada a empresa, esse estabelecimento é físico; se acessado via

transmissão eletrónicâ de dados, é virtual," 75

Dessâ maneira, GregoresT6 aduz que estabelecìmento comercial na

internet é representado por um slfe, tal qual funciona como uma verdadeira loja

virtual que é identìficada pelo nome de domínio, ou seja, o endereço eletrônico da

"loja" ou do local onde o consumidor pode encontrar o produto, servindo ainda como

'" COELHO, Fábio Ulhoa. l\4anual de Difeito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 57.'' COELHO. Apud. GREGORES, Valéria Elias de Melo. Compra e Venda Eletrônica ê suasLLnplicaçôes, São Paulo: l\4étodo.2006, p. 121.'' COELHO. Apud. GREGORES, Valéria Elias dê [,,1eJ0. Compfâ e Vendâ Eletrônica ê suasir^rplicaçôes, Sào Paulo: l\rétodo.2006, p. 121.'" GREGORES, Vâléfia Elias de Melo. Compra e Venda Eletrônica ê slas implicaçóes, Sáo Paulo:l\4étodo. 2006. o. 124.

Page 50: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

nome do estabelecìmento onde o comprador pode jdentificar o lugar onde o produto

está disDonível.

Desta feita, para ilustre autora conclui que a vênda realizada através de e_

mail caracteriza como uma compra fora do estabelecimento comercial, ou seJa, em

domicílio e, por conseqüênciâ, tem o direito de arrependjmento previsto no art.49 do

CDC. Todavia, no que tange a venda realizada através de páginas da weD, em que

o consumtdor procura esse produto no site do fornecedor, e o adquìre, Gregores

acredita que não caracteriza venda feita fora do estabelecjmento comercial,

portanto, não se aplica as normas do art. 49 do CDC. para esclarecer o

entendimento da ilushe autora, vejamos seu dizêres da autora sobrê as duas

modalidades de venda supracitadas

A primeira é a fêêlizada airavés da oferta difeta do íornecedor. ouêenvia e-mailpara a caixa poslaldo consumidor, tenlando atraÍ- lo pàraa tealizàçâo do negócio. ou sêja, nâ quat o fornêcedor uiilizanar4oting pata atfair o consumjdor. A segunda é aquela em que opróprio consumidor nêvêgando pelas d,versas paginas da wêbprocura o.pfoduto nâ "loja", tendo tempo suficiente para anali6ar epensar sobre a compra do mesmo. euânto a primejrâ espécie, semsobrâ de dúvida caracleíiza-se como uma comprà fora doestabelecimenlo comerciê|, ou seja, em domicÍlio, porque ofornecedor, utìlizando de técnicas próprias foi em busca doconsumidor, pafa que êle adquirisse o produto, incidindo, pofconseqüência o direito de affependimênto, nos lermos do arl. 49 doCDC. Quanto a segunda êspécie náo nos parecê aplicável a nofmade proteção dâ declaÍaçào da vontade, não incidindo, ponanto, odireilo de arrependimênto, porque foi o consumidof quem pÍocurou oestâbêlecimento comeÍcial para reâlizaí o negócio, lendo tempo pârapensar tanto qJe encorlrou o pÍoduto que buscava no endêrêço doÍoÍrecêdor. não se câracteÍizando, âssim, venda fêila forã doestabelêcimênlo comercial, independênlemente de sef ele flsico ouvirtual".

" GREGORES, Valéria Elias de lvlelo. Compra e Venda Eletrônica e suas implicações, Sáo paulo:Método.2006. o. 125.

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Page 51: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

Já na concepção de Sheila do Rocio Cercal Santos Leal78, o contrato

eletrônico, mesmo sendo celebrados entre presentes (quanto à possibilidade de

manifestação imediata do consentìmento e sem intermediaçâo), nâo deixa de

configurar um contrâto a distância, realizado fora do estabelecimento comercial,

aplicandolhe, por conseguinte, o disposto no artìgo 49 do Código de Defesa do

Consumidor.

Da mesma maneira segue o entendimento do ilustre professor Guilherme

Magalháes MartinsTs, quando salienta:

Na medida em que o consumidor, nessas condiçôes, possui menorpossibilidade dê avaliar o que estava contratando, deve lhe sêr assegurado oprazo de arrêpendìmento, não só nos contratos em distãncia em geral- taiscomo a venda poía a porta, por telefone, reembolso postal, por fax, vÍdeo-texto, pot prospectos, etc. - , como também nos contratos via Inlemet, atémesmo pela disseminaçáo de têis práticas, à margem de umafegulamentaçào, a partir destas novas técnicas, que permitem que oconsumidor conlrate sem salr de sua casa. muitas vezes com emoresas efornecedores de outros países.

Para concluir, importante mencionar a observação de Ronaldo Alves de

Andradeso, quando aduz que para verificar se o consumidor tem direito ao

arrependimento, devemos observar â incidência da boa-fé de ambos contratantes

(fornecedor e consumidor). lsso porque, o Código de defesa do Consumidor, não

regulou minuciosamente os contratos de venda a distância, não estabelecendo os

requisitos necessários para tal modalidade de contratação, tampouco ditou os tipos

de contrato que poderiam legalmente ser celebrados dessa forma e nem fixou seus

resDectivos obietos.

'" LEAL, Sheila do Rocio Cercal Sanlos. Contratos Eletrônicos, Validade Jurldica dos Contratos ViaInternet. São Paulo: Atlas. 2007 D. 108.t' MAnttnS, Guilherme l\4agalháes. Fofmâção dos Contratos Eletrònicos de Consumo Via Intemet,Rio dê Janeiro: Forense. 2003. o. 189.'oANDRADE, Ronaldo Alves. Contfato Eletónico no Novo Código Civíl e no Código de Dêfesa doConsumidor,São PauÌo: Mano'e. 2004, p. 109-110.

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Segundo o autor, o consumidor, ao acessar um estabelecimento

empresarial virtuã|, não tem contato real com produto, em razâo disso por mats

perfeitâ que sejâ a imagem do produto, ela será sempre uma representação que

poderá náo corresponder às suas expectâtivas, uma vez quê a imagem de um

produto nâo demonstra com clareza a sua tridimensionalidade, náo permite que seja

tâteado e tâmpouco exala odor.

Por outro lado, afirma o autor que o consumidor poderá agir de plena má-

fé querendo beneficiar do aludido dirêito de arrependimento. Como exemplo, cita um

caso verídico em que um consumidor adquire um veículo pela Internet, cujo sjte o

fornecedor claramente exposa as informaçôes sobre o produto, inclusive, facultando

ao consumidor de realizar um test drive, contudo, o consumidor náo realiza o teste,

usa o veículo por quase sete dias e depois faz valer seu direito de arreDendimento.

Ante o èxposto, aduz Andrade que caberá ao aplicador do direito

estabêlecer exceçóes a essa regra tão ampla e que, se apljcada uniformemente,

poderá trazer situaçôes de injustiçâ que ferem o escopo do Código de Defesa do

Consumidor, qual seja, defender o consumidor tão-somente para equipará-lo ao

fornecedor e, assim, equilibrar as relâções jurídicas de consumo.

3.5 Oferta ao consumidor no contrato eletrônico

Não obstante a obrigaçâo imposta âo

da boa-fé, o Código de Defesa do Consumidor

impondo uma série de obrigâções ao.fornecedor

importantes pelos doutrinâdores a contida no

fornecedor decorrente do princípio

nos arts. 30 a 35, reguia a oferta

, dentre as quais destacadas mais

art. 30, estabelecendo que toda

Page 53: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

informação veìculada por quâlquer forma de publicidade intêgra o contrato que viêr a

ser celebrado, e a do art. 35 do mesmo diploma legal que a complementa, dispondo

que, se o fornecedor se recusar a cumprir a oferta, apresentação ou publicidade,

aceitar outro produto equivalente ou rescindir o contrato, caso em que poderá exigir

a devoluçáo dâ importância paga e mais perdas e danos.

Nos ensinamentos de Ronaldo Alves de Andrade, "as relações de

consumo celebradas por meio eletrônico aplicam-se perfeitamente os mêncionados

dispositivos. Normalmente, estas relaçóes de consumo são reâlizadas em sites nos

quais funcionam estabelecimentos empresariais vìrtuais que vão de uma loja a um

supermercado. Todos os estabelecimentos virtuais oferecem produtos ou serviços

eletronicamente, de maneira que o consumìdor, de sua residência ou de seu local de

trabalho, pode remotamente âcessar o estabelecimento virtual e todas as ofertas,

pois vinculam o ofertante e passam a integrar o contrato, com conseqüências

ditâdas pelo art, 35 do Código de Dêfesa do Consumidor."

Com relação à identificação do fornecedor, â lêi rêguladora das relaçôes

de consumo nada regrou, limitando-se a, no art. 33, estabêlecer que na oferta ou na

venda por telefone ou reembolso postal - portanto, venda a distância fora do

estâbelecimento comercial - deve constar o nome e endereço do fabricante,

Por isso, advêrte o mêsmo autor, que para garantia dos direitos do

consumidor residente no Brasil, não basta a identificaçáo precisa do fabricante, mas

também a do fornecedor direto, vale dizer, do responsável pelo site no qualfoifeita a

oferta, permitindo ao consumìdor acionar não só o fabricante mas também qual quer

Dessoa oue se encontre na cadeia de fornecimento.

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Page 54: Contrato Eletrônico de Compra e Venda à Luz do Código de Defesa do Consumidor

3.6 Do foro para dirimir conflitos ê legislação aplìcável

Outra questáo importante, dìz respeito a legislação aplicável nas relaçóes

jurídicas de consumo realizadas no âmbito virtual, principalmente, quando levamos

em consideração que é cada vez maior o número de contratos celebrados

internacionais, devido ao intenso crescimento do comércio eletrônico.

A dificuldade aumenta quando umâ das partes da contratação eletrônìca,

por êxemplo, o consumidor, é domiciliado no Brâsil e o fornecedor em território

estrangeiro, surgindo grande indagação acerca da normã de qual pâis será aplicâda.

A Lei de Introduçâo ao Código Civil, em seu art. 90 parágrafo ll, assegura

que a obrigaçáo resultante de um contrato reputa-se constituída no lugar em que

residir o proponente, Entretanto, nos resta saber deste dispositivo legal, quando a

compra e venda ocorrer por intermédio da rede, de produto que se encontra no

exterior, em que país a obrigaçáo será constituída.

Por sua vez, o art. 17 dâ Lei dê lntroduçâo do Código Civil preceitua que a

lei e as declarações de vontade estrângeiras não terâo eficácia no Brasil quando

houvêr ofensa na soberania nacional. à ordem Dública e aos bons costumes.

Salienta-se também, que o art.50 inciso XXXII da Constituição Federal

Brasileira de 1988 tem-sê que "o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do

consumidor, portanto, em verdade a defesa do consumidor constitui um direito

fundamental. Ademais, o disposto no art, 170 inciso V da Carta Magna que a defesa

do consumidor é dirigida à categoria de princípio constitucional da ordem econômica

e social".

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Pois bem, com basê nos dispositivos supracitados, segue os

ênsinamentos de Sheila Leal81, ao afirmar que, de acordo com o art. 1o do Código de

Defesa do Consumidor tem-se que as normas de proteção e defesa dos

consumidores são de ordem pública, cogentes e indisponíveis, e nessas condições,

aplicáveis aos contratos internacjonais de e-commerce para a proteção dos dìreitos

dos consumidores brasileìros.

Nessa vertente, sustentou a decisão dâ 4a Turma Superior Tribunal de

Justiça, em que foi relator o Ministro Audir passarinho Júnior com a seguinte

ementa:

u' LEAL, Sheila do Rocio Cercal Santoslntefnet, São PauÍo: Ailas.2007 p.121.

OIREITO DO CONSUI\4IDOR - FILI\4ADORAADQUIRIDA NO EXTERIOR _ DEFEITO DAMERCADORIA - RESPONSAEILIDADE DA EMPRESANACTONAL DA |\TARCA (PANASON|C) _ ECONOT\4|AGLOBALIZÂDA - PROPAGANOA _ PROTECÃO AOCONSUI\4IDOR - PECULIARIDAOES DA ESÈÉCIE -s|TUAÇÔES A pONOERAR NOS CASOS CONCRETOS _NULIDADE NO ACÓRDAO ESTADUAL REGEITADA,PORQUE SUFICIENTEIUENTE FUNDAMENTADO -RECURSO CONHECIDO E PROVIDO NO N4ÉRITO. PORl\,4AlORlA - I - sê a econom;a gtobatizâda não mâis temfronleiras flgidas e estimula e Íavorece a livre concorrêncialmprescindÍvel que as leis de proteção ao consumidofgannem maror expressão em suâ exegese, na busca doeq! IDflo que deve reger as íêlaçôês jurldicas,dimênsionando-se, inclusive, o fator risco, inefenle âcoínpetjtividade do coméfcio ê dos negócios mercêntis,sobfetudo quando êm escalê internacional. em ouepresentes empíesas poderosas, multinacionats, com filiaisem vários paÍses, sem falar nas vendas hoje eÍeluadaspelo processo têcnológico da informática e no forlemercado conslmidor que reprêsenta nosso pais. ll - Omercado consumidor, não há como negar, vê-se hoje"bombafdeâdo' diulurnamente por intensa e hábilpropaganda, a indì.lzir a aquisição de produtos,notadamentê os soísticados de procêdència estrangeira,ievando em linha de conta divetsos fatores, dentre osquais, e com relêvo, a rêspeitabil idadê da marca. l l l - Seempresas nactonals se bêneficiam dê marcasmundialmente conhecidas, incumbê-lhes responderlambém pelas deficiências dos produtos que anunciam ecomêfcializam não sendo razoável destinaÊse aoconsumr0or as conseqúências negativas dos nêgócios

Contratos Elêtrônicos, Validade JurÍdicâ dos Contratos Via

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envolvendo objetos deÍeìluosos. lV - lmpóem-se, noentanto, nos casos concrctos, pondera as situaçôesinexistentes. V - Rejeita-g-e a nulidadê argoida quando semlastro na leì ou nos ãutoso'.

Para Valéria Gregoress3, "as ofertas de produtos e serviços,

independêntemente de onde elâs venhâm, ou mesmo de que forma são colocadas a

disposições dos consumidores, são disciplinadas pelo Código de Defesa do

Consumido/'. Segundo a autorâ, sua afirmaçáo encontra guarida sob o mesmo

fundamento anteriormente exposâdo, ou seja, no pacífico entendimento de que as

normas estabelecidas no Código de Defesa do Consumidor são de ordem pública,

portanto, cogentes.

Contudo, Valéria Gregores ressalva que â âplicação do Código de Defesa

do Consumidor está sujeita a aceitação de sua obrigatoriedade pelos países

estrangeirose, o que, com certeza, é bastante complicado, pois depende de

convênçôes e tratados internacionais, nos termos do parágrafo 1o do art. 1o da Lei

de Introdução ao Código Civil.

Ronaldo Alves de Andrades5, limitou-se a explicar sobre a legislaçâo

aplicável no caso de relação contrâtuâl de consumo internacional, afirmando tão

somente que deve ser aplicado o Código de Defesâ de Consumidorl

u' BRASÍLIA. Superior Tribunal dê Justiça. RESP No 63.981 Rel. Ntin. Audir passarinho Júnior. DJU20.11.2000. D.296.t' GngGOnÈS, Valéfia Élias de Melo. Compra e Venda Eletrônica e suas implicações, São Paulo:l\4étodo. 2006. 0. 135.3a Nesse sentido importante o disposto do parágrafo 1o do a{. 1o da Lei de Introdução do Código Civi l :" nos estados estrangeiros, a obrigaioriedâdê dâ lêi brasile,ra, quando admitida, se inicia três mesesdepois de oficialmente oublicada.u"ANDnnOE, Ronaldo Alvês. Conlrâio EletrônÌco no Novo Código Civil e no Código de Defesa doConsumidor,Sâo Paulo: [4an01e. 2004, p.57.

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Quanto à lei aplicável, às relaçôes de consumo. apljcávej tudo aqui foicolocado sobÍe juÍisdiçèo. ou seja, a cláusula contÍalual quê elegediíefente da do domicÍlio do consumidor é abusiva e, poÍanlo, nuia,de forma que a lei aplicável deverá ser â do domicíljo do consumidor,se oulra não lhê for mais favorável.

No que se trata de jurisdição aplicável, ou melhor, no foro competente

parã dirimir conflitos advindos da relação de consumo, realizada através do contrato

eletrônico, a doutrina segue praticamente no mesmo sentido. Cumpre-nos advertir

desde já a distinção de foro competente de lei aplicável.

Sheila Leal assevera que, se o contrato eletrônico internacional enquadrar-

se na categoria de contrato de consumo, o aú.60 do Código de Defesa do

Consumidor estabelece, dentre os direitos básicos do consumidor, a facilitação de

defesa de seus direitos, e no art. .101 prevê, em casos de responsabilidade civil do

fornecedor de produtos e serviços, que a açâo poderá ser proposta no domÌcilio do

autor, ou seja, do consumidor,

Sustenta seu entendimento, citando a ilustre autora Rita peixoto Ferreirâ

Blum, nos seguintes termos:

As partes, êm relaçÕes jurÍdicas de consumo no êmbito intêrnacional.em que o consumidof seja pessoa domicjliadâ, no BrasÍ|, não oodemeleger contÍalualmenle foro divefso do domicÍlio do consumidor.

Por fim, Ronaldo Alves de Andrades6, sâlienta que em se tratando de açáo

de responsabilidâde civil, impóe-se a norma do ad. 101 do Código de Defesa do

Consumidor, no sentido de que a ação poderá ser proposta no domicílio do autor, e,

embora o referido diploma não disponha acerca da ação eventuâlmente proposta

pelo fornecedor, neste caso aplicâ-se a norma inserida no art. S1 , que dispõe acerca

"'ANDRADE, Ronaldo Alves. Contfato Eletfônjco no Novo Código Civile no Código de Defesa doConsumidor,São Paulot Manolê.2004, p. 54-55. -

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