117
Contribuição para a Construção Sustentável. Projetar para a Desconstrução. Ana Rita Cunha Amorim Dissertação para obtenção de Grau de Mestre em Arquitetura Orientador: Prof. Doutor Pedro Manuel Gameiro Henriques Júri: Presidente: Prof. Doutor Pedro Filipe Pinheiro de Serpa Brandão Orientador: Prof. Doutor Pedro Manuel Gameiro Henriques Vogal: Prof. Doutor Manuel de Arriaga Brito Correia Guedes Março, 2015

Contribuição para a Construção Sustentável. · Figura 1.1 e Figura 1.2: Ilustrações que retratam a poluição causada pelo uso do carvão nas indústrias que se multiplicavam|

Embed Size (px)

Citation preview

Contribuição para a Construção Sustentável.

Projetar para a Desconstrução.

Ana Rita Cunha Amorim

Dissertação para obtenção de Grau de Mestre em

Arquitetura

Orientador: Prof. Doutor Pedro Manuel Gameiro Henriques

Júri:

Presidente: Prof. Doutor Pedro Filipe Pinheiro de Serpa Brandão

Orientador: Prof. Doutor Pedro Manuel Gameiro Henriques

Vogal: Prof. Doutor Manuel de Arriaga Brito Correia Guedes

Março, 2015

2

3

AGRADECIMENTOS Ao Professor Pedro Gameiro Henriques, pela orientação e disponibilidade.

Aos meus amigos pelo apoio, companheirismo e confiança, em especial à Susana Caetano, Diana Tomaz, João Lourenço e Inês Alarcão por estarem sempre presentes e

com a palavra certa.

Aos meus tios Maria de Lurdes e Alfredo Passô por me acolherem de braços abertos e por toda a força que sempre me deram.

Aos meus avós pela inspiração e exemplo.

Ao meu irmão pela paciência.

Aos meus pais por todos os anos de dedicação, esforço, entrega e acompanhamento que sempre me prestaram ao longo da minha vida.

OBRIGADA!

4

5

RESUMO A presente dissertação insere-­se num momento em que a Humanidade tem vindo a consumir recursos acima da capacidade de absorção e reposição dos sistemas naturais e onde a construção tem contribuído em grande medida para esse facto. Torna-­se, por isso, essencial discutir formas de explorar os recursos naturais de maneira a preservá-­los para as gerações futuras, isto é, de uma forma sustentável.

Atualmente, a atividade do sector da construção pauta-­se por práticas altamente insustentáveis, resultantes da extração de grandes quantidades de recursos materiais não renováveis, do elevado consumo de energia, tanto ao longo do período de utilização do edifício, mas também durante a sua construção e produção dos seus materiais, e da elevada quantidade de resíduos produzidos durante a construção ou demolição dos edifícios. Para além disso, com a atual rapidez a que os usos e exigências se criam, transformam ou desaparecem, o período de utilidade de um edifício para determinado uso torna-­se tendencialmente mais curto, ficando frequentemente aquém do tempo de vida da construção em si. O período de existência de uma edificação não depende, por isso, apenas da sua durabilidade física mas também, e principalmente, da sua durabilidade útil.

Para combater estes problemas, é fundamental a adoção de novos princípios de projeto, que confiram ao edifício características de flexibilidade e desconstrutibilidade, que resultaria não só na diminuição dos resíduos resultantes da demolição, como também facilitaria e agilizaria a reutilização e/ou reciclagem dos seus materiais. De facto, a desconstrução de edifícios permite evitar o envio de materiais para aterro, dando-­lhes novos usos e significados, explorando a sua durabilidade e utilidade até ao limite, sem deixar que isso prejudique a qualidade arquitetónica do edifício. Para além disso, a escolha acertada dos materiais a utilizar, optando por materiais com baixo impacto ambiental, diminuiria em muito as consequências ambientais da própria construção.

Com este estudo, pretende-­se refletir sobre o peso das decisões do arquiteto na sustentabilidade de uma construção, tanto ao nível da escolha de materiais, como ao nível dos sistemas construtivos e espaciais adotados. Assim, desenvolver-­se-­á um conjunto de soluções construtivas para paredes, pavimentos e coberturas, constituídos por materiais de baixo impacte ambiental e que possam ser facilmente recuperados para reutilização ou reciclagem.

PALAVRAS-­CHAVE: Reutilização, Flexibilidade, Desconstrução, Ligações de materiais.

6

ABSTRACT This work is part of a time when humanity has been consuming resources beyond the capacity of absorption and replacement of natural systems and where construction has contributed greatly to this. Therefore, it is essential to discuss ways to exploit natural resources in order to preserve them for future generations, in other words, in a sustainable way.

Currently, the construction sector activity is guided by highly unsustainable practices, resulting from the extraction of large amounts of non-­renewable material resources, high energy consumption and the high amount of waste generated during construction or demolition of buildings. In addition, the rapidly changing demands of a building makes the usefulness period of that building shorter, often shorter than the lifetime of the construction itself. Therefore, the existence period of a building is not only due to its physical durability but also, and especially, due to its useful durability.

To combat these problems, it is essential to adopt new design principles, like flexibility and deconstruction, resulting in waste reduction and facilitating and expediting the reuse and / or recycling of construction materials. In fact, building deconstruction avoids sending material to landfill by giving it new uses and meanings, exploring its durability and usefulness until the limit, without damage the architectural quality of the building. Moreover, the right choice of materials to be used will decrease the environmental impact of the construction itself, by choosing materials with low environmental impact.

This study aims to reflect on the weight of the architect's decisions to get a sustainable building, both in the choice of materials and in terms of construction and space systems adopted. Thus, it will be conducted on a set of constructive solutions for wall, floor and roof, made of low environmental impact materials and which can be easily recovered for reuse or recycling.

KEY WORDS: Reuse, Flexibility, Deconstruction, Materials connections.

7

ÍNDICE

AGRADECIMENTOS .......................................................................................................................... 3 RESUMO ............................................................................................................................................. 5 ABSTRACT .......................................................................................................................................... 6 ABREVIATURAS ................................................................................................................................. 8 ÍNDICE DE TABELAS .......................................................................................................................... 9 ÍNDICE DE FIGURAS ....................................................................................................................... 10

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 13

1.1 Enquadramento e âmbito do trabalho .......................................................................... 13 1.2 Objetivos e metodologia ................................................................................................... 18 1.3 Organização do documento ........................................................................................... 18

2. CONSTRUÇÃO SUSTENTÁEL ..................................................................................................... 19

2.1 Reutilização e Reciclagem dos materiais ..................................................................... 21 2.1.1 Gestão e valorização dos RCD em Portugal ................................................... 25 2.1.2 Casos de sucesso na gestão e valorização dos RCD .................................... 27 2.1.3 Análise da legislação ............................................................................................. 28

2.2 Flexibilidade como forma de sustentabilidade ............................................................ 30 2.3 Desconstrução .................................................................................................................... 33 2.4 Critérios na escolha dos materiais de construção ...................................................... 40

3. SOLUÇÕES CONSTRUTIVAS ...................................................................................................... 51

3.1 Paredes ................................................................................................................................. 51 3.2 Pavimentos ........................................................................................................................... 58 3.3 Coberturas ............................................................................................................................ 60 3.4 Ligações dos materiais ...................................................................................................... 61

4. CONCLUSÕES ............................................................................................................................ 67

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................... 71

6. ANEXOS ........................................................................................................................................ 79

8

ABREVIATURAS

ACV Análise do ciclo de vida APA Agência Portuguesa do Ambiente CCA Compostos à base de cobre, crómio e arsénio CCP Código de Contratos Públicos COV Compostos Orgânicos Voláteis DAP Declaração Ambiental de Produto DEPA Danish Environmental Protection Agency ENDS Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável FSC Forest Stewardship Council GEE Gases com Efeito de Estufa GWP Global Warming Potential ISO International Standard Organization LSF Light Steel Framing ONU Organização das Nações Unidas OPEP Organização dos Países Exportadores de Petróleo PEC Primary Energy Consumption PII Plano de Implementação Internacional PPG-­RCD Plano de Prevenção e Gestão dos Resíduos de Construção e

Demolição PRR Potencial de Reutilização e Reciclagem RCD Resíduos de Construção e Demolição RJUE Regime Jurídico da Urbanização e Edificação s/d Sem data

9

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 2.1 Quantidade de matérias-­primas geradas durante o processo extrativo. Fonte: Torgal & Jalali, 2010

22

Tabela 2.2 Produção de RCD e % reciclada nos países da UE-­15. Fonte: Symonds Group, 1999

24

Tabela 2.3 Contributos para os três objetivos do projeto para a desconstrução. Fonte: Santos, 2010 (adaptado)

39

Tabela 2.4: Energia incorporada em materiais de construção. Fonte: Torgal&Jalali, 2010;; Berge, 2009;; Mendonça, 2005.

44

Tabela 2.5 Consumo de energia no transporte de materiais. Fonte: Berge, 2009

45

Tabela 2.6 Potencial de Aquecimento Global (GWP) de alguns materiais de construção. Fonte: Augusto, 2011;; Mendonça, 2005.

46

Tabela 2.7 Características e PPR de materiais de construção. Fonte: Augusto, 2011 (adaptado)

47

Tabela 2.8 Água incorporada de alguns materiais. Fonte: Augusto, 2011;; Nascimento, 2014

48

Tabela 3.1 Comparação dos valores de PEC, GWP e água incorporada para o aço, aço reciclado e madeira.

51

Tabela 3.2 Resumo das características dos materiais de isolamento. Fonte: Lucas, 2009 (adaptado)

54

Tabela 3.3 Comparação dos valores de PEC, GWP e água incorporada para a pedra naturas e revestimentos cerâmicos.

55

Tabela 3.4 Comparação dos valores de PEC, GWP e água incorporada para o gesso e madeira.

56

Tabela 3.5 Elementos de fixação para fachadas ventiladas. Fonte: Oliveira, 2011

62

10

ÍNDICE DE FIGURAS

1. Introdução

Fig. 1.1 Fig. 1.2

Ilustração que retrata a poluição causada pelo uso do carvão nas indústrias que se multiplicavam. Fonte: http://historia8alfandega.blogspot.pt/

13

15 Fig. 1.3 Esquema da integração das três áreas para obtenção do

desenvolvimento sustentável.

2. Construção Sustentável

Fig. 2.1 Percentagem de RCD produzidos em Portugal em 2009. Fonte: Martins, 2013.

21

Fig. 2.2 Ciclo aberto e ciclo fechado dos recursos.

Fonte: Barbosa, 2009. 23

Fig. 2.3 Hierarquia de prioridades na gestão dos resíduos.

Fonte: INE, 2013. 25

Fig. 2.4 Evolução das taxas de reciclagem de RCD na Dinamarca.

Fonte: Mália, 2010. 27

Fig. 2.5 Diversidade das unidades familiares.

Fonte: Jorge, 2012. 31

Fig. 2.6 Desconstrução.

Fonte: Guy & Ciarimboli, 2005. 33

Fig. 2.7 Símbolo do rótulo ecológico alemão Anjo Azul. 41 Fig. 2.8 Símbolo do rótulo EcoLogo. 41 Fig. 2.9 Símbolo do rótulo O Cisne 41 Fig. 2.10 Símbolo do rótulo ecológico europeu, Eco-­label.

Fonte: Nascimento, 2014. 42

Fig. 2.11 Símbolo da FSC (Forest Stewardship Council). 42

3. Soluções Construtivas

Fig. 3.1 Solução construtiva para paredes. 50 Fig. 3.2 Placa de OSB. 53

11

Fig. 3.3 Aplicação do OSB em LSF. Fonte: Servisteel.

53

Fig. 3.4 Somatório das emissões para ar, água e solo de quatro soluções

de isolamento térmico. Fonte: (Lucas, 2008).

53

Fig. 3.5 Solução construtiva para pavimentos. 57 Fig. 3.6 Fig. 3.7

Sistema de encaixe de pavimentos em madeira. 57

Fig. 3.8 Fig. 3.9

Pavimento cerâmico sem argamassas. Fonte: Revigrés.

58

Fig. 3.10 Pormenor construtivo do pavimento. 58 Fig. 3.11 Fig. 3.12

Esquemas do rodapé. 59

Fig. 3.13 Solução construtiva para coberturas. 59 Fig. 3.14 Fig. 3.15

Bucha com parafuso metálico para fixação do isolamento térmico.

61

Fig. 3.16 Fig. 3.17

Sistema de fixação pontual, grampos mecânicos. 63

Fig. 3.18 Fig. 3.19 Fig. 3.20

Sistema de fixação por encaixe Gail. Fonte: Catálogo Keragail.

64

64 Fig. 3.21 Sistema de fixação por implante no tardoz. Fig. 3.22 Sistema de fixação por implante no tardoz (vista superior). 64 Fig. 3.23 Fig. 3.24

Sistema de fixação por rasgo no tardoz da peça de revestimento. Fonte: Inovent.

65

12

13

1.

INTRODUÇÃO 1.1 ENQUADRAMENTO E ÂMBITO DO TRABALHO Ao longo das últimas décadas, as preocupações ecológicas foram ocupando os lugares cimeiros da lista de prioridades das diretrizes políticas e das preocupações da opinião pública em geral.

Acontecimentos como as Crises do Petróleo, o Buraco do Ozono e o Aquecimento Global têm servido de alerta para uma nova forma de pensar uma existência sustentável do ser humano na Terra.

Foi com a Revolução Industrial que os sinais de degradação ambiental se tornaram mais evidentes. O Êxodo Rural verificado, com as populações a invadir as cidades em busca de emprego, resultado da substituição da mão-­de-­obra por máquinas, provocou um crescimento urbano muitas vezes desordenado e um aumento da poluição ambiental e sonora. Ao longo de toda a evolução verificada nesta época, nunca houve preocupações com gastos energéticos nem consciência dos impactos do consumo desmesurado de recursos naturais finitos. O grande crescimento populacional, motivado pela melhoria das condições de vida, e a consolidação da classe média levou à estabilização do mercado consumidor, à pressão sobre os recursos e a partir daí o lixo gerado foi não só cada vez maior como também cada vez mais difícil de ser absorvido ou reciclado (Kahn & Nobrega, s/d).

Figura 1.1 e Figura 1.2: Ilustrações que retratam a poluição causada pelo uso do carvão nas indústrias que se multiplicavam;; (Fonte: http://historia8alfandega.blogspot.pt/)

14

No entanto, é a década de 70 do século XX, devido às crises do petróleo, que constitui um ponto de viragem nas consciências dos governantes e populações relativamente aos problemas ambientais e do consumo dos recursos naturais. No início desta década, a procura internacional pelo petróleo começou a exceder a produção, que desde os anos 50 era bastante superior (Figueiredo dos Santos, 2010). Por esta altura, a economia mundial era completamente dependente do petróleo, que era o principal elemento das grandes potências, garantindo progresso e riqueza. Em 1973, os países da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), como forma de pressão política, emb egro aos Estados Unidos e países da Europa, resultando no aumento drástico do preço do barril. Gerou-­se, assim, a maior crise petrolífera, afetando toda a economia mundial. A Europa e o Japão foram até obrigados a racionar energia e os Estados Unidos travaram o consumo e investiram nas suas reservas. Viriam ainda mais duas crises, em 1979 e outra em 1990, que deu origem à Guerra do Golfo.

Estas crises puseram fim à ideia de que o petróleo era inesgotável, levando à tomada de consciência do que o seu fim implicaria.

Desde então, muitos países procuram novas fontes de energia, organizando várias convenções sobre este tema, que vêm sendo realizadas até aos dias de hoje. Nestas reuniões estabeleceram-­se objetivos e programas que visavam a recuperação e proteção dos recursos naturais.

Neste contexto, realizou-­

preocupações sociais e ambientais e sendo decisiva para o surgimento de políticas de gestão ambiental estabelecer uma visão global e princípios comuns na preservação e na melhoria do meio ambienteconferência, saiu uma declaração com 26 princípios a serem respeitados por todos os países. No entanto, estes princípios não constituíam ainda um compromisso sério dos países, revelando alguma incipiência relativamente às questões ambientais e às suas consequências.

Já em 1987, foi publicado o relatório Our Common Future, mais conhecido como relatório Brundtland. Resultado de uma iniciativa da Assembleia Geral das Nações

-­se um novo olhar sobre o desenvolvimento, surgindo pela primeira vez o termo Desenvolvimento Sustentável. Este conceito é permite satisfazer as necessidades do presente sem comprometer as possibilidades das gerações futuras satisfazerem as suas (Brundtland, 1987). Este documento tinha como principal objetivo constituir-­se como

e tornou-­se a primeira síntese verdadeiramente globalizada sobre a relação entre o desenvolvimento e o ambiente (Santos, 2010). Aponta para a incompatibilidade entre o desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo existentes. No entanto, não propõe a estagnação do desenvolvimento económico, mas sim um desenvolvimento que tenha em conta questões ambientais e sociais, o desenvolvimento sustentável não é um estado fixo de harmonia, mas antes um processo de mudança no qual a exploração de recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e as mudanças institucionais são compatibilizadas com as necessidades futuras assim

(Brundtland, 1987).

15

Figura 1.3: Esquema da integração das três áreas para obtenção do desenvolvimento sustentável.

O relatório Brundtland definiu, então, um conjunto de medidas para serem postas em prática pelos vários países, entre as quais se destacam:

_ Limitação do crescimento populacional;;

_ Garantia dos recursos básicos a longo prazo;;

_ Preservação da biodiversidade e ecossistemas;;

_ Diminuição do consumo de energia;;

_ Desenvolvimento de tecnologias com o recurso ao uso de energias renováveis;;

_ Aumento do nível de industrialização dos países menos desenvolvidos, recorrendo a tecnologias ecologicamente adaptáveis;;

_ Controle da urbanização desordenada;;

_ Implantação de um programa de desenvolvimento sustentável pela Organização da Nações Unidas;;

_ Uso de novos materiais na construção;;

_ Reestruturação da distribuição de zonas residenciais e industriais;;

_ Reciclagem de materiais reaproveitáveis;;

_ Consumo racional de água e de alimentos;;

_ Redução do uso de produtos químicos prejudiciais à saúde na produção de alimentos.

Com o relatório de Gro Brundtland, Primeira-­ministra norueguesa que presidiu à conferência, emergiu um movimento ambientalista orientado para a sustentabilidade, começando a afetar todos os segmentos da sociedade, incluindo, ainda que lentamente, o sector da construção (Kibert, 1994). No entanto, teve-­se a perceção do longo caminho que ainda havia para percorrer com vista a um futuro sustentável, constituindo-­se no ponto de partida para um conjunto de iniciativas levadas a cabo à escala local, nacional e global.

Sustentável

Social Económico

Ambiental

16

Uma delas foi, em 1992, a Cimeira do Rio de Janeiro, conhecida como Rio-­92 ou ECO-­92. Iniciativa recomendada já pelo relatório Brundtland, veio reafirmar a conferência de 1972 em Estocolmo. A Rio-­ estabelecer uma nova e equitativa parceria global através da criação de novos níveis de cooperação entre os Estados, os setores-­ , tonando-­se necessário a elaboração de e que

natureza integral e interdependente da (ONU, 1992).

A grande diferença da cimeira de 1992 para a de 1972 foi a participação maciça dos chefes de estado, contando o Rio de Janeiro com a presença de 170 países, comprovando a importância atribuída às questões ambientais no início da década de 90.

Como resultado desta conferência, foi elaborado um documento designado por Agenda 21, que estabeleceu os compromissos de cada país e os objetivos a atingir global e localmente. Este documento impele, não só a uma cooperação dos governos dos vários países, mas também à cooperação de empresas, organizações não-­governamentais e todos os sectores da sociedade, para o desenvolvimento sustentável, visando conciliar a proteção do ambiente com o desenvolvimento económico e a coesão social (APA, 2007).

Sendo um documento que continha as bases gerais de uma estratégia global para um novo modelo de crescimento e desenvolvimento das nações, coube depois a cada

Dez anos depois da cimeira do Rio, em 2002, as Nações Unidas organizaram a Cimeira Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável. Esta teve lugar em Joanesburgo e veio reforçar os compromissos assumidos na Agenda 21. Alguns desses compromissos prendem-­se com a concretização de metas e calendários em matérias como o acesso à água e ao saneamento básico, a melhoria da estrutura institucional para lidar com as questões da pobreza e da degradação ambiental, a promoção da modificação de hábitos de consumo e produção e a proteção e gestão dos recursos naturais (APA, 2007).

Como resultado da cimeira de Joanesburgo, foi elaborado um Plano de Implementação Internacional (PII), com o objetivo de implementar a nível internacional estratégias de desenvolvimento sustentável para a década de 2005-­2015 (Pereira, 2009). Este não era um plano fechado, estando aberto aos contributos da sociedade civil, e às adaptações inevitáveis face ao período de vigência da estratégia (Sousa, 2012).

Já em 1997, teve lugar a elaboração do Protocolo de Quioto, que representa o mais conhecido instrumento na mitigação das alterações climáticas, sendo, até aos dias de hoje, o único tratado jurídico internacional que explicitamente pretende limitar as emissões quantificadas de gases com efeito de estufa (GEE) dos países desenvolvidos (APA, s/d). Neste documento, os países desenvolvidos tinham a obrigação de reduzir a quantidade de gases poluentes em, pelo menos, 5,2% até 2012, em relação aos níveis de 1990, sendo esta percentagem variável entre os países signatários. No entanto, a União Europeia estabeleceu para si própria um objetivo mais ambicioso, o de reduzir as emissões em 8%. Para o alcançar, foi estabelecido um Acordo de Partilha de Responsabilidades, no qual cada país, de acordo com o seu nível de desenvolvimento, ficou responsável por diferentes metas individuais (Pereira, 2009). Este acordo obrigou muitos países a reduzir os seus níveis de emissões, enquanto outros puderam mesmo aumentá-­las.

17

O protocolo de Quioto simbolizou a tomada de consciência, a nível global, da gravidade das consequências das alterações climáticas. Desde então, muitos livros, documentos, conferências, relatórios e até filmes têm sido feitos sobre estes temas. No entanto, o impacto deste protocolo ficará aquém do expectável devido à não assinatura por parte dos Estados Unidos e ao facto das metas que foram propostas serem insuficientes para que se consigam atingir reduções significativas até 2020. De acordo com Mota (2004), é indispensável que se entre numa nova fase do processo de Quioto, onde o princípio da responsabilidade partilhada e diferenciada segundo os níveis de desenvolvimento, não poderá deixar de fora nações e economias com a dimensão da China, da Índia e do Brasil, que por serem considerados países em desenvolvimento não se comprometeram com metas com vista a baixar os níveis de emissões.

Na sequência dos compromissos assumidos por Portugal na Agenda 21, foi elaborado um documento em 2002 intitulado Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável (ENDS). Este documento consiste no conjunto de atuações a serem levadas a cabo para, num horizonte de 12 anos, assegurar um crescimento económico célere e vigoroso, uma maior coesão social e um elevado e crescente nível de proteção

(Mota, 2004). Segundo o mesmo documento, as principais dificuldades com que Portugal se defronta na procura de um desenvolvimento sustentável são, ao nível ambiental, uma ineficaz gestão dos resíduos, uma excessiva dependência energética do exterior, uma deficiente gestão de recursos hídricos e o aumento dos níveis de emissões de gases que provocam o efeito de estufa, pondo em causa o cumprimento do protocolo de Quioto.

Está previsto para dezembro de 2015, na Cimeira de Paris, a assinatura de um novo acordo global que venha substituir o Protocolo de Quioto a partir de 2020 (Azevedo, 2014). O novo acordo deverá ter em consideração as mudanças geopolíticas desde 1990 até os dias de hoje. Os Estados Unidos, que não tinham assinado Quioto, e grandes economias emergentes, como a China, o Brasil, a Índia e a África do Sul, que não tinham obrigações nesse protocolo, deverão agora contribuir no combate às mudanças climáticas (Castelo Branco, 2014).

Os desafios ambientais que o planeta enfrenta são muito graves e para os solucionar, são necessárias medidas urgentes. Apesar de todos os protocolos e metas assinadas, não tem havido, a nível mundial, um consenso sobre esta matéria que se traduza em medidas significativas e não a meros paliativos. É importante realçar que, mesmo que parassem neste momento todas as emissões de Carbono, a quantidade já existente na atmosfera iria lá permanecer durante 100 anos (Clayton, 2001).

A era da sustentabilidade, talvez mais do que qualquer outra coisa, deve servir para que se reúna e sintetize informação, de maneira a garantir às gerações futuras o seu próprio ambiente sustentável (Kibert, 1994).

Nesse sentido, a presente dissertação apresenta como principal orientação entender os pressupostos construtivos a ter em conta com vista ao prolongamento da vida útil de um edifício e à reutilização dos seus elementos e materiais com o evoluir das necessidades dos seus utilizadores. Pretende-­se refletir sobre conceitos como sustentabilidade, desconstrução, reutilização, flexibilidade, adaptabilidade e reversibilidade, transportando-­os depois para a sua aplicação em soluções concretas, podendo servir como ponto de referência para a realização de sínteses de informação para a construção sustentável.

18

1.2 OBJECTIVOS E METODOLOGIA O principal objetivo da presente dissertação é conceber soluções construtivas para paredes, pavimentos e coberturas que cumpram os requisitos de um projeto para a desconstrução, que confira flexibilidade ao edifício e permita a reutilização e reciclagem dos seus materiais e componentes, utilizando materiais de baixo impacte ambiental, por forma a minimizar o impacto da produção desses materiais, os prejuízos dos RCD e a pressão sobre os recursos naturais, aproveitando, o mais possível, os recursos já extraídos e produzidos. Pretende-­se ainda:

, da flexibilidade e da reutilização e reciclagem de elementos, componentes e materiais para a sustentabilidade na construção;;

Analisar a legislação relativa à reutilização e reciclagem de resíduos da construção e demolição;;

Para atingir os objetivos propostos, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, incluindo a consulta de diversos livros, trabalhos, artigos científicos, estudos de investigação e outras fontes, que permitissem, num primeiro instante, compreender não só a necessidade cada vez mais veemente de construções sustentáveis, assim como as políticas e estratégias aplicadas nesse campo.

Seguidamente, procedeu-­se à sistematização, tratamento e análise da informação, fase intrinsecamente ligada ao reconhecimento das ações construtivas a levar a cabo com vista ao prolongamento da vida útil do edifício e à reutilização dos seus elementos e materiais com o evoluir das necessidades.

Finalmente, com base no estudo feito, formulou-­se uma proposta de contribuição arquitetónica que permita a desconstrução de materiais e elementos com vista a uma arquitetura mais sustentável.

1.3 ORGANIZAÇÃO DO DOCUMENTO

A dissertação está organizada em quatro capítulos. O primeiro diz respeito à introdução do trabalho, onde é feita uma contextualização histórica do tema da sustentabilidade e das preocupações de entidades governamentais em estabelecer consensos quanto a este tema.

No segundo capítulo, denominado Construção Sustentável, começa-­se por definir este conceito, enquadrando-­o dentro das várias discussões que vêm sido feitas em conferências e debates sobre o tema. De seguida, abordar-­se-­á quatro pontos fundamentais para que se atinja uma construção sustentável: a reutilização e reciclagem de materiais, a flexibilidade da construção, a desconstrução e a escolha correta dos materiais.

Já no terceiro capítulo, serão apresentadas as soluções construtivas que respeitam os princípios abordados no capítulo anterior, justificando todos os materiais utilizados e as ligações entre eles, pretendendo-­se que sirvam como contributo para a construção sustentável.

Por fim, no quarto capítulo, constam as conclusões e reflexões tiradas do trabalho desenvolvido e introduzem-­se algumas recomendações para futuras investigações que complementem este trabalho

19

2.

CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL A génese do Desenvolvimento Sustentável, nas suas três dimensões (ambiental, social e económica), assenta direta ou indiretamente no tema do uso dos recursos. Por um lado, todas as preocupações com os impactes ambientais a que hoje assistimos estão diretamente relacionadas com a produção, extração, transformação, distribuição, consumo e deposição dos recursos. Por outro, são recursos como a água potável, os alimentos, as infraestruturas ou as unidades de cuidados de saúde que garantem a sustentabilidade social. E ainda, a sustentabilidade económica está relacionada com a forma como é gerada e distribuída a riqueza ao longo da cadeia de produção, transformação e uso dos recursos (Berge, 2009).

Então, conclui-­se que a procura de sustentabilidade passa necessariamente pela procura de um equilíbrio entre a capacidade do meio providenciar recursos, as solicitações criadas pelos seres humanos, e ainda com a capacidade do planeta absorver os resíduos decorrentes da utilização desses mesmos recursos (Teodoro, 2011).

A indústria da construção constitui um dos maiores e mais ativos sectores em toda a Europa, representando 28,5% e 7,0% do emprego, respetivamente, na indústria e em toda a economia europeia (Mália et al, 2011). Para além de potenciarem um importante efeito económico e social, as atividades construtivas, potenciam também um efeito ambiental, associado à ocupação do solo, à utilização dos recursos (materiais e energéticos), à produção de grandes quantidades de resíduos e à alteração dos ecossistemas naturais.

A nível mundial a indústria da construção consome aproximadamente 3000 Mt/ano de matérias-­primas, sendo apenas superada pela produção alimentar (Berge, 2009), e consome mais recursos do que qualquer outra atividade económica, o que evidencia um sector claramente insustentável (Torgal & Jalali, 2010).

No entanto, é de salientar que, como refere Tirone & Nunes (2007), o meio edificado é um estável recurso ambiental, dado que, quer as infraestruturas quer os edifícios, apoiam e albergam as atividades humanas ao longo de várias gerações. Neste sentido, o desenvolvimento sustentável não implica a não extração de materiais para a construção. Impõe sim, que tudo o que seja extraído tenha o maior valor acrescentado e o maior aproveitamento possíveis. É de notar que, o objetivo da sustentabilidade não é deixar a Natureza intocável, que leve à estagnação da sociedade. Pelo contrário, a sustentabilidade pretende encontrar a forma de desenvolvimento mais próspera, com iguais oportunidades para todos, sem que isso massacre e acabe por destruir o sítio onde vivemos.

20

No seguimento da Cimeira do Rio de Janeiro, e com o intuito de reunir pessoas com interesse em trocar informação e avaliar o progresso desse novo conceito do qual se começava a falar, a construção sustentável ou construção-­verde, surge, em 1994, a Primeira na Flórida. Nesta conferência, Charles Kibert apresentou o conceito para construção sustentável, definindo-­ a criação e gestão responsável de um ambiente construído saudável (tanto no seu interior como no exterior), tendo em consideração os princípios ecológicos (evitando danos ambientais) e a utilização eficiente dos recursos (energia, água, materiais e solo) . Kibert (1994) estabelece ainda os Seis Princípios para uma Construção Sustentável, ou seja, o conjunto de princípios a seguir para atingir esses objetivos:

_ Minimizar o consumo de recursos (Conservar);;

_ Maximizar a reutilização de recursos (Reutilizar);;

_ Utilizar recursos renováveis ou recicláveis (Renovar/Reciclar);;

_ Proteger os sistemas naturais (Proteger a Natureza);;

_ Criar um ambiente saudável (não-­tóxico);;

_ Desenvolver a qualidade do ambiente construído (qualidade).

Em suma, o cumprimento destes princípios passa por uma correta escolha dos materiais a aplicar, que devem ter baixos impactes ambientais e que possam ser reutilizados ou reciclados, uma solução arquitetónica adequada que permita a eficiência térmica do edifício e o não desperdício de recursos materiais e energéticos, aproveitando, sempre que possível, os já extraídos, conjugado com um apoio legislativo que incentive as práticas sustentáveis e com a garantia dos meios necessários ao seu cumprimento.

21

2.1 REUTILIZAÇÃO E RECICLAGEM DE RCD A atividade de construção civil é grande consumidora de recursos naturais, sendo também uma das principais fontes de resíduos, situação atualmente agravada pela constante necessidade de mudança e adaptação a diferentes estilos de vida.

Segundo a Agência Portuguesa do Ambiente, este sector é responsável por uma parte muito significativa dos resíduos produzidos em Portugal, situação comum à generalidade dos demais Estados membros da União Europeia em que se estima uma produção anual global de 100 milhões de toneladas de resíduos de construção e demolição (RCD) . No entanto, o Eurostat aponta para uma produção de resíduos por parte da indústria da construção, nos 28 países da União Europeia, para valores na ordem das 820 milhões de toneladas, constituindo cerca de 33% do total de resíduos produzidos por estes países.

Em Portugal, segundo Martins (2013), em 2009 produziu-­se cerca de 2 milhões de toneladas de RCD, dos quais 52% eram resíduos de betão, tijolos, ladrilhos, telhas e materiais cerâmicos (Figura 2.1).

Figura 2.1: Percentagem de RCD produzidos em Portugal em 2009 (Fonte: Martins, 2013).

Os valores da Figura 2.1 são de esperar, uma vez que, os materiais mais comuns na construção portuguesa são o betão e a alvenaria. De facto, as constantes renovações urbanas que são necessárias, motivadas pela procura de um melhor aproveitamento do solo em áreas de grande densidade populacional, ou pelas rápidas mudanças tecnológicas na construção, ou, ainda, pela deterioração dos edifícios, implicam modificações e, até, algumas demolições que determinam o inevitável aumento da

52%

3%4%6%

16%

1%

18%

Betão, tijolos, ladrilhos, telhas emateriais cerâmicos (52%)

Madeira, vidro e plástico (3%)

Misturas betuminosas, alcatrão eprodutos de alcatrão (4%)

Metais (incluindo ligas) (6%)

Solos, rochas e lamas de drenagem(16%)

Materiais de isolamento emateriais de construção contendoamianto (1%)

Materiais de construção à base degesso (0%)

Outros RCD (18%)

22

produção dos RCD (Costa, 2006/07). Segundo o mesmo autor, em Portugal a situação agrava-­se pelas condições precárias de alguns sectores de habitação, como as zonas

correção de erros urbanísticos e à falta de estímulos à reabilitação urbana, assiste-­se à demolição de edifícios e infraestruturas obsoletas, como é o caso das torres do Bairro do Aleixo no Porto ou das torres da Península de Troia (Costa, 2006/07).

Mas se se analisar a fase a montante, relativa à extração dos recursos naturais, verifica-­se um muito reduzido aproveitamento da totalidade de recurso extraído.

Tabela 2.1: Quantidade de matérias-­primas geradas durante o processo extrativo -­ Torgal & Jalali, 2010

No ano de 2000, a atividade extrativa, a nível mundial gerou 6000 milhões de toneladas de resíduos mineiros, para apenas 900 milhões de matérias-­primas, resultando num aproveitamento de apenas 0,15% (Torgal & Jalali, 2010). A deposição destas enormes quantidades de resíduos minerais, constitui um risco ambiental em termos da preservação da biodiversidade e da poluição das fontes de água potável.

No entanto, os resíduos podem constituir uma origem alternativa de matérias-­primas. Através da reciclagem ou da reutilização dos resíduos, produz-­se a mesma quantidade de produto, com menor consumo de recursos energéticos e materiais. As vantagens ambientais da reutilização e reciclagem são óbvias. Para além de evitarem a deposição de resíduos em aterros, reduzem as emissões poluentes e, ainda, diminuem a necessidade de extração e refinação de materiais virgens, satisfazendo a procura de materiais na indústria.

A valorização (reutilização, reciclagem ou outras) dos RCD passa por repor a lógica de transformação da matéria de um sistema de ciclo aberto ou linear (extração-­produção-­entulho) para um de ciclo fechado (extração-­utilização-­reutilização-­reciclagem), reduzindo o volume de resíduos (e os impactes associados aos mesmos) e, simultaneamente, reduzindo o consumo de materiais virgens na produção de novos produtos (Figura 2.2) (Barbosa, 2009).

MATÉRIA-­PRIMA QUANTIDADE DE

ROCHA/SOLO EXTRAÍDO (MT)

QUANTIDADE QUE É APROVEITADA (%)

Ferro 25503 40 Cobre 11026 1 Zinco 1267 0.05 Alumínio 869 30 Chumbo 1077 2.5 Estanho 195 1 Níquel 387 2.5 Tungsténio 125 0.25 Manganês 745 30

23

Figura 2.2: Ciclo aberto e ciclo fechado dos recursos (Fonte: Barbosa, 2009)

As operações de valorização de resíduos mais comuns são a reutilização e a reciclagem. Embora por vezes confundidas, são operações muito distintas que apresentam diferentes níveis de desejabilidade.

A reutilização consiste no aproveitamento de produtos já utilizados, sem que estes sofram quaisquer tipos de alterações ou processamento complexos (Fernandes & Teixeira, 2006). Os materiais podem ser adaptados e alterados ao nível da forma, tamanho ou acabamento, mas não são reprocessados, mantendo a sua constituição original (Gray, 2014) e explorando a sua durabilidade e utilidade até ao limite.

Segundo Santos (2010), são consumidos 3.000 milhões de toneladas de materiais de construção todos os anos no mundo inteiro, pelo que, a substituição de apenas 5% dessa massa por materiais recuperados evitaria o envio de 150 milhões de toneladas de materiais para aterro e (idealmente) evitaria o consumo de 150 milhões de toneladas de materiais novos. A reutilização de materiais reduz significativamente os impactos ambientais da construção, podendo levar à poupança de 95% dos custos (económicos e ambientais) incorporados ao evitar produção desnecessária de um novo material (Gray, 2014).

Por outro lado, a reciclagem consiste na reintrodução no processo produtivo dos resíduos, para que possam ser reelaborados, gerando assim um novo produto idêntico ou não ao que lhe deu origem. (Fernandes & Teixeira, 2006). A reciclagem reduz a acumulação progressiva de lixo e o consumo de matérias-­primas (que no caso do papel, por exemplo, exige o corte de árvores, maiores emissões de gases, agressões ao solo, ar e água, entre outros). No entanto, por ser um processo industrial, a reciclagem requer consumo de energia e gera resíduos na transformação dos materiais, pelo que, mesmo que a matéria seja preservada, haverá sempre impactes para o meio. Como tal, a reutilização é um processo ambientalmente melhor do que a reciclagem, pois não requer processos industriais, sendo, por isso, considerada (a reciclagem) como o último recurso no reaproveitamento de materiais (Teodoro, 2011).

Contudo, as vantagens da reciclagem não se cingem ao campo ambiental. Este processo é também importante ao nível económico e social, na medida em que, promove a inovação e o crescimento económico, gera emprego e contribui para

24

garantir a disponibilidade dos recursos essenciais. De acordo com a Agência Europeia do Ambiente, prioridade política europeia e mundial: a transição para uma economia compatível com o ambiente, que gere prosperidade e, paralelamente, preserve um ambiente

A título de exemplo, os dados da Agência de Ambiente dos Estados Unidos (EPA, 2002) referem que enquanto a inceneração de 10 000 toneladas de resíduos permitem a criação de um posto de trabalho e o depósito em aterro 6 postos, a reciclagem da mesma quantidade de resíduos representa a criação de 36 postos de trabalho. Aplicando estes valores aos cerca de 2 milhões de toneladas de RCD produzidos em Portugal anualmente e admitindo que 80% desses materiais seriam reciclados, significaria a criação de cerca de 5 760 postos de trabalho.

Existe alguma falta de informação no que respeita às atuais taxas de reaproveitamento dos RCD. A grande maioria dos autores invoca dados de um relatório de 1999,

uropeia. A tabela 2.2 dá conta das taxas de produção e reciclagem de resíduos.

Tabela 2.2: Produção de RCD e % reciclada nos países da UE-­15 -­ Symonds Group, 1999

ESTADO MEMBRO RCD PRODUZIDOS (MT)

% REUTILIZADA OU RECICLADA

% INCINERADA OU LEVADA P/ ATERRO

Alemanha 59 17 83 Reino Unido 30 45 55 França 24 15 85 Itália 20 9 91 Espanha 13 <5 >95 Holanda 11 90 10 Bélgica 7 87 13 Áustria 5 41 59 Portugal 3 <5 >95 Dinamarca 3 81 19 Grécia 2 <5 >95 Suécia 2 21 79 Finlândia 1 45 55 Irlanda 1 <5 >95 Luxemburgo 0 n.d n.d UE-­15 180 28 72

Os dados do referido estudo mostram que, em cada ano, a construção e demolição na União Europeia a quinze países produzem 180 milhões de toneladas de resíduos, dos quais 72%, ou seja, 130 milhões de toneladas anualmente são depositados em aterro ou incinerados. Para que haja uma maior noção da dimensão destes valores, os RCD que não são objeto de reciclagem, sendo depositados em aterro, equivalem a um volume com 13Km2 de superfície e 10m de altura, por cada ano, sendo que 13km2 representa um círculo de 4Km de diâmetro (Symonds Group, 1999).

É interessante observar também que, apesar de países como a Bélgica, a Dinamarca e a Holanda atingirem valores de percentagem de RCD reciclados superiores a 80%, a média da União seja somente de 28%. Este valor deve-­se à baixíssima reciclagem praticada em países como Portugal, Espanha, Grécia, Irlanda e Itália, que, coincidência ou não, quinze anos após a realização do estudo dos Symonds Group são os países com

25

maiores dificuldades financeiras. No entanto, estes dados não são de estranhar, visto que, em Portugal, só recentemente se legislou no sentido de reciclar ou reutilizar os RCD.

2.1.1 GESTÃO E VALORIZAÇÃO DOS RCD EM PORTUGAL

A recente legislação em matéria de gestão de resíduos define uma hierarquia de prioridades na prática dessa gestão. Essas prioridades, ilustradas na Figura 2.3, demonstram o crescente interesse na reutilização dos resíduos, antes do processo de reciclagem, uma vez que, como já referido, esse processo implica menos impactes negativos no ambiente e menos dinheiro gasto (INE, 2013).

Figura 2.3: Hierarquia de prioridades na gestão de resíduos (Fonte: INE, 2013)

A principal preocupação passa por maximizar a valorização dos resíduos, tentando diminuir ao máximo a quantidade de resíduos a eliminar.

Apesar de todo o esforço legislativo que é feito desde 1985 relativamente a gestão de resíduos, só em 2008 foi publicada, pela primeira vez, uma regulamentação específica para a gestão dos RCD. No entanto, é o Decreto-­lei Nº178/2006 de 5 de Setembro (que consagra o regime jurídico relativo à gestão geral de resíduos) que apresenta a definição de RCD como o resíduo proveniente de obras de construção, reconstrução, ampliação, alteração, conservação e demolição e da derrocada de

(Artigo 3.º, DL 178/2006 de 5 de Setembro).

O instrumento legislativo mais relevante no que diz respeito aos RCD é o Decreto-­Lei estabelece o regime das operações de gestão

compreendendo a sua prevenção e reutilização e as suas operações de recolha, transporte, armazenagem, triagem, tratamento, valorização e e (Artigo 1.º, DL46/2008 de 12 de Março).

Este regime jurídico diferencia as obrigações dos agentes envolvidos consoante se tratem de obras públicas ou particulares.

Nas obras públicas, e de acordo com o Artigo 10.º, é obrigatória a elaboração de um Plano de Prevenção e Gestão de RCD (PPG-­RCD), que acompanha o projeto de execução da obra. Nesse artigo, esclarece-­se, ainda, o conteúdo do PPG-­RCD. Nele deve constar:

_ Caracterização sumária da obra, com descrição dos métodos construtivos a utilizar;;

26

_ Metodologia para a incorporação de reciclados de RCD;;

_ Metodologia da prevenção de RCD, com identificação da estimativa dos materiais a reutilizar na própria obra ou noutros destinos;;

_ Referência aos métodos de acondicionamento e triagem de RCD na obra ou em local afeto a mesma;;

_ Estimativa dos RCD a produzir, da fração a reciclar ou sujeita a outras formas de valorização, bem como a quantidade a eliminar.

Também o Código de Contratos Públicos (CCP), no Artigo 43.º, refere que o projeto de execução deve ser acompanhado pelo PPG-­RCD. O mesmo documento, no Artigo 395.ª, a obra não está em condições de ser recebida se o dono de obra não atestar a correta execução do PPG-­

Já nas obras particulares, de acordo com o Artigo 11.º, o produtor de RCD está obrigado a assegurar a aplicação de uma metodologia de triagem de RCD, ou, quando tal não seja possível, o seu encaminhamento para um operador de gestão licenciado, assegurar que os RCD estão em obra o mínimo tempo possível e assegurar a existência em obra de um sistema de acondicionamento adequado que permita a gestão seletiva dos RCD. É, ainda, obrigado à apresentação de um registo de dados de RCD juntamente com o Livro de Obra na fase de execução. O Regime Jurídico de Urbanização e Edificação (RJUE) apresenta também, no seu Artigo 86.º, a obrigação do dono de obra, depois da conclusão da mesma, proceder à limpeza da área, de acordo com o regime de gestão dos RCD. O não cumprimento deste requisito impede a emissão do alvará de utilização ou da receção provisória das obras de urbanização, podendo, ainda, incorrer em coimas nos valores de 250 a 50 000

No caso especial das obras particulares isentas de licenciamento ou comunicação prévia, a gestão dos resíduos fica a cargo da entidade responsável pela gestão dos resíduos sólidos urbanos (Artigo 3.º, DL46/2008 de 12 de Março).

A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) destaca as principais alterações que o Decreto-­Lei nº46/2008 veio introduzir:

_ A possibilidade de reutilização de solos e rochas não contendo substâncias perigosas, preferencialmente na obra de origem;;

_ O estabelecimento da obrigação de triagem prévia à deposição dos RCD em aterro;;

_ A dispensa de licenciamento para determinadas operações de gestão, nos casos em que não só o procedimento de licenciamento não se traduzia em mais-­valia ambiental, como constituíam um forte obstáculo a uma gestão de RCD;;

_ A utilização de RCD em obra, devendo respeitar as normas técnicas nacionais ou europeias e, na sua ausência, devem observar-­se as especificações técnicas do LNEC;;

_ A responsabilização de todos os intervenientes no ciclo de vida dos RCD;;

_ A obrigação de emissão de um certificado de receção por parte do operador de gestão dos RCD.

Há ainda que destacar, que a deposição de resíduos inertes de RCD em aterro está sujeita a uma taxa de 2 /tonelada (Artigo 21.º, DL46/2008 de 12 de Março).

27

2.1.2 CASOS DE SUCESSO NA GESTÃO E VALORIZAÇÃO DOS RCD

A Dinamarca e a Holanda são dois casos de sucesso no que diz respeito à gestão e valorização dos RCD, que como se observa na tabela 2.2, em 1999 já reciclavam mais de 80% desses resíduos.

Segundo a Danish Environmental Protection Agency (DEPA), no caso dinamarquês, foi a falta de espaço para a construção de novos aterros e a preocupação com a poluição das águas subterrâneas (principal fonte de água potável da Dinamarca), que motivou a mudança de mentalidade e a perceção da necessidade de criar legislação que favorecesse medidas de valorização dos resíduos.

Em 1985, a DEPA começou a regular a reutilização de asfalto, permitindo que o asfalto demolido pudesse ser utilizado na construção de novas estradas sem necessidade de aprovação. Pelo contrário, a deposição em aterro, permanente ou temporária, desse asfalto já necessitaria de aprovação (Montecinos & Holda, 2006). Cinco anos depois, esta medida foi alargada à pedra, às telhas e aos elementos de betão, desde que livres de contaminantes e separados na origem. Estes dois critérios são, aliás, condição prévia para o não pagamento de imposto sobre a reutilização dos RCD.

A separação na origem e o elevado imposto a que estão sujeitos os resíduos que não são reciclados são, provavelmente, os dois fatores-­chave para a elevada taxa de reciclagem neste país (Mália, 2010). Desde que foi criado este imposto, em 1990, a taxa de reciclagem dos RCD aumentou muito significativamente, passando dos 15% em 1984 para mais de 80% em 1994 (Figura 2.4). Segundo o Waste Centre Denmark, desde 2001 que o imposto sobre os resíduos é de 44.30 /tonelada para os resíduos incinerados e de 50.34 /tonelada para os resíduos depositados em aterro. Torna-­se, por isso, mais barato reciclar todos os resíduos do que enviá-­los para aterro.

Figura 2.4: Evolução das taxas de reciclagem de RCD na Dinamarca (Fonte: Mália, 2010)

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

1984 1994 2000

Aterro Inceneração Reciclagem

28

Do mesmo modo, a Holanda desde 1993 tem vindo a implementar medidas que visam a prevenção, reutilização e reciclagem dos RCD. Dessas medidas, destacam-­se a obrigação de separação na origem (recorrendo a várias campanhas informativas, incentivos financeiros e regulações, este fator aumenta, indubitavelmente, as possibilidades de reciclagem, uma vez que, a grande maioria dos RCD pode ser diretamente encaminhada para uma central de reciclagem, sem necessitar de passar por uma central de triagem), a criação de um mercado atrativo para o uso de produtos reciclados, promovido não só pelo estado mas também pela própria indústria de construção, e o elevado imposto que é imputado aos RCD que não são levados para reciclagem (122 /tonelada). Promove-­se, também, os produtos com maior durabilidade, o desenvolvimento de elementos construtivos facilmente desmontáveis e a melhoria da qualidade dos materiais de construção produzidos a partir de RCD (Mália, 2010).

2.1.3 ANÁLISE DA LEGISLAÇÃO

Em Portugal há ainda um longo caminho a percorrer, para que se chegue a níveis de reciclagem ou reutilização dos RCD de países como a Holanda ou a Dinamarca.

Uma vez levados para uma unidade de gestão e tratamento de resíduos, os RCD são sujeitos a operações de triagem e processamento de forma a serem encaminhados para reutilização, reciclagem, tratamento, incineração ou para deposição em aterros legais. No entanto, a percentagem de resíduos levada para aterro continua a ser bastante superior à percentagem valorizada.

Um dos possíveis motivos para os baixos níveis de valorização dos RCD em Portugal está relacionado com o grande peso que materiais como o betão, tijolos, ladrilhos, telhas e materiais cerâmicos têm no total de RCD produzidos (figura 2.1). A sua valorização é, contudo, difícil, devendo passar por um processo de britagem e moagem, para serem então transformados em novos agregados para betão ou utilizados como material de preenchimento de soleiras de edifícios ou de substratos de pavimentos rodoviários (Mália, 2010), devendo cumprir um conjunto de requisitos e normas impostas pelo LNEC, num processo burocrático ainda um pouco complexo. Para além destas contrariedades quer no processamento quer na certificação do material reciclado, acresce que o betão constituído por agregados reciclados tem, por norma, características mais fracas do que o constituído por agregados naturais, isto devido às impurezas e restos de ligante que possam existir, e ainda que os agregados naturais em Portugal são muito baratos, não compensado, na maioria das vezes, o uso de agregados reciclados. É, por isso, essencial a criação de um mercado competitivo de agregados reciclados, criando, se necessário, incentivos fiscais à sua utilização.

Outro eventual motivo para que grande parte dos RCD seja levada para aterro, não sendo valorizada, reside na inexistência, na legislação vigente, de níveis mínimos de reciclagem ou da obrigatoriedade da integração de uma percentagem mínima de materiais reciclados em obra. Para além de obrigar os donos de obras a utilizarem materiais reciclados e a reciclarem os RCD, estas medidas serviriam como um incentivo à criação de um mercado competitivo de materiais reciclados, uma vez que, existem claras dificuldades para conseguir convencer os projetistas e donos de obra a adotar materiais reutilizados ou reciclados (Mália,2010).

Mais ainda, é necessário que se desenvolvam mais projetos de demonstração e investigação no sentido de caracterizar comprovar a qualidade destes materiais, contrariando a ideia subsistente de que são um produto de menor qualidade. É, por isso,

29

importante que o Estado privilegie a incorporação de materiais reutilizados ou reciclados em obra, para que o sector privado siga o exemplo.

Outra lacuna da legislação portuguesa que salta mais à vista, comparando com a legislação holandesa ou dinamarquesa, é a possibilidade de deposição de resíduos em aterro por apenas 2 /tonelada, não servindo, de maneira nenhuma, como incentivo à reciclagem. Esta taxa deveria subir para valores tais, que fosse mais barato optar pela reciclagem dos resíduos do que pela sua deposição.

Um ponto quase incompreensível do Decreto-­Lei em causa pende-­se com a não aplicação do PPG-­RCD às obras particulares, com a mesma exigência que se aplica às obras públicas, como acontece na Holanda ou Dinamarca.

Ainda relativamente ao PPG-­RCD, Chaves (2009) avaliou o grau da sua implementação, entrevistando diferentes agentes no sector da construção, como projetistas, empreiteiros, operadores de gestão de resíduos, empresas de fiscalização e Câmaras Municipais. Nessas entrevistas, os vários atores ressaltaram a falta de clareza da legislação sobre a quem compete a realização dos PPG-­RCD. Alguns empreiteiros referiram que não tinham obrigação de os elaborar, apenas de executá-­los, uma vez que o referido documento apenas incumbe ao empreiteiro ou ao concessionário executar o PPG-­ (Artigo 10.º, DL46/2008 de 12 de Março), nunca referindo quem elabora o documento.

A generalidade dos entrevistados é de opinião que, na grande maioria das vezes, o PPG-­RCD não é cumprido, sendo que as estimativas se encontram acima ou abaixo da realidade, pela dificuldade em estimar a quantidade de RCD que irão ser gerados durante a obra. Para além disso, consideram que todo o processo é dificultado pelo baixo grau de escolaridade dos operários.

Decorridos seis anos da publicação do Decreto-­Lei que regula a gestão dos RCD, denota-­se que existem algumas lacunas a colmatar na legislação portuguesa, para que se atinjam níveis de reutilização e reciclagem de resíduos de países como a Holanda ou a Dinamarca. É, portanto, urgente que se clarifique a legislação relativa à realização do PPG-­RCD, alargando-­o também às obras particulares. Mas não chega, estipular uma percentagem mínima de reutilização e reciclagem de RCD, assim como, criar uma taxa séria para o depósito de resíduos em aterro, representando vantagens económicas no processo de reciclagem, são medidas urgentes para que Portugal consiga recuperar o atraso nesta matéria em relação a outros países.

No que diz respeito à reutilização, os exemplos desta prática em Portugal estão praticamente limitados à reutilização de elementos provenientes de construções históricas (empregues em obras de restauro ou adaptação de estruturas existentes ou em obras novas de estilo histórico). A reutilização de elementos, componentes e materiais em novas construções é praticamente inexistente. O reduzido nível de reutilização em construções contemporâneas deve-­se, segundo Santos (2010), essencialmente aos seguintes fatores:

_ A reutilização padece de conotações sociais negativas, tanto ao nível da sociedade em geral, como ao nível da comunidade ligada à construção;;

_ As soluções construtivas / estruturais mais comuns são pouco compatíveis com a reutilização de elementos, componentes e materiais;;

_ A experiência na reutilização de componentes e materiais é reduzida;;

_ A disponibilidade de materiais recuperados é (ainda) reduzida;;

30

_ A disponibilidade de materiais novos, produzidos ou transformados é elevada;;

_ A reutilização de materiais não é ainda uma prioridade da sustentabilidade na construção, dando-­se mais valor às opções de reciclagem.

Não bastará, portanto, reconhecer os potenciais benefícios ambientais da reutilização de materiais, elementos e componentes para que ela ocorra automaticamente. É necessário ter em consideração que para os envolvidos no processo de conceção ou construção, a reutilização de materiais só será interessante se não comprometer as qualidades que seriam dadas como garantidas caso o projeto fosse concebido e construído apenas com materiais novos ou caso as mais-­valias compensem o investimento adicional (de tempo e capital). Para além disso é necessário também a compreensão dos desafios técnicos associados. Dependendo da forma como foram originalmente produzidos e assemblados, é possível fazer reverter os edifícios às suas

originais, o que permite contemplar a reutilização dos elementos, componentes e materiais assim recuperados.

A gestão dos RCD deverá ter como princípios fundamentais a prevenção da sua produção e da sua perigosidade, bem como o recurso à sua triagem sempre que possível na origem e a sistemas de reutilização, reciclagem e outras formas de valorização, com vista a reduzir a quantidade e a perigosidade dos resíduos a eliminar. Países como a Dinamarca e a Holanda nitidamente perceberam que a operação de triagem é a fase mais importante no processo de gestão dos resíduos, uma vez que é da sua eficiência que depende grandemente a possibilidade de valorização dos resíduos (AICOPA, 2007). Neste sentido, é fundamental que Portugal, por meio das entidades legislativas, mas também dos projetistas, garanta os meios e as técnicas construtivas que facilitem ao máximo o processo de separação dos materiais. Estratégias como o projeto para a desconstrução são reveladores do aparecimento

de uma nova metodologia de projeto que visa o desenvolvimento sustentávelet al., 1994).

2.2 FLEXIBILIDADE COMO FORMA DE SUSTENTABILIDADE

Desde sempre que a sociedade assiste a mudanças de paradigmas que são responsáveis pela criação ou alteração de programas arquitetónicos. Pode-­se falar nas melhorias das condições de higiene, no desaparecimento dos criados e no aparecimento do automóvel, responsáveis pela introdução ou desaparecimento de dependências nas habitações e pela mudança na forma de viver a cidade, ou ainda no aparecimento e aceitação dos media, dos meios de telecomunicação e dos eletrodomésticos, que levaram a uma mudança dos hábitos familiares (Esteves, 2013).

No entanto, o momento que a sociedade atual atravessa é particularmente caracterizado pela velocidade com que essa evolução se processa. Para além de velocidade, palavras como acesso, distância, dinâmica, diversidade ou mobilidade estão, sem dúvida, na ordem do dia. Acesso à informação e às oportunidades de uma

pensar num emprego para a vida, procurando a realização de vários projetos, dentro ou fora do seu país, deixando para momentos mais longínquos a constituição de família (Correia Pinto, 2011). Geração do low-­cost que, segundo o mesmo autor, se confronta com o desafio de se adaptar a ci . Uma

31

mobilidade e dinâmica que muda a forma de interpretação do local, não se vive mais num local para toda a vida (Durmisevic, 2006).

Também as famílias têm sofrido alterações profundas, desconstruindo o modelo familiar tradicional a que se assistiu ao longo do século XX, caracterizado pelo pai, sustento da família, a mãe, dona de casa, e os filhos. A emancipação financeira da mulher, com a sua inserção no mercado de trabalho e consequente perda da função de dona de casa estão na origem das alterações mais significativas dentro dos modelos familiares (Jorge, 2012). Mas outros fenómenos, muitas vezes decorrentes dos anteriores, como a crise do casamento estável, o individualismo, a liberdade de escolha e realização pessoal, a liberdade sexual, a redução da fecundidade e da taxa de natalidade, resultado também dos casamentos tardios, e o aumento da esperança média de vida, têm influenciado o aparecimento de novos modelos familiares o que implica novos modelos arquitetónicos (Esteves, 2013).

Observa-­se o aumento do número de núcleos familiares constituídos por apenas uma pessoa (solteiros ou divorciados), de famílias monoparentais, de casais homossexuais e de famílias reconstituídas, em que há o convívio entre os filhos dos anteriores casamentos e do novo casamento, significando uma diminuição do número de núcleos familiares tradicionais.

Figura 2.5: Diversidade das unidades familiares (fonte: Jorge, 2012)

A presente situação familiar da sociedade obriga a que haja uma resposta arquitetónica adequada, que permita abrigar uma série de heterogeneidades espaciais. O rebatimento para a arquitetura destes rearranjos familiares e do próprio modo de vida da sociedade é inevitável. Se a família é uma entidade em constante transformação, a habitação deve ser, também, um espaço físico em transformação (Esteves, 2013). A flexibilidade espacial permitirá responder à multiplicidade de estilos de vida, à heterogeneidade familiar e às suas renovações e mudanças constantes, às novas exigências laborais e tecnológicas e a outras exigências que surjam no decorrer do tempo.

Contudo, a flexibilidade não implica a constante mutação da habitação, definindo-­se antes pela integração em projeto de elementos e processos construtivos que permitam,

32

facilmente, dar resposta às alterações e adaptações que vão sendo necessárias. Flexibilidade inclui conceitos como adaptabilidade (da função de cada espaço às necessidades do utilizador e possibilidade de serem alteradas), conversão (alteração da configuração espacial), reversibilidade (alterações não definitivas), polivalência (capacidade de um espaço albergar diversas funções), elasticidade (alteração dos limites do edifício, no sentido vertical ou horizontal) ou diversidade (variedade tipológica conjugada num edifício) (Esteves, 2013;; Abreu & Heitor, 2007).

Em suma, com uma construção flexível, pretende-­se maximizar a liberdade de utilização do edifício (Leupen et al., 2005). Edifícios flexíveis são desenhados para responder à mudança, devendo ter a capacidade de se adaptar a várias funções com intervenções estruturais limitadas e com o mínimo recurso à demolição (Heijne & Vink, 2005).

A habitação flexível é, inerentemente, sustentávelresposta às necessidades atuais, sem por em causa a possibilidade das gerações futuras irem de encontro às suas, o que coincide, exatamente, com o conceito de Desenvolvimento Sustentável, já referido no enquadramento do trabalho.

A extensão da vida útil de um edifício é a essência da adaptabilidade2005). A construção ou reabilitação que preveja características de flexibilidade permite aumentar a vida útil dos edifícios, sem que seja necessário demolir e construir um novo, o que implicaria mais recursos gastos, mais resíduos produzidos, mais dinheiro gasto, mais energia consumida e maior poluição atmosférica. É essencial, também, que as superfícies já conquistadas à terra sejam o mais eficientes possível, devendo-­se evitar a ocupação de mais superfícies, uma vez que, cada metro quadrado ocupado com construção reduz a capacidade de oferta de recursos e alimentos da terra (Tirone & Nunes, 2007). Neste sentido a flexibilidade de edifícios afigura-­se como uma resposta ambientalmente válida, permitindo a redução significativa do potencial de obsolescência das construções, graças à possibilidade da adaptação às exigências dos utilizadores.

33

2.3 DESCONSTRUÇÃO

Figura 2.6: Desconstrução (Fonte: Guy & Ciarimboli, 2005)

A demolição (quer de edifícios em fim de vida, quer em partes de edifícios para remodelações) gera, todos os anos, milhões de toneladas de resíduos, maior parte dos quais, devido à dificuldade de separação, são depositados em aterros, desperdiçando a possibilidade da sua valorização, que significaria poupança de recursos e dinheiro. Ou seja, a demolição implica a perda de recursos físicos e energéticos que, na maior parte das vezes, são insubstituíveis e poderiam ser mais rentabilizados.

A desconstrução, numa alternativa à demolição, é o processo de desmantelamento de um edifício sem danificar os seus materiais, com vista à sua reutilização, reciclagem ou reparação e manutenção (Couto et al, 2006). Como o próprio nome indica, des-­construção é o processo inverso da construção, ou seja, é a desmontagem cuidadosa do edifício na ordem inversa a que foi construído. É o desfazer das ligações entre os materiais que, durante a construção, foram estabelecidas com o objetivo de criar espaço habitável (Santos, 2010). Na realidade, a desconstrução é o processo de separação dos materiais na origem (Chini, 2003).

É importante ter em consideração que desconstrução é uma definição que se relaciona com desmontabilidade, não tendo nada que ver com a arquitetura desconstrutivista, surgida na década de 80 e caracterizada pela fragmentação e pelo desenho não linear. Embora termos como desmontagem ou desassemblagem fossem, provavelmente, mais apropriados para o conceito em causa, optou-­se pela utilização do termo desconstrução, numa lógica de continuidade com a bibliografia consultada e por esta já ser a designação difundida no sector.

Os atuais processos construtivos estão muito dependentes de meios de ligação permanente que pouco mais permitem que a demolição destrutiva, que produz mais resíduos e dificulta a separação de materiais. Nesse sentido, se os edifícios fossem, logo desde o início, pensados para a desconstrução, seria possível recuperar mais material para reutilização ou reciclagem. Como tal, as preocupações sobre o reaproveitamento dos materiais não devem começar quando um edifício atinge o final do seu ciclo de vida. Aumentar as possibilidades para a reutilização ou reciclagem começa com a conceção do próprio edifício (Webster & Costello, 2005).

34

Surge, por isso, o conceito do projeto para a desconstrução que diz respeito à conceção de um edifício de maneira a facilitar futuras mudanças e o seu eventual desmantelamento (em parte ou no seu todo), para recuperação de sistemas, materiais ou componentes (Guy & Ciarimboli, 2005). Ou seja, a desconstrução confere a flexibilidade hoje requerida aos edifícios e permite agilizar e viabilizar os processos de reutilização e reciclagem de materiais.

Projetar para a desconstrução tem como objetivo a conceção edifícios adaptáveis e flexíveis, utilizando componentes passíveis de serem desmontados, recuperados e reutilizados e materiais que possam ser separados e reutilizados aquando do fim do seu período de serviço ou de vida útil (Hurley & Hobbs, 2005). Por outras palavras, o ambiente construído passa a ser não só um local para habitar, mas também um armazém inteligentemente desenhado dos materiais dos edifícios futuros (Barkkume, 2008).

Conferindo a um edifício características desconstrutíveis, confere-­se, também, características de flexibilidade, uma vez que, a desconstrução permite que sejam feitas alterações ou acrescentos no edifício sem necessidade de destruir material, tornando esse processo mais fácil, rápido e barato. Do mesmo modo, a desconstrução é um recurso importante em obras de reabilitação, em que na grande maioria das realizadas em Portugal, são demolidos alguns elementos dos edifícios, por estarem em más condições ou por inadequação funcional ou estética, sendo os seus resíduos depositados indistintamente num contentor (Couto & Couto, 2007).

Se as estratégias de projeto para a desconstrução resultam num edifício mais flexível, mais facilmente renovável, mais durável e com mais materiais reutilizáveis, os benefícios ambientais serão notórios, mesmo que inicialmente haja um pequeno aumento do número de materiais (Webster & Costello, 2005).

Compreende-­se assim que a promoção de medidas de projeto tendentes a facilitar a separação e valorização de materiais (no futuro) seja considerada como um tema de investigação urgente e pertinente (Symonds Group, 1999).

O projeto para a desconstrução está, segundo Santos (2010), diretamente relacionado com:

_ Tipo de hierarquização dos materiais e elementos em sistemas e subsistemas, sendo que quanto mais reversível e clara for a estruturação física de um edifício, mais fácil e rápida será a sua desconstrução;;

_ Tipos de ligações e fixações entre os elementos da construção;;

_ Tipo e qualidade dos materiais utilizados, que quanto mais valiosos e duradouros forem, mais apetecível será a sua colheita;;

_ Tipo de estruturação espacial, que quanto mais genérica e aberta for, mais adaptável e flexível será a construção e mais provável será a sua manutenção durante o período de serviço.

Na prática, estas exigências podem ser traduzidas num conjunto de princípios a aplicar, que visam dotar o edifício em projeto de características flexíveis e que possibilitem a futura valorização dos seus materiais e componentes, isto é, características que visem a desconstrução.

I. Promover a regularidade espacial e estrutural;;

As configurações regulares e ortogonais são mais fácies de adaptar, unir e expandir. Uma malha estrutural em que o espaçamento dos elementos é

35

repetidamente o mesmo valor e uma regularidade espacial facilitam a subdivisão ou união dos espaços ao longo do período de utilização (Santos, 2010).

II. Promover o sobredimensionamento estrutural;;

O sobredimensionamento estrutural procura satisfazer a exigência de flexibilidade, consistindo em prover uma maior capacidade portante aos elementos estruturais, para que, no futuro, possam ser introduzidas alterações como a expansão vertical do edifício, mudanças de uso ou a recompartimentação interior (Santos, 2010).

III. Promover o sobredimensionamento infraestrutural;;

Com o intuito de possibilitar a expansão dos sistemas e redes dos edifícios, o sobredimensionamento de prumadas e coretes permitirá fazer alterações nos sistemas devido a mudanças de uso ou evoluções tecnológicas.

IV. Prever pontos de expansão;;

A um nível estrutural, este princípio implica prever pontos específicos para, futuramente, dar continuidade à estrutura, quer horizontal, quer verticalmente. Já em termos planimétricos, é necessário planear o traçado dos circuitos e os núcleos de circulação vertical, consoante a expansão que possa ser feita.

V. Promover sistemas de infraestruturas flexíveis;;

Se se pretende que os edifícios contemporâneos sejam adaptáveis e flexíveis à medida da evolução das exigências dos seus utilizadores, é fundamental que os projetos das infraestruturas incorporem também esses princípios, para que não se tornem numa barreira e possam acompanhar as alterações na configuração e uso dos edifícios.

VI. Minimizar o número de componentes diferentes;;

Esta medida minimiza o número de operações de desmontagem e remontagem que precisam de ser aprendidas e realizadas. Para além de ser uma medida que facilita a flexibilidade e desconstrução do edifício, maximiza também a reciclagem ao permitir uma triagem mais fácil. É, também, vantajoso no processo de reutilização uma vez que ficam disponíveis maiores quantidades do mesmo material.

VII. Privilegiar materiais e componentes leves;;

Este princípio facilita o manuseamento dos componentes e materiais, tornando mais fácil os processos de montagem e desmontagem do elemento.

36

VIII. Identificar pontos de desmontagem;;

É importante assinalar, através de uma característica arquitetónica, ou registar, em desenhos ou numa descrição (que deverá ser cuidadosamente mantida), os pontos por onde se faz a desmontagem de um elemento.

IX. Fornecer peças de reposição;;

A existência de algumas peças em armazém é importante para que se possa substituir facilmente elementos danificados e permitir pequenas operações no edifício (Crowther, 2000).

X. Privilegiar o uso de módulos;;

O desenho da construção através de um sistema modular permitirá um mais fácil rearranjo espacial. Para além disso, se se recorrer a peças pré-­fabricadas, que possam ser desmontadas em grandes secções, sob a forma de painéis, diminui-­se o tempo e a complexidade da desconstrução.

XI. Promover normalização estrutural;;

A utilização de uma malha estrutural regular vai permitir a implementação de um sistema modular noutros elementos da construção. A normalização estrutural consiste na uniformização da estrutura, diminuindo o número de elementos e técnicas construtivas utilizadas.

XII.

nas alterações na compartimentação, através da recolocação das divisórias, sem que sejam necessários grandes trabalhos de construção/demolição (Crowther, 2000).

XIII. Promover a autonomia funcional

Para que seja possível uma desconstrução futura, é importante que cada função seja atribuída a um material distinto, evitando a aglomeração de funções num único elemento. Regra geral, esses elementos são complexos, com pouca possibilidade de reaproveitamento ou reciclagem, pois agregam diferentes materiais de forma indissociável, invalidando a peça no seu todo no caso de falha de uma das componentes (Santos, 2010).

XIV. Utilizar tecnologias de montagem compatíveis com as práticas dos edifícios correntes;;

A utilização de tecnologias mais complexas pode inviabilizar a remontagem de determinado elemento noutro edifício ou necessitar de mão-­de-­obra e equipamento especializado.

37

XV. Permitir acesso fácil a todas as partes do edifício;;

É necessário garantir acesso físico a todos os elementos do edifício para que estes possam ser facilmente reparados, inspecionados ou desmontados.

XVI. Utilizar o número mínimo de tipos de conetores;;

Esta medida permitirá uma desconstrução mais rápida e uma diminuição do número de ferramentas e equipamentos a utilizar.

XVII. Utilizar conexões mecânicas em vez de conexões químicas;;

Devido à sua reversibilidade, as conexões mecânicas são as que oferecem um maior contributo para a desconstrução, ao permitirem uma fácil separação dos materiais, sem que haja produção de resíduos e evitando a contaminação e danos nos componentes.

XVIII. Hierarquia de desmontagem;;

Esta hierarquia está relacionada com o tempo de vida espectável de cada elemento e tem como objetivo permitir o acesso mais fácil a componentes com tempo de vida mais curto, para que possam ser substituídos/reparados. Os materiais com maior durabilidade podem estar menos acessíveis.

XIX. Conceber juntas/conetores que resistam a sucessivas montagens e desmontagens;;

Se se pretende que um determinado componente seja reutilizado noutros edifícios ou permita a flexibilidade espacial, é necessário que as suas ligações sejam resistentes para não inviabilizar essas opções.

XX. Utilizar materiais recuperados;;

A utilização de materiais aproveitados de um edifício em fim de vida útil (reutilização) vai estimular o desenvolvimento das atividades de desconstrução, fazendo com que os principais agentes do meio da construção fiquem mais conscientes das suas vantagens económicas e ambientais.

XXI. Usar materiais reciclados;;

O aumento da utilização de materiais reciclados irá estimular a indústria a desenvolver novas tecnologias para a reciclagem e para a produção de materiais reciclados e o governo a criar/melhorar a rede de apoio a esta prática.

38

XXII. Privilegiar materiais de qualidade e duráveis;;

A utilização de materiais de qualidade é essencial para favorecer a reutilização dos materiais. Só os materiais duráveis, que estejam em boas condições no final do período de serviço de um edifício, podem ser reutilizados. Para além disso, é mais apelativo reutilizar um material valioso/de qualidade, uma vez que a sua obtenção enquanto novo tem custos mais elevados.

XXIII. Privilegiar materiais recicláveis ou biodegradáveis;;

Sempre que possível, deve-­se optar pela utilização de materiais recicláveis ou biodegradáveis, uma vez que, se prevista a sua recuperação, dá mais certezas em relação à possibilidade de reciclagem desses materiais.

XXIV. Minimizar o número de diferentes tipos de materiais;;

Embora este princípio se revele pouco exequível devido à grande complexidade de um edifício, deve-­se optar pela utilização de materiais com a mesma origem, como os metais, os cerâmicos, as madeiras ou os plásticos. Esta medida vai facilitar o processo de triagem, incentivando a reciclagem.

XXV. Evitar materiais tóxicos e perigosos;;

A minimização de materiais tóxicos reduz, não só o risco para a saúde humana durante o período de utilização e de desmontagem, como também diminui o perigo de contaminação de outros materiais passíveis de serem reciclados.

XXVI. Providenciar identificação permanente;;

A existência de uma identificação permanente dos materiais utilizados, assim como, da data e do local de fabrico, facilitaria a escolha do melhor método de processamento após o fim do seu período de utilização.

Um edifício ideal seria constituído por materiais recuperados e/ou reciclados, utilizaria soluções espaciais flexíveis e recorreria a soluções técnicas que viabilizassem a desmontabilidade dos seus componentes para posterior valorização. No entanto, verifica-­se que quanto maior o número de princípios que se procura satisfazer, maior será o grau de complexidade da construção, dificultando a sua conceção e execução. Como tal, é desejável que exista um predomínio de pelo menos uma das estratégias (flexibilidade, reutilização e reciclagem) sobre as outras, de acordo com condicionantes específicas, que podem estar relacionadas com o programa, as disponibilidades técnicas e financeiras ou aspetos estéticos (Santos, 2010). Como alternativa, podem existir prioridades diferentes em partes distintas do mesmo projeto, diferenciando-­as de acordo com o programa funcional de cada parte do edifício ou de acordo com as camadas de construção (Santos, 2010).

Os vários princípios de projeto identificados anteriormente possuem diferentes contributos para os três objetivos do projeto para a desconstrução (flexibilidade, reutilização e reciclagem). A tabela 2.3 resume os princípios anteriores, procedendo,

39

ainda, à classificação da importância de cada um para cada estratégia de projeto referida, em um de três níveis possíveis: elevado (E), moderado (M), reduzido (R). Recorre-­se à cor como forma de facilitar uma rápida identificação da relação entre diferentes exigências, princípios e prioridades de projeto.

Tabela 2.3: Contributos para os três objetivos do projeto para a desconstrução -­ Santos, 2010 (adaptado)

Flexibilidade Reutilização Reciclagem Promover a regularidade espacial e estrutural E E R

Promover sobredimensionamento estrutural E R R Promover o sobredimensionamento infraestrutural E M R

Prever pontos de expansão E R R Promover sistemas de infraestruturas flexíveis E M R

Minimizar o número de componentes diferentes E M M

Privilegiar materiais e componentes leves E E E Identificar pontos de desmontagem E E M Fornecer peças de reposição E R R Privilegiar o uso de módulos E R R Promover normalização estrutural E E R

E R R Promover a autonomia funcional M E E Utilizar tecnologias de montagem compatíveis com as práticas dos edifícios Standard

M E R

Permitir acesso fácil a todas as partes do edifício R E E

Utilizar o número mínimo de tipos de conetores M M M

Utilizar conexões mecânicas em vez de conexões químicas E E M

Separar a estrutura do revestimento, das paredes interiores e dos serviços (desmontagem paralela)

R E E

Hierarquia de desmontagem R E E Conceber juntas/conetores que resistam a sucessivas montagens e desmontagens E E R

Utilizar materiais recuperados R E R Usar materiais reciclados R R E Privilegiar materiais de qualidade e duráveis R E E

Privilegiar materiais recicláveis ou biodegradáveis R R E

Minimizar o número de diferentes tipos de materiais R M E

Evitar materiais tóxicos e perigosos E E E Providenciar identificação permanente E E E

E: Elevado;; M: Moderado;; R: Reduzido

40

Em Portugal, o uso recorrente de ligações químicas e físico-­químicas impede a reversão do processo de assemblagem dos materiais constituintes, impedindo assim a desconstrução. Os edifícios tendem a ser constituídos por materiais transformados em obra, com grande predomínio do uso de argamassas (à base de cal ou cimento) como ligante. Acresce que a maioria dos materiais utilizados é de origem industrial (betão ou tijolos) e encontra-­se facilmente disponível no mercado, pelo que não existe vantagem em colher os materiais já que não serão competitivos (ao nível da relação qualidade / preço) com materiais novos.

2.4 CRITÉRIOS NA ESCOLHA DOS MATERIAIS

Embora seja importante reconhecer que não existem recursos inesgotáveis, o grande problema relacionado com os recursos naturais e materiais de construção está nos impactes ambientais provocados pela sua extração, transformação e/ou utilização (Torgal & Jalali, 2010). Estes impactes estão, na grande maioria das vezes, relacionados com a energia e água que estes processos consomem, com as emissões de GEE que provocam, com a destruição da biodiversidade dos locais de extração, com a quantidade de resíduos produzidos e, também, com a potencial contaminação os ambientes internos dos edifícios, pondo em risco a saúde humana.

Assim, a construção sustentável depende, em grande medida, da correta seleção dos materiais que, em conjunto com um projeto adequado, resultará em impactes ambientais reduzidos e num maior benefício social, dentro dos limites da viabilidade económica (Augusto, 2011).

Como tal, logo na fase de projeto deverá ser feito o estudo e a seleção dos materiais e sistemas a serem aplicados nos edifícios, pois as oportunidades de otimização do desempenho energético-­ambiental são maiores durante esta fase. Algumas destas decisões podem fazer uma grande diferença na qualidade de vida das gerações futuras. Por isso, o projetista adquire uma posição chave entre a sociedade e a indústria de construção, influenciando-­as na escolha de soluções menos consumidoras de energia, menos poluentes, mais reutilizáveis e ao mesmo tempo mais económicas e funcionais (Eires, 2006;; Mateus, 2004).

A seleção de materiais deve, então, ser feita através de uma avaliação de todos os impactes envolvidos ao longo do ciclo de vida do material. Esta avaliação, designada por análise do ciclo de vida (ACV) ou Life Cycle Assessment (LCA), inclui todas as fases do ciclo de vida de um material, ou seja, a extração e o processamento de matérias-­primas, a fabricação, o transporte e a distribuição, a utilização, a manutenção,

(SETAC, 1993). Nos vários modelos de ACV existentes, os impactos ambientais mais correntemente analisados são:

_ Consumo de recursos energéticos e materiais;;

_ Consumo de água;;

_ Potencial de aquecimento global;;

_ Potencial de redução da camada do ozono;;

_ Potencial de eutrofização;;

_ Potencial de acidificação;;

_ Potencial de formação de smog;;

41

_ Toxicidade humana;;

_ Produção de resíduos;;

_ Uso de terra:

_ Poluição do ar;;

_ Alteração de habitats.

No entanto, a aplicação generalizada de análises de ciclos de vida aos materiais de construção, pressupõe a existência de levantamentos exaustivos sobre os impactes ambientais desses produtos, que não podem ser extrapolados de outros países, devido aos diferentes contextos geográficos, tecnológicos e económicos (Torgal & jalali, 2010), levando a que as ACV sejam processos muito demorados.

Uma forma mais simples e expedita de um projetista escolher um material em detrimento de outro é através dos rótulos ecológicos. Estes têm o objetivo promover os materiais com menor impacte ambiental, encorajando a procura e a oferta de produtos que causam menores pressões no ambiente ao longo do seu ciclo de vida, através da comunicação de informação verificável e fiável, não enganosa, acerca dos aspetos

(ISO, 2012). Sendo que a maioria dos rótulos ecológicos assentam numa avaliação dos impactos ambientais ao longo de todo o ciclo de vida de um produto ou material, constituem uma garantia relativamente ao desempenho ambiental de um produto.

A International Standard Organization (ISO) estipula três tipos de rótulos:

TIPO I: Rótulos ecológicos certificados;;

Programas voluntários e independentes atribuem rótulos a determinados produtos tendo em consideração o seu desempenho ambiental, permitindo assim a diferenciação entre produtos pertencentes à mesma categoria (Nascimento, 2014).

Em 1978, a Alemanha criou o primeiro rótulo ecológico denominado Anjo Azul (Blaue Engel) que, hoje-­em-­dia, já cobre 11 500 produtos de 90 categorias diferentes. Esta classificação analisa o uso eficiente de combustíveis fósseis, a redução de GEE e do consumo de matérias-­primas não renováveis, sendo revista de três em três anos (Torgal & Jalali, 2010).

Figura 2.7: Símbolo do rótulo ecológico alemão Anjo Azul (fonte: internet)

Também o Canadá, em 1988, e os países do norte da europa (Finlândia, Islândia, Noruega, Suécia e Dinamarca), em 1989, criaram rótulos ecológicos, EcoLogo e O Cisne, respetivamente.

42

Figura 2.8: Símbolo do rótulo EcoLogo;; Figura 2.9: Símbolo do rótulo O Cisne (fonte: internet)

Já em 1992, surge o rótulo ecológico europeu, Eco-­label, certificando produtos de baixo impacto ambiental ao longo do seu ciclo de vida. No que diz respeito aos materiais de construção, apenas as tintas, vernizes e os revestimentos rígidos para pavimentos (mosaicos, pedras naturais, betão, cerâmicos e revestimentos de barro) estão regulamentados por este rótulo.

Figura 2.10: Símbolo do rótulo ecológico europeu, Eco-­label (Fonte: Nascimento, 2014).

Existe, ainda, um rótulo apenas destinado à madeira certificada. Criado em 1993 pela FSC (Forest Stewardship Council), este rótulo já cobre 1333 milhões de hectares de espécies florestais, garantindo que as madeiras em causa não utilizaram pesticidas perigosos, não correspondem a espécies geneticamente modificadas e não implicam a destruição de habitats.

Figura 2.11: Símbolo da FSC

É necessário ter em atenção que, apesar serem vantajosos para o consumidor final, os rótulos ecológicos apenas permitem que os produtos a que se referem sejam reconhecidos como produtos com melhor desempenho ambiental que outros da sua categoria, não permitindo tomar uma decisão entre dois materiais diferentes. Para além disso, a sua eficácia está dependente do conhecimento, por parte do consumidor, da sua existência. Outro fator a ter em conta é que os rótulos não contemplam a variável do transporte, cabendo, por isso, ao consumidor informar-­se sobre a origem do material.

43

TIPO II: Auto-­declarações ambientais;;

São declarações elaboradas pelos fabricantes, importadores ou distribuidores de modo a comunicar informação sobre os aspetos ambientais dos seus produtos ou serviços (Nascimento, 2014).

Quando uma empresa pretende fornecer informações sobre um determinado produto sem ter uma certificação ou um rótulo ambiental pode fazê-­lo usando este tipo de declarações ambientais.

Apesar das auto-­declarações reforçarem a imagem de marca do produto e permitirem a comparação de produtos, a sua exatidão e credibilidade é questionável, uma vez que não são certificadas por uma terceira parte independente. No entanto, este tipo de declarações constitui uma solução economicamente mais vantajosa comparativamente aos rótulos tipo I e tipo III, uma vez que não estão envolvidos custos de certificação ou validação (dapHabitat, s/d).

TIPO III: Declarações ambientais de produto (DAP);;

Forma de certificação ambiental de materiais e produtos, baseada na norma ISO 14025 e que consiste na compilação de um conjunto de dados ambientais quantificáveis ao longo do ciclo de vida do produto (ISO, 2012). O principal propósito de uma DAP é demonstrar o desempenho ambiental de um produto, baseando-­se em estudos ACV (Almeida, 2014).

Na declaração relativa a um determinado material de construção pode-­se encontrar os valores do consumo de energia renovável e não renovável, do potencial de aquecimento global, do potencial de destruição da camada do ozono, do potencial de acidificação e do potencial de eutrofização desse material. Para além disto, as DAP dão ainda informações sobre os recursos utilizados em todas as fases do ciclo de vida do material e sobre os resíduos produzidos.

Em suma, as DAP não representam um certificado de cumprimento de uma meta exata, apenas fornecem um conjunto de informações sobre um produto, permitindo que uma pessoa especializada na matéria possa tirar conclusões sobre o seu desempenho e compará-­lo com outro produto (Nascimento, 2014).

As DAP são elaboradas pelo fabricante e verificadas por uma entidade independente que garante a credibilidade dos resultados e informações declaradas (dapHabitat, s/d). Depois de verificadas e validadas, as declarações devem ser registadas online para consulta do consumidor. Em Portugal, o programa de registo de Declarações Ambientais do tipo III é designado por Sistema DAPHabitat, que dá agora os primeiros

como a França, esse sistema de registo já se encontra numa fase mais avançada de desenvolvimento, com várias declarações à disposição do consumidor. Em anexo consta um exemplo de uma DAP francesa de placas de OSB, submetida pela Union des Industries des Panneaux de Process e pelo Institut Technologique.

44

Devido à complexidade dos sistemas de avaliação de ciclo de vida dos materiais e à não exi a escolha dos materiais de construção pode ser feita através de uma lista de critérios simplificada, que, para além dos critérios arquitetónicos comuns (estética e espacialidade), podem orientar a tomada de decisão da equipa projetista (Mateus, 2004;; Augusto, 2011):

1. Energia Incorporada do material

Um dos impactes mais relevantes do sector da construção está relacionado com o consumo de energia. Assim, um parâmetro que deve ser tido em consideração para garantir a diminuição dos consumos energéticos provocados pela construção de um edifício, é a energia incorporada nos materiais de construção.

Vários autores definem a energia incorporada como o conjunto da energia necessária desde a extração das matérias-­primas, passando pela sua transformação e transporte, até à fase de construção:

E incorporada = E extração + E transformação + E transporte + E construção

Contudo, outros autores como Torgal&Jalali (2011) ou Berge (2009) definem-­na como a energia usada na produção do material, desde o processo de extração, passando pelo processo de transformação (incluindo o transporte até às unidades de processamento) até estar pronto para ser levado para obra. O transporte da fábrica ao local de aplicação e a aplicação em si já não se incluem nesta definição. Há ainda outros autores, como Augusto (2011), que diferenciam estas duas definições, denominando a segunda como Energia Primária Incorporada (Primary Energy Consumption PEC), distinção que será utilizada no presente trabalho. A energia primária incorporada, segundo Berge (2009), corresponde entre 85 a 95% da energia total de um material, sendo que os restantes 5 a 15% dizem respeito aos processos de construção, manutenção e demolição.

A escolha adequada dos materiais de construção pode significar uma redução da energia gasta na construção do edifício em cerca de 17% e uma redução em quase 30% das emissões de CO2 (Torgal & Jalali, 2010).

Na tabela 2.4 encontra-­se uma listagem da energia PEC em diversos materiais de construção.

Tabela 2.4: Energia incorporada em materiais de construção -­ Torgal&Jalali, 2010;; Berge, 2009;; Mendonça, 2005.

MATERIAL PEC [MJ/Kg] Agregados em geral 0.1 Agregados de rio 0.02 Alumínio extrudido 201 Alumínio extrudido anodizado 227 Alumínio reciclado 8.1 Alumínio reciclado extrudido 17.3 Alumínio reciclado anodizado 42.9 Asfalto 3.4 Betume 44.1

45

Cimento 7.8 Argamassa de cimento 2.0 Betão pronto 17.5MPa 1.0 Betão pronto 30MPa 1.3 Betão pronto 40MPa 1.6 Bloco de Betão 0.94 Tijolo cerâmico 2.5 Telha cerâmica 0.81 Cerâmica para revestimentos 20 Taipa estabilizada com cimento 0.8 Vidro 15.9 Vidro laminado 16.3 Estuque 4.5 Painel de gesso 6.1 Aço 32 Aço reciclado 10.1 Pedra local 0.79 Pedra importada 6.8 Zinco 51 MDF 11.9 Madeira em bruto seca ao ar 0.3 Madeira em bruto seca em estufa 1.6 Madeira polida seca ao ar 1.16 Madeira polida seca em estufa 2.5 Contraplacado 10.4 Madeira lamelada 4.0 Linóleo 1.0 EPS/XPS 75.0 Cortiça 4 Lã mineral 16-­18 PVC 70

Materiais com elevada energia incorporada implicam maiores impactes ambientais, não só pelo maior consumo de energia, como também pelas emissões de GEE geralmente associadas.

Analisando a tabela 2.4, salta a vista a discrepância entre os valores de energia PEC dos materiais naturais e artificiais. Esta conclusão verifica-­se observando, por exemplo, o valor de energia necessária para obter madeira em bruto, quando seca ao ar (0.3 MJ/Kg) e a energia necessária para produzir 1 Kg de contraplacado (10.4MJ/Kg). O mesmo se observa nos isolamentos, onde o Poliestireno consome 75MJ/Kg, enquanto a cortiça de apenas 4MJ/Kg para a sua produção. Esta é uma conclusão lógica, pois é compreensível que um produto que não necessite de passar por muitos processos de transformação tenha uma energia incorporada menor e, assim, cause um menor impacto no ambiente.

É importante também salientar, a diferença que existe na energia primária incorporada em materiais reciclados e não reciclados. No caso do alumínio, por exemplo, observa-­se que o não reciclado necessita de uma energia que ronda os 210MJ/Kg, enquanto o alumínio reciclado apenas necessita para a sua produção de 8.1, 17.3 ou 42.9 MJ/Kg dependendo se é extrudido ou anodizado. O mesmo se observa no caso do aço, onde o aço não reciclado possui uma energia incorporada de 32MJ/Kg e o aço reciclado de 10.1MJ/Kg. De novo uma conclusão lógica, uma vez que os materiais reciclados não passam pela fase de extração, atestando, uma vez mais, as vantagens da utilização de materiais reciclados.

46

No entanto, é necessário analisar também o fator transporte da fábrica até ao local de obra, uma vez que as energias PEC não o contemplam. A tabela 2.5 dá conta dos valores de energia consumida no transporte de uma tonelada de material.

Tabela 2.5: Consumo de energia no transporte de materiais -­ Berge, 2009

MEIOS DE TRANSPORTE ENERGIA [MJ/ ton Km] Avião 33 36 Estrada (gasóleo) 0.8 2.2 Comboio (elétrico) 0.2 0.4 Barco 0.3 0.9

Um material, mesmo com uma energia PEC menor, pode ser mais desvantajoso para o ambiente do que um outro que, inicialmente, possa parecer mais poluente, se o primeiro for proveniente de um local muito distante da obra, causando grandes emissões de CO2 e grandes gastos de energia. Compreende-­se, portanto, a extrema necessidade de recorrer a materiais locais, de preferência materiais que sejam explorados num raio de 100Km de distância ao local de obra (Tirone & Nunes, 2007).

Também um material com maior durabilidade é normalmente preferível a um outro que, mesmo com menor energia PEC, necessite de mais manutenção e tenha um ciclo de vida mais curto. Um material mais durável tem mais anos para amortizar o seu custo ambiental (Augusto, 2011).

Apesar da energia incorporada ser um indicador chave para a seleção dos materiais num projeto com preocupações ambientais, este indicador não pode ser estudado independentemente de outros fatores, como por exemplo, o comportamento passivo dos edifícios (Mateus, 2004). O peso da energia incorporada dos materiais de um edifício relativamente à energia total consumida durante a sua vida útil corresponde no máximo a 20%, pelo que, a maior quantidade de energia está associada ao seu funcionamento (Augusto, 2011). A escolha de um material com baixa energia incorporada e com mau comportamento térmico compromete os objetivos do projeto ecológico, pois o consumo energético durante a sua vida útil do edifício acaba por ser maior (Mateus, 2004). Assim, apesar de ser importante a seleção de materiais de baixa energia incorporada, estas são medidas a tomar em complementaridade às que conferem um comportamento passivo do edifício.

2. Potencial de aquecimento global

Outro indicador a analisar na escolha de um material de construção é o que reflete o impacte desse material em termos de emissões de dióxido de carbono, principal responsável pelo efeito de estufa e aquecimento global, designado por Potencial de Aquecimento Global (Global Warming Potencial GWP) e é expresso em gramas equivalentes de CO2 por Kg de material.

A tabela 2.6 apresenta alguns valores do GWP de alguns materiais de construção. Contudo, também aqui é necessário alertar que este indicador deve ser analisado em complementaridade tanto com os outros critérios apresentados como com outros fatores como o transporte ou a durabilidade.

47

Tabela 2.6: Potencial de Aquecimento Global (GWP) de alguns materiais de construção -­ Augusto, 2011;; Mendonça, 2005.

MATERIAL GWP [g/Kg] Aço (reciclado) 557 Alumínio (reciclado) 11102 Argamassa de cimento 98 Argila (produtos cerâmicos) 190 Betão 65 Gesso 265 Lã mineral 1076 Madeira laminada 277 Poliestireno extrudido (XPS) 1650 Cortiça 277 Tela asfáltica 751 Vidro 569 Cerâmica para revestimentos 571

3. Potencial de reutilização e reciclagem É importante perceber que todos os materiais têm uma pegada energética, muito à custa dos processos de extração e transformação. No entanto, essa pegada pode ser menor se, em vez de se produzir novos materiais utilizando nova matéria-­prima, se optar pela reutilização ou reciclagem dos antigos produtos. Um produto que possa ser facilmente reutilizado e/ou reciclado é, normalmente, preferível a um outro produto

reutilizado/reciclado (Berge, 2009).

Assim, um material selecionado com base em critérios de sustentabilidade deve, também, ter em consideração o seu Potencial de Reutilização e Reciclagem (PRR). A reutilização e a reciclagem dos materiais de construção permitem a redução, não só do consumo de recursos naturais, como também dos impactes ambientais decorrentes da sua extração e produção.

Como visto anteriormente, a reutilização significa um prolongamento da vida útil do material ou elemento, na mesma função original, sendo, por isso, preferencial em relação à reciclagem que consome mais energia. É importante realçar que quanto mais vezes se reutiliza um material, mais amortizada será a sua energia incorporada (Augusto, 2011).

Dependendo das suas características, um material terá maior ou menor potencial para ser recuperado para reutilização ou reciclagem. A tabela 2.7 pretende avaliar qualitativamente o PRR de alguns materiais de construção.

48

Tabela 2.7: Características e PPR de materiais de construção -­ Augusto, 2011 (adaptado) MATERIAL CARACTERÍSTICAS PRR

Madeira

A madeira tem um alto potencial de reutilização, desde que em bom estado de conservação e que a desconstrução se efetue sem afetar as suas características, sendo sempre possível utilizá-­la em produtos auxiliares de construção (cofragens, painéis, etc.). A reciclagem da madeira é sempre viável, procedendo-­se à sua valorização energética ou ao fabrico de aglomerados.

Alto

Metal

Os elementos em aço e alumínio são potencialmente recicláveis, sendo possível a obtenção destes materiais a partir de material 100% reciclado. A sua elevada durabilidade e a possibilidade de estabelecer ligações mecânicas sem destruição do material possibilitam também a sua reutilização.

Alto

Plásticos

Teoricamente, a maior parte dos plásticos pode ser reciclada, no entanto, esta taxa é bastante baixa devido à grande variedade de plásticos, à dificuldade em separá-­los e aos aditivos, proteções e corantes utilizados que dificultam tecnicamente a reciclagem.

Médio

Gesso Cartonado

O gesso é um material 100% reciclável, sem perda de propriedades, desde que haja a possibilidade de remoção das impurezas para um valor mínimo (Torgal & Jalali, 2011). No entanto, o gesso cartonado é de difícil reutilização, uma vez que, tendo em conta o seu modo tradicional de aplicação, a sua recuperação sem danos no material é praticamente impossível.

Médio

Vidro

Desde que se verifiquem os pressupostos de separação e não-­contaminação do material, pode ser diretamente reutilizado ou, depois de granulado, usado como inerte para betão. A reciclagem do vidro permite uma redução da energia incorporada em cerca de 20%.

Médio

Betão

Os elementos em betão são dificilmente reutilizados ou reciclados. Após britagem, pode ser transformado em inertes para betão ou utilizados como material de preenchimento de soleiras de edifícios ou de bases de estradas, num processo energético pouco eficiente.

Baixo

Produtos cerâmicos

Os produtos cerâmicos na sua generalidade são de difícil reutilização devido à utilização de argamassas de cimento que inviabilizam a sua desconstrução. No caso dos revestimentos, desde que o material não seja aplicado com argamassas e esteja em bom estado de conservação, tem potencial de ser reutilizado. Tal como o betão, estes produtos podem ser reciclados e utilizados para preenchimento de caixas de soleiras ou de bases de estradas.

Baixo

4. Água incorporada

Sendo a água um recurso essencial à vida, tem vindo a estar sujeita a uma grande pressão, não só devido ao crescimento da população mundial, mas também devido à má gestão, às alterações climáticas e à contaminação química e sanitária de cursos de água. Estima-­se que, se o atual consumo se mantiver, em 2025, dois em cada três habitantes do planeta irão sentir a falta de água (Mateus, 2004).

A indústria da construção é das que mais água consome, estando presente em todo o ciclo de vida de um material e também do próprio edifício (Berge, 2009). Apesar da quantidade de água utilizada na fase de construção ser incomparavelmente inferior

49

(cerca de 0,6%) à utilizada na fase de operação/utilização (cerca de 99,4%), este tema deve merecer alguma atenção por parte dos principais intervenientes nos processos de construção, no sentido de se reduzir o consumo de recursos naturais utilizados nas edificações, optando sempre que possível, por materiais com menor índice de consumo de água ao longo do seu ciclo de vida (Nascimento, 2014). Neste contexto, apresenta-­se na Tabela 2.8 a quantidade água consumida por alguns materiais de construção no seu processo de produção.

Tabela 2.8: Água incorporada de alguns materiais -­ Augusto, 2011;; Nascimento, 2014

MATERIAL ÁGUA INCORPORADA [L/Kg]

Aço não reciclado 3 400 Alumínio (50% reciclado) 29 000 Argamassa de cimento 170 Telhas cerâmicas 640 Tijolo cerâmico 520 Betão 170 Blocos de betão 190 Cobre (não-­reciclado) 15 900 Gesso 240 Lã de rocha 1 360 Madeira laminada 390 Vidro 680

5. Toxicidade

No atual sistema produtivo industrial, é cada vez mais comum o recurso a produtos químicos na produção de materiais. As inúmeras combinações de químicos e metais pesados que podem estar contidos nesses materiais podem ser gradualmente libertados para o ar interior da construção ou contaminar a água que bebemos (Torgal & Jalali, 2010). Estes produtos podem provocar vários problemas para a saúde. Portanto, é necessário avaliar a toxicidade de cada material, produto ou componente a aplicar numa construção, com vista à identificação de substâncias potencial ou comprovadamente tóxicas (Augusto, 2011).

De entre os poluentes resultantes da fase de produção de alguns materiais importa realçar os organoclorados (dioxinas e furanos) que estão diretamente associados à

materiais que contêm solventes orgânicos como é o caso das tintas e vernizes (Nascimento, 2014).

A exposição direta e diária a poluentes emitidos por materiais tóxicos, pode acarretar problemas de saúde aos ocupantes, designadamente dores de cabeça, irritações da pele, olhos e vias respiratórias, alteração do sistema nervoso (ansiedade, perturbações da memória, de atenção e concentração) e ainda desenvolvimento de cancros das fossas nasais, dos seios frontais e pulmões, contribuindo também para o agravamento do efeito de estufa (Nascimento, 2014;; Torgal & Jalali, 2010).

Segundo Augusto (2011), como orientação geral, devem seguir-­se os seguintes critérios, por forma a reduzir os riscos para a saúde dos utilizadores e trabalhadores:

_ Preferir tintas de água com base de latéx e sem chumbo, em vez das tintas de óleo com solventes (benzeno, xileno e tolueno);;

50

_ Evitar os aglomerados de madeira que incorporem formaldeído (COV);;

_ Excluir materiais que apresentem CFC e HCFC, pois apresentam riscos para a saúde humana devido a emissões tóxicas e representam a destruição da camada de ozono;;

_ Excluir a utilização de amianto, adesivos, selantes, pinturas, vernizes e revestimentos fabricados com COV.

51

3.

SOLUÇÕES CONSTRUTIVAS Como foi abordado, para além dos processos legislativos, a promoção da construção sustentável, passa pela adoção, por parte dos projetistas, de novas estratégias de projeto como a flexibilidade da construção, a reutilização de materiais e componentes e a desconstrução no final de vida útil do edifício, que se vão refletir em novas maneiras de pensar o edifício e novas soluções construtivas. Estas estratégias, indo de encontro aos princípios enunciados por Kibert para uma construção sustentável, vão permitir aliviar a pressão sobre os recursos naturais, minimizar a produção de RCD, aumentando o ciclo de vida tanto dos materiais já produzidos como dos edifícios já construídos. De seguida, apresentam-­se modelos construtivos de paredes, pavimentos e coberturas pensados com vista à sua desconstrutibilidade, maximizando a flexibilidade do edifício onde são aplicados e a possibilidade de reutilização dos seus materiais.

3.1 PAREDES

Figura 3.1: Solução construtiva proposta para paredes.

A solução proposta para as paredes consiste numa estrutura em Light Steel Framing, revestida exteriormente por placas de OSB, sobre as quais assenta o isolamento em aglomerado de cortiça expandida. O revestimento exterior propõe-­se que seja feito com painéis cerâmicos e o revestimento interior com gesso cartonado.

1 _ Estrutura em Light Steel Framing (LSF)

5 _ Acabamento Interior Gesso Cartonado

2 _ Placa OSB

3 _ Aglomerado de Cortiça Expandida

4 _ Acabamento exterior Painéis Cerâmicos

52

1. Estrutura metálica Light Steel Framing;;

Olhando para a tabela 2.7 do capítulo 2, na procura de um material estrutural que viabilize a desconstrução e possibilitando a sua reutilização e reciclagem, conclui-­se que as soluções estruturais em madeira ou em aço têm mais vantagens relativamente às soluções de betão e alvenaria. Os dois primeiros são facilmente reutilizáveis, desde que se encontrem em bom estado de conservação e que as ligações utilizadas permitam a sua separação sem dano para o material. Se tal não se verificar, ambos podem ser 100% reciclados. Já o betão e alvenaria, na melhor das hipóteses, podem ser transformados em inertes para novo betão ou servir como material de preenchimento de soleiras de edifícios ou substratos de pavimentos rodoviários, sendo este um processo pouco eficiente energeticamente e de difícil execução (Augusto, 2011).

Quanto à decisão sobre a utilização de estruturas em aço enformado a frio (Light Steel Framing) ou em madeira, fez-­ se a comparação destes dois materiais de acordo com os critérios vistos no capítulo 2, na maioria dos quais a madeira supera o aço.

Tabela 3.1: Comparação dos valores de PEC, GWP e água incorporada para o aço, aço reciclado e madeira (Tem em conta os valores das tabelas do capítulo 2).

n.d: Valor não disponível

Há ainda que ressalvar duas vantagens na utilização da madeira. A primeira tem a ver com a retenção de CO2 que é feita ao longo da fase de crescimento da árvore, ficando depois retido na madeira e afastado da atmosfera, mesmo quando o material foi já transformado em produto acabado, contribuindo fortemente para a diminuição dos gases que provocam efeito de estufa (Jular, 2010b). A segunda vantagem, que decorre da anterior, é que, no final do seu ciclo de vida, a madeira e os resíduos resultantes da sua transformação podem ser fonte de energia, constituindo um substituto dos combustíveis fósseis neutro em carbono. Essa neutralidade é devida ao armazenamento de carbono, já referido, que com a queima apenas retorna à atmosfera, não traduzindo, por isso, um aumento de gases de efeito de estufa. A título de exemplo, os resíduos gerados na produção de 1m2 de madeira serrada, podem ser transformados em entre 250 e 290 KWh de eletricidade e entre 2800 e 3200 MJ de energia térmica, o que equivale a uma energia superior à que é necessária para a transformação da própria madeira (Jular, 2010).

No entanto, a madeira é uma material que requer elevada manutenção, pois é suscetível aos agentes atmosféricos e biológicos. Os raios UV, que decompõe a lenhina, e a erosão provocada pela chuva, modificam a cor e a rugosidade da madeira, não implicando, no entanto, consequências à sua resistência (Cruz & Nunes, 2009).

A degradação mais significativa da madeira, tendo implicações na sua resistência, é devida aos fungos de podridão e insetos (agentes biológicos). A maior parte destes agentes atuam em locais húmidos ou em contacto com o solo, mas alguns deles, como os carunchos (insetos existentes em Portugal), atuam também em ambientes com teores

MATERIAL PEC [MJ/Kg] GWP [g/Kg] Água

Incorporada [L/Kg]

Aço 32 n.d 3 400

Aço reciclado 10.1 557 n.d

Madeira 0.3 2.5 267 390

53

de água normais para o interior de edifícios (Cruz & Nunes, 2009). Esta maior propensão da madeira se degradar não só encurta o tempo de vida do edifício do qual este material é estrutura, como diminui as possibilidades da sua reutilização.

Neste sentido, o tratamento para a proteção e a manutenção da madeira contra estes agentes é fundamental para aumentar a sua durabilidade. Contudo, alguns dos produtos usados para proteção da madeira comportam riscos para a saúde humana e para o ambiente (Augusto, 2011). Até há pouco tempo, eram utilizados produtos como o creosote e outros à base de cobre, crómio e arsénio (CCA). O primeiro contém agentes de elevado potencial cancerígeno e o segundo, para além de ser extremamente tóxico, são bio acumuláveis, podendo contaminar o ambiente quanto lixiviado em contacto com a água (Torgal & Jalali, 2011). Nos últimos anos, tem vindo a aparecer legislação que coloca fortes restrições ao uso do CCA e do creosote, permitindo que surjam novas formulações menos perigosas.

Porém, a maior vantagem da utilização de uma estrutura em aço comparativamente a uma estrutura em madeira está relacionada com a grande resistência mecânica do aço, que permite a sua utilização em edifícios com altura considerável e um melhor comportamento no que diz respeito à sismicidade. Para além disso, a estrutura em LSF requer um menor número de conetores, sendo uma solução de mais fácil construção e desconstrução. Assim, apesar dos menores níveis de emissões de CO2 e de consumo de energia e água por parte da madeira, a maior durabilidade do aço, assim como, a sua menor toxicidade, maior versatilidade e facilidade de (des)construção, torna a solução estrutural em Light Steel Framing mais vantajosa do que uma solução em madeira. Contudo, a madeira, se protegida com produtos de tratamento não tóxicos, é uma excelente solução para projetos de pequenas dimensões.

2. Placa OSB;;

As placas de OSB (Oriented Strand Board), ou aglomerado de partículas de madeira longas e orientadas, é o desenvolvimento mais importante dos derivados da madeira, nos últimos anos (Jular, 2010b). O seu processo de fabrico, resultante da deposição de camadas cruzadas de partículas cortadas no sentido longitudinal da fibra, que são depois sujeitas a condições de pressão e temperatura muito elevadas, permite obter painéis estruturalmente densos, muito resistentes à deformação, rotura e delaminação, dimensionalmente estáveis e muito duráveis (Palacio, 2013). Para além disso, é um material leve, apresentando uma ótima relação entre a sua resistência e o seu peso. É de fácil utilização, podendo ser cortado, furado, aplainado, lixado ou aparafusado junto ao bordo sem rachar e não apresenta defeitos estruturais, nós, poros ou descontinuidades (Futureng, 2014).

Ao nível da sustentabilidade, é dos materiais com maior aproveitamento de matéria-­prima, uma vez que, 90% do tronco é aproveitado e os poucos resíduos gerados podem ser aproveitados para produção de energia (como qualquer madeira ou derivado). É 100% reciclável, funcionando também como armazém de carbono e constitui uma alternativa económica e estável à utilização de madeira maciça (Futureng, 2014). No seu fabrico, é possível também agregar valor a materiais de baixa aceitação, como resíduos de serrarias e desbastes, havendo, ainda, a possibilidade de eliminar muitos defeitos provenientes da anatomia da árvore, conferindo ao produto final uma maior homogeneidade do que a encontrada na madeira serrada (Mendes et al, 2005).

As placas de OSB foram escolhidas para fazer o encerramento exterior da estrutura. Devido à sua elevada resistência, não têm um papel meramente decorativo, contribuindo também para a resistência estrutural do edifício e para o aumento do nível

54

de isolamento térmico. Estas placas vão ainda ter a função de suporte dos materiais de acabamento das fachadas. É necessário, contudo, que se certifique que o OSB escolhido não utiliza resinas ou produtos de tratamento tóxicos.

Figura 3.2: Placa de OSB (fonte: internet);; Figura 3.3: Aplicação do OSB em LSF (Fonte: Servisteel)

3. Aglomerado de cortiça expandida;;

Para uma diminuição dos gastos energéticos de um edifício, é essencial uma escolha acertada do isolamento térmico a utilizar. Optou-­se pela sua colocação pelo exterior uma vez que diminui as pontes térmicas e evita que o plano da parede esteja sujeito a grandes variações de temperatura.

As soluções de isolamento térmico mais comuns e que são mais referidas na literatura são as que incluem placas de poliestireno expandido moldado (EPS), mantas ou placas de lã mineral, placas de poliestireno expandido extrudido (XPS) e placas de aglomerado de cortiça expandida. A maior pare destes tipos de isolamentos térmicos apresentam aspetos negativos em termos de toxicidade (Torgal & Jalali, 2011). A única exceção é o aglomerado de cortiça expandida, cuja matéria-­prima (cortiça) é um material renovável e 100% reciclável. Destes quatro materiais, é também o aglomerado de cortiça o que apresenta uma menor energia incorporada e menores níveis de emissões de efluentes (gasosos, líquidos e sólidos) para o ar (representando um menor potencial de aquecimento global), água e solo (Lucas, 2008).

Figura 3.4: Somatório das emissões para ar, água e solo de quatro soluções de isolamento térmico (Fonte: Lucas, 2008).

55

Estes baixos níveis de emissões são devidos ao processo produtivo em si, mas também, ao facto das florestas de sobreiros serem importantes sumidouros naturais de CO2. Além disso, os sobreiros aumentam a capacidade de retenção deste gás durante o processo de regeneração natural que sucede ao descortiçamento, uma vez que, um sobreiro descortiçado fixa, em média, cinco vezes mais CO2 (Amorim, 2014). Esta capacidade de reter dióxido de carbono estende-­se também aos produtos transformados de cortiça, que continuam a assegurar esta função. As florestas de sobro têm ainda a vantagem de nenhuma árvore ser abatida durante o processo de extração da cortiça, constituindo um caso único em termos de sustentabilidade (Amorim, 2014). Ou seja, o aumento do consumo de cortiça pode levar à necessidade de aumento do número de sobreiros, que por sua vez levará a uma diminuição de CO2 na atmosfera.

Também a energia incorporada da cortiça é a mais baixa dos quatro materiais de isolamento térmico abordados, sendo que, tal como no caso da madeira, o aglomerado de cortiça expandida gera energia durante a sua produção, tendo em conta o valor energético do seu resíduo. O pó de cortiça (resíduo do processo produtivo) pode ser valorizado através da biomassa, gerando energia neutra em termos de emissões de CO2 (Amorim, 2014b).

Outra grande vantagem deste material é o facto de a cortiça ser um material totalmente produzido em Portugal (sendo o maior produtor do mundo), diminuindo os consumos e as emissões no transporte e impulsionando a economia portuguesa.

A tabela 3.2 resume as principais características em cima elencadas e que justificam a escolha da cortiça como o material de isolamento térmico mais sustentável.

Tabela 3.2: Resumo das características dos materiais de isolamento -­ Lucas, 2009 (adaptado).

XPS EPS Lã de Rocha Cortiça RECICLÁVEL Sim Sim Sim Sim

MATERIAL RECICLADO

Pode conter Não Pode Conter Pode conter

MATÉRIA-­PRIMA

Derivado dos combustíveis

fósseis

Derivado dos combustíveis

fósseis

Rochas de origem

vulcânica

Recursos renováveis produzidos localmente

BIODEGRADÁVEL Não Não Não Sim

TOXICIDADE

Emite fumos tóxicos

quando arde e deteriora-­se com raios

UV

Emite fumos tóxicos

quando arde e deteriora-­se com raios UV

Emite fumos tóxicos

quando arde, emite

substâncias perigosas na instalação

Não tóxico

ENERGIA INCORPORADA1

(PEC) 75 MJ/Kg 75 MJ/Kg 18 MJ/Kg 4 MJ/Kg

GWP2 1650 g/Kg -­ 1076 g/Kg 277 g/Kg CONDUTIBILIDADE

TÉRMICA 0.037 W/mºC 0.037 W/mºC 0.042 W/mºC 0.045 W/mºC

ESCOLHA

×

×

×

1 Valores que constam da tabela 2.4 do presente trabalho (Capítulo 2). 2 Valores que constam na tabela 2.5 do presente trabalho (Capítulo 2)

56

4. Acabamento exterior Painéis Cerâmicos;;

No que diz respeito ao acabamento exterior, para que este possa facilmente ser desconstruído, a opção ideal não passa por argamassas ou rebocos, mas sim por materiais disponíveis sob a forma de painéis, que possam ser facilmente fixados através de ligações mecânicas. Assim, painéis cerâmicos, painéis de madeira e a pedra natural, desde que com as fixações corretas, apresentam-­se como possíveis soluções. No entanto, para que a madeira tenha uma durabilidade, no exterior, equivalente aos outros dois matérias, seria necessário tratamentos que podem envolver toxicidades ou grandes consumos energéticos, que os cerâmicos ou a pedra não exigem. Como tal, far-­se-­á a comparação apenas entre a solução de painéis cerâmicos e da pedra natural.

Tabela 3.3: Comparação dos valores de PEC, GWP e água incorporada para a pedra naturas e revestimentos cerâmicos (Tem em conta os valores das tabelas do capítulo 2).

n.d: Valor não disponível

Olhando para a tabela 3.3 e comparando os dois materiais, apesar da pedra natural ter uma energia incorporada inferior e de não estarem disponíveis os valores dos restantes parâmetros de comparação, os revestimentos cerâmicos apresentam a vantagem de serem, regra geral, mais leves do que a pedra, facilitando o seu manuseamento, indo ainda de encontro ao princípio VII da desconstrução referido no capítulo 2. Para além disso, a nível de preço, a pedra natural utilizada para revestimentos tende a ser mais cara do que a peça cerâmica.

Este revestimento pretende-­se que seja num sistema de fachada ventilada, que é caracterizado pelo afastamento entre a parede do edifício e o revestimento, criando uma câmara de circulação de ar (Magda Santos, 2006). Esta câmara-­de-­ar permite a contínua ventilação natural da parede do edifício, através de uma corrente de convecção, onde o ar frio entra pela parte inferior e o ar quente sai pela parte superior.

ua como sistema de refrigeração, evitando o sobreaquecimento provocado pela radiação solar, evita problemas de humidades e condensações e permite reduzir a oscilação térmica tanto dia-­noite como verão-­inverno, resultando numa maior eficiência energética e numa maior durabilidade do edifício (protegendo a sua estrutura interna) (Sotecnisol, 2014;; Magda Santos, 2006).

Para além disto, o sistema de fachada ventilada é de fácil e rápida execução e, dependendo do tipo de fixações utilizado, permite a reutilização e/ou reciclagem dos seus constituintes.

Como elementos principais que constituem uma fachada ventilada pode-­se referir:

_ Revestimento exterior, com uma função maioritariamente estética e de proteção da parede do edifício;;

_ Câmara-­de-­ar ventilada, elemento central para o funcionamento do sistema;;

MATERIAL PEC [MJ/Kg] GWP [g/Kg] Água

Incorporada [L/Kg]

Pedra Natural 0.69 -­6.8 n.d n.d Painéis

cerâmicos 20 571 n.d

57

_ Substrutura portante, sobre o qual é aplicado o revestimento. Esta estrutura é o que garante o afastamento do revestimento em relação à parede;;

_Isolamento térmico, que na presente proposta se optou por placas de aglomerado de cortiça expandida, devido às vantagens já referidas;;

_ Pano interior da fachada, que neste caso é constituído por uma estrutura em LSF revestida por placas de OSB.

5. Gesso Cartonado;;

Tal como no caso dos revestimentos exteriores, para um revestimento de paredes interiores, o material em formato de placa ou painel é a opção ideal para possibilitar a futura desconstrução. Assim, o gesso cartonado e painéis de madeira surgem como duas possibilidades viáveis.

Comparando os valores de energia PEC, do potencial de aquecimento global e da água incorporada dos dois materiais observa-­se um comportamento semelhante, sem que nenhum deles se destaque positiva ou negativamente (tabela 3.4).

Tabela 3.4: Comparação dos valores de PEC, GWP e água incorporada para o gesso e madeira (Tem em conta os valores das tabelas do capítulo 2).

n.d: Valor não disponível

Ao nível da toxicidade, os dois materiais são inócuos. Contudo, como visto anteriormente, alguns dos produtos usados para proteção da madeira podem ser prejudiciais para a saúde humana.

O gesso cartonado tem a vantagem de reunir as qualidades da pedra e da madeira, sendo resistente ao fogo, imune a ataques de agentes biológicos e muito estável, é, ao mesmo tempo, um bom isolante térmico e acústico, flexível, fácil de cortar, aparafusar ou pregar (ecocasa, 2014). Para além disso, supera também a madeira no que diz respeito ao comportamento face às variações de humidade, na medida em que, podem ser utilizadas placas de gesso cartonado hidrófugas nas zonas húmidas do edifício (cozinhas e instalações sanitárias) que são mais resistentes ao vapor de água.

No que diz respeito ao potencial de reutilização e reciclagem, apesar de os dois materiais serem 100% recicláveis, como se observa na tabela 2.7 (capítulo 2), a madeira oferece mais vantagens do que o gesso cartonado, uma vez que, com o segundo material por norma só existe possibilidade de reciclagem e não de reutilização, devido à utilização de massas para fechamento de juntas, que dificultam a desconstrução sem dano para o material. Contudo, é exatamente na não existência de juntas que reside outra vantagem do gesso cartonado. Em primeiro lugar, porque essas juntas podem significar a perda de calor do interior do edifício e, em segundo, porque, a nível estético, um plano liso é, normalmente, mais desejável.

MATERIAL PEC [MJ/Kg] GWP [g/Kg] Água

Incorporada [L/Kg]

Gesso 6.1 265 240

Madeira 0.3 2.5 267 390

58

3.2 PAVIMENTOS

Figura 3.5: Solução construtiva proposta para pavimentos.

No que diz respeito aos pavimentos, a solução construtiva proposta vem no seguimento da solução já apresentada para as paredes, em que a estrutura LSF é revestida por uma placa de OSB, que serve de base ao revestimento flutuante de madeira nas zonas secas e de grés cerâmico nas zonas húmidas do edifício.

6. Pavimento flutuante de madeira ou grés cerâmico;;

Também no que diz respeito ao revestimento dos pavimentos, é necessário encontrar uma solução que permita uma fácil recuperação dos materiais. Analisando vários produtos existentes no mercado, chegou-­se à solução de pavimento flutuante em madeira. Para além das vantagens já referidas da madeira, os pavimentos flutuantes,

por cima de uma tela isolante (8), que pode ser cortiça, tendo mais vantagens ecológicas (Somapil, 2012). A ligação entre as peças é feita através de encaixe

-­ a remoção sem danos no material, como mostram as Figuras 3.6 e 3.7.

Figura 3.6 e Figura 3.7: Sistema de encaixe de pavimento em madeira (Fonte: internet).

No entanto, um pavimento em madeira não é muito indicado para as zonas húmidas (cozinhas e instalações sanitárias). Assim, nestas zonas é mais indicado a aplicação de um material que não seja afetado pela água, como plásticos, vinílicos ou cerâmicos.

6 7 2

3 1

1 _ Estrutura LSF 2 _ Placa OSB 3 _ Aglomerado de Cortiça expandia 6 _ Pavimento flutuante de madeira 7 _ Tela de cortiça

59

Os materiais vinílicos e plásticos, no entanto, representam perigos substanciais tanto à saúde humana como ao ambiente. Para além dos vários poluentes emitidos, logo durante a sua produção, geram, também, resíduos perigosos (Thornton, 2002). Para além disso, não são biodegradáveis e, como já visto, são de difícil reciclagem.

Tradicionalmente, as peças cerâmicas são aplicadas utilizando argamassas, que assim dificultam em grande medida a possibilidade de recuperação do material, como referido na tabela 2.7 (capítulo 2). Contudo, existem já no mercado novas soluções que permitem a aplicação deste tipo de material sem a utilização de colas ou cimentos. Mais especificamente, a solução encontrada consiste apenas no assentamento das peças diretamente num suporte liso e nivelado, utilizando pequenas argolas de fixação nos cantos das peças para criar um piso mais estável e sólido.

Figura 3.8 e Figura 3.9: Pavimento cerâmico sem argamassas (Fonte: Revigrés)

Esta solução possibilita a reutilização muito expedita das peças cerâmicas, para além de diminuir em muito os resíduos produzidos em obra e o tempo de aplicação.

Figura 3.10: Pormenor construtivo do pavimento

Como se observa na figura 3.10, o remate deste tipo de pavimento é conseguido através do rodapé, que esconde o espaço deixado entre a parede e o piso. Contudo, os rodapés que existem no mercado requerem colagem, o que dificulta a sua própria recuperação.

Também um rodapé que seja simplesmente aparafusado, apesar de cumprir o requisito de desconstrutibilidade, esteticamente sai em desvantagem do rodapé colado devido à presença dos parafusos. Como tal, é necessário pensar num modelo de rodapé que possa ser aplicado recorrendo apenas a ligações mecânicas reversíveis e que, ao mesmo tempo, produza o mesmo efeito estético do rodapé colado.

Assim, o rodapé proposto (esquematicamente apresentado) é constituído por dois perfis, um que serve de base e é aparafusado à parede e um outro que encaixa no primeiro de modo a dar o acabamento pretendido (Figura 3.11 e Figura 3.12).

60

Figura 3.11 e Figura 3.12: Esquemas do rodapé.

3.3 COBERTURAS

Figura 3.13: Solução construtiva proposta para coberturas

A cobertura é um dos principais elementos de proteção passiva de um edifício, desempenhando um papel importante na eficiência energética do edifício. Devido à sua localização na construção, está sujeita a inúmeras ações, das quais se pode salientar a radiação solar recebida, a ação do vento e a presença da água, daí que seja fundamental que esta se encontre devidamente impermeabilizada e termicamente isolada (CTCV, 2012).

Existem vários tipos de coberturas. Estas podem ser coberturas planas (não acessíveis, acessíveis a pessoas ou acessíveis a veículos), coberturas inclinadas ou coberturas ajardinadas.

Tanto nas coberturas planas, devido à inclinação praticamente inexistente, como nas coberturas ajardinadas, já que a presença da água é constante devido à existência de

9

1

3

2

8

1 _ Estrutura LSF 2 _ Placa OSB 3 _ Aglomerado de Cortiça expandia 8 _ Subtelha 9 _ Telha

61

terra e plantas, é necessário ter especial atenção à impermeabilização (Ecocasa, 2014b). Contudo, nestes casos é difícil obter uma solução que seja completamente desconstrutível, isto porque a necessidade de impermeabilização e os materiais disponíveis para esse efeito exigem sistemas de ligação não mecânicos, que tornam essa ligação praticamente irreversível, podendo inviabilizar a valorização dos materiais.

No entanto, nas coberturas inclinadas, a estanquidade garante-­se pela inclinação da própria cobertura e pelo seu revestimento, sendo apenas necessário um material que controle pequenas infiltrações e o vapor de água (subtelha) que pode ser fixado através de parafusos, ou seja, que permite a futura desconstrução.

Em Portugal, este tipo de coberturas é habitualmente revestido com telhas cerâmicas, sendo esta uma tecnologia construtiva histórica, que tem vindo a ser aperfeiçoada ao longo dos tempos, sem no entanto perder as características de base que a caracterizam pela mais funcional para este fim (Lourenço, 2013). As coberturas com telhas são um elemento tradicional na paisagem portuguesa, fazendo parte da nossa história arquitetónica. A telha é, portanto, considerada um produto dotado de elevada capacidade técnica e funcional, longa duração com reduzida manutenção, fácil resolução e reduzido nível de agressividade para o meio ambiente, apresentando baixos valores de energia e água incorporadas (0.81 MJ/Kg e 640 L/Kg), baixo GWP (190g/Kg) e baixa toxicidade.

Uma solução atualmente muito utilizada para o revestimento de coberturas inclinadas são os painéis sandwich, que incorporam o acabamento, o isolamento térmico e capacidade estrutural num único painel e que podem ser facilmente recuperados. No entanto, este material vai contra o princípio XIII para desconstrução, na medida em que consiste na aglomeração de vários materiais num só de forma indissociável, podendo constituir uma barreira no processo de reciclagem ou invalidando a peça no seu todo no caso de falha de um dos componentes.

Assim, a cobertura proposta consiste na estrutura em LSF revestida exteriormente por placas de OSB, sobre as quais assenta o isolamento térmico em aglomerado de cortiça expandida, tal como nos restantes elementos construtivos. Sobre a cortiça é, então, colocada a subtelha, que para além de evitar infiltrações e passagem de vapores, suporta as telhas conjuntamente com um ripado de madeira.

3.4 LIGAÇÕES DOS MATERIAIS

Ao conceber um edifício, a escolha das ligações entre os seus diversos materiais e componentes é um ponto fulcral para que, no final da sua vida útil, a recuperação de materiais para valorização seja possível. O tipo de fixação escolhido vai influenciar o cumprimento ou não dos requisitos que visam a reutilização e reciclagem dos materiais, nomeadamente:

_ Usar tecnologias de montagem compatíveis com as práticas de edifícios correntes;;

_ Permitir acesso a todas as partes do edifício;;

_ Utilizar o número mínimo de conectores;;

_ Utilizar conexões mecânicas em vez de conexões químicas;;

_ Conceber conectores que resistam a montagens e desmontagens sucessivas;;

62

A indústria da construção em Portugal faz um uso extensivo de ligações químicas, recorrendo a argamassas, colas, mastiques e silicones para a união de diversos materiais. Este tipo de ligação é, contudo, tendencialmente irreversível. A tentativa de reversão destas uniões danifica facilmente o material e, por norma, os materiais separados ficam contaminados pelos químicos associados aos adesivos, dificultando em grande medida a sua reutilização ou reciclagem (Santos, 2010).

Para que os números da valorização dos materiais em edifícios em fim de vida útil melhorem em Portugal, não basta esperar por legislação que o incentive. É necessário também uma conscialização dos projetistas para que adotem novos processos construtivos, que visem agilizar a recuperação desses materiais. Nesse campo, a substituição de ligações químicas por ligações mecânicas reversíveis é essencial.

Segundo Santos (2010), as ligações mecânicas resultam da criação de forças de atrito entre as superfícies de dois materiais, devido à aplicação de um esforço transverso aos mesmos, por elementos secundários de união, como pregos, parafusos, conjuntos parafusos-­porcas ou rebites. Também uniões por clipagem e por encaixe estão incluídas nestas ligações mecânicas. No entanto, é necessário ter em atenção que nem todas as ligações mecânicas favorecem a reutilização dos elementos.

Na pregagem, por exemplo, o esforço exercido para separação dos materiais e para remoção dos pregos pode danificar a superfície do material, limitando a sua reutilização. Também a rebitagem (funcionamento similar ao aparafusamento, mas exigindo a deformação do rebite) não é completamente reversível, uma vez que, implica sempre a perda do rebite, mas permite a recuperação das peças unidas, quando a separação é feita de um modo cuidadoso.

O aparafusamento é das ligações mais favoráveis à desconstrução, visto que permite a sua total reversão, sem utilização de ferramentas extra para além da utilizada na ligação inicial. Este tipo de conexão tem, ainda, a vantagem de permitir a união de vários tipos de materiais, estruturais ou não estruturais. Assim, o aparafusamento pode ser utilizado em grande parte das ligações de um projeto que vise a desconstrução, desde a estrutura em LSF, passando pelas placas de OSB com parafusos de cabeça chata para que o paramento horizontal ou vertical fique completamente nivelado, até à fixação do isolamento térmico, recorrendo a buchas em plástico de cabeça circular com um parafuso metálico no seu interior (Figura 3.14 e 3.15).

Figura 3.14 e Figura 3.15: Bucha com parafuso metálico para fixação de isolamento térmico (Fonte: Internet).

63

Também as placas de gesso cartonado, utilizadas para o revestimento interior, são fixadas à estrutura através do aparafusamento. Contudo, para obtenção de um plano de parede liso e para garantir a continuidade do conjunto de placas, são utilizadas massas para o enchimento das juntas e sobre os parafusos.

Já no que diz respeito à fixação dos revestimentos das fachadas ventiladas, existem várias soluções, que se apresentam na tabela 3.5.

Tabela 3.5: Elementos de fixação para fachadas ventiladas (Oliveira, 2011).

Os sistemas de fixação pontual integram os elementos de ligação direta entre o suporte e o revestimento, sem uma substrutura intermédia. Este tipo de fixação exige que o material de suporte tenha resistência em toda a sua extensão e, por norma, é apenas utilizada em elementos de revestimento de pequenas dimensões (Oliveira, 2011).

ELEMENTO DE FIXAÇÃO

Fixação pontual

Fixação mecânica ao suporte

Grampos mecânicos

Fixação com selagem ao

suporte

Grampos de chumbar

Fixação contínua

Fixação a vista

Pregos, pernos, rebites, parafusos

ou agrafos Presilhas ou clips

Fixação semioculta

Soluções com furação no topo do revestimento

Soluções com

rasgo no topo do revestimento

Soluções com

recorte no topo do revestimento

Fixação oculta

Encaixe entre elementos

Implantes no

tardoz do revestimento

Soluções com

rasgo no tardoz do revestimento

64

Figura 3.16 e Figura 3.17: Sistema de fixação pontual, grampos mecânicos (Fonte: Internet).

Por outro lado, um sistema de fixação contínua é composto por uma subestrutura intermédia entre a estrutura de suporte e o revestimento e pelos componentes que permitem tanto a fixação dessa subestrutura ao suporte, como também, a fixação do revestimento à subestrutura intermédia.

Dentro da família dos sistemas de fixação contínua, a principal característica que os diferencia é a forma como o revestimento se conecta com a estrutura intermédia. Essa ligação pode ser feita à vista, de modo semioculto ou oculto.

Começando pelas ligações à vista, algumas delas, como o aparafusamento, apresentam, como já visto, vantagens ao nível da desconstrução. Contudo, no que diz respeito aos elementos de acabamento, os meios de fixação mecânica visíveis apresentam desvantagens ao nível estético, uma vez que, essa presença visual pode não ser desejada.

Já os sistemas de fixação semioculta fixam os elementos de revestimento através dos seus topos. Utilizando grampos mecânicos, peças utilizadas também na fixação pontual, mas agora não diretamente fixadas ao suporte, é também dirigida a elementos de revestimento de dimensões reduzidas (Oliveira, 2011).

Os sistemas de fixação oculta são os que mais têm evoluído nos últimos anos, tornando-­se progressivamente mais simples. A sua procura tem vindo a aumentar significativamente devido ao aspeto estético, mas também devido à rapidez de execução que algumas soluções já apresentam. Estas são também, para além do aparafusamento, as soluções que mais contribuem para recuperação dos materiais utilizados. Como se observa na tabela 3.5, estes sistemas recorrem, na grande parte dos casos, a ligações de encaixe, a implantes no tardoz da peça de revestimento (utilizando o aparafusamento como ligação auxiliar) ou a soluções com rasgo no tardoz do revestimento.

As ligações de encaixe de elementos apresentam muitas vantagens na fixação de revestimentos de paredes. Estas ligações permitem uma fácil instalação e recuperação do material, não sendo necessários furos que o possam danificar. Um exemplo deste sistema de fixação de fachada ventilada foi desenvolvido pela empresa Gail, direcionado para os painéis cerâmicos extrudidos, onde a fixação das peças é feita através das ranhuras presentes na face posterior dos painéis (conseguidas pelo processo de extrusão), que encaixam em perfis de alumínio pré-­perfurados (Figuras 3.18, 3.19 e 3.20).

65

Figura 3.18, Figura 3.19 e Figura 3.20: Sistema de fixação por encaixe Gail (Fonte: Catálogo Keragail).

Como acontece neste exemplo, muitos dos sistemas de fixação por encaixe, que permitem não só uma instalação expedita, como também, uma desmontagem rápida e sem dano para o material, exigem um modo de fabrico do material específico para uma determinada aplicação e, normalmente, produzido apenas por uma empresa, de um determinado modo específico. Poderá, por isso, ser útil desenvolver um sistema generalizado que possa ser aplicado em qualquer tipo de material.

As soluções que requerem um implante no tardoz da peça de revestimento podem ser aplicadas em vários tipos de materiais, sem que estes necessitem de uma forma específica. Assim, seria importante desenvolver um modelo de conetor que pudesse ser aplicado sobre qualquer material, mesmo que fabricado de um modo standard. A fixação destes elementos ao revestimento pode ser realizada através da perfuração parcial da espessura do revestimento seguida de encaixe numa subestrutura (Oliveira, 2011). Com isto, tira-­se partido das vantagens das ligações por encaixe sem que isso exija um método de fabricação própria, que, em alguns materiais, podia até ser inviável. Contudo, este tipo de solução requer sempre que o material de acabamento tenha espessura e resistência suficientes para que nele possa ser aparafusado o conector.

Um exemplo deste tipo de ligação é apresentado em seguida (Figura 3.21 e figura 3.22), em que uma peça em alumínio, com um determinado recorte, pode ser aparafusada no tardoz de uma peça cerâmica e ir encaixar numa substrutura de suporte ao revestimento.

Figura 3.21: Sistema de fixação por implante no tardoz;; Figura 3.22: Sistema de fixação por implante no tardoz (vista superior).

66

Também as soluções que recorrem a um rasgo no tardoz da peça de revestimento permitem a fácil recuperação do material sem que seja necessário um processo de fabrico próprio. A proposta da Inovent consiste num sistema de fixação contínuo para vários tipos de material, estando isento de qualquer tipo de perfuração para parafusos ou rebites. Este sistema é composto por perfis verticais de alumínio, que servem de suporte ao revestimento. Nestes perfis são encaixados uns ganchos a 45º de aço inox, que vão servir de apoio às placas de revestimento em quatro pontos do seu tardoz, possibilitando um encaixe rápido e uma rápida substituição das peças, em caso de necessidade. Este tipo de sistema tem a vantagem de não necessitar elementos suplementares entre a estrutura intermédia e o revestimento. Necessita apenas da realização cuidadosa e rigorosa de um rasgo a 45º no tardoz do revestimento.

Figura 3.23 e Figura 3.24: Sistema de fixação por rasgo no tardoz na peça de revestimento (fonte: Inovent).

São possíveis inúmeras configurações diferentes de sistemas de fixação com vista à possibilidade de recuperação do material e obtendo o mesmo resultado final que seria esperado com uma colagem, isto é, uma superfície de acabamento lisa, sem a presença visual dos parafusos. Apesar de tantas possibilidades, são ainda escassas as empresas que desenvolvem este tipo de sistemas, levando a que se opte constantemente pelos sistemas tradicionais de fixação das peças de revestimento. É necessário, no entanto, ressalvar que o peso do revestimento é uma variável fundamental na conceção deste tipo de sistemas. Em anexo apresentam-­se mais detalhes sobre estes e outros sistemas de fixação mecânica de peças de revestimento exterior.

67

4.

CONCLUSÃO O crescimento desenfreado dos RCD e o consumo ineficiente de matérias-­primas põe em causa a sustentabilidade do sector da construção civil. Com o trabalho desenvolvido pretendeu-­se evidenciar o contributo da desconstrução, da flexibilidade e da reutilização e reciclagem de elementos, componentes e materiais para a sustentabilidade deste setor, demonstrando que é incontornável pensar nesses fatores logo na fase de projeto. Para o efeito, desenvolveram-­se modelos de soluções construtivas para paredes, pavimentos e coberturas que cumprissem os requisitos de um projeto para a desconstrução.

Como se pretendia, no que diz respeito à conceção dos elementos propostos:

_ Privilegiou-­se materiais e componentes leves (Princípio VII), desde a estrutura em aço leve, passando pelas placas de OSB, aglomerado de cortiça expandida, placas cerâmicas ou pelas telhas, optou-­se sempre por materiais de fácil manuseamento;;

_ Promoveu-­se a autonomia funcional (Princípio XIII), escolhendo um material para cada função específica a desempenhar e evitando a aglomeração de funções num único elemento. Como se observa, o LSF tem a função de suporte, o OSB de encerramento, o aglomerado de cortiça expandida tem a função de isolamento, os painéis cerâmicos fazem o revestimento exterior e o gesso cartonado o revestimento interior, sendo que cada material é perfeitamente dissociável dos restantes;;

_ Possibilitou-­se acesso fácil a todas as partes do edifício (Princípio XV), o tipo de ligações escolhidas (aparafusamento e encaixes) permite que qualquer material possa ser removido para possibilitar o acesso a outro.

Já relativamente às ligações propostas, optou-­se por:

_ Utilizar tecnologias de montagem compatíveis com as práticas dos edifícios Standard (Princípio XIV), ao dar preferência a ligações simples de aparafusamento ou encaixe, possibilitando a adaptação de parte destas soluções a outros sistemas construtivos;;

_ Utilizar o número mínimo de tipos de conetores (Princípio XVI), fazendo uso em grande parte das ligações do aparafusamento, à exceção do revestimento exterior que, devido ao aspeto visual, deu-­se preferência a ligações de encaixe;;

_ Utilizar conexões mecânicas em vez de conexões químicas (Princípio XVII);;

68

_ Conceber juntas/conetores que resistam a sucessivas montagens e desmontagens (Princípio XIX), uma vez que as ligações propostas garantem a preservação dos conetores utilizados.

Quanto aos materiais sugeridos, foi possível cumprir o objetivo de:

_ Usar materiais reciclados (princípio XXI), propondo que a estrutura em LSF pudesse ser em aço reciclado, minimizando os seus impactos no ambiente;;

_ Privilegiar materiais de qualidade e duráveis (princípio XXII), recicláveis ou biodegradáveis (princípio XXIII) e evitar materiais tóxicos e perigosos (princípio XXV), uma vez que todos estes critérios pesaram na escolha dos materiais propostos.

Na verdade, os princípios relacionados com a conceção espacial ou dimensionamento estrutural não integraram o âmbito do trabalho, pelo que, os princípios dependentes destes fatores ficam por cumprir, como é o caso de:

_ Promover a regularidade espacial e estrutural (princípio I);;

_ Promover sobredimensionamento estrutural (princípio II);;

_ Promover o sobredimensionamento infraestrutural (princípio III);;

_ Prever pontos de expansão (princípio IV);;

_ Promover sistemas de infraestruturas flexíveis (princípio V);;

_ Identificar pontos de desmontagem (princípio VIII);;

_ Fornecer peças de reposição (princípio IX);;

_ Privilegiar o uso de módulos (princípio X);;

_ Promover normalização estrutural (princípio XI);;

_ (princípio XII), apesar da estrutura em LSF o favorecer;;

_ Utilizar materiais recuperados (princípio XX);;

_ Providenciar identificação permanente (princípio XXVI).

Comparando os pontos acima mencionados com a tabela 2.3, que dá conta do contributo de cada requisito para os três objetivos do projeto para a desconstrução, os princípios que não foram cumpridos, por estarem fora do âmbito do trabalho, apresentam, na sua larga maioria, um contributo para a flexibilidade de nível elevado. Assim, constata-­se a importância das características espaciais para a flexibilidade de um edifício, enquanto as técnicas construtivas, materiais utilizados e tipo de ligações aplicadas influenciam mais a possibilidade de futura reutilização e reciclagem dos materiais. O passo seguinte ao que foi estudado será, portanto, a aplicação destas soluções a um projeto de arquitetura concreto, que cumpra com os requisitos como o da modularidade, da regularidade espacial e estrutural ou do sobredimensionamento estrutural e infraestrutural.

Deve-­se, ainda, refletir sobre o princípio VI e o princípio XXIV que referem a necessidade de minimizar o número de componentes e de materiais diferentes. Provavelmente, um edifício que não vise a desconstrução requer a utilização de menos componentes e materiais, uma vez que, um único material pode desempenhar várias funções, como acontece, por exemplo, no caso de uma parede maciça de alvenaria de pedra, que combina funções de suporte, encerramento e isolamento. Ou seja, o projeto para a

69

desconstrução poderá, a curto prazo, ter maiores custos económicos e, até, ambientais (por requerer mais materiais), mas a longo prazo os benefícios tenderão a superar essa desvantagem inicial, devido à possibilidade de amortização desses custos pelo maior período de vida desse material.

As práticas atuais e mais correntes para a elaboração de um projeto, em que se valoriza a rapidez e as soluções já conhecidas, uma vez que são vistas como a chave da rentabilidade do processo de projeto e construção, revelam-­se como contrárias à adoção de lógicas de projeto diferentes das habituais (como é o caso do Projeto para a Desconstrução), sobretudo se estas forem entendidas como introduzindo uma complexidade adicional e de benefício duvidoso para os principais agentes.

Para que a prática da desconstrução e do projeto para a desconstrução sejam entendidas como vantajosas, é essencial tornar competitivo o mercado de materiais obtidos por via da desconstrução. É necessário encontrar soluções de escoamento desses produtos, quer sejam materiais avulsos, quer elementos mais complexos (como uma estrutura completa de um edifício) e, ainda, fazer aumentar a sua procura. Essa competitividade pode ser conseguida através da combinação de incentivos fiscais (que beneficiem a prática da separação na origem e da reciclagem de materiais) com obrigações legais que requeiram, por exemplo, a integração em obra de uma percentagem mínima de materiais reutilizados ou reciclados, que, por sua vez, faria aumentar a procura destes materiais, incentivando o aumento dos níveis de reutilização e reciclagem.

Para além disso, é necessário contrariar a ideia subsistente de que os materiais reutilizados/reciclados são produtos de menor qualidade. Para tal, projetos de demonstração e investigação que comprovem a qualidade destes materiais, ações de sensibilização, dirigidas ao público em geral, relativas às vantagens da utilização de materiais usados ou a sua incorporação em obras públicas são medidas que podem ajudar a diminuir a relutância da equipa projetista e dos clientes em reutilizar o existente em vez de comprar produto novo.

A vulgarização da prática da desconstrução, a longo prazo, poderia suportar a criação de modelos de negócio alternativos, em que os fornecedores alugariam elementos e sistemas construtivos (ao invés de os venderem), retomando-­os no final do período de serviço. No entanto, para que tal acontecesse seria necessário que as expectativas e práticas atualmente prevalentes (de projetistas, de promotores e de utilizadores), as quais apreciam e a lógica de que um edifício está em constante mudança e pode deixar de ser necessário a qualquer momento. De facto, os projetos para a desconstrução estão muito ligados a estruturas temporárias, uma vez que, têm sempre subjacente a ideia do fim de vida útil do edifício.

Um primeiro passo para a mentalização da importância destas práticas seria a conjugação do projeto para a desconstrução de elementos não estruturais com as lógicas de conceção e construção mais típicas de Portugal. As remodelações em interiores (domésticos e outros) surgem como um campo com potencial para a promoção do projeto para a desconstrução, pois este tipo de intervenções é motivado essencialmente por obsolescência estética, mais do que por degradação dos materiais, o que significa que a opção pelo projeto para a desconstrução permitiria, futuramente, não só recuperar elementos ainda válidos para reutilização, como possibilitaria uma mais fácil adaptação às novas exigências do utilizador.

O mercado das segundas habitações é também um sector onde a prática do projeto para desconstrução pode começar a ser aplicado, visto que se vem assistindo a um

70

lento proliferar de soluções e sistemas que oferecem construções aligeiradas (em madeira ou metal), de lógica modular e com facilidade de adaptação, transformação ou remoção (a par da facilidade e rapidez de construção), o que tem levado os projetistas a dedicar maior atenção às implicações destes pressupostos nas soluções construtivas e estruturais empregues.

Os benefícios do projeto para a desconstrução são igualmente extensíveis a intervenções em património histórico. Aqui, as principais convenções relativas à conservação desse mesmo património postulam que as intervenções em edifícios ou sítios classificados deverão ser realizadas (quando possível) prevendo reversibilidade, ou seja, deverão permitir a reposição a situação prévia à intervenção realizada, o que converge com a provisão de desmontabilidade. Na verdade, a reabilitação e a desconstrução são conceitos que se encaixam no quadro geral da sustentabilidade da construção, visto que ambas se focam na valorização dos recursos existentes.

Contudo, o projeto para a desconstrução não começa no arquiteto ou engenheiro de uma obra, mas sim ainda na indústria dos materiais de construção, que ainda não responde a estas necessidades. Apesar de algumas empresas já o fazerem (como o caso do pavimento cerâmico sem argamassas), este setor deveria estudar novas formas de fixação dos materiais para que, obtendo o resultado estético atual, permitissem a sua recuperação para reutilização ou reciclagem. Também a incorporação de técnicas de desconstrução nas especificações do material e a criação de códigos de design a nível nacional e europeu poderiam auxiliar projetistas e construtores.

Ainda no que diz respeito aos materiais de construção, todos eles apresentam impactes sobre o ambiente, no entanto, cabe ao arquiteto escolher os materiais com menores prejuízos ambientais. Porém, essa escolha é difícil devido à complexidade de critérios e por não existir informação facilmente acessível e suficientemente credível para que se tome a melhor decisão. Nesse sentido, a elaboração das DAP constitui um passo fundamental para que se estabeleçam termos de comparação entre materiais, visto que são uma ferramenta de comunicação da informação ambiental de um produto ou serviço. Uma vez que a sua elaboração é baseada no método de ACV (que quantifica o impacto ambiental do produto), as descrições quantitativas acerca do desempenho ambiental de um determinado material tornam-­se mais fiáveis. É necessário, no entanto, que as empresas se consciencializem das vantagens da sua elaboração.

A presente dissertação constitui-­se como um primeiro passo na procura de um projeto que vise a desconstrução, propondo ações construtivas a levar a cabo com vista ao prolongamento da vida útil do edifício e à reutilização dos seus elementos e materiais com o evoluir das necessidades. Transpondo estas soluções para um projeto concreto perceber-­se-­á melhor as suas reais vantagens, os problemas e o que há a melhorar.

Futuramente, seria interessante o desenvolvimento de um Guia para a Desconstrução, no qual constem soluções e recomendações para designers, arquitetos, engenheiros e construtores, para o qual o presente trabalho de investigação pretendeu dar o primeiro mote.

No entanto, esta preocupação deve ser vista como uma oportunidade e não como uma dificuldade adicional. Não se pretende condicionar a forma de conceber edifícios nem prejudicar outras prioridades do projeto arquitetónico, mas demonstrar a necessidade de criar edifícios que incorporem a flexibilidade necessária para permitir a sua adaptação a necessidades que hoje ainda não conhecemos.

71

5.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

5.1 PUBLICAÇÕES ALGARVIO, D. (2009). Reciclagem de Resíduos de Construção e Demolição: Contribuição para controlo do processo. Tese de Mestrado em Gestão Integrada e Valorização de Resíduos, Ramo Ecomateriais e Valorização de Resíduos. Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente, Faculdade de Ciências e Tecnologias, Universidade Nova de Lisboa.

ALMEIDA. M. (2014). Declarações Ambientais de Produto Ferramenta para Eco Inovação ustentabilidade da

de Outubro de 2014, Albergaria-­A-­Velha.

AUGUSTO, C. (2011). A metodologia da avaliação do ciclo de vida na definição de critérios de sustentabilidade em edifícios. Coleção Teses. Universidade Lusíada Editora.

BARBOSA, Rita Dias (2009) Reabilitação Sustentável de Edifícios Industriais: O caso da zona industrial do bairro de Alvalade. Dissertação de mestrado, Instituto Superior Técnico, Lisboa.

BERGE, B. (2009). The Ecology of Building Materials, 2ª edição. Architectural Press. Elsevier.

CCP Código de Contratos Públicos;; Decreto-­Lei n.º 18/2008 de 29 de Janeiro;; Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Lisb

CHAVES, R. (2009). Avaliação da Implementação do Plano de Prevenção e Gestão dos Resíduos de Construção e Demolição. Dissertação de Mestrado em Engenharia do Ambiente, Faculdade de Ciências e Tecnologias, Universidade Nova de Lisboa.

CHINI, A. (2003). Deconstruction and Materials Reuse. Proceedings of the 11th Rinker International Conference. TG 39;; CIB Publication 287.

CLAYTON, R. (2001). Editorial: Is sustainable development an oxymoron?

COSTA, Carlos N. (2006/07). Resíduos e Aterros de Resíduos. Disciplina de fundamentos de Geotecnia. Capítulo 7. Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa.

72

COUTO. A.;; COUTO, J. (2007). Why deconstruction is not adequately considered in Portuguese building refurbishment. Artigo do departamento de Engenharia Civil da Universidade do Minho, Guimarães.

COUTO, A.;; COUTO, J.;; TEIXEIRA, J. (2006). Desconstrução: Uma ferramenta para a sustentabilidade da construção

CRAVEN, D.;; OKRAGLIK, H.;; EILENBERG, I. (1994). Construction Waste and a New Design Methodology. CIB TG16, Sustainable Construction, Tampa, Florida, EUA.

CROWTHER, P. (2001). Developing an Inclusive Model for Design for Deconstruction. CIB Publication 266 -­ Deconstruction and Materials Reuse: Technology, Economic, and Policy. Proceedings of the CIB Task Group 39 Deconstruction Meeting. CIB World Building Congress, Wellington, Nova Zelândia.

CRUZ, H.;; NUNES, L. (2009). Durabilidade e Protecção de Estruturas de Madeira. Construção Magazine. Nº34, Novembro/Dezembro 2009.

CTCV-­ Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro (2012). Estudo do Comportamento Térmico das Coberturas com Telhas Cerâmicas. Projeto nº 212-­16859, Relatório nº 212-­16859-­1/12, Coimbra.

Decreto-­lei Nº178/2006 de 5 de Setembro;; Regime geral da gestão de resíduos;; Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, Lisboa.

Decreto-­Lei Nº46/2008 de 12 de Março;; Regime de gestão de resíduos de construção e demolição;; Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, Lisboa.

DEPA Danish Environmental Protection Agency. Waste in Denmark. Ministry of Environment and Energy, Denmark.

DURMISEVIC, E. (2006). Transformable Building Structures. Design for disassembly as a way to introduce sustainable engineering to building design & construction. Technische Universiteit Delft, Holanda.

EIRES, R. (2006). Materiais não convencionais para uma construção sustentável utilizando cânhamo, pasta de papel e cortiça. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil. Universidade do Minho, Guimarães.

EPA Environmental Protection Agency (2002). Resource conservation challenge: Campaigning against waste. EPA 530-­F-­02-­033, EUA.

ESTEVES, A. (2013). Flexibilidade em Arquitetura: Um contributo adicional para a sustentabilidade do ambiente construído. Dissertação de Mestrado em Arquitetura, dARQ, Faculdade de Ciências e Tecnologias, Universidade de Coimbra.

FERNANDES, B.;; TEIXEIRA, M. (2006). A Reutilização de Materiais na Construção Civil. Trabalho final de Arquitetura, Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de S. Paulo, Brasil.

FIGUEIREDO DOS SANTOS, Francisco M. C. B. (2010). Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade. Caso de Estudo: Bairro Alto. Dissertação de Mestrado, Instituto Superior Técnico, Lisboa.

GUY, B.;; CIARIMBOLI, N. (2005). Design for Disassembly in the built environment: a guide to closed-­loop design and building.

73

HEIJNE, R.;; VINK, J. (2005). Flex-­Buildings, design to respond to change. Ensaio disponível em Time-­based Architecture. 010 Publishers. Rotterdam, Holanda.

HURLEY, J.;; HOBBS G. (2005). TG39 UK Country Report on Deconstruction. CIB Report 9.

INE (2013). Estatísticas do Ambiente 2012. Edição de 2013.

ISO (2012). Environmental labels and declarations. How ISO standards help. International Standards Organization.

JORGE, L. (2012). Estratégias de Flexibilidade na Arquitetura Residencial Multifamiliar. Tese de Doutoramento em Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de S. Paulo, Brasil.

KIBERT, C. J. (1994). Establishing Principles and a Model for Sustainable Construction, Proceedings of the First International Conference on Sustainable Construction of CIB TG16. Center for Construction and Environment, University of Florida, Tampa, Florida, EUA.

LEUPEN, B.;; HEIJNE, R.;; ZWOL, J. (2005). Time-­based Architecture. 010 Publishers. Rotterdam, Holanda.

LOURENÇO, P. (2013). Revestimentos & Impermeabilização de coberturas cerâmicas inclinadas

LUCAS, S. (2008). Critérios Ambientais na Utilização de Materiais de Construção. Dissertação de mestrado em Gestão Ambiental, Materiais e Valorização de Resíduos. Departamento de Engenharia Cerâmica e do Vidro, Universidade de Aveiro.

MACCREANOR (2005). The Sustainable City is the Adaptable City. Ensaio disponível em Time-­based Architecture. 010 Publishers. Rotterdam, Holanda.

MÁLIA, M. (2010). Indicadores de Resíduos de Construção e Demolição. Tese de Mestrado em Engenharia Civil, Instituto Superior Técnico, Lisboa.

MÁLIA, M.;; BRITO, J.;; BRAVO, M. (2011). Indicadores de resíduos de construção e demolição para construções residenciais novas. Ambiente construido (Online) vol.11 no.3 Porto Alegre, Brasil.

MARTINS, I. (2013). Progress of Recycling in the Built Environment. Final Reporto f the RILEM tecnical committe 217-­PRE. Enric Vázquez Editor. Cap. 38 Recycling in Portugal: Overview of CDW.

MATEUS, R. (2004). Novas tecnologias construtivas com vista à sustentabilidade da construção. Tese de mestrado em Engenharia Civil;; Universidade do Minho, Guimarães.

MENDONÇA, P. (2005). Habitar sob uma segunda pele. Estratégias para a Redução do Impacto Ambiental de Construções Solares Passivas em Climas Temperados. Tese de Doutoramento em Engenharia Civil. Departamento de Engenharia Civil. Universidade do Minho, Guimarães.

MONTECINO, Waldo;; HOLDA, Agnieszka (2006). Construction and Demolition Waste Management in Denmark. Example of brick, wood, treated wood and PVC management.

NASCIMENTO, M. (2014). Avaliação da sustentabilidade dos materiais de construção. Tese de mestrado em Engenharia Civil. Departamento de Engenharia Civil, Universidade de Aveiro.

74

OLIVEIRA, P. (2011). Metodologia de Manutenção de Edifícios Fachadas Ventiladas. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil Especialização em Construções Civis. Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto.

PALACIO, C. (2013). Energia Incorporada de vedações para habitação de interesse social considerando-­se o desempenho térmico. Estudo de caso com utilização do Light Steel Frame no entorno do DF. Dissertação de mestrado em Construção Civil. Publicação E.DM-­005A/13. Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Faculdade de Tecnologia, Universidade de Brasília, Brasil.

PEREIRA, P. (2009). Construção Sustentável: o desafio. Universidade Fernando Pessoa, Porto.

PINHEIRO, M. D. (2006). Ambiente e Construção sustentável. Instituto do Ambiente, Amadora.

RJUE Regime Jurídico da Urbanização e da Edificação. Decreto-­Lei n.º 555/99, de 16 de Dezembro, Lisboa.

SALGUEIRO, N. (2012). Projecto de um Equipamento Adaptável em Entrecampos. Dissertação de Mestrado em Arquitetura. Faculdade de Arquitetura, Universidade Técnica de Lisboa.

SANTOS, António J. L. (2010). Desconstrução de edifícios: Uma perspetiva arquitetónica. Dissertação de Doutoramento, Instituto Superior Técnico, Lisboa.

SETAC Society of Environmental Toxicology and Chemistry (1993). Guidelines for Life-­Cycle Assessment: A code of Practice. Bruxelas, Bélgica.

SOUSA, P. (2012). Construção Sustentável Contributo para a Construção de Sistema de Certificação. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil. Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa.

SYMONDS GROUP (1999). Construction and Demolition Waste Management Practices, and their Economics Impacts. Report to DGXI, European Commission.

TEODORO, Nuno F. G. (2011). Contribuição para a Sustentabilidade na Construção Civil: Reciclagem e Reutilização de Materiais. Dissertação de Mestrado, Instituto Superior Técnico, Lisboa.

THORNTON, J. (2002). Environmental Impacts of Polyvinyl Chloride (PVC) Building Materials. A briefing paper for the Healthy Building Network. Columbia University.

TIRONE, L.;; NUNES, K. (2007). Construção Sustentável. Soluções eficientes hoje, a nossa riqueza de amanhã. ISBN: 9789892008837.

TORGAL, F. Pacheco;; JALALI, Said (2010). A Sustentabilidade dos Materiais de Construção. Universidade do Minho, Escola de Engenharia, Guimarães.

WEBSTER, M.;; COSTELLO, D. (2005). Designing Structural Systems for Deconstruction: How eful Life and Prevent it from Going to Waste When the End

Finally Comes. Greenbuild Conference, Atlanta, EUA.

75

5.2 PÁGINAS WEB ABREU, R.;; HEITOR, T. (2007). Estratégias de Flexibilidade na Arquitetura Doméstica Holandesa: da conversão à multifuncionalidade. Infohabitar 122. Disponível em: http://infohabitar.blogspot.pt/2007/01/estratgias-­de-­flexibilidade-­na.html [Consultado a 22/12/2014].

AGÊNCIA EUROPEIA DO AMBIENTE;; Resíduos e Recursos Materiais. Disponível em: http://www.eea.europa.eu/pt/themes/waste/intro [Consultado a 15/12/2014].

AICOPA Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas dos Açores (2007). Resíduos de Construção e Demolição: A busca de soluções com vista à sustentabilidade do sector. Boletim Informativo 23. Disponível em: http://www.aicopa.pt/anexos/boletins/1181655629.pdf [Consultado a 18/12/2014].

AMORIM (2014). Hotspot de vida. A cortiça Benefícios Ambientais e Sociais. Corticeira Amorim. Disponível em: http://www.amorim.com/a-­cortica/beneficios-­ambientais-­e-­sociais/ [Consultado a: 18/01/2015].

AMORIM (2014b). Uma liderança sustentável. Liderança Global Sustentabilidade. Corticeira Amorim. Disponível em: http://www.amorim.com/lideranca-­global/sustentabilidade/ [Consultado a: 18/01/2015].

APA Agência Portuguesa do Ambiente (2007). Guia Agenda 21 Local Um desafio para todos. Disponível em: http://www.apambiente.pt/_zdata/Instrumentos/GestaoAmbiental/A21L/Guia%20Agenda%2021%20Local.pdf [Consultado a 5/12/2014].

APA Agência Portuguesa do Ambiente (s/d). Resíduos de Construção e Demolição. Disponível em: http://www.apambiente.pt/index.php?ref=16&subref=84&sub2ref=197&sub3ref=283 [Consultado a: 17/12/2014].

APA Agência Portuguesa do Ambiente (s/d). Protocolo de Quioto. Disponível em: http://www.apambiente.pt/index.php?ref=16&subref=81&sub2ref=119&sub3ref=500 [Consultado a: 17/12/2014]

AZEVEDO, V. (2014). Cimeira do Clima com resultados positivos mas sem novas metas para cortar CO2. Jornal Expresso. Artigo publicado a 24/09/2014. Disponível em: http://expresso.sapo.pt/cimeira-­do-­clima-­com-­resultados-­positivos-­mas-­sem-­novas-­metas-­para-­cortar-­co2=f890806#ixzz3S1qSykbx [Consultado a: 15/12/2014].

BARKKUME, A. (2008). Deconstruction and Design for Disassembly. New Jersey School of Architecture, New Jersey Institute of Technology, EUA. Disponível em: http://www.academia.edu/178424/Deconstruction_and_Design_for_Disassembly [Consultado a: 26/12/2014].

BRUNDTLAND, G. (1987). Our Common Future. Report of the World Commission on Environment and Development. Disponível em: https://ambiente.files.wordpress.com/2011/03/brundtland-­report-­our-­common-­future.pdf [Consultado a 5/12/2014].

CASTELO BRANCO, F. (2014). Clima. Potências mundiais entram pressionadas para a Cimeira do Peru. Jornal i online. Artigo publicado a 3/12/2014. Disponível em: http://www.ionline.pt/artigos/mundo/clima-­potencias-­mundiais-­entram-­pressionadas-­cimeira-­peru [Consultado a: 15/12/2014].

76

CORREIA PINTO, M. (2011). A geração à rasca está a conseguir desenrascar-­se. Artigo do caderno P3, Público Online;; Disponível em: http://p3.publico.pt/actualidade/sociedade/746/gera%C3%A7%C3%A3o-­%C3%A0-­rasca-­est%C3%A1-­conseguir-­desenrascar-­se;; Publicado a 21/09/2011;; [Consultado a 21/12/2014].

DAPHBITAT (s/d). Os benefícios duma Declaração Ambiental de Produto (DAP) para o mercado de produtos e serviços de construção. Desenvolvimento de Regras para a Categoria de Produto (RCP). Disponível em: http://www.daphabitat.pt/pdf/brochura_dap_habitat.pdf [consultado a 14/01/2015]

Declaração de Estocolmo sobre o Ambiente Humano, Organização das Nações Unidas, 1972, disponível em: http://www.apambiente.pt/_zdata/Politicas/DesenvolvimentoSustentavel/1972_Declaracao_Estocolmo.pdf [Consultado a 5/12/2014].

ECOCASA (2014). Gesso Cartonado. Quercus. Disponível em: http://www.ecocasa.pt/userfiles/file/GESSO_CARTONADO.pdf [Consultado a 18/01/2015].

ECOCASA (2014b). Elementos da construção Coberturas. Quercus. Disponível em: http://www.ecocasa.org/construcao_content.php?id=26 [Consultado a: 16/02/2015].

EUROSTAT, Generation of waste by economic activity (ten00106). Disponível em: http://ec.europa.eu/eurostat/tgm/refreshTableAction.do?tab=table&plugin=1&pcode=ten00106&language=en [Consultado a 17/12/2014].

FUTURENG (2014). Placas OSB. Disponível em: http://www.futureng.pt/osb [Consultado a: 18/01/2015].

GRAY, J. (2014). Reclaimed Materials. Sustainable Build. Disponível em: http://www.sustainablebuild.co.uk/ReclaimedMaterials.html [Consultado a: 06/01/2015].

JULAR (2010). Tackle Climate Change: Use Wood. Disponível em: http://www.jular.pt/pdf//Tackle_Climate_Change_Use_Wood.pdf [Consultado a 19/01/2015].

JULAR (2010b). OSB. Disponível em: http://www.jular.pt/conteudos.php?lang=pt&id_menu=20 [Consultado a: 18/01/2015].

KAHN, M.;; NOBREGA, P. (s/d). Uma Breve História de (In)sustentabilidade. Disponível em: http://www.moradadafloresta.org.br/artigos/campanhas/351-­uma-­breve-­historia-­de-­insustentabilidade [Consultado a 5/12/2014].

MAGDA SANTOS, T. (2006). Fachadas ventiladas. Sotecnisol ntc. Disponível em: http://www.techitt.com/Homepage/2003_GuiaoTecnico/Ficheiros/ft_562_sotecnisol_03_2009_05_12.pdf [Consultado a:19/01/2015].

MENDES, S.;; MENDES, L.;; CHAVES, M.;; MORI, F.;; SILVA, J.;; TRUGILHO, P. (2005). Utilização de resinas alternativas na produção de painéis OSB de clones de Eucalyptus spp. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=74413303 [Consultado a: 18/01/2015].

MOTA,I (2004). Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável ENDS 2005 -­2015;; Ministério das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente/Instituto do Ambiente;; Disponível em: https://infoeuropa.eurocid.pt/files/database/000015001-­000020000/000019537.pdf [Consultado a 5/12/2014].

77

ONU (1992). Rio declaration on environment and development. Report of the United Nations Conference on Environment and Development. Rio de Janeiro, Brasil, 1º volume. Disponível em: http://www.un.org/documents/ga/conf151/aconf15126-­1annex1.htm [Consultado a 5/12/2014].

SOMAPIL (2012). Pisos flutuantes madeira. Disponível em: http://www.somapil.com/pt/Pavimentos/pisos-­flutuantes-­madeira [Consultado a: 18/01/2015].

SOTECNISOL (2014). Sistemas de fachadas ventiladas. Disponível em: http://www.sotecnisol.pt/revestimentos/fachadas-­ventiladas/sistemas-­de-­fachadas-­ventiladas/ [Consultado a: 19/01/2015].

78

79

6.

ANEXOS

80

6.1 SISTEMA DE FIXAÇÃO INOVENT Sistema de fixação por rasgo no tardoz da peça de revestimento.

81

6.2 SISTEMA DE FIXAÇÃO KERAGAIL Sistema de fixação por encaixe.

1.Painéis cerâmicos extrudidos;; 2.Rail;; 3.Perfil T;; 4.Ancoragem.

82

83

6.3 SISTEMA DE FIXAÇÃO PARKLEX Sistema de fixação por implante no tardoz.

A. Painel de fachada B1. Suporte metálico C. Base ajustável D. Isolamento E. Parafuso

84

85

6.4 EXEMPLO DAP FRANCESA

Cette déclaration est présentée selon le modèle de Fiche de Déclaration Environnementale et Sanitaire validé par l’AIMCC (FDE&S Version 2005

PLAN

INTRODUCTION

GUIDE DE LECTURE

• •

AFFICHAGE ENVIRONNEMENTAL ET SANITAIRE

-

-

-

-

µλ

µ

λ

µ

λ

• • • • • • • •

• • • • • • • • • • •

• •

• • • • • • • •

• • • • • •

• •