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CONTRIBUIÇÃO PARA O CONHECIMENTO DOS COMPORTAMENTOS SEXUAIS NOS ADOLESCENTES: PROMOÇÃO DA SAÚDE SEXUAL E PREVENÇÃO DO VIH/SIDA SÓNIA MARIA FERREIRA DIAS Área de Saúde Internacional Instituto de Higiene e Medicina Tropical Universidade Nova de Lisboa Orientador: Professora Doutora Margarida Gaspar de Matos Co-orientadores: Professora Doutora Aldina Gonçalves e Professor Doutor Jorge Torgal

CONTRIBUIÇÃO PARA O CONHECIMENTO DOS … · Identificar os factores ligados à protecção e ao risco associados aos comportamentos sexuais de risco. N IDADE Amostra total 3 762

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CONTRIBUIÇÃO PARA O CONHECIMENTO

DOS COMPORTAMENTOS SEXUAIS NOS ADOLESCENTES:

PROMOÇÃO DA SAÚDE SEXUAL E PREVENÇÃO DO VIH/SIDA

SÓNIA MARIA FERREIRA DIAS

Área de Saúde Internacional

Instituto de Higiene e Medicina TropicalUniversidade Nova de Lisboa

Orientador: Professora Doutora Margarida Gaspar de Matos

Co-orientadores: Professora Doutora Aldina Gonçalves e

Professor Doutor Jorge Torgal

Objectivos GeraisObjectivos Gerais

�� Aprofundar o conhecimento sobre os comportamentos sexuais Aprofundar o conhecimento sobre os comportamentos sexuais

dos adolescentes escolarizados; dos adolescentes escolarizados;

�� Identificar necessidades e factores relevantes para a SaIdentificar necessidades e factores relevantes para a Saúúde de

Sexual e prevenSexual e prevençção do VIH/Sida nos adolescentesão do VIH/Sida nos adolescentes

PARTE TEÓRICA

� Promoção da saúde sexual e prevenção do VIH/Sida

� Adolescentes e saúde

� Abordagem ecológica no estudo dos factores de risco e de protecção

associados aos comportamentos sexuais

PARTE EMPÍRICA

� Estudo quantitativo

� Estudo qualitativo

CONCLUSÕES GERAIS

SumárioSumárioSumário

Estudo QuantitativoObjectivosEstudo QuantitativoObjectivos

� Descrever os conhecimentos, atitudes e práticas sexuais

relevantes para a prevenção de VIH/Sida nos adolescentes

escolarizados;

� Analisar as relações entre as variáveis relacionadas com os

comportamentos sexuais adoptados e as variáveis individuais e

relativas ao contexto social (família, pares, escola e comunidade);

� Identificar os factores ligados à protecção e ao risco associados

aos comportamentos sexuais de risco.

N IDADE

Amostra total 3 762 15.12 (D.P.= 1.35)8º Ano 2 181 14.30 (D.P. =.973)

10º Ano 1 581 16.25 (D.P.= .907)

Número de participantes no estudo e média de idades

Estudo QuantitativoAmostraEstudo QuantitativoAmostra

Amostra Portuguesa de 2002 do estudo colaborativo da OMS integrado na rede

Europeia HBSC “Health Behaviour in School-Aged Children” (Matos, Gonçalves, Dias & Aventura social, 2002).

Distribuição dos participantes por sexo

Sexo Feminino 52%

Sexo Masculino 48%

Estudo QuantitativoInstrumentoEstudo QuantitativoInstrumento

� Questionário adoptado no estudo “Health Behaviour in School-AgedChildren” em 2002 (Currie et al., 2001; Matos et al, 2002)

� Questões sócio-demográficas e psicossociais relacionadas comquestões psicológicas, contexto familiar, interpessoal, escolar e comunitário, história de consumos, comportamento anti-social

� Questões relacionadas com os comportamentos sexuais e preventivos: normas sociais, comunicação, início da actividade sexual (razões e intenção), competências, experiência sexual, utilização do preservativo, actividade sexual associada a consumos

� Questões relativas ao conhecimento e atitudes face ao VIH/Sida: conhecimento dos modos de prevenção, fontes de informação, comunicação, percepção da vulnerabilidade à infecção, atitude face aos portadores de VIH/Sida

� Recolha de dados: Março e Abril de 2002

� Amostra:135 escolas do ensino regular seleccionadas aleatoriamente da lista nacional do ME, estratificada pelas 5 regiões educativas do país

8º e 10º anos de escolaridade

“Cluster sampling”: unidade amostral “turma”

procedimentos indicados no protocolo internacional

� Procedimento: Estudo piloto prévioQuestionário aplicado no contexto de sala de aulaResposta era voluntária e anónima

Estudo QuantitativoProcedimentoEstudo QuantitativoProcedimento

Jovens que já tiveram relações sexuais (n = 3634)

sim não

23.7% 76.3%

Estudo QuantitativoResultadosEstudo QuantitativoResultados

Frequência dos comportamentos em estudoFrequência dos comportamentos em estudo

Uso preservativo na última relaçãon= 860

sim não

70.1% 29.9%

Mais comportamentos de riscoFácil recusar relações sexuais

Difícil recusar relações sexuais desprotegidas

Menor satisfação com a vidaPercepção de que corre risco

Características sócio-

demográficas

RapazesAlentejo

Não PortuguêsMais velhos

Menos comportamentos de riscoNão sabe que competências tem para recusar relações sexuais erelações sexuais desprotegidas

Maior satisfação com a vidaNão sabe que risco de infecção corre

RaparigasNorte

PortuguêsMais novos

Individual

Familiar

BiparentalElevado grau de instrução da mãe

Facilidade na comunicação Maior supervisão parental

ReconstruídaBaixo grau de instrução da mãe

Dificuldade na comunicaçãoMenor supervisão parental

Interpessoal (Pares)

Dificuldade na comunicação Percepção de que os pares não

iniciaram as relações sexuaisMenor número de noites que

sai com os amigosMenor frequência de discotecas

Facilidade na comunicação Percepção de que os pares jáiniciaram as relações sexuaisMaior número de noites que

sai com os amigosMaior frequência de discotecas

Escolar e Comunitário

Estudo QuantitativoDistribuição das variáveis explicativas: “actividade sexual”Estudo QuantitativoDistribuição das variáveis explicativas: “actividade sexual”

Elevada capacidade escolarGostar da escola

Percepção positiva da comunidade

Reduzida capacidade escolarNão gostar da escola

Percepção negativa da comunidade

Características sócio-

demográficasNão portuguêsPortuguês

Individual

Familiar

Interpessoal (Pares)

Escolar e Comunitário

Estudo QuantitativoDistribuição das variáveis explicativas: “utilização de preservativo”Estudo QuantitativoDistribuição das variáveis explicativas: “utilização de preservativo”

Nunca se embriagouNunca consumiu drogasFacilidade para recusar

relações sexuais e negociar o preservativo

Maior satisfação com a vidaPercepção de menor risco de infecção

15 ou mais anos na primeira relação sexual sexual

EmbriaguezConsumo de drogas

Menor satisfação com a vida Não sabe que competências tem para

recusar relações sexuais e negociar o preservativo

Maior percepção de risco11 anos ou menos na 1ª relação sexual

Facilidade na comunicação Dificuldade na comunicação

Maior número de noites que sai com os amigos

Maior frequência de discotecas

Menor número de noites que sai com os amigos

Menor frequência de discotecas

Estudo QuantitativoModelo de regressão logística para a “actividade sexual”- análise das associações significativas

Valor pIC a 95%ORVariável

(1.047-1.736)1.348Não gosta da escola.0211.0Gosta da escola

Satisfação com a escola

(2.123-3.695)2.800Consideram que já iniciaram<.0011.0Consideram que não iniciaram Percepção do início das

relações sexuais nos jovens

<.001(1.432-2.846)2.019Frequentemente.003(1.161-2.020)1.531Ocasionalmente

<.0011.0RaramenteFrequência com que vai a discotecas

<.001(.113-1.283)1.195Número de noite que sai com os amigos.010(.835-.976).903Supervisão parental.004(1.246-3.229)2.006Envolve-se lutas regularmente.039(1.014-1.758)1.336Ocasionalmente

.0071.0NuncaFrequência de envolvimento em lutas (últimos 12 meses)

<.001(1.488-3.510)2.285Embriaga-se regularmente.010(1.089-1.867)1.426Ocasionalmente

<.0011.0NuncaFrequência de embriaguez (último mês)

<.001(1.889-3.907)2.717Fuma regularmente.009(1.115-2.138)1.544Ocasionalmente

<.0011.0NuncaFrequência de fumar (último mês)

(1.341-3.154)2.056Não Portuguesa.0011.0Portuguesa

Nacionalidade

(1.649-2.745) 2.127Masculino<.0011.0Feminino

Género

<.001(1.178-1.424)1.295Idade

* p<.05

Estudo QuantitativoModelo de regressão logística para a “não utilização do preservativo” - análise das associações significativas

.002(.763 - .941).847Maior número de noite que sai com os amigos(.951 - 2.162)1.434Difícil ou não fala

.0451.0Fácil Conversar com os pais sobre SIDA<.001(.213 - .625).36515 anos ou mais<.001(.184 - .515).30812-14 anos

<.0011.011 anos ou menosIdade 1ª relação sexual.008(1.212 -3.663)2.107Embriaga-se regularmente.922(.654 - 1.600)1.023Ocasionalmente

.0121.0NuncaFrequência de embriaguez(último mês)

Valor pIC a 95%ORVariável

PARTE TEÓRICA

� Promoção da saúde sexual e prevenção do VIH/Sida

� Adolescentes e saúde

� Abordagem ecológica no estudo dos factores de risco e de protecção

associados aos comportamentos sexuais

PARTE EMPÍRICA

� Estudo quantitativo

� Estudo qualitativo

CONCLUSÕES GERAIS

SumárioSumárioSumário

Estudo QualitativoEstudo Qualitativo

� Conhecer as percepções dos jovens em relação aos conhecimentos,

atitudes e práticas sexuais, tendo em conta as diferenças de género e

de localização geográfica;

� Compreender factores individuais e do contexto ecológico (família,

pares, escola e comunidade) ligados ao risco e à protecção em

relação às questões da sexualidade dos jovens;

� Contextualizar a dinâmica dos processos que medeiam (limitam ou

favorecem) a adopção de comportamentos sexuais saudáveis e de

risco relevantes para a infecção pelo VIH/SIDA.

ObjectivosObjectivos

Estudo QualitativoAmostraEstudo QualitativoAmostra

� 72 jovens: 36 raparigas e 36 rapazes

� 10º ano de escolaridade

� 6 escolas públicas do ensino regular:

2 Porto = 2 grupos de rapazes e 2 grupos de raparigas2 Lisboa = 2 grupos de rapazes e 2 grupos de raparigas2 Alentejo = 2 grupos de rapazes e 2 grupos de raparigas

� 12 grupos focais (“focus group” - grupos de discussão centrados num tema)

(Morgan, 2001; Krueger & Casey, 2000)

� Cada grupo era constituído por 6 jovens

Estudo QualitativoProcedimentoEstudo QualitativoProcedimento

Recolha de dados entre Maio e Julho de 2003Selecção das escolas com base na disponibilidade

Apresentação do moderador e dos objectivos do estudo, obtenção do consentimento voluntário, garantia do anonimato Aplicação questionário (caracterização da amostra)

A duração das discussões de grupo foi de cerca de 90 minutosGravação das entrevistas

No final de cada sessão:Comentário geral da discussãoTranscrição das discussões dos grupos

Organização das categorias para análiseComparação das discussões acerca dos tópicos abordados entre os grupos Análise de consensos e opiniões individuais

Género

Regiões

COMPORTAMENTOS SEXUAIS• Comportamentos saudáveis

• Comportamentos de risco

relevantes para o VIH/Sida

INDIVIDUAISRisco

Protecção

FAMILIARESRisco

Protecção

PARESRisco

Protecção

ESCOLARESRisco

Protecção

COMUNITÁRIOSRisco

Protecção

Factores individuaisFactores individuais

▪ Expectativa de consequências negativas ▪ Intenção de não usar o preservativo

▪ Atitudes desfavoráveis ao sexo desprotegido▪ Crenças negativas acerca do preservativo

▪ Atitudes positivas face aos portadores de VIH/SIDA▪ Atitudes negativas face aos portadores de VIH

▪ Vida sexual activa▪ Vida sexual activa

▪ Estratégias preventivas protectoras▪ Primeira relação sexual

▪ Percepção adequada da vulnerabilidade ao VIH▪ Maior preocupação com a gravidez indesejada

▪ Conhecimentos sobre o VIH/SIDA▪ Estratégias preventivas que conferem risco

▪ Percepção de auto-eficácia ▪ Percepção inadequada da vulnerabilidade ao VIH

▪ Intenção de usar o preservativo ▪ Falta de conhecimentos sobre o VIH/SIDA

▪ Crenças positivas acerca do preservativo▪ Percepção de pouca auto-eficácia

▪ Expectativa de consequências positivas

▪ Relações sexuais integradas no desenvolvimento saudável e num relacionamento afectivo

▪ Atitude negativa ou banal das relações sexuais

▪ Competências ▪ Défice de competências

▪ Características da personalidade▪ Características da personalidade

ProtecProtecççãoãoRiscoRisco

Expectativa de consequências positivas

Factores familiaresFactores familiares

▪ Suporte de outros familiares ▪ Pressão exercida para as relações sexuais

▪ Supervisão parental▪ Fraca supervisão parental

▪ Estilo parental democrático▪ Estilo parental autoritário

▪ Boa comunicação sobre sexualidade ▪ Falta de comunicação sobre sexualidade

▪ Bom ambiente familiar e boas relações

familiares

▪ Mau ambiente familiar e fracas ligações

familiares

ProtecProtecççãoãoRiscoRisco

Factores interpessoais (pares)Factores interpessoais (pares)

▪ Não uso do preservativo e tipo de parceiro

▪ Contextos de risco (discotecas, festas)

▪ Relações sexuais associadas aos consumos

▪ Acesso a preservativos▪ Expectativa de consequências interpessoaisnegativas

▪ Expectativa de consequências interpessoaispositivas

▪ Diferença de poder na negociação

▪ Atitudes positivas do parceiro ao uso dopreservativo

▪ Atitudes negativas do parceiro ao uso dopreservativo

▪ Normas dos pares: inicio da actividadesexual mais tardio e uso do preservativo

▪ Normas dos pares: início da vida sexual e não utilização do preservativo

▪ Amigos mais velhos e mais experientes▪ Pressão/coacção dos namorados

▪ Compreensão e suporte emocional▪ Pressão/influência dos amigos

▪ Comunicação positiva com o grupo de pares ▪ Problemas na comunicação com o grupo de pares

ProtecProtecççãoãoRiscoRisco

▪ Pressão/coacção dos namorados

▪ Pressão/influência dos amigos

Factores escolaresFactores escolares

▪ Distribuição de preservativos

▪ Distribuição de preservativos▪ Críticas às sessões de esclarecimento na

área da sexualidade

▪ Possibilidade de relacionamento com um

grande número de pares e outros adultos

▪ Falta de informação e educação sexual nas

escolas

▪ Informação e educação sexual▪ Abandono escolar

▪ Aspirações académicas▪ Fraco desempenho e falta de aspirações

académicas

▪ Ambiente escolar protector▪ Ambiente escolar de risco

ProtecProtecççãoãoRiscoRisco

Factores comunitáriosFactores comunitários

▪ Prostituição e adopção de comportamentos

protectores

▪ Prostituição e adopção comportamentos de

risco

▪ Serviços de Saúde▪ Meios de comunicação social e Internet

▪ Meios de comunicação social e Internet▪ Normas sociais referentes aos papéis de

género

▪ Apoio social: Instituições /associações ▪ Dificuldade na aquisição de preservativos

▪ Facilidade no acesso/ aquisição de

preservativos

▪ Bairros desfavorecidos

ProtecProtecççãoãoRiscoRisco

ConclusõesConclusões

� A maioria dos participantes não apresenta comportamentos sexuais de risco de infecção pelo VIH/SIDA. Parece existir um grupo de adolescentes que estará numa situação de maior vulnerabilidade ao nível da sua Saúde Sexual

� Os comportamentos sexuais em idades mais precoces parecem aumentar a vulnerabilidade ao nível da Saúde Sexual

� Os comportamentos de risco tendem a ocorrer de forma agrupada

� Os adolescentes não podem ser considerados um grupo homogéneo em relação aos conhecimentos, atitudes e comportamentos face ao VIH/SIDA

� Integrar a expressão da sexualidade na promoção de um desenvolvimento pessoal e interpessoal saudável

� Apesar do comportamento individual ser determinante da vulnerabilidade a situações de risco, as decisões não são tomadas na base de uma opção individual mas envolvem complexas relações interpessoais

� A protecção e o risco situam-se quer ao nível individual, quer ao nível do contexto ambiental (família, pares, escola e comunidade)

� Os adolescentes são capazes de opinar sobre as suas necessidadesem termos de sexualidade e estratégias de resolução

� A utilização de duas metodologias diferentes revelou-se interessante pois permitiu uma análise mais aprofundada da complexidade subjacente a este tema.

ConclusõesConclusões

AGRADECIMENTOS

• Comissão Tutorial

• Instituto de Higiene e Medicina Tropical

• Área de Saúde Internacional/ IHMTProf. Doutora Aldina Gonçalves

Prof. Doutor Paulo FerrinhoProf. Doutora Luzia GonçalvesProf. Doutor Jorge CabralMestre Fátima FigueiredoDra. Rita CaldeiraD. Manuela GomesD. Helena Amaral

• Centro de Malária e Outras Doenças Tropicais

• Aventura SocialProf. Doutora Margarida Gaspar de Matos

Prof. Doutora Aldina GonçalvesProf. Doutora Celeste Simões Mestre Tânia Gaspar

Mestre Paula Lebre

• Fundação para a Ciência e Tecnologia

• Comissão Nacional de Luta Contra a Sida

• Escolas e alunos participantes