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i Universidade Federal do Rio Grande – FURG Escola de Química e Alimentos – EQA Programa de Pós-Graduação em Química Tecnológica e Ambiental – PPGQTA Dissertação de Mestrado CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO LIGANTE TIOSSEMICARBAZONA DERIVADO DO TRANS- CINAMALDEÍDO COM ÍON NÍQUEL(II) ANA PAULA LOPES DE MELO Rio Grande, RS - Brasil 2018

CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

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Page 1: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

i

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Universidade Federal do Rio Grande – FURG

Escola de Química e Alimentos – EQA Programa de Pós-Graduação em Química Tecnológica e Ambiental –

PPGQTA

Dissertação de Mestrado

CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

LIGANTE TIOSSEMICARBAZONA DERIVADO DO TRANS-

CINAMALDEÍDO COM ÍON NÍQUEL(II)

ANA PAULA LOPES DE MELO

Rio Grande, RS - Brasil

2018

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ii

CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

LIGANTE TIOSSEMICARBAZONA DERIVADO DO TRANS-

CINAMALDEÍDO COM ÍON NÍQUEL(II)

por

ANA PAULA LOPES DE MELO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Química Tecnológica e Ambiental, área de concentração em Química Inorgânica, da Universidade Federal do Rio Grande (FURG - RS), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Química.

Orientador: Prof. Dr. Leandro Bresolin

Rio Grande, RS - Brasil

2018

Page 3: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

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Universidade Federal do Rio Grande - FURG Escola de Química e Alimentos - EQA

Programa de Pós-Graduação em Química Tecnológica e Ambiental - PPGQTA

A Comissão Examinadora abaixo assinada aprova a Dissertação de Mestrado

CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO LIGANTE TIOSSEMICARBAZONA

DERIVADO DO TRANS-CINAMALDEÍDO COM ÍON NÍQUEL(II)

elaborada por

ANA PAULA LOPES DE MELO

Como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Química Tecnológica Ambiental

Comissão examinadora

Prof. Dr. Leandro Bresolin (Universidade Federal do Rio Grande – FURG)

Prof. Dr. Adriano Bof de Oliveira

(Universidade Federal do Sergipe – UFS)

Prof. Dr. Tito Roberto Sant’ Anna Cadaval Junior (Universidade Federal do Rio Grande – FURG)

Rio Grande, fevereiro de 2018.

Page 4: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

iv

Dedico à minha mãe Terezinha Lopes de Melo e à

minha irmã Magali Lopes de Melo que estarão

eternamente em meu coração, e em minhas

memórias mais preciosas. Que Deus esteja

cuidando das duas em um lugar lindo e iluminado,

que estejam seguindo suas missões com amor.

Page 5: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

v

Dedico ao amor da minha vida, minha

filha amada Estela. À minha família

amada de coração Eva Rodrigues, Andra

e Andressa. Aos meus irmãos amados Rita

e Alberto. E ao meu querido Prof. Dr.

Leandro Bresolin.

Page 6: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

vi

AGRADECIMENTOS

Agradeço em especial aos meus amigos queridos e amados que não mediram esforços

para me ajudar e estarem ao meu lado com amor e muita paciência, por todas as horas

dedicadas a mim, por escutarem minhas angústias, meus desabafos, cansaços e

também por estarem presentes nos dias de vitória. O meu muito obrigada a todos, esta

vitória também é um pouco de cada um de vocês, Karina, Leonardo, Bianca, Mayra,

Valéria, Dona Ana e Beto, Amanda e família, Dani e família, Ana Lúcia, Daniela, Marcos,

Jossemana e Jonathan (pelas incansáveis horas de prévias e todo amor e dedicação).

Muito obrigada meus queridos amigos por acreditarem em mim quando o cansaço me

dominava, por aturarem e ouvirem todas prévias, lágrimas e estresses. E principalmente

por estarem em minha vida.

Meu obrigada a meu amigo e namorado Renan e sua família, pela força, paciência e

amor dedicados a mim e a minha filha nesta etapa final.

Ao meu professor querido Prof.Dr. Leandro Bresolin obrigada por abrir esta porta,

oportunizando este mundo de aprendizado e conhecimento. Serei eternamente grata por

ter acreditado em mim e pela parceria ímpar de trabalho que tive a honra de vivenciar ao

teu lado nesta etapa de minha vida acadêmica.

A Prof.Dra. Vanessa Carratu Gervini por toda sua disponibilidade em ajudar sempre e

por todo apoio ao longo desta etapa em minha vida.

Ao Prof.Dr. Adriano Bof de Oliveira por toda dedicação ao nosso grupo de pesquisa e

em especial a este trabalho, agradeço por todo seu apoio e principalmente por

compartilhar teus saberes conosco para que este trabalho pudesse ser realizado.

Ao Prof.Dr. Tito Roberto Sant’ Anna Cadaval Junior pela oportunidade e presença neste

momento, agradeço por compartilhar teus ensinamentos conosco.

Ao grupo LCSI pela parceria e por me acolherem meu eterno obrigado Léo, Bibi, Valéria,

Carol, Vivi, Alexandre, Mayra e Roberta, vocês fazem parte dessa história.

Aos funcionários do EQA e da FURG, que sempre estiveram dispostos a auxiliar em

tudo. Em especial, a Iraci, Murilo, Dona Ana, Marli e Rosane por todo carinho e amizade.

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Page 8: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

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Sumário LISTA DE FIGURAS ...................................................................................... 10

LISTA DE TABELAS ...................................................................................... 12

LISTA DE ESQUEMAS .................................................................................. 13

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS .................................................... 14

RESUMO ....................................................................................................... 15

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 17

1.1. Tiossemicarbazonas .................................................................................................... 17

2. OBJETIVOS ............................................................................................... 23

2.1. Objetivo Geral ............................................................................................................... 23

2.1.1. Objetivos Específicos............................................................................................ 23

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................... 24

3.1 Trans-Cinamaldeído ...................................................................................................... 24

3.2. Estruturas cristalinas de ligantes tiossemicarbazonas ........................................... 25

3.3 Química inorgânica dos íons Níquel(II) ...................................................................... 29

3.4 Complexos de Níquel(II) com ligantes Tiossemicarbazonas .................................. 30

4. MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................... 36

4.1. Reagentes ...................................................................................................................... 36

4.2. Solventes ....................................................................................................................... 36

4.3. Ponto de Fusão ............................................................................................................. 36

4.4. Espectroscopia na região do infravermelho ............................................................. 36

4.5. Espectroscopia na região do ultravioleta .................................................................. 37

4.6. Difração de raios X em monocristal ........................................................................... 37

5. PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS ...................................................... 38

5.1. Síntese do ligante tiossemicarbazona derivado trans-cinamaldeído ................... 38

5.2. Síntese do complexo de níquel(II) derivado do trans-cinamaldeído .................... 38

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................. 40

6.1 Espectroscopia na região do infravermelho .............................................................. 40

6.1.2. Espectroscopia na região do infravermelho para ligante tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído ..................................................................................... 41

6.2. Espectroscopia na região do ultravioleta-visível ...................................................... 45

6.2.1 - Análise de Espectroscopia na região do ultravioleta-visível do ligante tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído e do seu respectivo complexo de níquel (II) ...................................................................................................................... 47

Page 9: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

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6.3. Difração de raios X em monocristal ........................................................................... 51

6.4. Análise de Difração de raios X em monocristal para o complexo trans-cinamaldeído de Níquel(II) .................................................................................................. 52

7. TRATAMENTO DE RESÍDUOS ................................................................. 65

8. CONCLUSÃO ............................................................................................ 66

9. PERSPECTIVAS FUTURAS ...................................................................... 67

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 68

11. ANEXO 1 .................................................................................................. 71

Page 10: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fórmula estrutural geral das tiossemicarbazonas ........................................... 18

Figura 2 - Arranjos estruturais das tiossemicarbazonas (Tenório et al., 2005) ............. 20

Figura 3 - Equilíbrio tiona-tiol das tiossemicarbazonas ..................................................... 21

Figura 4 - Modo quelante “NS-doador” das tiossemicarbazonas .................................... 21

Figura 5 - Fórmula Estrutural do Aldeído cinâmico (2E)-3-fenil-2-propenal ................... 24

Figura 6 - Estrutura cristalina/molecular do 4-(metiltio)benzaldeído-tiossemicarbazona (Núñez-Montenegro et al., 2011) ........................................................................................... 26

Figura 7 - Estrutura cristalina/molecular do N-Metil-2-(1-metill-3-fenilprop-2-en-1-ilideno) -hidrazinacarbotioamida, com elipsóides térmicas com nível de probabilidade de 50% (Rocha et. al.2014) .......................................................................................................... 27

Figura 8 - Estrutura cristalina/molecular do composto2E-N-metil-2-[(2E)-3-fenil-lprop-2-en-1- ilidena]hidrazinacarbotioamida, com elipsóides térmicas com nível de probabilidade de 50% (Krishna, M, et al., 2012) ................................................................. 27

Figura 9 - Estrutura cristalina do ligante acenoftenoquinona tiossemicarbazona (Tadjarodi et al., 2015) ............................................................................................................. 28

Figura 10 - Estrutura cristalina/molecular do composto tetralona-tiossemicarbazona das interações de hidrogênio intramoleculares, com elipsóides térmicas com nível de probabilidade de 50% (Oliveira, et al., 2014) ....................................................................... 29

Figura 11 - Representação da estrutura cristalina/molecular do complexo [Ni(5-Br-SalTSC) py] com elipsóides térmicas com 50% de probabilidade (Pederzolli et al., 2012) ..................................................................................................................................................... 31

Figura 12 - Estrutura cristalina molecular do complexo trinuclear de níquel com o ligante N-salicilil-4-fenil-tiossemicarbazida [Ni3(C14H10N3O2S)2(H2O)4]2C3H7NO (Du e Liu, 2008) ..................................................................................................................................................... 32

Figura 13 - Representação da estrutura cristalina molecular do complexo de níquel(II) (Garcıa-Tojal et al., 2001) ....................................................................................................... 32

Figura 14 - Representação da estrutura cristalina/molecular do complexo [Ni(CMTSC)2] DMSO com elipsóides térmicas com 50% de probabilidade (Benhamed et al., 2015) . 33

Figura 15 - Representação da estrutura cristalina molecular do complexo [Ni2(Sal-4-heximTSC)2Phen] (Latheef, L. et al., 2009) ......................................................................... 34

Figura 16 - Representação da estrutura cristalina molecular do complexo de Níquel(II) (Reena, T.A, et al,2007) .......................................................................................................... 35

Figura 17 - Espectro obtido na região do infravermelho do composto tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído ............................................................................................. 42

Figura 18 - Espectro obtido na região do infravermelho do reagente trans-cinamaldeído ..................................................................................................................................................... 43

Figura 19 - Espectroscopia na região do infravermelho para o complexo trans-cinamaldeído de níquel(II) ....................................................................................................... 45

Figura 20 - Níveis de energia e transições (Pavia et al., 2010) ....................................... 47

Figura 21 - Espectro obtido por espectroscopia na região do ultravioleta-visível para o ligante tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído .............................................. 48

Figura 22 - Espectro de ultravioleta-visível do complexo de níquel(II) com o ligante tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído........................................................... 49

Figura 23 - Sobreposição dos espectros obtidos na região do ultravioleta-visível para o Ligante (linha azul) e o complexo de Ni(II) (linha vermelha) ............................................. 50

Figura 24 - Estrutura do complexo de níquel com as elipsoides térmicas representadas com a probabilidade de 50 %. Apenas metade da fórmula química estrutural está presente na cela elementar. A outra metade da molécula é gerada por um centro de

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inversão. A ilustração representa a primeira parte da unidade assimétrica. Código de simetria: (v) –x+2, -y+1, -z+1 .................................................................................................. 54

Figura 25 - Estrutura do complexo de níquel com as elipsoides térmicas representadas com a probabilidade de 50 %. Apenas metade da fórmula química estrutural está presente na cela elementar. A outra metade da molécula é gerada por um centro de inversão. A ilustração representa a segunda parte da unidade assimétrica. Código de simetria: (vi) –x+1, -y+2, -z+2 ................................................................................................. 54

Figura 26 - Representação gráfica isotrópica da unidade assimétrica do composto de coordenação de níquel ............................................................................................................ 56

Figura 27 - Representação da cela elementar do complexo de níquel vista pelo eixo cristalográfico b ......................................................................................................................... 57

Figura 28 - Representação gráfica das esferas de coordenação para os complexos de níquel na unidade assimétrica. Ambos apresentam a geometria quadrática planar ..... 57

Figura 29 - Representação gráfica isotrópica da estrutura molecular do primeiro complexo de níquel .................................................................................................................. 58

Figura 30 - Representação gráfica isotrópica da estrutura molecular do segundo complexo de níquel .................................................................................................................. 59

Figura 31 - Representação gráfica da superfície de Hirshfeld (dnorm) para o complexo de níquel .......................................................................................................................................... 61

Figura 32 - Representação gráfica bidimensional dos pontos de contato das interações intermoleculares da superfície de Hirshfeld (dnorm) do complexo de níquel(II) ............... 63

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Comparação dos estiramentos obtidos no espectro de infravermelho para o ligante Tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído com os dados da literatura ..................................................................................................................................................... 42

Tabela 2 – Comparação dos estiramentos para o ligante e seu complexo de níquel(II) ..................................................................................................................................................... 45

Tabela 3 - Dados do cristal, da coleta e do refinamento da estrutura do composto ..... 52

Tabela 4 - Comparação entre alguns dados cristalográficos entre o complexo de níquel(II) e a da literatura (Benhamed et al., 2015) ............................................................ 64

Page 13: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

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LISTA DE ESQUEMAS

Esquema 1 - Esquema geral de obtenção dos compostos tiossemicarbazonas .......... 17

Esquema 2 - Mecanismo de Formação das tiossemicarbazonas (Adaptado de Tenório, R. P. et. al., 2005) .................................................................................................................................... 19

Esquema 3 - Síntese do ligante tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído . 38

Esquema 4 - Síntese do complexo de níquel(II) com o ligante tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído ................................................................................................................... 39

Page 14: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

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LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

ν Estiramento

Vibração de deformação angular

HOMO Orbital molecular ocupado de maior energia

LUMO Orbital molecular desocupado de menor energia

ε Constante de absorvidade molar

TCLM Transferência de Carga ligante Metal

λ Comprimento de onda

Å Ângstron (10-10 m)

𝞪, β, γ Ângulos dos eixos cristalográficos

a, b, c Eixos cristalográficos

Z Número de fórmulas elementares por cela

R1 Índice de discordância

wR Índice de discordância ponderado

Page 15: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

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RESUMO

CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO LIGANTE TIOSSEMICARBAZONA DERIVADO DO TRANS-CINAMALDEÍDO

COM ÍON NÍQUEL(II)

Autora: Ana Paula Lopes de Melo

Orientador: Prof. Dr. Leandro Bresolin

No presente trabalho são apresentadas e discutidas a síntese e a caracterização de um ligante tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído e um complexo de níquel(ІІ) C22H26N6NiS2. Estes compostos foram caracterizados por espectroscopia na região do infravermelho (IV), espectroscopia na região do ultravioleta visível (UV-vis), sendo que, no complexo também se realizou a técnica de difração de raios X em monocristal. Pela análise dos espectros de infravermelho, foram identificadas bandas características ao estiramento da ligação C=N, o que comprovou a síntese efetiva dos compostos. A análise dos espectros eletrônicos de UV-vis, evidenciou a presença de comprimentos máximos de absorção relacionados a transferência de carga metal-ligante e d-d que ocorrem no espectro. Obteve-se a estrutura cristalina/molecular do complexo de níquel(II) a partir do ligante tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído. A estrutura elucidada para o complexo de níquel(II) demonstrou que este apresenta-se com dois fragmentos moleculares em sua unidade assimétrica, cada fragmento corresponde a metade da estrutura molecular composto de coordenação, onde apenas metade da fórmula química está na cela elementar, a outra metade é gerada por um centro de inversão. Ambos apresentam a geometria quadrática planar, cristaliza-se no sistema monoclínico e grupo espacial P21/c, sua cela elementar é formada pelo arranjo de quatro unidades da molécula (Z=4), e há formação de anéis quelatos pentagonais. Observou-se uma desordem na molécula, observada em relação aos átomos de enxofre, contudo pode-se afirmar que tanto a síntese como a obtenção do produto final foram obtidas com êxito.

Palavras-chave: tiossemicarbazona, trans-Cinamaldeído e níquel(II).

Rio Grande, 16 de fevereiro de 2018.

Page 16: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

16

ABSTRACT

CONTRIBUTION TO THE STUDY OF THE CHEMISTRY OF COORDINATION OF THE THIOSEMICARBAZONES DERIVED FROM TRANS-

CINNAMALDEHYDE WITH NICKEL (II)

Author: Ana Paula Lopes de Melo

Advisor: Prof. Dr. Leandro Bresolin

The present work shows the synthesis and characterization of a thiosemicarbazone ligand derived from trans-cinnamaldehyde and a nickel(ІІ) C22H26N6NiS2. These compounds were characterized by spectroscopy infrared region (IR), ultraviolet- visible region (UV-vis), and the X-ray diffraction crystallography. In the analysis of the infrared spectra, characteristic bands were identified to the stretching of the C = N bond, which proved the effective synthesis of the compounds. The analysis of the UV-vis electron spectra revealed the presence of maximum absorption lengths related to metal-ligand and d-d charge transfer occurring in the spectrum. The crystalline / molecular structure of the nickel(II) complex was obtained from the trans-cinnamaldehyde-derived thiosemicarbazone ligand. The elucidated structure for the nickel (II) complex has been shown to have two molecular fragments in its asymmetric unit, each fragment corresponding to half of the composite molecular structure of coordination, where only half of the chemical formula is in the elementary cell, another half is generated by an inversion center both have the planar quadratic geometry, crystallized in the monoclinic system and space group P21/c, their elementary cell is formed by the arrangement of four units of the molecule (Z = 4), and there is formation of pentagonal chelate rings. A disorder in the molecule observed in relation to the sulfur atoms was observed, however, it can be said that both the synthesis and the obtaining of the final product were obtained successfully.

Rio Grande, february 16, 2018.

Page 17: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

17

1. INTRODUÇÃO

1.1. Tiossemicarbazonas

As tiossemicarbazonas são compostos orgânicos nitrogenados

considerados como base de Schiff e que geralmente são obtidas pela reação de

condensação quimiosseletiva de tiossemicarbazidas com cetonas e/ou aldeídos,

conforme mostra reação abaixo (Esquema 1). Segundo a teoria ácido-base de

Lewis a função carbonila (aldeído/cetona) atua como ácido de Lewis, pois seu

carbono é pobre de elétrons. Já o nitrogênio do composto tiossemicarbazida atua

como uma base de Lewis e realiza o ataque nucleofílico na função carbonila dos

aldeídos e cetonas (Pederzolli, 2011).

Essa classe de compostos nitrogenados vem sendo amplamente

estudada por dois motivos; apresentam amplo espectro de atividade biológica e

complexam os mais variados íons metálicos (Tenório et al., 2005).

R, R1, R2, R3 = H, grupos alquila, ou arila.

Esquema 1 - Esquema geral de obtenção dos compostos tiossemicarbazonas

Page 18: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

18

O mecanismo de atuação bioquímica das tiossemicarbazonas também

encontra-se relacionando a capacidade de complexar íons metálicos, devido a

presença de átomos de nitrogênio e enxofre em sua estrutura. Vários autores

afirmam que as tiossemicarbazonas são ligantes quelantes N,S-doadores

(Beraldo, 2004). A fórmula estrutural desta classe de compostos é apresentada

na Figura 1.

R, R1, R2, R3 = H, grupos alquila, ou arila.

Figura 1 - Fórmula estrutural geral das tiossemicarbazonas

O mecanismo de reação que envolve a formação de uma

tiossemicarbazona (Esquema 2) é análogo ao de formação de iminas, inicia-se

com a protonação do oxigênio da carbonila formando o intermediário íon oxônio,

após ocorre o ataque nucleofílico do nitrogênio N(1) do reagente

tiossemicarbazida para formar o intermediário hemiaminal protonado. A após a

reação de neutralização há perda de uma molécula de água e o produto

tiossemicarbazona é formado (Tenório et al., 2005).

Page 19: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

19

I- Formação do íon oxônio:

II- Ataque Nucleofílico da Tiossemicarbazida:

III- Perda de uma molécula de água:

R, R1 = H, grupos alquila, ou arila.

Esquema 2 - Mecanismo de Formação das tiossemicarbazonas (Adaptado de Tenório, R. P. et. al., 2005)

Page 20: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

20

A síntese de compostos tiossemicarbazonas seguem os princípios da

Química Verde (Spiro e Stigliani, 2009) dos quais pode-se destacar eficiência

atômica, prevenção e síntese segura. Uma vez que não são gerados resíduos e

ao término das reações de síntese o que ocorre é a incorporação de

praticamente todos os materiais de partida no produto final, com exceção da

eliminação do oxigênio da carbonila que é eliminado na forma de uma molécula

de água.

Nas tiossemicarbazonas não substituídas na posição N-4, a estrutura

apresenta-se aproximadamente planar, com o átomo de enxofre em posição anti

em relação ao átomo de nitrogênio da função imina e se forem adicionados

grupos substituintes na posição N-4, este arranjo estrutural muda

significativamente favorecendo a conformação syn entre o átomo de nitrogênio

da imina e o átomo de enxofre (Figura 2) (Tenório et al., 2005). É importante

ressaltar que se o átomo de enxofre estiver em posição anti, haverá a

possibilidade da ocorrência de interação de hidrogênio intramolecular entre o

nitrogênio da imina e os hidrogênios da tioamida, conforme mostra a Figura 2.

anti syn

R1, R2, R3, R4 = H, grupos alquila, ou arila

Figura 2 - Arranjos estruturais das tiossemicarbazonas (Tenório et al., 2005)

Page 21: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

21

Suas moléculas também podem encontrar-se tanto na forma tiona como

na forma tiol, em um equilíbrio dinâmico (Figura 3). Isto está relacionado ao seu

arranjo estrutural rico em ligações π que causam deslocalização eletrônica na

sua estrutura.

R, R1, R2, R3 = H, grupos alquila, ou arila

Figura 3 - Equilíbrio tiona-tiol das tiossemicarbazonas

Os compostos tiossemicarbazonas possuem grande capacidade de

complexar íons metálicos formando anéis quelatos pentagonais com grande

estabilidade. Essa capacidade complexante tanto na forma neutra (a) como

também na forma aniônica (b), conforme mostra a Figura 4, encontra-se

relacionada a presença de átomos de nitrogênio na forma de uma imina e de

enxofre na forma de uma tiocarbonila.

R1, R2, = H, grupos alquila, ou arila

Figura 4 - Modo quelante “NS-doador” das tiossemicarbazonas

Page 22: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

22

A capacidade desta classe de compostos em formar quelatos em sua

forma neutra também se deve ao fato de apresentarem capacidade de

deslocamento da densidade eletrônica na cadeia tiossemicarbazona que pode

ser aumentada através de substituintes na estrutura dos ligantes

tiossemicarbazonas (Lobana et al., 2009).

Além disso, em razão da sua versatilidade estrutural e alta capacidade

complexante frente a diferentes centros metálicos estes compostos são

promissores como ligantes, promovendo a formação de diversos modos de

coordenação devido a presença de átomos doadores de elétrons tanto duros

(nitrogênio) quanto moles (enxofre) de acordo com a teoria de Pearson (Chang,

R,2010).

Por estas razões, esses compostos e seus complexos metálicos têm sido

vastamente estudados na Química Medicinal. Muitos medicamentos modificam

suas propriedades farmacológicas e toxicológicas ao serem administrados na

forma de composto de coordenação. Os compostos tiossemicarbazona ainda

tem apresentando atividade antiviral, antibacteriana, antifúngica, antitumoral e

antioxidante (Choudhary et al., 2011).

A atividade biológica das tiossemicarbazonas mostra-se diretamente

relacionado a natureza de seus substituintes, onde pequenas variações

estruturais ocasionam mudanças significativas na ação biológica. Além disso,

complexos metálicos de tiossemicarbazonas podem exibir atividades biológicas

que diferem do ligante livre, pode-se ressaltar aqui então a relevância tanto do

estudo do ligante na sua forma coordenada como o estudo do ligante livre (Li et

al., 2010).

Considerando a importância química e estrutural de compostos derivados

das tiossemicarbazonas, este trabalho tem como intuito, apresentar o estudo de

um ligante tiossemicarbazona derivado de um produto de origem natural, o trans-

cinamaldeído, que pode atuar como agente quelante frente ao íon níquel(II).

Page 23: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

23

2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo Geral

Diante da importância do estudo das tiossemicarbazonas, este trabalho

tem como foco a síntese e a caracterização de um ligante tiossemicarbazona

derivados do Trans-cinamaldeído e seu complexo de níquel(II). Assim como a

realização de estudos estruturais das propriedades quelantes desta importante

classe de ligantes.

2.1.1. Objetivos Específicos

I. Síntese de ligante tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído

utilizando a 4-metiltiossemicarbazida;

II. Síntese de um complexo inédito de Ni(II) derivado de um ligante trans-

cinamaldeído-tiossemicarbazona;

III. Caracterização espectroscópica nas regiões do infravermelho, ultravioleta

visível para o ligante e seu respectivo complexo;

IV. Obter monocristais aptos a Difração de raios X dos compostos sintetizados;

V. Elucidar as estruturas no estado sólido dos compostos sintetizados através

da técnica de difração de raios X em monocristais;

VI. Contribuir para o estudo da química de coordenação do íon níquel(II) com

ligantes tiossemicarbazonas.

Page 24: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

24

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Face a introdução, aos objetivos geral e também específicos já

apresentados neste trabalho, essa revisão bibliográfica encontra-se assim

dividida:

I - Trans-cinamaldeído

II - Estruturas de ligantes Tiossemicarbazonas

III - Química inorgânica dos íons Níquel(II)

IV - Complexos de Níquel(II) com ligantes Tiossemicarbazonas

3.1 Trans-Cinamaldeído

Nesta parte desta revisão bibliográfica apresentamos o composto

carbonilado que foi utilizado para preparar o ligante tiossemicarbazona que

compõem este trabalho.

O cinamaldeído ou o aldeído cinâmico é um composto orgânico de

fórmula molecular C9H8O, de ocorrência natural majoritária na forma trans-

cinamaldeído. Está presente em aproximadamente 70% do óleo essencial obtido

da casca das espécies do gênero cinnamomum zeylanicum (Gutzeit e Ludwig-

Müller, 2014). Em sua estrutura apresenta um anel aromático ligado a um aldeído

não saturado, conforme a Figura 5.

Figura 5 - Fórmula Estrutural do Aldeído cinâmico (2E)-3-fenil-2-propenal

Page 25: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

25

Os ácidos cinâmicos por serem precursores de vários compostos

pertencentes à classe dos fenilpropanóides são muitas vezes classificado na

literatura como um fenilpropanóide. Os fenilpropanóides são uma classe de

compostos orgânicos encontrados em todo reino vegetal e são sintetizadas

em organismos vegetais a partir do aminoácido fenilalanina, derivado da união

do grupo fenila e grupo propila, servem como precursores de uma série de

polímeros naturais (Gutzeit e Ludwig-Müller, 2014).

Trata-se também de um excelente fungicida e larvicida de baixa

toxicidade, além disso, tem demonstrado propriedades antivirais,

antibacterianas, antioxidante e antifúngicas e controle dos níveis de açúcar no

sangue, ação anticoagulante e, ainda, eficácia no combate às bactérias que

vivem no dorso da língua e ajuda a prevenir a aglutinação excessiva das

plaquetas do sangue (Subashbabu et al., 2007; Jakhetia et al., 2010).

3.2. Estruturas cristalinas de ligantes tiossemicarbazonas

Nesta parte da revisão bibliográfica apresentamos cinco estruturas

cristalinas de compostos tiossemicarbazonas onde enfocamos os principais

comprimentos de ligações obtidos através da difração de raios X em monocristal

e aspectos sobre a obtenção dos compostos.

Núñez-Montenegro, et.al (2011), apresentaram a estrutura

cristalina/molecular do composto derivado de 4-(metiltio) benzaldeído-

tiossemicarbazona como mostra a Figura 6. O composto foi obtido através de

reação equimolar entre 4- metiltio-benzaldeído e solução de tiossemicarbazida

em uma mistura 1:1 de metanol / água e submetido a refluxo durante 2 horas.

Os principais comprimentos de ligação deste composto são: C2=N3

[1.286(5) Å]; C1=S1 [1.697(4) Å]; N3-N2 [1.367(4) Å] e C1-N1[1.351(5) Å]. O

composto HL mostra configuração E em torno das ligações C(1)−N(2),

N(2)−N(3), N(3)−C(2) e C(2)−C(3).

Page 26: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

26

Figura 6 - Estrutura cristalina/molecular do 4-(metiltio)benzaldeído-tiossemicarbazona (Núñez-Montenegro et al., 2011)

Em 2014, Rocha et. al. publicaram a estrutura cristalina molecular do N-

metil-2-(1-metil-3-fenil-prop-2-en-1-eno) -hidrazinacarbotioamida, (Figura 7) um

composto tiossemicarbazona obtida através da reação de benzilideneacetona,

com 4-metil-3-tiossemicarbazida, que é pertencente ao sistema cristalino

ortorrômbico. A síntese do composto foi realizada através da reação equimolar

entre benzilideneacetona e 4-metil-3-tiosemicarbazida em etanol e tendo gotas

de HCl concentrado como catalisador com refluxo. Após resfriamento e filtragem,

obteve-se cristais aptos para difração de raios X em monocristal através da

evaporação lenta do etanol.

Os principais comprimentos de ligação para esse composto são: C9=N1

[1.299(16) Å]; C10=S1 [1.687(12) Å]; N1-N2 [1.376(14) Å] e C10-N3 [1.326(16)

Å]. Além disso a molécula, mostra uma conformação trans nas ligações C7-C8

e N1-N2.

Page 27: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

27

Figura 7 - Estrutura cristalina/molecular do N-Metil-2-(1-metill-3-fenilprop-2-en-1-ilideno) -hidrazinacarbotioamida, com elipsóides térmicas com nível de

probabilidade de 50% (Rocha et. al.2014)

Krishna, M, et al., (2012) determinaram a estrutura cristalina do composto

2E-N-metil-2-[(2E)-3-fenil-lprop-2-en-1-ilideno hidrazinacarbotioamida (Figura

8), obtida através da reação do (2E)-3-fenilprop-2-enal com N-

methilhidrazinacarbotioamida. A síntese do composto foi realizada através da

reação entre uma solução de etanol a quente de (2E) -3-fenilprop-2-enal e N-

metil-hidrazinocarbiotioamida e catalisada com ácido acético aquoso a 5%, após

o sistema foi submetido a refluxo. Um produto sólido cristalino foi obtido e

recristalizado em metanol. Os principais comprimentos de ligação deste

composto são: C9=N1 [1.282(3) Å]; C10=S1 [1.680(3) Å]; N1-N2 [1.373(3) Å] e

C10-N3[1.314(4) Å].

Figura 8 - Estrutura cristalina/molecular do composto2E-N-metil-2-[(2E)-3-fenil-lprop-2-en-1- ilidena]hidrazinacarbotioamida, com elipsóides térmicas com nível

de probabilidade de 50% (Krishna, M, et al., 2012)

Page 28: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

28

A estrutura da acenaftenoquinona tiossemicarbazona, foi sintetizada por

Tadjarodi, et. al., em 2015. Na Figura 9 é representada a estrutura molecular

deste composto obtido pela reação entre a acenoftenoquinona e

tiossemicarbazida, é observada a presença de uma molécula de metanol na

estrutura conforme mostra a mesma figura.

Os principais comprimentos de ligações dos grupos funcionais desta

estrutura molecular apresentada na Figura 9 são: S1-C13 [1,674(6) Å], C1-O1

[1,226(6) Å], N1-N2 [1,353(6) Å], C12-N1 [1,282(6) Å].

Figura 9 - Estrutura cristalina do ligante acenoftenoquinona tiossemicarbazona (Tadjarodi et al., 2015)

Oliveira, et al (2014) apresentaram a estrutura cristalina molecular do

composto tetralona-tiossemicarbazona (Figura 10). Obtido através da reação

entre a tetralona e 4-feniltiossemicarbazona em uma mistura etanol/água em

refluxo tendo como catalizador HCl concentrado.

Ainda se observa que molécula apresenta uma conformação trans para

os átomos N2-N1 e cis para as ligações N1-C1. E os principais comprimentos de

ligação deste composto são: S1-C1 [1,677(13) Å], C1-N3 [1,342(16) Å], N1-N2

[1,384(14) Å], C2-N2 [1,289(16) Å].

Page 29: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

29

Figura 10 - Estrutura cristalina/molecular do composto tetralona-tiossemicarbazona das interações de hidrogênio intramoleculares, com

elipsóides térmicas com nível de probabilidade de 50% (Oliveira, et al., 2014)

3.3 Química inorgânica dos íons Níquel(II)

A participação de metais de transição na Química Bioinorgânica está cada

vez mais evidente. A procura por compostos biologicamente ativos utilizando

íons metálicos encontrados em enzimas, tais como Mn, Fe, Co, Ni, Cu e Zn, tem

entusiasmado muitos pesquisadores a entender os mecanismos de ação destes

compostos na forma de agentes complexantes com compostos

tiossemicarbazonas (De Oliveira et al., 2012).

O níquel é um metal pertencente ao grupo 10, pode ser encontrado nos

estados de oxidação de -1 a +4, sendo os estados de oxidação mais baixos,

mais estáveis, em complexos, seu comportamento é ser encontrado na forma

iônica e bivalente (Ni2+) (Lee et al., 1999).

O íon níquel(II) é classificado como um ácido de Lewis de Fronteira,

podendo ser complexado tanto por ligantes que contém átomos doadores duros,

como N e O, quanto por ligantes que contém átomos doadores moles, tais como

S, Se, P (Costa et al., 2005). A configuração eletrônica d8 para o íon níquel(II)

possibilita a formação de complexos com geometrias octaédrica e quadrado

planar (Da Silva e Da Silva, 2008).

Page 30: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

30

Complexos de níquel (II) com geometria octaédrica e tetraédrica podem

apresentar propriedades magnéticas, já os complexos quadrados planares são

diamagnéticos (Lee et al., 1999).

São encontrados na literatura complexos de níquel com ligantes

tiossemicarbazonas na forma de dímeros e trímeros com coordenação “N,S,O-

doador” em que os ligantes atuam em suas formas dianiônicas pela perda dos

prótons N2-H e OH e a formação dos dímeros e trímeros ocorre pela formação

de ponte entre os centros metálicos onde os átomos de S e O atuam como

doadores bifurcados. Os dímeros encontrados na literatura podem apresentar

geometria quadrado planar para ambos os centros metálicos ou geometria

(quadrado planar e octaédrica) em um mesmo complexo (Latheef et al., 2009;

Lobana et al., 2009).

O desenvolvimento do estudo das possibilidades de coordenação desses

ligantes com os íons metálicos bioinorgânicos, como o níquel(II) e seu estudo

estrutural das propriedades quelantes, contribuem significativamente para a

Química de Coordenação.

3.4 Complexos de Níquel(II) com ligantes Tiossemicarbazonas

Nesta parte da revisão bibliográfica apresentamos cinco estruturas

cristalinas de compostos tiossemicarbazonas onde enfocamos alguns

comprimentos de ligações, geometria da esfera de coordenação, números de

coordenação e a capacidade quelante dos ligantes tiossemicarbazonas.

No ano de 2012, Pederzolli et. al., determinaram a estrutura cristalina do

complexo 5- bromosalicilaldeídotiossemicarbazonato piridina de níquel(II), cuja

estrutura é apresentada na Figura 11. Este complexo de níquel foi obtido a partir

da reação de complexação do ligante 5-bromosalicilaldeidotiossemicarbazona

com acetato de níquel(II) (Pederzolli et al., 2012).

O complexo apresentou-se como uma estrutura cristalina/molecular

mononuclear, onde o íon níquel(II) apresenta número de coordenação 4 e

geometria quadrado planar levemente distorcida. O ligante tiossemicarbazona

atua como um quelante tridentado dianiônico, O,N,S-doador. A esfera de

coordenação do íon nique(II) é completada pelo co-ligante piridina. Os ângulos

de ligação da esfera de coordenação foram N1-Ni-S 87,23°, N4-Ni-S 90,53°, O-

Page 31: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

31

Ni-N4 86,41° e O-Ni-N1 95,76° que confirmaram a distorção da geometria

quadrado planar.

Figura 11 - Representação da estrutura cristalina/molecular do complexo [Ni(5-Br-SalTSC) py] com elipsóides térmicas com 50% de probabilidade (Pederzolli

et al., 2012)

No ano de 2008, Du e Liu (2008) obtiveram uma estrutura molecular de

um complexo trinuclear de níquel(II) com o ligante N-salicilil-4-fenil-

tiossemicarbazida, conforme representado na Figura 12. Este complexo

apresentou uma geometria octaédrica para Ni-1 e quadrado planar para os íons

Ni-2 e Ni-2A. O Ni-1 tem sua esfera de coordenação completada por moléculas

de água, formando uma geometria octaédrica, onde o ligante atua de forma

quelante bidentada O,N- doador. A geometria quadrada planar é evidenciada

para os íons de Ni-2 e Ni-2A, com o ligante atuando de forma quelante tridentada

N,O,S-doador e duas moléculas de piridina completando as esferas de

coordenação.

Page 32: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

32

Figura 12 - Estrutura cristalina molecular do complexo trinuclear de níquel com o ligante N-salicilil-4-fenil-tiossemicarbazida

[Ni3(C14H10N3O2S)2(H2O)4]2C3H7NO (Du e Liu, 2008)

García-Tojal et. al., em 2001 descreveram a estrutura cristalina do

complexo de níquel(II), apresentado na Figura 13. Trata-se de um complexo

mononuclear de níquel(II) com geometria quadrada plana, onde o ligante

tiossemicarbazona atua como um quelante bidentado “NS-doador” formando

anéis pentagonais

Figura 13 - Representação da estrutura cristalina molecular do complexo de

níquel(II) (Garcıa-Tojal et al., 2001)

No ano de 2015 Benhamed, et al., (2015) elucidaram a estrutura cristalina

do complexo [Ni(CMTSC)2] DMSO (Figura 14), um complexo de níquel com um

ligante tiossemicarbazona derivado do cinamaldeído. Esse complexo apresenta

Page 33: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

33

dois átomos de níquel fornecendo duas moléculas de Ni(CMTSC)2 diferentes em

relações aos seus ângulos de torção e interações intermoleculares. Em ambas

as moléculas, a tiosemicarbazona se coordena como um ligante aniônico através

do nitrogênio azometino da região da tiosemicarbazona e do enxofre da função

tiocarbonila, onde o ligante atua de forma quelante bidentada N,S- doador. Os

ângulos de ligação da esfera de coordenação foram S(1)-Ni(1)-N(41) 94.1°; S(2)-

Ni(2)-N(42) 94.6°; Ni(1)-S(1)-C(21) 96.9°; Ni(2)-S(2)-C(22) 95.8° que

confirmaram a distorção da geometria quadrado planar. Além disso,

apresentaram uma molécula de DMSO em sua estrutura cristalina/molecular,

conforme mostra a Figura 14.

Figura 14 - Representação da estrutura cristalina/molecular do complexo [Ni(CMTSC)2] DMSO com elipsóides térmicas com 50% de probabilidade

(Benhamed et al., 2015)

A estrutura do complexo [Ni2(SalTSC-4- heximTSC)2Phen] (Figura 15)

obtida por Latheef, L. et al., em 2009 através da síntese entre o ligante

salicilaldeído-4-hexametiliminotiossemicarbazona e acetato de níquel(II),

apresenta-se como um complexo binuclear neutro, em que o ligante atua de

forma tridentada “N,S,O- doador” e sua estrutura cristalina é estabilizada pela

formação de anéis pentagonais e hexagonais, onde Ni(1) apresenta geometria

octaédrica. Além disso, observa-se a 1,10-fenantrolina como co-ligante atuando

Page 34: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

34

de modo quelante bidentado “N,N-doador” estabilizada pela formação de um

anel pentagonal, a esfera de coordenação é completada pela ponte O(2) do

ligante que coordena o Ni(2).

Já o Ni (2) apresenta geometria quadrado planar, com o ligante atuando

de forma quelante tridentada “N,S,O- doador” formando anéis pentagonais e

hexagonais e a esfera de coordenação é completada pela ponte formada pelo

S(1) do ligante que coordenada Ni(1).

Figura 15 - Representação da estrutura cristalina molecular do complexo [Ni2(Sal-4-heximTSC)2Phen] (Latheef, L. et al., 2009)

Em 2007, Reena, T.A, et al, apresentaram a estrutura de um complexo de

níquel(II) (Figura 16) obtido a partir do ligante di-2-piridil-cetona-

feniltiossemicarbazona, onde o ligante atua de modo quelante tridentado “NNS-

doador”, formando anéis pentagonais e onde Ni (1) é o átomo central em uma

geometria octaédrica distorcida.

Page 35: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

35

Figura 16 - Representação da estrutura cristalina molecular do complexo de Níquel(II) (Reena, T.A, et al,2007)

Page 36: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

36

4. MATERIAL E MÉTODOS

Todos os solventes e reagentes utilizados para a realização desse trabalho

não foram submetidos a tratamento prévio de purificação.

4.1. Reagentes

✓ 4-fenil-tiossemicarbazida (Sigma Aldrich, Brasil);

✓ 4-metil-3-tiossemicarbazida (Sigma Aldrich, Brasil);

✓ Ácido clorídrico P.A (Syntec, Brasil);

✓ Hidróxido de potássio P.A (Vetec, Brasil);

✓ Acetado de Níquel(II) (Sigma Aldrich, Brasil);

✓ Trans-cinamaldeído (Sigma Aldrich, Brasil);

4.2. Solventes

✓ Álcool etílico P.A.A.C.S (Syntec)

✓ Álcool metílico P.A.A.C.S (Syntec)

4.3. Ponto de Fusão

As determinações do ponto de fusão dos compostos apresentados neste

trabalho foram realizadas no equipamento Fisatom 430D que mede de até

300°C, e realizada na Escola de Química e Alimentos (EQA) da Universidade

Federal do Rio Grande (FURG) no Laboratório de Catálise e Síntese Inorgânica

(LCSI).

4.4. Espectroscopia na região do infravermelho

As análises de espectroscopia na região do infravermelho foram obtidas

em um espectrofotômetro de infravermelho com transformada de Fourier modelo

Shimadzu-IR PRESTIGE-21, utilizando a técnica de refletância difusa e como

padrão brometo de potássio (KBr). Sendo que todas as amostras foram

Page 37: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

37

analisadas no estado sólido e leituras na região de 4000 a 400 cm-1. Estas

analises foram realizadas na Escola de Química e Alimentos (EQA) da

Universidade Federal do Rio Grande (FURG).

4.5. Espectroscopia na região do ultravioleta

Os espectros na região do ultravioleta-visível foram obtidos em um

equipamento UV-Vis, modelo UV-2550 Spectrophotometer, utilizando cubeta de

quartzo com caminho óptico de 1 cm e as leituras foram realizadas na região de

200 a 800 nm. Estas analises foram realizadas na Escola de Química e

Alimentos (EQA) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG).

4.6. Difração de raios X em monocristal

A análise de Difração de raios X em monocristal dos ligantes e do

complexo foram realizadas em um difratômetro Bruker Apex II (Apex, 2010) com

detector de área CCD pertencente ao departamento de Química da Universidade

de Santa Maria (UFSM).

As estruturas foram resolvidas através dos métodos diretos e refinamento

em F2, usando o programa SHELXT 2014/5 (Sheldrick, 2014), SHELXL2016/6

(Sheldrick, 2016). e os gráficos das estruturas cristalinas/moleculares foram

obtidos através do programa DIAMOND (Brandenburg e Putz, 2006) e todos os

átomos de hidrogênio foram localizados através de parâmetros geométricos.

Page 38: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

38

5. PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS

5.1. Síntese do ligante tiossemicarbazona derivado trans-cinamaldeído

A síntese do ligante (Esquema 4) foi realizada a partir de uma reação

equimolar de 4-metiltiossemicarbazida (0,4206 g; 4 mmol) e trans-cinamaldeído

P.A (0,525 g; 4 mmol), sendo solubilizado com 40 mL de etanol e 4 gotas de

ácido clorídrico concentrando como catalisador, mantida em refluxo durante 8 h.

Após o resfriamento um produto sólido amarelo foi obtido, isolado sob filtração à

vácuo, apresentando 77% de rendimento. Após estar isento de solvente o

precipitado obtido apresentou um ponto de fusão com decomposição em 178-

182°C. Após alguns dias, observou-se a formação de cristais aptos a difração de

raios X em monocristal.

Esquema 3 - Síntese do ligante tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído

5.2. Síntese do complexo de níquel(II) derivado do trans-cinamaldeído

A síntese do complexo de níquel(II) (Esquema 5) foi obtida através da

reação de estequiometria 2:1 entre o ligante tiossemicarbazona derivado do

trans-cinamaldeído (0,025g; 0,114mmol) previamente desprotonado com 4 gotas

de solução de KOH (20%), e acetato de níquel(ІІ) (0,014 g; 0,057 mmol)

utilizando 30 mL de metanol como solvente, sob agitação durante 12h, após

filtração simples houve a formação de sólido cristalino castanho. Após estar

isento de solvente o produto obtido apresentou um ponto de fusão com

Page 39: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

39

decomposição em 242°C e 72% de rendimento, observou-se a formação de

cristais aptos a difração de raios X.

Esquema 4 - Síntese do complexo de níquel(II) com o ligante tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído

Page 40: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

40

6. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A apresentação dos resultados e suas discussões estão diretamente

relacionadas com as análises realizadas que são:

I) Espectroscopia na região do infravermelho para o ligante e o complexo

de níquel(II)

II) Espectroscopia na região do Uv-visível para o complexo de níquel(II)

e o respectivo ligante

III) Difração de raios X para o complexo de níquel(II)

6.1 Espectroscopia na região do infravermelho

A espectroscopia na região do infravermelho, é uma técnica de

caracterização de compostos que fornece informações sobre a presença de

vários grupos funcionais nas estruturas das moléculas. Sua aplicabilidade é

vasta e envolve desde a identificação de compostos orgânicos e inorgânicos, até

mesmo a análise de misturas complexas (Barbosa, 2007).

A radiação infravermelha corresponde a região do espectro

eletromagnético, o qual está situado na faixa de número de onda entre 4290 e

200 cm-1 (Barbosa, 2007).

O processo de identificação de grupos funcionais presentes nas

moléculas através da aplicação desta técnica se dá por meio da vibração das

ligações em determinadas frequências, assim cada ligação possui uma

frequência vibracional característica, o que permite diferenciá-las uma das outras

(Pavia et al., 2010).

É uma das técnicas mais importantes e amplamente utilizada para

detectar a presença de compostos conhecidos, como determinar constituintes

de um composto desconhecido, determinar a estrutura provável de um composto

e medir a propriedade das ligações. A frequência de uma determinada vibração

de estiramento em um espectro no infravermelho pode estar relacionada aos

seguintes fatores: massa relativa dos átomos, constante de força das ligações e

geometria dos átomos (Shriver e Atkins, 2008).

Page 41: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

41

Com isso, a análise do espetro de infravermelho de uma determinada

substância permite obter informações estruturais importantes que, quando

complementadas por outras técnicas, permite a caracterização das moléculas

que compõem determinado composto (Barbosa, 2007).

Neste trabalho a técnica de espectroscopia na região do infravermelho foi

utilizada para caracterizar os dois ligantes e também o complexo obtido com o

íon níquel(ІІ). E a interpretação dos espectros de infravermelho foi realizada

apenas acerca das bandas de interesse para a caracterização dos compostos

tiossemicarbazonas, onde os estiramentos para carbonila (C=O), tiocarbonila

(C=S), imina (C=N) e amina (N-H) receberam maior atenção, pois estão

presentes nos compostos tiossemicarbazonas obtidos neste trabalho.

Compostos tiossemicarbazonas apresentam bandas características no

espectro de infravermelho, tais como N–H, C=N e C=S. Na obtenção do ligante

a banda de extrema importância é o estiramento v(C=N), essa banda ocorre

devido ao ataque nucleofílico do nitrogênio da tiossemicarbazida sobre a

carbonila do aldeído/cetona que será determinante para a confirmação da

obtenção do composto (Tenório et al., 2005).

Neste trabalho a técnica de espectroscopia na região do infravermelho é

um complemento às demais técnicas como espectroscopia no ultravioleta-visível

e difração de raios X em monocristais para a determinação das estruturas

moleculares dos compostos apresentados nesse trabalho.

6.1.2. Espectroscopia na região do infravermelho para ligante tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído

A Figura 17 traz a o espectro obtido na região do infravermelho do

composto tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído. A partir deste

observa-se as bandas de maior interesse no espectro de infravermelho que são

fundamentais para o reconhecimento da formação do composto

tiossemicarbazona, grupamentos correspondentes aos estiramentos v C=N em

uma banda de intensidade forte na região de 1555 cm-1 onde consequentemente

observa-se o desaparecimento da banda de carbonila em 1680 cm-1 (Figura 18)

no espectro do reagente trans-cinamaldeído que confirma a ocorrência da

reação de condensação entre o composto trans-cinamaldeído e a 4-metil-3-

Page 42: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

42

tiossemicarbazida. E o estiramento v(C=S) em uma banda de média intensidade

em torno de 752 cm-1. A presença da banda associada as aminas secundárias

em 3361 cm-1 que caracteriza a forma protonada do composto, onde estes

valores estão entre a faixa de referência atribuída para as ligações N-H (Pavia

et al., 2010).Com a finalidade de melhorar a visualização dos dados obtidos com

o com os dados do trabalho de Tadjarodi et al., 2015, estes estão dispostos na

Tabela 2.

Tabela 1 - Comparação dos estiramentos obtidos no espectro de infravermelho para o ligante Tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído com os dados da literatura

Atribuição Ligante CINAM-MTSC Intensidade * (Tadjarodi et al., 2015)

ν(C=N) 1557 cm-1 / F 1606 cm-1 / F

ν(C=S) 752 cm-1 / F

833 cm-1 / F

ν(N-H) secundária 3361 cm-1 / F 3406 cm-1 m

ν(N-H) imínico 3169 cm-1 / m ----------------

*Intensidade: f = baixa intensidade; m=média intensidade F= forte intensidade.

Número de onda (cm-1)

Figura 17 - Espectro obtido na região do infravermelho do composto tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído

Page 43: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

43

Número de onda (cm-1)

Figura 18 - Espectro obtido na região do infravermelho do reagente trans-cinamaldeído

6.1.3 Espectroscopia na região do infravermelho para o complexo trans-cinamaldeído de níquel(II).

De acordo com Lobana T. S. 2009, o estiramento referente a ligação N–

H da porção tiossemicarbazona, é de grande importância para investigar a

coordenação desta classe de ligante e seus complexos, e esta ocorre na região

de 3450-3210 cm-1. Quando compostos tiossemicarbazonas interagem com

centros metálicos esperam-se perturbações nas bandas de absorção dos

espectros do infravermelho pelo deslocamento, surgimento e/ou

desaparecimento de algumas delas (Silverstein e Webster, 2007). A técnica de espectroscopia na região do infravermelho foi utilizada para

caracterizar o complexo trans-cinamaldeído de níquel(II), obtido da reação de

síntese entre o ligante tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído e

acetato de níquel(II) em uma relação estequiometria 1:2 (metal/ligante).

Page 44: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

44

O espectro obtido do ligante (Figura 17) é caracterizado por duas bandas

de absorção fortes, compreendidas na faixa de 3360-3170 cm-1, referentes aos

estiramentos v(N-H) e uma banda em torno de 1555 cm-1, atribuída a absorção

v(C=N) conforme apresentados na tabela 2.

O primeiro deslocamento do espectro do complexo de níquel(II) (Figura

19) a ser abordado é do estiramento referente à ligação C=S, que passou de

uma intensidade média 752 cm-1 de intensidade fraca na banda de absorção de

740 cm-1, indicando uma possível coordenação do átomo de enxofre com o

metal.

No espectro do complexo ( Figura 19) observa-se o desaparecimento de

uma das bandas v(NH) devido a desprotonação do ligante. Após sua

coordenação ao centro metálico, os estiramentos v(C=N) foram deslocados para

uma região entre 1555 e 1514 com-1, com deslocamentos da banda v(C=N) em

aproximadamente 50cm-1, ao comparar-se com o espectro do ligante, indicando

que a formação dos anéis quelatos provocou uma deslocalização de elétrons pi.

Os deslocamentos das ligações C=N, C=S, N–H, são bastante significativos,

bem como o desaparecimento do estiramento N-H, sugere-se que o átomo de

níquel esteja coordenado aos átomos de nitrogênio e enxofre das duas porções

tiossemicarbazonas, formando anéis quelatos pentagonais.

O espectro de infravermelho das tiossemicarbazonas e seus complexos

possuem bandas características. A observação do deslocamento ou supressão

de bandas no espectro do complexo, quando comparado ao espectro do ligante,

indica a ocorrência de um novo composto. Tais modificações se devem a

deslocalização de carga observada com a desprotonação do ligante e o

comprometimento de alguns átomos ligados ao centro metálico na estrutura do

complexo.

Com estas modificações nas bandas de absorção e os valores de

estiramento para o ligante e seu complexo de níquel(II) (Tabela 3) podemos

sugerir que o ligante atua coordenando-se de forma bidentada ao centro metálico

através dos átomos doadores N e S.

Page 45: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

45

Tabela 2 – Comparação dos estiramentos para o ligante e seu complexo de níquel(II)

Atribuição Ligante MTSC Complexo Ni2+

ν(C=N) 1555 cm-1 / F 1514 cm-1 / m ν(C=S) 752 cm-1 / F 744 cm-1 / m

ν(N-H) secundária 3361 cm-1 / F 3423 cm-1 / f

ν(N-H) imínica 3169 cm-1 / F ausente f = baixa intensidade; m=média intensidade F= forte intensidade

Número de onda (cm-1)

Figura 19 - Espectroscopia na região do infravermelho para o complexo trans-cinamaldeído de níquel(II)

6.2. Espectroscopia na região do ultravioleta-visível

A espectroscopia de absorção molecular nas regiões do ultravioleta e

visível (UV-Vis) utiliza a incidência de radiação eletromagnética na faixa

espectral compreendida entre 190-800nm, a energia absorvida na forma de

Page 46: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

46

radiação causa a transições eletrônicas por absorção de energia quantizada de

um nível fundamental para um nível excitado em átomos ou moléculas (Pavia et

al., 2010). E está entre as técnicas mais usadas para o estudo de compostos

inorgânicos e é também conhecida como espectroscopia eletrônica, pois a

energia é usada para excitar as espécies para níveis de energia mais altos

(Shriver e Atkins, 2008).

Além disso, a espectroscopia UV-Vis é uma técnica espectrofotométrica

que está amparada pela Lei de Lambert-Beer: A = ε.b.c, equação matemática

que estabelece relação entre medidas de absorção de radiação por amostras no

estado sólido, líquido ou gasoso, a espessura da amostra e a concentração das

espécies absorventes. Onde A é a absorbância, ε é o coeficiente de

absortividade molar, b é o caminho óptico onde o feixe é percorrido e c é a

concentração molar das espécies absorvedoras (Shriver e Atkins, 2008). A

absortividade molar (ε) é uma grandeza característica das espécies absorventes,

cuja magnitude depende do comprimento de onda da radiação incidente (Vinadé

e Vinadé, 2005).

A radiação UV-Vis possui geralmente energia suficiente apenas para

promover a excitação de elétrons de ligações e de valência n (não ligante),

porém isto requer que a molécula contenha pelo menos um grupo funcional

insaturado. Esses grupos que absorvem este tipo de radiação são denominados

cromóforos, sendo responsáveis principalmente pelas transições do tipo π π*

e n π* (Skoog et al., 2009)

Alterações na posição e na intensidade das bandas, também podem ser

observadas, tal fenômeno ocorre devido as interações entre as moléculas e o

solvente. Onde um aumento na polaridade do solvente normalmente promove

um deslocamento da banda para comprimentos de ondas maiores (efeito

batocrômico), se a transição associada é do tipo π π*, e para menores

comprimentos de onda (efeito hipsocrômico), quando a transição associada é do

tipo n π*. Esses efeitos envolvendo um aumento (efeito hipercrômico) ou uma

diminuição (efeito hipocrômico) na intensidade da banda de absorção também

podem ser verificados como resultado dessas interações (Pavia et al., 2010).

Quando uma molécula absorve energia, a transição mais provável é de

que um elétron seja promovido de um orbital ocupado de maior energia (HOMO)

para um orbital desocupado de baixa energia (LUMO). Na maioria das

Page 47: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

47

moléculas, os orbitais ocupados de menor energia são os orbitais σ, enquanto

os orbitais π ficam em níveis de energia um pouco mais altos e os orbitais n (não-

ligantes) ficam em níveis energéticos ainda maiores. Os orbitais desocupados

ou antiligantes (π* e σ*) são os de maior energia frente aos demais. A Figura 20

ilustra os níveis de energia e transições (Pavia et al., 2010).

Figura 20 - Níveis de energia e transições (Pavia et al., 2010)

A espectroscopia no ultravioleta-visível aliada a outras técnicas de

análises como espectroscopia no infravermelho e difração de raios X em

monocristal pode fornecer informações valiosas sobre a estrutura dos

compostos.

6.2.1 - Análise de Espectroscopia na região do ultravioleta-visível do ligante tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído e do seu respectivo complexo de níquel (II)

A caracterização por espectroscopia de absorção na região do UV-Vis

será apresentada comparando os espectros do ligante e de seu complexo

formado, um deslocamento para maior ou menor comprimento de onda, denota

Page 48: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

48

um indicativo de alteração na estrutura molecular do ligante e a formação de um

complexo com o íon níquel(II).

Compostos orgânicos, geralmente são transparentes, isto é, não

absorvem na região do ultravioleta-visível, entretanto moléculas orgânicas que

possuem em sua estrutura grupos insaturados, como por exemplo, os grupos

cromóforos, ou átomos como enxofre e nitrogênio, apresentam picos de

absorção entre 200 e 400 nm (Vinadé e Vinadé, 2005).

Na Figura 21 observa-se no espectro do ligante uma banda máxima de

absorção na região de 340nm, onde de acordo com Ali, M. A., et. al., (2006),

relatam uma banda na região de 340 nm, associada a transição referente a

ligação C=N, e podem ser atribuídas a transições n→π* e a uma transição

π→π*, respectivamente (Ahmad et al., 2006). Essas absorções são

características de compostos que contêm tanto sistemas π, quanto pares de

elétrons isolados, como relata Pavia, et. al., (2010). Além disso, de acordo com

Paiva, et al., (2010), grupos tióis (S-H) absorvem energia entre 200-220 nm e

apresentam transições eletrônicas do tipo n→π*.

No espectro do ligante não há bandas de absorção na região relativa a

transições atribuídas ao grupo tiol, indicando assim que o mesmo se encontra

na forma tiona (C=S).

Figura 21 - Espectro obtido por espectroscopia na região do ultravioleta-visível para o ligante tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído

Page 49: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

49

Além disso foi realizado o cálculo da absortividade molar para o ligante e

complexo, a absortividade molar (ε) é uma grandeza característica das espécies

absorventes, cuja magnitude depende do comprimento de onda da radiação

incidente (Vinadé e Vinadé, 2005). Complexos com valores de ε na ordem de

10.000 mol. L-1. cm-1 ou superiores possuem bandas de transferência de carga,

estão associados a transferência de carga e suas intensas colorações permitem

que esses possam ser facilmente detectadas em concentrações muito baixas

(Higson, 2009).

O espectro de absorção do complexo de níquel(II) com o ligante

tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído apresenta apenas dois picos

de absorção (263 e 354 nm) conforme Figura 22.

Para o pico de absorção em 263 nm temos um coeficiente de

absortividade molar de 2,50x105 mol.L-1.cm-1. Trata-se de uma banda de

transferência de carga metal-ligante (TCML). Em 354 nm também temos um

pico de absorção e esse possui um coeficiente de absortividade molar de

2,54x105 mol.L-1.cm-1. Trata-se de uma banda do tipo d-d (Barandas ,2009 apud

Schoonheyd, 1989, p.1515-1521).

Figura 22 - Espectro de ultravioleta-visível do complexo de níquel(II) com o ligante tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído

Page 50: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

50

O complexo de níquel(II) obtido neste trabalho tem cor castanha escuro,

sendo obtido a partir de um ligante de campo forte favorecendo o desdobramento

dos orbitais d8 do íon níquel(II) gerando um complexo quadrado planar. Os

complexos quadrados planar são característicos de íons metálicos com

configuração eletrônica d8 com spin baixo, e campo forte (Brown, et al, 2005).

A Figura 23 apresenta a sobreposição dos espectros das duas espécies

na região do ultravioleta-visível para o ligante (linha azul) e o complexo de Ni(II)

(linha vermelha), o comprimento de onda de absorção do ligante quando

comparado ao do complexo, evidencia um deslocamento de energia para um

comprimento de onda maior, o que denota a ocorrência da reação de

complexação entre o ligante tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído

e o íon níquel(II).

Figura 23 - Sobreposição dos espectros obtidos na região do ultravioleta-visível para o Ligante (linha azul) e o complexo de Ni(II) (linha vermelha)

Baseado nos dados de infravermelho e ultravioleta, sugeriu-se para o

complexo de níquel(II) com o ligante tiossemicarbazona derivado do trans-

cinamaldeído uma geometria quadrática planar, em virtude dos deslocamentos

referentes aos estiramentos v(C=N) e v(C=S) e transições eletrônicas

Page 51: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

51

observadas nos espectros na região do ultravioleta visível. Esta proposta será

confirmada pelos dados de difração de raios X em monocristal.

6.3. Difração de raios X em monocristal

A metodologia que explora o efeito da interação radiação-matéria, em um

contexto de interação elástica entre elementos com dimensões espaciais

semelhantes, com a produção de inúmeros elementos de interferência em

determinadas posições do espaço, é chamada de difração de raios X. A difração

de raios X em monocristal é uma técnica analítica não-destrutiva baseada na

interferência construtiva de radiação monocromática incidida sobre uma amostra

cristalina(Massa,2004).

É uma técnica que se baseia na determinação da estrutura de sólidos

cristalinos, para conhecer o arranjo dos átomos em retículos cristalinos ou em

um único cristal de uma determinada substância e se baseia nos padrões de

interferência da radiação X difratada por estes retículos. Cada conjunto atômico

gera um padrão típico de interferência. Segue alguns princípios como: os raios

X passam por um material cristalino e o padrão de interferência gerado nos

fornece informações sobre o tamanho e a forma da cela unitária. Estes interagem

com a nuvem eletrônica dos átomos na matéria, sendo “desviados” por estas

nuvens (fenômeno de espalhamento) e os raios X que passam por um cristal são

desviados em vários ângulos num processo chamado de difração (Shriver, D. F.

e Atkins, P. W., 2008).

A interação dos raios X incidentes sobre a amostra quando produz

interferência construtiva, produzindo um raio difratado, quando satisfazem as

condições da lei de Bragg: n = 2 d sin, que relaciona o comprimento de onda

da radiação eletromagnética com o ângulo de difração e a estrutura do espaço

da amostra cristalina. A técnica de difração de raios X é de crucial importância

dentro da Química Inorgânica, uma vez que nos permite elucidar estruturas

cristalinas e moleculares dos compostos com alto índice de confiabilidade

(Shriver, D. F. e Atkins, P. W., 2008).

O método de difração de raios X em monocristal permite a determinação

das posições dos átomos e íons que constituem um composto iônico ou

molecular e, assim, permite a descrição das estruturas em termos de

Page 52: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

52

detalhamento tais como comprimento de ligação, ângulos e posições relativas

de íons e moléculas numa célula unitária interações intra e intermoleculares,

sistema cristalino, o tipo de retículo, composição da amostra, grupo espacial, são

algumas das informações que são obtidas pela aplicação desta técnica. Estes

dados são obtidos partindo-se da análise do padrão de difração gerado pela

amostra cristalina e são geradas imagens de difração (Tilley, 2014).

Além disso, é uma técnica que auxilia a resolver questões referentes a

estereoquímica, como a disposição relativa de grupos de átomos na cadeia

carbônica principal. Complementarmente, a obtenção de monocristais se faz

necessária para a obtenção da estrutura tridimensional cristalina e a

determinação das interações intra e intermoleculares, tais como ligações de

hidrogênio clássicas e não clássicas interações do tipo π-π, determinação de

estruturas supramoleculares (Cunha, 2008).

6.4. Análise de Difração de raios X em monocristal para o complexo trans-cinamaldeído de Níquel(II)

A análise dos dados de difração em monocristal obtidos para o complexo

de níquel(II) demonstrou que este composto cristaliza em um sistema

monoclínico, sendo pertencente ao grupo espacial P21/c. Os principais dados

cristalográficos constam na Tabela 4, na Figura 26 é representada a unidade

assimétrica desse composto. Os dados de todas as ligações (comprimentos e

ângulos), coordenadas atômicas, constam em Anexo 1.

Tabela 3 - Dados do cristal, da coleta e do refinamento da estrutura do composto

Dados do cristal Fórmula empírica C22H26N6NiS2

Massa molecular (g) 497.32

Sistema cristalino e grupo espacial Monoclínico, P21/c

Temperatura (K) 300

a, b, c (Å) 23.1292 (9), 6.3310 (2), 16.4289 (6)

(°) 102.123 (1)

V (Å3) 2352.05 (15)

Z 4

Tipo de radiação Mo K

(mm-1) 1.02

Dimensões do cristal (mm3) 0.40 × 0.24 × 0.06

Page 53: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

53

Dados de coleta Difratômetro Bruker

Correção de absorção Multi-scan Nº de medidas independentes e [I > 2σ(I)] reflexões observadas

21324, 6878, 2553

Rint 0.028

(sin /)max (Å-1) 0.705

Refinamento R[F2 > 2(F2)], wR(F2), S 0.057, 0.236, 1.04

N° de reflexões 6878

N° de parametros 286

No. of restraints 14 Tratamento átomos de H Posições dos átomos de H calculadas

geometricamente (constr) (/)max 1.349

max, min (e Å-3) 0.83, -0.62 Computer programs: SHELXT 2014/5 (Sheldrick, 2014), SHELXL2016/6 (Sheldrick, 2016).

A técnica de difração de raios X em monocristal foi utilizada para

determinar a estrutura cristalina inédita de um complexo de níquel(II) derivado

do trans-cinamaldeído. As estruturas foram resolvidas através de métodos

diretos de refinamento, utilizando o programa SHELXL e SHELXS. Os gráficos

das estruturas moleculares foram obtidos através do programa DIAMOND e

todos os átomos de hidrogênio foram localizados através de parâmetros

geométricos.

Na unidade assimétrica existem dois fragmentos moleculares. Cada

fragmento corresponde à metade de uma fórmula estrutural do composto de

coordenação. São duas metades do composto de coordenação, onde a posição

do íon metálico coincide com a posição de um centro de inversão. Na Figura 24

está representado o primeiro composto de coordenação. Através do centro de

inversão, ou de uma combinação entre um centro de inversão de segunda ordem

com um plano de espelhamento horizontal, tem-se a molécula completa. O

código de simetria inicia com a numeração (v) porque os quatro primeiros

códigos de simetria desse trabalho são relativos às interações intermoleculares

de hidrogênio representadas na tabela 2 (Anexo 1).

Page 54: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

54

Figura 24 - Estrutura do complexo de níquel com as elipsoides térmicas representadas com a probabilidade de 50 %. Apenas metade da fórmula química estrutural está presente na cela elementar. A outra metade da molécula é gerada por um centro de inversão. A ilustração representa a

primeira parte da unidade assimétrica. Código de simetria: (v) –x+2, -y+1, -z+1

A segunda parte da unidade assimétrica é formada por um fragmento que

contém a metade da fórmula química estrutural do composto de coordenação,

conforme ilustrado na Figura 25.

Figura 25 - Estrutura do complexo de níquel com as elipsoides térmicas representadas com a probabilidade de 50 %. Apenas metade da fórmula química estrutural está presente na cela elementar. A outra metade da molécula é gerada por um centro de inversão. A ilustração representa a

segunda parte da unidade assimétrica. Código de simetria: (vi) –x+1, -y+2, -z+2

Page 55: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

55

Na presente estrutura existe uma desordem na molécula, que é

observada para os átomos de enxofre. Para uma melhor representação e

apresentação dos dados, esses átomos foram refinados com os recursos EADP

e EXYZ do SHELXL. Essa não é a versão final do refinamento da estrutura, pois

trata-se de um tema muito complexo e que ainda será alvo de estudos no grupo.

Porém, mesmo com a desordem, pode-se afirmar que a síntese foi bem-

sucedida e que o produto final foi obtido sem sombra de dúvidas. A questão da

desordem poderá ser solucionada mediante a medida de um novo cristal, pois

aparentemente o problema na coleta de dados não está nos cálculos de

resolução ou de refinamento da estrutura, mas sim da qualidade do cristal obtido.

Sendo a qualidade do cristal o problema, pode-se num futuro próximo efetuar

uma nova medida, com novos cristais de uma nova síntese e repetir a análise.

Contudo, é possível que a questão da desordem seja uma propriedade

intrínseca da matéria e que esse “erro” não seja simplesmente uma questão da

escolha de um cristal ou de um comando durante o procedimento de refinamento

dos dados com o SHELX e sim uma questão da propriedade do composto de

coordenação no estado sólido. Assim como existem materiais amorfos, existem

materiais semicristalinos ou materiais com defeitos cristalinos ou defeitos em

estruturas no estado sólido, uma característica ou comportamento que pertence

à natureza do composto químico e que irá se repetir sempre. Apenas uma

pesquisa mais longa e detalhada poderá trazer alguma resposta nesse sentido.

Pode-se reiterar mesmo assim, que o complexo possui a estrutura aqui

apresentada sem sombra de dúvidas e as questões críticas permanecem no

campo da cristalografia.

Na Figura 26 está representada a unidade assimétrica do composto de

coordenação.

Page 56: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

56

Figura 26 - Representação gráfica isotrópica da unidade assimétrica do composto de coordenação de níquel

Na Figura 27 está representada a cela elementar do composto de

coordenação de níquel vista pelo eixo cristalográfico b. As moléculas do

complexo estão empilhadas ao longo do eixo cristalográfico c e não apresentam

nenhuma interação intermolecular forte, nem interações π π e nem interações

de hidrogênio. Observa-se que na face de centro há uma unidade molecular

completa deste composto de coordenação e metades nas arestas e vértices. As

interações intermoleculares de hidrogênio encontradas com o refinamento

estrutural com o programa SHELX estão na Tabela 2 (Anexo 1).

Page 57: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

57

Figura 27 - Representação da cela elementar do complexo de níquel vista pelo eixo cristalográfico b

Na Figura 28 estão representadas as esferas de coordenação dos dois

complexos presentes na estrutura cristalina do complexo de níquel(II). Para os

dois complexos, marcados pela legenda dos íons metálicos de Ni(II) como Ni1 e

Ni2, a esfera de coordenação é quadrática planar, com spin baixo e campo forte,

o que é característico de complexos desse metal com tiossemicarbazonas.

Figura 28 - Representação gráfica das esferas de coordenação para os complexos de níquel na unidade assimétrica. Ambos apresentam a geometria

quadrática planar

Page 58: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

58

O refinamento com o programa SHELX utilizando-se o comando MPLA

revela que, para o primeiro complexo, os átomos N1, N2, C10, S1/S1’ e Ni1 estão

num plano. O valor quadrático médio do plano é de 0,0105 e o maior desvio do

plano ideal é de 0,0157 (20) Å para o átomo de N1.

No segundo complexo, os átomos N4, N5, C21, S2/S2’ e Ni2 estão no

plano. O valor quadrático médio do plano é de 0,0144 e o maior desvio do plano

ideal é de 0,0217 (25) Å para o átomo de N4.

Embora a esfera de coordenação dos centros metálicos seja planar, as

moléculas não o são. Para o primeiro complexo o plano que passa pelos átomos

da esfera de coordenação, pelos átomos N1, N2, C10, S1/S1’, Ni1 e pelo anel

aromático (C1, C2, C3, C4, C5 e C6) apresenta o ângulo de 23.772 (249) °. Essa

distorção da planaridade da molécula pode ser melhor observada na Figura 29.

Figura 29 - Representação gráfica isotrópica da estrutura molecular do primeiro complexo de níquel

De acordo com a Figura 29, em vermelho está representado o plano ideal

que passa pelos átomos da esfera de coordenação e em azul está representado

Page 59: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

59

o plano ideal que passa pelos átomos do anel aromático do ligante. Ambos os

planos pertencem à unidade assimétrica e por isso apenas dois são mostrados.

O ângulo formado entre os planos é nítido, seu valor está descrito no texto e

mostra que a molécula não é planar. Apesar disso, existe um centro de inversão

que coincide com a posição do átomo de Ni1.

Para o segundo complexo, o plano que passa pelos átomos da esfera de

coordenação, pelos átomos N4, N5, C21, S2/S2’, Ni2 e pelo anel aromático (C12,

C13, C14, C15, C16 e C17) apresenta o ângulo de 23,944 (262) °. Essa distorção

da planaridade da molécula pode ser melhor observada na Figura 30.

Figura 30 - Representação gráfica isotrópica da estrutura molecular do segundo complexo de níquel

Em verde está representado o plano ideal que passa pelos átomos da

esfera de coordenação e em ciano está representado o plano ideal que passa

pelos átomos do anel aromático do ligante. Ambos os planos pertencem à

unidade assimétrica e por isso apenas dois são mostrados. O ângulo formado

entre os planos é nítido, seu valor está descrito no texto e mostra que a molécula

não é planar. Apesar disso, existe um centro de inversão que coincide com a

posição do átomo de Ni2.

Page 60: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

60

As Figuras 31 e 32 foram geradas com o programa MERCURY, que é

uma plataforma gráfica distribuída gratuitamente pelo CCDC, para fins

acadêmicos, e que possui muitos recursos para auxílio na interpretação e

representação gráfica de estruturas cristalinas.

Com o programa CRYSTALEXPLORER foi realizado o cálculo da

superfície de Hirshfeld da estrutura cristalina do complexo de níquel(II) partindo-

se do arquivo CIF depois do refinamento final com o SHELX. O resultado gráfico

do cálculo está representado na Figura 31, com as duas unidades moleculares

completas da unidade assimétrica.

A superfície de Hirshfeld é gerada com base no modelo de partição de

Hirshfeld, com o programa CRYSTALEXPLORER. Uma técnica que vem sendo

utilizada recentemente para visualização dos contatos atômicos

intermoleculares, onde sua fundamentação teórica está baseada na teoria de

partição das densidades eletrônicas de moléculas em fragmentos atômicos

contínuos, que foi desenvolvida por Hirshfeld em 1977 (Mckinnon et al., 2004).

E foi introduzida para melhor compreensão das estruturas determinadas pela

difração de raios X em monocristais (Hirshfeld, 1977; Spackman e Byrom, 1997).

A estrutura cristalina é dividida em regiões onde cada átomo gera uma densidade

eletrônica específica que contribui para a densidade eletrônica da molécula do

composto no estado sólido.

A forma da superfície está delimitada conforme a distribuição das

moléculas e suas densidades eletrônicas dentro da cela unitária, sendo única

para cada estrutura, e com o auxílio de técnicas computacionais têm sido

possíveis caracterizar com maior exatidão, os contornos e as intensidades dos

contatos atômicos (Spackman e Byrom, 1997).

Page 61: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

61

Figura 31 - Representação gráfica da superfície de Hirshfeld (dnorm) para o complexo de níquel

Pode-se atribuir colorações diferenciadas a superfície de Hirshfeld, o que

permite a visualização e, análise dos átomos com maiores densidades

eletrônicas presentes na molécula independente do composto, que representem

possíveis doadores ou receptores de hidrogênio em ligações de hidrogênio

intermoleculares.

A coloração dessas superfícies nos permite observar a intensidade dos

contatos atômicos, onde os mais intensos na cor vermelha, e os menos intensos

na cor azul. Há uma escala de cores que são definidas em ordem decrescente

em relação as distâncias dos contatos atômicos, e que segue a seguinte ordem:

Vermelho< laranja< amarelo<verde<azul (Mckinnon et al., 2004).

Na figura 31 a superfície está representada no modo transparente, que

permite a visualização dos átomos e das ligações químicas das moléculas. E as

regiões da superfície de Hirshfeld com as interações intermoleculares mais fortes

aparecem em tonalidades de vermelho. Tanto no primeiro complexo, marcado

pelo átomo Ni1, quanto no segundo complexo, marcado pelo átomo Ni2, as

regiões de maiores interações intermoleculares mais fortes são aquelas com os

átomos N3-H10 e N6-H23, respectivamente.

Page 62: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

62

Além disso, foi calculada a contribuição de cada interação intermolecular

para o empacotamento cristalino. Embora as interações N3-H10---N2(iii) e N6-

H23---N6(iv) sejam as mais importantes (vide Tabela 2 para detalhes das

interações calculadas pelo refinamento com o comando HTAB usando o

programa SHELXL), as interações que mais contribuem em termos de

porcentagem para a estrutura cristalina são: H---H = 49,3 %, H---C = 22,5 %, H-

--S = 10,8 %, H---N = 9,0 % e finalmente C---C = 4,4 %. Pela análise e

interpretação gráfica da Figura 37 pelo fato das interações C---C terem uma

contribuição de menos de 5 % no empacotamento, pode-se concluir que no

estado sólido as interações π-π são de pouca importância. Além disso, mesmo

que a esfera de coordenação seja quadrática planar, não existe um

empilhamento com interações metal-metal. O fato da maior parte das

contribuições para o empacotamento cristalino serem de interações H-H indica

a natureza da força do empacotamento como sendo de forças fracas, tipo

London, van der Waals e momento de dipolo induzido.

Com o objetivo de obter informações mais detalhadas quanto as

interações presentes nesse complexo de níquel(II), foram calculadas superfícies

de Hirshfeld com a projeção bidimensional em função dos parâmetros de e di,

denominados fingerprint (impressão digital), utilizando o programa

CrystalExplorer. Esta análise permite a visualização da contribuição relativa de

cada contato presente neste composto de coordenação.

Na Figura 32 está a representação gráfica das interações

intermoleculares do complexo de níquel(II), com as interações H-H, as em maior

quantidade em termos de porcentagem, marcadas em azul. O gráfico mostra os

pontos de contato para as interações intermoleculares na superfície de Hirshfeld,

sendo de e di valores das distâncias de pontos externos e internos da superfície

em Å.

A fusão entre as superfícies de e di, normalizadas em função do raio de

Van de Waals permite gerar uma superfície de Hirshfeld chamada normalizada

dnorm (Mckinnon et al., 2004), onde neste mapeamento é possível observar tanto

a intensidade como a distância entre os contatos das interações

intermoleculares, em função destas distâncias determinadas nas superfícies de

e di, tem-se um gráfico de dispersão dos valores de versus di, que relacionada

as distâncias dos contatos atômicos, permitindo se o contato participa de algum

Page 63: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

63

tipo de interação intermolecular específico ou não, além de fornecer

porcentagem de recorrência a que este contato apresenta sobre a superfície

(Spackman e Byrom, 1997).

Figura 32 - Representação gráfica bidimensional dos pontos de contato das interações intermoleculares da superfície de Hirshfeld (dnorm) do complexo de

níquel(II)

Os valores de e di são os pontos mais externos e internos da superfície

onde os contatos das interações intermoleculares são encontrados. Todos os

valores são em Å. Os pontos referem-se à todas as interações intermoleculares

(cinza), com destaque especial para as interações H-H (azul), que são as de

maior proporção para a contribuição das forças de coesão para essa matéria no

estado sólido.

Há uma similaridade entre o composto obtido nesse trabalho e o publicado

por Benhamed et al., 2015, apresentado na figura 14 na página 30 da revisão

bibliográfica deste trabalho. Na estrutura descrita na literatura, a função tioamida

terminal não possui substituinte, já nesse trabalho nota-se a presença de uma

Page 64: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

64

metila, mostrando que são duas estruturas distintas, e isto fica mais evidente

quando se compara os dados das duas estruturas conforme a tabela 4.

Tabela 4 - Comparação entre alguns dados cristalográficos entre o complexo de níquel(II) e a da literatura (Benhamed et al., 2015)

Dados cristalográficos Complexo de Ni(II) Literatura

(Benhamed et al., 2015)

Número de coordenação 4 4

Estado de oxidação +2 +2

Ângulos da esfera de coordenação

S(1)-Ni(1)-N(1)94.34° S(2)-Ni(2)-N(4) 94.31° Ni(1)-S(1)-C(10) 96.96° Ni(2)-S(2)-C(21) 96.9°

S(1)-Ni(1)-N(41)94.1° S(2)-Ni(2)-N(42) 94.6° Ni(1)-S(1)-C(21) 96.9° Ni(2)-S(2)-C(22) 95.8°

Sistema cristalino Monoclínico Triclínico

Z 4 2

Volume da cela 2352.05 Å3 1276.31 Å

3

De acordo com a Tabela 4 ambas estruturas dos complexos de níquel(II)

apresentam semelhanças relacionadas a parâmetros estruturais como número

de coordenação 4, estado de oxidação do íon níquel +2, assim como os ângulos

e comprimentos de ligação da esfera de coordenação muito próximos, porém

ressalta-se que ao analisarmos dados cristalográficos como o sistema cristalino,

volume da cela e número de fórmulas elementares da cela, comprova-se que

estes complexos são distintos. Desta forma ratifica-se que o complexo de

níquel(II) derivado do trans-cinamaldeído obtido neste trabalho não se trata de

uma reprodução da literatura.

Page 65: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

65

7. TRATAMENTO DE RESÍDUOS

Os resíduos gerados neste trabalho foram coletados, armazenados em

garrafas de vidro âmbar e rotulados de acordo com os padrões definidos pelo

comitê de resíduos da EQA e armazenado para posterior coleta e tratamento

pela FURG.

Page 66: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

66

8. CONCLUSÃO

Neste trabalho foram sintetizados dois compostos um ligante

tiossemicarbazona derivado do trans-cinamaldeído e seu complexo de níquel(II).

Ambos foram caracterizados com base em dados obtidos por espectroscopia na

região do infravermelho e espectroscopia na região do ultravioleta-visível. Além

disso foi obtida a estrutura cristalina/molecular do complexo de níquel(II) e

caracterizada através da técnica de difração de raios X em monocristal.

Esse trabalho contribui para o estudo da química de coordenação dos

ligantes tiossemicarbazonas derivados de compostos carbonilados α, β-

insaturados com íon níquel(II).

Realizou-se a síntese de um ligante tiossemicarbazona derivado do trans-

cinamaldeído. Esse composto teve sua obtenção confirmada através da

espectroscopia na região do infravermelho devido à ausência da banda da

função carbonila e a presença das bandas C=N, C=S e N-H, que são de crucial

importância na caracterização desta classe de moléculas.

Já o complexo de níquel(II) teve sua obtenção confirmada pela

espectroscopia na região do ultravioleta-visível através do cálculo da

absortividade molar (ε) e a presença de bandas de transferência de carga metal-

ligante(TCML) e d-d que ocorrem no espectro.

O espectro na região do infravermelho também foi de grande importância

na confirmação da obtenção do complexo. Verificou-se o desaparecimento da

banda N-H informando a desprotonação do ligante. Também as bandas C=S e

C=N sofreram ambas perturbações indicando que essas estavam envolvidas na

coordenação do íon níquel(II).

Com base na difração de raios X em monocristal concluiu-se que o

complexo de níquel(II) é quadrado-plano, com o ligante tiossemicarbazona

atuando como um quelante “NS-doador”, formando anéis quelatos pentagonais.

O complexo cristaliza-se no sistema monoclínico e grupo espacial P21/c, sua

cela elementar é formada pelo arranjo de quatro unidades da molécula (Z=4). Os

átomos de enxofre da estrutura cristalina molecular do complexo apresentam um

problema de desordem. Porém esta desordem não inviabilizou de forma alguma

a elucidação da estrutura cristalina do complexo.

Page 67: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

67

9. PERSPECTIVAS FUTURAS

A perspectiva futura é dar continuidade a este trabalho, com a obtenção

de monocristais aptos para análise por difração raios X dos complexos de

cobre(ІІ) e zinco(ІІ), com o ligante derivado do trans-cinamaldeído obtido nesse

trabalho.

Page 68: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

68

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Page 71: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

71

11. ANEXO 1

Tabela 1 - Dados cristalográficas do complexo de níquel(II).

Crystal data

Chemical formula C22H26N6NiS2

Mr 497.32

Crystal system, space group Monoclinic, P21/c

Temperature (K) 300

a, b, c (Å) 23.1292 (9), 6.3310 (2), 16.4289 (6)

(°) 102.123 (1)

V (Å3) 2352.05 (15)

Z 4

Radiation type Mo K

(mm-1) 1.02

Crystal size (mm) 0.40 × 0.24 × 0.06

Data collection

Diffractometer Bruker

Absorption correction Multi-scan

No. of measured, independent and observed [I > 2(I)] reflections

21324, 6878, 2553

Rint 0.028

(sin /)max (Å-1) 0.705

Refinement

R[F2 > 2(F2)], wR(F2), S 0.057, 0.236, 1.04

No. of reflections 6878

No. of parameters 286

No. of restraints 14

H-atom treatment H-atom parameters constrained

(/)max 1.349

max, min (e Å-3) 0.83, -0.62

Computer programs: SHELXT 2014/5 (Sheldrick, 2014), SHELXL2016/6 (Sheldrick, 2016).

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Tabela 2 - Ligações de hidrogênio (Å, º) for (shelx)

D—H···A D—H H···A D···A D—H···A

C9—H8···S1′i 0.93 2.43 3.039 (5) 123

C20—H21···S2′ii 0.93 2.44 3.048 (5) 123

N3—H10···N2iii 0.92 2.54 3.309 (5) 141

N6—H23···N6iv 0.98 2.66 3.590 (5) 158

Symmetry codes: (i) -x+2, -y+1, -z+1; (ii) -x+1, -y+2, -z+2; (iii) -x+2, y+1/2, -z+3/2; (iv) -x+1,

y+1/2, -z+3/2.

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Tabela 3 - Coordenadas atômicas (x 104) e parâmetros equivalentes de

deslocamentos isotrópicos (Ueq) (Å2x10-3)

x y z Uiso*/Ueq Occ. (<1)

C1 0.7878 (2) -0.0978 (8) 0.6017 (3) 0.0490 (12)

C2 0.7586 (3) 0.0308 (11) 0.6472 (4) 0.0717 (17)

H1 0.772342 0.167273 0.660320 0.086*

C3 0.7087 (3) -0.0403 (14) 0.6739 (4) 0.090 (2)

H2 0.689540 0.048216 0.704796 0.107*

C4 0.6879 (3) -0.2410 (14) 0.6546 (4) 0.089 (2)

H3 0.653951 -0.287610 0.671029 0.107*

C5 0.7172 (3) -0.3711 (12) 0.6112 (4) 0.092 (2)

H4 0.703546 -0.508039 0.598842 0.110*

C6 0.7673 (3) -0.3017 (10) 0.5851 (4) 0.0712 (16)

H5 0.787205 -0.393209 0.556250 0.085*

C7 0.8386 (2) -0.0207 (9) 0.5695 (3) 0.0495 (12)

H6 0.851444 -0.106032 0.530725 0.059*

C8 0.8681 (2) 0.1581 (8) 0.5900 (3) 0.0498 (12)

H7 0.859300 0.241129 0.632517 0.060*

C9 0.9139 (2) 0.2266 (8) 0.5475 (3) 0.0477 (12)

H8 0.921589 0.139967 0.505324 0.057*

C10 0.9674 (2) 0.6709 (8) 0.6502 (3) 0.0495 (12)

C11 0.9223 (2) 0.7437 (10) 0.7698 (3) 0.0653 (15)

H11 0.883227 0.773481 0.738488 0.098*

H12 0.930781 0.833072 0.818073 0.098*

H13 0.924611 0.598458 0.786937 0.098*

C12 0.7121 (2) 0.4020 (9) 0.8984 (3) 0.0525 (13)

C13 0.7418 (3) 0.5298 (11) 0.8536 (4) 0.0735 (17)

H14 0.728373 0.666853 0.840951 0.088*

C14 0.7912 (3) 0.4599 (14) 0.8267 (4) 0.091 (2)

H15 0.810393 0.549411 0.796045 0.109*

C15 0.8120 (3) 0.2609 (14) 0.8449 (4) 0.088 (2)

H16 0.845658 0.214712 0.827724 0.105*

C16 0.7830 (3) 0.1302 (12) 0.8883 (4) 0.091 (2)

H17 0.796844 -0.006469 0.900487 0.109*

C17 0.7327 (3) 0.1988 (10) 0.9148 (4) 0.0732 (17)

H18 0.712868 0.106904 0.943702 0.088*

C18 0.6612 (2) 0.4778 (10) 0.9306 (3) 0.0556 (13)

H19 0.648266 0.392129 0.969136 0.067*

C19 0.6317 (2) 0.6574 (9) 0.9099 (3) 0.0581 (14)

H20 0.640658 0.740271 0.867425 0.070*

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74

C20 0.5864 (2) 0.7256 (9) 0.9518 (3) 0.0587 (14)

H21 0.579013 0.639283 0.994273 0.070*

C21 0.5320 (3) 1.1709 (10) 0.8499 (3) 0.0617 (15)

C22 0.5773 (3) 1.2454 (10) 0.7301 (3) 0.0750 (17)

H24 0.616316 1.271972 0.762202 0.113*

H25 0.569476 1.337883 0.682752 0.113*

H26 0.574517 1.101283 0.711521 0.113*

N1 0.94488 (15) 0.3975 (6) 0.5632 (2) 0.0409 (9)

N2 0.93466 (15) 0.5048 (7) 0.63283 (18) 0.0411 (9)

H9 0.908560 0.496127 0.678546 0.049*

N3 0.9649 (2) 0.7832 (8) 0.7185 (3) 0.0738 (15)

H10 0.987956 0.896872 0.740492 0.089*

N4 0.55470 (18) 0.8967 (7) 0.9362 (2) 0.0528 (11)

N5 0.56495 (19) 1.0069 (8) 0.8671 (2) 0.0570 (11)

H22 0.594835 0.991149 0.834464 0.068*

N6 0.5341 (2) 1.2834 (9) 0.7814 (3) 0.0818 (16)

H23 0.522083 1.432652 0.779825 0.098*

Ni1 1.000000 0.500000 0.500000 0.0402 (2)

Ni2 0.500000 1.000000 1.000000 0.0473 (3)

S1' 1.01769 (8) 0.7509 (3) 0.59120 (10) 0.0803 (6) 0(43)

S2' 0.48220 (9) 1.2511 (3) 0.90902 (11) 0.0902 (6) 0(43)

S1 1.01769 (8) 0.7509 (3) 0.59120 (10) 0.0803 (6) 1(43)

S2 0.48220 (9) 1.2511 (3) 0.90902 (11) 0.0902 (6) 1(43) Tabela 4- Parâmetros de deslocamento anisotrópicos (Å x 103)

U11 U22 U33 U12 U13 U23

C1 0.043 (3) 0.057 (4) 0.048 (3) -0.010 (2) 0.012 (2) 0.005 (2)

C2 0.062 (4) 0.086 (5) 0.075 (4) -0.013 (4) 0.033 (3) -0.009 (4)

C3 0.064 (4) 0.132 (7) 0.083 (4) -0.013 (5) 0.039 (3) -0.003 (5)

C4 0.057 (4) 0.126 (7) 0.089 (5) -0.024 (4) 0.024 (3) 0.032 (5)

C5 0.080 (5) 0.090 (6) 0.105 (5) -0.037 (4) 0.019 (4) 0.017 (4)

C6 0.071 (4) 0.063 (4) 0.083 (4) -0.018 (3) 0.025 (3) 0.003 (3)

C7 0.048 (3) 0.056 (3) 0.048 (2) -0.009 (3) 0.0168 (19) 0.000 (3)

C8 0.047 (3) 0.056 (4) 0.050 (3) -0.011 (2) 0.019 (2) -0.001 (2)

C9 0.044 (3) 0.056 (3) 0.046 (2) -0.013 (2) 0.017 (2) -0.003 (2)

C10 0.042 (3) 0.064 (4) 0.046 (3) -0.010 (2) 0.016 (2) -0.002 (2)

C11 0.059 (3) 0.091 (4) 0.054 (3) -0.005 (3) 0.029 (2) -0.006 (3)

C12 0.048 (3) 0.062 (4) 0.050 (3) 0.006 (3) 0.014 (2) -0.007 (2)

C13 0.058 (4) 0.085 (5) 0.084 (4) 0.012 (4) 0.032 (3) 0.005 (4)

C14 0.065 (4) 0.128 (7) 0.088 (5) 0.011 (5) 0.037 (3) 0.005 (5)

C15 0.054 (4) 0.128 (7) 0.087 (5) 0.016 (4) 0.026 (3) -0.029 (5)

Page 75: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

75

C16 0.077 (5) 0.086 (5) 0.107 (5) 0.033 (4) 0.015 (4) -0.020 (4)

C17 0.070 (4) 0.066 (4) 0.085 (4) 0.015 (3) 0.022 (3) -0.004 (3)

C18 0.055 (3) 0.064 (4) 0.052 (3) 0.010 (3) 0.022 (2) -0.001 (3)

C19 0.056 (3) 0.063 (4) 0.061 (3) 0.011 (3) 0.026 (3) -0.002 (3)

C20 0.056 (4) 0.068 (4) 0.057 (3) 0.014 (3) 0.022 (3) -0.001 (3)

C21 0.055 (4) 0.077 (4) 0.059 (3) 0.011 (3) 0.024 (3) 0.001 (3)

C22 0.070 (4) 0.098 (5) 0.066 (3) 0.011 (4) 0.033 (3) 0.007 (3)

N1 0.034 (2) 0.050 (3) 0.0386 (18) -0.0027 (17) 0.0083 (15) 0.0046 (17)

N2 0.038 (2) 0.058 (3) 0.0290 (17) -0.009 (2) 0.0117 (14) 0.000 (2)

N3 0.070 (3) 0.101 (4) 0.059 (3) -0.032 (3) 0.032 (2) -0.034 (3)

N4 0.050 (3) 0.059 (3) 0.053 (2) 0.004 (2) 0.020 (2) -0.005 (2)

N5 0.054 (3) 0.064 (3) 0.058 (3) 0.005 (3) 0.025 (2) -0.002 (3)

N6 0.084 (4) 0.097 (4) 0.076 (3) 0.030 (3) 0.043 (3) 0.026 (3)

Ni1 0.0342 (5) 0.0488 (5) 0.0393 (4) -0.0045 (5) 0.0114 (3) 0.0037 (5)

Ni2 0.0415 (5) 0.0564 (6) 0.0469 (5) 0.0061 (6) 0.0159 (4) -0.0048 (5)

S1' 0.0916 (13) 0.0860 (12) 0.0815 (11) -0.0468 (10) 0.0596 (10) -0.0337 (9)

S2' 0.1013 (14) 0.0940 (14) 0.0942 (12) 0.0505 (11) 0.0635 (11) 0.0333 (10)

S1 0.0916 (13) 0.0860 (12) 0.0815 (11) -0.0468 (10) 0.0596 (10) -0.0337 (9)

S2 0.1013 (14) 0.0940 (14) 0.0942 (12) 0.0505 (11) 0.0635 (11) 0.0333 (10) Tabela 5- Comprimentos (Å) e ângulos (°) de ligação

C1—C2 1.375 (7) C15—H16 0.9300

C1—C6 1.383 (7) C16—C17 1.395 (8)

C1—C7 1.470 (6) C16—H17 0.9300

C2—C3 1.392 (8) C17—H18 0.9300

C2—H1 0.9300 C18—C19 1.333 (7)

C3—C4 1.372 (10) C18—H19 0.9300

C3—H2 0.9300 C19—C20 1.436 (7)

C4—C5 1.360 (10) C19—H20 0.9300

C4—H3 0.9300 C20—N4 1.303 (6)

C5—C6 1.388 (8) C20—H21 0.9300

C5—H4 0.9300 C21—N5 1.284 (6)

C6—H5 0.9300 C21—N6 1.341 (7)

C7—C8 1.329 (6) C21—S2' 1.731 (5)

C7—H6 0.9300 C21—S2 1.731 (5)

C8—C9 1.451 (6) C22—N6 1.456 (7)

C8—H7 0.9300 C22—H24 0.9600

C9—N1 1.294 (5) C22—H25 0.9600

C9—H8 0.9300 C22—H26 0.9600

C10—N2 1.292 (6) N1—N2 1.394 (4)

C10—N3 1.339 (6) N1—Ni1 1.918 (3)

Page 76: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

76

C10—S1' 1.738 (5) N2—H9 1.0593

C10—S1 1.738 (5) N3—H10 0.9228

C11—N3 1.447 (6) N4—N5 1.396 (5)

C11—H11 0.9600 N4—Ni2 1.919 (4)

C11—H12 0.9600 N5—H22 0.9646

C11—H13 0.9600 N6—H23 0.9837

C12—C13 1.372 (8) Ni1—S1 2.1627 (15)

C12—C17 1.378 (7) Ni1—S1i 2.1628 (15)

C12—C18 1.469 (7) Ni1—S1'i 2.1627 (15)

C13—C14 1.382 (8) Ni1—S1' 2.1627 (15)

C13—H14 0.9300 Ni2—S2' 2.1616 (17)

C14—C15 1.358 (10) Ni2—S2'ii 2.1616 (17)

C14—H15 0.9300 Ni2—S2 2.1616 (17)

C15—C16 1.358 (10) Ni2—S2ii 2.1616 (17)

C2—C1—C6 118.2 (5) C20—C19—H20 119.3

C2—C1—C7 121.3 (5) N4—C20—C19 126.4 (5)

C6—C1—C7 120.4 (5) N4—C20—H21 116.8

C1—C2—C3 120.9 (6) C19—C20—H21 116.8

C1—C2—H1 119.5 N5—C21—N6 119.3 (5)

C3—C2—H1 119.6 N5—C21—S2' 123.3 (4)

C4—C3—C2 120.1 (7) N6—C21—S2' 117.4 (4)

C4—C3—H2 119.9 N5—C21—S2 123.3 (4)

C2—C3—H2 119.9 N6—C21—S2 117.4 (4)

C5—C4—C3 119.5 (6) N6—C22—H24 109.4

C5—C4—H3 120.3 N6—C22—H25 109.5

C3—C4—H3 120.2 H24—C22—H25 109.5

C4—C5—C6 120.7 (7) N6—C22—H26 109.5

C4—C5—H4 119.6 H24—C22—H26 109.5

C6—C5—H4 119.7 H25—C22—H26 109.5

C5—C6—C1 120.6 (6) C9—N1—N2 112.9 (4)

C5—C6—H5 119.7 C9—N1—Ni1 125.4 (3)

C1—C6—H5 119.7 N2—N1—Ni1 121.7 (3)

C8—C7—C1 126.8 (5) C10—N2—N1 112.7 (4)

C8—C7—H6 116.6 C10—N2—H9 106.3

C1—C7—H6 116.6 N1—N2—H9 141.0

C7—C8—C9 121.3 (4) C10—N3—C11 123.4 (5)

C7—C8—H7 119.3 C10—N3—H10 128.2

C9—C8—H7 119.3 C11—N3—H10 108.3

N1—C9—C8 125.7 (4) C20—N4—N5 113.0 (4)

N1—C9—H8 117.1 C20—N4—Ni2 125.8 (4)

C8—C9—H8 117.2 N5—N4—Ni2 121.2 (3)

Page 77: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

77

N2—C10—N3 119.4 (4) C21—N5—N4 112.9 (4)

N2—C10—S1' 122.9 (4) C21—N5—H22 115.1

N3—C10—S1' 117.7 (4) N4—N5—H22 131.6

N2—C10—S1 122.9 (4) C21—N6—C22 123.3 (5)

N3—C10—S1 117.7 (4) C21—N6—H23 118.2

N3—C11—H11 109.5 C22—N6—H23 111.6

N3—C11—H12 109.4 N1—Ni1—N1i 180.0

H11—C11—H12 109.5 N1—Ni1—S1 85.66 (11)

N3—C11—H13 109.4 N1i—Ni1—S1 94.34 (11)

H11—C11—H13 109.5 N1—Ni1—S1i 94.34 (11)

H12—C11—H13 109.5 N1i—Ni1—S1i 85.66 (11)

C13—C12—C17 117.7 (5) N1—Ni1—S1'i 94.34 (11)

C13—C12—C18 122.0 (5) N1i—Ni1—S1'i 85.66 (11)

C17—C12—C18 120.3 (5) N1—Ni1—S1' 85.66 (11)

C12—C13—C14 121.6 (6) N1i—Ni1—S1' 94.34 (11)

C12—C13—H14 119.2 S1'i—Ni1—S1' 180.0

C14—C13—H14 119.2 N4ii—Ni2—N4 180.0

C15—C14—C13 120.3 (7) N4ii—Ni2—S2' 94.31 (14)

C15—C14—H15 119.9 N4—Ni2—S2' 85.69 (14)

C13—C14—H15 119.9 N4ii—Ni2—S2'ii 85.69 (14)

C14—C15—C16 119.4 (6) N4—Ni2—S2'ii 94.31 (14)

C14—C15—H16 120.3 S2'—Ni2—S2'ii 180.0

C16—C15—H16 120.3 N4ii—Ni2—S2 94.31 (14)

C15—C16—C17 120.7 (7) N4—Ni2—S2 85.69 (14)

C15—C16—H17 119.7 N4ii—Ni2—S2ii 85.69 (14)

C17—C16—H17 119.6 N4—Ni2—S2ii 94.31 (14)

C12—C17—C16 120.4 (6) S2'—Ni2—S2ii 180.0

C12—C17—H18 119.8 S2'ii—Ni2—S2ii 0.00 (7)

C16—C17—H18 119.8 S2—Ni2—S2ii 180.0

C19—C18—C12 126.4 (5) C10—S1'—Ni1 96.96 (18)

C19—C18—H19 116.8 C21—S2'—Ni2 96.9 (2)

C12—C18—H19 116.8 C10—S1—Ni1 96.96 (18)

C18—C19—C20 121.3 (5) C21—S2—Ni2 96.9 (2)

C18—C19—H20 119.3

C6—C1—C2—C3 -1.8 (9) N3—C10—N2—N1 -176.2 (4)

C7—C1—C2—C3 176.8 (5) S1'—C10—N2—N1 1.0 (6)

C1—C2—C3—C4 -0.3 (10) S1—C10—N2—N1 1.0 (6)

C2—C3—C4—C5 1.7 (11) C9—N1—N2—C10 177.4 (4)

C3—C4—C5—C6 -1.1 (11) Ni1—N1—N2—C10 -2.3 (5)

C4—C5—C6—C1 -1.0 (10) N2—C10—N3—C11 -7.3 (8)

Page 78: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

78

C2—C1—C6—C5 2.4 (9) S1'—C10—N3—C11 175.4 (5)

C7—C1—C6—C5 -176.2 (5) S1—C10—N3—C11 175.4 (5)

C2—C1—C7—C8 11.9 (8) C19—C20—N4—N5 5.4 (8)

C6—C1—C7—C8 -169.6 (5) C19—C20—N4—Ni2 -173.3 (4)

C1—C7—C8—C9 -173.7 (5) N6—C21—N5—N4 -175.3 (5)

C7—C8—C9—N1 -180.0 (5) S2'—C21—N5—N4 2.3 (7)

C17—C12—C13—C14

-1.0 (9) S2—C21—N5—N4 2.3 (7)

C18—C12—C13—C14

177.1 (5) C20—N4—N5—C21 177.4 (5)

C12—C13—C14—C15

-0.5 (10) Ni2—N4—N5—C21 -3.8 (6)

C13—C14—C15—C16

1.2 (11) N5—C21—N6—C22 -7.8 (10)

C14—C15—C16—C17

-0.5 (11) S2'—C21—N6—C22 174.4 (5)

C13—C12—C17—C16

1.8 (9) S2—C21—N6—C22 174.4 (5)

C18—C12—C17—C16

-176.4 (6) N2—C10—S1'—Ni1 0.5 (5)

C15—C16—C17—C12

-1.0 (10) N3—C10—S1'—Ni1 177.7 (4)

C13—C12—C18—C19

12.2 (9) N5—C21—S2'—Ni2 -0.2 (6)

C17—C12—C18—C19

-169.7 (6) N6—C21—S2'—Ni2 177.5 (5)

C12—C18—C19—C20

-173.5 (5) N2—C10—S1—Ni1 0.5 (5)

C18—C19—C20—N4 -179.4 (6) N3—C10—S1—Ni1 177.7 (4)

C8—C9—N1—N2 6.5 (6) N5—C21—S2—Ni2 -0.2 (6)

C8—C9—N1—Ni1 -173.8 (4) N6—C21—S2—Ni2 177.5 (5) Symmetry codes: (i) -x+2, -y+1, -z+1; (ii) -x+1, -y+2, -z+2.

Page 79: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

79

Tabela 6 - Ligações de hidrogênio (Å, º)

D—H···A D—H H···A D···A D—H···A

C9—H8···S1′i 0.93 2.43 3.039 (5) 123

C20—H21···S2′ii 0.93 2.44 3.048 (5) 123

N3—H10···N2iii 0.92 2.54 3.309 (5) 141

N6—H23···N6iv 0.98 2.66 3.590 (5) 158 Symmetry codes: (i) -x+2, -y+1, -z+1; (ii) -x+1, -y+2, -z+2; (iii) -x+2, y+1/2, -z+3/2; (iv) -x+1,

y+1/2, -z+3/2.

Document origin: publCIF [Westrip, S. P. (2010). J. Apply. Cryst., 43, 920-925].

Page 80: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA DE COORDENAÇÃO DO

80

Computing details

Program(s) used to solve structure: SHELXT 2014/5 (Sheldrick, 2014); program(s) used to

refine structure: SHELXL2016/6 (Sheldrick, 2016).

Crystal data

C22H26N6NiS2 Z = 4

Mr = 497.32 F(000) = 1040

Monoclinic, P21/c Dx = 1.404 Mg m-3

a = 23.1292 (9) Å Mo K radiation, = 0.71073 Å

b = 6.3310 (2) Å = 1.02 mm-1

c = 16.4289 (6) Å T = 300 K

= 102.123 (1)° 0.40 × 0.24 × 0.06 mm

V = 2352.05 (15) Å3 Data collection

21324 measured reflections max = 30.1°, min = 1.8°

6878 independent reflections h = -3132

2553 reflections with I > 2(I) k = -78

Rint = 0.028 l = -2323 Refinement

Refinement on F2 14 restraints

Least-squares matrix: full Hydrogen site location: mixed

R[F2 > 2(F2)] = 0.057 H-atom parameters constrained

wR(F2) = 0.236 w = 1/[2(Fo2) + (0.0962P)2 + 1.8825P]

where P = (Fo2 + 2Fc

2)/3

S = 1.04 (/)max = 1.349

6878 reflections max = 0.83 e Å-3

286 parameters min = -0.62 e Å-3 Special details

Geometry. All esds (except the esd in the dihedral angle between two l.s. planes) are estimated using the full covariance matrix. The cell esds are taken into account individually in the estimation of esds in distances, angles and torsion angles; correlations between esds in cell parameters are only used when they are defined by crystal symmetry. An approximate (isotropic) treatment of cell esds is used for estimating esds involving l.s. planes.