17
CURSOS ON-LINE – CONTROLE EXTERNO P/ O TCU PROFESSOR MÁRCIO ALBUQUERQUE www.pontodosconcursos.com.br 1 AULA 5: COMPETÊNCIAS DO TCU NA CF Dando continuidade ao estudo dos aspectos constitucionais do controle externo, vamos, na aula de hoje, terminar de ver as competências do Tribunal de Contas da União na Constituição Federal. Relembrando, essa aula é uma continuação do encontro passado, razão pela qual vou dar continuidade à seqüência da numeração anteriormente adotada. Mais uma vez, peço especial atenção para esses dois encontros, pois, em média, 30% das questões das provas mais recentes para o cargo de Analista de Controle Externo do Tribunal de Contas da União foram relacionadas ao tema dessas aulas. Nunca é demais lembrar que a matéria tratada nesses dois encontros será aprofundada ao longo do nosso curso. 3.3 – APRECIAÇÃO DE ATOS SUJEITOS A REGISTRO. A matéria em apreço está estatuída no inciso III do art. 71 da Constituição Federal, que apresenta a seguinte redação: ‘III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do ato concessório;’ Entendo que o constituinte não foi muito feliz na redação desse dispositivo. Para sua melhor compreensão, vamos estudar o inciso por partes. Na primeira parte, vamos verificar o que o constituinte quis dizer em ‘apreciar para fins de registro a legalidade (...)’. Todos nós possuímos uma certidão de nascimento. Para isso, quando nascemos, nossos pais procuraram um cartório de registro de pessoas naturais para nos registrar. Assim, feito o registro, é expedida a respectiva certidão de nascimento. Com propósito semelhante, a União se preocupa em registrar as admissões de pessoal e as concessões de aposentadorias, reformas e pensões, a fim de obter uma memória desses atos. Conforme preconizado na CF, o responsável por esse registro é o Tribunal de Contas da União. Para tanto, o Tribunal necessita verificar se esses atos foram

Controle aula 5

  • Upload
    j-m

  • View
    289

  • Download
    9

Embed Size (px)

DESCRIPTION

 

Citation preview

Page 1: Controle aula 5

CURSOS ON-LINE – CONTROLE EXTERNO P/ O TCU PROFESSOR MÁRCIO ALBUQUERQUE

www.pontodosconcursos.com.br 1

AULA 5: COMPETÊNCIAS DO TCU NA CF

Dando continuidade ao estudo dos aspectos constitucionais do controle externo,

vamos, na aula de hoje, terminar de ver as competências do Tribunal de Contas da

União na Constituição Federal.

Relembrando, essa aula é uma continuação do encontro passado, razão pela qual

vou dar continuidade à seqüência da numeração anteriormente adotada.

Mais uma vez, peço especial atenção para esses dois encontros, pois, em média,

30% das questões das provas mais recentes para o cargo de Analista de Controle

Externo do Tribunal de Contas da União foram relacionadas ao tema dessas aulas.

Nunca é demais lembrar que a matéria tratada nesses dois encontros será

aprofundada ao longo do nosso curso.

3.3 – APRECIAÇÃO DE ATOS SUJEITOS A REGISTRO.

A matéria em apreço está estatuída no inciso III do art. 71 da Constituição

Federal, que apresenta a seguinte redação:

‘III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de

pessoal, a qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações

instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de

provimento em comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas e

pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do

ato concessório;’

Entendo que o constituinte não foi muito feliz na redação desse dispositivo. Para

sua melhor compreensão, vamos estudar o inciso por partes.

Na primeira parte, vamos verificar o que o constituinte quis dizer em ‘apreciar

para fins de registro a legalidade (...)’.

Todos nós possuímos uma certidão de nascimento. Para isso, quando nascemos,

nossos pais procuraram um cartório de registro de pessoas naturais para nos registrar.

Assim, feito o registro, é expedida a respectiva certidão de nascimento.

Com propósito semelhante, a União se preocupa em registrar as admissões de

pessoal e as concessões de aposentadorias, reformas e pensões, a fim de obter uma

memória desses atos.

Conforme preconizado na CF, o responsável por esse registro é o Tribunal de

Contas da União. Para tanto, o Tribunal necessita verificar se esses atos foram

Page 2: Controle aula 5

CURSOS ON-LINE – CONTROLE EXTERNO P/ O TCU PROFESSOR MÁRCIO ALBUQUERQUE

www.pontodosconcursos.com.br 2

praticados de acordo com os normativos legais que regem a espécie ou não. Esse é o

sentido, então, da expressão ‘apreciar para fins de registro a legalidade (...)’.

Uma vez analisada a primeira parte do dispositivo, passemos para as seguintes.

Nosso próximo passo será o estudo dos atos de admissão. A constituição prevê que

serão registradas as admissões de pessoal, ocorridas a qualquer título, na administração

direta e indireta.

Assim, mesmo que ocorra uma admissão temporária, como exemplo daquelas

disciplinadas na Lei 8.745, de 1993, ela terá que ser registrada pelo TCU. A

competência do Tribunal ocorre tanto para as admissões da administração direta como

indireta. Dessa forma, para esse registro, pouco vai importar por qual regime houve a

admissão: se celetista ou estatutário.

Como anteriormente mencionado, o Tribunal de Contas da União, antes de

realizar o registro, deverá apreciar a legalidade do ato. Nesse sentido, entre outras

coisas, é verificado se houve concurso público para a admissão de pessoal ou se está

havendo acumulação de cargos em desacordo com o que é permitido pela Constituição.

Ainda com relação à admissão de pessoal, importante anotar que o dispositivo

em análise apresenta uma exceção, qual seja, a apreciação, para fins de registro, da

legalidade das nomeações para cargos de provimento em comissão. Estes cargos são

aqueles de livre nomeação e exoneração pela autoridade competente. Assim, pela

precariedade do vínculo com a Administração, estes atos são dispensados de registro.

Na prova passada para o cargo de Analista de Controle Externo do Tribunal de

Contas da União, a questão foi abordada da seguinte maneira:

‘Compete ao TCU apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de

admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta e indireta, mas essa

atribuição não se estende aos cargos de provimento em comissão.

Pelo que foi dito até aqui, percebemos que a assertiva é correta.

Importante observar que o Tribunal de Contas da União não tem competência

para analisar a legalidade desses atos para fins de registro, mas isso não impede que o

Tribunal fiscalize a legalidade desses atos, por meio de fiscalizações ou por meio de

julgamento das contas dos gestores. Acontece que, apesar de serem atos de livre

nomeação, algumas formalidades devem ser observadas. Como exemplo, no âmbito do

Judiciário federal, não podem ser nomeados para cargo em comissão parentes até 3°

grau das autoridades do Tribunal. Dessa forma, o TCU pode, ao realizar uma auditoria

Page 3: Controle aula 5

CURSOS ON-LINE – CONTROLE EXTERNO P/ O TCU PROFESSOR MÁRCIO ALBUQUERQUE

www.pontodosconcursos.com.br 3

em determinado Tribunal, fiscalizar se as nomeações para cargos de provimento em

comissão ocorridos naquele Tribunal estão ou não de acordo com a lei.

A competência para fiscalizar atos de nomeação para cargos em comissão

decorre do inciso IX da CF, que será estudado ainda nesse encontro.

Resumindo, o Tribunal de Contas da União não tem competência para analisar,

para fins de registro, a legalidade das nomeações de cargos de livre provimento. Pode,

entretanto, fiscalizar a legalidade dessas nomeações em outros processos de fiscalização

ou em processos de contas. Os tipos de processos do Tribunal de Contas da União serão

estudados em momento oportuno.

Com relação ao assunto a questão pode ser, por exemplo, cobrada da seguinte

maneira na prova:

No curso de uma fiscalização, pode o Tribunal checar a legalidade de todas as

nomeações, à exceção daquelas decorrentes de cargos de livre provimento.

Pelo que foi exposto, a assertiva estaria incorreta, pois, no curso de uma

fiscalização o Tribunal de Contas da União pode sim fiscalizar a legalidade de TODAS

as nomeações, inclusive das relacionadas aos cargos de livre provimento.

Passemos agora ao estudo dos outros atos sujeitos a registro, que são as

concessões de aposentadorias, reformas e pensões.

As aposentadorias são benefícios concedidos às pessoas que satisfizeram os

requisitos constitucionais para que possam receber sem trabalhar.

Já as reformas são benefícios concedidos aos militares, que possuem regime

diferenciado dos servidores civis. Em rápido resumo, os militares podem ser da ativa, da

reserva ou reformados. Na ativa ele deve estar prestando serviço regularmente. Na

reserva, apesar de não estarem prestando serviço regularmente, podem ser convocados,

a qualquer tempo, como exemplo, em caso de guerra. Após esse tempo na reserva, ao

atingir determinada idade, o militar não mais pode ser convocado, diz-se então que o

militar foi reformado.

As pensões são benefícios concedidos a dependentes de servidores que venham a

falecer.

Para melhor compreensão do inciso III, devemos entender bem o significado da

expressão ‘bem como’ constante na parte final do dispositivo. A expressão ‘bem como’

refere-se à ‘apreciar, para fins de registro’ e não a ‘excetuadas as nomeações. Caso

essa não fosse a interpretação desse inciso, o Tribunal não teria competência para

apreciar a legalidade dos atos de concessão de aposentadorias, reformas e pensões, o

Page 4: Controle aula 5

CURSOS ON-LINE – CONTROLE EXTERNO P/ O TCU PROFESSOR MÁRCIO ALBUQUERQUE

www.pontodosconcursos.com.br 4

que não é verdade. Sinteticamente, cabe ao tribunal apreciar a legalidade dos atos de

admissão de pessoal, bem como de concessão de aposentadoria, reforma e pensão.

Convém esclarecer que, diferentemente, dos atos de admissão de pessoal o

Tribunal somente se preocupa com as aposentadoria e pensões relacionadas aos

servidores estatutários. Assim, todos aqueles funcionários públicos que são regidos pela

Consolidação das Leis Trabalhistas não terão as suas concessões apreciadas pelo

Tribunal de Contas da União. A razão disso é porque o governo federal possui órgão

específico para tratar desses benefícios, o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS.

Nunca é demais lembrar que na administração indireta também podemos ter servidores

estatutários, como ocorre com o próprio INSS e com o Banco Central.

Por fim, o inciso III apresenta a seguinte parte: ‘ressalvadas as melhorias

posteriores que não alterem o fundamento legal do ato concessório’

A parte final do dispositivo significa que, por exemplo, caso ocorra uma

modificação em determinada aposentadoria, o Tribunal só vai precisar se manifestar

novamente caso seja alterado o fundamento legal da aposentadoria. Assim, caso

determinado servidor venha a se aposentar em um cargo qualquer e depois preencha os

requisitos para se aposentar em outro, o Tribunal deverá apreciar a alteração do ato

concessório. No entanto, caso ocorra uma alteração apenas no vencimento da

aposentadoria decorrente de aprovação de planos de cargos e salários, o ato não passará

de novo pelo crivo do Tribunal de Contas da União.

Antes de encerrarmos esse dispositivo, vale mencionar o entendimento do

Supremo Tribunal Federal acerca da natureza jurídica dos atos sujeitos a registro. O

Pretório Excelso já se manifestou no sentido de que esses atos possuem a natureza de

ato complexo. Assim, para que o ato se aperfeiçoe há a necessidade de o Tribunal de

Contas da União se manifestar.

A conseqüência prática desse entendimento é que o prazo de 5 anos do art. 54 da

Lei 9.784, Lei que disciplina o processo administrativo no âmbito da administração

pública federal, não se aplica aos atos sujeitos a registro até que o TCU venha a se

pronunciar.

Nesse sentido, se determinado servidor se aposentar em maio de 1998 e o

Tribunal somente venha dizer que esse ato é ilegal no ano de 1994, não pode o servidor

alegar a impossibilidade de o ato ser revisto, por ter ultrapassado o prazo de 5 anos

estatuído no art. 54 da Lei 9.784.

Page 5: Controle aula 5

CURSOS ON-LINE – CONTROLE EXTERNO P/ O TCU PROFESSOR MÁRCIO ALBUQUERQUE

www.pontodosconcursos.com.br 5

3.4 – REALIZAÇÃO DE FISCALIZAÇÕES

O inciso IV do art. 71 da CF apresenta a seguinte redação:

‘IV - realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado

Federal, de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza

contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades

administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades

referidas no inciso II;’

Esse artigo merece algumas observações. A primeira é que ao prever que o

Tribunal de Contas da União pode realizar por iniciativa própria fiscalizações, a

Constituição está reconhecendo sua autonomia. Dessa forma, pode o Tribunal

determinar os rumos que pretende seguir.

A segunda observação refere-se aos legitimados para a solicitação. Reparem que

um Deputado ou um Senador isoladamente não tem competência para solicitar ao TCU

a realização de fiscalização. Veremos adiante que essas autoridades poderão utilizar

outro instrumento para apresentar uma irregularidade ao TCU. Para que o Tribunal

atenda a solicitação é necessário que ao menos uma Comissão formalize o pedido.

Importante destacar que até mesmo comissões de inquérito têm legitimidade para

solicitar a fiscalização.

Quando estudarmos os tipos de fiscalização existentes no TCU, vou apresentar

as diferenças entre inspeção e auditoria.

3.5 – FISCALIZAÇÃO DAS EMPRESAS SUPRANACIONAIS

Com relação ao assunto, o inciso V do art. 71 apresenta a seguinte redação:

‘V - fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital

social a União participe, de forma direta ou indireta, nos termos do tratado

constitutivo;’

Inicialmente, empresa supranacional é uma empresa estatal que pertence a mais

de uma nação. Não podemos confundir empresas supranacionais com empresas

multinacionais. Essas últimas diferenciam-se das primeiras por não serem controladas

por entes públicos. São exemplos de multinacionais e não de supranacionais a Coca-

Cola, a Fiat, a Nestlé etc. Já Itaipu e o Banco Brasil-Iraque são exemplos de empresas

supranacionais.

Assim, tal quais as empresas estatais, as supranacionais devem ser fiscalizadas

pelo TCU. Conforme lecionado na aula passada, têm o dever de prestar contas ao poder

Page 6: Controle aula 5

CURSOS ON-LINE – CONTROLE EXTERNO P/ O TCU PROFESSOR MÁRCIO ALBUQUERQUE

www.pontodosconcursos.com.br 6

público todos aqueles responsáveis por recursos de origem pública. No estudo do inciso

em análise não é diferente.

Serão objeto de fiscalização somente as contas nacionais, ou seja, as contas que

sejam originadas de recursos públicos brasileiros. Para se saber o que se originou do

Brasil, vale consultar os termos do tratado constitutivo.

Na prova para concurso de 1996, o Cespe abordou a matéria da seguinte forma:

‘(ACE – Cespe – 1996) Acerca do controle externo da atuação da administração

pública, conforme os critérios disciplinados pela Constituição Federal de 1988, julgue

os itens abaixo.

(...)

5_ Compete ao Congresso Nacional fiscalizar as contas nacionais das empresas

supranacionais de cujo capital a União participe de forma direta ou indireta.

A resposta dada pela banca foi de assertiva incorreta. Não poderia agir de outra

forma, pois, conforme apresentado, essa função é do Tribunal de Contas da União.

3.6 – FISCALIZAÇÃO DE RECURSOS REPASSADOS PELA UNIÃO

Trataremos agora de um assunto bastante comum nas provas para o TCU. Para

melhor compreensão da matéria, vou dividir a fiscalização dos recursos repassados pela

União em duas partes: repasses voluntários e repasses não voluntários. Na aula de hoje

só trataremos da primeira espécie, em encontro futuro vamos abordar a segunda.

Com relação ao assunto a Constituição estabelece que:

‘VI - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União

mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao

Distrito Federal ou a Município;’

O dispositivo somente pode ser entendido se tivermos a compreensão do que

significa o termo convênio.

Convênio é um instituto do Direito Administrativo, pelo qual o Poder Público se

associa a outra entidade pública ou com entidades privadas, para que sejam produzidos

objetos de interesse comum, mediante mútua cooperação. Caracteriza o convênio o fato

de haver um acordo de vontade entre os signatários do ajuste.

Dessa forma, convênio se diferencia de contrato pelo fato de, neste último, haver

interesses divergentes (enquanto uma parte quer o preço, a outra quer o produto).

O convênio também se caracteriza por ser, em geral, uma transferência

voluntária de recursos. Quando a União repassa verbas a determinado município por

Page 7: Controle aula 5

CURSOS ON-LINE – CONTROLE EXTERNO P/ O TCU PROFESSOR MÁRCIO ALBUQUERQUE

www.pontodosconcursos.com.br 7

meio de convênio, ela está repassando o recurso por livre vontade sua, não há nenhum

dispositivo que obrigue a União a fazer a transferência. Se não há nenhuma obrigação

para a transferência, qual o interesse da União em fazê-lo?

A resposta é simples. Conforme já falado, o convênio tem como característica o

interesse comum dos signatários do ajuste. Dessa forma, a diminuição do analfabetismo

no país é tanto interesse da União como de qualquer município. Vislumbrando a

necessidade de construção de escola em determinado município, a fim de atingir esse

objetivo, a União pode celebrar um convênio. Por esse ajuste, em geral, serão utilizadas

verbas de ambas as esferas administrativas: União e município. A maior porcentagem,

via de regra, será da União.

Podemos dar números a esse hipotético caso. Suponhamos que para a construção

da mencionada escola seja necessário a quantia de R$ 100.000,00. Uma forma de dividir

os recursos seria R$ 90.000,00 a cargo da União e o restante a cargo do município, a

título de contrapartida.

Dessa forma, teríamos um repasse voluntário de R$ 90.000,00 da União para

determinado município, com o objetivo de aquele ente federativo construir uma escola.

Ultrapassado o conceito de convênio, vamos verificar o significado da expressão

‘FISCALIZAR A APLICAÇÃO’, contida na parte inicial do dispositivo.

Considerando que a transferência por meio de convênio é uma transferência

voluntária e que, por isso, deve haver interesse mútuo dos participantes, competirá a

União (ente repassador do recurso, também chamado de ente concedente) fiscalizar se

os recursos foram aplicados no objeto do convênio, ou seja, no caso hipotético, na

construção de uma escola. Caso o município (ente responsável pela aplicação dos

recursos, também chamado de ente convenente) não aplique os recursos no objeto que

foi avençado, pode ser compelido a devolver os recursos aos cofres da União.

Outro significado da expressão ‘FISCALIZAR A APLICAÇÃO’ é a

possibilidade de o concedente verificar se o convenente respeitou todos os normativos

aplicados à utilização dos recursos públicos, razão pela qual poderá checar se, entre

outras coisas, a Lei de Licitações e Contratos foi cumprida.

Resumindo o Tribunal de Contas da União tem competência para tanto para

verificar se o objeto do convênio foi cumprido como para checar se o convenente

respeitou os normativos ligados ao gasto dos recursos públicos.

Interessante notar que a Constituição se refere a convênio, ajuste o outros

instrumentos congêneres, ou seja, a qualquer transferência voluntária.

Page 8: Controle aula 5

CURSOS ON-LINE – CONTROLE EXTERNO P/ O TCU PROFESSOR MÁRCIO ALBUQUERQUE

www.pontodosconcursos.com.br 8

Conforme anteriormente, mencionado, em encontro futuro, trataremos da

competência do TCU quando os recursos envolvidos não forem repassados de forma

voluntária.

3.7 PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÕES AO CONGRESSO NACIONAL

O tema é apresentado da seguinte forma na constituição:

‘VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer

de suas Casas, ou por qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização

contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre resultados de

auditorias e inspeções realizadas;’

Como já várias vezes mencionado nesse curso, o responsável pelo controle

externo é o Congresso Nacional. Assim sendo, para o exercício de sua competência, o

Congresso Nacional possui a necessidade de saber os resultados das fiscalizações

realizadas pelo Tribunal de Contas da União.

A competência ora em apreço muito se assemelha ao que estudamos no item 3.4

acima. Assim, as mesmas informações lá prestadas também cabem aqui. Volta a chamar

a atenção para o fato de que as informações não podem ser prestadas a um Deputado ou

Senador isoladamente.

Acrescento apenas nesse item que, diferentemente do preconizado no inciso IV,

aqui a Constituição se refere a qualquer das comissões do Congresso Nacional. No

inciso IV, a Carta Política se refere às comissão técnica ou de inquérito.

A redação do inciso VII é mais abrangente do que a do inciso IV. Ao se referir a

qualquer comissão no inciso VII, a constituição abrante além das comissões técnicas e

de inquérito, outras que possam ser formadas permanente ou temporariamente. Como

exemplo, cito a comissão formada para acompanhar o desenrolar do caso do brasileiro

assassinado no metrô de Londres.

Na última prova para o cargo de Analista de Controle Externo do Tribunal de

Contas da União, a matéria foi cobrada da seguinte forma:

‘O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, é exercido com auxílio do

Tribunal de Contas da União, ao qual compete prestar informações solicitadas pelo

Congresso Nacional, por qualquer de suas casas ou por quaisquer de seus membros,

sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial e sobre

resultado de auditorias e inspeções realizadas.’

Page 9: Controle aula 5

CURSOS ON-LINE – CONTROLE EXTERNO P/ O TCU PROFESSOR MÁRCIO ALBUQUERQUE

www.pontodosconcursos.com.br 9

Pelo que foi apresentado, podemos perceber que a assertiva está incorreta, pois

os membros do Congresso Nacional não possuem competência, isoladamente, para

solicitar as informações.

3.8 – POSSIBILIDADE DE O TCU APLICAR SANÇÕES

Vejamos o que disciplina o inciso VII do art. 71 da CF:

‘VIII - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou

irregularidade de contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras

cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário;’

Mais a frente, vou dedicar um capítulo só para estudarmos as sanções que o

Tribunal de Contas da União pode aplicar. Por ora, apenas, vou-me preocupar com o

entendimento do dispositivo constitucional.

Algumas observações são necessárias para a melhor compreensão desse inciso.

Podemos perceber, de plano, que em alguns casos, o Tribunal de Contas da União pode

aplicar sanções aos responsáveis por recursos públicos. Estabelece o dispositivo que,

somente com previsão legal, pode o TCU aplicar sanção ao responsável. Estamos

diante, então, do princípio da reserva legal. Dessa forma, somente se lei (stictu sensu)

prever a possibilidade de sanção é que o Tribunal poderá utilizar-se dessa faculdade.

Assim, não pode o TCU criar por meio de seu Regimento Interno uma sanção que não

esteja prevista em alguma lei.

Importante notarmos, também, que a Constituição não restringiu a uma lei

específica a necessidade de disciplinar a matéria. Dessa forma, fica a critério do

legislador infraconstitucional estabelecer as leis que vão aplicar sanções aos

responsáveis. Nesse sentido, não é apenas a Lei Orgânica do TCU que pode prever

sanções. Tanto é assim que a Lei 10.028, de 2000, que disciplina a os crimes fiscais, em

seu art. 5°, estabelece que as infrações administrativas serão processadas e julgadas pelo

Tribunal de Contas a que competir a fiscalização. Caso o Tribunal verifique a existência

de infração, poderá aplicar multa de até 30% sobre os vencimentos do agente infrator.

Dessa forma, temos que não é só a Lei Orgânica do TCU que pode prever

sanções. A matéria poderia ser questionada da seguinte forma no concurso:

‘Desde que previsto em sua Lei Orgânica, pode o Tribunal de Contas da União

aplicar, em caso de ilegalidade de despesa, sanções aos responsáveis.’

A assertiva estaria incorreta, pois, conforme visto, não precisa que a sanção

esteja prevista na Lei Orgânica do TCU, podendo outra lei qualquer prever a sanção.

Page 10: Controle aula 5

CURSOS ON-LINE – CONTROLE EXTERNO P/ O TCU PROFESSOR MÁRCIO ALBUQUERQUE

www.pontodosconcursos.com.br 10

Outra observação acerca desse inciso se refere ao tipo de sanção que o TCU

pode aplicar. Ao mencionar a expressão ‘ENTRE OUTRAS COMINAÇÕES’, o

constituinte deixou claro que não pretendia apresentar um rol taxativo de sanções. Dessa

maneira, temos que a sanção de multa prevista no inciso em análise é apenas

exemplificativa.

3.9 – POSSIBILIDADE DE SUTAÇÃO DE ATOS E CONTRATOS

ADMINISTRATIVOS

Verificaremos, agora, qual a extensão da competência do TCU, ante a

constatação de descumprimento de dispositivo legal.

Irei tratar, nesse tópico, dos incisos IX a XI do art. 71 da CF, bem como de seus

parágrafos 1° e 2°.

A redação do inciso IX do art. 71 da CF é a seguinte:

‘IX - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências

necessárias ao exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;’

O presente dispositivo assevera que compete ao Tribunal de Contas da União

verificar se os administradores pautam as suas gestões em ações que sejam realizadas

em consonância com os dispositivos legais que regem a Administração Pública. Caso

seja verificada qualquer ilegalidade, competirá ao TCU determinar que o responsável

pela ação, em prazo estipulado pelo Tribunal, adote providências no sentido de sanar a

ilegalidade.

É esse dispositivo constitucional que permite ao Tribunal de Contas da União,

em processo de fiscalização ou de contas, verificar a legalidade dos atos de nomeação

dos cargos de livre provimento.

Ocorre que nem sempre o responsável pela ação irá cumprir a determinação do

Tribunal de Contas da União. Nesse caso, o que o Tribunal poderá fazer?

A primeira providência é verificar se a ilegalidade decorre de ato ou de contrato

administrativo. Vamos então separar nossa explicação. Primeiramente vamos tratar dos

atos administrativos, para, em seguida, falar dos contratos.

Sem querer aprofundar o assunto, uma vez que não é objeto de nossa matéria,

acredito interessante fazer uma breve distinção de ato e de contrato.

O ato administrativo decorre da vontade unilateral da administração. Como

exemplo, cito a remoção de servidor público por interesse da administração.

Page 11: Controle aula 5

CURSOS ON-LINE – CONTROLE EXTERNO P/ O TCU PROFESSOR MÁRCIO ALBUQUERQUE

www.pontodosconcursos.com.br 11

Já no contrato temos vontade de duas ou mais pessoas. Assim, quando a

administração contrata determinada firma para execução de serviço de pintura, temos

que a firma se interessou no preço a ser pago pela administração e essa se interessou no

serviço que será prestado. Verificamos, então, que, para a execução do serviço, teremos

a vontade de duas pessoas.

Quando a ilegalidade decorrer de ato administrativo, teremos um caminho mais

curto para percorrer, pois a própria Constituição concede competência para o Tribunal

de Contas da União sustar diretamente o ato. Vejamos, então, o que preconiza o inciso

X do art. 71:

‘X - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a

decisão à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;’

Algumas observações precisam ser feitas.

Podemos reparar que a Constituição não concedeu competência para que o TCU

anule o ato impugnado. De acordo com o nosso ordenamento jurídico somente pode

anular o ato aquele que o praticou ou o Poder Judiciário. Assim, o TCU não detém

competência para a anulação. Pode, entretanto, sustar a execução do ato.

Qual seria, então, o significado da expressão ‘SUSTAR O ATO’?

Significa que a Corte de Contas retira a eficácia do ato. Dessa forma, apesar de

ainda estar no mundo jurídico, o ato não mais produzirá efeitos algum.

Como exemplo, caso o ato sustado seja a concessão de aposentadoria, esse

benefício, após a sustação, ainda vai estar no mundo jurídico. Não caberá, entretanto, ao

aposentando receber qualquer quantia relativa a essa aposentadoria, sob pena de ter que

devolvê-la no futuro. O ato só sairá do mundo jurídico quando for anulado.

Devemos lembrar que, conforme estudado há pouco, o Tribunal de Contas da

União tem a faculdade de aplicar sanções aos responsáveis por recursos públicos,

quando previstas em lei. Esclareço que a Lei Orgânica do TCU, em seu art. 58, inciso

VII, prevê que a reincidência no descumprimento de determinação da Corte de Contas

pode ser punida com multa.

Dessa maneira, não é muito comum que o Tribunal venha a ter que sustar atos

administrativos, ante o poder coercitivo que lhe foi dado. Reparem que estou dizendo

que não é comum, isso NÃO quer dizer que o Tribunal NÃO possa sustar o ato, caso

haja a necessidade.

Antes de prosseguirmos, vale fazer mais uma observação relacionada ao inciso

X. O constituinte colocou que, ao sustar o ato, o Tribunal deve comunicar essa decisão à

Page 12: Controle aula 5

CURSOS ON-LINE – CONTROLE EXTERNO P/ O TCU PROFESSOR MÁRCIO ALBUQUERQUE

www.pontodosconcursos.com.br 12

Câmara dos Deputados e ao Senado Federal. Reparem que não foi dito que a

comunicação deve ser dirigida ao Congresso Nacional e sim às duas casas isoladamente,

então tomemos cuidado com essa colocação na prova.

E em caso de contrato, o que o Tribunal poderá fazer.

De imediato, o Tribunal não detém competência para sustar o contrato. Dessa

forma, caso se depare com ilegalidade ocorrida no âmbito de contrato administrativo,

deve comunicar a ilegalidade ao Congresso Nacional, que adotará as providências

necessárias para a sua sustação. Vejamos o que dispõe o § 1° do art. 71:

‘§ 1º - No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pelo

Congresso Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas

cabíveis.’

O dispositivo informa que o Congresso Nacional solicitará, de imediato, ao

Poder Executivo a adoção das medidas cabíveis. Ocorre que nem sempre o Poder

Executivo é o responsável pelo contrato.

O que acontecerá se o contrato ilegal for de responsabilidade do Poder

Judiciário? Entendo que nesse caso, o constituinte utilizou o Poder Executivo de forma

genérica. Assim, a comunicação deve ser dirigida ao Poder responsável pela execução

do contrato ilegal, pois, conforme vimos anteriormente, somente o responsável pelo

contrato – ou o Poder Judiciário - terá competência para anular o contrato ilegal.

Sabemos que as decisões do Congresso Nacional são eminentemente políticas e

que não é fácil incluir uma matéria na pauta de votação do Congresso. Nessa linha de

raciocínio, acredito que não seria razoável esperar que o Congresso Nacional delibere

acerca da ilegalidade de contrato firmado entre um órgão qualquer e uma padaria, cujo

objeto seja o fornecimento de 50 pães por dia. Para preencher essa lacuna o constituinte

trouxe o § 2° do art. 71 da CF, que apresenta a seguinte redação:

‘§ 2º - Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de noventa dias,

não efetivar as medidas previstas no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito.’

Resta-nos verificar, então, qual o significado da expressão decidir a respeito.

O art. 251, §§ 3° e 4°, do Regimento Interno\TCU nos apresenta a resposta.

‘Art. 251. (...)

§ 3º Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de noventa dias,

não efetivar as medidas previstas no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito

da sustação do contrato.

Page 13: Controle aula 5

CURSOS ON-LINE – CONTROLE EXTERNO P/ O TCU PROFESSOR MÁRCIO ALBUQUERQUE

www.pontodosconcursos.com.br 13

§ 4º Verificada a hipótese do parágrafo anterior, e se decidir sustar o contrato,

o Tribunal:

I – determinará ao responsável que, no prazo de quinze dias, adote as medidas

necessárias ao cumprimento da decisão;

II – comunicará o decidido ao Congresso Nacional e à autoridade de nível

ministerial competente.’

Podemos verificar de tudo que foi colocado que, se o Tribunal verificar a

ocorrência de ilegalidade em ato administrativo, poderá ele próprio sustar a execução do

ato impugnado. Já em caso de contrato, o Tribunal somente poderá sustar sua execução

se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de 90 dias, não adotar as

providências pertinentes.

Importante notar que independentemente de se tratar de ato ou de contrato a

Constituição prevê que o Tribunal de Contas da União represente ao Poder competente

no caso de constatação de irregularidade ou abuso apurado. É o que está previsto no

inciso XI do art. 71.

‘XI - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos

apurados.’

A necessidade da comunicação se dá, entre outras coisas, porque somente o

Poder competente pode aplicar sanções administrativas ao responsável.

Para encerrar o assunto, considero interessante trazer à tona o pensamento

apresentado pelo Supremo Tribunal Federal por ocasião do julgamento do Mandado de

Segurança 23550\DF.

Essa ação foi impetrada contra decisão do TCU que havia determinado ao

responsável por órgão público que adotasse os procedimentos necessários para a

anulação de certo contrato administrativo.

Considerando que havia sido lesado em seu direito, o contatado impetrou o

referido mandado de segurança.

A decisão do Pretório Excelso foi no sentido de que o TCU havia sim

competência para determinar a anulação do contrato. A Suprema Corte assim entendeu

por que a Constituição concedeu competência para a Corte de Contas ‘assinar prazo

para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato cumprimento

da lei, se verificada ilegalidade’ – Inciso IX do art. 71. Dessa forma, quando a Corte de

Contas entender que a única forma de conseguir a legalidade é por meio da anulação do

contrato, pode assinar prazo para que o órgão adote essa providência.

Page 14: Controle aula 5

CURSOS ON-LINE – CONTROLE EXTERNO P/ O TCU PROFESSOR MÁRCIO ALBUQUERQUE

www.pontodosconcursos.com.br 14

Nesse mesmo julgado, o Supremo entendeu que o TCU só pode determinar que

algum órgão adote as medidas necessárias no sentido de anular certo contrato

administrativo após conceder ao contratado a oportunidade de defender a legalidade da

avença.

A matéria ora em estudado, corriqueiramente, é questionada nas provas para o

Tribunal de Contas da União. Vejamos alguns exemplos:

‘Compete ao Tribunal de Contas da União (TCU), diretamente, determinar a

sustação de contrato administrativo celebrado pelo Poder Executivo, comunicando o

ato de sustação ao Congresso Nacional. (ACE – Cespe/98)’

Verificamos que o Tribunal de Contas da União só tem competência para

sustar o contrato caso ocorra inércia do Congresso Nacional ou do Poder Executivo.

A Constituição, por meio do § 1° do art. 71, estabelece que compete diretamente ao

Congresso Nacional a sustação do contrato. Assim sendo, a assertiva está falsa.

‘Decretar a anulação de atos e contratos dos órgãos jurisdicionados

considerados ilegais (ACE – ESAF/2000)’.

Como anteriormente verificado, o Tribunal de Contas da União não detém

competência para anular nem ato nem contrato, o que o Tribunal pode fazer é

promover a sustação de atos diretamente e de contratos, caso seja observada inércia

do Congresso Nacional e do Poder Executivo.

3.10 EFICÁCIA DAS DECISÕES DO TRIBUNAL

Importante inovação trazida pelo constituinte de 1988 foi conceder eficácia de

título executivo extrajudicial às decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito

ou multa. ANTERIORMENTE à atual Carta Política, para que as decisões do Tribunal

de Contas da União ganhassem eficácia de título executivo, era necessário que o valor

do débito ou da multa fosse, primeiramente, inscrito na dívida ativa. Vejamos a redação

do § 3° do ar. 71 da CF:

‘§ 3º - As decisões do Tribunal de que resulte imputação de débito ou multa

terão eficácia de título executivo.’

Título executivo é aquele que já está pronto para o processo de execução, não

precisando passar pelo processo de conhecimento do Poder Judiciário, para que seja

reconhecida uma dívida.

Dessa forma, quando o Tribunal julga as contas de determinado responsável,

condenando-lhe ao pagamento de débito e multa, não há necessidade de qualquer

Page 15: Controle aula 5

CURSOS ON-LINE – CONTROLE EXTERNO P/ O TCU PROFESSOR MÁRCIO ALBUQUERQUE

www.pontodosconcursos.com.br 15

providência no âmbito do Poder Judiciário para que se inicie um processo de execução

contra o responsável.

Questões acerca da eficácia das decisões do Tribunal de Contas da União

comumente freqüentam as provas para o cargo de Analista de Controle Externo. Trago,

a seguir, alguns exemplos de como a matéria já foi solicitada:

‘As decisões do Tribunal de Contas da União, no exercício das suas funções

de controle externo, terão eficácia de título executivo judicial (ACE – ESAF/2000).

A assertiva é falsa, pois somente as decisões proferidas no âmbito do Poder

Judiciário possuem eficácia judicial.’

‘Pode o TCU constituir título executivo contra empresa privada. (ACE –

Cespe/2004).’

A assertiva está correta, quando o Tribunal condena em débito uma empresa

privada, estará constituindo um título executivo contra ela. Com relação à

possibilidade de o TCU condenar empresa privada, a matéria ainda será vista no

decorrer de nosso curso.

4 – CONTROLE DE DESPESAS NÃO AUTORIZADAS

O tema apresenta-se positivado da seguinte forma no art. 72 da CF.

‘Art. 72. A Comissão mista permanente a que se refere o art. 166, §1º, diante de

indícios de despesas não autorizadas, ainda que sob a forma de investimentos não

programados ou de subsídios não aprovados, poderá solicitar à autoridade

governamental responsável que, no prazo de cinco dias, preste os esclarecimentos

necessários.

§ 1º - Não prestados os esclarecimentos, ou considerados estes insuficientes, a

Comissão solicitará ao Tribunal pronunciamento conclusivo sobre a matéria, no prazo

de trinta dias.

§ 2º - Entendendo o Tribunal irregular a despesa, a Comissão, se julgar que o

gasto possa causar dano irreparável ou grave lesão à economia pública, proporá ao

Congresso Nacional sua sustação.’

Para esse dispositivo, acredito que sejam necessárias somente algumas

observações para melhor entendimento do tema.

Estamos diante de competência conjunta do Congresso Nacional e do Tribunal

de Contas da União. Assim, verificamos que, no dispositivo em tela, tanto a Comissão

Page 16: Controle aula 5

CURSOS ON-LINE – CONTROLE EXTERNO P/ O TCU PROFESSOR MÁRCIO ALBUQUERQUE

www.pontodosconcursos.com.br 16

Mista de Orçamento possui obrigações específicas como o Tribunal de Contas da União

também as têm.

Interessante notar que o parecer do Tribunal de Contas da União é apenas

opinativo, ou seja, não vincula nem a Comissão Mista de Orçamento nem o Congresso

Nacional.

Quem vai decidir se vai ou não sustar a despesa considerada irregular vai ser o

próprio Congresso Nacional.

A Esaf, na prova para o cargo de Analista de Controle Externo do ano de 2002,

apresentou a seguinte questão com relação a esse tema:

‘O controle externo no Brasil, quanto à fiscalização contábil, financeira e

orçamentária da Administração Pública Federal, atualmente, comporta atividades

diversificadas, compreendidas na competência:

a) exclusiva do Congresso Nacional.

b) exclusiva do Tribunal de Contas da União.

c) conjugadas e conjuntas do Congresso Nacional e do Tribunal de Contas da

União.

d) privativas umas do Congresso Nacional e outras do Tribunal de Contas da

União.

e) privativas umas do Congresso Nacional, outras do Tribunal de Contas da

União e algumas delas com a participação conjugada de ambos esses órgãos.’

Essa questão nos demonstra a necessidade de lermos todas as alternativas para

chegarmos a melhor resposta. O candidato mais afobado poderia marcar as letras ‘c’ ou

‘d’. Entretanto, a alternativa ‘e’ se apresenta mais completa. Realmente, no exercício do

controle externo, o Congresso Nacional possui funções privativas, como no caso de

julgamento das contas do Presidente da República. O Tribunal de Contas da União

também possui funções privativas, como no julgamento das contas dos administradores

públicos. Por fim, como na situação prevista no art. 72 da CF, algumas atribuições são

conjuntas.

Chegamos ao final de mais um encontro. Nessa aula, tivemos a oportunidade de

encerrar o estudo começado na aula passada. Volto a chamar a atenção para a

importância dessas duas aulas. Todas as provas para o cargo de Analista de Controle

Page 17: Controle aula 5

CURSOS ON-LINE – CONTROLE EXTERNO P/ O TCU PROFESSOR MÁRCIO ALBUQUERQUE

www.pontodosconcursos.com.br 17

Externo do Tribunal de Contas da União apresentam questões relacionadas às

competências constitucionais do TCU.

Como prova, apresento a seguir mais duas questões relacionadas ao tema e que

foram objeto de concursos passados.

‘O Tribunal de Contas da União (ACE – 1996 – Cespe)

(1) é um órgão auxiliar do Congresso Nacional, apesar de fazer parte do Poder

Judiciário.

(2) exerce a função de controle externo da administração federal, conforme

previsto na Constituição.

(3) examina e emite parecer relativo às contas apresentadas anualmente pelo

Presidente da República.

(4) pode aplicar sanções aos responsáveis, inclusive multas.

(5) pode fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União aos

Estados, aos Municípios e ao Distrito Federal.’

Examinaremos item por item.

O item 1 está incorreto, porque o TCU não faz parte do Poder Judiciário.

No item 2, está colocado que TCU exerce a função de controle externo,

conforme previsto na Constituição. Tivemos a oportunidade de ver nessas duas aulas

que quem exerce a função de controle externo é o Congresso Nacional, sendo auxiliado,

para tanto, pelo Tribunal de Contas da União. Dessa forma, a assertiva também está

incorreta.

O item 3 já foi analisada na aula passada. Reprisando, a questão está incorreta,

pois que emite parecer sobre as contas prestadas pelo Presidente da República é a

Comissão Mista de Orçamento, o Tribunal de Contas da União emite parecer prévio.

O item 4 está correto.

Por fim, o item 5 também está incorreto, como será visto mais adiante, não são

todos os recursos que o Tribunal de Contas da União pode fiscalizar a aplicação.

O próximo encontro vai ser dedicado ao estudo da composição e da organização

do Tribunal de Contas da União. Até lá e continuem estudando.