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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS Jonas Mangoni Rambo Controle estrutural e estudo das Inclusões Fluídas dos garimpos da região de Terra Nova do Norte e Nova Santa Helena, Província Aurífera Alta Floresta, Cráton Amazônico. Orientador: Profº Drº Francisco Egídio Cavalcante Pinho Cuiabá, 2014

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS

Jonas Mangoni Rambo

Controle estrutural e estudo das Inclusões Fluídas dos

garimpos da região de Terra Nova do Norte e Nova Santa

Helena, Província Aurífera Alta Floresta, Cráton Amazônico.

Orientador: Profº Drº Francisco Egídio Cavalcante Pinho

Cuiabá, 2014

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Cuiabá, 2014

REITORIA

Reitora

Profª. Drª. Maria Lucia Cavalli Neder

Vice-Reitor

Prof. Dr. João Carlos de Souza Maria

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

Pró-Reitora

Profª. Drª. Leny Caselli Anzai

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

Diretor

Prof. Dr. Martinho da Costa Araújo

DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS

Chefe

Prof. Dr. Paulo César Corrêa da Costa

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS

Coordenador

Prof. Dr. Amarildo Salina Ruiz

Vice-Coordenadora

Prof. Dr. Ronaldo Pierosan

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Nº 51

Controle estrutural e estudo das Inclusões Fluídas dos garimpos da região de Terra Nova do

Norte e Nova Santa Helena, Província Aurífera Alta Floresta, Cráton Amazônico.

JONAS MANGONI RAMBO

Orientador: Prof. Dr. Francisco Egídio Cavalcante Pinho Co-orientador: Prof. Dr. Elzio da Silva Barboza

Dissertação apresentada junto ao Programa de Pós-

Graduação em Geociências do Instituto de Ciências Exatas

e da Terra da Universidade Federal de Mato Grosso como

requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em

Geociências; Área de concentração: Metalogênese.

CUIABÁ

2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS

Controle estrutural e estudo das Inclusões Fluídas dos garimpos da região de Terra Nova do

Norte e Nova Santa Helena, Província Aurífera Alta Floresta, Cráton Amazônico.

JONAS MANGONI RAMBO

MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA

____________________________________________

Presidente: Profº. Dr. Francisco Egídio Cavalcante Pinho

_____________________________________________

1º Examinador: Profº. Dr. Paulo Cesár Corrêa da Costa

____________________________________________

2º Examinador: Profº Dr. Adelir José Strieder

Cuiabá, 2014.

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Dedico esse trabalho a todos os meus familiares e amigos, em especial para os meus pais, Fridolino Spies

Rambo e Cleoni de Fátima Mangoni Rambo, a minha irmã Bruna Raissa Mangoni Rambo e a minha

esposa Ana Paula Martins Pinheiro Santos.

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“O Senhor é meu pastor e nada me faltará...”

Salmos 23:1

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a meu Senhor e Salvador Jesus Cristo

pela dádiva da vida. Sei que sem Ele eu não teria conseguido. Seu amor, carinho e

fidelidade para comigo foram de extrema importância para que o sonho um dia se

tornasse realidade.

Não posso deixar de agradecer a minha família. Todos os meus parentes que

tiveram grande importância nesta conquista, mas gostaria de ressaltar a

importância dos meus pais e irmã. Gostaria de agradecer a minha mãe Cleoni de

Fátima Mangoni Rambo por todas as mensagens matinais, por todas as ligações

dirigidas a mim durante esses longos anos, por todas as noites que lhe fiz passar

em claro, sendo para me acalmar, sendo para cuidar de mim quando estava

enfermo ou por qualquer outro motivo. Agradeço-lhe por ter me enchido de amor,

carinho e atenção. Eu não poderia ter tido mãe melhor que você, mulher guerreira,

forte, batalhadora, amorosa, carinhosa, protetora, preocupada... enfim, uma Super

Mãe. Agradeço a meu pai, Fridolino Spies Rambo, por ser esse homem

maravilhoso, esse guerreiro, batalhador, espelho. Agradeço-te pai por nunca se

contentar com o pouco, por querer sempre mais, e querer sempre o melhor para a

nossa família, por não olhar para trás, por saber superar os golpes da vida e seguir

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sempre adiante de cabeça erguida. Saiba que se hoje tenho esses valores comigo

foi porque tive em quem me inspirar. Poucas vezes disse isso a você, e me

arrependo de não ter dito mais vezes, mas você é meu orgulho, sinto-me lisonjeado

de dizer que você é meu pai, o cabeça da família. Agradeço a minha irmã por ser

essa pessoa tão especial, por estar sempre comigo, me apoiando, me dando força

quando precisava, por torcer sempre por mim. Mana, você é um diamante que

Deus me deu, um diamante de valor imensurável, um presente inestimável.

Não posso deixar de agradecer aquela que me acalmou no meu sufoco, que

me deu ombro para chorar, que me deu carinho para acalmar, aquela que sem a

qual eu não teria decidido fazer mestrado, aquela que mudou a minha vida, que

mudou meu jeito de agir e de pensar, a mulher dos meus sonhos, a minha esposa

amada Ana Paula Martins Pinheiro Santos. Amor saiba que tudo que fiz foi

buscando o melhor para nós dois. Amor, se hoje eu realizo esse sonho, se hoje eu

alcanço essa vitória, se hoje concluo mais essa etapa da minha vida, é porque tive

você do meu lado. Se não fosse você eu não teria forças para chegar aonde chego

hoje.

Agradeço a Universidade Federal de Mato Grosso por ter me dado não só o

titulo de Bacharel em Geologia como também a oportunidade de ingressar no

Programa de Pós-Graduação em Geociências. Agradeço ao meu orientador

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Francisco Egídio Cavalcante Pinho por ter aceitado esse desafio, por ter lutado

comigo e ter me ajudado com seu conhecimento e sua dedicação.

Por fim, mas não menos importante, gostaria de agradecer todos os

professores e amigos que um dia entraram na minha vida e de diferentes formas me

ajudaram a realizar esse sonho. Essa vitória também é vossa.

Agradeço a todos, com muito amor e carinho.

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SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................................................................................ xviii

ABSTRACT ........................................................................................................................................................... xix

1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS ......................................................................................................................... 20

2. LOCALIZAÇÃO E VIAS DE ACESSO ..................................................................................................................... 22

3. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................................................... 24

4. ASPECTOS FISIOGRÁFICOS ............................................................................................................................... 26

5. GEOLOGIA REGIONAL....................................................................................................................................... 29

5.1. CONTEXTO GEOTECTÔNICO ............................................................................................................................. 29

5.2. PROVÍNCIA AURÍFERA DE ALTA FLORESTA ....................................................................................................... 31

6. GEOLOGIA LOCAL ............................................................................................................................................. 36

6.1. ROCHAS ENCAIXANTES DAS OCORRÊNCIAS ESTUDADAS ................................................................................. 36

6.1.1. GRANITO NHANDU ................................................................................................................................... 36

6.1.2. SUÍTE INTRUSIVA MATUPÁ ....................................................................................................................... 38

7. OCORRÊNCIAS AURÍFERAS ESTUDADAS ........................................................................................................... 42

7.1. MINA DO EDU ................................................................................................................................................... 42

7.2. GARIMPO DO PETECA ....................................................................................................................................... 49

7.3. FILÃO DO LAJE .................................................................................................................................................. 55

7.4. FILÃO DO COCHEIRA ......................................................................................................................................... 62

7.5. FILÃO DO VINTE ................................................................................................................................................ 70

8. INCLUSÕES FLUÍDAS ......................................................................................................................................... 78

8.1. INCLUSÕES FLUÍDAS – MINA DO EDU .............................................................................................................. 79

8.1.1. MICROTERMOMETRIA DA MINA DO EDU ................................................................................................. 81

8.2. INCLUSÕES FLUÍDAS – GARIMPO DO PETECA .................................................................................................. 84

8.2.1. MICROTERMOMETRIA DO GARIMPO DO PETECA .................................................................................... 87

8.3. INCLUSÕES FLUÍDAS – FILÃO DO LAJE .............................................................................................................. 89

8.3.1. MICROTERMOMETRIA DO FILÃO DO LAJE ................................................................................................ 92

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8.4. INCLUSÕES FLUÍDAS – FILÃO DO COCHEIRA ..................................................................................................... 94

8.4.1. MICROTERMOMETRIA DO FILÃO DO COCHEIRA ...................................................................................... 97

8.5. INCLUSÕES FLUÍDAS – FILÃO DO VINTE.......................................................................................................... 100

8.5.1. MICROTERMOMETRIA DO FILÃO DO VINTE ........................................................................................... 103

9. TRABALHOS DE INCLUSÕES FLUÍDAS NA PAAF ............................................................................................... 105

9.1. Garimpos estudados por Assis (2006) ............................................................................................................ 106

9.2. Garimpos estudados por Silva et al. (2008) .................................................................................................... 107

9.3. Garimpo do Papagaio estudado por Galé et al. (2011) .................................................................................. 112

9.4. Garimpo do Trairão estudado por Dias (2012) ............................................................................................... 113

10. DISCUSSÕES E CONCLUSÕES ........................................................................................................................ 115

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................................... 122

ANEXOS ............................................................................................................................................................. 125

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LISTA DE FIGURAS Figura 1: Mapa de localização da Mina do Edu e dos garimpos em epígrafe e vias de acesso. ................ 23

Figura 2: A) Laboratório de Inclusões Fluídas da UFMT; B) Platina de aquecimento e resfriamento

acoplada ao microscópio. ............................................................................................................................ 26

Figura 3: Localização da PAAF na compartimentação geocronológica do Cráton Amazônico

(Modificado de Tassinari & Macambira, 2004). ......................................................................................... 30

Figura 4: Mapa de localização e domínios geológicos da PAAF, destacando a área em epígrafe

(Modificado de Lacerda Filho et al. 2004 e Paes de Barros 2007). ............................................................ 35

Figura 5: A) Sienogranito de granulação fina; B) Sienogranito de granulação média; C)

Fotmomicrografia mostrando quartzo com textura poiquilítica; D) Fotomicrografia mostrando

plagioclásio com textura mirmequítica; E) Fotomicrografia mostrando microclima; F) Fotomicrografia

mostrando biotita alterando para clorita. ..................................................................................................... 37

Figura 6: Diagrama QAP plotadas as amostras do Granito Nhandu. ........................................................ 38

Figura 7: A) Forma de ocorrência do granito da Suíte Intrusiva Matupá; B, C) Amostra do granito da

Suíte Intrusiva Matupá; D) Forma de ocorrência dos diques. ..................................................................... 39

Figura 8: Diagrama QAP da Suíte Intrusiva Matupá. ................................................................................ 40

Figura 9: A, B) Fotomicrografia mostrando quartzo em objetiva de 4x; C) Fotomicrografia mostrando

biotita alterando para clorita em objetiva de 4x; D) Fotomicrografia mostrando microclina em objetiva de

4x. ............................................................................................................................................................... 41

Figura 10: Mapa da Mina do Edu mostrando a variação na granulometria do Granito Nhandu e a posição

da cava garimpeira. ..................................................................................................................................... 43

Figura 11: A, B) Foto da cava garimpeira da Mina do Edu....................................................................... 44

Figura 12: Estereograma de isovalores e polos da zona de cisalhamento da Mina do Edu. ...................... 44

Figura 13: A) Foto das Vênulas de Sulfeto; B) Foto das slikensides da zona de cisalhamento da Mina do

Edu. ............................................................................................................................................................. 44

Figura 14: Halos de alteração hidrotermal no Garimpo do Edu: 1) Halo de Sulfetação; 2) Halo de

Silicificação; 3) Halo de Cloritização; 4) Halo de Potassificação. ............................................................. 46

Figura 15: Localização das amostras enviadas para geoquímica. ............................................................. 47

Figura 16: Fotos da cava garimpeira do Garimpo do Peteca. .................................................................... 50

Figura 17: Mapa da cava garimpeira do Garimpo do Peteca mostrando sulfetação no entorno da área da

cava. ............................................................................................................................................................ 51

Figura 18: Estereograma de isolvalores e polos da falha do Garimpo do Peteca. ..................................... 52

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Figura 19: A e B) Slikensides do Garimpo do Peteca, mostrando o movimento sinistral. ........................ 52

Figura 20: Granito sulfetado do Garimpo do Peteca. ................................................................................ 53

Figura 21: A) Veio de quartzo perpendicular ao cisalhamento (contorno amarelo); B) Veio de quartzo

paralelo ao cisalhamento (contorno amarelo). ............................................................................................ 53

Figura 22: Mapa de localização dos garimpos dentro da Fazenda Figueira Branca (modificado de CPRM

2013). .......................................................................................................................................................... 56

Figura 23: A,B) Fotos da cava garimpeira do Filão do Laje. .................................................................... 56

Figura 24: A) Fácies do Granito Matupá de granulometria grossa; B) Fácies do Granito Matupá de

granulometria fina. ...................................................................................................................................... 57

Figura 25: Mapa da cava garimpeira do Filão do Laje. ............................................................................. 59

Figura 26: Estereograma de isovalores e polos da zona de cisalhamento do Filão do Laje. ..................... 60

Figura 27: A e B) Veio principal do Filão do Laje. ................................................................................... 60

Figura 28: ) Foto da antiga cava garimpeira do Filão do Cocheira; B) Foto da nova cava garimpeira do

Filão do Cocheira. ....................................................................................................................................... 63

Figura 29: Mapa do Filão do Cocheira. ..................................................................................................... 65

Figura 30: A, B) Veios de quartzo do Filão do Cocheira. ......................................................................... 66

Figura 31: A,B) Veios de quartzo com textura em pente. ......................................................................... 66

Figura 32: A) Dique intemperizado perpendicular a atitude principal (contorno branco). B, C, D) Veios

de quartzo paralelos à direção principal (contorno branco). ....................................................................... 67

Figura 33: Estereograma de isovalores e polos dos veios de quartzo do Filão do Cocheira. .................... 68

Figura 34: A, B) Fotografias da Cava garimpeira do Filão do Vinte. ....................................................... 70

Figura 35: A) Veio de quartzo paralelo ao filão principal (contorno preto); B,C) Veio principal do Filão

do Vinte (contorno branco). ........................................................................................................................ 71

Figura 36: Mapa geológico da área do entorno do Filão do Vinte. ........................................................... 72

Figura 37: Shaft usado para retirada de material e para translado de pessoas. .......................................... 73

Figura 38: Estereograma de isovalores e polos do veio principal do Filão do Vinte com atitudes de

N05E/85°SE. ............................................................................................................................................... 74

Figura 39: A,B) Filão principal visto de dentro do shaft, a uma profundidade de 45 metros.................... 74

Figura 40: A,B,C,D) Ouro livre (contornado pelas linhas brancas) no material do filão principal do Filão

do Vinte. ...................................................................................................................................................... 75

Figura 41: Mapa geológico do Filão do Vinte em profundidade de 45 metros (Shaft). ............................ 76

Figura 42: Inclusão do Grupo I da Mina do Edu. A) Foto de inclusão fluída monofásica; B) Desenho da

inclusão fluída monofásica. ........................................................................................................................ 80

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Figura 43: Foto da inclusão do Grupo II da Mina do Edu. A) Inclusão fluída trifásica; B) Desenho da

inclusão fluída trifásica. .............................................................................................................................. 81

Figura 44: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo I indicando a relação Frequência versus: A)

Fusão de CO2; B) Homogeneização total.................................................................................................... 82

Figura 45: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo II indicando a relação Frequência versus: A)

Fusão de CO2; B) Fusão do Clatrato; C) Salinidade; D) Homogeneização do CO2; E) Temperatura de

homogeneização total. ................................................................................................................................. 83

Figura 46: Inclusão do Grupo I do Garimpo do Peteca. A) Inclusão Fluída Bifásica; B) Desenho da

inclusão. ...................................................................................................................................................... 85

Figura 47: Inclusão do Grupo II do Garimpo do Peteca. A) Inclusão fluída Trifásica; B) Desenho da

inclusão fluída trifásica. .............................................................................................................................. 86

Figura 48: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo I indicando a relação Frequência versus: A)

Fusão do gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total. ............................ 88

Figura 49: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo II indicando a relação Frequência versus: A)

Fusão do gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total. ............................ 89

Figura 50: A) Trilhas de inclusões fluídas; B) Desenho das trilhas de inclusões. ..................................... 90

Figura 51: Inclusão do Grupo I do Filão do Laje. A) Foto de inclusão fluída bifásica; B) Desenho da

inclusão fluída bifásica. .............................................................................................................................. 90

Figura 52: Inclusão do Grupo II do Filão do Laje. A) Inclusão fluída trifásica; B) Desenho da inclusão

fluída trifásica. ............................................................................................................................................ 91

Figura 53: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo I indicando a relação Frequência versus: A)

Fusão do gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total. ............................ 93

Figura 54: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo II indicando a relação Frequência versus: A)

Fusão do gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total. ............................ 94

Figura 55: A) Trilhas de Inclusões Fluídas; B) Desenho das trilhas de inclusões. .................................... 95

Figura 56: Inclusão do Grupo I do Filão do Cocheira. A) Foto de inclusões fluídas bifásicas; B) Desenho

das inclusões fluídas bifásicas..................................................................................................................... 96

Figura 57: Inclusão do Grupo II do Filão do Cocheira. A) Foto de uma inclusão tifásica; B) Desenho da

inclusão fluída trifásica. .............................................................................................................................. 97

Figura 58: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo I indicando a relação Frequência versus: A)

Fusão do gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total. ............................ 99

Figura 59: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo II indicando a relação Frequência versus: A)

Fusão do gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total. .......................... 100

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Figura 60: A) Trilha de inclusões fluídas; B) Desenho das trilhas de inclusões fluídas.......................... 101

Figura 61: Inclusão do Grupo I do Filão do Vinte. A) Inclusão fluída bifásica; B) Desenho da inclusão

fluída bifásica. ........................................................................................................................................... 101

Figura 62: Inclusão do Grupo II do Filão do Vinte. A) Foto da inclusão fluída trifásica; B) Desenho da

inclusão fluída trifásica. ............................................................................................................................ 102

Figura 63: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo I indicando a relação Frequência versus: A)

Fusão do gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total. .......................... 104

Figura 64: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo II indicando a relação Frequência versus: A)

Fusão do gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total. .......................... 105

Figura 65: Modelo de diagrama Riedel com as orientações predominantes do domínio dúctil-rúptil

(modificado de Souza et al. 2005). .......................................................................................................... 116

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Produção de ouro no período de 1980 - 1999 em vários distritos auríferos do Estado de Mato

Grosso (METAMAT 2003, dados não publicados). ................................................................................... 21

Tabela 2: Resultados das análises geoquímica para as amostras da Mina do Edu. Valores em ppm. ....... 47

Tabela 3: Resultados da geoquímica para elementos traços da Mina do Edu. Valores em ppm, exceto o

Enxofre (S) que está em porcentagem. ....................................................................................................... 49

Tabela 4: Resultados da geoquímica para as amostras do Garimpo do Peteca. Valores apresentados em

ppm. ............................................................................................................................................................ 54

Tabela 5: Resultados da geoquímica para elementos traços do Garimpo do Peteca. Valores dados em

ppm, exceto Enxofre (%). ........................................................................................................................... 55

Tabela 6: Tabela com os resultados da geoquímica para amostras do Filão do Laje. Valores dados em

ppm. ............................................................................................................................................................ 61

Tabela 7: Tabela com os resultados da geoquímica para elementos traços do Filão do Laje. Valores dados

em ppm, exceto Enxofre (%). ..................................................................................................................... 62

Tabela 8: Tabela dos resultados da geoquímica das amostras do Filão do Cocheira. Valores dados em

ppm. ............................................................................................................................................................ 68

Tabela 9: Dados geoquímicos do Filão do Cocheira para elementos traços. Valores dados em ppm,

exceto Enxofre (%). .................................................................................................................................... 70

Tabela 10: Tabela de resultados da geoquímica do Filão do Vinte. Valores dados em ppm. .................... 77

Tabela 11: Dados geoquímicos para elementos traços do Filão do Vinte. Valores em ppm, exceto

Enxofre (%). ................................................................................................................................................ 78

Tabela 12: Tabela simplificada de elementos químicos correlacionáveis com o ouro para cada depósito.

Os quadros brancos apresentam teores baixos, os amarelos teores médios e os vermelho apresentam altos

teores. ........................................................................................................................................................ 117

Tabela 13: Dados da microtermometria dos Grupos I e II da Mina do Edu. Os valores apresentados são

os valores de maior ocorrência ................................................................................................................. 117

Tabela 14: Dados da microtermometria dos Grupos I e II do Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do

Cocheira e do Filão do Vinte. Os valores apresentados são os valores de maior ocorrência.

.................................................................................................................................................................. 118

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RESUMO

A Província Aurífera Alta Floresta (PAAF) localiza-se no norte do estado de Mato

Grosso, delimitada ao norte pelo Gráben do Cachimbo e ao sul pelo Gráben dos Caiabís. Se

enquadra na porção sul do Cráton Amazônico, entre as províncias geocronológicas Ventuari –

Tapajós e Rio Negro – Juruena. Na porção leste da PAAF foram selecionados 5 alvos para

elaboração deste trabalho: (i) Mina do Edu; (ii) Garimpo do Peteca; (iii) Filão do Laje; (iv) Filão

do Cocheira e (v) Filão do Vinte. O corpo mineralizado do Edu tem atitudes de

N55ºE/subvertical, e é classificado como estruturas do tipo T. Essas estruturas são fraturas

extensionais que ocorreram com a mesma atitude do esforço principal e, portanto, indicam a

direção do esforço compressivo principal e são preenchidas por veios de quartzo. A Mina do Edu

apresenta fluídos carbônicos e aquosa-carbônico. O Garimpo do Peteca e o Filão do Laje, com

atitudes de E-W/subvertical, são classificados como estruturas do tipo R. Os Filões do Cocheira e

do Vinte, com atitudes N-S/subvertical, são classificados como estruturas do tipo X, que são

zonas confinadas de cisalhamento transcorrente geradas a partir da nucleação de fraturas de

cisalhamento dextral. O Garimpo do Peteca, o Filão do Laje, Filão do Cocheira e Filão do Vinte

apresentam fluídos estritamente aquosos, variando de alta a média salinidade. Esses fluídos

distintos sugerem mineralizações provenientes de uma mesma fonte magmática, no entanto,

devido à distância de algumas ocorrências da fonte, o fluído foi interagindo com outros fluídos,

se distinguindo assim do fluído primário.

Palavras-chave: Inclusões Fluídas, veios mineralizados a ouro, estruturas tectônicas, Província

Aurífera de Alta Floresta.

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ABSTRACT

The Alta Floresta Gold Province (PAAF) is located in the northern state of Mato Grosso,

bounded on the north by the Gráben do Cachimbo and on the south by Gráben dos Caiabis. The

PAAF fits in the southern portion of the Amazon Craton, between the Ventuari - Tapajós and

Rio Negro - Juruena geochronological provinces. In the eastern portion of PAAF 5 targets were

selected for the present work: (i) Mina do Edu (ii) Garimpo do Peteca (iii) Filão do Laje , (iv)

Filão do Cocheira (v) Filão do Vinte. The mineralized body of the Mina do Edu has attitude of

N55ºE/subvertical, and is classified as structures of the T type. These structures are extensional

fractures that occurred with the same attitude as the main effort, and therefore indicate the

direction of the main compressive stress and are filled by quartz veins. The Mina do Edu

presents carbonic and aqueous-carbonic fluid inclusions. The Garimpo do Peteca and Filão do

Laje, with attitudes of EW/subvertical, are classified as structures of the R type. The Filão do

Cocheira and Filão do Vinte, with attitudes NS/subvertical, are classified as structures of the X

type, which are enclosures transcurrent shear generated from the nucleation of dextral shear

fractures. The Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do Cocheira and Filão do Vinte presents

strictly aqueous fluid inclusions, ranging from high to medium salinity. These different fluids

suggest mineralization from the same magmatic source, however, due to the distance of the

source from some instances, the fluid was interacting with other fluids, thus distinguishing from

the primary fluid.

Keywords: Fluid Inclusions, gold mineralized veins, tectonic structures, Alta Floresta Gold

Province.

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1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS

O Cráton Amazônico corresponde a uma das maiores áreas cratônicas do planeta,

abrangendo aproximadamente 4,3 milhões de km2 (Tassinari & Macambira, 2004). Sua gênese

teria ocorrido mediante a acresção de sucessivos arcos magmáticos que envolveram a formação

de material juvenil, além de subordinados processos de retrabalhamento crustal durante o

Paleoproterozóico em torno de um núcleo arqueano (Província Amazônia Central) estabilizado

por volta de 2,5 Ga (Dardene & Schobbenahus, 2000; Tassinari & Macambira, 2004; Cordani et

al., 2009). A Província Aurífera Alta Floresta (PAAF) está localizada na porção centro-sul do

Cráton Amazônico (centro-norte do estado do Mato Grosso). Essa província configura uma área

alongada de direção noroeste-sudeste limitada a norte pelo Gráben do Cachimbo, que a separa da

Província Aurífera do Tapajós (PAT), e a sul pelo Gráben dos Caiabis. A PAAF engloba partes

das Províncias Geocronológicas Ventuari-Tapajós (1,95 – 1,8 Ga) e Rio Negro-Juruena (1,8 –

1,55 Ga) na concepção de Tassinari & Macambira (1999).

As primeiras ocorrências auríferas na região remetem aos municípios de Peixoto de

Azevedo e Matupá, no ano de 1978, com a construção da rodovia BR-163, que liga a capital

mato-grossense Cuiabá a Santarém, no estado do Pará (Paes de Barros 1994, Moura 1998). Essas

ocorrências atraíram um grande contingente de garimpeiros à região, o que resultou na

descoberta de inúmeros depósitos auríferos aluvionares ao longo do Rio Peixoto de Azevedo e

seus afluentes. Com a diminuição e exaustão destas reservas de enriquecimento secundário,

abriu-se caminho ao descobrimento de várias ocorrências de ouro primário em filões (Moreton &

Martins 2005, Paes de Barros 2007), etapa que se estende até o presente.

O potencial metalogenético da província para mineralizações auríferas pode ser

demonstrado pela sua produção acumulada de ouro da ordem de 160 ton, gerada no período entre

1980 a 1999 (Tab. 1), quando foi uma das principais regiões auríferas do país. O seu histórico de

produção e o grande número de ocorrências primárias indicam que a PAAF ainda sustenta um

potencial exploratório significativo. Além disso, sempre que ocorre a ascensão do preço do ouro,

várias empresas de exploração mineral, na sua maioria Juniors, investem na descoberta de novos

depósitos ou na reavaliação do potencial daqueles já conhecidos na PAAF.

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Atualmente, uma grande parcela desses depósitos concentra-se no setor leste da

província, particularmente na região que abrange os municípios de Peixoto de Azevedo, Novo

Mundo, Guarantã do Norte, Matupá e Terra Nova do Norte. Neste cenário, a área em epígrafe se

localiza entre os municípios de Nova Santa Helena e Terra Nova do Norte, abrangendo, entre

outros, a mina do Edu, o garimpo do Peteca e os Filões do Vinte, do Laje e do Cocheira, estes

últimos localizados na Fazenda Figueira Branca, alvos dos estudos.

Tabela 1: Produção de ouro no período de 1980 - 1999 em vários distritos auríferos do Estado de Mato Grosso (METAMAT 2003, dados não publicados).

Província e/ou distrito

Extensão da área explorada (há)

Produção (ton) 1980-1999

Reservas em metal (ton)

Produção Tonelada

Cubada Potencial 1999 2000

Baixada Cuiabana 15.000 70

13,85 200 1,8 2,2

Xavantina 500 6 19,84 20 - -

Guaporé 2.000 30 48,6 300 1,5 2,0

Alta Floresta 500.000 160 26 600 3,2 3,8

Sub-Total 517.500 266 108,29 1.120 6,5 8,0

As inclusões fluídas são paleolíquidos trapeados em minerais, que na verdade são as

verdadeiras amostras dos fluídos responsáveis pelas mineralizações e que colaboram

significativamente na construção de modelos metalogenéticos favorecendo a descoberta de novas

reservas com melhor potencial exploratório. Os dados gerados a partir destas inclusões

oportunizam conhecer as condições físico-químicas reinantes durante e/ou após a cristalização e

a recristalização do mineral hospedeiro, fornecendo informações sobre os processos que estão

relacionados à formação ou aos eventos superimpostos a este mineral. Alguns trabalhos de

inclusões fluídas têm sido realizados na PAAF com a intenção de caracterizar as condições

físico-químicas dos fluídos mineralizantes (Silva et. al 2008, Gale et al. 2011, Dias 2012).

Este trabalho objetiva caracterizar as mineralizações na área de pesquisa enfatizando

aspectos geológicos estruturais e determinar a natureza dos fluídos mineralizantes. Para alcançar

tais objetivos foi utilizada a geologia estrutural concomitante com o estudo das inclusões fluídas.

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2. LOCALIZAÇÃO E VIAS DE ACESSO

A área em epígrafe localiza-se entre as sedes dos municípios de Nova Santa Helena e de

Terra Nova do Norte (Fig. 1), no norte do estado de Mato Grosso, a uma distância de

aproximadamente 700 km de Cuiabá, capital do Estado. O acesso terrestre é feito pela BR 163, a

qual corta a área de estudo e dá acesso as sedes municipais de Nova Santa Helena a Terra Nova

do Norte. Abaixo as descrições detalhadas de como se chegar as ocorrências auríferas estudadas:

- Mina do Edu (Longitude: 698124; Latitude: 8802548): A mina do Edu se localiza a

aproximadamente 3 km do centro da cidade de Nova Santa Helena, a margem esquerda da BR

163 com sentido Nova Santa Helena a Terra Nova do Norte.

- Garimpo do Peteca (Longitude: 726516; Latitude: 8813013): O acesso ao Garimpo do

Peteca pode ser feito tanto pelo município de Nova Santa Helena quanto pelo município de Terra

Nova do Norte. Para o acesso pelo município de Nova Santa Helena, se faz necessário tomar a

MT 320 que liga a cidade de Nova Santa Helena a cidade de Marcelândia. Após

aproximadamente 10 km na MT 320, toma-se uma estrada vicinal que dará acesso ao Garimpo

do Peteca. Já para o acesso ao Garimpo do Peteca partindo da cidade de Terra Nova do Norte, se

faz necessário tomar a BR 163 com sentido ao município de Peixoto de Azevedo, e após 3 km na

BR 163 adentra-se a margem direita da BR em estradas vicinais que nos levarão até ao Garimpo

do Peteca.

- Fazenda Figueira Branca: A Fazenda Figueira Branca contém 3 ocorrências auríferas

estudadas por esse projeto, Filão do Laje (Longitude: 736889; Latitude: 8814471, Filão do

Cocheira (Longitude: 737215; Latitude: 8816925) e Filão do Vinte (Longitude: 737980;

Latitude: 8817710). O acesso a Fazenda Figueira Branca pode ser feito pelas duas cidades já

mencionadas, Terra Nova do Norte e Nova Santa Helena. Para se fazer o acesso pela cidade de

Nova Santa Helena, toma-se a MT 320 com sentido á cidade de Marcelândia, onde, ao andarmos

aproximadamente 10 km na MT 320, tomamos estradas vicinais, as quais nos levam até a sede da

Fazenda Figueira Branca através de placas. Para o acesso pela cidade de Terra Nova do Norte,

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percorre-se aproximadamente 3 km pela BR 163 com sentido ao município de Peixoto de

Azevedo, onde toma-se na margem direita da BR 163 estradas vicinais que nos levam até a sede

da Fazenda Figueira Branca por informações contidas em placas.

Figura 1: Mapa de localização da Mina do Edu e dos garimpos em epígrafe e vias de acesso.

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A primeira etapa deste trabalho consistiu em levantamento e estudos de referências

bibliográficas tanto dos métodos aplicados quanto do contexto geológico regional, dando ênfase

em trabalhos realizados na Província Aurífera Alta Floresta.

TRABALHO DE CAMPO

Para alcançar os objetivos propostos foram realizadas 3 etapas de campo que totalizam 25

dias. A primeira etapa foi compreendida entre os dias 17 a 27 de Abril de 2012 (10 dias), a

segunda etapa foi realizada entre os dias 20 a 30 de Outubro de 2012 (10 dias) e a última etapa

entre os dias 19 a 24 de Abril de 2013 (5 dias).

Durante essas etapas de campo foram coletadas amostras para geoquímica e para

petrografia, foram realizados levantamentos de dados estruturais, reconhecimento dos veios

mineralizados e classificação das diferentes fácies litológicas. Através destes dados, foi possível

dar prosseguimento as outras etapas do projeto.

PETROGRAFIA

Para o estudo da petrografia foram confeccionadas 7 lâminas delgadas no Laboratório de

Laminação da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp). Os estudos petrográficos foram

realizados no laboratório de pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso em microscópio

petrográfico modelo Olimpus Bx 41. Para captura das fotomicrografias foi utilizada uma câmera

com conexão USB acoplada ao microscópio (Infinity 1).

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GEOQUÍMICA

No total, 34 amostras representativas dos garimpos e de suas proximidades foram

enviadas para análises geoquímicas de teor de ouro, sendo estas coletadas em diferentes zonas de

alteração hidrotermal dos garimpos.

Essas amostras foram encaminhadas para o laboratório ACME LABS, em Vancouver,

Canadá, e analisadas através do pacote Au+ICP, o qual utiliza o espectrômetro de massas para

obter os resultados. O pacote selecionado foi escolhido para obtenção dos metais preciosos (Au,

Ag), metais de base (Cu, Zn, Pb) e alguns elementos-traço (As, Bi, Cd, Hg, Mo, Ni, Sb, Se, Tl).

ESTUDO DE INCLUSÕES FLUÍDAS

Para o estudo de Inclusões Fluídas foram confeccionadas 10 lâminas bi-polidas, duas

lâminas para cada ocorrência estudada, no laboratório de laminação da Universidade Estadual de

São Paulo (UNESP).

Os estudos de inclusões fluídas foram realizados em quartzos provenientes dos filões

mineralizados, com foco na caracterização das populações de inclusões fluídas, distribuição e

tipos dos fluídos presentes em cada caso. As análises microtermométricas foram realizadas no

Laboratório de Inclusões Fluidas do Departamento de Recursos Minerais da Universidade

Federal de Mato Grosso (UFMT) (Fig. 2A), em uma platina de aquecimento/resfriamento

LINKAM THMSG600 adaptada a um microscópio convencional Olympus (Fig. 2B).

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Figura 2: A) Laboratório de Inclusões Fluídas da UFMT; B) Platina de aquecimento e resfriamento acoplada ao

microscópio.

4. ASPECTOS FISIOGRÁFICOS

GEOMORFOLOGIA

A geomorfologia comumente encontrada na área de estudo, corresponde a um relevo

dessecado, característico do granito Matupá, devido a exposição ao intemperismo das regiões

tropicais.

Com base em ZSEE-MT (O Zoneamento Sócio-Ecológico-Econômico do Estado de

Mato Grosso), essa região compõe a Depressão Inter Planáltica da Amazônia Meridional,

podendo haver resquícios de Planaltos Residuais, no norte do Mato Grosso.

A altimetria observada na área de estudo, varia entre 250 a 350 m acima do nível do mar,

compondo um relevo aplainado, com locais pontualmente elevados. O granito Matupá apresenta

elevações na forma de morrotes isolados, com topos ovalados e geralmente ricos em

afloramentos. Na porção NE da área é possível se observar lineamentos na forma de cristas de

direção E-W que representam grandes veios de quartzo estéreis, com capacidade de realçar o

relevo em sua volta.

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Nos locais onde ocorre a Suíte Colíder as cotas variam entre 300 a 450m acima do nível

do mar, com lineamento passives de serem delineados sob a forma de serras, platores e vales.

Essa litologia sustenta uma densa cobertura vegetal. Dados esses obtidos com o auxilio de

imagens SRTM e satélite auxiliando na interpretação geomorfológica da área.

SOLOS

Os solos desenvolvidos na área são derivados da alteração in situ, das rochas Pluto-

vulcânicas mapeadas em campo. Os solos de matriz fina, argilosa proveniente da alteração do

Granito Matupá rico em K-Feldspato, mineral facilmente alterado para argila, apresenta

coloração vermelha a rósea. Pode ainda haver fácies de cristalização ou intrusões de pequenos

corpos ígneos, mais ricos em plagioclásio, gerando solos de cor amarela. Os solos encontrados

nas regiões de Terra Nova do Norte, Alta Floresta e Peixoto de Azevedo, condizem com

Neosolos e Alissolos.

Os Neossolos apresentam ausência de horizonte B, as cores variam entre vermelho,

amarelo até cores mais claras, possuem textura arenosa de granulometria média caracterizando

solos pouco profundos.

Os Alissolos são mais distribuídos na área de estudo, apresentam cores variando entre

vermelho e amarelo, apresentando uma textura media a argilosa que variam de pouco profundo a

profundo.

Quando na presença de rochas básicas, que ocorrem restritos a diques pouco espessos, os

solos são argilosos de coloração vermelha. Semelhante a ocorrências de solo produto de

alteração das rochas vulcânicas do extremo NE da área.

HIDROGRAFIA

As drenagens que influenciam a área de estudo são pertencentes à bacia do Rio Peixoto

que é uma sub-bacia do Rio Amazonas. Foram observadas através de tratamento digital,

drenagens de 1a,2

a, 3

a e 4

a ordens, que geralmente se apresentam com direções NE, N-S e W-E.

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Existem dois rios principais na área, Rio do Pombo e o Rio Figueira, estes dois rios possuem

depósitos auríferos aluvionares, ainda hoje explorados por alguns garimpeiros da região.

O padrão de drenagem retângulo dentrítico observado em imagens SRTM e satélite,

evidencia rochas homogêneas em que as drenagens estão esporadicamente encaixadas em

padrões estruturais. Deste modo o padrão dentrítico se estabelece em terrenos suavizados

compostos por superfície saprolítica, enquanto que os padrões retangulares ocorrem encaixados

em distintos planos de fraqueza.

CLIMA

A região é marcada por um clima equatorial quente e úmido, temperaturas variando de

15°C no período de junho e julho a 35°C no período de agosto a setembro. A precipitação fica

entre 1500 a 2000 mm com secas periódicas de 3 meses nos meses que se estendem de maio até

agosto.

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5. GEOLOGIA REGIONAL

5.1. CONTEXTO GEOTECTÔNICO

A área em estudo situa-se na Província Mineral de Alta Floresta (Souza et al. 2005), ou

como adotado neste e nos recentes trabalhos realizados na região, Província Aurífera de Alta

Floresta (PAAF), especificando o fato desta corresponder a uma província a qual, até o

momento, tem como principal minério o ouro.

A PAAF insere-se no centro-sul do Cráton Amazônico, mais precisamente na faixa

limítrofe entre as Províncias Ventuari-Tapajós e Rio Negro-Juruena de acordo com o modelo de

Tassinari & Macambira (1999) (Fig. 3).

Tassinari & Macambira (2004) dividiram os conhecimentos sobre a evolução tectônica

do Cráton Amazônico em duas grandes linhas. A primeira, oriunda de autores fixistas, propõe

que a tectônica pré-cambriana do cráton foi caracterizada por processos de reativação de

plataforma e formação de blocos continentais ou paleoplacas por meio de retrabalhamento de

crosta continental no Arqueano e Paleoproterozóico. Durante o Mesoproterozóico, segundo essa

concepção, teriam ocorrido apenas processos de reativação e/ou retrabalhamento de rochas

preexistentes. A segunda linha é baseada nos conceitos das orogenias modernas, nas quais,

durante o Arqueano, Paleo e Mesoproterozóico teriam ocorrido uma sucessão de arcos

magmáticos envolvendo a formação de material juvenil, derivado do manto, como também

processos subordinados de retrabalhamento crustal. Com o avanço dos conhecimentos

geológicos, a segunda linha é mais bem suportada, e dentro desta situam-se os principais

modelos do Cráton Amazônico (Tassinari & Macambira, 1999; Tassinari et al., 2000; Tassinari

& Macambira, 2004, Santos et al., 2000 e Ruiz, 2005).

Em virtude desta variedade de modelos evolutivos, a PAAF pode inserir-se em distintos

segmentos. Segundo a compartimentação proposta por Santos et al. (2000), por exemplo, a

PAAF estaria enquadrada entre as províncias geocronológicas-geotectônicas do Tapajós-Parima

(2,03 – 1,88 Ga) e Rondônia Juruena (1,82 –1,54 Ga), enquanto que no modelo proposto por

Tassinari & Macambira (1999) e Ruiz (2005), a PAAF estaria situada na faixa limítrofe das

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Províncias Geocronológicas Ventuari-Tapajós (1,95-1,8 Ga) e Rio Negro- Juruena (1,8-1,55 Ga).

Neste trabalho usaremos as divisões propostas por Tassinari & Macambira (1999), Tassinari &

Macambira (2004) e Ruiz (2005).

Figura 3: Localização da PAAF na compartimentação geocronológica do Cráton Amazônico (Modificado de

Tassinari & Macambira, 2004).

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A província geocronológica Ventuari-Tapajós ocorre no setor norte da PAAF e

compreende uma associação granito-gnáissica cálcio alcalina de composição quartzo-diorítica a

granodiorítica, com intercalação de rochas sedimentares e vulcânicas que apresentam

predominantemente trends estruturais NW-SE e N-S, caracterizada por Tassinari & Macambira

(1999) como um arco magmático juvenil. Tassinari et al. (1996) obtiveram, através do método

U-Pb (SHRIMP) em monocristais de zircão destes granitóides, a idade de 1835 ± 17 Ma.

Associadas a essas rochas, que constituem o embasamento deste domínio, ocorrem dioritos a

granodioritos de caráter sin a pós-tectônico com tendências cálcio-alcalinas e toleíticas, isentos

de recristalização metamórfica, considerados na PAAF como pertencentes ao Grupo Colíder.

A Província Rio Negro-Juruena ocorre na porção ocidental do Cráton Amazônico e no

setor sul da PAAF, sendo seu embasamento composto por gnaisses, granodioritos, tonalitos,

migmatitos, granitos e anfibolitos (Tassinari & Macambira, 2004). Em geral, estas rochas

apresentam direções estruturais predominantes para NW-SE, cortadas em algumas áreas por

estruturas NE-SW. Tassinari et al. (1996) obtiveram na região do rio Aripuanã idades Rb-Sr e

Pb-Pb de, respectivamente, 1700 ± 21 Ma (87Sr/86Sr inicial de 0,7048 ± 0,0006), 1674 ± 85 Ma

e 1717 ± 120 Ma. Embora estejam distribuídos preferencialmente na Província Ventuari-

Tapajós, os granitos sub-vulcânicos, considerados como granitos Teles Pires também ocorrem na

região da PAAF inseridos na Província Rio Negro-Juruena como corpos circulares, de natureza

cálcio-alcalina, alcalina e peralcalina. Ainda neste domínio ocorrem várias gerações de granitos

anorogênicos, incluindo corpos com textura rapakivi, de natureza sub-alcalina, exibindo

características de granitos do tipo A, intra-placa. Esse magmatismo granítico compreende termos

que variam de granitos alcalinos a biotita, sienogranitos leucocráticos a hololeucocráticos

(Tassinari & Macambira, 2004).

5.2. PROVÍNCIA AURÍFERA DE ALTA FLORESTA

Geograficamente a PAAF insere-se em uma faixa W-NW com mais de 500 km nonorte

de Mato Grosso, delimitada entre as nascentes do rio Peixoto de Azevedo, a leste e o rio

Aripuanã, a oeste, ao norte pelo Gráben do Cachimbo e ao sul pelo Gráben dos Caiabís (Fig. 4).

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O embasamento da PAAF, atualmente denominado de Complexo Cuiú-Cuiú por Pessoa

et al. (1977, in: Lacerda Filho et al., 2004), abrange rochas metamórficas de médio a alto grau

(gnaisses ortoderivados) e plutônicas associadas (granitos pouco deformados, leucogranitos e

granitos hololeucocráticos). Outros litotipos mais raros correspondem a migmatitos, dioritos,

anfibolitos e xenólitos de metapiroxenitos (Klein et al., 2001). As rochas desta unidade são

caracterizadas por deformação rúptil e dúctil e afloram, segundo Souza et al. (2005) na região do

município de Matupá, leste da PAAF, onde estes autores obtiveram em zircão de ortognaisse

granítico (U-Pb SHRIMP) a idade de 1992±7 Ma. Entretanto, Paes de Barros (2007) caracteriza

esta unidade como composta por granitoides cálcio-alcalinos, metaluminosos a fracamente

peraluminosos, de composição quartzo diorítica, tonalítica a granodiorítica, de idade Pb-Pb em

zircão (evaporação) entre 2.816 e 1.984 Ma, que sinalizam a presença de um embasamento

heterogêneo.

Inseridas neste arcabouço encontram-se unidades plutono-vulcânicas representadas em

escala regional pelo granito Nhandu (1.889-1.879 Ma), Suíte Intrusiva Matupá (1.872 Ma), Suíte

Intrusiva Flor da Serra (idade indeterminada), Suíte Colíder (1,786-1.781 Ma) e Suíte Intrusiva

Teles Pires (1.782 a 1.757 Ma) (Santos, 2000; Souza et al., 2005; Moreton & Martins, 2005;

Silva & Abram, 2008).

O Granito Nhandu foi descrito inicialmente por Souza et al. (1979) e corresponde a

rochas metaluminosas a peraluminosas, álcali-cálcicas a cálcio- alcalinas, subalcalinas, de médio

K e enriquecidas em FeO (Souza et al., 2005). De acordo com Paes de Barros (2007), esta

unidade tem uma tendência geoquímica de granitoides de arcos magmáticos a granitos intra-

placa, por hospedar mineralizações auríferas primárias (e.g. garimpos Natal e Trairão). Essa suíte

comumente mostra evidências de alteração potássica com microclina, acompanhada de

precipitação de sulfetos e magnetita. Silva & Abram (2008) estabeleceram a idade do granito

Nhandu entre 1.889 ±17 Ma e 1.879 ±5,5 Ma (U-Pb em zircão).

A Suíte Intrusiva Matupá, assim definida por Moura (1998), é constituída por quatro

litofácies que foram definidas por Souza et al. (2005) em: (i) Fácies 1, constituída de biotita

granitos e biotita monzogranitos, com a presença constante de mineralizações auríferas; (ii)

Fácies 2, de hornblenda monzogranitos, hornblenda monzodioritos, biotita-hornblenda

monzonitos, onde a presença de mineralizações auríferas também é constante; (iii) Fácies 3, com

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clinopiroxênio-hornblenda monzogranitos e clinopiroxênio-hornblenda monzodioritos

magnéticos, os quais dão origem a solos vermelhos ricos em magnetita e (iv) Fácies 4, de maior

distribuição geográfica, composta por granitos, biotita granitos e monzogranitos, com

microgranitos e granófiros subordinados. As rochas desta fácies possuem textura porfirítica,

rapakivi e anti-rapakivi. Os dados litogeoquímicos indicam que essa suíte representa uma

manifestação plutônica de composição cálcio-alcalina, metaluminosa a peraluminosa, semelhante

aos granitos tipo I, além de ETR que exibem um padrão fortemente fracionado e forte anomalia

negativa de Eu (Moura, 1998; Souza et al., 2005). Uma idade Pb-Pb em zircão de 1.872 ±12 Ma

foi obtida em rochas da fácies 1(Moura 1998).

Na parte sul e sudoeste da PAAF ocorrem uma faixa onde Paes de Barros (2007) agrega

um grupo de rochas supracrustais, plutônicas e sequências vulcano-sedimentares, que foram

afetadas por um metamorfismo que varia desde baixo a alto grau, correspondentes as unidades

Grupo São Marcelo-Cabeça, Suíte Vitória, Complexo Nova Monte Verde e Complexo Bacaeri-

Mogno (Silva & Abram, 2008).

O Grupo Colíder é composto por uma variedade de rochas vulcânicas, subvulcânicas,

piroclásticas e epiclásticas de composição ácida a intermediária, (Silva & Abram, 2008). As

rochas de composição ácida são constituídas por riolitos, riodacitos e ignimbritos, enquanto que,

as rochas intermediárias compreendem corpos andesíticos de cor cinza-escuro a preta e estrutura

maciça os quais originam solos avermelhados e ricos em magnetita. De modo geral,

correspondem a rochas cálcio-alcalinas de alto potássio, peraluminosas a metaluminosas, que

exibem afinidade geoquímica com as séries graníticas orogênicas (Moreton & Martins, 2005;

Souza et al., 2005). Souza et al. (2005) classificam o ambiente tectônico da Suíte Colíder como

sendo predominantemente de arco vulcânico e Lacerda-Filho et al. (2004) relacionam essas

rochas ao Arco Magmático Juruena que foi gerado entre 1.85-1.75 Ga (método U-Pb em zircão).

Suítes granitóides cálcio-alcalinas, formadas no intervalo de 1,84 a 1,77 Ga, preenchem

boa parte do embasamento da PAAF, antigamente denominadas pelo Projeto RadamBrasil (Silva

et al., 1980) como Complexo do Xingu, agora são diferenciadas em unidades que fazem parte da

porção menos deformada do arco Juruena como: Suíte São Pedro e São Romão; Granitóides

Juruena, Apiacás e Paranaíta (Silva & Abram, 2008). Associados cogeneticamente a Suíte

Intrusiva Paranaíta ocorrem corpos básicos representados por gabros, microgabros, diabásios e

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dioritos porfiríticos sob a forma de stock intrusivo e também sob a forma de enclaves e

megaenclaves (Souza et al., 2005).

A Suíte Vulcano-Plutônica Teles Pires engloba um conjunto de rochas vulcânicas

representadas por ignimbritos félsicos com intercalações de riolitos porfiríticos, basaltos e rochas

sedimentares de derivação vulcânica, associados a corpos graníticos, pós-orogênicos, não

deformados, calcioalcalinos de alto potássio, plutônicos e subvulcânicos e compostos

predominantemente por biotita granitos avermelhados e com rochas subvulcânicas subordinadas

(Pinho, 2002 e Lacerda Filho et al, 2004). De acordo com Lacerda Filho et al. (2004), os corpos

graníticos distribuem-se em stocks e batólitos subcirculares a elipsoidais, ao longo da

estruturação regional (WNW – ESE). Estes corpos encontram-se intrusivos preferencialmente

nas rochas vulcânicas da Suíte Colíder e nos granitos Matupá e a delimitação de sua área de

ocorrência é facilitada por seu relevo alçado em imagens de satélites e por suas expressivas

anomalias cintilométricas, em contraste com baixos valores nos mapas magnetométricos. Os

dados geoquímicos apontam para granitos do tipo A, de natureza cálcio-alcalina de médio a alto

potássio, metaluminosos a peraluminosos, que correspondem a intrusões pós-colisionais com

idades U-Pb em zircão de 1.757 ±16 Ma e 1.782 ±17 Ma (Santos, 2000; Pinho et al., 2003; Silva

& Abram, 2008).

A Formação Dardanelos, pertencente ao Grupo Caiabís, recobre parcialmente as unidades

plutono-vulcânicas citadas anteriormente e é representada por sequências de arenito e arenito

arcoseano, ambos de granulação média, com frequentes níveis conglomeráticos. Essas coberturas

apresentam estratificações plano-paralelas e cruzadas acanaladas interpretadas como um sistema

de leques aluviais de rios entrelaçados (Moreton e Martins, 2005). Saes & Leite (2003)

obtiveram idades U-Pb em cristais de zircão detrítico compreendidas entre 1.987 ±4 Ma a 1.377

±13 Ma, o que implica a idade máxima de 1,44 Ga como representativa para o início da

sedimentação (Souza et al., 2005). O Grupo Caiabis é ainda interpretado como uma bacia do tipo

pull-apart, ou possivelmente do tipo strike-slip onde as principais zonas de transcorrência

sinistrais NW/SE foram as responsáveis pela sua geração (Souza et al., 2005).

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Figura 4: Mapa de localização e domínios geológicos da PAAF, destacando a área em epígrafe (Modificado de

Lacerda Filho et al. 2004 e Paes de Barros 2007).

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6. GEOLOGIA LOCAL

6.1. ROCHAS ENCAIXANTES DAS OCORRÊNCIAS ESTUDADAS

6.1.1. GRANITO NHANDU

Na área de estudo foi mapeado como Granito Nhandu um sienogranito com granulação

média, fanerítica, cor rosa. Esta unidade aflora como pequenos corpos arredondados e por vezes

como pequenos morrotes. Ao percorrer o corpo aflorante percebe-se que próximo à zona de

cisalhamento da Mina do Edu, o sienogranito apresenta um aumento na quantidade de biotita,

uma oscilação de granulação de fina a média e uma coloração cinza (Fig. 4A), porém, essas

mudanças nas características do granito estão restritas as bordas da zona de cisalhamento. Para

estudo da petrografia desta unidade foram confeccionadas 3 lâminas de diferentes pontos que

representam o corpo. Em escala microscópica a rocha é observada como sendo holocristalina, de

granulação inequigranular fina a media, os contatos dos minerais são irregulares (Fig. 4B). As

alterações de saussuritização podem ocorrer em quantidades variadas dependendo da amostra,

assim como a sericitização, sua presença é bem marcante nos minerais de plagioclásio. A

paragênese mineral é composta por quartzo, plagioclásio, feldspato potássio, biotita e opacos, os

minerais oriundos de alteração são muscovita, clorita, epidoto e titanita.

O quartzo apresenta extinção ondulante, e raramente bordas serrilhadas, observa-se

textura poiquilítica (figura 4C), com inclusões de biotita alterando para clorita.

O plagioclásio apresenta localmente saussuritização, embora predomine inalterado, e

mais raramente apresenta textura mirmequítica (figura 4D) onde há o intercrescimento de

quartzo no plagioclásio.

Os minerais de feldspatos alcalinos são encontrados como microclina (figura 4E) e

ortoclásio pertítico, com poucos minerais demonstrando processos de saussuritização. A biotita

em geral encontra-se alterando para clorita (figura 4F).

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Figura 5: A) Sienogranito de granulação fina; B) Sienogranito de granulação média; C) Fotmomicrografia

mostrando quartzo com textura poiquilítica; D) Fotomicrografia mostrando plagioclásio com textura

mirmequítica; E) Fotomicrografia mostrando microclima; F) Fotomicrografia mostrando biotita alterando para

clorita.

Ao serem plotados os dados de contagem modal realizada nas 3 lâminas delgadas

analisadas, observa-se que os pontos concentram-se no campo do sienogranito (Fig. 6).

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Figura 6: Diagrama QAP plotadas as amostras do Granito Nhandu.

6.1.2. SUÍTE INTRUSIVA MATUPÁ

A Suíte Intrusiva Matupá também foi mapeada como rocha encaixante das ocorrências

auríferas estudadas. Seguindo a definição de Moura (1998) o corpo aflorante corresponde a

Fácies 2 da Suíte Intrusiva Matupá.

A Suíte Intrusiva Matupá ocorre na área como um relevo arrasado entre morrotes e

morros. Geralmente aflora como um conjunto de blocos e matacões arredondados (Fig. 7A), com

cor vermelha e com diferentes estágios de alteração intempérica. Os blocos arredondados

apresentam tamanho que variam de alguns centímetros até 2 metros de altura.

Esses granitos são constituídos essencialmente por feldspato potássico, quartzo,

plagioclásio e biotita (Fig. 7B e 7C). Os feldspatos potássicos variam entre 1 e 3 cm, são euedrais

e apresentam coloração vermelha, por vezes ressaltam texturas porfiríticas. Cristais de quartzo

variam de 0,5 a 1 cm, com hábitos intersticiais com cor branca. O plagioclásio ocorre próximo ao

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quartzo, e geralmente com hábitos anédricos e dimensões menores que 0,5 cm. A biotita ocorre

de forma intersticial ao quartzo e feldspatos, e constitui um importante indicador do estado de

alteração do granito, possuem cor escura, porém quando alteradas ficam foscas e mostram

diversas tonalidades, indo de marrom até cinza.

Ocorrem diversos diques máficos encaixados na Suíte Intrusiva Matupá com atitudes

N80°W e por vezes N45°W (Fig. 7D). Os diques geralmente variam em espessura de 1 a 5 m,

apresentam cor escura, podendo ser observados fenocristais de plagioclásio em meio a matriz

fina a vítrea. De acordo com Moura (1998) existem duas famílias de diques máficos intrusivos

no granito Matupá, o tipo predominante é porfirítico com fenocristais de plagioclásio imersos a

matriz ofítica. Enquanto o segundo tipo, apesar de mostrar a mesma composição que o primeiro,

apresenta textura granular hipidiomórfica, subofítica com granulação media a fina. A autora

ainda sugere que o fraturamento do granito é paralelo às duas direções de diques.

Figura 7: A) Forma de ocorrência do granito da Suíte Intrusiva Matupá; B, C) Amostra do granito da Suíte

Intrusiva Matupá; D) Forma de ocorrência dos diques.

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Quatro lâminas delgadas foram descritas para a caracterização desta rocha encaixante, e

quando os dados da contagem modal são plotados no diagrama QAP os pontos se concentram no

campo dos monzogranitos (Fig. 8). Apresentam textura holocristalina, com uma trama

mineralógica, composta por quartzo, feldspato potássico, plagioclásio, biotita, clorita, sericita e

epidoto, raramente ocorrem hornblenda. Como minerais traços têm zircão, apatita, titanita e

opacos.

Figura 8: Diagrama QAP da Suíte Intrusiva Matupá.

O quartzo geralmente apresenta cristais em tono de 2mm, com texturas granulares

extinção ondulante (Fig. 9A e B). Foram observadas várias inclusões no cristal de quartzo, sendo

as mais significativas são as inclusões de epidoto, cristais de titanita e de rutilo.

O K-Feldspato, ocorre com hábitos subedrais e anedrais, geralmente prismáticos, com

granulação variado ente 1 a 5 mm. Foram descritos 3 tipos de K-Feldspato: (i) Microclina (Fig.

9D); (ii) Ortoclásio; (iii) Pertita.

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O plagioclásio ocorre como cristais de em torno de 1 a 2 mm, hábito euedral e subedral.

Geralmente, estes cristais estão saussuritizado e levemente sericitizados. O processo de

saussuritização é marcado pelo desenvolvimento de epídoto, com hábitos euedrais. Já o processo

de sericitização desenvolve pequenos cristais de micas na forma de ripas dentro do plagioclásio.

As cloritas possuem cor verde, sugerindo composições ricas em ferro, variam em

granulação de 0,5 a 1mm e ocorrem sempre associadas aos plagioclásios alterados, substituindo

biotitas primarias, adquirindo uma pseudoforma desse mineral (Figura 9C).

A biotita primária foi substituída em sua maioria por clorita e geralmente está associada

a pequenos cristais de epidoto. Cristais formados sobre um regime de intercrescimento de clorita

+ biotia, podem ser observados objetivas de 40X.

Figura 9: A, B) Fotomicrografia mostrando quartzo em objetiva de 4x; C) Fotomicrografia mostrando biotita

alterando para clorita em objetiva de 4x; D) Fotomicrografia mostrando microclina em objetiva de 4x.

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7. OCORRÊNCIAS AURÍFERAS

ESTUDADAS

7.1. MINA DO EDU

A Mina do Edu está localizado no município de Nova Santa Helena (Fig. 1), a

aproximadamente 3 Km da cidade sede deste município, as margens da rodovia BR 163. Sua

mineralização está associada a uma zona de cisalhamento que corta o Granito Nhandu. Essa

estrutura planar é subverticalizada, tem direção N55ºE e se ressalta da presença de tramas de

colorações variadas devido à alteração provocada por fluídos hidrotermais que percolaram

pervasivamente as rochas. Quando distante da zona de cisalhamento o Granito Nhandu é maciço,

com tonalidade rosada, inequigranular de granulação média, constituído por quartzo, feldspato

potássico, plagioclásio e biotita. Porém, na frente de lavra, sob o efeito deformacional da zona de

cisalhamento e suas alterações hidrotermais, apresenta granulometria fina (Fig. 10), e tonalidades

que variam entre rosada (alteração potássica), esverdeada (cloritização) e amarelada (sulfetação).

A cava garimpeira mede aproximadamente 120m de comprimento e 50m de largura, com

até 50 m de profundidade, e uma orientação NNE/SSW (Figs. 10, 11A e B). A zona de

cisalhamento principal mede 2,5 m de largura e 9m de altura. Foram coletadas 54 medidas da

atitude da zona de cisalhamento da Mina do Edu (Fig. 12), apresentando atitudes preferenciais de

N55ºE/80ºNW e caráter dextral (Fig. 13B). Esse cisalhamento serviu de canal para a percolação

de fluidos hidrotermais responsáveis pelas mineralizações que ocorrem sob a forma de vênulas

de sulfetos (Fig. 13A).

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Figura 10: Mapa da Mina do Edu mostrando a variação na granulometria do Granito Nhandu e a posição da cava garimpeira.

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Figura 11: A, B) Foto da cava garimpeira da Mina do Edu.

Figura 12: Estereograma de isovalores e polos da zona de cisalhamento da Mina do Edu.

Figura 13: A) Foto das Vênulas de Sulfeto; B) Foto das slikensides da zona de cisalhamento da Mina do Edu.

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A percolação de fluídos hidrotermais canalizados pela zona de cisalhamento formou 4

halos de alteração hidrotermal.

O primeiro halo de alteração hidrotermal é o Halo de Sulfetação. O halo de sulfetação é

composto por sienogranito totalmente silicificado, composto essencialmente por quartzo e por

vênulas de sulfetos (pirita e calcopirita). Mede aproximadamente 2,5 metros de espessura e está

localizado no centro da zona de cisalhamento. Ocorrem inúmeras vênulas de sulfetos, chegando

até a 40 vênulas de sulfeto por metro linear. As vênulas de sulfeto apresentam largura de

milímetros até 2 cm e comprimentos variados, chegando no máximo a 10cm.

O Halo de Silicificação é composto pelo sienogranito totalmente silicificado, alterado

pelo hidrotermalismo decorrente do cisalhamento que obliterou a textura original do protólito.

Mede um metro de comprimento ao norte do halo de sulfetação e um metro e meio ao sul do halo

de sulfetação. É distinto do halo de sulfetação por apresentar menor quantidade de vênulas de

sulfeto (8 vênulas por metro linear) além das mesmas terem uma largura de milímetro até no

máximo 1 cm e comprimentos de no máximo 5 cm.

O Halo de Cloritização se localiza ao norte do halo de silicificação por 2,5 metros de

largura, e a ao sul do halo de silicificação por 3 metros de largura. É caracterizado pela coloração

esverdeada decorrente da alta concentração de minerais de clorita. Apresenta raras vênulas de

sulfetos. A mudança do halo de cloritização para o halo de potassificação é gradativa, por isso,

não é raro encontrar partes muito potassificadas dentro do halo de cloritização e vice-versa, o que

acaba dificultando a definição do contato entre os dois halos.

O Halo de Potassificação é encontrado ao norte e ao sul do Halo de Cloritização, porém,

não é possível mencionar a largura desse halo de alteração, pois ele se expande além da cava

garimpeira, mas não são encontrados afloramentos do mesmo entorno da cava. Este halo é

caracterizado pela coloração avermelhada decorrente da alta concentração de minerais de

feldspato potássico. São raras, porém, existem vênulas de sulfetos.

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Figura 14: Halos de alteração hidrotermal no Garimpo do Edu: 1) Halo de Sulfetação; 2) Halo de Silicificação; 3)

Halo de Cloritização; 4) Halo de Potassificação.

Na Mina do Edu foram selecionados 9 amostras para geoquímica com o objetivo de se

obter os teores principalmente de ouro. A Mina do Edu foi dividida em 4 halos de alteração

hidrotermal, assim as amostras foram selecionadas para representar estes halos (Fig 15). Os

valores obtidos através das análises geoquímica para as 9 amostras selecionadas estão

apresentadas na Tabela 2.

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Figura 15: Localização das amostras enviadas para geoquímica.

Tabela 2: Resultados das análises geoquímica para as amostras da Mina do Edu. Valores em ppm.

Amostra Au Ag Pb As Cu Zn Te Co

Zsulf 4 0,5 0,26 1,74 0, 2 51,13 3,8 8,40 54,6

Zsulf 5 0,57 0,57 1,30 0, 4 1281,74 4,1 2,70 22,3

Zsulf 6 1,04 2,12 2,43 >0, 1 123,78 6,4 3,69 23,3

Zsio2 4 0,63 1,09 1,47 0 930,98 3,4 8,44 23,1

Zsio2 5 0,049 0,34 1,23 0, 2 5,65 1,7 1,24 32,6

Zsio2 6 0,17 0,67 2,01 0, 3 34,71 2,3 4,17 98,1

Zclorita4 0,031 0,17 2,41 1,1 103,13 107,2 0,04 25,2

Clorita+Potassio 0,03 0,23 8,08 0, 5 13,12 22,1 1,51 15,0

Zpotassio 2 0,012 0,091 4,27 1 80,31 50,3 0,09 8,1

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A amostra denominada Zsulf 4, Zsulf 5 e Zsulf 6 correspondem ao halo de alteração

hidrotermal de sulfetação, sendo a amostra Zsulf 6 retirada do centro da zona de cisalhamento e

as amostras Zsulf 4 e Zsulf 5 foram coletadas na borda dos halos de alteração de sulfetação e da

silicificação.

Os valores obtidos para as amostras Zsio2 4, Zsio2 5 e Zsio2 6 são correspondentes do

halo de alteração hidrotermal de silicificação, sendo a amostra Zsio2 4 amostra representativa da

borda da silicificação com a sulfetação, a amostra Zsio2 6 do centro do halo de silicificação e a

amostra Zsio2 5 representa a borda dos halos de silicificação com o halo de cloritização.

No halo de alteração da cloritização foram coletadas duas amostras: Zclorita4 e

Clorita+Potássio. A amostra Zclorita4 é representativa do contato entre o halo de alteração da

cloritização com o halo de alteração da silicificação. A amostra Clorita+Potássio representa os

teores no contato entre o halo de cloritização com o halo de potassificação.

A amostra Zpotassio 2 corresponde a zona de potassificação. Por isso os valores de teor

de ouro mais baixos que os demais (0.012ppm).

A mina do Edu apresentou teores relativamente baixos para ouro, no entanto, podemos

observar que os melhores teores de ouro se encontram nas amostras mais próximas do

cisalhamento principal. Isso confirma que o minério (ouro) está diretamente ligado ao fluído que

percolou o cisalhamento principal.

A presença de muitos sulfetos que contém cobre em sua composição química

(calcopirita), explica os altos teores de cobre (Cu) das amostras analisadas. Outro elemento que

apresenta um enriquecimento nessa mina foi o cobalto (Co)

Ao observamos a tabela 3, com os valores de elementos traços, e a tabela 2, podemos

deduzir sobre uma forte relação do ouro com outros elementos químicos, como Cobre (Cu),

Bismuto (Bi), Enxofre (S) e Cobalto (Co). Estes elementos podem ser atribuídos como elementos

farejadores de ouro para esta mina.

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Tabela 3: Resultados da geoquímica para elementos traços da Mina do Edu. Valores em ppm, exceto o Enxofre

(S) que está em porcentagem.

Amostra Bi S (%) Mo Sb Sn Sr W U

Zsulf 4 14,23 5,83 0,27 <0.02 <0.1 2,0 0,32 0,83

Zsulf 5 4,23 2,44 0,40 0,03 <0.1 2,7 0,30 1,03

Zsulf 6 4,13 1,67 0,45 0,04 <0.1 4,5 0,29 3,42

Zsio2 4 13,98 3,32 0,61 <0.02 <0.1 1,2 0,17 0,22

Zsio2 5 2,23 1,72 6,25 <0.02 <0.1 1,5 0,08 0,64

Zsio2 6 14,40 4,33 32,97 <0.02 <0.1 1,3 0,14 0,66

Zclorita4 0,30 0,05 0,22 0,06 0,1 95,1 0,15 0,10

Clorita+Potassio 3,02 1,72 0,55 0,08 0,2 9,8 0,42 3,64

Zpotassio 2 0,46 0,05 0,36 0,07 0,3 60,7 0,59 2,27

7.2. GARIMPO DO PETECA

Conhecido regionalmente como “Garimpo do Peteca” ou “Garimpo do Goiano”, está

localizado no norte do município de Nova Santa Helena, próximo a divisa de municípios entre

Nova Santa Helena e Terra Nova do Norte (Fig. 1). Distante aproximadamente 33 km da cidade

de Terra Nova do Norte e 37 km da cidade de Nova Santa Helena. Para se chegar até o Garimpo

do Peteca, toma-se a BR 163 até a entrada para a cidade de Marcelândia – MT através da MT

320, onde toma-se estradas vicinais até o Garimpo.

O Garimpo do Peteca já foi explorado nos anos 90, até inicio dos anos 2000, porém, com

o fim do ouro livre devido ao intemperismo, o garimpo foi abandonado. A mineralização está

associada a uma falha de direção E-W/Subvertical. A cava garimpeira tem como dimensões

aproximadamente 80 metros de comprimento, largura de cerca de até 15 metros e profundidade

variando de 4,5 metros a 40 metros nos shafts (Fig. 16). Atualmente o garimpo se encontra

abandonado, o que nos impossibilita de usar os shafts antigos para amostragem.

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Figura 16: Fotos da cava garimpeira do Garimpo do Peteca.

O Garimpo do Peteca encontra-se hospedado na Suíte Intrusiva Matupá, onde localmente

é representada por um monzogranito de granulação média a grossa, coloração vermelha e

constituído por feldspato potássico, quartzo, micas e plagioclásio. Encontra-se pouco fraturado e

sem deformação. Nas proximidades de zonas de falhas é possível se observar que a rocha

encaixante apresenta sulfetação (Fig. 17) oriunda dos fluídos hidrotermais que percolaram pela

falha.

Foram realizadas 26 medidas da atitude da falha, sendo que esta se apresenta subvertical,

com direção E-W (Fig. 18) e um caráter sinistral, o qual foi possível obter através das slikensides

presentes nas paredes da falha (Fig. 19A e B). O Garimpo do Peteca tem como característica a

alta sulfetação da rocha encaixante (Fig. 20). O hidrotermalismo percolante na falha sulfetou a

encaixante nas suas proximidades. Os sulfetos encontrados nas rochas encaixantes do Garimpo

do Peteca são as piritas e as calcopiritas. Veios de quartzo paralelos e perpendiculares à falha são

visíveis nas proximidades da cava (Fig. 21A e B). Os veios de quartzo paralelos à falha variam

de comprimento entre poucos centímetros (10-15 cm) até 1,5m e espessuras variando de >1 cm

até 3,5 cm. Já os veios de quartzo perpendiculares a falha apresentam comprimentos de até 45

cm e espessuras que variam de 1 até 4,5 cm.

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Figura 17: Mapa da cava garimpeira do Garimpo do Peteca mostrando sulfetação no entorno da área da cava.

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Figura 18: Estereograma de isolvalores e polos da falha do Garimpo do Peteca.

Figura 19: A e B) Slikensides do Garimpo do Peteca, mostrando o movimento sinistral.

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Figura 20: Granito sulfetado do Garimpo do Peteca.

Figura 21: A) Veio de quartzo perpendicular ao cisalhamento (contorno amarelo); B) Veio de quartzo paralelo ao

cisalhamento (contorno amarelo).

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Nas proximidades da cava garimpeira descrita encontram-se várias áreas arrasadas pela

exploração do ouro livre pelo intemperismo. Recentemente, novas escavações foram feitas em

material oriundo de intemperismo para a exploração de ouro, porém, os resultados obtidos não

foram satisfatórios e as escavações foram abandonadas.

Com o objetivo de obter os teores de ouro e de outros elementos, foram selecionadas 6

amostras representativas do garimpo. A tabela 4 contem os resultados obtidos das 6 amostras

selecionadas.

Tabela 4: Resultados da geoquímica para as amostras do Garimpo do Peteca. Valores apresentados em ppm.

Amostra Au Ag Pb As Cu Zn Te Co

JP 2 0,48 1,45 15,65 0,2 176,36 4,32 18,98 10,3

JP 3 0,41 1,25 16,21 0,4 364,03 3,89 9,17 9,7

JP 8 0,01 0,017 4,31 >0,1 3,67 7,89 0,06 2,3

JP 9 0,08 0,019 3,12 0,3 2,27 6,11 0,16 1,2

JP 12 0,03 0,018 1,09 0,5 8,70 0,42 0,03 0,4

JP 14 0,18 0,021 3,30 0,3 5,11 0,62 0,35 0,6

Os valores das amostras JP 2 e JP 3 são representativas do granito sulfetado da parte

central da falha. As amostras JP 8, JP 9 e JP 12 correspondem a veios de quartzo perpendiculares

a falha. E a amostra JP 14 representa um veio de quartzo paralelo à falha.

Os resultados mostram que o ouro está associado à falha principal, onde percolaram

fluídos hidrotermais que sulfetaram a rocha. Os veios de quartzo perpendiculares à falha

principal apresentam teores muito baixos para ouro. O ouro está diretamente relacionado aos

sulfetos (pirita e calcopirita) presentes na rocha encaixante. Isso fica evidente ao observamos os

valores de ouro para as amostras JP2 e JP3, correspondentes do granito sulfetado, e a amostra

JP14, do veio de quartzo paralelo a falha. Nas amostras JP2 e JP3 observamos valores altos de

Cobre (Cu), 176,36 e 364,03 ppm respectivamente, devido a presença de calcopirita.

Ao observarmos a tabela 4 e a tabela 5 de elementos traços, observamos que as amostras

JP2 e JP3 apresentam uma forte correlação entre a Prata (Ag), o Telúrio (Te) o Bismuto (Bi) e o

Cobre (Cu). Elementos como Ag, Te, Bi e Cu podem ser considerados elementos farejadores

para o ouro neste garimpo.

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55

Tabela 5: Resultados da geoquímica para elementos traços do Garimpo do Peteca. Valores dados em ppm,

exceto Enxofre (%).

Amostra Bi S (%) Mo Sb Sn Sr W U

JP 2 37,14 3,76 13,74 0,03 0,1 2,3 0,21 1,11

JP 3 23,32 3,08 7,65 0,02 0,1 2,8 0,22 0,79

JP 8 0,24 <0.02 0,42 <0.02 <0.1 2,5 <0.05 0,70

JP 9 0,23 <0.02 0,46 <0.02 <0.1 2,4 0,05 0,78

JP 12 0,08 <0.02 0,47 0,02 <0.1 1,6 0,06 0,14

JP 14 0,76 <0.02 1,33 0,07 <0.1 2,5 0,15 0,98

7.3. FILÃO DO LAJE

O Filão do Laje, como é conhecido popularmente, se localiza na parte sul da área da

Fazenda Figueira Branca (Fig. 22). O terreno apresenta escassos afloramentos, sendo que em

grande parte estão recobertos por pastagem. Este corpo mineralizado a ouro foi lavrado por

garimpeiros durante os anos de 1994 a 1996. A extração de ouro neste local deu forma a uma

cava garimpeira de 130 m de comprimento e 40 m de largura, com ate 25 m de profundidade, e

se encontra alongada em uma direção principal W-E (Fig. 23A e B). As porções mais profundas

da cava tendem a ficar submersas por boa parte do ano formando um extenso terreno alagado no

centro da cava, que torna a ficar exposta durante a estiagem. Essa variação do lençol freático

pode desencadear escorregamentos, cobrindo e expondo parcialmente veios e estruturas

filoneanas ao longo da cava. Através do mapeamento realizado foram constatadas duas fácies do

granito da Suíte Intrusiva Matupá: (i) fácies de granulometria grosseira (Fig. 24 A); (ii) fácies de

granulometria fina (Fig. 24 B).

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Figura 22: Mapa de localização dos garimpos dentro da Fazenda Figueira Branca (modificado de CPRM 2013).

Figura 23: A,B) Fotos da cava garimpeira do Filão do Laje.

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57

A fácies do granito de granulometria fina foi delimitada com uma geometria alongada na

direção N-S, margeada por fraturas. Esse corpo apresenta granulação fina, cor cinza, sendo

composto por quartzo, feldspato potássico, plagioclásio e biotita. Difere da fácies de

granulometria grossa por ser mais pobre em feldspato potássico. Aflora na forma de blocos

arredondados de diâmetros métricos. Somente nesta porção da área aflora a fácies de

granulometria fina.

A fácies do granito de granulometria grossa é predominante em toda área, sendo

isotrópico, e localmente se apresentando com um sistema de fraturas (N80°W), perceptível

principalmente nas proximidades das áreas mineralizadas da cava garimpeira do Filão do Laje. É

composto por feldspato potássico, quartzo, plagioclásio e biotita, e aflora como blocos

arredondados de tamanhos que variam de centímetros a 2,5 metros.

Figura 24: A) Fácies do Granito Matupá de granulometria grossa; B) Fácies do Granito Matupá de granulometria

fina.

Os diques máficos ocorrem predominantemente com direções N80°W com espessuras

entre 2 a 5 m, apresentam cor cinza escura, e tons de laranja com intemperismo avançado. Os

diques geralmente afloram como blocos de 0,30 a 0,50 m alinhados e podem se estender por

dezenas de metros. Descritos com fenocristais de plagioclásios em meio a matriz afanítica de

minerais máficos (piroxênios e anfibólios), esta rocha foi interpretada em campo como diques de

diabásio, possivelmente correlacionáveis a Suíte intrusiva Flor da Serra.

Com a delimitação dos limites geográficos da cava garimpeira e de suas estruturas

mineralizadas, observou-se que a geometria da cava, não por acaso, coincide com a posição

estrutural de veios de quartzo mineralizados (Fig. 25). Ainda que a intensa alteração intempérica

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tenha modificado a rocha hospedeira, de modo que apenas o saprólito foi encontrado nas paredes

da cava, afloramentos de rocha fresca, junto a veios de quartzo e diques máficos, puderam ser

descrito nas proximidades desta zona mineralizada.

O Filão principal da cava garimpeira do Filão do Laje encontra-se alojado em uma

fratura. Não foram encontrados indicadores cinemáticos de movimento. Foram realizadas 36

medidas no filão principal que apontam para uma atitude que varia de E-W/subvertical a

N85ºW/subvertical (Fig. 26). O filão principal possui uma espessura que varia de 10 a 50 cm

(Fig. 27 A e B). Nas paredes da cava garimpeira se encontra um conjunto de pequenos veios de

quartzo (variando de milímetros a 7 cm) que possuem atitudes paralelas ao filão principal.

Famílias de veios de quartzo com atitudes perpendiculares a cava, e consequentemente,

perpendiculares ao filão principal, com pequenas espessuras, também são encontrados.

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Figura 25: Mapa da cava garimpeira do Filão do Laje.

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Figura 26: Estereograma de isovalores e polos da zona de cisalhamento do Filão do Laje.

Figura 27: A e B) Veio principal do Filão do Laje.

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Ainda no interior da cava garimpeira ocorrem afloramentos de diques máficos, marcados

por um alto grau de intemperismo. Esses corpos foram descritos variando entre 20 cm a 1 m e

atitudes N80°W /80°SW.

Para esta cava garimpeira foram selecionadas 6 amostras. A tabela 6 apresenta os

resultados da geoquímica para as 6 amostras selecionadas.

Tabela 6: Tabela com os resultados da geoquímica para amostras do Filão do Laje. Valores dados em ppm.

Amostra Au Ag Pb As Cu Zn Te Co

JLAJE1 17,691 3,93 110,93 78,1 43,70 67,1 15,54 1,5

JLAJE2 3,43 2,82 11,10 25,9 87,59 12,0 9,68 0,7

JLAJE3 1,70 1,43 6,68 8,0 45,80 5,7 4,71 0,6

JLAJE4 3,22 0,44 54,26 30,1 15,33 53,5 3,52 1,6

JLAJE5 3,05 0,64 20,78 10,1 28,61 17,7 1,24 16,0

JLAJE7 0,96 0,20 36,28 23,2 19,80 56,3 0,23 8,0

A amostra Jlaje 1 corresponde ao filão principal do garimpo. As amostras Jlaje 2, Jlaje 4 e

Jlaje 5 foram retiradas de veios de quartzo de menor espessura, porém, paralelos ao filão

principal. A amostra Jlaje 3 corresponde a uma amostragem de canal, na qual foi coletado o filão

principal e 50 cm de material do granito intemperizado de cada lado do filão. Amostra Jlaje 7

correspondem a um veio de quartzo perpendicular ao filão principal.

Os valores apresentados na tabela 6 indicam que o ouro está relacionado com o fluído que

percolou e que cristalizou o filão principal, com atitudes de E-W/subvertical a

N85ºW/subvertical, e veios com menor espessura, porém, com as mesmas atitudes do filão

principal. Os valores obtidos para a amostra JLAJE7, amostra de veio de quartzo perpendicular

ao filão principal, apresenta teores de ouro e prata inferiores aos teores das outras amostras, o

que nos confirma que o fluído mineralizante é o fluído que preencheu falhas/fraturas com

atitudes E-W/subvertical a N85ºW/subvertical.

Dados de Teores de elementos traços, apresentados na tabela 7, junto com os dados

apresentados na Tabela 6 nos apresentam uma forte correlação do ouro com elementos como

Telúrio (Te), Bismuto (Bi) Chumbo (Pb) e Arsênio (As), e teores medianos para Prata (Ag) e

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Cobre (Cu). Estes elementos podem ser chamados de elementos farejadores do minério em

questão para esse filão.

Tabela 7: Tabela com os resultados da geoquímica para elementos traços do Filão do Laje. Valores dados em

ppm, exceto Enxofre (%).

Amostra Bi S (%) Mo Sb Sn Sr W U

JLAJE1 36,87 0,03 0,88 0,08 0,2 8,9 0,06 0,80

JLAJE2 12,04 0,11 0,86 0,05 0,4 3,5 0,77 0,44

JLAJE3 6,44 0,13 1,36 0,05 0,1 1,4 0,20 0,93

JLAJE4 9,21 <0.02 0,91 0,08 0,3 3,4 0,37 1,31

JLAJE5 6,79 <0.02 1,73 0,03 <0.1 5,2 0,16 0,71

JLAJE7 1,59 <0.02 0,56 0,03 0,3 2,7 0,10 1,26

7.4. FILÃO DO COCHEIRA

O Filão do Cocheira (Fig.22), como é conhecido popularmente, foi descoberto em 1993

por garimpeiros. Da sua descoberta até o ano de 1997 o filão foi lavrado pelos garimpeiros, que

com o passar do tempo foram adquirindo maquinários, e lavrando assim um maior volume de

minério. No ano de 1995, os garimpeiros abriram um shaft, que no final do ano de 1997 estava

com 45 metros de profundidade e mais de 50 metros de galerias horizontais. A cava a céu aberto

deixada pelos garimpeiros no início do ano de 1998 tem como dimensões 130 metros de

comprimento e 45 metros de largura. A cava encontra-se alongada na direção N-S (Fig. 28A).

Após 7 anos de abandono, no ano de 2004, os proprietários da Fazenda Figueira Branca

abriram trincheiras prospectivas as quais interceptaram os veios lavrados pelos garimpeiros.

Formou-se então uma segunda frente de lavra, alongada na mesma direção da frente de lavra dos

garimpeiros (N-S) mas com dimensões de 50 metros de comprimento por 25 metros de largura

(Fig. 28B).

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Figura 28: ) Foto da antiga cava garimpeira do Filão do Cocheira; B) Foto da nova cava garimpeira do Filão do

Cocheira.

O Filão do Cocheira, como todos os filões localizados na Fazenda Figueira Branca, é

hospedado pela Suíte Intrusiva Matupá Fácies 2. Nas proximidades da cava garimpeira o granito

encontra-se intemperizado. Porém, a poucos metros distante da cava garimpeira encontram-se

muitos blocos arredondados da Suíte Intrusiva Matupá Fácies 2. O granito apresenta granulação

grossa, cor vermelha e geomorfologia arrasada. No extremo NE da área afloram rochas

graníticas ricas em xenólitos de rochas máficas. No local onde estão expostas essas rochas

descritas o relevo é de morros e morrotes. Diques máficos com direções N80ºW são encontrados

nas paredes das cavas.

A cava garimpeira antiga apresenta paredes íngremes e está sempre alagada, o que

dificulta a coleta de dados. No entanto, a cava aberta pelos proprietários da fazenda apresenta-se

mais preservada e de acesso mais fácil. Por isso, a maioria dos dados deste filão foram coletados

na cava mais recente.

O Filão do Cocheira encontra-se alongado na direção N-S, direção essa que coincide com

a direção dos veios de quartzo com teor de ouro (Fig. 29). O Filão do Cocheira difere do Filão do

Laje, além da atitude dos veios, por ser composto por uma grande quantidade de veios de quartzo

de espessuras que variam de 2 a 5 cm (Fig. 30A e B). Esses veios ocorrem na forma de estruturas

tabulares que podem se estender por vários metros, ou na forma de vênulas descontinuas que se

estendem por poucos centímetros. Os veios são constituídos de quartzo leitoso, pobres em sulfeto

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e comumente apresentam textura maciça, e subordinadamente texturas em pente e custriforme

(Fig. 31A e B). Texturas em pente e custriformes são formadas por meio do desenvolvimento do

quartzo em espaços vazios, de modo que a cristalização tem início nas paredes marginais do veio

em direção ao centro. São encontrados também, veios de quartzo perpendiculares à direção

principal N-S. Esses veios perpendiculares tem as mesmas características morfológicos e se

estendem com menos expressividade que os veios de atitude N-S. São veios verticalizados com

espessuras que não ultrapassam 2 cm e comprimentos inferiores a 15 cm.

Na antiga cava deixada pelos garimpeiros, foi observado um dique máfico com 20 cm de

espessura que atravessa a cava perpendicularmente na direção N80ºW (Fig. 32A). No entanto, o

mesmo não aflora nas proximidade da cava, somente é visível nas paredes da mesma, onde se

encontra intemperizado, o que impossibilitou a amostragem. Na figura 32B, C e D podemos

observar alguns veios de quartzo paralelos à direção principal N05-12°E/88°SE.

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Figura 29: Mapa do Filão do Cocheira.

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66

Figura 30: A, B) Veios de quartzo do Filão do Cocheira.

Figura 31: A,B) Veios de quartzo com textura em pente.

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Figura 32: A) Dique intemperizado perpendicular a atitude principal (contorno branco). B, C, D) Veios de quartzo

paralelos à direção principal (contorno branco).

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Nos veios do Filão do Cocheira foram coletadas 43 medidas as quais nos mostram um

atitude principal que varia entre N05-12°E/88°SE (Fig. 33). Estes veios se encontram

hospedados em pequenas fraturas. Devido ao alto grau de intemperismo da rocha hospedeira, não

foram reconhecidos indicadores cinemáticos que possibilitariam dizer se houve ou não

movimento.

Figura 33: Estereograma de isovalores e polos dos veios de quartzo do Filão do Cocheira.

Sete amostras representativas foram analisadas para a obtenção dos teores de ouro e

outros elementos no Filão do Cocheira. As amostras em geral obtiveram significativos resultados

para ouro variando entre 0,66 a 28,78 ppm (Tab. 8).

Tabela 8: Tabela dos resultados da geoquímica das amostras do Filão do Cocheira. Valores dados em ppm.

Amostra Au Ag Pb As Cu Zn Te Co

JCH1 1,96 0,032 10,48 6,0 2,86 3,1 0,09 1,3

JCH2 28,780 2,726 13,30 27,3 4,85 3,9 0,21 1,6

JCH3 8,38 0,162 13,54 26,8 3,45 4,2 0,14 0,6

JCH4 1,26 0,098 22,90 4,0 7,23 5,5 0,11 3,0

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JCH5 0,66 0,048 20,05 4,0 9,94 6,3 0,11 2,6

JCH6 5,42 0,454 14,10 2,1 3,68 4,7 0,08 1,2

JCH7 2,32 2,282 6,64 2,1 4,04 4,0 6,56 0,5

As amostras JCH 3, JCH 4 e JCH 7 foram retiradas de veios de quartzo, sendo a amostra

JCH 3 representante dos veios com direção N05°E/88°SE e as amostras JCH 4 e JCH 7 são de

veios de quartzo perpendiculares a atitude principal.

A amostra JCH 2 é um concentrado de bateia obtido a partir de veios de quartzo paralelos

a direção principal, os quais foram encontrados no interior do garimpo.

Amostragens de canalaletas foram obtidas através de 3 amostras, JCH1, JCH5 e JCH6. A

amostra JCH 6 é um canal ao qual foi coletado material do veio com direção N05°E/88°SE e 60

cm do granito intemperizado em ambos os lados do veio. As amostras JCH1 e JCH5 são

amostras de canal contendo material das rochas encaixantes e de veios perpendiculares a atitude

principal (N-S).

Os dados mostram que a mineralização neste local ocorre nos fluídos que deram origem

aos veios de quartzo com atitudes de N05°E/88°SE. Podemos observar também, que quando

acrescentamos material da encaixante nas amostras geoquímicas (amostras JCH1, JCH5 e

JCH6), os teores são reduzidos se compararmos com amostras dos veios (JCH3. JCH4 e JCH7).

Isso nos possibilita dizer que o ouro se encontra nos veios e não na encaixante.

Podemos concluir também que a mineralização desta ocorrência aurífera está ligada

principalmente aos veios de direção N-S, sendo os teores, para os demais veios, inferiores aos

veios N-S. Ao contrário do que ocorre no Filão do Laje e no Garimpo do Peteca, onde a

mineralização está ligada a atitudes E-W.

O Filão do Cocheira apresenta valores de elementos traços (Tab. 9) que nos mostram uma

correlação do minério (Au) com alguns outros elementos. Elementos como o Antimônio (Sb),

Molibdênio (Mo) e Urânio (U) apresentam uma forte correlação com o ouro para este filão. O

Filão do Laje apresenta também, teores medianos para Arsênio (As). Esses elementos são

considerados elementos farejadores para o minério nessa ocorrência aurífera.

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Tabela 9: Dados geoquímicos do Filão do Cocheira para elementos traços. Valores dados em ppm, exceto

Enxofre (%).

Amostra Bi S (%) Mo Sb Sn Sr W U

JCH1 0,19 <0.02 1,59 0,13 0,4 2,3 0,36 4,12

JCH2 0,28 <0.02 6,91 0,16 0,4 4,3 1,84 2,55

JCH3 0,30 <0.02 2,30 0,16 0,2 3,4 1,07 2,60

JCH4 0,58 <0.02 2,22 0,17 0,2 6,4 0,72 3,40

JCH5 0,39 <0.02 2,17 0,16 0,3 3,5 0,50 4,46

JCH6 0,22 <0.02 1,36 0,12 0,3 1,9 0,29 3,33

JCH7 0,09 <0.02 2,43 0,06 <0.1 4,5 0,16 0,39

7.5. FILÃO DO VINTE

O Filão do Vinte (nome este dado pelo proprietário da fazenda) localiza-se no nordeste da

Fazenda Figueira Branca, distante 3 km do Filão do Cocheira (Fig.22). A cava garimpeira

encontra-se alagada e com a rocha hospedeira intemperizada. A cava tem dimensões de 50 x 30

m, alongada na direção N-S e lavrada até a profundidade de 15 m (Fig. 34A e B).

Figura 34: A, B) Fotografias da Cava garimpeira do Filão do Vinte.

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O corpo mineralizado em superfície é composto por um veio de quartzo com atitudes

N5°E/85°SE, com aproximadamente 60 cm de espessura que aflora por mais de 2 m de altura na

parede da cava (Fig. 35 B e C). Esse veio atravessa toda a extensão da cava, estando presente em

duas paredes da mesma. Estruturas de veios paralelas e perpendiculares também foram

reconhecidas no local (Fig. 35A).

O Filão do Vinte encontra-se hospedado pela Suíte Intrusiva Matupá Fácies 2, onde o

granito apresenta granulação grossa, isotrópica, cor vermelha e geomorfologia de pequenos

morrotes. Porém, nas paredes da cava garimpeira o granito se encontra intemperizado (Fig. 36).

Figura 35: A) Veio de quartzo paralelo ao filão principal (contorno preto); B,C) Veio principal do Filão do Vinte

(contorno branco).

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Figura 36: Mapa geológico da área do entorno do Filão do Vinte.

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O Filão do Vinte é o único que está sendo lavrado no momento. Os proprietários da

Fazenda Figueira Branca abriram um shaft com 45 metros de profundidade pelo qual

interceptaram o filão e removem o material a ser beneficiado (Fig. 37).

Figura 37: Shaft usado para retirada de material e para translado de pessoas.

A mineralização de ouro é apresentada na forma de um único veio de quartzo, de

tipologia filoneana. Foram coletadas 57 medidas da atitude do filão principal que apontam para

uma direção principal de N05E/85°SE (Fig. 38). O corpo mineralizado apresenta textura maciça

e com espessura variando de 2 cm a 1,5 m e até 70 metros de comprimento.

Em profundidade de 45 metros foram abertos mais de 30 metros de galeria horizontal na

qual o filão principal é visível no teto (Fig. 39A e B) e no piso. As galerias apresentam 1,5 m de

largura e variam entre 1,80 a 10 m de altura. Amostras retiradas de sub-superficie, apresentam

características de brechas até então não reconhecidas, nos filões visitados. O quartzo preenche os

espaços entre os fragmentos da rocha hospedeira hidrotermalizada, gerando feições,

possivelmente formadas em ambientes crustais rasos, em que a pressão do fluido, somado ao

domínio rúptil da encaixante, gera o que é conhecido na literatura como brecha hidráulicas. Não

foram identificados marcadores cinemáticos que pudessem nos informações se houve ou não

movimento. Por isso, acreditamos que o filão principal está encaixado em uma fratura. Dentro da

galeria, onde se é possível observar o contato do filão principal com a rocha encaixante, sem a

última estar intemperizada, percebe-se que o veio de quartzo está encaixado entre as

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descontinuidades do granito, que por sua vez se encontra alterado hidrotermalmente

(potassificação). Essa alteração hidrotermal está relacionada com a percolação do fluído

hidrotermal da fase de cristalização do filão principal.

Figura 38: Estereograma de isovalores e polos do veio principal do Filão do Vinte com atitudes de N05E/85°SE.

Figura 39: A,B) Filão principal visto de dentro do shaft, a uma profundidade de 45 metros.

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A ausência de sulfetação proporcionou o desenvolvimento de ouro livre (Fig. 40A, B, C

e D), registrado em amostras de mão. Essa mineralização ocorre alojada no veio de quartzo

principal, variando em aglomerados cristalinos de 1 a 2 cm com cor amarela geralmente

associados a altos níveis de oxidação determinada pela cor vermelha no quartzo.

Figura 40: A,B,C,D) Ouro livre (contornado pelas linhas brancas) no material do filão principal do Filão do Vinte.

Dentro das galerias foi observado um dique máfico de atitude N80ºW com até um metro

de espessura perpendicular ao filão principal.

Nas galerias, a uma profundidade de 45 metros, podemos observar que quanto mais ao

norte, mais espesso é o filão principal, e que o mesmo vem diminuindo a sua espessura conforme

andamos em direção ao sul, passando de 1,5 metros de espessura no norte da galeria para 2 cm

no sul da galeria (Fig. 41).

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Figura 41: Mapa geológico do Filão do Vinte em profundidade de 45 metros (Shaft).

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O Filão do Vinte, apesar de ser o único em que podemos observar a formação de ouro

livre, foi o que apresentou teores de ouro mais baixos entre os filões estudados. Esses valores

baixos podem ser associados ao efeito pepita. Foram enviadas para análise 6 amostras

representativas do garimpo. A tabela 10 apresenta os resultados da geoquímica para amostras do

Filão do Vinte.

Tabela 10: Tabela de resultados da geoquímica do Filão do Vinte. Valores dados em ppm.

Amostra Au Ag Pb As Cu Zn Te Co

JVT 1 0,0082 0,062 21,70 14,0 0,85 6,5 0,02 15,8

JVT 2 0,0095 0,044 25,68 11,4 1,24 11,6 0,02 5,9

JVT 3 0,0002 0,038 12,11 2,6 1,61 17,5 <0.02 6,2

JVT 4 0,029 0,027 12,35 5,4 0,84 3,9 <0.02 6,6

JVT 5 0,014 0,035 9,70 3,6 1,73 16,4 <0.02 7,2

JVT 6 0,022 0,03 3,91 1,0 1,57 22,3 <0.02 4,4

As amostras JVT 4, JVT 5 e JVT 6 foram retiradas de diferentes pontos do filão principal

em superfície. São as amostras que apresentaram o maior teor de ouro dentre as amostras do

Filão do Vinte.

As amostras JVT 1 e JVT 2 são amostragens de canaletas, no qual foram retirados

material do filão principal e 40 cm do granito intemperizado de ambos os lados do filão. Os

resultados obtidos não foram satisfatórios, pois os baixos teores do filão principal são diluídos

em meio ao granito intemperizado. Teor de ouro em veio de quartzo perpendicular ao filão

principal foi obtido através da análise da amostra JVT 3, e apresentou o mais baixo resultado

para teor de ouro dentre as amostras analisadas.

Os dados contidos na tabela 10, apesar de conterem teores baixos de ouro, nos mostram

que o ouro está associado à estrutura do filão principal, que tem atitude principal de N05E/85°SE

(assim como ocorre no Filão do Cocheira). O veio de quartzo perpendicular ao filão principal

(JVT 3) apresentou teor abaixo daqueles apresentados pelas amostras do filão principal.

A tabela 11 apresenta valores dos elementos traços das amostras do Filão do Vinte.

Observando esses dados, podemos concluir que o Filão do Vinte apresenta uma correlação do

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minério (Au) com alguns outros elementos. Elementos como Antimônio (Sb) e Molibdênio (Mo)

apresentam uma forte correlação com o ouro para este filão, assim como também há um

enriquecimento em Arsênio (As) neste filão. Esses elementos são elementos farejadores para o

minério em questão nessa ocorrência aurífera.

Tabela 11: Dados geoquímicos para elementos traços do Filão do Vinte. Valores em ppm, exceto Enxofre (%).

Amostra Bi S (%) Mo Sb Sn Sr W U

JVT 1 0,23 <0.02 1,30 0,16 0,1 2,9 0,06 0,38

JVT 2 0,16 <0.02 0,72 0,22 <0.1 3,2 <0.05 0,29

JVT 3 0,04 <0.02 1,33 0,07 <0.1 3,0 <0.05 0,51

JVT 4 0,15 <0.02 1,07 0,13 <0.1 1,7 0,06 0,15

JVT 5 0,02 <0.02 1,22 0,08 0,2 2,9 0,09 0,33

JVT 6 0,04 0,12 1,25 0,04 0,2 8,8 0,11 0,04

8. INCLUSÕES FLUÍDAS

Pesquisas envolvendo Inclusões Fluidas (IFs) tem dado importante contribuição para

compreensão do caráter, origem e evolução dos fluídos hidrotermais, bem como a formação dos

bens minerais. Antes do desenvolvimento desses estudos, assumia-se que os fluídos formadores

de determinado mineral eram apenas enriquecidos nos constituintes presentes nos minerais

observados petrograficamente. No momento em que dados geológicos foram integrados a

resultados obtidos da análise de inclusões fluídas, sendo estas as verdadeiras amostras dos

fluidos mineralizadores, observou-se que estas soluções possuíam componentes adicionais como

compostos voláteis e sais solúveis, os quais não estão presentes no mineral propriamente dito

(Shepherd et al. 1985).

Os dados gerados a partir destas inclusões oportunizam de modo geral conhecer as

condições físico-químicas reinantes durante ou após a cristalização e/ou recristalização do

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mineral hospedeiro, fornecendo informações sobre os processos que estão relacionados a

formação ou a eventos superimpostos a este mineral.

O conhecimento sobre os fluídos geológicos exige muito cuidado, paciência e perspicácia

por parte dos pesquisadores ao analisarem estas gotículas de líquido. A inclusão fluída trata-se de

paleolíquidos trapeados em cristais de minerais de rochas, que na verdade são as verdadeiras

amostras dos fluidos responsáveis pelas mineralizações e que colaboram significativamente na

construção de modelos metalogenéticos favorecendo a descoberta de novas reservas com melhor

potencial exploratório (Roedder, 1984).

O estudo das inclusões fluídas é realizado através de 5 etapas: (i) amostragem do material

em campo; (ii) confecção de lâminas bipolidas; (iii) mapeamento das lâminas bipolidas; (iv)

microtermometria das inclusões mapeadas; (v) tratamento dos dados microtermométricos.

8.1. INCLUSÕES FLUÍDAS – MINA DO EDU

No estudo de inclusões fluídas da Mina do Edu foram confeccionadas duas lâminas bi-

polidas de amostras retiradas do centro da zona de cisalhamento (halo de sulfetação conforme

definido neste trabalho). Foram confeccionadas as lâminas desse halo de alteração devido a

relação da alteração hidrotermal com a zona de cisalhamento mineralizada.

Com a caracterização ao microscópio das lâminas bi-polidas, foi possível se distinguir as

características de diferentes inclusões fluídas, sendo as mesmas separadas em diferentes grupos,

conforme as características apresentadas. Abaixo a descrição dos grupos das inclusões fluídas da

Mina do Edu.

GRUPO I – Inclusões Carbônicas Monofásicas (Líquido): Essas inclusões são

encontradas em todos os grãos de quartzo da lâmina, geralmente se encontram em nuvens

de inclusões ou isoladas nos grãos (primárias), por vezes são encontradas em trilhas de

inclusões que ultrapassam os limites do grão de quartzo e/ou em trilhas que se mantem

restritas a um único grão (secundárias e pseudosecundárias). São inclusões de pequenas

dimensões, variando entre 6 e 10 μm, apresentam relevo baixo a moderado e possuem a

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fase líquida preenchendo 100% do volume da inclusão (Fig. 42 A e B). Possuem formas

que variam de alongadas, arredondadas a subarredondadas.

Figura 42: Inclusão do Grupo I da Mina do Edu. A) Foto de inclusão fluída monofásica; B) Desenho da inclusão

fluída monofásica.

GRUPO II – Inclusões Aquosas-Carbônicas Trifásicas (Líquido H2O + Líquido CO2

+ Vapor CO2): Essas inclusões, assim como as inclusões do Grupo I, são frequentemente

encontradas em nuvens de inclusões e isoladas nos grãos de quartzo (primárias). São

vistas também em trilhas de inclusões (secundárias e pseudosecundárias). Possuem

dimensões que variam de 6 a 12 μm e relevo moderado a alto. A fase líquida (H2O)

apresenta um volume que varia de 50 a 60% do volume total da inclusão. A fase líquida

(CO2) apresenta volume que varia de 30 a 35% do volume total, possuindo a fase gasosa

(CO2) um volume que não ultrapassa 15% do volume total das inclusões (Fig. 43 A e B).

Possuem formas que variam de angulares, arredondadas a alongadas.

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Figura 43: Foto da inclusão do Grupo II da Mina do Edu. A) Inclusão fluída trifásica; B) Desenho da inclusão fluída

trifásica.

GRUPO III – Inclusões Aquosas-Carbônicas Bifásicas (Líquido H2O+ Líquido

CO2): São observadas somente em trilhas de inclusões, trilhas essas que atravessam os

limites de grãos e/ou que estão restritas a um único grão. Essas inclusões são chamadas

inclusões secundárias e pseudosecundárias. Apresentam dimensões que variam de 5 a 8

μm, relevo leve a moderado e formas que variam de alongadas, arredondadas e

angulosas. As inclusões fluídas pertencentes a esse grupo apresentam feições de

estrangulamento. A fase líquida (H2O) ocupa um volume que varia de 70 a 90% do

volume total da inclusão, já a fase líquida (CO2) ocupa no máximo 20% do volume total

da inclusão.

8.1.1. MICROTERMOMETRIA DA MINA DO EDU

A microtermometria foi aplicada somente nas inclusões pertencentes ao Grupo I e II por

serem consideradas de origem primária. Foram selecionadas inclusões que não estivessem em

trilhas de inclusões (secundárias e pseudosecundárias) ou que apresentassem feições de

estrangulamento.

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Grupo I: Um total de 54 inclusões fluídas pertencentes a esse grupo foi analisado. A

temperatura de fusão do CO2 para essas inclusões variaram de -56,6 a -56,8ºC (Fig. 44A).

O ponto tríplice do CO2 é de -56,6ºC, por isso, foi considerado que as inclusões

pertencentes a esse grupo são formadas por CO2 puro, ou praticamente puro para as

temperaturas de -56,8ºC que contém poucos voláteis misturados ao CO2, dando uma

salinidade insignificante, modelando assim um fluído de composição CO2±N2±CH4. A

homogeneização total ocorre para a fase líquida. A temperatura de homogeneização total

varia de 30,7 a 31ºC, sendo o pico de maior ocorrência a temperatura de 30,7ºC (Fig.

44B). Tendo sido o fluído considerado como constituído de CO2 puro ou praticamente

puro em algumas inclusões, pode-se afirmar que quase não há outros voláteis, assim,

modelando-se um fluído constituído somente por CO2 variando para um fluído

CO2±N2±CH4. Só se pode afirmar que os voláteis presentes em pequena quantidade

sejam o N2 ou o CH4 através da espectroscopia RAMAN.

Figura 44: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo I indicando a relação Frequência versus: A) Fusão de CO2;

B) Homogeneização total.

Grupo II: Foram analisadas 40 inclusões pertencentes a esse grupo. A temperatura de

fusão do CO2 para essas inclusões varia de -60,5 a -65ºC, com um pico de ocorrência de -

64,8ºC (Fig. 45A), modelando um sistema H2O-CO2-NaCl-CaCl2(±N2±CH4). A

temperatura de fusão do clatrato (Tfclat) variou de 1,2 a 2,1ºC, com maior ocorrência na

temperatura de 1,8ºC (Fig. 45B). A salinidade do fluído variou de 10 a 14% equiv., com

pico de maior ocorrência o valor de 13% equiv. peso NaCl (Fig. 45C). A primeira fase a

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se homogeneizar é a fase gasosa do CO2. Essa fase se homogeneiza a temperaturas que

variam de 17 a 23ºC, sendo o pico de maior ocorrência a temperatura de 17ºC (Fig. 45D).

A homogeneização total ocorre para a fase líquida, e ela ocorre a temperaturas que

variam de 265 a 308ºC, com maior ocorrência a temperatura de 285ºC (Fig. 45E).

Figura 45: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo II indicando a relação Frequência versus: A) Fusão de CO2;

B) Fusão do Clatrato; C) Salinidade; D) Homogeneização do CO2; E) Temperatura de homogeneização total.

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8.2. INCLUSÕES FLUÍDAS – GARIMPO DO PETECA

Para realizar o estudo de inclusões fluídas do Garimpo do Peteca, tomou-se o cuidado de

se amostrar veios de quartzo que tivessem a mesma atitude que a falha por onde percolou os

fluídos mineralizantes. Por isso, foram confeccionadas duas lâminas bi-polidas de veios de

quartzo encontrados nas paredes da falha principal e que fossem paralelos a mesma.

Com base na caracterização microscópica das lâminas bi-polidas, foi possível traçar as

características das inclusões fluidas pautadas na ocorrência espacial, morfologia, relações

cogenéticas, distinção quanto à origem (primárias, secundárias e pseudosecundárias) bem como

mensurar suas dimensões. Sendo assim, as inclusões fluídas foram agrupadas com base nas suas

características. Segue abaixo os grupos de inclusões fluídas encontrados no Garimpo do Peteca.

Grupo I – Aquosas Bifásicas (Líquido + Vapor): estas inclusões ocorrem isoladas, em

pequenas nuvens de inclusões fluídas (tidas como inclusões primárias) e em trilhas de

inclusões que atravessam vários grãos ou que estão contidas em um único grão

(secundárias e pseudosecundárias). Possuem relevo intermediário a alto, líquido claro,

sendo pouco comuns as de aspecto sujo. Apresentam diâmetro variando entre 5 e 10μm,

com formas irregulares, desde alongadas, angulares e subarredondadas (Fig. 46A e B).

No seu conjunto apresenta a fase vapor com volume variando de 5% - 15% da superfície

da Inclusão. A fase gasosa forma uma bolha escura.

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Figura 46: Inclusão do Grupo I do Garimpo do Peteca. A) Inclusão Fluída Bifásica; B) Desenho da inclusão.

Grupo II – Aquosas Trifásicas Saturadas (Líquido + Vapor + Sólido): ocorrem de

formas isoladas e em nuvens dispersas, mas também são encontradas em trilhas de

inclusões (secundárias e pseudosecundárias) São consideradas inclusões fluídas

primárias. Suas formas são irregulares, variando de alongadas a subarredondadas. Estas

inclusões apresentam a fase vapor de tonalidade escura com volume variando entre 5% -

15%. A fase sólida possui volume que raramente ultrapassa os 5% do volume total da

inclusão, o que por vezes a torna quase imperceptível (Fig. 47A e B). O sólido apresenta

hábito cúbico, sendo considerado como um cristal de halita. Possuem líquido incolor,

trazendo às vezes o líquido com aspecto sujo. Possuem dimensões homogêneas entre

6μm e 12μm. As inclusões do Grupo II são encontradas em nuvens de inclusões junto

com as inclusões do Grupo I, mais um fator que nos leva a afirmar que esses dois grupos

de inclusões são de origem primária.

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Figura 47: Inclusão do Grupo II do Garimpo do Peteca. A) Inclusão fluída Trifásica; B) Desenho da inclusão fluída

trifásica.

Grupo III – Monofásicas (Vapor): essas inclusões são encontradas em trilhas que

atravessam de um grão de quartzo a outro (origem secundária) e às vezes em trilhas

dentro de um mesmo grão (origem pseudosecundária). Nessas inclusões a fase gasosa

ocupa um volume de 100% das inclusões. O seu relevo é alto e seu aspecto, em sua

grande maioria, é sujo. Estas inclusões mostram um fenômeno conhecido no estudo das

inclusões fluídas de “estrangulamento”. Essa feição de estrangulamento é quando a

inclusão se apresenta claramente dividida, como se estivesse sido estrangulada, dando

origem a uma segunda inclusão. Esse fenómeno não é bom para o estudo de inclusões

fluídas, pois esse estrangulamento divide o fluído inicial em duas ou mais inclusões, o

que altera as propriedades do mesmo fluído. Por não serem inclusões primárias, essas

inclusões ficaram restritas as observações microscópicas. Apesar de terem o menor

tamanho quando comparada as outras inclusões, cerca de 5 μm, pode-se afirmar que elas

são as mais abundantes nas lâminas, chegando a ocupar 40% do número de inclusões

observadas.

Grupo IV – Multifásicas (Líquido + Vapor + SSS): Estas inclusões são consideradas

inclusões de origem secundária e pseudosecundária por serem encontradas em trilhas que

cortam vários grãos de quartzo e em trilhas dentro de um mesmo grão. Assim como as

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inclusões do Grupo III, ficaram restritas a observações microscópicas. Elas apresentam

de 2 a 3 sólidos, todos de hábito cúbico, interpretados como halita. Os sólidos ocupam de

40-60% das inclusões, enquanto a fase líquida ocupa 30 a 50% e a fase gasosa 10%.

Apresentam relevo médio a alto, tamanho de até 8 μm e formas que variam de

subarredondadas a angulares. Assim como o Grupo III, o Grupo IV também apresenta

feições de “estrangulamento”.

8.2.1. MICROTERMOMETRIA DO GARIMPO DO PETECA

Análises microtermométricas foram realizadas nas inclusões fluídas dos Grupos I e II por

terem sido considerados de origem primária. Apesar da maioria das inclusões fluídas destes dois

grupos serem encontradas em trilhas de inclusões, só foram analisadas microtermometricamente

aquelas encontradas em nuvens de inclusões ou isoladas nos grãos, na tentativa de se obter como

dados as propriedades do líquido primário.

Grupo I: Os dados microtermométricos foram coletados em 60 inclusões fluídas. As

temperaturas de fusão do gelo (Tfg) variam de -15 até – 21,7 ºC, com pico de ocorrência

de -18,5ºC (Fig. 48A). As temperaturas do eutético (Te) variam de -47 a – 52ºC, com

pico de ocorrência de -50,3ºC (Fig. 48B). O pico de ocorrência da temperatura do

eutético estabelece um sistema H20-NaCl-CaCl2.

Os valores de salinidade deste grupo variam de 15 a 22,5% equiv. peso de NaCl, com

pico máximo de ocorrência de 21% equiv. peso de NaCl (Fig. 48C). As temperaturas de

homogeneização total (Th) variam de 70 a 125ºC, com pico de ocorrência de 83ºC (Fig.

48D). A homogeneização total ocorre para a fase líquida.

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Figura 48: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo I indicando a relação Frequência versus: A) Fusão do gelo;

B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total.

Grupo II: Os dados microtermométricos nesse grupo foram coletados em 40 inclusões

fluídas. As temperaturas de fusão do gelo (Tfg) para esse grupo de inclusões variou de -

17 a -23ºC, com pico de ocorrência de -21ºC (Fig. 49A). As medidas de temperatura do

eutético (Te) variam de -46,5 a -55ºC, com pico de ocorrência de -52,6ºC (Fig. 49B).

Estas temperaturas do eutético indicam um fluído de composição H20-NaCl-CaCl2.

Os resultados de salinidade do fluído variam de 28 a 39% equiv., com pico de ocorrência

no valor de 35% equiv. em peso de NaCl (Fig. 49C). A homogeneização total se deu no

intervalo de temperatura de 153 a 198ºC, com um pico de ocorrência na temperatura de

177ºC (Fig. 49D), sendo que a dissolução do sólido se fez após o desaparecimento da fase

gasosa em todas as inclusões deste grupo.

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Figura 49: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo II indicando a relação Frequência versus: A) Fusão do

gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total.

8.3. INCLUSÕES FLUÍDAS – FILÃO DO LAJE

Duas lâminas do filão principal do Filão do Laje foram confeccionadas e serviram de

estudo para este trabalho. Com base na caracterização microscópica das lâminas bi-polidas, foi

possível traçar as características das inclusões fluidas pautadas na ocorrência espacial,

morfologia, relações cogenéticas, distinção quanto à origem (primárias, secundárias e

pseudosecundárias) e dimensões. Sendo assim, as inclusões fluídas foram agrupadas com base

nas suas características. Abaixo os grupos de inclusões fluídas encontrados no Filão do Laje.

GRUPO I – Aquosas Bifásicas (Líquido + Vapor): estas inclusões ocorrem isoladas,

em pequenas nuvens de inclusões fluídas (tidas como inclusões primárias) e em trilhas de

inclusões que atravessam vários grãos ou que estão contidas em um único grão

(secundárias e pseudosecundárias) (Fig. 50A e B). Possuem relevo intermediário a alto,

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líquido claro, não foram encontradas inclusões com aspecto de líquido sujo. Apresentam

diâmetro variando entre 7 e 13μm, com formas irregulares, variando de alongadas a

subarredondadas (Fig. 51A e B). No seu conjunto apresenta a fase vapor com volume

variando de 5 - 10% da superfície da Inclusão. A fase gasosa forma uma bolha escura.

Figura 50: A) Trilhas de inclusões fluídas; B) Desenho das trilhas de inclusões.

Figura 51: Inclusão do Grupo I do Filão do Laje. A) Foto de inclusão fluída bifásica; B) Desenho da inclusão fluída

bifásica.

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GRUPO II – Aquosas Trifásicas Saturadas (Líquido + Vapor + sólido): ocorrem de

formas isoladas e em nuvens dispersas, mas também são encontradas em trilhas de

inclusões (secundárias e pseudosecundárias). São consideradas inclusões fluídas

primárias (Fig. 52A e B). Suas formas são irregulares, variando de alongadas a

subarredondadas. Estas inclusões apresentam a fase vapor de tonalidade escura com

volume variando entre 10 e 15%. A fase sólida possui volume que raramente ultrapassa

os 10% do volume total da inclusão, com maior número de ocorrências os sólidos com

valores de 5% do volume total da inclusão. Os sólidos foram considerados como cristais

de halita, por apresentarem hábito cúbico. Possuem líquido incolor e dimensões

homogêneas entre 5μm e 10μm. As inclusões do Grupo II são encontradas em nuvens de

inclusões juntas com as inclusões do Grupo I, mais um fator que leva a afirmar que esses

dois grupos de inclusões são de origem primária.

Figura 52: Inclusão do Grupo II do Filão do Laje. A) Inclusão fluída trifásica; B) Desenho da inclusão fluída

trifásica.

GRUPO III – Monofásicas Líquidas: Essas inclusões são observadas somente em

trilhas de inclusões, trilhas essas que por vezes cortam vários grãos e em outros casos

trilhas que ficam restritas a um único grão (inclusões de origem secundária e

pseudosecundária). A fase líquida ocupa 100% do volume total da inclusão. Seu relevo é

de fraco a médio, suas formas variam de arredondadas a subarredondadas, alongadas e

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angulares. Possuem dimensões que variam de 6 a 15μm. Este grupo de inclusões ficaram

restritos a observação de microscópio, pois apresentam muitas feições de

estrangulamento.

GRUPO IV – Monofásicas Gasosas: Essas inclusões, assim como as inclusões do

Grupo III, são inclusões de origem secundárias e pseudosecundárias, pois são

encontradas somente em trilhas de inclusões, junto com as inclusões do Grupo III. A fase

gasosa ocupa 100% do volume total da inclusão. Seu relevo é moderado a forte e suas

formas são variadas, podendo ocorrerem em formas alongadas, arredondadas e angulares.

Sua dimensão varia de 10 a 4 μm. As inclusões que pertencem a esse grupo apresentam

muitas feições de estrangulamento, ficando seu estudo restrito a observação de

microscópio.

8.3.1. MICROTERMOMETRIA DO FILÃO DO LAJE

Análises microtermométricas foram realizadas nas inclusões fluídas dos Grupos I e II por

terem sido os dois grupos considerados de origem primária. Apesar de inclusões fluídas de esses

dois grupos também serem encontradas em trilhas de inclusões, só foram analisadas

microtermometricamente aquelas em nuvens de inclusões ou inclusões isoladas nos grãos. Não

foram analisadas inclusões que estivessem em trilhas nem as que aparentavam ter sofrido um

estrangulamento, na tentativa de se obter como dados as propriedades do líquido primário.

Grupo I: Os dados microtermométricos foram coletados em 58 inclusões do grupo I. A

temperatura da fusão do gelo (Tfg) dessas inclusões variaram de -14 a -20,1ºC, sendo o

pico de maior ocorrência no valor de -19,3ºC (Fig. 53A). As temperaturas do eutético

(Te) variaram de -49,8 a -54,7 ºC, sendo mais comum o valor de -51,7ºC (Fig. 53B).

Esses valores de Te modelam um sistema H20-NaCl-CaCl2.

Os valores de salinidade das inclusões desse grupo variaram de 17 a 22% equiv. peso de

NaCl, com pico de maior ocorrência de 22% equiv. peso de NaCl (Fig. 53C). A

homogeneização total ocorre para a fase líquida com valores de Temperatura de

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homogeneização total (Tht) variando de 80 a 115ºC, com pico de ocorrência na

temperatura de 88ºC (Fig. 53D).

Figura 53: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo I indicando a relação Frequência versus: A) Fusão do gelo;

B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total.

Grupo II: 50 inclusões foram analisadas microtermometricamente. As inclusões

apresentaram temperatura de fusão do gelo de -19,8 a -27ºC, sendo o pico de maior

ocorrência na temperatura de -22,4ºC (Fig. 54A). As temperaturas do eutético variaram

de -51,3 a -55,5ºC, sendo o pico de maior ocorrência na temperatura de -52ºC (Fig. 54B).

Os valores de temperatura do eutético modelam para as inclusões desse grupo um sistema

H20-NaCl-CaCl2.

Os valores de salinidade para as inclusões deste grupo variam de 33 a 39% equiv., sendo

os valores com maior ocorrência de 37% equiv. peso NaCl (Fig. 54C). A

homogeneização total ocorre para a fase líquida, onde primeiro desaparece a fase gasosa

para depois desaparecer a fase sólida. Isso ocorre em temperaturas que variam de 175 a

225ºC, com valores de maior abundância de 185ºC (Fig. 54D).

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Figura 54: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo II indicando a relação Frequência versus: A) Fusão do

gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total.

8.4. INCLUSÕES FLUÍDAS – FILÃO DO COCHEIRA

Duas lâminas bi-polidas foram confeccionadas a partir de amostras retiradas de veios de

quartzo com atitude N05-12°E, direção principal dos veios mineralizados do Filão do Cocheira.

As inclusões fluídas foram divididas em grupos considerando-se as suas propriedades. Abaixo os

grupos de inclusões e suas características.

GRUPO I – Inclusões Aquosas Bifásicas (Líquido + Vapor): estas inclusões estão

presentes em nuvens de inclusões e isoladas em grãos de quartzo (origem primária), mas

também são encontradas em trilhas de inclusões fluídas, trilhas essas que atravessam de

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um grão para outro, ou que por vezes se encontra restrita a um único grão (Fig. 55A e B).

A fase vapor chega a ocupar o volume de 20% do volume total da inclusão, porém, é

mais comum se encontrar inclusões com volume da fase vapor ocupando no máximo

15% do volume da inclusão. As inclusões pertencentes a esse grupo possuem relevo

moderado a forte e líquido claro. A fase gasosa se apresenta sempre mais escura que a

fase líquida. As formas são as mais variadas possíveis, partindo de formas alongadas,

arredondadas, a subarredondadas e angulosas (Fig. 56A e B). Possuem dimensão que

pode variar de 10 a 15μm.

Figura 55: A) Trilhas de Inclusões Fluídas; B) Desenho das trilhas de inclusões.

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Figura 56: Inclusão do Grupo I do Filão do Cocheira. A) Foto de inclusões fluídas bifásicas; B) Desenho das

inclusões fluídas bifásicas.

GRUPO II – Inclusões Trifásicas Saturadas (Líquido + Vapor + Sólido): estas

inclusões, assim como as inclusões do grupo I, são consideradas inclusões primárias, pois

são encontradas em nuvens de inclusões e isoladas em grãos de quartzo. Com frequência

são também encontradas em trilhas de inclusões (secundárias e pseudosecundárias). A

fase vapor apresenta um volume homogêneo em todas as inclusões de 15% do volume

total. Já o volume da fase sólida varia de 5 a 10%. O sólido apresenta hábito cúbico, o

que leva a sugerir que seja uma halita (Fig. 57A e B). A dimensão das inclusões varia de

6 a 10μm, por diversas vezes é quase imperceptível a fase sólida. As ocorrências dessas

inclusões são em formas arredondadas a subarredondadas. Seu relevo é moderado a forte.

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Figura 57: Inclusão do Grupo II do Filão do Cocheira. A) Foto de uma inclusão trifásica; B) Desenho da inclusão

fluída trifásica.

GRUPO III – Trifásicas Aquocarbônicas (Líquido + Líquido CO2 + Vapor CO2):

estas inclusões estão presentes nas trilhas de inclusões, o que as define como inclusões

secundárias e pseudosecundárias. São raras e de difícil percepção devido a má qualidade

das suas características. Apresentam inúmeras feições de estrangulamento, formas

angulares e alongadas, dimensões que não ultrapassam 7 μm e relevo forte. Estas

inclusões ficaram restritas apenas ao estudo ao microscópio.

GRUPO IV – Aquosas Monofásicas (Líquido): Essas inclusões são encontradas

somente em trilhas de inclusões, tanto em trilhas que ultrapassam os limites de um grão

quanto em trilhas que são restritas a um único grão (secundárias e pseudosecundárias).

Apresentam a fase líquida ocupando 100% do volume da inclusão. Apresentam relevo

baixo a médio e dimensões que não ultrapassam 8 μm. Suas análises ficaram restritas a

observações microscópicas devido a origem do líquido ser secundário.

8.4.1. MICROTERMOMETRIA DO FILÃO DO COCHEIRA

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Foram selecionados para a microtermometria somente as inclusões pertencentes aos

grupos I e II, por serem consideradas de origem primária, e que não estivessem com feições de

estrangulamento ou inseridas em trilhas de inclusões.

Grupo I: Foram analisadas 83 inclusões fluídas desse grupo. Elas apresentam

Temperatura de fusão do gelo variando de -15,3 a -21,8ºC, com um pico de maior

ocorrência na temperatura de -18ºC (Fig. 58A). A temperatura do eutético variou de -50 a

-54ºC, com um pico de maior concentração na temperatura de -50,9ºC (Fig. 58B). Essa

temperatura do eutético modela um sistema H20-NaCl-CaCl2.

A salinidade das inclusões analisadas variou de 18 a 22% equiv. peso de NaCl, com

valores de maior ocorrência sendo os de 20,8% equiv. peso de NaCl (Fig. 58C). A

homogeneização total ocorre para a fase líquida e no intervalo de temperatura de 75 a

98ºC, com um valor de maior ocorrência de 82ºC (Fig. 58D).

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Figura 58: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo I indicando a relação Frequência versus: A) Fusão do gelo;

B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total.

Grupo II: Foram analisadas 43 inclusões fluídas para este grupo. As inclusões analisadas

apresentam Temperatura de fusão do gelo entre -18 a -23,5ºC, com um valor de maior

ocorrência sendo -18,9ºC (Fig. 59A). A temperatura do eutético das inclusões analisadas

varia de -49,8 a -55ºC, com um pico de ocorrência na temperatura de -51,4ºC (Fig. 59B).

Essa temperatura do eutético modela um sistema H20-NaCl-CaCl2.

As salinidades das inclusões desse grupo variam de 31,8 a 39% equiv. peso de NaCl,

sendo o valor de maior ocorrência 35,4% equiv. peso de NaCl (Fig. 59C). A

homogeneização total ocorre para a fase líquida, sendo a primeira fase a desaparece a

fase gasosa e por último a fase sólida. A temperatura da homogeneização total varia de

175 a 243ºC, sendo a temperatura com maior ocorrência de 180ºC (Fig. 59D).

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Figura 59: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo II indicando a relação Frequência versus: A) Fusão do

gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total.

8.5. INCLUSÕES FLUÍDAS – FILÃO DO VINTE

Os dados de inclusões fluídas do Filão do Vinte foram obtidos através de análises de duas

lâminas bi-polidas que foram confeccionadas de amostras do filão principal do Filão do Vinte em

superfície. As inclusões fluídas foram divididas em grupos conforme as suas características.

Abaixo os grupos de inclusões fluídas e suas características.

GRUPO I – Aquosas Bifásicas (Líquido + Vapor): as inclusões fluídas desse grupo

estão presentes em nuvens de inclusões ou isoladas em grãos de quartzo, porém, também

são encontradas em trilhas de inclusões, que por vezes atravessam os limites de um grão,

mas que também são observadas em trilhas restritas a um único grão (Fig. 60A e B). A

fase gasosa ocupa até 30% do volume total da inclusão, mas são mais comuns as

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inclusões com volume entre 20 e 15% do volume total. O relevo das inclusões desse

grupo varia de moderado a alto. As formas de ocorrência são variadas, sendo observadas

inclusões com formas arredondadas, subarredondadas, alongadas e angulosas (Fig. 61A e

B). Possuem dimensões que variam de 8 a 15μm.

Figura 60: A) Trilha de inclusões fluídas; B) Desenho das trilhas de inclusões fluídas.

Figura 61: Inclusão do Grupo I do Filão do Vinte. A) Inclusão fluída bifásica; B) Desenho da inclusão fluída

bifásica.

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GRUPO II – Inclusões Trifásicas Saturadas (Líquido + Vapor + Sólido): essas

inclusões, assim como as do grupo I, são encontradas em nuvens de inclusões ou

isoladas, porém, também são encontradas em trilhas de inclusões, tanto nas trilhas que

ultrapassam os limites de grãos, como em trilhas que são restritas a um único grão. A fase

gasosa pode chegar até 60% do volume total, sendo as mais comuns com 20% do volume

total. Já a fase sólida não ultrapassa 5% do volume total. Como as inclusões possuem

dimensões de 6 a 12 μm, por vezes é quase imperceptível a fase sólida, sendo por vezes

observada somente na microtermometria, na tentativa de se obter a temperatura de

homogeneização total (Fig. 62A e B). O relevo dessas inclusões é forte. As formas de

ocorrência variando de arredondadas, subarredondadas e alongadas.

Figura 62: Inclusão do Grupo II do Filão do Vinte. A) Foto da inclusão fluída trifásica; B) Desenho da inclusão

fluída trifásica.

GRUPO III – Inclusões Monofásicas (Vapor): essas inclusões são encontradas somente

em trilhas de inclusões, tanto nas trilhas que ultrapassam os limites de grãos como as que

estão restritas a um grão (secundárias e pseudosecundárias). A fase gasosa ocupa 100%

do volume total da inclusão. O relevo é de moderado a alto. Suas dimensões variam de 10

a 6 μm. Suas formas variam de angulosas a subarredondadas. São observadas feições de

estrangulamento nas inclusões desse grupo.

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GRUPO IV – Inclusões Monofásicas (Líquida): essas inclusões são encontradas junto

com as inclusões do Grupo III, e também são consideradas de origem secundária e

pseudosecundária. A fase líquida ocupa 100% do volume total da inclusão. Seu relevo é

baixo a moderado. Suas dimensões variam de 8 a 10μm. Suas formas de ocorrência são as

mesmas que as formas de ocorrência do Grupo III.

GRUPO V – Inclusões Multifásicas (Líquido + Gasoso + SSS): Essas inclusões são

consideradas inclusões de origem secundária e pseudosecundária por serem encontradas

em trilhas que cortam vários grãos de quartzo e em trilhas dentro de um mesmo grão.

Apresentam de 2 a 3 sólidos, todos de hábito cúbico, interpretados como halita. Os

sólidos ocupam de 40 a 60% das inclusões, enquanto a fase líquida ocupa 30 a 50% e a

fase gasosa 10%. Apresentam relevo médio a alto, tamanho de até 6 a 8μm e formas que

variam de subarredondadas a angulares. Essas inclusões apresentam feições de

“estrangulamento”. Essas inclusões ficaram restritas a observações microscópicas.

8.5.1. MICROTERMOMETRIA DO FILÃO DO VINTE

A microtermometria foi realizada nos Grupos I e II por serem os únicos grupos

considerados de origem primária. Para a microtermometria, foram selecionadas inclusões que

estivem em nuvens de inclusões ou isoladas. Foram dispensadas inclusões que estivem em trilhas

de inclusões e/ou que apresentassem feições de estrangulamento.

Grupo I: o estudo microtermométrico foi realizado em 65 inclusões desse grupo. A

temperatura de fusão do gelo (Tfg) variou de -16 a -28ºC, sendo o pico de maior

ocorrência a temperatura de -24ºC (Fig. 63A). A temperatura do eutético variou de -51 a -

54,8ºC, sendo o pico de maior ocorrência a temperatura de -52,8ºC (Fig. 63B). Essa

temperatura do eutético modelam um sistema H20-NaCl-CaCl2.

A salinidade dessas inclusões variam de 18,5 a 26% equiv. peso de NaCl, sendo a

salinidade de maior ocorrência 25% equiv. peso de NaCl (Fig. 63C). A temperatura de

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homogeneização total (Tht) ocorre entre 90 e 115ºC, sendo o pico de maior ocorrência a

temperatura de 97ºC (Fig. 63D). A homogeneização total ocorre para a fase líquida.

Figura 63: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo I indicando a relação Frequência versus: A) Fusão do gelo;

B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total.

Grupo II: o estudo microtermométrico desse grupo foi realizado em 45 inclusões. A

temperatura de fusão do gelo (Tfg) variou entre -23 a -29,5ºC, sendo o pico de maior

ocorrência a temperatura de -24,9ºC (Fig. 64A). A temperatura do eutético (Te) varia de -

51,8 a -55ºC, sendo o pico de maior ocorrência a temperatura de -53,3ºC (Fig. 64B). Essa

temperatura do eutético modela um sistema H20-NaCl-CaCl2.

A salinidade das inclusões variou de 36 a 39% equiv. peso de NaCl, sendo mais comum

os valores de 39% equiv. peso de NaCl (Fig. 64C). A temperatura de homogeneização

total (Tht) varia de 180 a 225ºC, sendo a temperatura de maior ocorrência 215ºC (Fig.

64D). A homogeneização total ocorre para a fase líquida, sendo a primeira fase a

desaparecer a fase gasosa, e por último a fase sólida.

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Figura 64: Histogramas das Inclusões Fluídas do Grupo II indicando a relação Frequência versus: A) Fusão do

gelo; B) Temperatura do eutético; C) Salinidade; D) Homogeneização total.

9. TRABALHOS DE INCLUSÕES

FLUÍDAS NA PAAF

Sobre as ocorrências auríferas e áreas de garimpo da Província Aurífera Alta Floresta já

foram publicados dados de estudos de inclusões fluídas. Neste tópico, foi elaborado um resumo

de alguns desses trabalhos, o que ajudará no entendimento do comportamento dos fluídos

hidrotermais nos garimpos estudados no presente trabalho.

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9.1. Garimpos estudados por Assis (2006)

Assis (2006) estudando inclusões fluídas em veios de quartzo dos depósitos Paraíba e

Novo Mundo observou as seguintes propriedades e características para cada um dos depósitos:

* Garimpo Paraíba: estudos petrográficos e microtermométricos de inclusões fluidas

revelaram grupos distintos de inclusões, classificados como dos tipos I, II e III. Nesse depósito as

inclusões fluidas estudadas de natureza primária e foram caracterizadas como bifásicas,

monofásicas, carbônicas, trifásicas saturadas e aquo-carbônica.

Petrograficamente, essas inclusões se distribuem aleatoriamente, possuindo formas sub-

arredondadas a sub-angulares com dimensões entre 7 a 15 μm. Os dados de microtermometria

para os dois grupos tipos I e II respectivamente são: temperaturas do eutético total entre -48,4°C

a 43,8°C e -46,8°C a -43,8°C correspondendo ao sistema fluido H2O-NaCl-CaCl2. As

temperaturas para a fusão do gelo para as inclusões estão em -6,7°C para o tipo I; -8,3°C para o

tipo II com salinidade correspondendo a 10% de NaCl (I) e 40,3% de NaCl (II). As temperaturas

de homogeneização total para o tipo I situam-se entre 78,7°C e 234,3°C variando principalmente

entre 145°C a 150,0°C. Nas Inclusões tipo II as temperaturas de homogeneização total foram

registradas entre 285,5°C e 362,1°C.

Para as Inclusões do tipo III (aquo-carbônicas) as temperaturas de homogeneização total

(Tht) variam entre 159°C e 315°C com valor modal em 285°C, com a maioria delas ocorreu

crepitação nos intervalos de 295°C e 310°C. As conclusões preliminares de Assis (2006) para o

depósito Paraíba se pautam nas seguintes argumentações e indagações: os fluidos ricos em CO2

no depósito Paraíba coexistindo com fluidos aquosos de alta salinidade possivelmente

demonstram um sistema em imiscibilidade que interagiu progressivamente com fluidos aquosos

mais diluídos (seriam de origem metamórfica ou magmática?).

* Garimpo Novo Mundo: petrograficamente as inclusões fluidas em veios de quartzo do

granito hidrotermalizado desse depósito foram definidas como tipo I (aquo-salinas bifásicas) e

tipo II (aquo-salinas saturadas). Ambos os tipos se distribuem aleatoriamente, classificadas como

primárias, tamanhos entre 0,5 a 7,5μm, apresentando formatos alongados, irregulares, sub-

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angulares a sub-arredondados. As do tipo I e II ocupam um Vg (proporção L/V) entre 10% a

20% e 10% a 30% respectivamente.

Os resultados de microtermometria para o grupo I apresentam temperatura de

homogeneização total num campo de 60,9°C e 185°C com moda de 129°C. A temperatura

eutética ocorre entre -82,9°C e 39,1°C com valor modal em 62,5°C e salinidade 5,67°C de NaCl

e temperatura de fusão do gelo de -9,7°C a -1,3°C . As inclusões do tipo II possuem temperatura

do eutético variando de -80°C a -39,1°C com moda em -64,6°C e temperatura de fusão do gelo

entre -6,1°C e 0,7°C com pico de concentração em -2,63°C. Possuem salinidade de 33,61% em

NaCl. A temperatura de homogeneização do sal se deu por volta de 230,8°C e a homogeneização

da bolha se deu em 130°C.

Quanto aos dados do depósito Novo Mundo, estes refletem um regime puramente aquoso

trazendo fluidos de alta salinidade (magmático?) que tendem a se misturar com fluidos de mais

baixa temperatura de origem externa (meteóricos?) (Assis 2006).

9.2. Garimpos estudados por Silva et al. (2008)

* Garimpo Paraíba: A) Tipo 1: monofásicas (LCO2) e bifásicas (LCO2) carbônicas

raras, apresentam dados de homogeneização (Th) para líquido entre 30,1°C e 31,1°C,

temperatura de fusão de CO2 entre -57,9°C e -56,6°C, sistema CO2 ± N2 ± CH4. B) Tipo 2: aquo-

carbônicas trifásicas (LH2O + LCO2 + VCO2) e bifásicas (LH2O + LCO2), primárias, TfCO2

entre -58,6°C e -56,6°C temperaturas de fusão do clatrato (Tfclat) de -12°C a 7,6°C, com

concentração modal de 0°C a 6°C.

O Th do CO2 (homogeniza tanto para L e V) entre 9,1°C a 31,1°C com moda em 28°C. A

homogeneização total (Tht) para líquido entre 230°C a 320°C com moda em 270°C a 320°C. A

eutética ocorre em média a 42°C, sistema H2O-NaCl-CaCl2-CO2(±N2±CH4). C) Tipo 3:

bifásicas (LH2O+VH2O), primárias, temperatura de fusão do gelo (Tfg) -2,6/C a -0,6°C, Tht(L)

200°C a 340°C e moda em 230°C e temperatura do eutético de -52,0°C a -44,2°C, sistema H2O-

NaCl-CaCl2. D) Subtipos 4a e 4b: as primeiras secundárias, bifásicas (4a) (LH2O+VH2O) com

Tfg -26,0°C a -9,2°C, Tht (L) 103°C a 207°C, eutético (Te) de -53,4°C a -42,0°C. As segundas

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aquosas trifásicas (L+V+S) apresentam Tfg de -27,2°C a -18,3°C, o Tht (L) vai de 153°C a

200°C e Te variando de -53°C a -43,0°C, o sistema para ambos os casos é o H2O+NaCl+ CaCL2.

As inclusões analisadas nos veios de quartzo desse filão mostram evidências de fluidos

predominantemente aquocarbônico, com salinidade variando entre < 5 % a 25% em peso equiv.

de NaCl, resultando num sistema H2O-NaCl-CaCl2-CO2(±N2±CH4).

Silva et al. (2008) concluíram que as inclusões analisadas nos veios de quartzo nesse filão

mostram evidências como:

- Fluidos são predominantemente aquocarbônico, modelando um sistema H2O-NaCl-

CaCl2-CO2(±N2±CH4).

- Presença de fluidos aquosos quentes, de baixa salinidade (< 5% de NaCl) ocorrendo de

forma restrita, contemporâneos a esses fluidos aquocarbônico.

- Fluidos aquosos mais salinos (13% a 28% de NaCl) , Tht < 200°C, tardios, permitiram

determinar sistema H2O+NaCl+ CaCL2, possivelmente sofrendo influência externa (água

meteórica).

-Os fluidos com variada salinidade e altas temperaturas provavelmente foram os

responsáveis pela geração do minério, se concluí, que tal minério teve sua origem a partir de

fluidos relacionados a granitos de ambiente de arco magmático.

- Características, mesmo subordinadas, desses fluidos, são parecidas as de fluidos

relacionados a depósitos alojados em veios de regiões de colisão continental (depósito de caráter

orogênico) onde há predomínio de fluidos aquocarbônico de salinidade baixa, < de 5% em NaCl,

e presença dominante de voláteis como N2 e/ou CH4. Tal processo pode ser visto como uma

mistura de fluidos, assim como da superposição de processos metamórfico-hidrotermal no

depósito.

* Garimpo Trairão: A) Tipo 1: primárias, aquo-carbônicas trifásicas

(LH2O+LCO2+VCO2) e bifásicas (LH2O+VCO2) mostram dados com as seguintes variações:

TfCO2 -58,5°C a -56,6°C, Tfclat de -13,2 a 9,6°C com maior frequência em 8,4°C, salinidade

entre 0,8% e 26,2% de NaCl.

O Th do CO2 (L/V) vai de -9,4 a 30,9°C com moda em 28°C e Tht(L) e crepitação numa

faixa de 176°C a 301°C e moda de 270°C, sistema H2O-NaCl-CaCl2-CO2(±N2±CH4. B) Tipo 2:

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bifásicas (LH2O+VH2O) primárias, Tfg -12,2°C e -1,1°C salinidade em valores de 1,9% a

16,1%, Tht (L) 248°C a 353°C. O eutético de -53,0°C a -49,3°C, sistema H2O – NaCl – CaCl2.

C) Tipo 3a: aquosas bifásicas, (LH2O+VH2O), secundárias, com Tfg -15,8°C a -0,2°C, Tht (L)

101°C a 222°C, Te -53,6°C a -44,5°C, sistema H2O - NaCl - CaCL2. D) Tipo 3b: trifásicas

(LH2O+VH2O+S) a multifásicas (LH2O+VH2O+SSS) secundárias, Tfg ocorrem no intervalo de -

24,7°C a -22,7°C, salinidade com intervalos de 28,5% a 34,4% de NaCl. A temperatura do

eutético vai de -52,7°C a -42,6°C, sugerindo sistema H2O - NaCl - CaCL2.

Para Silva et al. (2008) no tocante a esse garimpo os dados sugerem para os fluidos as

seguintes considerações feitas pelos autores citados:

- Presença de fluidos, supostamente primários, aquocarbônico aquosos marcando sistemas

H2O-NaCl-CaCl2-CO2(±N2±CH4) e H2O - NaCl - CaCL2 respectivamente, com salinidade em

peso equiv. entre 0 a 20% e (Th) entre 250°c e 350°C são os responsáveis pela mineralização do

depósito.

- Fluidos tardios (sistema H2O - NaCl - CaCL2), provavelmente sem relações com o fluido

mineralizante de mais altas temperaturas, encontram-se aprisionados em fraturas dos cristais de

quartzo da rocha mineralizada.

- Os fluidos mineralizadores tem relevante contribuição magmática, coerentes com dados

de outros depósitos da região, indicando que as mineralizações estão relacionadas á evolução de

granitos de arco magmático.

* Garimpo Pé de Fora: A) Tipo 1: primárias, bifásicas (LH2O+ LCO2) e aquo-

carbônicas Trifásicas (LH2O+LCO2) com valores de TfCO2 de -59,9°C a -57,0°C, Tfclat -5,7°C

a 8,5°C, Th (L) do CO2 com valores de 12,7°C a 30,8°C, salinidade de 3% a 22% de NaCl. O

Tht (L) é de 210°C a 44°C, modelando o sistema H2O-NaCl-CaCl2-CO2(±N2±CH4. B) Tipo 2:

primárias, bifásicas (LH2O+VH2O), temperaturas de fusão do gelo (Tfg) situadas num intervalo

de -14,0°C a -11,5°C, salinidade de 15% a 8% de NaCl, Tht (V) indo de 360°C a 382°C, com

eutético entre -51,8°C a -50,4°c, indicando sistema H2O - NaCl - CaCL2. C) Tipo 3: compreende

inclusões bifásicas monofásicas (LH2O) e bifásicas (LH2O +VH2O), secundárias, com Tfg em

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torno de -5,2°C a -0,2°C, valores de salinidade entre 0,4% a 8,1%. O Tht (L) variaram de 163°C

a 188°C, Te de -51,8°C a -48,8°C indicando um sistema fluido H2O - NaCl - CaCL2.

Silva et al. (2008) interpretaram os dados acima citados a respeito do Garimpo Pé de Fora

demonstrando que:

- Fluidos predominantemente aquocarbônico, representados pelo sistema H2O-CO2-NaCl-

CaCl2(±N2±CH4), indicando salinidade entre 3% a 22% de NaCl, aprisionados em temperaturas

aproximadamente entre 200°C e 350°C.

- Fluidos aquosos, quentes, ricos em vapor e de salinidade intermediária, aparecem em

locais restritos dos grãos de quartzo, espacialmente com as inclusões aquocarbônicas.

- Fluidos aquosos, pouco salinos, homogeneização entre 160°C e 180°C são tidos como

tardios.

- Os dados mostram similaridade com um fluido hidrotermal de alta temperatura,

provavelmente de contribuição magmática, contaminado por fluidos meteóricos. - Os fluidos

responsáveis pela mineralização nesse depósito possuem características semelhantes às de

depósitos auríferos em veios de quartzo geneticamente a granitos de arco vulcânico.

* Garimpo do Edu: A) Tipo 1: inclusões primárias, carbônicas raras, monofásicas

mostram temperaturas de fusão do CO2 de -65,3°C a -62,0°C e homogeneização total (Tht-L) de

26,6°C a 29,3°C, fluido modelado pelo sistema CO2±N2±CH4. B) Tipo 2: inclusões primárias,

aquosas carbônicas, bifásicas (LH2O+LCO2) e trifásicas (LH2O+LCO2+VCO2) com TfCO2 -

63,4°C a -62,0°C, Tfclat indo de -1,4°C a 2,1°C, Th do CO2 (L) ocorrendo entre 10,6/C a -0,6°C,

salinidade de 13% a 17% de NaCl, com Tht(L) 229°C a 326°C, sistema (H2O-CO2-NaCl-

CaCl2(±N2±CH4). C) Tipo 3: secundárias, temperatura de fusão do gelo (Tfg°C) -10,2 a -0,6°C,

salinidade de 1,1% a 14,1% peso equiv. De NaCl com Tht (L) situando num intervalo de 115°C

a 237°C e Te numa faixa de -52,7°C a -49,9°C, fluido revelado pelo sistema H2O - NaCl -

CaCL2.

Segundo Silva et al. (2008) as medidas microtermométricas das inclusões fluidas para

esse depósito aurífero determinam que:

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111

- Os fluidos tidos como primários nesse garimpo são carbônicos e aquocarbônico, e que

TfCO2 são as mais baixas dentre os depósitos pesquisados, demonstrando uma provável

contribuição de N2, na fase não-aquosa.

- Fluidos de mais alta temperaturas de homogeneização modelam o sistema H2O-CO2-

NaCl-CaCl2(±N2±CH4) com salinidade de 13% a 17% de NaCl e presença de CaCl2 no sistema

indica contribuição magmática.

- Sem influência na mineralização, com salinidade baixa a moderada e homegeneização

indo de 200°C a 250°C, provavelmente tardios, são os fluidos modelados pelo sistema H2O -

NaCl - CaCL2.

- Os dados mostram coerência com os fluidos mineralizadores parecidos aos dos

depósitos hospedados em veios geneticamente associados a magmatismo granítico.

* Garimpo Tapajós: A) Tipo 1: são inclusões primárias, aquocarbônicas bifásicas

(LH2O+LCO2), sugerem TfCO2 -61,1°C a -57,7°C, a Tfclat ocorre de -11,6°C a 5,1°C,

apresentando Th do CO2 (L) -3,7°C a 17,7°C, salinidade 8,8% a 22,6%, com homogeneização

total (Tht) (L) 299°C a 314°C, sistema H2O - CO2 - NaCl - CaCl2 ( ±N2 ± CH4). B) Tipo 2:

aquosas bifásicas (LH2O + VH2O), primárias, Tfg°C -2,5°C a 0,1°C, salinidade 0,2% a 4,2%. O

Tht (L) ocorre de 325°C a 368°C com Te -52,0°C a -50,1°C, portanto, sistema H2O - NaCl -

CaCL2. Tipo 3: inclusões bifásicas (LH2O+VCO2), secundárias com Tfg entre -18,1°C a -0,4°C

com moda em -2,5°C e salinidade entre 0,6% a 21%. O Tht (L) concentrou-se entre 95°C e

231°C com eutético entre -52,8°C e -48,1°C, sustentando o sistema fluido H2O - NaCl - CaCL2.

Para Silva et al. (2008) a integração dos dados para esse depósito possibilitou traçar as

características dos fluidos mineralizadores da seguinte forma:

- Fluidos aquocarbônico com temperaturas mínimas de aprisionamento de 300°C com

salinidades entre 8,8% a 22,6 % e fluidos modelados pelo sistema H2O - NaCl - CaCL2, são os

prováveis responsáveis pela mineralização do depósito.

- Fluidos aquosos de temperaturas de homogeneização < de 200°C com salinidade

variada são tidos tardios.

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- Fluidos primários de alta salinidade e as referidas temperaturas de homogeneização

sugerem que os fluidos que deram origem ás mineralizações de ouro tem sua gênese ligada ao

magmatismo granítico.

* Garimpo do Fabinho: estudos de inclusões fluidas em veios de quartzo nesse depósito

revelaram serem bifásicas (LH2O+VCO2) e monofásicas líquidas (LH2O+VCO2). A Tfg varia de

-3,6°C a 0°C com valor modal entre -0,5°C a 0°C e salinidade de 0% a 6% em peso equivalente

de NaCl. A homogeneização total com temperaturas de 88°C a 358°C e moda entre 300°C e

360°C. Inclusões com feições de estrangulamento decrepitaram com temperatura acima de

300°C.

Silva et al. (2008) definiram a natureza do fluido mineralizante desse garimpo a partir dos

dados acima descritos revelam que:

- O Fluido aquoso, de composição homogênea, de baixíssimos valores de salinidade

modela o sistema H2O - NaCl - CaCL2.

- Os valores baixos da salinidade são condizentes com ausência de contribuição

magmática na composição dos fluidos aprisionados nos veios de quartzo estudados.

- Valores variados da temperatura de homogeneização total (Tht) podem ser causados

pela mistura de fluidos com níveis diferentes de temperaturas, ou seja, mistura de fluidos

externos (meteóricos) com fluidos metamórficos profundos.

9.3. Garimpo do Papagaio estudado por Galé et al. (2011)

* Depósito do Papagaio: Tipo I: exibem dois padrões de temperaturas para o ponto

eutético: (i) um entre -68,2 e -58,9 °C e (ii) um segundo, mais representativo (89,5 % dos casos ),

entre -43,5 a -20,4 °C, com uma moda em 35,0 °C. Houve em alguns cristais a formação de

hidrohalita, da qual obteveram-se temperaturas de dissolução de entre -28,1 a -18,2°C. A Tfg

oscilou desde -22,5 até 0°C, o que consequentemente demonstra baixos a moderados valores de

salinidade, entre 0,5 a 24,0 % em peso equivalente em NaCl. A Tht total varia de 115,1 a

216,2°C. Tipo II: A variação nas dimensões aliadas a elevada quantidade de cristais de saturação

(aprisionamento acidental) nas inclusões do tipo II dos veios mineralizados não permitem

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confiabilidade quanto aos dados microtermométricos obtidos e, portanto, impossibilita

estimativas confiáveis dos reais parâmetros físico-químicos deste fluido. Tipo III: Temperatura

de Fusão do CO2 variou de -59,2 a -56,2 °C, porém, com maior concentração dos valores entre -

56,6 a -56,4 °C. Essas temperaturas indicam que a fase volátil dessas inclusões é constituída

apenas por CO2, sem apresentarem adição de outros voláteis, a exemplo do N2 e/ou CH4, os

quais provocariam um abaixamento do ponto triplo do CO2 (-56,6°C). Houve a nucleação de

clatrato durante o resfriamento das inclusões, o qual exibe temperaturas de dissolução entre 6,1 a

8,8°C, representativas, portanto, de baixas salinidades: 2,4% a 7,2% em peso equivalente de

NaCl. A homogeneização do CO2 predominantemente para a fase líquida (86,5% dos casos)

ocorreu no intervalo de 18,9 a 30,9 °C, com visível moda em torno dos 29,0 °C. Não foi possível

obter as temperaturas de homogeneização total para esse grupo de inclusões, visto que as

mesmas apresentaram crepitação a partir dos 325 °C.

Considerando que o Depósito do Papagaio é predominantemente aurífero e encontra-se

em ambiente de arco, o posicionamento dos veios ocorreu em profundidades moderadas a rasas

da crosta (2-5 km) e que está hospedado em rochas sub-vulcâncias ácidas com grandes halos de

alteração hidrotermal provindos por colaboração de fluidos magmáticos, pode-se concluir que o

trata-se de um depósito do tipo Ouro Pórfiro (Galé et al. 2011).

9.4. Garimpo do Trairão estudado por Dias (2012)

* Depósito do Trairão: Tipo I e Tipo II: São inclusões monofásicas líquidas e

monofásicas vapor, respectivamente. Os estudos dessas inclusões ficaram restritas ao

microscópio, por serem inclusões secundárias. Tipo III: Aquosas Bifásicas com temperaturas de

fusão do gelo variaram entre -18°C a -0,75°C com moda -19,5°C a -18,1°C. As temperaturas do

eutético foram registradas nas faixas -50,6°C a -30°C e -28,5°/C a -20,0°C, com moda de maior

frequência nos intervalos de -43,5°C a -42,5°C e -21,5/C a -20,0°C. Os picos de concentrações

dos eutéticos estabelecem os sistema H2O -NaCl - CaCl2 e H2O - NaCl. Os valores de salinidades

deste grupo situam na faixa de 2,5% a 26% NaCl equiv., com picos máximos entre 20,8% a

22,3% equiv. peso de NaCl. As temperaturas de homogeneização variaram entre 50°C a 140°C,

com moda entre 80°C e 90°C. A homogeneização total (vapor) ocorre sempre para a fase líquida.

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Tipo IV: Aquosas Trifásicas com medidas da fusão de gelo que variam entre -26°C a -6°C, com

moda de maior frequência entre -20°C a -18°C. As medidas das temperaturas do eutético

correspondem ao intervalo de -49,7°C a -39,0°C e -36,4°C a -31,5°C com respectivas modas nos

intervalos de -45,0°C a -43,5°C e -33,0°C a -31,5°C temperaturas estas obtidas para fluidos de

H2O-CaCl2 e H2O- MgCl2 respectivamente. Os resultados das medidas de salinidade variam

numa faixa de 28,5% a 35,0% com moda equivalente variando de 29% a 29,5% em peso de

NaCl. A homogeneização total (dissolução da fase sólida se deu após o desaparecimento da

bolha escura de vapor) ocorreu para líquido a temperaturas entre 120°C a 240°C com valores

modais entre 170°C a 180°C.

Segundo Dias (2012) a variação apresentada para as salinidades das inclusões pode ser

vista como consequência da mistura de fluidos onde: a) - inclusões de baixa salinidade

representam um fluido mais frio, externo (água meteórica), com aumento de temperatura durante

sua descida ao percolar as fraturas da rocha daí tornando-se um fluido meteórico transformado.

b) - inclusões fluidas com salinidade intermediária são representadas como resultados da mistura

de dois produtos distintos, um fluido aquoso meteórico (baixa salinidade) tende a se misturar

com um fluido de natureza magmática (alta salinidade). c) - inclusões fluidas com valores de

salinidade alta são caracterizadas como de filiação magmática que durante a trajetória de sua

ascensão passou por decréscimo de temperatura.

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115

10. DISCUSSÕES E CONCLUSÕES

Lacerda Filho et al. (2004) constataram, a partir da cartografia geológica sistemática

realizada pelo Projeto Alta Floresta, a predominância de dois domínios tectono-estruturais: (i)

um domínio rúptil/rúptil-dúctil e outro domínio (ii) dúctil; em estilos deformacionais

progressivos.

O domínio rúptil a rúptil-dúctil é distribuído nos terrenos com deformação não-penetrativa,

descontínua, próprio do nível estrutural encontrado no cinturão plutovulcânico (suítes intrusivas

Matupá, Flor de Serra, Juruena e Paranaíta, granitos Nhandu e Teles Pires e Suíte Colíder) e

coberturas sedimentares proterozóicas. Esse domínio é caracterizado por zonas de cisalhamento

transcorrentes com larguras centimétricas a métricas e na maioria das vezes descontínuas,

formadas a partir de nucleação de fraturas e/ou falhas preexistentes, com direções predominantes

NW-SE e EW, de cinemática sinistral e N-S (dextral), num regime compressivo com direção

N50ºE.

O domínio dúctil, vinculado às rochas de médio a alto grau metamórfico está associado

aos complexos Bacaeri-Mogno e Nova Monte Verde, Suíte Vitória, granitos São Pedro, São

Romão e ao Grupo São Marcelo-Cabeça, mostra um estilo deformacional progressivo,

desenvolvido sob regime compressivo, onde formaram mega zonas transcorrentes oblíquas, com

direção predominante NW-SE a E-W, cinemática dextral conjugada às vezes com movimentos

sinistrais, caracterizadas por uma superfície milonítica Sn+1, que transpôs total ou parcialmente

o bandamento gnáissico Sn, geralmente disposto em dobras abertas assimétricas, confinadas por

shear bands.

Com o aumento de trabalhos realizados na Província Aurífera de Alta Floresta a idéia

desses domínios propostos por Lacerda Filho et al. (2004) evoluíram. Souza et al. 2005,

utilizando o diagrama de RIEDEL, tratou as orientações predominantes dos veios de quartzo

auríferos da Província Aurífera de Alta Floresta, e os divide em 6 conjuntos de falhas/fraturas

conforme o ângulo delas em relação ao vetor principal de maior esforço, com atitude de N55ºE.

Estas estruturas do regime rúptil-dúctil a rúptil foram geradas em função de esforços

compressivos com o vetor principal orientado N55ºE que ensejou o desenvolvimento de fraturas

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extensionais (T) e fraturas de cisalhamento (R, R’, P, Y e X), as quais possuem atitudes distintas

uma das outras (Fig. 65).

Figura 65: Modelo de diagrama Riedel com as orientações predominantes do domínio dúctil-rúptil (modificado

de Souza et al. 2005).

Através da proposta de Souza et al, 2005, concluímos que a Mina do Edu, descrito neste

trabalho, com atitudes de N50ºE, pertence a estruturas T, que são fraturas extensionais que

ocorreram com a mesma atitude dos esforços. Sendo assim, as fraturas extensionais (T) indicam

a direção do esforço compressivo principal e são preenchidas por veios de quartzo. Por ser

fratura extensional, a mesma apresenta uma espessura superior a dos outros garimpos estudados,

além de uma percolação de fluídos mais intensa que as demais, definindo 4 halos de alterações

hidrotermais: (i) Halo da Sulfetação, (ii) Halo da Silicificação, (iii) Halo da Cloritização e (iv)

Halo da Potassificação.

O Garimpo do Peteca e o Filão do Laje, com atitudes E-W, são definidos como estruturas

do tipo R. As estruturas R com direção predominante E-W/subvertical, cinemática sinistral. Estas

estruturas estão dispostas ao longo de descontinuidades, marcadas por falhas e/ou zonas de

cisalhamento confinadas, geralmente preenchidas por veios de quartzo em zonas transtensionais,

são faixas descontínuas, de largura centimétrica a métrica, confinadas em rochas graníticas não-

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deformadas penetrativamente (Souza et al. 2005). Essas características apresentadas por Souza et

al, 2005 para as estruturas do Tipo R são características apresentadas pelo Garimpo do Peteca e o

Filão do Laje nesse trabalho. A cinemático do Garimpo do Peteca é a mesma citada por Souza et

al, 2005, no entanto, não foi possível observar a cinemática do Filão do Laje.

O Filão Vinte e o Filão Cocheira, com atitudes N-S, são classificados como estruturas X,

segundo a classificação de Souza et al. 2005. Estas estruturas são zonas confinadas de

cisalhamento transcorrente geradas a partir da nucleação de fraturas. Segundo Souza et al. 2005,

as estruturas classificadas como estruturas X tem caráter dextral, no entanto, não foram

observadas quaisquer marcadores cinemáticos que indicassem esse caráter nos garimpos

estudados.

Na Tabela 12, apresentamos de forma simplificada alguns elementos químicos que tem

correlações com o minério (ouro) em todos as ocorrências auríferas estudadas.

Tabela 12: Tabela simplificada de elementos químicos correlacionáveis com o ouro para cada depósito. Os

quadros brancos apresentam teores baixos, os amarelos teores médios e os vermelho apresentam altos teores.

Através da Tabela 12, podemos observar diferenças entre os elementos químicos

encontrados em cada um dos depósitos estudados. A mina do Edu apresenta um enriquecimento

em elementos como Bismuto, Enxofre, Cobre e Cobalto. O Cobalto só apresenta enriquecimento

para essa ocorrência, não sendo observado em nenhuma outra ocorrência. O Garimpo do Peteca,

assim como a Mina do Edu, apresenta altos teores para Bismuto, Enxofre e Cobre, no entanto, se

difere da Mina do Edu por apresentar teores baixos de Cobalto, e teores altos de Molibdenio,

Telúrio e teores medianos para a Prata. O Filão do Laje muito se assemelha ao Garimpo do

Ocorrência

Aurífera Bi S Mo Sb U Te Ag Cu Pb As Co

Mina do Edu X X X X

Garimpo do Peteca

X X X X X X

Filão do Laje X X X X X X

Filão do Cocheira

X X X X

Filão do Vinte X X X

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Peteca, não só em atitude de suas estruturas mineralizadas como em teores dos elementos

químicos. O Filão do Laje apresenta valores elevados de Bismuto e Telúrio. Apresenta valores

altos de Arsênio e Chumbo e valores medianos de Prata e Cobre. O Filão do Laje é a única

ocorrência aurífera estudada que apresentou teores elevados de Chumbo.

O Filão do Cocheira e o Filão do Vinte, ambos classificados como estruturas X,

apresentam os mesmos elementos correlacionáveis com o ouro. Ambos os filões apresentam

forte correlação do ouro com elementos como o Molibdênio e o Antimônio, e teores medianos de

Arsênio. Se diferem em um único elemento, o Urânio, onde o Filão do Cocheira apresenta altos

teores para esse elemento. O Filão do Cocheira é o único depósito estudado neste trabalho que

apresenta altos teores para Urânio.

A Tabela 13 apresenta, de forma simplificada, os resultados obtidos através da

microtermometria realizada em inclusões fluídas dos Grupos I e II da Mina do Edu.

Tabela 13: Dados da microtermometria dos Grupos I e II da Mina do Edu. Os valores apresentados são os valores

de maior ocorrência.

Grupo Fusão CO2

Fusão Clatrato

Salinidade Homogeneização

CO2 Homogeneização

Total Composição Fluído

Grupo I -56,6ºC - - - 30,7ºC CO2 e CO2±N2±CH4

Grupo II -64,8ºC 1,8 13% 19ºC 285ºC H2O-CO2-NaCl-CaCl2(±N2±CH4)

Os dados apresentados na tabela 13 nos mostram que os fluídos tidos como primários

para essa mina são carbônicos e aquosa-carbônicos. O Grupo I apresenta valores que nos

possibilitam afirmar que muitas inclusões fluídas pertencentes a esse grupo possuem uma

composição pura de CO2, variando para algumas inclusões com poucos voláteis misturados ao

CO2, dando uma salinidade insignificante, modelando também um fluído de composição

CO2±N2±CH4. Já o Grupo II mostra uma interação entre o fluído essencialmente carbônico com

um fluído aquoso, formando assim as inclusões aquosas-carbônicas pertencentes a esse grupo.

A interação de um fluído carbônico com um fluído aquoso é visível nos dados

apresentados na Tabela 13 para o Grupo II. O Grupo II apresenta uma salinidade de 13% equiv.

peso NaCl, apresenta também uma queda na temperatura de fusão do CO2, além de um aumento

na temperatura de homogeneização total, características que apontam para uma mistura de um

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fluído carbônico com um fluído aquoso, gerando inclusões aquo-carbônicas. A temperatura de

Homogeneização Total para o Grupo II representa a temperatura mínima de aprisionamento das

inclusões. Essa temperatura elevada (285ºC) nos sugere que o fluído aquoso que interagiu com o

fluído carbônico seja um fluído hidrotermal, e não um fluído meteórico, que apresentaria uma

temperatura de homogeneização total inferior a essa obtida nas inclusões fluídas do Grupo II da

Mina do Edu. A interação entre esses dois fluídos foi a provável causa para a deposição dos

elementos químicos como o ouro e o cobre.

A Tabela 14 apresenta de forma simplificada os dados obtidos através da

microtermometria realizada em inclusões fluídas do Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do

Cocheira e Filão do Vinte.

Tabela 14: Dados da microtermometria dos Grupos I e II do Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do Cocheira e

do Filão do Vinte. Os valores apresentados são os valores de maior ocorrência.

Garimpos Grupos Fusão do

Gelo Eutético Salinidade

Homogeneização Total

Composição Fluído

Garimpo do Peteca

I -18,5ºC -50,3ºC 21% 83ºC H20-NaCl-CaCl2

II -21ºC -52,6ºC 35% 177ºC H20-NaCl-CaCl2

Filão do Laje

I -19,3ºC -51,7ºC 22% 88ºC H20-NaCl-CaCl2

II -22,4ºC -52ºC 37% 185ºC H20-NaCl-CaCl2

Filão do Cocheira

I -18,0ºC -50,9ºC 20,8% 82ºC H20-NaCl-CaCl2

II -18,9ºC -51,4ºC 35,4% 180ºC H20-NaCl-CaCl2

Filão do Vinte

I -24ºC -52,8ºC 25% 97ºC H20-NaCl-CaCl2

II -24,9ºC -53,3ºC 39% 215ºC H20-NaCl-CaCl2

Ao observarmos a Tabela 14, concluímos que os dados microtermométricos para os

depósitos estudados apresentam uma similaridade entre eles. Em todos esses depósitos estudados

os fluídos primários são fluídos essencialmente aquosos, modelando um fluído H20-NaCl-CaCl2.

Os fluídos dos Grupos I apresentam uma salinidade média e uma temperatura de

homogeneização total baixa. Já os Grupos II apresentam uma salinidade alta, supersaturando o

fluído e formando um cristal de halita, e uma temperatura de homogeneização total superior as

dos Grupos I.

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Essas características nos possibilitam dizer que houve mistura entre dois fluídos

essencialmente aquosos. O primeiro fluído seria um fluído aquoso hidrotermal, de alta

temperatura e alta salinidade, sendo este aprisionado nos grãos de quartzo formando as inclusões

do Grupo II. O segundo fluído seria um fluído aquoso de baixa temperatura e salinidade, que ao

entrar em contato com o fluído de alta temperatura e salinidade, diminuiu a salinidade e a

temperatura de homogeneização do primeiro, formando as inclusões fluídas do Grupo I.

Abre-se assim uma discussão sobre a origem desse segundo fluído. Seria um fluído

aquoso de baixa temperatura e baixa salinidade de origem hidrotermal, ou seria de origem

meteórica?

A temperatura de homogeneização total para esses fluídos é a temperatura mínima de

aprisionamento do fluído. Os Grupos I apresentam temperaturas de homogeneização total muito

baixa. Ao analisarmos as temperaturas de homogeneização baixa e a salinidade baixa,

concluímos que o segundo líquido é na verdade um fluído de origem meteórica.

Portanto, o Garimpo do Peteca, o Filão do Laje, o Filão do Cocheira e o Filão do Vinte

são oriundos de uma mistura de fluídos aquosos. O primeiro um fluído aquoso hidrotermal

(Grupo II) e o segundo um fluído de origem meteórica (Grupo I).

Essa mistura de fluído hidrotermal com fluído meteórico vem sendo descrito em recentes

trabalhos que utilizaram a técnica de inclusões fluídas, como Silva et. al (2008), Galé et. al

(2011) e Dias (2012), e vem se mostrando como um forte padrão metalogenético.

O Granito Nhandu, rocha hospedeira da Mina do Edu, apresenta idade geocronológica

entre 1.889 ±17 Ma e 1.879 ±5,5 Ma (U-Pb em zircão) (Silva & Abram 2008), enquanto a Suíte

Intrusiva Matupá, rocha hospedeira do Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do Cocheira e

Filão do Vinte, segundo Moura (1998) apresenta uma idade Pb-Pb em zircão de 1.872 ±12 Ma.

Considerando-se os poucos dados geocronológicos existentes para as rochas hospedeiras, o que

as deixam contemporâneas em termos de idade, e a falta de dados geocronológicos da

mineralização de cada um dos garimpos, a justificativa mais aceita para essa diferença entre os

fluídos da Mina do Edu e das demais ocorrências estudadas seria devido à distância de cada uma

delas para a fonte magmática, já que os dados existentes não permitem sugerir até o momento

fontes magmáticas distintas. Com essa consideração, podemos afirmar que a Mina do Edu estaria

mais próxima à fonte magmática do que as demais ocorrências auríferas, isso porque a Mina do

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121

Edu apresenta fluídos com tendências magmáticas, enquanto as demais ocorrências, devido a

distância delas para com a fonte magmática, apresentam líquidos com misturas mais expressivas

com fluídos aquosos mais frios (Temperatura de homogeneização entorno de 180 °C),

diferentemente dos fluídos aquosos da Mina do Edu (Temperatura de Homogeneização média de

285 °C). Assim, possivelmente os fluídos aquosos magmáticos da Mina do Edu seriam os

mesmos fluídos aquosos magmáticos das demais ocorrências auríferas, no entanto, com a

distância, esse fluído aquoso foi perdendo temperatura, e se misturando com água meteórica. Já o

fluído carbônico presente na Mina do Edu não é encontrado nas demais ocorrências, isso porque

os fluidos carbônicos são mais instáveis que os fluídos aquosos, e devido à distância a fonte, não

tiveram participação na mineralização das demais ocorrências (Garimpo do Peteca, Filão do

Laje, Filão do Cocheira e Filão do Vinte).

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122

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125

ANEXOS

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126

Controle estrutural e estudo das Inclusões Fluídas dos

garimpos da região de Terra Nova do Norte, Província

Aurífera Alta Floresta, Cráton Amazônico.

JONAS MANGONI RAMBO1, FRANCISCO EGÍDIO CAVALCANTE PINHO

2, ELZIO DA SILVA

BARBOSA2, ANA CAROLINA GAUER MARQUES

3, MAX SALUSTIANO LIMA JÚNIOR

3.

1 – Mestrando em Geociências pela Universidade Federal de Mato Grosso.

2- Professores do Departamento de Recursos Minerais da Universidade Federal do Mato Grosso.

3 – Geólogos graduados pela Universidade Federal de Mato Grosso.

RESUMO

A Província Aurífera Alta Floresta (PAAF) se localiza no norte do estado de Mato

Grosso, delimitada ao norte pelo Gráben do Cachimbo e ao sul pelo Gráben dos Caiabís. Se

enquadra na porção sul do Cráton Amazônico, entre as províncias geocronológicas Ventuari –

Tapajós e Rio Negro – Juruena. Na porção leste da PAAF foram selecionados 5 alvos para

elaboração deste trabalho: (i) Mina do Edu; (ii) Garimpo do Peteca; (iii) Filão do Laje; (iv) Filão

do Cocheira e (v) Filão do Vinte. O corpo mineralizado do Edu tem atitudes de

N55ºE/subvertical, e é classificado como estruturas do tipo T. Essas estruturas são fraturas

extensionais que ocorreram com a mesma atitude do esforço principal e, portanto, indicam a

direção do esforço compressivo principal e são preenchidas por veios de quartzo. A Mina do Edu

apresenta fluídos carbônicos e aquosa-carbônico. O Garimpo do Peteca e o Filão do Laje, com

atitudes de E-W/subvertical, são classificados como estruturas do tipo R. Os Filões do Cocheira e

do Vinte, com atitudes N-S/subvertical, são classificados como estruturas do tipo X, que são

zonas confinadas de cisalhamento transcorrente geradas a partir da nucleação de fraturas de

cisalhamento dextral. O Garimpo do Peteca, o Filão do Laje, Filão do Cocheira e Filão do Vinte

apresentam fluídos estritamente aquosos, variando de alta a média salinidade. Esses fluídos

distintos sugerem mineralizações provenientes de uma mesma fonte magmática, no entanto,

devido à distância de algumas ocorrências da fonte, o fluído foi interagindo com outros fluídos,

se distinguindo assim do fluído primário.

Palavras-chave: Inclusões Fluídas, veios mineralizados a ouro, estruturas tectônicas, Província

Aurífera de Alta Floresta.

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127

ABSTRACT

The Alta Floresta Gold Province (PAAF) is located in the northern state of Mato Grosso,

bounded on the north by the Gráben do Cachimbo and on the south by Gráben dos Caiabis. The

PAAF fits in the southern portion of the Amazon Craton, between the Ventuari - Tapajós and

Rio Negro - Juruena geochronological provinces. In the eastern portion of PAAF 5 targets were

selected for the present work: (i) Mina do Edu (ii) Garimpo do Peteca (iii) Filão do Laje , (iv)

Filão do Cocheira (v) Filão do Vinte. The mineralized body of the Mina do Edu has attitude of

N55ºE/subvertical, and is classified as structures of the T type. These structures are extensional

fractures that occurred with the same attitude as the main effort, and therefore indicate the

direction of the main compressive stress and are filled by quartz veins. The Mina do Edu

presents carbonic and aqueous-carbonic fluid inclusions. The Garimpo do Peteca and Filão do

Laje, with attitudes of EW/subvertical, are classified as structures of the R type. The Filão do

Cocheira and Filão do Vinte, with attitudes NS/subvertical, are classified as structures of the X

type, which are enclosures transcurrent shear generated from the nucleation of dextral shear

fractures. The Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do Cocheira and Filão do Vinte presents

strictly aqueous fluid inclusions, ranging from high to medium salinity. These different fluids

suggest mineralization from the same magmatic source, however, due to the distance of the

source from some instances, the fluid was interacting with other fluids, thus distinguishing from

the primary fluid.

Keywords: Fluid Inclusions, gold mineralized veins, tectonic structures, Alta Floresta Gold

Province.

INTRODUÇÃO: O Cráton Amazônico corresponde a uma das maiores áreas cratônicas

do planeta, abrangendo aproximadamente 4,3 milhões de km2 (Tassinari & Macambira, 2004).

Sua gênese teria ocorrido mediante a acresção de sucessivos arcos magmáticos que envolveram a

formação de material juvenil, além de subordinados processos de retrabalhamento crustal durante

o Paleoproterozóico em torno de um núcleo arqueano (Província Amazônia Central) estabilizado

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128

por volta de 2,5 Ga (Dardene & Schobbenahus, 2000; Tassinari & Macambira, 2004; Cordani et

al., 2009). A Província Aurífera Alta Floresta (PAAF) está localizada na porção centro-sul do

Cráton Amazônico (centro-norte do estado do Mato Grosso). Esta província configura uma área

alongada de direção noroeste-sudeste limitada a norte pelo Gráben do Cachimbo, que a separa da

Província Aurífera do Tapajós (PAT), e a sul pelo Gráben dos Caiabis. A PAAF engloba partes

das Províncias Geocronológicas Ventuari-Tapajós (1,95 – 1,8 Ga) e Rio Negro-Juruena (1,8 –

1,55 Ga) na concepção de Tassinari & Macambira (1999).

As primeiras ocorrências auríferas na região remetem aos municípios de Peixoto de

Azevedo – Matupá, no ano de 1978, com a construção da rodovia BR-163, que liga a capital

mato-grossense Cuiabá a Santarém, no estado do Pará (Paes de Barros 1994, Moura 1998). Essas

ocorrências atraíram um grande contingente de garimpeiros à região, o que resultou na

descoberta de inúmeros depósitos auríferos aluvionares ao longo do Rio Peixoto de Azevedo e

seus afluentes. Com a diminuição e exaustão destas reservas de enriquecimento secundário,

abriu-se caminho ao descobrimento de várias ocorrências de ouro primário em filões (Moreton &

Martins 2005, Paes de Barros 2007), etapa que se estende até o presente.

O potencial metalogenético da província para mineralizações auríferas pode ser

demonstrado pela sua produção acumulada de ouro da ordem de 160 ton, gerada no período entre

1980 a 1999, quando foi uma das principais regiões auríferas do país (Metamat 2003, dados não

publicados). O seu histórico de produção e o grande número de ocorrências primárias indicam

que a PAAF ainda sustenta um potencial exploratório significativo. Além disso, sempre que

ocorre a ascensão do preço do ouro, várias empresas de exploração mineral, na sua maioria

Juniors, investem na descoberta de novos depósitos ou na reavaliação do potencial daqueles já

conhecidos na PAAF.

Atualmente, uma grande parcela desses depósitos concentra-se no setor leste da PAAF,

particularmente na região que abrange os municípios de Peixoto de Azevedo – Novo Mundo –

Guarantã do Norte – Matupá e Terra Nova do Norte. Neste cenário, a área em epígrafe se

localiza entre os municípios de Nova Santa Helena e Terra Nova do Norte, abrangendo, entre

outros, a Mina do Edu, o Garimpo do Peteca e os Filões do Vinte, do Laje e do Cocheira, estes

últimos localizados na Fazenda Figueira Branca.

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129

As inclusões fluídas são paleolíquidos trapeados em minerais, que na verdade são as

verdadeiras amostras dos fluidos responsáveis pelas mineralizações e que colaboram

significativamente na construção de modelos metalogenéticos favorecendo a descoberta de novas

reservas com melhor potencial exploratório. Os dados gerados a partir destas inclusões

oportunizam conhecer as condições físico-químicas reinantes durante e/ou após a cristalização e

a recristalização do mineral hospedeiro, fornecendo informações sobre os processos que estão

relacionados à formação ou aos eventos superimpostos a este mineral. Alguns trabalhos de

inclusões fluídas têm sido realizados na PAAF com a intenção de caracterizar as condições

físico-químicas dos fluídos mineralizantes (Silva et. al 2008, Gale et al. 2011, Domingues Dias

2012).

Este trabalho objetiva caracterizar as mineralizações na área de pesquisa enfatizando

aspectos geológicos estruturais e determinar a natureza dos fluídos mineralizantes. Para alcançar

tais objetivos foi utilizada a geologia estrutural concomitante com o estudo das inclusões fluídas.

CONTEXTO GEOLÓGICO: A Província Aurífera de Alta Floresta (PAAF) insere-se em uma

faixa W-NW com mais de 500 km no norte de Mato Grosso, delimitada entre as nascentes do rio

Peixoto de Azevedo, a leste e o rio Aripuanã, a oeste, ao norte pelo Gráben do Cachimbo e ao sul

pelo Gráben dos Caiabís (Fig. 1). Enquadrada na porção sul do Cráton Amazônico, a PAAF se

estende na região de limite entre as províncias geocronológicas Ventuari – Tapajós (1,95 a 1,8

Ga.), e Rio Negro – Juruena (1,8 – 1,55 Ga.) de Tassinari & Macambira (1999). A PAAF é

constituída basicamente por sequências plutono-vulcânicas geradas em ambiente de arcos

magmáticos que se desenvolveram e se agregaram no decorrer do Paleoproterozóico (Tassinari

& Macambira 1999).

No setor leste da PAAF, área de estudo, o embasamento é representado pelos granitos Pé

Quente (Assis 2011), Novo Mundo (Paes de Barros 2007), Aragão (Vitório 2010) e Flor da Mata

(Ramos 2011), sendo que os mesmos exibem idades no intervalo de 1,98 a 1,93 Ga, sendo os

plútons graníticos mais antigos da região. Com exceção do granito Flor da Mata, todos esses

plútons hospedam mineralizações auríferas em filões e/ou disseminadas. Estas suítes ainda são

truncadas pelas suítes intrusivas Matupá (Moura 1998, Souza et al. 2005) e Teles Pires (Souza et.

al. 2005), que foram alojadas entre 1,87 e 1,77 Ga.

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130

Figura 1: Mapa de localização e domínios geológicos da PAAF, destacando a área em epígrafe (Modificado de

Lacerda Filho et al. 2004 e Paes de Barros 2007).

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131

A Mina do Edu está hospedada no Granito Nhandu (Fig. 2), que segundo Souza et al.

(2005) é classificado como granodiorito com sienogranitos subordinados. As formas de

ocorrência parecem estar associadas a stocks aglutinados circulares a elípticos, ainda observa-se

na forma de enclaves e soleiras de gabro, gradiorito porfirítico, diorito, quartzo diorito e

monzogranito.

Na área de estudo foi mapeado como Granito Nhandu um sienogranito com granulação

média, de cor rosa. Esta unidade aflora como pequenos corpos arredondados e por vezes como

pequenos morrotes. Ao percorrer o corpo aflorante percebe-se que próximo à zona de

cisalhamento da Mina do Edu, o sienogranito apresenta um aumento na quantidade de biotita,

uma oscilação de granulação de fina a média e uma coloração cinza, porém, essas mudanças nas

características do granito estão restritas as bordas da zona de cisalhamento.

As demais ocorrências auríferas estudadas (Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do

Cocheira e Filão do Vinte, essas três últimas localizadas na Fazenda Figueira Branca) estão

hospedadas na Suíte Intrusiva Matupá (Fig. 2), que ocorrem na área como um relevo arrasado

entre morrotes e morros. Geralmente aflora como um conjunto de blocos e matacões

arredondados, com cor vermelha e com diferentes estágios de intemperização.

Esses granitos são constituídos essencialmente por feldspato potássico, quartzo,

plagioclásio e biotita. Os feldspatos potássicos variam entre 1 e 3 cm, são euedrais e apresentam

coloração vermelha, por vezes ressaltam texturas porfiríticas. Cristais de quartzo variam de 0,5 a

1 cm, com hábitos intersticiais com cor branca. O plagioclásio ocorre próximo ao quartzo, e

geralmente com hábitos anédricos e dimensões menores que 0,5 cm. A biotita ocorre de forma

intersticial ao quartzo e feldspatos, e constitui um importante indicador do estado de alteração do

granito, possuem cor escura, porém quando alteradas ficam foscas e mostram diversas

tonalidades, indo de marrom até cinza.

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132

Figura 2: Mapa geológico da região onde se localizam os garimpos e a mina estudada, os quais são marcados no

mapa por linhas que representam a direção dos filões mineralizados (modificado de CPRM 2013).

RESULTADOS E DISCUSSÕES: Lacerda Filho et al. (2001) constataram, a partir da

cartografia geológica sistemática realizada pelo Projeto Alta Floresta, a predominância de dois

domínios tectono-estruturais: (i) um domínio rúptil/rúptil-dúctil e outro domínio (ii) dúctil; em

estilos deformacionais progressivos.

O domínio rúptil a rúptil-dúctil é distribuído nos terrenos com deformação não-penetrativa,

descontínua, próprio do nível estrutural encontrado no cinturão plutovulcânico (suítes intrusivas

Matupá, Flor de Serra, Juruena e Paranaíta, granitos Nhandu e Teles Pires e Suíte Colíder) e

coberturas sedimentares proterozóicas. Esse domínio é caracterizado por zonas de cisalhamento

transcorrentes com larguras centimétricas a métricas e na maioria das vezes descontínuas,

formadas a partir de nucleação de fraturas e/ou falhas preexistentes, com direções predominantes

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NW-SE e EW, de cinemática sinistral e N-S de cinemática dextral, num regime compressivo

com direção N50ºE.

O domínio dúctil, vinculado às rochas de médio a alto grau metamórfico está associado

aos complexos Bacaeri-Mogno e Nova Monte Verde, Suíte Vitória, granitos São Pedro, São

Romão e ao Grupo São Marcelo-Cabeça, mostra um estilo deformacional progressivo,

desenvolvido sob um regime compressivo, onde se formaram megas zonas transcorrentes

oblíquas, com direção predominante NW-SE a E-W, de cinemática dextral conjugada às vezes

com movimentos sinistrais, caracterizadas por uma superfície milonítica Sn+1, que transpôs total

ou parcialmente o bandamento gnáissico Sn, geralmente disposto em dobras abertas assimétricas,

confinadas por shear bands (Lacerda Filho et al. 2001).

Com o aumento de trabalhos realizados na Província Aurífera de Alta Floresta a idéia

desses domínios propostos por Lacerda Filho et al. (2001) evoluíram. Souza et al. 2005,

utilizando o diagrama de RIEDEL, tratou as orientações predominantes dos veios de quartzo

auríferos da Província Aurífera de Alta Floresta, e os divide em 6 conjuntos de falhas/fraturas

conforme o ângulo delas em relação ao vetor principal de maior esforço, com atitude de N55ºE

(Fig. 3). Estas estruturas do regime rúptil-dúctil a rúptil foram geradas em função de esforços

compressivos com o vetor principal orientado N55ºE que ensejou o desenvolvimento de fraturas

extensionais (T) e fraturas de cisalhamento (R, R’, P, Y e X), as quais possuem atitudes distintas

uma das outras.

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Figura 3: Modelo de diagrama Riedel com as orientações predominantes do domínio dúctil-rúptil (modificado de

Souza et al. 2005).

A Mina do Edu (Longitude: 698124; Latitude: 8802548) (Fig. 2 e 3) apresenta atitudes de

N50ºE/subvertical, atitudes que enquadram a Mina do Edu nas estruturas do tipo T de Souza et

al. 2005. As estruturas T são fraturas extensionais que ocorreram com a mesma atitude dos

esforços. Sendo assim, as fraturas extensionais (T) indicam a direção do esforço compressivo

principal e são preenchidas por veios de quartzo. Por ser fratura extensional, a mesma apresenta

uma espessura superior a dos outros garimpos estudados.

O Garimpo do Peteca (Longitude: 726516; Latitude: 8813013) e o Filão do Laje

(Longitude: 736889; Latitude: 8814471) (Fig. 2 e 3), com atitudes E-W, são definidos como

estruturas do tipo R. As estruturas R com direção predominante E-W/subvertical apresentam

cinemática sinistral. Estas estruturas estão dispostas ao longo de descontinuidades, marcadas por

falhas e/ou zonas de cisalhamento confinadas, geralmente preenchidas por veios de quartzo em

zonas transtensionais, são faixas descontínuas, de larguras centimétricas a métricas, confinadas

em rochas graníticas não-deformadas penetrativamente (Souza et al. 2005). Essas características

apresentadas por Souza et al. 2005 para as estruturas do Tipo R são características apresentadas

pelo Garimpo do Peteca e o Filão do Laje nesse trabalho. A cinemático do Garimpo do Peteca é

a mesma citada por Souza et al. 2005, no entanto, não foi possível observar a cinemática do Filão

do Laje.

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O Filão do Vinte (Longitude: 737980; Latitude: 8817710) e o Filão do Cocheira

(Longitude: 737215; Latitude: 8816925) (Fig. 2 e 3), com atitudes N-S, são classificados como

estruturas do tipo X, segundo a classificação de Souza et al. 2005. Estas estruturas são zonas

confinadas de cisalhamento transcorrente geradas a partir da nucleação de fraturas. Segundo

Souza et al. 2005, as estruturas classificadas como estruturas X tem caráter dextral, no entanto,

não foram observadas quaisquer marcadores cinemáticos que indicassem esse caráter nos

garimpos estudados.

Para o estudo das Inclusões Fluídas foram confeccionadas 10 lâminas bi-polidas, 2

lâminas para cada ocorrência aurífera estudada. Os fluídos tidos como primários para a Mina do

Edu são carbônicos (Grupo I) e aquo-carbônicas trifásicas (Grupo II). Como inclusões

secundárias aquo-carbônicas bifásica (Grupo III). O Grupo I é composto por inclusões

carbônicas monofásicas de dimensões variando entre 10 e 6 μm, apresentam relevo baixo a

moderado e possuem a fase líquida preenchendo 100% do volume da inclusão (Fig. 4). Possuem

formas que variam de alongadas, arredondadas a subarredondadas. O Grupo II é composto por

inclusões aquosas-carbônicos trifásicos com dimensões que variam de 12 a 6 μm e relevo

moderado a alto (Fig. 5). A fase líquida (H2O) apresenta um volume que varia de 50 a 60% do

volume total da inclusão. A fase líquida (CO2) apresenta volume que varia de 30 a 35% do

volume total, possuindo a fase gasosa (CO2) com um volume que não ultrapassa 15% do volume

total das inclusões. Possuem formas que variam de angulares, arredondadas a alongadas.

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Figura 4: A) Foto de inclusão fluída monofásica da Mina do Edu (Grupo I); B) Desenho da inclusão fluída

monofásica.

Figura 5: A) Inclusão fluída trifásica da Mina do Edu (Grupo II); B) Desenho da inclusão fluída trifásica.

Os dados apresentados na Figura 6 mostram que o Grupo I apresenta valores que nos

possibilitam afirmar que muitas inclusões fluídas pertencentes a esse grupo possuem uma

composição pura de CO2, variando para algumas inclusões com poucos voláteis misturados ao

CO2, dando uma salinidade insignificante, modelando assim um fluído de composição

CO2±N2±CH4 (Tab. 1). Já o Grupo II mostra uma interação entre o fluído essencialmente

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carbônico com um fluído aquoso, formando assim as inclusões aquo-carbônicas pertencentes a

esse grupo.

Figura 6: Histograma das Inclusões Fluídas do Grupo I da Mina do Edu, indicando a relação Frequência versus: A)

Fusão de CO2; B) Homogeneização total.

O Grupo II (Fig. 7) apresenta uma salinidade de 13% equiv. peso NaCl, apresenta

também uma queda na temperatura de fusão do CO2, além de um aumento na temperatura de

homogeneização total, características que apontam para uma mistura de um fluído carbônico

com um fluído aquoso, gerando inclusões aquo-carbônicas. A temperatura de fusão do CO2

modela um fluído de composição H2O-CO2-NaCl-CaCl2(±N2±CH4), o que comprova a mistura

de fluído carbônico com um fluído aquoso. A temperatura de Homogeneização Total para o

Grupo II representa a temperatura mínima de aprisionamento das inclusões. Essa temperatura

elevada (285ºC) nos sugere que o fluído aquoso que interagiu com o fluído carbônico seja um

fluído hidrotermal, e não um fluído meteórico, que apresentaria uma temperatura de

homogeneização total inferior a temperatura obtida nas inclusões fluídas do Grupo II da Mina do

Edu. A interação entre esses dois fluídos foi a provável causa para a deposição dos elementos

químicos como o ouro e o cobre.

A Tabela 1 apresenta os dados microtermométricos das inclusões fluídas pertencentes ao

Grupo I e Grupo II da Mina do Edu de forma sintetizada.

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Figura 7: Histograma das Inclusões Fluídas do Grupo II da Mina do Edu indicando a relação Frequência versus: A)

Fusão de CO2; B) Fusão do Clatrato; C) Salinidade; D) Homogeneização do CO2; E) Temperatura de

homogeneização total.

Tabela 1: Dados da microtermometria dos Grupos I e II da Mina do Edu. Os valores apresentados são os valores

de maior ocorrência.

Grupo Fusão CO2

Fusão Clatrato

Salinidade Homogeneização

CO2 Homogeneização

Total Composição Fluído

Grupo I -56,6ºC - - - 30,7ºC CO2 e CO2±N2±CH4

Grupo II -64,8ºC 1,8 13% 19ºC 285ºC H2O-CO2-NaCl-CaCl2(±N2±CH4)

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As Inclusões Fluídas do Garimpo do Peteca, do Filão do Laje, do Filão do Cocheira e do

Filão do Vinte apresentaram um fluído primário essencialmente aquoso, composto por inclusões

bifásicas (Grupo I) e por inclusões trifásicas (Grupo II). As inclusões do Grupo I (Fig. 8)

possuem a fase gasosa que ocupa até 30% do volume total das inclusões, mas são mais comuns

as inclusões com volume entre 20 e 15% do volume total. O relevo das inclusões deste grupo é

de moderado a alto. Estas inclusões apresentam dimensões que variam de 15 a 5 μm, com formas

variadas, sendo observadas inclusões arredondadas, subarredondadas, alongadas e angulosas.

As Inclusões do Grupo II (Fig. 9) apresentam a fase vapor com volume variando de 15%

a 20% do volume total em média. Já o volume da fase sólida varia entre 5 e 15%, e o restante do

volume é ocupado pela fase líquida. O sólido apresenta hábito cúbico, o que nos leva a sugerir

que seja halita. Considerando a dimensão das inclusões entre 10 e 5 μm, por diversas vezes a fase

sólida é quase imperceptível. A ocorrência dessas inclusões são em formas arredondadas a

subarredondadas. Seu relevo é moderado a forte.

Figura 8: A) Inclusão Fluída Bifásica, representante do Grupo I do Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do

Cocheira e Filão do Vinte; B) Desenho da inclusão.

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Figura 9: A) Foto de uma inclusão trifásica, representante do Grupo II do Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão

do Cocheira e Filão do Vinte; B) Desenho da inclusão fluída trifásica.

Da observação das Figuras 10 e 11 e da Tabela 2, conclui-se que os dados

microtermométricos para os depósitos estudados apresentam similares. Nestes depósitos os

fluídos primários são essencialmente aquosos, modelando um fluído H20-NaCl-CaCl2. Os fluídos

dos Grupos I apresentam uma salinidade média e uma temperatura de homogeneização total

baixa. Já os do Grupos II apresentam uma salinidade alta, supersaturando o fluído e formando

cristais de halita, e uma temperatura de homogeneização total superior as dos Grupos I.

Estas características implica que houve mistura entre dois fluídos essencialmente

aquosos. O primeiro fluído seria um fluído aquoso hidrotermal, de alta temperatura e alta

salinidade, sendo este aprisionado nos grãos de quartzo formando as inclusões do Grupo II. O

segundo fluído seria um fluído aquoso de baixa temperatura e salinidade, que ao entrar em

contato com o fluído de alta temperatura e salinidade, diminuiu a salinidade e a temperatura de

homogeneização do primeiro, formando as inclusões fluídas do Grupo I.

Abre-se assim uma discussão sobre a origem desse segundo fluído. Seria um fluído

aquoso de baixa temperatura e baixa salinidade de origem hidrotermal, ou seria de origem

meteórica?

Os fluídos do Grupo I apresentam temperaturas de homogeneização total muito baixa,

que somadas as baixas salinidades sugerem, que o segundo líquido seja um fluído de origem

meteórica.

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Portanto, o Garimpo do Peteca, o Filão do Laje, o Filão do Cocheira e o Filão do Vinte

são oriundos de uma mistura de fluídos aquosos. O primeiro um fluído aquoso hidrotermal

(Grupo II) e o segundo um fluído de origem meteórica (Grupo I).

Figura 10: Histograma das Inclusões Fluídas do Grupo I do Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do Cocheira e

Filão do Vinte, indicando a relação Frequência versus: Fusão do gelo; Temperatura do eutético; Salinidade;

Homogeneização total.

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Figura 11: Histograma das Inclusões Fluídas do Grupo II do Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do Cocheira e

Filão do Vinte, indicando a relação Frequência versus: Fusão do gelo; Temperatura do eutético; Salinidade;

Homogeneização total.

Tabela 2: Dados da microtermometria dos Grupos I e II do Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do Cocheira e

do Filão do Vinte. Os valores apresentados são os valores de maior ocorrência.

Garimpos Grupos Fusão do

Gelo Eutético Salinidade

Homogeneização Total

Composição Fluído

Garimpo do Peteca

I -18,5ºC -50,3ºC 21% 83ºC H20-NaCl-CaCl2

II -21ºC -52,6ºC 35% 177ºC H20-NaCl-CaCl2

Filão do Laje

I -19,3ºC -51,7ºC 22% 88ºC H20-NaCl-CaCl2

II -22,4ºC -52ºC 37% 185ºC H20-NaCl-CaCl2

Filão do Cocheira

I -18,0ºC -50,9ºC 20,8% 82ºC H20-NaCl-CaCl2

II -18,9ºC -51,4ºC 35,4% 180ºC H20-NaCl-CaCl2

Filão do Vinte

I -24ºC -52,8ºC 25% 97ºC H20-NaCl-CaCl2

II -24,9ºC -53,3ºC 39% 215ºC H20-NaCl-CaCl2

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Esta mistura de fluído hidrotermal (aquoso) com fluído meteórico vem sendo descrita em

recentes trabalhos que utilizaram a técnica de inclusões fluídas (Silva et. al 2008 e Domingues

Dias 2012), e vem se apresentado como um padrão metalogenético para a PAAF.

As inclusões fluídas do Garimpo do Peteca, do Filão do Laje, do Filão do Cocheira e do

Filão do Vinte apresentam uma grande semelhança com as inclusões fluídas do Garimpo do

Trairão. Domingues Dias (2012) identificou dois grupos de inclusões primárias para o Garimpo

do Trairão: Grupo I: Aquosas Bifásicas, fusão do gelo variaram entre -18°C a -0,75°C com moda

-19,5°C a -18,1°C. As temperaturas do eutético foram registradas nas faixas -50,6°C a -30°C e -

28,5°/C a -20,0°C, com moda de maior frequência nos intervalos de -43,5°C a -42,5°C e -21,5/C

a -20,0°C. Os valores de salinidades deste grupo situam-se na faixa de 2,5% a 26% NaCl equiv.,

com picos máximos entre 20,8% a 22,3% equiv. peso de NaCl. As temperaturas de

homogeneização variaram entre 50°C a 140°C, com moda entre 80°C e 90°C. Grupo II: Aquosas

Trifásicas, fusão de gelo que variam entre -26°C a -6°C, com moda de maior frequência entre -

20°C a -18°C. As medidas das temperaturas do eutético correspondem ao intervalo de -49,7°C a

-39,0°C e -36,4°C a -31,5°C com respectivas modas nos intervalos de -45,0°C a -43,5°C e -

33,0°C a -31,5°C. Os resultados das medidas de salinidade variam numa faixa de 28,5% a 35,0%

com moda equivalente variando de 29% a 29,5% em peso de NaCl. A homogeneização total

ocorreu para líquido a temperaturas entre 120°C a 240°C com valores modais entre 170°C a

180°C.

Já os dados microtermométricos da Mina do Edu são semelhantes a dados obtidos por

Silva et. al. 2008 para esta mesma mina. Silva et al. (2008) identificaram dois grupos de

inclusões para a Mina do Edu: Grupo 1: inclusões primárias, carbônicas raras, monofásicas que

mostram temperaturas de fusão do CO2 de -65,3°C a -62,0°C e homogeneização total (Tht-L) de

26,6°C a 29,3°C, fluido modelado pelo sistema CO2±N2±CH4. B) Grupo II 2: inclusões

primárias, aquosas carbônicas, bifásicas (LH2O+LCO2) e trifásicas (LH2O+LCO2+VCO2) com

TfCO2 -63,4°C a -62,0°C, Tfclat variando de -1,4°C a 2,1°C, Th do CO2 (L) ocorrendo entre

10,6/°C a -0,6°C, salinidade de 13% a 17% de NaCl, com Tht(L) 229°C a 326°C, sistema (H2O-

CO2-NaCl-CaCl2(±N2±CH4).

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O Granito Nhandu, rocha hospedeira da Mina do Edu, apresenta idade geocronológica

entre 1.889 ±17 Ma e 1.879 ±5,5 Ma (U-Pb em zircão) (Silva & Abram 2008), enquanto a Suíte

Intrusiva Matupá, rocha hospedeira do Garimpo do Peteca, Filão do Laje, Filão do Cocheira e

Filão do Vinte, segundo Moura (1998) apresenta uma idade Pb-Pb em zircão de 1.872 ±12 Ma.

Considerando-se os poucos dados geocronológicos existentes para as rochas hospedeiras, o que

as deixam contemporâneas em termos de idade, e a falta de dados geocronológicos da

mineralização de cada um dos garimpos, a justificativa mais aceita para essa diferença entre os

fluídos da Mina do Edu e das demais ocorrências estudadas seria devido à distância de cada uma

delas para a fonte magmática, já que os dados existentes não permitem sugerir até o momento

fontes magmáticas distintas. Com essa consideração, podemos afirmar que a Mina do Edu estaria

mais próxima à fonte magmática do que as demais ocorrências auríferas, isso porque a Mina do

Edu apresenta fluídos com tendências magmáticas, enquanto as demais ocorrências, devido a

distância delas para com a fonte magmática, apresentam líquidos com misturas mais expressivas

com fluídos aquosos mais frios (Temperatura de homogeneização entorno de 180 °C),

diferentemente dos fluídos aquosos da Mina do Edu (Temperatura de Homogeneização média de

285 °C). Assim, possivelmente os fluídos aquosos magmáticos da Mina do Edu seriam os

mesmos fluídos aquosos magmáticos das demais ocorrências auríferas, no entanto, com a

distância, esse fluído aquoso foi perdendo temperatura, e se misturando com água meteórica. Já o

fluído carbônico presente na Mina do Edu não é encontrado nas demais ocorrências, isso porque

os fluidos carbônicos são mais instáveis que os fluídos aquosos, e devido à distância a fonte, não

tiveram participação na mineralização das demais ocorrências (Garimpo do Peteca, Filão do

Laje, Filão do Cocheira e Filão do Vinte).

AGRADECIMENTOS: O primeiro autor agradece a Deus pela oportunidade de executar esse

trabalho e por todas as oportunidades que Ele tem me dado. Agradeço os meus pais, minha irmã

e minha esposa por sempre me apoiarem e me ajudarem sempre que precisei. Agradeço também

ao meu orientador Prof. Dr. Francisco Pinho por todo o conhecimento transmitido e pela sua

dedicação e empenho nesse projeto. Os autores agradecem o projeto PROCAD 68/2010 número

23038.000675/2010-15 pelo apoio financeiro fornecido.

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