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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Programa de Pós-graduação em Direito
Camilla Aparecida Drumond
CONTROLE EXTERNO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CONTEMPORÂNEA
Belo Horizonte
2019
Camilla Aparecida Drumond
CONTROLE EXTERNO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CONTEMPORÂNEA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Direito. Orientador: Edimur Ferreira de Faria Área de Concentração: Estado, Constituição e Sociedade no Paradigma do Estado Democrático de Direito.
Belo Horizonte
2019
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Drumond, Camilla Aparecida
D795c Controle externo na administração pública contemporânea / Camilla
Aparecida Drumond. Belo Horizonte, 2019.
110 f.
Orientador: Edimur Ferreira de Faria
Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Programa de Pós-Graduação em Direito
1. Brasil. Tribunal de Contas da União. 2. Brasil. Ministério Público. 3.
Administração pública - Brasil. 4. Poder legislativo - Brasil. 5. Eficiência
organizacional. 6. Controle externo. 7. Controle parlamentar - Brasil. 8.
Participação social - Brasil. I. Faria, Edimur Ferreira de. II. Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Direito.
III. Título.
CDU: 35(81)
Ficha catalográfica elaborada por Elizângela Ribeiro de Azevedo - CRB 6/6368
Camilla Aparecida Drumond
CONTROLE EXTERNO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CONTEMPORÂNEA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direito da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Direito. Orientador: Edimur Ferreira de Faria Área de Concentração: Estado, Constituição e Sociedade no Paradigma do Estado Democrático de Direito.
Profº. Dr. Edimur Ferreira de Faria (Orientador)
Profº. Dr. Flávio Couto Bernardes
Profᵃ. Drᵃ. Cristiana Maria Fortini Pinto e Silva
Belo Horizonte, 06 de dezembro de 2019.
À minha família, pelo amor e incentivo.
AGRADECIMENTOS
Foram anos projetando este sonho. A realização do Mestrado não só
representa um crescimento profissional, mas, sobretudo, um grande feito pessoal. E
tudo isso só foi possível porque eu tenho muita fé em Deus e uma família incrível.
Obrigada, Senhor! Por me conduzir até aqui e pelos planos que tem para
mim. Eu creio que vão se cumprir!
À mamãe, pelas orações, pelo amor, pela compreensão e pela paciência
durante esta caminhada.
Ao meu Padim, pessoa responsável por tudo que sou e acredito. Sem ele,
nada disso seria possível. Seu exemplo, apoio, incentivo e amor foram
indispensáveis para mais esta concretização.
Ao Clermon, meu irmão, parceiro e amigo que, durante todo esse tempo, me
apoiou e me fortaleceu. O que seria de mim sem vocês?
Aos meus amigos, pela torcida e por todas as palavras de incentivo e carinho.
Aos meus colegas e professores do Mestrado, pela troca de experiências
durante o curso.
Aos funcionários da PUC, pela cordialidade e atenção de sempre.
E em especial, ao meu orientador, Professor Edimur Ferreira de Faria, pelos
ensinamentos e pela disponibilidade de sempre. Obrigada!
RESUMO
O objetivo deste estudo foi pesquisar os meios de controle externo na Administração
Pública contemporânea. Face à instabilidade jurídica, social, política e econômica
que afeta a Administração Pública, foi necessário demonstrar como se dá a atuação
dos órgãos de controle externo na atualidade, quais são os mecanismos de controle
externo na Administração Pública contemporânea e, por fim, analisar se o controle
externo contribui para a eficiência das ações da Administração e para o combate à
corrupção. As respostas para esses questionamentos foram baseadas em pesquisa
qualitativa realizada na legislação, nas doutrinas da área jurídica, histórica e
filosófica, na jurisprudência no assunto, bem como nos contextos social, político e
econômico. Assim, foi analisado o controle externo no Brasil, a partir dos
mecanismos tradicionalmente aplicados e das atuais tendências desse controle.
Deste modo, foram demonstrados os controles realizados pelo Legislativo, pelo
Tribunal de Contas, pelo Judiciário, pelo Ministério Público e pela população, com o
objetivo de demonstrar o papel de cada um deles na Administração Pública
contemporânea. Com isso, verificou-se a possibilidade desses controles
contribuírem para a eficiência nas ações da Administração, para a aplicação das
políticas públicas e para o combate à corrupção. Ainda, restou claro que somente
com a ampliação e o fortalecimento de tais mecanismos será possível o alcance de
uma Administração Pública eficiente, transparente, responsável e proba.
Palavras-chave: Administração Pública Contemporânea. Controle. Controle
Externo. Políticas Públicas. Eficiência.
ABSTRACT
The objective of this study was to research the means of external control in
contemporary Public Administration. Given the legal, social, political and economic
instability affecting the Public Administration, it was necessary to demonstrate how
the external control bodies act today, what are the external control mechanisms in
the contemporary Public Administration and, finally, to analyze if external control
contributes to the efficiency of management actions and to the fight against
corruption. The answers to these questions were based on qualitative research
carried out in legislation, legal, historical and philosophical doctrines, case law, as
well as social, political and economic contexts. Thus, the external control in Brazil
was analyzed, from the traditionally applied mechanisms and the current trends of
this control. Thus, the controls performed by the Legislature, the Court of Auditors,
the Judiciary, the Public Prosecution Service and the population were demonstrated,
in order to demonstrate the role of each of them in contemporary Public
Administration. Thus, it was verified that these controls may contribute to the
efficiency of the Administration's actions, to the application of public policies and to
the fight against corruption. Moreover, it became clear that only with the expansion
and strengthening of such mechanisms will it be possible to achieve an efficient,
transparent, responsible and reliable Public Administration.
Keywords: Contemporary Public Administration. Control. External Control. Public
Policies. Efficiency.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AP Administração Púbica
CPI Comissões Parlamentares de Inquérito
CNMP Conselho Nacional do Ministério Público
LONMP
MP
Lei Orgânica Nacional do Ministério Público
Ministério Público
MPU Ministério Público da União
STF
STJ
Supremo Tribunal Federal
Superior Tribunal de Justiça
TAC Termo de Ajustamento de Conduta
TCU Tribunal de Contas da União
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 17
2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CONTEMPORÂNEA ...................................... 21
2.1 Evolução do Estado...................................................................................... 21
2.2 Conceito de Estado na perspectiva paradigmática ................................... 28
2.3 Conceito de Administração Pública ............................................................ 29
2.4 Estado X Administração Pública X Governo .............................................. 31
2.5 Modelos de Administração Pública............................................................. 32
2.6 Administração Pública Contemporânea ..................................................... 34
3 CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ............................................. 37
3.1 Origem do controle ....................................................................................... 37
3.2 Conceito, princípios e fundamentos do controle da Administração Pública ................................................................................. 38
3.3 Classificação do Controle ............................................................................ 41
3.3.1 Controle Interno .............................................................................................. 42
3.3.2 Controle Externo ............................................................................................. 44
4 CONTROLE EXTERNO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CONTEMPORÂNEA ..................................................................... 47
4.1 Controle Parlamentar ................................................................................... 47
4.1.1 Pedido de informação ..................................................................................... 49
4.1.2 Convocação para o comparecimento ............................................................. 50
4.1.3 Sustação dos atos normativos do poder executivo ......................................... 51
4.1.4 Comissão Parlamentar ................................................................................... 52
4.1.5 Impeachment .................................................................................................. 53
4.2 Controle da Administração Pública pelo Tribunal de Contas ................... 55
4.3 Controle Judicial da Administração Pública .............................................. 61
4.4 Controle da Administração Pública pelo Ministério Público .................... 69
4.5 Controle popular da Administração Pública .............................................. 75
4.5.1 Meios de comunicação e controle popular ...................................................... 83
4.5.2 Governança Pública........................................................................................ 86
5 CONCLUSÃO ................................................................................................. 95
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 99
17
1 INTRODUÇÃO
No Brasil, as instabilidades jurídicas, sociais, políticas e econômicas geram
reflexos negativos não só na Administração Pública (AP), mas em toda sociedade.
Visando se adequar a essa realidade, a Administração Pública precisa assumir
novas formas de atuação e, para tanto, deve adotar práticas para melhor utilização
dos recursos públicos e para resultados eficientes para a coletividade, por meio de
instrumentos de transparência, do fortalecimento da participação popular, da
responsabilização dos agentes públicos, entre outros. Essa Administração, da
atualidade, é a que denominamos de Administração Pública contemporânea.
Para verificar as ações da Administração são utilizados mecanismos de
controle. De acordo com o sistema de controle definido pela Constituição da
República (BRASIL, 1988), a atuação do controle no contexto brasileiro poderá se
dar no âmbito da própria Administração, sendo o controle interno; ou pode ser
exercido por órgãos/instituições autônomas à Administração, sendo o controle
externo.
Este estudo tem por objetivo pesquisar os meios de controle externo da
Administração Pública contemporânea no Brasil. Reitera-se, que apesar do tema -
controle externo - ser amplamente discutido, faz-se necessário abordá-lo ante a
necessidade do modelo de AP atual.
Diante dessa reflexão, como se dá a atuação dos órgãos de controle externo
na atualidade? Quais os mecanismos de controle externo na Administração Pública
contemporânea? O controle externo contribui para a eficiência na Administração
Pública e para o combate à corrupção?
A hipótese sustentada neste estudo é de que na Administração Pública
contemporânea surgem novos atores de controle externo e que há a necessidade da
adequação dos mecanismos tradicionais. Ainda, pretende-se demonstrar que a
autonomia e a amplitude do sistema de controle externo podem ser instrumentos
para eficiência da AP e para o combate à corrupção, pois a atuação na atualidade
vai além da fiscalização, atuando também na prevenção e na orientação da
Administração.
Desse modo, este estudo tem como objetivo analisar o sistema de controle e,
para isso, serão abordados os mecanismos tradicionalmente aplicados e as atuais
tendências de controle externo na Administração Pública contemporânea.
18
O primeiro capítulo desta dissertação irá delimitar a opção terminológica pela
expressão ‘Administração Pública contemporânea’. Para tal definição, abordar-se-á
o Estado moderno, ou seja, a evolução do Estado desde o paradigma do Estado
Absolutista até o Estado Democrático de Direito. Em seguida, será apresentado o
conceito de Estado na perspectiva paradigmática, a partir da noção de Estado
trazida por Maquiavel, qual seja: o Estado como sociedade política organizada.
Superada a definição de Estado, inicia-se a compreensão do termo
‘Administração Pública’, baseando-se nos contextos jurídico, social, econômico e
político atual. Por fim, para se alcançar a definição e a compreensão de
Administração Pública contemporânea, faz-se necessário abordar brevemente os
modelos de Administração Patrimonialista, Burocrática e Gerencial.
O segundo capítulo irá definir o controle externo. Para tanto, inicialmente
tratar-se-á da origem do controle da Administração Pública. Posteriormente, serão
analisados o conceito, os princípios e os fundamentos para tal e, por fim, analisar-
se-á, brevemente, a classificação do controle pela doutrina, para demonstrar ao final
o que é o controle interno e o que é controle externo.
No último capítulo, tendo em vista o contexto brasileiro atual, iniciar-se-á a
análise detalhada dos instrumentos de controle externo na Administração Pública
contemporânea.
De plano, serão analisados os mecanismos tradicionais, o controle realizado
pelo Legislativo e o pelo Tribunal de Contas. Ao se tratar do controle parlamentar,
demonstrar-se-á como se dá a atuação do Poder Legislativo e quais os mecanismos
utilizados para tal. Quanto à atuação do Tribunal de Contas, serão analisados os
instrumentos de controle e o papel desempenhado pelo Tribunal na Administração
Pública contemporânea.
Ao abordar o controle judicial, pretende-se discorrer sobre alguns dos
mecanismos para provocação de que possui o Poder Judiciário para intervir na AP,
bem como os limites de tal intervenção. Em seguida, será demonstrado o controle
externo da AP, realizado pelo Ministério Público (MP), enquanto instituição
constitucionalmente qualificada para tal, bem como os mecanismos utilizados.
Por fim, será abordado o controle popular na Administração Pública como
instrumento para consolidação da cidadania. Neste momento, analisar-se-ão as
19
garantias presentes no ordenamento jurídico para consolidação do controle popular
da AP, a transparência e outros mecanismos que possibilitam o controle.
Ainda, sobre a relação entre cidadão e a Administração Pública
contemporânea, demonstrar-se-á, brevemente, a influência dos meios de
comunicação e das redes sociais no Brasil, como meio possível para contribuir com
o fomento e a participação popular.
Em complemento, será abordada a governança e a relação da mesma com o
controle externo da Administração Pública contemporânea, e o emprego de
instrumentos, como a integridade, a transparência e a accountability.
O desenvolvimento do presente estudo é baseado em pesquisa qualitativa,
utilizando-se a Constituição da República e as legislações, fazendo-se uma revisão
doutrinária e jurisprudencial. Não obstante, o contexto social, político e econômico
também serão observados para corroborar o que se propõe a discutir.
Desse modo, pretende-se demonstrar com o presente estudo quais os
instrumentos de controle externo são utilizados na atualidade e o impacto de cada
um deles na Administração Pública contemporânea, analisando-se o contexto social,
político e econômico, bem como a importância destes para a eficiência da
Administração e para o combate à corrupção.
21
2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CONTEMPORÂNEA
A definição do termo ‘Administração Pública contemporânea’ requer algumas
considerações preliminares. Inicialmente, abordar-se-á o Estado moderno, ou seja,
da concepção do Estado Absolutista até o Estado Democrático de Direito,
apresentando-se, em seguida, o conceito. Após, serão analisados o conceito e os
modelos de Administração Pública. Por fim, será demonstrada a definição da
Administração Pública contemporânea.
2.1 Evolução do Estado
Tendo em vista que o objeto deste estudo é a compreensão da Administração
Pública contemporânea presente no Estado Democrático de Direito, abordar-se-á a
evolução do Estado desde o paradigma do Estado Absolutista até o Estado
Democrático de Direito, tratando assim do denominado Estado Moderno.
O Estado moderno, segundo a maioria da doutrina, surge por volta do século
XVI e é apresentado inicialmente como Estado Absolutista. Nesse contexto de
Estado, prevalecia a vontade dos governantes, deixando o povo desprovido de
qualquer direito, isto é, “envolvia toda a vida social, que estava sob seu controle,
realizando profunda e opressiva intromissão na vida dos indivíduos” (MEDAUAR,
2012, p. 36).
Sob esse prisma, note-se que o Estado Absolutista tem como característica a
concentração de poder nas mãos do rei. Esses tratavam os Estados como sua
propriedade. Isso porque, com fundamento na teoria divina dos reis, o rei era
considerado o representante de Deus, o que legitimava sua vontade suprema. Ou
seja, não só havia a religião oficial do Estado, como todo o contexto estatal estava
norteado por aspectos religiosos e, portanto, inexistia qualquer vínculo limitativo de
sua autoridade (STRECK; MORAIS, 2014).
Enquanto principal defensor do Estado Absolutista, Thomas Hobbes defendia
a ideia de que a criação das leis deveria ser outorgada a quem tem o poder,
obrigando os indivíduos a observá-las, caracterizando assim o poder executivo pela
coerção e pela imposição legítima da força física. Ainda, de acordo com Hobbes,
para preservação da comunidade estruturada, os homens deveriam alienar seus
22
direitos individuais em favor do Leviathan, excluindo somente o direito à vida
(SOARES, 2011). Nas palavras de Reale:
O Estado é o ilimitado, não só o ordenador do Direito Positivo como o próprio criador da Justiça. O soberano, para Hobbes, pode cometer uma iniquidade, mas nunca uma injustiça, porque a Justiça com o soberano se confunde, de sorte que todas as leis escritas e não escritas adquirem autoridade e força pela vontade do Estado: “Onde não existe comunidade política (commonwealth) nada é injusto” (REALE, 2000, p. 222).
Em suma, pode-se vislumbrar o Estado Absolutista como um Estado
autoritário, onde o poder estava nas mãos do rei, isto é, este tinha o poder de criar
leis sem qualquer participação dos súditos e sem qualquer dependência ou controle
dos outros poderes (STRECK; MORAIS, 2014).
Todavia, a partir dos ideais da Revolução Francesa (sec. XVIII), quais sejam:
Liberdade, Igualdade e Fraternidade, começam a surgir reações à forma de Estado
Absolutista, buscando a garantia da liberdade individual. Desse modo, o surgimento
do Estado Liberal é caracterizado pela liberdade individual, atribuindo aos cidadãos
a esfera privada. Nesse momento, associa-se o Estado à ideia de limitação do Poder
estatal. É a partir daí que há a instituição dos direitos políticos, bem como a
liberdade religiosa.
Sobre o tema, assevera Dallari (1998, p. 277):
O Estado Liberal, com um mínimo de interferência na vida social, trouxe, de início, alguns irrevogáveis benefícios: houve um progresso econômico acentuado, criando-se as condições para a Revolução Industrial; o indivíduo foi valorizado, despertando-se a consciência para a importância da liberdade humana; desenvolveram-se as técnicas de poder, surgindo e impondo-se a ideia do poder legal em lugar do poder pessoal.
Inicia-se assim um ideal de Estado com leis provenientes da participação
popular. Começam, então, a surgir constituições. É a partir do Estado Liberal que
surge também o Estado de Direito que, segundo Canotilho (1993, p. 360),
“representa um Estado constitucional e pressupõe a existência de uma constituição
que sirva como ordem jurídico-normativa fundamental vinculativa de todos os
poderes públicos”.
23
Com isso, o Estado de Direito na sua primeira fase é representado pelo
paradigma de Estado Liberal. Nesse sentido, de acordo com Streck e Morais (2014,
p. 91):
Como liberal, o Estado de Direito sustenta juridicamente o conteúdo próprio do liberalismo, referendando a limitação da ação estatal e tendo a Lei como ordem geral e abstrata. Por outro lado, a efetividade da normatividade é garantida, genericamente, através da imposição de uma sanção diante da desconformidade do ato praticado com a hipótese normativa.
Desse modo, com o advento do Estado Liberal se tem leis para a garantia de
direitos aos cidadãos e, consequentemente, a limitação do poder proveniente do
Estado. Assim, “o fundamento do liberalismo é o absoluto respeito as liberdades
individuais quanto a atuação do Estado” (TAVARES, 2011, p. 47). Também, em
função dessa limitação, foi possível vislumbrar a separação entre as esferas pública
e privada.
Nessa linha, a atuação do Estado se dava para garantir a segurança e a
propriedade privada, pois como visto, é característica inerente ao Estado Liberal “a
interferência mínima na propriedade e liberdade dos indivíduos. A função do Estado
era permitir o desenvolvimento econômico mediante a garantia da ordem, paz e
segurança sociais, fundamentalmente” (ZYMLER, 2015, p. 34).
Um dos principais autores e defensores do Estado Liberal é John Locke, que
preconizava o poder civil derivado do consentimento popular. Segundo sua doutrina,
só haverá liberdade quando houver limitação ao poder estatal, respeito aos direitos
individuais pertinentes à vida e à propriedade (SOARES, 2011). Sua obra teve
importância histórica tanto na luta contra o absolutismo, como também é referência
para a clássica divisão dos poderes em Legislativo, Executivo e Judiciário, propondo
preliminarmente a distinção entre o Legislativo e o Executivo (RICCITELLI, 2007).
Em suas obras, Locke defende o direito de liberdade do povo como fonte
única do poder, materializada na limitação do poder do monarca pela soberania do
povo, ao defender que a propriedade tem caráter natural, diante da qual o Estado
deve restringir ao dever de reconhecê-la e protegê-la e jamais assumir sua
paternidade e por fim, ao defender a escolha livre de uma religião, ou seja, sem
intervenção do Estado (RICCITELLI, 2007).
Nessa linha, assim como Locke, o Estado Liberal tem defensores importantes
como Adam Smith, defensor do liberalismo econômico, que possibilita a iniciativa
24
privada a agir livremente sem intervenção e Montesquieu que teoriza a tripartição de
poderes do Estado pensada por Locke.
No contexto da intervenção estatal no modelo liberal, vale mencionar, ainda,
que a livre iniciativa aparece como a principal manifestação econômica, permitindo
que qualquer pessoa exerça atividade econômica. Assim, é caracterizado pela
liberdade de mercado inerente do capitalismo, onde o mercado é que decide sobre a
produção, sem que haja intervenção do Estado (TAVARES, 2011).
Entretanto, com os avanços provenientes do Estado Liberal vieram também
crises econômicas e o modelo liberal se revelou inadequado à solução dos
problemas reais da sociedade. Com a Revolução Industrial, o trabalho humano
passa a ser negociado como mercadoria, sujeito à lei da oferta e da procura, com
cidadãos teoricamente livres e materialmente escravizados (MALUF, 2019). Assim,
“o Estado Liberal clássico entrou em declínio porque práticas intervencionistas
passaram a ser adotadas, consideradas não só necessárias, mas igualmente
legítimas” (TAVARES, 2011, p.49).
Conforme aponta Faria (2016, p.55):
O Estado Liberal, ante a cruel realidade a que se submetia a maioria da sua população, e questionado pelo movimento comunista encabeçado por Karl Marx e Engels, reconheceu que não estava desempenhando o seu principal papel, qual seja, o de prestar o bem social e o de respeitar a dignidade humana.
Assim, como reação às consequências da Revolução Industrial e em função
das desigualdades econômicas provenientes do modelo de Estado Liberal, tem
início no século IXX, o Estado Social. Também chamado de Estado Intervencionista,
Estado Providência, Estado de bem-estar ou Welfare State, o Estado Social tinha
por finalidade a garantia da liberdade e, além disso, ampliar a igualdade em sentido
social (RANIERI, 2013). Segundo Streck e Morais (2014, p. 91):
Transmutado em Social, o Estado de Direito acrescenta à juridicidade liberal um conteúdo social, conectando aquela restrição à atividade estatal a prestações implementadas pelo Estado. A lei passa a ser, privilegiadamente, um instrumento de ação concreta do Estado, tendo como método assecuratório de sua efetividade a promoção de determinadas ações pretendidas pela ordem jurídica.
25
Vale mencionar como exemplos de Constituições sociais, a Constituição de
Weimar de 1919, cuja concepção democrática e de orientação social estão
expressas na organização do Estado e no rol de direitos sociais e a Constituição
mexicana de 1917, em relação a direitos trabalhistas e previdenciários (RANIERI,
2013).
Nessa esteira, diferente do Estado Liberal que não se preocupava com
direitos sociais, o modelo de Estado Social é provedor quando assume a
responsabilidade de uma garantia mínima de bem-estar social, dando aos indivíduos
os chamados direitos de segunda geração: saúde, educação, etc. Desse modo, “o
surgimento do Estado Social, além de garantir os direitos sociais, trouxe, também, a
figura do Estado empreendedor, responsável pela alavancagem no setor econômico”
(ZYMLER, 2015, p. 35).
Assim, “o intervencionismo veio romper a visão de que o Estado deveria
afastar-se do econômico. Passa-se a exigir que o Estado tutele determinadas
situações econômicas, acompanhando e fiscalizando de perto outras” (TAVARES,
2011, p. 55). A partir desse momento, o Estado passou a adotar políticas de
intervenção na atividade econômica, com vistas ao bem-estar social, e com isso
foram necessárias reformas nas constituições e a criação de órgãos e entidades
públicas para atuar nas atividades de interesse social, prestando serviços públicos e
desenvolvendo a atividade econômica (FARIA, 2016, p. 55).
Nesse sentido, cabe mencionar o pensamento do economista John Maynard
Keynes. Segundo Opuszka e Fráguas (2012, p. 469):
Keynes enxergava o intervencionismo como uma alavanca de Arquimedes útil para retirar o mundo da depressão em que se encontrava. Para tanto, seriam necessários grandes gastos públicos, sustentados por uma rigorosa política tributária, para absorver aquela imensa massa de desempregados, desiludidos e temerosos que se encontravam aos milhares nas cidades ocidentais.
Desse modo, de acordo com a teoria keynesiana, o planejamento econômico
se dá a partir do Estado. Para Keynes, o Estado deveria fazer investimentos
públicos na produção para garantir o pleno emprego (SANTOS, 2014).
Entretanto, um dos principais liberalistas e opositores às ideias de Keynes,
Milton Friedman, é contrário à intervenção do Estado em assuntos econômicos. No
livro ‘Capitalismo e Liberdade’, o autor defende que o escopo do governo deve ser
26
limitado. Para ele, a principal função do governo é a proteção da liberdade e a
criação de condições para que haja cooperação voluntária e o empreendimento
privado, visando garantir que o setor privado atue como contrapeso dos poderes do
setor público e como proteção eficaz da liberdade de expressão, de religião e de
pensamento. Assim, acredita que é possível o alcance de resultados muito melhores
com uma estrutura política democrática. O Estado só deve atuar onde o mercado
não consegue atuar, onde a iniciativa privada não consegue atuar. (FRIEDMAN,
2014).
De outro modo, com o fracasso do Estado do bem-estar e o desejo de
democracia manifestado nas revoluções do século XVIII, inicia-se o Estado
Democrático de Direito, na tentativa de aproximar o Estado do povo para que juntos
adotem, democraticamente, políticas públicas de interesse da sociedade (FARIA,
2016). O Estado Democrático de Direito, tem como objetivo promover e assegurar a
mais ampla proteção dos direitos fundamentais, tendo na dignidade humana o seu
elemento nuclear e na soberania popular, na democracia e na justiça social os seus
fundamentos (RANIERI, 2013).
Para Streck e Morais (2014), quando assume o feitio democrático, o Estado
de Direito é “plus” normativo em relação aos Estados Liberal e Social de Direito, pois
a lei aparece como instrumento de transformação da sociedade. Ou seja, para
manter a adaptabilidade do Estado a realidade social é imperativo dos Estados
Democráticos de Direito a comunicação entre concepções políticas, jurídicas,
religiosas, morais, éticas e econômicas (ARAGÃO, 2013a).
Vale ressaltar que a concepção de Estado Democrático de Direito é também
vinculada à democracia participativa. Nesse modelo de Estado há a extensão dos
direitos de voto, permitindo o sufrágio universal a homens e mulheres.
Dessa maneira, não há como falar em Estado Democrático de Direito sem
citar o modelo democrático proposto por Habermas. Segundo Rodrigues (2012), o
modelo democrático habermasiano sustentado no conceito de política deliberativa
diz respeito à institucionalização das condições de comunicação e dos
procedimentos comunicativos capazes de formarem e legitimarem a opinião e a
vontade política dos cidadãos. Segundo o modelo proposto por Habermas, a
democracia é caracterizada não só pelo voto (eleições, parlamentos etc.), sendo
necessário acrescentar, efetivamente por meio do Direito, formas de participação
27
popular na esfera pública e no poder administrativo. Assim, as deliberações
democráticas referentes às políticas públicas só terão legitimidade se refletirem a
vontade coletiva.
Cumpre relembrar, ainda, que entre os pilares do atual Estado Democrático
de Direito estão: a inclusão, a igualdade, a dignidade humana, a liberdade e a
garantia de todo e qualquer direito para assegurar aos indivíduos condições para a
vida em sociedade. Nesse contexto:
Se o Estado Democrático impõe a garantia das condições básicas de dignidade da pessoa humana, a verdade é que isto não significa necessariamente que tenha de ser apenas o próprio Estado a realizar este objetivo. Não havendo mais a separação absoluta entre Estado e sociedade, desde que seja concretizado o fim do bem-estar, pode dizer-se que estão abertos vários caminhos, tanto o de um relativo absenteísmo do Estado, como o da sua intervenção direta na economia (ARAGÃO, 2013a, p. 66).
Como se vê, diante da dinâmica social e econômica, o Estado Democrático
de Direito assume ainda a faceta de Estado regulador1. Nesse viés, o Estado atua
como ente garantidor e regulador da atividade econômica, visando o equilíbrio nas
contas públicas, pois “não poderia simplesmente permanecer alheio a exploração
privada de atividades econômicas relevantes, em especial, por se tratar da
prestação de serviços públicos a sociedade” (MELO, 2010, p. 228).
Assim, o Estado regulador é caracterizado pelo princípio da subsidiariedade.
O poder público somente irá atuar nas áreas nas quais a iniciativa privada, por si,
não consiga alcançar o interesse coletivo (FIGUEIREDO, 2019). Em síntese:
Caracteriza-se numa nova concepção para a presença do Estado na economia, como ente garantidor e regulador da atividade econômica, que volta a se basear na livre iniciativa e na liberdade de mercado, bem como na desestatização das atividades econômicas e redução sistemática dos encargos sociais, com o fito de se garantir equilíbrio nas contas públicas. Contudo, não desvia o poder público da contextualização social, garantindo-se, ainda, que este possa focar esforços nos serviços públicos essenciais (FIGUEIREDO, 2019, p.33).
1 Segundo o art. 174 da Constituição (BRASIL, 1988), o Estado atuará como agente normativo e regulador da atividade econômica, exercendo as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. Assim, “ao invés de prestar diretamente serviços públicos e executar atividades econômicas, o Estado assume as funções de planejamento, regulação e fiscalização, sendo chamado agora de “Estado Regulador” (MELO, 2010, p. 227).
28
Por fim, diante de todo exposto sobre as versões da evolução do Estado
Moderno, pode-se perceber que hão há uma continuidade evolutiva e sim um
aperfeiçoamento do Estado a partir das condições jurídicas, politicas, econômicas e
sociais (STRECK, MORAIS, 2014). Assim, é possível vislumbrar um
aperfeiçoamento a cada modelo de Estado, principalmente no que concerne à
garantia de direitos aos indivíduos.
2.2 Conceito de Estado na perspectiva paradigmática
De início, no sentido etimológico trazido por Soares (2011, p. 73) “Estado
deriva do latim status – estar firme – ou condição social. Significa também
constituição e ordem, equivalendo ao status republicae dos romanos”.
A denominação de “Estado” enquanto sociedade política permanente surge a
partir de Maquiavel, na obra “O Príncipe”, indicando as comunidades formadas pelas
cidades-estado (CARVALHO FILHO, 2011). Ou seja, a doutrina contemporânea,
adota a visão de Estado a partir na noção trazida por Maquiavel, que é o Estado
como sociedade política organizada.
Inicialmente, necessário se faz citar a concepção de Estado por Jellinek
(2000)2. O autor trata o Estado juridicamente como a corporação de um povo,
assente em um determinado território e dotada de um poder originário de mando.
Aqui, é possível verificar a presença dos três elementos constitutivos essenciais à
formação do Estado: povo, território e poder/soberania.
Nesse sentido, segundo Dallari (1998, p. 52), entende-se por Estado “todas
as sociedades políticas que, com autoridade superior, fixaram as regras de
convivência de seus membros”.
Costin (2010, p. 1) corrobora este entendimento ao conceituar Estado como o
“conjunto de regras, pessoas e organizações que se separam da sociedade para
organizá-la”. Para Moreira Neto (2014), o Estado representa as sociedades
individualizadas sociologicamente como ‘Nações’, que se organizam política e
juridicamente em certo território, para exercerem e para garantirem sua
autodeterminação.
2 “La corporación formada por un Pueblo, dotada de un poder de mando originário y asentada em un determinado território” (JELLINEK, 2000, p. 196).
29
Segundo Maluf (2019, p. 15), “o Estado é uma organização destinada a
manter, pela aplicação do Direito, as condições universais de ordem social”.
De outro modo, na concepção de Ranieri (2013), o conceito de Estado pode
ser visto por dois sentidos. No primeiro, o Estado é como uma forma específica de
sociedade política, organizada mediante regras e dotada de poder superior sobre
seus membros. No segundo, o Estado é como pessoa jurídica de direito público
interno e internacional. Em suma, a autora utiliza-se de ambos os conceitos para
classificar o Estado como unidade político-jurídica.
Meirelles (2013) igualmente propõe que o conceito de Estado pode ser visto
por vários pontos de vista, quais seja: sociológico, que representa a corporação
territorial dotada de um poder de mando originário; do ponto de vista político, ou
seja, a comunidade de homens fixada sobre um território com imposição superior de
ação, mando e coerção e, por fim, sob o ponto de vista constitucional, cujo Estado é
pessoa jurídica territorial soberana.
Diante do exposto e dos conceitos apresentados, faz-se importante ressaltar,
por fim, que não há como delimitar um conceito único de Estado. Entretanto, é
possível verificar que não há Estado sem seus elementos constitutivos. Todo Estado
é composto pelos elementos povo, território e soberania.
Assim, diante da necessidade de se estabelecer um conceito de Estado para
compreensão da Administração Pública, adotar-se-á aqui a definição de Estado
como uma sociedade politicamente organizada, dotada de personalidade jurídica
própria, onde leis e normas regularão a vida dos indivíduos sobre um determinado
território.
2.3 Conceito de Administração Pública
Superada a definição de Estado, iniciar-se-á a compreensão do termo
Administração Pública. Inicialmente, ressalta-se que tão complexo quanto definir o
conceito de Estado, é definir o termo ‘Administração Pública’. Para Medauar (2012),
a dificuldade em precisar o conceito de Administração Pública se dá em função da
sua complexidade e do caráter multiforme da sua atuação. Desse modo, não há uma
unanimidade quanto ao conceito. Ao contrário, por esta complexidade, grande parte
da doutrina administrativista divide o conceito de Administração Pública.
30
Ao abordar a expressão ‘Administração Pública’, Carvalho Filho (2011), a
divide em dois sentidos: objetivo e subjetivo. Para o autor, o sentido objetivo
representa a própria gestão dos interesses públicos executada pelo Estado, ou seja,
a atividade administrativa exercida pelo Estado por seus órgãos e agentes através
da prestação de serviços públicos. Já o sentido subjetivo, representa os executores
da atividade pública, ou seja, o conjunto de agentes, órgãos e pessoas jurídicas que
exercem a função administrativa.
Do mesmo modo, Di Pietro (2004) divide o conceito de Administração Pública,
por sentido subjetivo, - que representa o conjunto de pessoas e órgãos que exercem
a função administrativa do Estado e pelo sentido objetivo, que é a própria atividade
que o Estado desenvolve para consecução dos interesses coletivos.
Para Rosa (2005), o conceito de Administração Pública, em sentido amplo,
(que quer dizer o sentido subjetivo já exposto), corresponde aos órgãos e entidades
que realizam a atividade administrativa visando à satisfação das necessidades
coletivas e de acordo com os fins do Estado. Ao que foi tratado até este momento
como objetivo, o autor traz como sentido material, onde o conceito de Administração
Pública leva em conta a função administrativa (ROSA, 2005).
Nessa esteira, segundo os ensinamentos de Faria (2016, p. 63):
A Administração Pública é concebida pela doutrina em dois planos: geral e estrito. No plano geral e sob o aspecto subjetivo ou orgânico, a Administração compreende os três poderes, ou contemporaneamente, as três funções primordiais do Estado: Legislativa, Executiva e Judiciária. É o Estado na sua completude. Vista do ângulo objetivo, a Administração geral conceitua-se pelas funções que os três órgãos exercem. Cada um incumbido de executar as respectivas funções-fim e as dos outros dois, necessárias, na condição de atividades-meio, com vistas à consecução das atribuições que lhe são conferidas precipuamente.
Assim como os demais posicionamentos trazidos, Meirelles (2013) também
divide o conceito de Administração Pública em formal, que corresponde ao conjunto
de entidades e órgãos para consecução dos fins do governo, e o sentido material,
diz respeito às funções necessárias aos serviços públicos. Por fim, apresenta um
conceito global, que aborda a Administração Pública como “todo o aparelhamento do
Estado preordenado à realização de serviços, visando à satisfação das
necessidades coletivas” (MEIRELLES, 2013, p. 66).
31
Para Justen Filho, “a Administração Pública se relaciona com a gestão de
bens públicos ou privados, visando proteger e assegurar a satisfação de interesses
individuais, coletivos ou difusos, caracterizados por sua indisponibilidade” (JUSTEN
FILHO, 2014, p. 91). Ainda, segundo Costin:
Uma definição operacional de Administração Pública decorre do que vimos anteriormente sobre o Estado. Inclui o conjunto de órgãos, funcionários e procedimentos utilizados pelos três poderes que integram o Estado, para realizar suas funções econômicas e os papeis que a sociedade lhe atribuiu no momento histórico em consideração. Assim, temos dois qualificativos para associar a esta afirmação: a Administração Pública não existe só no Executivo e ela muda constantemente, pois as expectativas da sociedade em relação a ela e as disputas que se fazem na esfera política para fazer valer propostas diferentes de atuação estatal também são cambiantes (COSTIN, 2010, p. 3).
Diante dos conceitos trazidos, torna-se importante ressaltar que o objeto
deste estudo não é apenas abordar o conceito de Administração Pública, como
também buscar a definição do que seria a Administração face aos contextos jurídico,
social e político atual.
Em razão disto, adotar-se-á aqui um conceito uníssono ou global de
Administração, utilizando-se de ambos os sentidos. Desse modo, considera-se
Administração Pública todo o aparato estatal, envolvendo entidades, órgãos e
agentes, com o fim do desenvolvimento da atividade administrativa e a satisfação do
interesse público. É nessa Administração Pública que se pretende verificar como os
mecanismos de controle externo podem intervir para que haja probidade e eficiência
nas ações da Administração e assim diminuir os índices de corrupção.
Assim, alcançado o conceito de Administração Pública, vale lembrar, ainda,
que a Administração Pública pode ser direta ou indireta, e está sujeita aos princípios
constitucionais elencados no art. 37 da Constituição da República.
2.4 Estado X Administração Pública X Governo
Cumpre relembrar que Administração Pública não se confunde com Governo
e tampouco com Estado. Como já apresentado, Estado é a sociedade politicamente
organizada, dotada de personalidade jurídica própria, onde leis e normas regularão a
vida dos indivíduos sobre um determinado território.
32
O governo pode ser representado pela condução política do Estado. Já a
Administração, corresponde aos órgãos, entidades e agentes responsáveis pela
condução da atividade administrativa e a satisfação do interesse público.
Desse modo, “a Administração não pratica atos de governo, mas tão somente
atos de execução, com maior ou menor autonomia funcional, segundo a
competência do órgão e de seus agentes” (PIRES, 2013. p. 10).
Sobre a distinção entre Governo e Administração, Meirelles apresenta a
seguinte comparação:
Comparativamente, podemos dizer que Governo é atividade política e discricionária; a Administração é atividade neutra, normalmente vinculada à Lei ou à norma técnica. Governo é conduta independente; Administração é conduta hierarquizada. O Governo comanda com responsabilidade constitucional e política, mas sem responsabilidade profissional pela execução; a Administração executa sem responsabilidade constitucional ou política, mas com responsabilidade técnica e legal pela execução. A Administração é o instrumental de que dispõe o Estado para pôr em prática as opções políticas do Governo. Isto não quer dizer que a Administração não tenha poder de decisão. Tem. Mas o tem somente na área de suas atribuições e nos limites legais de sua competência executiva, só podendo opinar e decidir sobre assuntos jurídicos, técnicos, financeiros ou de conveniência e oportunidade administrativas, sem qualquer faculdade de opção política sobre a matéria (MEIRELLES, 2013, p. 67).
Nesse sentido, para Costin (2010), o Estado é mais amplo do que o governo
ou a Administração Pública, pois engloba ambos. Assim, apesar de habitual, não se
deve confundir Estado, Governo e Administração Pública. Como visto, o Estado
engloba tanto o governo como a Administração. Entretanto, o Governo é ligado ao
controle político do Estado e à Administração Pública compete o desempenho da
atividade administrativa.
2.5 Modelos de Administração Pública
Antes de tratar da Administração Pública contemporânea, faz-se necessário
abordar brevemente os modelos correspondentes ao processo de evolução da
Administração Pública. Também conhecidos como modelos teóricos, apresentar-se-
á aqui a trajetória da Administração Pública, tendo como marco temporal o
surgimento do Estado moderno sendo, portanto, apresentados os modelos
Patrimonialista, Burocrático e Gerencial.
33
No primeiro modelo de Administração, denominado Patrimonialista, a atuação
Estado era favorável à prática de nepotismo e de corrupção, pois o Estado era
entendido como propriedade do rei, não havendo separação entre o público e o
privado. Assim, pode-se perceber que esse modelo de Administração é baseado nas
características dos estados absolutistas (LOURENÇO, 2016).
Entretanto, a partir do capitalismo industrial e das democracias parlamentares
que surgiram, veio a Administração Pública Burocrática para substituir a
Patrimonialista, tendo em vista que, para o capitalismo, é necessária a separação
entre o Estado e o mercado; ao mesmo tempo em que a democracia só existirá
quando a sociedade civil se distinguir do Estado, e ao mesmo tempo em que o
controlar (BRESSER-PEREIRA, 1996).
Desse modo, a Administração Pública Burocrática surge na segunda metade
do século XIX, para combater a corrupção e o nepotismo patrimonialista, tendo
como uns dos principais objetivos separar o público do privado. Nesse momento, a
atuação da Administração passa a ser pautada na legalidade, impessoalidade e no
formalismo.
Além disso, o Estado torna-se intervencionista ao assumir maior número de
serviços sociais, tais como educação, saúde, cultura, previdência e assistência
social e também ao assumir papéis econômicos, como a regulação do sistema
econômico interno e das relações econômicas internacionais, estabilidade da moeda
e do sistema financeiro. Em razão disto, a eficiência torna-se essencial. Assim, em
função da decorrente diferenciação de estruturas, da complexidade crescente da
pauta de problemas a serem enfrentados e também da legitimação da burocracia
perante as demandas da cidadania, surge a necessidade de uma Administração
Pública Gerencial (BRESSER-PEREIRA, 1996).
A Administração Pública Gerencial, também conhecida como Nova
Administração Pública, é contrária ao modelo de Administração Pública Burocrática,
marcado por resultados. O ideário do gerencialismo, ou da Administração Pública
Gerencial, é a eficiência3, o cidadão é visto como “cliente” e para tanto há a
flexibilização de princípios basilares da burocracia (VIOLIN, 2007).
3 De acordo com o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, a eficiência representa uma Administração Pública voltada para resultados para a coletividade, por meio da redução de custos e do aumento da qualidade dos serviços, onde o cidadão é o beneficiário.
34
A partir daí a Administração passa a ser pautada em pilares como agilidade,
transparência, flexibilidade e principalmente na eficiência. Ainda, no modelo
gerencial, a prestação dos serviços públicos poderá ser delegada ao setor privado.
Também a partir desse modelo, a Administração Pública passa a utilizar-se
de instrumentos de empresas privadas, com o objetivo de ampliar a produtividade e
a qualidade do serviço público. Ou seja, não há mais a nítida distinção entre público
e privado e por isso instituições públicas utilizam normas de direito privado e vice
versa (VELOSO, 2018).
No Brasil, é possível verificar a Administração Gerencial a partir do Plano
Diretor de Reforma do Estado, do Governo Fernando Henrique Cardoso. Esse
modelo adota características importantes para o que se trata aqui como
Administração Pública contemporânea, tais como: accountability, governança,
transparência, participação, como será demonstrado adiante.
Assim, após breve análise, é possível verificar que na Administração Pública
atual, a qual se denominará de contemporânea, estão presentes características de
todos os modelos citados. Apesar de problemas tais como o nepotismo e a
corrupção, há que se considerar que a AP tem evoluído na busca de uma gestão
mais eficiente e proba.
2.6 Administração Pública Contemporânea
Conforme discorrido anteriormente, a Administração Pública é todo aparato
estatal envolvendo entidades, órgãos e agentes, com o fim do desenvolvimento da
atividade administrativa e a satisfação do interesse público.
Para delimitar o conceito de Administração Pública contemporânea, faz-se
necessário conhecer a evolução do Estado. Sob o paradigma liberal, o Estado tinha
como objetivos a proteção da liberdade e da propriedade; já a AP estava pautada no
respeito aos interesses privados. No paradigma de Estado Social, o objetivo do
Estado era o bem comum e, assim, a Administração Pública veio para limitar a
propriedade privada. Por fim, advém o Estado Democrático de Direito visando à
garantia de liberdade e igualdades, e a AP passa a atuar para alcançar as políticas
públicas. Do mesmo modo, no tocante à análise dos modelos de AP, é perceptível a
evolução da Administração.
35
Como demonstrado, o Estado contemporâneo é o Estado Democrático de
Direito. Segundo expõe Medauar (2012, p. 38):
À medida que se foram ampliando as funções do Estado, aumentaram as atividades da Administração. Hoje, adquiriu dimensões gigantescas e tronou-se fundamental na vida da coletividade, sendo fator condicionante de grande parte das relações econômicas e sociais dos indivíduos, com a responsabilidade, sobretudo, de buscar meios para a efetivação dos direitos assegurados pela Constituição. Daí resulta a enorme variedade e complexidade das atribuições que exerce.
Entretanto, tendo a realidade brasileira como referência e baseado na
evolução histórica do Estado e da AP, o que se denomina Administração Pública
contemporânea?
De maneira geral, a Administração Pública no Brasil é marcada pelo
desperdício, pelo alto custo na gestão, pela corrupção, entre outros problemas
decorrentes de um Estado com heranças arcaicas. Assim, apesar das significativas
alterações até o alcance da Administração atual, é importante ressaltar que ainda se
enfrentam problemas de um modelo de Administração ultrapassado, tais como
nepotismo, corrupção, entre outras.
Para Jordão (2016), há uma complexidade que caracteriza a Administração
Pública contemporânea, resultado de significativas alterações nas funções, ou seja,
devido às alterações importantes na perspectiva material, onde a Administração
Pública assume novas e relevantes funções e na perspectiva institucional, onde a
estrutura da AP avança em direção à pluralidade de centros decisórios.
Vale dizer que por muito tempo a legalidade foi parâmetro para toda a
atuação da Administração Pública na execução dos fins do Estado. Entretanto,
segundo Carlos Sundfeld, “a Administração atual é um espaço de deliberação
pública – feita na forma do Direito, mas não apenas considerando o Direito. O Direito
dirige e limita a ação administrativa, mas não predetermina por inteiro todos seus
atos” (SUNDFELD, 2014, p. 239).
Nesse sentido, “é evidente que o Direito operará sempre em grau de
complexidade inferior ao da realidade que se pretende regular e sobre a qual irá
incidir, até mesmo para que seja praticável” (JORDÃO, 2016, p. 35).
Assim, quando se fala em Administração Pública contemporânea, a
amarração jurídica pode ser vista por um complexo de normas de muitas fontes e de
36
mecanismos que elas todas foram desenvolvendo-se com o tempo (SUNDFELD,
2014).
De outro modo, além da perspectiva jurídica, a compreensão da
Administração Pública contemporânea demanda análises a partir das mudanças
sociais e políticas.
Nessa linha, a Administração Pública no Brasil encontra desafios para
efetividade das suas ações e o alcance das políticas públicas. Entre estes desafios,
podemos citar o aumento da participação popular, tanto no planejamento como no
controle, e a exigência de uma Administração transparente, eficiente e proba que
promova a desburocratização e estimule o crescimento da economia.
Cumpre destacar que, sob o prisma econômico, a AP deve buscar
alternativas para a condução e o alcance das ações do Estado, tendo em vista a
escassez de recursos e a instabilidade econômica em que se encontra o país.
Desse modo, a denominação Administração Pública contemporânea
representa a Administração Pública na atualidade. Essa é decorrente do modelo de
Administração Gerencial e representa um formato de Administração cujo objetivo
são resultados eficientes para a coletividade, por meio da melhor utilização dos
recursos públicos, da ampliação da transparência, do fortalecimento da participação
popular, da flexibilização do Direito e da responsabilização dos agentes públicos. É
necessário enxergar esse formato de Administração, diante dos inúmeros casos de
corrupção, do enfraquecimento das instituições e da crise política, econômica e
social que atravessa o país.
Portanto, tendo em vista o modelo aqui apresentado de Administração Pública
contemporânea e que tem como fundamento a eficiência, a transparência e a
responsabilidade na gestão pública, pretende-se demonstrar adiante como os meios
de controle poderão auxiliar no combate à corrupção bem como no alcance das
politicas públicas.
37
3 CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Alcançada a definição de Administração Pública contemporânea, torna-se
necessária a compreensão dos mecanismos de controle externo. Para tanto,
inicialmente, será abordada a origem do controle da Administração Pública.
Posteriormente, serão analisados o conceito, os princípios e os fundamentos e, por
fim, a partir da classificação do controle pela doutrina nacional, será demonstrado o
conceito de controle externo, em atendimento ao objetivo deste estudo.
3.1 Origem do controle
A compreensão do controle da Administração Pública contemporânea
demanda breve análise sobre sua origem. O tema ‘controle’ da Administração
Pública, desde o século XIV, vem sendo desenvolvido com novas análises e
expansões frente ao caráter cíclico do Estado. Portanto, o controle não apresenta
caráter estático, encontrando-se em plena evolução (GUERRA, 2003). Desse modo,
é possível verificar que à medida que o Estado e a Administração Pública evoluem,
também evoluem os mecanismos de controle.
Inicialmente, verifica-se que no Estado Absolutista não havia sistema ou
mecanismo institucionalizado de controle da Administração, pois, nesse período, o
chefe do governo detinha todas as funções do Estado: executiva, legislativa e
judiciária (FARIA, 2016). A ideia de controle da Administração Pública surge a partir
da Teoria da Separação dos Poderes de Montesquieu. Segundo Marinela:
Tendo seu conceito inicial sido criado pelo Direito Romano, foi nos séculos XVII e XVIII que a ideia floresceu, mais especificamente na obra ‘O Espírito das Leis’ de Montesquieu. A Teoria da Separação dos Poderes (trias politica) desenvolvida por Montesquieu, em sua obra, tinha como objetivo o controle do Poder do Estado por meio da divisão de suas funções, dando competências a órgãos diferentes na mesma pessoa jurídica. Tais ideias partiram principalmente das teses lançadas por John Locke, cerca de cem anos antes. A ideia da existência de três Poderes, outrossim, não era novidade, remontando a Aristóteles, na obra ‘Política’. Montesquieu foi o primeiro a analisar as relações que as Leis têm com a natureza e os princípios de cada governo, que, em resumo, buscam distribuir a autoridade por meios legais, para evitar o abuso. A separação dos poderes é hoje a base do exercício do poder democrático. Refletindo sobre o abuso do poder real, Montesquieu conclui que só o poder freia o poder, no chamado “Sistema de Freios e Contrapesos” (système de freins et de contrepoids), daí a necessidade de cada Poder manter-se autônomo e constituído por pessoas e grupos diferentes (MARINELA, 2018, p. 1079).
38
Nesse contexto, o controle decorrente do “sistema de freios e contrapesos”,
surge para evitar o arbítrio e o desrespeito aos direitos (SILVA, 2014). Como se vê,
a essência da Teoria da Separação dos Poderes proposta por Montesquieu é a
contenção dos poderes públicos, pois o poder corrompe e o poder sem controle
corrompe de forma absoluta (ARAGÃO, 2013b).
Desse modo, somente a partir do Estado de Direito, com a materialização dos
poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, que o Estado passou a submeter-se a
controle (FARIA, 2016). Também merece registro o primeiro documento a dispor
sobre o controle: a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 17894.
Nessa linha, o sistema de controle adotado no Brasil é baseado na teoria de
Montesquieu. De acordo com os ensinamentos de Marinela (2018), o sistema de
controle previsto na Constituição da República é resultado de um aperfeiçoamento
das instituições de controle externo. Segundo a autora, foram várias tentativas para
criar um órgão de controle (um Tribunal de Revisão de Contas, em 1826, depois
Tribunal de Exame de Contas e Tribunal de Contas em 1857), mas somente em
1980, após a proclamação da república, que o Decreto nº 966/1890, criou o Tribunal
de Contas. Após a criação deste, as Constituições seguintes também trouxeram o
controle externo, cada vez de forma mais ampla.
Assim, tendo em vista as considerações apontadas, é possível verificar que
os mecanismos de controle acompanham a evolução dos modelos de
Administração. Atualmente, no paradigma da Administração Pública contemporânea,
além de verificar e reexaminar as ações da Administração, tais mecanismos estão
baseados também em pilares como a transparência, a probidade e a eficiência.
3.2 Conceito, princípios e fundamentos do controle da Administração Pública
Para analisar o conceito de controle da Administração Pública, apresentar-se-
á inicialmente a origem da palavra ‘controle’. A propósito do tema, Guerra assevera:
Controle, no sentido empregado neste estudo, é a palavra originária do francês contrerole, anotada, segundo pesquisadores, desde 1367, como também do latim medieval contrarrótulos, significando, àquela época,
4 Art. 15.º A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua Administração.
39
contralista, isto é, segundo exemplar catálogo de contribuintes, com base no qual se verificava a operação do cobrador de tributos, designando um segundo registro, organizado para verificar o primeiro. O termo evoluiu, a partir de 1611, para sua acepção mais profunda da atual, aproximando-se da acepção de domínio, governo, fiscalização, verificação (GUERRA, 2003, p. 23).
De outro modo, segundo Marinela, “o controle da Administração é uma
consequência mesmo do conceito criado pelo Direito Romano da “república”, no
latim res publica, que transmite a ideia de que o Estado é uma “coisa de todos”
(MARINELA, 2018, p. 1079).
No Brasil, o termo ‘controle da Administração Pública’ foi introduzido em 1941,
por Seabra Fagundes. A partir dele, o controle da Administração Pública passou a
ser abordado pela doutrina administrativista nacional. Segundo o autor, a efetividade
da Administração Pública à ordem jurídica se dá em função da existência de um
tríplice sistema de controle da atividade estatal, formado pelos controles
administrativo, jurisdicional e legislativo (FAGUNDES, 2010).
Nessa esteira, Di Pietro (2018, p. 911) atribui a controle o poder de
fiscalização e correção sobre as ações da Administração, visando garantir a
conformidade de sua atuação ao ordenamento jurídico.
Para Meirelles (2013, p. 740), “controle, em tema de Administração Pública, é
a faculdade de vigilância, orientação e correção que um Poder, órgão ou autoridade
exerce sobre a conduta funcional de outro”.
Nas palavras de Jordão (2016, p. 37), “controle é a atividade de verificação de
conformidade de algo (a coisa controlada) a um parâmetro específico”.
Ainda nessa esteira, segundo Marinela (2018, p. 1082), controle é o “conjunto
de mecanismos jurídicos e administrativos para fiscalização e revisão de toda
atividade administrativa”.
Considerando a Administração Pública contemporânea, alguns autores
apresentam uma definição de controle mais adequada com a atualidade. Nesse
sentido, Santos (2012), entende o controle como sendo um conjunto de mecanismos
a disposição da Administração, de outros poderes e até mesmo de particulares, para
verificação não só da legalidade como da valoração sobre a conveniência e
oportunidade dos atos praticados pela Administração.
Do mesmo modo, o controle da Administração, segundo Gasparini (2011, p.
1039), “é a atribuição de vigilância, orientação e correção de certo órgão ou agente
40
público sobre a atuação de outro ou de sua própria atuação, visando confirmá-la ou
desfazê-la, conforme seja ou não legal, conveniente, oportuna e eficiente”.
Nohara (2017) também aborda o controle da AP como mecanismos para
vigilância, orientação e correção da atuação administrativa. Segundo a autora, a
vigilância representa a fiscalização, a orientação visa direcionar a atuação
administrativa para o preenchimento de necessidades coletivas e a correção é
caracterizada pela revisão das condutas que se distanciam dos princípios e regras
jurídicas ou mesmo dos interesses públicos.
Diante das definições apresentadas, é possível verificar que o controle
moderno, além de envolver a apreciação e fiscalização de aspectos formais,
também envolve a verificação da eficiência por mecanismos de controle de
prevenção, orientação e correção (CONTI; CARVALHO, 2011).
Quanto aos princípios norteadores, cumpre observar que toda a
Administração Pública deverá pautar-se nos princípios previstos no art. 37 da
Constituição, a legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
Esses são os princípios básicos da Administração Pública que regem também, os
mecanismos de controle. Nesse sentido, Di Pietro (2004) afirma que a finalidade do
controle é também assegurar que a Administração atue em consonância com os
princípios constitucionais.
Ainda, conforme ressalta Fortini:
A partir do momento em que a Constituição passa a comtemplar, ao lado da legalidade e da moralidade, o principio da eficiência, formando uma gama principiológica que deve andar em conjunto, em harmonia, sem a predominância de um sobre o outro, aumenta-se a exigência a que deve se submeter o administrador público (FORTINI, 2008, p. 44).
Nesse contexto, a Administração Pública requer não só a observância da
legalidade, mas também a de todo ordenamento jurídico. Para Moreira Neto (2004),
o alcance de resultados eficientes é chamado de boa Administração. Quanto maior a
eficiência da Administração e dos mecanismos de controle, melhores serão os
resultados para coletividade e menor poderá ser o índice de corrupção.
É importante frisar, ainda, que não há democracia sem controle, uma vez que
todo detentor do poder estatal (governante, gestor público, parlamentar, magistrado,
entre outros) tem sua atividade sujeita a múltiplos controles (LIMA, 2017). Essa
41
concepção é resultado de uma tendência mundial e reflexo da crescente mobilização
da sociedade na busca do aprimoramento do controle da Administração Pública.
(CORBARI; MACEDO, 2012). Por meio dos mecanismos de controle é possível
impedir o mau uso dos recursos públicos, a corrupção, o que consequentemente
protege e beneficia toda a sociedade. Assim, o controle representa um poder-dever
de analisar, fiscalizar, revisar e validar as ações da Administração - seja por meio
dos mecanismos de controle interno, externo, ou pela prerrogativa que tem o
cidadão, em verificar a adequação das ações da Administração (MARINELA, 2018).
Logo, considerando todo o exposto, adotar-se-á aqui a definição de controle,
não só como mecanismo de fiscalização, mas principalmente, como instrumento de
prevenção, verificação e incentivo à eficiência, à transparência e ao fomento à
participação popular.
Por fim, “o controle é exercitável em todos os poderes do Estado,
estendendo-se a toda a Administração e abrangendo todas suas atividades e
agentes. Bem por isso, diversifica-se em variados tipos e formas de atuação”
(MEIRELLES, 2013, p. 741), conforme será demonstrado a seguir.
3.3 Classificação do Controle
Diversas classificações são atribuídas ao controle da Administração Pública.
Isso porque, como demonstrado, a Administração Pública está sujeita a múltiplos
controles, com o fim de que se atenda ao interesse público (MELLO, 2013).
Para a classificação do controle são adotados critérios tais como: quem fará o
controle, o momento em que será realizado, entre outros. A classificação
apresentada por Carvalho Filho (2011) sintetiza a classificação apresentada por
maioria da doutrina administrativista e, por essa razão, é a classificação aqui
apresentada.
Entre suas classificações, quanto à natureza do controlador, poderá ser
Legislativo, Judicial ou Administrativo. Como a próprio nome já diz, Legislativo é o
controle decorrente dos órgãos do Poder Legislativo e Judicial é o controle realizado
pelos órgãos do Poder Judiciário. Já o controle Administrativo, “é um autocontrole
dentro da Administração Pública” (FAGUNDES, 2010, p. 126).
Tendo em vista a oportunidade, a classificação é feita de acordo com o
momento em que o controle se efetua, sendo prévio o controle realizado anterior à
42
ação, concomitante o controle durante a ação ou ainda, poderá ser controle
posterior.
Quanto à natureza do controle, poderá ser um controle de legalidade ou de
mérito. O controle de legalidade é aquele que visa verificar se as ações da
Administração estão em conformidade com as normas legais. Já o controle de
mérito, visa verificar a efetividade dos resultados das ações da Administração, a
partir dos critérios de oportunidade e conveniência (MEIRELLES, 2013).
Tendo em vista a iniciativa do controle, o controle poderá ser de ofício ou
provocado. Essa classificação diz respeito à origem do controle e assim, será de
ofício por ser realizado pela própria Administração no regular exercício de suas
funções, ou provocado, quando um terceiro postula o controle da ação.
Ainda, segundo Carvalho Filho (2011), o controle poderá ser por
subordinação ou por vinculação. Essa classificação de controle considera os dois
segmentos da estrutura administrativa, pois o controle por subordinação é aquele
que permite ao órgão de graduação superior fiscalizar, orientar e rever a atuação de
órgãos de menor hierarquia. Já o controle por vinculação é aquele do qual o poder
de fiscalização e de revisão é atribuído a uma pessoa e se exerce sobre os atos
praticados por pessoa diversa.
Por fim, interessa principalmente a classificação quanto à extensão do
controle. Essa classificação divide o controle em interno e externo, como será
demonstrado a seguir.
3.3.1 Controle Interno
Apesar do objeto deste estudo ser o controle externo da Administração
Pública, o controle interno merece uma breve abordagem.
Segundo Marinela (2018), o controle interno é realizado no âmbito do próprio
órgão a ser controlado. Para justificar tal conceito, a autora cita como exemplo o
controle realizado pelo Poder Executivo sobre seus serviços e agentes e as
Corregedorias sobre os servidores do Judiciário.
Ainda, para Meirelles (2013), o controle interno é um controle de legalidade,
conveniência, oportunidade e eficiência, cujo objetivo é criar condições para o
43
exercício do controle externo e assegurar a regularidade da das ações da
Administração.
Sabendo que o controle interno se dá no âmbito do órgão controlado, é
importante mencionar que a expressão ‘controle interno’ é gênero das quais
decorrem duas espécies: o controle interno cujas funções acarretam um controle
contábil, financeiro, patrimonial e orçamentário e o controle administrativo, também
denominado autocontrole (ZYMLER, 2015).
A primeira espécie diz respeito ao sistema de controle previsto nos artigos 70
e 74 da Constituição (BRASIL, 1988). De acordo com a Constituição, é missão do
controle interno, enquanto integrante da estrutura dos Poderes Legislativo, Executivo
e Judiciário, a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e
patrimonial. Para isso, traz como funções: avaliar o cumprimento das metas
previstas no plano plurianual, a execução dos programas de governo e dos
orçamentos, comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e
eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades
da Administração, bem como verificar a aplicação de recursos públicos por
entidades de direito privado e exercer o controle das operações de crédito, avais e
garantias, bem como dos direitos e haveres. Vale ressaltar que o art. 31 dispõe que
o controle interno no âmbito municipal será exercido pelo sistema de controle interno
do Poder Executivo Municipal.
Ainda, compete ao controle interno apoiar as instituições de controle externo,
uma vez que a atuação deste é complementar. Se há um bom desempenho dos
órgãos do controle interno, possivelmente diminuirá a necessidade de atuação do
controle externo.
Cumpre-se observar também que a Constituição prevê que diante da
constatação da irregularidade ou ilegalidade, os responsáveis pelo controle interno
deverão cientificar os Tribunais de Contas. Assim, para que não seja
responsabilizado, o controlador deve exercer suas funções visando apontar
equívocos e buscar possíveis correções (FRANÇA, 2016).
Nesses termos, por essa espécie de controle interno, “pretende-se que cada
Poder controle, acompanhe e fiscalize seus planos, programas e metas, tanto no
âmbito do físico, quanto no financeiro” (FARIA, 2016, p. 198).
Já a segunda espécie é o autocontrole. Esse é administrativo e pode ser
definido como aquele efetuado pelo próprio órgão, para controlar e verificar a
44
regularidade e a legalidade das suas ações, no intuito de diminuir a margem de
erros e aumentar o alcance das ações da Administração (SILVA, 2013), o qual
Medauar (2012) também denomina de controle administrativo, controle interorgânico
ou controle intra-administrativo.
Portanto, possibilita a Administração revisar, revogar ou até anular os atos em
caso de vícios e irregularidades. Nesse sentido, o disposto na Súmula nº 473 do
Supremo Tribunal Federal (STF, 1969), prevê que:
a administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.
No mesmo contexto, segundo o art. 53 da Lei 9.784 de 29 de janeiro de 1999,
que disciplina o Processo Administrativo, é dever da Administração anular seus
próprios atos, quando eivados de vício de legalidade. A Administração poderá
também revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade5.
Deste modo, a realização de ambas espécies de controle interno diminui a
necessidade da atuação dos mecanismos do âmbito externo. Assim, apresentada a
classificação do controle e tecidas as considerações sobre o controle interno, é
importante para este estudo a compreensão do controle externo.
3.3.2 Controle Externo
O controle externo é aquele exercido fora da Administração, por pessoa,
órgão ou entidade diversa daquela de onde a conduta administrativa se originou. No
mesmo sentido, segundo Guerra (2003, p. 25), “externo, é o controle exercido por
um poder ou órgão distinto, apartado da estrutura do órgão controlado”.
Do mesmo modo, para Justen Filho (2014, p. 745), “o controle externo
consiste na submissão da atividade administrativa à fiscalização exercitada por
órgãos externos a estrutura administrativa do Estado”.
5 Nos termos do art. 5º, LV, da Constituição, também em processos administrativos, deverão ser assegurados o contraditório e a ampla defesa. Nesse sentido, de acordo com o entendimento do STF, “é necessária prévia instauração de procedimento administrativo, assegurados o contraditório e a ampla defesa, sempre que a Administração, exercendo seu poder de autotutela, anula atos administrativos que repercutem na esfera de interesse do administrado” (STF, RE 594296/MG, Rel. Min Menezes Direito, DJE, 13.02.2009).
45
De acordo com Marinela (2018, p. 1084), “o controle externo é o que se
realiza por órgão estranho à Administração responsável pelo ato controlado, criado
por lei ou pela Constituição e destinado a tal tarefa”.
Nesse sentido, a definição de controle externo, aqui adotada, será de todo e
qualquer controle alheio ao órgão a ser controlado. Para este estudo, importa todo
controlador externo à Administração Pública passível de atuar para eficiência das
políticas públicas e para impedir a corrupção.
Para Lima (2017), o controle externo é exigência do regime democrático e
deve ser realizado pelas instituições a quem a Constituição atribuiu essa missão,
devendo converter-se em eficaz instrumento da cidadania e contribuir para o
aprimoramento da gestão pública.
Mello (2012, p. 956) entende que “o controle externo compreende: (I) o
controle parlamentar direto, (II) o controle exercido pelo Tribunal de Contas (órgão
que auxilia o Legislativo nesta matéria), e (III) o controle jurisdicional”.
Vale ressaltar que o controle externo, em regra, é entendido como aquele
decorrente dos Tribunais de Contas e do Poder Legislativo. Nesse sentido:
A titularidade do controle externo, prevista no art. 70 da Carta Magna, pertence ao Poder Legislativo. Não obstante, naquelas funções elencadas no artigo 71, o exercício desse controle ocorre sempre com a participação de um órgão constitucionalmente autônomo e especializado, possuidor de competências exclusivas para exercê-lo, o Tribunal de Contas. No Brasil, por expressa determinação da Constituição, este órgão, exercendo o controle externo, possui competências mais amplas do que as definidas pela maioria dos outros países, tornando-o de grande relevância na fiscalização da “coisa pública” brasileira (GUERRA, 2003, p. 33).
Entretanto, com a evolução da Administração e do sistema de controle, outras
modalidades de controle externo vêm ganhando força e destaque, como é o caso do
controle realizado pelo Poder Judiciário, pelo Ministério Público e pela população.
Assim, quando se falar em controle externo, explicitamente, a Constituição
prevê que será realizado pelo poder Legislativo com auxílio dos Tribunais de Contas.
Vale mencionar que “o inovador consiste em ampliar a efetividade do controle de
conformidade da gestão pública com os objetivos fundamentais” (FREITAS, 2013, p.
24).
Desse modo, o modelo de Administração Pública contemporânea requer além
desses, outros mecanismos de controle externo aptos a verificar e a buscar a
46
eficiência e transparência das políticas públicas, como por exemplo, o controle
realizado pela sociedade, pelo Poder Judiciário e até pelo Ministério Público (MP).
Desse modo, demonstram-se adiante outros dispositivos em que o controle
está previsto implicitamente. Isto porque, o objetivo aqui não é abordar o controle
externo somente como a fiscalização de finanças, mas também como objeto de
alcance de eficiência das políticas públicas e consequentemente o combate à
corrupção.
47
4 CONTROLE EXTERNO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CONTEMPORÂNEA
Reconhecida a importância dos mecanismos de controle para o equilíbrio dos
Poderes e para manutenção do Estado, demonstrar-se-ão, a seguir, os mecanismos
de controle externo da Administração Pública contemporânea.
Aqui, o objetivo é demostrar que na Administração contemporânea surgem
novos atores de controle externo, bem como há a necessidade da adequação dos
mecanismos tradicionais.
Para isso, serão abordados os mecanismos tradicionalmente aplicados e
atuação dos mesmos na Administração Pública contemporânea e ainda as atuais
tendências de controle na atualidade brasileira.
4.1 Controle Parlamentar
Como já citado, no Brasil, a expressão ‘controle externo’ tradicionalmente
remete ao controle realizado pelo Legislativo e pelo Tribunal de Contas. Isso
porque, “a Constituição Federal consagrou a expressão controle externo em
referência àquele efetuado pelo Congresso Nacional, com auxílio do Tribunal de
Contas da União” (ZYMLER, 2015, p. 268). Esse pode ser considerado um controle
externo em sentido estrito (GUERRA, 2003).
A doutrina divide o controle externo em controle político e controle técnico ou
financeiro: “o controle político, realizado pelas Casas Legislativas e o controle
técnico, que abrange a fiscalização contábil, financeira e orçamentária, exercido com
auxílio do Tribunal de Contas da União” (ZYMLER, 2015, p. 264).
Com base nos aspectos apontados, o controle legislativo, aqui denominado
controle parlamentar, é aquele realizado por “mecanismos de fiscalização,
diretamente emanados das casas legislativas” (MEDAUAR, 2012, p. 424).
Ainda, nas palavras de Meirelles (2013), o controle legislativo ou parlamentar
é político, pois é exercido pelos órgãos legislativos ou por comissões do dos
mesmos, para resguardar os interesses do Estado e da população.
Assim, compete ao Parlamento no exercício de suas funções de controle,
julgar e fiscalizar a Administração Pública direta e indireta6. O art. 70, da
6 O artigo 49 da Constituição (BRASIL, 1988) elenca as competências do Congresso Nacional e, entre elas, está explicito no inciso X, o poder dever de fiscalização inerente às casas legislativas.
48
Constituição da República (BRASIL, 1988) estabelece que o controle externo implica
a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, quanto a
aspectos de legalidade, legitimidade, economicidade.
Nesse particular, reitera-se que no âmbito federal compete ao Congresso
Nacional o controle externo da União e das suas entidades integrantes da
Administração indireta. No âmbito estadual, o controle é realizado pelas respectivas
Assembleias Legislativas. No Distrito Federal, o controle é feito pela Câmara
Legislativa do Distrito Federal. Por fim, o controle externo no âmbito municipal,
previsto no art. 31 da Constituição da República (BRASIL, 1988), é exercido pelas
respectivas Câmaras Municipais.
É necessário observar ainda que esse controle é decorrente da
representatividade de interesses de diversos segmentos sociais, verificada nos
parlamentos e, em geral, justifica a legitimidade do controle parlamentar. É
decorrente do regime democrático de governo e tem preponderado em boa parte
dos Estados modernos, pois o Poder Legislativo corresponde à democracia
representativa, uma vez que seus titulares são representantes do povo e em nome
desses exercem seu mandato (ZYMLER, 2015).
Assim, segundo Faria (2010, p. 203) “como os parlamentares devem falar
pela sociedade, não podem jamais dispor do dever constitucional de fiscalizar o
cumprimento das leis. Esta obrigação é indisponível e inegociável”.
Ocorre que, na atualidade, o Poder Legislativo enfrenta crises de legitimidade,
tanto em razão da sua inércia ou incapacidade para exercer de forma livre a sua
função de representatividade para fiscalizar e controlar a gestão pública em nome do
povo, como em razão dos vários episódios que contribuem para degradar sua
credibilidade (FARIA, 2010).
Desse modo, considerando a atual realidade política brasileira, os
mecanismos de controle parlamentar sobre o Executivo devem ser reforçados para
impedir a concentração de poder. Primeiramente, é necessário ampliar o controle
em razão da transferência de poder para órgãos e entidades do Poder Executivo e
ainda, em função do Presidencialismo de coalizão7 (BARCELLOS; PIRES, 2016).
7 O presidencialismo de coalizão dificulta o controle, pois o Presidente da República forma uma base de apoio parlamentar, valendo-se de mecanismos variados de recompensa política, para viabilizar os planos e projetos do Executivo (BARCELLOS; PIRES, 2016).
49
Portanto, apesar do controle parlamentar apresentar caráter típico de
fiscalização, a Administração Pública contemporânea requer a ampliação do
controle, no sentido de eficiência, transparência e responsabilidade da gestão
pública. Para tanto, o controle parlamentar pode ser realizado por diversos
instrumentos, de acordo com o momento e a necessidade do controle.
Nos subitens seguintes serão examinados os principais meios de controle
parlamentar, enquanto instrumentos que estimulam a atuação da Administração, em
atenção aos princípios constitucionais e ao interesse público (PACCE, 2014).
4.1.1 Pedido de informação
Um dos instrumentos para realização do controle à disposição das Casas
Legislativas é o pedido de informação, cuja finalidade é obter determinadas
informações relacionadas com o exercício das atribuições da Administração Pública
(PACCE, 2014).
No âmbito federal, o pedido de informação é disposto no §2º do art. 50 da
Constituição8 (BRASIL, 1988). Do mesmo modo, as Constituições estaduais deverão
dispor sobre o pedido de informação das Assembleias, bem como as Leis orgânicas
do Distrito Federal e dos Municípios disporão sobre nas suas casas Legislativas.
Ressalte-se que o procedimento para a realização do pedido de informação varia de
acordo com o regimento de cada Casa Legislativa.
Esse procedimento de persecução deve ser utilizado para finalidades
relacionadas ao interesse público e cabe, portanto, aos parlamentares
operacionalizar esse instrumento sempre orientado pelos princípios da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (PACCE, 2014).
É preciso esclarecer que o pedido de informação é inerente à função
fiscalizadora do Legislativo. É o instrumento que possibilita aos parlamentares, a
obtenção de informações para acompanhar e até sancionar o executivo. Ainda, na
Administração Pública contemporânea, o pedido de informação é importante
8 Segundo o §2º do art. 50 da Constituição (BRASIL, 1988), as Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal poderão encaminhar pedidos escritos de informações a Ministros de Estado ou a quaisquer titulares de órgãos diretamente subordinados à Presidência da República, devendo o mesmo, ser respondido no prazo de trinta dias. A recusa ao pedido de informação ou a concessão de informações falsas importam em crime de responsabilidade.
50
instrumento à disposição do parlamentar, pois poderá ampliar a transparência, a
eficiência na gestão e possibilitar a existência de indícios de corrupção.
Por fim, vale ressaltar que, apesar dessa prerrogativa, o Supremo Tribunal
Federal (STF)9 decidiu que os parlamentares também podem valer-se do acesso à
informação, como qualquer cidadão. Tal debate foi tema de repercussão geral, cujo
entendimento é de que o parlamentar isoladamente poderá obter informações
valendo-se do direito fundamental ao acesso à informação previsto no inciso XXXIII,
do art. 5º da Constituição, vez que por ser parlamentar não perde sua condição de
cidadão e o direito ao acesso à informação.
4.1.2 Convocação para o comparecimento
Ao Poder Legislativo é atribuído também o poder de convocar agentes
públicos para prestar informações e esclarecimentos. Segundo o disposto no art. 50
da Constituição da República, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou
qualquer de suas Comissões, poderão convocar Ministro de Estado ou quaisquer
titulares de órgãos diretamente subordinados à Presidência da República para
prestarem informações, importando a recusa injustificada em crime de
responsabilidade.
Importante mencionar também, que independente de convocação, os
Ministros de Estado poderão, por sua iniciativa e mediante entendimentos com a
Mesa da respectiva casa legislativa, comparecer ao Senado Federal, à Câmara dos
Deputados, ou a qualquer de suas Comissões, para expor assunto de relevância
relativo ao Ministério que administra. Do mesmo modo, ocorrerá nas Assembleias
Legislativas na Câmara Legislativa do Distrito Federal e nas Câmaras Municipais.
Assim como no pedido de informação, as convocações também são dispostas
nas Constituições estaduais e nas Leis Orgânicas do Distrito Federal e dos
Municípios, e o procedimento estará previsto no Regimento de cada casa.
Faz-se importante apontar a vedação quanto à convocação dos
representantes do Executivo. Segundo entendimento do STF, “viola o princípio
9 (STF, RE 865401/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, DJE, 19.10.2018).
51
constitucional da separação dos poderes a possibilidade de o chefe de um deles
ser chamado a prestar informações a outro Poder”10.
Do mesmo modo, a convocação deve ser exercida dentro dos limites legais, e
quando realizado, não pode o agente público se escusar da sua obrigação de
comparecer para prestação das informações, especialmente quando a convocação
for decorrente das Comissões Parlamentares de Inquérito (PACCE, 2014).
Portanto, assim como o pedido de informação, este também é um
instrumento à disposição dos parlamentares, para fiscalizar a Administração Pública
para que haja eficiência nas ações e para o combate à corrupção.
4.1.3 Sustação dos atos normativos do poder executivo
Outro instrumento que merece ser citado é a sustação dos atos normativos do
Poder Executivo pelo Poder Legislativo. De acordo com o inciso V do art. 49 da
Constituição, só é possível a sustação de atos que exorbitem o poder regulamentar
ou os limites de delegação legislativa.
Reitera-se que, assim como os instrumentos citados, este instrumento
também poderá ser utilizado pelas Assembleias, pela Câmara Legislativa do Distrito
Federal e pelas Câmaras Municipais.
Utilizando-se dos ensinamentos de Carvalho Filho (2011), vale mencionar
ainda que esse instrumento é de grande importância, pois preserva a função
legiferante do Legislativo, o que possibilita impedir que o Executivo ultrapasse os
limites de sua atuação, sob a justificativa de regulamentar a lei. No entanto, o autor
ressalta que o ato sustar não significa anular ou revogar e sim, impedir a
continuação dos efeitos do ato.
Portanto, por meio deste instrumento, o Poder Legislativo irá sustar atos do
Executivo quando estes forem contrários ao procedimento previsto para sua
elaboração, gerando efeitos de eficácia ex nunc (não retroagem). Vale mencionar
ainda, que a declaração jurisdicional de inconstitucionalidade é indispensável, para
que os efeitos do ato normativo produzam efeitos retroativos (eficácia ex tunc), o que
não é possível quando a suspensão ocorre pelo Legislativo (BULOS, 2018).
10 Entendimento citado pelo Ministro Gilmar Mendes na decisão do recurso extraordinário 1038951. (STF, RE 1038951/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJE, 20.08.2019).
52
Dallaverde (2003) aponta que parte da doutrina entende que esse mecanismo
de controle vai contra o princípio da separação dos poderes. Entretanto, a autora
considera que há não violação ao referido princípio, pois a sustação dos atos é mais
um instrumento de controle, hábil à manutenção do Sistema de Freios e
Contrapesos.
Assim, a prerrogativa do Poder Legislativo sustar um ato normativo
representa um controle político repressivo.
4.1.4 Comissão Parlamentar
As Comissões Parlamentares também são instrumentos que detêm o Poder
Legislativo para acompanhar a atividade administrativa. Para Pacce (2014), a
implantação de Comissões é importante para o controle da Administração Pública,
pois amplia a atuação do Legislativo e possibilita a legitimidade da fiscalização e a
promoção de resultados concretos e desvinculados de interesses políticos,
atendendo assim aos interesses públicos e aos princípios constitucionais (PACCE,
2014).
Vale considerar que as Comissões representam um instrumento de controle
mais amplo, vez que permitem aos parlamentares não só a fiscalização, como a
atuação concomitante para busca de melhores políticas públicas e para a probidade
da Administração.
Tal instrumento é previsto no art. 58 da Constituição11 (BRASIL, 1988). Assim
como no pedido de informação e na convocação, a criação das Comissões nos
Estados, no Distrito Federal e nos Municípios seguirão as normas na Constituição
Estadual, da Lei Orgânica do Distrito federal e da Lei Orgânica Municipal.
Ainda, de acordo com o citado artigo constitucional, tais Comissões poderão
ser permanentes ou temporárias. Nesse sentido, “Comissões Parlamentares
permanentes são as que se organizam em função da matéria” (BULOS, 2018, p.
1145). Essas perduram com a passagem das legislaturas e têm atribuições definidas
de acordo com o Regimento Interno de cada casa do Poder Legislativo (MOTTA
FILHO, 2016).
11 De acordo com o art. 58, o “Congresso Nacional e suas Casas terão comissões permanentes e temporárias, constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de que resultar sua criação”.
53
Já as Comissões Temporárias, também denominadas de Especiais, são
criadas para o atingimento de um fim específico ou para a apuração de certo fato,
sempre por prazo determinado (MOTTA FILHO, 2016). Diferente das Permanentes,
as Temporárias são extintas com o fim da legislatura ou quando alcançado seu
objetivo.
Destacam-se aqui, as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) que, no
contexto aqui abordado, se fazem mais importantes. Segundo o §3º do artigo 58,
estas são criadas por prazo determinado e para apuração de um determinado fato12.
Além de poderes previstos nos Regimentos das respectivas Casas, as CPIs têm
poderes de investigação típicos das autoridades judiciais
Com apoio na ideia de Silva (2005), ressalta-se que as Comissões
Parlamentares de Inquérito exercem um papel de grande relevância da fiscalização
e controle da Administração Pública. Devido aos poderes de investigação, podem
fazer convocações, acessar informações que permitem concluir a investigação e
posterior consequências, entre outras atribuições. Nesse contexto, reitera-se que
são poderes de investigação e não de julgamento.
Assim, as conclusões das CPIs deverão ser encaminhadas ao Ministério
Público (MP) ou para outra autoridade competente, para que haja a devida
responsabilização.
Por isso, é importante citar a contribuição de algumas CPIs para o Estado
brasileiro, principalmente para o combate à corrupção. A título de exemplo, além das
CPIs da Petrobrás, merecem destaque a CPI do PC Farias, a CPI dos Anões do
Orçamento, a CPI do Judiciário, a CPI do Banestado, a CPI dos Correios, a CPI dos
Bingos e a CPI dos Sanguessugas13.
4.1.5 Impeachment
Seria o impeachment uma forma de controle parlamentar? Tendo em vista o
objeto deste estudo, considera-se que o processo de impeachment representa um
instrumento de controle externo repressivo, realizado pelas casas legislativas.
12 Segundo o referido artigo, no âmbito federal, as Comissões serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, a depender de requerimento de um terço de seus membros. As Constituições Estaduais e as Leis orgânicas do Distrito Federal e dos Municípios irão dispor sobre o procedimento para criação dessas Comissões. 13 A revista Exame, na matéria “As 7 CPIs que balançaram o Brasil nas últimas décadas”, elenca as CPIs que mais impactaram o Brasil, até o ano de 2015 (DESIDÉRIO, 2015).
54
Isso porque, além do controle parlamentar contemporâneo atuar na
fiscalização e concomitante com Administração para a probidade e a eficiência no
emprego das políticas públicas, também julgará, quando for o caso. Portanto,
representa a competência do Legislativo para julgamentos políticos.
Como se vê, o impeachment insere-se no sistema de mecanismos de controle
do poder político do Legislativo sobre o Executivo previsto na Constituição de 1988.
Entretanto, é o mecanismo de mais difícil emprego, em função das suas
exigências e por conta das várias votações e dos quóruns exigidos (BARCELLOS;
PIRES, 2016).
Desse modo, o impeachment do Presidente da República, do Governador e a
cassação dos Prefeitos, enquanto instrumento de controle repressivo, é medida
extrema utilizada pelas Casas Legislativas, quando nenhum dos outros instrumentos
for eficaz, por já haver condutas ilícitas de responsabilidade político-administrativas.
Ainda, segundo Medauar (2012), os casos de impeachment são exceções
diante da ineficácia e da escassez de resultados do controle do Legislativo. Essa
ineficácia levantada pela autora pode ser justificada pela ausência de interesse
político na realização correta do controle, para não desagradar o Poder Executivo e,
desse modo, a omissão do controle parlamentar permite a multiplicação de
escândalos na Administração Pública brasileira, em todos os níveis (BERTONCINI;
SANCHES, 2011).
Riccitelli (2006) afirma que o impeachment é o elo de ligação entre a vontade
da população e seus representantes. Para embasar tal afirmação, o autor cita a
manifestação dos caras-pintadas, à época do governo Collor, quando a população
participou ativamente do processo de impeachment, na medida em que foram às
ruas e pressionaram legitimamente para obtenção do resultado, junto aos órgãos
competentes.
Desse modo, não há como excluir este instrumento dos mecanismos de
controle parlamentar, uma vez que os fatos vislumbrados no nosso cenário político
nacional evidenciam a importância de todos os instrumentos legítimos passíveis de
controle parlamentar (RICCITELLI, 2006).
55
4.2 Controle da Administração Pública pelo Tribunal de Contas
Segundo definição de De Plácido Silva (2016), o Tribunal de Contas é auxiliar
do Poder Legislativo na coordenação e fiscalização da Administração Pública. Logo,
o papel das cortes na fiscalização da Administração é fundamental para garantia e
consolidação do Estado Democrático de Direito (SIMÕES, 2014).
O termo ‘auxiliar’ é atacado por Guerra (2003). O autor critica o texto
constitucional e defende que os Tribunais de Contas não são órgãos auxiliares, pois
“são órgãos autônomos, constitucionalmente construídos, desvinculados de
qualquer relação de subordinação com os poderes, prestando auxílio, de natureza
operacional e em algumas situações específicas, ao Poder Legislativo” (GUERRA,
2003, p. 64).
Nesse sentido, segundo Marinela (2018), os Tribunais são órgãos colegiados
autônomos, cuja natureza jurídica é discutível. A autora cita que tal discussão se dá
porque alguns veem os Tribunais de Contas como executores do Poder Legislativo e
alguns defendem que estes fazem parte desse Poder, o que não prevalece na atual
ordem vigente. Ademais, considera que a maioria trata os Tribunais de Contas como
órgão anômalo, assim como o Ministério Público.
Assim, apesar do uso do termo ‘auxiliar’, os Tribunais de Contas são órgãos
independentes que têm como objetivo principal a verificação das contas públicas,
por meio da fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial.
Vale mencionar que a independência dos Tribunais de Contas se dá em função das
amplas atribuições e competências que detém e em razão do aparato legal e
instrumental utilizado para verificar as contas públicas (ROCHA, 2013).
Desse modo, os Tribunais de Contas atuarão em todas as esferas
federativas. No âmbito da União, o Tribunal de Contas da União (TCU) é o órgão
federal de auxílio do Congresso Nacional, com jurisdição em todo o território
nacional. Já nos Estado, a atuação fica a cargo do Tribunal de Contas dos Estados
que auxiliam as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais. Do mesmo
modo, no Distrito Federal, o respetivo Tribunal de Contas atua em conjunto com a
Câmara Legislativa.
Os Estados do Pará, Bahia e Goiás, contam com o Tribunal de Contas dos
Municípios, órgão estadual de auxílio às Câmaras Municipais, com jurisdição nos
56
entes municipais que integram o Estado. Vale ressaltar que esses Estados contam
com Tribunal de Contas Estadual e Tribunal de Contas dos Municípios.
Já os municípios de São Paulo e Rio de Janeiro têm Tribunal de Contas
próprio, portanto, órgão municipal, que “têm por competência o auxílio no controle
externo dos gastos do respectivo Município” (SIMÕES, 2014, p. 461). Esses
Tribunais são regidos pelas respectivas leis orgânicas municipais e analisam apenas
as contas do próprio Município, pois as contas dos demais municípios do Estado e
do governador são apreciadas pelo Tribunal de Contas do Estado (SILVA, 2014).
Ultrapassada essa questão, torna-se importante mencionar as funções dos
Tribunais de Contas. O art. 71 da Constituição (BRASIL, 1988) elenca as funções do
TCU, que se aplicam por simetria14 aos demais Tribunais de Contas.
Barros (2014) divide as funções constitucionais atribuídas aos Tribunais de
Contas em dois grandes blocos: um voltado à assistência ao Poder Legislativo e o
outro ao julgamento das contas da gestão. Nessa perspectiva, as competências de
assistência ao Poder Legislativo têm caráter subsidiário aos atos de controle do
Legislativo, uma vez que prestam auxílio de natureza técnica e operacional. Nesse
bloco, os instrumentos utilizados são: a análise, mediante a emissão de parecer
prévio sobre as contas anuais do chefe do Poder Executivo (art.71, I); a realização
de auditorias e inspeções quando solicitadas (art. 71, IV); e a prestação de
informações de matérias afetas ao seu exercício (art.71, VII). De outro modo, no
bloco destinado ao julgamento das contas, a Constituição outorgou competências
exclusivas de controle a serem desempenhadas diretamente pelos Tribunais de
Contas, por atos necessários à proteção ao erário. São essas: julgar contas de
gestão (art. 71, II); apreciar atos de pessoal sujeitos a registro (art. 71, III); realizar
inspeções a auditorias (art. 71, IV); fiscalizar as contas nacionais das empresas
supranacionais (art. 71, V); fiscalizar a aplicação de recursos transferidos (art. 71,
VI); aplicar sanções aos responsáveis (art. 71, VIII); determinar prazo para a
correção de ilegalidade (art. 71, IX); sustar a execução de atos administrativos
14 O art. 75 da Constituição consagra o denominado Princípio da Simetria. De acordo com esse princípio, o modelo constitucional federal vigente deve prevalecer nos demais entes da federação. Assim, as normas relativas a organização e fiscalização do TCU se aplicam aos demais Tribunais de Contas, devendo ser respeitadas as diferenças regionais ao tratar dos Estados e Municípios. Desse modo, são permitidos ajustes em razão de circunstancias locais. Entretanto, não é possível a inovação no processo de fiscalização e julgamento das contas públicas por parte dos Estados e Municípios (SILVA, 2014).
57
impugnados (art. 71, X); representar acerca de irregularidades ou abusos apurados
(art. 71, XI); e sustar contratos (§2° do art. 71);
Apontadas as funções, cumpre destacar que mesmo utilizando termos como
‘tribunal’ e ‘julgamento de contas’, não é o controle do Tribunal dotado de
competências jurisdicionais (ARAGÃO, 2013b). Apesar do nome de Tribunal e da
competência de julgar as contas e aplicar sanções à Administração, os Tribunais de
Contas não pertencem ao Poder Judiciário. Do mesmo modo, são independentes do
Poder Legislativo, vinculando-se a esse apenas para efeitos orçamentários e de
responsabilidade fiscal, o que permite que os Tribunais fiscalizem e julguem também
as contas do Poder Legislativo (LIMA, 2017).
Em síntese, todos os órgãos e entidades da Administração Pública direta e
indireta e todas as pessoas físicas ou jurídicas que utilizem, arrecadem ou guardem
dinheiro público estão sujeitas ao controle dos Tribunais de Contas. A razão desse
controle, “é assegurar que os recursos públicos sejam arrecadados, aplicados ou
utilizados em conformidade com os princípios da legalidade, legitimidade e
economicidade, tendo em vista a plena satisfação do interesse público” (SILVA,
2014, p.9).
Apresentados esses argumentos, faz-se importante abordar os instrumentos
que detêm os Tribunais para o controle da Administração Pública.
Menezes (2015) elenca cinco instrumentos de fiscalização utilizados pelos
Tribunais de Contas: levantamento, auditoria, inspeção, acompanhamento e
monitoramento. Segundo o art. 238 do Regimento Interno do Tribunal de Contas da
União (TCU, 2015), o levantamento é a ação promovida pelos Tribunais para
conhecer a organização, o funcionamento e as atividades da Administração,
possibilitando avaliar a viabilidade para realização de uma futura fiscalização. Já a
auditoria, prevista no art. 239, visa examinar a legalidade e a legitimidade dos atos
da Administração, bem como o desempenho dos órgãos, dos programas, dos
projetos e das atividades governamentais.
O art. 240 fala da inspeção, meio pelo qual será possível suprir omissões e
lacunas de informações, bem como para esclarecer dúvidas e apurar denúncias ou
representações. Ainda, ante o disposto no art. 241, o acompanhamento tem por
característica a fiscalização por período predeterminado, visando examinar a
legalidade e a legitimidade dos atos, quanto ao aspecto contábil, financeiro,
orçamentário e patrimonial e avaliar o desempenho da administração, assim como
58
dos sistemas, programas, projetos e atividades governamentais, quanto aos
aspectos de economicidade, eficiência e eficácia dos atos praticados. Por fim, o
monitoramento, previsto no art. 243, é usado pelos Tribunais no cumprimento das
suas deliberações e os respectivos resultados.
Tradicionalmente, tais instrumentos são utilizados para fiscalizar o emprego
dos recursos públicos e as ações da Administração Pública. Entretanto, torna-se
pertinente ressaltar que o controle realizado pelos Tribunais de Contas na
Administração Pública contemporânea vai além da fiscalização.
Com a evolução do Estado e dos modelos de Administração, os Tribunais
passam a atuar para além dos paradigmas clássicos do controle externo, ou seja,
não só como órgão fiscalizador, mas também no incentivo a uma Administração
mais eficiente, proba e com menores índices de corrupção.
Para tanto, a atuação dos Tribunais de Contas é baseada tanto nos aspectos
legais, como em todo contexto, político, econômico e social. Assim, fiscaliza se os
recursos então sendo bem aplicados, se os objetivos estão sendo alcançados e,
principalmente, se as ações da administração atendem aos anseios da sociedade.
Nesse contexto, também merece citação a atuação preventiva dos Tribunais.
Segundo o Relatório Anual de Gestão do TCU (2016), cujo tema é ‘A inovação a
serviço do controle’, deve ser prioridade a adoção de medidas tempestivas e
preventivas de aprendizagem corporativa e do uso da tecnologia da informação para
aperfeiçoamento dos processos internos e interação com órgãos externos e com a
coletividade. É inegável, que a prioridade citada pelo TCU, corresponde à realidade
da Administração contemporânea e deve, portanto, ser adotada nos demais
Tribunais de Contas.
Nessa linha, destaca-se a atuação pedagógica dos Tribunais de Contas, uma
espécie de controle preventivo, pois visa evitar possíveis desvios de conduta e de
recursos e o melhor desempenho das atividades estatais. Tal qualificação se dá por
cursos, palestras, manuais e outros. Desse modo, os Tribunais devem atuar na
qualificação dos agentes, em diversas áreas de atuação da Administração Pública,
para que as ações destes se adequem ao ordenamento jurídico e aos interesses da
sociedade (DALL’OLIO, 2018).
Além de atuarem juntos aos administradores públicos visando melhor
desenvolvimento das atividades, merece destaque também a atuação dos Tribunais
59
por meios informatizados. A alimentação de sistemas, a criação de aplicativos de
controle e demais mecanismos da tecnologia da informação permitem que a atuação
do gestor se dê em conformidade com os dispositivos legais e com o interesse
público.
Nesse caso, o controle também poderá ser preventivo, pois o uso da
tecnologia da informação permite vincular a atuação do administrador. Ainda, poderá
ser um controle posterior, quando verificada alguma irregularidade. Nesse caso, os
meios informatizados permitem a celeridade do Tribunal na verificação e coerção,
diante dos fatos tidos como irregulares.
Como exemplo de inovação no controle, o Relatório Anual de Gestão do TCU
(2016) cita a criação de aplicativos com vasto conteúdo de informações e serviços
relativos à atuação do Tribunal. Por certo, é um mecanismo coerente com o contexto
social e com o controle da nova Administração, vez que a tecnologia da informação
permite economicidade à administração bem como a detecção rápida de condutas
fraudulentas.
Desse modo, tanto as medidas educativas citadas como os instrumentos da
tecnologia da informação são hábeis para a prevenção e o incentivo aos
administradores à utilização de boas práticas na gestão, o que impedirá possíveis
desvios. Quanto maior for a atuação preventiva dos Tribunais, maiores serão os
resultados para a população e menores serão os índices de corrupção.
Portanto, é inegável a importância dos Tribunais de Contas para a prevenção
e o combate à corrupção. A atuação se dá tanto para aprimorar a Administração
Pública em benefício da coletividade, bem como para coibir a má gestão e a
corrupção. Tal afirmação é baseada principalmente no papel desempenhado pelo
TCU para reduzir a corrupção e para a efetividade das políticas públicas.
Nesse contexto, o Relatório Anual das atividades do TCU (2019), destaca a
importância da atuação do TCU em conjunto com os demais órgãos de controle para
o combate à corrupção por meio do aumento de medidas preventivas que
possibilitem a efetividade das ações da AP, a verificação de irregularidades e a
sanção dos corruptores.
Tamanha é a preocupação TCU com os índices de corrupção no Brasil, que o
mesmo conta com unidades especializadas para acompanhamento e identificação
dos desvios: a Secretaria Extraordinária de Operações Especiais em Infraestrutura
60
que atua na área de infraestrutura e a Secretaria de Relações Institucionais de
Controle no Combate à Fraude e Corrupção.15
Ainda, valendo-se da atuação educativa desenvolvida pelos Tribunais já
citada, o TCU elaborou um o Referencial de Combate à Fraude e Corrupção (2018),
para orientar os órgãos da Administração Pública visando diminuir os índices de
desvios. O Referencial aborda instrumentos que possibilitam a redução dos atos de
corrupção e para tanto, lista cinco mecanismos que contribuem para o combate à
corrupção, quais sejam: prevenção, detecção, investigação, correção e
monitoramento.
Novamente destaca-se a importância da prevenção que aqui já foi abordada.
Segundo o Referencial do TCU (2018), a prevenção é o instrumento mais eficiente,
e do qual fazem parte mecanismos como: gestão da ética, controles preventivos,
transparência e accountability. Nesse sentido:
Por meio de um ambiente ético, a disposição para desvios de condutas e formação de conluios é reduzida e a propensão para denúncias aumenta. Por meio de controles, reduz-se o risco de que vulnerabilidades sejam exploradas por fraudadores e corruptos. Por meio da transparência e accountability, aumenta-se a capacidade de observação dos atos e fatos na gestão pública pelas partes interessadas (stakeholders) da organização e
aferição dos resultados obtidos. (TCU, 2018, p. 35)
Ainda, caso as medidas preventivas falhem ou em caso de desvios dos
agentes, é possível a utilização da detecção. Diferente da prevenção, a detecção
visa identificar as ações de corrupção que estão ocorrendo ou que já ocorreram, por
meio da obtenção de informações que possibilitem a investigação de irregularidades
na AP. Os outros dois mecanismos, correção e monitoramento, aparecem como
medidas corretivas ante a ineficácia das políticas preventivas (TCU, 2018).
Vale ressaltar que além dos procedimentos para apurar irregularidades e
desvios, o TCU poderá aplicar medidas coercitivas, tais como a decretação da
indisponibilidade dos bens16, a declaração de inidoneidade17, o pagamento de multa,
entre outros encargos.
15 Segundo o TCU, tais secretarias foram criadas para sistematizar a atuação do Tribunal no combate à corrupção. Disponível em: https://portal.tcu.gov.br/combate-a-corrupcao/. 16 TCU decretou cautelarmente, a indisponibilidade dos bens de responsáveis da Petrobras e de empresas envolvidas nas obras de construção das unidades de destilação atmosférica e das unidades de hidrotratamento da Refinaria Abreu e Lima no Estado de Pernambuco. Disponível em:
61
Diante de todo exposto, é possível verificar que as ações dos Tribunais de
Contas voltadas ao combate à corrupção exigem cooperação com a AP. O trabalho
do TCU, por exemplo, é realizado por meio de parcerias com outros órgãos para
identificar e responsabilizar os corruptores. A integração dos demais órgãos e
instrumentos de controle com a Administração Pública permite maior eficiência das
ações e facilita a detecção de desvios. Quanto maior a integração entre as
instituições, melhor será o desempenho da AP e menores serão os índices de
corrupção. Nesse sentido é o entendimento do TCU no acórdão nº 483/201718:
É essencial que os órgãos de controle possam agir coordenada e complementarmente. Cada decisão deve ser tomada considerando uma estratégia conjunta de combate à corrupção, uma vez que, seja na seara criminal, seja na seara administrativa, seja na defesa da concorrência, todos devem mirar o interesse público primário.
Nesse cenário, conclui-se que o controle externo realizado pelos Tribunais de
Contas na Administração Pública contemporânea é caracterizado pela atuação
preventiva, pela inovação e pela modernização de instrumentos para fomento e
alcance da transparência, eficiência, para o combate à corrupção e para a efetivação
das políticas públicas.
4.3 Controle Judicial da Administração Pública
Uma terceira modalidade de controle a ser abordada é o controle judicial. Por
meio desse controle é possível apreciar tanto as ações da Administração Pública,
(atos, processos, contratos e outros), quanto as omissões (MEDAUAR, 2012).
Assim, a finalidade do controle judicial é a proteção do indivíduo em face da
Administração Pública e, para tanto, o Judiciário exerce intervenção no processo de
realização do direito (FAGUNDES, 2010). Desse modo:
Quando o Poder Judiciário, pela natureza da sua função, é chamado a resolver as situações contenciosas entre a Administração e o individuo, tem lugar o controle jurisdicional das atividades administrativas. Os conflitos
https://portal.tcu.gov.br/imprensa/noticias/tcu-decreta-indisponibilidade-de-bens-de-responsaveis-da-petrobras-e-de-empresas-envolvidas.htm 17 O TCU declarou a empresa Engevix Engenharia inidônea devido a fraudes em processo licitatório. Disponível em: https://portal.tcu.gov.br/imprensa/noticias/tcu-declara-engevix-inidonea-por-irregularidades-em-angra-3.htm 18 (TCU, Acórdão nº 483/2017, Rel. Min. Bruno Dantas).
62
tomam, então, a forma de pleitos judiciais, estabelecendo-se o debate em torno da situação jurídica, de modo que seja possível esclarecer, definir e precisar com quem se acha a razão. Se com o Estado, negando direitos do administrado ou dele exigindo prestações, se com o próprio administrado, quando pede o reconhecimento de direitos, ou se revela, insubmisso, alegando ilegalidade no procedimento administrativo (FAGUNDES, 2010, p. 133).
Nesse contexto, o embasamento para esse meio de controle é o inciso XXXV
do art. 5°, da Constituição da República, do seguinte teor: “a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário, lesão ou ameaça a direito”. Desse modo, o
Judiciário reveste-se de competência para verificar, mediante provocação, a
conformidade das ações da Administração com o direito, sempre que houver lesão
ou ameaça a direito. Não obstante, “de nada adiantaria sujeitar-se a Administração
Pública à lei se seus atos não pudessem ser controlados por um órgão dotado de
garantias de imparcialidade que permitam apreciar e invalidar os atos ilícitos por ela
praticados” (DI PIETRO, 2018, p. 964).
Vale mencionar ainda que, no ordenamento brasileiro, o sistema de jurisdição
é único. De acordo com as considerações de Faria (2016, p. 204):
No sistema jurisdicional unitário, denominado sistema jurisdicional comum, o controle dos atos administrativos e dos atos particulares, nas relações com o Estado, incumbe ao Poder Judiciário. Esse julga definitivamente todas as lides envolvendo tanto as pessoas privadas, quanto as públicas de direito público e as de direito privado. Decorre essa competência da especialização das funções do Estado no paradigma do Estado de Direito.
Além disso, convém observar que o controle judicial, em regra, será por
provocação. Para que o Judiciário atue no controle da Administração, é preciso que
o cidadão, o Ministério Público, qualquer entidade da sociedade civil ou até da
própria Administração, o provoque (ARAGÃO, 2013b).
Cabe destacar aqui, alguns dos instrumentos utilizados para provocação do
Poder Judiciário. Um deles é o mandado de segurança, previsto no art. 5º da
Constituição e na Lei nº 12.016, de 07 de agosto de 2009. Segundo o texto
constitucional, é cabível a impetração de mandado de segurança para proteger
direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de
63
pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público19. Esse é o de
mandado de segurança individual. Já o mandado de segurança coletivo é previsto
no inciso LXX da Constituição. Esse instrumento poderá ser utilizado por partidos
políticos que tenham representação no Congresso Nacional (alínea a), também por
organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos um ano, na defesa dos interesses de seus membros
ou associados (alínea b).
Em síntese, “trata-se de uma garantia de cunho constitucional, externada sob
o prisma processual. É um meio de limitação ao exercício da autoridade pública,
assegurando-se sua utilização em termos amplos contra atos ilegais ou abusivos”
(JUSTEN FILHO, 2014, p. 1249).20
Ainda, destacam-se as ações coletivas, quais sejam a ação popular e a ação
civil pública. A ação popular, prevista no art. 5º, LXXIII da Constituição e
regulamentada pela Lei nº 4.717, de 29 de junho de 1965, é o instrumento à
disposição de qualquer cidadão para anular ato lesivo ao patrimônio público21 ou de
entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e
ao patrimônio histórico e cultural. Assim, a ação popular é o instrumento por meio do
qual o cidadão tem o poder de questionar atos administrativos, o que
consequentemente possibilita a ampliação da participação popular (JUSTEN FILHO,
2014).
Já a ação civil pública, prevista na Lei nº 7.347 de 24 de julho de 1985, apesar
de parecida com a ação popular, é o instrumento utilizado para o atendimento a um
número maior de pessoas. Ou seja, a ação civil pública é meio para defesa do
patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e
coletivos (JUSTEN FILHO, 2014).
19 O art. 1o da Lei que disciplina o mandado de segurança reitera o dispositivo constitucional ressaltando que o instrumento pode ser utilizado por qualquer pessoa física ou jurídica que sofrer violação ou quando houver justo receio de sofrê-la. 20 Apesar de não ser um instrumento tradicionalmente usado pelo Legislativo, é crescente o uso de mandado de segurança na Administração Pública contemporânea por parlamentares. Exemplo disso, é impetração de mandado de segurança para garantia de obtenção de informação. Ainda, também é importante mencionar, a utilização do mandado de segurança contra um projeto de Lei em tramitação. Nesse contexto, é consolidado no STF o entendimento que “o parlamentar tem legitimidade ativa para impetrar mandado de segurança com a finalidade de coibir atos praticados no processo de aprovação de leis e emendas constitucionais que não se compatibilizam com o processo legislativo constitucional”. (STF, MS n° 24.642, Rel, Min.Carlos Velloso, DJE 18.06.2004) 21 Patrimônio público pode ser entendido como os bens e direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico.
64
Além dessas ações, o art. 5° elenca outros instrumentos de provocação do
Judiciário, entre eles o mandado de injunção a ser utilizado nos casos de falta de
norma regulamentadora necessárias ao exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania, garantidos pela Constituição da República. Ainda, é previsto o habeas
data, instrumento que garante à pessoa natural e à pessoa jurídica o direito de
acesso a informações constantes de registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público e ainda, para a retificação de dados, quando
não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo, nos termos da
Lei nº 9.507, de 12 de novembro de 1997.
Ressalte-se que outros instrumentos também poderão ser utilizados para
provocação e controle. Entretanto, como o objetivo aqui é abordar a extensão do
controle realizado pelo Poder Judiciário na Administração Pública contemporânea, é
dispensável a análise pormenorizada de todos os instrumentos utilizados para esse
fim.
Desse modo, para compreender os limites e possibilidades de intervenção do
Judiciário sobre o comportamento da Administração, faz-se necessário mencionar os
atos vinculados e os atos discricionários, vez que a referida dicotomia representa a
suscetibilidade de cada ato à revisão pelas instâncias judiciárias (OLIVEIRA, 2017).
Por muito se falou em controle judiciário sobre os atos vinculados, ou seja,
sobre “aqueles sobre as quais a lei estabelece os requisitos e condições de sua
realização” (MEIRELLES, 2013, p. 177). Nesse contexto, a atuação estava adstrita
aos aspectos de legalidade.
Entretanto, a evolução do Estado e a modernização da Administração
Pública remetem a um controle para além de aspectos da legalidade. Não há mais
espaço a aplicação formal da lei, sendo necessário que a conduta além de legal seja
justa, moral e adequada ao contexto social atual (FLORES, 2014). Assim, é preciso
que o Direito e o Judiciário acompanhem as demandas e os anseios da sociedade,
decidindo com base em todo ordenamento jurídico, não só na legalidade.
Dessa forma, o controle judicial passa a atingir também os atos
discricionários, isto é, “os que a Administração autorizada pela lei pode praticar com
liberdade de escolha de seu conteúdo, de seu destinatário, de sua conveniência, de
sua oportunidade e do modo de sua realização” (MEIRELLES, 2013, p. 178).
65
Assim sendo, o controle verificará se a escolha do administrador foi adequada
e proporcional à resolução do caso concreto, face ao interesse público, às garantias
do cidadão e aos princípios que regem o ordenamento jurídico. Portanto, os atos
discricionários também serão controlados, para apreciar a existência de
arbitrariedades e medidas administrativas desarrazoadas ou desproporcionais
(FLORES, 2014).
Ainda, quando se fala em controle dos atos discricionários, também é
importante mencionar que o Judiciário também poderá atuar no controle do mérito
administrativo. Nesse contexto, segundo Mello (2013, p. 981):
Mérito do ato é o campo de liberdade suposto na Lei e que efetivamente venha remanescer no caso concreto, para que o administrador, segundo critérios de conveniência e oportunidade, decida-se entre duas ou mais soluções admissíveis perante a situação vertente, tendo em vista o exato atendimento da finalidade legal, ante a impossibilidade de ser objetivamente identificada qual delas seria a única adequada.
Nesse contexto, faz-se oportuno mencionar o limite de atuação do Judiciário
nas questões de mérito da Administração Pública. Carvalho Filho (2011) critica a
intervenção do Judiciário no mérito. Segundo o autor, não compete ao juiz substituir
o administrador na escolha dos critérios de oportunidade e conveniência. Isso
porque, se o Judiciário deve ater-se à legalidade dos atos, não deveria questionar
critérios que a própria lei faculta ao administrador. Já para Faria (2016), o Judiciário
tem legitimidade para controlar o mérito, quando a Administração atuar em
desacordo com a lei e com o interesse público.
Nessa esteira, o entendimento adotado é de que o Judiciário poderá apreciar
não só a legalidade, como também as questões de mérito, decorrente do poder
discricionário, quando as ações forem contrárias ao ordenamento jurídico pátrio.
Cumpre ressaltar, ainda, que o controle externo do realizado pelo Judiciário,
não afronta a separação dos Poderes. Como citado, é função do Poder Judiciário
atuar para afastar lesões ou ameaças de lesão ao direito, de modo que, quando
provocado, não pode eximir-se de atuar em face de outros poderes. Portanto, não
há que se falar em ofensa à separação de poderes (ZAGURSKI; PAMPLONA;
2016). Essa também é a posição do Supremo Tribunal Federal22.
22 Segundo decisão proferida do agravo regimental no recurso extraordinário 1.060.961, é consolidado o entendimento de que o Poder Judiciário em defesa de direitos fundamentais, pode, sem que fique configurada violação ao princípio da separação dos Poderes, determinar a
66
Nesse contexto, como aqui a pretensão é demonstrar a extensão do controle
judicial da Administração atual, passa-se adiante a analisar se o Judiciário poderá
intervir na aplicação das políticas públicas, uma vez que, diante das omissões dos
poderes Legislativo e Executivo, há uma crescente demanda junto ao Poder
Judiciário.
Com efeito, não compete ao Judiciário interferir nas atividades da
Administração para realização de políticas públicas. Entretanto, diante da omissão
dos demais poderes, é possível verificar o Judiciário determinando que a
Administração atue na garantia dos direitos fundamentais (FARIA, 2016). Portanto,
ante a ausência e a inércia dos Poderes competentes, o Poder Judiciário poderá
atuar, ou seja, há a judicialização das políticas públicas.
Os termos ‘judicialização’ e ‘ativismo’ muitas vezes são utilizados como
sinônimos. Contudo, para Barroso (2012), o termo ‘judicialização’ é utilizado para
questões de grande repercussão política ou social, decididas por órgãos do Poder
Judiciário, e não pelas instâncias políticas tradicionais. Já o termo ‘ativismo’
representa maior interferência do Judiciário nos outros dois Poderes, para
concretização dos valores e fins constitucionais. Uma das possibilidades de
intervenções23 do Poder Judiciário se dá para imposição de condutas ou de
abstenções ao Poder Público, no tocante às políticas públicas. Exemplo de ativismo
comum na Administração Pública contemporânea é a distribuição de medicamentos
e os tratamentos medicinais, mediante decisão judicial (BARROSO, 2012).
Assim, tendo em vista as definições apresentadas para representar a
intervenção do Judiciário na Administração, considera-se mais adequado o termo
‘ativismo judicial’. Entretanto, como parte da doutrina utiliza-se do termo
‘judicialização’ para tratar do emprego de políticas públicas, tal termo aqui também
poderá ser utilizado.
implementação de políticas públicas. (STF, RE 1060961/ DF, Rel. Min. Edson Fachin, DJE 07.05.2019). 23 Barroso (2012, p. 26), elenca três condutas onde o ativismo pode estar representado. A primeira delas, quando da “aplicação direta da Constituição a situações não expressamente contempladas em seu texto e independentemente de manifestação do legislador ordinário”. Ainda, considera como ativismo “a declaração de inconstitucionalidade de atos normativos emanados do legislador, com base em critérios menos rígidos que os de patente e ostensiva violação da Constituição”. Por fim, a terceira conduta e que aqui interessa-nos, é “a imposição de condutas ou de abstenções ao Poder Público, notadamente em matéria de políticas públicas”.
67
Desse modo, sobre o tema Judicialização, parte da doutrina defende que “se
a Administração não atende ao mínimo essencial dos direitos fundamentais, o
Judiciário deve intervir e determinar a realização da política pública” (PIRES, 2013,
p. 273). Portanto, deve haver judicialização.
A posição do STF é de que o Poder Judiciário, atuando em defesa de direitos
fundamentais, pode intervir para implementação de políticas públicas, sem que haja
violação ao princípio da separação dos Poderes. Esse é o entendimento recente do
STF, na decisão no Agravo Regimental no recurso extraordinário 810.883: “O Poder
Judiciário, em face da supremacia da Constituição, pode adotar, em sede
jurisdicional, medidas destinadas a tornar efetiva a implementação de políticas
públicas, na hipótese de inescusável omissão estatal”24.
No mesmo sentido, de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal, há “possibilidade, em casos emergenciais, de implementação de políticas
públicas pelo Judiciário, ante a inércia ou morosidade da Administração, como
medida assecuratória de direitos fundamentais25.
Veloso (2018) ressalta que a atuação do Judiciário, a partir da judicialização,
tem por fim a correção do rumo das políticas públicas, de maneira a evitar novos
litígios no mesmo contexto. Entretanto, para que tal atuação não seja massificada, o
Judiciário deve recusar o protagonismo e incentivar que os outros poderes realizem
suas competências institucionais. Para o autor:
O ativismo judicial não é necessariamente bom ou ruim, isto é, cada caso é um caso. Há diversos casos positivos e diversos negativos. Muitas vezes, a disponibilização de medicamentos pelo Judiciário vem suprir uma deficiência do sistema e saúde pública. Todavia, por outro lado, a litigância pode ser, inclusive, uma estratégia da indústria farmacêutica para vender mais remédios. Há decisões judiciais determinando o fornecimento de remédios que possuem equivalentes genéricos fornecidos pelo SUS, o que é uma aberração (VELOSO, 2018, p. 56).
Com essas posições, é possível afirmar que o Judiciário vem exercendo
funções que originariamente não são suas para suprir as omissões e a inércia da
Administração (FLORES, 2014).
24 (STF, RE 810883/PE, Rel. Min. Edson Fachin, DJE 03.09.2019) 25 (STF, RE 1213721/, Rel. Min. Luís Roberto Barroso, DJE 19.06.2019)
68
Nessa linha, o Poder Judiciário cumpre sua função constitucional ao
assegurar ao cidadão os direitos fundamentais ante a omissão do Estado.
Entretanto, face a essa prestação, o orçamento poderá estar comprometido.
Nesse contexto, fala-se em reserva do possível. Segundo Faria (2016, p.
278):
No Brasil, a reserva do possível tem sido adotada pela Administração Pública como meio de defesa e justificativa de suas omissões do dever de realizar políticas públicas, inclusive a da saúde. Muitos agentes administrativos apenas alegam a teoria da reserva do possível, sem a devida e necessária comprovação do alegado. Não provam de maneira objetiva que, a despeito de existirem planejamento e orçamento, nos termos constitucionais e legais, os recursos financeiros são insuficientes para cobrir despesas, mesmo na área da saúde, não previstas.
De acordo com entendimento do STF, salvo justo motivo, a reserva do
possível não é justificativa para o Estado eximir-se do cumprimento de suas
obrigações constitucionais, principalmente, quando o não cumprimento resultar na
nulificação ou, até mesmo, aniquilação dos direitos fundamentais.26
Assim, a Administração, valendo-se de argumentos de impossibilidade
financeira, não pode ir contra aos preceitos constitucionais. Não é possível violar
direitos fundamentais, utilizando o argumento de bem comum, pois “a reserva do
possível deve ser pensada em como a Administração vai suprir as demandas sociais
(planejamento), e não como limite ao controle judicial” (VELOSO, 2018, p. 58).
Ademais, assim como o Poder Judiciário não deveria intervir na
Administração, não pode permitir a omissão ou ineficiência dos demais poderes face
às políticas públicas (ZAGURSKI; PAMPLONA; 2016).
De qualquer forma, a atuação do Judiciário deve ser limitada. A existência dos
excessos e o exercício de preferências políticas não poderão adentrar nos espaços
legítimos de atuação dos poderes públicos, uma vez que a intervenção do Poder
Judiciário para promoção dos direitos fundamentais, sem a devida legitimidade e
responsabilidade, constitui violação ao processo democrático (MOURA, 2018).
Diante do todo exposto, verifica-se que o controle da Administração Pública
realizado pelo Judiciário é permeado por todo ordenamento jurídico, ou seja, vai
além de aspectos da legalidade. Ainda, o controle judicial é necessário não só para
26 Julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n.º 45, Rel. Min. Celso de Mello (Informativo/STF nº 345/2004)
69
suprir as omissões na concretização dos direitos fundamentais, mas também
possibilita a eficiência das políticas públicas. Por fim, é também instrumento hábil
para o combate à corrupção, seja por uma atuação repressiva quando provocado ou
por cautela dos administradores com receio a possíveis sanções.
4.4 Controle da Administração Pública pelo Ministério Público
Ao se falar em controle da Administração Pública na atualidade, o Ministério
Público (MP), assim como a população, assume protagonismo. Isso se dá, pois a
população tem “esperança de que o Ministério Público chegue e corrija todos os
problemas da sociedade contemporânea” (CRUZ; CORRÊA, 2017, p. 131). Nesse
contexto, ao observar a evolução do Estado e da Administração, é possível verificar
que essas esperanças já foram depositadas na Igreja Católica, no Exército, no
Correio e até em Partidos Políticos. Atualmente, o Ministério Público é uma dessas
instituições (CRUZ; CORRÊA, 2017).
Cumpre ressaltar de início que, ao abordar sobre o controle externo no âmbito
do Ministério Público, é possível seguir linhas distintas. A primeira delas é a de que o
Ministério Público também é um órgão controlado. Segundo de Mazzilli (1997), o
controle é realizado para garantir que o Ministério Público preste contas sobre suas
atividades, para o cumprimento da publicidade e transparência e ainda, como forma
de preservar a independência e a liberdade funcional da instituição.
Outro modo de abordagem do tema é o Ministério Público na condição de
órgão de controle externo da atividade policial. Tal atribuição é prevista entre as
funções constitucionais do Ministério Público, conforme art. 129 da Constituição
(BRASIL, 1988).
Uma última linha, e que aqui interessa, se dá acerca da atuação do MP como
instituição de controle externo da Administração Pública. Explicitamente, o texto
constitucional somente aborda o MP enquanto órgão de controle externo, no
controle da atividade policial. Entretanto, a função do Ministério Público como órgão
de controle externo da Administração Pública está implicitamente prevista na
Constituição.
70
Nesse contexto, a atuação do MP é baseada na condição de defensor da
ordem jurídica, do regime democrático e dos direitos transindividuais27, visando que
o poder público cumpra seu papel como manda a Constituição. Desse modo, é
possível concluir que o Ministério Público é uma instituição constitucionalmente
qualificada ao controle da Administração Pública, pois visa garantir a efetivação dos
direitos da coletividade. Vale ressaltar ainda, que o controle do MP em relação à
Administração Pública, independe de provocação (COSTIN, 2010).
Assim, como instituição que atua para a defesa da cidadania, além de
fiscalizar, apurar irregularidades e buscar sanções aos administradores, a atuação
do MP se dá principalmente no combate à corrupção e para que as políticas públicas
sejam empregadas de acordo com ordenamento jurídico. Nesse caso, haverá
controle quando a atuação da Administração for contrária ao interesse público, ou
ainda, quando essa omitir-se na adoção de medidas de interesses da coletividade
(ISMAIL, 2014).
É por essa condição de defensor das políticas públicas e de combate à
corrupção, que a população credita suas “esperanças” na instituição. Nas palavras
de Cruz e Corrêa (2017, p. 147):
Com o reconhecimento da judicialidade dos direitos fundamentais, especialmente os direitos sociais, o Ministério Público assume posição de destaque no exercício do seu mister, haja vista que a sociedade deposita nele a esperança de transformação social, exigindo do “parquet”, uma postura ativista, no sentido de agir positivamente da defesa permanente dos interesses da sociedade, agindo como se fosse um verdadeiro procurador público de aspirações sociais.
O que se vê é que a legitimidade atribuída ao MP para verificação das
políticas públicas é fundamentada na relevância social de tal atuação. Nesse
sentido, o Ministério Público atua cobrando da Administração a implantação de
direitos garantidos na Constituição. Importante frisar ainda que o MP não pode
interferir desarrazoadamente na Administração, pois a interferência somente deve
acontecer quando a integridade e a eficácia dos direitos individuais ou coletivos
forem ou puderem ser violadas (FERRARESI, 2010).
27 De acordo com o art. 127 da Constituição (BRASIL, 1988), “o Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”.
71
Uma vez demonstrado a razão da atuação do MP para concretização das
políticas públicas, deve-se considerar também o papel determinante que esse
exerce no controle da Administração Pública, voltado para o combate da corrupção.
A complexidade das práticas corruptas exige a adoção de estratégias repressivas e
preventivas para o enfrentamento à corrupção, sobretudo pelo MP, defensor da
sociedade (MOURA, 2009).
Assim, verificado que MP é constitucionalmente uma instituição de controle
externo, vale ressaltar que outros dispositivos infraconstitucionais, assim também o
consideram. Nesse contexto, tem destaque a Lei nº 7.347 (BRASIL, 1985),
conhecida como a Lei da Ação Civil Pública. De acordo com o inciso I, do artigo 5°
dessa Lei, o Ministério Público é um dos legitimados para a propositura da ação civil
pública. Ainda, nos termos §1º do mesmo artigo, o Ministério Público atuará
obrigatoriamente como fiscal da Lei, caso não seja parte do processo.
Também é possível verificar que o Ministério Público é órgão de controle,
pelos instrumentos dispostos no art. 27 da Lei nº 8625, de 12 de fevereiro de 199328,
a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público.
Ainda, para compreensão do MP na atuação no controle externo da
Administração Pública é importante mencionar o art. 129 do texto constitucional que
elenca as funções do Ministério público. Nessa esteira, é inegável que a atuação do
MP se tornou mais democrática a partir da ampliação das suas funções e dos
espaços de atuação. Também, a partir do art. 129, é possível verificar alguns dos
instrumentos da instituição para realização do controle.
Na experiência brasileira, o MP possui instrumentos extrajudiciais e judiciais
para exercer o controle da Administração Pública. Como não há regra
preestabelecida para escolha desses instrumentos, a adoção das medidas irá variar
de acordo com o tipo de controle e com a necessidade do caso concreto (ISMAIL,
2014).
Dito isso, passar-se-á a discorrer sobre alguns desses instrumentos. Para
começar, abordar-se-á a recomendação. Segundo a Resolução n° 164, de 28 de
março de 2017, do Conselho Nacional do Ministério Público que disciplina a
expedição de recomendações pelo Ministério Público:
28 O art. 27 da LONMP atribui como competência ao MP a defesa dos direitos assegurados nas Constituições Federal e Estadual.
72
A recomendação é instrumento de atuação extrajudicial do Ministério Público por intermédio do qual este expõe, em ato formal, razões fáticas e jurídicas sobre determinada questão, com o objetivo de persuadir o destinatário a praticar ou deixar de praticar determinados atos em benefício da melhoria dos serviços públicos e de relevância pública ou do respeito aos interesses, direitos e bens defendidos pela instituição, atuando, assim, como instrumento de prevenção de responsabilidades ou correção de condutas (CNMP, 2017).
Ainda, de acordo com o disposto no inciso XX, do art. 6° da Lei complementar
nº 75, de 20 de maio de 1993, que disciplina a organização, as atribuições e o
estatuto do Ministério Público da União, compete a ele “expedir recomendações,
visando à melhoria dos serviços públicos e de relevância pública, bem como ao
respeito, aos interesses, direitos e bens cuja defesa lhe cabe promover, fixando
prazo razoável para a adoção das providências cabíveis”.
Observa-se assim, que a recomendação é um instrumento de controle, pois
por meio desta, o MP dirige-se à Administração, para recomendar uma determinada
ação ou para correção de outras. A recomendação, como o próprio nome explicita,
não é um instrumento de observância obrigatória. Cabe ao administrador avaliar o
teor da mesma e a viabilidade de adotar ou não o recomendado de acordo com o
ordenamento jurídico e o interesse público29. Portanto, o mero descumprimento não
necessariamente enseja responsabilização. Como destaca Ferraresi (2010), a
recomendação é feita diante de fatos concretos que demandam a atuação do
Ministério Público, entretanto, seria absurdo permitir que o Ministério Público possa
“sugerir” como o Administrador Público atuará.
Outro instrumento à disposição do MP para controle da Administração é o
Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), também conhecido como compromisso
de conduta. A esse instrumento “dá-se a denominação ‘termo’ porque se trata de um
instrumento formal, onde o acordo, celebrado entre o órgão público legitimado e o
interessado, é “tomado por termo”, vale dizer, subscrito e assinado pelas partes”
(FERRARESI, 2010, p. 79).
29 Segundo decisão do Tribunal de Justiça de Pernambuco, “a recomendação consiste em um instrumento de atuação extrajudicial do Ministério Público de caráter meramente indicativo/ sugestivo. Despida de coercibilidade, a recomendação não implica necessariamente qualquer vinculação jurídica da autoridade recomendada, a qual possui liberdade de acatar ou discordar das advertências. Contudo, se não for cumprida, o representante do Ministério Público poderá tomar as medidas administrativas e judiciais que entender pertinentes para adequação da conduta do agente”. (TJ-PE - APL: 3934769 PE, Relator: Évio Marques da Silva, Data de Julgamento: 09/05/2019, 1ª Câmara Regional de Caruaru - 2ª Turma, Data de Publicação: 15/05/2019)
73
Ademais, vale destacar, que a formalização do TAC, se dá na preparação ou
no curso do inquérito civil, que também é instrumento de controle da Administração,
pois é o mecanismo utilizado pelo Ministério Público para investigar os fatos
potencialmente ou efetivamente lesivos aos direitos transindividuais, bem como para
verificar os responsáveis pela prática do fato (RODRIGUES, 2011).
Voltando ao TAC, conforme previsto no §6° do art. 5° da Lei nº 7.347
(BRASIL, 1985), “os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados
compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante
cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial”. Ainda, segundo o
disposto no art. 14 da Resolução nº 23 (CNMP, 2007), o Ministério Público poderá
firmar compromisso de ajustamento de conduta, visando à reparação do dano, à
adequação da conduta às exigências legais ou normativas e, ainda, para
compensação e/ou indenização pelos danos que não possam ser recuperados.
Desse modo, poderão ser celebrados compromissos de conduta, em várias
áreas. Nesse caso, o MP atuará na defesa da coletividade, em especial na defesa
do meio ambiente, do consumidor, da saúde, do patrimônio histórico, da ordem
econômica, da cidadania, dos indígenas, das pessoas portadoras de deficiência, da
educação, e das crianças, adolescentes e idosos (RODRIGUES, 2011).
O termo de ajustamento de conduta pode ser visto como uma modalidade de
controle, uma vez que o objetivo da formalização do mesmo é prevenir, cessar, ou
reparar uma determinada conduta, pois, “por meio dele se realiza um pacto com o
responsável pelo fato, de forma a se evitar o dano ou a repará-lo integralmente”
(RODRIGUES, 2011, p. 96), evitando assim, prejuízos à Administração e aos
administrados.
Em síntese:
O ajustamento de conduta tem como objeto a conformação às exigências da Lei vigente ao momento da ocorrência da ameaça ou da violação do direito transindividual. O comportamento comissivo ou omissivo que pode ser alvo do ajustamento é extremamente amplo. Assim, abrange condutas já findas ou por se realizar, condutas instantâneas e aquelas que se encontram dentro de uma relação jurídica continuada. Quando se trata do Poder público o compromisso pode ser firmado, inclusive, para estabelecer condições temporais e orçamentárias para a efetiva implementação de uma determinada política pública, cuja inexistência resulte em violação ou promoção inadequada de direitos transindividuais. O que poderia se considerar discricionário passa, dessa forma, a ser uma atividade vinculada pela livre e espontânea vontade do Poder Público traduzida no compromisso. E uma forma de se permitir o controle de determinados atos
74
fundamentais para o exercício de direitos, embora haja, ainda, uma certa dificuldade de submetê-los a revisão judicial (RODRIGUES, 2011, p.155).
Um último instrumento extrajudicial que merece ser abordado é a audiência
pública. Esse instrumento representa a verdadeira ligação do MP com a população.
Segundo a Resolução nº 82, de 29 de fevereiro de 2012, que dispõe sobre as
audiências públicas no âmbito do Ministério Público, o cidadão e a sociedade podem
contribuir e auxiliar o MP no exercício das finalidades voltadas ao interesse público e
à defesa dos direitos e interesses difusos e coletivos. O debate com a comunidade a
respeito dos interesses coletivos se dá nas audiências públicas.
Ainda, o MP como autor das ações coletivas deve participar à sociedade
sobre um possível ajuizamento da demanda, pois, a atuação no controle das
políticas públicas deve partir de uma opção política, escolhida juntamente com a
sociedade (FERRARESI, 2010).
Assim, a audiência pública é um instrumento de controle em que o MP atua,
em conjunto com a sociedade, na busca de soluções para esta e para a
Administração, na defesa dos direitos e interesses difusos e coletivos.
Em suma, os três instrumentos citados, apesar de extrajudiciais, são
usualmente adotados pelo MP. Com exceção da audiência pública, que depende da
participação popular, o encaminhamento de recomendações e as celebrações de
TAC possibilitam um controle da Administração Pública célere e eficaz, sem que
haja necessidade de provocação do Poder Judiciário.
No que diz respeito aos instrumentos judiciais, eles são caracterizados por um
controle posterior, uma vez que, em regra, são utilizados pelo MP para cessar ou
reparar uma ilegalidade, ou em face de uma omissão da Administração que
prejudique o interesse público. O foco aqui não é uma análise ampla desses
instrumentos, mas demonstrar que esses poderão servir de instrumento para
controlar a Administração Pública, seja no sentido de combater a corrupção, seja
para melhorar o emprego das políticas públicas.
O principal instrumento judicial utilizado pelo MP para a defesa do interesse
coletivo é a ação civil pública. Como já exposto, caso não seja parte, o MP atuará
obrigatoriamente como fiscal da lei. Além da lei que a disciplina, a ação civil pública
é instrumento previsto no rol de funções do MP, disposto no art. 129 da Constituição
(BRASIL, 1988).
75
Tendo em vista a corrupção e o contexto político atual, um dos melhores
exemplos para ilustrar esse instrumento é a ação civil pública proposta face aos atos
de improbidade.
Merece destaque também a atuação do MP na propositura de ação civil
pública voltada às demandas da saúde. Nesse sentido, o STF reconhece a
legitimidade do Ministério Público para ajuizar ação civil pública com objetivo de
compelir entes federados a entregar medicamentos a pessoas necessitadas30.
Por fim, o MP também exerce controle pela titularidade da ação penal pública.
Este talvez seja o controle mais temido pelos administradores. O MP, nesse caso, ao
verificar a existência de crime contra a Administração provoca o Poder Judiciário,
para que este atue e aplique a responsabilização.
Assim, diante do apresentado, é inequívoca a importância da atuação do MP
no controle da Administração Pública contemporânea. Como visto, a instituição
dispõe de instrumentos hábeis para buscar a eficácia das políticas públicas e para
combater a corrupção. Nesse último caso, é preciso mencionar a operação ‘Lava
Jato’, a maior operação de combate à corrupção da história, pois é um dos casos em
que a atuação do Ministério Público possibilitou o alcance de resultados grandiosos
e benéficos para a coletividade.
4.5 Controle popular da Administração Pública
O controle popular é característico do Estado Democrático de Direito e da
Administração Pública contemporânea. A concepção de Estado atual consiste em
promover, estimular e possibilitar a participação do cidadão no processo político e no
controle da Administração Pública (DI PIETRO, 2007). Assim, o povo, enquanto
titular do poder político e destinatário das políticas públicas, é responsável pelo
controle e fiscalização dos atos da Administração Pública (GOMES, 2003). É
também por meio do controle popular que a população se une à Administração para
tomada de decisões (SILVA; SOUZA, 2017).
Nesse entendimento, em razão do quadro de instabilidades social, política e
econômica em que se encontra o país, amplia-se a participação da população no
controle da Administração. No Brasil, o controle popular é indispensável para a
30 (STF, RE 605533/MG, RG, Rel. Min. Marco Aurélio, DJE 30.04.2010)
76
consolidação da democracia e, por isso, se tornou um instrumento necessário em
complemento aos demais mecanismos de controles. O controle popular, realizado
por instrumentos participativos, é mais amplo e é mais eficiente (BATISTA JUNIOR,
2004). Portanto, é fundamental a incorporação de práticas que impulsionem o
controle popular (CARDOSO; SOUZA, 2018).
Britto (1992) propõe a distinção entre os termos controle social e participação
popular. O autor atribui ao controle social a fiscalização exercida por particulares ou
por instituições da sociedade civil. Já a participação popular trata da participação da
população na formação da vontade normativa do Estado.
Aqui, tanto o controle social quanto a participação popular serão tratados
como controle popular, como instrumento de fiscalização e de participação ativa da
população na Administração Pública.
Ainda, a razão da escolha dos motivos da utilização do termo ‘popular’ é que
aqui se pretende demonstrar a atuação e o controle realizado pelo ‘povo’. Nas
palavras de Netto (2005), popular é tudo aquilo que é relativo ao povo.
Sob o ponto de vista de Dallari (1998, p.99, p.145), “a base do conceito de
Estado Democrático é, sem dúvida, a noção de governo do povo”. Desse modo, não
há como falar em democracia sem falar em controle popular, pois este está
associado à concepção de Estado Democrático de Direito (CARDOSO; SOUZA,
2018).
Nessa linha, a participação popular é assegurada pela Constituição da
República, art. 1º, parágrafo único, do seguinte modo: “todo o poder emana do povo,
que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”. E nesse sentido
que se pode vislumbrar que a Constituição prevê o exercício do poder do povo
diretamente ou por representante, ou seja, a democracia participativa ou da
democracia representativa.
Importante ressaltar que democracia representativa “é aquela em que o povo
se governa por meio de representantes eleitos por ele, que tomam em seu nome e
no seu interesse as decisões políticas” (CARVALHO, 2002, p. 106). Já a democracia
participativa implica o exercício direto e pessoal da cidadania nos atos de governo
(CARVALHO, 2002. p. 108).
A partir do exposto e tendo em vista o objeto deste estudo, pode-se verificar
que a Constituição brasileira, além de adotar o modelo republicano baseado
77
essencialmente na representação, estendeu os mecanismos de exercício popular
direto do poder (SUNDFELD, 2010).
Desse modo, é de fundamental importância que a população exerça sua
cidadania de forma ampla, para além do voto. Valendo-se da democracia
participativa, deve utilizar os instrumentos disponíveis para intervir e controlar a
Administração, para a construção conjunta de uma sociedade mais equânime e
democrática (CARDOSO; SOUZA, 2018).
Feitas essas considerações, cabe mencionar que, além de assegurado pela
Constituição, o direito do povo em participar da Administração Pública está disposto
em diversos tratados e declarações internacionais que abordam, por exemplo, o
direito ao acesso à informação como direito fundamental, entre eles a Declaração
Universal dos Direitos Humanos (1948)31, e a Declaração Interamericana de
Princípios de Liberdade de Expressão (2000)32.
Cumpre destacar também, que o texto constitucional tem outros dispositivos
nos quais estão expressos instrumentos que viabilizam o controle popular. Por
exemplo, o direito fundamental à informação previsto no art. 5° inciso XXXIII e no art.
37, §3°, inciso II. Ainda, o art. 5° contempla o Direito de Petição e Certidões previsto
no inciso XXXIV.
Ademais, o art. 14 prevê que a soberania popular será exercida pelo sufrágio
universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, mediante
plebiscito, referendo e iniciativa popular. Por fim, a Constituição elenca a
participação popular por meio dos Conselhos de Saúde (art. 198), de Assistência
Social (art. 204), de Educação (art. 206) e de Proteção à criança e ao adolescente
(art. 227).
Como já citado, o direito à informação é um direito fundamental previsto no
inciso XXXIII do art. 5º da Constituição da República33 e representa a garantia do
direito de obter informações do Poder Público. Ainda, o texto constitucional no inciso
31 Segundo o art. XIX, todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras. 32 De acordo com o texto da Declaração Interamericana de Princípios de Liberdade de Expressão, o acesso à informação em poder do Estado é um direito fundamental do indivíduo, estando os Estados obrigados a garantir o exercício desse direito. 33 Conforme texto constitucional (BRASIL, 1988), “todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da Lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”.
78
II do parágrafo 3° do art. 37 prevê a criação de lei que disciplinará as formas de
participação do usuário na Administração Pública direta e indireta, regulando o
acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre atos de
governo.
O advento da Lei nº 12.527 de 18 de novembro de 2011, conhecida como Lei
de Acesso à Informação, consolida o direito fundamental ao acesso à informação e
amplia o direito à participação popular no controle das ações da Administração
Pública.
A Lei é aplicada a toda Administração Pública direta e indireta, de forma que
qualquer cidadão pode pleitear informações. Ademais, a Lei inova ao trazer o
acesso à informação como regra, comportando apenas algumas situações de
exceção. Em raros casos o sigilo é admitido, tendo em vista a ponderação entre a
transparência e outro bem juridicamente protegido, o que enseja a vedação ao
acesso (HEINEN, 2014).
Vale ressaltar ainda, que a Lei assegura o fornecimento da informação, sem
qualquer custo, salvo quando houver necessidade de reprodução. A gratuidade é um
ponto favorável para que toda população tenha acesso às informações, pois a
cobrança poderia impossibilitar ou restringir o acesso por parte da população menos
favorecida. Importante destacar que mesmo nos casos em que é exigido o
pagamento de custas, ao cidadão que demonstrar a hipossuficiência será
franqueada a informação sem custas. Portanto, a Lei consolida o direito fundamental
do povo e o dever do Estado quanto ao acesso à informação.
Além da Lei de Acesso à Informação a Lei Complementar nº 101, de 4 de
maio de 2000, que disciplina a Responsabilidade Fiscal também contém dispositivos
que ampliam e facilitam o controle popular, pois ao dispor a obrigatoriedade da
transparência, permite que o povo conheça as contas públicas.
O caput do art. 48 elenca os instrumentos para que haja transparência na
gestão fiscal, quais sejam: os planos, orçamentos e Leis de diretrizes orçamentárias;
as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da
Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas
desses documentos. Para que tais instrumentos sejam utilizados, deverá ser dada a
ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público.
79
Neste diapasão, a Lei complementar nº 131, de 27 de maio de 2009,
denominada Lei Capiberibe, acrescenta dispositivos à Lei de Responsabilidade
Fiscal, no tocante à obrigação da União, estados e municípios a publicar os gastos
públicos nos portais da transparência.
Entre os dispositivos acrescidos, está o §1° do art. 48, que traz medidas para
assegurar a transparência e consequentemente o controle da população sobre as
contas públicas. Desse modo, a transparência deve ser assegurada mediante
incentivo à participação popular e a realização de audiências públicas, durante os
processos de elaboração e discussão dos planos, Lei de Diretrizes Orçamentárias e
orçamentos, com a liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento da
sociedade, em tempo real, de informações sobre a execução orçamentária e
financeira, em meios eletrônicos de acesso público e pela adoção de sistema
integrado de Administração financeira e controle.
Ainda nessa linha, o art. 48-A traz a obrigatoriedade de os entes da
Federação disponibilizar a qualquer pessoa física ou jurídica o acesso a informações
referentes às despesas e receitas. Nesse contexto, a Lei de Responsabilidade Fiscal
também representa uma mudança de paradigma no controle popular, ao prever no
art. 49 que as contas apresentadas pelo Chefe do Poder Executivo deverão ficar
disponíveis, durante todo o exercício, para consulta e apreciação pelos cidadãos.
Assim, os dispositivos citados consolidam a transparência, um dos principais
facilitadores ao controle popular. A transparência é um dos princípios que
consolidam e fortalecem o controle popular, por meio da qual se tem importantes
mecanismos para acompanhar a implementação de políticas públicas, bem como
para amenizar e restringir a corrupção (TORRES, 2004).
Nesse diapasão, a transparência leva ao povo o conhecimento das ações do
governo e faz com que as funções da Administração estejam mais próximas. Vale
ressaltar, porém, que só o fato de dar publicidade não corresponde à transparência,
“é necessário que as informações estejam disponíveis em linguagem acessível, para
entendimento do público em geral” (DIAS, 2017, p. 188).
Assim, o que se busca com a transparência é uma Administração aberta ao
controle democrático dos seus atos (HEINEN, 2014). A disponibilização das
informações possibilita que o povo conheça as receitas e as despesas que poderão
ser utilizadas pela Administração e assim facilite o controle. Portanto, a
transparência é condição para o controle popular verificar a conformidade ou
80
desconformidade das ações da Administração Pública com a ordem jurídica
(MOREIRA NETO, 2014).
Desse modo, institutos como a Lei de Acesso à Informação e a Lei de
Responsabilidade Fiscal ampliam e fortalecem o controle popular, uma vez que a
transparência e a acessibilidade das informações são fatores determinantes para tal.
Conforme esclarece Justen Filho (2005, p.733):
Em muitos países existem instrumentos informais de controle da conduta dos governantes. Nesses casos, a sociedade exerce suficiente autoridade para impedir que os exercentes de funções estatais valham-se das oportunidades geradas pelos cargos que ocupam para a obtenção de benefícios indevidos ou para a adoção de condutas ética ou politicamente reprováveis. Já em outros países, os controles sociais não são tão eficientes; não existem mecanismos sociais de controle eficiente da conduta dos agentes estatais, como é o caso do Brasil. A natureza dos controles jurídicos varia em função dessas características sociais. Quanto menos eficientes os controles sociais para disciplinar a conduta dos agentes estatais, mais relevante se torna o controle jurídico formal. Quando o governante não encontra limites no mero relacionamento com os cidadãos e as organizações da sociedade, caberá ao direito impor limites.
Como bem evidenciou o referido autor, para que haja controle efetivo, todos
podem e devem participar diretamente do processo de tomada de decisões na
Administração Pública. Assim o controle popular, enquanto direito fundamental,
representa a atuação direta do povo na esfera pública, seja no planejamento ou na
fiscalização das ações.
Portanto, os instrumentos de transparência e acesso à informação,
característicos da Administração Pública contemporânea, contribuem para o Estado,
vez que “institutos que preveem a participação popular na atividade administrativa
representam, por isso, a solução mais satisfatória e eficiente para a promoção dos
direitos fundamentais” (JUSTEN FILHO, 2014, p. 733).
Nessa linha, além dos portais da transparência, importante mencionar outros
instrumentos à disposição da população para exercício do controle.
O primeiro deles são as audiências públicas, cujo objetivo “é promover a
interlocução entre o governo e a sociedade civil. Dessa maneira, os interessados
podem participar e influir no processo de tomada de decisões pela Administração
Pública” (CARDOSO; SOUZA, 2018, p. 336). Por meio das audiências públicas, é
possível ouvir o povo sobre a melhor forma de administrar, buscando atender a
coletividade, o que dá maior efetividade às ações.
81
Entretanto, apesar de ser um instrumento que garante o controle popular e a
tomada de decisões junto à Administração, ainda é pouco utilizado pela população.
Pouquíssimas pessoas participam das audiências e quando participam, muitas
vezes estão ligadas a interesses pessoais ou políticos. De qualquer forma,
considera-se que a audiência pública está entre os mais importantes instrumentos
de controle à disposição da população.
Instrumento similar e pouco utilizado é a consulta pública, por meio da qual, a
Administração escuta a população sobre determinados assuntos. Destaca-se aqui
que, tanto a audiência como a consulta pública são instrumentos de controle prévio,
pois pretendem evitar condutas ilícitas e ímprobas por parte da Administração
(MOREIRA NETO, 2014).
Outro instrumento que merece citação é o orçamento participativo. Esse
instrumento preventivo permite a participação dos cidadãos diretamente sobre a
gestão financeira, orçamentária e contábil das entidades públicas. É um processo
por meio do qual os cidadãos participam politicamente e tomam decisões relativas à
coletividade (COSTA, 2010). A população do município de Belo Horizonte34, por
exemplo, já utilizou deste instrumento.
Ainda, os Conselhos Públicos também possibilitam o controle popular. Esses
são compostos por representantes do Estado e da sociedade civil e possibilitam uma
participação efetiva na formulação e no controle da execução das políticas públicas
de saúde, assistência social, etc. (CARDOSO; SOUZA, 2018).
Ainda, cumpre registrar as manifestações populares como valioso e atual
instrumento de influência e controle da Administração Pública. O aumento das
manifestações populares representa “a mobilização e organização da sociedade
civil, rompendo séculos de inércia, apatia e dependência em relação ao poder
público, em qualquer de seus três níveis” (TORRES, 2004, p. 68).
Ao contrário do exposto, Medauar (2012) considera que as manifestações não
representam um controle sobre a Administração Pública. Porém, a autora não deixa
de mencionar a importância do cidadão em acompanhar os atos da Administração e,
tendo amplo conhecimento dos fatos, de manifestar sobre eles.
34 O Orçamento participativo no município de Belo Horizonte aumentou a visibilidade e a transparência do processo orçamentário, proporcionando o fortalecimento da cidadania, devido ao processo de mobilização da população. Assim, amplia o número de pessoas envolvidas com a tomada de decisão sobre a alocação de recursos da Prefeitura. (AZEVEDO; ANASTASIA, 2002). Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte (2018), de 1993 quando foi criado, até o ano de 2018, já foram investidos mais de R$ 2,4 bilhões por meio do orçamento participativo.
82
Desse modo, é certo que não só as manifestações trazem benefícios a toda
coletividade, mas todos os outros instrumentos de controle popular, uma vez que há
uma atuação direta junto à Administração. Como se viu, a transparência e o acesso
à informação ampliam o controle popular e, consequentemente, possibilitam maior
efetividade às políticas e a detecção de condutas de corrupção.
Porém, vale observar que, apesar do crescimento do controle popular,
existem óbices a essa participação, como por exemplo, a falta de interesse do povo
em participar das decisões e a dificuldade de acesso às informações públicas.
Para que haja controle popular é necessário que o povo disponha de meios
para tal. Nesse sentido, segundo o Superior Tribunal de Justiça (STJ), no Estado
Democrático de Direito, o poder de controle da Administração é com o povo. Logo,
vedar, inviabilizar, condicionar, dificultar ou retardar informações sobre o
funcionamento (ou mau funcionamento) das atividades, é desautorizar o controle
popular, assegurado constitucionalmente.35
Dessa forma, a consolidação do Estado Democrático de Direito requer a
participação ativa da população de maneira a integrar os anseios da sociedade às
demandas estatais. Se de um lado torna-se necessária a ampliação de práticas que
fomentem o controle popular, de outro é preciso um maior envolvimento da
população (além do voto) nas atividades da Administração Pública, para uma
construção conjunta de uma sociedade melhor (CARDOSO; SOUZA; 2018, p. 315).
Nesse contexto, é possível verificar que somente a garantia do acesso à
informação e a transparência não são suficientes para o controle da Administração.
É necessário que a população esteja culturalmente habituada a participar do
governo, da mesma forma que os governantes estejam com a participação do povo.
Por mais que o ordenamento jurídico disponha de meios para fomentar o controle, é
necessária a conscientização do povo sobre a importância que este, enquanto
administrado, tem nas ações do governo.
Ademais, pode-se afirmar que o controle popular é o mecanismo que mais se
adequa à Administração contemporânea, pois o povo tem a prerrogativa e o dever
de atuar de maneira a diminuir os casos de corrupção e aumentar a eficiência das
ações da Administração, principalmente quanto às políticas públicas. Desse modo
“somente pelo fortalecimento da participação e controle social, com a consolidação
35 (STJ, REsp 718210/RS, Rel.Min. Herman Benjamin, DJE 15.12.2009)
83
dos meios indispensáveis ao seu exercício pode haver a superação de questões
inadequadas socialmente” (SILVA; SOUZA, 2017, p. 227).
Assim, torna-se evidente a importância da participação popular, uma vez que,
entre outras coisas, poderá alcançar uma Administração Pública eficiente e
compatível com o Direito. Como visto, a participação popular é tão ou mais
importante para a vida democrática do que a participação pelo voto, uma vez que
este é a modalidade participativa destinada a legitimar a representação popular,
enquanto as demais formas de participação visam legitimar as decisões públicas,
podendo ter alcance muito mais amplo sobre os interesses da sociedade (MOREIRA
NETO, 2014).
Cumpre observar, por fim, que o controle popular não se dá somente para
fiscalização, mas também para legitimar as ações da AP. A atuação direta da
população traz grandes benefícios, uma vez que possibilita maior probidade e
efetividade das ações da Administração Pública.
4.5.1 Meios de comunicação e controle popular
Os meios de comunicação36 são instrumentos que contribuem e fomentam o
controle popular, pois são responsáveis pela disseminação da informação. O uso
informação tanto pela imprensa, como pela sociedade, constitui a liberdade de
expressão ou liberdade de informação expressa na Constituição Federal37. De um
lado, a liberdade de informação é caracterizada pelo direito de ser informado. Do
outro, cabe aos meios de comunicação levar a informação à sociedade com o fim de
informar e auxiliar na formação da opinião.
Nessa linha, de acordo com os ensinamentos de Melo e Coutinho (2009, p.
204), “é inegável a influência que a mídia exerce na construção do imaginário
coletivo e, consequentemente, na configuração da sociedade. Há quem diga que a
mídia se configura como o quarto poder presente em nossa sociedade”.
36 Segundo Moraes (2003, p. 676), “pode-se entender meio de comunicação como toda e qualquer forma de desenvolvimento de uma informação, utilizando-se de sons, imagens, impressos ou gestos”. 37 No ordenamento brasileiro, a Liberdade de Imprensa é garantida na Constituição Federal de 1988, tanto entre os direitos fundamentais previstos no artigo 5°, como no art. 220. Ademais, a liberdade de informar é presente também no artigo XIX da Declaração Universal dos Direitos Humanos, ao prever que toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão, incluindo a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios.
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Nesse contexto, Medeiros (2013) aborda a opinião pública e a noção de
esfera pública, a partir da teoria habermasiana. O autor apresenta tal discussão para
contextualizar a relação entre a proposta de esfera pública e opinião pública de
Habermas, com as potencialidades das redes sociais e a internet, vez que configura
o espaço de extensão da expressão política na atualidade. Nas palavras do autor:
Quando discute a ideia de esfera pública, Habermas destaca o papel da imprensa no processo de debate público e opinião pública. Com isso, pode-se compreender que os meios de comunicação exercem um fator primordial na constituição da esfera pública: a possibilidade dos fluxos informacionais e comunicacionais alcançarem cidadãos que, em outras situações, jamais poderiam criar opinião sobre determinada demanda ou tema (MEDEIROS, 2013, p. 30).
Vale ressaltar que, por muitos anos, a imprensa desempenhou um papel
fundamental na divulgação das informações, o que possibilitou, ao menos que
superficialmente, o controle das ações da Administração Pública pela população.
Nesse caso, antes da internet e das redes sociais, os jornais, revistas e outros eram
tidos como principal canal de ligação entre a população e a Administração Pública.
Entretanto, “a evolução dos meios de comunicação altera a forma como os
indivíduos interagem e formam opinião, bem como altera as relações entre as
esferas política e civil” (MEDEIROS, 2013, p. 28).
Desse modo, em tempos de “fake news38” e de “censura39”, torna-se
indispensável à abordagem da influência dos meios de comunicação e das redes
sociais, na relação entre o cidadão e a Administração Pública contemporânea. Isso
porque as informações transmitidas pelos meios de comunicação e as redes sociais,
além de consolidar a transparência e o Estado Democrático de Direito, possibilitam o
controle popular por meio da construção do pensamento e da formação da opinião
(ALBUQUERQUE, 2006).
Não há como negar que a imprensa e o os meios de comunicação tem um
relevante papel social, na medida em que leva informação a todos, sem distinção,
assegurando um direito expresso no texto constitucional. Entretanto, como
38 De acordo com o dicionário de Cambridge, “Fake News” são notícias falsas disseminadas nas redes sociais, com o intuito de influenciar opiniões políticas. 39 Além de outros episódios dos governos atuais, destaca-se a recente atuação do Prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivela, ao “censurar” um título na Bienal do Livro do Rio.
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importante influenciador da sociedade, devem levar a notícia de maneira coerente
com a verdade.
A bem da verdade, a mensagem que o público recebe não é o produto da percepção direta das funções institucionais dos poderes públicos, mas é apenas uma interpretação mítica efetuada pela mídia em torno do funcionamento desses últimos, Daí porque os efeitos da corrupção sejam mais devastadores onde há liberdade de imprensa, ou seja, nas democracias, do que nas sociedades pré-modernas ou nas ditaduras, onde ela não existia ou é reprimida. Nas sociedades democráticas, ao contrário destas últimas, a mídia desempenha o importante papel de intermediação entre a mensagem comunicada e a recebida, ao mesmo tempo em que constrói um mundo de referencia socialmente compartilhado no imaginário coletivo, através de mitos (ALBUQUERQUE, 2006, p. 25).
É fato que as pessoas tendem a formar a opinião pelo que veem e que
recebem. Por isso, tamanha é a proporção e a importância dada às notícias falsas
no cenário brasileiro, que foi instaurada uma comissão parlamentar de inquérito,
para apurar as fake news.
Ainda nesse sentido, o atual Presidente do Senado, Davi Alcolumbre (2019),
fala sobre o impacto das fake news. Segundo o Senador, a disseminação de notícias
falsas é preocupante, uma vez que notícias e seus enquadramentos influenciam
opiniões e constroem leituras da realidade o que fragiliza, entre outras áreas, a
democracia. Nesse ponto, aborda que processo democrático corre o risco de ter sua
força e credibilidade afetadas por boatos.
Diante da preocupação apontada com a circulação de notícias falsas, faz-se
oportuno mencionar que as dimensões tomadas também podem representar a
iniciativa da população em participar da esfera política e das decisões da
Administração, o que demonstra um crescimento do controle popular. Assim, há que
se considerar que, mesmo ante a necessidade de se validar as informações
recebidas a todo tempo, não há dúvidas de que a disseminação de informações
permite que o cidadão participe mais ativamente da construção da opinião pública e
consequentemente da Administração (MEDEIROS, 2013).
Vale ressaltar, ainda, que os meios de comunicação como um todo
aproximam a população de todos os poderes. Exemplo disso, é que o cidadão nunca
esteve tão próximo de discussões do STF, como está agora. Ainda, deputados e
senadores, sabendo dessa realidade, utilizam a visibilidade midiática para discursos
políticos em decisões de grande repercussão, o que é lastimável.
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De toda forma, não há dúvida do importante papel já desempenhado pelos
meios de comunicação para a consolidação da cidadania e do Estado Democrático
de Direito, através da propagação de informações. Atualmente sugere-se observar
com cautela as informações recebidas e transmitidas e, mesmo diante da
necessidade desse controle, é inquestionável a ampliação do interesse e
consequentemente do controle popular nas ações da Administração, seja em função
da divulgação dos casos de corrupção, seja pela facilidade de comunicação advinda
com a internet e as redes sociais.
4.5.2 Governança Pública
Não há como falar do controle popular e dos demais mecanismos de controle,
sem adentrar em temas que retratam a Administração Pública contemporânea tais
como: governança, governabilidade, accountability e compliance.
A opção de examinar a governança e os demais temas neste capítulo
destinado ao controle popular se dá em razão da prerrogativa que tem o povo em
exigir ética, integridade, transparência e prestação de contas, bem como de
participar diretamente na escolha das políticas públicas a serem implantadas”
(OLIVEIRA; PISA, 2015, p. 1264).
Ainda, há relação da governança com este capítulo, pois conforme expresso
no Guia da Política de Governança Pública redigido pela Casa Civil da Presidência
(2018, p.22) “um dos principais papeis da política de governança é garantir que a
atuação pública seja tida como legítima pelo cidadão, de forma a fortalecer o
cumprimento voluntário de regras sociais e a reduzir a necessidade de controles”.
Nessa esteira, segundo o referencial básico de governança aplicável a órgãos
e entidades da Administração Pública e ações indutoras de melhoria do TCU
(2014a, p. 20):
Para atender às demandas sociais é fundamental fortalecer ainda mais os mecanismos de governança como forma de reduzir o distanciamento entre Estado e sociedade. A sociedade deve exercer seu papel de principal interessada nos resultados do Estado e demandar dele novas estruturas de governança que possibilitem a ela o desempenho de funções de avaliação, direcionamento e monitoramento de ações. Por isso, espera-se da liderança governamental um comportamento mais ético, profissional e focado no alcance de resultados que estejam alinhados com as expectativas da sociedade.
87
Atualmente, o Decreto nº 9.203 de 22 de novembro de 201740 estabelece a
política de governança no âmbito federal. O referido dispositivo representa a
consolidação do tema face às perspectivas da Administração Pública atual. Além de
definir conceitos, enfatiza os princípios41, as diretrizes42 e os mecanismos43 para o
exercício da governança pública.
De imediato, é necessário conhecer o termo governança pública, que abrange
todos os outros temas a serem apresentados. Segundo o Decreto 9.203/2017,
governança pública é o “conjunto de mecanismos de liderança, estratégia e controle
postos em prática para avaliar, direcionar e monitorar a gestão, com vistas à
condução de políticas públicas e à prestação de serviços de interesse da
sociedade”44. Ou seja, são mecanismos que, quando utilizados, possibilitam o
alcance das políticas públicas com eficiência e probidade, representando assim a
entrega de bons resultados à sociedade e o atendimento aos interesses da
população.
Nesse entendimento, a governança é a capacidade da Administração Pública
em fazer uma gestão financeira e administrativa eficiente e eficaz para realização
das políticas públicas (MATIAS-PEREIRA, 2018). Nesse sentido:
A noção de governança, que se refere à capacidade do Estado de implementar as políticas necessárias para o alcance dos objetivos comuns e pressupõe o aperfeiçoamento dos meios de interlocução com a sociedade, ao passo que sejam promovidas ações que garantam a maior atuação do
40 De acordo com Guia da Política de Governança Pública redigido pela Casa Civil (2018), o Decreto consolida as ações decorrentes da interação de governo federal com o TCU. Ainda, deixa clara a expectativa para que outras instituições públicas, observadas as particularidades de suas estruturas e missões, se orientem pela política estabelecida no Decreto, pois isso possibilita a adoção de boas práticas de governança. Apesar do Decreto se restringir aos órgãos e entidades da Administração Pública federal, está em tramitação no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 9.163, de 2017, que estabelece as políticas para os demais Poderes. De qualquer forma, mecanismos como a transparência, programas de integridades e outros, já são utilizados por toda a Administração Pública. 41 Conforme o art. 3º do Decreto 9.203/17, são princípios da governança pública: capacidade de resposta; integridade; confiabilidade; melhoria regulatória; prestação de contas e responsabilidade e transparência. 42 As diretrizes são condutas que irão nortear todas as ações voltadas para a governança. 43 De acordo com o art. 5º do Decreto 9.203/17, são mecanismos para o exercício da governança pública: a liderança, que abrange práticas para assegurar a existência das condições mínimas para o exercício da boa governança (integridade, competência, responsabilidade e motivação); a estratégia que representa as diretrizes, objetivos, planos e ações, para o alcance dos resultados e, por fim, o controle que por meio de processos para mitigar riscos e garantir a execução ordenada, ética, econômica, eficiente e eficaz das atividades. 44 O conceito de governança estabelecido no Decreto está alinhado às diretrizes estabelecidas pelo o Banco Mundial e a OCDE (CASA CIVIL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2018).
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cidadão e responsabilização dos agentes públicos (OLIVEIRA; PISA, 2015, p. 1264).
Em síntese, o termo governança está relacionado à capacidade de
administrar, à capacidade de implementar as políticas públicas com vistas a atender
a coletividade.
A partir da definição de governança e por seus mecanismos que demandam o
dever de transparência, prestação de contas, responsabilização, entre outros, é
possível visualizar a relação com o controle externo. Como aqui demonstrado, o
controle externo na Administração Pública Contemporânea considera, além de
questões jurídicas, políticas e econômicos, os critérios de governança.
Desse modo, além da importância da governança para o controle popular45, a
relação entre governança e controle externo é perceptível principalmente a partir das
ações do TCU.
Assim, ao abordar o tema governança pública na Administração Pública
contemporânea, é de extrema importância mencionar o papel desempenhado pelo
TCU46, vez que o tribunal é pioneiro no trabalho de incentivo para aplicabilidade da
política de governança na AP.
Como mencionado neste estudo, o controle do TCU e dos demais Tribunais
de Contas na Administração Pública contemporânea assume novas formas de
atuação. Atualmente, o papel dos Tribunais de Contas na fiscalização, nas políticas
educativas e até no uso da tecnologia da informação, visa também o alcance da
governança na AP, vez que com a entrega de bons resultados e a correta aplicação
dos recursos públicos é possível alcançar a boa governança e possivelmente
impedir a corrupção.
Nesse contexto, merece destaque a outra faceta importante da governança: a
sua ênfase na prevenção e na repressão de condutas desviantes. Daí o destaque
dado a procedimentos e mecanismos de integridade (FORTINI; SHERMAM, 2017, p.
30). A partir da governança é possível também verificar a má gestão e a corrupção.
45 A boa governança é alcançada a partir da interação da Administração Pública com a população. Por meio de ações coordenadas, propicia melhores políticas públicas com a menor utilização de recursos e menores índices de corrupção. 46 Vale destacar, ainda, que no âmbito do controle externo o TCU desenvolve relatórios, indicadores, auditorias, entre outras ações e instrumentos para diagnosticar os níveis de governança nos entes federativos bem como para aperfeiçoar as ações viando o alcance da boa governança
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Assim, com a devida utilização dos mecanismos de governança é possível
detectar setores mais sensíveis à pratica de corrupção, bem como adotar medidas
para monitorá-los. Nesse sentido, segundo o Ministro do TCU Augusto Nardes
(2014, p. 6), “uma boa governança, com controles internos fortes e atuantes e um
controle externo presente e independente, mitiga a possibilidade da ação de
gestores corruptos”.
Desse modo, a governança é importante instrumento de gestão, pois estimula
melhores condutas para alcance das políticas públicas, pautadas na transparência,
na informação, na responsabilidade, na probidade, na ética, na equidade, na
accountability, o que permite o combate à corrupção, à improbidade administrativa,
ao prejuízo ao erário, às necessidades sociais, ao déficit das contas públicas e aos
demais desvios (SOUZA; FARIA, 2017).
Como já citado, a governança é característica da Administração Pública
contemporânea e está relacionada com o controle popular, pois é instrumento apto a
fortalecer a relação entre governo e sociedade. Além disso, a governança remete a
uma mudança nos padrões da Administração e implica a capacidade do governo de
articular ações para a economia, para as finanças públicas e para proteção da
sociedade (DIAS, 2017).
Cumpre esclarecer ainda, que “governança inclui a governabilidade, pois
requer a ação de um governo capaz e eficiente” (DIAS, 2017, p. 150). Desse modo,
a governabilidade está relacionada com a legitimidade do Estado e do seu governo
com a sociedade. Ou seja, é a capacidade política de governar representando o
interesse público (MATIAS-PEREIRA, 2018).
Para compreensão do termo, cabe destacar que se o governo tem aprovação
popular terá governabilidade, tendo em vista “as condições do ambiente político em
que se efetivam as ações do sistema de governança, que podem gerar legitimidade
das ações empreendidas, credibilidade e imagem pública positiva” (DIAS, 2017, p.
150).
Assim, a diferença entre governabilidade e governança é maneira como a
legitimidade das ações dos governos é entendida. Na governabilidade a legitimidade
é da capacidade do governo de representar os interesses de suas próprias
instituições e na governança a legitimidade representa o processo de concretização
grupos específicos da população que participam da elaboração e implementação
das políticas públicas (MATIAS-PEREIRA, 2018).
90
Desse modo, o controle popular tem relação direta com o alcance da
governança pública e da governabilidade. Só há governança se a população atuar
como parte interessada nos resultados da Administração Pública (SOUZA; FARIA,
2017).
Outra abordagem indispensável ao controle popular e a governança na
Administração Pública contemporânea é o accountability47. Para Campos (1990),
uma das primeiras a tratar do assunto no Brasil, não há uma tradução exata para o
termo accountability em português. Entretanto, a autora insere a discussão da
accountability no Brasil para demonstrar a relação entre o conceito e a democracia,
por uma visão de que a democracia se constitui na soberania popular e assim, os
governos, os serviços públicos e os demais agentes estatais são responsáveis
(accountable) perante os cidadãos (ROBL FILHO, 2012).
Nesse diapasão, a tradução literal do termo accountability48 é prestação de
contas. A partir da tradução é possível iniciar uma compreensão. Entretanto, não
pode se ater somente à prestação de contas, pois no Brasil a accountability vai
além.
Enfatiza França (2016, p. 156) que o termo tem relação com “transparência,
participação, informação, justificação e prestação de contas aos interessados (com
responsabilização das autoridades públicas)”. Para Robl Filho (2012), o conceito de
accountability é composto por três elementos: informações, justificações e sanção.
Um agente deve prestar informações e justificações sobre suas ações, podendo ser
sancionado política e/ou juridicamente por elas.
Já de acordo com Pinho e Sacramento (2009, p. 1347), “a ideia contida na
palavra accountability traz, implicitamente, a responsabilização pessoal pelos atos
praticados e, explicitamente, a exigente prontidão para a prestação de contas, seja
no âmbito público ou no privado”.
Nas palavras de Matias-Pereira (2018, p. 82):
O termo accountability pode ser considerado o conjunto de mecanismos e procedimentos que levam os decisores governamentais a prestarem contas dos resultados de suas ações, garantindo-se maior transparência e a exposição das políticas públicas. Quanto maior a possibilidade de os cidadãos poderem discernir se os governantes estão agindo em função do
47 Refere-se ao princípio da prestação de contas e responsabilidade, previsto no Decreto que dispõe sobre a política de governança. 48 Dicionário de Cambrigde.
91
interesse da coletividade e sancioná-los apropriadamente, mais accountable é um governo.
Assim, é possível perceber que não há uma uniformidade na definição do
termo accountabilty. Entretanto, a partir das apresentadas, verifica-se que o
accountability vai além da prestação de contas e da responsabilização. Representa
um novo paradigma que envolve valores, tais como: ética, transparência e
responsabilização e remete a ideia de uma conduta proba, transparente inerente ao
que requer o modelo de gestão pública contemporânea.
Portanto, accountability pode ser definido como um conjunto de instrumentos
para transparência, prestação de contas e responsabilização que visam a mudança
cultural, tanto da Administração como da população.
O’Donnell (1998) aborda a accountability por duas dimensões: vertical e
horizontal. Nas palavras do autor:
Eleições, reinvindicações sociais que possam ser normalmente proferidas, sem que se corra o risco de coerção, e cobertura regular pela mídia ao menos das mais visíveis dessas reinvindicações e de atos supostamente ilícitos de autoridades públicas são dimensões do que chamo de “accountability vertical”. São ações realizadas, individualmente ou por algum tipo de ação organizada e ou coletiva, com referencia àqueles que ocupam posições em instituições do Estado, eleitos ou não (O'DONNELL, 1998, p. 28).
Como se vê, a accountability vertical representa a relação da sociedade com
o Estado, por meio de ações realizadas, individual ou coletivamente, àqueles que
ocupam posições em instituições do Estado, eleitos ou não. A forma mais conhecida
de accountability vertical é a eleição (DIAS, 2017).
Já a accountability horizontal é representada pelo poder e dever que têm as
agências estatais para realizar ações que vão desde a supervisão de rotina até
sanções legais, em face de ações ou omissões de outros agentes ou agências do
Estado (O'DONNELL, 1998). Ou seja:
A accountability horizontal remete às relações de controle entre as instituições do Estado. Nesse caso, os funcionários públicos e as agências do Estado no exercício de suas funções devem prestar contas tanto em termos políticos como em termos legais. São agentes públicos que se controlam mutuamente. Para que a accountability horizontal seja efetiva, é necessário existirem agências públicas que possuam competência legal, autonomia política e capacidade para supervisionar, controlar e punir ações julgadas ilícitas realizadas por outros agentes públicos. Exemplos desse tipo de agência são o Tribunal de Contas e o Ministério Público. O processo de
92
impeachment no sistema de governo presidencialista gerado por uma violação política constitui outro exemplo (DIAS, 2017, p. 184).
Diante das dimensões apresentadas, é possível verificar que o controle
popular é por essência um accountability vertical. Já os controles realizados pelos
poderes Legislativo e Judiciário, pelos Tribunais de Contas e pelo MP estariam na
dimensão horizontal. Entretanto, a adoção do termo accountability no contexto
brasileiro, quando usada de forma genérica, está relacionada à dimensão horizontal
que representa o controle institucional, pois se manifesta no interior do aparato do
Estado e é promovida pelos órgãos ou agências legitimadas para tal (ROCHA,
2013). Assim, “a rede de agências de accountability no Brasil inclui o Ministério
Público, o Sistema de Controle Interno dos Poderes, o Poder Judiciário, os Tribunais
de Contas, entre outros” (FREIRE; GOMES; OLIVEIRA, 2019, p. 30).
Como se vê, apesar de estarem diretamente relacionados com o controle
popular, todos os outros mecanismos de controle citados nesse estudo também
contribuem para que haja accountability na Administração Pública contemporânea.
Isso porque, a atuação das instituições de fiscalização amplia os níveis de
accountability e transparência, e consequentemente, possibilitam a qualidade e a
permanência de valores fundamentais à democracia contemporânea (MENEZES,
2015).
Uma vez demonstrado o accountability, como sendo instrumento de fomento
e ampliação do controle popular e de responsabilização da Administração Pública,
não se deve olvidar de outro mecanismo da governança, o compliance.
Apesar de não estar diretamente relacionado com os mecanismos de controle
externo, é indispensável abordar o compliance, pois como será demonstrado, ele é
um dos mais importantes mecanismos de combate à corrupção. Ainda, merece
menção, pois “a ideia de compliance tem relação direta com as boas práticas de
governança corporativa e pode ser transposta, com as devidas adaptações, para a
Administração Pública direta e indireta” (PINTO JUNIOR, 2017, p. 52).
Para Assi (2018), compliance ou conformidade são expressões sinônimas.
Segundo o autor, o termo é originário da língua inglesa (verbo to comply), o que por
tradução livre, significa cumprir, obedecer e executar o que foi determinado. Assim,
é amplamente utilizado para referir-se à conformidade (ASSI, 2018, p. 19).
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O compliance, também conhecido como programa de integridade, ganha
destaque a partir da promulgação da Lei Anticorrupção49. O advento da Lei
representa “uma nova política internacional de combate e prevenção a corrupção, ao
compartilhar a responsabilidade pelo cometimento de atos prejudiciais ao erário e à
economia também para o setor privado” (GABARDO; CASTELLA, 2015, p. 143). Ou
seja, previsto na Lei Anticorrupção, o compliance representa a adoção de medidas
anticorrupção e é também chamado de Programa de Integridade.50
Segundo o Decreto nº. 8.420 (BRASIL, 2015), que regulamenta a Lei
Anticorrupção, programa de integridade é o conjunto de mecanismos e
procedimentos para auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e para a
aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta, políticas e diretrizes com objetivo
de verificar e cessar desvios, fraudes, irregularidades e atos ilícitos contrários à
Administração Pública. Assim, “o programa de integridade busca, particularmente,
focar nas medidas anticorrupção adotadas pela empresa, especialmente aquelas
que visem à prevenção, detecção e remediação dos atos lesivos contra a
Administração Pública” (ASSI, 2018, p. 65).
Como já citado, as ideias do compliance também podem ser aplicadas à
Administração Pública direta e indireta, e no âmbito público é chamado de programa
de integridade. Nesse sentido:
É desejável ainda que o setor público aproveite a experiência acumulada pelo setor privado na formatação e implantação de programas de integridade, sob inspiração das boas práticas de governança corporativa. Isso não quer dizer, porém, que o modelo padrão de compliance utilizado por empresas privadas possa ser automaticamente transplantado para a Administração pública direta e indireta. Existem peculiaridades no setor público que precisam ser consideradas na formulação das soluções mais adequadas (PINTO JUNIOR, 2017, p. 54).
Desse modo, assim como nas empresas privadas, a Administração Pública
contemporânea requer o emprego dos mecanismos de integridade. Ressalte-se que
eficiência dos programas de integridade leva em conta a realidade de cada
organização do setor público ou privado e requer a adoção de padrões éticos de
49 A Lei 12.846 (BRASIL, 2013) dispõe sobre a possibilidade de responsabilização das pessoas jurídicas infratoras, pela prática de atos contra a Administração Pública, nacional ou estrangeira. O inciso VII, do artigo 7º prevê que a existência de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de códigos de ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica, serão analisados no caso de aplicação de sanção. 50 Refere-se ao princípio da integridade, previsto no Decreto que dispõe sobre a política de governança.
94
comportamento, que vão além do cumprimento das leis e de outras normas
obrigatórias (PINTO JUNIOR, 2017).
Diante do abordado, é possível concluir que, na realidade brasileira, a
Administração Pública contemporânea ainda está distante da governança. Tal
conclusão está baseada, por exemplo, na dificuldade de disseminar as ideias de
governança, bem como na deficiência de material, servidores qualificados,
condições de trabalho, entre outros fatores. Resultados eficientes demandam
estruturas eficientes.
De qualquer forma, considerando o Manual denominado 10 passos para
governança do TCU (2014b., p.3):
“A distribuição de responsabilidades entre os diversos entes federados acaba por exigir uma atuação coordenada, eficiente e articulada entre União, estados, Distrito Federal e municípios a fim de que as expectativas da sociedade sejam, de fato, atendidas. Por esse motivo, cabe aos órgãos e entidades da Administração Pública o estabelecimento de preceitos básicos, metas e finalidades que contribuam para a maximização dos resultados esperados”.
Por meio da governança é possível repensar a gestão pública, utilizando-se
mecanismos inerentes à Administração Pública contemporânea. Possivelmente, com
o fortalecimento dos mecanismos de controle e com a utilização de instrumentos da
governança, será possível o alcance de uma gestão mais eficiente com menores
índices de corrupção.
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5 CONCLUSÃO
A presente dissertação apontou os mecanismos de controle externo na
Administração Pública atual, aqui compreendida como contemporânea. A
Administração Pública contemporânea é decorrente do modelo de Administração
Gerencial e representa um novo formato de Administração, pois assim como o
Estado evolui, também evolui a Administração Pública.
Há que se considerar que a Administração Pública tem evoluído na busca de
uma gestão mais eficiente e por mais que ainda estejam presentes características
herdadas do patrimonialismo e da burocracia, como o nepotismo e a corrupção, na
atualidade assume o desenvolvimento da atividade administrativa para satisfação do
interesse público, a partir de instrumentos que visam a melhor utilização dos
recursos públicos, a ampliação da transparência, o fortalecimento da participação
popular e a responsabilização dos agentes públicos.
Do mesmo modo, há um aperfeiçoamento dos meios de controle. O controle
decorrente do sistema de freios e contrapesos de Montesquieu, cujo objetivo é a
contenção dos poderes públicos, vem sendo desenvolvido com novas análises e
expansões frente à evolução do Estado e da Administração Pública. Assim, além da
fiscalização, outras funções são assumidas no paradigma da Administração Pública
contemporânea.
Assim sendo, a ênfase foi dada para os mecanismos de controle externo
utilizados na atualidade. Esses, além de verificar aspectos formais, também são
voltados para eficiência das ações, o emprego das políticas públicas e o combate à
corrupção. Para tanto, o controle assume facetas não só de fiscalização, mas
também de prevenção e orientação.
Nessa esteira, cada um dos mecanismos de controle apresentados gera um
impacto significativo à Administração Pública contemporânea.
O controle parlamentar utiliza de mecanismos que se adequam à realidade
brasileira, seja para ampliação da transparência; ou para coerção e sanção do
executivo, ou para fiscalização e atuação concomitante na busca das políticas
públicas e combate à corrupção.
Já o controle dos Tribunais de Contas na atualidade, é realizado também por
meio da adoção de medidas educativas preventivas e do uso da tecnologia da
96
informação, o que possibilita o alcance de bons resultados, a correta aplicação dos
recursos públicos e ainda diminuir os índices de corrupção.
O controle judicial confirma a ideia de que o Direito e o Judiciário devem
acompanhar as demandas e os anseios da sociedade, decidindo com base em todo
ordenamento jurídico. Desse modo, o Poder Judiciário irá apreciar não só a
legalidade e o mérito administrativo, mas também intervirá, quando provocado, para
a aplicação das políticas públicas, diante das omissões dos demais poderes.
Entretanto, nesse caso, deve-se atentar para que tal atuação não seja ilimitada, ao
ponto de substituir os demais poderes, devendo o Judiciário incentivá-los para que
realizem suas capacidades institucionais.
De outro modo, assim como ao Poder Judiciário, a população atribui ao
Ministério Público (MP) a função de correção dos problemas sociais. Levando-se em
conta o que foi observado, o MP assume contornos de controle externo e ganha
destaque nessa atuação em razão das funções constitucionais que exerce. Foram
analisados instrumentos que demonstram que, além de fiscalizar, apurar
irregularidades e buscar sanções aos administradores, a atuação do MP se dá
principalmente para que as políticas públicas sejam empregadas com eficiência e
para o combate à corrupção. Como citado, o melhor dos exemplos é a operação
‘Lava Jato’, com benéficos resultados para o país.
Já a tendência ao controle popular se dá a partir do quadro de instabilidade
em que se encontra o país. Entretanto, não basta que o controle popular seja
exercido somente por meio do voto. É preciso que a população tenha interesse em
atuar diretamente do processo de tomada de decisões junto com a Administração
Pública, pois somente a garantia do acesso à informação e a transparência não
fazem com que as ações sejam eficientes, sendo também necessária a
conscientização do povo acerca da importância que ele tem nas ações da
Administração. Assim, se a população não tiver o hábito de atuar na Administração,
distante estará o fim da corrupção e a eficiência das políticas públicas.
Como se viu, o ordenamento jurídico pátrio dispõe de mecanismos para
fomentar e permitir o controle popular. Nesse contexto, é certo que os meios de
comunicação em geral também assumem um importante papel para a consolidação
da cidadania, do Estado Democrático de Direito e do controle popular, pois facilitam
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a disseminação de informações. Entretanto, esta facilidade também possibilita a
disseminação de notícias falsas, o que requer cautela.
De qualquer forma, mesmo diante da necessidade de validar a informação
perante a propagação de notícias falsas, é certo que essas possibilitam a ampliação
do controle nas ações da Administração, seja em função da divulgação dos casos de
corrupção, seja pela facilidade de comunicação advinda com as redes sociais.
Por fim, em razão da importância dada ao controle popular, foi realizada uma
abordagem dos instrumentos de governança com vistas a demonstrar que o uso
desses possibilita aproximar os anseios da população às atividades desenvolvidas
pela Administração. A boa governança contribui significativamente para a melhoria
dos serviços públicos. Deste modo, a resposta para uma AP mais eficiente é a
utilização dos mecanismos de governança. Tendo em vista a realidade brasileira, é
possível concluir que se tem adotado tais instrumentos em toda a Administração,
mas ainda há muito a ser feito para se alcançar governança pública.
Assim, em vista dos argumentos apresentados, é possível afirmar que
somente com a ampliação e o fortalecimento dos mecanismos de controle será
possível o alcance de uma gestão mais eficiente, transparente, responsável e proba.
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