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CONTROLE GENÉTICO DE DOENÇAS DE PLANTAS

Controle Genético

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CONTROLE

GENÉTICO DE

DOENÇAS DE

PLANTAS

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CONTROLE GENÉTICO

L.E.A. Camargo e A. Bergamin Filho

37.1 INTRODUÇÃO

O emprego de resistência genética no controle de doenças vegetais

representa um dos mais significativos avanços tecnológicos da agricultura. O uso de

cultivares resistentes é o método de controle preferido simplesmente por ser o mais barato e

de mais fácil utiliza;ção. Na verdade, existem culturas onde o controle das doenças mais

importantes dá-se, quase que exclusivamente, por meio da resistência, tais como as

ferrugens e carvões dos cereais e da cana-de-açúcar, as murchas vasculares em hortaliças e

as viroses na maioria das culturas.

Três etapas devem ser consideradas em qualquer programa de obtenção de

cultivares resistentes:

1.O fitopatologista deve primeiro identificar fontes de resistência ,ou seja,

identificar germoplasma que possui genes de resistência procurados;

2.o segundo passo é a incorporação desses genes em cultivares comerciais

por meio de métodos de melhoramento.

3.Finalmente, após a obtenção de uma cultivar resistente, o fitopatologista

deve traçar melhor estratégia para que a resistência seja durável face à natureza dinâmica

das populações patogênicas.

37.2 FONTES DE RESISTÊNCIA

O primeiro passo na elaboração de um programa de melhoramento é a

identificação de material vegetal que fornecerá os genes de resistência. O melhorista

geralmente recorrem aos genes existêntes em linhagens ou cultivares comerciais, pois essas

são as fontes de mais fácil acesso. Elas apresentam indiscutível vantagens de serem

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melhoradas, isto é, a freqüência de alelos que controla características agronômicas

indesejáveis é muito baixa. O trabalho de: Krupinski & Sharp (1979), que será discutido no

ítem 37.4.2 é um típico exemplo da reutilização de genes de resistência a ferrugem amarelo

presentes em cultivares comerciais de trigo.

Em alguns casos, no entanto, os genes inexistem , ou, se presentes nos

cultivares comerciais, não conferem o nível satisfatório de resistência. Neste caso, o

melhorista deve recorrer ao germoplasma selvagem, isto é, não-cultivado. Em uma primeira

instância, o melhorista pode procurar tais genes em populações selvagens ou não

melhoradas que sejam da mesma espécie do cultivar a ser melhorado. Em uma segunda

instância, o melhorista pode recorrer a espécies deferentes, mas geneticamente afins,

pertencentes ao mesmo gênero. A transferência intraespecífica de genes é facilmente obtida

por meio de cruzamentos, ao passo que transferências interespecíficas geralmente requerem

auxílio de técnicas especiais para garantir a sobrevivência do híbrido. Estas técnicas, que

foram discutidas no capítulo 25, incluem fusão de protoplastos, cultura de anteras, resgate

de embrião, etc.

Tabela 37.4- Ausência de interação diferencial. Presença de cultivares com

diferentes níveis de resistência horizontal.

Isolados Cultivares

G H I

7 4 3 2

8 4 3 2

9 4 3 2

TABELA 37.5- Ausência de interação diferencial. Presença de isolados com diferentes

níveis de agressividade

Isolados Cultivares

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J K L

10 4 4 4

11 3 3 3

12 2 2 2

TABELA 37.6- Presença de interação diferencial. Os cultivares apresentam resistência

vertical e horizontal,e os isolados (raças) também apresentam agrecividade e virulência.

Isolados Cultivares

M N O

13 5 3 3

14 2 5 2

15 1 1 5

resistência horizontal e agressividade. Na tabela 37.4, tem-se apenas resistência horizontal,

não havendo virulência nem variação de agressividade no patógeno. Na Tabela 37.5 tem-se

variação de agressividade de ausência tanto de variação em níveis de resistência horizontal

como de resistência vertical e virulência. Finalmente, na Tabela 37.6, tem-se variação tanto

em resistência vertical e horizontal no hospedeiro como variação em agressividade e

virulência no patógeno.

37.3.2 Características genéticas e agronômicas das resistências vertical e horizontal

37.3.2.1 Controle genético

É comum encontrar na literatura a noção de que a resistência vertical é do

tipo monogênica enquanto que a resistência horizontal é do tipo oligo/poligênica. Embora

exista inúmeros exemplos onde esta correlação é verdadeira, deve-se tomar muito cuidado

com esta generalização, pois existem contra-exemplos de todos os tipos. A resistência em

sorgo a Periconia circinata, a Puccinia hordei, medida pelo tempo que leva entre

inoculação e o aparecimento de sintomas (período latente), é poligênica, mas apresentam

interações diferenciais com raças do patógeno (Parlevliet, 1977).

Page 5: Controle Genético

37.3.2.2 Durabilidade

Resistência vertical monogênica é passível de ser vencida dentro da

capacidade microevolutiva do patógeno. Isto significa, em outras palavras, que este tipo de

resistência tende a ser efêmera. Este é um fato para o qual não faltam exemplos na

literatura, dentre os quais a transitoriedade da eficiência dos genes Dm de alfaçe contra

Bremia lactucae (Crute, 1992), do genes R de resistência a Phytophthora em batata (

Vanderplank, 1968), dos monogenes de resistência a Pyricularia oryzae em arroz

(Kiyosawa, 1989) e dos monogenes de resistência a ferrugem e antracnose (gene ARE) em

feijoeiro( Beebe & Corrales, 1991) são alguns dos mais conhecidos. Também é geralmente

aceita a idéia de que a resistência horizontal oligo-poligênica está além da capacidade

microevolutiva do patógeno em ser vencida. É o caso do cultivar Proctor de cevada,

resistente ao fungo Ustilago nuda. O fungo penetra o embrião da planta, infectando os

pistilos jovens da flor somente na época da polinização. No cultivar Procton, ao contrário

dos cultivares susceptíveis a polinização ocorre enquanto a inflorescência está envolta pela

bainha (cleistogamia), impossibilitando a infecção. Esta resistência tipicamente horizontal,

impresumivelmente além da capacidade de mudança do patógeno é oligogênica, sendo

governada por três genes.

A concepção da durabilidade da resistência vertical e horizontal não se

originou baseada apenas em dados de campo. Existem considerações teóricas que levem ao

aceite de que sistemas poligênicos de resistência possuem maior “capacidade tampão” de

resistir a mudanças genéticas no patógeno do que sistemas monogênicos. Estas

argumentações assumem que tanto sistemas poligênicos como monogênicos seguem a

hipótese gene-a-gene, discutida no capítulo 24. Assim sendo, uma resistência poligênica

será muito mais estável do que uma monogênica pois, para que surjam formas variantes do

patógeno, no primeiro caso (assumindo as mesmas condições ambientais e genéticas, tais

como pressão de seleção e taxa de mutação, respectivamente) são requeridas mudanças

genéticas em vários loci de patogenicidade, ao contrário do sistama monogênico, onde a

mudança deve ocorrer em apenas um locus.

Page 6: Controle Genético

37.3.2.3 Efeitos na epidemia

A resistência vertical, pode ser efetiva apenas contra algumas raças do

patógeno, age no sentido de reduzir a quantidade efetiva de inóculo inicial, fazendo com

que o início da epidemia seja atrasado.

Imagine-se, como exemplo, dois campos de batata lado a lado. Num deles

cresce um cultivar sem nenhum gene R de resistência vertical e no outro um cultivar com o

gene R1, que confere resistência a determinadas raças de Phythophthora infestans.

Geralmente, no início do ciclo da cultura, o numero de esporos do patógeno é bastante

pequeno, de tal forma que ambos os campos, independentemente do genótipo dos cultivares

neles plantados, permanecem insentos de doença. No entanto, mais tarde, ambos são

atingidos por uma leve chuvas de esporos originária, por exemplo, de campos vizinhos que

foram infectados mais cedo. Dos esporos que chegam até os dois campos em discussão,

Suponha que 99% pertença a raças que não podem infectar a variedade com

gene R1, tais como as raças (0), (2), (3), k(4), (2,3), ketc. O restante 1% de esporos

pertence às raças (1), (1,2), (1,3), (1,4), (1,2,3), etc., que podem infectar ambos os campos.

SUSCETÍVEL

RESISTENTE 0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

10 20 30 40 50

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Para este grupo de raças, o campo com o gene R1 é tão suscetível quanto o campo sem

genes R. O resultado da chuva de esporos é que o campo sem o gene R1 iniciou seu ciclo

com um inóculo efetivo 100 vezes maior do que o campo com o gene R1. O Número inicial

de lesões (por planta, por M2 , por há, enfim, qualquer unidade que se escolha) é 100 vezes

maior no campo sem gene R1 do que no campo com ele. Dessas lesões iniciais o fungo

começa a se disseminar: a epidemia tem início. Daqui para a frente, a epidemia prosseguirá

com a mesma rapidez tanto num campo como no outro, mas a quantidade de inóculo no

campo com R1 é somente 1/l00 daquela existente no outro campo. Por causa dessa menor

quantidade de inóculo inicial, a epidemia em R1 é retardada pelo período de tempo

necessár9io para o inóculo aumentar 100 vezes. Isso se traduz em um atraso no início da

epidemia.

A Figura 37.1 ilustra os fatos descritos acima. Além dos dias de atraso no

início da epidemia, pode-se também notar que a taxa de aumento da doença, neste caso, não

é reduzida pela presença do gene R1, mostrando-se tão rápida no cultivar resistente quanto

no suscetível. Isto significa que a raça (1), por exemplo. Pode atacar uma variedade R0: os

esporos germinam e penetram do mesmo modo, o micélio coloniza o tecido hospedeiro

com a mesma eficiência, os esporos são produzidos no mesmo modo e nos mesmos

números, etc. Um observador experimentando, mesmo fazendo inspeções periódicas nos

dois campos em discussão, não poderá decidir qual deles tem o cultivar com gene R1, a não

ser baseado no atraso inicial da epidemia.

Com a resistência horizontal a situação é diferente. Ao contrário da

rsistência vertical, que geralmente manifesta-se conferindo ao cultivar que posui a

imunidade ou hipersensibilidade contra determinadas raças do patógeno (efeito

0.8

1.0

Page 8: Controle Genético

qualitativo), a resistência horizontal, apesar de efetiva contra todas as raças,

apenas diminui o tamanho das lesões produzidas pelo patógeno, aumenta seu período

latente, diminui o número de esporos produzidas pelo patógeno, aumenta seu período

latente, diminui o número de esporos produzidos por lesão, e assim por diante. Todos os

seus efeitos são parciais e quantitativos: em cultivares com resistência horizontal, a

eficiência de infestação é menor do que um cultivar suscetível, as lesões crescem mais

lentamente, os esporos são produzidos mais tardiamente e em menor quantidade, etc. Todos

estes efeitos somados produzem uma redução na taxa de desenvolvimento da doença (o

valor de r na equação 30.14 do capítulo 30, por exemplo), sem afetar significativamente o

inóculo inicial, como ilustrado na Figura 37.2.

pode-se então, de maneira geral, resumir os efeitos dos dois tipos de

resistência no curso de uma epidemia dizendo que a resistência vertical afeta,

principalmente, o inóculo inicial (xo da equação 30.11 para doenças de juros compostos e

Q da equação 30.13 para doenças de juros simples, conforme visto no capítulo 30),

enquanto que a resistência horizontal afeta, principalmente, a taxa de desenvolvimento da

doença (r da equação 30.11 para doenças de juros compostos e R da equação 30.13 para

doenças de juros simples).

Até aqui se discutiu o efeito isolado na epidemia das resistências vertical e

horizontal. Para avaliar o comportamento da epidemia na presença de ambas, considere-se

os quatro cultivares hopotéticos representados na Figura 37.3. O cultivar A tem pouca

resistência horizontal e nenhuma vertical. O cultivar B tem a mesma quantidade de

resistência horizontal que A além de resistência vertical. O cultivar C assemelha_se ao

0.0

0.2

0.4

0.6

10 20 30 40 50 60 70

A B C

TEMPO(DIAS

Page 9: Controle Genético

cultivar A por não ter resistência vertical, mas possui uma maior quantidade de resistência

horizontal. Essa resistência horizontal é suficiente para dobrar o tempo gasto pelo patógeno

para causar o dobro de doença, qualquer que seja ele, em relação ao cultivar A. O cultivar

D tem a mesma resistência vertical de B e a mesma resistência horizontal de C. A curva D

tem, portanto, a mesma inclinação da curva C. Entretanto, enquanto a curva B está somente

10 dias atrás da curva A, a curva D está 20 dias atrás da curva C porque a resistência

horizontal reduziu pela metade a taxa de infecção e duplicou o tempo necessário para a

doença recuperar a perda de inóculo inicial causada pela resistência

vertical. A resistência horizontal do cultivar D reforça grandemente a resistência vertical

que ele possui, Mesmo considerando que os níveis da resistência vertical e da horizontal

sejam pequenos, como mostrado pelas curvas B e C, o efeito combinado delas no cultivar D

é muito satisfatório.

Os bons resultados obtidos com a combinação de resistência horizontal e

vertical, como enfatiza Vanderplank (1968), são importantes de se conhecer. A leteratura

de resistência a doenças discute com freqüência o uso alternativo das resistências horizontal

e vertical. Raramente reconhece, no entanto, que os dois tipos apresentam resultados

sensivelmente melhores quando usados em combinação.

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

10 20 30 40 50 60

TEMPO(DIAS)

Page 10: Controle Genético

37.4MÉTODOS CONVENCIONAIS DE MELHORAMENTO

O método usado em programas de melhoramento para resistência a doenças

não diferem dos métodos usados para outras características agronômicas. A escolha do

melhor método de seleção leva em consideração, principalmente, o tipo de reprodução do

hospedeiro (autógama ou alógama) e a natureza genética da resistência (monogênica ou

poligênica). Neste capítulo, não se pretende uma discussão aprofundada sobre os métodos

convencionais de melhoramento, uma vez que estes podem ser encontrados em textos

clássicos de excelente qualidade (item 37.8). O que se pretende aqui é discutir certas

peculiaridades intrínsecas que devem ser levadas em consideração durante o processo de

seleção de genótipos resistentes a doenças.

37.4.1 Seleção de resistência monogênica

Como discutido no capítulo 24, a resistência monogênica caracteriza-se por

uma distribuição descontínua do fenótipo, de tal modo que indivíduos resistentes podem ser

facilmente distinguidos dos susceptíveis. Viu-se, também, que esta resistência é a preferida

dos melhoristas, pois é muito mais fácil de ser manipulada em programas de melhoramento.

Em se tratando de resistência monogênica, o melhorista, normalmente, depara-se com a

seguinte situação: um gene de resistência é identificado em uma fonte de resistência, que

pode ser uma linhagem ou um germoplasma selvagem, por exemplo. O objetivo é transferir

o gene para um cultivar suscetível, mas que possua um ótimo mercado para outras

características agronômicas. A preocupação deve ser a de adotar um método de seleção que

preserve ao máximo as características agronômicas. A preocupação deve ser a de adotar um

método de seleção que preserve ao máximo as características agronômicas deste cultivar,

ao mesmo tempo em que possibilite a introdução do gene de resistência. Neste caso, o

método do retrocruzamento é o preferido. O termo retrocurzamento refere-se ao

cruzamento repetido de uma progênie híbrida com um dos genótipos parentais, que é

Page 11: Controle Genético

chamado de parental recorrente (no caso, o cultivar ao qual se quer incorporar o gene de

resistência). O genótipo parental dque fornece o gene de resistência é o doador. Na Figura

37.4 é apresentada uma representação esquemática da transferência de um gene de

resistência à raça 1 de Phytophthora megasperma f. sp. Sojae por meio do retrocruzamento.

Os cultivares Mukden e Hark são, respectivamente, os parentais doador e recorrente. Neste

caso, a resistência é controlada pelo gene dominante Rps. A cada ciclo, a proporção do

genoma do parental doador na progênie vai diminuindo, até que, após vários ciclos, o

genoma do parente recorrente é restaurado, exceto que, agora, ele contém o gene de

resistência. Note que, no caso da transferência de um gene dominante, o retrocruzamento é

extremamente simples, uma vez que existem duas classes fenotípicas: a resistente e a

suscetível. Assim, testes de progênie são necessários para saber quais plantas retrocruzadas

ao parental recorrente).

O método do retrocruzamento também pode ser utilizado para transferência

de mais de um gene simultaneamente, desde que o efeito fenotípico destes possa ser

facilmente identificado. Um exemplo é obtenção de um cultivar que possui vários

monogenes de resistência vertical, uma prática chamada de piramidamento de genes,

como será visto adiante. Cada gene é facilmente identificado por inoculações com as

correspondentes raças do patógeno. Segundo Fehr (1987), existem duas estratégias que

podem ser utilizadas quando da transferência de múltiplas características monogênicas:

a) a transferência simultânea dos genes durantes um único programa de

retrocruzamento ou

b) a transferência dos genes em programas independentes e posterior

combinação destes em um único indivíduo ao final do programa. O

problema da primeira

X

Parente doador Resistente Mukden Rps1 Rps1

Parente recorrente Suscetível Hark rps1 rps1

50% Mukden 50% Hark

F1 Rps1 rps1 Hark

Page 12: Controle Genético

M X X Hark X Hark

Figura 37.4- Esquema de retrocruzamento para incorporação do gene Rps da resistência a

Phytophthora megasperma f.sp. sojae usando os cultivares Mukden e Hark,

respectivamente, como parental doador e recorrente ( Fehr, 1987).

estratégia é que um número elevado de plantas deve ser obtido a cada geração para que seja

possível obter, entre estes, um indivíduo que contenha todos os alelos desejáveis. A título

de exemplo, suponha que o objetivo seja transferir simultaneamente quatro genes de

resistência, ABCD. A frequência de indivíduos heterozigotos para cada locus (Aa Bb Cc

Dd) na geração BC1F1 é de 1/16. Em contraste, se os quatro genes fossem transferidos em

programas independentes, a freqüência de heterozigotos em cada programa aumentaria

para ½. Um outro problema associado com a primeira estratégia é a necessidade de

inculação simultânea com diversas raças, o que pode não ser viável na prática.

25% Mukden 75% Hark

BC1F1 Suscetível rps1rps1 e resistente Rps1

descartar

12.5% Mukden 87,5% Hark

BC2F1 Suscetível rps1 rps1 e resistente Rps1 rps1

Descartar

Repetir por várias gerações

Page 13: Controle Genético

Quando os genes são transferidos independentemente para um mesmo

cultivar recorrente, obtém-se linhagens quase-isogênicas (praticamente idênticas), cada uma

contendo um gene diferente de resistência. Como visto, estes genes podem ser combinados

em um único cultivar (piramidamento), mas também podem ser mantidos em linhagens

separadas, que serão plantadas em misturas, dando origem às multilinhas( ver item 37.5.4).

Autógamas Alógamas Amandoim Milho

Ervilha Centeio Feijão Alfafa Soja Repolho

Sevada Brócolis Trigo Couve-flor Aveia Melancia Arroz Cebola Sorgo Pepino

Tomate Abacate Tabaco Banana Citros Uva alfaçe Mamão linho Manga

37.4.2 Seleção de resistência oligo/poligênica

Os métodos de melhoramento de resistência oligo/poligênica não diferem

dos demais utilizados para outras características agronômicas quantitativas. O

melhoramento dá-se pelo acúmulo gradual de alelos favoráveis e pode ser acompanhado

por meio de médias e variâncias. A principal consideração, como foi dito, é quanto ao tipo

de reprodução da cultura, se alógama ou autógama (Tabela 37.7).

37.4.2.1 Seleção em plantas alógamas

Em alógamas, os métodos de seleção massal e de famílias são muito

utilizados para acumular genes de resistência. A seleção massal é a estratégia de seleção

mais simples, onde os indivíduos mais resistentes são selecionados e suas sementes são

colhidas e misturadas, originando uma nova população. O processo é repetido, até que se

Page 14: Controle Genético

obtenha o nível de resistência desejado. A obtenção de cultivares resistentes ao vírus do

encrespamento da berterraba deu-se, no início do século, por meio de seleção massal. A

doença ameaçava dizimar os plantios desta cultura. Indivíduos resistentes foram

continuamente selecionados, por mais de 27 anos,em plantios comerciais onde a doença

mostrava-se severa, resultando em uma população altamente resistente, a US1. Desta

população originou-se a maioria dos cultivares resistentes atualmente em uso nos EUA.

Na seleção massal, plantas são selecionadas baseadas em suas reações

individuais à doença. Na seleção de famílias (progênies). Ao contrário, as plantas são

selecionadas baseadas nas reações de suas progênies. As sementes de plantas cujas

progênies mostraram-se mais resistentes são usadas no próximo ciclo de seleção. As

progênies podem ser obtidas de diversas maneiras: pela autopolinização de uma planta,

pelo cruzamento controlado entre duas plantas (progênie de irmãos germanos) ou, ainda,

pelo cruzamento entre uma planta mãe com várias outras plantas ao acaso (progênie de

meio-irmãos). Não será discutido aqui o mérito de cada um destes métodos, uma ves que o

tema já foi exaustivamente tratado por Hallauer & Miranda (1988).

Bleicher et al. (1993) estudaram a eficiência da seleção massal em acumular

genes de resistência a Exserohilum turcicum, agente causal da queima das folhas dom

milho, no cultivar pirapoca de milho-pipoca. Os autores compararam três de conídios,

capturados, à taxa aparente de infecção e ao inóculo inicial. Na Figura 37.5 pode-se ver o

progresso obtido com a seleção nestes diversos parâmetros. Nota-se, já no primeiro ciclo de

seleção, uma diminuição estatisticamente sigfnificativa da ordem de 20% na porcentagem

de área folia infectada. Houve também uma diferença significativa para este parâmetro

entre o primeiro e terceiro ciclos. A diferença no número médio de conídios capturados foi

significativa somente no promeiro ciclo, ao passo que uma diminuição significativa na taxa

aparente de infecção foi verificada após o seguundo ciclo de seleção. Os autores concluíram

que a seleção massal simples foi eficiente em aumentar os níveis de resistência ao patógeno

em apenas três ciclos de seleção.

Na cultura do milho, que faz uso intensivo de cultivares híbridos, depois que

genes de resistência são acumulados em uma população, como exemplo discutido acima, os

melhores indivíduos são selecionados e auto-polinizados se, assim, linhagens homozigotas

ou puras que poderão ser, posteriormente, cruzadas entre si, gerando híbridos simples. Um

Page 15: Controle Genético

híbrido simples, por sua vez, ou com outro híbrido simples, gerando um híbrido duplo. A

produção de piramidamento (ver item 37,5,2), onde os genes de resistência de cada

linhagem pura são combinados em híbridos.

47.4.2.2 Sele.cão em plantas autógamas

Os métodos de seleção em culturas autógamas devem se adequar ao sistema

reprodutivo da planta. Nestas culturas, geralmente, a polinização cruzada é difícil de ser

obtida na prática, o que eleva os custos do processo. Desta forma, a regra é reduzir os

cruzamentos manuais ao mínimo indispensável.

Os métodos mais utilizados em programas de melhoramento para resistência

são “pedigree”e “bulk”. No primeiro caso (Figura 37.6), uma população F2 é estabelecida e

os melhores indivíduos desta geração são selecionados. Estas plantas são auto-polinizadas

naturalmente, gerando famílias F3, que serão avaliadas no campo. A seleção, a partir desta

geração, é feita tanto dentro de famílias como entre famílias, isto é, os melhores indivíduos

das melhores famílias são selecionados. As sementes oriundas do auto-cruzamento destes

indivíduos selecionados irão compor a geração F4. A seleção inter-e intrafamilial é repetida

60

50

40

30

20

10

0

0.07

% A

FI

Taxa

apa

rent

e de

infe

cção

Page 16: Controle Genético

0,065

0,06

0,055

0,05

2500,05

2000.05

1500.05

1000,05

500.05

0,05

0 1 2 3

Ciclo de seleção

Figura 37.5- Progresso na seleção massal para resistência a E. turcicum no cultivar de

milho Pirapoca medido através da porcentagem da área foliar atacada (A), taxa aparente de

infecção (B) e produção de esporos (c). Dados adaptados de Bleicher et al.(1993).

até, aproximadamente, a geração F6-F8. Quando estas gerações avançadas são atingidas,

existe um alto grau de homozigotos dentro de famílias devido aos sucessivos ciclos de auto-

cruzamento. Entre famílias, porém, existe interfalilial, com a seleção de todos os indivíduos

das melhores famílias. O método do “bulk”difere do pedigree, pois a semente dos

indivíduos selecionados em cada geração são misturadas antes do início do ciclo seguinte.

Núm

ero

de e

spor

os

Page 17: Controle Genético

A seleção é baseada na performace individual de cada planta e não na performace de sua

progênie. Este processo avança até a geração F6-F8 começando, a partir deste método é que

permite a manipulação de um maior número de plantas até o início da seleção interfamilial.

Parlevliet & Kuiper (1985) demostraram que o método do pedigree pode ser

usado para selecionar genes de resistência poligênica a Puccinia hordei em cevada que

prolongam o período latente da doença. Mais importante foi a demonstração de que a

seleção de plantas sub condições artificiais de inoculação em casa-de-vegetação é eficiente

Pedigree F2 F3 F4 F5 F6

Progênie a Planta b Progênie Planta Progênie Planta Progênie

17-5-9-13 275 230 265 260 308 278 300 329

17-16-7 275 230 265 260 325 287 313 347

A= IPL médio da progênie.

B=IPL da planta selecionada

para selecionar genótipos que, mais tarde, demonstraram elevado grau de resistência em

condições de campo. Os autores estabeleceram um índice de período latente (IPL), relativo

ao período latente do cultivar suscetível L94, que foi fixado em 100 unidades. O cultivar

Cebada Capa, que além de possuir resistência poligênica para longo IPL, também possui o

gene vertical Pa7, foi cruzado com o cultivar Vada, que apresenta somente baixos níveis de

resistência poligênica (IPL= 185), gerando uma população F2. As plantas F2 foram

inoculadas no estágio de “seedling” com a raça 1-2-1 do patógeno, que é avirulenta ao

gene Pa7. As plantas que se mostraram resistentes foram descartadas, para que a seleção

continuasse na ausência do gene vertical (ver item 37.4.3). O restante das plantas foi

inoculado e avaliado no estágio do início da formação de suas estruturas florais, sob

condições de casa-de-vegetação. Nesta geração foram selecionadas plantas F2 que

apresentaram extremos de resistência, medido através do período latente. As sementes

resultantes do auto-cruzamento de cada planta F2 originou famílias F3, que também foram

avaliadas para período latante. Os melhores indivíduos das melhores famílias foram

Page 18: Controle Genético

selecionados e suas sementes foram utilizadas para o ciclo seguinte. O processo repetiu-se

até a geração F5. A Tabela 37.8 ilustra os progressos obtidos na seleção para longos

períodos latentes em dois pedigrees resultantes do cruzamento entre Cebada Capa e Vada.

O pedigree 17-5-9-13. Por exemplo, originou-se de uma planta F2 que apresentou um

IPL=275. O IPL médio da progênie resultante do auto-cruzamento desta planta foi de 230.

Nesta família, um indivíduo que apresentou IPL=265 foi selecionado e originou uma

família cujo IPL médio foi de 260. O IPL médio da progênie F6 deste pedigree foi de 329,

bem superior, portanto, ao IPL do cultivar parental suscetível Vada. Como a seleção deu-se

unicamente baseada em ensaios de casa-de-vegetação, o material selecionado da geração F5

foi posteriormente testadosob condições de campo (Parlvliet et al., 1985). O IPL médio

destas variou entre 280 e 291, indicando uma boa correspondência entre resultados de casa-

de-vegetação e campo. Segundo os autores, o aumento obtido no período latente através da

seleção reduziu em aproximadamente 100% a severidade da doença seis semanas após o

plantio, comparada à severidada verificada no cultivar parental Vada.

Krupinsky & Sharp (1979) realizaram um programa de melhoramento

visando a resistência poligênica à ferrugem amarela do trigo usando cultivares comerciais

que apresentam níveis baixos e intermediários de resistência. O método de seleção

empregado

foi o do “pedigree”. Os autores hibridizaram mais de 20 cultivares de trigo e

selecionaram, em cada cruzamento, os melhores indivíduos F2. As progênies destes

indivíduos foram avaliadas e os melhores indivíduos selecionados. O progresso repetiu-se

até a geração F6. A Figura 37,7 entre os cultivares Manitou e centana. A freqûencia de

indivíduos resistentes (lesões do tipo 00,0-, 0 e 1-) aumentou de zero, na geração F2, para

mais de 90%, na geração F6. O fato mais interessante é que houve segregação

transgressiva para resistência, isto é, foram obtidos indivíduos mais resistentes

intermediários de resistência, (lesões do tipo 2 e 3 , respectivamente). A segregação

transgressiva deu-se, neste caso, possivelmente pela combinação de genes de resistência

dos dois cultivares, ilustrando a possibilidade de utilizar cultivares com níveis

intermediários de resistência em programas de melhoramento.

Page 19: Controle Genético

37.4.3 Seleção de resistência oligo/poligênica na presença de resistência vertical

monogênica

Resistências vertical monogênica e horizontal poligênica podem ocorrer em

um mesmo genótipo. Neste Caso, de acordo com Parlevliet (1989), a seleção da resistência

horizontal na presença de resistência vertical monogênica pode produzir efeito contrário ao

desejado, resultando em frequências elevadas de genes de resistência vertical. Isto porque o

efeito principal dos genes de resistência vertical pode fazer com que o efeito secudário dos

poligenes não seja detectado sob determinadas condições experimentais (ver discussão no

item 24.2.1). na tentativa de solucionar este problema, é comum a noção de que o uso de

misturas de raças como inóculo reduz a variação devida à resistência horizontal. Segundo

Parlevliet (1983), este procedimento é incorreto pois, quando cultivares contendo diferentes

genes verticais são inoculados com uma mistura de raças, estas podem diferir quanto ao

número de raças na mistura a que são resistentes. Esta diferença, por sua vez, pode acarretar

uma variação fenotípica quantitativa entre cultivares que, finalmente, pode ser interpretada,

erroneamente, como resultante da presença de resistência horizontal poligênica. O cultivar

que apresentar uma combinção de genes que seja efetiva contra o maior número de raças na

mistura apresentará, também, os menores níveis de severidade. O autor sugere que, nestes

casos, uma raça com o espectro de virullência o mais amplo possível seja utilizada.

37.4.4 O efeito da Vertifolia

O efeito vertifolia refere-se à erosão (perda) da resistência horizontal

poligênica no processo de seleção para resistência vertical, devido a um estreitamento da

base genética do material vegetal durante o melhoramento. O termo foi cunhado por

Vanderplank (1963), referindo-se à erosão da resistência horizontal verificado no cultivar

Vertifolia de batata, que contém os genes R3 e R4 de resistência a Phytophthora infestans.

O autor conclui que quando a resistência vertical de Vertifolia é quebrada com isolados

capazes de vencer os genes R3 e R4, a doença desenvolve-se mais rapidamente do que em

cultivares devido ao efeito dos genes de resistência vertical. Uma vez que se inicia, pporém

o progresso é mais rápido. Nos cultivares sem genes verticais, por outro lado, a epidemia

Page 20: Controle Genético

tem início precocemtente, mas sua taxa de progresso é reduzida. Vanderplank acredita que,

durante o melhoramento de Vertifolia, os genes de resistência horizontal foram descartados,

ao passo que nos cultivares sem genes de resistência horizontal foram descartados, ao passo

que nos cultivares sem genes verticais ainda há um nível de resistência horizontal suficiente

para reduzir a taxa de progresso da epidemia.

A erosão da resistência pode ocorrer mesmo em casos onde a seleção não é

intencionalmente voltada para a resistência vertical. Davis et al. (1990) relataram a erosão

de resistência a Puccinia sorghi em uma população de milho doce submetida a 10 ciclos de

seleção massal para várias características agronômicas, exceto para resistência a P. Sorghi.

Foi verificado um significativo aumento da suscetibilidade média da população melhorada

em relação a população original, evidenciando a perda de genes de resistência durante a

seleção. A erosão, segundo os autores, pode ser devida à associação da resistência com

características agronômicas indesejáveis, que foram eliminadas durante a seleção.

Um outro mecanismo de erosão genética é a deriva genética, muito

freqüente em populações pequenas. Segundo Falconer (1989), em populações pequenas a

frequência de genes que não estão sob pressão seletiva tende a variar de geração em

geração de maneira aleatória devido, principalmente, a efeitos de amostragem. A deriva

tem um efeito cumulativo em populações sob seleção, porque a freqüência de um certo

gene em uma dada geração é que as freqüências irão se alterar cada vez mais até atingir um

de dois extremos: a fixação (quando a freqüência do gene for igual a 1,0) ou a extinção

(quando a freqüência do gene for igual a 0,0). No caso do cultivar Vertifolia, é possível

para os genes R3 e R4. O melhorista pouco pode fazer para evitar a deriva. Ela pode ser

atenuada, no entanto, se o tamanho da população for aumentando ou, ainda, selecionando-

se, ao mesmo tempo , para resistência vertical e horizontal.

37.5 ESTRATÉGIAS DE USO DA RESISTÊNCIA VERTICAL MONOGÊNICA

Page 21: Controle Genético

Cultivares que possuem resistência vertical geralmente mantêm-se

resistentes apenas por um período de tempo devido ao aparecimento (por mutação) e/ou à

seleção de genes correspondentes de virulência de genes de virulência

é extremamente rápida e pode ser detectada de um ano para outro. Existem

algumas estratégias de utilização de genes de resistência vertical que podem, no entanto,

prolongar sua vida útil. Para entender os mecanismos de atuação de tais estratégias na

população patogênica faz-se entender os mecanismos de atuação de tais estratégias na

população patogênica faz-se necessário introduzir os conceitos de seleção estabilizadora e

direcional.

37.51 Seleção estabilizadora e direcional

as estratégias que serão discutidas a seguir baseiam-se no princípio proposto

por Vanderplank (1963) de que “raças com genes desnecessários de virulência são menos

áptas em sobreviver”. O experimento de Watson & Singh (1952) ilustra este. Nesse

experimento, foram inoculadas, ao mesmo tempo, num cultivar de trigo com o gene R1 de

resistência vertical, duas ou três raças de Puccinia graminis f.sp. tritici que diferiam entre si

no número de genes de virulência. Através de isolamentos e inoculaçòes sucessivas, foi

possível demostrar, claramente, que raças com genes desnecessários de virulência tem

menor capacidade adaptativa quando comparadas com raças sem genes desnecessários ou

com um menor número deles. Os resultados estão sumarizados na Tabela 37.9.

Page 22: Controle Genético

Tabela 37.9- Efeito da passagem através do cultivar Federation sobre a porcentagem de

várias raças de Puccinia graminis f.sp. tritici (estraído e modificado de Vanderplank, 1963.

Dados originais de Watson & Singh, 1952).

Mistura

Mistura

Raças*

Raças

Número de passagens em Federation (R1)

1 3 4 5

1 (1) 69.0 85.5 86.4 88.8

(1,2) 31.0 14.5 13.6 11.2

2 (1,2) 71.3 90.4 90.8 86.5

(1.2.3) 28.7 9.6 9.2 13.5

3 (1,2) 61.1 58.6 56.6 47.7

(1.3) 38.9 41.4 43.4 52.3

4 (1) 84.9 96.6 97.8 95.2

(1,2,3) 15.1 3.4 2.2 4.8

5 (1) 65.7 82.1 77.0 72.6

(1,3) 34.3 17.9 23.0 27.4

6 (1,2,3) 65.6 4.7 8.3 5.2

(1.3) 34.4 95.3 91.7 94.8

7 (1) 57.9 68.5 63.8 74.2

(1,2) 33.2 30.4 35.4 25.4

(1,2,3) 8.9 1.1 0.8 1.4

8 (1) 52.9 68.1 378.1 71.5

(1,2) 9.4 4.0 3.2 3.7

(1,3) 37.7 27.9 18.7 24.8

9 (1) 66.2 92.1 089.7 87.2

(1,2,3) 19.9 1.1 0.8 0.5

(1.3) 13.9 6.0 9.5 12.3

Page 23: Controle Genético

*A nomeclatura das raças de Puccinia graminis f.sp. tritici foi alterada visando maior

clareza. Na realidade, a raça (1) corresponde à raça 126-6; a raça (1,2) à 126-6; a raça (1,3)

à 222-2,6 e a raça (1,2,3) corresponde à raça 222-1,23.

O postulado de Vanderplank implica na presença de um mecanismo de

homeostase genética, onde a freqüência de genes de virulência em determinada população

do patógeno, após ser perturbada por algum evento(como a introdução de um cultivar

resistente), tende a reverter o seu estado original quando da remoção do evento perturbador.

Este mecanismo foi demostrado por Vanderplank de seleção estabilizadora, em contraste

com a seleção direcional, onde ocorre a seleção em direção à virulência. Imagine-se, como

exemplo, que um cultivar R1 de um hospedeiro qualquer esteja sendo cultivado numa

grande extenção de terra. No início, ocorre seleção direcional favorecendo a raça que tem o

genótipo suficiente para quebrar a resistência conferida por R1; a raça que contém o gene 1

de virulência. Se o cultivar for substituído por um outro contendo os genes R1 e R2, a

população do patógeno, também por seleção direcional, passará a se constituir, em sua

maioria, de indivíduos da raça contendo os genes 1 e 2 de virulência. Se, após algum tempo

o cultivar R1R2 for substituído por R1, a raça (1,2) do patógeno, embora virulenta em R1,

estaria menos apta a se adaptar às novas condições do que a raça (1), pois carrega um gene

desnecessário de virulência (o gene 2). Desta forma, ocorreria seleção estabilizadora

favorecendo a raça (1), que voltaria a prevalecer no campo.

Um exemplo concreto da ocorrência da seleção direcional e estabilizadora

foi relatado por Watson & Luig (1963). Esses autores acompanharam o comportamento do

patógeno, Puccinia graminis f.sp. tritici, quando o cultivar de trigo Eureka foi introduzido

na Austrália, em 1939. Os dados obtidos pelos autores estão presentes na Figura 37.8. Na

figura, vê-se claramente que em 1939, quando Eureka foi introduzida, não existia,

praticamente, a raça de ferrugem capaz de atacá-la. Logo em seguida, porém, essa raça

começou a aumentar, até causar uma severa epidemia, por volta de 1945, quando Eureka

foi abandonada pelos agricultores. A partir daí, a raça que possuía o gene de virulência

capaz de vencer a resistência de Eureka começou, cada vez mais, a tornar-se menos

prevalecente, até desaparecer quase que completamente por volta de 1960. Desse ano em

Page 24: Controle Genético

diante, no entanto, o cultivar Eureka voltou a ser cultivado em larga escala, fato que foi

acompanhado, novamente, por um aumento significativo da população da raça em questão.

Neste exemplo real, a pressão seletiva que obrigou a população do patógeno a mudar foi o

cultivar Eureka, ficando bem evidenciada a ação da seleção estabilizadora quando a pressão

seletiva deixou de existir.

37.5.2 Piramidamento de genes

O piramidamento de genes é uma estratégia de usode genes de resistência

vertical cujo objetivo é o de previnir o aparecimento de novas raças do patógeno. Segundo

esta estratégia, vários genes de resistência vertical são incorporados em um único cultivar.

O sucesso do piramidamento depende da premissa de que a probabilidade de aparecimento

de uma “super-raça”, contendo todos os genes de virulência necessários para atacar esta

combinação de genes de resistência, é muito baixa. Assim, quanto maior o número de genes

incorporados, mais longeva será a resistência do cultivar. No entanto, os crítocos do

piramidamento acreditam que o aparecimento de “super-raças” não é um evento tão raro,

ainda mais sob a prática do piramidamento, uma vez que esta acaba impondo uma pressão

direcional tremenda em favor das “super-raças”. Aparecendo numa “super-raça”,

argumentam os críticos, os genes de resistência serão utilizados de uma só vez, ko que seria

uma catástrofe.

Como discutido anteriormente, o piramidamento pode ser obtido por meio de

retrocruzamento,. Este foi o método utilizado por Flor & Comstock (1971), por exemplo,

para desenvolver um cultivar de linho contendo vários genes de resistência a Melampsora

lini. O processo de obtenção de pirâmide de genes é muito lento e culstos, o que representa

uma séria limitação da estratégia (Fehr, 1987). O uso do piramidamento tem sido

preconizado no controle da ferrugem do feijoeiro (Beebe & Corrales, 1991) e utilizado em

vários patossidtemas (Pedersen & Leath, 1988), mas a eficiência de tal estratégia em

prolongar a longevidade de genes de resistência ainda está por ser demonstrada.

Page 25: Controle Genético

37.5.3 Rotação de genes

O princípio da rotação de genes é o mesmo da rotação de culturas usado no

controle de certas doenças (ver capítulo 35). O objetivo é o de reduzir a pressão da seleção

direcional, reduzindo a pressão para o aparecimento de novas raças. Um certo cultivar

contendo um gene de resistência vertical R1 é usado até que surja uma raça (1) capaz de

quebrar sua resistência. Esete cultivar é então sustituído por um outro contendo um gene

diferente de resistência (2). Após alguns anos, retorna-se ao cultivar R1, fechando o ciclo

de rotação.

A rotação de genes foi utilizada na Austrália entre 1938 e1950 no controle

da ferrugem do colmo em trigo. Também foi recomendada como medida de controle de

doenças do arroz pelo Instituto Internacional de Pesquisas do Arroz (IRRI), em 1980

(Singh, 1986). A estratégia requer um alto grau de cooperação por parte dos agricultores, o

que pode representar um sério fator limitante uma vez que o agricultor, geralmente, não é

muito afeto a trocar, anualmente, de cultivar.

37.5.4 Multilinhas

As multilinhas são uma mistura de linhagens agronomicamente semelhantes

(ou quase idênticas), mas que diferem entre si por possuírem, cada qual, um diferente gene

de resistência vertical. As multilinhas são o oposto da pirâmide de genes pois, na pirâmide,

os genes são concentrados em um único indivíduo. Ao passo que nas multilinhas, os genes

estão distribuídos em indivíduos de linhagens diferentes. O objetivo desta estratégia é o de

estabilizar a estrutura racial da população patogênica, minimizando as possibilidades de

aparecimento de novas raças.

Existem dois conceitos de multilinha (marshall & Pryor, 1978): a multilinha

suja (“dirty crop”) e a limpa (“clean crop”). Na multilinha suja, nenhuma das linhagens

usadas na mistura é resistente a todas as raças do patógeno. A denominação “suja” vem do

fato de que a doença sempre estará presente no campo, embora em níveis reduzidos. Na

multilinha limpa, ao contrário, são usadas linhagens que possuem genes diferentes que

Page 26: Controle Genético

conferem resistência à maioria das raças do patógeno prevalecentes no local, com o intuito

de obter um campo limpo, livre de doença.

O uso de multilinhas sujas tem duas conseqüências importantes para o

controle de doenças: reduz o inóculo inicial e a taxa progresso da doença e estabiliza a

composição racial da população patogênica (Marshall,1989). As conseqüências

epidemiológicas das multilinhas sujaspodem ser ilustradas com o seguinte exemplo.

Considere uma multilinha composta por quatro linhagens, cada qual contendo um gene de

resistência: R1, R2, R3 e R4. Assim, a raça do patógeno(1) pode atacar a linhagem R1, a

raça (2), a linhagem R2, a raça (1,2), as linhagens R1 e R2, e assim por diante. A

multilinha, do ponto de vista epidemiológico, apresenta as vantagens das resistências

vertical e horizontal somadas, já que tanto o inóculo inicial como a taxa de

desenvolvimento da doença são diminuídos (ver item 37.3.2). Supondo que as raças (1),

(2), (3) e (4) ocorram na mesma proporção, o inóculo inicial será reduzido a 25%. A texa de

progresso da doença também será grandemente afetada, já que os esporos provenientes de

uma planta doente terão 75% de probabilidade de caírem em alarmantes dentro da

plantação é bem pequena. É digno de nota que a multilinha apresenta as vantagens da

resistência horixontal mesmo que suas linhagens não apresentam elevados níveis desta. Se,

porém, as linhagens forem reforçadas com algum nível de resistência horizontal em edição

aos genes de resistência vertical, o resultado será, sem dúvida, uma variedade D da figura 3.

O sucesso da multilinha suja depende, a exemplo do piramidamento, do não

aparecimento de uma “super-raça”contendo todos os genes de virulência necessários para

atacar as multilinhas da mistura. Uma raça do tipo (1,2.3.4) seria capaz de atacar todas as

multilinhas do exemplo discutido acima de uma só vez. Então, qual a diferença entre o

piramidamento e a multilinha no que diz respeito ao aparecimento de novas raças? A

diferença, clamam os defensores das multilinhas, está na intensidade da seleção direcional.

Num campo com genes piramidados, existe uma enorme pressão para a seleção de uma

“super-raça”, pois o patógeno não tem altlelrnativa: ele só sobreviverá se possuir todos os

genes necessários para atacar o cultivar. Na multilinha, ao contrário, a pressão de seleção

direcional é relaxada, uma vez que sempre existirá uma linhagem suscetível. Com o

Page 27: Controle Genético

relaxamento da seleção direcional, aumenta a seleção estabilizadora contra genes

desnecessários de virulência, o que, por sua vez, garante a não seleção de “super-raças”.

Multilinhas têm sido empregadas no controle de doenças de culturas

autógamas, tais como trigo e aveia. A Fundação Rockfeller, por exemplo, lançou um

programa de desenvolvimento de multilinhas de trigo para o controle da ferrugem do

colmo. A primeira multilinha, denominada de Miramar 63, foi lançada na Colômbia, no

início da década de 60 (Singh, 1986). A multilinha era composta pelas dez linhagens mais

resistentes selecionadas entre 1200 resultantes de 600 cruzamentos envolvendo o cultivar

brasileiro Frocor. Dois anos após o início da utilização de Miramar 63, duas linhagens

tiveram que ser substituídas, pois apresentavam níveis elevados da doença. Apesar disso, as

perdas econômicas sempre se mantiveram abaixo de 20%.o programa de melhoramento de

trigo do Centro Internacional de Melhoramento do Milho e Trigo (CIMMYT), no México,

também desenvolve multilinhas resistentes à ferrugem do colmo, ferrugem da folha e

septorioses. Um exemplo é a multilinha obtida através do cruzamento do cultivar “Siete

Cerros”com mais de 500 cultivares ou linhagens provenientes de várias partes do mundo

(Fehr, 1987).

Um outro exemplo do uso de multilinhas é o programa de melhoramento de

aveia para rresistência a Puccinia graminis f. sp. Avenae e Puccinia coronata, desenvolvido

pela Universidade de Iowa (Browning & Frey, 1969), no qual mais de 25 genes de

resistência foram incorporados, via retrocruzamento, a linhagens isogênicas, resultando em

seis diferentes multilinhas.

O programa de melhoramento do Instituto de Melhoramento Vegetal de

Cambridge, desenvolvido por M.S. Wolfe e colaboradores, também faz uso de uma

mistura, não de linhagens, mas de cultivares comerciais, numa estratégia bem semelhante

ao das multilinhas. A diferença, neste caso, é que a mistura envolve um número reduzido de

cultivares comerciais, cada um apresentando um certo nível de resistência ao espectro de

raças presentes na área.embora os efeitos epidemiológicos das misturas de cultivares sejam

essencialmente os mesmos das multilinhas, os genes de resistência utilizados não seriam

“fortes” o suficiente para garantir o aparecimento de “super-raças”. Segundo Wolfe e seus

colegas, a composição da mistura deve ser alterada antes que a freqüência da “super-

Page 28: Controle Genético

raça”atinja níveis epidêmicos, de modo a causar um contínuo desequilíbrio nas forças

seletivas que agem na composição racial da população patogênica.

37.5.5 Distribuiçã geográfica de genes de resistência

A estratégia de distribuição geográfica de genes de resistência equivale, na

prática, a um sistema multilinhas em escala maior. Segundo esta estratégia, o plantio de

cultivares contendo genes de resistência segue um padrão planejado de distribuição

geográfica. No caso das ferrugens dos cereais no hemisfério norte, por exemplo, o padrão

de distribuição dos genes de resistência seguiria o caminha anualmente trilhado pelo

patógeno, a chamada “trilha da Puccinia”. Para entender melhor o exemplo, deve-se

considerar que a erradicação do hospedeiro alternativo da Puccinia graminis f. sp. Tritici, o

Beriberis vulgaris , criou uma situação na qual o patógeno não pode mais sobreviver no

campo na fase de écio durante o inverno. Seu ciclo de vida foi reduzido à fase uredinial,

que ocorre no trigo (ver capítulo 4). Dessa forma, o patógeno tem que forçosamente,

acompanhar os plantios de seu hospedeiro. A “trilha de Puccinia”ocorre no hemisfério

norte porque os plantios, durante o inverno, são feitos no sul e, gradativamente,

acompanhando as mudanças de estação, atravessam o continente, estendendo-se até o

Canadá, lá chegando durante o verão. Assim sendo, as epidemias que ocorrem no norte são

dependentes de inóculo produzido no sul. Esta interdependência, na opinião de Browning

Frey (1969), pode ser explorada com genes de resistência vertical, de modo a reduzir o

inóculo inicial. Segundo os autores, se diferentes genes de resistência forem usados em

plantios do sul e do norte, o inóculo produzido em uma área seria avirulento em outra

quebrando, desta maneira, a “trilha da Puccinia”.

A estratégia é extremamente elegante e engenhosa e foi sugerida, também,

para o controle da ferrugem de aveia e da podridão de Phytpphthora em soja no norte dos

EUA, assim como para o controle da ferrugem da folha do trigo na Índia. A estratégia

requer a existência de um certo número de genes de eficiência similar no controle das raças

prevalecentes na área, assim como uma intensa cooperação entre melhoristas,

fitopatologistas e agricultores. Segundo Fehr (1987), exemplos de uso da estratégia em

grande escala nos EUA são raros, primariamente devido à dificuldade de encontrar genes

Page 29: Controle Genético

de eficiência similar. Segundo o autor, caso um gene mostre-se superior aos outros, ele será

o preferido entre os melhoristas, que acabam relegando os demais a um segundo plano.

37.6 SELEÇÃO ASSISTIDA POR MARCADORES MOLECULARES: UMA NOVA

PERSPECTIVA NO CONTROLE GENÉTCO

Um dos maiores problemas associados ao melhoramento de resistência

poligênica reside na difícil identificação de todos os genes responsáveis por esta

característica. No caso de resistência monogênica, o problema não é tão grave assim, uma

vez que, como foi visto, estes genes exercem uma grande influência sobre o fenótipo. No

caso de poligenes, ao contrário, a contribuição fenotípica individual de cada gene não é tão

evidente. A solução ideal seria “marcar” cada um dos poligenes, de modo que a seleção

destes pudesse ser monitorada durante o programa de melhoramento.

A idéia de usar marcadores em programas de melhoramento não é nova.

Thoaday (1691)foi quem primeiro reconheceu a possiblidade do uso de características

fenotípicas controladas por monogenes como marcadores para a seleção indireta de

poligenes. A idéia é muito simples: se um poligene estiver em ligação (“linkage”) com um

monogene que causa um efeito facilmente detectável no fenótipo, então pode-se selecionar

indiretamente o poligene baseado no efeito fenotípico do gene vizinho. É claro qua a

eficiência desta seleção vai depender muito de quão próximo do cromossomo estão os dois

genes. Quanto mais próximos, menor a probabilidade de que os genes sejam separados por

permuta. Para ilustrar esta idéia, tome-se o exemplo da resistência de repolho a

Xanthomonas campestris pv. campestris (Camargo, 1994). A resistência da linhagem

Badger Inbred-16 é oligogênica, envolvendo pelo menos quatro genes. Uma planta desta

linhagem foi cruzada com uma planta da linhagem de brócolis Cr-7, suscetível ao patógeno.

A análise genética da segregação da resistência revelou que dois dos oligoligenes estão em

ligção com dois genes que controlam o comprimento do pecíola da folha, de modo que

plantas resistentes apresentam pecíolos curtos em plantas suscetíveis apresentam, pecíolos

longos (lembre que a folha de repolho é séssil, enquanto que a folha de brócolis possui um

longo pecíolo. Desta fpr, a transferência dos dois genes de resistência da linhagem Badger

Inbred-16 para linhagem Cr-7 poderia ser feita indiretamente, \selecionando-se as plantas

Page 30: Controle Genético

com menor pecíolo. Neste caso, o comprimento do pecíol,o estaria sendo usado como um

marcador fenotípico.

O exemplo usado acima apresenta algumas limitações práticas. A primeira

diz respeito ao nível de polimorfismo do marcador. O comprimento do pecíolosó pode ser

usado em cruzamentos repolho versus brócolis, e não em cruzamentos existe pouca ou

nenhuma variação para comprimento de pecíolo (diz-se que o marcador não é polimorfo

nestes casos). A segunda limitação deve-se às características agronomicamente indesejáveis

que podem ser conferidas pelo gene marcador. Usando-se o comprimento de pecíolo para a

seleção de genes de resistência no cruzamento brócolis versus repolho, resultariam

linhagens resistentes de brócolis com folhas sésseis ou de pecíolo curto, que fogem do

padrão estético tradicional do brócolis (folhas largas e de longo pecíolo); neste caso,

poderia haver uma rejeição de mercado aos novos cultivares de brócolis. A terceira e mais

importante limitação diz respeito à quantidade de genes marcadores: apenas dois dos quatro

genes de resistência seriam selecionados, uma vez que os outros dois não estão ligados a

outros genes que controlam o comprimento do pecíolo.

As limitações impostas pelo uso de marcadores fenotípicos foram, em

grande parte, suprimidas com o advento dos chamados marcadores moleculares, tais como

os fragmentos de restrição de comprimento polimórfico, ou simplesmente RFLPs (ver item

26.7.1). Estes marcadores são fragmentos cromossômicos pequenos, gerados após a

digestão do ácido nucléico com enzimas de restrição. O tamanho de fragmentos homólogos

entre indivíduos distintos de uma mesma espécie pode ser altamente variável, o que pode

ser visualizado sob certas condições géis de eletroforese ou membranas de nutrocelulose.

Isto faz com que seja possível definir, por exemplo, de qual linhagem parental um

indivíduo F2 recebeu um certo fragmento. Considere-se o cruzamento entre um indivíduo

resistente e um suscetível que mostram polimorfismo para um determinado fragmento

cromossômico (RFLP) e indivíduos F2 obtidos deste cruzamento, conforme ilustra a Figura

37.9. Se este fragmento vier de uma região cromossômica que esteja muito próxima a um

gene de resistência, então ele deve co-segregar com o gene de resistência, isto é, a grande

maioria das plantas F2 que apresentarem o fragmento da planta parental resistente deverão

também ser resistentes, e a grande maioria das plantas suscetíveis deverão apresentar o

Page 31: Controle Genético

RFLP da planta parental suscetível. Se, por outro lado, o RFLP vier de uma região distante

do gene de resistência, não haverá co-segregação. No exemplo da Figura 37.9, está muito

claro que há co-segregação. Na prática, no entanto, devido à natureza poligênica da

resistência, as diferenças não são tão óbvias, uma vez que outros genes envolvidos na

resistência também estão presentes.

Neste caso, recorre-se a funções estatísticas para determinar se há co-

segeegação ou não (ver item 37.8 para referências sobre o assunto).

Os RFLPs são superiores como marcadores, pois um número virtualmente

ilimitado deles pode ser obtido, possibilitando o mapeamento de todas as regiões

cromossômicas e dos genes presentes nestas. Assim um RFLP pode ser identificado ligado

a cada poligene de resistência. Outra vantagem é que são fenotipicamente neutros, isto é,

não apresentam a desvantagem de estar associados com características agronomicamente

indesejáveis. Finalmente, o nível de polimorfismo é bem superior aos marcadores

fenotípicos .

A identificação de genes responsáveis por características quantitativas por

meio de marcadores moleculares permite a manipulação individual de cada um,

essencialmente como se fosse genes mendelianos, seguindo a idéia de H. Nilsson-Ehle,

discutida no início do capítulo 24, de características quantitativa podem ser vistas como

fruto da presença de vários genes mendelianos, cada qual contribuindo para uma pequena

parcela de variação fenotípica. A possibilidade de marcar cada poligene de resistência abre

novas perspectivas no controle de diversas condições ambientais e genéticas. Por meio de

cruzamentos genéticos, pode-se construir linhagens quase-isogênicas para cada poligene e

estudar os efeitos de cada um, separadamente e em diversas combinações, no

desenvolvimento da doença. A combinação de genes verticais e genes horizontais

poligênicos pode ser obtida com relativa facilidade, possibilitando explorar as vantagens da

combinação destes tipos de resistência. A transferência de genes recessivos de resistência

durante o retrocruzamento também pode ser grandemente facilitada pela eliminação da

necessidade de testar plligênies. Finalmente, o mais interessante é a possibilidade de

piramidar vários poligênies de resistência, talvez realizando o sonho comum de

Page 32: Controle Genético

fitopatologistas e melhoristas, ou seja, a obtenção de cultivares que sejam resistentes para

sempre.

37.7 BIBLIOGAFIA CITADA

Allard, R.W. Principles of Plant Breeding. New York John Wiley, 2960 . 485pp.

Baker, R.E.D.& Holliday, P ‘Witches broom’of cocoa ( Marasmius perniciosus Stahel).

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37.8 BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

Os esforços concentrados, principalmente por parte de países desenvolvidos como

os EUA, de instalar, a nível global , uma política de patenteamento de genes que porventura

forem descobertos em germoplasma selvagem, tanto animal como vegetal, têm suscitado

grande polêmica acerca do controle do material depositado em bancos de genes. Os

intrigantes livros de Mooney (1986) e Juma (1989) trazem uma discussão profunda sobre

este problema e são de leitura obrigatória para melhoristas e fitopatologistas interessados

em aspectos históricos, sociais, econômicos e éticos da utilização conservação do

germoplasma selvagem.

O artigo de Goodman (1990) aborda os custos relativos e benefícios para a

agricultura da manutenção dos bancos de germoplasma. O autor apresenta uma perspectiva

histórica sobre a utilização de germoplasma selvagem em programas de melhoramento das

grandes culturas, especialmente milho.

Goodman , M.M. Genetic and germ plasm stocks worth conserving. Journal of

Heredity 81: 11-16, 1990.

Juma, C. The gene Hunters: Biotechnology and the Scramble for Seeds. New

Jersey, Princeton University Press, 1989. 288 p.

Mooney, P.R. O Escândalo das Sementes. São Paulo, Livraria Nobel, 1986. 146p.

Existem livros clássicos que abordam com detalhes os métodos convencionais de

melhoramento. Dentre eles, recomenda-se os livros de Allard (1960) e Fehr (1987), já

citados, que são utilizados como livros de texto em disciplinas sobre métodos de

melhoramento. Recomenda-se também, o livro de Hallauer & Miranda Filho (1988) para

Page 36: Controle Genético

uma discussão avançada sobre os diversos métodos de seleção massal e de progênies em

espécies alógamas. Finalmente, o excelente livro de Vencovsky & Barriga (1992) trta de

aspectos biométricos da seleção de caracteres quantitativos.

Hallauer, A. R. & Miranda Filho, J.B. Quantitative Genetics in Maize Breeding.

Ames, Iowa State University Press, 1988, 468p.

Vencovsky, R. & Barriga, P. Genética Biométrica no Fitomelhoramento. Sociedade

Brasileira de Genética, 1992, 486p.

A idéia de que raças patogênicas contendo genes desnecessários de virulência são

menos aptas em sobreviver é, na verdade, um axioma proposto por Vanderplank. Existe

considerável controvérsia acerca da validade deste axioma. Primeiro, porque este não foi

extensivamente validado na prática. Segundo, porque não está claro se a menor aptidão de

sobrevivência destas raças está ligada aos genes de virulência Per se. Recomenda-se o

capítulo de Marshall sobre a validade do axioma de Vanderplank e possíveis repercussões

nas estratégias de emprego de genes de resistência vertical.

Os métodos de mapeamento de genes de resistência usado RFLPs como marcadores

genéticos esttão descritos nos trabalhos de Edwards et al. (1987), Lander & Botstein (1989)

e Tanksley é bem concisa e explanatória e apresenta as várias aplicações na agricultura do

mapeamento de genes via RFLPs. Como exemplos onde a técnica foi utilizada para mapear

genes de resistência oligo/poligênica, consulte Heun (1992), Nodari et al. (1993) e Young

bet al. (1993), além de Camargo (1994), já citado. A revisão de Melchinger (1993) e Young

et al. (1993), além de Camargo (1994), já citado. A revisão de Melchinger (1990) aborda

aspectos teóricos e práticos do uso de marcadores moleculares no melhoramento visando a

resistência oligogênica.

Edwards, M.D..; Stuber, C.W.; Wendel, J. E. Molecular-marker-facilitated

investigations of quantitative-trait loci in maize. I. Numbers, genomic distributions and

types of gene action. Genetics 116: 113-125, 1987.

Heun, M. Mapping quantitative powdery mildew resistance of barley using a restriction

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Lander, E.S.& Botstein, D. Mapping Mandelian factors underlying quantitative traits

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