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Página 47 de 169 / Estudios Sociales Contemporáneos 14 / / Diciembre 2016 Cooperação Sul-Sul na Política Externa do Governo Lula da Silva 1 South-South Cooperation in Lula da Silva administration’s Foreign Policy. Cooperación Sur-Sur en la Cooperación Roberto Goulart Menezes Universidad de Brasília [email protected] Karina Lilia P. Mariano Universidad Estatal Paulista Mariana Costa Guimarães Klemig Universidad de Brasília [email protected] Enviado: 04/03/2016 Aceptado: 29/05/2016 1 Este trabalho é parte da pesquisa financiada pelo CNPq - Edital 43/2013 Roberto Goulart Menezes, Karina Lilia P. Mariano y Mariana Costa Guimarães Klemig ; “Cooperação Sul-Sul na Política Externa do Governo Lula da Silva” en Revista de Estudios Sociales Contemporáneos nº 14, IMESC- IDEHESI/Conicet, Universidad Nacional De Cuyo, 2016, pp. 47-63

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Cooperação Sul-Sul na Política Externa do Governo Lula da Silva1 South-South Cooperation in Lula da Silva administration’s Foreign Policy.

Cooperación Sur-Sur en la Cooperación

Roberto Goulart MenezesUniversidad de Brasí[email protected]

Karina Lilia P. MarianoUniversidad Estatal Paulista

Mariana Costa Guimarães KlemigUniversidad de Brasília [email protected]

Enviado: 04/03/2016Aceptado: 29/05/2016

1 EstetrabalhoépartedapesquisafinanciadapeloCNPq-Edital43/2013

RobertoGoulartMenezes,Karina Lilia P.Mariano yMarianaCostaGuimarãesKlemig ;“Cooperação Sul-SulnaPolíticaExternadoGovernoLuladaSilva”enRevistadeEstudiosSocialesContemporáneosnº14,IMESC-IDEHESI/Conicet,UniversidadNacionalDeCuyo,2016,pp.47-63

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Resumo

O objetivo deste trabalho é discutir a política de cooperação Sul-Sul voltada para o desenvolvimentoe executadapeloBrasil entre2003e2010.Oartigodiscute até que ponto essa nova proposta de coope-ração realizou-se efetivamente dentro de uma lógicasemcondicionalidades,contrapondo-seàsformastra-dicionaismarcadasporimposiçõesporpartedospaí-ses doadores.Analisamos como essa cooperação foiutilizadaduranteogovernodopresidenteLuladaSilva,comopartedesuaestratégiadeinserçãointernacionale instrumento para garantir o apoio de aliados.

Palavras-chave: Cooperação,Brasil,Desenvolvimen-to,Condicionalidades

Abstract

This paper aims to discuss South- SouthCooper-ation policy focusedon the development, and imple-mented by Brazilian government between 2003 and2010.The article discusses if this new proposal forcooperationwas effectivelymadewithout condition-alities, differently of the traditional formsmarked bythe impositions of donor countries.We analyze howthis cooperation was used during the administration of President Lula da Silva, as part of its internationalinsertion strategy and as a tool to ensure the support ofBrazilianallies.

Keywords:Cooperation,Brazil,Development,Con-ditionalities

Resumen

El objetivo de este trabajo es discutir la política de Cooperación Sur-Sur centrada en el tema del desar-rollo,eimplementadaporBrasilentre2003y2010.Elartículo cuestiona en qué medida esta nueva propues-tadecooperaciónsiguióefectivamenteunalógicasincondicionamientos,enoposiciónalasformastradicio-nales caracterizadas por las imposiciones hechas por lospaísesdonantes.ElanálisisbuscaverificarcómolaadministracióndelpresidenteLuladaSilvautilizóestacooperacióncomopartedesuestrategiadeinsercióninternacional y como herramienta para asegurar el apoyo de los aliados.

Palabrasclave:Cooperación,Brasil,Desarrollo,Con-dicionamientos

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Introdução

ACooperação Sul-Sul (CSS) teve lugar importanteno desenho da política externa brasileira nas gestõesdo presidente Lula da Silva (2003-2010).No discursoda diplomacia brasileira desse período, a abordagem so-brecooperaçãoparaodesenvolvimento,emoposiçãoà vertical relação que historicamente caracterizava osprojetosde“auxílio”ou“ajudas”fornecidaspeloNorte,se dava em patamares horizontais e livres de condicio-nalidades.Assim,conformeaAgênciaBrasileiradeCoo-peração(ABC/MRE)eoIPEA,“acooperaçãobrasileirapara o desenvolvimento tem sido movida por princípios alinhadosàsvisõesderelaçõesequânimesede justiçasocial, constituindo-se em importante instrumento depolíticaexterna.”(ABC,2010;IPEA,2010,p.16).Oobje-tivodessaestratégiadeCSSeraprojetaroBrasilcomopaís“queentendeodesenvolvimentocomoinstrumen-todepromoçãodeestabilidadeedoequilíbrioglobal.”(Corrêa,2010,p.177).

No bojo da revisão do paradigma da cooperaçãointernacional para o desenvolvimento, encontramos im-portantes elementos para o entendimento do papel dos chamados“paísesintermediários”,de“rendamédia”ou“semiperiféricosgrandes”nareconfiguraçãodageopolí-ticamundialcontemporânea(Sousa,2013).Entendemosqueaoseapoiarnarevisãodostermosemquesepro-cessamasrelaçõesdecooperaçãoesuasmodalidades,agestãodoentãopresidenteLuladaSilvabuscouabrirespaçoparaserealizaracordosnomarcododenomi-nado“novodesenvolvimento”bemcomoacompreen-sãodasnovasatribuiçõesquepaísesdoperfildoBrasilcomeçavamaocupar no conjuntomaior das relaçõesinternacionais,emquepesemo“dualismoconstitutivodesuasrespectivascondiçõessocioeconômicas.”(Lima;Hirst,2009,p.8).

O objetivo geral deste trabalho é discutir a política de cooperaçãoSul-SulparaodesenvolvimentoexecutadapeloBrasil entre2003e2010.A análisedasquestões

relativas ao tema da cooperação, no desenho maiorestratégiade inserçãodoPaísna gestãoLuladaSilva,nosrevelasuautilizaçãocomoinstrumentodepolíticaexterna.

Otrabalhoestáorganizadodaseguinteforma:alémdessaintrodução,naprimeiraparteanalisamosaestra-tégiaSul-Suleapolíticaexternabrasileiradoperíodo.Nasegunda,oarcabouçoconceitualacercadaCoope-raçãoSul-Sulemrelaçãoàcooperaçãotradicional.Naterceira apresentamosumabrevediscussão acercadaausênciaounãodecondicionalidadesnaCSSeporúlti-moasconsideraçõesfinais.

1. A estratégia Sul-Sul no contexto da multi-polaridade benigna

OBrasil participa e desenvolve açõesde coopera-çãointernacionaldesdeosanos1950.Essasaçõesforamconcebidaseimplementadasemdiferentesconjunturaspolíticas,sociaiseeconômicas.Elasseintensificaramnoquadro do processo de libertação nacional que tevelugarnaÁfricaeÁsia,sobretudonasdécadasde1950e 1960 e tiveram noMovimento dos PaísesNão-Ali-nhados,noGrupodos77enodebateacercadaNovaOrdemEconômicaInternacional(NOEI)nosanos1970suas instânciasmais importantes à época (IPEA, 2010;ABC, 2010).Todas essas iniciativas políticas buscavamredirecionaroconflitointernacionalparaoeixoNorte-SulemoposiçãoaoeixoLeste-OestequecaracterizavaaGuerraFria(1947-1989)eassimpôrotemadodesen-volvimento em relevo na agenda internacional1.

Porém, mudou a realidade internacional no pós-GuerraFria,comaintensificaçãodosprocessosdeglo-balização(Santos,2002),oacirramentodacompetição

1 Podemos considerar a Declaração das Na-ções Unidas sobre o Direito ao Desenvolvimentoproclamadaem1986comodocumentosíntesedessalonga luta.

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internacionaleaemergênciadenovospolosdepoder.Essa“nova configuraçãodocapitalismomundial edosmecanismos que comandam seu desempenho e regu-lação(Chesnais,1996,p.13)marginalizaramdezenasdenaçõesnocenáriomundialdesupostaconvergênciaebonança.

ÉummomentodeascensãodasnaçõesqueRosen-crance(1986)denominoude“Estadoscomerciais”,comofocopolíticodosistemainternacionalsevoltandoparaasdiscussõeseconômicas,umavezqueasquestõesdesegurança pareciam resolvidas com o fim do conflitoentre os blocos comunista e capitalista. Esse redirecio-namento levoua trêsprincipaismovimentosnoplanointernacional: a negociação de acordos comerciais re-gionais e, portanto, retomadada lógica integracionista;o relançamento das negociações comerciaismultilate-rais,tendocomoápiceacriaçãodaOrganizaçãoMun-dialdoComércio(OMC)voltadaparasupervisionareregulamentaresseprocessosdeaberturacomercial;e,finalmente,aintensificaçãodeestratégiasdeampliaçãode parcerias comerciais, o que no caso de países como oBrasil representou retomara lógicadaCooperaçãoSul-Sul.

Na primeira década do séculoXXI fortaleceu-se amultipolaridade nas relações internacionais - uma vezque ahipótesedeumaordemunipolar, prognosticadacomofimdaGuerraFria,esvaziou-se.Essanovaconfi-guraçãodageopolíticamundialfoidescritoporAmorim(2011)comomultipolaridadebenigna,poisela“favoreceademocratizaçãodosistemainternacional,assentadanoprincípio inclusivo do multilateralismo. Mas a multiplici-dadedepolosdepoderporsisónãoégarantiadisso.Épreciso que a vontade humana – no caso, a vontade po-lítica–‘multilateralizeamultipolaridade’.Ditodeoutraforma:quesejamoscapazesdecriarerespeitarnormasque inibam impulsos desagregadores deste ou daquele atorinternacional(Amorim,2011,p.266).

Nestecenáriodeumnovosistemamundial,aordem

vaiserestabelecidanãomaispelaspotênciasmilitares,mas pelo queNye Jr. (2002) denomina de sociedadespós-industriais2 (EuropaOcidental,América doNortee Japão).Osdemaispaísesestariamdivididosemdoisgrandesgrupos:Estadospobres,fracosepré-industriaiseEstadosindustriaismodernizantes(nesteúltimogrupoencontram-seboapartedospaísessul-americanos).

A grande discussão entre os teóricos das relaçõesinternacionais não se refere a essa estratificação,massim ao papel que essas nações pós-industriais desem-penhamnadeterminaçãodaatualordeminternacional.Alguns autores consideram que o mundo hoje seguiria um ordenamento unipolar, no qual os Estados Unidos desempenhaumpapeldepreponderância,enquantoou-trosacreditamqueas relações internacionaisdaatua-lidade estão balizadas pela lógicamultipolar, na qual oequilíbriodabalançadepoderédefinidopelasnaçõespós-industriais.

ConcordamoscomavisãodeNyeJr.(idem)dequeambososgruposestãocertoseerrados.Segundoesteautor, os primeiros erram porque exageram o poder dos EUA para obter os resultados desejados em certas di-mensões,poisestenãoexerceumahegemoniaclássicanaqualoEstadohegemônicopossuide fatoacapaci-dade de ditar ou de pelo menos dominar as regras e acertos pelos quais se conduzem as relações interna-cionais(Goldstein,1988),poisemboraosEstadosUni-dostenhampredomínionasinstânciasmultilaterais,nãoconseguemmuitasvezesimporsuavontade,comopôde

2 Nestanovahierarquia,aspotênciasnãoesta-riamvoltadasparaaampliaçãodeseupoderiomilitarouterritorial,massimparaobem-estarproporciona-do pelo desenvolvimento econômico e tecnológico.A intervençãomilitarsomentetemsentidoquandoaprópriasobrevivênciadanaçãoestáemjogo,comofoiocasodosEUAnopós-11desetembro.IstoporqueaexperiênciadaGuerraFriademonstrouopesadocus-to que o poderio militar e as guerras representam para a economia de um país.

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servistonocasodasrecentesrodadasdenegociaçõesdaOMC.

Osquedefendemaideiadeumaordembaseadanamultipolaridadetambémerramporquesupõemumasi-milaridade entre o poder dos Estados Unidos e o das demaisnaçõespós-industriais,quandonaverdadeadis-paridade entre eles émuito grande no âmbitomilitareeconômico.Ainda assim,o iníciodo séculoXXIde-monstrouapossibilidadedeampliaçãodascapacidadesdaqueles países pertencentes ao grupo dos chamados Estados industriais modernizantes, em melhorarem seu posicionamento dentro do sistema internacional a partir deumaestratégiadeinserçãomaisautônomaemrela-çãoàspotênciasconsolidadas.

Outroimportantefatordemudança,tantonoBrasilcomonasdemaisnaçõesdaAméricaLatina, foi aper-dadeforçadasreformasorientadasparaomercadonaagendadosnovosgovernos sul-americanos.Retomou-se o debate acerca das novas estratégias de desenvol-vimentocomavitóriaeleitoraldenovas coalizõesdepoder,sobabandeiradeumaagendapós-neoliberalnaqualajustiçasocialcompolíticaspúblicasdecombateapobreza,ofortalecimentodasoberanianacionalemaisautonomiaemsuaspolíticasexternasfrenteaosEstadosUnidos da América aparecem em destaque. Para isso, o revigoramento das capacidades dos Estados (aindamuitodébeisemváriospaísesdaregião)eumamelhorcompreensãoda complementaridadeentreesseseosmercados marcam as estratégias de desenvolvimento da regiãodesdeentão,aindaquedemodonãohomogêneo(Diniz,2010;Rodrik,2002).

Assim,ogovernoLuladaSilvabuscou“destravarocapitalismo”brasileiro,atravésdo‘desenvolvimentocominclusão social’, com a retomada em grande parte do“velhoprojetodesenvolvimentistaqueremontaàdéca-dade1930equesófoiinterrompidonosanos1990”(Fiori,2007,p.259).Porém,arelaçãodogovernoLuladaSilvacomospreceitosdoneoliberalismosemprese

mostrouconflituosa,umavezqueapolíticamacroeco-nômicaprosseguiucomforteviésmonetaristaemante-ve-senogovernodesuasucessora,DilmaRousseff.

Napolíticaexterna,diferentedacorrentedacredibi-lidadeinternacionalquehaviainformadoadiplomaciadaeraCardoso(1995-2002),agestãoLuladaSilvaorien-tou-sepelavertenteautonomista.Críticadaagendali-beralizante,essavertente“consisteemcontribuirparaaemergênciadeumaordeminternacionalmultipolarquepossaalteraracorrelaçãodeforçaseconterimpulsosunilateraisnacenamundial.”(Souza,2009,p.23).

A vertente autonomista combina o objetivo de pro-jeção internacionalcomapermanênciadomaiorgraudeflexibilidade,liberdadedapolíticaexternaediversifi-caçãonasrelaçõesexternas.Nela,osresultadosdalibe-ralizaçãocomercialsãovistoscomreticênciaeaadesãoaos regimes internacionais é encarada de modo crítico. Nohorizonte,essavertentevislumbrainfluirnojogodepoderinternacionalpormeiodaelaboraçãodearranjosoucoalizõescomEstados-naçãodeperfilaproximadoaoseu(Souza,2009).

ElementosdessaconcepçãoaparecemnapercepçãodoembaixadorSamuelPinheiroGuimarães,umdosfor-muladoresdapolíticaexternadeLuladaSilvaeentãosecretário-geraldoMinistériodasRelaçõesExteriores(2003-2009).Elesempresemostroucríticodaestraté-gialiberaldos“paísesperiféricoscooperativos”:

Considera que o sistema internacional é formadopor Estados iguais, de poder semelhante, que tendem a cooperar entre si parao bem-estar da humanidadeeapaz.[...]oidealparaainserçãopolíticadoBrasilnomundo é cooperar com todos os Estados, se antecipar nosprocessosdepazedesarmamento,nãodesafiarasgrandes potências [...] não procurar exercer qualquerprotagonismoemrazãodaescassezdepoderdoBrasileaceitarasregrasdosistemainternacional.(Guimarães,2006,p.55-56).

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Aocontráriodeumcenáriocooperativoentreasna-ções,asassimetriaseperigospresentesnaarenainter-nacional,conformeoembaixadorGuimarães,aumentamanecessidadedecoalizõescomoutrospaísesinterme-diáriosnabuscadeinfluenciarnaconformaçãodafisio-nomia da ordem internacional. Assim, na era dos gigantes oestreitamentodasrelaçõesSul-Sulfiguracomoumadaspossibilidadesdereduzirassimetriasdas“estruturashegemônicasdepoder”etorna-seumexercíciocriativoparaumPaísdoportedoBrasilnaconstruçãodealter-nativaspolíticaseeconômicasnocampododesenvol-vimento.Éprecisolocalizareaproveitaras“brechasnomeio internacional para relacionamentos construtivos e autônomosemrelaçãoàagendainternacionalquerefle-teasperspectivasdeWashington”(AlmeidaFilho,2009,p.80).

Nessecontexto,oFórumdeDiálogoÍndia,BrasileÁfrica do Sul (IBAS) foi instituído pelaDeclaração deBrasília (junhode2003), comumamploprogramadecooperaçãoentreseusmembrosetendocomoprincipalbandeiraadefesadomultilateralismoedasestratégiasde desenvolvimento.Na perspectiva da política exter-nabrasileira,acriaçãodearranjoscooperativoscomooIBAScontribuiparaofortalecimentodamultipolaridade.Seustrês integrantespartilhamalgumascaracterísticas:situam-senaperiferiadocapitalismo(“países interme-diários”),possuemeconomiasdinâmicaseexercempa-pelderelevoemsuasrespectivasregiões.Mesmonãoapresentando comportamento uniforme perante osdesafios no sistema internacional, essemecanismo deassociação em coalizão busca abrir novos espaços deatuaçãoparaosseusintegrantes(Menezes,2010).

Uma vertente de ação do Foro IBAS tem especialrelevo na dinâmica de Cooperação Sul-Sul: o FundoIBAS.OFundoIBASparaoAlíviodaFomeedaPobrezafoicriadoemmarçode2004pelosChefesdeEstado/GovernoquecompõemoIBAS.Cadaumdostrêspaí-ses do agrupamento comprometeu-se a destinarUS$1milhãoanuaisaoFundo.OFundofoiidealizadopara

financiar boas práticas e projetos bem-sucedidos quepossam ser ampliados e reproduzidos em outros paí-sesemdesenvolvimento.FuncionanoâmbitodoPNUDe é por ele administrado. Tem por objetivo propiciar a adequada implementaçãodosObjetivosdoMilêniodaONU.Jáforamaprovadosefinalizadosváriosprojetos,aexemplodoprojetoparaaAgriculturaePecuáriaemGuiné-Bissau;umparaColetadeLixoSólidonoHaiti;ProjetodeReabilitaçãodoPostoSanitáriodeCovoa-da,comunidadecarentederecursosededifícilacessona ilhade SãoNicolau, emCaboVerde. Estãoeman-damentoprojetosnosTerritóriosPalestinosOcupados(complexoesportivoemRamallah);noCamboja(centromédicoeintercâmbiodeespecialistas)eemBurundi(in-fraestruturaparacombateaHIV/AIDS).Em2010,oFun-do IBAS recebeu prêmio concedido pelo“MillenniumDevelopment GoalsAwards Committee”, organizaçãonãogovernamentalquebuscaapromoçãodasMetasdoMilênioeadivulgaçãodosesforçosdegovernos,orga-nismosmultilaterais,organizaçõesnãogovernamentaiseindivíduosquecolaboramparaaconsecuçãodasMetasdoMilênio.Em2012,oFundofoiagraciadocomoprê-mio“South-South andTriangular Cooperation Cham-pionsAward”,concedidopelasNaçõesUnidas(Stuenkel,2014).

As estratégias do arranjo cooperativo entre Índia,BrasileÁfricadoSul (IBAS)diferemsubstancialmentedas coalizões composta pelos países periféricos nosanos1960e1970.Entreosdiferenciaisestão“adefesadeinstituiçõesedevaloresdemocráticos”,ausentesourelativizadosnaquelaspropostas,bemcomoadefesadeinstituiçõesdemocráticas,queconstitui“ofundamentopolíticocentral”dainiciativa(Lima;Hirst,2009,p.12).

EssainflexãodogovernoLuladaSilvaparaa lógicadesenvolvimentistaéacompanhadadeumaredefiniçãodo discurso da política externa brasileira, que tenta dei-xarmais evidente seu objetivo de fortalecer-se comoumaliderançaregional,quedestacaopapeldaAméricado Sul dentro da sua estratégia internacional, inclusi-

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ve como os países emergentes de outros continentes (comonocasodoBRICS).OEstadoretomaparcialmen-te seu papel de promotor do desenvolvimento, com o governoindicandoqueaintegraçãoseriaomotordessedesenvolvimento.

Aintegraçãonestecasoseriaopanodefundoparaumdiscursomaisamploequefundamentouaestraté-giadeCSS:anecessidadedeaproximaçãoearticulaçãoentreospaísesconsideradosperiféricos,queapesardesuasdiferenças, apresentariam interesses convergentesdentrodonovocenáriointernacionalesuaaproximaçãofortaleceriaoposicionamentodasnaçõesemergentes.

Paraos críticosdaestratégiadeCSS adotadapelogoverno Lula da Silva, essa política caracteriza-se pelodistanciamentodosparceirostradicionaisdoNorte,ouseja, Estados Unidos e Europa e um retorno as políticas ultrapassadas dos anos 1960, no espírito do chamado“terceiro-mundismo” (Lampreia, 2011). No entanto, adiplomaciabrasileiraafirmaqueelanãosedavaemde-trimentodoslaçoscomaseconomiascentrais,mesmocom a perda relativa em termos percentuais observada desde2003,tendoaChinasetransformadonoprincipalparceirocomercialdoBrasil.Comacrisede2008,acor-rente de comércio com os Estados Unidos decaiu ainda mais3.ComaUniãoEuropeiaaoscilaçãonoperíodofoi

3 “As parcerias que o Brasil faz não são ex-cludentes,epor issooPaís temdiálogoestreitonãoapenas com a América Latina e com os países em de-senvolvimento,ouaindacomoschamados“emergen-tes”.Temosumarelaçãodensatambémcomospaísesdesenvolvidos e considero que essa é a linha correta aseguir.[...]Assim,temoscontribuídoparacomeçaradesenharumanovaordemmundial, semapretensãodeliderarninguémouderecorrerarótuloscomoodelíder,quepessoalmentenãomeagradamegeramin-compreensões.Nossointeresseéodecontribuirparabuscar soluções”. Entrevista exclusiva concedida porescritopeloPresidentedaRepública,Luiz InácioLuladaSilva,aosjornaisPolitiken(Dinamarca)eDagbladet(Noruega).Copenhague,17/12/2009.

bemmenor.Aindaqueajustificativamaiorparaasalian-çascompaísesdoSulsejapolítica,osdadosdacorrentedecomérciocomessespaísesnãosãodesprezíveis,con-siderandoadiversificaçãoqueelesrepresentamparaasexportaçõesdoPaís.

FazempartedaestratégiadeinserçãointernacionaldoBrasilorevigoramentodapolíticaparaaÁfrica,apar-ticipaçãodoBrasilnamissãodepazcriadaparaoHaitiem2004,oreconhecimentodaChinacomoeconomiademercadoeaparceriaestratégicacomaFrançanocampodadefesa,entreoutrasiniciativas.

OHaitifoiumdosprincipaisdestinosdaajudahu-manitária e receptor de recursos físicos, humanos efinanceiros domontante empenhado pelo País entre2005e2009(ABC,2010;IPEA,2010).Juntamentecom33paísesafricanoseoutros15asiáticos,elecompõeogrupodos49paísesdemenordesenvolvimentore-lativo,segundodadosdasNaçõesUnidasde2009.OengajamentodoPaísnaMissãodasNaçõesUnidasparaestabilizaroHaiti,comapresençade1.260soldadosdasforçasarmadasnopaíscaribenho,aumcustoes-timadodeUS$2bilhõesdesde2004seriadecaráterhumanitárioenãocomopartedaestratégiaparaobterapoioaopleitodoBrasil noCSNU,conformeodis-cursodiplomáticobrasileiro.Amanutençãodapartici-paçãobrasileiraseriaacontribuiçãodeumpaísdoSulparanovosarranjosdesegurançacoletiva.

OdiscursofundamentadonasolidariedadenavisãodoItamaratyacercadapresençadoBrasilnoHaitinãoéconsensualnaanálisedapolíticadecooperaçãodoPaís.DeacordocomCorrêa(2010,p.91),“oargumen-to da solidariedade ganha, contudo, mais apelo e reco-nhecimentonoâmbitodacooperaçãoSul-Sul,poisopaís que atua na condição de provedor está abrindomãoderecursoshumanosefinanceirosquepoderiamatenderaspopulaçõescarentesdeseuprópriopaís[...]Mesmo quando um país em desenvolvimento presta cooperaçãoaoutrosemestabelecercondicionalidades,

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essas iniciativas poderiam ser consideradas como um investimento.”

Assim,emquepesea importânciadasmotivaçõesestritamentehumanitáriasparaseprestarajudaaumpaísmaispobre,Corrêa(2010,p.92)ressaltaqueapre-sençade“interesseseconômicosegeopolíticospodemconstituir o elemento motivador de um país provedor de cooperação Sul-Sul.”A existência de uma“solida-riedadeinteressada”tambémestápresenteemoutrasfrentesdecooperação,comoasdesenvolvidasnaÁfri-ca.Nessamesma linhadeargumentação,CelsoAmo-rim,ex-MinistrodasRelaçõesExteriores(2003-2010),afirma:“éclaroqueospaíses sempre têm interesses,eu não vou negar que o Brasil não tenha interessetambém.[...]Nãotemoscriadocondicionalidadesparaos nossos apoios. [...] Eu diria que, indiretamente, em-presaseinteressesbrasileirospodemserbeneficiadostambém,maseudiriaquenãohouve,digamos assim,stringsattached,nãohouveamarrasespecíficas.”4

2. Cooperação Sul-Sul: atores e modali-dades.

Entre2005e2009,ogovernofederalinvestiuR$3,2bilhõesemprojetosdecooperaçãointernacionalparao desenvolvimento em suas diversas modalidades: as-sistência humanitária, científico-tecnológica, econômi-ca, educacional, técnica, entre outras. Esse valor repre-sentou0,02%doPIBbrasileiro(IPEA,2010;ABC,2010).Acoordenaçãodaagendadecooperaçãointernacionalé de responsabilidade daAgência Brasileira de Coo-peração(ABC)doMinistériodasRelaçõesExterioresque, apesar de seu baixoorçamento anual (cerca deUS$60milhõesem2010),passoude23novosprojetosem2003para413em2009etinha-seaperspectivadeampliação,masnagestãoDilmaRousseffaCSSperdeu

4 EntrevistaconcedidaàMarianaKlemig.Brasí-lia.Nov.2013.

espaço. Somentenocontinente africanoaABC tinha706projetosemcursoscom37paísesaté2012.

Conformeográfico1,asáreasmaisdemandassãoagricultura,saúdeeeducação,que juntassomam50%dototalderecursosdestinadosaCSS.Dos49paísesdemenordesenvolvimentorelativo,33estãonoconti-nenteafricano.IssofazdaÁfricaumespaçoimportantedeexperiênciasdecooperaçãoegrandedesafioparaoenfrentamentodapobrezaedafomenoroldaspolíti-casemodelosdecooperaçãoparaodesenvolvimento.

NomapeamentorealizadopeloIPEAeaABC,queteve o objetivo de mensurar o volume de recursos, as áreas e as modalidades de cooperação internacionalnasquaisoBrasilatuaentre2005e2009,bemcomoelaborar uma metodologia para o registro das ativida-desdecooperação,elaéassimdefinida:

Atotalidadederecursosinvestidospelogovernofe-deralbrasileiro,totalmenteafundoperdido,nogover-no de outros países, em nacionais de outros países em territóriobrasileiro,ouemorganizaçõesinternacionaiscomopropósitodecontribuirparaodesenvolvimen-tointernacional,entendidocomoofortalecimentodascapacidadesdeorganizações internacionais ede gru-posoupopulaçõesdeoutrospaísespara amelhoriadesuascondiçõessocioeconômicas(IPEA,2010;ABC,2010,p.17).

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EsseconceitodiferedaqueleutilizadopelaAssistên-ciaOficialparaoDesenvolvimento(AOD)daOCDEporenfatizarquetodososrecursosempenhadosnãosãoreembolsáveis (norelatóriodenominadoa fundoperdido),enquantoparaaAOD“possuemcaráterdeconcessionalidade por serem estendidos com pelo menos 25% de fundo perdido, seja diretamente parapaísesemdesenvolvimento(bilateral),viaagênciasgo-vernamentaisdospaísesdoadores,ouvia instituiçõesmultilaterais, excluindo empréstimos de agências decréditosdeexportaçãocomoúnicopropósitodepro-moçãodasexportaçõesnacionais.” (IPEA,2010;ABC,2010,p.17).

De acordo com o embaixadorAmorim (1994), ofato de países em desenvolvimento cooperarem, fazcomque desapareçam fatores de desconfiança e ris-cos reduzidos pelos desequilíbrios entre os parceiros. Issoacabaporsetornarumelementoimportanteparaa política dos países envolvidos, que visam desenvolvi-mentotecnológicoecientifico:

Algumasconsideraçõestêmdeserlevadasemcontaquandosebuscamacooperaçãointernacional,sãoelas:a)acooperaçãointernacionalnãopodeserencaradacomoalternativaparaoesforço interno. Só cooperacomoutrospaísesquemjádispõedecertabasecien-tíficaetecnológicaprópria.Apelarparaacooperaçãocomo fonteexclusivaouprincipaldedesenvolvimen-to, é condenar-se à dependência e à submissão; b) acooperaçãosóseráverdadeiramentefrutíferaquandohouvercomplementaridaderealde interesses. (Amo-rim,1994,p.162-163).

Amotivaçãoparaacooperaçãoparaodesenvolvi-mento,naspalavrasdeAmorim,estána“complementa-riedaderealde interesses”.Acooperaçãosul-sultemcomo elemento aglutinador um discurso que retoma as discussõessobredesenvolvimentoembasesdiferentesdacooperaçãotradicional,pormeiodadefesadopapeldoEstado,emmatériadealiançasentreospaísesdo

Sul,dedefesadoprincípiodanãointervençãoedede-fesadahorizontalidadenosprogramasdecooperação,equebuscagarantiruma inserção internacionaldife-renciadadealgunspaísesdoSulnodiálogocomospaí-ses desenvolvidos.Além das“vantagens comparativasfrenteàcooperaçãodospaísesdesenvolvidos,entreasquais,custosoperacionaismenoreseadisponibilizaçãodetecnologias.”(Corrêa,2010,p.91).

AspolíticasdeCooperaçãoSul-Sul(CSS)ressurgemno final dos anos 1990 e início do novo século cla-ramenteassociadasaumcontextoderenovaçãodospaíses em desenvolvimento, principalmente dos que têmmaisrecursosdepoderglobaleregional,comoobjetivodefortaleceraideiadequeospaísesemde-senvolvimento podem, e devem, cooperar com outros paísesemdesenvolvimento(Milani,2012).

Nessecontexto,oBrasil ao ladodeoutrospaísesdoSul,figuracomonovoatordeperfilmisto,poisédoadorereceptordeajudainternacional.Chaturvedi(2012apudKLEMIG,2014)fazumaabordagemabran-gentesobreasdistintasconcepçõesemrelaçãoàcoo-peraçãoparaodesenvolvimentoquandosecomparaacooperaçãotradicional(Norte-Sul)comacooperaçãoentresospaísesemdesenvolvimento(cooperaçãosul-sul).Oquadroabaixoapresentademodosintéticodi-ferençasepercepçõesentreaCNSeCSS:

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Quadro 1: Diferenças de motivações na CNS e CSS.

Fonte:CHATURVEDI(apud KLEMIG,2014,p.57).

A análise de alguns dos indicadores comparativosdoquadrocontribuiparaprecisarmelhorasdiferençasentreacooperaçãotradicionaleacooperaçãoSul-Sul.O primeiro deles que compara a natureza da ajuda in-dicaqueosdoadorestradicionaistêmumparâmetroclarodeclassificaçãodasuaajuda,definidonostermosdoComitêdeAssistênciaaoDesenvolvimento(CAD)da OCDE. Isso significa que, ainda que os doadorestradicionaisdecidamseusprojetosdecooperaçãoembasesnacionais,elestêmumparâmetrodereferênciaedecontrole.Essecomitêtambéméresponsávelpelomonitoramento e avaliação dos relatórios, conformecitadonoúltimoitemdoquadro.Osnovosdoadores,por sua vez, realizamosprojetosde cooperaçãoembases estritamente nacionais, guiados pelos princípios decooperaçãosul-sulepelasdiscussõessobreotemanoâmbitoprincipalmentedasdiscussõescoordenadaspeloConselhoEconômicoeSocialdasNaçõesUnidas(ECOSOC)eporagênciasespecializadas tambémnoâmbitodaONU,comooProgramadasNaçõesUni-dasparaoDesenvolvimento(PNUD).Nãohá,contudo,paraos novos doadores, nenhuma instituição queosvinculeouosobrigueareportarosesforçosnaassis-tênciaaodesenvolvimentoprestadaaterceirospaíses.Essaliberdadedeação,seporumladoébenéficaporampliar a margem de liberdade dos atores envolvidos nosprojetos,atendendoàssuasnecessidadessemse-guir um modelo pronto ou engessado que ignoraria as particularidades, por outro, torna a contabilidade da assistênciaeosparâmetrosparaanálisedesuaefeti-vidademuito fluidos e difíceis de seremmensurados(Klemig,2014).

Em relação ao nível de renda dos participantes, oquadro indicaque,nacooperaçãotradicional,háumaclara verticalização do ponto de vista financeiro, emqueosdoadoresdetêmumnívelderendapercapitamuito maior do que os receptores do apoio. O quadro assinalaquenacooperaçãoSul-Sulospaísesdoadorese receptores possuem nível de renda semelhante, mas nemsempreissoseverificanaprática.Umolharsobre

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os principais doadores em cooperação sul-sul indicaqueestessão,naverdade,paísesderendamédia,por-tanto com renda per capita maior do que os recepto-res da ajuda, normalmente países de menor desenvolvi-mentorelativo.UmexemplopráticoéodaassistênciaemcooperaçãotécnicaagrícolaprestadapelaEmpresaBrasileiradePesquisaAgropecuária(EMBRAPA,2008)aos países do Cotton-4 (Benin, Burkina Faso, ChadeeMali).EssegrupodepaísesdaÁfricaSubsaariana(eintegrantes do grupo de países de menor desenvolvi-mentorelativo)buscacomoapoiodoBrasilmelhorara qualidade e a quantidade do algodão produzido naregião,umavezqueocultivodealgodãoémuitoim-portanteparaos4paísesqueparticipamdoprojeto,sendoosetoralgodoeirovitalnageraçãodetrabalhoerenda,chegandoemalgunscasosarepresentaraté50%doprodutointernobruto.(ABC,2009).

É preciso que haja um cuidado nas práticas dosnovos doadores para que as assimetrias de renda em relaçãoaospaísesbeneficiáriosdaassistêncianãosig-nifiquemumahierarquizaçãoda relação,oquemina-riaoprincípio,porelesdefendido,dahorizontalidadeda cooperação Sul-Sul e configuraria, na prática, umareprodução da verticalização em moldes similares àcooperaçãotradicional,porelescriticada.AtualmenteaChinaéoprincipalatoremcooperaçãoSul-Sulparao desenvolvimento econômico e prioriza a Ásia e aÁfricaemseusprojetos.(Klemig,2014).

Corrêa (2010, p. 51) confirma essa percepção deque,dopontodevistaprático,oprincípiodacoope-raçãohorizontalédifícildeserverificado.Aafirmaçãodoautorganhaaindamaisrelevoconsiderando-sequeele é um agente de política externa brasileira atuante naárea:“ocaráterhorizontaldasrelaçõesdecoope-raçãosul-sulseriaumdosseusprincipaiscondutores,mas realisticamentenãopodeserconsideradocomopresenteemtodasassituações,umavezqueosenor-mesdesníveisexistentesentreosprópriospaísesemdesenvolvimento resultam em situações onde o país

cooperante assume um papel mais protagonista do que odopaísparceirodainiciativadacooperação”.

ACSSparaodesenvolvimentoguardaprincípiosearcabouços históricos comuns entre os seus partici-pantes,masaindaháumagrandedificuldadeemconcei-tuá-lacomoumacategoriaanalíticahomogênea,dadasasdiferençasdaspráticasdecooperaçãoentreosno-vosdoadores.Quadir(2013,p.324)explicaque,muitasvezes,osdoadoresdoSulnemsemprecompartilhamumavisãocomumsobredesenvolvimento.Segundooautor,elesfrequentementeperseguemumaativaagen-da de desenvolvimento baseada em sua distinta con-ceptualizaçãododesenvolvimento, que, por vezes, dápoucaatençãoavalorescomojustiçasocial,sustentabi-lidade ambiental, democracia e direitos humanos. Para ele,osnovosdoadoresfrequentementeenfatizamumnúmerodiferentedeassuntosetemasquenãoneces-sariamentegiramemtornodeumapremissaideológicacentral.

NagestãoLuladaSilva, as relaçõesentreBrasil eocontinenteafricanoseintensificaramtantopeloco-mércioquantopelaatuaçãodeempresasnacionais.En-treosprotagonistas governamentaisestãooBNDES,oMinistériodoDesenvolvimento,IndústriaeComér-cioeoMREnofortalecimentodoslaçoseconômicoscomaÁfrica.Quantoàiniciativaprivada,asempresasinstalam-senaÁfricaparaatuarememtrêsdiferentestiposdenegócios:exploraçãodasoportunidadesdosmercados nacionais, extração de recursos naturais econstruçãodegrandesobraspúblicas.Destacam-seostrabalhosdegrandesempreiteirasbrasileiras,daValeedaPetrobrás.

Naáreadasaúde,agestãoLulabuscoucontribuircom os países africanos ao intensificar o combate adoenças,principalmente,aAIDSeamaláriaatravésdacapacitaçãodeprofissionais,fortalecimentoinstitucio-nal e intercambio de técnicas e conhecimentos. Foram assinados 53 atos bilaterais com 22 países, incluindo

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umacordopara instalaçãodeumescritório regionaldaFundaçãoOswaldoCruz(Fiocruz)emMoçambique.

Naáreadaeducação foramrealizados55atosbi-lateraiscommaisde20países,destacando-se19me-morandosdeentendimentoe21acordos.Dentreosacordos,ressalta-seacriaçãodaUNILAB(Universida-deLuso-Afro-Brasileira), a implementaçãodeprogra-masdiversosdeapoionaáreadeeducaçãoapaísesdaCPLP.Nestemesmosentido,agrandemaioriadospro-jetosqueoBrasilexecutanaÁfricacontemplaalgumtipo de cooperação em formação profissional. JuntocomoMRE,verifica-seaparticipaçãodeoutrasinsti-tuiçõessociaiscomoONG’soumesmosemavincula-çãogovernamentalainiciativaprivadabuscaajudarnaformaçãodeprofissionais.QuantoàiniciativadagestãoLula, merecem destaque dois memorandos de entendi-mentoassinadospeloInstitutoRioBrancoeacademiasdiplomáticas doQuênia e do Egito, além deAcordode cooperação com aAcademiaRealMarroquina deDiplomacia, osAjustes Complementares para imple-mentaçãodenúcleosdeformaçãoprofissional(Angola,Zâmbia,Moçambique,Guiné-Bissau,entreoutros),eosdois ajustescomplementares relativosa formaçãoderecursos humanos para produção de cana-de-açúcaredepalmaafricananoCongo.HáparticipaçãonessesprojetosdosMinistériosdaSaúde,Educação,EsporteeAgricultura. SENAI e SENAC são instituições cujasiniciativas também se destacam.

3. CSS e condicionalidades

O termo“condicionalidade” representao aspectoregulatóriodorelacionamentoentreaspartesenvol-vidasemumprogramadefinanciamentointernacional,tanto entre Estados quanto por intermédio de Insti-tuiçõesFinanceiras Internacionais (IFIs),comooBan-coMundial e o FundoMonetário Internacional e osEstadosreceptoresdofinanciamentoparaprojetosdeassistência.Usa-seaexpressão“condicionalidade”parareferir-se às condições específicas de regulação dos

programas de assistência financiados, tanto em nívelsetorial quanto nacional. As condicionalidades políticas ou programáticas não são especificadas nos acordoslegaisdefinanciamentodosprojetos,masdescritasemdocumentos separados incorporados a esses acordos. Comooutrasobrigaçõesemcontratosdeorigemfi-nanceira, o princípio da condicionalidade contém uma obrigaçãodenaturezafiduciária,destinadaaminimizarosriscosde“calote”pelapartereceptoraoumauusodosrecursosdestinadosaoprojeto.Adiferençaemre-laçãoaosdemaiscontratosfinanceirosresidenofatode que a doutrina de condicionalidades é mais ampla e maisintrusivadoqueasrelaçõescontratuaistradicio-nais.Emparticular,oconteúdodaspráticasabarcadaspelo termo condicionalidade vai muito além da super-visãodosaspectosfinanceirosdoacordoaocentrali-zar-seprincipalmenteemmudançasdepolíticasgover-namentais e reformas institucionais no país receptor.Entende-sequeessasituaçãoéreflexonãoapenasdadesproporcionaldiferençaentreopoderdebarganhadodoadoreodoreceptornarelaçãodeassistência,mas tambémdoobjetivo“disciplinar”dosprogramasdefinanciamentoaodesenvolvimentocomoumtodo:levaroEstadoreceptoraprosseguircomreformasdo-mésticasnapersecuçãodeobjetivossociais,econômi-cosepolíticosdainstituiçãoouEstadofinanciadordoprograma(Tan,2010,p.2-3).

CélineTan(2010,p.4-6)explicaqueousodecon-dicionalidades está presente em grande parte dosprogramasdeAssistênciaOficialaoDesenvolvimento(AOD).Ascondicionalidadesligamosdoiscomponen-tesdarelaçãodeassistência:normativoeoperacional.Ocomponentenormativorefere-se,demodoamplo,àinfluênciasobreaorganizaçãosocial,política,econô-micaeideológicanospaísesreceptores,eooperacio-nal às atividades concernentes à implementação dosprojetosdeassistência,incluindo-seassistênciatécnica,desenvolvimentodeinfraestruturaeassistênciaemer-gencial.

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Schmitz(2006)explicaqueousodecondicionalida-des,entendidascomoformasvinculantesdeapoioparaa implementação de reformas nos países em desen-volvimento, segundo moldes dos países doadores, tem sido alvo de críticos que argumentam que, como ins-trumentodecooperação,ousodecondicionalidadesnãotemlevadoaosresultadosesperadosetemapenascontribuído para um grau limitado de desenvolvimen-to econômicoe social emelhorada governançanospaísesreceptoresdaassistência.Aomesmotempo,ospaísesdoadoresjustificamseuusocombasenapreo-cupaçãocomaeficiência administrativa, transferênciae bom uso dos recursos como elementos centrais da boagovernançanosseusprópriospaísesequedevemguiar o relacionamento com os países receptores.

InoueeVaz(2012,p.508-510)explicamqueapre-ferênciadogovernobrasileiropelostermos“parceria”,“Sul-Sul” e “cooperação horizontal” objetiva sugerirqueaassistênciabrasileiraaodesenvolvimentoéqua-litativamentediferentedopadrãoderelaçõesNorte-Sul.Paraosautores,apreferênciadogovernobrasileiroporreferir-seàsuacooperaçãotécnica,científica,tec-nológicaefinanceiracomo“cooperaçãointernacional”em vez de usar a terminologiaAssistênciaOficial aoDesenvolvimento(AOD)ou“ajudainternacional”,nãoéapenasumaquestãofilosóficamastambémacurada,nosentidoqueosprogramasbrasileirosnãoenfatizamoscomponentesdeempréstimosefinanciamentostaisqualadefiniçãodeAODpelaOCDE.

Deacordocomosautores,essadistinçãofeitapelogoverno brasileiro é reveladora do desconforto dosagentesdepolíticaexternabrasileiraemrelaçãoàideiade hierarquia entre doadores e receptores presente nasrelaçõescomosdoadorestradicionais.InoueeVaz(2012)entendemqueoBrasil temconsistentementetentadodissociar-sedopaternalismo,dousodecon-dicionalidades e da interferência política comumenteassociadaàimagemdosdoadorestradicionais.Essain-terpretaçãodos autores é significativa para perceber

queaopçãobrasileirapelaausênciadecondicionalida-des pode ser entendida como um recurso de vantagem competitiva do Brasil diante dos doadores tradicionais juntoaospaísesreceptoresdosprojetosdeassistência.

ParaFernandoAbreu,diretordaABC,omaioren-gajamentodoBrasilemcooperaçãocomoutrospaíseséumaconsequêncianaturaldocrescimentodopaís,deampliaçãodassuascapacidades,entreelasadecoope-ração.Odiretordestacaaindaaatualsituaçãode“per-filmisto”doBrasil,quepassouaprestarcooperaçãomais intensamente a partir do governo Lula, mas ainda éreceptordeprojetosdeassistência.5

Percebe-sequeasolidariedadeéumdoselementosquecompõemodiscursobrasileirodeengajamentonaCSS, mas ela não é fator único oumesmo determi-nante.Nesse sentido, o ex-ChancelerCelsoAmorimafirmaque“nãoexistefaltadeinteresse.Oqueexis-te,emvirtudedaformaçãocultural,domomentoemqueoBrasilsurgenocenáriointernacional,edeváriosfatoresdessetipo,éapossibilidadedefazerumacoi-samais flexível, que realmente temumelemento desolidariedadebastantemarcado”.Amorimafirmaaindaque“nãohádúvidadequeamédioelongoprazoháum interesse de ter apoio dos países, que as nossas te-sessejambemrecebidas,queanossavisãodomundosejabemrecebida”.6

A estratégia de intensificação daCSS reforçaria apretensãobrasileiraemestabelecer-secomoumalide-rançanoplanointernacional,articulandoapoiosealia-dosapartirdepaísesnão-centraisnosistemamundial,aomesmotempoquearealizaçãodessacooperação

5 EntrevistaconcedidaàMarianaKlemig.Brasi-lia,jan.2014.

6 EntrevistaconcedidaàMarianaKlemig.Brasí-lia,nov.2013.

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sem as aparentes condicionalidades contribui para o seu discurso de questionamento da ordem internacio-nalcentradanasgrandespotências,poisreiteraaideiadequeseriapossíveloestabelecimentodearticulaçõessemanecessidadedeestabelecerumalógicadesub-missãodeumadaspartese,portanto,semaperdadesua autonomia.

4. Conclusão

Entendemos que ao destinar ao tema da coo-peração Sul-Sul um lugar de destaque em sua diplo-macia,agestãoLuladaSilvarenovouaimportânciadaimaginaçãoedenovaspossibilidadesentreasnaçõeshistoricamente dependentes da ajuda das nações doNorte e recolocou a periferia como sujeito de seusprojetos e possibilidades na ordem internacional carac-terizada pela multipolaridade benigna.

De certo modo, esse modelo de CSS alinha-se àestratégiadedefesadeumainserçãointernacionalau-tônomaporpartedaquelespaísesconsideradoscomoEstados industriaismodernizantes(Nye Jr,2002).Par-ticularmente, no caso do governo Lula da Silva, essalógicadeaçãomostrou-seeficaznaconstruçãodeumaimagem internacional do país como um novo tipo de liderança, voltada para uma articulaçãomais solidáriaentre os parceiros e menos impositiva por parte do ator mais poderoso.

Porém,pormeiodeumaanálisealémdodiscursooficial da política externa brasileira, percebemos queháabuscadeuma“solidariedadeinteressada”.Atravésdela,oPaísexercitaacooperaçãocomoinstrumentode política externa e entende como um investimento os recursos humanos, físicos e financeiros aportadosnosprojetosdecooperaçãoparaodesenvolvimento.Umacertavisãorealistaatenuadadasrelaçõesinterna-cionaisparecepresentenaformulaçãodaajudainter-nacional prestada pelo País no período aqui analisado.

A ação de um país de‘renda média’ como o doBrasilnoterrenodacooperaçãointernacionalSul-Sulécomplementaràs açõesdomodelodecooperaçãoNorte-Sul,umavezqueoPaísnãodispõedegrandesmargens orçamentárias para fazer frente à demandaquecertamenteexistepormaiscooperaçãoa“fundoperdido”.NoentantoaimagemdoPaísnocampodacooperação internacional está deixando de ser a dereceptorparasetransformaremimportantedoador.

O presidente Lula da Silva foi bem-sucedido namontagemdeumaestratégiadefortalecimentodosof-t-power brasileiro. Sua liderança estava fundamentadanadefesadaautonomiadosparceirosenumdiscursoemdefesa do desenvolvimento comum, de uma soli-dariedademaiorequeabarcavatambémaconstruçãodeumanovaagendainternacional(comoainclusãodotemadafomeepobreza),enacooperaçãosemcondi-cionalidadesque indicariaumadisposiçãoemestabe-lecerumanovaformadearticulaçãoentreospaíses.

Comoafirmamosnoiníciodestetrabalho,emquepese a dualidade presente no debate acerca da coope-raçãoSul-Sulentreahegemoniaeabuscadeautono-mia,entendemosqueaoseapoiarnarevisãodoster-mosemqueseprocessamasrelaçõesdecooperaçãoesuasmodalidades,agestãoLuladaSilvaabriuumnovoespaçoparaserealizaracordosdegrandeenvergaduranoqueserefereaonovodesenvolvimentoetambémparaumanovacompreensãodaimportânciaeasno-vasatribuiçõesquepaísesdoperfildoBrasil–“rendamédia” - começam a ocupar no conjuntomaior dasrelaçõesinternacionais.

Noentanto,essaestratégiapolíticaencontrouseulimitenaprópriacapacidadedosistemapolíticoeeco-nômicobrasileirode sustentaressedesenvolvimentoperifériconumcenáriomundialderecessão,ededarcontinuidadeàconstruçãodeumaliderançanaausênciadeumafiguracarismáticacomohaviasidoopresidenteLuladaSilva.Aestratégiachamadaaquide“solidarie-

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dade interessada” pressupunha, de certomodo, umaaçãodelongoprazoqueconsolidasseasnovasaliançase parcerias, garantindo apoio aos interesses brasileiros nosistemainternacional.OgovernodeDilmaRousseffnãoconseguiuconsolidaresselegado.

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