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Resumo – FES 1 – 1º Semestre de 2011 Prof. Nozoe

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Resumo – FES 1 – 1º Semestre de 2011

Prof. Nozoe

Aula 1 - Texto – Caio Prado Jr. Páginas 19-32 e 119-130

Método de análise – descreve e análisa os acontecimentos mais importantes. Nesses acontecimentos, procura a sua natureza e os objetivos do comportamento humano.

Busca entender qual é a intenção de quem colonizou o Brasil. (porquê?)

Tenta entender qual a consciência do colonizador e as contingências nas quais aquela busca se há de realizar.

Como o colonizador realizará o lucro comercial depende das contigências, que são o sentido da colonização -> intenção do colonizador (lucro)+ condições naturais.

Perfil do colonizador (mentalidade): Caio Prado Jr elabora, a partir dos fatos anteriores ao descobrimento e à colonização do Brasil. -> desenvolvimento do coméricio europeu desde o século XI -> depende dos contatos do mundo árabe.

No século XII, a Península Ibérica está fora da rota comercial (à margem do comércio).

No século XV, o comércio vai crescentemente se deslocando para a via marítima. Ocorre um processo gradual. -> cresce, em Portugal, cidades e burguesia comercial. Há uma mudança na estrutura econômica.

O comércio através dos italianos, limita o crescimento da burguesia, passsam a buscar novas rotas, iniciando uma expansão ultramarina. -> é com o objetivo comercial que se chegou às outras localidades.

Pressuposto de Caio Prado Júnior -> o português chega à América já com espírito de comerciante, em busca do lucro.

Fator determinante para que fossem os portugueses (Primazia)

1. Localidade – era mais fácil para sair de Portugal e havia menos chances de Portugal conseguir ocupar a Europa.

2. 1415 – Portugal ataca Ceuta, que era o celeiro do trigo, da indústria têxtil. Um entreposto comercial, inúmeras caravanas passavam pela cidade. Havia inúmeras mercadorias de interesse de Portugal.

3. 1498 – Chegada de Vasco da Gama em Calicute -> costa ocidental africana, ilhas atlânticas (Madeira e Açores), Costa ocidental africana. Os portugueses desembarcam em Calicute, cidade muita mais evoluída do que a Europa Ocidental. Conseguem estabelecer uma feitoria (estanco real), porém, não entram em contato com os meios de produção. Outros países passam a tentar entrar nesse comércio. Portugal perde essas feitorias durante a União Ibérica.

Obs. Até metade do século XV, apenas Porugal faz a expansão marítima.

Objetivo da expansão marítima -> romper com o monopólio das cidades italianas.

O caráter da expansão ultramarina é o interesse comercial.

No Brasil

1. tentam estabelecer feitorias para obtenção do pau-brasil. 2. Levam índios para a Europa (animar festas + cultura e riquezas naturais)

O Brasil era apenas um detalhe no episódio, apesar da colonização e instalação de unidades produtivas, o objetivo era comercial.

Porque foi preciso colonizar o Brasil?

Havia uma população indígena que não produzia excedente apropriável. -> recorre-se assim a uma prática desconhecida, a necessidade de povoar para produzir generos de interesse. O grande problema é que Portugal não tem população suficiente.

Tipo de colonizador -> os trópicos repelem o colonizador típico. Não há migração espontânea para o Brasil. Atrai apenas colonos interessados em obter especiarias. Os colonos vem para o Brasil apenas para serem dirigentes da produção, não para trabalharem. Há uma necessidade de capital.

Para atrais colonos, a Coroa Portuguesa concede sesmarias, que consiste na transferência de terras do patrimônio público para o setor privado). A única obrigação do proprietário era pagar o dizimo para a Coroa Portuguesa.

Com a falta de população, a única alternativa era a escravidão – foram utilizados o índio nativo e o negro africano (já havia um comércio regular, para trabalhos domésticos).

Obs. Portugal sempre teve escravos aprisionados de guerra. Culturalmente, já estavam acostumados com a escravidão.

Porque utilizaram o escravo africano?

O índio possuia um fluxo de oferta irregular e estavam pouco habituados ao sistema de produção.

As condições naturais determinam a forma de exploração

a) Forma de organização da produção – Plantation, caracterizado pela grande propriedade, escravista e monocultura.

b) Estrutura econômica -> grande lavoura e subsistência (depende de outro setor e pode ser internalizada).

c) Exportadores -> o próprio centro de dinamismo foi mudando com a mudança do produto a ser exportado.

O Brasil é apenas um fornecedor de gêneros para o comércio europeu.

Evolução da economia brasileira

1. Cíclica (positiva / negativa) 2. Predatória 3. Móvel no espaço

O comércio europeu busca o lucro comercial (objetivo do colonizador). A Ásia e a África produzem excedente comercial, por isso, não há uma interferência da prdução.

No Brasil, não há produção de excedente comercial, havendo a necessidade de organizar uma produção.

Efeitos negativos da colonização portuguesa -> incoerência e instabilidade no povoamento. A colonização não tem o sentido de constituir uma base econômica sólida e orgânica.

Como consequências, o trabalho escravo só gerará o trabalho forçado, degrada e degener

Fragmentos importantes do texto lido para a aula

• O sentido da colonização não se percebe nos pormenores da história, mas no conjunto dos fatos e acontecimentos essenciais que constituem num largo período de tempo.

• Forma-se de uma linha mestra e ininterrupta de acontecimentos, que se sucedem em ordem rigorosa, e dirigida sempre numa determinada orientação.

• A colonização portuguesa na América não é um fato isolado, a aventura sem precedente e sem seguimento de uma determinada nação empreendedora.

• A colonização aparece como um acontecimento fata e necessário, derivado natural e espontaneamente do simples fato do descobrimento.

• A colonização da América constitui um capítulo que particularmente nos interessa aqui, se origina de simples empresas comerciais levadas a efeito pelos navegadores daqueles países. Deriva do desenvolvimento do comércio continental europeu, que até o século XIV é quase unicamente terrestre, e limitado, por via marítima.

• O papel de pioneiro nesta nova etapa caberá aos portugueses, os melhores situados, geograficamente, no extremo desta península que avança pelo mar.

• Todos os grandes acontecimentos desta era, que se convencionou com razão de chamar dos ‘‘descobrimentos’’, articulam-se num conjunto que não é senão um capítulo da história do comércio europeu. Tudo que se passa são incidentes da imensa empresa comercial a que se dedicam os países da Europa a partir do século XV.

• Os portugueses traficarão na costa africana com marfim, ouro, escravos, na Índia irão buscar especiarias. Para concorrer com eles, os espenhóis, seguidos de perto pelos ingleses, franceses e demais, procurarão outro caminho para o Oriente, a América, com que toparam nesta pesquisa, não foi para eles, a princípio, senão um obstáculo oposto à realização de seus planos e que devia ser contornado.

• A idéia de povoar não ocorre inicialmente a nenhum. É o comércio que os interessa, e daí o relativo desprezo por este território primitivo e vazio que é a América. Inversamente, o prestígio do Oriente, onde não faltava objeto para atividades mercantis. A idéia de ocupar, não como se fizeram até então em terras estranhas, apenas como agente comerciais, funcionários e militares para defesa.

• A colonização ainda era entendida como aquilo que dantes se praticava, fala-se em colonização, mas o que o termo envolve não é mais que o estabelecimento de feitorias comerciais.

• Para os fins mercantis que se tinham em vista, a ocupação não se podia fazer como nas simples feitorias, com um reduzido pessoal incubido apenas do negócio, sua administração e defesa armada.

• As areas temperadas só foram povoadas por circuntâncias muito especiais. É a situação interna da Europa, em particular a Inglaterra, as suas lutas político-religiosas, que desviam para a América as atenções de populações que não se sentem à vontade e vão procurar ali abrigos e paz para suas convicções.

• Área tropical e subtropical da América -> são trópicos brutos e indevassados que apresentam uma natureza hostil e amesquinhadora do homem. O colono viria como dirifente da produção de gêneros de grande

valor comercial, como empresário de um negócio rendoso, mas só a contragosto como trabalhador. Outros trabalhariam para ele.

• Em Portugal, a população era tão insuficiente que a maior parte do seu território se achava ainda, em meados do século XVI, inculto e abandonado. Faltavam braços por toda a parte, e empregava-se em escala crescente mão-de-obra escrava.

• A colonização dos trópicos toma o aspecto de uma vasta empresa comercial, mais completa que a antiga feitoria, mas sempre com o mesmo caráter que ela, destinada a explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu. É este o verdadeiro sentido da colonização tropical, de que o Brasil é tanto no econômico como no social, da formação e evolução históricas dos trópicos americanos.

• Se vamos à essencia da nossa formação, veremos que na realidade nos constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros, mais tarde, ouro e diamantes, depois algodão, e em seguida café para o comércio europeu. Nada mais que isto. É com tal objetivo exterior, voltado para fora do país e sem atenção a considerações que não fossem o interesse daquele comércio, que se organizarão a sociedade e a economia brasileiras.

• O “sentido” é o de uma c olônia destinada a fornecer ao comércio europeu alguns genêros tropicais ou minerais de grande importância.

• Os três grandes caracteres – grande propriedade, monocultura, trabalho escravo são formas que se combinam e complementam, derivam diretamente e com consequencia necessária daqueles fatores.

• Escravidão -> necessidade. O problema e a solução foram idênticos em todas as colônias tropiacais e mesmo substropicais da América.

• Mutatis mutandis -> a mineração que a partir do século XVIII formará a par da agricultura entre as grandes atividades da colônia, adotará uma organização que afora as distinções de natureza técnica, é idêntica à agricultura. A exploração de larga escala que predomina.

• Terceito setor de exploração é o extrativo. • De um lado, na sua estrutura, um organismo meramente produtor, e

constituído só para isto – um pequeno número de empresários e dirigentes que senhoreiam tudo, e a grande massa da população que lhe serve de mão-de-obra. Doutro lado, no funcionamento, um fornecedor do comércio internacional dos gêneros que este reclama e de que ela dispõe. Finalmente, na sua evolução, e como consequência daquelas feições, à exploração extensiva e simplesmente especuladora, instável no tempo e no espaço, dos recursos naturais do país. É isto a economia brasileira que vamos encontrar no momento em que abordamos sua história.

Aula 2 – Celso Furtado – Formação do Brasil Contemporâneo (1959)

• É a junção de vários trabalhos do Celso Furtado • Foi escrito fora do Brasil. • Publicado quando o paradigma pradiano estava solidamente estabelecido • Análise keynesiana e estruturalista do processo histórico da economia

brasileira até 1950.

Obs. Estruturalismo -> nome dado ao método de análise da Cepal (preocupada com o impacto da taxa de câmbio e das restrições externas). Constitui no aproveitamento econômico do território baseado em “vantangens comparativas”.

Países desenvolvidos -> exportadores de matéria-prima.

Divide a história econômica do Brasil em grandes ciclos (uma necessidade). Examina os mecanismos próprios de cada ciclo (poucos instrumentos de análise macro e microeconômicos).

• Fluxo de renda • Fatores produtivos escassos (capital e escravo) x Fatores abundantes

(terra e trabalho livre -> no café) • Oferta x Demanda • Multiplicadores

Defesa do ponto de vista -> subdesenvolvimento resulta de um processo histórico de desenvolvimento do capitalismo no âmmbito planetário e não um estágio (tese de Rostow).

A existência dos países desenvolvidos atrapalha os países subdesenvolvidos. É necessário examinar a história para alcançar o desenvolvimento.

Desenvolvimento do subdesenvolvimento -> foi marcado por repetidos “soçobros” na decadência da exportação. Faz a pergunta de porque nesses momentos de “soçobros” não surgiu a industrialização?

• É a obra mais conhecida. Faz um esboço do processo histórico de formação da economia brasileira.

• Sem referências bibliográficas (já estavam nos estudos de base). • Tratamento abrangente, sem reconstituição dos eventos históricos.

Repercurssões

• Explica o Brasil para estrangeiros, acabou explicando para os próprios brasileiros

• É uma obra otimista -> acredita que o Brasil pode chegar ao desenvolvimento.

Influências teóricas -> não se filia a uma única corrente. Tira de cada autor / corrente, o que é, a seu ver, correto ou adapatável à realidade brasileira.

Influências intelectuais

• Casa Grande e Senzala (Gilberto Freyre) -> mostra os problemas culturais de hoje, eram racionais. Razão dos negros serem assim, é pela situação em que se encontram.

• Karl Manheim -> agentes sociais voltada para fins objetivos. • Marx -> perspectiva historicista, visão do capitalismo e dos estado.

Repúlbica Federativa -> é um conquista / instrumento ds cafeicultores. Forma de organização dos estados que acomodava interesses variados e conflitantes. Era a única forma viável.

• Alberto Torres e Oliveira Vianna -> pensamento autoritário • Incorpora o papel do estado

A economia deve ser uma ciência voltada para a solução de problemas sociais

• 1949 -> diretor da Cepal (divisão de desenvolvimento econômico)

Estruturalismo no Livro ->

• Críticas ao comércio internacional livre, baseado nas vantagens comparativas.

• Estruturas duais -> setor exportador e subsistência • Reiteração dos mesmos -> subdesenvolvimento/elites

O autor mais citado é Simonsem, com quem polemiza/discorda com frequência.

Temas principais

• Economia brasileira -> exportadora • Escravista -> açúcar, ouro, algodão, café

a) Assalariada -> café (pós 1850) b) Industrialização -> substituição de importações

Pontos específicos

• Relações entre o setor exportador e a economia de subsistência -> escravista e industrialização

• Desequilíbrio regional e dualismo • Origens do atrasodo Brasil frente aos EUA na primeira metade do século

XIX • Abolição da escravatura -> consequencia da escassez de oferta e escravas • Relação de economia assalariadas exportações e o desequilíbrio externo • Política cafeeira e industrialização

Esquema interpretativo da fase escravista

• Brasil -> produção baseada nos recursos naturais para a produção de gêneros de interesse do comércio europeu em expansão

• Monopólio -> alta taxa de rentabilidade (duplicar a produção em 2 anos) • Base do trabalho escravo -> baixa produtividade. • Escravo é africano -> já existia a estrutura de apresamento e

comercialização. • Trabalho barato para reduzir custos -> o escravo tem baixa produtividade ->

precisa de monopólio • O escravo -> ausência de vontade própria, piores condições de trabalho

(vontade do colonizador).

Na produção -> o escravo se comporta como se fosse um capital fixo

No consumo -> o escravo é um bem durável

Gera fluxo de serviços, sem gerar renda (sem fluxo monetário). Não cria mercado interno.

Obs. O escravo tem um custo de manutenção. Trabalha na roça para prover suas necessidades (mão-de-obra escrava líquida). Não gera um fluxo monetário. Só há fluxo monetário no comércio exterior.

No ciclo de preços do produto

• Redução da receita = (redução do preço)x(quantidade) • Custos = fixos(escravos, equipamentos)

Portanto -> o lucro cai

No curto-prazo -> há a manutenção do pleno emprego

No longo-prazo -> há uma queda de reposição (perda de ativo). Não há reposição de escravos, etc. O engenho diminui.

Ausência de fricções sociais em prol do densenvolvimento de setores voltados para o mercado interno. Nível menor de produção (o que aconteceu na Austrália, pós mineração)

Aumento do setor de subsistência

Economias escravistas -> circulação monetária somento no comércio exterior.

Investimento/consumo -> importação. Não criam um fluxo monetário na colônia.

Econômia de exportação com trabalho assalariado para Celso Furtado -> fluxo circular da renda. -> renda e produto circulam.

Receita do setor exportado

Renda dos assalariados Renda dos proprietários

Consumo importação poupança

Críticas à Formação Econômica do Brasil -> localizadas / ao modelo interpretativo

Localizadas

• Iglésias -> na perspectiva da “ciência normal” -> falta de pesquisa e crítica documental. Excesso de extrapolação e raciocínios hipotéticos. Não faz crítica ao conjunto da obra. Celso Furtado abusa do uso de verbos no condicional. 1. Hipótese -> 2. Parcialmente verificada -> 3. Virou verdade

• Rentabilidade da empresa açucareira (possibilidade de dobrar a cada 2 anos) Fréderic Mauro -> rentabilidade negativa Stuart Schwartz -> positivo e maior que nas Antilhas

• Decadência da mineração R. Borges Martins -> escravos em MG no censo de 1872. Os resultados não batiam com o que Furtado falava. A decadência não era tanta; havia atividades voltadas para o mercado interno.

• Carlos Manuel Peláez -> Industrialização e política cafeeira após 1830

Furtado sempre reconheceu limitações de seu trabalho. As conclusões que havia chegado eram as possíveis com os dados de que dispunha quando escreveu.

A economia colonial escravista brasileira:

• Depende da demanda externa e da oferta de africanos; • Sem dinâmica externa e da oferta de africanos • Sem dinâmica própria -> dependente • Sem desenvolvimento endógeno

Em comum com Caio Prado Júnior

Trabalho escravo limita o crescimento do mercado interno.

Ausência de dinâmica própria

Críticas -> visão exportacionista do Brasil (Caio Prado Júnior; Celso Furtado; Fernando Novais).

Pontos importantes dos textos lidos para a aula

Coutinho – A Atualidade do Pensamento de Celso Furtado: Formação econômica do Brasil

• O mais influente e renomado economista brasileiro de sua geração • Formação econômica do Brasil é um ensaio de interpretação da história

econômica brasileira publicado em 1959, tornou-se um espécie de leitura essencial, um item obrigatório na estante de todo cientista social.

• Cumpriu 2 papéis distintos: a) tornar-se um trabalho de referência em história econômica brasileira; b) despertou em muitos leitores o interesse pela teoria econômica.

• Os comentários de Furtado a respeito da teoria econômica são inteiramente orientados por seu envolvimento de toda a vida com os problemas do desenvolvimento.

• O principal problema metodológico nos estudos da economia é “a definição do nível de generalidade – ou de concreção – à qual se aplica qualquer relação com valor explanatório”.

• Os modelos abstratos foram considerados especialmente deficientes, já que levaram em consideração dois aspectos decisivos, a irreversibilidade dos processos históricos e as diferenças estruturais entre as economias conforme seus distintos níveis de desenvolvimento.

• Ou seja, a visão de teoria econômica de Furtado leva em consideração seu duplo caráter, histórico e abstrato.

• O livro é considerado uma das mais importantes aplicações do método de análise estrutural da Cepal. Mais ainda, a obra pode ser entendida como o exemplo mais bem sucedido daquilo que o próprio Furtado entendia como

trabalho de economista: a aplicação de abstrações racionais a uma determinada realidade econômica.

• Sua inovação residiu na descrição dos mecanismos econômicos inerentes a cada ciclo, bem como na interpretação, particularmente original, da transição da agricultura para a indústria.

• A linha de ensaios históricos inclui dois trabalhos anteriores à Formação econômica: a tese doutoral de 1948, A economia colonial brasileira, um estudo da plantation açucareira colonial, e A economia brasileira, uma obra que abrange a história brasileira do período colonial ao pós 1930. Formação Econômica do Brasil representa uma sequência destes dois trabalhos.

• O ponto de referência de Formação econômica é o desenho básico dos fluxos de renda, adaptado a cada um dos grandes ciclos da economia brasileira.

• A descoberta do Brasil, em 1500, representa um episódio da expansão mercantilista portuguesa. Após algumas tentativas frustradas de estabelecer uma exploração lucrativa da nova colônia, os portugueses finalmente introduziram um negócio promissor no território, a plantation canavieira.

• Sua contribuição inicia-se com a incorporação ao enfoque cíclico de uma nova explicação econômica, baseada em poucas variáveis e instrumentos de análise, que incluem, além do fluxo de renda, o contraste entre recursos abundantes e escassos, e um arcabouço dos mecanismos de ajustamento entre oferta e demanda.

• No caso do ciclo açucareiro, a mecânica do ciclo é vista da seguinte forma: a) Os proprietários de terra tomam empréstimos aos comerciantes de

açúcar e importam parte do equipamento e a totalidade dos escravos. O ressarcimento destes empréstimos e a aquisição de escravos e equipamentos irá absorver parte das receitas de exportação de açúcar.

b) Outra parte das receitas constitui o lucro líquido do negócio. Os proprietários aplicam o lucro no consumo de mercadorias européias ou na expansão dos negócios (aquisição de escravos e equipamentos). Assim, todos os lucros, bem como investimento, transformam-se em gastos no exterior.

c) Como não existe trabalho assalariado na economia, os lucros representam a única moeda monetária. Circula pouco dinheiro no interior do território colonial. O modelo simplificado pressupõe que os escravos produzem seus próprios meios de subsistência, no tempo que sobra da atividade principal. Outras atividades importantes, como o transporte e

a provisão de combustível, são também não-monetárias, vale dizer, baseadas no trabalho escravo.

• O sistema de Furtado é dual: produção açucareira (setor dinâmico; alto nível de produtividade) versus setor de subsistência (letárgico, baixo nível de produtividade, ausência de excendete).

• A expansão da economia depende do dinamismo da demanda por açúcar e da emergência de competidores coloniais.

• Terra é o fator abundante -> ignora renda da terra! • Progresso técnico também é desconsiderado -> o sistema expande-se

“horizontalmente”. Os limites da expansão são: a) elevação dos custos; b) a exaustão de terras em boa localização ou de combustível; c) a queda de preços do açúcar, em decorrência da oferta excessiva ou não regulada.

• A crise de plantation da economia não leva à diversificação da economia, nem tampouco a uma substituição relevante de atividades.

• O sistema açucareiro não desapareceu, mas entrou em um estágio letárgico, com consequências sociais profundas.

• Ciclo do Ouro: a) Curta duração e permaneceu confinado numa região bem restrita. b) Os escravos eram autorizados a trabalhar apenas nas minas, e não nas

atividades de subsistência paralela. Dependia de outros setores. c) Os lucros líquidos da atividade mineradora não foram muito elevados,

devido ao peso dos tributos. • O ciclo minerador estimulou a diversificação de atividade e intensificou as

transações monetárias. O efeito multiplicador expandiu a renda. • A curta duração do ciclo aurífero e a falta de capacitação técnica teriam

inibido o desenvolvimento de um mercado interno, a despeito da presença de transações monetárias e de trabalho assalariado.

• Ciclo do café -> ponto de inflexão na economia brasileira. Representou a primeira atividade econômica dependente de um uso massivo de trabalho livre no Brasil.

• Após estabelecido, o trabalho assalariado impôs novas características ao fluxo de renda, que assume os seguintes traços: a) Exportações de café garantem disponibilidade de divisas internacionais.

Parte destas divisas é destinada ao pagamento de bens de consumo dos fazendeiros, que sáo importados.

b) Outra parte dos rendimentos é convertida em moeda nacional e gasto em salários ou em outros insumos para a lavoura cafeeira.

c) Os salários e as outras despesas em dinheiro no mercado interno ativam o mecanismo multiplicador, dinamizando a economia interna. O ciclo do

café estimulou a urbanização e a expansão das atividades econômicas urbanas em geral.

• o trabalho e a terra são fatores abundantes, e o capital fator escasso. • Expansão cafeeira -> resultado de circunstâncias particulares que incluíam a

influência da burguesia cafeeira sobre a política econômica da nascente república e o fato de o Brasil ter-se convertido em um produtor quase monopolista.

• Na visão de Furtado, a política cafeeira pós 1930 desempenhou o papel da construção de pirâmides, do célebre exemplo de Keynes.

• O início do processo de industrialização no Brasil foi uma consequência direta do processo de expansão do café, bem como pelas políticas de proteção adotadas. -> processo de substituição das importações.

• O crescimento da produção industrial interna deve ser visto como uma resposta às mudanças de preços relativos, que por sua vez foram subprodutos dos movimentos drásticos da taxa de câmbio que sucederam o colapso de exportações.

• De acordo com Furtado, ocorre uma elevação de produtividade em 3 circunstâncias: a) absorção de recursos sub-utilizados; b) elevação de preços internacionais, um fenômeno típico das exportações primárias; c) um crescimento de produtividade “smitheano”, típico da manufatura e da indústria.

• Furtado não reconhece a existência de progresso técnico na plantation açucareira e dá pouca importância para isso no caso do café.

• A chave de aumento nas produções coloniais residia nos preços dos produtos de exportação.

• O processo de substituição de importação desperta duas fontes de elevação de produtividade. De um lado, ocorre a transferência contínua de trabalho do “setor de subsistencia” para as ocupações industriais e urbanas. Do outro lado, a atividade industrial em si envolve um progresso técnico e um aumento de produtividade física contínuos.

• Mutatis mutandis -> o progresso técnico não constitui um elemento inerente à economia colonial.

• O curiose é que o setor de subsistência, além de manter as pessoas nele envolvidas, proporciona alimentos para os setores exportadores líderes e para as populações das cidades. Ou seja, o setor de subsistênci produz excedente!. Na verdade, subsistência aparece como sinônimo para baixa produtividade.

• Principais instrumentos de análise econômica presentes na reconstituição racional da história econômica de Furtado são: i) os ajustamentos entre

estruturas de demanda e oferta; ii) o fluxo de renda; iii) o mecanismo multiplicador.

• No processo de substituição de importação, as mudanças nos preços relativos desempenham um papel no ajustamento da oferta e demanda. No entanto, o uso dos preços relativos é limitado – restringe-se aos termos de troca e ao contraste entre tradeables e non-tradeables.

• As importações e o pagamento de fatores no exterior representam vazamentos no fluxo de renda.

• A economia não monetária significa uma espécie de economia residual, ou pouco relevante para a definição das tendências econômicas dominantes.

• A distinção entre os setores líderes e atrasados está definitivamente associada à capacidade de gerar crescimento econômico, e não à tecnologia dominante, ao tipo de força de trabalho utilizada, ou as outras características dos setores de atividade econômica.

• Teoria econômica de Furtado é instrumental -> está voltada à compreensão do desenvolvimento econômico e, particularmente, do desenvolvimento econômico e, particularmente, do desenvolvimento econômico brasileiro, em sua ambiência histórica.

• A análise de Furtado está influenciada pelos destinos imediatos do processo de industrialização.

Tamás Szmrecsányi - Sobre a Formação Econômica do Brasil de Celo Furtado

• Obra pioneira e referencial da nossa historiografia econômica. • Caráter extremamente sintético, não é de fácil assimilação para os que

carecem de adequado preparo econômico e/ou histórico. • Três avisos da introdução: a) o trabalho não passa de “um esboço do

processo histórico de formação da economia brasileira”; b) por isso, há uma omissão quase total de referências à bibliografia histórica brasileira; c) seus últimos capítulos baseiam-se, em parte, num trabalho anterior – o livro A Economia Brasileira, publicado em 1954.

• Base bibliográfica muito precária para uma obra do alcance e da qualidade da Formação Econômica do Brasil.

• Única obra que chega a mencionar é de Robert Simonsen. • CEPAL -> segunda pós-graduação • Tratamento dispensado por Furtado aos dados econômicos e às instituições

de cunho histórico é de indole cepalina e Keynesiana.

Celso Furtado e o pensamento econômico brasileiro – Francisco de Oliveira

• É uma ligação entre a doutrina e ação que é específica na obra de Celso Furtado, e que o tornou o fundador da moderna economia política brasileira.

• A economia política de Celso Furtado é sobretudo isso, uma proposta para ação.

• Furtado teoriza sempre sobre o que lhe é contemporâneo, e sendo alguém que trabalhou no setor público implementando as teorias que construia/defendia, isso lhe conferiu uma enorme proeminência e uma enorme visibilidade no cenário teórico e político do Brasil.

• Teorização sobre economias subdesenvolvidas -> cria uma alternativa às duas concepções, duas vertentes teóricas e doutrinárias que até então predominavam. a) vertente teórica neoclássica e marginalista que domina as ciências econômicas desde o final do século XIX. Essa teoria tornou-se o sistema social de produção dominante nos países centrais e dominante também na sua periferia. b) no banho stalinista, o marxismo tranformou-se numa espécie de teologia, e os países subdesenvolvidos ou atrasados são apenas uma etapa para chegar a ser desenvolvido.

• Campo teórico de Celo Furtado é muito eclético. • A teoria do subdesenvolvimento vai nascer como um desafio dessas

economias que haviam resistido de forma diferente à crise dos anos 1930. Em outras palavras, elas tinham procurado se industrializar, sair da crise do período não voltando ou permanecendo na velha divisão internacional do trabalho.

• Sua teoria da CEPAL se converte numa arma ideológica poderosa a serviço da nova burguesia industrial emergente no Brasil e em outros países da América Latina.

• Solução para o atraso regional -> INDUSTRIALIZAÇÃO • Enormes lacunas teóricas da teorização furtadiano-cepalina comparecem.

Em primeiro lugar, o encobrimento dos antagonismos sociais: o desenvolvimento não é pensado como um processo de luta social, de luta de classes, como um processo conflitivo. Ao contrário, é pensando em termos exclusivos de interesses proeminentes em escala nacional. Essa falha teórica vai cobrar pesados juros, não tão pesados quanto os da dívida externa, mas batante pesados do ponto de vista teórico e social.

• Questão contraditória das classes sociais em qualquer processo de expansão capitalista era colocada de maneira falsa ou pelo menos equivocada. Furtado inventou uma luta de classes entre trabalhadores -> denuncia insuficiência teórica da produção cepalino-furtadiana.

• À base teórica cepalino-furtadiana, faltou sempre uma teoria de acumulação, que não pode ser confundida com a formação de capital, e o período pós-autoritário gestou formas de acumulação.

Texto – Fernando Novais -> O Sentido Profundo da Colonização

Fim último da colonização -> para Caio Prado Jr. é o comércio europeu. Já para Fernando Novais, o fim último é a acumulação primitiva.

A colonização do novo mundo é uma peça do sistema, é um instrumento para a acumulação primitiva.

Sentido profundo da colonização -> comercial e capitalista, isto é, elemento constitutivo no processo de formação do capitalismo moderno.

Período entre o feudalismo e o capitalismo (séculos XV – XVIII) -> segundo Marx, a acumulação primitiva ou originária -> é o processo entre o trabalhador e as condições objetivas de trabalho.

O que é diferente, é que mudou a propriedaqde. Essa separação, porém, não é simultânea em todos os países. Cada país foi de um jeito, um exemplo disso é a lei de cercamentos na Inglaterra.

Para Fernando Novais, a expansão ultramarina e a colonização da América aconteceram nesse período. Ele relaciona a colonização com a acumulação primitiva de capital.

Obs.: para Caio Prado Jr., o comércio é a finalidade para a colonização.

Marx e a Acumulação primitiva de capital -> é o conceito chave para explicar a origem capitalista. Explica como surge, historicamente, a relação entre o capitalismo e os meios de produção. Os meios de produção foram acumulados nas mãos de outro segmento social.

Passos para o Sentido Profundo -> acumulação primitiva de capital. Elaboração do conceito: o ponto de partida é o de “aproximações sucessivas” -> conceito geográfico.

Conceito dialético -> superação -> transfere a teoria da geografia para a teoria da história -> reforça esses elementos.

Colonização é: conceito geográfico -> modalidade das migrações humanas. Expansão das áreas habitadas pelo homem (humanização da paisagem). -> se houver equilíbrio, não há migração. Equilíbrio esse entre: i) recursos naturais; ii) técnicas produtivas; iii) população.

Sem o equilíbrio, a população passa a migrar. Ocorre uma humanização da paisagem. -> ênfase entre o homem e a natureza. Para Fernando Novais, isso é insuficiente. A

ênfase é somente entre homens. Ele é excessivamente generalizador. -> destaca o que existe de comum em todos os fenômenos de colonização.

A colonização foi condicionada pelo momento entre o renascimento europeu e a revolução industrial / revolução francesa. -> vigência dos princípios mercantilistas. Organiza as colônias sob a forma de um sistema.

Sistema colonial -> um conjunto de relações Metrôpole x Colônia entre o renascimento e a revolução indistrial / revolução francesa.

a) Nem toda colonização se processou nos quadros do sistema colonial -> exemplo: povoamento na Nova Inglaterra;

b) A reação é variável entre as metrôpoles -> exemplo: observa as legislações entre colônia e metrôpole.

2ª aproximação: a colônia nunca foi um objeto em si de preocupação. Tem o objetivo de dinamizar a vida metropolitana. Conceito: i) legislação ultramarina e, ii) comércio

A colônia serve aos princípios do mercantilismo:

a) Prover mercado aos produtos da metrópole; b) Dar ocupação aos trabalhadores; c) Fornecer artigos para a metrôpole

A causa do pensamento mercantilista é ver a colônia com tais funções:

a) Identifica como metalismo (balança comercial favorável) -> as colônias são importantes pois viabilizam a aplicação dos preceitos mercantilistas

b) Política protecionista -> i) fomento à produção nacional; ii) restrição à saída de matéria-prima; iii) política pró-natalista -> aumento da força de trabalho e redução do salário.

As colônias passam a ter um importante significado na medida em que viabilizam a aplicação dos preceitos mercantilistas. -> auto-suficiência da metrópole.

Insuficiência da 2ª aproxiamação: estabelece as relações funcionais e não o seu papel no processo histórico -> Sentido Profundo é o sentido histórico.

Processo histórico para chegr ao “Sentido Profundo da colonização”:

- ponto de partida -> noção do Antigo Regime, período de transição entre o feudalismo e o capitalismo -> acumulação primitiva -> presença simultânea de elementos do antigo modo de produção e a formação de elementos do modo de produção que o sucedeu.

- Formação do Antigo Regime:

a) comércio -> insurreições camponesas -> i) locais próximos à rota (dissolução dos laços feudais – Ocidente); ii) locais onde o impacto se faz nas camadas altas -> enrijecimento da servidão.

-> insurreições urbanas -> diferenciação social -> i) o comércio começa a acabar com as instituições da cidade, como as corporações de ofício. Parte da produção começa a se ruralizar, para fugir das agremiações. ii) o próprio comércio entra em crise. Crise Social -> que é agravada pela depreçao monetária. Isso gera:

1) incentivo à formação de Estados Nacionais;

2) acirramento da disputa comercial

Obs.: antigas rotas = dominação pela conexão italiana-flamenga.

A possibilidade do comércio esbarra nas rotas -> dificuldade na abertura de novas rotas: i) grande volume de capital; ii) alto risco; iii) longa maturação -> quem faz a expansão ultramarina precisa de uma acumulação à nível nacional. Estado Nacional = Estado Absolutista.

- Estado Absolutista:

i) unifica e disciplina as ordens;

ii) políticas mercantilistas

O êxito reforça o processo de unificação.

3ª aproximação: sistema colonial -> um instrumento da acumulação primitiva. O sistema colonial mercantilista foi a sua principal alavanca na gestação do capitalismo moderno.

Antigo Regime: colônia é um meio para garantir a expansão do comércio, que dado os obstáculos internos, precisa de um ponto de apoio externo.

- Presença pioneira de Portugal -. Precocemente centralizado, cujo processo de formação dos estados nacionais e a expansão ultramarina foi assincrônico.

Dificuldades (concorrência comercial): as colônias vão ficando cada vez mais importantes.

O processo de integração do Novo Mundo (Brasil) à economia européia:

i) Peculiaridade está na organização da produção pela metrópole, que ultrapassa, assim, o âmbito da circulação. Objetivo inicial -> comércio – sistema de exploração semelhante à África e à Ásia. Concorrência de outras metrôpoles (Uti possidetis = o que possui agora) -> necessidade de fazer uma ocupação.

ii) A Espanha acha metal precioso -> se lá existe, aqui também deve existir. Portugal acha interessante, então, preservar a posse do território, acreditam que a descoberta do metal é questão de tempo.

iii) Decisão de poupar -> precisam tornar a colônia um território rentável. Para isso, desenvolvimento de atividades econômicas – capitanias hereitárias. Forma pela qual o Estado Português, sem recursos, encontrou para colonizar via capital privado. -> passagem da esfera da circulação para a esfera da produção. Mantém a essência comercial.

iv) Elementos fundamentais do sistema colonial -> promover a acumulação primitiva de capital da metrópole via: a) exclusivo metropolitano; b) tráfico transoceânico de africanos e; c) escravismo.

Partes importantes do texto -> Fernando Novais – página 57 - 107

- é do estudo do próprio sistema de colonização que temos de partir, pois a crise, que então se manifesta, expressa mecanismos profundos, que só se apreendem nessa análise global e generalizadora.

- o Sistema colonial, efetivamente, constitui-se no componente básico da colonização à época mercantilista, o elo que permite estabelecer as mediações essenciais entre os diversos níveis da realidade histórica.

- nem toda colonização se processa, efetivamente, dentro dos quadros do sistema colonial.

- as relações coloniais podem ser aprendidas em 2 níveis: 1) através da legislação ultramariana; 2) no movimento concreto de circulação de umas para outras, isto é, no comércio que faziam entre si, e nas vinculações político-administrativas que envolviam.

- mercantilismo -> doutrina político-econômica que se desenvolvia e prodominava na Europa entre os Descobrimentos e a Revolução Industrial -> o ponto de partida é o metalismo -> conceituação primária da natureza dos bens econômicos, e a suposição de que os lucros se geram no processo de circulação das mercadorias.

- o mercantilismo não é uma política econômica que visasse o bem-estar social.

- as colônias garantiriam a auto-suficiência metropolitana, meta fundamental da política mercantilista. Assim, a política colonial das potências visava enquadrar a expansão colonizadora nos trilhos da política mercantilista.

- a formação das monarquias absolutistas foi, de fato, uma resposta à crise; ou melhor, foi o encaminhamento político das tensões de toda ordem. Efetivamente, o estado centralizado, de um lado, promove a estabilização da ordem social interna

(num novo equilíbrio das forças sociais, agora subordinadas ao rei), de outro lado estimulava a expansão ultramarina encaminhando a superação da crise nos vários setores.

- só o estado centralizado pode funcionar como centro organizador da superação da crise ou das crises, catalizando recursos em escala nacional e internacional, avalizando os resultados. Nem é por outro motivo que um pequeno estado do ocidente europeu, precocemente centralizado – Portugal – pôde iniciar a arrancada pelas novas rotas, abrindo caminho para a superação da crise da economia e da sociedade européia. -> no conjunto e no essencial, esse processo político emergia das tensões do feudalismo.

- o Antigo Regime Político representou a fórmula de a burguesia mercantil assegurar-se das condições para garantir sua própria ascensão e criar o quadro institucional do desenvolvimento do capitalismo comercial. Tratava-se, em última instância, de subordinar todos ao rei e orientar a política da realeza no sentido do preocesso burguês, até que, a partir da Revolução Francesa e pelo século XIX afora, a burguesia pudesse tornar-se “conquistadora”.

- a colonização europeia aparece, assim, em primeiro lugar, como um desdobramento da expansão puramente comercial.

- o povoamento decorreu, inicialmente, da necessidade de garantir posse em face a disputa pela partilha do novo continente. -> a exploração ultrapassava, dessa forma, o âmbito da circulação de mercadorias, para promover a implantação de economias complementares extra-européias, isto é, atingia propriamente a órbita da produção.

- acumulação de capital comercial, divisão do trabalho, mercantilização dos bens econômicos, especialização da produção são processos correlatos, que envolvem um desenvolvimento do nível econômico geral. Acumulação de capital comercial e formação da bruguesia mercantil são pois os dois lados do mesmo processo. Teoricamente, a transformação se auto-estimula sem limites.

- a colonização do Novo Mundo na Época Moderna apresenta como peça de um sistema, instrumento da acumulação primitiva da época do capitalismo mercantil -> conotação do sentido profundo da colonização.

- é no regime do comércio entre metrópoles e colônia que se situa o elemento essencial desse mecanismo. Regime de exclusivo metropolitano constituia-se pois no mecanismo por excelência do sistema, através do qual se processava o ajustamento da expansão colonizadora aos processos da economia e da sociedade européias em transição para o capitalismo. O comércio foi, de fato, o nervo da colonização do Antigo Regime.

- política seguida astutamente pela Coroa Portuguesa -> liberdade de comércio para estimular a vinda de recursos e capitais para a instalação da produção colonial; enquadramento no sistema exclusivista quando a economia periférica entrava em funcionamento.

- o exclusivo metropolitano do comércio colonial consiste em suma na reserva do mercado das colônias para a metrópole, isto é, para a burguesia comercial metropolitana. Este é o mecanismo fundamental, gerador de lucros excedentes, lucros coloniais; através dele, a economia central metropolitana incorporava o sobreproduto das economias coloniais ancilares.

- promovia, assim, de um lado, uma transferência de renda real da colônia para a metrópole, bem como a concetração desses capitais na camada empresária ligada ao comércio ultramarino.

- o sistema colonial em funcionamento, configurava uma peça da acumulação primitiva de capitais nos quadros do desenvolvimento do capitalismo mercantil europeu. O sistema colonial ajustava, pois, a colonização ao seu sentido na história da economia e da sociedades modernas.

- o mercado externo das colônias, no sistema colonial, é o mercado metropolitano; a vinculação se dá através do regime do exclusivo que promove uma exploração da colônia pela metrópole.

- o próprio modo de produçào define-se nos mecanismos do sistema colonial. E aqui tocamos no ponto nevrálgico, a colonização, segundo a análise que estamos tentando, organiza-se no sentido de promover a primitiva acumulação capitalista nos quadros da economia europeia, ou noutros termos, estimular o processo burguês nos quadros da sociedade ocidental. É esse sentido profundo que articula todas as peças do sistema: assim em primeiro lugar, o regime do comércio se desenvolve nos quadros do exclusivo metropolitano: daí a produção colonial orientar-se para aqueles produtos indispensáveis ou complementares às economias centrais: enfim, a produção se organiza de molde a permitir o funcionamento global do sistema. Em outras palavras, não bastava produzir os produtos com procura crescente nos mercados europeus, era indispensável produzí-los de modo a que a sua comercialização promove estímulos à acumulação burguesa nas economias europeias. Não se tratava apenas de produzir para o comércio, mas para um forma especial de comércio -> o comércio colonial.

- assim, desenvolveu-se a colonização do Novo Mundo centrada na produção de mercadorias-chaves destinadas ao mercado europeu, produção assente sobre formas várias de compulsão do trabalho – no limite, o escravismo; e a exploração colonial significava, em sua última instância, exploração do trabalho escravo. Assim,

também os colonos metamorfosearam-se em senhores de escravos, assumindo a personagem que lhes destinara o grande teatro do mundo; nem é para admirar que desenvolvessem aquela volúpia pela dominação humana prêsa, às malhas do sistema.

- a crise do sistrema é do seu próprio funcionamento que ela tem que provir, e não de fatores exógenos. Noutros termos, ao se desenvolver, o sistema colonial do Antigo Regime promove ao mesmo tempo os fatores de sua superação.

- a dinâmica do conjunto da economia colonial é definida pelo setor exportador; em certas ciscunstâncias e áreas determinadas, o setor de subsistência pode adquirir certo vulto, como no caso da pecuária, e então se organiza em grandes propriedades, ou noutros casos, incorpora o regime escravista.

Gorender – O Escravismo Colonial – Páginas 54 – 79

Boxer -

Segundo Gorender, a sociedade portuguesa ainda é medieval. Faz um crítica a essa sociedade, não ao seu modo de produção.

Gorender já diz que há feudalismo na metrópole e na colônia, o modo de produção colonial. O seu objetivo é ressaltar os elementos presentes da sociedade portuguesa do século XVI e que diferenciaram sua atuação na colonização do Brasil.

Partes do texto:

a) Questão do termo feudalismo b) O feudalismo em Portugal c) A expansão ultramarina -> significância econômica-social d) Escravismo em Portugal e) Críticas

- termo feudalismo: abordagem jurídico-política = relação de suserania/vassalagem -> acordo de prestação de auxílio militar -> utiliza a expressão “burguesia feudal”.

Obs.: i) super-estrutura -> administração / sociedade / cultura / religião

ii) infra-estrutura -> relação de produção / forças de produção

se baseia em Dobb -> modo de produção <-> relação de produção -> servidão -> é uma obrigação imposta ao produtor pela coação, para que ele satisfaça certas exigências econômicas do senhor, sob forma de serviços ou de taxas em produto ou em dinheiro -> a forma padrão desta obsdervação é a corvéia -> imposto pelo qual o servo tem de entregar parte de sua produção para o senhor feudal. Às vezes, ele não tem como pagar, é obrigado a trabalhar alguns dias da semana na terra do senhor feudal.

Definição do Gorender -> aceita a definição de Dobb, com 2 reparos:

a) A servidão apresentou graus diferentes e não se restringia à servidão da gleba;

b) A servidão não foi uma relação exclusiva do feudalismo e não se relaciona obrigatoriamente pelo feudo.

Propriedade da terra -> desdobra-se em duas formas de direito: i) eminente -> do senhor feudal; ii) usufrutuário -> do camponês.

A propriedade não é plena (alodial) para nenhum deles! A terra não é deles, nem o senhor feudal manda totalmente na terra, nem o camponês.

Renda da terra -> pagamento pelo uso da terra. O senhor feudal absorve integralmente o sobreproduto gerado pelo camponês (excedente do produto).

Formas básicas de organização da produção feudal:

1) Pequena economia agrícola 2) Pequeno ofício artesanal

Posse comunal das pastagens e bosques -> constituem um complemento necessário à pequena produção portuguesa -> principalmente para animais.

Em se tratando de trocas mercantis, o feudalismo é diferente de economia natural. O feudalismo tem, de alguma forma, uma mercantilização em grau limitado.

- Feudalismo em Portugal:

Alexandre Herculano e Gma Barros -> não houve uma época feudal

X

Gorender -> houve feudalismo enquanto modo de produção, porque houve servidão. -> Não existe a relação de suserania e vassalagem porque a formação do Estado Português foi diferente, peculiar (de acordo com Boxer)

Forma do Estado a partir do século XII -> reconquista e luta contra os mouros -> isso impediu o aparecimento dos feudos.

Um feudalismo peculiar, distinto das demais partes da Europa:

a) Propriedades senhoriais sem soberania político-jurídica -> Portugal, desde muito cedo, valeu-se do direito romano (em tudo -> organização dos ministérios / conselhos municipais), o que tira o poder dos senhores feudais.

b) Formas variadas de servidão c) Relação de força entre as classes d) Luta de classes -> muito intensa em todos os períodos

Portanto: uma forma diferente de Feudalismo (Boxer)

O interessante em Portugal é, saber o que o Rei faz após reconquistar as terras -> 3 opções: i) doar as terras; ii) criar feudos (relação de suserania e vassalagem) ou, iii) centralizar.

O Rei passa a ser o maior proprietário de terras, com o maior poder. O Rei de Portugal torna-se o senhor iminente de todas as coisas.

A nobreza fundiária portuguesa não tem tanta força, como ocorre em outras localidades europeias.

A partir de 732 -> início do processo de retomada da península ibérica. Incialmente um problema apenas ibérico, posteriormente, problema de toda a Europa Ocidental (todos os povos cristãos enviam tropas).

Já no século XIII, Portugal já é um Estado unificado, enquanto que, ainda no século XV, a Espanha ainda não está unificada.

Boxer -> a forma portuguesa de feudalismo foi determinada por:

a) Guerras contra mouros e espanhóis b) Grau de desenvolvimento das forças produtivas

Isso gerou -> fortalecimento do poder monárquico / unificação nacional / extinção da servidão da gleba

Obs.: vemos relações mais fortes de servidão no Norte de Portugal do que no Sul. ‘

A produção portuguesa do século XIII -> é proveniente de pequenas explorações pertencentes a foreios enfiteutas ou emprazadores.

a) Foreiro -> indivíduo sujeito ao pagamento de foro (quantia paga anualmente) -> é objeto de herança. Não pode retirar a pessoa da terra.

b) Enfiteuta -> possuidor do direito pleno de gozo de um bem imóvel, mediante o pagamento de um foro, em dinheiro ou em frutos. O direito é real, alienável e transmissível aos herdeiros.

c) Empazar = enfiteuta

As terras indominicatas ocupam posição secundária (são muito pequenas)

Terra indominicata = mansus indominicatus = reserva senhorial

Prevalência da renda-produto -> variável entre 17% e 50% da produção -> associadas a outras formas de renda da terra.

- renda-dinheiro (desafavorecida pela desvalorização da moeda)

- renda-trabalho = 1 dia por semana

Impostos e taxas no século XIII:

a) Imposto sobre a produção pagos à classe senhorial (coroa, nobreza e clero); b) Tributos eclesiais (dizimo) c) Tributos sobre a alienação de enfiteutas: 50% a 12,5%; d) Tributos sobre instalações fixas de beneficiamento exclusivas da camada

senhorial (direitos banais); e) Tributos sobre transportes e circulação de mercadorias

Esse conjunto de impostos é o que, segundo Gorender, cacteriza a estrutura feudal.

Armando de Castro -> uma porcentagem da renda feudal sobre a produção agrícola, na média, correspodiam a 27% do PNB no século XIV.

Efeitos da precoce centralização monárquica dobre o feudalismo:

a) Nobreza mais fraca comparativamente à Coroa e ao Clero -> nobreza tem ¼ da renda, é bastante numerosa e formada por senhores de pequenos domínios e fragmentados. Coroa e o Clero possuem rendas iguais -> o dobro da nobreza. Há uma transferência de renda da Coroa para a Nobreza.

b) Artesanato tem um fraco desenvolvimento. Ausência de formas industriais pré-capitalistas de produção.

c) Precoce aparecimento de uma burguesia rural (categoria social formada pelos cavaleiros-vilãos): servos enriquecidos -> encargos feudais eram mais leves e viviam da exploração de jornaleiros -> geram uma acumulação.

Expansão ultramarina -> significado econômico social

Pioneirismo -> fortalecimento da estrutura feudal existente em Portugal -> atraso no desenvolvimento do capitalismo.

Ou seja, o pioneirismo teve um efeito contrário, não desenvolveu a industrialização.

Obs.: crítica a tese de localização privilegiada de Caio Prado Jr.

Revolução de Avis (1383 – 1385) -> questão sucessória que gerou a troca da cas reinante de Portugal -> influência da burguesia mercantil e rural junto à Coroa.

D. João II (1481 – 1495) -> 1º rei absoluta da Europa -> coroa, nobreza e clero estão interessados na expansão, essa é inviável no continente. Feita na expansão ultramarina (é a única alternativa).

Obs.: a nobreza e a burguesia já são a mesma pessoa!

Atraso no desenvolvimento do capitalismo:

A exploração colonial:

a) Enriqueceu a burguesia b) Controle permaneceu com a Coroa -> aumento das rendas régias / aumento

do parasitismo de nobres c) Enrijecimento das instituições feudais d) Inquisição -> instrumento da nobreza para: i) conter o fortalecimento

econômico e político da burguesia; ii) defender a posição da classe.

D. João III (1521 – 1557) -> inquisição (1536) -> perseguição da burguesia, conhecida como cristãos novos e criptos judeus. Portugal a via revolucionária do comércio.

Portugal fez a política mercantilista do tipo inferior -> exemplo disso foi a exploração colonial -> com intermediação internacional, sem desenvolvimento de uma indústria de beneficiamento do produto colonials na metrópole. -> reduzida influência dos defensores portugueses da proteção à indústria nascente, como fizeram os franceses e ingleses.

Exemplo -> i) Conde de Ericeira (1632 – 1690) -> tentativa de industrialização de Portugal -> resistência de interesses agrários saíram-se vitorisos com a assinatura do tratado de Methuen.

ii) Marquês de Pombal (1699 – 1782) -> tentativa de uma política de idnustrialização de Portugal. O momento de fazer isso já tinha passado. Tem poucos efeitos, é uma política tardia em relação à outros países, que já estavam fazendo a Revolução Industrial. Essas medidas acabam quando D. Maria sobe ao trono, acaba com todas as medidas tomadas por Pombal.

- Resultado sócio-econômico da expansão de Portugal -> Uma sociedade arcaica -> segundo comentário de A. J. Saraiva: “Poderia talvez, sem grande erro, comparar-se a Coroa portuguesa a uma organização monopolista cujos benefícios são distribuídos entre funcionários e acionistas, sob a forma de ordenados e dividendos, sendo que esses funcionários e acionistas não exercem uma atividade industrial ou comercial (...) Desta forma, se o Estado português do século XVI oferece esteriormente uma aparência moderna, na medida que é uma grande empresa econômica, por outro lado, ele assegura, no

interior do país, a persistência de uma sociedade arcaica, na medida em que garante o domínio de uma classe tradicionalmente dominante, cujo espíriro está nas antípodas do burguês -> classe dominante que é o contrário do burguês. Partes importantes do texto -> Gorender – páginas 54 a 79

A partir do século XV, na Europa, ocorre um processo de significação histórico-mundial. Este processo desdobra-se nos seguintes aspectos: i) expansão comercial ultramarina entrelaça todos os continentes e cria, pela primeira vez, o mercado mundial, com uma divisão intercontinental da produção; ii) inicia-se e desenvolve-se o colonialismo da época moderna, com subordinação econômica e política, de áreas dos demais continentes à Europa Ocidental; iii) criação do mercado mundial e a exploração colonialista impulsionam a acumulação originária de capital e aceleram a formação do modo de produção capitalista num grupo de países do Ocidente europeu; iv) pela primeira vez, a história da humanidade torna-se universal.

- no que se refere ao desenvolvimento econômico e social, os países não se distinguiam -> assemelhavam-se do ponto de vista das relações de produção dominantes e das forças produtivas, assemelhavam-se e integravam o mesmo conjunto civilizatório.

- estrutura feudal -> mais tenas nos países ibéricos, o que foi acentuado pela própria participação pioneira na expansão ultramarina.

- esclarecimento conceitual -> o termo feudalismo, diferentemente dos termos mercantilismo e capitalismo que se fundamentaram no aspecto econômico, deriva do feudo, indicando, pois em sentido estrito, uma forma de organização jurídico-política ou, na terminologia marxista, um elemento da superestrutura -> consequência disso foi uma confusão semântica.

- Dobb caracterizou o feudalismo como um modo de produção. Em consequência, caracterizou o feudalismo como um modo de produção cuja essência é a servidão. -> impõe-nos 2 adendos: i) o conceito de servidão deve admitir gradações e não se referir exclusivamente à servidão da gleba; ii) decorrente da observação de Engels, acerca de não constituir a servidão uma forma especificamente feudal. Quando se trata de feudalismo, tem-se em vista uma das modalidades de servidão.

- feudalismo, sem conexão obrigatória com a existência de feudos, pode ser carcterizada pelas seguintes determinações essenciais:

i) propriedade da terra -> apresenta-se desdobrada em direito eminente, do senhor feudal e direito usufrutuário, do camponês. A propriedade da terra não é plena para nenhum dos dois, no sentido alodial do direito romano ou do direito capitalista. Para o senhor, a propriedade da terra significa o privilégio titular de

receber rendas sob diversas denominações. Para o camponês, a propriedade da terra não ultrapassa o direito de usá-la e de transmití-la por herança, com o acompanhamento obrigatório de encargos;

ii) a renda da terra, em seu caráter típico, abosrve a totalidade do sobreproduto do usuário da terra, do produtor direto;

iii) a pequena economia agrícola familiar e o pequeno ofício artesanal independentes constituem as formas básicas de organização da produção;

iv) a posse comunal de pastagens e bosques representa complemento-necessário à pequena produção camponesa;

v) a imposição dos encargos senhoriais é efetiva mediante coação extra-econômica (militar, jurídica, etc), variando da servidão da gleba à liberdade de deslocamento e de mudança contratual de senhrio.

- a idéia de que o feudalismo se identifica com a economia natural absolutamente fechada é uma idéia falsa. O regime feudal comportou relações mercantis mais intensas do que o escravismo antigo. Porém, ainda assim, é um grau limitado de relações mercantis. -> o comércio não basta para desintegrar o modo de produção feudal.

- no Estado português, se abstraírmos a propriedade senhorial da terra e encararmos o feudalismo como um modo de produção, de acordo com o esclarecimento conceitual, verificamos que há feudalismo,

- Portugal identificou-se com a Europa feudal no que se refere ao surgimento da servidão da gleba e sua transição a modalidades de servidão menos coercitivas, bem como no que diz respeito à disposição das forças de classe e à luta de classes. O correto seria falar em “forma portuguesa de feudalismo”.

- outra particularidade portuguesa consistiu no débil desenvolvimento do artesanato e na inesistência de formas precoces dan indústria capitalista. Em compensação, antecipa-se em Portugal a formação de uma camada de burgusia rural, os cavaleiros-vilãos.

- desenvolveu-se também a burguesia mercantil, concentrada, sobretudo, nas cidades portuárias. Sem deixar de ser uma classe integrada no sistema feudal, vinculada por múltiplos canais à Coroa e à nobreza.

- feudalismo -> regressão ou involução -> deriva da mitificação do mercado como motor do desenvolvimento econômico e da progressão qualitativa da vida social.

- Weber -> o feudalismo europeu representou considerável ascenção do nível de vida, da produção e das próprias trocas mercantis com relação a Antiguidade Clássica.

- Simplificação econômico-social da expansão ultramarina -> 2 questões a considerar:

1) por que Portugal pode ser, e foi, o pioneiro da expansão ultramarina? -> surge logo a idéia de localização geográfica. Que esta localização tenah sido uma condição altamente vantajosa, não há dúvida. Cumpre explicar, todavia, por que sendo o fator geográfico inalterável, o empreendimento das navegações e dos outros descobrimentos se efetivou em momento dado e não outro qualquer. Explicação que somente se alcança na análise dos outros fatores-sociais.

Ao iniciar o século XV, Portugal contava com algumas vantagens sumanamente preciosas em comparação com a generalidade dos países europeus. Enquanto estes continuavam emprenhados em executivas guerras internas e externas e alguns, como a Espanha, ainda estavam longe de completar sua unificação nacional, Portugal já dispunha de fronteirs definitivamente estabelecidas, estava isento de graves questões nacionais internas e contava com um poder estatal em de processo vigorosa centralização.

Com objetivos econômicos diversos, nobreza e burguesia mercantil coincidiam no mesmo interesse expansionista. A experiência histórica já havia demonstrado a inviabilidade da expansão em direção ao continente europeu. A expansão oceânica em direção à África e à Ásia esteve dentro da lógica das coisas.

2) por que, apesar desse pioneirismo, a sociedade portuguesa se atrasou enormemente no desenvolvimento capitalista com relação a outros países da Europa Ocidental? O fato do comércio exterior português constituir-se da exportação de produtos primários e da importação de produtos industrializados não se caracteriza uma condição de independência, se se considera o condicionalismo europeu da época. O grosso do consumo de artigos manufaturados ainda se satisfazia, por toda a parte, mediante a produção artesanal doméstica e não existia nenhuma potência industrial capaz de subjulgar países agrários unicamente por meio das trocas do comércio exterior.

- organizada na rede de feitorias -> o monopólio dos produtos asiáticos e do tráfico de escravos africanos enriqueceu a burguesia mercantil, mas o controle de todo o empreendimento permanceu em mãos da Coroa.

Afluiu ao tesouro régio enorme receita, a qual se redistribuía pela nobreza e reforçava seu parasitismo. Ao mesmo tempo, reforçavam-se as posições econômicas e sociais da burguesia mercantil. A esta contradição reagiu a classe dominante com o enrijecimento da ordem institucional feudal e para tanto se valeu do isntrumento político da inquisição.

A inquisição se caracterizou pela repressão da burguesia mercantil, confundida com os chamados cristãos-novos ou cripto-judeus. Dessa maneira, bloqueou-se na sociedade portuguesa uma das vias possíveis do desenvolvimento capitalista, embora não revolucionária e conservadora, como assinalou Marx, e que consistiria na introdução dos capitais acumulados pela burguesia mercantil no processo interno da produção. Mais ainda, está claro, ficou afastada a outra via, autenticamente revolucionária, da formação endógena da burguesia industrial a partir dos mestres artesãos.

Nos países ibéricos, a exploração colonialista não favoreceu, mas obstacularizou o desenvolvimento do modo de produção capitalista. -> durante séculos, o Estado português praticou um mercantilismo do tipo inferior e não evoluía no sentido de protecionismo da indústria. O tratodo de Methuen marcou o triunfo dos interesses agrários opostos à industrialização.

- Primórdios da conexão de Portugal com a escravidão moderna:

O trabalho escravo não foi desconhecido na sociedade portuguesa medieval;

Os portugueses tornaram-se os pioneiros de novo tipo de tráfico na História Moderna, momentaneamente com uma tríplice destinação. Em primeiro lugar, a Coroa e os traficantes concessionários obtiveram uma fonte de grandes lucros na venda dos negros à Espanha, Itália e aos donos das plantagens produtoras de açúcar na ilhas mediterrâneas. Em segundo lugar, os portugueses desenvolveram suas próprias plantagens na Ilhas da Madeira e de São Tomé eno arquipélago de Açores. -> experiência da organização plantacionista, do fabrico do açúcar e da exploração do trabalho escravo.

Revivência do trabalho escravo decorreu de 2 causas: i) estrutural -> demonstra, como comprova, a rigidez que ainda conservava a ordem feudal dominante. Precisamente, porque persistiam os vínculos do campesinato à terra dominical, ficava impedido a formação de um mercado capitalista de mão-de-obra.

ii) trabalho escravo surgiu como recurso substitutivo dos escassos jornaleiros, também recrutados à força. Compensação parcial de perda populacional.

Aula 30/03/2011 – Fernando Novais capítulos 1 a 4

1. o êxito da empresa açucareira no Brasil é um sucesso comparado ao que aconteceu na produção na Ilha da Madeira.

Na Ilha da Madeira, observamos um crescimento na produção, porém, também temos uma forte queda no preço, indicando que a o mercado não absorvia toda a produção de açucara. Assim, a Coroa portuguesa limitou a produção e determinou que 2/3 da mesma deveria ser distribuída pelos holandeses.

O sucesso brasileiro vem do Brasil ter conseguido aumentar a sua produção e continuar a exportar açúcar a preços constantes e/ou crescentes -> entendido o sucesso, começa-se a discutir os fatores do êxito da produção açucareira, que são divididos em 2 grandes blocos: i) quantidades crescentes e ii) preços constantes/crescentes.

2. Tesouro Americano e Decadência econômica na Espanha:

Mercado pela precoce descoberta de metais na colônia (principalmente no México e no Peru). Assim, a política colonial espanhola era marcada:

i) Extrair metais com uso de mão-de-obra indígena, esses indígenas já sabiam extrair metal, já tinham técnicas para isso. Também incentivou a Espanha a utilizar mão-de-obra indígena, a Espanha não ter uma zona africana de abastecimento de mão-de-obra escrava e a população indígena ser muito numerosa. ii) Tornar as colônias o mais auto-suficiente possível (artesanato local) -> permite que, nas áreas onde não é encontrado metal precioso, ocorra um desenvolvimento co artesanato, Para a Espanha, o comércio colonial não tem tanto problema quanto teria para Portugal. O excedente é extraído da colônia através dos pesados impostos e do monopólio do mercúrio (utilizado para extrair a prata) -> mecanismo básico de extração de excedente na Espanha iii) Defesa unicamente das áreas de extração (-> gerou a perda das Antilhas) -> isso gera um crescimento do poder econômico do Estado Espanhol (o que cresce são as rendas públicas). Gerando um aumento dos gastos públicos e aumento dos gastos privados subsidiados pelo governo. Gerando uma maior demanda e um aumento nos preços internos (“revolução dos preços” -> na Espanha, os preços crescem muito mais rapidamente do que nos outros países europeus.) Obs.: o auge da entrada de metais na Espanha é o período entre 1590 e 1610, período o qual Portugal está sob domínio Ibérico. Com o forte aumento de preços na Espanha, há uma alteração relativa de preços na Espanha, passando a ser mais barato importar do que produzir internamente. Portanto, a importação aumenta muito, enquanto a exportação quase não cresce. Isso gera um déficit na balança comercial espanhola. Enquanto o Estado recebe bastante prata. Vale lembrar que boa parte do tesouro espanhol vaza para outros países sob a forma de pagamento comercial.

Obs.: a nobreza e o clero espanhol sempre tiveram muito mais prestígio junto à Coroa do que a nobreza e o clero portugueses.

Com o afluxo do ouro, a nobreza e a Coroa se fortalecem ainda mais, em detrimento da classe burguesa. Isso é importante quando o volume de metais recebidos na Espanha diminui.

Para Celso Furtado, caso os setores manufatureiros fossem mais fortes (importantes), as áreas que não produzissem metais, não poderiam produzir visando o consumo local, tendo que produzir algum produto voltado para exportação. Dessa forma, o produto que muito provavelmente seria produzido é a cana-de-açúcar, sendo concorrente do açúcar brasileiro.

Obs.: outro fator para a Espanha não produzir açúcar é que os espanhóis já tinham dizimado a população local, assim, não tinham braços para a mão-de-obra (problema com mão-de-obra).

Após a decadência da mineração, ocorre um eesfalecimento das áreas mineratórias. A decadência gerou uma força centrífuga (para fora) das pessoas.

O importante, tanto para o caso espanhol, quanto para o caso português, é a questão do artesanato. Ao permitir o desenvolvimento do artesanato (ex. tecido) nas colônias espanholas -> mostra que a Espanha já possuía manufaturas dentro do país, que poderiam fornecer produtos para o consumo tanto local quanto das áreas mineradoras.

Já no caso brasileiro, não tinha como haver um desenvolvimento de manufaturas uma vez que a mão-de-obra aqui não não era desenvolvida.

Os espanhóis já teriam desenvolvido o açúcar (técnicas, logísticas, etc)?

i) Já havia produção de açúcar em terras espanholas (Andaluzia, Canárias, Haiti) A produção do Haiti teve início em 1506 (muito antes do Martin Afonso ir para o Brasil); já em 1520 havia aproximadamente 20 engenhos, em 1550, aproximadamente 40 engenhos. Porém, na 2ª metade do século XVI, observamos um abandono da produção, ocorre um êxodo para as regiões mineradoras. (1º argumento para não ter produção açucareira). Como já havia produção açucareira em Andaluzia e, a colônia não pode concorrer com a metrópole, a produção na América Espanhola não é estimulada. ii) Localização: as colônias espanholas eram melhor localizadas do que as colônias portuguesas, tendo assim um menor custo de transporte, numa eventual produção açucareira. iii) Maior população -> maior mercado: o mercado interno espanhol era muito maior do que o mercado interno português. (na Espanha cerca de 7 milhões de habitantes, já em Portugal, cerca de 1,4 milhões de habitantes). iv) Disponibilidade maior de recursos financeiros entre os espanhóis do que os portugueses -> esses recursos poderiam ser utilizados numa eventual produção açucareira. Além de ter uma população maior, o poder aquisitivo dessa população também era maior do que o da população portuguesa.

Como esses recursos não foram utilizados para a colonização agrícola e, uma boa parte desses recursos foram gastos (déficit comercial). Disponibilidade de recursos financeiros (época do ouro na Espanha de Felipe II – 1556 – 1598) -> construções gigantes e a formação da invencível armada que, posteriormente, foi destruída pela Inglaterra.

Essa destruição foi bastante grave para a Espanha, uma vez que era uma talassocracia, dependendo bastante de uma armada importante.

Como a Espanha, que tinha todas as características para iniciar a produção açucareira, não iniciou. Portugal ficou com o monopólio.

União Ibérica (1580 – 1640) -> por um problema de sucessão, a Coroa Portuguesa passa para a Espanha. Há uma alteração no quadro político-econômico, dentro do qual se engedram as circunstâncias favoráveis ao êxito da atividade açucareira.

i) Participação dos holandeses -> além do problema estratégico, havia também um problema religioso. Primeira medida dos espanhóis -> tentativa de tirar os holandeses do negócio. A participação dos holandeses no negócio do açúcar brasileiro era decisiva para: a) atrair investimentos em diversos engenhos; b) transportar o produto para a Europa; c) distribuição do açúcar na Europa -> essas eram atividades altamente lucrativas.

ii) Invasão holandesa das zonas produtoras -> a) Bahia (1624 – 1625), a esquadra era insuficiente. Conquistou, porém não conseguiu manter território. B) PE (1630 – 1654), teve sucesso. Esse longo período permitiu aos holandeses adquirirem as técnicas de produção do açúcar. Levando assim, para o Caribe. Dessa forma, quebram o monopólio português (que é a 2ª condição para existência da produção açucareira portuguesa). As empreitadas de invasão são feitas por uma empresa privada. Os holandeses só invadem mais tarde pois havia uma séries de acordos de não-agressão. Isso também vale para outras colônias portuguesas nas Índias e na África.

iii) Ocupação do Caribe -> é uma das áreas menos protegidas do território espanhol. O açúcar é introduzido nas pequenas Antilhas. Somente no século XVIII chega nas grandes Antilhas. Pequenas Antilhas -> pequenos militares para posse + pequenos produtores que não tinham dado certo na produção de gêneros tropicais -> holandeses chegam oferecendo técnica, financiamento, transporte e distribuição. As regiões só oferecem as terras e o trabalho (o que elas já tinham) -> são economicamente viabilizadas. Obs.: nessas ilhas, devido ao pequeno porte, há problemas com matéria-prima (madeira etc), a produção é menor.

iv) Mercado açucareiro em fins do século XVII -> concorrência do Brasil x Holanda x Inglaterra x França 2ª metade do século XVII -> Português x Inglês

v) Aparecimento de um concorrente (3º quarto do século XVII): a) queda de 505 no volume exportado b) queda de 50% no preço internacional, e esse manteve-se baixo até o século XVIII.

Redução da rentabilidade da atividade açucareira, cuja renda real ficou reduzida a ¼ e depreciação da moeda portuguesa na mesma porcentagem em relação ao ouro. Esse período é, em Portugal, um período de crise econômica -> o principal produto exportador não está bem.

vi) Criação do complexo econômico açucareiro -> Antilhas -> colônias de povoamento são beneficiadas pois elas são as fornecedoras de produtos para as Antilhas. Robert Simonsen e os efeitos da desvalorização cambial -> desvalorização cambial como um meio de beneficiar os produtos coloniais: a influência recíproca entre o comércio e o câmbio português é manifestada para fazer face ao declínio dos preços no final do século XVII, proporcionou ao governo português uma compensação para os lavradores com a quebra da moeda. Esse benefício acabou quando se iniciou a extração de ouro no século XVIII -> início de um período de dificuldades para a produção açucareira colonial -> a mineração, torna o próprio ouro o principal objeto do comércio no século XVIII. Faz com que neste período a linha cambial de conservasse horizontal, não podendo mais o açúcar gozar da defesa pelo câmbio. A situação do açúcar vai se tornar ainda mais complicada pois, além do problema de receita, passa a ter um problema de custo -> há dois focos de demanda de escravo: açúcar e mineração.

Furtado -> sobre a (não) transferência de renda:

i) Se Portugal fosse o principal abastecedor da colônia, o efeito de “b” seria uma transferência de renda real;

ii) Contudo, como: a) As manufaturas importadas pelo Brasil são procedentes de outros países europeus; b) os produtos de origem portuguesa (sal, azeite, vinho, etc) são os mesmos que

Portugal exporta para outros países.

As importações coloniais tinham seus preços fixados em ouro, logo, a depreciação não promoveu uma transferência de renda em favor da colônia.

Partes importantes do texto – Celso Furtado – Capítulos 1 a 4

Capítulo 1 – Da expansão comercial à empresa agrícola

- ocupação das terras amercianas -> episódio da expansão comercial da Europa

- a legenda de riquezas inapreciáveis ppor descobrir corre a Europa e suscita um enorme interesse pelas novas terras -> contropõe Portugal e Espanha, “donos” das terras, às demais nações europeias.

- início da ocupação econômica no território brasileiro é em boa medida uma consequência da pressão política exercida sobre Portugal e Espanha pelas demais nações europeias -> só tinha direito à terra se essa fosse ocupada.

- miragem do ouro, que se tinha sobre o interior do Brasil, pesou na decisão tomada de realizar um esforço relativamente grande para conservar as terras americanas.

- a Espanha, cujos recursos eram incoparavelmente superiores, teve que ceder à pressão dos invasores em grande parte das terras que lhe cabiam. -> para torna mais efetiva a defesa de seu quinhão, foi necessário reduzir o perímetro da terra.

- coube a Portugal a tarefa de encontrar uma forma de utilização econômica das terras americanas que não fosse a fácil extração de metais preciosas. Somente assim seria possível cobrir os gastos de defesa das terras. -> dessas medidas resultou o início da exploração agrícola. A América passa a constituir parte importante da economia reprodutiva europeia.

Capítulo 2 – Fatores de êxito da empresa agrícola

- conjunto de fatores particularmente favoráveis tornou possível o êxito dessa primeira grande empresa colonial agrícola. Os portugueses já haviam iniciado há algumas dezenas de anos a produção, em escala relativamente grande, nas ilhas do Atlântico, de um das especiarias mais apreciadas no mercado europeu: o açúcar

- a produção de açúcar fomentou o desenvolvimento em Portugal da indústria de equipamentos para engenhos açucareiros

- a significação maior da experiência das ilhas do atlântico foi possivelmente no campo comercial -> inicialmente, o açúcar entrou nos canais tradicionais controlados pelos comerciantes das cidades italianas. -> crise de super-produção dessa época indica claramente que nas áreas comerciais estabelecidas tradicionalmente pelas cidades mediterrâneas o açúcar não podia ser absorvido senão em escala relativamente limitada. -> assim, desde cedo, a produção portuguesa passa a ser encaminhada em proporção considerável para Flandres.

- os flamengos recolhiam o produto em Lisboa, refinavam-no e faziam a distribuição por toda a Europa, particularmente o Báltico, a França e a Inglaterra.

- a contribuição dos flamengos para a grande expansão do século XVI, constitui um fator fundamental do êxito da colonização do Brasil. -> especializados no comércio intra-europeu.

- partes substanciais dos capitais requeridos pela empresa açucareira viera dos países baixos. -> capitais flamengos participaram do financiamento das instituições produtivas no Brasil, bem como no da importação da mão-de-obra escrava.

- problema da mão-de-obra -> nessa época, os portugueses já eram senhores de um completo conhecimento do mercado africano de escravos. -> com recursos suficientes, seria possível ampliar esse negócio e organizar a trasnferência para a nova colônia agrícola de mão-de-obra barata, sem a qual ela seria economicamente inviável.

- conjunto de circunstâncias favoráveis sem o qual a empresa não teria conhecido o enorme êxito que alcançou.

- quando se modifica a relação de forças na Europa com o predomínio das nações excluídas da América pelo Tratado de Tordesilhas, Portugal já havia avançado enormemente na ocupação efetiva da parte que lhe coubera.

Capítulo 3 – Razões do Monopólio

- a política espanhola estava orientada no sentido de transformar as colônias em sistemas econômicos o quanto possível auto-suficientes e produtores de um excedente líquido – na forma de metais preciosos – que se transferia periodicamente para a Metrópole. -> esse afluxo de metais preciosos alcançou enormes proporções relativas e provocou profundas transformações estruturais na economia espanhola. O poder econômico do Estado cresceu desmesuradamente, e o enorme aumento no fluxo de renda gerado pelo governo provou uma crônica inflação que se traduziu em persistente déficit na balança comercial.

- decadência econ6omica da Espanha prejudicou enormemente suas colônias americanas. Fora da exploração mineira, nenhuma outra empresa econ6omica de envergadura chegou a ser encetada.

- abastecimento de manufaturas de grandes massas de população indígena continuou a ser feito com artesanato local, o que retardou a transformação das economias de subsistência pre-existentes na região.

- não fora o retrocesso da economia espanhola, a exportação de manufaturas deprodução metropolitana para as colônias teria necessariamente evoluído.

- o espanhóis podiam ter dominado a produção do açúcar desde o século XVI, a razão principal de isso não ter acontecido foi, muito provavelmente, a própria decadência econômica da Espanha. Não existindo por trás uma fator político.

- um dos fatores do êxito da empresa colonizadora agrícola portuguesa foi a decadência mesma da economia espanhola, a qual se deveu principalmente à descoberta precoce dos metais precioso.

Capítulo 4 – Desarticulação do sistema

- a economia agrícola foi profundamente modificado pela absorção de Portugal na Espanha (União Ibérica).

- no começo do século XVII os holandeses controlavam praticamente todo o comércio dos países europeus realizados por mar -> como consequência da ruptura do sistema corporativo anterior -> holandeses adquiriram o conhecimento de todos os aspectos técnicos e organizacionais da indústria açucareira -> esses conhecimentos vão continuar a base para a implantação e desenvolvimento de uma indústria concorrente, de grande escala, na região do caribe.

- preços do açúcar estarão reduzidos à metade e persistirão nesse nível relativamente baixo durante todo o século seguinte + o volume de exportações se reduz à metade -> renda real gerada pelo açucar era ¼ da renda anterior.

- transferência de renda provocadas pela desvalorização revertiam principalmente em benefício das exportações metropolitanas portuguesas.

Aula 06/04/2011 – Celso Furtado -> capítulos 5 a 9

Furtado tenta explicar como foi possível a sobrevivência da produção açucareira no século XVIII

Capítulo 8 -> análise da economia açucareira por Furtado

Todo raciocínio é feito com base em hipóteses baseadas no livro de Simonsen

i) número de engenhos = 120 (o dobro do número de engenhos em 1570)

ii) montante de capital aplicado é de 1,8 mm de libras, sendo esse calculado através do valor médio de cada engenho.

iii) produção de 2,0 mm de @, 10 vezes maior do que a produção de 1570 (180 mil @).

Portanto, o número de engenhos duplicou, mas a sua produção decuplicou.

iv) renda per capita da colônia era de 66,7 libras, maior do que a renda per capita da Europa e do que a economia mineira. Obs.: somente com a população livre.

Hipótese: renda da atividade açucareira = 60% do valor das exportações (2,5 mm de libras). A renda líquida era de 1,5 mm de libras.

Y da atividade açucareira era de ¾ do Y total da colônia (Y total da colônia era de 2,0 mm de libras).

- Distribuição da economia açucareira:

i) pagamento de fatores e processos produtivos = 10% da renda

a) transporte e armazenamento = 5,0%

b) salários = 1,5%

c) lenha e gado = 3,3%

Isso significa que da renda total, cerca de 90% fica com os outros setores da economia açucareira, como produtores de cana e proprietários de engenhos. A renda é fortemente concentrada. A demanda, é uma demanda por bens de luxo.

- lucro dos senhores de engenho = 1.200.000 libras.

Gastos com reposição de escravos e equipamentos = 110 mil libras (escravos = 50 mil + equipamentos importados = 60 mil).

Lucro = (receita – pagamento de fatores) – gastos de reposição =

= 1.500.000 – 150.000 – 110.000 = 1.200.000

Taxa de lucro = (1,20/1,350) = 80%

Taxa de retorno = (1,20/1,80) = 67%

Conclusão: quaisquer que sejam as taxas de erro, esses valores são excepcionalmente altos, tornando a atividade açucareira muito rentável.

Em média, nas Antilhas Britânicas, admitia-se que uma taxa de 5% sobre a receita era considerada aceitável e, uma taxa de 10% era considerada excepcional.

Assim, a lucratividade na economia açucareira é excepcional.

Obs.: os dados brasileiros foram calculados para o ano de 1600, ou seja, quando ainda havia o monopólio. Já os dados das Antilhas são com base nos números de 1700.

- Capacidade de crescimento da economia açucareira: Renda (Y) disponível para investidores é igual ao lucro menos o consumo monetário (<-> valor das importações).

Obs.: boa parte do que a Casa Grande consome não tem expressão monetária. Exemplo: gado produzido no engenho. Assim, o que tem, de fato, expressão monetária é o produto importado. A produção interna não tinha consumo monetário, sendo grande parte da produção proveniente de escravos.

Dado que o consumo com importações é de 0,6 mm de libras (Celso Furtado retira esse número de uma companhia de exportação) e o lucro é de 1,2 mm de libras. Temos como restante 600 mil libras -> estão disponíveis para investimento.

Portanto, há uma possibilidade de duplicar o número de engenhos a cada 2 anos. Porém, o número de engenhos duplicou apenas em 25 anos. Assim, concluímos que o potencial de crescimento não foi utilizado para o crescimento.

Então, o que foi feito com a renda (Y) disponível?

i) não deve ter sido investida em outras localidades da colônia.

ii) não há registros de aplicações de senhores de engenho em outras regiões.

O mais provável é que tenha saído da colônia na forma de pagamento ao capital aplicado por não residentes (Furtado chega nessa conclusão por exclusão).

Os proprietários do capital são comerciantes não-residentes na colônia, o que explica a coordenação entre as etapas de produção e a comercialização. Por exclusão, sabemos que o dinheiro fica com os holandeses. Fatores para concluir que o dinheiro fica com os holandeses:

a) último quarto do século XVI -> produção de 180 mil @, já em 1600, a produção é de 2,0 mm de @.

O preço do açúcar pula de 11 gramas de ouro por @ para 13,78 gramas de ouro por @.

Eram os holandeses que tomavam a decisão investir, eram os donos do capital.

Produção açucareira:

i) altamente rentável

ii) enorme capitalização de resistência (300 anos), mesmo com grandes flutuações da Y monetária. Redução do preço na 2ª metade do século XVII de aproximadamente 50%, juntamente com um aumento no preço dos escravos na 1ª metade do século XVIII -> apenas os engenhos mais bem localizados e mais produtivos conseguiram “sobreviver”.

iii) promoveu uma pequena mudança na estrutura produtiva colonial, não obstante seu alto potencial de dinamização.

O açúcar dá uma alta rentabilidade -> gera um alto grau de especialização. Uma concentração nos fatores produtivos no fabrico de açúcar em detrimento das atividades secundárias (produção de alimentos etc). Isso fazia com que o setor açucareiro fosse o principal demandante para o setor de subsistência, favorecida pela alta rentabilidade do setor e pela grande população.

Historicamente, comprova-se que não houve desenvolvimento de outras atividades atreladas a economia açucareira (a única foi a pecuária).

A partir disso, podemos fazer a pergunta: Será que isso não é uma conseqüência da economia açucareira?

- A resposta aparece quando a produção nas Antilhas é iniciada. A produção de açúcar nas Antilhas induziu o desenvolvimento de regiões de povoamento.

A Nova Inglaterra começou a fornecer materiais de subsistência para as Antilhas, que recebem o pagamento em ouro. Os produtos que eram, inicialmente, produzidos para o próprio consumo da Nova Inglaterra, passam a ser produzidos com o objetivo de exportação. (abastecimento das Antilhas).

Assim, chegamos à conclusão de que é sim possível criar uma zona de produção afim de alimentar a produção açucareira.

- Tendo o exemplo da Nova Inglaterra, Celso Furtado tenta encontrar alguma região semelhante à Nova Inglaterra no Brasil -> encontra São Vicente, porém, foi um fracasso, tendo uma exploração comercial e uma caça ao índio. Atividades de baixa rentabilidade.

Houve sim uma região no Brasil que poderia ter sido dinamizada igual à Inglaterra. Por que a atividade açucareira no Nordeste não promoveu essa dinamização?

i) baixos fretes de retornos -> os fluxos de navegação tinham o objetivo de apenas vir e buscar o açúcar. Vinham praticamente vazias da Europa. Assim, traziam alguma mercadoria para a colônia. Isso fazia com que as mercadorias chegassem ao Brasil sem custos de frete. Acaba com uma possível produção colonial, não conseguia viver com uma possível concorrência (o custo colonial seria mais alto).

ii) a política colonial portuguesa coibia qualquer possibilidade de surgimento de produção concorrente a metrópole (Caio Prado Jr. também cita esse fator). Um

exemplo disso é a medida posterior tomada pela D. Maria I de apreensão de todos os teares no Brasil Colônia.

Obs.: Celso Furtado dá pouca importância para esses fatores

iii) disponibilidade de terras nas proximidades do núcleo canavieiro -> pecuária -> fornecedora de carne e de animais de tiro (atividade de subsistência) -> essa atividade irá florescer dentro da própria região nordestina.

Por isso, a economia colonial resumiu-se praticamente às atividades açucareira e criatória. Inicialmente elas desenvolveram-se próximas. Porém, o gado se alimenta da cana-de-açúcar. Assim, a criação de animais não pode ser tão próxima do engenho. -> No Nordeste, passamos a ter duas atividades separadas: a) açucareira; b) criatória

Partes importantes do texto para as aulas -> Celso Furtado – capítulos 5 a 9

Capítulo 5 – As colônias de povoamento do hemisfério norte

-franceses e ingleses se empenharam, assim, no começo do século XVII, em concentrar nas Antilhas, importantes núcleos de população européia, na expectativa de um assalto em larga escala aos ricos domínios da grande potência enferma desse século. -> em razão de seus objetivos políticos, essa colonização deveria basear-se no sistema da pequena propriedade.

- colonização de povoamento que se inicia na América no século XVII constitui, portanto, seja uma operação com objetivos políticos, seja uma forma de exploração de mão-de-obra européia que um conjunto de circunstâncias tornara relativamente barata nas Ilhas britânicas. -> Inglaterra, no século XVII, apresenta um considerável excedente populacional, graças às profundas modificações de sua agricultura iniciadas no século anterior.

- as condições climáticas das Antilhas permitiam a produção de um certo número de artigos. A produção desses artigos era compatível com o regime da pequena propriedade agrícola e permitia que as companhias colonizadoras realizassem lucros substanciais ao mesmo tempo que os governos das potencias expansionistas.

Capítulo 6 – Consequência da penetração do açúcar nas Antilhas

- situação completamente nova no mercado dos produtos tropicais: uma intensa concorrência entre regiões que exploram mão-de-obra escrava de grandes unidades produtivas e regiões de pequenas propriedades e população europeia.

- é provável, entretanto, que as transformações da economia antilhana tivessem ocorrido muito mais lentamente, não fora a ação de um poderoso fator exógeno em fins da 1ª metade do século XVII. Esse fator foi a expulsão dos holandeses da região nordeste do Brasil. -> a partir da expulsão, os holandeses se emprenharam firmemente em criar fora do Brasil um importante núcleo produtor de açúcar.

- menos um decênio depois da expulsão dos holandeses do Brasil, operava nas Antilhas uma economia açucareira de consideráveis proporções, cujos equipamentos eram totalmente novos e que se beneficiava de mais fovorável posição geográfica. -> população de origem européia decresceu rapidamente em toda a Antilha. -> rápida transformação das colônias de povoamento em grandes plantações de açúcar. -> contribuindo gradativamente para tornas economicamente viável as colônias de povoamento do norte da América.

- as Antilhas se transformaram em pouco tempo em grandes importadores de alimentos, e as col6onias setentrionais, que havia pouco tempo não sabiam o que fazer com o seu excedente de produção de trigo, se constituiram em principal fonte de abastecimento das prósperas colônias açucareiras.

- tornar possível o desenvolvimento de uma economia agrícola não especializada em produtos tropicais -> é uma nova etapa na ocupação econômica das terras americanas. Só foi possível graças a um conjunto de circunstâncias favoráveis.

- essa independência dos grupos dominantes via-à-vis da Metrópole teria de ser um fator de fundamental importância para o desenvolvimento da colônia pois significava que nela havia órgãos políticos capazes de interpretar seus verdadeiros interesses, em vez de apenas refletir as ocorrências do centro econômico dominante.

Capítulo 7 – Encerramento da etapa colonial

- ao recuperar a independência, Portugal encontrou-se em posição extremamente débil -> ameaça da Espanha sobre o território + perda do comércio oriental e do açúcar -> p/ sobreviver como Metrópole colonial deveria ligar seu destino a uma grande potência (=alienar perte de sua soberania). Acordos concluídos com a Inglaterra em 1642-54-61 estruturaram essa aliança que marcará profundamente a vida política e econômica de Portugal e do Brasil nos anos seguintes.

- os privilégios conseguidos pelos comerciantes ingleses em Portugal foram de tal ordem que os mesmos passaram a constituir um poderoso influente grupo com ascendência crescente sobre o governo português.

- Portugal fazia concessões econômicas à Inglaterra, e essa pagava com promessas ou garantias políticas.

- final do século XVII -> tentativa de criar manufaturas. Porém, o rápido desenvolvimento da produção de ouro no Brasil, a partir do 1º decênio do século XVIII, modificaria fundamentalmente os termos do problema.

- acordo de Methuen (1703) significou para Portugal renunciar a todo o desenvolvimento manufatureiro e implicou tranferir para a Inglaterra o impulso dinâmico criado pela produção aurífera no Brasil.

- Graças a esse acordo, Portugal conservou uma sólida posição política numa etapa que resultou ser fundamental para a consolidação definitiva do território de sua colônia americana.

- o ciclo do ouro consistiu um sistema mais ou menos integrado, dentro do qual coube a Portugal a posição secundária de simples entreposto. Ao Brasil, o ouro permitiu financiar uma grande expansão demográfica, que trouxe alterações fundamentais à estrutura de sua população, na qual os escravos passarão a ser a minoria.

- para a Inglaterra, o ciclo do ouro brasileiro trouxe um forte estímulo ao desenvolvimento manufatureiro, uma grande flexibilidade à sua capacidade para importar, e permitiu uma concetração de reservas que fizeram do sistema bancário inglês o principal centro financeiro da Europa.

- para Portugal, a economia do ouro proporcionou apenas uma aparência de riqueza, repetindo o pequeno reino a experiência da Espanha no século anterior.

- o último quartel do século XVIII veria a decadência da mineração do ouro no Brasil. A Inglaterra já havia, sem embargo, entrado em plena Revolução Industrial.

- a forma peculiar como se processou a independência da América portuguesa teve consequências fundamentais no seu subsequente desenvolvimento -> transferindo-se o governo português para o Brasil sob a proteção inglesa e operand-se a independência da colônia sem descontinuidade na chefia do governo, os privilégios econômicos de que se beneficiava a Inglaterra em Portugal passaram automaticamente para o Brasil independente.

- a medida que o café aumenta sua importância dentro da economia brasileira, apliam-se as relações econômicas com os EUA. Já na 1ª metade do século esse país passa a ser o principal importador do Brasil.

Capítulo 8 – Capitalização e nível de renda na colônia açucareira

- rápido desenvolvimento da indústria açucareira indica claramente que o esforço do governo português se concentra nesse setor.

- escravidão demonstrou ser, desde o primeio momento, uma condição de sobrevivência para o colono europeu na nova terra.

- a captura e o comércio indígena vieram constituir, assim, a primeira atividade econômica estável dos grupos de população não dedicados à indústria açucareira -> permitirá a subsistência dos núcleos de população localizados naquelas partes do país que não se transformaram em produtores de açúcar.

- mesmo aquelas comunidades que aparentemente tiveram um desenvolvimento autônomo nessa etapa da colonização deveram sua existência indiretamente ao êxito da economia açucareira.

- a mão-de-obra africana chegou a expansão da empresa, que já estava instalada. É quando a rentabilidade do negócio está assegurada que entram em cena, na escala necessária, os escravos africanos: base de um sistema de produção mais eficiente e mais densamente capitalizado.

- capital empregado na mão-de-obra escrava deveria aproximar-se de 20% do capital fixo da empresa. Parte substancial desse capital estava constituída por equipamentos importados.

- a renda gerada na colônia estava fortemente concentrada em mãos da classe de proprietários de engenho.

- o engenho realiza um certo montante de gastos monetários, principalmente na compra de gado (para tração) e de lenha (para fornalhas). Essas compras constituíam o principal vínculo entre a economia açucareira e os demais núcleos de povoamento existentes no país.

- tudo indica, destarte, que pelo menos 90% da renda gerada pela economia açucareira dentro do país se concentrava nas mãos da classe de proprietários de engenhos e de plantações de cana.

- esses dados põem em evidência a enorme margem para capitalização que existia na economia açucareira e explicam que a produção haja podido decuplicar no último quartel do século XVI.

- a indústria açucareira era suficientemente rentável para autofinanciar uma duplicação de sua capacidade produtiva a cada dois anos. -> mas, o crescimento da indústria foi governado pela possibilidade de absorção dos mercados compradores. Sendo assim, que não se tenha repetido a dolora experiência de superprodução que tiveram as ilhas do Atlântico.

- explicação mais plausível é que parte substancial dos capitais aplicados na produção açucareira pertencesse aos comerciantes à classe de proprietários de engenhos e de canaviais, seria o que modernamente se chama renda de não-residentes, e permanecia fora da colônia. Explicar-se-ia assim, facilmente, a íntima coordenação existente entre as etapas de produção e comercialização, coordenação essa que preveniu a tendência natural à superprodução.

Capítulo 9 – Fluxo de renda e crescimento

- o empresário açucareiro, desde o começo, teve de operar em escala relativamente grande, as condições do meio não permitiam pensar em pequenos engenhos, como fora o caso nas ilhas do Atlântico. -> os capitais foram importados.

- nas primeiras fases de operação, muito provavelmente coube ao trabalho indígena um papel igualmente importante.

- uma vez instalada a indústria, seu processo de expansão seguiu sempre as mesmas linhas: gastos monetários de importação de equipamentos, de alguns materiais de

construção e de mão-de-obra escrava. A importação de mão-de-obra especializada já se realizava em menor escala, tratando os engenhos de se auto-abastecer também nesse setor.

- a população escrava tendia a minguar vegetativamente, sem que durante toda a época da escravidão se haja tentado com êxito inverter essa tendência -> importação de mão-de-obra escrava cresce!

- parte da força de trabalho escrava se dedicava a produzir alimentos para o conjunto da população, e os demais se ocupavam nas obras de instalação e, subsequentemente, nas tarefas agrícolas e industriais.

- a inversão feita numa economia exportadora escravista é fenômeno diverso. Parte dela transforma-se em pagamentos feitos no exterior: é a importação de mão-de-obra, de equipamentos e materiais de construção; a parte maior, sem embargo, tem como origem a utilização mesma da força de trabalho escravo.

- a nova inversão fazia crescer a renda real apenas no montante correspondente à criação de lucro para o empresário

- mão-de-obra escrava pode ser comparada às instalações de uma fábrica: a inversão consiste na compra do escravo, e sua manutenção representa custos fixos.

- os gastos de consumo aprensentavam características similares. Parte substancial desses gastos era realizada no exterior, com a importação de artigos de consumo, conforme vimos. Outra parte consistia na utilização da força de trabalho escravo para a prestação de serviços. Neste último caso, o escravo se comportava como um bem durável.

- como os fatores de produção pertenciam na sua totalidade ao empresário, a renda monetária gerada no processo produtivo revertia em sua quase totalidade às mãos desse empresário. -> essa renda expressava-se no valor das exportações. É fácil compreender que, se a quase totalidade da renda monetária estava dada pelo valor das exportações, a quase totalidade do dispêndio monetário teria de expressar-se no valor das importações. A diferença entre o dispêndio total monetário e o valor das improtações traduziria o movimento de reservas monetárias e a entrada líquida de capitais, além do serviço financeiro daqueles fatores de produção de propriedade de pessoas não residentes na colônia.

- unidade escravista -> caso extremo de especialização econômica. Vive totalmente voltada para o mercado externo.

- tudo indica, portanto, que o aumento da capacidade produtiva foi regulado com vistas a evitar um colapso nos preços, ao mesmo tempo que se realizava um esforço persistente para tornar o produto conhecido e ampliar a área de consumos do mesmo.

- o crescimento da empresa escravista tendia a ser puramente em extensão.

- economia escravista dependia, assim, de forma praticamente exclusiva da procura externa.

- renda monetária da unidade exportadora praticamente consituía os lucros do empresário, sendo sempre vantajoso para este continuar operando, qualquer que fosse a redução ocasional dos preços. Como o custo estava virtualmente constituído de gastos fixos, qualquer redução na utilização da capacidade produtiva rendundava em perda para o empresário.

- se os preços se reduziam abaixo de certo nível, o empresário não podia enfrentar os gastos de reposição de sua força de trabalho e de seu equipamento importado. Em tal caso, a unidade tendia a perder capacidade. Essa redução de capacidade teria, entretanto, de ser um processo muito lento.

Aula 11/04/2011 – Celso Furtado – Capítulos 10 a 15

1) Processo de formação do capital -> características

a) importação dos bens essenciais à instalação do engenho.

Na etapa inicial, importa-se equipamentos e mão-de-obra (especializada), a mão-de-obra não-especializada era de origem indígena.

Posteriormente, continua-se importando equipamentos, reduz a importação de mão-de-obra especializada, porém aumenta a importação de mão-de-obra não especializada (escravos).

b) Discrepância entre o montante de recursos financeiros necessários e o valor criado.

c) portanto, o processo de formação de capital: i) não gera renda monetária a outros setores da economia colonial, uma parte da produção some como forma de capital, gerando uma pequena renda real.

2) Funcionamento do engenho -> lucro líquido do Senhor do Engenho:

Valor da produção -> custo de reposição + custo de manutenção

Valor da produção = f(produto físico; preço do açúcar)

Custo de reposição = f(taxa de depreciação; preço do escravo; preço do equipamento)

Custo de manutenção = provido pelo próprio escravo

Custos fixos

O escravo parece um ativo fixo -> por isso, há uma preocupação de utilizá-lo intensivamente. Os seus custos também são fixos.

Redução do preço do açúcar na entressafra -> melhoramentos/reparos -> os escravos criam ativos, porém sem fluxo de renda monetária.

O proprietário tem que manter o tamanho da escravaria em função do pico da safra. Nos períodos de entressafra, uma parte dessa escravaria fica desocupada.

3) Gastos de consumo -> características semelhantes aos gastos de investimentos. Parte monetária = importação

Escravo é um bem de consumo durável. Há um fluxo de serviço sem expressão monetária.

4) Fluxo monetário na economia escravista açucareira -> só cria fluxo com o exterior, é o único local em que há circulação monetária, segundo Celso Furtado.

5) Potencialidade de a Atividade açucareira promover mudanças na estrutura econômica da colônia

a) durante a fase de crescimento (quarto quarto do século XVI até a primeira metade do século XVII) -> houve um aumento na produção e no número de engenhos. Não há restrições do lado da oferta -> terra é abundante e a mão-de-obra é proveniente do tráfico.

Potencialidade -> duplicar a capacidade. Não ocorreu pois o preço do açúcar regulou a capa cidade.

Se os recursos não tivessem vazado para o exterior sob a forma de capital de não-residentes e tivesse sido aplicado na atividade açucareira, teríamos uma redução na taxa de retorno e, outros setores teriam se desenvolvido.

Porém, não há mudança na estrutura da economia colonial -> a atividade açucareira cresce replicando as plantas industriais que já havia.

O crescimento se faz com o aumento das importações e de terras, o único segmento que cresce, impulsionado pela economia açucareira é a economia criatória.

b) na fase de declínio (após a 2ª metade do século XVIII) -> também não provoca mudanças na estrutura da economia colonial nem no curto-prazo, nem no longo prazo.

- Curto-Prazo: atrofiamento do setor monetária: queda do lucro do empresário devido a: i) redução no valor da produção; ii) custos estáveis. A utilização do trabalho escravo garante a sobrevivência do próprio escravo e de parte do consumo do senhor do engenho. O senhor de engenho tenta reduzir o desembolso monetário.

No curto-prazo, há um processo de atrofiamento do setor monetário.

A tendência esperada é que o preço do escravo deve cair, em função de uma redução na demanda.

Sobre a produção, os efeitos são praticamente nulos, como os custos fixos são relativamente altos (em comparação aos custos variáveis), a tendência é que a produção continue. Há uma redução na renda do senhor de engenho. Portanto, há uma redução das receitas e dos lucros!

Assim, no curto prazo, não temos mudanças significativas na produção.

- Longo-prazo: redução dos gastos monetários com reposição de escravos e equipamentos. Há uma perda da capacidade produtiva -> lenta queda do ativo (o senhor de engenho não vai repondo a sua escravaria na totalidade).

Com o aumento no preço do açúcar, a atividade floresce. A estrutura produtiva permanece a mesma!

O que determina a longevidade do empreendimento é o negócio poder diminuir e aumentar de tamanho -> isso acontece pois é uma atividade escravista.

Economia criatória -> é importante para a atividade açucareira, fornecendo animais para a economia açucareira.

O crescimento da atividade criatória era mais acelerado do que a atividade açucareira. Em razão disso.

Conseqüências:

i) uma necessidade de buscar lenha em lugares cada vez mais distantes (devastação de florestas);

ii) conflito entre as atividades.

1) Formação de Capital e nível de renda

i) baixo nível de capitalização (uma fazenda típica): área de aproximadamente 3 léguas ao longo dos cursos d’água até o divisor de águas; benfeitorias extremamente rústicas; +/- 200 a 100 cabeás; 10 a 12 pessoas; separação entre fazendas; atividades itinerantes -> segue o curso das águas.

Sem benfeitorias -> facilidade de obtenção de mão-de-obra -> índios

Facilidade de adquirir um rebanho inicial

Vaqueiro – 4 a 5 anos

Participação nas crias (1 para 4)

Produção de rebanho garante o crescimento.

ii) Baixo nível de renda

Rendo do setor = venda do gado + venda do couro

Renda da economia criatória vinculada à economia do século XVII -> aproximadamente 5% do valor da produção do açúcar (2 mm de libras) = 100 mil libras (para o conjunto da atividade criatória).

Renda per capita = 7 libras

Rebanho = 3,22 mm de cabeças de gado

População = 13 mm

A renda é de 10% da renda per capita açucareira.

2) Potencialidade de crescimento

i) lado da oferta -> não há fatores limitativos (mão-de-obra -> indígena / terras) começa subindo o Rio São Francisco / até o Rio Tocantins (AM) -> expansão facilitada pela existência de barrieros salgados no PE e de salinas em Alagoas.

Sistema criatório -> aumento da população -> melhores condições de trabalho e de alimentação. Aumento da atividade endógena (rebanho). Aumento da porcentagem da produção destinada ao auto-consumo -> a renda é monetarizada.

Redução do preço do gado -> redução da produtividade econômica

Menor nível de especialização e do grau de desenvolvimento da produção

A tendência da economia criatória foi reduzir a compra de mercadorias com moedas -> civilização do couro! Tudo tinha que ser feito a partir do couro.

Sistema açucareiro -> em prostração desde meados do século XVII; agravado no século XVIII, com o desenvolvimento da mineração.

Aumento nos custos -> aumento no preço do escravo; aumento no preço do gado; emigração da mão-de-obra é oferecer salários maiores.

É provável que tenham sobrevivido as unidades produtivas com: melhores terras (menores custos de produção) e localização (menores custos de transporte) -> melhor situadas com relação ao porto de exportação.

Tanto na economia açucareira, quanto na economia criatória, não criam mercado interno. Não criam fluxo monetário no interior da colônia. A causa disso é a utilização de escravos. A base da constituição de um mercado interno era a mão-de-obra ser remunerada.

Economia no NE entre o último quarto do século XVII e o começo do século XIX:

i) forte crescimento populacional: pecuária migrante -> idade reprodutiva

pecuária -> melhores condições de alimentação -> migração da economia açucareira para a economia criatória

ii) atrofiamento econômico -> redução da renda per capita do NE.

Renda per capita do açúcar > renda per capita da pecuária.

Supondo que a renda per capita permaneça constante em ambos os sistemas -> migração da atividade açucareira para a pecuária.

Situação 1:

açúcar = 70% da população

pecuária = 30% da população

renda per capita = 49 libras

Situação 2:

açúcar = 30% da população

pecuária = 70% da populção

renda per capita= 25 libras

Portanto, temos uma redução de 49% na renda per capita do complexo.

A atividade não se desestruturou. Ela fica mais pobre, porém não desaparece. Isso explica o porque de que, em 1947, 40% da população brasileira está na área mais pobre do país. Por que não houve um estímulo econômico para essa população migrar para as melhores áreas econômicas? Por exemplo no período do café.

Partes importates – capítulos para a aula – Celso Furtado – capítulo 10 a 15

Capítulo 10 – Projeção da economia açucareira: a pecuária

- a alta rentabilidade do negócio induzia à especialização, sendo perfeitamente explicável – do ponto de vista econômico – que os empresários açucareiros não quisessem desviar seus fatores de produção para atividades secundárias, pelo menos quando eram favoráveis as perspectivas do mercado de açúcar. A própria produção de alimentos para escravos, nas terras do engenho, tornava-se antieconômica nessas épocas.

- um conjunto de circunstâncias tenderam, sem embargo, a desviar para o exterior em sua quase totalidade esse impulso dinâmico. Em primeiro lugar havia os interesses criados dos exportadores portugueses e holandeses, os quais gozavam dos fretes excepcionalmente baixos propiciados pelos barcos que seguiam para recolher o açúcar. Em segundo lugar estava a preocupação política de evitar o surgimento na colônia de qualquer atividade que concorresse com a economia metropolitana.

- o principal fator limitante da ação dinâmican da economia açucareira sobre a colônia de povoamento do sul haja sido a própria abundância de terras nas proximidades do núcleo canavieiro. O que caracterizava a economia antilhana era sua extrema escassez de terras. A evolução econômico-social dessas ilhas, nos séculos que se seguiram ao advento da economia açucareira, será profundamente marcada por esse fato. -> a essa abundância de terras, se deve a criação, no próprio Nordeste, de um segundo sistema econômico, dependente da economia açucareira.

- no setor de bens de consumo, as importações consistiam principalmente em artigos de luxo, os quais, evidentemente, não podiam se produzidos na colônia. O único artigo de consumo de importância que podia ser suprido internamente era a carne, que figura na dieta até mesmo dos escravos. Era no setor de bens de produção que o suprimento local encontrava maior espaço para expandir-se. As duas principais fontes de energia dos engenhos (lenha e animais de tiro) podiam ser supridas localmente com grande vantagem. O mesmo ocorria com o material de construção mais amplamente utilizado na época: a madeira.

- foi a separação das duas atividades (açucareira e criatória) que deu lugarn aos surgimento de uma economia dependente na própria região nordestina.

- economia criatória -> fator fundamental de pentração e ocupação do interior brasileiro.

- porém, a economia criatória era um fenômeno econômico induzido pela economia açucareira e de rentabilidade relativamente baixa.

- o recrutamento de mão-de-obra para essa atividade baseou-se no elemento indígena.

- sendo a criação nordestina uma atividade dependente da economia açucareira, em princípio era a expansão desta (açúcar) que comandava o desenvolvimento daquela (criatória). A etapa de rápida expansão da produção de açúcaqr, que vai até a metade do século XVII, teve como contrapartida a grande penetração nos sertões.

- expansão da pecuária -> consiste no aumento dos rebanhos e na incorporação (em escala reduzida) de mão de obra.

- à medida que a economia criatória nordestina ia crescendo, a renda média da população nela ocupada ia diminuindo, sendo particularmente desfavorável a situação daqueles criadores que encontravam a grandes distâncias do litoral.

- a criação de gado também era em grande medida uma atividade de subsistência, sendo fonte quase única de alimentos e de uma matéria-prima (o couro) que se utilizava praticamente para tudo. Essa importância relativa do setor de subsistência na pecuária será um fator fundamental das transformações estruturais por que passará a economia nordestina em sua longa etapa de decadência.

Capítulo 11 – Formação do complexo econômico nordestino

- a reduzida expressão dos custos monetários tornava a economia enormemente resistente aos efeitos a curto-prazo de uma baixa nos preços. Convinha continuar operando, não obstante os preços sofressem uma forte baixa, pois os fatores de produção não tinham uso alternativo. -> a curto-prazo a oferta era totalmente inelástica.

- contudo, se os efeitos a curto-prazo de uma contração da procura eram muito parecidos nas economias açucareira e criatória, a longo-prazo, as diferenças eram substanciais.

- a economia criatória não dependia de gastos monetários no processo de reposição do capital e de expansão da capacidade produtiva. Assim, enquanto na região açucareira dependia-se da importação de mão-de-obra e equipamentos simplesmente para manter a capacidade produtiva, na pecuária o capital se repunha automaticamente sem exigir gastos monetários de significação. Por outro lado, as condições de trabalho e alimentação na pecuária eram tais que propiciavam um forte crescimento vegetativo de sua própria força de trabalho.

- ao reduzir-se o efeito dinâmico do estímulo externo, a economia açucareira entra numa etapa de relativa prostração.

- na economia criatória, sempre havia oportunidade de emprego para a força de trabalho que crescia vegetativamente, e também para elementos que perdiam sua ocupação no sistema açucareiro. O crescimento do sistema pecuário se fazia através do aumento relativo do setor de subsistência. Em outras palavras, a importância relativa da renda monetária ia diminuindo, o que acarretava necessariamento uma redução paralela de sua produtividade econômica.

- o couro substitui quase todas as matérias-primas, evidenciando o enorme encarecimento relativo de tudo que não fosse produzido localmente.

- a estagnação da produção açucareira não criou a necessidade de emigração do excedente da população livre formado pelo crescimento vegetativo desta. Não havendo ocupação adequada na região açucareira para todo o incremento de sua população livre, parte dela era atraída pela fronteira móvel do interior criatório.

- numa região pecuária, a redução das exportações em nada afeta a oferta interna de alimentos e, assim, a população pode continuar crescendo normalmente durante um longo período de decadência das exportações.

- a expansão econômica nordestina durante esse longo período consistiu, em última instância, num processo de involução econômic: o setor de alta produtividade ia perdendo importância relativa, e a produtividade do setor pecuário declinava à medida que este crescia.

- a formação da população nordestina e a de sua precária economia de subsistência estão assim ligadas a esse lento processo de decadência da grande empresa açucareira que possivelmente foi, em sua melhor época, o negócio colonial agrícola mais rentável de todos os tempos.

Capítulo 12 – Contração econômica e expansão territorial

- na segunda metade do século a rentabilidade da colônia baixou substancialmente, tanto para o comércio como para o erário lusitanos, ao mesmo tempo, cresciam suas próprias dificuldades de administração e desefa.

- a desorganização do mercado de açúcar, fumo e outros produtos tropicais, na segunda metade do século XVII, o que impediu aos colonos do Maranhão dedicarem-se a uma atividade que lhes permitisse iniciar um processo de capitalização e desenvolvimento.

- na 1ª metade do século XVIII a região paraense progressivamente se transforma em centro exportador de produtos florestais: cacau, baunilha, canela, cravo, resinas aromáticas. A colheita desses produtos, entretanto, dependia de uma utilização intensiva da mão-de-obra indígena -> coube aos jesuítas encontrar a solução adequada para esse problema (utilização da mão-de-obra indígena).

- é através da mão-de-obra indígena que os jesuítas, com meios tão limitados, conseguem penetrar a fundo na bacia amazônica.

- o empobrecimento da região açucareira, ao reduzir o mercado de escravos da terra, repercurtiu igualmente na região sulina, escassa de toda mercadoria comercial. Os couros, que dde há muito se exportavam também pelos portos do sul, aumentaram então sua importância relativa, e os negócios de criação passaram a preocupar os governantes portugueses de forma crescente.

- a penetração dos portugueses em pleno estuário do Prata, onde em 1680 fundarm a Col6onia do Sacramento, constitui assim outro episódio da expansão territorial do Brasil ligado às vicissitudes da etapa de decadência a economia açucareira.

- à medida que cresciam em importância relativa os setores de subsistência no norte, no sul e no interior nordestino, tornava-se mais difícil para o governo português transferir para a metrópole o reduzido valor dos impostos que arrecadava.

- falta moeda nas regiões mais pobres, como por exemplo em Piratininga, onde uma roupa poderia ter o valor de uma casa.

Capítulo 13 – Povoamento e articulação das regiões meridionais

- o estado de prostração e probreza em que se encontravam a Metrópole e a colônia explica a extraordinária rapidez com que se desenvolveu a economia do ouro nos primeiros decênios do século XVIII.

- dadas suas características, a economia mmineira brasileira oferecia possibilidades a pessoas de recursos limitados, pois não se exploravam grandes minas -> sabe-se porém que se chegou a tomar medidas concretas para dificultar o fluxo migratório.

- tudo indica que a população colonial de origem europeia duplicou no correr do século da mineração. Cabe admitir, demais, que o financiamento dessa transferência de população em boa medida foi feito pelos próprios imigrantes, os quais eram pessoas de pequenas posses que liquidavam seus bens na ilusão se alcançar rapidamente uma fortuna no novo eldorado.

- os escravos, em nenhum momento, chegam a constituir a maioria da população. Por outro lado, a forma como se organiza o trabalho permite que o escravo tenha maior iniciativa e que circule num meio social mais complexo.

- a natureza mesma da empresa mineira não permitia uma ligação à terra do tipo da que prevalecia nas regiões açucareiras. O capital fixo era reduzido, pois a vida de uma lavra era sempre algo incerto. A empresa estava organizada de forma a poder deslocar-se em tempo relativamente curto. Por outro lado, a elevada lucratividade do negócio induzia a concentrar na própria mineração todos os recursos disponíveis.

- a excessiva concentração de recursos nos trabalhos mineratórios conduzia sempre a grandes dificuldades de abastecimento. A fome acompanhava sempre a riqueza nas regiões do ouro. A elevação dos preços dos alimentos e dos animais de transporte nas regiões vizinhas constituiu o mecanismo de irradiação dos benefícios econômicos da mineração.

- a pecuária passará por uma verdadeira revolução com o advento da economia mineira. Valoriza-se rapidamente e alcança, em ocasiões, preços excepcionalmente altos.

- a população mineira dependia para tudo de um complexo sistema de transporte. A tropa de mulas constitui autêntica infra-estrutura de todo o sistema. -> criou-se assim um grande mercado para animais de carga.

- a economia mineira constituiu, no século XVIII, um mercdo de proporções superiores ao que havia propiciado a economia açucareira em sua etapa de máxima prosperidade. Desse modo, a economia mineira, através de seus efeitos indiretos, permitiu que se articulassem as diferentes regiões do sul do país.

Capítulo 14 – Fluxo de renda

- se bem que a renda média da economia mineira haja sido mais baixa do que aquela que conhecera a região do açúcar, seu mercado apresentava potencialidades muito maiores. Suas dimensões absolutas eram superiores, pois as importações representavam menor proporção do dispêndio total. Por outro lado, a renda estava muito menos concentrada, porquanto a proporção da população livre era muito maior.

- a população, sem bem que dispersa num território extenso, estava em grande parte reunida em grupo urbanos e semi-urbanos.

- o decreto de 1785 proibindo qualquer atividade manufatureira não parece ter suscitado grande reação, sendo mais ou menos evidente que o desenvolvimento manufatureiro havia sido praticamente nulo em todo o período anterior de prosperidade e decadência da economia mineira. A causa principal possivelmente foi a própria incapacidade técnica dos imigrantes para iniciar atividades manufatureiras numa escala ponderável.

- o pequeno desenvolvimento manufatureiro que tivera Portugal em fins do século anterior resulta de uma política ativa que compreendera a importação de mão-de-obra especializada. O acordo de 1703 com a Inglaterra (tratado de Methuen) destruiu esse começo de indústria e foi de consequências profundas tanto para Portugal como para sua colônia. -> exemplo: metalurgia de ferro, utilizou conhecimento técnicos dos escravos africanos.

- o que faltou ao Brasil foi a transferência inicial de uma técnica que não conheciam os imigrantes.

- em realidade, se o ouro criou condições favoráveis ao desenvolvimento endógeno da colônia, não é menos verdade que dificultou o aproveitamento dessas condições ao entorpecer o desenvolvimento manufatureiro da metrópole.

- se Portugal tivesse enfrentando na 1ª metade do século XVIII as mesmas dificuldades que conheceu no meio século anterior, e o acordo de Methuen teria sido de expressão limitada em sua história. Sendo reduzido o valor das exportações de vinhos, o desequilíbrio de sua balança comercial com a Inglaterra tenderia a agravar-se, provocando maior desvalorização da moeda e outras dificuldades para o país. Ocorre,

entretanto, que o ouro do Brasil começa a afluir exatamente quando entra em vigor referido acordo.

Capítulo 15 – Regressão econômica e expansão da área de subsistência

- na mineração a rentabilidade tendia a zero e a desagregação das empresas produtivas era total. Muitos dos antigos empresários transformavam-se em simples faiscadores e com o tempo revertiam à simples economia de subsistência.

- essa população relativamente numerosa econtrará espaço para expandir-se num regime de subsistência e virá a constituir um dos principais núcleos demográficos do país. A expansão demográfica se prolongará num processo de atrofiamento da economia monetária. Dessa forma, uma região cujo povoamento se fizeram em um sistema de alta produtividade, e em que a mão-de-obra fora um fator extremamente escasso, involuiu numa massa de população totalmente desarticulada, trabalhando em baxíssima produtividade numa agricultura de subsistência. Em nenhuma parte do continente americano houve um caso de involução tão rápida e tão completa de um sistema econômico constituído por população de origem europeia.

Até a 1ª prova.

Aula 04/05/2011 – textos da aula: Celso Furtado – capítulo 7 / Jorge Macedo (texto no Erudito) / Godinho – As frotas do açúcar e as frotas do ouro

Objetivo da aula -> falar das crises da metrópole: i) quebra do monopólio do açúcar; ii) crise do século XVIII associado ao declínio do ouro no Brasil

Tratado de Methuen -> para Celso Furtado, destrói todo o desenvolvimento manufatureiro em curso desde fins do século XVII

Simonsen e o Tratado de Methuen

Antecedentes:

i) Gradual processo de aproximação de Portugal com a Inglaterra após a restauração (acordos de 1642, 1654 e 1661) -> Portugal saiu extremamente fragilizado da União Ibérica, em guerra com Holanda e Espanha (politicamente e economicamente fragilizado). Faz uma aproximação com a Inglaterra, assinando tratados em troca de proteção (Portugal passa a ter proteção da Coroa Inglesa e a Inglaterra passa a ter vantagens reais como a transferência de colônias para a Inglaterra e direitos aos ingleses emm Portugal -> Coroa portuguesa reconhecia a superioridade das leis inglesas)

ii) Manufaturas inglesas (desenvolvidas durante a vigência de uma política protecionista) passam a buscar novos mercados, em face da concorrência movida pelos panos orientais trazidos pelas Companhias de comércio.

- o tratado de Mehtuen (3 claúsulas)

1) permmite a entrada de panos e vinhos e artefatos de lã ingleses (mostra que até então a entrada era proibida);

2) a Inglaterra dá aso vinhos portugueses uma tarifa preferencialmente inferior em 1/3 (isso já ocorria)

3) vigência do ttratado em 2 meses

- Portugal matou o parque industrial desenvolvido graças às proibições instituídas em 1681 e 1690 e tornou-se uma nação agrícola.

-> Godinho

Preocupação básica: os fundamentos da circulação monetária em Portugal nos séculos XVI a XVIII dependem das ocorrências havidas no “conjunto econômico atlântico”

Obs.: circulação monetária -> o que importa são as moedas de prata. O ouro vale muito, então, não era utilizado no mercado.

Conjunto econômico atlântico:

a) Nascimento (séculos XIV e XVI)

Causas:

1) problemas no comércio mediterrâneo ligados a: a) relações com o Oriente: seda, especiarias, entesouramento de capitais no Oriente e; b) monopólio de Veneza

A moeda utilizada nesse comércio era a prata, porém, a Europa não tinha muita prata, tem um déficit, o que gera uma escassez de moeda na Europa, reduzindo o preço das moedas.

2) Condições internas aos países atlânticos: i) procura de ouro por via marítima provocada pela carência e pela queda das rendas senhoriais; ii) busca de mão-de-obra para desenvolvimento da produção de açúcar; iii) alargamento das áreas de pescaria de bacalhau e de caça a foca; iv) procura de artigos de tinturia: goma, sangue de drago, urzela, pau-brasil etc (são produtos de origem animal ou vegetal); v) deslocamento da produção açucareira de Portugal (Açores) e Andaluzia, para as ilhas do Atlântico e, posteriormente, para as Américas

b) O funcionamento do conjunto -> rotas primárias e secundárias 1) Rotas primárias: i) Espanha: México e Pero (prata) e América Central (cochonilla e

pau de campeche) são levados para Sevilla ii) Portugal -> açúcar do Brasil para Lisboa.

2) Rotas secundárias: i) Espanha: pratas e corantes e sal -> Holanda, França e Genova ii) Portugal: açúcar e sal -> Genova, França, Espanha, Holanda, Alemanha e Inglaterra (com participação holandesa) -> é através desse comércio que Portugal obtém a prata.

de fato, o que existe é um comércio triangular:

Lisboa/Nantes/Inglaterra (produtos metropolitanos = “bugigangas”= pacotilhas) -> África (escravos) -> Brasil e Antilhas (açúcar/prata/tabaco) -> Lisboa/Nantes/Inglaterra

Obs.: o Brasil obtém prata através do contrabando

Os escravos são uma mercadoria para a metrôpole trocar na colônia por açúcar, prata e tabaco

- essas rotas primárias e secundárias acabam garantindo o funcionamento da economia portuguesa

Século XVII: ciclo do açúcar + tabaco + pau-brasil + sal (se fossemos manter a terminologia dos ciclos, o correto seria essa)

Portanto, a crise do século XVII é uma crise de todos esses produtos.

a) Produção antilhana de açúcar e tabaco b) Política colbertina

Fechamento dos principais mercados + queda no preço -> gera uma pressão no lado da demanda (aumento no preço do escravo em razão do aumento da demanda -> outros setores também consomem escravos).

Todos os preços caíram, havia uma redução de moeda -> crise dos produtos coloniais. Godinho compara com a curva de preços do trigo em Açores. Mostra que a oscilação dos produtos coloniais é muito maior. Porntanto, a queda nos preços dos produtos coloniais é maior do que a queda geral de preços.

Além disso, a queda nos preços do afluxo de prata na Espanha e o desvio do comércio holandês (não se abastecem mais de sal em Lisboa) gera uma falta de prata.

Assim, esta crise é, simultaneamente, uma crise do açúcar e da prata.

Esforços de superação da crise -> Conde de Ericeira (1670 – 1690) -> cabe a ela diagnosticar a crise e encontrar soluções

a) Política de desenvolvimento da manufatura. Como se exporta menos, pode-se importar menos. As medidas foram pragmáticas (tem caráter tanto econômico, quanto moral, de costumes): 1677, 1686, 1690 e 1702 -> proibição de roupas muito decoradas, uso de tecidos ingleses Essas proibições eram muito mais concorrentes à indústria francesa (mais de luxo). Reduziu a importação de produtos franceses e aumentou a importação dos produtos ingleses. A prova de que Portugal não tinha manufaturas é a utilização de mão-de-obra francesa (mais uma explicação para a concorrência de produtos franceses

b) Política monetária (1688): i) aumento de 20% do valor nominal das moedas portuguesas, com a manutenção do valor intrínseco (constante). Quem tinha moeda espanhola, era mais barato comprar em Portugal do que na Espanha. As moedas começaram a fluir para Portugal. Outros países fazem o mesmo, anulando os efeitos.

iii) Cia do Cacheu -> fornecimento de negros da Guiné para a América Espanhola (aciento = só portugal podia fornecer escravos para América Espanhola) -> entrada de piastras em processo muito mais duradouro do que a valorização das moedas.

- abandono dos esforços de industrialização (1690 – 1705) -> Tratado de Methuen

Pergunta: o abandono deveu-se com a saída do Conde de Ericeira? Não tinham outros pessoas envolvidas (exemplo o Conde da Fronteira). O abandono dessa política está associado a solução da crise do ciclo do açúcar, do tabaco etc.

1) Aumento do preço do açúcar e do tabaco (aumento das exportações para países que Portugal já exportava);

2) Aumento do tráfico com as Índias Orientais, onde os holandeses enfrentavam dificuldades;

3) Aumento da exportação de vinho do porto -> ascenção política dos senhores da Vinha (esse grupo vem a substituir o grupo do conde de Ericeira). Sai um gruopo pró-indústria e entra um grupo pró-vinha -> proibição da importação de bebidas estrangeiras e Tratado de Methuen.

Quer dizer que Portugal optou por ser um produtor de Vinhos. Ou seja, o abandono não é uma consequência dessa medida. O que os ingleses queriam, com o tratado de Methuen, é que Portugal abrisse o seu mercado e permitisse a entrada legal de panos. Os panos já entravam pelo contrabando. Ou seja, o tratado consagrou uma situação de fato.

-> Methuen -> consagrou uma situação de fato (não trouxe qualquer novidade. Não tinha o poder de mudar nada.

- o desenvolvimento do comércio do vinho do porto com a Inglaterra ocorreu antes de 1703, graças às tarifas proporcionalmente mais baixas que as dos vinhos franceses.

- o contrabando já introduzia grande quantidade de panos ingleses (e holandeses).

No longo-prazo, Portugal irá acumular sucessivos déficits comerciais na balança comercial com a Inglaterra (isso é o máximo que podemos falar do tratado de Methuen, mas não podemos atribuí-lo ao tratado). Se Portugal não tivesse o ouro brasileiro, 10 anos depois da assinatura, o tratado não tinha poder de vigência prática.

Conclusão -> Portugal nunca vai ter um setor industrial que defende uma polític de industrialização. Portugal tem um setor comercial, que acabando com o problema da balança comercial, volta-se para o comércio e esquece da industrialização.

- Século XVIII -> ciclo do ouro, do vinho do Porto e da Madeira

O vinho do Porto acaba promovendo outros vinhos, como o proveniente da Madeira, ele vai para as outras colônias.

O ouro brasileiro cobre o déficit da balança comercial. Não resolve o problema da escassez de prata (esse problema é resolvido por meio do contrabando).

Em 1712 -> tratado de Utrecht -> a colônia do sacramento passa para Portugal, que perde o assiento.

Obs.: A Inglaterra era um parceiro comercial importante para Portugal (quase 100% das exportações portuguesas iam para lá), porém, Portugal não era um parceiro importante para a Inglaterra (cerca de 4% das exportações inglesas iam para Portugal e, 20% das importações inglesas era de produtos portugueses).

- Crise do ciclo após 1765

Redução de entrada de ouro proveniente do Brasil. queda do dizimo e redução do lucro da Cia do Grão Pará-Maranhão.

Esforços de superação -> Pombal (mesmo cargo que o Conde de Ericeira) -> reativação do comércio com China e Índia. Aumento das exportações de algodão e arroz do Brasil. novo surto manufatureiro após 1770.

Resumo das afirmações de Godinho:

a) O tratado de Methuen não matou o desenvolvimento manufatureiro de Portugal, foi apenas um expediente para contornar as dificuldades decorrentes da crise do ciclo do açúcar.

b) Assim, o tratado de Methuen apenas consagrou uma situação de fato. O desenvolvimento do comércio do vinho do Porto ocorreu em 1703 e os panos ingleses já entravam por meio do contrabando.

c) O ouro brasileiro marca o início de um novo ciclo comercial juntamente com o vinho do Porto e da Madeira. Esse ouro sai de Portugal (vaza para o exterior).

Ponto conflitante de Godinho com Furtado -> o efeito do Tratado de Methuen sobre o desenvolvimento.

- Jorge de Macedo

No Brasil assenta-se o sistema econômico português no século XVIII.

Macedo trabalhou com as estatísticas da entrada e saída de navios do porto de Lisboa no decênio 1750-60. Conforme o número de navios de bandeira portuguesa vai diminuindo, Portugal vai entrando na crise.

Passavam pelo porto cerca de 800 navios/ano. Desses, 300 eram portugueses (inferior ao número de navios ingleses) e, aproximadamente 100 faziam ligação direta com o Brasil, onde provinham vários produtos do comércio internacional, em especial o ouro (que era utilizado para cobrir o déficit comercial). -> França e Inglaterra disputavam uma parceria (o ouro).

- Comércio exterior português:

Havia 4 produtos que eram exportados, produzidos na metrôpole: vinho, sal, frutas e azeite. Os principais produtos coloniais eram: tabaco, açúcar, escravos e madeira. Os principais produtos importados eram: trigo e outros cereais, manufaturas, genêros alimentícios, matérias-primas.

O déficit comercial português era coberto com o ouro brasileiro. Esse ouro permitia que a metrôpole mantivesse uma abundância muito maior do que sua própria produção permitia.

Esse sistema entrou em crise no final do reinado de D. João V (1706 – 50). As razões da crise foram:

i) Grande aumento do contrbando no porto de Lisboa (dificuldades técnicas + envolvimento dos funcionários). Obs.: sempre teve contrabando, mas houve um forte aumento em razão dos fatores mencionados.

ii) Queda do número de entrada e saída de navios portugueses no porto. Em 1748, o percentual de navios portugueses que entravam no porto era de 36%, em 1753 esse percentual caíra para 11%. Nas saídas, em em 1748, 37% dos navios eram portugueses, em 1753, eram 12%.

iii) Concorrência dos vinhos internos que não eram produzidos na região do Porto.

- início do reinado de D. José (1750 – 1777) -> crise econômica parcial. Ouro, tabaco, e escravos “sustentam” a economia colonial.

Política do governo de Pombal -> monopólio / reforço do Estado

Fases de legislação:

1750 – 60 -> problemas comerciais e estaduais

1760 -64 -> problemas militares

1764 – 70 -> problemas mercantis

1770 – 77 -> problemas industriais. Período em que retoma-se a manufatura.

Crise após 1760 -> há uma queda na produção de ouro no Brasil, somada a uma crise dos outros produtos -> auge da crise: 1768 – 71 -> “página 96

Obs.: o fim do período pombalino e a entrada de d. Maria é conhecido como “Viradeira”. Há uma mudança total de valores.

- Jorge de Macedo sobre a industrialização no período de Pombal. Pombal reorganizou uma indústria com essas características:

• Pequenas oficinas, muitas delas caseiras • Dispersas pelo reino em zonas urbanas e rurais, conforme a proximidade da

matéria-prima ou do consumidor • Técnicas tradicionais • Fabricantes de produtos de consumo corrente

Principais medidas de fomento à industrialização:

Isenção de impostos

Monopólios

• Livre entrada de matérias-primas • Monopólios • Livre entrada de matérias-primas

Eram concedidas sem critério prévio e aplicadas apressadamente -> rápida entrada em produção. Na verdade, não existe um plano organizado de fomento industrial. O objetivo era que esses industriais entrassem o mais rápido possível em produção e aliviasse a balança comercial.

Página 96 -> último parágrafo.

Ouro -> é um ponto em comum entre Macedo e Furtado.

Furtado -> pagamento de dívidas no exterior + gasto santuário (ponto complementar)

Conflitante -> efeito do Tratado de Methuen sobre a manufatura portuguesa.

Pontos importantes do texto -> Godinho

• Contatos, migrações existiram sempre, com efeito, entre estas duas partes do mundo; os bens culturais do resto, passaram sobretudo no sentido Ásia – América. Todo mundo formva então uma banda contígua. Mas esta banda era cortada pelo Atlântico;

• Nos séculos XIV e XV começa uma extradordinária aventura: a descoberta do Oceano; criação de rotas oceânicas, nascimento do mundo atlântico. Causas -> em geral explica-se este abrir caminho para Oeste pelos problemas mediterrâneos, problemas ligados às condições dos mercados do Mediterrâneo oriental.

• As viagens das descobrtas os primeiros estabelecimentos nas ilhas atlânticas e ao longo das costas africanas parecem-nos ser a consequência de um conjunto de forças que distribuiremos por 4 rúbricas: 1º) procura do ouro, pela via marítima, imopsta pela carência dos metais preciosos e a queda das fendas senhoriais. 2º) a necessidade da mão-de-obra e mais precisamente de escravos para plantações de cana e engenhos de açúcar que se ensaiam; 3º) alargamento progressivo e voluntarioso das áreas de pescaria -> papel da pesca marítima na economia portuguesa da idade média. Muitas vezes os pescadores foram os primeiros a conquistar as rotas, mais tarde “descobertas” por pretensos “descobridores”. 4º) não se devem esquecer as exigências das indústrias têxteis em cores de tinturaria e outros produtos tal como a goma, usada no preparo da seda.

• A gênese do mundo atlântico está em grande parte ligado à dinâmica do açúcar. • É necessário distinguir entre as rotas primarias que atravessam o oceano trazendo

os produtos da América para a Europa e as rotas de redistribuição que levam estes produtos ao Mediterrâneo ou ao mar do Norte e ao Báltico;

• O Atlântico setentrional mostra-se muito menos rico, aqui o verdadeiro motor é a pesca: a baleia entre a Islândia e a Groelândia firmemente mantida pelos holandeses;

• Assim, o atlântico tem já a sua vida própria. Nem sempre assim tinha sido, porque vastos espaços apenas haviam sido explorados como portas que se tentava abrir para o mundo asiático.

• A economia portuguesa do século XVII participa profundamente deste conjunto econômico atlântico. O tráfico com as Índias Orientais torna-se muito anemiado em consequência da vitoriosa concorrência dos holandeses, ingleses e franceses.

• A idéia de ciclos dominados cada um por um produto não deixa de falsear um pouco a realidade, dando dela uma imagem demasiado esquemátic, demasiado simplista, porque o açúcar do Brasil não explica tudo durante o século XVIII.

• Além do açúcar, o Brasil fornece tabaco, cujo papel não é, de longe, inferior ao daquele.

• Foi com o Sal que o Brasil comprou a ajuda holandesa para a guerra da independência portuguesa, a guerra da Restauração, a partir de 1640 -> era a mercadoria que fornecia dinheiro à Portugal.

• Os portugueses conseguiram o prata da Espanha por duas vias -> i) via terrestre: exportação do açúcar, tabaco e pau-brasil para a Espanha, recebendo em troca moedas espanholas (piastras); ii) marítima, ligando Lisboa a Sevilha. Os navíos holandeses chegavam geralmente em lastro a Setubal para carregar sal. Ao mesmo tempo, alguns navios de guerram iam a Sevilha, comboiando outra frota holandesa que aí vendia mercadorias do Norte contra pagamento em prata. -> foram estas duas vias que forneciam aos portugueses as moedas indispensáveis ao seu comércio. -> frase dos espanhóis: “Mas é com o nosso dinheiro que os portugueses nos fazem a guerra!”

• Política econômica de Colbert -> consequências econômica desastrosas para o comércio atlântico português. Os produtos portugueses veem-se expulsos dos mercados franceses, ingleses e holandeses

• Abastecimento em prata sofre uma nova crise. A 1º situara-se cerca de 1625-1630; a 2ª produz-se, precisamente, cerca de 1670-1630. E não é apenas a afluência do metal branco a Sevilha diminui – mas, ainda, o fato de o comércio holandês se desenvolver noutras direções que não Setubal e Lisboa.

• Política de desenvolvimento manufatureiro se explica precisamente pela crise. Os portugueses viam-se obrigados a escolher entre 3 soluções: i) pagar estas mercadorias em numerário; ii) desenvolver outros comércios graças aos quais pudessem continuar a comprá-los; iii) empreender na sua ação a produção dos artigos que até aí importavam. -> restava apenas uma solução: o desenvolvimento manufatureiro.

• Como a crise mostra também um aspecto monetário, devemo-nos interrogar sobre se esta política manufatureira não será solidária de uma política monetária -> em 1688 aumenta-se em 20% o valor nominal da moeda -> permite operar a absoluta sangria do dinheiro espanhol. Em Lisboa, os franceses não a compreenderam, julgavam que o governo português estava louco. Um ano depois verificam que há abundância de moedas no mercado de Lisboa. Assim, em 1688, há impossibilidade de efetuar pagamentos, em 1689, o numerário circula normalmente naquelas cidades. Rapidamente os outros países tomam análogas medidas, elevando os preços para remediar esta desvalorização da moeda.

• Proibe-se a entrada nos portor portugueses de fitas, tecidos de seda, ouro e prata e de todos os panos de luxo: é a necessidade de reduzir as importações que a isso obriga, visto a balança comercial se encontrar muito deficitária.

• O tratado de Methuen registra, sobretudo, uma situação de fato; já antes de 1703 o contrabando inglês introduzia em grande quantidade os panos ingleses que eram proibidos: situação que os holandeses se aproveitavam para fazer o mesmo. E o comércio do vinho do Porto tinha-se desenvolvido em 1703. Portugal concede autorização para a entrada dos panos ingleses e a Inglaterra concede um direito preferencial aos vinhos portugueses em face dos franceses, outra consagração de uma situação de fato.

• 3 condições sucessivas fizeram mudar a corrente de direção:

i) 1690 -> crise comercial está em vias de se extinguir. Os estoques foram vendidos, os preços sobem, pressente-se que os consumos de açúcar e do tabaco aumentaram muito, pois o comércio português não conquista novos mercados

ii) Os anos de 1690-1705 foram de incontestável incremento e prosperidade mercantil para Portugal. Ora sendo a política industrial uma resposta à crise comercial, uma vez esta passada, a primeira perdia a sua razão de ser. Os industriais cedem o lugar aos grandes senhores da vinha -> com muito mais importância que o tratado de Methuen em 1703, uma série de leis proibe a importação dos vinhos e aguardentes estrangeiras em Portugal; o que vira um rude golpe ao comércio francês.

iii) O ouro no Brasil torna-se cada vez mais uma tentação. Em contrapartida a cultura açucareira vai diminuir no Brasil, porque a mão-de-obra é desviada para as minas e porque o ouro é mais rendoso.

• Em resumo, o desenvolvimento manufatureiro foi o ponto de viragem entre os dois períodos das história econômica portuguesa nitidamente definidos.

• A circulação corrente continua a ser a da prata, pois as moedas de ouro são demasiado valiosas para as compras correntes no mercado, interessando o comércio internacional e não o comércio regional ou local.

• Temos ouro, mas é da prata que necessitamos. Como conseguimos? É de que este comércio baixou no princípio do século XVIII, e seria esta uma das razões pelas quais houve falta de prata em Portugal.

• 1670, data do desencadear da crise, de novo os portugueses se interessam por Buenos Aires e pelo Rio da Prata, a princípio tímidos ensaios, tentativas do contrabando, mas no começo do século XVIII, estes ensaios tornam-se mais sistemáticos e conseguem alguns quilos de ouro. Chegou-se a expulsar do Braisl todas as casas estrangeiras.

• As crises do ouro não explicam cabalmente as crises econômicas do século XVIII, embora tenham ligações com elas. Acautelemo-nos da sedução de uma teoria monetária da evolução econ6omica e não menos da teoria quantitativa da moeda. Se a produção do ouro aumentava, devemos supor uma alta dos preços, se acietamos a teoria quantitativa clássica; os atuais teóricos da economia já não aceitam este ponto de vista, porque dizem: tudo depende do investimento da tesourização e até da poupança.

• A partir de 1754, com o despotismo esclarecido do marquês de Pombal, surge de novo uma política de criação de companhias, uma política comercial bastante coerente. Criam-se várias sociedades comerciais privilegiadas entre o fim do século XVII e 1755: a companhia para o comércio de Macau, em 1714; uma outra para o tráfico dos escravos, a Companhia de Corisco, cujo promotor foi um francês, em 1720. Em 1740 constituiu-se a Companhia dos diamantes – e não apenas para os diamentes do Brasil, mas também para os do Oriente.

• O Governo não pensa de maneira nenhuma intervir diretamente na vida econômica. Goza dos benefícios das minas e isso quase lhe basta para suprir as despesas

públicas, ou antes, as despesas da nobreza e da Casa Real. Além disso, há a exportação do vinho do Porto.

• Segundo Jorge Macedo -> uma das mais inesperadas consequências do tratado de Methuen foi o desenvolvimento da exportação, não dos vinhos do Porto, mas sim dos outros vinhos portugueses, desses pertencentes às grandes casas como Cadaval e Alegrete, que não eram de nenhum modo vinhos do Porto. Durante o século XVIII, verifica-se uma concorrência bastante dura entre os proprietários das vinhas do Douro e outros.

• O marquês de Pombal será essencialmente o homem dos proprietários das vinhas do Douro e dos grandes rendeiros do tabaco -> criação da companhia do alto Douro -> leva a criação de um monopólio que favorece o vinho do Douro e o comércio português em detrimento de alguns interesses.

• Vai-se entrar numa nova fase manufatureira, também ela provocada por uma crise comercial.

• Tratado de Utrecht -> dá a Portugal a colônia de Sacramento. E em breve, haverá tentativas portuguesas de invasão de Montevidéu. Com efeito, os espanhóis nunca cederam de bom grado a esta conessão.

• O couro representa um papel muito importante no Atlântico do século XVIII e o seu volume, senão o seu valor, é comparável ao do açúcar.

• No século XVII, até 1680-90, a frota do Brasil compunha-se de 70 a 90 navios que chegavam simultaneamente a Lisboa, vindos de vários portos brasileiros, constituindo pois uma única frota. Em contrapartida, no século XVIII aparecem “as” frotas do Brasil, em relação com a especialização econômica das diversas regiões donde provém. Há a frota do Rio de Janeiro que traz ouro e também as piastras de Buenos Aires e os couros das colônias espanholas do Sul. Há a frota da Bahia que traz o açúcar, o tabaco e o pau-brasil. há a frota de Pernambuco que é, de preferência, a da madeira para construções navais e o imobiliário e que se torna também, no século XVIII, cada ano que passa, mais nitidamente uma frota do açúcar. Há as frotas do Grão-Pará e do Maranhão a que se pode chamar de “frotas do cacau” e, na 2ª metade do século XVIII de “frotas do algodão”.

• A partir de 1770, quer dizer, após o desencadeamento da crise do ouro e de todo o comércio do além-mar, que se verificará um surto manufatureiro e uma transformação comercial

• Vai se abrir um novo ciclo do comércio com a China e a Índia, do algodão e do arroz do Brasil, das manufaturas da Metrópole. A balança comercial portuguesa tornar-se-á menos favorável no fim do século.

• A revolução industrial deve certamente muito ao ouro brasileiro. É verdade que a exportação de metais preciosos continuava proibida em Portugal, contudo já vimos os barcos de guerra ingleses vir, não por acaso, ancorar no meio dos navios chegados do Brasil.

• Todos os esforços portugueses desenvolvem-se no sentido da Espanha e da prata da América. Ao contrário da Inglaterra, não tem uma política de captura do ouro.

Pontos importantes do texto - Capítulo 7 – Encerramento da etapa colonial

- ao recuperar a independência, Portugal encontrou-se em posição extremamente débil -> ameaça da Espanha sobre o território + perda do comércio oriental e do açúcar -> p/ sobreviver como Metrópole colonial deveria ligar seu destino a uma grande potência (=alienar perte de sua soberania). Acordos concluídos com a Inglaterra em 1642-54-61 estruturaram essa aliança que marcará profundamente a vida política e econômica de Portugal e do Brasil nos anos seguintes.

- os privilégios conseguidos pelos comerciantes ingleses em Portugal foram de tal ordem que os mesmos passaram a constituir um poderoso influente grupo com ascendência crescente sobre o governo português.

- Portugal fazia concessões econômicas à Inglaterra, e essa pagava com promessas ou garantias políticas.

- final do século XVII -> tentativa de criar manufaturas. Porém, o rápido desenvolvimento da produção de ouro no Brasil, a partir do 1º decênio do século XVIII, modificaria fundamentalmente os termos do problema.

- acordo de Methuen (1703) significou para Portugal renunciar a todo o desenvolvimento manufatureiro e implicou tranferir para a Inglaterra o impulso dinâmico criado pela produção aurífera no Brasil.

- Graças a esse acordo, Portugal conservou uma sólida posição política numa etapa que resultou ser fundamental para a consolidação definitiva do território de sua colônia americana.

- o ciclo do ouro consistiu um sistema mais ou menos integrado, dentro do qual coube a Portugal a posição secundária de simples entreposto. Ao Brasil, o ouro permitiu financiar uma grande expansão demográfica, que trouxe alterações fundamentais à estrutura de sua população, na qual os escravos passarão a ser a minoria.

- para a Inglaterra, o ciclo do ouro brasileiro trouxe um forte estímulo ao desenvolvimento manufatureiro, uma grande flexibilidade à sua capacidade para importar, e permitiu uma concetração de reservas que fizeram do sistema bancário inglês o principal centro financeiro da Europa.

- para Portugal, a economia do ouro proporcionou apenas uma aparência de riqueza, repetindo o pequeno reino a experiência da Espanha no século anterior.

- o último quartel do século XVIII veria a decadência da mineração do ouro no Brasil. A Inglaterra já havia, sem embargo, entrado em plena Revolução Industrial.

- a forma peculiar como se processou a independência da América portuguesa teve consequências fundamentais no seu subsequente desenvolvimento -> transferindo-se o governo português para o Brasil sob a proteção inglesa e operand-se a independência da colônia sem descontinuidade na chefia do governo, os privilégios econômicos de que se beneficiava a Inglaterra em Portugal passaram automaticamente para o Brasil independente.

- a medida que o café aumenta sua importância dentro da economia brasileira, apliam-se as relações econômicas com os EUA. Já na 1ª metade do século esse país passa a ser o principal importador do Brasil.

Aula 09/05/2011 -> Fernando Novais – As dimensões da Independência

-> Relembrando a 3ª aproximação: o sistema colonial da era mercantilista era um instrumento da acumulação primitiva.

O papel das colônias no Antigo Regime:

a) No plano econômico -> ponto de apoio para fomento da acumulação b) No plano político -> elemento de fortalecimento do poder central (quanto mais

fortalecido ficava, menos dependende dos outros) c) No plano social -> aprofundamento da diferenciação social; ascenção da burguesia

comercial

O setor que economicamente se beneficia é a burguesia comercial

- o Sistema colonial foi a principal alavanca na gestação do capitalismo moderno, ao promover a acumulação de capital (K) e a ampliação do mercado de manufaturas. -> condições imprescindíveis para a Revolução Industrial, e ao estabelecimento do capitalismo pelno (industrial).

Obs.: uma vez lançada a revolução industrial na Inglaterra, esses mercados coloniais ficarão insuficientes. Precisa de uma transformação desses trabalhadores coloniais em consumidores.

- mecanismo básico do sistema colonial da era mercantilista -> a) exclusivo colonial; b) tráfico negreiro; c) escravismo africano

Observação:

Noção de crise: é “importada” das ciências médicas. O senso-comum é a quebra/ruptura de harmônia, equilíbrios mecânicos, estabilidade, normalidade.

Nas ciências humanas (sociais) -> Marx – crises econômicas do capitalismo = desarticulação entre as esferas da produção e do consumo.

Há um “espraiamento” para outros campos -> crise científica, de crise ideológica, de crise política.

Crise histórica -> crises parciais; súbita irrupção de desconjuntamentos; desarticulação das relações inter estruturais; colapso da estrutura global.

Crise do sistema -> i) crise de funcionamento (endógeno) – o sistema cumpriu a sua funcionalidade (acumulação primitiva) e, justamente por isso, entra em crise. Essa crise é gerada de dentro para fora. ii) crise de superação – a partir de um determinado momento, uma nova realidade estará posta. Mas essa nova realidade, não é uma destruição do que vinha antes. Nega observando.

Sistema colonial -> acumulação primitiva -> desenvolvimento do capitalismo (sociedade burguesa).

Na colônia -> escravismo (sociedade senhorial escravista)

Confronto com os mecanismos básicos do sistema -> exclusivo colonial; tráfico negreiro; escravismo africano -> não houve necessidade do pleno desenvolvimento do capitalismo.

A Inglaterra perde o seu mercado colonial. Sua expansão precisa ser feita em cima dos outros mercados coloniais, por isso, para ela, não interessa mais ter colônia, tráfico negreiro e escravismo africano. Passam a ser indesejados.

Bastou-se os primeiros passos do capitalismo e esse confronto já foi aparecendo.

- limite natural do crescimento do sistema:

Condições em que se dá a Produção Colonial (escravista)

• Baseia-se na exploração das diferenças ambientais entre a Europa e a Colônia • Abundância de terras + escassez de capital + baixo nível tecnológico -> baixa

produtividade; crescimento extensivo; atividade predatória -> limite natural ao crescimento; esgotamento dos recursos produtivos; não chegou a esse ponto. A superação desse modo de produção não se deveu a fatores naturais, mas sim a fatores de produção.

- exportador -> grandes unidades; trabalho escravo; gêneros de consumo na Europa -> setor principal (razão de ser da colônia).

- importador

- escravismo -> trabalhador direto não possui renda própria, alta concentração da renda, produção de gêneros europeus, acumulação de renda na metrópole;

- exploração colonial -> exploração do trabalho escravo

- produção de técnica bastante rudimentos -> sem qualquer progresso técnico. Redução do custo de produção não é possível de ser obtido mediante altas de produtividade -> redução do custo através da redução do custo de manutenção da Força de Trabalho -> desenvolvimento da agricultura de subsistência no interior da unidade produtiva exportadora, principalmente nas épocas de estagnação/crise. Única forma de obter lucro do proprietário é mediante a mais valia absoluta.

- acumulação primitiva -> promove a revolução industrial que grante o aumento da produtividade e da produção. Exige-se um aumento de consumidores. A camada superior da sociedade colonial é suficiente apenas enquanto a produção é artesanal -> a economia escravista entra em choque.

-> dimensões da crise do sistema colonial

i) estrutural (teórica): a questão teórica cria um conjunto de tensões, que qualquer fato histórico pode desenvadear a tensão, fazendo com que todo o sistema comece a balancear. Uma ponta entra em crise e, assim, todo o sistema entra em crise.

Nas colônias -> a crise assume a forma de guerras de independência.

ii) histórica: fato originário -> colônias de povoamento -> tensões políticas e religiosas provocadas pelo absolutismo inglês no século XVII, à margem do sistema colonial mercantilista, apesar de contemporânea (não se organizou uma exploração para abastecimento do mercado europeu).

Fim da guerra dos 7 anos (1763) -> Inglaterra tenta enquadrar suas colônias (exclusivo comercial) -> independência dos EUA (1776) -> início da crise do Antigo Regime (antes do limite natural).

- política da Inglaterra após a independência dos EUA -> esforço de rompimento do exclusivo comercial de outras metrópoles -> campanha: i) contra o tráfico; ii) pró-independência.

- recomendação do autor para o uso do modelo da crise:

a) esquema interpretativo

b) mecanismos estruturais que emprestam ritmos históricos

c) crise aparece como um conjunto de tendências políticas e econômicas que prendem as colônias e as metrópoles

d) crise do sistema colonial (parte da crise do Antigo Regime), é uma crise de todo o Antigo Regime. Suas características são: i) política: absolutista; ii) social: estamento/ordens; iii) economia: capitalismo comercial

- último quarto do século XVIII e primeira metade do século XIX -> crises no Centro (absolutismo) e na Periferia (economias coloniais).

A crise como um conjunto de problemas a serem superados mediante a remoção de obstáculos impeditivos ao pleno funcionamento do sistema colonial -> re-organização da exploração colonial:

a) Política de defesa do patrimônia -> i) devassas e repressões às inconfidências e, ii) neutralidade externa, aproximação e aliança com os ingleses.

b) Preservação do exlcusivo metropolitano

Pontos importantes do texto

• As conexões mais importantes que vinculam o movimento de independência de nosso país ao processo mais amplo e profundo da crise geral do Antigo Sistema Colonial da época mercantilista (esse é o objetivo do texto)

• Não se pode entender a separação e a autonomização da Colônia sem inserir esses eventos nos mecanismos de superação do antigo colonialismo

• A independência teria sido quase que simplesmente uma transferência de tutela, da portuguesa para a inglesa -> a Inglaterra seria como uma nova metrópole

• A análise por vezes minuciosa dos acontecimentos políticos dão por vezes a impressão de que o centro de decisões de nossos destinos, em todos os níveis, se transferira realmente para dentro de nossas fronteiras

• A procura de compreensão do passado tem de integrar (ou pelo menos tentar combinar) os vários níveis da realidade: os problemas econômicos-sociais, o processo político, os quadros mentais disponíveis, a partir dos quais os atores do drama podiam apreender os problemas emergentes. O enfoque a partir da análise do Sistema Colonial e da sua crise talvez se possa constituir num caminho p/ essa compreensão

• 3ª distorção -> o Brasil nunca teria sido colônia, o Sistema Colonial seria um fantasma

• Portugal não acompanhou, na época mercantilista, o ritmo de desenvolvimento econômico das principais potências européias -> um dos problemas capitais da história portuguesa: identificar os fatores pelos quais, apesar da exploração colonial, retrasou-se a Metrópole em relação ao conjunto da economia européia.

• De fato, o afã de negar o Sistema Colonial leva necessariamente a caracterizar a independência como uma sucessão pura e simples

• O que se deve entender por crise do Sistema Colonial? Em 1º lugar, não se pode pensar em crise de um sistema que não derive do próprio funcionamento desse mesmo sistema; noutros termos, o desarranjo não pdoe vir de fora, pois nesse caso não se poderia falar em crise do sistema. Por esse motivo, o Sistema Colonial do Antigo Regime tem de ser aprendido como uma estrutura global subjacente a todo o processo de colonização da época Moderna.

• a crise dá sempre a impressão de vir de fora, porque na realidade procede do desequilíbrio do todo. Assim, é para os mecanismos profundos da estrutura que devemos nos voltar primeiramente, para depois irmos nos aproximando com segurança dos casos particulares.

• Examinada nas suas origens, a colonização mercantilista aparece como um desdobramento da expansão comercia. O sentido básico mantêm-se, as mercadorias são produzidas para o mercado europeu

• Por intermédio da expansão (séculos XV e XVI), supera-se a depressão monetária européia e se reativara a acumulação de capital por parte da burguesia mercantil.

• Desenvolve-se para ativar a acumulação de capital comercial na Europa, isto é, acumulação por parte da burguesia mercantil, que é uma forma de acumulação originária

• Analisada nas suas conexões com os demais componentes essenciais do mesmo conjunto (Antigo Regime), a mesma natureza da colonização se revela. No plano político, a época moderna assiste ao predomínio do absolutismo. No nível econômico, a economia européia assiste a formação do chamado capitalismo comercial. No âmbito da vida social, a sociedade estamental persiste.

• A sociedade de ordens, já não feudal, ainda não burguesa, prende-se, de um lado, à forma ultracentralizada que assume o poder absolutista nos Estados monárquicos,

de outro, aos limites do desenvolvimento da economia de mercado ou à persistência de amplos setores pré-mercantis.

• Com isto (persistência da nobreza, restos de relações servis, consumo suntuário não reprodutivo de parte do excendente etc) ficam limitadas necessariamente as possibilidades de expansão do setor mercantil da economia, e pois de ascensão da camada burguesa da sociedade.

• O setor de mercado da economia do Antigo Regime tem poucas condições de um intenso e rápido desenvolvimento auto-sustentado

• Daí, a política econômica mercantilista, que no fundo visa essencialmente a enriquecer o Estado p/ torná-lo forte, mas ao fazê-lo desenvolve a economia mercantil e acelera, então, a acumulação de capital de forma primitiva. Assim se fecha o circuito das inter-relações. -> nesse contexto, a colonização aparece como um elemento da política mercantilista

• Os mecanismos pelos quais a colonização se ajusta às funções que exerce no conjunto maior é que se devem denominar Sistema Colonial; e são basicamente o regime do exclusivo metropolitano do comércio colonial, o escravismo africano e o tráfico negreiro

• Não é possível explorar a colônia sem desenvolvê-la; isto significa ampliar a área ocupada, aumentar o povoamento, fazer crescer a produção. O simples crescimento extensivo já complica o esquema

• A industrialização é a espinha dorsal desse desenvolvimento, e quando atinge o nível de uma mecanização da indústria (Ver. Industrial, todo o conjunto começa a se comprometer porque o capitalismo industrial não se acomoda nem com as barreiras do regime de exclusivo colonial nem com o regime escravista de trabalho.

• Tal é o mecanismo básico e estrutural da crise que antes procedo do próprio funcionamento necessário do sistema

• A tarefa do historiados, será procurar as mediações que articulam os processos estruturais com a superfície flutuante dos acontecimentos

• Considerado o Antigo Regime como um todo, interdependente, bastariam esses mecanismos de crise no setor colonial para comprometer o conjunto. Mas nas próprias metrópoles, isto é, no centro dinâmico do sistema, as contradições emergem de seu próprio funcionamento.

• 3 observações parecem-nos indispensáveis: 1º) o arcabouço básico não pode conter nem mesmo moldar todas as manifestações do fenômeno. Assim, na colonização da época moderna, nem todas as colônias se conformam segundo as linhas do sistema; é o caso das chamadas colônias de povoamento, que discrepam da tendência geral. 2º) os mecanismos do sistema, por serem globais, só funcionam naturalmente no conjunto, isto é, encarando-se de um lado as economias coloniais periféricas e, de outro, as centrais européias. 3º) é que o sistema, por assim dizer, não precisa esgotar suas possibilidades para entrar em crise, e se transformar. O que chamamos Sistema Colonial, na realidade, é subsistem de um conjunto maior, o Antigo Regime (capitalismo comercial, absolutismo, sociedade de ordens e colonialismo), e se movimenta segundo os ritmos do conjunto, ao mesmo tempo que o

impulsiona. Assim, não foi indispensável que completasse a industrialização de toda a economia central p/ que o sistema de desagregasse; bastou que o processo de passagem para o capitalismo industrial se iniciasse numa das metrópoles p/ que as tensões se agravassem de forma insuportável.

Aula 11/05/2011 – Olga Pantaleão – A presença inglesa no Brasil

A autora procura mostrar que o século XIX (em especial a 1ª metade), é um século inglês, de forte influência inglesa. Após a vinda das cortes para o Brasil, adota-se um padrão, no jeito de vestir, de comer, de morar -> influência intelectual

Fatos ocorridos:

• Inglaterra, Portugal e o bloqueio continental; • Política inglesa e a partida da família real portuguesa para o Brasil; • Projetos ingleses de conquista da América; • Comboios mercantes e a dificuldade de carga e descarga na âlfandega; • Dificuldades de escoamento das mercadorias; • A remessa de produtos das vendas para a Inglaterra; • O tratado de comércio de 1810; • O tratado de paz e de amizade; • O domínio britânico sobre o comércio exterior e interno brasileiro; • Influência britânica da vida política da corte: a questão do Prata; • Interesse inglês na volta da família real para a Portugal;

A partir desses tópicos, a autora demonstra como que o século XIXI pode ser chamado de século inglês.

- Introdução:

• 21/11/1806 -> Bloqueio continental (não é posto em prática assim que assinado). Efetiva-se após o tratado de Tilsit com a Rússia (07/07/1807) e a Prússia (09/07/1807) -> são tratados de pacificação

• O dilema de D. João: i) lealdade à Grã-Bretanha ou, ii) adesão ao bloqueio continental -> realiza uma política dúbia, que gera insatidfação para ambas as partes. Obs.: era esperado que, caso Portugal, fosse para o lado da França, a Inglaterra invadiria o Brasil.

• Fechamento dos Portos (20/10/1807) e assinatura de Convenção (secreta com Jorge III). Essa Convenção secreta já deixa meio como inevitável a saída da família Real para o Brasil. O compromisso da Inglaterra era de não permitir que nenhum governo em Portugal, além da casa de Bragança.

• Tratado de Fontainebleau (27/10/1807) -> Napoleão assina um acordo em que a casa de Bragança não governará mais

Obs.: A autora explora muito a atitude vacilante perante a pressão exercida pela Inglaterra e pela França.

• Esquadra inglesa chega a Lisboa com 7 mil homens para escoltar a família real para o Brasil ou para atacar Lisboa, caso houvesse resistência de D. João

• Avanço das tropas de Junot (França) • Fronteira com a Espanha (19/11/1807) • Notícia da chegada a Lisboa (22/11/1807) • D. João é avisado (24/11/1807), quando as tropas francesas já se encontravam em

Abrantes (151km ao norte de Lisboa) • Partida para o Brasil (29/11/1807). Junot entre em Lisboa (30/11) -> essa partida

foi extremamente rápida. A Corte trouxe tudo para o Brasil, por exemplo, 1/3 das moedas (gerando inflação em Portugal)

• Escolha do Brasil -> “vaca leiteira” do império (desde 1640). Era também um local de extremo interesse para a Inglaterra. -> O Brasil era o celeiro das exportações portuguesas.

A Coroa chegam em Salvador no dia 21/01/1808, 2 dias após a chegda, assina a Abertura do Portos.

- Abertura dos Portos

• Caráter interino e provisório da medida (enquanto não se tem um sistema geral); • Justificação -> condição excepecional do Reino, que fora ocupado por tropas

napoleônicas e espanholas • Autoriza a entrada nas alfândegas brasileiras de todas as mercadorias

transportadas em navios de vassalos ou de nações amigas • Autoriza a exportação de quaisquer mercadoria (exceto o que era estanco) por

vassalos ou estrangeiros, pagando imposto de exprotação devido às capitanias • Imposto de importação: i) mercadorias secas = 24% ad valorem (era de 30%); ii)

molhadas = 48% ad valorem

Em junho/1808, a família real já está instalada no Rio de Janeiro

• Redução da alíquota de produtos ingleses: i) secos = 16% ad valorem e, ii) molhados = redução de 1/3 no que estava estipulado -> consequências: a) Afluência de comerciantes ingleses, que estavam pressionados pela paralisação

do comércio com Portugal e com os EUA;

Obs.: vieram comerciantes responsáveis, aventureiros e, especuladores.

Consequências: i) abarrotamento do mercado (quantidade de produtos era muito acima da capacidade de absorção do mercado brasileiro); ii) dificuldades de descarga e de alfandega

- Abertura dos Portos (28/01/1808) -> a decisão da abertura foi muito rápida, não haviam chegado no Rio de Janeiro). Explicações:

• Questão prática: era impossível reestabelecer a comunicação com o reino sem o auxílio de navios estrangeiros.

• Cumprimento do acordo de 22/10/1807 que dava livre acesso aos navíos britânicos no Brasil (esse tratado previa que se faria a abertura de um único porto, sendo esse o de Santa Catarina).

• Influência das idéias de Visconde de Cairu sobre a liberdade de comércio preconizada por Adam Smith.

Obs.: a cidade do Rio de Janeiro era muito pequena, acolheu muita gente, isso gerou uma inflação muito grande, especulação imobiliária, inundação de moedas (1/3 das moedas portuguesas estavam no Rio de Janeiro). Após acomodada as famílias, inicia-se a normalidade (exemplos: criação da imprensa régia, todas as colônias tinham. Isso mostra como Portugal tinha interesse em manter a colônia culturamente pobre. Cria-se o primeiro banco do Brasil. revoga-se a lei sobre as manufaturas, etc)

Os tratados de 1810 (são 3):

i) Aliança e Amizade ii) Comércio de Navegação iii) Convenção sobre o estabelecimento de paquetes (serviço de correio regular

entre Inglaterra e Rio de Janeiro)

Foram assinados no Rio de Janeiro em 19/02/1810, porém, começaram a ser negociados muito antes, por 2 ministros especiais para isso.

a) Em Portugal, o responsável era Coutinho, ligado a um partido favorável à Inglaterra. b) Na Inglaterra, o responsável era o Lord Strangford

Os tratados foram confirmados em Portugal de forma muito rápida (26/02/1810). Já a Inglaterra demora para assinar o tratado (18/06/1810). A autora dá um enfoque na utilização da Inglaterra do prazo máximo para a análise do tratado (4 meses), mostrando a minuncia que os ingleses fizeram do tratado.

O prazo de validade do tratado era indeterminado, sendo revisado a cada 15 anos. Porém não ocorreu a revisão pois a Inglaterra não havia reconhecido a independência brasileira. Renovado em 1827 (próxima renovação em 1842 -> relações do Brasil com a Inglaterra estavam horríveis, em razão da Tarifa Alves Branco (que dobra as tarifas de Portugal). Essa crise entre Brasil e Inglaterra desdobra-se no Bill Aberdeen, em que a Inglaterra poderia fiscalizar navios portugueses.

A autora faz uma conclusão negativa sobre esses tratados, que foram absolutamente desequilibrados a favor da Inglaterra. Foram o preço pago por Portugal à Inglaterra pelo auxílio na vinda para o Brasil.

- Motivações dos tratados: diferença de perspectiva entre os representantes das coroas inglesa e portuguesa:

a) Portugal -> “o governo português tinha os olhos no território europeu”, cuja defesa estava nas mãos dos ingleses. O reino ficou sob o governo de uma comissão, dentre os quais sobressaia o general inglês Strangford.

b) Inglaterra -> estava com os olhos no Brasil = novos mercados (possível de ser ampliado para a América Espanhola), sem interdição de Lisboa.

Assim, em muitos aspectos, o tratado reafirma velhos pontos acordados:

i) Juiz conservador (julga crime dos ingleses segundo as leis inglesas, em Portugal) -> já existia nos tratados firmados em 1654

ii) Exclui clausulas antigas que eram desinteressantes aos ingleses. Exemplo: os navios de um país poderiam transportar mercadorias e generos pertencentes a inimigos dos outros

iii) As clausulas continuariam valendo mesmo que a família real voltasse para Portugal

Os principais negociadores:

i) Percy Clinton Syden -> 6º Lord Strangford • Orientação minuciosa de Canning • Forte influência da opinião de comerciantes ingleses organizados na

Associação dos comerciantes de Londres ii) Rodrigo de Souza Coutinho (Conde de Linhares)

• Anglófilo • Despreparado para defender os interesses portugueses • Ignorante da situação de Portugal • Descuidado com o conteúdo e precisão do tratado • Simonsen chama a atenção para a tradução do tratado, que não é

exatamente igual.

Exemplos de benefícios aos ingleses

• Participação dos comerciantes ingleses na elaboração da pauta de valores das mercadorias que era utilizada para a cobrança dos impostos. Era absolutamente grave. Estrangeiros definiam quanto pagarão de impostos (perda de soberania)

• Possibilidade de pagamento dos direitos de importação com letras a vencer em prazo de 9 meses -> privilégio não aplicado sequer aos súditos portugueses

• Ressarcimento de danos ou perdas sofridas por mercadorias sob a guarda das autoridades alfandegárias

• Uso do porto de Santa Catarina como porto franco (pagamento apenas dos direitos incidentes sobre a re-exportação, armazenagem, etc). Era particularmente estratégico, pois 18% do total das exportações para o Brasil era reexportado para Buenos Aires

• O comércio inglês não pode ser embaraçado por qualquer espécie de monopólio ou privilégio.

Exemplos de descaso dos portugueses com relação ao conteúdo e precisão do tratado -> controvérsia porterior, parcialmente superada mediante negociação, nem sempre tão amistosas. Em 1812, Souza Coutinho morre, quem o sucede é Antônio de Araújo e Azevedo (franccófilo), há um conflito com Strangford que deixa o país em 1815, em razão de problemas com questões do tratado e pelo apoio de Carlota Joaquina em certas ocasiões.

Pontos de conflito:

1. Comércio com a Ásia (Goa e Macau) -> continuassem sendo áreas restritas aos comerciantes portugueses. Pelo artigo 23, Goa torna-se um porto franco.

2. Pressão do Núncio Papal -> prática da região protestante (liberdade religiosa -> artigo 12) i) Aparência externa dos templos não deveriam destoar das habitações

comuns e não terem sinos ii) Não procurar fazer conversões iii) Não poderiam pregar em público contra a religião católica iv) Terem cemitério próprio (nem católicos tinham cemitério nessa época

Resultado: “extremamente favorável à Inglaterra”

Apesar de o tratado prever a reciprocidade, mesmo que tal princípio tivesse sido aplicado, poucas teriam sido as chances de Portugal usufruir, por exemplo, cláusula da “nação mais favorecida”. Os protugueses não conseguem se beneficiar, são produtores agrícolas.

Pontos recíprocos:

• Nação mais privilegiada • Liberdade dos súditos, em qualquer parte dos domínios para o comércio, viagem,

residência, dispor de propriedade • Igualdade no pagamento de tributos

Encargos unilaterais de Portugal

• Restringir ou interromper o comércio de súditos britânicos monopólios ou privilégios de venda e/ou compra

• Juiz conservador -> Portugal reconhecia que as leis inglesas eram melhores do que as leis portuguesas

• Liberdade religiosa • Tarifa de 15% com pauta elaborada com a participação de comerciantes inglesas • Portos franco: SC e Goa

Encargos unilaterais de Jorge III

• Aceitar café, açúcar e outros artigos semelhantes ao produzido nas colônias britânicas poderiam entrar na Inglaterra apenas para serem re-exportados

Obs.: o tratado de Paz e de Amizade complementa o tratado de comércio

Defesa mútua:

• Artigo 6º -> madeiras • Artigo 9º -> não haveria tribunal do Santo Ofício no Brasil. ingleses pressionaram

para tentar a promessa de que eles nunca seriam atingidos por esse tribunal • Artigo 10º -> abolição gradual do tráfico transoceânico de africanos, limitado às

colônias portuguesas na África. A qualquer momento, a Armada Inglesa poderia parar um navio de escravos. Ao criar o lícito, cria-se també, o ilícito.

• Outras clausulas foram anuladas pelo tratado de Viena.

Consequências para Olga Pantaleão -> afirma-se a presença inglesa no Brasil

• Influência material -> comércio (importação e exportação), investimentos, gosto (residência e moda), medicamentos, meios de transporte, instrumentos de trabalho.

• Influência intelectual -> literatura, livros técnicos (por exemplo de cultivo), científicos.

• Influência política -> conduta do governo, comportamento dos parlamentares (Brasil vivia uma espécie de parlamentarismo) -> o imperador nomeia o 1º ministro, esse dissolve o congresso e realiza as eleições. (na forma, a aparência é inglesa, na realidade, não é)

• Recuperação da indústria britânica, em crise desde o bloqueio continental • Impediu o desenvolvimento da indústria no Brasil -> alíquota de 15% era muito

baixa. Os preços dos produtos ingleses convertidos à moeda nacioanl são muito baixos (tese semelhante a de Simonsen).

Pontos importantes do texto

• Consequência mais importante da vinda da família real portuguesa foi o fortalecimento no Brasil da influência britânica

• Influência da civilização material britânica -> predominam os ingleses em nosso mercado; trazendo mercadorias de toda espécie, levam matérias-primas, como algodão e produtos agrícolas ou derivados da pecuária. Investem grandes capitais.

• Influência intelectual -> influência na vida política do país; na orientação da linha de conduta do governo ou na ação sobre as atitudes parlamentares que dos ingleses copiaram a oratória, o teor dos discursos

• O século XIX, sobretudo em sua primeira metade, foi assim, no Brasil, o século inglês por excelência. E tudo isso começou com a chegada da família real portuguesa.

• Bloqueio continental -> Napoleão fazia dele uma arma ofensiva, arma de guerra; fechando os mercados do continente, procurava arruinar economicamente sua inimiga para obrigá-la a render-se.

• As hesitações do Principe Regente D. João entre as duas correntes que lhe disputavam a preferência deram lugar a uma política dúbia que não satisfazia ninguém, nem a Napoleão, nem à Grã-Bretanha.

• O governo encontrou a solução na saída do príncipe Regente e de toda família real de Portugal para o Brasil; era a única aceitável. Portugal não tinha poderes para impedir uma invasão: o exército estava em péssimo estado e o país não tinha condições para resistir a um ataque das poderosas forças francesas.

• A Grã-Bretanha pediu-se apoio e garantia para a viagem. Ficou logo dicidido que o Príncipe da Beira, D. Pedro, herdeiro do trono, iria primeiro e o mais cedo possível. Além de ser mais fácil do que a mudança de toda a família real, a partida do

príncipe da Beira valeria por uma advertência para a França e prepararia a saída de toda a corte.

• Convenção secreta com a Grã-Bretanha -> pela qual os dois países tomavam as medidas necessárias para conciliar seus interesses e provar à segurança da amizade que os unia. Assinada em 22 de outubro de 1807, a convenção determinava as medidas que seriam adotadas no caso de Portugal se ver obrigado, para evitar a guerra, a praticar atos de agressão contra a Grã-Bretanha.

• A demora portuguesa em atender as exigências franceses deram assim ao ingleses (residentes em Portugal) tempo de salvar a maior parte dos seus bens.

• A hesitação de D. João prendera-se ao temor da travessia do Atlântico e também ao fato de que, saindo, abandonava Portugal ao seu destino, salvando, embora a dinastia e a posse do Brasil. sabia-se que a colônia americana poderia ser perdida se Portugal passasse a esfera francesa, pois os ingleses nunca consentiriam que estendesse até o Brasil a influência francesa.

• Interessava também aos ingleses que os franceses, ocupando o Reino, não pudessem tirar o menor proveito das colônias portuguesas, especialmente do Brasil, nem estabelecer sua influência neste lado do Atlântico.

• O estabelecimento aqui da sede da monarquia colocava o Brasil sob a influência britânica, sem necessidade de uma luta que a Grã-Bretanha não estaria em condições de sustentar, pois isso significaria dispersão de forças e, em meados de 1807, o estado do país do ponto de vista militar e financeiro não era dos melhores.

• Projetos ingleses de conquista na América do Sul -> houve tentativas inglesas de invasão de territórios da América do Sul. -> para o parlamento inglês era preferível que mudasse a sede da Côrte portuguesa, pois a Inglaterra tiraria, sem gastos ou danos, melhores proveitos.

• A notícia da saída da família real para o Brasil foi recebida com satisfação pelo governo e com entusiasmo pelos comerciantes e industriais, que viriam a abrir-se a possibilidade na América portuguesa e através dela, na América Espanhola, de novos mercados que poderiam substituir em parte os que se fechavam na Europa e Estados Unidos.

• Abertura dos Portos -> a medida foi tomada por D. João logo depois da sua chegada à Bahia -> permitida a importação de todos e quaisquer gêneros, fazendas e mercadorias transportados em navios estrangeiros das potências que se conservam em paz e harmonia com a Real Coroa.

• Afluência de comerciantesingleses para o Brasil • Camboios mercantes e dificuldades de descarga e de alfadêga -> essas

embarcações trouxeram tal quantidade de mercadorias que logo abarrotaram o mercado. Os navios congestionavam os portos.

• Em 1809 -> Luccok -> os ingleses tornaram-se senhores das alfandegas, eles regulavam tudo, e que ordens tinham sido transmitidas aos oficiais para que dessem particular atenção às indicações do Consul Britânico

• Dificuldades no escoamento de mercandorias -> os comerciantes ingleses logo exportaram quantidades enormes de mercadorias, acima da capacidade de absorção

do mercado brasileiro. O desejo de solucionar o problema que se tornava angustiante, com a paralisação dos negócios, com o acúmulo de mercadorias, a estagnação dos capitais do país, é responsável pelo aspecto que tomaram as exportações para o Brasil em 1808-1809.

• Vieram mercadorias absolutamente impróprias para o mercado, decorrendo o erro de um lado, do desconhecimento das condições brasileiras, de outro, da vinda de aventureiros que traziam pacotilhas compradas às pressas e a baixo preço.

• Imediatamente, houve uma forte baixa nos preços dos produtos. -> os comerciantes, preferindo embora o comércio de atacado, tiveram de conformar-se com as vendas a retalho.

• Os leilões tiveram importância muito grande na difusão de artigos britânicos • Outra solução adotada foi a venda das mercadorias nas ruas, de casa em casa, por

intermédio de agentes, verdadeiros mascates. E ainda reexportaram-se para as colônias para as colônias espanholas, especialmente Buenos Aires.

• Somente em 1810 o mercado começou a adquirir um aspecto normal, com a absorção das mercadorias excedentes

• O comércio brasileiro era um mercado restrito, pouco elástico, difícil de se manter equilibrado. As primeiras importações tinham mostrado a pequenez do mercado. Não poderia absorver muito mais do que aquilo que já vinha da Inglaterra indiretamente através de Portugal

• A continuação dos negócios foram mostrando outras dificudades -> escolher a quantidade e a qualidade dos artigos para o mercado.

• Quem recebia 1º as mercadorias, colocava-as logo, antes da competição iniciada. Dificuldade residia na demora das relações com a Inglaterra.

• Não era desprezível o prejuízo em resultado dos roubos. • A remessa dos produtos das vendas p/ a Inglaterra -> 3 formas diferentes: i)

letras de câmbio (permitia o conhecimento imediato dos lucros e a transação encerrava-se mais rápido); ii) mandar cargas de retorno (permitia 2 proveitos, um na venda das mercadorias exportadas aqui e outro na venda dos retornos lá. Favorecia esse tipo de ajuste pois, no mercado brasileiro, as compras nem sempre eram feitas com dinheiro – alguns desses produtos tinham sua entrada proibida na Inglaterra, sendo admitidos apenas para reexportação) -> predominou; iii) enviar como retorno a moeda ou ouro e as pedras preciosas. (as moedas eram muito escassas no Brasil, dificilmente pagar todas as importações. Podia-se pensar em receber o ouro em pó ou em barra, mas sua exportação era proibida, só sendo possível a saída através do contrabando, o que constituía um risco para o exportador. Mas até 1813, foi um risco que valia a pena correr.)

• Tratado de comércio de 1810 -> foi o preço pago por Portugal à Inglaterra pelo auxílio que dela recebera na Europa. Segundo Canning, por esse tratado, os ingleses recebiam “importantes concessões comerciais às expensas do Brasil”, em troca de “benefícios políticos marcantes conferidos à Mãe Pátria”

• A abertura dos portos brasileiros dera-lhe possibilidade de dispor de novos mercados, de que ela, com a situação internacional, usufruia quase com

exclusividade. O fim da guerra trar-lhe-ia competidores: era pois necessário garantir vantagens e direitos preferenciais, para assegurar a posição adquirida. Daí a pressa do governo inglês em iniciar as negociações para o tratado previsto já em 1808.

• O negociador inglês possuia, pois, opinião formada sobre o problema das relações com o Brasil e procurou fazê-la predominar. O negociado português, conhecido por suas inclinações anglófilas, não mostrou estar preparado para defender os interesses portugueses: desconhecia a situação real do Brasil, e não cuidou de deixar claros no tratado ou de defender pontos de interesse para o comércio de Portugal.

• Grã-Bretanha estava, em relação ao governo português, em condições de impor sua vontade: o governo português dependia dela para a defesa de Portugal na Europa. De modo que a vontade firme de Strangford não encontrou suficiente resistência da parte do governo a não ser num ou noutro ponto.

• O acordo não concebia tal reciprocidade. As cláusulas, mesmo quando quando falavam em concessões recíprocas, não estabeleciam igualdade de condições para as atividades. -> todas as concessões, na prática, acabariam sempre por favorecer os ingleses por causa da organização econômica superior. De modo geral, Portugal era tratado como nação mais favorecida, enquanto Grã-Bretanha recebia concessões mais extensas. Quanto às conveniências, foram as inglêsas que receberam cuidado.

• Possibilidade da Grã-Bretanha conquistar totalmente o mercado brasileiro -> preços muito baixos de seus produtos -> importante mercado p/ as manufaturas inglesas.

• Os ingleses tiveram verdadeiros privilégios de extraterritorialidade. -> o que realmente chocava no artigo referente ao Juiz Conservador era o reconhecimento que o governo luso fazia, publicamente, da superioridade da justiá inglesa sobre a portuguesa.

• Outras cláusulas que merecem ser destacadas -> o tratado determminava que produtos brasileiros como o açúcar, café e outros produtos semelhantes ao das colônias britânicas, cuja entrada na Grã-Bretanha era proibida, podiam ser recebidos em todos os portos ingleses para reexportação. Nesse caso, seriam guardados em armazéns, pagariam somente direitos reduzidos e despesas de reexportação e armazenagem. Isso, favorecendo os portugueses, favorecia também os comerciantes britânicos do Brasil, pois seus retornos eram muitas vezes constituidos por esses produtos.

• No que respeita ao comércio com o Oriente, desejava o governo português conservar para seus súditos os ganhos do comércio da Ásia -> reconhecia o tratado ao Príncipe Regente, o direito de proibir a importação nos seus territórios de gêneros das índias Orientais e Ocidentais britânicas.

• As “regalias” que os ingleses já tinham em Portugal (liberdade de religião e de culto, juiz conservardor...) foram transportadas para o Brasil.

• O Tratado de Paz e de Amizade -> algumas cláusulas referiam-se ao Brasil • Cortar madeira das florestas brasileiras p/ a contrução de navios de guerra

ingleses -> c/ a guerra e o bloqueio continental, a marinha inglesa não podia madeira

p/ satisfazer suas necessidades: daí o interesse pelo fornecimento brasileiro. Outro ponto importante era a declaração do príncipe regente de que a inquisição nunca seria introduzida no Brasil.

• O príncipe regente concordava na abolição gradual do tráfico de escravos e concordava em permití-lo apenas nas possessões portuguesas da África para o Brasil.

• Com essas concessões, firmou-se o comércio britânico no Brasil, sem que comerciantes de outros países pudessem fazer-lhe concorrência perigosa.

• O domínio britânico sobre o comércio exterior e interno brasileiro -> além de fornecer melhor mercado de que a Inglaterra pôde dispor em 1808, o Brasil pôde fornecer-lhe alguma quantidade de matéria-prima para a indústria de fiação e tecelagem. -> torna-se importante a contribuição brasileira no mercado britânico.

• Também as relações com o Brasil contribuíram para o aumento das importações dos produtos coloniais pela Inglaterra. Este país tornava-se entreposto importante para esses produtos: açúcar, café, cacau, tabaco.

• A abertura do mercado brasileiro e de regiões da América espanhola foram importante num momento de crise na Inglaterra. Entretanto, os resultados puramente comerciais das transações foram decepcionantes. Os lucros esperados não se realizaram. O abarrotamento rápido do mercado, em 1808, causara perdas. Os comerciantes que chegavam primeiro, antes que o mercado ficasse superlotado, os que estavam acostumados a comercializar com Portugal e conheciam bem as necessidades e gostos do consumidor brasileiro, puderam realizar bons proveitos e ter lucros. Mas o que chegaram mais tarde ou que não souberam escolher ou se preocuparam apenas em trazer mercadorias que tinham encalhadas, sofreram perdas que alcançaram até 50% a 60%.

• Outro aspecto interessante desse comércio iniciado pelos ingleses com o Brasil (e também com a América Espanhola) foi fazer-lhe sobretudo na base do crédito. Era a maneira de poder ser desenvolvido. A situação do mercado interno inglês e a abertura repentina dos portos brasileiros tinham provocado, como vimos, grande exportação de manufaturas. -> essa lentidão na chegada dos retornos obrigou as firmas a usarem mais largamente o crédito, na base do qual se havia feito também os primeiros empreendimentos.

• O fracasso dos “aventureiros” no Braisl e resto da América do Sul foi um dos fatores mais importantes da crise de 1810.

• Vê-se, pois, a importância do comércio inglês com o Brasil, durante o bloqueio continental.

• A maneira como foi feita as vendas no começo do empreendimento permitiu que as mercadorias inglesas chegassem a todas as camadas da sociedade e alcançassem pontos diferentes do território, criando mercado permanente para elas.

• Nessas trocas, a balança comercial era favorável para a Grã-Bretanha: o Braisl importava mais do que exportava, sendo “mercado importante para as manufaturas inglesas, mas fonte secundária para as importações”.

• A Inglaterra dominava no comércio exterior brasileiro e comerciantes ingleses passaram a dominar no comércio interno. Sobrepujaram os portugueses nesse comércio, o que provocouo grande animosidade dos comerciantes lusos contra eles. Seus métodos de negociar, suas possibilidades, sua superioridade econômica davam-lhe vantagens.

• Ingluência britânica na vida política da corte, a questão do prata -> depois de 1811, a morte de Sousa Coutinho pôs no governo Antônio de Araújo e Azevedo, cuja orientação deferia completamente da de seu antecessor. Dificuldades surgiram nas relações entre o novo ministro e Strangford, especialmente por causa das discussões em torno da aplicação de certas cláusulas do tratado de 1810. Aos poucos, Araújo foi conseguindo impôr-se a d. João, e o ministro inglês acabou perdendo o contato com o príncipe regente, até que em 1814, não pode mais manter sua posição e teve de deixar o Brasil, partindo em janeiro de 1815. A partida de Strangford e o término da guerra na Europa libertaram o governo português da pressão inglesa. E de 1814 a 1821, houve um decréscimo da influência política britânica.

• Em 1808, depois da chegada da corte, começou a desenvolver-se o interesse português pela banda Oriental -> pretensões de D. Carlota Joaquina, que via na situação da Espanha um pretexto para fazer-se regente das colônias espanholhas da América. -> governo português queria instalar-se no Rio da Prata. -> sob o pretexto de defender os deireito espanhóis na América, d. João esperava poder ocupar para Portugal a banda Oriental. E os interesses dos 2 acabaram separando-se, até que D. João passou a negar apoio à sua mulher.

• A primeira atitude dos 2 representantes ingleses, ao lerem notícias das pretensões portuguesas, foi de extrema reserva, pois não tinham instruções do seu governo p/ agir. D. Carlota Joaquina, entretanto, foi apoiada e incentivada por Sir Sidney Smith, comandante da esquadra britânica do Atlântico Sul. As instruções do governo inglês chegaram em set/1808: Canning, que as redigira, desaprovava a política portuguesa -> Strangford deveria mostrar ao príncipe regente a necessidade de suspender qualquer ação relativamente às colônias espanholas, consideranto a existência, então, de interesses comuns a Portugal e Espanha na Europa. Em outro despacho, a Inglaterra desaprovava totalmente a política portuguesa.

• D. João acabou colocando-se numa posição contrária às pretensões de sua mulher, proibindo-lhe sair do Rio de Janeiro para ir a Buenos Aires, onde partidários a esperavam, alegando não se julgar com direito a intervir nas questões do Rio da Prata, em desacordo com a Grã-Bretanha e com o governo estabelecido na Espanha. -> sem o auxílio, o plano de D. Carlota Joaquina não podia ser realizado.

• Revolução de maio de 1810 -> revolta de Buenos Aires opunha-se a Montevidéu -> D. João movimentou-se também e, apesar da promessa feita a Strangford de não se imiscuir na questão, enviou tropas ao Sul, não somente para socorrer Montevidéu, como também para defender seus interesses. Strangford, a quem os revolucionários de Buenos Aires haviam recorrido em busca de proteção, agiu

enérgicamente: protestou contra o envio de tropas brasileitas e ofereceu sua mediação aos governadores de Buenos Aires e Montevidéu. A intervenção teve êxito e um amistício foi assinado em 20 de out/1811. As tropas de Buenos Aires deviam retirar-se deixando a Elio a Banda Orienta e as tropas brasileiras também deviam sair.

• A atitude de D. João, a nosso ver, estava estritamento na dependência da situação de Portugal na Europa, cuja defesa ficara inteiramente nas mãos da Inglaterra. Assim, até o momento em que terminou a guerra na Europa, ele não hesitou em aceitar a interferência inglesa no seu governo.

• O fim da guerra na Europa estava causando um declínio da influência britânica. O término da luta deixava Portugal livre da ameaça francesa e mais independente então de efetivos de tropas numerosos libertados com o fim da luta europeia e vieram para o Brasil. issa dava ao príncipe regente os elementos militaresde que não pudera dispor anteriormente. O governo de D. João não deixaria passar a oportunidade. Tropas sob o comando do General Carlos Frederico Lecor foram enviadas para a Banda Oriental, em 1816. A luta não foi fácil, mas em jan/1917, Montevidéu era ocupada pelos portugueses. Novamente a Grã-Bretanha tomou posição contra as pretensões portuguesas. Mas os protestos do representante inglês agora não tiveram efeito. -> uma vez atingida a margem esquerda do Prata, os portugueses ficariam satisfeitos e não molestariam Buenos Aires.

• A posição tomada pela Grã-Bretanha decorria em grande parte do temor, de que a atitude portuguesa provocasse nova guerra na Europa e também da orientação política de Castlereagh, ainda muito aproximada da Santa Aliança. A resposta de Portugal à Inglaterra e ao enviado espanhol foi reforçar seus efetivos na Banda Oriental. E também não se deixou intimidar por outras medidas, como a pressão exercida pelos representantes das potências mediadoras no Rio de Janeiro.

• Mediante o pagamento de uma indenização à Portugal e a ocupação imedianta da Banda Oriental por tropas espanholas que assegurariam a ordem e a fronteira do Brasil. Portugal acabou aceitando, em maio de 1818, a mediação e os têrmos do acordo proposto. -> desse modo, a Banda Oriental ficou finalmente nas mãos do rei de Portugal e posteriormente, em 1821, foi anexada ao Brasil com o nome de Província Cisplatina.

• O interesse inglês na volta da família real para Lisboa -> modificavam-se, todavia, as condições internas do reino lusitano. A situação fazia-se muito perigosa para a estabilidade da dinastia e mesmo da monarquia: os portugueses sentiam-se descontentes com sua posição de inferioridade no conjunto dos domínios lusitanos, com a ausência da Corte e com as medidas tomadas em favor do Brasil.

• A Inglaterra interessava, agora, a volta da família real p/ Lisboa. Mas o rei só cogitou em voltar depois da revolução de 1820 no Porto. Esperava, talvez, poder contar com a garantia inglesa para ver-se livre da revolução ou de suas consequências. Mas o governo inglês fêz-lhe saber que a garantia não envolvia o caso de revolução ou quaisquer negócios interno. -> partiu para o velho reino em abril/1821, mas os ingleses aqui guardaram seus interesses e suas vantagens.

Fechava-se, assim, um capítulo curto mas importante de nossa história. As mudanças introduzidas sob o reinado de D. João VI tinham dado ao Brasil nova fisionomia política e econômica, abrindo o caminho para a Independência.

Aula 16/05/2011 – O Desenvolvimento econômico do Brasil – Celso Furtado - o (não) desenvolvimento econômico do Brasil

- Crítica ao argumento de Simonsen (página 100)

Furtado nem considera a tese de que somente os países brancos, etc, se industrializam. Outra tese da época é que os países em trópicos estavam fadados a não se industrializar (também não considera essa teoria).

A explicação de Furtado está baseada num conceito de “proteção natural” -> proteção emprestada à produção nacional pela taxa de câmbio.

Obs.: preço do produto importado em moeda nacional = preço da moeda internacional*taxa de câmbio*(1+impostos)

Tratados de 1810 -> tarifa preferencial era extremamente baixa (15%), foi renovada em 1827. Tarifa Bernardo de Vasconcelos (15% para todas as importações brasileiras) -> isso gera uma redução da receita de importação, que era a principal fonte de recurso do governo. -> limitação séria à autonomia do Governo no setor econômico (era impensável, naquele momento, o governo no setor econômico. Era impensável, naquele momento, o governo fazer uma política de subsidios em pró da industrialização, ou por exemplo, investir em infra-estrutura para favorecer a industrialização. E isso é o que o governo norte-americano faz.

Para se ter uma idéia, a receita tributária não cobria nem 50% da Guerra no Uruguai (1825-1828)

Além disso, as revoltar internas tambmém geravam déficits fiscais -> faziam com que o governo emitisse mais moeda.

Obs.: inicialmente, as emissões do Banco do Brasil eram lastreadas em ouro, posteriormente, perde-se o lastro.

Exemplo do aumento das emissões -> em 1822 há 9.924 contos de réis. Em 1831, há 20.350 contos de réis (um crescimento de 2,36 vezes).

Crítica de Furtado -> proteção natural

Aumento das importações / redução das exportações -> gera um déficit comercial + ausência da entrada de capital -> havia um forte risco do Brasil ir à falência, os empréstimos internacionais eram limitados. Há uma variação da taxa de câmbio.

1808 até 1831 -> há um encarecimento do preço dos produtos importados, cotados em moeda nacional (ou seja, há uma forte desvalorização da moeda nacional).

Essa desvalorização da taxa de câmbio fazia com que os preços dos produtos importados ficassem mais caros no mercado nacional -> redução do poder aquisitivo do mercado interno para produtos importados.

Obs.: o jeito de cobrir o déficit era retirando moeda de circulação

Assim, fica claro que, segundo os argumentos de Furtado, a não industrialização do Brasil não é em razão da política liberal, pois a mesma – através da desvalorização da moeda – desestimulava a importação.

-> O protecionismo dos EUA -> o protecionismo fiscal não ocorreu na infância da industrialização norte-americana. Em 1797, era cobrada uma tarifa de 5% ad valorem sobre os tecidos de algodão e, em média 8,5% ad valorem, para os outros produtos. Ou seja, as tarifas eram baixas!!! Só em 1808 vemos um aumento nas tarifas sobre os tecidos de algodão (17,5% ad valorem). Esse aumento ocorreu em pressão da indústria têxtil norte-americana, que já estava consolidada (ou seja, o aumento nos impostos foi uma consequência da consolidação da indústria têxtil norte-americana).

- fatores responsáveis pela precoce industrialização norte-americana:

a) peculiaridades de sua colonização permitiram o estabelecimento de indústrias que não concorriam com a metrópole;

b) diferenças das classes sociais que promoveram a independência do Brasil (grandes agricultores escravistas) e a independência norte-americana (pequenos agricultores e comerciantes) -> embora as 2 elites liam Adam Smith, elas tinham entendimentos diferentes acerca da doutrina liberal. -> comparação do Visconde de Cairu com o Alexander Hamilton.

i) Alexander Hamilton -> secretário do tesouro norte-americano fez 5 relatórios que foram a base da escola americana de economia política. Em um dos relatórios (sobre as manufaturas), de 1791, defende que para manter a independência dos EUA precisam ter uma sólida indústria.

As tarifas alfandegárias eram moderadas, com parte das receitas utilizadas para subsídios destinas para prover a proteção a indústria nascente até que elas pudessem competir, para gerar receitas para cobrir as despesas e, para incentivar a industrialização.

ii) Visconde de Cairu -> conheceu a obra de Adam Smith em 1795. Citação de Furtado: “crê supersticiosamente na mão invisível e repete: dexai fazer, dexai passar, dexai vender.”

Ou seja, enquanto o Hamilton propõe um governo atuante na economia, o Visconde de Cairu propõe um governo liberal. -> é uma diferença de postura!!!!

No caso dos EUA, o déficit comercial era coberto com recursos provenientes da venda de bônus dos governos central e estaduais -> havia a entrada de capitais. Não pressionava a taxa de câmbio e emissão de moedas -> não tinha proteção natural observada no Brasil.

O fator decisivo para a industrialização norte-americana foi o aumento da exportação de algodão (matéria-prima básica para a Rev. Industrial). -> 1831-1835 os EUA forneciam cerca de 70% da produção de algodão mundial (aumento da terra cultivada + plantation -> aumento da produtividade + redução de custos) -> isso mostra que os EUA tinham poder de importação.

Obs.: fator decisivo para o desenvolvimento da cotonicultura nos EUA -> “criação” de uma máquina que tirava o caroço do algodão sem quebrar o fio (= aumento de produtividade e redução dos custos).

Nesse período, o número de escravos nos EUA praticamente quadruplica (o tráfico negreiro já era proibido) -> o crescimento doi principalmente nos estados do Sul, que eram produtores de algodão.

Obs.: o algodão representou 50% das exportações dos EUA.

Com base nisso, Furtado olha para o Brasil, para ver como é que se comportaram as exportações brasileiras nesse período -> entender as causas do não desenvolvimento do Brasil.

Tínhamos que gerar capacidade de importações (olha para o valor das exportações brasileiras) -> há uma carência técnica.

Custo das Exportações = (Preço das exportações/Preço das importações)*quantidade de exportações

O crescimento das exportações brasileiras de 1800 a 1850 foi insuficiente para financiar o crescimento econômico.

Entre 1800 e 1849-50, o valor das exportações foi menor do que o crescimento populacional -> gera uma redução da exportação per capita (isso é o estancamento que Furtado se refere).

Principais produtos exportados: café, açúcar, algodão, couros e peles, fumo -> esses produtos vão se intercalando em termos de primazia. Por exemplo, o café, o preço caía, mas as produções aumentavam, o que é algo meio irracional. Assim, o país exportava mais, mas mesmo assim, não conseguia crescer.

Os preços do café caíram cerca de 40% e a quantidade exportada subiu cerca de 100%.

Sem o café o valor da exportação na metade do século seria inferior àquela do início do século. Em comparação com os EUA, as exportações brasileiras quase não crescem de 1700 a 1820. Já nos EUA, crescem muito.

1700 -> Brasil exporta 3x mais que os EUA

1820 -> EUA exporta 14 mm, enquanto o Brasil exporta 4,0 mm

A capacidade de importação brasileira cresceu apenas 20%.

Pontos Importantes do texto – Celso Furtado – Capítulos 16, 17 e 18

Capítulo 16 – o Maranhão e a falsa euforia do fim da época colonial

• Último quartel do séc XVIII constitui uma nova etapa de dificuldades p/ a colônia -> açúcar enfrenta novas dificuldades e o valor total de suas vendas desce a níveis tão baixos como não se havia conhecido nos 2 séculos anteriores. -> nível de renda mais baixo que haja conhecido o Brasil em todo o período colonial

• Economia brasileira se apresentava como uma constelação de sistemas que alguns se articulavam entre si e outros permaneciam praticamente isolados.

• Pecuária nordestina -> articulada ao núcleo açucareiro, porém de forma cada vez mais frouxa. Pecuária sulina -> articulada ao núcleo mineiro Esses dois sistemas ligavam-se frouxamente através do rio São Francisco, cuja pecuária beneficiava da meia distância a que se encontrava entre o Nordeste e o centro-sul p/ dirigir-se ao mercado que ocasionalmente apresentasse maiores vantagens.

• Sistema jesuítico -> entrou em decadência com a perseguição que sofreu na época de Pombal

• Dos 3 sistemas principais o único que conheceu uma efetiva prosperidade no último quartel do século foi o Maranhão -> cria-se uma companhia de comércio altamente capitalizada que deveria financiar o desenvolvimento da região tradicionalmente a mais pobre do Brasil. tão importante quanto a ajuda financeira, entretanto, foi a modificação no mercado mundial de produtos tropicais, provocada pela Guerra da Independência dos EUA e logo em seguida pela Revolução Industrial Inglesa. -> algodão e arroz

• Grande centro produtos de arroz no mercado mundial -> excluído temporariamente em razão da Guerra de Independência. A produção maranhense encontrou, assim, condições altamente propícias para desenvolver-se e capitalizar-se adequadamente.

• Todo o resto da economia colonial atravessou uma etapa de séria prostração nos últimos decênios do século. Na região do ouro, a depressão é particularmente profundo e se estenderá peloa 1ª metade do século seguinte.

• Um conjunto de fatores circunstânciais deu à colônia, no começo do século XIX, uma aparência de prosperidade, mais ainda porque a transferência do governo metropolitano e a abertura dos portos, em 1808, criaram um clima geral de otimismo.

• Acontecimentos políticos que tiveram grandes repercussões nos mercados mundiais de produtos tropicais: i) Guerra de Independência dos EUA; ii) Revolução Francesa e os subsequentes transtornos nas suas colônias produtoras de artigos tropicais; iii) Guerras Napoleônicas -> bloqueio e contrabloqueio da Europa e a desarticulação do vasto império Espanhol; iv) 1789 -> entra em colapso o Haiti, grande colônia açucareira (o valor das exportações de açúcar mais que duplica).

• Superada essa etapa, o Brasil encontraria sérias dificuldades, nos primeiros decênios de vida como nação politicamente independente, para defender sua posição nos mercados dos produtos que tradicionalmente exportava.

Capítulo 17 – Passivo colonial, crise financeira e instabilidade política

• Repercussão no Brasil dos acontecimentos políticos da Europa de fins do séc. XVIII e começo do XIX -> por um lado acelerou a evolução política do país, por outro lado contribuiu para prolongar a etapa de dificuldades econômicas que se iniciara com a decadência do ouro.

• A abertura dos portos, decretada ainda em 1808, resultava de uma imposição de acontecimentos -> em seguida os tratados de 1810 (transformam a Inglaterra em potência privilegiada com direitos de extraterritorialidade e tarifas preferenciais extremamente baixas)

• 1822 -> separação definitiva de Portugal e o acordo pelo qual a Inglaterra consegue consolidar sua posição, em 1827 -> marcos fundamentais nessa etapa de grandes acontecimentos políticos.

• Eliminação do poder pessoal de D. Pedro I em 1831 e a consequente ascensão definitiva ao poder da classe colonial dominante formada pelos senhores da grande agricultura de exportação.

• Os privilégios concedidos à Inglaterra constituíram uma consequência natural da forma como se processo a Independência, sem maiores desgastes de recursos. Se a independência houvesse resultado de uma luta prolongada, deficilmente ter-se-ia preservado a unidade territorial. -> os interesses regionais constituíam uma realidade muito mais palpável que a unidade nacional, a qual só começou realmente a existir quando se transferiu para o Rio de Janeiro o governo português.

• Seria erro, entretanto, supor que aos privilégios concedidos à Inglaterra cabe a principal responsabilidade pelo fato de que o Brasil não se haja transformado numa nação moderna já na 1ª metade do século XIX.

• A única classe com grande expressão era a dos grandes senhores agrícolas, qualquer que fosse a forma como se processasse a independência, seria essa classe a que ocuparia o poder, como na verdade ocorreu.

• Portugal constituía um entreposto oneroso -> o desaparecimento do entreposto lusitano logo se traduziu em baixa de preços nas mercadorias importadas, mais abundância de suprimentos, facilidade de crédito mais amplas e outras óbvias vantagens para a classe de grandes agricultores.

• A identidade de interesses das classes dominantes na economia principal e na dependente teria de ser completa. Essa comunhão ideológica não podia existir em Portugal porque este último país era apenas um entreposto, estando seus interesses via de regra em conflito com os da colônia.

• Tratado do comércio de 1810 -> instrumento criador de privilégios. Aplicada unilateralmente, a ideologia liberal passou a criar sérias dificuldades à economia brasileira. É nesse ambiente de dificuldades que a Inglaterra pretende impor a eliminação da importação de escravos africanos.

• O privilégio aduaneiro concedido à Inglaterra e a posterior uniformização da tarifa em 15% ad valorem, numa etapa de estagnação do comércio exterior, criaram sérias dificuldades financeiras ao governo brasileiro. O imposto sobre as importações é o instrumento comum com que os governos dos países da economia primária exportadora arrecadam suas receitas básicas. A única alternativa a esse imposto era taxar as exportações, o que numa economia escravista significava cortar os lucros da classe de senhores da grande agricultura.

• É no meio dessas grandes dificuldades que o café começa a surgir como nova fonte de riqueza para o país.

• A eliminação do entreposto português possibilitou um aumento da receita. Mas, efetuado esse reajustamento, o governo se encontrará praticamente impossibilitado de aumentar a arrecadação até que expire o acordo com a Inglaterra, em 1844.

• O financiamento do déficit se faz principalmente com emissão de moeda-papel, mais que duplicando o meio circulante durante o referido decênio. -> os efeitos de emissões de moeda-papel se concentravam na taxa de câmbio, duplicando o valor em mil-réis da libra esterlina entre 1822-1830.

• A forma de financiar o déficit do governo central com emissão de moeda-papel incidiam particularmente sobre a população urbana. A grande classe de senhores agrícolas, que em boa medida se auto-abasteciam em seus domínios e cujos gastos monetários o sistema de trabalho escravo amortecia, era relativamente pouco afetada pelos efeitos das emissões de moeda-papel.

• O caráter principalmente urbano das revoltas da época e o acirramento do ódio contra os portugueses, os quais, sendo comerciantes, eram responsabilizados pelos males que acabrunhavam o povo.

Capítulo 18 – Confronto com o desenvolvimento dos EUA

• Não parece ter fundamento a crítica corrente que se faz a esses acordos, segundo a qual eles impossibilitaram a industrialização do Brasil nessa etapa, retirando das mãos do governo o intrumento do protecionismo.

• Economia brasileira atravessou uma fase de fortes desequilíbrios, determinados principalmente pela baixa relativa dos preços das exportações e pela tentativa do governo, cujas responsabilidades se haviam avolumado com a independência política, aumentar sua participação no dispêndio nacional -> baixa relativa dos preços das importações e um rápido crescimento da procura de artigos importados -> cria-se uma forte pressão sobre a balança de pagamentos, que teria de repercurtir na taxa de câmbio.

• A pressão teve de resolver-se em depreciação externa da moeda, o que provocou por seu lado um forte aumento relativo dos preços dos produtos importados. (possivelmente, o efeito protecionista não tivesse sido tão grande como resultou ser com a desvalorização da moeda)

• Por que se industrializaram os EUA no século XIX, emparelhando-se com as nações européias, enquanto o Brasil evoluía no sentido de transformar-se no século XX numa vasta região subdesenvolvida? O desenvolvimento dos EUA constitui um capítulo integrante da própria economia européia, sendo em muito menor grau o resultado de medidas internas protecionistas adotadas por essa nação americana.

• As diferenças sociais, entretanto, eram profundas, pois enquanto no Brasil a classe dominante era o grupo dos grandes agricultores escravistas, nos EUA uma classe de pequenos agricultores e um grupo de grandes comerciantes urbanos dominava o país.

• As medidas restritivas com respeito à produção manufatureira que a Inglaterra impunha às suas colônias, na época mercantilista, tiveram de ser aplicadas de forma muito especial nos EUA, pelo simples fato de que o sistema de agricultura de

exportação não dera resultado nas colônias do norte. -> as linhas gerais da política inglesa passaram a ser as seguintes: i) fomentar nas colônias do norte aquelas indústrias que não competissem com as da metrópole, permitindo a esta reduzir suas importações de outros países; ii) não permitir que a produção manufatureira das colônias concorressem com as indústrias da metrópole em outros mercados coloniais. Obs.: no caso especial do aço, houve uma preocupação de dificultar sua produção na colônia. Já a produção de ferro foi fomentada, para permitir à Inglaterra reduzir sua dependência dos países do Báltico.

• Próprias colônias criaram uma consciência de fomentar a produção interna -> 1655 Massachusetts obriga todas as famílias a produzir o tecido que utilizam.

• Guerra de Independência -> criou um forte estímulo à produção interna, que já dispunha de base para expandir-se. Logo em seguida teve início a etapa de grandes transtornos políticos na Europa, os quais criaram estímulos extraordinários para o desenvolvimento da economia norte-americana. Durante muitos, os EUA foram a única potência neutra que dispunha de uma grande frota mercante.

• Foi como exportadores de uma matéri-prima (algodão) que os EUA tomaram posição na vanguarda da Revolução Industrial.

Obs.: os tecidos constituem a principal mercadoria “elaborada” nas sociedades pré-capitalistas.

• Se à Inglaterra coube a tarefa de introduzir os processos de mecanização, foram os EUA que se incubiram da segunda: fornecer as quantidades imensas de algodão que permitiriam, em alguns decênios, transformar a fisionomia da oferta de tecidos em todo o mundo. -> Algodão é o principal fator dinâmico do desenvolvimento da economia norte-americana na primeira metade do século XIX.

• À semelhança do que ocorreu no Brasil ao se abrirem os portos, a balança comercial dos EUA com a Inglaterra era via de regra deficitária nos primeiros decênios do século XIX. Contudo, esse déficit, em vez de pesar sobre o câmbio – como foi o caso no Brasil – e provocar um reajustamento em níveis mais baixos de intercâmbio, tendia a transformar-se em dívidas de médio e longo prazos. Formou-se assim, quase automaticamente, uma corrente de capitais que seria de importância fundamental para o desenvolvimento do país. -> política financeira do estado: ação pioneira dos governos central primeiro e estaduais depois na construção de uma infra-estrutura econômica e no fomento direto de atividades básicas.

Aula 30/05/2011 – Introdução ao estudo da emancipação política do Brasil – Emilia Viotti da Costa

Introdução (fatos gerais no período discutido)

• Guerra dos 7 anos (1756 – 1763) -> vitória da Inglaterra (absolutista/mercantilista) -> tenta fazer um enquadramento dos EUA -> Resulta na independência dos EUA

• 1776 -> é publicado a Riqueza das Nações, de Adam Smith -> fundamentos do liberalismo

• 1789 – 1799 -> Revolução Francesa -> marca o fim do Antigo Regime -> idéia dos regimes políticos constitucionais -> Guerras Napoleônicas

• 1803 -> Guerra entre França e Inglaterra (Prússia, Rússia e Áustria) • 1806 -> bloqueio continental • 1807 -> fuga da família real • 1815 -> paz de Viena • 1822 -> independência do Brasil

Obs.: a independência das colônias do Novo Mundo teve início com a independência dos EUA em 1776. A independência do Brasil foi uma das últimas a ocorrerem.

Principais partes do texto da Emilia Viotti: i) historiografia tradicional -> uma visão que se repete; ii) uma nova historiografia; iii) estado atual das questões

-> Estado atual das questões

Historiografia tradicional -> é quase uma biografia de algumas pessoas;

Nova historiografia -> Caio Prado Jr. e Nelson Sodré

i) O fenômeno se insere num processo amplo: a) crise do sistema colonial; b) crise das formas absolutistas de governo; c) lutas liberais e nacionalistas na Europa e América desde fins do século XVIII

ii) Contradições internas: a) como a crise do sistema se manifestou na colônia?; b) como os diversos grupos sociais tomaram conhecimento, consciência dos incovenientes da situações internas?; c) qual o seu grau de consciência e suas possibilidades?

Introdução:

1) A Revolução do Porto -> convocação das cortes -> resulta na 1ª constituição portuguesa

2) Economia e sociedade portuguesa à época da revolução 3) Os conspiradores da revolução 4) A revolução do porto 5) Repercussão no Brasil 6) Contradição dos liberais -> as cortes portuguesas pretendiam a re-colonização do

Brasil (para o Brasil não é liberal); 7) Deputados brasileiros nas cortes 8) Características do segmento social que patrocinou a independência

Crise do sistema colonial: a) preponderância do capital idnustrial; b) crise do estado absolutista -> críticas aos monopólios e provilégios que regulam a relação metrópole-colônia (e não à estrutura produtiva colonial) -> incompatíveis com a produção industrial -> 1776 (Adam Smith) -> favorecem o pleito das colônias ibero-americanas em prol da independência.

• A autora associa a crise da economia colonial à Revolução Industrial. • A forma do encaminhamento da independência brasileira foi justamente para evitar

uma participação popular. Medo dos negros passarem a reivindicar uma abolição da escravatura.

• A forma da independência brasileira foi a mais “retrograda” possível. Manteve-se a mesma casa reinante.

- Pensamento Ilustrado (Revolução Francesa)

1) Na Europa -> críticas ao absolutismo

2) No Brasil -> críticas ao sistema colonial

Ação mediadora da Coroa no conflito entre comerciantes reinóis e produtores coloniais -> defesa dos privilégios e monopólio. A Coroa passa a ser identificada pelos coloniais aos interesses metropolitanos -> anticolonialismo

Movimentos revolucionários no século XVIII e XIX tinham em comum o pensamento ilustrado (trazidos pela maçonaria).

- pensamento ilustrado (das elites letradas) do Brasil: i) era mais anticolonial do que antimonárquico; ii) mais antimetropolitano do que antinacionalista.

Em razão disso, a idéia de independência completa e definitiva do Brasil só se configurou quando ficou clara a impossibilidade da colônia manter uma certa autonomia.

- A independência foi precipitada pela transferência das cortes para o Brasil que propiciou: i) extinção do monopólio comercial; ii) revogação de entraves à produção; iii) concorrência estrangeira aos capitais portugueses investidos nos negócios coloniais -> não foram sanadas pelas medidas tendentes à salvaguarda dos privilégios portugueses.

Na metrópole -> assolada por uma crise de amplitude internacional, as dificuldades aparecem como decorrência de: i) longa permanência da Corte no Brasil; ii) abertura do portos; iii) tratados de 1810; iv) autonomia concedida ao Brasil -> a solução para essa crise era reconduzir o Brasil à condição de colônia.

Dificuldades da metrópole: i) perda populacional devido a fome, guerras e fuga (aproximadamente 1/6 da população, o equivalente a meio milhão de pessoas); ii) perdas no comércio com o Brasil; iii) queda da presença da marinha mercante portuguesa no comércio com o Brasil.

Na colônia -> a elite vivencia as vantagens do comércio livre, da condição de reino e contato com estrangeiros que mostram as idéias liberais e nacionalistas. Assim, pela 1ª vez todas as restrições citadas pelo Rodigues de Brito desaparecem

Foi nesse quadro de dificuldades da metrópole que ocorre a Revolução do Porto.

A Revolução do Porto tem como características:

i) liberal; ii) ii) constitucionalista;

iii) iii) alteração nas instituições em relação ao Brasil -> variação do estatuto político-jurídico -> recolonização -> reação da colônia: 1) polarização dos grupos sociais; 2) formação de agrupamentos políticos -> resulta na emancipação.

- Economia e sociedade portuguesa à época da revolução

a) Arcaica e decadende

i) indústria: 1.031 fábricas / 15 mil operários -> 14 operários por estabelecimento. São unidade muito pequenas

ii) população: aproximadamente 3 mm de habitantes (80% da pop.) vivia no campo iii) terra: apenas metade era cultivada.

b) Burguesia mercantil portuguesa

i) floresceu às custas da concessão real de privilégios e monopólios ii) foi a mais prejudicada com a política de D. João (abertura dos portos)

c) Outros setores urbanos

i) intelectuais, magistrados, profissionais liberais, militares -> 1) demora no retorno e, 2) presença política e militar inglesa.

d) Maçonaria

i) liderada pela associação secreta (SINÉDRIO) fundada em 1818 ii) organizada e dirigida pelo desembargador da cidade (Manuel Fernanes Tomás) ->

alguns deles integraram as juntas que governaram as cidades

-> A Revolução do Porto

a) iniciada em 24/08/1820, a partir do pronunciamento do comandante de uma das unidades militares sediadas na cidade do Porto e integrante a revolução

Após algumas disputas entre as facções, liberais e burguesia mercantil passam a comandar a revolução -> convocam as Cortes (instituição existente desde o século XII e que não era convocada desde 1698 = período absolutista) -> assembléias gerais extraordinárias e constituintes da Nação Portuguesa -> são reunidas a partir de janeiro de 1821.

Obs.: o número previsto de deputados nas Cortes era: 100 deputados de Portugal, 72 deputados do Brasil e 9 deputados de outras colônias (essa era a composição idealizada, que não ocorreu).

- Contradições Liberais:

a) Regeneradores (auto intitulam-se assim), propunham, com base nos princípios emanados da i) Rev. Francesa e da ii) tradição nacional anterior ao absolutismo, busca reencontrar o plendor e as grandezas obtidas e, para isso, dependiam do Brasil.

Na prática, regeneração era:

i) Dotar Portugal de uma constituição liberal, a ser obedecida por todos, inclusive o rei;

ii) Anular a relativa autonomia do Brasil (com base nos preceitos absolutistas e mercantilistas -> ou seja, recolonizar o Brasil) -> daí vem a contradição.

Obs.: diferentemente de outros países, não propunham mudança na casa reinante e contavam com a participação da Igreja.

- Constituição de 1822 -> revogada em 03/06/1823 -> determina a Volta do Absolutismo

1826 -> D. Pedro (IV):

i) Outorga uma constituição inspirada na Brasileira de 1824 (com o poder Moderador) ii) Renuncia o trono português iii) Nomeia sua filha, D. Maria da Glória, de apenas 7 anos, que se encontrava no Rio de

Janeiro. Ela é prometida ao tio (D. Miguel) e esse passa a ser regente de Portugal.

- Repercussão no Brasil

A colônia entra em ebulição -> adesão de todos os seguimentos sociais (exceto os escravos) que vislumbram a possibilidade de terem suas aspirações atendidas;

Acirramento das tensões e formação de grupos políticos antagônicos

a) Partido português -> comerciantes e militares, insatisfeitos com as medidas de D. João e de acordo com as idéias dos portugueses.

b) Partido brasileiro -> proprietários rurais e beneficiários da presença da corte no Brasil. Não desejavam a independência, apenas a manutenção do status quo. Eram ligados a uma grande casa maçônica.

c) Liberais radicais (partido republicano) -> segmentos médios e baixos das cidades e, no NE. Eram a favor da independência.

- Deputados brasileiros nas Cortes

A colônia deveria mandar para Portugal 1 deputado para cada 30 mil habitantes livres, ao todo seriam 72 deputados. Apenas 46 deputados tomaram posse (os demais não foram por dificuldade de locomoção ou divergências na delegação -> exemplo: MG que não mandou nenhum dos 13 deputados que tinha direito).

A bancada que tinha uma orientação mais clara era a de SP, em nenhum momento se cogita a autonomia completa do Brasil.

Os deputados brasileiros só chegam às Cortes em agosto de 1821 (as cortes estavam reunidas desde janeiro de 1821) -> as bases da constituição já haviam sido definidas, principalmente no tocante à recolonização (-> fim da condição de Reino Unido do Brasil). D. Pedro passaria a ser apenas um governador do Brasil.

- Aprofundamento das medidas recolonizadoras (após setembro/1821):

i) Reestabelecimento do exclusivo comercial; ii) Retorno imediato do regente de Portugal para completar seus estudos; iii) Nomeação de um governador das armas para cada província, a fim de evitar

revoltas

Essas notícias só chegam no Brasil no final do ano. Assim, começa a ganhar força no Brasil a idéia de independência (graças a ação da maçonaria e da imprensa). Os setores dominantes começam a ficar preocupados com a revolução e a anarquia (Haiti e América Espanhola). -> José Bonifácio passa a liderar o movimento da independência (conservador e autoritário = não revolucionário).

• - o “Fico” (janeiro/1822), representou o rompimento do regente com as Cortes portuguesas -> é visto como uma desobediência às Cortes. Porém, é conveniente àqueles que defendem a: i) manutenção de uma monarquia dual (sedes no Brasil e em Portugal). Onde o Brasil = Portugal. Há autonomia administrativa e comercial.

• permanência do príncipe -> evitava a agitação popular, manutenção da ordem.

- José Bonifácio passou à chefia do gabinete, decide-se: i) nenhum medida das cortes portuguesas valeriam para o Brasil; ii) formação de uma assembléia constituinte brasileira.

06/06/1822 -> José Bonifácio redige um texto de nação irmã

07/09/1822 -> rompimento definitivo ante a ameaça das Cortes enviarem tropas para invadir o Brasil; tentativa portuguesa de uma ação coletiva pela Santa Aliança -> fracassada pela oposição inglesa.

- Características do segmento social que patrocinou a independência: José Bonifácio, apostolado, partido brasileiro, aristocracia agrária, grandes comerciantes -> nada de popular.

É desses grupo que sairão os principais cargos como: Conselho de Estado, Senado (vitalício), Câmara (censitário). Eram interessados na permanência de:

• Estrutura produtiva tradicional (grande lavoura, mão-de-obra escrava, plantation) • Formas políticas que excluem a participação das camadas populares

Critério censitário de eleição -> renda mínima para ser eleitor e 2 vezes essa renda mínima para ser candidato -> explica a distância entre o arcabouço jurídico (importado) e a prática social. Na constituição, tem os princípios de liberdade jurídica e liberdade individual (mas é escravista); reconhece o direito de propriedade (19/20 da população livre era composta por não-proprietários); independência da justiça.

- Oposição das elites: artesãos e pequenos comerciantes, profissionais liberais, negros e mulatos -> regime federativo, abolição gradual dos escravos, liberdade do comércio

- Ato Adicional (1834) -> amplia a autonomia do governo provincial; última concessão da elite aos anseios radicais; criação de aparelhos de repressão (medidas de retrocesso):

• Guarda nacional -> força policial colocada à disposição das classes proprietárias para a manutenção do poder local;

• Exército -> repressão aos movimentos dissidentes em escala nacional

- Maioridade (1840) -> a elite consolidou o seu poder

Desaparecimento das dissidências radicais -> foram absorvidas pelo processo de modernização

Liberais e conservadores passam a revezar no poder -> ambos estão de acordo nas questões fundamentais, ou seja, são a favor do escravismo (tem uma dúvida com relação a quando o escravismo deve ser abolido) e da economia agrária. As lutas políticas aparecem como uma disputa entre famílias e respectivas clientelas.

A elite assume uma postura ambígua em relação à ética protestante e ao capitalismo:

• Liberdade individual • Valorização do trabalho e da poupança • Self made man (o trabalho salva a alma)

Porém, são escravistas!!!

Pontos importantes do texto

Aula 01/06/2011 – Celso Furtado – Capítulos 19 e 20

- As causas do não desenvolvimento do Brasil:

• Fomentar a industrialização sem fomentar uma capacidade de importação em expansão seria tentar o impossível num país totalmente carente de base técnica.

• É necessário reconhecer que a 1ª condição para o êxito daquela política teria sido uma firme expansão do setor exportador.

• A partir da independência, os preços do café, do açúcar, do algodão e dos couros caem, isso ocorre até 1851.

- Brasil x EUA

Para Furtado, o que fez a diferença entre o desenvolvimento dos EUA e o atraso do Brasil foi a capacidade exportadora. Furtado mostra uma queda na renda per capita, que chega a menor em 1850.

- A superação da crise da economia brasileira na primeira metade do século XX:

• Era necessário reintegrar-se ao mercado internacional mediante um produto cujo comércio estivesse se expandindo;

• Remotas possibilidades de recuperação das exportações tradicionais (queda nos preços);

• Açúcar e algodão não conseguem sustentar a balança comercial. i) O açúcar encontrava-se em uma situação ingrata devido à concorrência do

açúcar de beterraba e de outros; Seus principais mercados consumidores estavam fechados à produção brasileira pois estavam vinculados a áreas produtoras concorrentes (Iglaterra, EUA, França e Holanda)

ii) O algodão brasileiro concorria com os EUA, apoiado pelos ingleses Tinha a concorrência dos EUA, que beneficiava-se do consumo interno (região do Norte) e pelo menor preço dos fretes para enviar à Europa (menor rota). Além disso, no Brasil, o beneficiamento do algodão era mais trabalhoso.

- Descartados o algodão e o açúcar, os demais produtos também não apresentavam muito potencial, possuíam pouco peso nas exportações (quase 20% em 1821 e diminuíram ainda mais no ano seguinte)

• Couro: grande concorrência com a região do Prata; • Arroz: melhores métodos de cultivo nos EUA; • Fumo: pressão inglesa sobre o tráfico negreiro; • Cacau: era apenas uma esperança

- O único fator realmente abundante era a terra

• Foi pela utilização intensiva da terra via cultivo do café que o Brasil se recuperou da decadência econômica

• A produção cafeeira teve uma lenta difusão pelo território brasileiro, começando pelo PA em 1727, em 1760 chega ao RJ como resultado da decadência da mineração, e lá constroem-se centros de aclimatação; em fins do século XVIII havia o cultivo para o consumo local e espalhado em várias áreas, do AM a SC, e em GO.

- A produção de café só foi tornar-se uma cultura para exportação quando estoura a revolução no Haiti, grande produtor de café

• Em 1830 torna-se o principal item exportado pelo Brasil, mais pela queda dos demais do que pelo real desempenho do próprio café;

• Fim do século XVIII -> a desorganização da produção haitiana, maior produtor mundial, elevou os preços

• Entre 1818 e 1825 os preços do café atingem altos níveis, o que estimulou a expansão da produção cafeeira brasileira em direção ao Vale do Paraíba

• A partir de 1826, os preços baixam até 1832 • Recuperação entre 1832 e 1842 • Aumento na quantidade exportada ao mesmo tempo em que os preços oscilavam

bastante -> aumento de 500% na quantidade exportada e queda de 40% nos preços

- Abundância da mão-de-obra -> grande quantidade de mão-de-obra ociosa ou empregada em atividades de subsistência + proximidades do porto (transporte em mulas)

• O uso destes recursos ociosos permitiu o crescimento da atividade apesar da queda nos preços

- A expansão da produção era simples uma vez que a capitalização era pequena se comparado com o açúcar, fabrica simples e local

• Os custos monetários eram menores, enquanto houver terra, somente um forte crescimento do preço da mão-de-obra poderia interromper seu crescimento

• Atividade intensiva na utilização de mão-de-obra

• Quando o estoque de mão-de-obra está esgotado, a atividade cafeeira já está consolidada e tem condições de financiar a superação deste problema

• Entre 1820 e 1875, o café passa de 18% para 52% das exportações brasileiras i) Grande salto durante a década de 20 ii) Pouco deslocamento durante a década de 60 devido ao aumento do peso de

algodão na pauta em razão da guerra de secessão americana

O café acabou solucionando o velho problema da balança comercial brasileira, déficits seguidos entre 1821 e 1860

• Ao mesmo tempo, o endividamento brasileiro aumentava, de forma que o superávit comercial não era suficiente para financiar sua dívida -> funding loan de 1898

- O aumento das exportações brasileiras de café é surpreendente pois o produto sofria vários tipos de restrições (religiosas, morais e fiscais)

• Concorrência ao chá inglês forçava restrições britânicas • Alguns segmentos protestantes não tomam café

- Desenvolvimento dos arredores do Rio de Janeiro

- Rotas de expansão da cafeicultura

• Litoral -> São Sebastião • Interior: Vale do Paraíba (maior centro produtor) -> camada fértil era muito fina,

ida útil bastante curta • O café exigia rotatividade por agredir muito o solo.

Celso Furtado -> gestação da economia cafeeira (1825 -1875) -> crescimento acelerado do café

Apesar do comportamento adverso dos preços, a disponibilidade de mão-de-obra acumulada pelo economia mineratória possibilita o crescimento da cultura do café. Assim, no final do período, a economia cafeeira acha-se em condições de auto-financiar sua expansão. O problema, nesse momento, era a falta de mão-de-obra, a origem dessa escassez é a supressão do tráfico de escravos.

- Formação do mercado de trabalho brasileiro -> processos simultâneos:

i) abolição do trabalho escravo -> desembarques clandestinos até 1854 (permitidos em razão do tamanho da costa brasileira que favorece os desembarques clandestinos)

ii) imigração dos estrangeiros -> dois processos são contemporâneos e não são independentes

a) A abolição do trabalho escravo é especialmente longo, tem início com a assinatura dos tratados em 1808 e só acaba com a assinatura da Lei Áurea em 1878;

b) Enquanto o Brasil era colônia, não havia uma forte imigração estrangeira. Ela só começou a ocorrer após a vinda de D. João para o Brasil. A forma mais adequada de trazer estrangeiros foi por colônias de povoamento -> pequenos camponeses,

proprietários de terras, que podiam, da sua terra, extrair a maioria dos gêneros de que necessita. Esse trabalhador não incentiva a formação do mercado de trabalho. Essas colônias foram criadas principalmente para o abastecimento das cidades. Primeira colônia desse modo -> Nova Friburgo (RJ), entre outras. Em geral, essas colônias de povoamento localizaram-se do ES para baixo. Esse tipo de imigração européia não é considerada como mão-de-obra.

A imigração considerada no texto é a imigração de mão-de-obra que vem para trabalhar na lavoura de café. Foi introduzida pelo Senador Vergueiro (grande proprietário fundiário -> uma das fazendas era a de Limeira -> Fazenda Ibicaba , onde introduziu alemães entre outros). Esse tipo de imigração se espalhou principalmente na região de São Paulo.

Esse sistema é basicamente o chamado de meagem. O trabalhador toma conta de uma determinada área (faz tudo nessa área). Sobre o lucro dessa produção, o colono recebe a metade (por isso é meeiro) -> é uma colônia de parceria.

Esse sistema é diferente do que foi desenvolvimento em 1880, chamado colonato (imigração de italianos), que recebem uma remuneração fixa e uma remuneração proporcional sobre a colheita, é uma espécie de assalariada.

- no fundo, a Lei Áurea só veio depois que o problema da imigração assalariada já estava incluída -> a produção de café não teve quebra alguma (no total) por conta da abolição da escravidão. Quando a abolição apareceu, o problema da escassez de mão-de-obra já tinha sido resolvido.

- José Murilo de Caravalho -> abolição é um conjunto de políticas públicas que gradualmente levou ao fim da escravidão no Brasil: i) supressão do tráfico atlântico (1850) -> passa a depender somente do estoque de escravos que estavam no Brasil, dependendo da reprodução dos escravos; ii) libertação do ventre (1871) -> não se ampliaria o estoque de escravos -> não era tão simples assim nascer e já ser livre; iii) libertação do sexagenário (1885) -> efetividade limitada, meio de se limitar dos estorvos; iv) libertação dos escravos (1888).

Obs.: se a libertação fosse limitada até o ritmo do item 3, o Brasil teria escravos até a entrada do século XX.

Para o curso, os pontos importantes da abolição do trabalho escravo são (obs.: lembrar que a abolição foi um processo gradual com alguns momentos decisivos):

1) Supressão do tráfico internacional de escravos (1850); 2) Lei do Ventre-Livre (1871); 3) Lei Áurea (1888)

- Supressão do tráfico internacional de escravos -> explicação por fatores

Na prática, o escravismo brasileiro foi mais cruel do que o norte-americano (Celso Furtado -> crescimento vegetativo negativo dos escravos no Brasil e crescimento vegetativo positivo

dos escravos nos EUA). Portanto, a manutenção do escravismo no Brasil dependia exclusivamente do tráfico negreiro.

Medida de proibição do tráfico internacional de escravos -> foi aprovada pelo parlamento (composto por senhores de escravos). A grande questão que surge é que, parece que o parlamento deu um tiro no próprio pé.

Fatores para a supressão:

i) Internos -> Paula Beiguelman – a aprovação dessa lei foi uma conseqüência de uma disputa política no parlamento;

ii) Externos -> Caio Prado Jr. – atribui totalmente a pressão inglesa e para a aprovação da lei de fim do tráfico negreiro.

Pontos importantes do texto

- Capítulo 19 – Declínio a longo prazo do nível de renda: primeira metade do séc. XIX

• Condição básica para o desenvolvimento da economia brasileira, na 1ª metade do séc. XIX, teria sido a expansão de suas exportações

• As iniciativas de indústria siderúrgica da época de D. João VI fracassaram não extamente por falta de proteção, mas simplesmente porque nenhuma indústria cria mercados p/ si mesma, e o mercado p/ produtos siderúrgicos era praticamente inexistente.

• A industrialização teria de começar por aqueles produtos que já dispunham de um mercado de certa magnitude, como era o caso dos tecidos, única manufatura cujo mercado se estendia inclusive à população escrava. -> a baixa de preços dos tecidos foi de tal ordem que se tornava praticamente impossível defender qualquer indústria local por meio de tarifas -> teria sido necessário estabelecer cotas de importação -> isso reduziria substancialmente a renda real da população numa etapa em que esta atravessava grandes dificuldades. Por último, é necessário não esquecer que a instalação de uma indústria têxtil moderna encontraria sérias dificuldades, pois os ingleses impediriam por todos os meios a seu alcance a exportação de máquinas.

• Primeira condição para o êxito daquela política teria sido uma firme e ampla expansão do setor exportador. A causa principal do grande atraso relativo da economia brasileira na 1ª metade do século XIX foi, portanto, o estancamento de suas exportações.

• Excluído o café, o valor das exportações de 1850 é inferior ao que provavelmente foi no começo do século. -> renda real gerada pelas exportações cresceu 40% menos que o volume físico destas

• A renda real per capita declinou sensivelmente na 1ª metade do século XIX. Para que se mantivesse o nível dessa renda, reduzindo-se a importância relativa do setor exportador, seria necessário que se operassem modificações que evidentemente não ocorreram. Com efeito, somente um desenvolvimento intenso do setor não ligado ao comércio exterior poderia haver contrabalançado o declínio relativo das

exportações -> as atividades não ligadas ao comércio exterior são, via de regra, indústrias e serviços localizados nas zonas urbanas.

• O que houve, muito provavelmente, foi um aumento relativo do setor de subsistência -> o aumento de sua importância relativa, numa etapa em que o setor exportador estava estacionário, teria necessariamente que traduzir-se em redução da renda per capita do conjunto da população.

• Tendência foi declinante nessa época. Tammbém é provável que a renda per capita por essa época haja sido mais baixa do que em qualquer período da colônia, se se consideram em conjunto as várias regiões do país.

Capítulo 20 – Gestação da economia cafeeira

• Resultado líquido desse período de dificuldades -> novas técnicas criadas pela revolução industrial escassamente haviam penetrado no país, e quando fizeram foi sob a forma de bens ou serviços de consumo sem afetar a estrutura do sistema produtivo. Por último, o problema nacional básico (expansão da força de trabalho do país) encontrava-se em verdadeiro impasse: estancara-se a tradicional fonte africana sem que se vislumbrasse uma solução alternativa.

• p/ superar a estapa de estagnação, o Brasil necessitava reintegrar-se nas linhas em expansão do comércio internacional

• desenvolvimento com base em mercado interno só se torna ppossível quando o organismo econômico alcança um determinado grau de complexidade, que se caracteriza por uma relativa autonomia tecnológica.

• O mercado do açúcar tornara-se cada vez menos promissor (concorrência do açúcar da beterraba e cubano). A situação do algodão era pior do que a do açúcar (concorrência da produção norte-americana -> só será próspero durante a Guerra de Secessão). O fumo, os couros e o arroz eram produtos menores, cujos mercados não admitiam grandes possibilidades de expansão. O cacau era só uma esperança -> problema brasileiro constituia em encontrar produtos de exportação em cuja produção entrasse como fator básico a terra.

• Terra era o único fator básico abundante no Brasil. Capitais praticamente não existiam, e a mão-de-obra era basicamente constituída por um estoque de pouco mais de 2 mm de escravos, parte substancial do quais permanecia imobilizada na indústria açucareira ou prestando serviços domésticos.

• Café, foi introduzido no começo do séc. XVIII, mas só no fim desse século, quando ocorreu a alta nos preços causada pela desorganização do grande produtor (Haiti), começou a ter importância. 1º decênio da independência o café já contribuia com 18% do valor das exportações. Nos 2 decênios seguintes já representava 40% do valor das exportações (produto mais importante).

• O café desenvolveu-se, incialmente, na região montanhosa, próxima ao RJ -> região com relativa abundância de mão-de-obra em consequência da desagregação da economia mineira e próxima dos portos, o que permite a utilização das mulas como meio de transporte. -> primeira fase de expansão cafeeira se realiza com base num aproveitamento de recursos preexistente e subutilizado. Elevação dos preços determina a sua expansão em diversas regiões do mundo.

• Essa expansão foi sucedida por um período de preços declinantes que se estende pelos anos 1830 e 1840. A baixa de preços, entretanto, não desencorajou os produtores brasileiros, que encontravam no café uma oportunidade para utilizar recursos produtivos semi-ociosos desde a decadência da mineração -> com efeito, a quantidade exportada mais que quintuplicou entre 1821-30 e 1841-50, se bem que os preços médios hajam reduzido em cerca de quarenta por cento durante esse período.

• O segundo e principalmente o 3º quartel do século XIX são basicamente a fase de gestação da economia cafeeira. A empresa cafeeira permite a utilização intensiva de mão-de-obra escrava, e nisto se assemelha à açucareira. Entretanto, apresenta um grau de capitalização muito mais baixo (do que a açucareira)

• A empresa cafeeira se caracterizava por custos monetários ainda menores do que os da empresa açucareira.

• Como em sua 1ª etapa a economia cafeeira dispôs do estoque de mão-de-obra escrava subutilizada da região da antiga mineração, explica-se que seu desenvolvimento haja sido tão intenso, não obstante a tendência pouco favorável dos preços.

• A etapa de gestação da economia cafeeira é também a de formação de uma nova classe empresária que desempenhará papel fundamental no desenvolvimento subsequente do país.

• Diferenças fundamentais no processo de formação das classes diregentes nas economias açucareira e cafeeira -> época de formação da classe dirigente açucareira, as atividades comerciais eram monopólio de grupos situados em Portugal ou na Holanda. As fases produtiva e comercial estavam rigorosamente isoladas, carecendo os homens que dirigiam a produção de qualquer perspectiva de conjunto da economia açucareira. As decisões fundamentais era todas tomadas partindo da fase comercial. Assim isolados, os homens que dirigiam a produção não puderam desenvolver uma consciência clara de seus próprios interesses. Com o tempo foram perdendo sua verdadeira função econômica, e as tarefas diretivas passaram a constituir simples rotina executada por feitores e outros empregados. Compreende-se, portanto, que os antigos empresários hajam evoluído numa classe de rentistas ociosos. -> isso ecplica a facilidade com que os interesses ingleses vieram a dominar tão completamente as atividades comerciais do nordeste açucareiro. Debilitados os grupos portugueses, criou-se um vazio que foi fácil preencher. A economia cafeeira formou-se em condições distintas. Sua vanguarda esteve formada por homens com experiência comercial. Em toda a etapa da gestação os interesses da produção e do comércio estiveram entrelaçados. A nova classe dirigente formou-se numa luta que se estende em uma frente ampla: aquisição de terras, recrutamento de mão-de-obra, organização e direção da produção. A proximidade da capital do país constituía uma grande vantagem para os dirigentes da economia cafeeira -> subordinação do instrumento políticos aos interesses de um

grupo econômico alcançará sua plenitude com a conquista da autonomia estadual, ao proclmar-se a República.

• A descentralização do poder permitirá uma integração ainda mais completa dos grupos que dirigiam a empresa cafeeira com a maquinaria político-administrativa. O fato que singulariza os homens do café é terem utilizado esse controle p/ alcançar objetivos perfeitamente definidos de uma política. É por essa consciência clara de seus próprios interesses que eles se diferenciam de outros grupo dominantes anteriores ou contemporâneos.

• Ao terminar o 3º quartel do séc. XIX os termos do problema econômico brasileiro se haviam modificado basicamente.

• Concluída sua etapa de gestação, a economia cafeeira encontrava-se em condições de autofinanciar sua expansão. Estavam formados os quadros da nova classe dirigente que lideraria a grande expansão cafeeira. Restava resolver, entretanto, o porblema da mão-de-obra.

Aula 08/06/2011 – Caio Prado Jr. -> capítulos 15 e 18

- Causa externas para o fim do tráfico negreiro de escravos para Caio Prado Jr. -> todo o processo foi determinado pela Inglaterra. Internamente, não havia estímulo para que isso acontecesse, por isso, teve de vir de fora.

O que foi essa pressão inglesa? Foi uma pressão gradual ao longo do período (isso explica o porque de termos duas leis que suprimem o tráfico.

População de escravos no Brasil representava 1/3 da população brasileira (início do século XIX). Eles não participaram da disputa da independência (ao contrário de São Domingos). Seu envolvimento era visto com receio pelas demais camadas sociais. -> essa é a principal causa da supressão do escravismo naquele momento.

Obs.: Caio Prado Jr. é um autor da concessão. Sempre considera que uma população é incapaz de se unir para reivindicar qualquer coisa. Ou seja, foram concessões para as massas mais baixas. Comprova isso, afirmando que na independência brasileira, os esravos (1/3 da população total), não participaram de nada.

- Causa do não envolvimento dos escravos:

i) desconhecimento da língua e da situação brasileira (parte significativa de escravos era composta por africanos);

ii) rivalidade entre tribos e entre os escravos africanos e “brasileiros”. -> não tinham um sentimento de grupo.

- O escravismo -> desmoraliza-se após 1822 -> passa a ser aceito como um “mal necessário”, cujo desaparecimento no futuro seria inevitável. O discurso encontra-se na oortunidade. Não obstante, a instituição escrava é defendida pelo Estado, em especial, após a Regência (1831 – 1840). Envolvimento do Estado brasileiro na defesa da instituição -> quase entrou em guerra com a Inglaterra por causa disso.

A Corte portuguesa (D. Pedro I, entre outros), eram anti-escravistas, mas o Brasil era escravista -> era muito contrário ao escravismo e achava que os vícios da sociedade eram em razão da escravidão.

- Abolicionista -> José Bonifácio

Tráfico -> era a base imprescindível do escravismo em razão da baixa taxa de crescimento da população escrava. Razões do crescimento vegetativo negativo:

i) Razão do sexo -> poucas mulheres ii) Precárias condições de vida -> alta mortalidade iii) Falta de condições de uma vida familiar estável -> baixa natalidade

Assim, qualquer golpe sobre o tráfico repercute na estabilidade do escravismo. Por isso, internamente, zela-se por sua regularidade (não há estímulo interno contra o tráfico).

Obs.: podemos utilizar como exemplo o livro “Casa Grande e Senzala” -> promiscuidade. O mulato é sempre filho de uma mãe negra e um pai branco <-> todo escravo é filho de mãe conhecida e pai desconhecido.

- A pressão veio de fora (Inglaterra):

i) até metade do século XVIII, a Inglaterra controla mais ou menos metade do comércio mundial de escravos;

ii) após abolir o tráfico de sua colônias (1807), a Inglaterra passa a pressionar os outros países para fazerem o mesmo.

Primeira pressão inglesa do Brasil -> tratados de 1810: limite o tráfico de Portugal às áreas de seu domínio (teve pouco efeito prático, pois esta já era a área de atuação). O interesse inglês estava na criação de um pretexto para existir o tráfico ilícito (Inglaterra faz várias apreensões de navios portugueses). Em 1815, a Inglaterra indeniza Portugal em 300 mil libras. O tráfico fica abolido ao NO do Equador (exclui uma região portuguesa forncedora de escravos –> MINA, localizada na Costa do Marfim).

1817 -> Inglaterra exige direito de visita a navios suspeitos de tráfico ilegal;

1826 -> negociação do reconhecimento da independência -> o tráfico precisa ser ilegal a partir de 1830

1831 -> pelo tratado anterior, o tráfico é proibido (Lei Feijó). E, os africanos embarcados depois deste ano deviam ser considerados livres. Os regentes, maiores interessados na manutenção, não se empenham em aplicá-la.

i) Bethell -> suborno e intimidação dos responsáveis por sua aplicação: Chefe de Polícia e Juiz de Paz faziam com que a lei se tornasse inócua no Brasil.

ii) JM Carvalho -> uma lei para inglês ver

Apenas autoridade inglesas se preocupam em fazê-la valer. Pouco efeito prático

Pouco interesse do governo brasileiro na aplicação dessa lei -> ministro da justiça -> os ingleses que tratem de fiscalizar.

Resistência dos parlamentares brasileiros -> tensão diplomática -> os escravos são lançados ao mar quando é percebida a aproximação da “Armada Inglesa”. -> ineficiência da repressão -> pressão da Inglaterra para obter a cláusula de “indício de tráfico”, p/ condenar embarcações.

Obs.: eram considerados indícios de tráfico -> quantidade de água e comida nas embarcações e, na embarcação, uma grande quantidade de compartimentos para os escravos dormirem.

1854 -> Bill Aberdeen -> declaração unilateral: i) tráfico é ilegal; ii) p/ quem fosse pego traficando escravos -> julgamento por pirataria pelo tribunal do almirantado (navio seria confiscado e leiloado em partes); iii) autorizava o apresamento de qualquer embarcação suspeita de tráfico, em qualquer local, inclusive cabotagem.

Resultados:

i) Fonte de abusos dos ingleses -> contrabando para as colônias inglesas (a Marinha inglesa fazia a apreensão dos escravos os mandava para as Antilhas)

1845 – 1850 -> mais ou menos 400 embarcações foram apreendidas nesse período, diversas delas estavam em águas territoriais brasileiras.

Obs.: os navios negreiros eram alterados -> extremamente manobráveis, velozes e mais baratos -> baixo calado, casco arredondado e alta mastreação

1850 -> Lei Eusébio de Queirós -> não é tão diferente da Lei de 1831 -> a diferença para de Lei de 1831 era que agora o estado fazia valer a Lei.

i) A importação de escravos é declarada crime de importação, sendo equiparado à pirataria e passível de punição com pena corporal, multa e pagamento de despesas para mandar os negros de volta para a África;

ii) A lei foi aprovada numa situação de grande comoção -> acreditava-se que a marinha inglesa bombardearia a região de Cabo Frio -> a Lei Eusébio de Queirós não foi uma submissão às pressões inglesas, mas uma maneira de por fim às agressões (essa era a oratória).

iii) Facilitada pelo fato de: a) a maior parte do comércio estar nas mãos de traficantes portugueses, via de regra, os credores dos proprietários rurais (detentores do poder) -> forma de dar o calote (lembrar do Brasil Holandês); b) compradores de africanos importados ilegalmente julgado pela justiça comum (penas mais brandas).

Apesar das pressões, a Lei de 1831 não foi revogado -> evidencia a preocupação de elimnar os entraves ao direito de propriedade escravista -> reprimir o tráfico de africanos, sem excitar uma revolução no país. Faz-se necessário primeiro atacar com vigor as novas introduções, esquecendo e anistiando as anteriores à lei. Assim, podemos dizer que é uma lei de anistia para quem importou escravos após 1831.

Pontos importantes do texto

- Capítulo 15 – Crise do Regime Servil e Abolição do Tráfico

• Os ecravos, mesmo representando 1/3 da população, não terão uma participação ativa e de vanguarda no processo de emancipação política do Brasil (o contrário do que ocorreu, por exemplo, no Haiti) -> acompanharão por vezes a luta, participarão debilmente de alguns movimentos, desperantando aliás com isto grande terror nas demais camadas da população. Mas não assumirão por via de regra uma posição definida, nem sua ação terá continuidade e envergadura.

• Isto se deve sobretudo so tráfico africano que neutralizava a ação dos escravos já radicados no país e por isso mais capazes de atitudes políticas coerentes.

• A participação dos escravos nos movimentos da época não terá vulto apreciável, e isto constituirá talvez o motivo principal por que a estrutura fundamental da economia brasileira, assente como estava no trabalho deles, não sofre abalos para transformá-la desde logo. Contudo, mesmo esta débil participação e até, na falta dela, a simples presença desta massa de escravos surdamente hostis à ordem vigente num momento de agitações e convulsão social, era o bastante para desencadear a crise do sistema servil e pôr em equação o problema da escravidão.

• Logo depois da independência já a (escravidão) vemos alvo da crítica geral. Aceita-se e se jsutifica, mas como uma “necessidade”, um mal momentaneamente inevitável. Ninguém ousea defendê-la abertamente e seu desaparecimento num futuro mais ou menos próximo é reconhecido fatal. -> a escravidão ainda constituía a mola mestra da vida do país.

• José Bonifácio de Andrada -> “é tempo de irmos acabando gradualmente até os últimos vestígios da escravidão. Para formarmos em poucas gerações uma nação homogênea...”

• Outro fator que condicionará a tendência anti-escravista do Brasil independente é a questão do tráfico africano. Esse último e a escravidão achavam-se indissoluvelmente ligados, esta não se podia manter se aquele. -> abolido o tráfico, a escravidão seguir-lhe-ia os mesmos passos. A razão disso é que o crescimento vegetativo da população escrava era negativo.

• Qualquer golpe sofrido pelo tráfico terá necessariamente grande repercussão na estabilidade da instituição servil

• O fato é que a Inglaterra, depois de abolir em 1807 o tráfico nas suas colônias, torna-se o paladino internacional da luta contra ele. É sob sua influência ou pessão que o tráfico será sucessivamente abolido por todos os países do mundo.

• Tratado de 1810 -> Portugal restringia a ação de seus súditos aos territórios africanos sob o domínio de Portugal -> estava criado o pretexto de que a Inglaterra precisava para perseguir os negreiros. Qualquer presa feita em alto mar pelos seus cruzeiros, justificar-se-ia com a alegação de que os escravos provinham de territórios não protugueses

• 1815 -> nova concessão: a abolição do tráfico ao Norte do Equador. Excluíam-se com isso as possessões portuguesas que mais contribuiam p/ alimentar a população escrava do Brasil, em particular a Costa do Mina. + o direito de visita em alto mar a navios suspeitos de tráfico ilegal + a abolição total do tráfico (em 15 anos)

• A eclosão do desenvolvimento de um verdadeiro espírito anti-escravista no Brasil prende-se claramente aos fatores internacionais que agiam contra o sistema servil. -> escravidão vai perdendo terreno no conceito comum

• Independência brasileira -> aceitação de Portugal com auxílio da Inglaterra -> a Inglaterra, autora de toda esta hábil trama, cobrará naturalmente o preço de sua intervenção. Com relação ao tráfico, exigirá do Brasil medidas definitivas (tratado assinado em 1826 em que o Brasil se compromete a proibir o tráfico inteiramente dentro de 3 anos depois da troca de ratificações)

• Cumprindo sua promessa, o Brasil promulga em 1831 uma lei que proibia o tráfico africano, considerando-se livres os indivíduos desembarcados no Brasil a partir daquela data. -> essa lei não representava mais que uma satisfação de forma a compromissos internacionalmente assumidos. Ninguém cuidava seriamente em aplicá-la.

• Consequeência disso -> repressão inglesa -> a repressão inglesa, arrogante e sem medidas, começava a ferir as suscetibilidades brasileiras. O tráfico se torna quase uma questão de honra nacional. Se ninguém o aprova abertamente, a oposição também começa a tomar as cores de uma aliança com poderes estranhos que comprometem a soberania do país. -> tudo isso se aliará a favor do tráfico, e ainda menos se fará para o reprimir.

• 1845 -> Bill Aberdeen -> que declara lícito o apresamento de qualquer embarcação empregada ao tráfico africano, e sujeita os infratores a julgamento por pirataria perante os tribunais do Almirantado -> inicia-se uma perseguição ao tráfico sem precedentes -> soberania brasileira era violada permanentemente, e aos protestos do governo, desprovido de recursos materiais para fazer frente ao poderoso adversário, respondia este ou com desprexo, ou reafirimando sua inabalável decisão de liquidar o tráfico fosse por que meio fosse.

• O mair grave para o Brasil é que a ação inglesa ultrapassava frequentemente seus próprios fins, indo interferir com o comércio lícito -> embarcações empregadas neste transporte puramente nacional, levam quase sempre escravos a bordo, coisa perfeitamente natural e mesmo necessária num país onde a escravidão existia. Os cruzeiros ingleses não hesitavam e também prendiam essas embarcações.

• Em 1850 adotam-se medidas efeitvas de repressão ao tráfico: não só leis eficientes, mas uma ação severa e continuada. Destaca-se entre as medidas a expulsão do país de traficantes notórios, portugueses na maioria, o que contribui muito para desorganizar o negócio.

• Nesta altura, um novo fator veio em auxílio da administração brasileira e em favor das pretensões inglesas. Os traficantes se tinham tornado uma potência financeira, e apesar do desprestígio social que os crecava, faziam sombra com seu dinheiro às classes de maior expressão polític e social no país: os fazendeiros e proprietários rurais, em regra, seus devedores pelo fornecimento de escravos. -> isto facilitou grandemente a violenta reação contra o tráfico iniciada pelo governo brasileiro.

• A questão do tráfico africano terá representado naquela fase de desajustamento um papel de primeira ordem. Ela afetará o mais profundo do sistema colonial, a

própria estrutura de base que nos legara o regime de colônia; e põe em cheque o conjunto daquela estrutura assente na produção extensiva de gêneros tropicais destinados ao comércio internacional.

• O sistema estava desde aquele momento definitivamente comprometido e condenado ao desaparecimento.

• O tráfico absorvera até então uma parcela considerável de atividades e constituía, pode-se dizer, o maior negócio brasileiro da época -> com o término, assistimos então, a ativação de negócios noutros setores, e logo em seguida a inflação. O país conhecerá pela 1ª vez um destes períodos financeiros áureos de grande movimento de negócios.

• A abolição do tráfico ainda terá outro efeito indireto: põe termo ao longo conflito com a Inglaterra -> a expansão dos negócios ingleses retomará seu ritmo normal e progressivo, que declinara muito nos anos anteriores de atritos e desentendimentos.

- Capítulo 18 – A decadência do trabalho servil e sua abolição

• O problema da escravidão propriamente e de sua manutenção conserva-se, durante a primeira metade do século, em segundo plano; a questão paralela do tráfico, que lhe era tão intimamente ligada, absorverá nesta fase todas as atenções, e é ne;a que se centraliza a luta.

• Todas as forças conservadoras preferem calar-se e recusam abrir debate público em tôrno de um assunto tão delicado e capaz das mais graves repercussões. Não devemos esquecer o temor que despertava a presença desta massa imensa de escravos que permeava a sociedade brasileira por todos os seus poros. Ninguém podia saber ao certo das suas possíveis reações, da atitude que teriam os escravos, curvados ao trabalho, humildes e até então, em geral, pacíficos, se acaso lhes sorrise, embora longinquante, uma sorte melhor.

• A ausência de manifestações expressas não significava sempre esquecimento ou desprezo; mas pelo contrário, muitas vezes significava excesso de preocupação.

• Os efeitos da suspensão do tráfico começam logo a se fazer sentir. Cessara bruscamente, e ainda no momento sem nenhum substituto equivalente, a mais forte corrente de povoamento do país representada anualmente por algumas dezenas de de milhares de indivíduos -> lavoura logo se ressentirá da falta de braços

• Efeito capital desta situação será o de desviar os escravos para as regiões mais prósperas, em prejuízo das outras. 1854 -> projeto de lei que proibia o tráfico interprovincial de escravos.

• Preciso uma solução mais ampla e radical -> será procurada na imigração européia. • Corrente imigratória se intensifica depois de 1850, e veremos coexistir, nas

lavouras de café, trabalhadores escravos e europeus livres -> estranha combinação não surtirá efeito e logo se verificará sua impraticabilidade, terminando num fracasso esta primeira tentativa de preencher com colonos europeus os vácuos deixados pela carência de escravos. Somente mais tarde e em outras condições,

renovar-se-ão as correntes imigratórias da Europa, resolvendo-se então com elas o problema do trabalho na agricultura do café.

• Outra circubstância que pela mesma época acentua e precis os caracteres negativos da escravidão, é o início da indústria manufatureira do país. Nela não se empregarão trabalhadores servis.

• É na base desta acentuação e deste agravamento das contradições do regime escravista que se processará sua decomposição. A partir de1860, a pressão dos acontecimentos já é bastante forte para provocar uma larga tomada de posições: o problema da escravidão, o da sua subsistência, é então aberto e francamente posto em foco.

• O problema da escravidão entra nesta época definitivamente para o cartaz da política brasileira -> torna-se o centro principal das atenções.

• Procuram-se meios de chegar a uma solução conciliatória que harmonize na medida do possível os interesses em jogo e traga a extinção gradual e suave da escravidão, sem choques graves e comprometedores do equilíbrio econômico e social do país. A liberdade dos nasciturnos será uma destas soluções.

• Outra circunstância que acentuará as contradições ideológicas do regime escravista, contribuindo grandemente para a evolução da questão, é a posição internacional do Brasil que, junto com Cuba, era o único país escravista da civilização ocidental.

• Outro fator que contribui é um apela feito em 1865 pela junta francesa de emancipação -> o imperador brasileiro, até então desinteressado pela questão, levará o ministério a tomar conhecimento oficial dela.

• 1865 -> Guerra do Paraguai -> serve de pretexto p/ adiar o debate. -> com o término da Guerra, a pressão se torna particularmente forte.

• A guerra pusera em relevo as debilidades orgânicas de um país em que a massa da população era constituída de escravos.

• Embora vitorios, o Brasil saía da guerra humilhado, com suas tropas de recém-egressos da escravidão -> a questão da abolição do regime servil se tornará, daí por diante, um ponto de honra nacional.

• 1871 -> lei do ventre livre -> decretada a liberdade dos nasciturnos, a escravidão estava praticamente extinta. Tratav-se apenas de uma questão de tempo. -> essa lei servirá apenas para atenuar a intensidade da pressão emancipacionista (nada produzirá de concreto). Calcula-se que por este processo a escravidão ainda levaria de 50 a 70 anos para desaparecer do Brasil.

• A lei do ventre livre não resultou assim, em última análise, senão numa diversão, uma manobra em grande estilo que bloqueou muito mais que favoreceu a evolução do problema escravista no Brasil.

• Dentro do sistema escravista vigente, não era possível a solução do problema com trabalhadores europeus.;

• A abolição irrestrita, sem condições e imediatas, increve-se desde logo na ordem do dia. Além disto, o assunto já não se restringirá mais a círculos políticos e

partidários, acompanhados mais ou menos passivamente pela opinião pública. A campanha se desloca para a rua.

• 1883 -> confederação abolicionista -> os escravos tornam-se participantes da luta, reagindo por meio de fugas coletivas e abandono em massa das fazendas

• 1885 -> liberdade aos escravos maiores de 60 anos -> uma estrondosa gargalhada repercutirá pelo país. Ninguém levou à sério o que a reação escravocrata pretendia apresentar como uma larga e generosa concessão.

• O abolicionismo marchara muito no seu seio; a oficialidade, recrutada em regra nas classes médias da população, e por isso desligada de qualquer compromisso com a escravidão, era-lhe na maioria contrária

• Os seus setores mais previdentes compreendem que a resistência tornar-se inútil e insistir nela seria apenas levar a questão para o terreno da violência declarada e aberta. -> a campanha estava ganha para os abolicionistas. Os próprios interessados diretos na escravidão, abandonavam o terreno da luta. Em março de 1888 cai o último governo escravocrata do Brasil: 2 meses depois -> 13 de maio -> término da escravidão.

Aula 13/06/2011 – Celso Furtado – Capítulo 24 e Paula Beiguelman

- A posição inglesa de combate ao tráfico de escravos se explica pela disputa do mercado de açúcar antilhano: monopolista (não interessava aos comerciantes). Fim do século XVIII -> o mercado açucareiro está em crise de superprodução.

• Abolição do tráfico (1807) -> medida para retirar do mercado açucareiro as regiões menos produtivas (a produção antilhana era declinante desde o século XVIII);

• Enfraquecimento dos Antilhanos (conseqüência da medida) -> comerciantes conseguem em 1833 fazer a abolição dos escravos

• Os açucares livres sofrem concorrência do açúcar brasileiro e cubano (escravistas)

Pressão dos comerciantes de açúcar do mercado inglês (1846) aos açucares coloniais -> após este ano, a postura inglesa reflete o interesse dos produtores coloniais (Antilhanos), que se tornaram abolicionistas -> os comerciantes (e industriais) defendem a não-intervenção no tráfico e no escravismo.

A aprovação da Lei Eusébio de Queiróz (fim do tráfico de escravos) foi possibilitada pela convergência de interesses entre políticos de diferentes áreas escravistas e sem disputa político partidária. No Brasil:

• Norte -> pecuária era abastecida de mão-de-obra, valorização do estoque (abolição do tráfico negreiro aumentaria os estoques) -> era positivo

• Nordeste -> açucareiro (decadente); abastecido de mão-de-obra; endividado -> o fim do tráfico negreiro significava saldar dívidas.

• Centro-Sul -> duas áreas cafeeiras: a) Mais antiga: Vale do Paraíba -> abastecida de mão-de-obra

b) Área mais nova: Campinas -> falta mão-de-obra. Considerava a possibilidade de utilização de outro tipo de mão-de-obra (desde 1849 o senador Vergueiro já vinha utilizando mão-de-obra livre).

Portanto -> naquele momento, não tem nenhuma região totalmente comprometida com o tráfico.

- Consequências da abolição do tráfico de escravos:

a) declínio do tráfico internacional de escravos. -> medidas complementares facilitaram isso:

• 1862 -> tratado anglo-americano de direito de busca; • 1865 -> Lincoln aplica legislação norte-americana anti-tráfico -> acaba por suprimir

o tráfico cubano, exercido predominantemente por norte-americanos • 1868 – 1870 -> desativação do sistema inglês de repressão ao tráfico

b) queda no preço do escravo na África

c) penetração européia na África Ocidental (preocupação da Inglaterra e de outros países com a partilha da África)

d) disponibilidade dos capitais até então aplicados no tráfico -> antes da proibição, cerca de 50% do total das importações brasileiras eram de escravos. Com a interrupção dessa importação, há uma ativação de outras atividades. Em 1850, há mais estímulo para o comércio, agricultura, telégrafo, ferrovias e bancos.

e) aumento no preço dos escravos no Brasil -> o preço duplica em poucos meses entre 1852 – 1854. Na década de 1880, o preço do escravo começa a cair. O escravo passa a ser substituído por outras formas de ativos.

f) encorajamento dos planos de colonização com uso de população européia -> principalmente pela forma de parceria (meagem). Entra em colapso em 1856.

g) desenvolvimento do comércio interno de escravos que passam a se concentrar nas zonas cafeeiras:

• Gorender -> tráfico inter e intraprovincial é de aproximadamente 300 mil pessoas. • Slenes -> tráfico interprovincial é de aproximadamente 200 mil pessoas. • Conrad -> entre 1851-1885 o tráfico interno foi a principal fonte de trabalhadores

agrícolas para a próspera economia cafeeira. As principais províncias exportadoras de mão-de-obra eram as províncias do Nordeste.

• Eisemberg -> Pernambuco exportou ¼ da sua escravaria (38 mil escravos) entre 1850-1888. Vendiam para cobrir seus débitos. A mão-de-obra vinha sendo substituída pelos agregados.

• Grahan -> Nordeste perdeu cerca de 11% da sua população no período entre 1872-1890.

Forte concentração de escravos nas províncias cafeeiras -> 1884 – aproximadamente 750 mil escravos, na sua maioria provenientes das regiões norte e sul do Brasil.

Censo demográfico de 1872 -> a distribuição de escravos por província -> foram computados 1,51 mm de escravos. Mais da metade desse montante estava em 3 estados (MG, SP, RJ).

- Canabrava -> a concentração de escravos deveu-se à diferença de densidade econômica. O escravo alocado no açúcar rendia menos do que o escravo alocado no café. Isso explica concentração escrava nas zonas cafeeiras.

- Restrições provinciais ao comércio de escravos

• MT (1857) -> imposto de 30% sobre • Restrições à entrada: SP, RJ, MG -> imposto de 2 contos de réis (mto caro) para

entrar na província com escravo de outra província. Esses estados estavam preocupados com o enegrecimento da população.

- ruralização dos escravos:

• Municípios da corte -> queda do número e da participação de escravos na população, principalmente em virtude de sua saída para áreas vizinhas.

-> Abolição do Escravismo: a literatura pode ser dividida mm 2 grandes grupos.

i) inadequação do trabalho escravo em uma economia mais progressiva (capitalista) -> seguidores das teses de Caio Pedaro Jr.. São seguidores dessa tese;

• Fenrnado Henrique Cardoso; • Otávio Ianni; • Emilía Viotti da Costa

Explicação -> O trabalho escravo e o capitalismo são incompatíveis -> basta aparecer o trabalho assalariado para que o trabalho escravo entre em colapso pois o trabalho escravo é menos produtivo do que o trabalho assalariado.

Obs.: O trabalho escravo só se adapta a forma de produção extremamente simples e que utilizam de instrumentos grosseiros -> baixa produtividade

Fernando Henrique Cardoso -> a formulação mais completa dessa explicação

Tem como precurssor Caio Prado Jr. que afirma que o trabalho escravo é um obstáculo fundamental à formação do capitalismo.

Examina a decadência da economia gaúcha do charque -> seu declínio deve-se à ordem social escravocrata a qual torna-a incapaz de competir com a produção platina, baseado no trabalho livre. A economia do trabalho escravo é a economia do desperdício. O escravo só se dispõe a trabalhar mediante uma coação feita pelo feitor.

No capitalismo, o estímulo é de dentro para fora -> o assalariado, espontaneamente, se dispõe a dar mais produtividade e, portanto, os custos são menores.

ii) Escassez da mão-de-obra

• Paula Beiguelman • Celso Furtado

Explicação -> Paula Beiguelman -> a destruição do escravismo nas américas, para alguns estudiosos (como FHC), é um processo de depuração do capitalismo. Ou seja, em um estágio mais avançado do capitalismo, o escravismo tem de ser eliminado. Contudo, o escravismo moderno caracteriza-se por ser essencialmente capitalista.

No escravismo moderno, diferentemente do escravismo antigo, o escravo integra um complexo determinado pela presença do assalariado.

Assim, posto que o escravismo colonial foi uma criação do capitalismo, como explicar a sua destruição?

i) O escravismo e a acumulação capitalista inglesa:

Antes da revolução industrial -> o EUA representa uma reserva de mercado para a produção metropolitana e a economia Antilhana é uma economia dependente do tráfico que transfere excedente para a metrópole.

Depois da revolução industrial -> a indústria adquire condições para competir livremente. Dispensa a reserva de mercado para a produção. Assim, perde importância o excedente transferido para a metrópole graças ao escravismo antilhano (a produção antilhana perde importância).

Em algumas áreas tropicais, o escravismo continua a ser um recurso para o fornecimento de trabalho barato. (Brasil e Cuba para a produção de açúcar e EUA para a produção de algodão).

A destruição do escravismo capitalista tem 2 momentos:

1º momento -> extinção do tráfico: contexto de competições entre áreas açucareiras – os produtores mais antigos acreditavam que a supressão do tráfico valorizaria o preço dos escravos

Tese da incompatibilidade entre a teoria de que o escravismo terminou por causa do capitalismo:

i) Ignora que as economias escravistas tropicais são encaradas principalmente como fornecedoras de gêneros de baixo custo para consumo e comercialização com as metrópoles. Menos relevante é o seu papel como consumidor.

ii) Destruição do escravismo resultou em um trabalhador formalmente livre, com baixo poder aquisitivo.

A ação da Inglaterra no combate à escravidão e ao tráfico internacional de africanos:

i) É a principal evidência daqueles que defendem a incompatibilidade entre capitalismo e escravismo

ii) Combate à escravidão antilhana -> é uma das batalhas

Combate ao tráfico -> é uma das batalhas pela equalização dos direitos do açúcar de todo mundo no mercado inglês

Nos EUA, a abolição do escravismo pelo Nordeste, em prejuízo da região Sul (durante a Guerra de Secessão):

i) foi uma maneira da região Nordeste (protecionista) quebrar a resistência do Sul (livre-cambista), que apela para a secessão;

ii) a simpatia da Inglaterra com o Sul é um meio de retardar a industrialização dos EUA? O objetivo inglês é, mediante a fragmentação do mercado interno norte-americano, enfraquecer o protecionismo do Nordeste.

Portanto, não há fundamentos para estabelecer outra relação entre o escravismo e o sistema inclusivo (capitalismo) que não a indiferença -> isso significa que o capitalismo abre a possibilidade.

A última conclusão remete para a necessidade do exame concreto de cada uma das 5 situações particulares do fim do escravismo:

i) Antilhas Inglesas; ii) Antilhas Francesas; iii) EUA; iv) Cuba e; v) Brasil.

- Paula Beiguelman e a escassez relativa de mão-de-obra

A escassez relativa desempenha um papel básico na desagregação do escravismo brasileiro -> crítica à visão ideológica formulada pela facção vencedora

Ênfase no jogo político regional e partidário, que explica: extinção do tráfico (1850); lei do ventre-livre (1871), lei do sexagenário (1885) e, Lei Áruea – abolição (1888)

A abolição requer um exame da disponibilidade de escravos no contexto:

i) Nacional:

• Norte -> pecuária era decadente, havia um pequeno número de escravos (exaurido pelo tráfico). A região não tinha um comprometimento com a questão escrava.

• Nordeste -> açucareiro, escravista • Centro-Sul -> dividido em 3 áreas cafeeiras

1) Vale do Paraíba -> decadente, saturado de escravos; 2) Oeste Antigo (Campinas) -> auge econômico, era mais ou menos abastecido de

escravos 3) Novo Oeste (Ribeirão Preto) -> em formação, era a região mais carente de

escravo

Conflito entre soluções imigrantistas e escravistas

Em São Paulo -> Vale do Paraíba + núcleos urbanos -> união no plano político para aprovação de: i) suvenção da imigração; ii) 1878 -> impostos sobre o comércio de escravos (1 conto de réis) -> criação do clube da lavoura de Campinas (Oeste Antigo) consegue impedir a sanção do presidente (é a única contra isso).

Obs.: a área cafeeira não é politicamente coesa.

Obs.2: Clube da Lavoura de Campinas -> criado por Campos Salles, quando a assembléia de SP criou um imposto para a entrada de escravo comprado de outra província.

-> Posição dos partidos frente à abolição

i) Partido Liberal -> apoio a uma abolição gradual (começou a apoiar em 1884), com indenização (compromisso com o direito de propriedade). Estavam com um dilema entre o direito de propriedade e a abolição da escravatura, por isso são a favor de uma indenização para os senhores de escravo.

ii) Partido Conservador -> apóia a abolição somente em 1888. Porém, Antonio Prado (1877), já tinha defendido a alforria geral em 3 anos.

iii) Igreja Católica -> começa a apoiar a abolição em 1887

obs.: em 1888 temos uma cisão interna dos partidos Conservador e Liberal

- Protesto do Clube da Lavoura ao Parlamento pela recusa do presidente de SP de fazer uso da força policial para controlar o motim de 2.000 escravos em Santos.

Antonio Prado, do Partido Conservador, apoia o Presidente, e acabou sendo seguido por outros correligionários -> propõe a abolição da escravatura imediata -> recuo do Partido Liberal, que se divide.

-> Lei Áurea foi aprovada por 2 partidos:

• Câmara -> 9 votos contrários (8 do RJ e 1 do PE) • Senado -> passa sem problemas, constitui apenas 2 artigos (1º é de declaração da

extinção da escravidão e, o 2º é de revogação das disposições em contrário)

-> Consequências da abolição da escravidão (para Furtado)

Promoveu ou não promoveu a distribuição de renda?

Em locais onde as terras eram totalmente ocupadas (por exemplo nas Antilhas), a abolição representa apenas uma mudança formal na situação jurídica (não tem distribuição de renda). Caso as terras fossem livres, os escravos teriam como alternativa irem para essas terras. Assim, os fazendeiros teriam que pagar um melhor salário para manter o trabalhador na terra. Dessa forma, haveria uma distribuição de renda.

O Brasil não se enquadra em nenhuma dessas situações -> a região açucareira é semelhante à região antilhana e, a abolição possibilitou até que os escravos tivessem uma piora na qualidade de vida. Já a região cafeeira assemelha-se mais com a opção das terras livres.

Região cafeeira:

• Vale do Paraíba -> disponibilidade de terras (foram abandonadas pelo café) -> aumento da economia de subsistência

• Planalto Paulista -> economia em rápida expansão -> atrai libertos e paga melhores salários

O aumento do salário não resultou em uma melhor qualidade de vida. Os escravos libertos não tinham conhecimento da prática de acumulação e possuíam um baixo nível de necessidade -> preferência pelo ócio

Pontos importantes do texto

- Celso Furtado – Capítulo 24 – O problema da mão-de-obra (iv. Eliminação do trabalho escravo)

• Segunda metade do século XIX -> inadequada oferta de mão-de-obra consitui o problema central da economia brasileira

• Abolição do trabalho serviu assumiria as proporções de uma “hecatombe social” -> prevalecia a idéia de que um escravo era uma “riqueza” e que a abolição da escravatura acarretaria o empobrecimento do setor da população que era responsável pela criação de riqueza no país.

• Abolição da escravatura -> constitui simplesmente uma redistribuição da propriedade dentro de uma coletividade. A propriedade da força de trabalho, ao passar do senhor de escravos p/ o indivíduo, dexa de ser um ativo que figura numa contabilidade p/ constituir-se em simples virtualidade

• A semelhança de uma reforma agrária, a abolição da escravatura teria de acarretar modificações na forma de organização da produção e no grau de utilização dos fatores. Com efeito, somente em condições muito especiais a abolição se limitaria a uma transformação formal dos escravos em assalariados. Em algumas ilhas das Antilhas Inglesas, em que as terras já haviam sido totamente ocupadas e os ex-escravos já não dispunham de nenhuma possibilidade de emigrar, a abolição da escravatura assumiu esse aspecto de mudança formal, passando o escravo liberado a receber um salário monetário que estava fixado pelo nível de subsistência prevalencente. O caso extremo oposto seria aquele em que a oferta de terra fosse totalmente elástica: os escravos uma vez libertados, tenderiam, então, a abandonar as antigas plantações e dedicar-se à agricultura de subsistência. Empresários, vendo-se privados de mão-de-obra, tenderiam a oferecer salários elevados, retendo dessa forma parte dos ex-escravos. A consequência última seria, portanto, uma redistribuição de renda em favor da mão-de-obra.

• No Brasil não se apresentou nenhum dos 2 casos extremos. Porém, podemos afirmar que, a região açucareira aproximou-se mais do 1º caso, a cafeeira, mais do 2º caso.

• Na região cafeeira, as consequências da abolição foram diversas. Nas províncias que hoje constituem os estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, e em pequena escala São Paulo, se havia formado uma importante agricultura cafeeira à base de trabalho escravo. A rápida destruição da fertilidade das terras ocupadas nessa 1ª expansão e a possibilidade de utilização de terras a maior distância com a estrada de ferro, colocaram essa agricultura em situação desfavorável. Podemos esperar uma grande migração da mão-de-obra de ex-escravos em direção às novas regiões em rápida expansão. Porém, é nessa época que tem início a formação da grande corrente migratória europeia para São Paulo. Sem incentivo p/ o deslocamento, a região da antiga produção cafeeira passa a ser mais interessante -> relativa abundância de terras -> economia de subsistência (foi menos disperso do que o esperado, motivos de caráter social)

Além disso, a melhora na remuneração real do trabalho parece haver tido efeitos antes negativos que positivos sobre a utilização dos fatores. Os escravos tinham uma preferência pelo ócio.

• Observada a abolição de uma perspectiva ampla, comprova-se que a mesma constitui uma medida de caráter mais político que econômico. A escravidão tinha mais importância como base de um sistema regional de poder que como forma de organização da produção. Abolido o trabalho escravo, praticamente em nenhuma parte houve modificações de real significação na forma de organização da produção e mesmo na distribuição da renda. Sem embargo, havia-se eliminado uma das vigas básicas do sistema de poder formado na época colonial e que, ao perpetuar-se no século XIX, constituia um fator de entorpecimento do desenvolvimento econômico do país.

Texto da Paula Beiguelman – A destruição do escravismo moderno como questão teórica

• A problemática da destruição da escravidão negra na América no curso do século XIX, costuma ser proposta em termos de um sistema baseado no trabalho livre

• O escravismo moderno se caracteriza, assim, por ser essencialmente capitalista -> o escravismo moderno é integrante de um complexo determinado pela presença do trabalho assalariado. Ele não representa uma compenente a-capitalista mas, ao contrário, constitui-se uma criação capitalista.

• O escravismo se apresenta como a forma pela qual o capitalismo se realiza na economia colonial

• Como se explica a destruição do escravismo colonia? (essa é a pergunta que a autora tenta reesponder)

• Situar o escravismo como referência ao processo de acumulação capitalista -> um dos tipos é os representados pelas colônias norte-americanas, cuja economia apresenta condições propícias à emergência de capacidade aquisitiva na população O outro tipo é o representado pelas colônias antilhanas, cuja economia anima um intenso tráfico negreiro, do qual resultam excedentes que são recanalizados para ametrópole.

• Revolução industrial altera basicamente esse quadro: i) de um lado, a indústria inglesa adquire condições para competir livremente pelo mercado norte-americano e mundial, dispensando a manutenção de um mercado consumidor forçado; ii) de outro, com a autopropulsão atingida pelo capital industrial, declina a importância do excedente criado pelo tráfico, como fator de acumulação de capital.

• O quadro de uma produção tendo por fulcro o tráfico negreiro é substituído por outro no qual emerge, como fator ponderável de acumulação capitalista, a comercialização do açúcar mundial, à qual tende a Inglaterra.

• Todavia, desde o momento em que a economia internacional prescinde do tráfico negreiro como fator de acumulação, suprime-se um requisito básico para a persistência do escravismo

• Ou seja, temos que o sistema, depois da rev. industrial, tanto pode inserir como dispensar a escravidão, diversamente do que ocorria quando o tráfico era peça relevante no processo de acumulação capitalista. Isto é, a escravidão deixa de

apresentar a necessidade de que estivera investida na etapa em que fora importante o ciclo básico pelo qual se traziam os escravos da costa da áfrica p/ revendê-los aos plantadores, criando-se excedentes que eram canalizados para ametrópole.

• Essa relação de indiferença se traduz num processo que conduz à destruição efetiva do escravismo, e que pode ser analiticamente construído em torno de 2 momentos principais: a extinção do tráfico e a abolição.

• A extinção do tráfico se insere no process de competição interna de cada economia açucareira, podendo ser teoricamente referida ao interesse dos plantadores mais antigos em valorizar a escravaria de que dispunha.

• A abolição, por sua vez, se apresenta como um momento do processo de concentração, acelerando-o através da ruína dos grandes plantadores.

• Tese de que houve um impulso do capitalismo industrial p/ a destruição do escravismo -> essa idéia parece basear-se no pressuposto de que, como a alta concentração da renda na economia escravista impede o aparecimento de uma massa com poder aquisitivo, as economias centrais seria favoráveis à sua substituição por um sistema baseado no trabalho livre. (a autora irá discutir isso)

• Nessa premissa, porém, não é considerada a natureza real das relações entre as economias centrais e periféricas. Com efeito, as economias tropicais são encaradas precipuamente como produtoras de generos baratos para o consumo e a comercialização, sendo menos relevante o seu papel como consumidoras.

• Assim, pois, não há como interpretara destruição do escravismo em função direta do capitalismo industrial.

• Quanto ao caso da repressão do tráfico internacional, é preciso considerar que ela se apresenta, principalmente, como uma forma de satisfação oferecida aos interesses internos afetados seja pela luta contra a escravidão antilhana, seja pelo processo de implantação do livre-cambismo em suas demais fases.

• A Inglaterra não tem realmente razões básicas para hostilizar o crescimento da produção tropical escravista

• EUA -> a escravidão proporciona apenas o terreno para uma batalha que transcede o seu âmbito. Assim, a luta anti-escravista fornece as condições para tornar vulnerável o Sul (livre-cambista) no processo de reivindicação protecionista desencadeado pelo Norte.

• Não se trata, pois, de eliminar uma estrutura econômica que, enquanto tal, entrasse em choque com os requisitos da industrialização, mas de proceder ao abalo da resistência econômica, militar e política dos plantadores antiprotecionistas.

• Também a simpatia da Inglaterra p/com o Sul secessionista costuma ser lembrada como argumento em favor da tese de incompatibilidade entre escravidão e indústria -> a Inglaterra, ao tomar partido da escravidão sulista, visaria retardar e industrialização do Norte. -> o alvo inglês seria antes a pretensão protecionsita do Norte, que a emancipação

• Não há fundamento p/ estabelecer entre o escravismo e o sistema inclusivo outra relação que a indiferença.

Aula 15/06/2011 – Caio Prado Jr. capítulo 19 e Petrone (páginas 274 a 296)

- Introdução ao tema:

Formação do mercado de trabalho brasileiro -> 2 processos simultâneos: i) abolição do trabalho escravo; ii) imigração estrangeira para a grande lavoura (não é a imigração para o sul, mas sim a de trabalhadores para a cafeicultura).

2 modalidades de imigração: i) parceria (1874 -> entrou em colapso 10 anos após a sua introdução); ii) colonato (1885 – 1888)

i) Sistema de Parceria: introdução de trabalhadores livres. Foi introduzido na cafeicultura paulista em um momento em que o trabalho livre não era muito rentável (o trabalho escravo ainda era muito abundante). Esse sistema ocorreu em razão da consciência de que a escravidão estava condenada. Assim, 1845, a Associação Provincial de São Paulo autorizou a concessão de terras a empresas interessadas no estabelecimento de colônias agrícolas.

A primeira fazenda a utilizar esse sistema foi a Fazenda Ibiacaba (colônia do Senador Vergueiro), fundada em 1817. Essa, foi a 1ª fazenda a introduzir imigrantes (364 famílias prussianas). Esses imigrantes viviam em conjunto com 215 escravos, mediante um contrato de parceria.

O contrato:

• Fazendeiro -> financiava o transporte e a manutenção da 1ª colheita. Dívida = juros de 6,0% a.a.. obs.: quando a oferta de imigrantes era muito grande, essas condições pioravam.

• Imigrantes (meeiros) -> eram responsáveis pelo cultivo, colheita e beneficiamento de certo número de pés de café (em função do número de pessoas da família, idade e sexo). Tinham direito de cultivar certa parcela da terra para subsistência. O pagamento era de 50% do ganho líquido da venda de café e das culturas alimentares.

- Juros sobre o saldo pendente após 2 anos (em alguns casos chegando a 4 anos): i) proibição do imigrante de deixar a fazenda antes de liquidar suas dívidas (restrição aos solteiros -> fogem mais fácil); ii) prazo de contrato não era especificado (em geral de 5 anos); iii) divida solidária; iv) em caso de litígio, era resolvido por uma comissão.

Após 1850, há uma grande oferta de imigrantes para SP. Com isso, os contratos tornam-se mais onerosos para o imigrante. Assim, cria-se a comissão da Companhia de Imigração e, os juros aumentam.

Em 1855, o sistema tem um relativo sucesso -> 3.500 trabalhadores em 30 fazendas no entorno de Campinas (1855).

Grande presença de alemães e suiços e, essas famílias coexistiam com os escravos -> adotavam uma postura de que os parceiros seriam iguais aos escravos.

- Explicações para a difusão do sistema de parcerias:

Holloway: a incerteza quanto aos rendimentos e o preço do café tornava a parceria interessante para o fazendeiro

• Escravismo: o fazendeiro assume o risco integralmente • Parceria: o fazendeiro assume o risco de no máximo 50% das perdas.

Stolcke: parceria tem: i) as vantagens do trabalho assalariado (qualidade e intensidade) e, ii) menores custos que o escravo (menor custo de supervisão)

- Desilusão das parcerias -> causas principais:

• longo prazo (anos) para que a atividade dê alguma receita; • demora no acerto de contas; • dificuldades para saldar as dívidas contraídas.

1856 -> Revolta na Fazenda Nova Olinda (Ubatuba) -> início: invasão da roça dos parceiros suiços pelo gado -> controvérsia em torno da indenização -> mediação: cônsul suíço -> os colonos são transferidos

Dez/1856 – fev/1857 -> Revolta na Fazenda Ibicaba -> viviam famílias alemãs, suíças, belgas e portuguesas -> revoltam os colonos suíços e alemães -> safra 1855/1856: acerto julho/agosto -> expectativa dos colonos era de $740 a $ 830 por alqueire -> recebem apenas $ 467 (2/3 do esperado) -> não permite redução da dívida.

Controvérsias em torno de:

• Cálculo dos rendimentos do café produzido, inclusive o peso • Cobrança de comissão • Taxa de câmbio (desfavorável) • Cobrança do transporte de Santos até a Fazenda • Divisão do lucro da venda do café • % do excedente sobre gêneros de subsistência • Conflitos religiosos • Preço dos gêneros vendidos no armazém

Mesmo que não houvesse má intenção, o processo de acerto de contas era bastante complexo: a despesa total correspondia a 36% do preço do café, além disso, havia uma bitributação.

Término:

• Expulsão de Davatz (líder da revolução) e de outros líderes • Inquérito pelo Governo Imperial e provincial e pela Confederação Suiça (condenou

Vergueiro e a Companhia) • Governos da Prússia e da Suiça proíbem a emigração para São Paulo (embora a

entrada não houvesse cessado completamente).

- Após 1857 -> sistema entra em decadência por falta de oferta

Causas do fracasso do sistema:

• Proprietários -> má qualidade dos colonos, inadequado à lavoura, com forte predomínio de pessoas oriundas do meio urbano; as autoridades de emigração concediam todas as facilidades para que estas pessoas saíssem (contrapeso populacional);

• Colonos -> interesse dos fazendeiros em entregar áreas de baixa produtividade pois, nas áreas de alta produtividade, teria de dividir o lucro (áreas mais produtivas, sob os cuidados do próprio fazendeiro) -> entrega de cafezais novos, onde era possível desenvolver cultura intercalar e sobre cujas vendas recebia 50% (depois que os pés de café estavam grande, não era mais possível fazer cultura intercalar)

• Sérgio Buarque de Hollanda -> sobre os parceiros provenientes do meio rural: i) técnica européia é com uso de arados, fertilizantes, pequenas propriedades. Diferente do Brasil, onde predominam os latifúndios e solos férteis.

Obs.: caboclização do imigrante -> abandona uma técnica avançada e incorpora técnicas mais rústicas (principalmente técnicas indígenas)

-> Com o fracasso do sistema de parcerias: 1860 -> i) há um reforço da tendência escravista -> migrações internas; ii) abrandamento e busca de novas formas de remuneração do trabalho em razão da melhora no preço do café (viabiliza novas áreas de produção -> 1867 – ferrovia SP Railway) e da redução da migração interna (cultivo de algodão – Guerra de Secessão)

• Fazendas que permanecem no regime de parceria -> preferência de portugueses e atenuação de algumas cláusulas do contrato primitivo;

• Difusão de contratos de locação de serviços (Lei de 1837) -> não resolvem completamente o problema de produtividade, o fazendeiro tem que antecipar os gastos

• Fazendeiros passam a pressionar o governo -> i) pagamento integral da passagem de menores de 12 anos e metade da passagem dos adultos.

- tendência nos anos 1870 -> endurecimento -> lei que regulamenta os contratos de locação de serviços e parceria (1879) -> proibição de procurar ouro emprego sem a posse de um certificado de quitação de dívidas emitidas pelo patrão (isso gerou greves)

Antecedentes da subvenção:

1880 -> preço do café começa a cair -> reduz a capacidade do fazendeiro adiantar dinheiro

1881 -> SP – reembolso de 50% da passagem aos imigrantes destinados à agricultura

1884 -> SP – reembolso integral

1885 -> SP – imigração subvencionada (1887 – 1939) – o governo de SP passa a pagar tudo. não é mais reembolso (isso só ocorria para os imigrantes que iriam trabalhar na agricultura)

-> Escassez de mão-de-obra -> resolvida em meados de 1880

a) colonato -> remuneração: i) parte fixa = cuidados do cafezal; ii) parte variável = colheita + eventuais trabalhos na fazenda. -> parte monetária + parte não monetária (pastagem, agricultura de subsistência etc.)

b) imigração subvencionada pelo estado -> 1885 -> o estado de SP assume a imigração:

• Coletivização dos custos de suprimento de mão-de-obra (15% do orçamento estadual em 1895);

• Liberação de recursos dos fazendeiros usados para custeio do transporte; • A acumulação dispensa o uso da coação extra-econômica

1891 – 1895 -> 89% da imigração para São Paulo foi subvencionada

-> Organização Institucional

• 1886 -> sociedade promotora de imigração: i) entidade privada (liderada por Martinho Prado); ii) fecha contrato com o governo para induzir imigrantes; iii) dirige a hospedaria dos imigrantes -> durante sua existência (1886 – 95), promoveu a vinda de aproximadamente 267 mil imigrantes.

• 1886 -> hospedaria dos imigrantes: i) local com capacidade para abrigar até 3.000 pessoas, onde os imigrantes permaneciam por até 8 dias. Era o local onde se assinava o contrato com as fazendas; ii) número total de pessoas chegadas entre 1893-1920 foi de 873,3 mil, dos quais 611 mil eram adultos -> representava fisicamente o mercado da mão-de-obra em São Paulo.

-> Petrone -> a renda monetária auferida no cafezal era uma espécie de ganho líquido -> apenas uma parte era gasto na compra de sal e de açúcar -> pecúlio -> aquisição de pequenas propriedades

- Colonato: resolve os problemas básicos da parceria: dívida, produtividade e disciplina -> garante a continuidade da acumulação e diminui a probabilidade de atritos

A tensão entre fazendeiros e trabalhadores permaneceu -> uso da violência e da greve pelos imigrantes, especialmente após 1910, onde a luta alcançou um novo patamar, passa a ser coletiva. As repressões ficam mais fortes.

Número e origem dos imigrantes -> eram principalmente italianos. O fluxo de italianos atingiu o auge entre 1895 -1899 (219 mil = aproximadamente 44 mil colonos/ano) -> 88% dos italianos entraram em SP (a cidade de SP é evidentemente uma cidade italiana).

Pontos importantes do texto

- Caio Prado Jr. – Capítulo 19 – Imigração e Colonização

• A imigração européia do século passado está intimamente ligada à da escravidão. A imigração européia do séc. XIX representa para o Brasil um tipo original de corrente povoadora. O povoamento brasileiro se realizara até então mercê do afluxo espontâneo de colonos brancos (portugueses na sua maioria), da importação de escravos africanos, e finalmente, pelo incorporação de indígenas.

• É somente depois da transferência da corte p/ o Brasil em 1808, que sua finalidade se torna própria e exclusivamente demográfica; e ao mesmo tempo se amplia muito

• As condições que os dirigentes portugueses encontraram no Brasil quando nele se instalaram o trono e o governo nacionais, eram mais que inconvenientes; faziam-se alarmantes. Não lhes foi difícil compreender a necessidade de reformas.

• Eles tiveram logo a medida das dificuldades com que esbarravam p/ reorganizarem no Brasil a monarquia portuguesa privada de sua base européia. Era preciso reconstituir suas forças armada, matéria sobretudo importante num momento como aquele de graves dificuldades internacionais: o território metropolitano ocupado pelo inimigo, sérias ameaças pesando sobre os demais domínios lusitanos, as rotas marítimas vitais para o comércio português parcialmente interrompidas, a própria soberania da nação entregue às boas graças de um poder estranho como a Grã-Bretanha. A reconstituição da força armada da nação era o primeiro passo necessário para o reestabelecimento da plena soberania e da personalidade internacional da monarquia portuguesa, tão gravemente comprometidas e afetadas.

• O problema de como organizar no Brasil uma força armada eficiente, contando para isto com uma população dispersa e rarefeita, composta de quase 50% de escravos e outras grande parcela de elementos heterogêneos e mal assimilados.

• As circunstâncias que tornam indispensável uma nova política de povoamento capaz de transformar esse aglomerado heterogêneo de populações mal assimiladas entre si que constituíam o país, numa base segura para o trono português e para sede de uma monarquia européia.

• Extinção do tráfico africano -> num prazo mais ou menos remoto, mas já então reconhecida como certa. E isto dizia muito de perto com os interesses da grande lavoura necessitada de braços. A formação de novas correntes demográficas constituía assim uma necessidade inadiável, e a ela aplicou-se a administração portuguesa.

• Sua contribuição durante a permanência da corte no Brasil não passará do estabelecimento de um punhado de núcleos coloniais formados com imigrantes alemães, suíços, açorianos, e distribuídos no ES, no RJ e em menor escala em SC -> terão mais importância as intenções que os resultados numericamente mínimos.

• Aliás o problema da imigração européia para o Brasil oferecia grandes dificuldades. • Será somente com a iminência de sua extinção (tráfico de escravos), e sua efetiva

interrupção pouco depois, que a questão da imigração européia e da colonização volta a ocupar um 1º plano das cogitações brasileiras. Reativa-se a política de povoamento, e a par das colônias oficiais ou mesmo particulares, mas organizadas segundo o sistema tradicional que consistia em distribuir aos colonos pequenos lotes de terra agrupados em núcleos autônomos, aparece um novo tipo de colonização: fixação dos colonos nas próprias fazendas e grandes lavouras, trabalhando como subordinados e num regime de parceria. Este tipo de colonização representa uma transição do sistema primitivo que resultava na formação de pequenos proprietários e camponeses independentes, para aquele que se adotará mais tarde quase exclusivamente: a colonização por assalariados puros

• Campos Vergueiro introduziu em sua fazenda Ibicaba famílias de alemães, suíços, portugueses e belgas -> os resultados do sistema foram, a princípio bons, e chegou a contar certa de 70 destas colônias. Mas aos poucos foram-se evidenciando seus incovenientes. Os proprietários, habituados a lidar exclusivamente com escravos, e que continuavam a conservar muitos deles trabalhando ao lado dos colonos, não tinham p/ com estes a consideração devida à sua qualidade de trabalhadores livres; os contratos de trabalho que os imigrantes assinavam antes de embarcar na Europa e desconhecendo ainda completamente o meio e as condições do país onde se engajavam, eram geralmente redigidos em proveito exclusivo do empregados e não raro com acentuada má-fé. Além disto, a coexistência nas fazendas, lado a lado, de escravos que formavam a grande massa dos trabalhadores, e de europeus, representava uma fonte de constantes atritos e indisposições.

• Doutro lado, o recrutamento de colonos na Europa se fazia sem maior cuidado • Os proprietários vão perdendo o interesse por um sistema tão cheio de percalços e

dificuldades. Doutro lado, alarma-se a opinião pública na Europa, em particular na Alemanha e em Portugal, donde provinha então a maior parte da imigração para o Brasil -> a imigração para o Brasil chega a ser proibida na Alemanha em 1859. A corrente de imigrantes alemães tornar-se, depois de 1862, quase nula; quanto à portuguesa, diminuirá de mais de 50%.

• Interrompe-se assim novamente o fornecimento de trabalhadores europeus p/ as fazendas -> o Oeste despovoado de SP e onde se desenvolvia mais ativamente a lavoura de café, começará por esta época a encontrar maiores facilidades em abastecer-se de escravos, graças ao fato de outras regiões cafeicultoras (o vale do Rio Paraíba e adjacências) alcançarem então o apogeu do seu desenvolvimento e entraram numa fase de estabilização precursora da próxima decadência; reduzia-se assim sua concorrência no mercado de mão-de-obra.

• Torna-se aguda em 1870, forte estímulo para medidas de fomento à imigração. Elas viriam ao encontro de uma situação internacional favorável: de um lado, inicia-se nos EUA uma política de restrições da imigração; esta tinha de procurar outras direções, e o Brasil, em pleno florescimento econômico, será uma delas.

• A Itália entrava em um processo de grande emigração, como resultado de perturbações políticas e sociais que atravessava -> os italianos irão se adaptar melhor e mais facilmente que os alemães. São trabalhadores mais rústicos e menos exigentes.

• Os trabalhadores serão fixados como simples assalariados; isto é, a sua remuneração deixará de ser feita com a divisão do produto, passando a realizar-se com o pagamento de salários.

• Em vez de preceder à vinda do imigrante com contratos já assinados na Europa, o governo tomará o assunto a seu cargo, limitando-se a fazer a propaganda nos países emigratórios e pagando o transporte dos imigrantes até o Brasil. Chegando aqui, eles eram distribuídos pelas diferentes fazendas de acordo com as necessidades delas e os pedidos feitos.

• Os imigrantes que chegavam eram poucos p/ as necessidades da lavoura cafeeira sempre em franco progresso, e a quase totalidade deles se fixarão nas fazendas como simples assalariados.

• O sistema de “colonização” terá mais sucesso no extremo Sul do país (RS, SC, PR), e em maiores proporções no ES, longe nestes casos da ação perturbadora e absorvernte da grande lavoura.

• Para o Norte do Brasil a questão não se proporá: esta parte do país nunca receberá uma corrente apreciável de imigrantes europeus, apesar do interesse que muitas vezes se tomou pelo assunto.

• Doutro lado, o abandono do sistema de parcerias e a adoção do salariado afastou, como vimos, uma das principais causas de atritos e desentendimentos; um salário fixo, em regra por tarefa e estabelecido por normas e praxes gerais, eliminou qualquer margem para dúvidas.

• A maior parte das fazendas de café instaladas depois de 1880, contará sobretudo e unicamente com trabalhadores livres. Desaparece assim mais uma circunstância geradora de dificuldades para o trabalho livre, e que era sua coexistência nas mesmas fazendas e em iguais tarefas com o trabalho servil.

• Mas se este processo fo trabalho livre foi em grande parte condicionado pela decadência do trabalho servil, inversamente ele acelerará consideravelmente a decomposição deste último. Pondo em evidência as suas contradições no que diz respeito à sua insuficiência, tanto quantitativa como qualitativa, irá cada vez mais minando suas bases e apontando para o caminho do futuro. Doutro lado, a presença de trabalhador livre, quando deixa de ser uma exceção, torna-se forte elemento de dissolução do sistema escravista. Se dantes a servidão corrompia o homem livre, agora é a liberdade que corrompe o escravo.

Aula 22/06/2011 – Celso Furtado – Capítulos 25, 26 ,27 e 29

Capítulo 25 -> Nível de renda e ritmo de crescimento na 2 metade do século XIX

1ª metade do século XIX -> grande dificuldade na economia brasileira. Mais baixo nível de atividade econômica em todo o seu período.

Na 2ª metade do século XIX -> economia brasileira alcança uma taxa de crescimento, principalmente com o comércio exterior -> aumento da capacidade de importação = (Px/Pm)*Qx -> os termos de troca cresceram 58% e a capacidade de importação cresce 396%. -> isso significa que a exportação média per capita cresceu significativamente.

- crescimento da renda -> divisão do setor exportador em várias regiões (Nordeste; Bahia; Sul; Sudeste e Amazônia)

A região que tem o maior crescimento é a Amzônia com a borracha. -> mais de 30% das exportações brasileiras.

Taxa de crescimento anual da renda per capita varia amplamente de área para área -> destaque para a região da Amazônia (+6,2%) -> taxa média de crescimento no Brasil foi de 1,5%

Essa taxa de crescimento é elevada. Durante a mesma época, a taxa per capita p/ os EUA é menor.

O Brasil iniciou uma etapa de crescimento após ¾ de século de estagnação e possivelmente de retração.

A renda per capita do Brasil em meados do século XX :

• 1850 = US$ 43 -> Taxa de crescimento entre 1850 – 1950 = 1,5%a.a. • 1900 = US$ 106 • 1950 = US$ 224

Se o Brasil tivesse uma taxa de 1,5% a.a. na primeira metade, essa rende per capita teria dobrada. O Brasil ficou relativamente atrasado entre o declínio da mineração e 1850 -> essa é a causa do subdesenvolvimento brasileiro.

Capítulo 26

Fato mais importante na economia brasileira no último quartel do século XIX -> aumento da importância relativa do setor assalariado. Por que esse fato é o mais relevante?

Escravismo -> economia estável no crescimento e no declínio -> não há fluxo de renda interno -> aumento no valor das exportações gerava um limitado efeito interno. Assim, a demanda monetária podia ser, no máximo, igual ao valor das exportações. (decisão de investir ficava restrita p/ quem recebe as divisas)

Economia assalariada -> fluxo interno de renda

Unidade produtiva -> receita de venda ao exportador -> renda dos proprietários / pagamento de salários

Os assalariados recebem para se manter = gastos com consumo

Renda dos proprietários se divide entre poupança e consumo

Parte do mercado interno -> renda dos pequenos produtores comerciantes -> gera consumo

Ou seja, há um multiplicador

Assim, a somatório dos “consumos” ultrapassa a receita de exportação -> há um desequilíbrio. Como a importação não consegue mais suprir o mercado. É necessário uma produção interna!

A procura de bens de consumo (produzidos no país) -> melhora o uso de fatores da economia -> aumenta a renda de outros setores.

Esse fato ocorre mesmo que o salário real no setor exportado permaneça constante -> o importante é que o salário real do setor exportador seja maior do que o salário real do setor de subsistência -> tem-se uma situação em que: salário real do setor exportação é constante

salário real da economia -> Crescente

Se houver um aumento no salário real no setor exportador -> menor disponibilidade de recursos nas mãos do empresário p/ investir -> menor expansão do setor externo -> mais lenta absorção de mão-de-obra pelo setor -> menor efeito interno

“c/ a absorção de mão-de-obra pelo setor exportador -> importância desse setor ia crescendo.

- movimento oscilatórios -> gerava uma concentração de renda -> abundância de terra e de mão-de-obra

A renda dos proprietários cresce muito mais rapidamente do que a renda dos assalariados -> processo de concentração de renda (isso ocorria quando o preço do café subia)

Redução no preço do café -> mecanismo de socialização das perdas impedia que houvesse uma desconcentração da renda com a redução do preço do café. -> controle da taxa de câmbio.

Todo mundo que recebe moeda nacional e consome produtos estrangeiros perde -> há uma valorização da moeda estrangeira.

Capítulo 27

Impraticabilidade do padrão ouro

Fato mais importante para a economia brasileira na 2ª metade do séc. XIX -> aumento da % do setor a assalariado -> base do mercado interno (fundamental p/ a indexação)

Contudo, o uso de trabalho assalariado em economias exportadoras acarreta uma série de novos problemas

Quanto à possibilidade de se adaptar ao padrão-ouro

a) Nos países industrializados -> é possível. Há uma tendência ao equilíbrio automático do país

Saída de ouro -> redução da base monetária -> aumento da taxa de juros -> entrada de capital -> saldo positivo na balança de capital

Saída de ouro -> redução da oferta de ouro -> aumento do preço do ouro –> redução do preço interno -> aumento das exportações e redução das impor. -> saldo positivo na balança comercial

Balança comercial + balança monetária -> ajuste

No caso de economias assalariadas exportadoras -> países como o Brasil, um aumento na taxa de juros não atrairia livremente capital -> o país quebraria.

Do lado da oferta interna, a redução no preço do produto -> não vale a pena reduzir tanto o preço do café (a demanda não aumentará muito). Do lado das importações, o Brasil importava essencialmente bens essenciais (o preço só pode cair quando há uma produção interna) -> o déficit na balança comercial existe.

Sem saldo na balança de capital e sem gerar saldo na balança comercial -> o Brasil precisaria exportar todo o seu ouro -> por isso torna-se impraticável.

Nas crises, no caso do Brasil, o ajuste é ainda mais difícil.

Em economias industrializadas, a primeira decisão é reduzir a taxa de investimento. A demanda agregada tende a cair -> redução das importações -> o ajuste é feito de forma fácil).

Economias exportadoras assalariadas -> declínio da entrada de capitais + rigidez dos serviços de capitais -> aumenta ainda mais a necessidade de reservas metálicas

Inaplicabilidade do padrão-ouro -> não foi percebida na época

Teoria econômica -> desenvolvida para as condições europeias -> governantes brasileiros: ignoram a especificidade do país e, insistem na manutenção do padrão ouro -> atribuem os desequilíbrios externos à uma patologia de nossa moeda: a inconversibilidade -> miragem da conversibilidade (tentam fazer moedas lastreadas em ouro) <-> escassez de moeda -> crise de liquidez nos anos 80 (circulação caiu de 216 p/ 196 mil contos de réis) -> introdução do trabalho assalariado -> aumento da demanda por moeda

Capítulo 29

Império -> controle dos grupos agrícolas exportadores (escravistas)

Política cambial funciona como mecanismo de minorar as perdas decorrentes de redução do preço do petróleo -> redução da receita de importação (taxa de câmbio fixa) -> déficit fiscal -> empréstimos externos (aumento do serviço da dívida) + emissões (inflação -> ônus sobre setores que recebem em moeda nacional)

A forma como esse mecanismo atuava era extremamente perverso sobre esses setores e o imposto de importação beneficiava quem mais consumia produtos importados.

Enquanto o setor de assalariados era insignificante, esse mecanismo não era muito contestado -> década de 1880 -> novos grupos (plantadores de café com assalariados, assalariados urbanos, colônias de povoamento no sul) com novas necessidades (educação, etc) -> políticas inadequadas -> monetária: miragem da conversibilidade -> escassez / problema de mão-de-obra

Obs.: o problema de mão-de-obra não foi resolvida pelo governo federal, mas sim pelo governo da província de SP.

Reforma monetária (nov/1888) -> tesouro empresta a Bancos pelo prazo de 7 a 22 anos, sem juros. Os Bancos se comprometem a emprestar à lavoura: dobro do valor recebido; juros de 6% a.a.; prazo de 15 anos

Autoriza 3 bancos a fazerem emissões conversíveis em ouro. (de fato só um dos bancos atuou -> por isso, Celo Furtado fala que houve má vontade de atuar).

- república -> a) flexibilidade político-administrativa (mais sujeita a pressão do que o império) -> segue conforme os interesses dos setores exportados emergente -> Rui Barbosa: reforma bancária -> aumento da oferta de crédito -> expansão das atividades ->

pressão sobre a balança de pagamentos -> taxa de câmbio despencou (menos de 1/3 do valor) -> ônus sobre os assalariados e industriais (setor forte começa a ser afetado).

Obs.: se o industrial está investindo -> desvalorização cambial -> importação de bens de capital fica mais onerosa. Depois (já produzindo), uma desvalorização, inviabiliza concorrentes e o produto interno fica mais caro, pode ser interessante.

Obs.: além desses setores, os próprios capitais estrangeiros também estão sendo prejudicados com essa desvalorização.

- Reforma bancária de Rui Barbosa (17/01/1890)

3 bancos emissores com garantia de apólices públicos (NO, centro e RS)

• Protesto contra os privilégios dos bancos emissores -> autorização estendida a outros bancos -> 1889 a 1890: moeda em circulação passou de 206 mil contos de réis para 561 mil contos de réis (+172%)

• Ascenção política de setores urbanos (empregados e industriais) e de setores rurais não vinculados à agricultura de exportação -> confronto com setor exportador -> 1898 – novo equilíbrio de forças -> Joaquim Murtinho: Funding loan (refinanciamento da dívida externa -> exigência: governo parar de emitir papel moeda e queimar) / cobrança de imposto de importação em ouro (resolver o déficit) (1900) -> evidencia: governo mais sensível aos interesses dos novos grupos; redução do controle dos exportadores sobre o governo.

Pontos importantes do texto

Capítulo 25 – Nível de renda e ritmo de crescimento na 2ª metade do século XIX

• Nesse período, tivemos uma taxa relativamente alta de crescimento. Sendo o comércio exterior o setor dinâmico do sistema. É no seu comportamento que está a chave do processo de crescimento nessa etapa -> incremento de 369% na renda real gerada pelo setor exportador (setor mais dinâmico da economia quintuplicou no período considerado)

• O desenvolvimento da 2ª metade do século XIX não se estendeu a todo território do país -> p/ analisar, dividiu por áreas

• Nordeste (exceto Bahia) -> queda da renda per capita do sistema exportado teria sido substancial

• Sul (economias de subsistência) -> se beneficiou indiretamente com a expansão das exportações e da expansão do mercado interno, seja diretamente, colocando alguns produtos de qualidade como o vinho e a banha de porco, seja indiretamente, através da expansão urbana do estado, possibilitada pelo aumento de produtividade do setor pecuário

• Região produtora de café -> o desenvolvimento da região cafeeira se realizou, nessa etapa, com a transferência de mão-de-obra das regiões de baixa produtividade, para as regiões de mais alta produtividade. A rápida expansão do mercado interno na região cafeeira teria de repercutir muito favoravelmente na produtividade do

setor de subsistência, o qual se concentrava principalmente no estado de Minas Gerais

• Bahia -> a produção de cacau se iniciou p/ fins de exportação na 2ª metade do século XIX, proporcionando a esse estado uma alternativa para o uso de recursos de terra e mão-de-obra de que não se beneficiaram os demais estados nordestinos.

• Região amazônica -> exportações (borracha) alcançaram extraordinária importância relativa na etapa final do século XIX

• A diferença fundamental está em que, enquanto os EUA na 2ª metade do século XIX mantiveram um ritmo de crescimento que vinha do último quartel do século anterior, o Brasil iniciou uma etapa de crescimento após ¾ de século de estagnação e provavelmente de retrocesso em sua renda per capita.

• Existe alguma indicação que a taxa de crescimento da economia brasileira tem sido relativamente estável no correr dos últimos cem anos.

• Se a economia brasileira houvesse alcançado, na primeira metade do mesmo século, partindo de US$ 50,00, chegar-se-ia ao fim do século com US$ 224,00. Mantida a mesma taxa na 1ª metade do século XX, a renda real da população brasileira seria, em 1950, da ordem de US$ 500,00, isto é, comparável à média dos países da Europa Ocidental, nesse ano.

• Esse atraso tem sua causa não no ritmo de desenvolvimento dos últimos 100 anos, o qual parece haver sido razoavelmente intenso, mas no retrocesso ocorrido nos ¾ de século anteriores. Não conseguindo o Brasil integrar-se nas correntes em expansão do comércio mundial durante essa etapa de rápida transformação das estruturas econômicas dos países mais avançados, criaram-se profundas dessemelhanças entre seu sistema econômico e os daqueles países.

Capítulo 26 – O fluxo de renda na economia de trabalho assalariado

• Último quartel do século XIX -> Aumento da importância relativa do setor assalariado

• A nova expansão tem lugar no setor que se baseia no trabalho assalariado. O mecanismo desse novo sistema, cuja importância relativa cresce rapidamente, apresenta diferenças profundas com respeita à antiga economia exclusivamente de subsistência

• Crescendo a massa de salários pagos, aumentaria automaticamente a procura de artigos de consumo. A produção de parte destes últimos, por seu lado, pode ser expandida com relativa facilidade, dada a existência de mão-de-obra e terras subutilizadas, particularmente em certas regiões em que predomina a atividade de subsistência. Desta forma, o aumento do impulso externo determina melhor utilização de fatores já existentes no país.

• A massa de salários pagos no setor exportador vem a ser, por conseguinte, o núcleo de uma economia de mercado interno.

• Teve importância fundamental, no desenvolvimento do novo sistema econômico baseado no trabalho assalariado, a existência da massa de mão-de-obra relativamente amorfa que se fora formando no país nos séculos anteriores. Se a expansão da economia cafeeira houvesse dependido exclusivamente da mão-de-obra

européia imigrante, os salários ter-se-iam estabelecido em níveis mais altos, à semelhança do que ocorreu a Austrália e mesmo na Argentina. A mão-de-obra de recrutamento interno exerceu uma pressão permanente sobre o nível médio de salários

• Em síntese, como a população crescia muito mais intensamente no setor monetário que no conjunto da economia, a massa de salários monetários aumentava mais rapidamente que o produto global.

• Os aumentos de produtividade da economia cafeeira refletiam principalmente melhoras ocasionais de preços, ocorridas, via de regra, nas alta cíclicas, sendo mínimas as melhoras de produtividade física logradas diretamente no processo produtivo. -> a transferência de parte dos frutos desses aumentos ocasionais de produtividade econômica para os assalariados teria como conseqüência imprimir à massa total de salários acentuadas expansões e contrações cíclicas.

Capítulo 27 – A tendência ao desequilíbrio externo

• O funcionamento do novo sistema econômico, baseado no trabalho assalariado, apresentava uma série de problemas que, na antiga economia exportadora escravista, apenas se haviam esboçado -> impossibilidade de adaptar-se às regras do padrão-ouro

• Problema que se apresentava à economia brasileira era, em essência: a que preço as regras do padrão-ouro poderiam aplicar-se a um sistema especializado na exportação de produtos primários e com um elevado coeficiente de importação?

• A teoria monetária do século XIX constitui, indubitavelmente, um instrumento de utilidade p/ explicar a realidade européia -> baseava no princípio de que se todos os países seguissem as regras do padrão-ouro, o ouro disponível tenderia a distribuir-se em função das necessidades do comércio interno de cada país e das do comércio internacional. Estava implícito nessa teoria que, se um país importava mais do que exportava, esse país se veria obrigado a exportar ouro, reduzindo-se consequentemente o seu meio circulante. Essa redução, de acordo com a teoria quantitativa, deveria acarretar uma baixa de preços, criando-se automaticamente um estímulo às exportações e um desestímulo às importações, o que traria consigo a correção do desequilíbrio.

• Numa economia do tipo brasileira do século XIX, o coeficiente de importações era particularmente elevado, se se tem em conta apenas o setor monetário, ao qual se limitavam praticamente as transações externas. Por outro lado, os desequilíbrios na balança de pagamentos eram relativamente muito mais amplos, pois refletiam as bruscas quedas de preços das matérias-primas no mercado mundial.

• Economia escravista -> desconheceu qualquer foram de desequilíbrio externo. Sendo a procura monetária igual às exportações.

• É quando a procura monetária tende a crescer mais que as exportações que começa a surgir a possibilidade de desequilíbrio. Esse desajustamento está intimamente ligado ao regime de trabalho assalariado.

• Economia como a do apogeu do café no Brasil -> imensas reservas metálicas que exigiria o pleno funcionamento do padrão-ouro.

• A medida que a economia escravista-exportadora era substituída por um novo sistema, com base no trabalho assalariado, tornava-se mais difícil o funcionamento do padrão-ouro.

• Constituindo a economia brasileira uma dependência dos centros industriais, dificilmente se podia evitar a tendência a “interpretar”, por analogia com o que ocorria na Europa, os problemas econômicos do país.

Capítulo 29 – A Descentralização republicana e a formação de novos grupos de pressão

• Transferências de renda assumiam várias formas; • Os núcleos mais prejudicados eram as populações urbanas. Vivendo de ordenados e

salários e consumindo grandes quantidades de artigos importados, inclusive alimentos, o salário real dessas populações era particularmente afetado pelas modificações da taxa cambial.

• O efeito regressivo na distribuição de renda provocado pela depreciação cambial era, demais, agravado pelo funcionamento das finanças públicas

• A redução relativa das receitas públicas obrigava o governo a emitir moeda para financiar o déficit, e as emissões operavam como um imposto altamente regressivo, pois incidiam particularmente sobre as classes assalariadas urbanas

• Por outro lado, para defender o câmbio o governo contraía sucessivos e onerosos empréstimos externos, cujo serviço acarretava uma boa sobrecarga fiscal incompressível

• Sem embargos, a redução da carga fiscal se fazia principalmente em benefício dos grupos sociais de rendas elevadas. Por outro lado, a cobertura dos déficits com emissões de papel-moeda criava uma pressão inflacionária cujos efeitos imediatos se sentiam mais fortemente nas zonas urbanas. Dessa forma, a depressão externa transformava-se internamente em um processo inflacionário

• O sistema monetário de que dispunha o país demonstrava ser totalmente inadequado para uma economia baseada no trabalho assalariado.

• Era totalmente destituído de elasticidade, e sua expansão anterior havia resultado de medidas de emergência tomadas em momento de crise, ou do simples arbítrio dos governantes.

• A transição de uma prolongada etapa de crédito excessivamente difícil p/ outra de extrema facilidade deu lugar a uma febril atividade econômica como jamais se conhecera no país. A brusca expansão da renda monetária acarretou enorme pressão sobre a balança de pagamentos. Houve uma forte queda na taxa de câmbio (desvalorização da moeda) -> forte pressão sobre as classes assalariadas, particularmente nas zonas urbanas -> levantes militares e intentos revolucionários

• Os interesses diretamente ligados à depreciação externa da moeda terão a partir dessa época que enfrentar a resistência de outros grupos. Entre estes se destacam

a classe média urbana, os assalariados urbanos e rurais, os produtores agrícolas p/ o mercado interno, as empresas estrangeiras que exploram serviços públicos.

• Tem início assim um período de tensões entre os dois níveis de governo – estadual e federal – que se prolongará pelos primeiros decênios do século XX.