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“A Cor da Percepção Visual” Introdução Desde os primeiros tempos do Homem que os elementos visuais limitam a sua interacção com o mundo condicionando assim a sua evolução. Nesta nova era em que utilizamos ferramentas informáticas, tendo ao nosso dispor a possibilidade de criar produtos multimédia onde a palavra de ordem é a interdisciplinaridade, é fundamental perceber os pilares principais em que assenta a percepção visual. Porque dela dependem todas as relações e aplicações que a imagem pode ter. Neste trabalho focamos a base de toda a construção visual. I. A Percepção Visual 1. O que é a Percepção 2. Neurobiologia II. Funcionamento da Percepção Visual 1. Tempo 2. Estrutura 3. Forma III. Princípios Fundamentais da Percepção Visual 1. Relação Forma – Fundo 2. Relação Forma - Campo 3. Peso Visual 4. Leis da Organização da Forma 5. Ilusões Ópticas 6. A Luz 7. A Cor V. Conclusão

Cor da Percepção Visual

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“A Cor da Percepção Visual”

Introdução Desde os primeiros tempos do Homem que os elementos visuais limitam a sua interacção com o mundo condicionando assim a sua evolução. Nesta nova era em que utilizamos ferramentas informáticas, tendo ao nosso dispor a possibilidade de criar produtos multimédia onde a palavra de ordem é a interdisciplinaridade, é fundamental perceber os pilares principais em que assenta a percepção visual. Porque dela dependem todas as relações e aplicações que a imagem pode ter. Neste trabalho focamos a base de toda a construção visual. I. A Percepção Visual

1. O que é a Percepção 2. Neurobiologia

II. Funcionamento da Percepção Visual

1. Tempo 2. Estrutura 3. Forma

III. Princípios Fundamentais da Percepção Visual

1. Relação Forma – Fundo 2. Relação Forma - Campo 3. Peso Visual 4. Leis da Organização da Forma 5. Ilusões Ópticas 6. A Luz 7. A Cor

V. Conclusão

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I. A Percepção Visual 1. A Percepção Julgamos que a percepção é cíclica. O indivíduo ao percepcionar cria emoções e essas emoções

condicionam futuras percepções. É através deste ciclo que o homem constrói a ideia do que é e do mundo que o rodeia.

Ao contrário, do que se pensava, o Homem não é divisível somente em razão e emoção, estando a razão centrada na cabeça e a emoção no corpo. Chegou-se à conclusão de que razão e emoção intercepcionam-se numa região do cérebro, responsável pela gestão da atenção, memória e emoções. Esta região é a causa do nosso pensamento. Por estas duas características humanas serem indissociáveis, tudo o que percepcionamos está associado de emoção, muitas vezes até inconsciente. As emoções moldam e condicionam a nossa forma de julgar e de agir. É normal termos reacções instintivas perante determinadas situações, sem sabermos qual a verdadeira emoção que nos está a dominar.

Percepcionamos porque temos sentidos, órgãos que recebem estímulos. Os sentidos que mais nos condicionam são a visão e a audição, isto possivelmente porque são também os primeiros de que temos consciência.

E é assim que a percepção se constitui, como um processo dominante na espiral da experiência humana e em que a visão participa em quase todas as acções do indivíduo, não só como facilitadora do reconhecimento do conjunto dos estímulos da situação, mas também, incluindo processos de discriminação, selecção e identificação de estímulos. Somos um produto das nossas próprias vivências.

2. Neurobiologia Tudo o que conhecemos (sons, cheiros, sabores, tacto e cores) é fruto de frequências de onda.

Sendo as cores a forma como alguns organismos percepcionam as frequências de onda da luz. Para percebermos o que é a percepção visual, optamos por espreitar levemente o campo da Neurologia e analisar o processo de formação de imagens. A visão não é um sentido isolado sobre si mesmo. No desenvolvimento de um indivíduo, a visão é vista como resultado da integração dos seguintes processos sensório-motores: o processo antigravítico que engloba as aquisições motoras que vão permitir superar a acção permanente da gravidade (a locomoção ou, o andar); o processo de localização corporal, compreendendo este, a possibilidade de permitir a orientação e a exploração do espaço envolvente como resultado da referencialização própria do nosso corpo em relação com o meio; um outro processo é o de identificação, que tem a ver com a manipulação do real, isto é, da acção sobre os objectos e os outros, que irá conduzir ao conhecimento dos seus atributos, propriedades e características (aqui, a visão assume o papel de um órgão coordenador, regulador e controlador) com estreita correlação neuro-sensorial entre a visão e a audição; o quarto processo é o auditivo-verbal que em conjunto com as relações visuo-motoras da acção, irão participar no desenvolvimento da linguagem; por último, temos o processo visual que é a inter-relação e interacção entre os quatros anteriores processos por intermédio da – visão (englobando esta, os três tipos de linguagem: a corporal, a falada e a escrita. Concluí-se, que toda a apreensão do que nos rodeia, construída através dos nossos sentidos, é formada e organizada por imagens de modalidades sensoriais diversas (imagens perceptivas). Até mesmo as recordações (sejam elas sons, formas, cheiros, temperatura, etc.) são constituídas por imagens, que vão ocorrendo à medida que as evocamos (imagens evocadas). A natureza das imagens de algo que ainda não aconteceu é idêntica às imagens que retemos do que já aconteceu. Assim sendo, o processo de formação das imagens é semelhante nos três casos. Os sinais são emitidos pelo sector do corpo em questão (olho e retina, para as imagens evocadas e terminações nervosas da articulação do cotovelo, para as imagens que não aconteceram), são transportados por neurónios, ao longo dos seus axónios e através de várias sinapses electroquímicas, para o cérebro. Para os sinais vindos da retina, a

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recepção acontecerá nos córtices visuais iniciais, localizados na parte superior do cérebro, no lobo occipital Estas imagens não têm origem num centro, mas são produto da actividade de um conjunto de áreas. Podemos concluir então que as imagens não são armazenadas sob a forma de fotografia. Uma lembrança não acontece num local único do cérebro, encontrando-se por ele distribuída sob a forma de muitas representações disposicionais. São uma forma de disparo dormente que ganha vida quando os neurónios disparam com um determinado padrão, a um determinado ritmo, num determinado intervalo de tempo e em direcção a um alvo particular, que é outro conjunto de neurónios. Estas disposições são o nosso depósito de conhecimento adquirido através da experiência. II. Funcionamento da Percepção Visual A percepção que temos do mundo é afectada por elementos que advêm do modo como o nosso cérebro processa a informação exterior. Podemos resumir estes elementos em três fundamentais: O tempo, que está inerente a tudo o que existe porque temos memória; a estrutura, que impomos a tudo o que nos rodeia, organizando os elementos observados num padrão coerente, sendo este padrão sempre o mais simples possível; e finalmente a forma, que é o resultado da organização por comparação que o cérebro faz das diferenças de luminosidade, sendo este o mecanismo que nos obriga a ver pelo menos duas dimensões.

1. Tempo Pode-se considerar que nada é estático. A própria Ciência, para estudar algum fenómeno,

compreendê-lo e prevê-lo, precisa de isolá-lo. No entanto não consegue is mais longe do que controlar os fenómenos (temporais e não só) a ele associados. A dimensão do tempo está inerente a tudo o que existe e a tudo o que somos. A uma estátua cuja pedra vai sendo progressivamente corroída, a uma melodia que ouvimos, a um bailado que assistimos, à luz que é reflectida por um objecto, ao tempo de leitura de um quadro, ao acto de estarmos a escrever um trabalho e simultaneamente à posição que temos em relação ao Sol ou à Lua. Todas estas situações não existem só por si, estáticas e isoladas, enquadram-se num contexto espaço – temporal. Este enquadramento é um todo composto por uma sequência de instantes. Somos nós que impomos lógica a esses instantes, atribuindo-lhes significado e percebendo assim o todo. O tempo não existiria se não tivéssemos memória. No momento em que ouvimos o segundo tom de uma melodia, apesar de já não estarmos a ouvir o primeiro, guardamos a sua percepção, afim de o inserirmos num todo que é a composição. Em termos visuais é a mesma coisa. Conseguimos percepcionar o decorrer do dia pela variação de luz, que guardamos na memória, que vai sendo reflectida pelos objectos. Quando observamos um quadro, impomos um tempo de leitura, que nos permite assimilar as partes, guardando-as na memória, afim de ir construindo o todo.

Assim sendo, todo o campo visual está sujeito ao tempo de leitura do observador. Encontramos condicionamento do tempo da percepção visual, por exemplo, no Cubismo (que junta vários instantes de percepção na mesma área visual), na banda desenhada e no Design de Comunicação. No exemplo gráfico que se segue, podemos ver como com poucos elementos, conseguimos induzir ou quebrar a sensação de movimento:

Nesta sequência de rectângulos, nota-se o movimento contínuo

descendente, da esquerda para a direita.

a b

a b

Nesta sequência, apesar de ter-se tentado descrever o mesmo movimento, os quadrados a e b parecem estar rígidos.

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2. Estrutura A observação é relacional. Quando observamos, estabelecemos comparações com o que temos guardado na memória do que já vimos. Ao tomarmos conhecimento de um objecto, tendemos a inseri-lo num determinado enquadramento. Enquadramento físico do que o rodeia e enquadramento psicológico do que nós somos. A configuração perceptiva é o resultado de uma interacção entre o objecto físico, o meio de luz agindo como transmissor de informação e as condições que prevalecem no sistema nervoso do observador. Ver algo implica determinar-lhe um lugar no todo, uma localização no espaço, uma posição na escala de tamanho, claridade ou distância. Podemos designar, estas características comparativas inerentes a qualquer percepção, por tensões. São elas que dão expressividade ao que vemos. Num quadro, não observamos somente a tinta mas todos os elementos que constituem a obra. Nem sequer tão pouco, conseguimo-nos alhear do enquadramento que a obra tem na sua exposição. Ao observarmos um quadrado com um circulo descentrado, detectamos de imediato sem quaisquer medições que este não está centrado, mas animado de uma qualquer tensão. Podemos ver com o exemplo que se segue, que na primeira figura, o circulo não se apresenta em equilíbrio ao contrário da segunda.

Estas tensões, que estão inerentes a tudo o que vemos, tal como na Física, têm um ponto de aplicação, uma direcção e uma intensidade, e são chamadas forças perceptivas. Estas forças são invisíveis, no entanto existem, sendo incutidas pelo observador, ao estímulo visual. Neste exemplo que mencionámos, apesar do estímulo visual ser somente o quadrado com um circulo nele inserido, percepcionamos bem mais do que isso. Caso contrário, as duas figuras dar-nos-iam a mesma informação. O que entendemos é o resultado da avaliação por comparação, do estímulo visual com todas as forças perceptivas inerentes. O que vemos é sempre uma estrutura e não elementos gráficos isolados. Ouvimos uma melodia sempre em relação a uma determinada escala. Percebemos quando uma refeição está salgada porque conhecemos a escala do tempero do sal. Qualquer elemento gráfico está sempre associado a um qualquer dinamismo, imposto pelo observador. Mesmo que este dinamismo esteja em equilíbrio, não deixa de ter tensão. Percebemos o equilíbrio por comparação ao desequilíbrio e vice-versa. Na experiência perceptiva este padrão associativo (estímulo visual – força perceptiva) cria um todo a que chamamos de esqueleto estrutural. Podemos dizer que é a moldura de referência que associamos a todos os elementos pictóricos. No exemplo do quadrado, o esqueleto estrutural define, como se vê na figura que se segue, as tensões que o observador impõe ao conjunto.

Concluindo: a estrutura, que é uma parte integrante do campo perceptivo, corresponde ao esqueleto mais simples em que se podem apoiar as características espaciais da forma e da relação entre as suas partes. Não é apenas a soma das partes, mas sim o conjunto de elementos regidos por um princípio de

As áreas delimitadas a tracejado correspondem a campos de intensidade

visual

Figura 1

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ordenação de tal modo que uma mudança de uma parte altera a estrutura do todo. Não esquecer que as tensões impostas pelo observador fazem também parte deste todo.

3. Forma

O mundo manifesta-se visualmente através de uma variação contínua da intensidade luminosa na retina, sendo a realidade constituída por uma justaposição de manchas coloridas, não de linhas. A primeira tarefa da percepção visual consiste na organização dessas manchas instalando contornos precisos. O cérebro humano acrescenta linhas, as chamadas “faixas de Mach”, que aparecem sempre que há uma passagem de luz para a obscuridade ou sempre que existe uma avaliação da intensidade luminosa de regiões adjacentes, tendo em conta o perfil de intensidade da fronteira. É graças a esta definição de linhas que o nosso cérebro faz, com que consigamos caracterizar os elementos lineares que vemos, como formas. Designa-se a forma como configuração visível do conteúdo. Uma configuração nunca é percebida apenas como a forma de uma coisa em particular. A configuração é um conceito que se aplica. Quando observamos um copo, a primeira identificação que fazemos é a que tipo de objectos ele pertence, sendo neste caso à família dos copos. Estipulou-se assim que “boa forma” seria aquela que mais facilmente se identifica num conjunto de formas. Como iremos ver adiante, as formas que respeitam a “boa forma” são as mais simples ou seja as regulares, simétricas e equilibradas; as que têm uma forte unidade estrutural; as que estão mais próximas das formas geométricas básicas. Diferentes orientações da forma podem alterar a sua interpretação.

III. Princípios Fundamentais da Percepção Visual

1. Relação Forma – Fundo

Não existe uma imagem bidimensional verdadeiramente plana. Tendemos sempre a ver, pelo menos dois planos, a figura e o fundo. Na relação figura (forma/fundo), temos os seguintes pressupostos:

• Tendemos a considerar como forma as figuras situadas em primeiro plano ou na parte inferior da área.

• Consideramos como forma as áreas a negro se existir um fundo branco e vice versa..

Pictogramas criados para os

WC

Temos tendência a ver montanhas sob

um céu preto

Perante o branco da folha, vemos claramente um “H”, enquanto que considerando o fundo preto, constatamos em relevo uma chave e

um parafuso.

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Um ponto a salientar, é a ambivalência que as imagens podem ter (ou imagens duplas). Esta técnica é muito utilizada em jogos didácticos e em Design de Comunicação.

• A superfície circundada tende a ser vista como forma e a circundante como fundo.

• As áreas menores tendem a ser vistas como forma.

• As áreas convexas tendem a ser lidas como formas e as côncavas como fundo.

2. Relação Forma – Campo

O campo visual relaciona-se com a nossa própria posição no espaço real, como a percepção do céu e da terra, de alto e baixo, de cheio e vazio, leitura da esquerda para a direita ou vice versa, existência de força gravítica, etc. Enfim, o campo visual relaciona-se com as experiências da nossa cultura e dos nossos hábitos.

Sendo o campo perceptivo sempre associado de uma estrutura de tensões invisível, a posição da forma em relação ao campo, vai sempre actuar como condicionante de peso visual e significado. As linhas de estrutura básica (relembra-se: a figura 1, que descreve o esqueleto estrutural de um quadrado) orientam o nosso olhar para a leitura da composição. Uma composição com significado e informativa é uma composição equilibrada, onde todos os factores como configuração, direcção e localização estão organizados de tal modo, que todas as partes que constituem o todo, todos elementos, são necessários e indispensáveis. Por definição, equilíbrio é o estado de distribuição no qual toda a acção chega a uma pausa.

É de referenciar que não é necessário igualdade nem simetria para uma situação de equilíbrio. Basta que num enquadramento em que os elementos sejam desiguais, se compensem de algum modo. O equilíbrio é sempre o intuito, é o que dá objectividade, fugindo a um padrão ambíguo, evitando que

Na primeira figura vemos imediatamente que as áreas menores

estão em primeiro plano. Não conseguimos facilmente vê-las em segundo plano, tendo para isso que

haver um plano por baixo dessas áreas

Convexa Côncava

Esta imagem se for lida da esquerda para a direita apresenta dúvidas de

interpretação

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o observador caia em interpretações subjectivas. Excepção a esta regra é quando a intenção é objectivamente criar um estímulo com desequilíbrio.

3. Peso Visual As propriedades que influenciam no equilíbrio são o peso e a direcção. Na física denomina-se por

peso a intensidade da força gravítica para baixo. Podemos ainda, acrescentar mais, que esta força física é uma força de atracção, somente é para baixo porque a terra é bem maior do que nós. Portanto, tal como esta força, o peso visual existe em todos os sentidos. Peso é diferente de tensão, é um efeito dinâmico, mas a tensão não é necessariamente orientada ao longo de uma direcção dentro do plano pictórico. Pode-se acrescentar ainda a definição de que o equilíbrio é o resultado de uma coerente concentração de tensões, de uma distribuição aceitável de diversos pesos visuais.

Em traços gerais, o peso varia com: • A Localização Qualquer elemento colocado no esqueleto estrutural (fig. 1) sustenta mais peso do que colocado

fora do mesmo. Em Física , “o peso de um objecto numa alavanca aumenta com a sua distância ao centro”. Podemos generalizar este princípio também em termos visuais.

• A Dimensão O peso é tanto maior quanto for a dimensão da forma. As formas espontâneas são mais leves do

que as geométricas.

Apesar de assimétrica, a figura A possui mais equilíbrio do que a figura B

Apesar da centralidade da figura C, a figura D apresenta mais harmonia

A B C D

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• O Isolamento As formas isoladas tendem a adquirir maior destaque, acentuando o significado e poder da sua

presença.

• A Direcção As formas verticais parecem ser mais pesadas do que as que se orientam segundo os eixos

oblíquos.

• O Interesse Intrínseco Numa composição, um objecto mesmo de escala reduzida em relação aos restantes, pode despertar

a prioridade visual, pelo seu tema.

4. Leis da Organização da Forma • “Lei da Simplicidade” A associação dos elementos visuais é de tal modo padronizável que se pode falar de Leis da

Organização da Forma. A percepção visual faz-se de uma forma simplificada, reduzindo a forma ao essencial. O nosso cérebro tem tendência a acrescentar a uma figura fragmentada, linhas subjectivas que surgem da sua procura por um padrão, ligando os fragmentos num conjunto coerente. Este padrão tende sempre a ser o mais simples possível.

Os neurónios do córtex visual detectam os contornos subjectivos como se fossem reais. Não analisamos os elementos visíveis individualmente mas procuramos um padrão total incluindo a ausência de elementos visuais.

Ao observarmos quatro pontos tendemos a ver um quadrado como na fig. A, no entanto dificilmente vemos a fig. B

O cérebro tende a ler a estrutura mais simples em vez de ler os elementos

constituintes individualmente

A B

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Para o nosso cérebro, o circulo é o padrão total mais simples, sendo seguido pelo quadrado e

depois o triângulo. O quadrado tem somente duas orientações e quatro ângulos iguais, enquanto que o triângulo tem três orientações e três ângulos diferentes. Por outro lado, o ângulo recto é mais simples porque apresenta uma subdivisão do espaço baseada na repetição de um ou mesmo ângulo.

• Rotações Ao contrário das crianças que conseguem efectuar rotações mentais completas das figuras, para os

adultos a vertical é definitivamente um eixo privilegiado. No nosso dia-a-dia, de pé ou sentados, temos a cabeça para cima e os pés para baixo e vemos os outros seres humanos na mesma posição. Também é factor importante o facto de termos os nossos músculos e o órgão de equilíbrio do ouvido interno condicionados pela força da gravidade. Quando confrontados com determinadas situações, como por exemplo a de observarmos uma fachada de um edifício muito alto, não conseguimos compensar a sensação de inclinação para trás. Por tudo isto, aceitamos facilmente apenas certas deformações e outras não.

Conclui-se então, que a forma muda de aparência quando simplesmente: a rodamos. Contudo, se mantivermos a orientação da forma e a observarmos rodando a cabeça até à horizontal, a percepção mantém-se. Ou seja, é-nos importante a orientação do objecto no enquadramento do ambiente e não a orientação do objecto em relação ao observador.

Outro tipo de rotação é aquele que nos permite perceber múltiplas configurações distintas de um objecto fixo, rodando à volta dele. Exactamente o que fizeram na Antiguidade: os egípcios (ao juntarem dois pontos de vista numa figura, de lado e de frente), ou no século XX, os cubistas (ao juntarem várias perspectivas no mesmo quadro).

Existe assim uma geometria funcional no cérebro. No plano, compreendemos facilmente deslocações como repetições e certos tipos de rotações:

- Simetrias em torno de um eixo - Simetrias por expansão - Rotações em torno de um centro - Rotações em torno de vários eixos

Preenchemos os espaços vazios a fim de percepcionar

o todo

Georges Braque (1882-1963)

“Violin and Pitcher”

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Exemplos:

• “Lei da Semelhança” As formas de natureza semelhante têm tendência a associarem-se, segundo as suas

semelhanças (cor, tamanho, textura, orientação e forma) • “Lei da proximidade relativa”

A proximidade relativa actua como factor de coesão. Só se verifica se existir uma uniformidade dos elementos.

• “Lei da simetria” A simetria dá maior unidade ao conjunto

• “Nivelamento e Acentuação – Relações de Grandeza” É tendência natural, após memorizarmos determinada figura (Fig. A), reduzir as suas características nivelando-a (Fig.B) ou pelo contrário, acentuando as diferenças (Fig. C).

• Escalas Para se observar alguma coisa, é necessário ter um referencial. Os referenciais ou escalas são

sempre relativas, permitindo que os elementos se modifiquem e se definam uns aos outros.

Não pode existir o grande sem o pequeno, o escuro sem o claro nem o alto sem o baixo.

Fractais exponenciais feitos por computador

Naum Gabo modelou o espaço, criando

volumes através de fios que seguiam um movimento de rotação matematicamente

programado

A A A Neste conjunto temos uma referência da letra maior, que se altera quando introduzimos a terceira letra.

Fig.A Fig.B Fig.C

A A

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• Perspectiva O espaço em que vivemos apresenta três dimensões, comprimento, largura e profundidade. Como

possuímos dois olhos distanciados de cerca de 10 cm, o nosso cérebro fica encarregue de fundir as imagens recebidas por cada olho. Cada olho tem um campo de visão específico. O cérebro, para construir uma imagem tem de conjugar as duas imagens que recebe do campo visual de cada olho, comparando-as e extraindo destes dois pontos de vista uma imagem enriquecida pelas diferenças, conseguindo assim, precisar os contornos de superfície, inclinações de linhas, de profundidade e consequentemente os objectos em perspectiva. Este tipo de visão designa-se por estereoscópica ou em relevo. Por os elementos nos parecerem menores com a distância, diz-se que vemos em perspectiva, no entanto, na observação a curta distância, recusamos a perspectiva. Mantém-se constante a dimensão dos objectos num campo de 2 a 20 metros de raio. Para além desta distância, o primeiro a ser afectado é o gradiente do tamanho, seguido pelos gradientes de claridade, saturação, nitidez, textura e cor. O relevo é interpretado a partir da variação mínima das inclinações lineares lidas pelo cérebro, em cada ponto da forma observada. Basta apenas uma inclinação mínima para que o cérebro a identifique tridimensionalmente.

• Ilusões Ópticas A ilusão por definição é uma deformação da percepção, ela existe sempre que há uma contradição

entre os dados objectivos e os dados percepcionados. Alguns exemplos:

As linhas apresentadas em baixo têm todas o mesmo comprimento. No entanto, a primeira parece mais pequena do que a

segunda

As três linhas parecem ter arcos de curvatura diferentes, apesar de serem iguais. Simplesmente estão cortados em pontos diferentes do arco.

As linhas obliquas não parecem paralelas. Só conseguimos identificar o paralelismo se, as

considerarmos intervaladas, por exemplo, a) e c)

a c

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No decorrer da segunda metade do séc. XIX, alguns pioneiros da psicologia experimental, como Delboeuf, Hering, Muller-Lyer, descobriram uma grande variedade de ilusão ópticas. Um artista que se destacou por ter introduzido estas ilusões na sua arte foi Escher. Deixamos aqui alguns exemplos:

5. A Luz a) Cor Própria, Cor Reflectida e Intensidade de Luz Cor própria, é a que se encontra nos objectos como eles existem na natureza. Cor reflectida é a

que, não sendo a natural, apresenta formas variáveis em função das condições de luz ambiente, ou de outras cores. Cor através da intensidade de luz é a que se estabelece sob influência de uma cor dominante.

As linhas verticais embora induzam a uma ligeira curvatura, são rectas e

paralelas

A cor própria da mesa, neste caso é o verde

A cor reflectida sobre a mesa é o azul do céu

A intensidade de luz pode condicionar a predominância de determinada cor chegando ao ponto de alterar a percepção da forma

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7. A Cor

1. Realidade Sensorial da Cor

a) Definição de Cor. Percepção de Cor A cor é uma realidade sensorial. Não é propriedade intrínseca dos objectos, mas um produto da

interacção dos comprimentos de onda dos raios solares, atravessando certas condições atmosféricas, reflectidos ou absorvidos por determinadas superfícies.

Pensamos que a realidade sensorial do indivíduo não é unilateral. Ao longo da sua vida, o ser humano tanto condiciona como é condicionado pela realidade que percepciona. Como tal, as cores constituem estímulos psicológicos para a sensibilidade humana, influenciando no indivíduo: para gostar ou não de algo, negar ou afirmar, abster-se ou agir. Muitas preferências em relação à cor, baseiam-se em associações e experiências tidas no passado, mantendo-se imutáveis. Estas percepções são de tal modo decisivas na formação do indivíduo, que a psicologia dedicou-lhes um campo específico de saber, a Ludoterapia, que através do uso de brinquedos, não só tenta enquadrar crianças desajustadas como também estuda o que poderá ser o mais didáctico instrumento. Este consistirá num brinquedo colorido, dentro de um equilíbrio exacto, cuja manipulação irá influenciar beneficamente no sistema nervoso (ou psicomotor) da criança, propiciando-lhe uma liberdade interior. Daqui, é fácil concluir que a percepção que um indivíduo tem de uma determinada cor nunca é isolada sobre ela, o indivíduo percepciona a cor sempre em relação a um enquadramento, sempre em função de algo. Resumindo, a reacção do indivíduo à cor, é particular e subjectiva, porque afinal de contas, cada um de nós tem vivências e culturas diferentes dos restantes. Apesar disso, temos todos em comum sermos seres humanos (sendo uma característica comum, a nossa individualidade) como tal, reagimos de forma semelhante a determinados estímulos. A psicologia da comunicação visual e o marketing e publicidade tentam ordenar e sintetizar estímulos e o modo como estes condicionam o ser humano, exactamente porque o mesmo estímulo pode ocasionar reacções diferentes.

b) Organização da Cor Se a cor é um estímulo, então temos que considerar que associada à sua percepção está sempre

inerente uma mensagem, intencional ou não. Como portadora de uma mensagem, a cor representa uma linguagem com códigos e regras. Não querendo dizer com isto, que a mensagem fica restrita a essas leis. Assim como a comunicação verbal, a comunicação visual está sujeita à interpretação do receptor. Não conseguimos contar uma história sem conhecermos as palavras e a gramática, independentemente de quem a vai ouvir, porque essa consideração, só vem depois de conhecermos a fundo as regras para podermos então quebrá-las e adequá-las ao receptor.

Como já foi referido, as cores são uma realidade sensorial, podem nos dar sensações de distância, proximidade, movimento, peso, equilíbrio e espaço. Como em qualquer linguagem, existe uma classificação para cada cor ou conjunto de cores, relativamente à sugestão que esta(s) representam.

De grosso modo, podemos sintetizar toda a gama de cores que encontramos na natureza numa escala de referência, que a natureza também nos oferece: o arco-íris. Encaixando esses tons num círculo, obtemos o famoso círculo cromático, de onde podemos obter quase todas as restantes cores. Este círculo é constituído pelas três cores primárias (Magenta, Cian e Amarelo) e pelas secundárias, que são a mistura das primeiras, par a par (Cor de Laranja, Violeta e Verde). Classificou-se também de cores frias, a gama que vai desde o Verde, passando pelo Cian até aoVioleta e de cores quentes, a gama que vai desde o Magenta, passando pelo Cor de Laranja até ao Amarelo. As cores frias parecem dar-nos a sensação de distância, leveza, transparência e calma, em contraposição com as cores quentes, que nos parecem próximas, densas, opacas e estimulantes.

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As cores secundárias não são conseguidas arbitrariamente pela mistura de qualquer concentração de duas primárias. Quando a concentração é a ideal, diz-se que a secundária é complementar da terceira primária que não entrou na mistura. Atinge-se a concentração ideal, quando se mistura a secundária que queremos, com a terceira primária, obtendo-se cinzento neutro. Exemplos:

Designa-se assim que a complementar do Cian é a Cor de Laranja, a do Magenta é o Verde e a do

Amarelo é o Violeta. Estes pares de cores são muito usadas em publicidade por constituírem um grande contraste.

Agora que as cores primárias e secundárias ou complementares estão apresentadas (e não esquecer que a mistura das três primárias dá origem ao Preto), podemos passar para as propriedades constituintes da cor. Duas propriedades que podem causar a sensação de proximidade ou distância: são a Luminosidade e Saturação. A luminosidade é a escala que vai do Branco ao Preto, muito usada em publicidade quando não se pode gastar muito dinheiro. A Saturação é a gradação da Luminosidade aplicada às cores.

Magenta

Cor de Laranja

Magenta

Cian

Verde

Amarelo

Cores Frias

Cores Quentes

Cinzento

Cor de Laranja

Magenta

Cian

Cor de Laranja

Amarelo

Cinzento

Violeta

Cien

Amarelo

Violeta

Magenta Cien

Verde

Amarelo

Cinzento

Verde

Violeta

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Exemplos:

:

Julgamos que, as definições acima apresentadas, são as necessárias para a compreensão do que se segue ou seja, do modo como o indivíduo condiciona a escolha da cor e como é condicionado por ela.

2. O Indivíduo e a Cor

a) Factores Sociológicos A utilização, a preferência por determinadas cores reflecte a cultura de um povo. Desde as

condições climatéricas em que ele vive, passando pela hierarquia social em que está inserido até aos valores morais e estéticos. Todos estes elementos têm também uma identificação com determinadas cores. Pensamos que, as cores funcionam como um reconhecimento social, porque afinal, também são comunicação. Este reconhecimento torna-se inconsciente, porque deriva de hábitos sociais estabelecidos durante muito tempo. É curioso ver que a evolução social de um povo pode ser analisada pelo uso ou abandono de determinadas cores. A própria emancipação da mulher foi acompanhada por uma mudança de vestuário. O homem deixou progressivamente de usar roupas escuras, fugindo a um estereótipo conservador.

Será com certeza mais fácil perceber este fenómeno com exemplos. Em relação à influência que o clima exerce, é dado adquirido que para se sentir menos calor, nas regiões mais quentes utiliza-se roupas de tonalidades claras, que reflectem os raios solares. Pelo contrário, nas regiões mais frias são usadas roupas escuras para absorver o calor. O ser humano opta instintivamente pela cor que o clima lhe impõe. Excepção a isto, são os fenómenos impostos pela moda, que muitas vezes vão em oposição ao que é natural, mas que também reflectem o tipo de socialização de uma cultura. Mas a influência do clima não é tão obvia como pode parecer. Esta também se reflecte na arte de um povo. Pegando no exemplo do Brasil, o nordestino que vive sob a influência de um cromatismo intenso provocado por um clima quente, produz obras de arte com tons luminosos e quentes, enquanto que o sulista, sujeito a um clima mais frio, está mais voltado para as cores frias, sendo a sua busca mais virada para a forma.

A influência que as cores têm na organização social também não é difícil de verificar. Basta pegar em exemplos como a Igreja Católica, Entidades Jurídicas (Tribunais) ou qualquer uma multinacional que preste serviços ao grande público (claro que, deve haver excepções). Todas estas organizações têm uma cor ou farda específica para cada estrato da hierarquia que a constitui. Não seria socialmente aceitável que um funcionário de um banco entrasse no serviço, com um facto amarelo.

Toda a utilização que uma sociedade faz das cores, teve ou tem origem em conotações psicológicas. Até a linguagem corrente está enraizada com sensações visuais. Alguns exemplos:

• “a situação ficou preta” • “ele estava roxo de raiva” • “sorriso amarelo” • “o susto foi tão grande que ela ficou branca” • “estava vermelha de vergonha”

Escala de Luminosidade do Preto ao Branco

Escala de Saturação aplicada às três cores

primárias

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É de extrema importância perceber a influência que a cor tem nas várias culturas, afim de compreender o indivíduo que nela está inserido, para podermos então (isto, em especial no Design de Comunicação) direccionar os produtos.

Esta compreensão do contexto cultural onde o indivíduo está inserido, permitiu a utilização das cores com fins preventivos que “se apoiam” na linguagem psicológica das cores trazendo em si toda a carga de um longo processo educacional, que inclina o indivíduo a reacções automáticas e instantâneas”. Pode-se ver esta aplicação na segurança do trabalho:

• Azul - Controles de equipamentos eléctricos. • Laranja – Partes móveis e mais perigosas de máquinas e equipamentos, faces

externas de polias e engrenagens. • Vermelho – Equipamento de protecção contra incêndio ou combate de incêndio. • Verde – Caixa de socorros de urgência, avisos, boletins, etc. • Branco - Faixas indicativas de sentido de circulação. • Preto – Colectores de resíduos ( excepção, são as novas normas da reciclagem)

Resumindo, na prevenção (inclusivé na rodoviária) foram estipuladas as seguintes conotações:

• Vermelho – Alarme, perigo • Verde – Segurança • Amarelo – Atenção • Azul - Informação

b) Factores Fisiológicos

O ser humano, como já referimos, está sujeito a conotações psicológicas que a cor lhe traz. Mas o condicionamento não termina na parte psicológica, estende-se também à parte física. Pensa-se que este condicionamento nada tenha a ver com essas conotações ou experiências passadas, por ter um carácter imediato, quase instantâneo. Sabe-se, por exemplo que quando as pessoas são obrigadas a olhar para uma cor, durante determinado tempo, observa-se que há uma estimulação de todo o sistema nervoso, havendo uma elevação da pressão arterial, alterando o ritmo cardíaco. Isto acontece se a cor escolhida for o vermelho puro, porque actua como estimulante. Pelo contrário, se for o azul, o ritmo cardíaco e a respiração diminuem, actuando assim como calmante. Pensa-se também que o excesso do amarelo pode produzir indigestões, gastrites e úlceras gástricas; certas variações do verde, doenças mentais e nervosas; variações do vermelho, doenças do coração e reflexos na pressão arterial; o excesso de azul, a pneumonia, tuberculose pulmonar e pleurisia. Outros cientistas afirmam que o azul ajudaria contra doenças dos olhos, ouvidos, narizes e pulmões; o vermelho para o estômago, fígado e baço; o verde para o sistema nervoso e aparelho digestivo. Todos estes estudos validam o uso da cor na terapia ou a importância de não usar determinadas cores quando se deseja evitar certos efeitos psíquicos ou fisiológicos. Não é indicado pintar o tecto de branco, sabendo que o doente tenha de permanecer no quarto durante muito tempo, tornando-se exaustiva a reflexão da luz. Neste caso, seria indicado pintá-lo de azul, transmitindo uma sensação de calma e de bem estar. Para os nervosos é aconselhável salas verdes e azuis, para os anémicos, salas pintadas de vermelho e amarelo. Em termos fisiológicos, ocorre também um fenómeno que é importante mencionar. Com o decorrer dos anos, o cristalino do olho humano vai tornando-se amarelo, absorvendo uma percentagem cada vez maior de luz azul. Assim, o azul na escala de preferência vai subindo proporcionalmente à idade do indivíduo. Uma pesquisa que alia a idade à preferência da cor, mostrou os seguintes resultados:

• Vermelho (1 a 10 anos) – Idade da efervescência e da espontaneidade; • Laranja (10 a 20 anos) – Idade da imaginação, excitação, aventura; • Amarelo (20 a 30 anos) – Idade da força, potência, arrogância;

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• Verde (30 a 40 anos) – Idade da diminuição do fogo juvenil; • Azul (40 a 50 anos) – Idade do pensamento e da inteligência; • Lilás (50 a 60 anos) – Idade do juízo, do misticismo, da lei; • Roxo (para além dos 60 anos) – Idade do saber, da experiência e da benevolência.

Mais uma vez, estes resultados são muito importantes para o campo publicitário, onde a quantidade de vendas é condicionada de uma maneira decisiva pelo estudo do público alvo e as respectivas cores que por ele são elegidas.

d) Avaliação do Psicológico pela Cor O estudo do significado psicológico das cores é de tal modo importante, que é utilizado na

psicologia, para avaliações da personalidade do indivíduo. Através da experiência, chegou-se à conclusão que os indivíduos mais alegres, abertos a estímulos exteriores, propensos à desorganização e a oscilações emocionais, estão mais virados para a cor. Pelo contrário, as personalidades mais deprimidas, com temperamento frio, controlado e introspectivo, optam pela forma. Segundo os psicólogos, este fenómeno é explicável pela chamada “acção que o indivíduo sofre pelo objecto”. Para apreender uma forma, a mente tem que ter uma observação activa, tendo que “examinar o objecto, definir a sua estrutura e elaborar uma resposta”, caracterizando-se como “activamente organizadora”. A escolha da cor pode também demonstrar se o indivíduo está voltado para o mundo exterior, para a aprendizagem ou, se pelo contrário, está centrado em si mesmo.

Nesta área de estudo é de referenciar o psiquiatra Hermann Rorschach, que em 1921 criou o «psicodiagonóstico de Rorschach». Este diagnóstico consiste na avaliação das interpretações que os pacientes projectam de uma série de 10 manchas sem qualquer estrutura definida. Consoante, as suas respostas, pode-se concluir acerca da memória, atenção, percepção, pensamento, emoção e comunicação do indivíduo.

1. Modo como a Cor condiciona o Indivíduo

a) Fenómenos de Contraste Como já se referiu, qualquer forma que observamos está sempre inserida num enquadramento.

Com a cor é exactamente a mesma coisa. Qualquer cor que seja percepcionada tem sempre outra de referência. Esta relação entre a cor principal e a cor de fundo denomina-se por contraste. É este contraste que faz com que o observador identifique, facilmente ou não, objectos, formas ou letras. O estudo desta relação de contraste é muito usado não só em publicidade, como também na organização das cidades. Um bom exemplo é a cor dos táxis, que até há bem pouco tempo, era amarela, contrastando assim com o cenário de fundo da cidade.

Sendo assim, este fenómeno do contraste não passa de uma combinação de cores ou tons. Se uma só cor como já vimos, é capaz de provocar emoções, logicamente uma combinação de cores também o faz. Chama-se de harmónica uma composição entre cores quando estas possuem uma parte básica da cor comum a todas. Denomina-se por contrastante, uma combinação de cores totalmente diversas entre si. No entanto, é de notar que por vezes, o choque entre cores pode ter um resultado mais harmónico do que propriamente uma composição com tons da mesma cor, que pode passar despercebida, insípida e morta.

Pranchas do psicodiagonóstico de Rorschach

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• Contraste Branco/Preto Este contraste é muito usado em publicidade quando se precisa de suprimir as cores. Nestas

composições podemos usar os vários tons que vão desde o branco até ao preto.

• Contraste Quente/Frio A percepção do quente/frio, é relativo a cada indivíduo e consequentemente, à sua cultura e experiências do seu dia-a-dia. Não obstante, a temperatura de uma cor está sujeita à relação desta com as outras cores.

• Contraste de Complementares O contraste entre cores complementares (uma primária e outra secundária), é dos mais fortes e

vibrantes, produzindo efeitos muito violentos. Este contraste dificulta a legibilidade, no entanto, basta alterar ligeiramente o tom das cores para ser eficaz.

• Contraste Consecutivo O contraste consecutivo não é mais do que a percepção de outra cor, que o cinza nos dá. Por

exemplo, se observarmos a primeira figura, o cinza parece ser ligeiramente rosado. Por sua vez, na

Composição Harmónica de vários tons de

amarelo

Composição contrastante entre azul e

amarelo. Apesar de ser

contrastante detém mais harmonia e chama mais

atenção do que a composição da esquerda

Composição Harmónica Composição Contrastante

Composição Contrastante com resultado Harmónico

O Cinza parece mais escuro sobre o fundo Preto

Podemos criar vários planos recorrendo só ao uso de Preto e Branco

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segunda figura, o cinza já nos parece tendencialmente verde. Este contraste acontece para todas as cores primárias e as suas complementares.

• Contraste de Superfície

As cores produzem efeito quando são observadas, nomeadamente: o ocupar um determinado espaço devido à sua expansão. Diz-se que as cores quentes, por terem maior expansividade, requerem menos espaço enquanto que as frias, pelo contrario requerem mais espaço, por nos darem a impressão de ocuparem um lugar menor.

• Contraste com Graus de Saturação

IV. Conclusão

Podemos resumir, o comportamento da percepção visual nos seguintes pressupostos, que são

aplicáveis a tudo o que seja arte visual e as suas múltiplas aplicações interdisciplinares: 1. A percepção visual faz-se de uma forma simplificada, reduzindo a forma ao essencial,

procurando sempre um padrão, juntando os elementos num conjunto coerente. Este padrão tende sempre a ser o mais simples possível. Devido a esta permanente busca pela simplicidade, todas as criações desde design gráfico, industrial, etc. têm que apresentar uma coerência entre o conteúdo e a forma. Um texto tem que ser facilmente legível e a densidade do conteúdo deve ser compensada pela leveza da imagem. Um objecto, pela sua forma deve denunciar de imediato a sua função. Já para nem falar na sua Ergonomia, porque no final de contas, tudo é criado tendo em conta a escala humana.

2. O cérebro não processa apenas uma única imagem, pois os olhos fornecem dois pontos de vista aproximados, cuja desfasamento é chama de paralaxe - desvio aparente da posição de um objecto visualizado contra um plano de fundo, quando a posição do observador se altera. Essa diferença permite ao córtex visual realizar a passagem da informação bidimensional em um registro coerente em três dimensões que reúne dados sobre os lados, a perspectiva, as cores, a luz e a sombra recebidos em paralelo. Deste modo, para onde quer que olhemos, nunca percepcionamos só uma dimensão. Toda a forma tem um fundo, um enquadramento. Pode ser ou não tridimensional, real ou induzido.

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3. A consciência da percepção visual só existe, porque temos memória e consequentemente noção de tempo. Se assim não fosse, a percepção não passaria de instantes dissociados, sem qualquer correlação entre eles. Esta noção de tempo da percepção é um importante campo de estudo porque dele dependem as relações entre a imagem, som e movimento.

4. A cor é característica intrínseca de tudo o que nos rodeia. Como tal afecta-nos a todos os níveis desde psicológicos até fisiológicos. É um elemento tão fundamental para a existência humana que se torna decisiva no condicionamento da evolução do indivíduo.

Cremos que a evolução só existe com a interdisciplinariedade. As primeiras formas de interdisciplinariedade podem muito bem ter ocorrido na pré história, durante os primeiros rituais, onde se associou à cerimónia, o registo de elementos gráficos, entoações e gestos. Daí para a frente, assistimos à criação de ideogramas ou sinais primários (para assinalar caminhos, avisar perigo ou recordar algo), escrita pictográfica, hieroglífica, cuneiforme, alfabeto, teatro, cinema e, muito recentemente à revolução digital. Esta última, permite-nos no conforto do nosso lar, sem necessitar de muita matéria prima, criar e materializar o que vai no nosso imaginário. E se a evolução da humanidade segue em paralelo com a evolução do imaginário da espécie humana, então nesta nova era, em que temos ferramentas virtuais em substituição da acústica das grutas ou, do lascar uma pedra, em que sabemos que existe uma grande parte do mundo que não vemos mas que é material, podemos aguardar uma evolução, uma revolução social e individual do ser humano. Possivelmente, até numa escala virtual.

O homem pensa e raciocina por imagens (símbolos, etc.) Desde a nascença o homem, apesar de se considerar um ser primordialmente pensante, considera tudo (inclusive as pessoas) que o rodeia, primordialmente como imagens.

O ser humano é alguém com sentimentos e emoções, com opiniões e que procura manifestá-las aos outros. Que gosta de ser reconhecido e de chamar a atenção e sobretudo quer ser conhecido. É desta maneira que encontramos o homem do século XXI. Vivemos numa época em que a realização humana passa pela realização do seu próprio individualismo, do seu imaginário. A sociedade dá múltiplas opções. Cabe somente ao homem escolher as que mais lhe convém. Andamos na rua com phones, na televisão podemos escolher o canal que queremos ver. De futuro, com a interactividade, possivelmente todos os nossos tempos livres passarão a ser uma realidade virtual. A palavra de ordem é: a tolerância. «Dar a voz ao indivíduo.» É neste contexto que o discurso persuasivo existe através dos novos media que permitem a troca de ideias de uma para outra parte do mundo.

As descobertas recentes no campo da neurologia deram a conhecer que sob certas circunstâncias, as emoções transformam e perturbam o raciocínio. A sociedade, com os seus media, procura estabelecer um discurso persuasivo principalmente através do uso de imagens, visto que estas representam o principal estímulo para o indivíduo, sendo um campo de estudo por excelência, a Internet. Por esta razão, talvez não seja abusivo considerar que vivemos ainda numa ditadura muito mais subtil, do que as existentes no século passado. A ditadura da imagem, que serve fins lucrativos, condicionamento de massas e estupidificação, dando ao homem uma falsa sensação de afirmação e de enquadramento.

Assim, para todos os que querem trabalhar a imagem, é fundamental uma consciência da real influência que esta pode ter. Informação em vez de desinformação. Educação em vez de condicionamento. Estímulo artístico e reflectivo em vez de adição e estagnação e dependência. A formação das futuras gerações depende desta nova consciência.

Gostaríamos de terminar, salientando que apesar da existência de estudos e receitas definidas, Só o cunho indivídual do criador consegue impor expressividade. Pela sua experiência, pelos seus erros e percurso, só ele é que consegue adequar a mensagem ao receptor. As regras são a base, sendo a coerência dada pelo indivíduo.

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FIM

Rosa Castela, Lisboa, Outubro de 2004 [email protected]

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Associação Material Associação Afectiva Etimologia Aplicações Branco Baptismo, casamento, cisne, lírio,

primeira comunhão, neve, nuvens em tempo claro, areia clara

Ordem, simplicidade, limpeza, bem, pensamento, juventude, optimismo, afirmação, modéstia, deleite, despertar, infância, alma, harmonia, estabilidade, divindade, pureza

Germânico blank (brilhante).

Preto Sujidade, sombra, enterro, noite, carvão, fumaça, condolência, morto, fim, coisas escondidas

Mal, miséria, pessimismo, sordidez, tristeza, frigidez, desgraça, dor, temor, negação, melancolia, opressão, angústia, renúncia, intriga, auto-negação

Latim niger (escuro, preto, negro) Atrai todas as vibrações para si, absorvendo-as. Funciona como um isolante. Deve ser evitado o excesso em publicações a cores, pois tende a gerar frustração

Cinza Pó, chuva, ratos, neblina, máquinas, mar sob tempestade

Tédio, tristeza, decadência, velhice, desânimo, seriedade, sabedoria, passado, finura, pena, aborrecimento, carência vital

Latim cinicia (cinza) ou do Germânico gris (gris, cinza)

Indica discrição. Para atitudes neutras e diplomáticas é muito utilizado em publicidade.

Vermelho Rubi, cereja, guerra, lugar, sinal de parada, perigo, vida. Sol, fogo, chama, sangue, combate, lábios, mulher, feridas, rochas vermelhas, conquista, masculinidade

Dinamismo, força, baixeza, energia, revolta, movimento, barbarismo, coragem, furor, esplendor, intensidade, paixão, vulgaridade, poderio, vigor, glória, calor, violência, dureza, excitação, ira, interdição, emoção, acção, agressividade, alegria comunicativa, extroversão

Latim vermiculus (insecto de onde se extrai substância escarlate Árabe qirmezi (vermelho bem vivo ou escarlate)

É vitalizante, estimulante e excitante, além de aumentar a pressão sanguínea Intensifica as funções do corpo estimulando o sistema nervoso e fortalecendo a actividade do fígado. Indicado para uso em anúncios de artigos que indicam calor e energia, artigos técnicos e de ginástica.

Laranja Outono, laranja, fogo, pôr do Sol, luz, chama, calor, festa, perigo, aurora, raios solares, robustez

Força, luminosidade, dureza, euforia, energia, alegria, advertência, tentação, prazer, senso de humor

Persa narang Árabe naranja

É antidepressiva, promove a boa digestão, beneficia a maior parte do sistema metabólico, rejuvenesce e vitaliza, podendo também elevar a pressão sanguínea. Associa-se às glândulas supra-renais.

Amarelo Flores grandes, terra argilosa, palha, luz, topázio, Verão, limão, chinês, calor de luz solar

Iluminação, conforto, alerta, gozo, ciúme, orgulho, idealismo, egoísmo, inveja, ódio, adolescência, espontaneidade, variabilidade, euforia, originalidade, expectativa, estabilidade, protecção, foco

Latim amaryllis Pode encorajar o nervosismo e a incerteza.. Alguns terapeutas afirmam que o amarelo fortalece os olhos e os ouvidos além de ajudar na cura da artrite. Em publicidade é uma cor imprecisa, pode produzir vacilação no indivíduo e dispersar parte de sua atenção. Não é uma cor motivadora por excelência. Seu uso é sugerido associado a outras cores. Combinada com o preto pode resultar eficaz e interessante. Geralmente indicada para aplicação em anúncios que indiquem luz, é desaconselhável seu uso em superfícies muito extensas.

Verde Humidade, fresco, Primavera, bosque, águas claras, folhagem, tapete de jogo, mar, Verão, planície, natureza, reciclagem

Adolescência, bem-estar, paz, saúde ideal, abundância, tranquilidade, segurança, equilíbrio, esperança, serenidade, juventude, suavidade, crença, firmeza, coragem, desejo, descanso, liberalidade, tolerância, ciúme

Latim viridis (faixa harmoniosa que se interpõe entre o céu e o Sol)

Pode ser utilizada para desequilibrar as vibrações causadas pelo raio de uma doença. , pode ser útil em problemas do coração, úlceras, dores de cabeça, casos de câncer e outros. Harmoniza as flutuações do estado de espírito e provoca melhor equilíbrio nos casos de insatisfação e impaciência. Indicado para anúncios que caracterizem o frio, azeites, verduras e semelhantes

Azul Montanhas longínquas, frio, mar, céu, gelo, feminilidade, águas tranquilas

Espaço, viagem, verdade, sentido, afecto, intelectualidade, paz, advertência, serenidade, infinito, meditação, confiança, amizade, amor, fidelidade, sentimento profundo

Árabe lazúr Persa lazaward De todas é a mais curativa. Extremamente relaxante, traz paz, auxilia na remoção de dores de cabeça e enxaquecas e é útil em casos de asma. Ajuda a baixar a pressão arterial.; assim como acalma e traz clareza mental. Indicado em anúncios que caracterizem o frio.

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Roxo Noite, janela, igreja, aurora, sonho, mar profundo

Fantasia, mistério, profundidade, electricidade, dignidade, justiça, egoísmo, grandeza, misticismo, espiritualidade, delicadeza, calma

Latim russeus (vermelho - carregado)

Possui um forte poder microbicida Acalma o sistema nervoso. a ser utilizado em anúncios de artigos religiosos, em viaturas, acessórios funerários etc. Para dar a essa cor maior sensação de calor, deve-se acrescentar vermelho; de luminosidade, o amarelo; de calor, o laranja; de frio o azul; de arejado o verde.

Castanho Terra, águas lamacentas, Outono, doença, sensualidade, desconforto

Pesar, melancolia, resistência, vigor Francês marron (castanho) Esconde muito a qualidade e o valor e, portanto, pouco recomendável em publicidade.

Violeta Traz equilíbrio da consciência: dignidade e divindade, mas também estabilidade

Diminutivo do provençal antigo viula (viola)

Bom poder sonífero Relaciona-se à mentalidade humana e pode remeter a uma integração como o espaço, com a concentração voltada para um fim específico (oração ou meditação). Eleva a auto-avaliação e a auto-estima de quem perdeu o senso da beleza humana, além de devolver o rítmo do sistema (glândula pineal).Purifica o organismo actuando de modo calmante sobre os músculos do coração e sobre os outros músculos do corpo.

Entristece o ser humano, não sendo, portanto, muito bem visto na criação publicitária.

Azul e Vermelho

Estimulante da espiritualidade; combinação delicada e de maior eficácia na publicidade.

Azul e Preto

Sensação de antipatia; deixa o indivíduo preocupado; desvaloriza completamente a mensagem publicitária e é contraproducente.

Vermelho e Verde

Estimulante, mas de pouca eficácia publicitária. Geralmente se usa essa combinação para publicidade rural.

Vermelho e Amarelo

Estimulante e eficaz em publicidade. Por outro lado as pesquisas indicam que pode causar opressão em certas pessoas e insatisfação em outras.

Amarelo e Verde

Produz atitude passiva em muitas pessoas, sendo ineficaz em publicidade. Poderá resultar eficaz se houver mais detalhes coloridos na peça.

Rosa Castela, Lisboa, Outubro de 2004 [email protected]

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BibliografiaArte e percepção visual, Rudolf ArnheimPsicodinâmica das cores em comunicação, Modesto Faria