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CORAÇÃO DE EMPREENDEDOR: A RELAÇÃO ENTRE O PERFIL
EMPREENDEDOR E A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
Andréa Manfrim da Silva1
RESUMO:
Diversos estudos relacionam as características pessoais do indivíduo
empreendedor, e outros se debruçam sobre as habilidades e competências dos
indivíduos com alta inteligência emocional. Este artigo tem como objetivo analisar a
relação existente entre empreendedorismo e inteligência emocional. A pesquisa é
organizada em duas etapas, sendo a primeira um levantamento bibliográfico para
compreensão das características do empreendedor na percepção de especialistas
no tema. A segunda etapa é um levantamento (survey) realizado com 31
empreendedores, em que se buscou elencar o nível de importância das
características levantadas na fase bibliográfica. Os resultados apontam que as
características mais importantes para os autores (71,43 %) estão agrupadas no eixo
comportamental de constância de propósitos, enquanto para os empreendedores
(89,25 %), são as características agrupadas no eixo de visão positiva as mais
importantes. Ambos os eixos comportamentais estão relacionados a habilidades
intrapessoais de inteligência emocional. Em geral, o estudo aponta uma forte relação
entre características empreendedoras e habilidades e competências de inteligência
emocional.
Palavras-chave: Empreendedorismo. Inteligência Emocional.
1 INTRODUÇÃO
Os estudos sobre empreendedorismo têm aumentado muito no Brasil nos
últimos anos, impulsionados pelo crescente número de novos empreendedores
1 Discente do curso de MBA em Gestão de Pessoas e Liderança Coach da Universidade La Salle -
Unilasalle, matriculada na disciplina de Orientação de Trabalho de Conclusão de Curso-TCC, sob orientação da Prof. Me Alessandra Gonzaga. E-mail: [email protected]. Data de entrega: 06/12/2017.
2
registrados. De acordo com o relatório Global Entrepreneurship Monitor 2(SEBRAE,
2017a), entre os anos de 2015 e 2016, respectivamente 21% e 20% da população
adulta brasileira tiveram atividades relacionadas a empreendedorismo, sendo estes
os maiores percentuais desde o início da pesquisa em 1999.
A preocupação que existe para que as novas empresas sejam duradouras e a
necessidade da diminuição das altas taxas de mortalidade desses empreendimentos
são motivos para a popularidade do termo empreendedorismo, que tem recebido
especial atenção por parte do governo e entidades de classe. Uma das definições
mais aceitas hoje em dia é dada por Hisrich e Peters (2006), que entendem que
empreendedorismo é o processo de criar algo diferente e com valor, dedicando
tempo e esforço necessário, assumindo os riscos financeiros, psicológicos e sociais
correspondentes e recebendo as consequentes recompensas da satisfação
econômica e pessoal.
Empreendedorismo é o principal fator do desenvolvimento econômico e social
de um país. A decisão de empreender pode ser oriunda de um desejo pessoal de
ser o dono do próprio negócio, da expectativa de maiores ganhos do que com o
trabalho assalariado, forçadas pela conjuntura econômica em função, por exemplo,
de desemprego, ou por outro lado, facilitado por uma situação econômica de
crescimento da economia, que incentiva a abertura de novos negócios. As atitudes
empreendedoras, apesar de serem decisões de foro íntimo das pessoas, acabam
por gerar riqueza, alavancam a economia, geram empregos e aumentam a
circulação financeira. Identificar oportunidades, agarrá-las e buscar os recursos para
transformá-las em negócio lucrativo são o papel do empreendedor.
Essa afirmação é corroborada pelo número de empregos abertos nas micro e
pequenas empresas em setembro/2017, conforme análise do CAGED3 (SEBRAE,
2017b). Conforme essa análise, em setembro de 2017, pela sexta vez consecutiva,
os pequenos negócios sustentaram a geração de empregos no país, registrando
2 Global Entrepreneurship Monitor (GEM) é a principal pesquisa sobre empreendedorismo realizada
no mundo, coordenada pelo Global Entrepreneurship Research Association (GERA). A pesquisa é realizada desde 1999, tendo já participado mais de 100 países. O relatório de 2016 apresenta resultados para 65 países que, juntos, representam 70% da população global e 83% do Produto Mundial. A pesquisa é feita com indivíduos, entre 18 e 64 anos, e procura identificar as características dos que possuem algum tipo de negócio (ou estão fazendo algo para ter), seja um negócio formal ou informal. 3 CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, mantido pelo Ministério do Trabalho,
é o registro permanente de admissões e dispensa de empregados, sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). É utilizado como base para a elaboração de estudos, pesquisas, projetos e programas ligados ao mercado de trabalho.
3
saldo de 51,2 mil novos postos de trabalho, enquanto as médias e grandes
empresas fecharam 16,1 mil vagas.
É comum pessoas descreverem-se ou serem descritas como
empreendedoras e para esse julgamento utilizam-se de características que julgam
ser de pessoas empreendedoras, como ousadia e coragem, criatividade e
pioneirismo. Existem estudos na literatura a respeito das características de um
empreendedor, entretanto, nenhum é conclusivo a respeito de características
distintivas (HISRICH; PETERS, 2006).
Nestes estudos, procura-se entender as características essenciais que
definem o empreendedor, porém há uma lacuna nos estudos em não relacionar os
valores, atitudes e características dos empreendedores em relação aos estudos
sobre inteligência emocional, e sobre como ela efetivamente influi ou atrapalha o
desenvolvimento do perfil empreendedor, influenciando no sucesso ou fracasso de
um novo empreendimento. A inteligência emocional pode ser descrita como um
modelo de personalidade e comportamento individual segundo o qual as pessoas
são conhecedoras de si e do mundo social em que vivem, utilizando este
conhecimento de forma consciente para administrar suas emoções e direcionar seu
comportamento rumo a resultados desejados (BAR-ON; PARKER, 2002)
Neste contexto, este artigo tem como objetivo geral analisar a relação entre
perfil empreendedor e inteligência emocional. Tem, por objetivos específicos: a)
realizar levantamento bibliográfico para identificar características de empreendedor;
b) compreender a importância de características intra e interpessoais na atividade de
empreendedorismo na percepção de empreendedores; c) compreender possíveis
relações entre características empreendedoras e inteligência emocional.
A pesquisa realizada para este artigo caracteriza-se como qualitativa e
quantitativa, com duas fases de coleta de dados. A primeira foi bibliográfica, que
permitiu a compreensão de conceitos relacionados ao perfil empreendedor e
características de pessoas emocionalmente inteligentes. A segunda fase da coleta
foi feita a partir dos resultados da primeira e, por meio da aplicação de um
questionário, possibilitou analisar a relação entre o empreendedorismo e a
inteligência emocional, na percepção de um grupo de empreendedores.
Este artigo é organizado em quatro seções, sendo a primeira esta introdução.
Na segunda seção foi buscada a fundamentação teórica para o trabalho, através de
pesquisa bibliográfica em autores renomados que se dedicaram a estudar os temas
4
considerados neste artigo. A terceira seção explica o procedimento metodológico
utilizado para levantamento de informações, qual o delineamento da pesquisa e as
técnicas de coleta de dados. A quarta seção faz uma análise dos dados levantados,
identificando as características de empreendedorismo mais importantes, conforme
pesquisa feita com empreendedores, agrupando-as em eixos comportamentais
interpessoais e intrapessoais e relacionando-as com a inteligência emocional. Por
fim, a quinta seção elenca as conclusões tiradas com o trabalho.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Esta seção trata do referencial teórico utilizado para entender as diversas
definições sobre o objeto deste estudo: como são definidos o empreendedorismo, o
empreendedor, os motivos que levam alguém a empreender e quais seus desafios,
quais são as características do empreendedor e o que é inteligência emocional.
2.1 O que é empreendedorismo
Empreendedorismo é:
o processo de criar algo novo com valor, dedicando o tempo e o esforço necessários, assumindo os riscos financeiros, psíquicos e sociais correspondentes e recebendo as consequentes recompensas de satisfação e independência econômico social. (HISRICH; PETERS, 2006. p. 29)
Esse processo de criar algo novo, para Druker (2005, p. 25) é o “instrumento
específico dos empreendedores, o meio pelo qual eles exploram a mudança como
uma oportunidade para um negócio diferente ou um serviço diferente”.
Para Dolabela (1999), empreendedorismo designa:
[...] principalmente as atividades de quem se dedica à geração de riquezas, seja na transformação de conhecimentos em produtos ou serviços, na geração do próprio conhecimento ou na inovação em áreas como marketing, produção, organização, etc. (DOLABELA, 1999, p.43)
Assim, quando as ideias emergem a partir de ideias ou da solução criativa de
problemas, elas precisam de um desenvolvimento e aperfeiçoamento posteriores até
o oferecimento do produto ou serviço final (HISRICH; PETERS, 2006).
5
2.2 O empreendedor
Dolabela (1999, p. 44) diz que:
[...] o empreendedor é alguém capaz de desenvolver uma visão, mas não só. Deve saber persuadir terceiros, sócios, colaboradores, investidores, convencê-los de que sua visão poderá levar todos a uma situação confortável no futuro. (DOLABELA, 1999, p. 44)
Para diversos autores, empreendedor é aquele indivíduo que, além de ter a
visão de uma possibilidade de oportunidade de mercado, tem também um sonho, ou
ideia, e que não mede esforços para realizá-la. Nas palavras de Maximiano (2013,
p.4) “o empreendedor é, em essência, a pessoa que tem capacidade de idealizar e
realizar coisas novas“.
Para atingir o objetivo de transformar uma ideia ou sonho em realidade o
empreendedor precisa manter uma constante busca por inovação, vendo a mudança
como uma norma sadia, a possibilidade de aperfeiçoar-se naquilo a que se propôs.
Em geral, o empreendedor não é quem causa as mudanças por si mesmo,
mas está sempre pronto a reagir a ela, explorando-a como oportunidade,
transformando valores e criando algo novo e diferente (DRUKER, 2005).
Dolabela (1999, p. 68) trabalha em seu livro com uma definição simples: “Um
empreendedor é uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões”.
Sendo assim, o empreendedor diferencia-se de outros indivíduos por
enxergar possibilidades onde outros vêem apenas dificuldades, ele entende que não
haverá progresso se não houver adaptação às mudanças, quase que torcendo para
que haja mudanças que provoquem em si essa necessidade de adaptação, que em
suma é o que o move para frente e a suplantar novos desafios.
2.3 Os motivos para empreender
Os motivos que levam alguém a empreender para Dolabela (1999) são frutos
do ambiente, época e lugar em que o empreendedor vive. Se o indivíduo estiver em
um ambiente em que empreender é visto como positivo, terá motivação para criar
seu próprio negócio.
6
Já Farah (2011), detalha mais os motivos comumente apontados para que
alguém se torne empreendedor: a vontade de ganhar mais dinheiro do que a
condição de empregado possibilita; o desejo de sair da rotina e levar as próprias
ideias adiante; o desejo de ser o próprio patrão e não ter de dar satisfação a
ninguém sobre seus atos; a necessidade de provar a si próprio e aos outros de que
é capaz de realizar um empreendimento; e o desejo de desenvolver algo que traga
benefícios não só para si, mas para toda a sociedade.
Hisrich e Peters (2006) resumem em três os principais motivos para
empreender: 1) a decisão de abandonar a atual carreira ou estilo de vida; 2) a
decisão de que um empreendimento é desejável; 3) a decisão de que fatores
externos e internos tornam possível a criação do empreendimento.
Ainda para Hisrich e Peters (2006) o empreendedor sofre influências de
impulso e de movimento que o levam a deixar a atual carreira para decidir
empreender. O impulso pode ser a insatisfação com o emprego atual ou uma
demissão inesperada, enquanto o movimento em direção ao empreendedorismo
pode vir ao se constatar uma necessidade não atendida no mercado.
2.4 Desafios do empreendedor
Muitos desafios esperam pelo empreendedor, e saber lidar com eles é a
diferença entre o sucesso e o fracasso.
Farah (2011) ressalta a importância de estudar e planejar previamente a
formatação do novo negócio, evitando assim os erros mais comuns que podem levar
uma boa iniciativa ao fracasso.
Para Dolabela (2008) importante também é a redefinição do conceito de
sucesso e fracasso. Para um empreendedor, está em situação de sucesso quem
busca, e não quem realiza um sonho, pois quando se torna realidade, os sonhos
deixam de produzir a emoção que geravam quando eram apenas sonhos. Dentro
dessa ideia, não realizar um sonho não significa um fracasso. Fracasso seria desistir
de realizá-lo.
Ainda conforme Dolabela (2008) há duas categorias de sucesso entre os
empreendedores: existem aqueles para os quais o sucesso é definido pela
sociedade e aqueles que têm uma noção interna de sucesso, sem que haja nenhum
estudo que diga que um ou outro tenha maior sucesso.
7
Para que os riscos sejam diminuídos, Hisrich e Peters (2006) elencam as 04
fases distintas do processo de empreender: 1) identificação e avaliação da
oportunidade; 2) desenvolvimento do plano de negócio; 3) determinação dos
recursos necessários; 4) administração da empresa resultante.
Embora essas fases ocorram progressivamente, nenhuma deve ser tratada
de forma isolada ou está totalmente completa antes de considerar os fatores de uma
fase posterior.
Drucker (2005) alerta que o sucesso ou fracasso de um concorrente é
também importante. Em qualquer dos casos deve-se considerar o evento com
seriedade, como um sintoma de oportunidade inovadora. Não se deve apenas
analisar, e sim sair a campo para procurar saber o que acontece realmente.
2.5 Inteligência Interpessoal x Inteligência Intrapessoal
Os primeiros estudos em torno da inteligência emocional iniciaram a partir da
pesquisa de Howard Gardner em 1983. De acordo com as definições de Gardner
(1995) existem duas inteligências pessoais fundamentais: intrapessoal e
interpessoal. A inteligência interpessoal baseia-se na capacidade de perceber
distinções entre os outros; em especial, contrastes em seus estados de ânimo,
temperamentos, motivações e intenções. Essa inteligência permite que um adulto
experiente perceba as intenções e desejos de outras pessoas, mesmo que elas os
escondam.
Já a inteligência intrapessoal é o conhecimento dos aspectos internos da
própria pessoa: o acesso ao sentimento da própria vida, à gama das próprias
emoções, à capacidade de discriminar essas emoções e eventualmente rotulá-las e
utilizá-las como uma maneira de entender e orientar o próprio comportamento. A
pessoa com boa inteligência intrapessoal possui um modelo viável e efetivo de si
mesma. Para Bar-On & Parker (2002), a inteligência interpessoal é uma das
dimensões da inteligência emocional. Já para Goleman, Boyatzis e Mckee (2002),
essa dimensão passa a compor a inteligência social.
2.6 Inteligência Emocional
Inteligência emocional pode ser definida como:
8
a capacidade de perceber, avaliar e expressar emoções com precisão, a capacidade de acessar e ou gerar sentimentos quando estes facilitam o pensamento, a capacidade de entender as emoções para promover o crescimento emocional e intelectual.(MAYER; SALOVEY, 1997, p.10)
O indivíduo com inteligência emocional pode ser definido também como
alguém que:
sabe o que as pessoas sentem; conversa sobre sentimentos; consegue mostrar como se sente; expressa sentimentos quando preocupado; sorri quando feliz ou satisfeito; lê as pessoas com precisão; é bom em reconhecer os próprios sentimentos. (CARUSO; SALOVEY, 2007, p.33)
Para Bar-on & Parker (2002), a inteligência emocional refere-se a pensadores
que utilizam o coração, aplicando suas habilidades mentais na percepção, no
entendimento e na administração de relações sociais, podendo usar seus talentos
tanto com o objetivo de trapacear quanto de beneficiar outras pessoas. Não se sabe
ainda em que nível essas habilidades mentais caracterizariam o comportamento
emocional observado nos indivíduos em uma variedade de contextos emocionais e
por meio de uma variedade de emoções. Uma das principais características de
indivíduos com inteligência emocional alta é a sua capacidade de identificar
emoções e julgar a integridade de expressões emocionais com precisão. Porém,
nem sempre está claro se a inteligência emocional representa uma variável de
resultado, ou seja, a resolução bem sucedida de um desafio emocional, ou uma
aptidão para lidar com situações desafiadoras, cuja expressão pode variar segundo
as contingências ambientais. Ou, em suas próprias palavras: “uma gama de
aptidões, competências e habilidades não-cognitivas que influenciam a capacidade
do indivíduo de lidar com as demandas e pressões do ambiente".
Ainda na opinião de Bar-on & Parker (2002) a inteligência emocional pode
também ser usada como um modo de prever diferenças individuais quanto à
satisfação com a vida e à adaptabilidade, com a qual indivíduos que conseguem
identificar seus sentimentos e dos que estão a sua volta, direcionando suas ações e
de forma consciente para administrar todas estas emoções e agir de forma
organizada e objetiva para alcançar resultados e metas necessárias.
A inteligência emocional, conforme Mayer, DiPaolo, & Salovey (1990) significa
um conjunto de habilidades voltados a monitorar emoções próprias e dos outros,
9
discriminando essas emoções e usando essas informações para o pensamento e
para a ação.
O uso do termo inteligência emocional, conforme Bar-on & Parker (2002) tem
sido feito de três diferentes maneiras. A primeira delas é como uma zeitgeist, ou
espírito de uma época, referindo-se a um movimento cultural que tanto pode ser
simplesmente uma moda passageira, ou pode também firmar-se como um
movimento histórico, que embasará futuros estudos e mais pesquisas científicas que
desenvolverão os conhecimentos sobre o assunto.
A inteligência emocional também tem sido utilizada como um quase sinônimo
de personalidade, abrangendo uma amplitude além das áreas emocional e cognitiva.
Este uso para Bar-on & Parker (2002) é muito vago e problemático, ao tentar
explicar a totalidade da personalidade e do caráter do indivíduo.
O terceiro uso do termo refere-se a uma inteligência real dentro da
personalidade, que diz respeito ao processamento das emoções, e que tem seu
próprio constructo e conceitos conflitantes. Os mais relacionados são os conceitos
de competência emocional e de criatividade emocional. Também estão englobados
os conceitos de inteligência interpessoal, definida como a capacidade de entender e
avaliar a si mesmo de forma precisa. Ela abrange também a inteligência social, que
é frequentemente definida como a capacidade de se inter-relacionar e administrar os
outros.
Os mesmos Bar-on & Parker (2002) alertam que a inteligência emocional
deve ser distinguida de variáveis de personalidade e que ela deve ser encarada
como uma aptidão mais restrita, especificamente a capacidade de reconhecer os
significados de emoções e utilizar tal conhecimento para resolver problemas.
As habilidades envolvidas no processamento das informações
emocionalmente relevantes dizem respeito a: 1) uma precisa avaliação e expressão
de emoções em si e no outro; 2) assimilação da experiência emocional na cognição,
3) reconhecimento, entendimento e raciocínio a respeito de emoções e 4) regulação
adaptativa de emoções em si e no outro.
Para Caruso e Salovey (2007), o indivíduo inteligente emocionalmente é
aquele que sabe o que as pessoas sentem e também aquilo que ele próprio sente,
conseguindo tirar conclusões corretas e inspirar as pessoas a sua volta com
conclusões corretas sobre elas. Para eles, o indivíduo com inteligência emocional é
10
um pensador criativo que inspira as pessoas e mantém o foco nas coisas
importantes, mesmo agindo sob fortes emoções.
Conforme Caruso e Salovey (2007, p.41) “as emoções melhoram o
pensamento. Os sentimentos ajudam a moldar e mudar crenças e opiniões”.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Nesta seção é abordada e descrita a metodologia utilizada para pesquisa,
bem como a bibliografia utilizada e a forma de coleta de dados.
Para Minayo (2002, p.16), metodologia é “o caminho do pensamento e a
prática exercida na abordagem da realidade”. Minayo (2002, p.17) também refere
que “embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação”.
3.1 Delineamento da Pesquisa
Na abordagem de Marconi e Lakatos (1999), pesquisa é um procedimento
formal que permite encontrar respostas para questões propostas, utilizando para
isso um método científico. Quanto à natureza da pesquisa, esse estudo caracteriza-
se como qualitativo e quantitativo, a partir das diferentes etapas de coleta, sendo a
do tipo exploratória e a segunda descritiva.
A fase exploratória da pesquisa também é descrita como:
[...] tempo dedicado a interrogarmos preliminarmente sobre o objeto, os pressupostos, as teorias pertinentes, a metodologia apropriada e as questões operacionais para levar a cabo o trabalho de campo. Seu foco fundamental é a construção do projeto de investigação. (MINAYO, 2002, p.26)
Para Roesch (2009, p.154) a pesquisa qualitativa é adequada “quando se
trata de melhorar a efetividade de um programa, ou plano, ou mesmo quando é o
caso da proposição de planos”.
Já a pesquisa quantitativa elege uma ideia, que transforma em uma ou várias
perguntas de pesquisa, de onde derivam hipóteses e variáveis que devem ser
mensuradas em um determinado contexto, por fim analisando estas mensurações
obtidas e estabelecendo uma série de conclusões a respeito das hipóteses
11
(MARCONI; LAKATOS, 1999). A proposta nessa fase é apresentar os dados
coletados por meio de estatística descritiva.
3.2 Técnica de coleta de dados
Os dados foram levantados em duas etapas de coleta. Na primeira, foi feito
um levantamento bibliográfico, de forma exploratória, para determinar as definições
de empreendedorismo, as características do empreendedor e as habilidades das
pessoas emocionalmente inteligentes, atendendo o primeiro objetivo de pesquisa.
Na segunda fase da coleta foi enviado um questionário (Apêndice A) para 31
empreendedores, construído a partir dos dados coletados na primeira fase, de forma
a atender ao segundo e terceiro objetivos específicos de pesquisa.
Os 31 empreendedores que compõem a amostra foram acessados através
dos contatos da autora com grupos de estudo do Sebrae, através do envio por e-
mail, sendo respondidos e devolvidos pelo mesmo meio.
Após a coleta dos materiais foi realizada a análise de dados. De acordo com
Minayo (2002), todo o material coletado deve conduzir à teorização sobre os dados,
confrontando a abordagem teórica com a que a investigação aportar como
contribuição. Esse é o intento da próxima seção do estudo.
4 ANÁLISE DE RESULTADOS
Esta seção irá elencar as principais características e habilidades relacionadas
aos empreendedores, de acordo com pesquisa bibliográfica, e a percepção de um
grupo de empreendedores em relação ao nível de importância de cada
característica. Essa percepção foi levantada através de questionário aplicado.
Posteriormente, será feita uma relação entre a importância das características
dos empreendedores em relação às habilidades intrapessoais e interpessoais de
inteligência emocional.
4.1 Características do empreendedor
Para elencar as principais características que definem um empreendedor, foi
feita uma pesquisa em sete dos principais autores que se dedicaram a estudar o
12
assunto empreendedorismo: Maximiano (2013), Druker (2005), Tajra e Santos
(2012), Dolabela (1999), Sebrae (2017), Farah (2011) e Dornelas (2007).
Após esta etapa, as características foram elencadas (Apêndice B) sendo que
para cada característica foi atribuída uma palavra-chave, a fim de agrupá-las por
afinidade, devido aos autores utilizarem palavras e terminologias diferentes para
expressar as mesmas ideias. Por exemplo, na palavra-chave estar preparado, foram
agrupadas as ideias de Tajra e Santos (2012): estar preparado; Dolabela (1999):
saber buscar, utilizar e controlar recursos; SEBRAE (2017c): saber buscar
informações e exigência de qualidade e eficiência; Farah (2011): experiência em
negócios e aprendizagem de padrões; Dornelas (2007): busca informação e
autocontrole. Já Tajra e Santos (2012) citam a característica persistente, Dornelas
(2007) usa o termo determinação, e Farah (2011) diz que empreendedores são
trabalhadores incansáveis. Estas três definições foram agrupadas na palavra-chave
persistente.
Em seguida, foi feita uma contagem das palavras-chave atribuídas, a fim de
identificar as características mais mencionadas pelos autores, conforme Tabela 1.
Tabela 1 - Palavras-chave de empreendedorismo por autor
Palavra-chave Maximiano
(2013) Druker (2005)
Tajra e Santos (2012)
Dolabela (1999)
Sebrae (2017)
Farah (2011)
Dornelas (2007)
TOTAL
Estar preparado
1 1 1 1 1 5
Comprometido
1 1 1 1 1 5
Criativo 1
1 1
1 1 5
Persistente 1
1
1 1 1 5
Ter liderança (influência)
1
1 1 3
Autoconfiante 1
1 1 1
1 5
Ter Iniciativa - Proativo
1
1 1 1
1 5
Automotivado
1 1
1 3
Assumir Riscos
1 1
1 3
Cultivar Bons relacionamentos
1 1 1 1 1 5
Otimista 1
1 1
1 4
Intuitivo
1
1
2
Independente 1
1
1 3
Ter Autonomia
1
1
Ter "Espírito empreendedor"
1 1
2
Ter um modelo
1
1
2
Inovador
1
1 2
Persuasivo
1
1
Total Geral 6 1 11 14 8 8 13 61
Fonte: Autoria própria, 2017. * Baseada nos autores.
13
Procurou-se também separar as características pessoais dos
empreendedores, aquelas que são inatas, podendo ou não ser desenvolvidas e
aprimoradas através de aprendizado intelectual e pessoal e que o definem como
indivíduo, daquelas que dependem totalmente do ambiente onde o empreendedor
está inserido. Estas são características que independem da personalidade do
empreendedor, são aprendidas ou já existem no contexto em que o empreendedor
está inserido.
Também foram destacadas as características que, mesmo sendo inerentes ao
empreendedor podem ser desenvolvidas em função do ambiente.
O agrupamento de acordo com características pessoais, pessoais que podem
ser desenvolvidas ou ambientais consta na Tabela 2:
Tabela 2 - Classificação das palavras-chave
Palavra-chave Características
ambientais Características
Pessoais
Características Pessoais e ambientais
Estar preparado X
Comprometido
X
Criativo
X
Persistente
X
Ter liderança (influência)
X
Autoconfiante
X
Ter Iniciativa - Proativo
X
Automotivado
X
Assumir Riscos
X
Cultivar Bons relacionamentos
X
Otimista
X
Intuitivo
X
Independente
X
Ter Autonomia
X
Ter "Espírito empreendedor"
X
Ter um modelo X
Inovador
X
Persuasivo
X
Fonte: Autoria própria, 2017.
Após o trabalho de classificação das características em ambientais, pessoais
e pessoais e ambientais, foi realizado um novo agrupamento de palavras-chave
(tabela 3), dessa vez considerando características intrapessoais ou interpessoais, ou
14
seja, associando-as aos conceitos ligados à inteligência emocional, nos sete autores
pesquisados.
Para agrupar as palavras-chave criou-se um eixo comportamental no qual
elas se assemelham, conforme tabela 3, e identificou-se quantos autores citaram
cada uma das características, ou seja, cada característica poderia ser citada no
máximo sete vezes, pois são sete autores. A partir daí elaborou-se um índice de
frequência de citações considerando quantos autores citaram cada característica e
apurando-se o percentual de citações de autores em relação ao máximo possível,
agrupadas por eixo. Chama a atenção que há apenas um eixo relacionado à
dimensão interpessoal, referente às características empreendedoras de liderança,
cultivar bons relacionamentos e persuasivo, agrupadas como eixo de “influência”.
Tabela 3 - Características Intrapessoais e Interpessoais
Dimensão de IE
associada Eixo Características do perfil empreendedor Pontuação % Posição
Intrapessoal
Constância de propósitos
Comprometido (5), Persistente(5) 10 71,43 1
Inovação Criativo (5), Inovador (2), Estar
preparado(5) 12 57,14 2
Visão positiva
Automotivado (3), Otimista (4), Autoconfiante (5), Autonomia (1)
13 46,43 3
Abertura à mudança
Intuitivo (2), Assumir Riscos (3), Iniciativa (5), Independente (3)
13 46,43 3
Interpessoal Influência Liderança (3), Cultivar Bons
Relacionamentos (5), Persuasivo (1) 9 42,86 4
Fonte: Autoria própria, 2017.
Essas tabelas serviram de base para montagem do questionário para
pesquisa junto à empreendedores, item analisado na próxima seção.
4.2 Percepção de empreendedores sobre perfil intrapessoal e interpessoal
Por meio da aplicação de questionário em 31 empreendedores acessados por
meio do SEBRAE, buscou-se conhecer a percepção destes sobre a importância das
características levantadas pelos autores estudados e elencadas na tabela 3.
15
Foi solicitado aos empreendedores que atribuíssem uma nota de 0 a 3 para o
conjunto de características relacionadas, sendo 0 para sem importância, 1 para
pouco importante, 2 para importante e 3 para muito importante.
Para calcular a porcentagem de importância para os empreendedores fez-se
a soma dos pontos atribuídos a cada característica e foi verificado o percentual do
total da pontuação de cada eixo em relação ao total possível de pontos, caso todas
as respostas fossem muito importantes (tabela 4).
Tabela 4 - Resultado da avaliação de importância a partir dos empreendedores (N=31)
Dimensão de IE associada
Eixo Características do perfil
empreendedor Pontuação* %
Interpessoal Influência Liderança, Cultivar Bons
Relacionamentos, Persuasivo 82 88,17%
Intrapessoal
Visão positiva Automotivado, Otimista,
Autoconfiante, Autonomia 83 89,25%
Constância de propósitos
Comprometido, Persistente 78 83,87%
Abertura à mudança
Intuitivo, Assumir Riscos, Iniciativa, Independente
77 82,80%
Inovação Criativo, Inovador, Estar
preparado 74 79,57%
* Pontuação construída a partir de escala de importância de 0 a 3, sendo pontuação máxima 100 pontos. Fonte: Autoria própria, 2017.
De acordo com o resultado demonstrado na tabela 4, na dimensão
intrapessoal, o eixo visão positiva – que engloba as características automotivado,
otimista, autoconfiante e autonomia – ficou em primeiro lugar na pesquisa, com
89,25% da pontuação máxima alcançada, e em segundo lugar o eixo influência, que
engloba liderança, cultivar bons relacionamentos e persuasivo, com 88,17% da
pontuação máxima.
Essas características estão fortemente relacionadas à inteligência emocional,
na medida em que:
As emoções concentram a atenção, moldam a tomada de decisões e fortalecem o comportamento adaptativo. Consegue se "animar", acalmar ou manter o humor conforme a necessidade. Consegue animar os outros, acalmá-los ou administrar devidamente seus humores. Está aberto aos sentimentos próprios e alheios. Leva uma rica vida emocional. Inspira outras pessoas. (CARUSO; SALOVEY, 2007, p. 61).
16
As características com menos pontuação, mas mesmo assim consideradas de
maneira geral como importantes ou muito importantes, foram os eixos constância de
propósitos com 83,87%, abertura à mudança com 82,80% e inovação com 79,57%.
4.3 Associação entre características do empreendedor e Inteligência
Emocional
Nesta seção são comparadas as características do perfil empreendedor a
partir da análise bibliográfica de sete autores especialistas e da pesquisa realizada
com trinta e um empreendedores. O conjunto de características mapeadas, bem
como os cinco eixos decorrentes são considerados importantes tanto para autores
quanto para empreendedores, porém com diferenças de prioridade entre os eixos,
pelo qual a intenção foi fazer um ranking da seleção.
No gráfico 1 visualiza-se a comparação entre os percentuais demonstrados
nas tabelas 3 e 4, entre a frequência em que essas características são mencionadas
pelos autores e o nível de importância atribuído pelos empreendedores, ambos
alinhados a partir de percentual.
Gráfico 1: Nível de importância x frequência das características de empreendedores
Fonte: Autoria própria, 2017.
Pelos empreendedores, a maior pontuação foi dada às características
associadas ao eixo comportamental visão positiva (automotivado, otimista,
autoconfiante, autonomia), com percentual relativo de 89,25% em relação ao
22,43%
12,44%
42,82%
36,37%
45,31%
79,57%
83,87%
89,25%
82,80%
88,17%
57,14%
71,43%
46,43%
46,43%
42,86%
0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00%
Inovação
Constância de propósitos
Visão positiva
Abertura à mudança
Influência
Citações
Importância
GAP
17
máximo de pontos possível. A frequência com que estas características aparecem
nos autores é de 46,43%, ficando em terceiro lugar em relação à frequência em que
aparecem. Estas características intrapessoais dos empreendedores podem ser
associadas a diferentes habilidades de inteligência emocional, como autocontrole
emocional e otimismo, que permitem melhor resposta às situações e desafios da
atividade.
Em segundo lugar, ficaram as características interpessoais agrupadas no eixo
comportamental influência (liderança, cultivar bons relacionamentos, persuasivo),
com 88,17% de importância. A frequência com que estas características aparecem
nos autores é de 42,86%, ficando em quarto lugar em relação à frequência em que
aparecem. Esse conjunto de características ligadas à influência está associado a
habilidades de inteligência emocional tidas como sociais, tais como empatia e
persuasão. A empatia diz respeito a compreender o ponto de vista dos outros e
interessar-se ativamente por suas preocupações. Já a persuasão permite
reconhecer e satisfazer as necessidades dos subordinados e clientes, cultivando as
capacidades alheias por meio de feedback e de orientação maior consciência
organizacional e motivando a cooperação e a criação do grupo.
A associação entre inteligência emocional e liderança é feita por Caruso e
Salovey (2007), que entendem que o indivíduo com alta inteligência emocional é
bom em reconhecer os próprios sentimentos e também em ler as pessoas com
precisão. Na visão de relacionamento interpessoal de Bar-on & Parker (2002), a
capacidade de formar e manter relacionamentos é ligada à possibilidade de dar e
receber intimidade emocional. Essa capacidade não depende apenas de ter
consciência das emoções, mas também de entender os sentimentos e emoções
dentro destes relacionamentos.
O eixo comportamental constância de propósitos (comprometido, persistente)
ficou em terceiro lugar, com 83,87% de importância. A frequência com que estas
características aparecem nos autores é de 71,43%, ficando em primeiro lugar em
relação à frequência em que aparecem. Este eixo comportamental de
empreendedorismo associa-se na inteligência emocional às habilidades de
autoconsciência emocional, ou seja, identificar as próprias emoções e reconhecer
seu impacto, usando a intuição para guiar as emoções. No empreendedor isso
implica em ter auto respeito, que está fortemente relacionado com a força interior, a
autoconfiança, a sentimentos de adequação e a auto realização, a reconhecer os
18
próprios limites e possibilidades, ter um profundo senso de valor próprio ou, nas
palavras de Caruso e Salovey (2007, p.41) ser um “pensador criativo, inspirando
pessoas, utilizando as emoções para melhorar o pensamento, sentindo o que os
outros sentem e moldando suas crenças e opiniões a partir dos sentimentos”.
Em quarto lugar, próximo ao terceiro, ficou o eixo comportamental abertura à
mudança (intuitivo, assumir riscos, iniciativa, independente), com 82,80%. A
frequência com que estas características aparecem nos autores é de 46,43%,
ficando em terceiro lugar em relação à frequência em que aparecem. Esse conjunto
de capacidades de assumir riscos, ser independente e intuitivo pode estar
relacionado à definições de inteligência emocional que pregam justamente a
necessidade de análise e entendimento das emoções, considerando a intuição na
análise dos riscos envolvidos antes da tomada de decisão. Essas características
empreendedoras podem também significar que o empreendedor não ficará
acomodado, estabelecendo para si metas desafiadoras, e que apoiadas em outras
características, ajudam a definir estes objetivos.
Conforme Dolabela (2008) um empreendedor está em situação de sucesso
enquanto busca, e não quando realiza um sonho, pois quando se tornam realidade,
os sonhos deixam de produzir a emoção que geravam quando eram apenas sonhos.
Dentro dessa ideia, não realizar um sonho não significa um fracasso. Fracasso seria
desistir de realizá-lo. Essas características fazem relação com a competência de
inteligência emocional de usar a intuição e as emoções para identificar situações
adversas e o seu impacto, estando pronto para agir e aproveitar as oportunidades.
Em quinto lugar, com pontuação de 79,57%, ficou o eixo comportamental
inovação (criativo, inovador, estar preparado). A frequência com que estas
características aparecem nos autores é de 57,14%, ficando em segundo lugar em
relação à frequência em que aparecem. Apesar de ficar em último na escala de
importância, a pontuação obtida também reforça a importância destas
características, reforçada pelo número de vezes em que é citada pelos autores
pesquisados (segundo lugar). Na inteligência emocional, isto está associado à
capacidade de avaliar a situação imediata com o máximo de informações possíveis,
o que permite ajustes em diferentes ambientes, assim como reconhecimento das
próprias limitações e possibilidades.
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5. CONCLUSÃO
Esse artigo teve como objetivo geral analisar a relação entre perfil
empreendedor e inteligência emocional.
Primeiramente, por meio de pesquisa bibliográfica com sete autores
especializados no tema do empreendedorismo, foram compreendidas as
características ligadas ao perfil empreendedor e feita uma relação com habilidades
intrapessoal e interpessoal de inteligência emocional. Numa segunda etapa essas
características foram levadas a um grupo de 31 empreendedores que lhe atribuíram
um grau de importância, por meio de questionário.
Destacou-se no resultado das respostas ao questionário a visão dos
empreendedores de que há uma maior importância para os eixos comportamentais
de visão positiva (89,25%) e influência (88,17%). Para os autores, as maiores
frequências de citação estão nos eixos comportamentais de constância de
propósitos (71,43%) e inovação (57,14%). É importante ressaltar que tanto para os
especialistas como para os empreendedores a maior importância é dada à dimensão
intrapessoal do empreendedor.
Integrada à dimensão intrapessoal da inteligência emocional a visão positiva
permite ao empreendedor um foco otimista sobre si e sobre o ambiente em que está
inserido. O eixo de visão positiva engloba as características do perfil empreendedor
de automotivação, otimismo, autoconfiança e autonomia, que permitem forte
capacidade de persistir e suplantar os desafios.
Em segundo lugar aparece o eixo influência, que engloba as caraterísticas do
empreendedor de liderança, cultivar bons relacionamentos e persuasão. Essas
características estão associadas diretamente às habilidades interpessoais de
inteligência emocional de perceber as emoções dos outros, compreender seu ponto
de vista e usar isso para influenciá-las.
Conclui-se que há uma forte relação entre as características importantes no
perfil empreendedor e habilidades intrapessoais de inteligência emocional e também
habilidades interpessoais, ainda que em menor escala. De acordo com o estudo,
indivíduos que possuem as características elencadas poderão estar mais alinhados
ao perfil empreendedor necessário ao sucesso nos empreendimentos, por estarem
melhor habilitados a tratar dos mais diversos desafios de seus negócios.
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ENTREPRENEUR’S HEART: THE RELATIONSHIP BETWEEN THE
ENTREPRENEURAL SELF AND THE EMOTIONAL INTELLIGENCE
ABSTRACT:
A plethora of studies relate the personal characteristics of the entrepreneurial self,
whereas others lay on the abilities and competences of the individuals with high
emotional intelligence. This article has the purpose of analyzing the relationship
between entrepreneurship and emotional intelligence. The research has been
organized in two stages, being the first a bibliographic research, to better understand
the characteristics of the entrepreneurial self through the perception of specialists,
and the second being a survey done with 31 entrepreneurs, in which it was listed the
level of importance of the characteristics shown in the bibliographic research. The
results point that the most important characteristics for the authors (71,43%) are
grouped at the constancy of purposes behavioral axis, whereas for the entrepreneurs
(89,25%) are the ones grouped at the positive view axis. Both behavioral axis are
related to the interpersonal abilities of emotional intelligence. Overall, the study
showcases a strong bond between entrepreneurial characteristics, and emotional
intelligence abilities and competences.
Key-words: Entrepreneurship. Emotional Intelligence.
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