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A MAGAZINE DE ESTUDANTES DO ICBAS PARA ESTUDANTES DO ICBAS N.03 - FEV.2013 Recordando Nuno Grande

Corino Mag Fev 2013

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Uma revista, não sobre o ICBAS, mas para os estudantes do ICBAS.

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Page 1: Corino Mag Fev 2013

A M A G A Z I N E D E E S T U D A N T E S D O I C B A S PA R A E S T U D A N T E S D O I C B A S

N.0

3 - F

EV.2

013

Recordando

Nuno Grande

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Caro colega,

Criada por estudantes do ICBAS para estudantes do ICBAS, a Corino Mag faz, este ano, um upgrade da sua edição.

Recriar algo que, no seu âmago, já possui uma marca e que é aceite por aqueles que a utilizam é sempre uma aventura. No entanto, destemidamente, a equipa da Corino assumiu o desafio e aceitou superar ‑se e construir o futuro, recriando este projeto.

Assim, é editada uma revista que procura chegar mais além, continuando a viver o sonho daqueles que um dia sonharam “conosco” e acreditaram em nós.

Fomos criados seres pensadores e inquietos que não se ficam pelo que já está estabelecido, mas antes, procuram perceber a razão, estudar a essência e aprofundar conhecimentos. Numa sociedade em que cada vez mais se vive o comodismo, a equipa da Corino não se rendeu ao facilitismo e quis mexer com o passado, documentar o presente e organizar o futuro.

Ei ‑la! Aquela que é uma revista idealizada por estudantes do ICBAS mas que conta com a participação de todos que, pertencendo a esta escola, aceitaram o desafio de ir mais longe.

Que as próximas páginas vos dêem tanto prazer a ler como àqueles que as escreveram!

Joana MagalhãesPresidente da Direção da AEICBAS

DIREÇÃO

Associação de Estudantes do ICBAS

EDIÇÃO

João da Eira, 3º ano MIM

Pedro Reis Pereira, 3º ano MIM

COLABORADORES

Alexandra Xavier, 2º ano MIMV

Fábio Santos, 5º ano MIM

Filipe Martins, 2º ano MIM

Frederico Rajão, 3º ano MIM

Joana Santos, 3º ano MIM

Madalena Cabral Ferreira, 4º ano MIM

Margarida Costa Pereira, 5º ano MIM

Mariana Cubal, 3º ano MIMV

Mariana Pereira, 3º ano LL:BQ

Miguel Saraiva, 2º ano MIM

Pedro Almeida, 5º ano MIM

Raquel Borges, 3º ano MIM

Tiago Ramos, 5º ano MIM

DESIGN E CONCEPÇÃO GRÁFICA

SerSilito ‑Empresa Gráfica, Lda./Maia

TIRAGEM

200 exemplares

APOIOS

ÍndiceEditorial 3Destaque ProfessorNunoGrande 4 RecordandoNunoGrande 4 ComoconhecioProf.NunoGrande 5 NunoGrande,Cientista 7 IAEICBASBiomedicalCongress 8 AInterligaçãodasCiênciasBiomédicas 9 EntrevistaaoProfessorQuintanilha 10Fora de Portas Umprémioparaofuturo 12 EntrevistaErasmus 13 FimdasBolsasdoProgramaErasmus 14 VoluntariadonaGuiné 15Notícias EstadodeMedicina 16 ClínicaUPVet 17 DireitosdosAnimaisnaExperimentaçãoCientífica 18 NúcleodeEstudantesdeBioquímicadaUP 19 ApocalipseENEM 19Reportagem ProfessoraAldadeSousa–DoICBASparaBruxelas 20Actividades AEICBAS TorneioNunoGrande 21 CiclodePalestras:“Estágio,eAgora?” 21 SOSVida–IIJornadasdeIntervençãoMédica 22 SistemadeTutores 22 Intercâmbios 23 Oceanodeexperiências 23GruposdaCasa CICBAS–ConcertoSolidário 24 S.O.T.A.O 24 TunaAcadémicadeBiomédicas 25 TFB–9ºInsula–FestivaldeTunasFemininasdaTCE 25 CineICBAS 26 VO.U. 26Cultura BandaDesenhada 27 12ªediçãodosEncontrosdeDesenho Música 29 METZ TOY Literatura 30 Meussenhores,IvanIlitchmorreu! OsnossosmonstrosHumor – “Corino Mad” 31Aquela Página Aleatória 32

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Uma revista, não sobre o ICBAS, mas para os estudantes do ICBAS.

Porque nem chega a ser errada, é felizmente ilusória a ideia de uma Universidade isolada da sociedade. A imperativa intimidade vale para os dois sentidos. É tão importante que se ausculte o quotidiano, que se devolva o teórico à vida prática, que se percebam as necessidades do mundo do trabalho, como que se tenha consciência da suscetibilidade da Universidade ao poder político e ao paradigma vigente.

Corino de Andrade revê numa cela da PIDE, em 1951, o seu célebre artigo sobre a Paramiloidose que o tornaria uma figura de topo das Neurociências ‑ acusavam ‑no de atividades subversivas. Uns anos antes, depois de já ter visto o seu laboratório desmantelado e de ter sido enviado para Paris, Abel Salazar é definitivamente impedido de entrar na sua Faculdade ‑ uma má influência para os alunos. Daí nunca ter tomado por sagrada a Universidade, que começou elitista, tantas vezes protegeu interesses e que abandona o comando do progresso para lhe resistir.

A história já foi contada muitas vezes, fazemos parte da escola desses rebeldes e insurgentes que apenas não deixaram que o prestígio e as luzes toldassem a sua consciência e valores mais básicos. De orgulhoso, deixei‑‑me acomodar nos gritos que esses outros deram por mim. O Professor Nuno Grande era um desses homens plenos e morreu a 8 de Outubro de 2012. Desconforta ‑me ainda.

Entre cortes no ensino superior e acesso à cultura, derrotas na saúde, misturados com apatia e RGAs de lugares vazios, teremos nós consciência das prisões de agora?

A revista não deveria continuar a ser feita, em exclusivo, pela Associação de Estudantes. Entre convidados e inte‑ressados reunimos uma equipa de mais de 20 estudantes do ICBAS, 20 jornalistas ‑ vários cursos, diferentes anos e idades, muitas opiniões ‑ todos juntos discutimos o que devia ser falado, trouxemos as nossas visões e preocupações e fomos saber mais.

Quisemos evitar, desde o início, a tendência para o olhar saudoso e comovido, percorrendo aquilo a que assistimos durante o semestre. Queremos divulgar os valores do ICBAS, as lufadas de ar fresco, os esforços pela cultura e a originalidade no espaço que partilhamos. E trazer os temas da sociedade e do mundo científico, olhá ‑los numa perspetiva universitária e em sintonia com as preocupações dos estudantes. Pode uma revista ser interventiva? Trata ‑se de combater a desinformação,

Editorial Corino Magazine Fevereiro 2013

acabando com a discussão gratuita e contribuindo para o debate esclarecido, logo construtivo.

Deixamos ‑vos então com uma edição que se pretende sobre a interligação das ciências biomédicas, sobre a ausência de fronteiras no conhecimento, sobre a impos‑sibilidade de daí destrinçar a arte e sobre a ousadia, tudo aquilo que nos colocou onde estamos hoje. Portanto, para mim, sobre o inevitável confronto com o nosso legado, sobre o desconforto. C

João da Eira

A Identidade do ICBAS e a memória do Professor Nuno Grande. A ideia da Faculdade em que os Estudantes têm um papel ativo, numa relação fundamentalmente partitária com os seus guias, os Professores.

Pudemos (re)descobrir, nesta edição da revista, nas conversas que fomos tendo, nas pessoas que fomos conhecendo, um ambiente muito familiar, quase doméstico, próprio daquele início do Projeto – uma forma de estar latente nas palavras do Professor Águas e da Professora Corália, na entrevista com o Senhor Duarte, do Departa‑mento de Anatomia. Quisemos, neste ciclo de mudança a vários níveis, mostrar que o Instituto (agora definitivamente instituído), não perdeu a sua base identitária, a Filosofia de Escola diferente onde quem entra vê escrito “Quém só sabe Medicina, nem Medicina sabe.”

Destaque para a Entrevista com o Prof. Alexandre Quin‑tanilha, num esforço pela interdisciplinariedade; o AEIC‑BAS Biomedical Congress e a ideia de Abel Salazar (que se considerava “anarquista científico”), de que não exis‑tem “gavetas”, “chavetas sistematizantes” entre os vários domínios da Ciência. C

Pedro Reis Pereira

3A MAGAZINE DE ESTUDANTES DO ICBAS PARA ESTUDANTES DO ICBAS

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pela acção convincente do Nuno, para assumir a regência da cadeira do 5º ano, a Medicina II (um verdadeiro “cadeirão”) correspondente á Patologia Médica do curso clássico.

Assim, além da direcção do Serviço de Nefrologia, depois de 10 anos na Medicina Interna do Hospital de Santo António, passei a ser responsável pela formação dos jovens alunos do ICBAS. Aulas teóricas, testes, exames prácticos e teóricos, foi trabalho gratificante com a belíssima equipa que pude congregar, para cumprir a tarefa aceite, sempre esperança e confiança, para ajudar a concretizar o sonho do Nuno.

Centenas de alunos estão hoje dispersos pelo país, em cargos de grande responsabilidade, a começar pelo próprio ICBAS.

Nas festas das Queimas das Fitas dos nossos alunos, lá voltavamos a viver momentos de grande alegria, aceitando as críticas e as imitações com boa disposição e tolerância. Junto dos jovens, continuamos a ser nós mesmos os jovens colegas de curso e de todos os momentos bons e maus que partilhamos numa época muito feliz das nossas vidas.

É assim que eu recordo o Nuno. C

Professora Eva Xavier

Destaque

Professor Nuno Grande Nuno Lídio Pinto Rodrigues Grande nasceu em Vila Real, a 23 de fevereiro de 1932. Formou ‑se em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, então associada ao Hospital Geral de Sto. António. Doutorou ‑se em 1965, com a classificação de 19 valores. Foi mobilizado pelo Exército para Angola, para o Hospital Militar de Luanda. Aqui teve papel decisivo na fundação Faculdade de Medicina da Universidade de Luanda. Regressou a Portugal em 1974, tendo sido um dos fundadores, em 1975, do nosso Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. O Prof. Artur Águas descreve ‑o como um “criador de Universidades”. Nuno Grande morreu no Porto a 8 de outubro de 2012.

Professor

Iniciámos o primeiro ano do curso de Medicina em 1950, no edifício junto ao Quartel do Carmo, onde hoje funciona o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. Desde

então percorremos todo o trajecto estudantil como bons colegas e bons amigos.

Recordo o Nuno nos primeiros anos, sempre com o traje académico, bem ‑disposto, maroto e sempre sob a protecção das colegas porque se encontrava longe da família,da mãe e da irmã em Vila Real, sua terra de origem. Quando se organizava um passeio, um lanche, ou mesmo um piquenique, havia disputa pois todas se disponibilizavam para levar a parte do Nuno que “coitadinho” não tinha o apoio materno.

Recordo a sua grande preocupação com a saúde da irmã que viria a falecer jovem, e a solidariedade de todos os colegas nesse momento tão triste da sua vida.

Na Queima da Fitas de 1955/1956, fomos ambos nomeados para a comissão de Sarau e Jogos Florais do programa da Queima: o Nuno, eu e o colega Guedes Guimarães. A festa que organizamos, além da distribuição dos prémios aos lauredos foi atribulada pelo barulho da galerias mas foi também muito apreciada por termos apresentado, em estreia mundial, uma peça de Tenesse Williams, ensaiada pelo director de teatro universitário, o saudoso Dr. Castro Alves. A peça intitulava ‑se “Feliz Viagem”, não tinha cenários mas apenas dois bancos de madeira imitando um automóvel. O Nuno era o pai da família, Susana Teiga era a Mãe, Gabriela Freitas o filho e eu a filha. O Nuno fingia conduzir o automóvel e a família acompanhava a viagem com gestos e diálogos traduzindo as reações á “paisagem”, aos lugares onde parávamos e finalmente na chegada a casa da outra filha que íamos visitar. Foi um exito, num estilo muito moderno para a época, teatro tão natural e despido de artefactos, a que não estavamos habituados.Foi uma Queima memorável!

Mais tarde, já formados e em plena actividade, quando foi necessário estruturar o Ciclo Clínico do curso de Medicina do ICBAS, fui chamada, e muito motivada, pela confiança e

Recordando Nuno Grande

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Sinceramente não me lembro, do momento exacto, nem do dia exacto! Pode ser que revendo algumas fotografias ou escritos, ou talvez no filme que a

AEICBAS fez em homenagem ao professor em 1994, e que se encontra publicado na UP, eu tivesse dado alguma data mais precisa, mas foi em 1976, e já no edifício que hoje chamamos de Antigo ICBAS, ou ICBAS velho. Sim, porque o ICBAS no seminário do Vilar, com o banco com três per‑nas, segundo contava o Professor, é para mim totalmente desconhecido....Conheci ‑o já estavam no edifício do nº 2, do Largo Abel Salazar,... ou talvez ainda no Largo da Escola Médica... sim porque só passou a Largo Prof. Abel Salazar em 1979... O edifício, que para mim enquanto estudante da UP, entre 1970 e 1975 era a Faculdade de Letras.

Acabei o curso de Matemática – ramo Matemática Aplicada da Faculdade de Ciências da UP em Dezembro de 1976. Tinha começado a trabalhar no ensino básico e secundário em Janeiro de 1975, e no ano lectivo de 1976/77 tinha sido colocada na então Escola Soares dos Reis em Vila Nova de Gaia a fazer o estagio pedagógico... Supostamente com vista a uma carreira no ensino secundário... Contudo só precisava, então, de uma desculpa para sair... Não era isso que planeava fazer no resto da minha vida... Ser professora.... Entretanto, as hoje professoras, então assistentes eventuais Alda Sousa, Denisa Mendonça e Carolina Silva, tinham sido contactadas por alguém das Biomédicas e começaram, juntamente com outra colega, de que não me lembro o nome a dar as aulas praticas de Matemáticas Gerais, no ICBAS... Pelos vistos eram precisos 4 professores para as aulas práticas. As aulas teóricas eram asseguradas pela Professora Doutora Pilar Ribeiro. Vinha de Lisboa leccionar esta disciplina... Nunca percebi muito bem porquê, talvez poque a Faculdade de Ciências da UP não se tivesse querido associar a este projecto? Ou o departamento de Matemática Aplicada ou Pura, sim porque até há pouco mais de um ano havia na Faculdade de Ciências da UP, um departamento de Matemática Aplicada e um de Matemática Pura, não tivessem disponibilidade para mais uma disciplina da matemática... De qualquer modo, estavam quatro jovens matemáticas apalavradas para leccionar as aulas práticas, mas uma delas, foi para o estrangeiro, deixando um lugar vago... E

perguntaram ‑me se eu não queria aproveitar.... Aceitei, e como as minhas três colegas acumulamos o ensino nas escolas secundárias, onde éramos pagas, com uma “perninha” no ICBAS, onde esperávamos o contrato. Era o primeiro ano lectivo formal no ICBAS, cuja existência legal ficou registada, primeiro como dependência da Reitoria da UP, a 5 de Maio de 1975 , na Portaria nº 293/75, que cita no seu artigo 1º “É criado na Universidade do Porto, como anexo da Reitoria, o Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, destinado a assegurar o ensino e a investigação no domínio das disciplinas básicas da formação médica e paramédica”, e mais tarde a 12 de Agosto, Decreto ‑Lei nº 429/75, em pleno Verão quente, durante o V Governo Provisório, chefiado pelo General Vasco Gonçalves, Primeiro Ministro, onde aqui sim, se pode ler no “Artigo 1º: É criado na Universidade do Porto, o Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, destinado a assegurar o ensino e a investigação no domínio das disciplinas básicas da formação médica e paramédica.” Sendo que a única diferença deste artigo é deixar o ICBAS de ficar anexo à reitoria.

Aqui ficam, também no art.º 2º, estabelecidas a autonomia administrativa, pedagógica e científica do ICBAS. É ainda reconhecido um período de instalação com a duração de três anos. (art.º4º). A 15 de Outubro de 1975 é então nome‑ada a Comissão Instaladora, com a seguinte constituição: Presidente: Reitor da Universidade do Porto, Prof. Ruy Luís Gomes; Vogais: Prof. Corino de Andrade, Neves Real , Nuno Grande, João Monjardino, Aloísio Coelho e Pereira Guedes. Esta Comissão tomou posse na Reitoria da Universidade do Porto, perante o Secretário de Estado do Ensino Superior, Prof. António Brotas, durante a gestão do VI Governo Provisório.

O primeiro ano lectivo formal foi o de 1976/77. Os primeiros alunos, que mais tarde se formariam uns em Medicina e outros em Ciências do Meio Aquático entraram nesse ano. Eram cerca de 200, divididos em 8 turmas. Lembro ‑me que eu leccionava as turmas de tarde da disciplina de Matemáticas Gerais.

Tudo girava em torno do professor Nuno Grande, era ele que procurava colegas e amigos para levar por diante o projecto da nova escola, que se sabia teria, mais dia menos dia a licenciatura em Medicina, contudo tudo era complicado, nomeadamente por já haver uma licenciatura em Medicina na UP.

Contudo o projecto do Professor Nuno, animado pelo apoio, tanto do Prof. Ruy Luís Gomes como do prof. Corino de Andrade, era de fazer uma escola diferente. Ouvíamos cons‑tantemente o Professor Nuno citar uma conferencia, dada aos microfones de uma rádio local pelo Professor Corino de Andrade, na década de 40, conferencia essa que lançava as bases da escola que então ambos tentavam criar. Uma escola de Saúde, mas onde matemática era ensinada por matemáticos, química por químicos, etc. e onde o ensino e a investigação tinham o mesmo peso. Um pouco em

Como conheci o Prof. Nuno Grande?

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contraponto com o ensino da altura em que a maioria dos docentes das faculdades de Medicina, para não dizer a sua totalidade eram eles próprios médicos, e ia ‑se procurar o ensino das ciências básicas a outras escolas, que por muito bem que o fizessem, o faziam fora do contexto das ciências da Vida e da Saúde. Hoje parece estranho que esta filosofia não fosse consensual, mas nessa altura era revolucionária.

Era na realidade uma escola diferente, à sua frente tínhamos “um perigoso comunista”, como foi apelidado o Prof. Nuno em vários jornais da época, mas por estranho que pareça (ou talvez não) os dirigentes estudantis estavam mais ligados aos partidos mais conservadores (na altura Partido Popular Democrático ‑ PPD). Mas apesar do que se dizia na imprensa, nunca os dois corpos docente e discente estiveram tão unidos numa luta comum como naquela altura e naquela escola.

Não sou nitidamente a melhor pessoa para falar destes 6 primeiros anos mais conturbados, porque logo no fim do primeiro ano lectivo o Prof. Nuno decidiu que uma de nós deveria ir para o estrangeiro preparar a sua pós ‑graduação, e por qualquer razão eu decidi aceder. Ir sem saber muito bem nem para onde, nem para quê, a não ser que precisava de fazer uma pós ‑graduação numa área da matemática aplicada à saúde, e dada a falta de preparação em estatística que, naquela altura todos tínhamos, decidi seguir alguns colegas da Faculdade de Ciências que foram para a Univer‑sidade de Warwick, onde havia um Instituto de Matemática famoso e para onde foram muitos dos alunos que saiam da Faculdade de Ciências do curso de Matemática. Fui sem bolsa, apenas com uma equiparação a bolseiro, que o Prof. Nuno de imediato apoiou.

Vindo a Portugal, nas férias, de Natal e de Verão, fui, sempre com o apoio do Prof. Nuno, procurando apoios para podermos pagar as propinas. Naquele tempo, estávamos fora da União Europeia e as propinas eram mais de 10 vezes superiores a um ordenado de assistente. Com o apoio do Prof. Nuno consegui uma bolsa.. Lembro ‑me, de quando lhe pedia cartas de referencia, e ele escrevia ‑as sempre que lhe pedíamos, e dizia, “enquanto o meu nome servir para alguma coisa”... e é óbvio que servia.

Sempre que cá vinha ouvia o que se passava. O Hospital de Santo António estava entusiasmado com a ideia de voltar a ter o ensino pré ‑graduado. Sim, porque desde 1959, com a abertura do Hospital de S. João, o ensino da Medicina tinha passado para esse hospital. A Faculdade de Medicina, deixou as suas instalações no Largo da Escola Médica e foi para o Hospital de S. João e com ela foram muitos dos professores médicos do Hospital de Santo António. Aqueles que ficaram, e

os que mais tarde, formados no S. João procuraram o Hospital de Santo António para trabalharem, estavam desejosos de voltar a ter o ensino da medicina.

Sei isto, não porque estava cá nessa altura, mas pelos contactos que tive posteriormente com colegas que então se dedicaram ao ensino no Hospital, e também quando tive a oportunidade de trabalhar mais de perto com esses colegas quando fui presidente do Conselho Directivo.

Mas tudo isso era complicado.... Quando em 1979 os estu‑dantes acabaram o ciclo básico e pré ‑clínico era necessário assinar o protocolo com o HGSA e criar ‑se a licenciatura em medicina. Com as dificuldades que se apresentaram chegou ‑se ao ponto de pensar que tudo estaria acabado e que a licenciatura não iria para a frente, de tal modo que a então Faculdade de Medicina se ofereceu para receber todos os alunos do ICBAS que quisessem a transferên‑cia. Segundo sei, os estudantes de então juntaram ‑se ao Prof. Nuno Grande e não saíram (com excepção de dois ou três). Todos ficaram e todos juntos conseguiram que a 31 de Dezembro de 1979, a então primeira ‑ministra Maria de Lourdes Pintassilgo publicasse o Decreto nº 164/79 onde se pode ler no seu art.º 1º ,: “É criada no Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, da Universidade do porto, a licenciatura em Medicina.” Para além disso no art.º 2º refere que esta licenciatura seria ministrada em colaboração com o Hospital Geral de Santo António.

Contudo, o Protocolo entre o ICBAS e o HGSA só foi publicado a 22 de Março de 1980.... porque entretanto o governo de Maria de Lourdes Pintassilgo (V governo constitucional), apoiante incondicional do Prof. Nuno Grande, que foi o mandatário nacional da sua candidatura, caiu a 3 de Janeiro de 1980... Seguiu ‑se ‑lhe o governo de Francisco Sá Carneiro, e aí voltou o Professor a correr para Lisboa, tentando convencer uma nova equipa ministerial....

Tivemos que esperar quase mais dois anos para conseguirmos criar o curso de Ciências do Meio Aquático, e em colaboração com a Faculdade de Ciências o Curso de Bioquímica... Sim porque a ideia dos outros cursos da área da Saúde teve que ser abandonada... Outras forças se moveram... A ideia era revolucionária demais... E nem a insistência do Prof. Nuno Grande ou do prof. Corino foi suficiente.

Os tempos eram conturbados, e como digo, embora não estivesse cá, não houvesse Facebook, ou email as noticias iam correndo... Recebia semanalmente noticias, de familiares e amigos com o que se ia passando, e era claro que havia quem quisesse fechar o ICBAS a todo o custo, mas também havia quem lhes fizesse frente, e como sempre disse, os nossos primeiros estudantes foram fulcrais.. eles também estavam convencidos da bondade da ideia e lutaram por ela. Quando chamados a reunir eles sempre disseram “Presente”. Havia alturas, em que estudantes, professores e funcionários, saiam à sexta feira sem saberem se as portas voltariam a abrir na segunda feira seguinte.....

Mas cá estamos, ao fim de 37 anos e milhares de alunos, ainda a abrir todas as segundas feiras..... E por tudo isto há um homem que não podemos esquecer nunca, o Professor Nuno Grande. C

Porto, e ICBAS‑UP, 14 de Dezembro de 2012

Professora Corália Vicente

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Nuno Grande, Cientista

Tem este testemunho o objetivo de referir brevemente uma faceta de Nuno Grande – a de cientista – que é menos lembrada do que as ações suas realizadas em

outras áreas a que devotou as suas superiores capacidades. Nuno Grande é muito justamente evocado como um insigne professor, leader académico, médico, homem de cultura e interventor cívico, omitindo ‑se, com alguma frequência, da sua biografia o seu percurso de investigador científico de grande constância e inovação.Diria que tudo começou durante o seu curso de medicina. Nuno Grande cedo foi fascinado pelo brilhantismo do seu professor de anatomia, Hernâni Monteiro, que aliava uma invulgar erudição e talento de professor ao de ser figura de referência da chamada “escola portuguesa de angiologia”, prestigioso grupo de médicos das faculdades de medicina de Lisboa e Porto dedicado, durante a primeira metade do século passado, ao desenvolvimento de novos métodos de visualização e estudo das estruturas vasculares do corpo humano. Essa afinidade com Hernâni Monteiro levou a que, terminado o curso, este o tenha selecionado para docente do seu serviço de anatomia, e também a que Nuno Grande escolhesse a vascularização pulmonar como tema da sua tese de doutoramento. O pulmão, os seus vasos e a pneumologia em geral, foram sempre tema central da sua atividade de investigador e também de uma parte significativa da sua vida de clínico. Os dados originais sobre hipertensão pulmonar, obtidos no âmbito das suas experiências para a elaboração da sua dissertação de doutoramento, valeram ‑lhe logo a consagração de publicação em revista científica americana. Defendida a tese no Porto e mobilizado pelo exército para Angola, na universidade de Luanda, Nuno Grande foi dos primeiros cientistas a nível mundial a realizar com sucesso transplante de pulmão, utilizando o cão como modelo experimental. Graças à notícia destes seus avanços na transplantação, foi convidado a participar em congresso na Bélgica onde discutiu com colegas de todo o mundo o transplante pulmonar e as suas dificuldades, tendo focado a sua contribuição nas alterações do sistema linfático do pulmão após o transplante. Mais tarde seria ele quem decidira, com base nos seus estudos, uma questão que na altura dividia os pneumologistas: se a distribuição dos vasos linfáticos seguia no pulmão um padrão segmentar ou, pelo contrário, era independente da organização segmentar do órgão. Ainda em Luanda, em paralelo com os seus estudos sobre o pulmão, Nuno Grande investigou também a vascularização cardíaca. Neste campo, procurou, por exemplo, a razão de ser do enfarte de miocárdio estar ausente como causa de morte numa das etnias angolanas, tendo chegado à conclusão que essa caraterística favorável se devia a uma invulgar rede anastomótica entre ramos da artéria coronária direita e da artéria coronária esquerda nos corações de indivíduos dessa etnia, arranjo vascular que infelizmente se encontra ausente na maioria dos corações humanos. Aplicando o seu sofisticado manejo da cirurgia experimental, tão bem expresso nos trans‑plantes pulmonares, Nuno Grande fez ensaios de terapêutica cirúrgica do enfarte de miocárdio no cão utilizando as veias cardíacas como via para fazer chegar, em sentido retrógrado, sangue oxigenado a áreas do miocárdio cuja irrigação coronária arterial tinha sido interrompida experimentalmente. Os resul‑tados destes estudos servem de fundamento conceptual para métodos inovadores de revascularização cardíaca mais tarde desenvolvidos por cirurgiões cardiotorácicos de outros países.

Como os linfáticos, os “milky spots” e os gânglios linfáticos são utilizados na drenagem (“clearance”) de partículas inaladas que atingem os alvéolos pulmonares e o espaço pleural foi uma das questões investigadas em repetidos estudos de Nuno Grande e do grupo que ele dirigiu no ICBAS. Na mesma área da fisiopatologia pulmonar, dedicou ‑se Nuno Grande ainda à caraterização da fibrose, mostrando que esta podia ser induzida por vibração corporal causada por exposição crónica de roedores a ruído intenso e de baixa frequência, fibrose esta que afeta o septo respiratório, espessando ‑o com fibras de tecido conjuntivo, deste modo diminuindo a capacidade respiratória dos animais. Revelou ainda que a angiogénese tem um papel significativo na síntese excessiva de colagénio que ocorre em áreas de tecido pulmonar sujeitas a inflamação crónica e transformação fibrótica.Nuno Grande publicou cerca de cinco dezenas de artigos ori‑ginais em revistas científicas internacionais e seguramente bastante mais do que esse número em publicações nacionais. O seu prestígio entre os linfologistas europeus levou a que fosse eleito presidente da sociedade europeia desta especialidade o que permitiu reunir no Porto, em congresso, os linfologistas de todo o nosso continente. Cerca de uma década depois dessa reunião, Nuno Grande foi alvo de uma homenagem especial no congresso mundial de linfologia realizado em Salvador da Bahia. Foi também o seu perfil como cientista que fez com que tenha sido escolhido para membro do comité da NATO para a avaliação de projetos de investigação financiados por esta organização.

A atividade científica acima sumariada, e é uma súmula bastante incompleta, chegava e sobrava para ocupar em exclusividade a vida inteira de um só homem. Mas, como sabemos, foram sempre os seus alunos, a sua Escola e os seus doentes quem ocupou o centro das preocupações e do pensamento de Nuno Grande. É miraculoso como um só homem conseguiu conjugar com sucesso o desempenho de tantas responsabilidades. É lendária a luta de Nuno Grande para criar e fazer sobreviver uma Escola nova, autónoma e arejada, o ICBAS, que viesse a inovar no ensino e na inves‑tigação da grande área das Ciências Biomédicas. É também sabido o difícil que foi que a sua Escola fosse primeiro apro‑vada, depois tolerada e finalmente admirada. Não esqueço que quando a luta pela afirmação e independência do ICBAS parecia já ganha, estando Nuno Grande já jubilado, houve uma direção da nossa Escola que teve como projeto a fusão do ICBAS com a Faculdade de Medicina. Uma ingenuidade que teria feito desaparecer o ICBAS mas que felizmente foi der‑rotada. Podemos assim hoje, e com orgulho, afirmar que a luta de Nuno Grande está em definitivo consagrada numa Escola viva justificativa dos novos edifícios que lhe foram atribuídos. C

Professor Artur Águas

7A MAGAZINE DE ESTUDANTES DO ICBAS PARA ESTUDANTES DO ICBAS

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Criado em 1975, o Instituto de Ciências Biomé‑dicas Abel Salazar sobressaía no panorama educacional de então, graças a um grupo de

personalidades da Universidade do Porto, entre as quais Corino de Andrade, Ruy Luís Gomes e Nuno Grande.

Inspirados no pensamento e obra de Abel Salazar, patrono da nossa casa, o ICBAS foi erguido sobre grandes princípios, os quais continuam a modelar o pensamento dos estudantes nos dias de hoje. Assumiu‑se, desde a sua génese, como uma escola multidisciplinar no âmbito das Ciências da Vida, dando voz a José de Letamendi: “O Médico que só sabe de Medicina, nem Medicina sabe”.

A Associação de Estudantes do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (AEICBAS‑UP), irá realizar nos dias 5, 6 e 7 de Abril de 2013 a primeira edição do AEICBAS Biomedical Congress: an innovative multidisciplinary approach to life sciences. Trata‑se de um congresso plural, constituindo um projeto inovador a nível nacional, que pretende reunir no mesmo espaço estudantes dos diferentes ciclos de estudos do ICBAS: Medicina, Medicina Veterinária, Ciências do Meio Aquático, Bioquímica e Bioengenharia.

A sociedade do séc. XXI encontra‑se em pleno processo de reestruturação e identificação, sujeita aos rápidos e

contínuos avanços científico‑tecnológicos. A realização de palestras transversais a todos os cursos permitirá incrementar o contato entre estudantes, professores e profissionais das diferentes áreas, fomentar a investi‑gação biomédica e inovação e prosseguir o legado do mentor da nossa Escola, Abel Salazar. Não obstante, cada curso possui as suas especificidades, as quais também pretendemos explorar organizando ciclos de conferências, que consistem em sessões teórico‑práticas que decorrerão, separadamente, durante a parte da tarde.

Este projeto ambiciona aproximar estudantes pro‑venientes de todas as escolas nacionais e variadas instituições internacionais, de modo a preparem‑se para um mercado de trabalho altamente competitivo, exigente e em constante mutação.

Entendemos que é esta a altura para a criação deste congresso inédito na história da AEICBAS – um congresso durante o qual sejam recuperados os valores da nossa fundação, para que todos juntos possamos recriar o passado, agora.

Pedro Ribeirinho SoaresPresidente da Comissão Organizadora

do I AEICBAS Biomedical Congress

8 N. 03-Fevere iro 2013

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O ICBAS é, diariamente, palco de uma invul‑gar e interessantíssima miscelânea de Ciências da Vida, que compreendem a

Medicina, a Medicina Veterinária, as Ciências do Meio Aquático, a Bioengenharia e a Bioquímica. São estu‑dantes, investigadores, docentes, cada um com o seu rumo, que povoam os corredores e laboratórios deste Instituto. É por isso que esta faculdade tem tudo o que é necessário para intervir no panorama científico atual, para que possa contri‑buir para o desenvolvimento do conhecimento e inovar no mundo da Ciência.

Contudo, é importante ter em mente que o progresso científico se constrói sempre no plural. As Ciências Biomédicas devem, por isso, funcionar em comunhão, trocando conhecimentos incessantemente para que as respostas obtidas sejam o mais próximas da verdade possível. Urge, portanto, consciencializar estudantes e docentes para a necessidade vital de um trabalho em equipa.

Caso esta simbiose pluridisciplinar ocorra, os ganhos são evidentes: para além da obtenção de um conhecimento mais completo e global, problemas colocados no âmbito de um determinado domínio podem levar os investigadores a questionar repostas que noutros domínios eram já consideradas como “verdades”. Assim, a interdisciplinaridade torna ‑se a pedra basilar do progresso científico e é de capital importância que a comunidade científica tenha bem presente esta noção. Com efeito, uma abordagem deste tipo revela ‑se sempre mais frutuosa porque os nossos pontos de vista acabam por esconder tanto quanto aquilo que revelam.

Mais ainda, é óbvio que as Ciências da Vida direta‑mente associadas ao ICBAS se enriquecem mutu‑amente. Por exemplo, atualmente, é totalmente impensável que a Medicina ou a Medicina Veterinária existam sem o auxílio da Bioengenharia. Bastará

pensar nas máquinas de Raio ‑X, nos estetoscópios, nos termómetros ou em qualquer outro aparelho associado à prática médica para comprovar esta realidade.

Portanto, deve ser objetivo da comunidade educativa promover a união entre as múltiplas Ciências Bio‑médicas, o que se projetará numa melhor qualidade

de ensino, aprendizagem e investigação. Exemplo máximo dessa prática são as aulas do professor Alexandre Quintanilha, onde a Física, a Biologia, a Literatura e muitas outras áreas do conhecimento se

entrecruzam constantemente, o que sublima a aquisição de saberes.

É, também, neste sentido que surge o primeiro AEICBAS Biomedical Congress, um verdadeiro alerta para a necessidade premente de associação e junção de esforços entre as várias ciências da vida, em prol da obtenção de resultados melhores e mais acertados.

Em suma, as Ciências Biomédicas auguram ‑se interdependentes e complementares, para que tudo o que decorre no ICBAS seja o mais grandioso possível. C

Miguel Saraiva

A interligação das Ciências Biomédicas

“a interdisciplinaridade

torna ‑se a pedra basilar

do progresso científico…”

9A MAGAZINE DE ESTUDANTES DO ICBAS PARA ESTUDANTES DO ICBAS

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Entrevista ao Professor Quintanilha

O Professor Alexandre Quintanilha, docente no

Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar,

é um cientista de referência no panorama inter‑

nacional, interessando ‑se particularmente pela

interdisciplinariedade das Ciências da Vida. Este ano, foi convidado para ser o Presidente

da Comissão Científica do “AEICBAS Biomedical Congress: an innovative multidisciplinary

aproach to life sciences”, um congresso inovador a nível nacional e internacional, que pretende

reunir temáticas das várias áreas da ciência que compõem o ICBAS: Medicina, Medicina

Veterinária, Ciências do Meio Aquático, Bioengenharia e Bioquímica.

Assim, a Corino Magazine entrevistou o professor Alexandre Quintanilha, a fim de melhor

compreender o conceito da interdisciplinariedade das Ciências da Vida e de dar a conhecer

a sua reação ao projeto bem como as suas principais expetativas para o congresso.

P: O que achou do Projeto? Ficou surpreendido com o tema do Congresso?

Alexandre Quintanilha: Fiquei surpreendido e um bocadinho envergonhado, porque acho que esta ideia já deveria ter partido dos docentes há muito tempo. Fiquei muito satisfeito com esta vossa proposta por ser, de facto, um tema pelo qual me interesso bastante (...) a interdisciplinariedade é uma coisa que sempre me fascinou.

P: O que é a interdisciplinariedade?

AQ: Deixem ‑me dar ‑vos um exemplo: a transmissão de sinais ao longo de neurónios é um problema da Biologia, mas que só se compreende recorrendo à Física (noção de gradientes elétricos, gradientes de concentração...). Ou seja, a resposta às ques‑tões que muitas vezes se colocam em Biologia só se obtém a partir de conhecimentos da Química, Física, Matemática e até de analogias da Literatura e Filosofia. (...) Portanto, as áreas interdisciplinares revêem ‑se muito na obtenção de resposta a uma pergunta nova através de conhecimentos de outros domínios. Mais interessante ainda, é quando uma pergunta num domínio faz com que se questione muitas coisas que noutros domínios já estavam praticamente aceites.

P: Há exemplos em que a abordagem interdis‑ciplinar tenha sido importante?

AQ: Há imensos exemplos históricos... A própria Bio‑química não existiria se não houvesse um interesse comum das duas ciências que a criaram. A mesma coisa se aplica à Física da perceção (...) até o aparecimento da linguagem e da capacidade de avaliar a saúde e a doença são fenómenos de caráter interdisciplinar. (...) Felizmente o ICBAS foi criado com o objetivo de seguir a máxima “Quem só sabe Medicina nem Medicina sabe”, o que me atraiu muito porque acho que a medicina não é só saber como funcionam as drogas e os instrumentos. É preciso saber ouvir e interpretar as pessoas, e essa capacidade não se relaciona exclusivamente com a informação livresca, também se torna necessário tra‑balhar a sensibilidade através de Literatura, Cinema, Teatro, Pintura e muitas outras coisas.

P: Imagino que tenha sido com agrado que recebeu a proposta de ser Presidente da Comis‑são Científica do Projeto. Por que acha que os organizadores do congresso o escolheram para desempenhar esse cargo?

AQ: Se calhar por ser o professor mais velho desta escola. Mais ainda, já toda a gente sabe que eu me interesso por questões que se relacionam com a

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forma como se constrói uma melhor sociedade. Eu sempre me interessei muito por aspetos bastante controversos nas sociedades atuais, que abordam questões muito ligadas à compaixão, como por exem‑plo percebermos que os drogados não são criminosos, são doentes. (...) Portanto, eu fui sempre uma pessoa muito envolvida em questões fraturantes e sempre achei que o primeiro semestre do primeiro ano, o único ao qual dou aulas, deveria ser coordenado para que a química, a matemática, a física e a genética apresentassem uma evidente correlação, de modo a que vocês conseguissem perceber que os próprios docentes falam uns com os outros e que arranjam problemas de uma área para explicar noutra.

P: Acha que se têm envidado esforços para que o conhecimento transmitido na faculdade assuma um caráter cada vez mais global? Como é que se traz a abordagem interdisciplinar para a Faculdade?

AQ: Eu gostaria de acreditar que nós ainda não per‑demos a noção inicial da criação do ICBAS. Apesar de ser relativamente fácil que as grandes licenciaturas se separem umas das outras, eu acho que tudo o que se possa fazer para que essa separação não ocorra, e para que haja sempre comunicação entre as várias áreas, é muito positivo. Não é fácil que isto se verifique porque vocês têm de ter o mínimo de conhecimentos para poderem funcionar como profissionais, mas se 20 ou 25% do curso fosse projetado para que os alunos adquiram treino em áreas muito diferentes, isso seria muito benéfico.(...) O processo de Bolonha permite que vocês vão tirar créditos a outras faculdades, e eu acho que isso é muito útil, é mesmo uma aprendizagem de vida, porque o ser bom profissional não é só ter muita informação que se pode encontrar nos livros ou na internet. A informação, por si só, não é educação.

P: O Professor Nuno Grande escreveu que Abel Salazar não cabia em “chavetas sistematizantes”, que ele se considerava, neste capítulo, por isso, um “anarquista científico”. Talvez a máxima que o Professor Abel Salazar adaptou, “Quem só sabe Medicina nem Medicina Sabe.”, seja um espelho deste pensamento. Como é que os estudantes e as novas gerações podem procurar, por um lado, especializar ‑se mas, por outro, conseguir abordar a Ciência como um todo?

AQ: Eu acho que cada um tem de encontrar a sua trajetória. (...) Tudo aquilo que possa ser feito para estimular a curiosidade é positivo porque se vocês saírem de um treino académico sendo curiosos, vão conseguir aprender o que quiserem por vocês próprios.

Não é tanto aquilo que vos obrigam a saber, é aquilo que vocês querem vir a saber. Mas não há regras para se ensinar alguém a ser curioso. Talvez isso só se alcance com analogias: vocês têm de começar a fascinar ‑se com pessoas que são curiosas. (...) Eu acho que os professores mais séniors devem ensinar só aos primeiros anos, porque eles conseguem fazer a diferença. Vocês chegam depois de uma competição enorme para ver se têm as notas mais altas para entrarem no curso que querem. Não é propriamente muito motivante andar a “marrar” só para ter boas notas, só para saber vomitar tudo aquilo que permite ter as notas necessárias para escolher o curso que se quer. Isso é deprimente, apesar de realista. Por isso, eu acho que no início da Universidade vocês têm de ter contacto com pessoas que alarguem os vossos horizontes, para que percebam que as várias áreas do conhecimento não são estanques.

P: Espera, com este congresso, conseguir alertar para a necessidade urgente do trabalho em equipa na comunidade científica? Que outros objetivos/ideais espera cumprir com esta ini‑ciativa? Que ganhos advirão da sua realização?

AQ: Eu acho que os temas que escolhemos para o congresso ajudam precisamente as pessoas a perceber até que ponto é que a medicina, a bioengenharia e a veterinária têm coisas para aprender umas com as outras. (...) Abordar ‑se ‑ão temas como o uso e abuso dos recursos naturais, o envelhecimento e melhora‑mento humano e as questões de ética associadas ao conhecimento. (...) Acho que em todas estas áreas, na Medicina, na Bioengenharia, nas Ciências do Meio Aquático, na Bioquímica e na Medicina Veterinária, são questões muito atuais. O desafio é encontrar pessoas que, ao falarem de temas interdisciplinares, os possam ilustrar com exemplos específicos para que se perceba o que estamos a falar.

P: Sendo assim, recomenda vivamente a par‑ticipação no congresso?

AQ: Ah, óbvio! Claro que sim! Eu acho é que vocês deviam recomendar vivamente que os docentes fossem ao congresso.

A Corino Magazine quer, uma vez mais, agradecer ao Professor Alexandre Quintanilha pelo tempo que amavelmente nos disponibilizou, tornando possível a realização desta entrevista.

O AEICBAS Biomedical Congress é, igualmente, reco-mendado pela Corino Magazine. C

Vê o vídeo no site!

11A MAGAZINE DE ESTUDANTES DO ICBAS PARA ESTUDANTES DO ICBAS

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São mais de quarenta os anos que separam as duas experiências científicas que estão na base da atribuição, por parte da Assembleia

Nobel do Instituto Karolisnka, do Prémio Nobel da Medicina e Fisiologia de 2012 ao britânico John B. Gurdon (1933) e ao japonês Shinya Yamanaka (1962) por demonstrarem que é possível reverter células diferenciadas para um estado multipotente. Talvez ainda mais sejam as portas que poderão ser abertas, em inúmeras áreas das ciências da vida onde esta descoberta tem um efeito impulsionador.

Em 1962, juntamente com a sua equipa, John B. Gurdon transferiu o núcleo de uma célula intestinal de uma rã para um ovócito enucleado. Surpreenden‑temente, o ovócito acabou por se desenvolver, dando origem a um girino totalmente funcional. Começava, assim, uma mudança de paradigma, no qual uma célula, após atingir um certo grau de diferenciação, não conseguiria regressar a um estado pluripotente ou imaturo. Contudo, restava saber, e daí a persistência de muitos céticos, se uma célula diferenciada e intacta, com toda a sua maquinaria, seria capaz, depois de reprogramada, de reverter para um estado pluripo‑tente. A resposta – afirmativa – foi dada por Shinya Yamanaka (nascido, curiosamente, no mesmo ano em que Gurdon reportou o sucesso da sua experiência), em 2006, num processo aparentemente simples, em que transferiu determinados fatores de transcri‑ção para o núcleo de uma célula diferenciada – um fibroblasto de ratinho adulto – reprogramando ‑a ao ponto de a levar a reverter para um estado pluripo‑tente. Essas células, que tomaram a designação de células estaminais pluripotentes induzidas (induced pluripotent stem (iPS) cells), possuem a capacidade de originar células de todas as linhas germinativas. Os trabalhos de Gurdon e Yamanaka, permitiram não apenas refutar a ideia da irreversibilidade da diferenciação celular, como também enveredar por novas áreas de investigação e aplicações médicas, contemplando a junção de vários saberes, desde a bioquímica celular, passando pela fisiologia, pela histologia, pela genética médica, até à medicina regenerativa, humana e não só, entre outros.

Recorrendo às células estaminais pluripotentes indu‑zidas, por exemplo, será possível estudar as doenças genéticas. Em primeiro, promover a diferenciação, in vitro, das células ou tecidos implicados; de seguida, documentar o mecanismo patológico subjacente e a expressão celular da doença. Com o conhecimento adquirido, poderão ser lançadas bases para novos alvos terapêuticos, novos fármacos e atitudes terapêuticas ajustadas a cada doente.

Outro exemplo: a transdiferenciação, alavancada principalmente pela descoberta de Yamanaka, con‑siste, tal como o nome indica, na alteração do tipo de diferenciação de uma dada célula, sem a passagem por um estado pluripotente intermédio. Imagine ‑se a conversão de uma célula exócrina do pâncreas numa célula endócrina, com funções muito diferentes para o organismo. Imagine ‑se partir de um fibroblasto da derme e obter um neurónio, um cardiomiócito ou qualquer outra célula somática. A longo prazo, poderá corresponder a novas hipóteses de tratamento para doenças metabólicas, neurodegenerativas ou cardíacas. Ou uma forma efetiva de ultrapassar a rejeição de um enxerto, que poderia ser totalmente autólogo, com substituição celular a partir do mesmo indivíduo.

É um deslumbramento imaginar que tantas portas ainda estão por abrir. Cada prémio para a ciência é um reconhecimento dum trabalho feito, dum passo que se deu. E é também um constante apelo para que o futuro venha assumir o seu lugar no presente. C

Fábio Videira Santos

Um prémio para o futuro

Fora de Portas

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Page 13: Corino Mag Fev 2013

Isabel Marques é aluna

do 6º ano de Medicina do

ICBAS, que decidiu fazer

o 5º ano em São Paulo,

Brasil, na Faculdade de

Medicina da Universidade

de São Paulo (FMUSP).

Respondeu ‑nos a

algumas questões acerca

da sua experiência:

Entrevista Erasmus

O que te levou a estudar no estrangeiro?

“Por curiosidade, porque sempre tive uma enorme vontade de viajar e ainda não tive muitas oportunidades. Esta pareceu ‑me uma altura ideal! Brasil e sobretudo São Paulo foi por influência de uma amiga, do ICBAS, que adorou a experiência.”

O que achas do sistema de educação brasileiro a nível de ensino superior? Quais foram as principais diferenças que encontraste? Era aquilo que esperavas?

“A Universidade de São Paulo, é a mais antiga do Brasil e, a FMUSP completou em 2012, 100 anos, sendo uma instituição sólida considerada a mais respeitada na América Latina, encontrando ‑se entre as 150 melhores escolas médicas no ranking internacional. A formação é gratuita e os estudantes têm acesso a recursos que, para nós Portugueses, ainda são um sonho.

Rapidamente cito o laboratório de simuladores a que os estudantes têm acesso desde o 3º ano, as aulas de técnica cirúrgica com experimentação em animais, a criação de ambulatórios didáticos para os estudantes dos 5º e 6º anos de medicina, as ligas médicas nas quais os estudantes, após as suas actividades, já por si pesadas, faziam consultas supervisionadas por professores voluntários, em jeito de retribuição à sociedade, o curso de ATLS no 6º ano...

Havia sobretudo a grande certeza de que tudo estava preparado para receber o estudante de medicina, foi um privilégio ter um acompanhamento de tão alta qualidade nos estágios hospitalares. Posteriormente a FMUSP oferece formação de especialização médica em áreas tão interessantes quanto Gestão Hospitalar e tenta proporcionar a todos os seus internos um período de intercâmbio em instituições nos Estado Unidos.(…) Aprendi a valorizar o conhecimento nas suas diversas formas, é essa flexibilidade e informalidade que muitas vezes nos falta cá!”

Como é a atmosfera Erasmus em São Paulo?

“A minha atmosfera era óptima, era constituída sobretudo por europeus a estudar/trabalhar em São Paulo (...). Mas devo destacar que os alunos dos últimos anos de Medicina têm uma vida muito dura (…) são pessoas simpáticas mas que em geral não nos incluem nos seus ”rituais sociais”. O ambiente é muito diferente do ICBAS, há menos descontração. (…) Tive colegas excelentes que me deixam muitas saudades, mas o convívio com eles era sobretudo nas nossas belas 60 horas semanais no Hospital. Continuo a sonhar com os plantões de Pediatria, de Clínica Médica e sobretudo da técnica cirúrgica, onde a minha bela equipa sempre salvou o porquinho em cada cirurgia (…). A faculdade tinha algumas associações, no âmbito pedagógico, desportivo (esse muito forte e tradicional) e cultural (um coral e um Show), tinha um jornal (Bisturi) e um bar (PubMEd!!). Devo dizer que fiquei esmagada pela pompa e circunstância do Show de Medicina com roupas e cenários incríveis, num espetáculo de sátira política e académica, muito interessante. “

O resto da entrevista vai estar online!!

13A MAGAZINE DE ESTUDANTES DO ICBAS PARA ESTUDANTES DO ICBAS

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O Programa ERASMUS (EuRopean Community Action Scheme for the Mobility of University Students) foi criado pela União Europeia

em 1987, e compõe uma grande parte do EU Life‑long Learning Programme 2007‑2013. Este é um programa que visa apoiar o desenvolvimento de uma aprendizagem de qualidade ao longo da vida e ajudar os estados‑membro a desenvolver os seus próprios sistemas de educação e aprendizagem e, em 25 anos, quase 3 milhões de estudantes experimentaram algum tipo de mobilidade. Com um orçamento anual de mais de 450 milhões de euros, mais de 4 000 faculdades destribuidas em 33 países permitem que 230 000 estudantes se desloquem para uma faculdade pareceira onde desenvolvem os seus estudos por um período de 3 a 12 meses. Portugal, em apenas 25 anos, já recebeu 50 000 estudantes.

As mais‑valias do Programa ERASMUS são inques‑tionáveis e a possibilidade de estudar numa outra faculdade, tendo acesso a uma nova cultura, a uma nova língua e até uma nova rede de contactos é, hoje, uma realidade. No entanto, este programa permite um intercâmbio entre países que vivem actualmente situações económicas e financeiras díspares existindo por isso um programa de apoio financeiro para estu‑dantes que pretendam fazer este tipo de mobilidade. Os fundos sao distribuidos pelas faculdades, que fazem depois a gestão das bolsas a conceder consoante o

número de alunos que partem, o destino, e a duração do seu plano de estudos.

Na conturbada votação do Orçamento da UE para 2013, estava previsto um corte significativo na área da Educação e Pedagogia que arriscava conduzir a uma asfixia financeira. Fruto dum debate aceso no Parlamento Europeu, foram desbloqueados mais 90 milhões de euros já para o próximo ano. Este valor, associado ao facto de 70% dos fundos para o ano lectivo 2012‑13 terem já sido transferidos para as respectivas universidades, permite hoje que os estudantes respirem de alívio e vejam a sua mobilidade apoiada, tanto quanto possível.

Importa realçar que o Programa ERASMUS e o seu financiamento são entidades distintas. O programa per se nunca esteve em causa. Houve sim, um enorme debate acerca do seu financiamento, como houve acerca do financiamento de todo e qualquer programa de apoio da UE. O European Social Fund e o European Structural Fund precisam, segundo Alain Lamassoure, responsável pelo Budget Committee, de uma injecção de mais de 10 mil milhões de euros, e é este o cená‑rio em que o financiamente do Programa ERASMUS tem que ser debatido. Contando com o apoio de vozes como David Cameron, François Hollande e Angela Merkel, e sobretudo com provas dadas da mais‑valia da sua existência, o Programa ERASMUS deverá continuar a ser apoiado e incentivado, à luz daquilo que a realidade orçamental e social dos estados‑membros permitir e precisar. C

Pedro Correia de Miranda

Fim das Bolsas do Programa

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Aproximava‑se mais um verão, e urgia a vontade de fazer algo diferente: já tinha estado em várias missões, mas, este ano, queria que fosse um ano

diferente… Certamente, todos j’a sonhamos um dia ir para África, e eu não era diferente. Ajudar os mais pobres de entre os pobres, os que mais precisam de ajuda e querem ser ajudados, é nao so o sonho de qualquer um mas o dever de todos n’os. Assim, havia que passar das ideias ao actos e, ao contrário do que possa parecer, foi o passo mais simples de dar: Consegui o email de um padre, dedicado a um hospital na Guiné Bissau. Escrevi um testamento a explicar quem era e o que pretendia, com imensas dúvidas e perguntas. A resposta foi de uma simplicidade inesquecível: “Pedro, toda a ajuda é bem‑vinda. Traz energia e entusiasmo que é tudo o que precisas. Quando chegas?”. Seguiram‑se uns minutos no site da TAP, e uns dias a fazer uns recursos na faculdade, e estava em Bissau. A Guiné‑Bissau é um país especial: o fascínio da natureza bruta cruza‑se com as marcas coloniais portuguesas, e no meio de tanto sofrimento, é esmagadora a humildade do sorriso acolhedor de cada um. Não há electricidade, não há Serviço Nacional de Saúde, não há asfalto, não há Internet, não há bancos... mas há uma vontade incrível de crescer, aceitando a ajuda de quem mais não quer que dar o que tem. É uma tentação fácil perdermo‑nos na teia de coisas que há a fazer, e de nos sentirmos quase que esmagados por uma população quase que cruelmente esquecida, num país definitivamente esquecido. Mas a minha missão era muito específica: agarrado ao meu 4º ano de medicina, trazia na mala uma esperança enorme de ajudar no Hospital de Cumura. Cumura significa “terra do mal”, e de bom realmente pouco há. Aquilo que nos anos 50 começou por ser uma aldeia para leprosos, é hoje um complexo de edifícios, simples mas atarefados, junto a estrada que serpenteia através de uma selva fantasticamente verde, onde há um Hospital de Dia e uma Maternidade. Daqui, sai um caminho floresta adentro, até um Centro de Infecciologia, onde 3 pavilhões acolhem pessoas com SIDA, Tuberculose e Lepra. Este cantinho, a Terra do Mal, perdida no fim do mundo, iria ser a minha casa neste verão.

Voluntariado na Guiné

O choque inicial foi grande: a vontade de ajudar quase se afogou num mar de sofrimento onde, entregues a pouco mais que a sorte do destino, centenas de doentes lutam por consultas, vagas de internamento, receitas, ou uma última oportunidade de ver aqueles que lhes são queridos. Um médico formado em Cuba ‘e o rosto e destino de tanta esperança, constantemente desfeita. Três vezes por semana “passa visita” aos doentes, nos outros dois dias faz consulta externa. Discretamente, como pano de fundo, estão doentes com SIDA e Tuberculose a fazer tratamento em ambulatório. Escondido no fundo dum dos pavilhões, um Raio X. Claro que só trabalha quando o gerador lhe dá autonomia, e claro que não tem mãos a medir. Mas o técnico é o exemplo máximo do que, citando S. Francisco de Assis, é exercer medicina no fim do Mundo: “começa‑se por fazer o que é necessário, depois o que é possível, e de repente estaremos a fazer o impossível”.A medicina exercida na Guiné é o auge do “olho clínico”. Pouco mais temos ao nosso dispor do que esta vulgar‑mente desvalorizada arma. É absolutamente irrelevante saber imensa microbiologia ou radiologia, se tudo o que o laboratório nos diz é “muitos fungos” ou “algumas bactérias” e o único Raio X num raio de infindáveis qui‑lómetros não consegue responder a mais que uma ínfima parte das solicitações. Em África, ser médico é saber estar, ver e ouvir. E o alcance destas capacidades é imensurável. U�m clínico em África aprende a ouvir uma Tuberculose, a ver uma anemia, ou a palpar e sentir um abdómen agudo. E, mais, o que fazer depois de diagnosticar? De que serve (diariamente) diagnosticar hemoglobinas de dois, três ou quatro, se o doente não tem dinheiro para uma transfusão? De que serve descobrir uma Tuberculose se não tivermos acesso fármacos? De que serve encontrar um doente com indicações cirúrgicas, se não há cirurgiões?Não ter o “mínimo indispensável” pode levar a dois cenários possíveis: à frustração de quem, sem esperança, desiste; ou à criatividade de quem decide que “mínimo” é um conceito inexistente. É preciso saber fazer tudo, com nada, e assim “fazer o impossível”. Porque na Guiné salvam‑se doentes que aparecem na consulta com tensões a 280mmHg, que estão internados e fazem um EAP a meio da noite que só no dia seguinte é visto, que têm 2.0 de Hemoglobina ou 15 de glicemia quando nos chegam às mãos... E são estes os doentes, são estes os milagres, que nos dão ânimo para, todos os dias, fazer mais e melhor. São estes os milagres que, na Guiné Bissau e em tantos outros sítios, são a realidade de quem não mais faz do que dar tudo o que tem.

Pedro Correia de Miranda

15A MAGAZINE DE ESTUDANTES DO ICBAS PARA ESTUDANTES DO ICBAS

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O ano de 2012 foi um ano que se revestiu de uma forte discussão em torno dos estudantes de Medicina e do seu futuro. As diferentes áreas

relacionadas com o internato médico e o seu acesso, a formação dos estudantes de Medicina e o próprio número de lugares disponíveis na formação pós ‑graduada estiveram em cima da mesa e foram alvo de um olhar atento de todos nós – motivaram, inclusivamente, os estudantes de Medicina a fazerem ‑se ouvir,, no dia 31 de Maio, junto ao Ministério da Saúde. No entanto, muitas questões continuam a pender em todos nós. Afinal, que alterações podem vir a acontecer num futuro próximo?

Em 2011, o Ministério da Saúde criou um grupo de tra‑balho com o objetivo de fazer a Revisão do Regime do Internato Médico (RIM). Apesar de não ter sido incluída como membro do grupo inicialmente, a ANEM conseguiu assegurar a presença dos estudantes de Medicina como membro observador. No final dos seus trabalhos, este grupo propôs uma série de recomendações ao Ministério da Saúde – sumariamente:

1. que o Numerus Clausus nas escolas médicas fosse diminuído em ⅓;

2. que o concurso especial de acesso ao curso de medi‑cina para titulares do grau de licenciado fosse extinto;

3. a extinção do concurso B e a criação de um concurso único de acesso;

4. que a capacidade formativa do SNS fosse otimizada e avaliada até ao seu máximo, de forma a ser possível acomodar todos os candidatos ao internato médico;

5. que o ano comum fosse extinto, tendencialmente, a partir de 2015;

6. que a Prova Nacional de Seriação (“Harrison’s”) pas‑sasse a estabelecer ‑se como uma prova de acesso, de caráter avaliativo, com nota mínima e foco nas patologias e abordagens mais frequentes, em moldes semelhantes aos do NBME;

7. a inclusão da nota final de curso, ponderada a 25%, mas harmonizada entre as diferentes escolas médicas;

8. que a autorização para o exercício autónomo da medicina passe a ser concedida após 1 ano de prática clínica tutelada, entre outras recomendações que não implicam tão diretamente os estudantes de Medicina.

A maioria de nós coloca atualmente a questão: “e agora?” As recomendações produzidas pelo grupo foram entre‑gues ao Ministério cabendo agora, à tutela, tomar as decisões acerca dos diferentes pontos apresentados e

estabelecer o contato com os diferentes players envol‑vidos no sentido de atingir a melhor solução.

Relativamente ao modelo da nova prova, decidiu ‑se pela criação de um novo grupo de trabalho, com mem‑bros designados pelas Secretarias de estado de ensino superior e da saúde, ordem dos médicos, ACSS e pelas Universidades. A ANEM já solicitou a sua inclusão neste grupo, pois acreditamos que, como principais interes‑sados num modelo de prova o mais justo e equilibrado possível, é impensavel não contar com o contributo dos estudantes.

Avizinha ‑se ainda, a passos cada vez mais largos, a hipótese de nem todos os estudantes de Medicina terem acesso a formação específica: em 2013, sairão das facul‑dades de Medicina cerca de 1800 recém ‑licenciados, para um sistema de internato que tem as suas capacidades máximas estimadas em 1500. O que irá acontecer a todos aqueles que não puderem aceder à formação específica é hoje uma incógnita e é um receio que assombra todos os estudantes de Medicina – e hoje, mais do que nunca, é essencial que os estudantes de medicina estejam informados e que tomem decisões conscientes para poder vincar a sua posição e a sua opinião.

É para isso que a ANEM precisa do envolvimento de todos e também por isso ,que a ANEM foi um dia criada. A ANEM é constituída por todos aqueles que acreditam que os estudantes têm de ser mais perante a sociedade, perante a sua formação e perante o futuro do país. É por isso que, diariamente, centenas de estudantes trabalham nas associações e núcleos de estudantes, representados pela ANEM e na Direcção da ANEM.

De ti, e de todos os estudantes de Medicina, precisamos do máximo envolvimento e da máxima exigência. Envolve ‑te , informa ‑te, participa, dá a tua opinião. A ANEM é o lugar onde a podes e deves ter. Procura a tua associação local (a AEICBAS) e os nossos meios de comunicação e decisão (Assembleias Gerais, website, e ‑mail e redes sociais) para te colocares a par de todos os desenvolvimentos e para seres parte ativa neles. Contamos contigo. C

Francisco MourãoPresidente da Direção da ANEM

Estado de Medicina

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Tempos de mudança e de adaptação instalaram‑se sobre a nova clínica UP Vet, agora localizada no novo complexo do ICBAS/FFUP. A clínica,

com todo o seu staff, pelejou um longo caminho desde as suas primeiras instalações num antigo laborató‑rio de química que houvera sido adaptado à prática veterinária, quando criada em 1998 com o intuito de proporcionar aos alunos do mestrado integrado em medicina veterinária um ensino que vinca na componente prática.

Um dia na nova clínica, mostra‑se ser muito atare‑fado. Embora as consultas mais frequentes sejam de rotina ou de vacinações, já passaram pelas mãos dos nossos médicos veterinários alguns casos raros e até caricatos! Desde um carcinoma prostático visível num gato, até a um caso relativo a um animal com as pupilas dilatas e com um ar alheio devido à ingestão de marijuana. O horário da manhã está reservado para cirurgias, as mais frequentes sendo ovariosterectomias e orquiectomias, e algumas consultas, de modo a coincidir com o horário dos estudantes do ICBAS para que estes possam assistir às mesmas; os tratamentos e exames passam então para a parte da tarde.

O ar de admiração e satisfação relativamente ao novo ambiente é notável nos proprietários dos nossos amigos de quatro patas, já tendo sido caso de pedido de visita às instalações. O espaço, a higiene, as incomparáveis condições de trabalho devido ao maior número de consultórios e o acesso a novo material específico para veterinária são o mais salientado pelos funcionários da clínica. Em termos tecnológicos, a clínica tem agora um equipamento mais moderno, nomeadamente uma máquina TAC, que facilita a nível de diagnóstico e tratamento. Benéfico para o bem estar no pós‑operatório é também a nova unidade de

vigilância intensiva, que permite um melhor recobro aos animais devido ao constante controlo

No secretariado o contacto com o cliente é agora mais recorrente. Num ambiente familiar, deparamo‑nos com estagiários, alunos no ciclo clínico, veterinários e animais, variando de cães até exóticos. Contudo, nem tudo são boas notícias... Sente‑se que se per‑deu o contacto com o resto da faculdade, que estava habituada a ter cães a passar constantemente pelos corredores e por vezes até a marcar território!

A clínica tem recebido muitos pedidos para estágios, nomeadamente por parte de alunos do Brasil, que se têm mostrado satisfeitos com a adaptação. Em relação aos alunos do ICBAS, sentem‑se bem preparados para um futuro autónomo, opinião apoiada pelos docentes, que afirmam que o curso oferece bases sólidas.

A casuísta da cínica tem vindo a aumentar, coerente com o seu nível de crescimento e divulgação, motivo pelo qual, muito brevemente esta clínica UP vet será um hospital veterinário aberto 24h inclusive aos fins‑de‑semana. C

Mariana Cubal Berta Valente

Clínica UP Vet

17A MAGAZINE DE ESTUDANTES DO ICBAS PARA ESTUDANTES DO ICBAS

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Ao longo dos últimos séculos a utilização de animais em trabalhos experimentais teve uma grande importância na investigação científica,

não só pelo contributo que têm dado no conheci‑mento dos mecanismos internos reguladores destes organismos assim como no desenvolvimento e aper‑feiçoamento de métodos de prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças sem seres humanos ou noutros animais. Apesar de, durante muito tempo, o bem ‑estar destes seres vivos ter sido ignorado ou colocado em segundo plano, a evolução do nosso conhecimento sobre estes, nomeadamente a sua capacidade de sentirem e manifestarem dor, sofrimento, angústia ou lesões duradouras levaram a um crescimento das questões éticas relacionadas com o uso de animais pelo Homem, tanto pela sociedade como pela própria comunidade científica, e que estão presente em toda a metodologia do processo experimental: A realização da experiência científica com animais é justificável? Se sim, qual será o modelo mais adequado para a pesquisa? Qual o número mínimo de animais neces‑sário para validar o trabalho? Como deverá ser o seu transporte e alojamento? Será necessário o uso de anestésicos ou analgésicos? Gerou ‑se então a neces‑sidade de criar um regulamento de defendesse uma postura ética perante o desenvolvimento da ciência e a adoção de medidas que diminuam o sofrimento dos animais e favoreçam o seu bem ‑estar.

O desenvolvimento científico não pode servir de argu‑mento para o uso indiscriminado ou desrespeito para com os animais. Foi com base nesta premissa que a União Europeia adotou, em 1986, uma Diretiva sobre a “proteção dos animais usados em experiências e outros propósitos científicos”. Nela podemos encontrar um conjunto de normas essenciais que devem ser aplicadas a todos os processos científicos de modo a assegurarem o bem ‑estar dos animais utilizados. Uma das principais normas é a Regra dos 3 R’s: Reduce, Refine e Replace (ou em português: redução, refina‑mento e substituição). Ou seja, estes três princípios básicos definem que deve haver uma Redução do número de animais utilizados ao mínimo, um Refi‑namento nas técnicas usadas de maneira a garantir o mínimo de sofrimento possível pelo animal e uma Substituição do seu uso por métodos alternativos. Em

Portugal foi também criado um Decreto ‑Lei, em 1992 sobre as experiências em animais de laboratório que reforça a Diretiva Europeia sobre o tema já existente.

Apesar do controlo relativamente “apertado” dentro dos países da União Europeia existe ainda muita ignorância e desrespeito por estes seres vivos em muitos países, agravado pela falta de fiscalização ou até mesmo legislação de proteção aos seus direitos. Mesmo assim existem mais de 50 associações espalhadas por todo o mundo, como a Liga Portuguesa dos Direitos do Animal (LPDA) ou a People for the Ethical Treatment of Animals (PETA), que se dedicam ao combate diário contra as injustiças praticadas nos animais.

Mas nem tudo são más notícias: os métodos de pesquisa científica sofreram uma evolução tão grande que estão a tornar cada vez mais obsoleto o uso de animais em experiências laboratoriais. Atualmente estima ‑se que cerca de noventa por cento da inves‑tigação médica não necessite obrigatoriamente do envolvimento destes. Existe um conjunto de alterna‑tivas como por exemplo o crescimento de culturas celulares, engenharia de tecidos, simulações com programas computacionais ou até o uso de outros organismos vivos, como fungos e bactérias no estudo de processos biológicos humanos. Assim, a criação de estímulos ao uso de métodos de investigação “não ‑animal” é fundamental, bem como incentivos à descoberta de novos métodos que sejam cada vez mais avançados, fiáveis e eficazes. C

Mariana Pereira

Direitos dos Animais na Experimentação Científica

18 N. 03-Fevere iro 2013

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dos estudantes de Bioquímica dentro e fora das suas áreas de estudos e também, mas não menos impor‑tante, estimular o interesse de toda a comunidade académica e público em geral em questões relacio‑nadas com a Bioquímica. O NEBQUP tem organizado diversos eventos, desde a tertúlia “Frankenstein – mito ou realidade?”, à conferência “As três vertentes da Bioquímica”, passando por um debate sobre Orga‑nismos Geneticamente Modificados (OGMs), em conjunto com a SdDUP (Sociedade de Debates da Universidade do Porto). O NEBQUP esteve também presente na tomada de posse dos novos corpos gerentes da Associação Nacional de Estudantes de Bioquímica (AN(E)BIOQ), dos quais integram dois membros do NEBQUP. Estas atividades foram desem‑penhadas com sucesso, conseguindo envolver toda a comunidade universitária. No próximo semestre o NEBQUP irá desenvolver o seu trabalho no sentido de cumprir os seus objetivos, de forma a promover e dinamizar a Bioquímica na esfera académica e na sociedade. C

Mariana Pereira

O Núcleo de Estudantes de Bioquímica da Universidade do Porto (NEBQUP), que iniciou a sua formação no final do ano letivo passado, tem vindo a desenvolver atividades nas mais diversas áreas, procurando atingir os objetivos propostos pelo Núcleo, dos quais se destacam: a representação dos alunos dos primeiro e segundo ciclos em Bioquímica da Universidade do Porto entre as duas Unidades Orgânicas – Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) e Ins‑tituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar (ICBAS), onde se inserem os programas curriculares dos ciclos de estudos – bem como, o alargamento da formação

Núcleo de Estudantes de Bioquímica da Universidade do Porto

O XXII ENEM foi uma actividade da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM) organizada, nesta edição, em colaboração com Associação de Estudantes do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, da Universidade do Porto (AEICBAS‑UP), que tem como principais objectivos: a) Debater temas relacionados com a saúde e o ensino médico; b) Estimular o convívio saudável entre os estudantes de Medicina de todo o país; c) Ser um espaço de reflexão conjunta e partilha de experiências comuns.

Nesta edição, o ENEM realizou‑se de 22 a 25 de Novembro de 2012 na Land’s Hause, um parque de bungalows na região de Leiria.

Dada a proximidade da data com o “apocalipse”, em Dezembro de 2012, assunto em voga na cultura global, decidimos dedicar o evento e, especificamente, o programa científico a este mesmo tema, mais con‑cretamente no que fazer em caso de emergência/catástrofe, desde os primeiros socorros a outras medidas mais invasivas.

Para além das palestras do programa científico, durante o dia decorreram diversas actividades: futebol, tiro ao arco, laser tag, matraquilhos humanos, workshop de malabarismo, workshop de beatbox, entre outras.

À noite as famosas festas enémicas, com 3 temas diferentes. Na primeira noite a festa ‘All In’ onde quem encontrasse a sua ‘carta‑metade’ tinha direito a uma bebida grátis. Na noite 2, como seria de esperar num evento organizado pela AEICBAS, surge a Flower Power no Clubin’, nas Piscinas Atlânticas de São Pedro de Moel. Na derradeira noite a ‘White T‑shirt Party’ onde cada pessoa acabou com uma t‑shirt muito personalizada.

Para finalizar, um agradecimento especial a todos os participantes que se deslocaram a este evento e que fizeram jus ao verdadeiro ‘espirito enémico’. Salientando‑se os alunos do ICBAS que tinham feito o exame de especialidade no dia anterior e que mesmo assim marcaram presença, tal como os BioTouros que mais uma vez se �destacaram pela boa‑disposição.

Pedro Von HafeComissão Organizadora

Apocalipse ENEM

19A MAGAZINE DE ESTUDANTES DO ICBAS PARA ESTUDANTES DO ICBAS

Page 20: Corino Mag Fev 2013

A adaptação a Bruxelas, uma das cidades mais internacionais da Europa, num dos centros onde tudo acontece, foi, ao fim de 7 meses, mais fácil do que imaginava. Apesar do trabalho

ser muito e pouco visível, das viagens serem cansativas, sente ‑se motivada pelo que está a fazer e considera ‑o “um desafio extra‑ordinário”. As circunstâncias trágicas que a levaram ao Parlamento Europeu são bem conhecidas de todos: a morte do seu “camarada e amigo”, o eurodeputado Miguel Portas. A Professora assume que ocupou este lugar “com um misto de profunda tristeza e orgulho” e que “foi uma decisão difícil de tomar, mudar de vida de um dia para o outro”. No entanto, mantém as saudades do trabalho que foi desenvolvendo ao longo dos anos no ICBAS, das aulas e do contacto com os alunos. E ainda que a um ritmo diferente do desses dias, tem mesmo conseguido articular toda essa experiência com o trabalho como eurodeputada, continu‑ando envolvida em alguns projetos de investigação.

Para além disso, a partir de janeiro, a Professora vai trabalhar na proposta de revisão da legislação europeia sobre ensaios clínicos e na nova diretiva sobre diagnósticos in vitro, afirmando que “Apesar de ser muito exigente, este trabalho vem de algum modo em sequência natural da minha formação e investigação”

A Professora Alda de Sousa é eurodeputada pelo Bloco de Esquerda, que integra o Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica, herdando de Miguel Portas a responsabilidade de ser coordenadora na Comissão de Orçamentos deste grupo político. Por esta Comissão passam assuntos muito importantes em termos de políticas europeias, como o Orçamento Anual da União ou o Quadro Financeiro Plurianual. É ainda membro da Comissão de Ambiente, Saúde Pública e Segurança Alimentar.

A Professora esteve recentemente na faixa de Gaza, logo a seguir ao cessar ‑fogo, no âmbito do seu trabalho no Parlamento Europeu – “uma experiência intensa, forte, inesquecível”.

Madalena Cabral Ferreira

Professora Alda de Sousado ICBAS para Bruxelas

“…saudades do

trabalho que foi

desenvolvendo ao longo

dos anos no ICBAS”

Reportagem

A Professora Alda de Sousa

é regente de cadeiras

como Genética Básica,

Epidemiologia Genética e

bem conhecida dos alunos

dos vários cursos desde

os seus primeiros anos na

nossa faculdade. Em maio

do último ano, deixou as

suas atividades habituais de

professora e investigadora

no ICBAS, passando a ser

deputada no Parlamento

Europeu. A Corino quis saber

como está a correr o seu

trabalho e como foi esta

transição.

20 N. 03-Fevere iro 2013

Page 21: Corino Mag Fev 2013

XIX Torneio Internacional Prof. Doutor Nuno GrandePela 19ª vez consecutiva, a AEICBAS‑UP irá organizar o Torneio Internacional Prof. Doutor Nuno Grande, nos dias 1, 2 e 3 de Março de 2013, em Aveiro.O Torneio Internacional Prof. Doutor Nuno Grande é um torneio desportivo que conta com a participação de faculdades nacionais e internacionais, privilegiando o convívio e o intercâmbio cultural, numa sincera homenagem a uma figura ímpar do universo académico e social português que continua a merecer todo o nosso respeito e admiração. À semelhança das anteriores edições, esperamos para a XVIII edição uma adesão na ordem dos 100 participantes, contando com um torneio de futsal masculino e outro de voleibol misto.Alem do torneio, os participantes poderão contar com um programa social, promovendo momentos de convívio expansivo em ambiente adequado à interacção social entre Faculdades e com o jantar de gala, no qual, alem da entrega de premios, se realizara uma sincera homenagem ao Prof. doutor Nuno Grande.

Departamento Desportivo

Actividades AEICBAS

Nos dias 30 e 31 de Outubro, o Departamento de Veterinária teve o orgulho de apresentar aos

estudantes do ICBAS o primeiro ciclo de palestras do ano intitulado “Estágio, e agora?” que ofere‑ceu uma esclarecedora e dinâmica apresentação do Regulamento de Estágio pela Professora Ana Lúcia Luís como representante da Comissão de Estágio. Contou com a presença de profissionais recém‑licenciados que partilharam connosco a sua experiência como estagiários, com o objetivo de aconselhar e apoiar os participantes em dúvidas frequentes. Tivemos o privilégio da contribuição da Professora Carla Mendonça na área de Bovinos, do Dr. Ângelo Mendes, médico veterinário do Hospital de Referência Montenegro, a representar a Clínica de Pequenos, a Dra. Ana Moreira, que estagiou nos Estados Unidos, a representar a Clínica de Equinos, a Dra. Francisca Gonçalves, que estagiou no Brasil e é agora membro da equipa veterinária do Centro de Exóticos do Porto, a Dr. Helena Braga a representar a Inspecção e finalmente a Dra. Vanessa Silva que falou da área da Investigação.

A palestra de Quarta‑feira não foi menos profícua já que contou com os relatos do Professor Pablo Payo na área cada vez mais esgotada dos Pequenos Animais, do Dr. Rodrigo Riba de Ave numa aproxima‑ção bastante real à Clínica de Equinos, do Professor Mira Fonseca no futuro do sector leiteiro, da Dra. Marta Castelejo na crescente Clínica de Exóticos, da Dra. Salomé Faria representante da Royal Canin na área de Nutrição, da Dra. Adélia Pereira que nos esclareceu acerca do papel do Veterinário Municipal e da Professora Margarida Araújo na aliciante área da Investigação Científica tão valorizada no nosso Instituto. Estes relatos completos do que é o dia‑a‑dia nas várias saídas possíveis do nosso curso e os vários conselhos contribuíram para uma visão menos utópica e mais realística do mercado no qual nós brevemente entraremos. Os cerca de 133 participantes saíram da palestra não só mais preparados para o 6º ano, a difícil e determinante etapa do curso que é o Estágio, como também para a decisão da área que querem seguir.

Departamento de Med. Veterinária

Ciclo de Palestras: “Estágio, e agora?”

Page 22: Corino Mag Fev 2013

Em Outubro de 2012, a AEICBAS organizou a segunda edição das Jornadas de Interven‑

ção Médica. O SOS Vida surge como um meio de complementar a formação médica do actual plano de estudos do Mestrado Integrado em Medicina, o que constitui um dos principais objetivos do Depar‑tamento de Medicina. Considera‑mos que saber como agir e reagir perante uma situação de emer‑gência consituti uma competência indispensável em qualquer Médico. Por isto mesmo, o estudante de Medicina encara esta capacidade como um dos pilares fundamentais da sua formação.

Neste contexto, a AEICBAS pro‑porcionou aos estudantes, entre os dias 20 e 27 de Outubro, um Curso de Suporte Básico de Vida e vários workshops, nomeadamente “Injectáveis”, “Gessos e Fracturas”, “Técnicas Básicas de Pequena Cirurgia” e “Médicos sem Bata”.

O Curso de Suporte Básico de Vida pretendeu preparar os estudantes para a abordagem de uma vítima em paragem cárdio‑respiratória. Num total de 5 horas de formação, os participantes assisti‑ram a uma sessão teórica onde os seus conheci‑

mentos básicos foram reforçados, e uma sessão prática onde a aplicação destes conhecimentos foi treinada, garantindo assim uma experiência essen‑cial na sua formação médica. O Workshop de

Injectáveis surgiu com o objectivo de proporcionar aos estudantes a oportunidade de praticar a admi‑nistração de injectáveis subcutâ‑neos e intra‑musculares, assim como a punção venosa. No Workshop de Técnicas Básicas de Pequena Cirurgia foram demons‑tradas as técnicas básicas de sutura, demonstrando aos estu‑dantes que fios escolher e que tipos de sutura aplicar consoante o contexto clínico. No Workshop de Gessos e Fracturas, os estu‑dantes exploraram as fracutras mais frequentemente encontradas

e aprenderam medidas básicas de imobilização, tendo ainda a oportunidade de conhecer e praticar a técnica de aplicação de gessos. Finalmente, o Workshop Médicos sem Bata, uma novidade desta edição, pretendeu introduzir a emergência em contexto pré‑hospitalar, demonstrando a impor‑tância de uma abordagem médica adequada quando os recursos são escassos. C

Departamento de Medicina

SOS VIDA – II Jornadas de Intervenção Médica

Sistema de TutoresNa procura de tomar como exemplo modelos de excelência de outras instituições de ensino superior de todo o mundo, o DEP irá criar um sistema de tutores verdadeiramente funcional, quer para o MIM, quer para o MIMV. Este sistema assenta na colaboração entre os estu‑dantes recentemente integrados na componente clínica e os estudantes dos anos mais avançados, pretendendo que sejam abordadas temáticas como o exame físico, diagnósticos diferenciais, planeamento cuidado dos meios complementares de diagnóstico e terapêutica, complementando os conteúdos lec‑cionados nas aulas.

Este modelo será aplicado nas unidades curriculares de Semiologia Médica II do MIM e em Semiologia Médica de Espécies Pecuárias e Equinos, do 3º ano de MIMV.

Departamento de EP

Com vista a aproximar os estudantes do ICBAS à nossa AE, o DEP criou o Horário de Atendimento ao Aluno. Se tens alguma dúvida ou reclamação em relação ao funcionamento das Unidades Curriculares ou de qualquer outro aspecto da vida académica, contacta‑nos através de [email protected], e nós encontramo‑nos contigo para te ajudar! Faremos tudo o possível para resolver as tuas questões o mais rápido possível!Ho

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Page 23: Corino Mag Fev 2013

Sabiam que todos os anos, durante o mês de Agosto, o ICBAS e o Centro Hospitalar do Porto recebem cerca

de 30 estudantes vindos de diversas partes do mundo? É verdade! Vêm fazer um programa de intercâmbio clí‑nico no Centro Hospitalar do Porto, numa determinada especialidade, durante um mês!

Em Agosto, a AEICBAS recebeu estudantes de diversos países (Itália, Letónia, Eslováquia, Suécia, Finlândia, Israel, Japão e Malta), que ficaram instalados na Residência Alberto Amaral. Foi agendado, pelo Departamento de Ciências e Relações Internacionais da AEICBAS e os estudantes que participaram como ‘’contact person”, um programa social para os estudantes estrangeiros.

O programa social começou com uma Sessão de Boas Vindas, que contou com a presença de representantes da Associação de Estudantes, a Professora Corália Vicente, representante do Departamento Pedagógico do ICBAS, e o Doutor António Marques como representante da Direção do CHP; posteriormente foi realizada uma visita a Vila Nova de Gaia e às Caves do Vinho do Porto; organizadas viagens a Coimbra, Guimarães, Aveiro, Braga e Póvoa de Varzim, para que os nossos incomings ficassem a conhecer um pouquinho mais do nosso País. Além das típicas noites no Piolho, Galerias de Paris e Ribeira, os jantares em que a francesinha era o prato mais requi‑sitado foram igualmente frequentes. Várias foram as

Oceano de experiênciasNo passado dia dezasseis de Novembro, dia do mar,

decorreu, nas novas instalações do ICBAS‑FFUP, mais uma edição do Oceano de experiências, actividade especialmente direccionada aos alunos da licenciatura de Ciências do Meio Aquático que tem como principal objectivo despertar o seu interesse para o mundo do trabalho, dando‑lhes uma perspectiva real do que pode ser o seu futuro, abrindo novos horizontes, dando esperança e ânimo a todos aqueles que não têm a certeza que este é o curso certo.

Nesta edição pudemos contar com a presença de Pedro Fontes, João Falcato e Luís Conceição, todos ex‑alunos de CMA, mas em diferentes faixas etárias. O primeiro terminou a sua licenciatura em 2008, com todos os percalços associados à mudança para Bolonha, tendo conseguido emprego na aquacultura pelo qual é agora

responsável logo após ter terminado a licenciatura. João Falcato acabou CMA em 1993, tendo estagiado fora do país e entrado para o Oceanário de Lisboa no ano da sua abertura, aquando da expo98; devido à sua paixão por aquários e dedicação à empresa é, actualmente, administrador geral do mesmo, continuando apaixonado pelo que faz. Luís Conceição licenciou‑se em 1989 e saiu do país com o intuito de enriquecer a sua formação, com mestrado, doutoramento e pós‑graduações, voltando para Portugal para ingressar em grupos de investigação do CCMAR, no Algarve; é hoje co‑fundador da Sparos.

O sucesso da actividade deveu‑se à disponibilidade, prontidão e simpatia de todos os oradores, mas sobre‑tudo à grande adesão de estudantes que têm feito notar a sua presença em todos os eventos, aos quais não podemos deixar de agradecer.

Departamento de CMA

Intercâmbios

tardes passadas nas praias de Matosinhos, onde alguns deles se tornaram praticantes de surf.

O programa de Intercâmbios Clínicos ou Professional Exchange é um projeto do SCOPE (Standing Committee on Professional Exchange), Departamento da IFMSA (International Federation of Medical Students Asso‑ciations) que trabalha durante todo o ano para que os estudantes de todas as Associações de Estudantes de Medicina possam ter a oportunidade de realizar um intercâmbio noutro país.

Quanto às vagas para intercâmbio no Verão de 2013, já foi realizada uma seleção. No entanto, se quiseres conhecer diferentes culturas, podes inscrever‑te como contact person, e ajuda‑nos a receber estes estudantes. Para além de te divertires nos programas sociais, e prestares o teu contributo nesta atividade da AEICBAS, poderás usufruir de pontos extra na seriação do próximo ano letivo. Fica atento!

Qualquer duvida: [email protected]

Departamento de CRI

Page 24: Corino Mag Fev 2013

O CICBAS (Coral do Instituto de Ciên‑

cias Biomédicas Abel Salazar) voltou ao

Museu Nacional de Soares dos Reis para

a terceira edição do Concerto Solidário.

Criado em Outubro de 2000, o S.O.T.A.O. (Socie‑dade Onírica de Teatro Amador Orgânico) é

o grupo de teatro do ICBAS que reúne os alunos das diversas áreas universitárias para, através da expressão dramática, tornar a vivência universitária em muito mais do que aquisição de competências exclusivamente profissionais. Permite aos alunos explorar o seu lado artístico e criativo, bem como aperfeiçoar as técnicas de comunicação, num ambiente que enriquece social e culturalmente o conjunto.

O percurso dramatúrgico do S.O.T.A.O é extenso, incluindo peças como “Um Filho (... ou porque é que a galinha atravessou a estrada... )”, “Universo e Dadá”, “Canções de Bílitis” e o “Crime da Aldeia Velha” tendo sido este apresentado, em 2007, no 1º Festival Internacional de Teatro Universitário em Benevento, Itália. Em 2009, com a peça “Isto Não É”, o grupo participou no FATAL – Festival Anual de Teatro Académico de Lisboa – como grupo repre‑sentante da Universidade do Porto. Em 2010, com o apoio da fundação Calouste Gulbenkian, o S.O.T.A.O. alarga horizontes representando Portugal no festival “TeatraInyKoufar” na Bielorrúsia, celebrando também os 10 anos de representação.

Em 2010 o S.O.T.A.O. iniciou a sua parceria com a encenadora Sandra Ribeiro, tendo realizado a peça “O Clube dos Pirilampos” de Luísa Fidalgo que levou à Bielorrússia no festival “TeatraInyKoufar” com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian. Em 2011 realizou “Lisístrata” de Aristófanes e em 2012 levou aos palcos portugueses “Sonho de Uma Noite de Verão” de Shakespear. C

Na tarde de 9 de Dezembro, três coros da Univer‑sidade do Porto uniram ‑se para cantar, aliados

a um público que encheu a sala contribuindo numa recolha de donativos em favor da Cáritas Diocesana do Porto. Completando a vertente solidária do espe‑táculo, estiveram presentes na plateia crianças e idosos beneficiários dos programas da Associação de Voluntariado Universitário, nomeadamente o VO.U Crescer e o VO.U Acompanhar.

Ao longo da tarde, o Coro Clássico do Orfeão Uni‑versitário do Porto, o eCOROmia e, finalmente, o CICBAS, apresentaram repertórios dedicados à quadra natalícia. O CICBAS apresentou ainda alguns temas integrados no seu mais recente repertório dos anos 70, 80 e 90, como “Beauty and the Beast” e um tributo aos Queen.

O Coral de Biomédicas promete desde já a conti‑nuação deste projeto em 2013, mantendo os obje‑tivos iniciais de promoção da música coral no seio da Universidade do Porto, contribuindo com a música para as ações desenvolvidas na cidade por Insti‑tuições de Solidariedade Social. C

Concerto Solidário

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24 N. 03-Fevere iro 2013

Page 25: Corino Mag Fev 2013

Dia 30 de setembro. Mais um ano que começa para a Tuna Acadé‑

mica de Biomédicas. É este o dia em que festejamos o nosso aniversário e em que, por tradição, há a passagem de funções da direção anterior para a que é escolhida nesse dia. Este ano foi a comemoração do nosso 9º aniversá‑rio e, apesar de este ser o dia em que oficialmente a tuna inicia o novo ano, o trabalho começa sempre muito antes, no primeiro dia de aulas da nossa faculdade.

Ainda com o embalo da digressão de verão e com a vontade de voltar às noites de música e companheirismo, os ensaios começaram imediatamente e os preparativos para receber os novos estudantes do ICBAS arrancaram a todo o gás.

Durante a semana de matrículas, fez ‑se a já habitual divulgação do nosso grupo académico aos mais recentes alunos e, na semana seguinte, no âmbito da semana de recepção ao caloiro, atu‑ámos, em conjunto com os restantes grupos, para estes novos elementos de biomédicas, numa atuação que manteve

Tudo começou no dia 1 de Agosto de 2012, dia no qual chegou à nossa

caixa de e ‑mail o convite da Tuna Com Elas – Tuna Feminina da Associação Académica da Universidade dos Açores – para a nona edição do seu festival! A TFB ficou em êxtase com o convite e tratou de todos os preparativos para invadir terras açorianas, entre os dias 23 e 25 de Novembro de 2012, com muita música e animação!

A nossa viagem estava marcada para dia 22, no entanto tivemos um pequeno percalço e devido ao mau tempo fica‑mos por cá mais uma noite…alojadas no Ipanema Park Hotel! Uma noite em tuna num hotel 5*… Indiscritível! Tudo cortesia da SATA!

Quando finalmente chegamos aos Açores fomos recebidas em grande, pelos melhores guias do mundo, posso assegurar! O Vasco, o Rui e o Manel, membros da TAUA – Tuna Académica da Universidade dos Açores – fizeram os possíveis e os impossíveis para tornar a nossa visita a S. Miguel simplesmente espetacular. Deixamos as malas no nosso

lar temporário, a pousada da juventude de Ponta Delgada, e começamos a festa na companhia das restantes tunas a concurso: as Sirigaitas (Tuna Feminina da FFUP), a Tuna Feminina da Universi‑dade Portucalense e a Samarituna (Tuna Feminina da Universidade Lusófona).

A sucessão de desafios propostos pela Tuna Com Elas, os almoços e jantares na ca ntina da universidade e os convívios na Câmara Municipal, no Bar do Pi e no Hit’s Club (bar/ discoteca do Coliseu Micae‑lense), criaram uma espiral de animação e de positividade que culminaria na noite de dia 24, com a atuação das tunas a concurso no Coliseu Micaelense. Quanto

o tom informal e descontraído de anos anteriores.

No entanto, o trabalho mais sério esperava por nós, pois, nos dias 12 e 13 de outubro iríamos marcar presença, pela primeira vez na história da nossa tuna, no FITU ‑Porto (Festival Internacional de Tunas Universi‑tárias do Porto), organizado pelo Orfeão Universitário do Porto e, por muitos, consi‑derado o melhor festival de tunas do nosso país. Depois de muita preparação, foi com muita alegria que voltámos a pisar o palco do Coliseu do Porto e, perante uma plateia onde se contavam inúmeros apoiantes da nossa tuna, apresentámos um espetáculo que, pelo menos a nós, nos encheu de orgulho e fez com que todo o esforço feito até à data fosse recompensado.

a isto não há muito mais a dizer: trou‑xemos para o Porto, para o nosso ICBAS, o prémio de Melhor Tuna, não podíamos estar mais radiantes por finalmente ver o nosso empenho reconhecido, a nossa qualidade musical atingir um nível a que todas aspirávamos. Poderíamos escre‑ver todo um novo artigo acerca daquele momento, daquela sensação de felicidade e de concretização há tanto almejada. Ganhámos também o prémio de melhor Peddy Papper, mas isso quem nos conhece já sabe, somos imbatíveis em jogos parvos aos quais se associem alguma bebida!

Prémios à parte, o que esta minidigressão açoriana significou para a Tuna Feminina de Biomédicas vai muito para além do que posso explicar publicamente… Foi o virar de uma página, o iniciar de uma nova era que espero que todos vocês acompanhem com entusiasmo!

“E quando um dia tivermos que partir, levaremos a alma plena de momentos únicos” – o 9º insula foi, sem dúvida, um deles. C

Penélope Almeida P’la TFB

Passado o FITU, continuámos as audições aos novos alunos que pretendiam fazer parte da tuna e recolhemos à sala de ensaios para começar a ensaiar a nova música, Cidade Do Porto, a estrear bre‑vemente, e para preparar musicalmente estes novos elementos, de maneira a que possam também dar o seu contributo para a evolução da tuna.

Entretanto, também estivemos presen‑tes, no passado dia 15 de dezembro no festival de tunas da Escola Superior de Enfermagem de Oliveira de Azeméis, onde fomos extremamente bem rece‑bidos e de onde regressámos com o prémio de “Melhor Solista”.

Embora pareça que o ano começou ontem, já contamos com vários momen‑tos marcantes e, como é óbvio, já tra‑balhamos para os que se avizinham, porque agora só voltamos a parar no próximo 30 de setembro, para festejar os 10 anos com pompa e circunstância. Estão desde já todos convidados... C

João Pestana Neto Tuna Académica De Biomédicas

9º Insula – Festival de Tunas Femininas da Tuna Com Elas

Tuna Académica de Biomédicas

25A MAGAZINE DE ESTUDANTES DO ICBAS PARA ESTUDANTES DO ICBAS

Page 26: Corino Mag Fev 2013

“A programação diversificada, despretensiosa na forma como apresenta filmes fora do circuito comercial, ou a simples contextualização das obras escolhidas são tes‑temunho da pertinência deste projecto. Que melhor forma de conheceres a sétima arte sem dares um sétimo, ou cêntimo da tua mesada?” Inês Baptista, FLUP

“O cinema leva‑nos numa viagem de auto‑descoberta ‑ entranha‑se na pele, coloniza‑nos o pensamento. É esta travessia, em versão icbasiana, que nos proporciona o cineicbas.” Margarida Pereira, ICBAS

“Adorei a ideia de podermos, no ICBAS, assistir a filmes fora do circuito comercial... Ter uma oportunidade para conversar sobre cinema ...E fiquei cliente.. Tento não faltar à primeira sessão de cada série, aos filmes escolhidos pelos meus colegas... E os estudantes também lá estão!!! Obrigada pela ideia!!” Professora Corália Vicente, ICBAS

2 ciclos, 8 filmes, 2 convidados, 1 banquete, dezenas de espectadores – estes são os números oficiais do cineICBAS para o balanço do 1ºsemestre.

No início do seu 2º ano de existência o grupo não quer, por nada, perder a originalidade e a capacidade de se inovar. Se no último ano se decidiu que os filmes esquecidos pelo tempo ou pelos centros comerciais tinham que invadir e agitar a faculdade, agora estava na altura de ir buscar e envolver as figuras mais interessantes que por cá já andavam. Lançaram‑se os convites: a Professora Corália Vicente, membro do Cineclube do Porto durante vários anos, partilhou connosco um dos filmes que a marcou, o surrealismo de Luis Buñuel na forma do satírico “O charme discreto da burguesia”; o Professor Quintanilha, que viveu durante vários anos na África do Sul e nos EUA, bem conhecido de todos também pela sua envolvência nas questões sociais, trouxe o clássico americano “Por favor, não matem a cotovia”, um retrato sensível da América sulista e da questão racial na década de 30.

No final, foi um sucesso. A iniciativa atraiu caras de todas as faculdades, pôs o cineclube nas bocas da cidade e até os Professores ficaram fãs e voltaram. E ainda há tantos outros que queremos ouvir no próximo semestre.

De resto, quando as luzes se apagaram, passaram pela tela as águas de Lampedusa, o humor negro de Kusturica e Scorsese, o cinema de animação pelo traço espirituoso e sensível de Sylvain Chomet, entre muitos outros, todos eles antecedidos de uma pequena apresentação e num ambiente que se quer despretensioso e de convívio.

O VO.U. Socorrer é um dos mais antigos projectos da Associação de Voluntariado Universitário (VO.U.). Inserido no Plano Vida ‑ Educação para a Saúde, este projecto ten‑tou preencher uma lacuna ainda existente na educação tradicional portuguesa ‑ Primeiros Socorros. Porque os conhecimentos básicos de socorrismo podem ser cruciais até que o auxílio adequado chegue ao local, saber primeiros‑socorros é um direito e um dever de cada cidadão. A faixa etária a que este projecto se propôs (adolescentes a partir dos 12 anos) é a a ideal , pois permite a consciencializa‑ção precoce para este tipo de práticas. A sensibilização dos jovens de hoje para questões de saúde e cidadania promove o seu desenvolvimento pessoal e comunitário. Genericamente, este curso incide em divulgar informação sobre a organização do Sistema Integrado de Emergência Médica, a transmissão correcta de dados ao Centro de Orientação de Doentes Urgentes, os Princípios Gerais de Socorrismo e sobre como actuar em situações específicas. Desde a sua fundação, o curso já foi leccionado a mais de 30 adolescentes que frequentavam os Centros Sociais das Paróquias do Centro Histórico do Porto. Para o futuro

o coordenador pretende continuar a parceria nestes locais e tentar expandir o projecto a escolas públicas e outros locais que auxiliem adolescentes em período extra‑escolar.

Projecto originalmente impulsionado por ex‑alunas do ICBAS (Ana Cristino e Marta Queiróz) e da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (Mafalda Alves), está actualmente a ser coordenado pelo também ex‑aluno do ICBAS Tomás Fonseca. Inicialmente o curso de Socorrismo foi ensinado aos voluntários (seguindo as normas da Cruz Vermelha), tendo os coordenadores abandonado essa prática no ano passado. Tendo em conta o tema de saúde que aborda, os voluntários que mais têm procurado o VO.U. Socorrer estão, por norma, já na fase terminal dos seus cursos universitários. Este tem sido o o maior entrave à natural expansão que o projecto ambiciona e precisa. Assim sendo, no corrente ano lectivo o VO.U. Socorrer está a alterar a sua forma de recrutamento. O objectivo é recrutar voluntários que já tenham formação prévia em socorrismo, sendo os alunos que ainda têm um longo percurso universitário à sua frente o alvo mais apetecível. Novas reuniões para angariar voluntários e delinear os próximos cursos de Socorrismo estão para breve, por isso toda a ajuda será bem‑vinda. As inscrições para o projecto pode ser feito através do Banco de Voluntariado da VO.U

VO.U.

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Page 27: Corino Mag Fev 2013

É comum vermos estudantes che‑garem ao Museu de Anatomia de livros debaixo do braço. Um deles é bem famoso, logo nas primeiras páginas o autor apresenta ‑se ‑nos, como que surpreendido, refastelado num cadeirão, charuto numa das mãos, rodeado por tintas e dese‑nhos de órgãos; tão à vontade naquela complexidade que parece quase trocista, o Mr.Netter.

O que muitos não sabem é que um outro senhor, de bigode e longo cabelo branco, que vêem passar de vez em quando pelo Museu, preparou não só muitas das

peças que há segundos olhavam minuciosamente, como é também autor de desenhos comparáveis aos que têm no tal livro. Duarte Monteiro trabalha no Departamento de Anatomia do ICBAS, só assina os desenhos que faz para aqueles de quem não gosta e se não os dá a alguém acaba por rasgá ‑los. Gosta de contar histórias e tem muitas para contar. Enquanto conversamos tanto agarra num lápis e começa a desenhar para nos mostrar como encarar um objeto como se levanta para, na varanda sobre o rio Douro, nos contar len‑das do Porto. É despretensioso,

terreno e de uma autenticidade desarmante.

É da ilustração e da pintura que nos fala. Não tem uma preferência, tendo em conta a disparidade de objetivos. Espalhadas por livros, teses e publi‑cações científicas, já perdeu a conta às centenas de ilustrações que fez. Aqui o trabalho quer ‑se rigoroso e honesto e defende a importância do conhecimento anatómico. Já na pintura, sabe ‑lhe bem a liberdade e ainda melhor a possibilidade de chocar. Apesar disso, este artista que só gosta de ouvir a crítica dizer mal conta já com 48 ou 49 exposições individuais e coletivas.

12ª edição dos Encontros de Desenho

B a n d a D e s e n h a d a

27A MAGAZINE DE ESTUDANTES DO ICBAS PARA ESTUDANTES DO ICBAS

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No mês de Dezembro arrancou a 12ª edição dos encontros de desenho que promove. Uma vez por semana, ao final da tarde, começam a chegar a uma sala do piso de Anatomia, alunos, professores e funcionários. À sua espera têm várias mesas dis‑postas em redor de vasos, canecas, copos e outras surpresas prontas a ser desenhadas. A entrada é orgulhosamente livre, tudo pelo prazer de poder partilhar com os outros aquilo que sabe e faz. E o sucesso confirma ‑se na enorme adesão deste ano, cerca de 30 par‑ticipantes. Dada a falta de espaço e de disponibilidade, Duarte Mon‑teiro prefere vê ‑la antes como um desafio, acrescentando um sereno “vamos conseguir”.

Lembra ‑se de um ditado na escola primária: as vindimas. Ditado e desenho. O seu trabalho, com um texto todo pintalgado de vermelho, os erros ortográficos, corre todas as salas de aula como exemplo, é exibido a todos os alunos: tinham que ver aquele desenho. Quando soube o que tinham feito até gritou com a professora. Decidiu, entre‑tanto, que queria ir para a Escola Artística Soares dos Reis e ser pintor mas os pais não o quiseram mais um desses drogados cabeludos, ia ser eletricista. Passou pelas obras, pelos campos e nessa altura até o carvão da lareira servia para descarregar a ânsia do desenho.

Em 1977, responde a um anúncio e começa a trabalhar no Depar‑

tamento de Anatomia do ICBAS, tempo em que havia apenas um curso, o ambiente era o de uma família. Tempo de alunos de espí‑rito mais criativo e participativo, recorda também. É nesse primeiro ano que ao cair de uma escada ganha uma história para nos con‑tar. Recompõe ‑se, não é nada de grave, mas as insistências para que fosse ao hospital levam a melhor. Deitado na maca das urgências do Santo António há um médico que simpaticamente se apresenta e lhe pergunta como está – Nuno Grande, o Professor e investigador de que tanto ouvia falar, o humanista que desde então passou a conhecer.

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Não, não é sobre António Manuel Neves Ferrão, mais conhecido por Toy, o cantor português,

mas sim sobre uma banda inglesa. Formados em 2010, em Londres, os Toy começaram a dar um dar de sua graça em 2011, com a edição do primeiro single, “Left Myself Behind”, tendo vendido todas as 100 cópias num único dia. O seu som psicadélico com influências do krautrock e do post ‑rock des‑pertou a atenção do público e todo um fenómeno em

torno da banda se desenvolveu a partir daí, com os entusiastas ansiosos por ouvir o primeiro álbum dos londrinos. Enquanto este não saía, os entusiastas da banda tiveram de se ir entretendo com singles lançados ao longo de 2012, que viriam a figurar no álbum homólogo. E ele acabou por sair em Outubro de 2012, tendo sido bem recebido pelo público em geral, entrando em listas de melhores do ano da NME, Pitchfork, Blitz e de banda revelação do ano.

De ouvir: Dead & Gone, “Motoring”, “Kopter”

Alex Edkins, Hayden Menzies e Chris Slorach são três rapazes oriundos do Canadá, e juntos, são

os METZ. Apesar de já serem banda há cinco anos, só agora é que aparecem com o primeiro álbum, “METZ”, que tem andado a causar burburinho no mundo da música. Mas que fizeram estes rapazes durante esses cinco anos? Trabalharam constan‑temente nas suas músicas, jams, percorreram o país numa carrinha a dar concertos, e sobretudo, ouvindo discos, revela Alex, numa entrevista. Algo muito interessante sobre o álbum é que, apesar de conter 11 faixas, tem um tempo total de 30 minutos. Em meia hora, estes canadianos disparam riffs electrizantes e sujos em todas as direcções, onde são claras as influências do punk rock. Aliás, a NME incluiu “METZ” na vigésima posição da sua lista de melhores álbuns de 2012. Com tanta energia, percebe ‑se que a sua postura ao vivo seja incrivel‑mente acelerada, mexida e com suor, muito suor

METZ

à mistura. Curiosamente, os canadianos passam pelo Porto no dia 12 de Fevereiro, no Plano B, e no dia seguinte apresentam ‑se em Lisboa, no Zé dos Bois. De ir!

De ouvir: “Headache”, “Knife In The Water”, “Wet Blanket”

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Victor Frankenstein, estudante fervoroso, interessa ‑se pela estrutura e fisiologia do corpo humano. Através de cadáve‑res obtidos em cemitérios e hospitais, consegue dar vida a uma criatura. Arrependido e horrorizado com a sua criação hedionda, entra num estado doentio. A criatura desapa‑rece, mas mais tarde acaba por se revoltar contra a sua triste condição, iniciando ‑se uma sequência de crimes e promessas de vinganças entre Frankenstein e o monstro.

O mérito de Mary Shelley reside na conciliação de méto‑dos narrativos cativantes para o leitor (narração não linear

dos acontecimentos, múltiplos narradores) com um tema ambíguo e melindrável. Ambíguo pois desperta uma miríade de interpretações sobre a condição humana e suscita simultaneamente medos e compadecimentos em relação à capacidade da sociedade em integrar, e mesmo definir, as variações da normalidade. Melindrável porque a súbita consciência dos nossos monstros, tão abertamente exposta no livro, acomete o pensamento, muito variável em cada cabeça, nem sempre preparado, mas sempre com a sua sentença. E não deixa de ser irónico que o monstro nunca recebe um nome – é tratado como «criatura», demónio», «aquilo» – contudo, na imaginação popular, adquiriu o nome do seu pai, como se criador e obra se confundissem, e Frankenstein tenha, portanto, de carregar o pecado de ser o monstro que criou o monstro.

Desconheço se o Professor Alexandre Quintanilha, ao longo destes anos, persiste na pergunta. Ainda assim, atrevo ‑me a refletir sobre aquele silêncio, porventura mais revelador que muitas palavras, e daqui levanto a minha mão.

Fábio Videira Santos

médicas, apercebe ‑se de que vai morrer. Inicia ‑se o período turbulento de confronto do moribundo com a morte.

Ivan não consegue compreender a morte. Aceita como óbvia a mor‑talidade do Homem, mas não a sua. Acredita não haver razão para este sofrimento – viveu de maneira correcta. A família evita o tema da morte, preferindo representar a versão de simples doença passageira. Nos seus últimos dias, Ivan apenas encontra compaixão no seu servente Gerasim, único que parece não ter medo do moribundo, e no seu filho mais novo.

Na solidão imposta pela morte, Ivan revive em pensamento o passado, e pela primeira vez questiona ‑se – será que viveu bem? E compreende – faltou autenticidade e compaixão à sua vida, marcada pelo interesse.

Aos olhos do mundo, Ivan é o epitomo do sucesso. Ao morrer, não possuía sabedoria alguma que lhe permitisse lidar com a morte. A sociedade e os seus valores extemporâneos despiram o espírito de Ivan. A própria natureza da sociedade moderna requer que ignoremos a morte, tornando ‑nos estranhos da vida e, consequentemente, da morte.

Tolstoi, através de uma escrita clara e acutilante, conduz o leitor a uma reflexão sobre a sua própria vida e atitudes, trazendo a morte para o consciente.

No se último dia de vida, Ivan encontra paz. Conclui que não se trata do fim da vida, mas sim do da morte. É o único momento em que experiencia um sentimento não egoísta – compaixão pela família.

Para lá das crenças religiosas, das teorias científicas, e de tudo no meio, cada um de nós terá de se encontrar com a morte, sozinho. Como decidimos encarar a morte define como vemos a vida.

Margarida Costa Pereira

Após a sua conversão religiosa, Tolstoi publica a

novela A morte de Ivan Ilitch, em 1886. Narra a história da morte (e vida) de um juiz do Tribunal da Relação, na Rússia do séc. XIX.A existência de Ivan é per‑feitamente cumpridora das regras da sociedade moderna. Estuda Direito com distinção, prontamente envereda pelos cargos públicos, e empenha‑‑se na escalada da hierarquia. Escolhe uma esposa que, sendo de família nobre, lhe permite subir, também, na hierarquia social. Segue em piloto auto‑mático, sem se desviar do caminho traçado por outrem desconhecido.

Inesperadamente, adoece. Entre os diagnósticos de rim flutuante e apendicite, e recursos a dispendiosas e pouco informativas consultas

Não sei precisar se foi na mesma ocasião em que nos contou as peripécias dos simpáticos colibris que vagueavam à volta da

sua casa, quando lecionava em Berkeley, mas, numa das aulas no Anfiteatro I2 do antigo edifício, o Professor Alexandre Quintanilha, ao iniciar o tema do eletromagnetismo, perguntou se alguém já tinha lido o Frankenstein da Mary Shelley. Quase todos já teriam ouvido falar do monstro, dado que a sua criação cinematográfica, remendada e relampejante, adquiriu um lugar tácito na imaginação popular, como uma herança coletiva dos nossos monstros. Porém, não houve ninguém que levantasse a mão. Ninguém. O professor fez um curto silêncio – entre a censura e o desapontamento – sugeriu a leitura e alertou ‑nos para nunca nos abstermos de procurar na arte um reflexo da ciência e dos tempos. Dito isto, voltou aos seus acetatos manuscritos e projetados na velha parede branca do anfiteatro.

E não se enganou no conselho. O livro, publicado em 1818, pode ser entendido como uma caixa ‑de ‑ressonância duma época fer‑vilhante da ciência, em que esta prometia e assustava na mesma medida. As experiências que expunham as potencialidades do eletromagnetismo e da bioeletricidade – que teriam o seu auge nos trabalhos de Oersted, Ampère e Faraday – multiplicavam ‑se. No final do século XVIII, Galvani tinha observado as contrações dos membros de uma rã estimulada por uma corrente elétrica. Questionava ‑se, então, a possibilidade de se restaurar a vida ou criá ‑la a partir da matéria inorgânica, por vezes com teorias tão misteriosas quanto bizarras.

Mary Shelley não estava alheia a estes desenvolvimentos. Em 1816, numa viagem feita a Genebra com o seu marido, o poeta Percy Shelley, tornou ‑se hábito frequentar os serões da casa de outro eminente poeta britânico, Lord Byron. Neles também se discutiam o galvanismo e outras teorias obscuras. Certa noite, ao lerem histórias sobre fantasmas, Lord Byron lançou o desafio de escreverem, cada um, uma história de terror. A de Frankenstein ganhou consistência durante um sonho conturbado.

Edição portuguesa, de bolso, da Leya BIS, 5.95€

Edição portuguesa, de bolso, da Leya BIS, 5.95€

Meus senhores, Ivan Ilitch morreu!

A Morte de Ivan Ilitch, Lev TolstoiLeitura sugerida pelo Professor Artur águas

Os nossos monstrosFrankenstein, Mary Shelley

Literatura

Humor

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Page 31: Corino Mag Fev 2013

– Boa tarde Sr. Zé, como vai?

– Olha, morto de cansaço…

– Mas porquê? O seu trabalho não me parece ser muito cansativo…

– Pois não, mas eu já estou cheio de artroses e não param de me dobrar o joelho. Já não posso do ombro também… Enfim…

– Ouve dizer que aderiu à greve geral. Foi por causa disso?

– Sim, por isso e porque devia ganhar bem mais. Tenho uma amiga do Marquês que se despe bem menos que eu e que ganha bem mais. A vida está pela hora da morte.

– Pois, compreendo. Mas sabe que toda a gente gosta muito de si aqui…

– Não sei se gostam. Eu sinto ‑me injustiçado… Se os Beagles são passeados pelos alunos de veterinária, porque é que os de medicina também não me vão passear?

– Bem, porque o senhor não é um cão…

– Pois não, mas tenho que abanar o esqueleto de vez em quando. Sinto ‑me sozinho…

Humor

O Clube de Comédia da Universidade do Porto nasceu em Outubro de 2012 e muito brevemente vai ter novidades para ti! Nasceu da vontade de uma aluna de Biomédicas e de um aluno da FDUP e promete trazer workshops, palestras, espetáculos e muito mais a toda a comunidade da UP. Se achas que até tens jeito para o humor ou simplesmente aprecias uma boa piada, fica atento!

– Pois, percebo. Mas desde que cá está nunca se apaixonou por nenhuma amiga do museu de anatomia?

– Não… Primeiro nunca temos a certeza se é uma amiga ou se é um amigo e eu nunca gostei de confusões. E depois, as mulheres que há aqui são todas muito pálidas.

– É natural…

– E além disso, eu tive um grande desgosto de amor.

– Então, o que é que aconteceu?

– Ela combinou um encontro no museu, à noite e…

– E …

– Deixou ‑me aqui pendurado.

– Que pena… Bem, parece que acabou o nosso tempo.

– O meu já acabou há muito…

‑ Peço desculpa, o que eu queria dizer é que a entrevista ficar por aqui, muito obrigada…

‑ De nada. Estou sempre mor‑tinho por responder às vossas perguntas.

“Corino Mad”❑ Aneke Kijjoa foi detido no aeroporto: acabou por ser libertado depois de perceberem

que tinham confundido um radical Al‑Qaeda com um radical alquilo.

❑ Ainda sobre este professor, Aneke Kijoa já confirmou que este ano vai voltar a oferecer o livro “A química do sexo” ao melhor aluno de Química II. Na verdade, o livro devia ser oferecido

ao pior aluno, já que este é que sabe como a química é lixado.

❑ Os alunos do ICBAS ficaram muito felizes com a atribuição dos cacifos. Um aluno entrevistado comentou que “os cacifos dão muito jeito e até costumamos comer aqui, porque sempre são mais espaçosos que a

cantina”.

❑ A AEICBAS tem feito preços especiais para alunos da FFUP – é da maneira que eles não ficam roxos de inveja.

❑ A Cantina do ICBAS entrou em depressão. Diz que não consegue ter mais nada dentro dela, que está farta que a usem para comer e que não gosta de ser menos elogiada do que a cantina de Direito só por ser mais apertada.

❑ Os alunos de veterinária estão muito satisfeitos com as novas instalações: a clínica está fantástica e os Beagles nunca tiveram uma casa‑de‑banho tão grande

❑ A AEICBAS apresentou este ano uma grande ideia: um congresso que une os cursos de biomédicas. Algumas pessoas sugeriram a Assembleia da República como o local ideia já que nela há burros, pessoas e peixes‑palhaços.

❑ O Professor Alexandre Cunha vai recriar a figura de Santo António nas próximas festividades dos santos populares. Na verdade, são muitas as semelhanças com o santo: tem o mesmo problema capilar, percebe muito de sardinhas e passar às suas cadeiras é um milagre.

Entrevista ao Sr. Zé do ICBAS

Clube

Comédia UP

31A MAGAZINE DE ESTUDANTES DO ICBAS PARA ESTUDANTES DO ICBAS

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Route 66The Main Street of America estabeleceu ‑se em 1926. Originalmente ligava as cidades de Chicago (Illinois) a Los Angeles (Califórnia), passando pelos estados do Missouri, Kansas, Oklahoma, Texas, Novo México e Arizona, num total de 3.939 quilómetros. Este foi o principal itinerário dos emigrantes que se dirigiram ao Oeste durante a Dust Bowl dos anos 1930 (três milhões de habitantes deixaram as suas casas devido a esta seca prolongada). Na década de 1950 tornou ‑se o principal itinerário de veraneantes, uma vez que atravessava paisagens como o Grand Canyon ou o deserto do Arizona. A Route 66 tornou ‑se assim no principal sustento da economia das zonas que atravessava. Foi ainda esta estrada que marcou o desenvolvimento da comida rápida: os primeiros restaurantes do género, incluindo drive‑‑troughs disseminaram ‑se com facilidade ao longo do seu trajeto. Apesar de abandonada em vários trechos, a Route 66 é ainda hoje um símbolo incontornável da cultura americana, sendo objeto de vários temas musicais e filmes com o mesmo nome.

O Massacre das Bananas Ocorre a 6 de Dezembro de 1928, Ciénaga, Colômbia. Vinte e cinco mil trabalhadores das plantações de bana‑neiras da americana United Fruit Company encontrar‑‑se ‑iam em greve há um mês, reivindicando melhores condições de trabalho. Contratos escritos, oito horas de trabalho diárias, seis dias por semana, bem como a eliminação de restrições alimentares por senhas e cupões estariam entre as exigências referidas. Consigo teriam o apoio da população, dos índios da Serra Nevada e vários trabalhadores norte ‑americanos. Para prote‑ger os interesses da companhia, o governo americano

ameaça enviar ao local os fuzileiros navais (Marines), ao que o governo colombiano se antecipa destacando um regimento para lidar com o problema. As tropas reúnem a população na praça principal, fecham todas as saídas e abrem fogo, sendo que o número de mortos varia entre unicamente nove e dois mil, dependendo das versões. Os cadáveres são de seguida atirados ao mar. Este episódio foi retratado por Gabriel Garcia Marquez no seu livro Cem anos de solidão e foi uma das causas que despoletaram a guerra civil colombiana.

Fujiko Fujio Fujiko Fujio é o nome de um duo de autores de manga formado pelos artistas japoneses Hiroshi Fujimoto (1933 – 1996) e Motoo Abiko (1934 –). O duo formou ‑se em 1951 e existiu como tal até 1987. É mais conhecido pela criação de séries em revista e animadas como Ninja Hattori e Doraemon, sendo este ultimo, atualmente, um ícone manga no Japão. A série apareceu pela primeira vez em 1969 e foi publicada em simultâneo em seis revistas diferentes. No total, foram criadas 1.344 histórias só na série original. Recentemente foi inaugurado em Kawasaki, Japão, um museu dedicado ao duo Fujiko Fujio.

Raquel Borges

Aquela PÁGINA ALEATÓRIAEsta é aquela página aleatória cujo tema é qualquer um. Aleatória, pois os assuntos aqui presentes ganharam o direito de o estar por puro acaso. Esta página é ou uma sorte ou um acidente. A primeira será com certeza destino. A segunda, azar.