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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO, 2 2. OBJETIVOS E METODOLOGIA DE TRABALHO, 2 3. ASPECTOS GERAIS DA ÁREA DE ESTUDO, 2 3.1. Localização, 2 3.2. Aspectos Geomorfológicos, 3 3.3. Clima e vegetação, 3 4. TRABALHOS ANTERIORES, 4 5. GEOLOGIA DA REGIÃO DE COROMANDEL, 7 5.1. Estratigrafia, 7 5.1.1. Grupo Araxá, 7 5.1.2. Formação Ibiá, 8 5.1.3. Grupo Canastra, 9 5.1.4. Grupo Bambuí, 9 5.1.5. Formação Urucuia, 10 5.1.6. Depósitos Cenozóicos, 10 5.2. Geologia Estrutural, 11 5.3. Petrografia e Metamorfismo, 12 6. MINERALIZAÇÕES DIAMANTÍFERAS, 13 6.1. Características Gerais, 13 6.2. Kimberlitos e Outras Possíveis Rochas Diamantíferas, 14 6.3. Conglomerados Cretácicos, 17 6.4. Aluviões e Terraços Aluvionares, 18 7. METALOGÊNESE DO DIAMANTE, 19 8. CONCLUSÃO, 20 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, 21 FIGURAS Fig. 1 - Localização a acesso à área de estudo

COROMREL

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Relatorio Coromandel

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SUMRIO

SUMRIO

1. INTRODUO, 2

2. OBJETIVOS E METODOLOGIA DE TRABALHO, 2

3. ASPECTOS GERAIS DA REA DE ESTUDO, 2

3.1. Localizao, 2

3.2. Aspectos Geomorfolgicos, 3

3.3. Clima e vegetao, 3

4. TRABALHOS ANTERIORES, 4

5. GEOLOGIA DA REGIO DE COROMANDEL, 7

5.1. Estratigrafia, 7

5.1.1. Grupo Arax, 7

5.1.2. Formao Ibi, 8

5.1.3. Grupo Canastra, 9

5.1.4. Grupo Bambu, 9

5.1.5. Formao Urucuia, 10

5.1.6. Depsitos Cenozicos, 10

5.2. Geologia Estrutural, 11

5.3. Petrografia e Metamorfismo, 12

6. MINERALIZAES DIAMANTFERAS, 13

6.1. Caractersticas Gerais, 13

6.2. Kimberlitos e Outras Possveis Rochas Diamantferas, 14

6.3. Conglomerados Cretcicos, 17

6.4. Aluvies e Terraos Aluvionares, 18

7. METALOGNESE DO DIAMANTE, 19

8. CONCLUSO, 20

9. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS, 21

FIGURAS

Fig. 1 - Localizao a acesso rea de estudo

ANEXO 1 - Mapa geolgico do Distrito de Coromandel - MG

1. INTRODUO

O Distrito Diamantfero de Coromandel (Chaves, 1989), destaca-se no cenrio geolgico nacional por ter produzido os maiores e mais belos diamantes. Mais de 95% das pedras com mais de 100 quilates descobertas no pas tiveram origem nos depsitos desta regio. Paradoxalmente, o distrito pouco conhecido geologicamente. A maioria dos estudos especficos estiveram a cargo de empresas multinacionais com larga experincia no ramo (p.ex., SOPEMI), com resultados nunca divulgados.

2. OBJETIVOS E METODOLOGIA DE TRABALHO

O presente relatrio tem como objetivo descrever a geologia da regio de Coromandel, com nfase em seus aspectos geolgicos e mineralgicos.

Os seguintes fins nortearam os trabalhos efetuados:

- mapeamento geolgico da regio em escala 1:60.000;

- elaborao da coluna estratigrfica regional;

- estudos de anlise estrutural;

- estudos petrogrficos nos metamorfitos da rea;

- perfis detalhados na sequncia sedimentar da rea;

- correlaes regionais;

- estudo orientativo sobre os depsitos diamantferos.

A metodologia utilizada, a partir da liberao dos recursos financeiros por parte da PRPq/UFMG, obedeceram os seguintes cronograma:

a) pesquisa bibliogrfica;

b) fotointerpretao preliminar - como subsdio aos trabalhos de campo;

c) perfis de reconhecimento;

d) mapeamento sistemtico;

e) perfis de detalhe em reas previamente selecionadas;

f) tratamento especfico das amostras e dados coletados nas fases anteriores;

g) confeco do mapa geolgico e redao do relatrio final.

O estudo constitui parte da pesquisa maior envolvendo os depsitos diamantferos do Estado de Minas Gerais, que pretende ser continuada.

3. ASPECTOS GERAIS DA REA DE ESTUDO

3.1. Localizao

A rea est situada no municpio de Coromandel, que integra a Regio do Alto Paranaba do Estado de Minas Gerais. A rea estudada compreende aproximadamente 600 Km2, estando situada na poro sudeste da Folha Coromandel e na poro nordeste da Folha Monte Carmelo, ambas do DSG-Ministrio do Exrcito, escala 1:100.000 (Figura 1).

O acesso regio, que dista cerca de 480 Km de Belo Horizonte, feito inicialmente pela BR-262, ligando a capital ao trevo de Ibi, de onde se toma a MG-230 (Ibi-Patrocnio) e, finalmente, as rodovias BR-365 e MG-188, de Patrocnio a Coromandel. A partir desta cidade, o acesso s diferentes partes da rea pesquisada, pode ser realizada por numerosas estradas municipais, de acesso a fazendas, ou ainda por trilhas percorrveis p.

3.2. Aspectos geomorfolgicos

A regio de Coromandel dominada fisiograficamente por duas grandes unidades morfo-estruturais: a Depresso Paranaba-Rio Grande, situada a oeste, e o Planalto do So Francisco, a leste.

Na depresso Paranaba-Rio Grande, o relevo apresenta feies pouco variadas, com patamares suaves e ondulados resultantes da dissecao e reencaixamento da drenagem sobre a sequncia geolgica do Cretceo. King (1956), descreve tal superfcie de aplainamento como pertencente ao Ciclo Velhas, sobre o qual aparecem ainda restos da Superfcie Sul-Americana, esta com aspecto de mesetas.

A segunda unidade (Planalto do So Francisco) ocorre como extensos planaltos tabulares, esculpidos sobre rochas das sequncias do Cretceo Superior e do Pr-Cambriano. Observa-se um relevo com chapades escalonados resultantes de dissecao e rebaixamento, pela gerao de drenagens ps-cretcicas e seus sucessivos reencaixamentos, de uma vasta superfcie de aplainamneto. Este retrabalhamento atingiu, em diferentes graus, superfcies tabulares anteriores.

A superfcie mais antiga, com cotas que variam em torno de 1000 metros, apresenta aplainamento bem conservado no topo, sobre camandas horizontais da Formao Urucuia. King (op. Cit.), chamou esta superfcie de Ps-Gondwana. Mais abaixo, entre as altitudes de 600 a 850 metros, ocorre outra superfcie, sobre as rochas da Formao Areado (Cretceo Inferior) ou do Grupo Bambu, relacionado Superfcie Sul-Americana.

Na bacia do Rio Santo Incio, sobre rochas do Grupo Bambu, pode ser observado relevo crstico, com surgimento de grutas e dolinas. Dentre estas ltimas, cita-se o conhecido Poo Verde, descrito na literatura como uma possvel chamin do tipo kimberltica (Guimares, 1955).

3.3. Clima e Vegetao

s matas regionais foram na maioria devastadas. A vegetao dominante o cerrado ou campos cerrados de altitude. Raras matas de galeria podem acompanhar certas drenagens, com vegetao essencialmente arbrea. Deixando perceber a vegetao original, em torno do Poo Verde ocorre exuberante mata tropical.

A vegetao nativa est sendo rapidamente substituda por atividades agro-pecurias. Citam-se algumas culturas de grande importncia para a economia local, como caf, soja, milho, arroz, etc. A formao de extensas pastagens para gado, principalmente bovino, tambm contribui para as mudanas na paisagem.

O clima da regio da regio de Coromandel est inserido em um domnio tropical, do tipo Aw segundo a classificao de Koppen (tropical mido). A temperatura do ms mais frio superior a 15C, coincidente com o perodo mais seco (junho-setembro). O perodo chuvoso, de outubro a maro, concentra 80% da precipitao anual, cuja mdia de 1400 mm. Estes fatores influem na garimpagem do diamante, que praticada na maior parte durante o perodo seco, no leito dos rios de maior porte.

4. TRABALHOS ANTERIORES

Os primeiros trabalhos que envolvem a regio do Alto Paranaba so devidos a geocientistas em busca de maiores informaes sobre as ocorrncias de diamantes, a descobertas por garimpeiros em fuga da regio de Diamantina, severamente controlada pelo governo colonial no incio do sculo passado. Dentre outros, devem ser citados os estudos de Saint-Hilaire (1847), Damour (1855) e Pires (1855).

Interessante observar que sempre houve uma acentuada dissociao entre os estudos envolvendo as sequncias xistosas pr-cambrianas, predominantes na regio, e as sequncias de idade cretcica, incluindo a as possveis rochas magmticas geradoras de diamante.

Rimann (1917) levantou a primeira coluna estratigrfica para a regio oeste de Minas Gerais, em grande parte ainda hoje aceita. A sequncia xistosa (que inclui as unidades Arax, Ibi e Canastra) basal , foi toda correlacionada Srie Minas. A Srie Bambu, sobreposta, foi descrita pela primeira vez, formada por rochas carbonticas e argilosas. As sequncias do Cretceo foram subdivididas em Arenito Areado (basal), constitudo por sedimentos arenosos com um conglomerado basal, e Arenito Capacete (no topo), iniciando localmente com um conglomerado considerado de rochas eruptivas do tipo kimberlito. Em 1926, Eusbio de Oliveira denominou de Arenito Urucuia a essas mesmas rochas, encontradas por Moraes Rego (1926) e Derby (1879) no divisor de guas das bacias do So Francisco e Tocantins.

Guimares (1927) estudou os tufos vulcnicos que recobrem o Planalto da Mata da Corda, identificando basaltos melilticos, tufos e picrito-porfiritos, contestando a hiptese dos kimberlitos de E. Rimann (op. cit.). Atravs de anlises qumicas de um picrito-porfirito de Areado e de breccias da Fazenda Cascata (Patos de Minas), demonstrou que as rochas magmticas do oeste de Minas so, petrograficamente, muito diferentes dos kimberlitos sul-africanos.

Guimares (1933), em novo estudo sobre a regio, apresentou os resultados da possibilidade de ocorrncia de chamins diamantferas na regio de Coromandel, s encontrando tufos com fragmentos de picrito-porfirito. Barbosa (1934), reforando os estudos de D. Guimares, esclareceu que a constituio litolgica da serra da Mata da Corda era tufcea e no de derrames vulcnicos como julgara Rimann.

Campos (1937), retomando os estudos da gnese do diamante no oeste de Minas Gerais, realizou reconhecimento geolgico na rea delimitada pelos rios Paranaba, Santo Incio, Quebra-Anzol e Bagagem. Leonardos (1956), reconheceu para a regio do Tringulo Mineiro a mesma estratigrafia bsica de Rimann (1917), porm correlacionando o Arenito Capacete Formao Bauru, e o Arenito Areado Formao Botucatu, ambas pr-descritas no Estado de So Paulo.

Guimares (1955) volta a estudar as rochas vulcnicas e piroclsticas de Coromandel e Patos, reconhecendo tufitos, aglomerados vulcnicos, brechas metamorfoseadas e arenitos com cimento piroclstico. Maack (1968), descreve a existncia de diamantes nos tufitos de Coromandel; esta talvez seja a nica referncia da gema sendo lavrada nessas rochas.

Em meados da dcada de 60, a extinta empresa PROSPEC foi contratada pelo DNPM para realizar o levantamento geolgico bsico inventrio dos recursos minerais da regio, atravs do Projeto Chamins (resultados finais em Barbosa et alii, 1970), fornecendo os ainda hoje mais valiosos dados integrados sobre a geologia do Tringulo Mineiro.

Nesta mesma poca, especificamente em relao s sequncias cretcicas aflorantes na regio, vrios trabalhos contriburam para a definio de seus principais aspectos. Ladeira & Brito (1968), investigaram a geologia da rea da Mata da Corda, elevando os arenitos Areado categoria de grupo, dividido em trs formaes: Abaet, Quiric e Trs Barras (da base para o topo). O arenito Capacete foi considerado uma fcies proximal do Grupo Mata da Corda criado por esses autores, assim como o arenito Urucuia foi considerado uma fcies distal.

Hasui (1968,1969), estudando a regio do oeste mineiro, separa as unidades aflorantes na zona do Alto Paranaba (bacia do Alto So Francisco) das que ocorem na rea do Tringulo Mineiro (bacia do Paran), observando certas peculiaridades nestas reas. O Quadro 1 ilustra tal concepo estratigrfica. Grossi Saad et alii (1971), em um novo trabalho de sntese sobre a regio, propem uma coluna estratigrfica algo diferente, conforme mostrado no Quadro 2.

Esta questo do grande nmeros de unidades e concepes estratigrficas para o Cretceo do oeste mineiro, levou organizao, durante o XXV Congresso Brasileiro de Geologia, de uma mesa redonda abrangendo o assunto (Ladeira et alii, 1971). No obstante, muitos problemas permaneceram em aberto.

Em 1967, o gelogo francs M. Bardet, do BRGM, visitou vrias reas diamantferas do Brasil. Impressionado com a potencialidade do Alto Paranaba, enviou equipe de pesquisa que, logo em 1969, descobriu o primeiro kimberlito no Brasil, na Fazenda Vargem (Coromandel). A descoberta, porm, alm de outras, foram mantidas em segredo e somente muitos anos mais tarde a comunidade cientfica pode realizar as primeiras observaes sobre o corpo (Svisero et alii, 1977, 1979, 1983, 1986; Meyer & Svisero, 1980).

Entre muitos estudos recentes envolvendo a regio estudada, devem ser citados os de Hasui et alii (1975) e Almeida et alii (1980), tratando principalmente de dados tectnicos e geofsicos, que permitiram traar as primeiras linhas da evoluo geolgica do oeste mineiro. Retomando ainda o tema dos estudos estratigrficos abrangendo as sequncias do Cretceo, os trabalhos de Barcelos (1979), Barcelos & Suguio (1980), Barcelos et alii (1981), Barcelos (1989), redefiniram com maior preciso as relaes espaciais e os ambientes de sedimentao das principais unidades discutidas anteriormente (Quadro 3).

Chaves (1991) realizou estudos de investigao visando as sequncias diamantferas do Cretceo do Brasil Central (incluindo os depsitos do Distrito de Guilbs - sul do Estado do Piau). No domnio da Provncia Diamantfera do Alto Paranaba (Hasui & Penalva, 1970), foram reconhecidos dois distritos com caractersticas peculiares - o de Romaria-Estrela do Sul (a oeste do Arco da Canastra), e o de Coromandel (a nordeste daquela estrutura).

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TRINGULO MINEIRO ALTO PARANABA

Sedimentos Cenozicos

Formao Bauru

Formao Uberaba

Chamins vulcnicas

Formao Patos

Grupo Areado

Grupo Bambu

Grupo Canastra

Grupo Arax

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Quadro 1: Estratigrafia das regies do Tringulo Mineiro e do Alto Paranaba

(segundo Hasui, 1968).

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BACIA DO PARAN BACIA DO SO FRANCISCO

Formao Bauru Formao Mata da Corda

(fcies Uberaba, Marlia e Itaqueri) (fcies Patos, Capacete e Urucuia)

- 80 m.a. -

Formao Areado

(fcies Abaet, Quiric e Trs Barras)

- 100 m.a. -

Basalto Serra Geral

Arenito Botucatu

- 140 m.a. -

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Quadro 2: Estratigrafia das unidades mesozicas em Minas Gerais

(segundo Grossi Sad et alii, 1971).

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BACIA DO PARAN BACIA DO S. FRANCISCO

Formao Marlia (membros

Ponte Alta e S. da Galga)

Formao Uberaba Formaes Urucuia e Capacete

- 80 m.a. -

Formao Patos

Formao Adamantina

- 100 m.a. - Formao Areado

Basalto Serra Geral

Grupo Bambu

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Quadro 3: Correlao estratigrfica para as sequncias mesozicas de Minas Gerais, (segundo Barcelos, 1979; Barcelos & Suguio, 1980 e Barcelos, 1989).

5. GEOLOGIA DA REGIO DE COROMANDEL

5.1. Estratigrafia

Os trabalhos de campo permitiram identificar, na rea de estudo, as seguintes unidades lito-estratigrficas (da base para o topo): Grupo Arax, Formao Ibi, Grupo Canastra e Grupo Bambu (de idades pr-cambrianas), e Formao Urucuia (do Cretceo Superior). As unidades pr-cambrianas ocorrem orientadas em faixas de direo aproximada NW-SE, enquanto a sequncia cretcica aparece como plateaus horizontais, recobrindo discordantemente as unidades mais antigas.

5.1.1. Grupo Arax

O Grupo Arax (Barbosa, 1955), indiviso, aflora no extremo sudoeste da rea, abrangendo o vilarejo de Douradinho com bons afloramentos no crrego de mesmo nome.

A principal litologia do Grupo Arax um quartzo-clorita-muscovita xisto, s vezes granatfero, de granulao grosseira e de cor variada, desde acinzentada (em afloramentos sos) at amarelada ou esverdeada, quando a rocha est meteorizada. Localmente, ocorre intercalado aos xistos um quartzito, miccio, recristalizado e com bandas ferruginosas.

comum, em ambas as litologias, a presena de veios de quartzo em duas geraes distintas. A mais antiga, revela veios concordantes com a foliao principal, milontica, de direo NW e mergulhos variveis para SW. A gerao mais nova, apresenta veios mais potentes (at alguns metros de espessura), francamente discordantes da foliao principal.

No extremo oeste da rea, o Xisto Arax apresenta intercalaes de rochas filonticas, extremamente semelhantes com as que ocorrem na Formao Ibi.

O contato desta unidade com a Formao Ibi, a leste, de natureza tectnica, atravs de falhamento de empurro. Como nem a base nem o topo esto presentes, torna-se impossvel estimar a espessura do Grupo Arax, na regio de Coromandel. Barbosa et alii (1970) estimam essa espessura em 1400 metros.

A grande espessura do Grupo Arax, com a predominncia de sedimentos originalmente finos, sugerem para a unidade um paleoambiente de sedimentao marinho, de guas mdias a profundas. A ausncia de rochas magmticas, sugere um ambiente tectnico de miogeossinclinal (Barbosa et alii, op. cit.).

5.1.2. Formao Ibi

A Formao Ibi (Barbosa et alii, 1970), normalmente considerada como mais nova que o Grupo Canastra. Na regio de Coromandel, entretanto, a situao tectnica peculiar desta unidade, embutida entre os grupos Arax e Canastra, no permite qualquer definio quanto ao seu posicionamento estratigrfico. Alm disto, a presena de lascas de material idntico ao da Formao Ibi, dentro do Grupo Arax, permite uma associao das duas unidades, pelo menos localmente. Estudos complementares precisariam ser feitos mais a norte, j que observaes feitas no local-tipo da unidade (regio de Ibi), a mesma situao tectnica est presente.

Esta unidade aflora na rea como uma faixa de de direo aproximadamente NW-SE, interceptada a oeste de Coromandel pela Formao Urucuia. No Crrego das Cobras, um afluente da margem direita do Rio Douradinho, existem bons afloramentos.

As rochas presentes incluem filitos amarelo-esverdeados, micro-dobrados, localmente com nveis ferruginosos, e clorita-muscovita xistos esverdeados com ncleos de carbonato envolvidos pela xistosidade.

conflitante a situao do ambiente de sedimentao da Formao Ibi. Barbosa et alii (1970) admitem que so sedimentos marinhos de fcies miogeossinclinal. Dardenne et alii (1978) , correlacionam a unidade ao horizonte glacial Jequita-Macabas, presente na borda ocidental do Crton So Francisco. De outra forma, Ferrari (1981) associa a Formao Ibi a metavulcanitos de composio andestica.

Na regio de Coromandel e em direo a sul, no ocorrem os meta-paraconglomerados de matriz carbontica, de origem glacial atribuda por Dardenne et alii (op. cit.), limitando assim este tipo de ambiente.

5.1.3. Grupo Canastra

Esta sequncia metapsamtica (Barbosa, 1955), est representada aproximadamente nas regies central e oeste da rea. Na parte sul da regio mapeada, o Grupo Canastra apresenta um trend NW-SE que, porm, na poro norte da mesma, inflete-se para N-S.

Existem duas sub-unidades, mapeveis na escala utilizada, no mbito do Grupo Canastra. A primeira, constituda por filitos cinza-esverdeados, predomina na rea de estudo. A segunda, composta de quartzitos finos, ocorre intercalada outra, em sua poro basal.

Os filitos, de colorao cinza ou levemente esverdeada, apresentam intercalaes de meta-ritmito com nveis de granulometria silte (esverdeados) e nveis argilosos (esbranquiados). Este bandeamento composicional revela que o acamamento paralelo foliao principal, orientada entre N10W-N20E, com mergulhos fortes para NW ou SW. Os filitos apresentam ainda clivagem ardosiana e de fratura, tornando-se mais xistosose crenulados nas partes mais prximas do contato, tectnico, com o Grupo Bambu. Localmente, ocorrem intercalaes centimtricas de quartzito miccio e/ou ferruginoso. Dobras em chevron esto presentes na sub-unidade, mostrando vergncia para NE (nos nveis metapelticos). Nos nveis quartzticos, as dobras so mais suaves e abertas, com eixo N-S e caimento suave para sul.

A sub-unidade quartztica, caracteriza-se por quartzitos de granulao fina, localmente mdia, de colorao branco-avermelhada e localmente granatferos. comum a presena de turmalina preta, e opacos (magnetita) neoformados, geralmente mostrando forma eudrica ou sub-drica. Veios de quartzo so abundantes, assim como pores fortemente recristalizadas nos quartzitos (notadamente nas pores prximas com o contato do Grupo Bambu).

Na estrada em direo ao Rio Santo Incio, prximo ponte com o Crrego Buriti, ocorrem blocos de metaconglomerado polimtico, com seixos milimtricos centimtricos de quartzo e quartzito. Este metaconglomerado, basal no Grupo Canastra, pela primeira vez descrito.

Estruturas primrias marcantes em quartzitos, como marcas onduladas e estratos cruzados, no foram observadas, indicando que a deformao foi intensa. Por este motivo, torna-se impossvel estimar a espessura da sequncia, certamente superior a 1000 metros.

Os ambientes de sedimentao mais provveis para o Grupo Canastra o marinho raso, a nvel regional, mas a sub-unidade metapeltica presente na rea indica que existem pores mais profundas da bacia.

5.1.4. Grupo Bambu

O Grupo Bambu (Rimann, 1917) aflora em extensa rea dominando toda parte central e leste da regio de Coromandel.

Litologicamente, constitui-se de calcrios dolomticos de colorao acinzentada, localmente ricos em estruturas estromatolticas. Estas mostram feies arredondadas (em planta) de aproximadamente 3 cm de dimetro.

So poucos os afloramentos do Grupo Bambu na regio. A maioria das observaes realizadas deram-se nas lavras de calcrio a existentes. Nos cortes das lavras, podem ser observados nveis de metassiltito, com at 5 metros de espessura, intercalados aos calcrios. Afloramentos esparsos, bastante alterados, de metassiltitos, ocorrem em toda rea de distribuio da sequncia. Desta forma, acredita-se que os calcrios constituem grandes lentes, no interior do pacote metapeltico.

A sedimentao do Grupo Bambu ocorreu em mares fechados e no muito profundos (mares epicontinentais), conforme corroborado pelas litologias e estruturas presentes na rea.

Intruses kimberlticas, de possvel idade cretcica mdia-superior, ocorrem nesta sequncia na rea da Fazenda Vargem, no Rio Santo Incio. A estrutura conhecida como Poo Verde, tem origem duvidosa. Pode tratar-se de uma dolina sobre calcrios (Barbosa et alii, 1970), ou mesmo outra intruso ultrabsica (Guimares, 1933; Barbosa et alii, 1976; Barbosa, 1983).

5.1.5. Formao Urucuia

A Formao Urucuia, representada por sua fcies Capacete (Rimann, 1917), aflora na parte mais alta da chapada que domina a sede do municpio de Coromandel, e em pequenas manchasa sudeste da exposio principal, na chamada serra das Mesas. Recobre em discordncia angular e erosiva a Formao Ibi e o Grupo Canastra.

Na poro basal da unidade, ocorre um conglomerado polimtico de at 1 metro de espessura. A matriz argilosa, de colorao esverdeada, com clastos arredondados de quartzo, quartzito, xisto e filito. Estudo de minerais pesados de material recolhido da matriz, indicou a presena de magnetita (50%), perovskita (25%), magnetita martitizada (20%) e ilmenita (5%), denotando a provenincia a partir de produtos de vulcanismo alcalino e ultrabsico (?).

Estratigraficamente acima dos conglomerados, aparecem arenitos esverdeados, com estratos de espessura entre 20 e 30 cm, em mdia, e granulometria mdia. Intercalam-se a estes, argilitos vermelhos e esbranquiados, de espessura decimtrica.

A espessura total da unidade pode ser estimada, na rea de estudo, em aproximadamente 40 metros (espessura mnima, j que o topo est erodido), conforme definido no morro situado logo a sudeste da cidade de Coromandel.

A sedimentao desses depsitos deve ter ocorido em pequenos leques aluviais torrenciais, conforme as feies erosivas observadas entre os conglomerados e nos filitos do Grupo Canastra subjacentes. Tais depsitos so tpicos de clima semi-rido e provavelmente so contemporneos do magmatismo alcalino-ultrabsico-kimberltico.

O conglomerado basal da sequncia Urucuia , seguramente, diamantfero.

A unidade, como um todo, est coberta por um estreito mas persistente nvel de canga ferruginosa e/ou solo aluvionar argiloso avermelhado (Tercirio?), que sustenta os topos das superfcies mais altas e so recortados, nos bordos, pela eroso.

5.1.6. Depsitos aluvionares

Os depsitos aluvionares, de idade quaternria, ocorrem na regio de Coromandel principalmente ao longo do curso do Rio Santo Incio. Revestem-se de grande importncia econmica, pois so sempre diamantferos e ainda pouco explorados. Constituem-se de areia e pouca argila, com um cascalho basal formado principalmente por seixos de quartzo, quartzito e slex.

Os minerais acompanhantes do diamante no Rio Santo Incio, conforme observado no Garimpo Charneca, so ilmenita (80%), opacos diversos (10%), magnetita (5%) e o restante contendo zirco (s vezes mais que 2%), turmalina, estaurolita, cianita, monazita e piropo, indicando origem mista de rochas xistosas e de pssveis pipes ultrabsicos. Grandes diamantes j foram a encontrados, com 400, 228, 141, 105 e 92 quilates (Quadro 4).

A espessura do cascalho varia entre 0,2 e 2,0 metros, onde o capeamento arenoso pode alcanar at 8 metros (Barbosa et alii, 1970). Na rea da Fazenda Vargem, Svisero et alii (1986) mencionam uma espessura de 3 metros para esses depsitos.

5.2. Geologia Estrutural

As sequncias xistosas da regio de Coromandel apresentam forte deformao que destruiu a maioria das estruturas primrias, mostrando, regularmente, o desenvolvimento de uma foliao milontica ou mesmo ultramilontica.

Em escala de mapeamento, as feies estruturais mais notveis so as grandes falhas de empurro, responsveis pelas inverses estratigrficas observadas. A linha de front dessas falhas normalmente apresenta direo geral NW-SE, com vergncia para NE, isto , em direo ao Crton So Francisco.

No caso especfico do cavalgamento do Grupo Canastra, sobre o Grupo Bambu, o alinhamento do front da falha mostra forte variao de direo. Enquanto a sudeste apresenta uma direo geral NW-SE, na poro norte da rea esta direo inflete-se para N-S. Esta geometria, conforme pode ser observado no estudo das aerofotos, parece indicar uma evoluo de falhamento de baixo ngulo (a sul), para um cavalgamento de alto ngulo, na parte norte. Em ambos os casos, no campo, nota-se o desenvolvimento de extensas faixas milonticas, tambm presentes nos contatos Arax-Ibi e Ibi-Canastra, mostrando ser a evoluo de zonas de cisalhamento dcteis.

A estrutura planar mais penetrativa, em escala de afloramento, representada por uma foliao milontica Sn, presente como uma xistosidade plano-axial nas faixas menos dobradas. A milonitizao desenvolveu nas rochas uma xistosidade anastomosada, dada pela disposio dos planos de mica envolvendo os porfiroclastos de quartzo. A atitude mdia desses planos situa-se em N30W; 55SW, conforme os dados obtidos em estereograma.

Outra feio importante, advinda da deformao (mais metamorfismo) o aparecimento de veios de quartzo, principalmente ao longo dos contatos tectnicos. Estes, possuem espessuras normalmente centimtricas, mas que podem alcanar vrios metros em zonas mais deformadas, como prximo cachoeira do Crrego Buriti. Os veios mais potentes so normalmente discordantes da foliao principal. Em alguns casos, podem adquirir formas sigmoidais, indicando movimentao para leste.

Na estrada em direo Fazenda da Fbrica, desenvolve-se junto ao contato Canastra-Bambu um calcrio intensamente fraturado, com preenchimento local de quartzo, slex e calcita.

Em relao a dobramentos, o estilo geral da rea um homoclinal, com os planos mostrando sempre caimento para SW. Em escala de afloramento, podem ser verificadas dobras isoclinais abertas, de tendncias ora simtrica, ora assimtrica, com vergncias para leste e caimentos suaves para SSE ou NNW; conforme observado em quartzitos do Grupo Canastra. Nas sequncias metapelticas, so comuns a presena de dobras em kink, chevron, ou em caixa, com amplitudes no maiores que centimtricas, normalmente associadas aos dobramentos maiores.

As crenulaes so comuns nas rochas filticas, como na Formao Ibi e no Grupo Canastra. O plano axial da clivagem de crenulao presente possui uma atitude mdia em NS; 50 E. Lineao de crenulao comum em todas as unidades xistosas, apresentando uma orientao em torno de S20W; 30(. Rods de quartzo, paralelos aos eixos das dobras em torno de N-S, podem ser observados em quartzitos Canastra, prximo ao contato Bambu.

5.3. Petrografia e Metamorfismo

Estudos de lminas delgadas, nas sequncias xistosas e quartzticas regionais, permitiram tecer certas consideraes sobre a petrologia e o metamorfismo superimposto a tais unidades.

Os micaxistos do Grupo Arax mostram textura granolepidobstica e uma associao a muscovita, quartzo e clorita, tendo como acessrios rutilo, zirco, turmalina e minerais opacos. Faixas de palhetas bem desenvolvidas de muscovita marcam a foliao, que se mostra dobrada e transposta. Os cristais de quartzo evidenciam duas granulaes tpicas e desenvolvem feies do tipo bordos serrilhados, sub-gros, extino ondulante, lamelas de deformao, recuperao, recristalizao, etc. A clorita parece ser formada s custas de muscovita, j que o intercrescimento entre esses dois minerais comum, mostrando gradaes. Rutilo e zirco so acessrios frequentes, preferencialmente associadas s faixas miccias. A turmalina ocorre sempre junto muscovita; seus cristais, eudricos, mostram-se paralelos foliao, denotando desenvolvimento sin-metamrfico. Os xidos aparecem em duas geraes, a mais antiga como cristais alterados paralelos foliao, e a mais nova (magnetita?) como cristais eudricos a subdricos, sem orientao preferencial, mas normalmente situados em pores mais quartzosas.

Em faixas mais deformadas, os xistos do Grupo Arax possuem granulao mais grossa, podendo tambm aparecer na associao principal, feldspato, biotita e actinolita. As granadas, nestas situaes, so comuns como minerais acesssrios, ocorrendo como porfiroblastos envolvidos por clorita e quartzo, que mostram sombras de presso. Quartzo tipo ribbon ocorre localmente. Os feldspatos no apresemtam qualquer geminao, dificultando sua identificao. Bastante alterados (com sericitizao e epidotizao), os feldspatos ocorrem em quantidade inferior a 5%, e poderiam (1) constituir nveis pr-deformacionais uma vez que a foliao sofre uma inflexo ao atravess-los, ou (2) aparecem como cristais subdricos associados ao quartzo, localmente sugerindo porfiroblastos. Restos de actinolita e biotita cloritizada ocorrem no meio da massa de muscovita e clorita.

No Grupo Arax, as reaes metamrficas presentes indicam (1) a formao de clorita a partir de muscovita + hemetita (?), evidenciando as condies de fcies xistos verdes, e (2) a formao de granada, provavelmente a partir de desidratao de clorita mais quartzo, ocorrendo nas faixas de deformao mais intensa (proximidades do contato com a Formao Ibi).

O micaxisto tpico da Formao Ibi caracteriza-se por uma notvel regularidade composicional. de tonalidade cinza esverdeada, ondulado, com abundantes vnulas e boudins de quartzo em matriz clortica e carbontica. Ocorrem tambm muscovita, plagioclsio, epidoto e titanita. Ferrari (1981) descreve os plagioclsios como clcicos, em porfiroblastos que sofreram sassuritizao produzindo carbonato, epidoto e clorita, alm de quartzo. Conclui este autor tratar-se a rocha original de um vulcanito de composio andestica. Uma gnese metassedimentar para a sequncia, porm, descrita desde a definio original de Barbosa et alii (1970), sendo melhor caracterizada ao constatar-se que, em direo a norte, ocorrem metaconglomerados na base da sequncia (turbiditos, para aqueles autores). Dardenne et alii (1979), de outra forma, atriburam origem glacial para as mesmas rochas, pela sua constituio de clastos de vrios tamanhos (at mataces), formas e composies (granito, gnaisse, quartzito, filito, calcrio, etc.).

Os filitos do Grupo Canastra so compostos essencialmente de sericita e quartzo. A sericita o mineral predominante, dando uma textura nitidamente lepidoblstica s rochas. O quartzo pode ocorrer tanto em diminutos cristais envoltos por sericita, como em lentes concordantes com a foliao, mostrando sempre evidncias de deformao (extino ondulante, bordos serrilhados, recristalizao, etc.).

Os quartzitos Canastra podem ser (1) puros, com textura granoblstica e cristais fortemente orientados gerando uma foliao milontica com recuperao e lamelas de deformao, como (2) ferruginosos, neste caso ricos em minerais opacos e com algumas palhetas de sericita e clorita (rara) que contornam os cristais de quartzo. Certos quartzitos apresentam-se mais miccios e, nestes casos, a muscovita ocorre em palhetas associada a gros diminutos de quartzo e opacos, determinando uma foliao milontica que s vezes envolve ncleos maiores de gros de quartzo.

Os acessrios mais comuns do Grupo Canastra, so zirco, rutilo, s vezes leucoxenizado, turmalina e opacos. As turrmalinas esto sempre associadas muscovita e mostram a mesma orientao delas. Granada pode ocorrer localmente, ao que parece, em zonas de deformao mais intensa (prximo ao contato com o Grupo Bambu).

As paragneses observadas indicam metamorfismo de fcies xisto verde baixo para os quartzitos Canastra, mas a presena de granadas em zonas de stress deve indicar condies localmente mais intensas do processo.

As rochas do Grupo Bambu, na regio de Coromandel, incluem calcrios metamrficos, metassiltitos e filitos ardosianos. Os calcrios so magnesianos, com cerca de 20% de MgCO3 e pouca slica (2% em mdia). Os metassiltitos e filitos ardosianos so compostos de sericita, clorita, biotita e quartzo; como acessrios verificam-se as presenas de turmalina e opacos (formados metamorficamente), e de zirco, apatita e rutilo (rolados). O Grupo Bambu tambm est metamorfizado em condies de fcies xistos verdes baixo.

6. MINERALIZAES DIAMANTFERAS

6.1. Caractersticas gerais

O Distrito Diamantfero de Coromandel (Chaves, 1989) tem produzido os maiores diamantes da Provncia do Alto Paranaba e do Brasil. Mais de 90% das pedras com peso superior a 50 quilates foram a descobertas, ressaltando o vasto potencial da regio. O Quadro 4 ilustra as principais pedras achadas no Distrito de Coromandel, devidamente registradas na literatura.

Este Distrito envolve extensa rea a nordeste do Arco da Canastra, dominando a regio conhecida como Planalto da Mata da Corda. No mbito do presente estudo, limitou-se a rea de mapeamento regio da cidade de Coromandel, onde ocorrem (1) alguns corpos reconhecidamente kimberlticos, (2) excelentes exposies da sequncia (diamantfera) do Cretceo e, (3) das mais volumosas e ricas aluvies diamantferas do Alto Paranaba, existentes ao longo do Rio Santo Incio.

6.2. Kimberlitos e outras possveis rochas primrias

No existe, at o presente momento, comprovao de diamantes ocorrendo em kimberlitos ou outras rochas-fonte primrias, no Distrito de Coromandel. No entanto, Barbosa (1983) descreve trs kimberlitos com diamante na Provncia do Alto Paranaba: Cana Verde e Boa Esperana, no municpio de Crrego DAnta, e Fundo, no municpio de Romaria. Os teores devem ser muitos baixos, visto que os trabalhos de garimpagem foram abandonados.

A possibilidade de ocorrncia na regio, da associao diamantes/kimberlitos frteis, tem sido constantemente considerada (Leonardos, 1956; Barbosa 1968; Barbosa et alii, 1970; Hasui & Penalva, 1970; Svisero et alii, 1979, 1983; Almeida et alii, 1980; Chaves, 1990; entre muitos outros).

Recentemente, Tompkins & Gonzaga (1989) procuraram negar esta associao, atribuindo uma origem cratnica para os diamantes da regio, que teriam sido para a transportados por ocasio da Glaciao Jequita (Proterozico Superior). Com isso, esses autores procuraram explicar o fato dos kimberlitos conhecidos serem estreis. Reforando a idia proposta, procurou-se um apoio indireto na hiptese de Dardenne et alii (1978), que consideraram a Formao Ibi como de origem glaciognica, ao correlacionarem esta unidade ao Grupo Macabas, reconhecidamente glacial.

O autor, em ocasies anteriores (p.ex., Chaves, 1990), tem procurado apoiar a hiptese dos diamantes do Distrito de Coromandel serem prximas, isto , provirem de kimberlitos situados na prpria regio. Entre outros argumentos, constatou-se que:

(1) Considera-se inicialmente curioso (e estatisticamente pouco provvel) a suposio de que a glaciao Jequita tenha transportado os diamantes por cerca de 200 Km, justamente para uma regio que foi no Cretceo intensamente povoada de kimberlitos (!). No caso dos conhecidos kimberlitos da Fazenda Vargem, no mesmo local os depsitos aluvionares j forneceram pedras de at 110 quilates (Quadro 4);

(2) A respeito deste episdio glaciognico, ainda problemtica aceitao do conglomerado Ibi (que no aflora na regio) como de origem glacial. Pelo contrrio, conforme j visto nos itens 5.1.2. e 5.3., vrios autores sustentam outros ambientes de sedimentao;

(3) No foi ao menos mencionado o fato dos conglomerados ps-vulcnismo (alcalino e ultrabsico) serem diamantferos. A centenria mina de diamantes de gua Suja, em Romaria, est plantada em conglomerados proximais do Cretceo Superior (Suguio et alii, 1979), idnticos aos que ocorrem em Coromandel e que tambm j forneceram diamantes (Maack, 1968).

(4) Esses conglomerados so tipicamente depositados em regime de leques aluviais (ou rios torrenciais), ou seja, caracterizam uma rea fonte tectonicamente ativa, cujo soerguimento implica em rpidas condies de eroso dos depsitos-fonte;

(5) Preferencialmente, as pores apicais dos pipes kimberlticos so mineralizadas. Estudos recentes (p. ex. Svisero, 1985) tm evidenciado que kimberlitos (e lamproitos) so simplesmente veculos de transporte de diamante desde o Manto Superior. Tais pores (apicais) foram seguramente erodidas durante a reativao tectnica ocorrida mais severamente no Cretceo;

(6) Na frica Central (Angola, Zaire e Repblica Centro-Africana) a mesma conexo diamantes/conglomerados cretcicos reconhecida (formaes Calonda e Kwango). Os pipes, alguns frteis, so tambm reportados ao Cretceo (Chaves, 1991). Complementando, Svisero et alii (1983) consideraram que todos os kimberlitos conhecidos na regio do Alto Paranaba apresentam relaes de quimismo extremamente semelhantes aos da frica do Sul.

NOME DATA DO ACHADO PESO(ct) LOCAL

_________________________________________________________________________

Pres. Vargas 1938 726,7 Rio Sto. Antnio do Bonito,

entre Taquara e Rufino

Darci Vargas 1939 460 Rio Sto. Antnio do Bonito,

Taquara

Charneca I 1940 428 Rio Sto. Incio, Garimpo

Charneca

Pres. Dutra 1949 408 Rio Douradinho, Faz. do

Saul

Coromandel VI 1940 400,5 Rio Sto. Incio, Garimpo

Charneca

Dirio de Minas 1941 375 Rio Sto. Antnio do Bonito

BonitoI 1948 346 Rio Sto. Antnio do Bonito,

Taquara

Vitria II 1943 328 Rio Sto. Antnio do Bonito,

Taquara

- 1982 277 Fazenda Natlia Vilela

Vitria I 1942 261 Rio Sto. Antnio do Bonito,

Taquara

Coromandel III 1936 228 Rio Sto. Incio, Garimpo

Charneca

Coromandel IV 1940 180 Rio Sto. Antnio do Bonito,

Taquara

Minas Gerais 1937 172,5 Rio Sto. Antnio do Bonito,

Fazenda Tio

Coromandel V 1935 141 Regio de Coromandel

- 1972 132 Rio Sto. Antnio do Bonito,

Garimpo Taquara

Vargem dec. 40 110 Rio Sto. Incio, Fazenda

Vargem

Charneca II 1971 107 Rio Sto. Incio, Garimpo

Charneca

Charneca III 1971 105 Rio Sto. Incio, Garimpo

Charneca

- 1989 92,4 Rio Sto. Incio, Garimpo

Charneca

Bonito II dec. 40 90 Rio Sto. Antnio do Bonito,

Garimpo Taquara

- dec. 40 90 Confluncia crregos

Bonito c/ Sto. Ant. Minas

Vermelhas

Douradinho III dec.40 82 Rio Douradinho, 20 Km

acima da Corrutela

- 1943 80 Rib. Buriti, acima da ponte

para Fazenda Bocaina

_________________________________________________ ________________________

Quadro 4: Grandes diamantes da regio de Coromandel - MG

(segundo Barbosa, 1991).

A enorme distribuio areal das rochas conglomerticas diamantferas (j destacada desde os trabalhos de E. Rimann e D. Guimares) poderia tambm explicar a notvel distribuio de aluvies frteis. Os 80 a 100 metros de espessura das coberturas correlatas Uberaba e Capacete devem ter permitido a eroso de centenas de metros das rochas subjacentes, provavelmente at os limites de fertilidade das rochas-fonte. Verwoerd (1970), afirma que a famosa chamin kimberltica de Kimberley s foi lavrada at a profundidade de 1000 metros; abaixo disso os diamantes rareavam.

Procura-se refutar, assim, que os diamantes da regio de Coromandel sejam mais antigos, isto , pr-cambrianos (inclusive, neste caso, eles seriam contemporneos dos diamantes do Distrito de Diamantina, que lhes so mineralogicamente distintos, segundo Chaves & Ulhein (1991). Os kimberlitos ou outras rochas parentais (lamproitos j foram descritos na regio de Presidente Olegrio por Leonardos & Ulbrich (1987) permanecem sendo as mais provveis fontes primrias do diamante no distrito.

Os principais corpos kimberlticos conhecidos na regio de Coromandel so os de Vargem 1 e Vargem 2 (Figura 2). O kimberlito Vargem 1 foi inicialmente reportado em Barbosa et alii (1976), entre outros como Tapera, Santa Clara, Lagoa Seca, Poo Verde e Coqueiro. Svisero et alii (1977, 1979) forneceram, acerca do Vargem 1, anlises qumicas de granadas, diopsdios e ilmenitas, todas com afinidades kimberlticas, comprovando a derivao do material.

O kimberlito Vargem 1 aflora em um barranco do lado direito do Rio Santo Incio, a cerca de 1200 metros a sudeste da sede da fazenda homnima (Anexo 1). O material aflorante o yellow ground do corpo, caracterizado por um solo argiloso, de alterao verde-amarelado, que contrasta com a cobertura aluvionar quaternria, de colorao avermelhada. Em meio massa argilosa, notam-se restos de minerais originais, como ndulos serpentinizados milimtricos (possveis alteraes de olivinas) e grande quantidade de granadas milimtricas de cor vermelha intensa, em geral muito fraturadas. Svisero et alii (1986) descrevem tambm fragmentos verdes claros de diopsdio e diversos opacos, como ilmenita, magnesiana, e magnetita.

A cobertura aluvionar do Rio Santo Incio mascara a maior parte do Kimberlito Vargem 1. O corpo est encaixado em metassiltitos alterados do grupo Bambu, localmente silicificados. Possui forma irregular, mas ligeiramente triangular, sendo vrios de seus contatos definidos por falhas normais. Suas dimenses principais, determinadas por magnetometria, so 260 X 130 metros, ocupando rea aproximada de 3,5 hectares (Svisero et alii, 1986).

O Kimberlito Vargem 2, est localizado nas proximidades do primeiro, a cerca de 800 metros ao sul e do mesmo lado do rio. Ocupa o topo de uma colina aplainada, seccionando os mesmos metassiltitos do Grupo Bambu.

Nenhuma evidncia marcante revela a presena do corpo kimberltico no local. Sua constatao foi o resultado do estudo de material proveniente de poo de pesquisa que encontrou grande quantidade de opacos, de onde foram separadas algumas granadas milimtricas - que foram posteriormente comprovadas como de origem kimberltica ( Svisero et alii, 1986). Analogamente ao corpo Vargem 1, o Vargem 2 foi levantado por magnetometria, sendo interpretado como o alargamento de um dique de direo N30E, com espessura mdia de 25 metros e comprimento de 150 metros (Svisero et alii, op. cit.).

Na mesma rea, vrias outras anomalias magnetomtricas assinaladas por aqueles autores podem indicar a ocorrncia de outros corpos kimberlticos, o que caracterizaria um enxame de kimberltos, muito comum nas principais zonas diamantferas da frica do Sul.Outro bem conhecido corpo kimberltico, o Santa Clara , localiza-se nas cabeceiras do crrego Santa Clara, imediatamente a oeste da regio estudada. Dista cerca de 11,5 Km da rodovia que liga Coromandel a Abadia dos Dourados. Est encaixado em micaxistos do Grupo Arax, sobre uma colina suave e sem qualquer indicao geomorfolgica que revele a intruso. O estado de alterao do corpo, semelhana dos kimberlitos Vargem 1 e 2, intenso.

Segundo Svisero at alii (1990), o levantamento geofsico (magnetometria e gama- espectrometria) a realizado, permitiu definir a estrutura do corpo - um diatrema arredondado com eixo principal de 400 metros. No solo sem alterao, verificou-se a presena de ilmenita (magnesiana), granada, diopsdio, cromita e magnetita.

Interessante observar a existncia comum de silexito junto ou prximo ao contato dos kimberlitos com as rochas encaixantes, mesmo sendo estas de natureza muito distinta - nos kimberlitos da fazenda Vargem so metassiltitos e no crrego Santa Clara so micaxistos. Este indicador geolgico deve ter origem a partir das prprias intruses, com mobilizao de slica das encaixantes, permitindo sua utilizao como guia de prospeco superficial para kimberlitos na regio.

6.3. Conglomerados Cretcicos

Os conglomerados tufceos que afloram na regio so atribudos no presente trabalho fcies Capacete, uma unidade da Formao Urucuia - que aflora quase continuamente em direo norte, compondo os largos chapades da Serra Geral de Gois, at o sul dos estados do Maranho e Piau (onde os conglomerados so tambm, localmente, diamantferos). Na Mina de gua Suja (Romaria), do outro lado do Arco da Canastra, conglomerados semelhantes so lavrados desde o sculo passado.

Segundo Barcelos (1989) os conglomerados so de idade cretcica superior, mais precisamente reportados ao Campaniano, entre 83 e 65 ma. Os kimberlitos tem provvel idade em torno de 80 m.a. correspondente s grandes intruses ultrabsicas e alcalinas, como Arax, Tapira e Catalo. Evidencia-se ento a associao entre magmatitos e conglomerados, principalmente ao se considerar as condies tectnicas que, com o soerguimento da rea fonte, permitiu a deposio de leques aluviais e outros depsitos tpicos de clima semi-rido.

No Distrito de Coromandel, conglomerados afloram nas cabeceiras dos rios Douradinho, Santo Incio (ambos na rea de estudo), Santo Antnio do Bonito e Santo Antnio das Minas Vermelhas, todos eles diamantferos e produtores de grandes pedras. Podem alcanar at 10 metros de espessura (a nordeste do povoado de Pntano, ao norte da rea em foco), mas normalmente esses corpos no ultrapassam 2 metros. Dentro os minerais pesados presentes na matriz, citam-se perovskita, magnetita, ilmenita e piropo (predominantes e indicando origem magmtica), alm de cianita, estaurolita, rutilo, zirco, almandina e turmalina, comuns nas seqncias xistosas regionais.

Maack (1968) descreve o descobrimento de um diamante de 0,75 ct nos conglomerados da rea (esta talvez seja a nica citao deste tipo). A altitude de ocorrncia da fcies Capacete varia entre 900 metros, prximo a Coromandel, at 1100 metros, nas cabeceiras dos rios Santo Incio e do Bonito. O desnvel para os rios prximos de cerca de 200 metros, indicando que os depsitos coluvionais so tambm bastante prospectveis.

O conglomerado Capacete provavelmente provocou o espalhamento dos produtos do magmatismo alcalino-ultrabsico-kimberltico por extensa regio. A extenso de afloramentos desta rocha, de Coromandel para norte, da ordem de 200 km. Existem reas onde o capeamento reduzido permitiria uma recuperao em lavra mecanizada. Na rea, a escassez de gua nos chapades, poderia ser resolvida com a canalizao a partir do rio Santo Incio, em regos acompanhando as curvas de nvel.

Outro problema, no entanto, diz respeito pesquisa desses corpos. Nem todos os conglomerados devem possuir teores semelhantes, pois estes variam em funo das respectivas reas fontes. O estudo dos conglomerados, portanto, precisaria ser acompanhado de uma reconstituio paleogeogrfica e uma prospeco envolvendo os satlites do diamante na regio.

6.4. Aluvies e Terraos Aluvionares

O diamante, classicamente extrado de depsito aluvionares no Distrito de Coromandel, o mineral que mais forte influncia social tem exercido na regio. A sua extensa distribuio, os mtodos relativamente fceis de lavra, aliados possibilidade de um rpido enriquecimento, mantm sempre uma considervel parcela da populao ocupada, direta ou indiretamente, nos servios de garimpagem. Este, feito preferencialmente nas pocas secas (maio a setembro), devido precariedade dos servios executados.

Os principais mtodos de lavra empregado na regio, so:

(1) desvio do rio, ou viradas - executados apenas nas pocas de seca, geralmente nas curvas do rio, abrindo-se um canal no lado cncavo e construindo-se barragens rsticas de pau, terra e sacos de areia, de modo a permitir a remoo de cascalho do leito;

(2) catas - para os garimpos manuais fora do leito do rio, nos barrancos e terraos (conhecidos como grupiaras ou monches), consistindo em escavaes irregulares de alguns metros, at se atingir o cascalho.

A apurao do diamante feita apenas com peneiramento, mtodo este, alis, utilizado em todos os distritos produtores do mineral no Brasil. Antes de passar no terno de peneiras clssico (de malhas 6, 3 e 1,5 mm), o cascalho classificado numa peneira grossa (suruca - na realidade uma chapa de ao furada) para retirar os seixos e blocos. As peneiras so ento parcialmente mergulhadas na gua e nelas aplicado um movimento de rotao e oscilao vertical que deixa concentrar o material pesado ao fundo. Virando-se rapidamente as peneiras no solo, o diamante, misturado no meio do concentrado escuro (xido), recuperado por observao visual. Este mtodo utilizado na prospeco aluvionar por empresas de pesquisas, normalmente suprimindo-se as peneiras mais grossas.

Na escala de mapeamento utilizada no presente trabalho, apenas os depsitos aluvionares do rio Santo Incio foram assinalados. Depois do Rio Bagagem (este no Distrito de Romaria-Estrela do Sul), o Rio Santo Incio o mais trabalhado na Provncia do Alto Paranaba, porm seus depsitos so mais volumosos e provavelmente mais ricos. Este rio um afluente do Rio Paranaba.

O Santo Incio formou uma rea de quase 25.000 Km2 de aluvies, a maioria na sua poro inferior (que abrange a rea estudada), quando ocorre sobre metassiltitos e calcrios no Grupo Bambu. A grande maioria dos seus depsitos permanece virgem, devido preferncia por terraos secos e a parca tecnologia utilizada, impraticvel em condies de muita gua. Os garimpos da fazenda Vargem e, principalmente, o da Charneca produzem regularmente uma boa quantidade de pedras, mas os teores so mal conhecidos (em mdia, devem estar abaixo de 0,1 ct/m3). Grandes diamantes j foram descobertos no Rio Santo Incio.

O Rio Douradinho, que corre sobre micaxistos (Grupo Arax), a sudoeste da rea, formou aluvies de pequeno porte, estreitos e descontnuos, no mapeveis na escala. Os principais garimpos concentram-se nas proximidades da vila de Douradinho, onde j foi encontrada uma pedra com 407,6 quilates (Presidente Dutra). Os acompanhantes do diamante neste rio, so: perovskita, piropo, zirco, ilmenita, favas fosfatadas e titanadas, safira, rutilo, estaurolita, magnetita e cianita (Barbosa et alii, 1970), sendo que ilmenita (magnesiana) e piropo podem ter relao com chamins kimberlticas.

Outros importantes rios Diamantferos do Distrito de Coromandel (fora da rea do estudo) so, o Santo Antnio do Bonito (de onde saram os maiores diamantes brasileiros, dentre eles o Presidente Vargas, na poca o quarto maior do mundo). O Rio Paranaba, que recebe as guas de todos os rios anteriormente descritos tambm diamantfero mas muito pouco trabalhado devido ao maior volume de suas guas. Os principais garimpos, Gamela e Figueira, esto a jusante das barras dos rios Santo Incio e Santo Antnio das Minas Vermelhas, respectivamente. Interessante observar que no Crrego do Bonito, que corre a nordeste da rea e no corta a seqncia cretcica, segundo os garimpeiros no diamantfero.

Estimativas oficiosas indicam uma produo de 5000 quilates de diamantes por ano, no Distrito de Coromandel, aproximadamente igual a produo do Distrito de Romaria-Estrela do Sul.

7. METALOGNESE DO DIAMANTE

Os dados geolgicos apresentados acerca do Distrito de Coromanadel, parecem dirimir qualquer dvida respeito da associao gentica dos diamantes com kimberlitos e/ou rochas parentais. Na figura 2, procura-se ilustrar comparativamente alguns kimberlitos africanos largamente mineralizados, como o Mwadui e o Premier, com o kimberlitos melhor conhecidos na Provncia do Alto Paranaba. marcante a expressiva diferena de tamanho na poro aflorante entre eles. Isto parece confirmar o nvel de eroso mais profundo a que os kimberlitos brasileiros esto expostos. Os kimberlitos diamantferos sul-africanos, pelo visto, sofreram pouca eroso (Hawthorne, 1973).

Como regra geral, os kimberlitos esto alojados em reas que tm sofrido arqueamento epirogentico anterior intruso, em particular, naquelas de juno de fraturas profundas. Este tambm o domnio preferido pelas sutes ultrabsicas alcalinas. No entanto, enquanto kimberlitos ocorrem principalmente de reas cratnicas (onde so tambm mais intensamente mineralizados), as rochas alcalinas so mais freqentes em bordas de cratons ou em cintures dobrados circuncratnicos (Dawson, 1980).

A relao kimberlito-rochas ultrabsicas alcalinas uma questo ainda polmica, mas extremamente importante pela perspectiva econmica que envolve. Apesar dos dados atualmente disponveis parecerem conclusivos contra uma ligao simples entre estes dois tipos de rochas - no sentido de ambos serem gerados a partir de um mesmo magma (Dawson, op. cit.) - o fato de existir uma forte relao de ambincia para sua formao deve ser levado em conta na prospeco de diamante.

Em relao ambincia do diamante do Alto Paranaba, apesar dos poucos dados existentes e/ou difcil acesso a eles, demonstrou-se que ele ocorre em maior abundncia em depsitos aluvionares e conglomerados cretcicos em vrios pontos perifricos ao Arco da Canastra. Isto , existe certa concordncia no que se refere locao de kimberlitos em arqueamentos regionais associados a falhamentos profundos, em relao aos kimberlitos sul-africanos.

No entanto, se for considerado os limites aceitos pelo Crton So Francisco, os depsito diamantferos importantes esto situados na borda externa sul do crton e geograficamente associados a rochas ultrabsicas alcalinas e carbonatitos. Esta situao no corresponde ao modelo conhecido para a frica e Sibria, pois aqui a regio mais promissora justamente aquela situada em rea de margem cratnica ou em cintures dobrados circuncratnicos (o conjunto Arax-Canastra-Ibi compe a Faixa de Dobramentos Braslia). Tais diferenas podem ser devidas a dois fatores principais:

(1) O conhecimento de todas estas reas, no Brasil, ainda escasso e, com exceo de zonas restritas, os mapeamentos esto na escala de 1:250.000, ou ainda menores. Tal deficincia pode levar a srios erros de interpretao;

(2) A distribuio dos kimberlitos no to ordenada quanto aparenta ser. O prprio Dawson (op. cit.) reconhece isto ao descrever kimberlitos na Amrica do Norte, onde muitos deles esto situados dentro do cinturo dobrado dos Apalaches e pelo menos um corpo mineralizado ocorre na margem da zona de maior deformao do Mesozico Mdio, na Bacia do Mississipi.

Um fato, porm, evidente: os kimberlitos so ps-orognicos e isto parece fora de dvida tambm para as ocorrncias brasileiras. Apesar das questes que permanecem a respeito do ambiente tectnico de emplacement dos kimberlitos na regio estudada, a associao kimberlito-conglomerado parece evidenciada.

8. CONCLUSO

Sobre a geologia, estratigrafia e mineralizaes diamantferas do Distrito de Coromandel, certas concluses podem ser assumidas:

- Os kimberlitos e/ou rochas parentais certamente so ps-orognicos e suas idades concordam com a tectnica de separao Brasil-frica, que ocasionou a movimentao de falhamentos pr-existentes, soerguimento de arcos e acentuada subsidncia nas sequncias xistosas pr-cambrianas;

-Estes eventos, associados, implicam em significativas alteraes nos gradientes topogrficos e, consequentemente, propiciaram a formao de depsitos tpicos de desnveis fortes em clima semi-rido, como leques aluviais e cascalhos fluviais torrenciais;

-Os conglomerados assim formados, basais em toda sequncia do Cretceo Superior, so comprovadamente diamantferos;

-As condies de rpido soerguimento e eroso, devem ter regionalmente nivelado as rochas primrias s suas zonas crticas de esterilidade;

-Os depsitos atualmente trabalhados em garimpos (na maioria aluvies cenozicos) representam o retrabalhamento das fontes secundrias.

9. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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RELATRIO FINAL DE PESQUISA

PRPq/UFMG PROCESSO 23072.044380/96-99

GEOLOGIA E MINERALOGIA DO DIAMANTE DA REGIO DE COROMANDEL, MG

Prof. Mario Luiz de S Carneiro Chaves

Dep. de Geologia/IGC

Maro, 1997

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