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CORREDOR CULTURAL: OUTRAS ABRANGÊNCIAS Gustavot Diaz O Corredor Cultural (CC) não é um evento local, e enquanto planejamento urbano não responde a metas atinentes exclusivamente à cidade de Curitiba. Tampouco se constitui meramente como movimento cultural ou de reformas, revitalizações e projetos pontuais de reurbanização. O CC é parte de um processo recente de estabelecimento de normativas para cidades que querem (e necessitam) se inserir no modelo e na lógica de cidades globais. Em que pese a compreensão de que este processo representa um esforço para reabilitar a exclusão espacial das periferias em relação ao centro tese em parte também acertada há um conceito das Ciências Sociais que qualifica de outra forma o CC, caracterizando-o como um procedimento distinto, pertencente a uma esfera mais abrangente de análise: o conceito de ‚gentrificação‛. Do inglês, gentrification (radical gent ou gentry: alta sociedade, nobreza), é o que no Brasil tem se chamado por vezes de ‚higienização social‛ e se refere a uma intervenção característica de re-capitalização em grandes centros urbanos, com ou sem apoio direto Estatal, surgido nos últimos 10 anos. Por via de regra, a consequência e os objetivos são o estímulo à especulação imobiliária por meio da recuperação de zonas centrais degradadas, normalmente deslocando a população original e atraindo residentes de alta renda. A origem do conceito é assim definida: A expressão da língua inglesa gentrificationfoi usada pela primeira vez pela socióloga britânica Ruth Glass, em 1964, ao analisar as transformações imobiliárias em determinados distritos londrinos. Entretanto, é no ensaio The new urban frontiers: gentrification and the revanchist city, do geógrafo britânico Neil Smith, que o processo é analisado em profundidade e consolidado como fenômeno social presente nas cidades contemporâneas. Smith identificou os vários processos de gentrificação em curso nas décadas de 1980 e 1990 e tentou sistematizá-los, especialmente os ocorridos em Nova Iorque (com destaque para a gentrificação ocorrida nos bairros do Soho e do Harlem, naquela cidade) 1 . Érica Maria Barroso Bernhardt 2 aponta a insuficiência da famosa teoria ‚espiral‛, defendida por geógrafos e sociólogos, que entendiam que o movimento populacional seguia um circuito do centro para a periferia, ocasionado pela procura das classes médias por espaços mais amplos de moradia - como os emblemáticos subúrbios norte-americanos. A gentrificação, no entanto, considera valores diferenciados na cultura de setores da classe média que os compatibiliza com novas dinâmicas de mercado e flexibilização financeira, gerando interesses de moradia de volta aos centros urbanos. Emprestamos de Érica Bernhardt, uma caracterização geral do termo: A crescente mobilidade de capital e a adoção de uma flexibilidade mercadológica permitem uma capacidade cada vez maior de produção de lucro, e novos cargos com salários elevados aparecem. A globalização torna esses serviços mais complexos e (...) há uma certa supervalorização desses cargos. A presença de companhias globais contribui com o aumento dos preços dos espaços comerciais e dos serviços, tanto industriais, quanto complementares, que fazem parte das atividades do setor internacional, como hotéis e restaurantes. Muitos dos setores que não conseguem mais competir com essa capacidade esmagadora de produzir lucro acabam fechando ou se deslocando para outras áreas, dando espaço para novas lojas, restaurantes ou prestadores de serviços em geral voltados para uma nova elite urbana. 1 <http://pt.wikipedia.org/wiki/Gentrifica%C3%A7%C3%A3o#cite_note-LATimes-2> Acessado em 02/12/2010. 2 Erica Maria Barroso Bernhardt, no artigo Gentrificação e Revitalização: perspectivas teóricas e seus papéis na construção de espaços urbanos contemporâneos, publicado na Revista eletrônica Urbanidades, da Universidade de Brasília (s/data). Este artigo foi bastante revisitado por nós e serve de base à presente análise. Disponível em http://www.urbanidades.unb.br/05/artigo_5_erica_bernhardt.pdf. Acesso em 01/12/2010.

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CORREDOR CULTURAL: OUTRAS ABRANGÊNCIAS

Gustavot Diaz

O Corredor Cultural (CC) não é um evento local, e enquanto planejamento urbano não responde a metas atinentes exclusivamente à cidade de Curitiba. Tampouco se constitui meramente como movimento cultural ou de reformas, revitalizações e projetos pontuais de reurbanização. O CC é parte de um processo recente de estabelecimento de normativas para cidades que querem (e necessitam) se inserir no modelo e na lógica de cidades globais. Em que pese a compreensão de que este processo representa um esforço para reabilitar a exclusão espacial das periferias em relação ao centro – tese em parte também acertada – há um conceito das Ciências Sociais que qualifica de outra forma o CC, caracterizando-o como um procedimento distinto, pertencente a uma esfera mais abrangente de análise: o conceito de ‚gentrificação‛. Do inglês, gentrification (radical gent ou gentry: alta sociedade, nobreza), é o que no Brasil tem se chamado por vezes de ‚higienização social‛ e se refere a uma intervenção característica de re-capitalização em grandes centros urbanos, com ou sem apoio direto Estatal, surgido nos últimos 10 anos. Por via de regra, a consequência e os objetivos são o estímulo à especulação imobiliária por meio da recuperação de zonas centrais degradadas, normalmente deslocando a população original e atraindo residentes de alta renda. A origem do conceito é assim definida:

A expressão da língua inglesa “gentrification” foi usada pela primeira vez pela socióloga britânica Ruth Glass, em 1964, ao analisar as transformações imobiliárias em determinados distritos londrinos. Entretanto, é no ensaio “The new urban frontiers: gentrification and the revanchist city”, do geógrafo britânico Neil Smith, que o processo é analisado em profundidade e consolidado como fenômeno social presente nas cidades contemporâneas. Smith identificou os vários processos de gentrificação em curso nas décadas de 1980 e 1990 e tentou sistematizá-los, especialmente os ocorridos em Nova Iorque (com destaque para a gentrificação ocorrida nos bairros do Soho e do Harlem, naquela cidade)1.

Érica Maria Barroso Bernhardt2 aponta a insuficiência da famosa teoria ‚espiral‛, defendida por geógrafos e sociólogos, que entendiam que o movimento populacional seguia um circuito do centro para a periferia, ocasionado pela procura das classes médias por espaços mais amplos de moradia - como os emblemáticos subúrbios norte-americanos. A gentrificação, no entanto, considera valores diferenciados na cultura de setores da classe média que os compatibiliza com novas dinâmicas de mercado e flexibilização financeira, gerando interesses de moradia de volta aos centros urbanos. Emprestamos de Érica Bernhardt, uma caracterização geral do termo:

A crescente mobilidade de capital e a adoção de uma flexibilidade mercadológica permitem uma

capacidade cada vez maior de produção de lucro, e novos cargos com salários elevados aparecem. A

globalização torna esses serviços mais complexos e (...) há uma certa supervalorização desses cargos. A

presença de companhias globais contribui com o aumento dos preços dos espaços comerciais e dos serviços,

tanto industriais, quanto complementares, que fazem parte das atividades do setor internacional, como

hotéis e restaurantes. Muitos dos setores que não conseguem mais competir com essa capacidade

esmagadora de produzir lucro acabam fechando ou se deslocando para outras áreas, dando espaço para

novas lojas, restaurantes ou prestadores de serviços em geral voltados para uma nova elite urbana.

1 <http://pt.wikipedia.org/wiki/Gentrifica%C3%A7%C3%A3o#cite_note-LATimes-2> Acessado em 02/12/2010. 2 Erica Maria Barroso Bernhardt, no artigo Gentrificação e Revitalização: perspectivas teóricas e seus papéis na construção de espaços urbanos contemporâneos, publicado na Revista eletrônica Urbanidades, da Universidade de Brasília (s/data). Este artigo foi bastante revisitado por nós e serve de base à presente análise. Disponível em http://www.urbanidades.unb.br/05/artigo_5_erica_bernhardt.pdf. Acesso em 01/12/2010.

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Esse processo pode ser identificado em muitas cidades européias, canadenses, estadunidenses e, mais recentemente, sul americanas, com caracterizações distintas, mas causas e finalidades similares. Suas consequências, tanto em linhas gerais, quanto em detalhes são bastante semelhantes ao processo atualmente em curso do CC:

É um processo onde, tanto atores privados, quanto públicos atuam visando um movimento habitacional de

uma classe média para centros urbanos deteriorados. Ela [a gentrificação] está vinculada a um processo

de globalização e de mudanças econômicas onde um sistema pós-fordista ainda prevalece, podendo ocorrer

tanto „espontaneamente‟ (...) ou [induzido] por políticas e investimentos públicos e privados. (...)

A criação de novas dinâmicas culturais inevitavelmente exclui uma grande parte da população,

normalmente os próprios moradores originais dos bairros gentrificados. (...) A gentrificação pode ser

considerada como um tipo de revitalização, mas um tipo específico com suas próprias lógicas

mercadológicas e de lucratividade. É uma espécie de „emburguesamento‟ de bairros que já possuem suas

próprias características, tradições e práticas culturais. Um fator fundamental para entender a

gentrificação é que sempre implica num deslocamento da população original.

É o que em linhas gerais acontece atualmente com o centro de Curitiba, mas também em diversas outras capitais, em especial o Rio de Janeiro, como veremos adiante. Em 2009, a Prefeitura Municipal de Curitiba, em parceria com o IPPUC, a UFPR, e associações comerciais3 iniciou o chamado Corredor Cultural, como parte de um processo de reestruturação geral do centro, que inclui modificações estruturais na Rua Riachuelo (iniciadas em 2009 e hoje em fase de conclusão), e na Rua São Francisco (com data de início ainda para 2010). Segundo definição apresentada pela Pró-Reitora de Extensão e Cultura da Universidade Federal do Paraná, professora Elenice Matos Novak, na reunião do COUN de 23/07/10, a contrapartida da UFPR no Projeto Corredor Cultural ‚consiste na composição de áreas físicas que agregarão ambientes para diferentes expressões culturais e artísticas (...) preleções de aulas magnas, além de espaços para socialização, educação, ensino e difusão da cultura e das artes‛, com o objetivo geral de ‚integração e articulação do Corredor Cultural com a cidade de Curitiba, cuja relação deverá conectar o Corredor Cultural da UFPR aos espaços culturais da cidade, estabelecendo integração e comunicação dos diferentes repertórios da arte e da cultura.‛ Consideramos, no entanto, que a ‚articulação cultural‛ proposta é apenas margem de um processo mais profundo. Mais do que promover ‚cultura‛, o CC estabelece novos padrões de gerenciamento e aproveitamento do espaço urbano, concatenados com a ordem hegemônica da atual fase do capitalismo. Esses novos padrões criam novas sociabilidades e divisões intra-urbanas, segmentando setores da população. Identifica-se no CC de Curitiba todos os ingredientes característicos da gentrificação: zonas centrais degradadas com vocação histórica e artística, interesses de comércio e especulação do solo, investimentos públicos de ‚revitalização‛, leis específicas de isenções fiscais e contrapartida de interesse e investimento privados, com objetivos de substituição da população e do locais. Um traço peculiar dos projetos de gentrificação nas cidades brasileiras, mais do que no exterior, é a degenerada concepção de que iniciativas públicas devem ser tomadas para suscitar contrapartidas privadas. Essa ‚troca‛ normalmente se dá via pacotes de isenção fiscal e valores intermediados pela transferência de Cepacs (Certificados de Potencial Adicional Construtivo) – títulos e ações de propriedade do Estado que são ‚trocadas‛ em acordos de Parcerias Público-Privadas (PPP) como compensações ao investimento de empresas na reforma urbana. Estes dispositivos são normalmente

3 Também estão envolvidas mais 13 entidades, alocadas ao projeto como ‚pontos de cultura‛. São elas: prédio histórico da UFPR (situado na Praça Santos Andrade); edifícios D. Pedro I e D. Pedro II (campus central); Associação Comercial do Paraná; sede antiga dos Correios; Capela Santa Maria; Cine Luz; Teatro Guaíra; Caixa Cultural; Livrarias Curitiba; Livraria do Chaim; Diário Popular; e Centro de Estudos Bandeirantes da Universidade Católica - PUC.

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utilizados nos processos de gentrificação que aqui identificamos. A Prefeitura de Curitiba formalizou em maio de 2010 um projeto de isenção fiscal à redes de hotelaria e culinária que desejem se estabelecer ao longo da Rua São Francisco (rua que desponta no turístico Largo da Ordem), na Riachuelo, na Praça 19 de Dezembro e no Passeio Público. O projeto de lei, chamado de ‚Revitalização da Riachuelo‛, garante a isenção fiscal de empreendimentos do gênero. Não coincidentemente, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, sancionou um pacote importante de leis neste mesmo sentido, conforme consta no site da Prefeitura do Rio, de 26 de Novembro de 20104:

O prefeito Eduardo Paes assinou na manhã desta sexta-feira, 26, contrato com o Consórcio Porto Novo para o início das obras da segunda fase do projeto Porto Maravilha, que está revitalizando a região portuária da cidade. O consórcio, vencedor da licitação que estabeleceu a maior Parceria Público Privada (PPP) do País, no valor de R$ 7,6 bilhões, será responsável por todas as obras desta segunda etapa, assim como pela prestação de serviços para esta região por 15 anos. (grifo nosso)

Discordamos que se trate de um mero processo de ‚revitalização‛ – termo inadequado por não considerar as implicações econômicas subjacentes ao processo. A notícia segue:

A operação vai permitir que essas intervenções, que começam em janeiro de 2011, sejam realizadas sem ônus para a Prefeitura do Rio de Janeiro. O investimento será todo custeado pela venda dos Cepacs. Após a solenidade, o prefeito do Rio falou sobre a importância do contrato como estímulo para que outras parcerias sejam formalizadas: “A assinatura do contrato demonstra a confiança do setor privado na seriedade da Prefeitura em conduzir esse processo. Era isso que queríamos comprovar e conseguimos diante da assinatura de hoje” afirmou Eduardo Paes, completando que a venda dos Cepacs deve começar até o fim do ano. Segundo ele, com a assinatura desse contrato, as pessoas estarão diante de uma região "completamente transformada" daqui a cinco anos.

Dentro de cinco anos, portanto, não apenas as empresas sediadas no Porto serão outras, como também os comerciários, moradores e os freqüentadores da região. A ‚confiança do setor privado‛ no poder público indica que a gerência estatal deste processo é fundamental; de outra forma dificilmente a iniciativa privada o teria realizado sozinha. Botelho explica que o elemento diferenciador da gentrificação nas cidades da América Latina em relação às estrangeiras é o ‚papel do poder público como condutor dos processos de revitalização.‛ (Botelho, 2005: 56, apud Bernhardt). No festejado evento de publicização da PPP do chamado projeto ‚Porto Maravilha‛, o Secretário de Desenvolvimento do Rio de Janeiro, Felipe Góes cita, ainda na mesma notícia, que ‚as pessoas que moram na região e seus visitantes terão uma qualidade de vida infinitamente superior à atual‛. Pelo contrário, o que se tem vista é a tendência de que os moradores locais sejam excluídos – exatamente como apontam os estudos de gentrificação em outras capitais:

A criação de novas dinâmicas culturais inevitavelmente exclui uma grande parte da população,

normalmente os próprios moradores originais dos bairros gentrificados. Muitas vezes, há um

ressentimento por parte desses moradores que vêem seu bairro „invadido‟ por uma cultura estranha com

padrões de consumo diferentes daqueles de uma classe economicamente mais baixa. Além de diferenças de

classe, em geral a população original apresenta diferenças étnicas e raciais da nova população moradora.

(Zukin, 1987 apud Bernhardt op cit.)

Ou ainda:

“A população empobrecida, por sua vez, que ocupou as edificações históricas na medida em que foram

sendo abandonadas pelas classes médias, hoje se sente ameaçada pelo avanço da revitalização [...].

Muitos imóveis foram desocupados, com os moradores deslocados para conjuntos habitacionais situados em

regiões periféricas, distantes de suas fontes de renda (sobretudo o comércio informal e os pequenos serviços)

e de suas redes de relações sociais.” (Botelho, 2003:68 apud Bernhard op cit.)

4 <http://www.rio.rj.gov.br/web/guest/exibeconteudo?article-id=1341344> (acessado em 26/11 /10) Texto: Flávia

David

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A PPP carioca inclui ainda, entre alterações na estrutura portuária, “a demolição do Elevado da

Perimetral, que representa um muro entre a cidade e o mar, causando sombra, barulho, poluição‛.5 Isso representa sem dúvida, assim como acontece na Rua Riachuelo, um aumento significativo do valor dos imóveis. Como resultado direto, portanto, da gentrificação (se não seu objetivo-fim) é justamente a valorização do solo e as novas possibilidades especulativas de aluguéis – o que Neil Smith identifica como o start econômico da gentrificação. Smith, citado por Bernhardt, afirma que a gentrificação é orientada pela oferta de imóveis, dando-se quando setores imobiliários preferem investir na reforma de construções centrais do que em novas edificações, uma vez que o custo é menor, disso ocasionando uma diferença de lucro potencial, definido como rent gap – o que no Brasil tem se chamado ‚lucro fictício‛. O lucro fictício se dá quando um imóvel tem o ‚potencial‛ especulativo ampliado após um processo de replanejamento urbano, que institui uma ‚diferença entre o valor real do aluguel após as melhoras e o valor potencial de aluguel que poderia ser cobrado pela propriedade se ela fosse melhorada (...). O objetivo dos proprietários seria minimizar essa diferença para maximizar seu lucro.‛ (Bernhardt, op cit) Citamos outro aspecto da gentrificação, apontado por Érica Bernhardt:

Muitas vezes, o processo de revitalização começa com o tombamento de locais que passam a ser

considerados patrimônio da humanidade. Os centros urbanos brasileiros em geral não são abandonados,

ao contrário, apresentam um dinamismo em relação a atividades comerciais, por mais que sejam

informais. Mas, freqüentemente, por conta de suas fachadas deterioradas, falta de segurança, pouca

arborização e pavimentação, são consideradas decadentes. A classe média raramente freqüenta esses locais

centrais, preferindo consumir em shopping centers mais afastados do centro. É comum, assim, que o

processo de revitalização se origine a partir de algum monumento ou edifício que faça parte do patrimônio

da cidade ou da criação de novos centros culturais. (idem)

Vemos exatamente o mesmo ocorrer na atual ‚revitalização‛ da Rua Riachuelo em Curitiba, no entorno do Paço Municipal – monumento patrimonial da Prefeitura recentemente restaurado pela rede FIEP e FECOMERCIO por meio de transferência de potencial construtivo (Cepacs). Seguiu-se à restauração a pavimentação, arborização, asfaltamento e iluminação de toda extensão da rua, até a Praça 19 de Dezembro, que desemboca num shopping center. Curiosamente, este caso é também muito semelhante à revitalização da Rua do Gasômetro em São Paulo, realizada por meio de uma PPP; ao centro de Recife, onde prostitutas e figuras correntes dos bairros centrais foram realocadas por conta do turismo; à revitalização do Pelourinho, em Salvador; às recentes revitalizações nas cidade de Vitória, Fortazela, São Luís, e do Conic, na zona sul de Brasília – todos casos apontados no artigo de Érica Bernhardt como processos evidentes de gentrificação.

Um outro enfoque, distante da mediação da especulação imobiliária nos processos de gentrificação, é apresentado por David Ley (1997, apud BERNHARDT), que considera como possível fator desencadeador a aproximação de artistas que se estabelecem em determinado bairro, em busca das características boêmias ou degradadas do local, mais compatíveis com seus valores. Assim o bairro passa primeiramente por uma tomada cultural, sendo sucedida pela classe média que se ‚apropria desses espaços e finalmente, os consolida dentro da lógica capitalista global. Os ‘gentrificadores’ migram para o centro da cidade não somente por causa dos preços do mercado imobiliário, mas por causa do surgimento de uma estrutura de sentido, uma ressonância de lugar, cultura, política e de identidade‛ (idem). Desta forma, a motivação da gentrificação é gerada por um projeto competitivo de apropriação do espaço simbólico, com objetivo final de comércio e lucro.

Não por acaso, vemos a iminência de um processo de gentrificação no Bairro São Francisco – bairro com marcadas características históricas por ser o mais antigo de Curitiba, com um grande sentido de preservação por se tratar de um bairro residencial, além da presença de inúmeros imóveis vazios e forte vocação boêmia (tem cerca de 20 bares e danceterias, além de inúmeras casas de teatro). O arquiteto Mauro Magnabosco, coordenador do programa ‚Novo Centro‛ e ex-

5 Idem.

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presidente do IPPUC, afirmou num debate da rádio CBN (13/11/2010) que várias regiões centrais sofrerão um processo de ‚revitalização‛, entre elas o entorno do Terminal Guadalupe, as Ruas João Negrão, Saldanha Marinho, Emiliano Perneta, e também a Praça 19 de Dezembro6. Assim definiu o arquiteto Mauro Magnabosco:

São lugares que demandam forte circulação de pessoas da Região Metropolitana de Curitiba e também da

periferia... tanto é que 86% das pessoas que chegam ao centro chegam por transporte coletivo, e esse pontos

são exatamente onde desembarcam essas pessoas que formam esse corredor. É claro que essas áreas têm um

comércio voltado para esse tipo de população que circula ali. Então é obrigação da prefeitura e do

IPPUC investir para melhorar este comércio... e eu acho que melhorando esse comércio. não é

desagradável conviver com os shoppings. Tem cliente para todo o tipo. (...) Cabe à prefeitura investir

muito no tratamento do espaço urbano. (...) Ainda esse ano será licitado a recuperação da São Francisco,

e junto dessa recuperação vai existir uma série de ações fomentadas pela Associação Comercial, pela

FECOMÉRCIO, pelo SEBRAE, pelo SENAC, pelo sistema todo, que é buscar um perfil novo de

atendimento ao usuário para poder atrair pessoas de outras regiões... o próprio turista que vem muito à

Curitba. Buscar vocacionar esta rua voltada para a habitação e para a alimentação. Para nós é evidente

e claro, e o IPPUC tem trabalhado em cima disso, o centro de Curitiba deve ser incentivado bastante

para habitação porque o comércio e serviço já existem. A gente tem visto uma série de empreendimentos

voltados para habitação, buscando modelos de empreendimentos com estacionamento, porque as pessoas já

têm seu automóvel, todo mundo já tem seu automóvel, e o centro sempre foi deixado de lado porque os

apartamentos no centro não tinham estacionamento. (...)7

Ele afirma a importância de ‚vocacionar a rua para habitação‛, mas qual população poderá habitar os locais higienizados? Infere-se a resposta a partir da fala do próprio arquiteto: uma população que possui carro e têm condições financeiras de residir no centro, um centro cujos valores de aluguel e IPTU foram inflacionados pelas ‚revitalizações‛... Noutras palavras, uma nova classe média, diferente da que já reside no centro. Ao contrário de prover necessidades habitacionais, a ‚revitalização‛ agrega fatores contrários, como aponta Tom Slater:

"Mesmo que os moradores desalojados não fiquem sem teto, a conversão de hotéis dilapidados em

apartamentos significa que haverá menos opções de habitação para as camadas mais pobres da população

e, se isso ocorrer em grande escala, criará uma grande pressão nas já assoberbadas organizações de auxílio

voluntário, de caridade e provedores de assistência social".8

Também fatores estranhos muitas vezes servem de justificativa e legitimação aos processos de gentrificação – como depreendemos da fala de Cláudio Marcio Antunes, presidente da Associação de Moradores, Comerciantes, Prestadores de Serviços e Amigos da Rua São Francisco, no mesmo debate acima mencionado:

“A questão do centro em relação às drogas... tem que se agir na ocupação dos imóveis, na melhoria pelos

proprietários dos imóveis, da prefeitura na estrutura urbana do centro, calçadas, ruas, iluminação. E

acho que todos nós somos responsáveis pelo centro da cidade. A partir do momento em que o proprietário

investe no seu imóvel, ele agrega valor à rua; a partir do momento que a prefeitura investe na estrutura

urbana da rua, ela agrega valor ao comércio, às atividades que se desenvolvem ali, à qualidade de vida

dos moradores da região central.”9

6 Já em 2006 também a Rua 24h foi apontada pela prefeitura como uma área de ‚interesse de revitalização‛,

para a qual a municipalidade destinou um orçamento de 4,5milhões, numa reforma ainda em curso. Disponível em: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=914108&page=14 Acessado em 01/12/2010. 7 Transcrição nossa do debate on line da CBN Notícias. Gravação integral disponível em: <http://www.cbncuritiba.com.br/index.php?pag=noticia&id_noticia=31960&id_menu=95> 8 SLATER, Tom. The Downside of upscale. Los Angeles: Los Angeles Times, July, 2006. Disponível em <http://articles.latimes.com/2006/jul/30/opinion/op-slater30> Acesso: 02 /12 /2010. 9 Idem nota de rodapé 6.

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A fala denota que, de alguma forma, o sentido das parcerias público-privadas está assimilado na gestão do planejamento urbano pela representação civil; perpassa o imaginário da burocracia e está como que introjetado nos representantes da administração pública da cidade. Nesse contexto, vê-se que há muito o Estado deixou de ser um regulador e passou a ser um agente direto do capital. Aquilo que é um corolário – quer dizer, a valorização mútua entre público e privado – banaliza-se a tal ponto que as decisões se polarizam entre iniciativa privada e Estado, sem se levar em consideração a população local, residente ou pendular de uma região.

Temos na região, pois, constituídas as condições objetivas e subjetivas de um processo de gentrificação. E por último, mas não menos preocupante – observa-se, no teor da fala do representante, a concepção de que o centro é uma responsabilidade de toda a cidade, e não o contrário – que seria preferível – onde toda a cidade fosse responsável pela periferia.

Uma das consequências mais graves da gentrificação é justamente a destinação da população original. A despreocupação do poder público quanto a isso entra em ressonância com outra realidade, agudizada nos últimos anos em Curitiba – as ocupações urbanas. Curitiba, além de ser a capital mais fria do país, é também a que tem a maior população de moradores de rua. A demanda por moradia atinge o número de 60 mil famílias sem teto, num espectro de 110 mil imóveis vazios na cidade. A ocupação desses imóveis, que poderia minimizar a demanda por moradia, está servindo de mote à gentrificação, que objetiva atrair classes médias que se apropriarão de grande parte desses imóveis – inviabilizando o que poderia ser uma enorme possibilidade de habitação popular. Curiosamente, despejos sistemáticos têm ocorrido na Grande Curitiba, como por exemplo o despejo dos ocupantes de uma área de Piraquara, Região Metropolitana de Curitiba – a Ocupação ‚Olga Benário‛, que agrega no entorno outras duas ocupações – de onde cerca de 350 famílias foram despejados na manhã de 2 de Dezembro de 2010. Do centro, a classe média baixa é desalojada; da periferia são despejados trabalhadores sem-teto. ‚Para onde irão estas pessoas?‛ é a dramática pergunta que nos resta.

Em Curitiba, tanto as adjacências do Paço Municipal, quanto o bairro São Francisco, oferecem um status artístico próprio, seja por sediar aparelhos culturais, seja pela ambiência de profissionais do setor nessas localidades. O processo de gentrifiação significa aí a conversão de um valor simbólico num valor financeiro – onde a caracterização histórica e artística do lugar promove (muitas vezes pelos próprios artistas) interesses especializados de moradia, compatíveis com a especulação imobiliária de uma classe média mais sofisticada, num processo assessorado pelo poder público. Este último também possui interesses, dos mais diversos, tendo nesse momento, ao que tudo indica, o foco de convergência nos jogos olímpicos e na Copa do Mundo – cujo resultado é a articulação de interesses diversos que serve de mote às ‚revitalizações‛. Esses interesses evidenciam-se no claro processo de gentrificação em curso na Região Portuária do Rio de Janeiro, que citamos acima. Em consonância com a maior PPP do Brasil, no dia 25 de Novembro o prefeito Eduardo Paes assinou as três leis municipais (de autoria do Executivo) que compõem o Pacote Legislativo para Copa do Mundo de 2014, as Olimpíadas e as Paraolimpíadas de 2016. A principal medida do pacote será ‚estimular a criação de novas acomodações, através de mudanças de parâmetros urbanísticos e incentivos fiscais‛, segundo notícia do site da Prefeitura do Rio.10 A estimativa é que sejam construídos pelo menos mais 8 mil quartos em hotéis com a aprovação do pacote. Para demonstrar a perfeita sintonia de articulação entre governo e empresas privadas, citamos um trecho da matéria:

A nova legislação autoriza a venda de imóveis remanescentes da construção do futuro Parque Olímpico localizado na área do Autódromo de Jacarepaguá e a construção de um novo Autódromo no bairro de Deodoro. O pacote também permite mudança de regras urbanísticas na área do antigo prédio da Brahma na Cidade Nova, o que vai garantir a ampliação do Sambódromo. A medida permitirá que a Ambev faça um melhor aproveitamento comercial da área e, em troca, ficará responsável pela construção de um novo conjunto de arquibancadas e camarotes na Marquês de Sapucaí, como está previsto no projeto das Olimpíadas.

10 Disponível em <http://www.rio.rj.gov.br/web/guest/exibeconteudo?article-id=1338529> (Texto de Anna Beatriz Cunha) Acesso: 02/12/2010.

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O conjunto de leis garante benefícios fiscais para a construção e funcionamento de hotéis, pousadas, resorts e albergues na cidade, assim como incentivos para hotéis-residência situados exclusivamente na Região Portuária e no Centro. E favorece a conversão de imóveis já existentes para o uso hoteleiro, possibilitando ‚a remissão de dívidas de IPTU. Será garantida ainda a isenção do IPTU durante a fase de construção ou reforma do imóvel, além de reduzir a alíquota de ISS para serviços de construção‛ (idem). O ministro do Turismo, Luiz Barreto, defende que o Rio seja um exemplo para outras cidades incentivarem a ampliação da rede hoteleira: ‚Acho que o Rio de Janeiro deu um passo importante e é isso que eu gostaria que vários outros prefeitos fizessem. O Rio deu um exemplo positivo nessa direção‛. Exatamente um ‚exemplo‛ é o que ambiciona a iniciativa carioca, pois os jogos esportivos se estenderão por diversas capitais.

Um exemplo da mesma ordem a capital carioca dá em seu Relatório de Desempenho do 1º semestre de 2010, documento que aponta o resultado das metas estabelecidas no Planejamento Estratégico. Citamos os mais significativos, referentes à infra-estrutura urbana: 1) Reduzir, em pelo menos, 3,5% as áreas ocupadas por favelas na cidade até 2012, tendo como referência o ano de 2008; 2) Concluir até o final de 2012, a fase 1 do projeto do Porto Maravilha (que inclui a abertura da Pinacoteca, a reforma do Píer Mauá, a recuperação de armazéns nas docas, a revitalização do bairro da Saúde, a garagem subterrânea da Praça Mauá, e a construção de um novo acesso viário ao porto).11 São dispositivos legais que se comprometem a assegurar o privilégio de determinadas redes e regiões e ‚disciplinar‛ o dimensionamento urbano. Nota-se aí novo sintoma da clara convergência entre burguesia e setores da classe média sintonizados com os governos.

Praticamente os mesmos benefícios fiscais oferecido no Rio estão sendo propostos para instalação de redes hoteleiras e de restaurantes no entorno da Rua Riachuelo, em Curitiba. Vale lembrar que esta fica próxima ao Largo da Ordem, com fácil acesso a outros bairros tangenciais do centro, num setor histórico que muito recentemente era considerado perigoso e degradado. Conforme notícia da Gazeta do Povo (19/07/2009), ‚O poder público espera que os empresários tragam atrativos para a região, repovoando o local e gerando riquezas; enquanto os investidores esperam que o governo primeiro ‘limpe’ e valorize a área, para que o risco da aplicação de recursos caia e a taxa de retorno seja parecida com a obtida em outras área da cidade.‛ Segundo notícia oficial, pelo Projeto de lei ‚Marco Zero de Redução do IPTU‛ apresentado pelo ex-prefeito Beto Richa, a Câmara Municipal de Curitiba aprovou incentivos fiscais para comerciantes e moradores que restaurarem imóveis na região. O projeto prevê descontos de 50% a 100% no pagamento do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), conforme a situação dos imóveis reformados. Também está prevista isenção do Imposto Sobre Serviço (ISS), do Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis por Atos Intervivos (ITBI), das Taxas de Licença para Execução de Obras e de Vistoria de Conclusão de Obras. As áreas beneficiadas são ‚as ruas Riachuelo e São Francisco, a Praça 19 de Dezembro e o Passeio Público. O projeto também inclui o quarteirão ao lado da Praça Tiradentes, formado pela praça e pelas ruas José Bonifácio, Nestor de Castro e Rua do Rosário. Poderá ser concedida redução de IPTU aos proprietários de novas edificações, ou aos que realizarem restauro ou reformas, e promovam a ocupação de acordo com o uso definido no projeto aprovado. Os imóveis não edificados, subutilizados e com edificações paralisadas ou em ruínas localizados na área definida nesta lei (ou na lei dos incentivos do centro) ficam sujeitos aos instrumentos de edificação compulsória e à incidência de alíquotas progressivas no tempo do Imposto Sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana, IPTU Progressivo‛12.

O que estamos assistindo no centro de Curitiba, é uma clara extensão da gentrificação global das grandes cidades – uma sobre-exploração de áreas que um dia já foram apropriadas. O coração deste processo, que parece ser o centro – mais especificamente ‚o centro do centro‛, de onde partiu o impulso inicial e ao redor do qual se estruturaram, desde o PPU de 1966, os Eixos Estruturais de Desenvolvimento – está em outro lugar. De fato, o processo de expansão a partir do

11 Dados da Secretaria Municipal da Casa Civil, Prefeitura do Rio de Janeiro. Disponível em <http://www.rio.rj.gov.br/web/cvl/exibeConteudo?article-id=1030008> Acesso: 30/11/10). 12 Disponível em: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=914108&page=14> (Notícia de 16/12/2009) Acesso: 01/12/2010.

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centro transformou a área central em um ‚ponto-cego‛ do desenvolvimento, atolado sob o crescimento do entorno, uma vez realocadas as classes médias da área central.13 Reforça essa impressão os 68 pontos de cultura e lazer no centro de Curitiba, segundo o arquiteto Mauro Magnabosco, assim como o fato de que 14% do comércio da cidade estão ali situadas, segundo Iroclê Wykrota, consultora da Associação Comercial do Paraná. Mas a verdade é que este é um processo sem coração, constituído de corpos múltiplos unidos por um único sistema nervoso central: a acumulação flexível de capital. Como explica-nos Neil Smith:

Com a globalização promovendo um reescalonamento global, a escala do espaço urbano foi refundida. O

processo de gentrificação (...) começou como um fato isolado e esporádico aqui e ali, e generalizou-se como

uma estratégia urbana: sua incidência agora é global, e (...) estaria intimamente ligada ao circuito global

de circulação de capitais, com a mudança de foco da escala urbana, anteriormente definida de acordo com

condições de reprodução social, para uma escala em que o capital produtivo detém uma precedência

nítida.14

13 ‚Historicamente, as reformas implementadas pela via autoritária no desenho da cidade de Curitiba, com as distorções bem conhecidas, representaram, na prática, não o ‚abandono‛ do Centro, mas a sua redestinação, o seu reendereçamento, com a atração para o Centro das camadas populares e de mais baixa-renda, que passaram a substituir as classes médias como a clientela do comércio, também ele reformulado. Medida determinante nessa redestinação do Centro foi o fechamento da Rua Quinze de Novembro e da Avenida Luiz Xavier ao tráfego de automóveis, com a implantação do Calçadão da Quinze. Operou-se com o Calçadão uma primeira medida de apartheid social, só que ao avesso, com a paulatina exclusão de automobilistas do Centro‛. (Jaques Brand, In: ‚A Propósito do Projeto Corredor Cultural, para Discussão‛). 14

SMITH, Neil. New Globalization, New Urbanism: Gentrification as Global Urban Strategy, Graduate Center, City University of New York, NY. In: <www.unc.edu/courses/2005fall/geog/021/001/HumanGeogFall05/smith> Acessado em 02 /12 /2010.