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ANO LIX | JANEIRO 2013 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤ #1 COSTA DO MARFIM SONHOS ADIADOS POR FALTA DE ESCOLARIZAÇÃO Pág. 13 Pág. 10 Pág. 14 AMÉRICA EM CHOQUE DEBATE LEI DAS ARMAS MISSIONÁRIOS ALIMENTAM 500 CRIANÇAS TERRORISMO SEM ROSTO NA NIGÉRIA

COSTA DO MARFIM

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Sonhos adiados por falta de escolarização

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ANO LIX | JANEIRO 2013 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤ #1

COSTA DO MARFIMSONHOS ADIADOS POR FALTADE ESCOLARIZAÇÃO Pág. 13

Pág. 10

Pág. 14

AMÉRICA EM CHOQUE DEBATE LEI DAS ARMAS

MISSIONÁRIOS ALIMENTAM 500 CRIANÇAS

TERRORISMO SEM ROSTO NA NIGÉRIA

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PROJETO 2013Costa do Marfim

MISSIONÁRIOSDA CONSOLATA

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editorial

DARCI VILARINHO

As sociedades são cada vez mais multiculturais e multi-religiosas. O fundamentalismo é sempre uma falsificação das religiões cuja tarefa no mundo é promover a paz, a justiça e o perdão, e lutar pela defesa dos direitos humanos. Não haverá paz no mundo sem paz religiosa. E para que haja paz entre as religiões há que promover o diálogo entre elas.

Vem isto a propósito da aberturade um novo espaço de diálogointer-religioso e intercultural em Viena de Áustria. Tem o nome do rei Abdullah da Arábia Saudita e foi inaugurado no fim do ano 2012. É mais uma tentativa de construir pontes entre as religiões, na compreensão mútua e na cooperação em ações de paz e de promoção dos direitos dos povos. O facto

APRENDER A DIALOGAR

do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, o qual, na inauguração desse espaço, sublinhou a sua importância como “oportunidade de um diálogo aberto sobre numerosos temas, inclusive os relacionados com os direitos humanos fundamentais, e em particular com a liberdade religiosa, em todas as suas formas, para todos, para todas as comunidades e em qualquer lugar”. São palavras que refletem a preocupação da Santa Sé pelo modo como as comunidades cristãs vivem naqueles países onde a liberdade religiosa não está garantida. O Centro dará o seu contributo para que os contemporâneos não sejam privados da luz e das propostas que a religião oferece para a defesa dos direitos humanos e a felicidade de toda a pessoa.

Na Ásia, berço das mais importantes religiões mundiais, os Missionários da Consolata na Coreia do Sul acabam de inaugurar outro

Na Ásia, berço das mais importantes religiões mundiais, os Missionários da Consolata na Coreia do Sul acabam de inaugurar outro espaço de diálogo inter-religioso, intitulado “Fonte de Consolação”

de o Centro ser dirigido por nove personalidades: três muçulmanas, três cristãs, um hebreu, um hindu e um budista, pode ser promissor. Mas, o mais estranho disto tudo é que seja apoiado pela Arábia Saudita, onde não é permitida nenhuma outra religião para além do Islão e onde expor em público ou em privado os símbolos da fé cristã pode levar à prisão ou expulsão do país. Estas duas medidas, diálogo fora e repressão dentro, têm suscitado críticas na Europa e nos meios muçulmanos mais liberais.

É de louvar, por isso, a franqueza do cardeal Tauran, Presidente

espaço de diálogo inter-religioso, intitulado “Fonte de Consolação”. O gesto simbólico de aí plantar três pequenas árvores quer expressar a vontade de fazer frutificar os dons da paz, do diálogo, da fraternidade e da solidariedade entre as religiões. O futuro está no diálogo, mas o diálogo aprende-se.

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Pagamento da assinaturamultibanco (ver dados na folha de endereço),transferência bancária nacional (Millenniumbcp)NIB 0033 0000 00101759888 05transferência bancária internacionalIBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05BIC/SWIFT BCOMPTPLcheque ou vale postal

(inclui o IVA à taxa legal)

Nº 1 Ano LIX – JANEIRO 2013Tel. 249 539 430 / 249 539 460Fax 249 539 429 [email protected]@fatimamissionaria.ptassinaturas@fatimamissionaria.ptwww.fatimamissionaria.pt

03 EDITORIAL Aprender a dialogar 05 PONTO DE VISTA O fio da história continua 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES A bênção do amor 08 MUNDO MISSIONÁRIO Cerca de 300 mil crianças de armas na mão Só uma em quatro crianças seropositivas é tratada Haitianas combatem sequelas do terramoto Radiadores de África para pobres da Noruega 10 A MISSÃO HOJE Missionários asseguram pão a mais de 500 crianças 11 PALAVRA DE COLABORADOR Com o coração na Consolata 12 A MISSÃO HOJE Crianças ajudam crianças 13 DESTAQUE Vítimas de uma liberdade desajustada 14 ATUALIDADE “O Deus dos cristãos é o mesmo Deus dos muçulmanos” Venezuela com medo do pós-Chávez 22 GENTE NOVA EM MISSÃO Vamos revelar Jesus ao mundo 24 TEMPO JOVEM Os sonhos constroem-se 26 SEMENTES DO REINO Luz para todos 28 O QUE SE ESCREVE 29 O QUE SE DIZ 30 GESTOS DE PARTILHA 31 VIDA COM VIDA Muitos se ajoelharam diante dele 32 OUTROS SABERES Cada um é para o que nasce 33 NOTAS MISSIONÁRIAS A cana e a rede – dois estilos de missão 34 FÁTIMA INFORMA Nova unidade de saúde quase concluída

ATUALIZEA SUA ASSINATURA

Rua Francisco Marto, 52Apartado 52496-908 FÁTIMA

FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da ConsolataContribuinte Nº 500 985 235Superior Provincial António Jesus FernandesRedação Rua Francisco Marto, 522496-908 FátimaIm pres são Gráfica Almondina,Zona Industrial – Torres NovasDepósito Legal N.º 244/82Tiragem 26.600 exemplaresDiretor Darci VilarinhoDiretor executivo Francisco PedroRedação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana BatistaColabora ção Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Teresa Carvalho; Diaman tino Antunes – Moçambique, Tobias Oliveira – Roma; Álvaro Pa che co – Coreia do SulFotografia Lusa, Ana Paula, Elísio As sunção e ArquivoCapa e Contracapa Ana PaulaIlustração H. Mourato e Ri car do NetoDesign e com po sição Happybrands e Ana Pau la RibeiroAd mi nis tração Joaquim Bernardino e Cristina Henriques

Assinatura AnualNacional 7,00€Estrangeiro 9,50€De apoio à revista 10,00€Benemérito 25,00€Avulso 0,90€

sumário

18SONHOS E DESAFIOSMISSIONÁRIOS

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pontode vista

texto ANTÓNIO FERNANDES*

O FIO DA HISTÓRIA CONTINUAA vida é um mistério. Contemplá-lano quotidiano é um verdadeiro desafio com o qual nos confrontamos. A “partida” do padre Manuel Carreira, o primeiro missionário da Consolata português, coloca-nos perante esta dimensão da vida humana.

“O fio da história termina aqui”,escrevia ele na FÁTIMA MISSIONÁRIA do mês de dezembro. Coincidência? Creio que não. Para nós, a história, os encontros quotidianos com o Outro e com os outros, as dinâmicas da vida e da morte, só podem ser lidas, relidas e compreendidas na perspectiva da fé. O fio da sua história não terminou, continua.

O seu jeito afável de se aproximar das pessoas, com o sorriso aberto e amigo, para dialogar com crianças, jovens e adultos; o amor e a fidelidade com que viveu a sua fé e a sua vocação missionária, dentro do Instituto pelo qual se apaixonou; a sua afeição à Mãe Consolata e ao fundador beato José Allamano; a simplicidade no trato, delicado e acolhedor, que sempre o distinguiram, foram

marcas fundamentais do seu perfil. A experiência de Deus faz-se no encontro com o Outro, na partilha e na procura do bem, e na capacidade de dar espaço ao autor e consumador da nossa fé (cf. Heb 12,2).

O fio da história não terminou…Somos parte da história que Deus vai escrevendo quotidianamente. “Os altos montes e as colinas seculares serão aplainados, os bosques e todas as árvores aromáticas darão sombra” (Baruc 5,7-8). O aroma e a beleza da presença de Deus na vida do padre Carreira serão a força do nosso testemunho. Dedicou os últimos 20 anos da sua vida a comunicar com os leitores de FÁTIMA MISSIONÁRIA. Não foram só as numerosas rubricas que assinou: “Vida com vida”, “Outros saberes”, “As aventuras do Pipo”,a “Intenção missionária”, “Leitores atentos”, “O que se escreve” e“O que se diz”. Foram também tantos outros detalhes nos trabalhos de redação para embelezar os textos que se produziam. Tudo pela missão.Deixou ainda alguns textos preparados que a nossa revista vai continuar a publicar.

O futuro não é incerto, é de Deus. Acreditar e ter esperança é viver neste preciso momento em que nada acontece por acaso. Deus não falha. Na tua entrega, padre Carreira, contemplamos este grande mistério e agradecemos em nome da nossa revista tudo o que nos confiaste com o perfume da tua vida. A beleza de Deus fez-se história contigo.*Superior Provincial

O aroma e a beleza da presença de Deus na vida do padre Manuel Carreira serão a força do nosso testemunho

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RENOVE A SUAASSINATURAFaça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05.Refira sempre o nú me ro ou nome do assinante. Na folha on de vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu númerode assinante.

Agradecemos que os nossoses ti mados assinantes renovema assinatura para 2013.Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoiodo Estado ao porte dos correios. Os do na tivos para as missões são de dutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte.

Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA«a nossa revista». É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

leitoresatentos

Diálogo abertoCaros missionários,Mês de outubro, mês das missões por excelência, mas euconsidero-me missionário todos os dias. Envio por isso um vale postal de 300,00 € para atualizar todas as assinaturas que fazem parte da minha lista. E já agora vai uma nova assinatura…. Ainda bem que vai havendo gente a querer saber mais sobre a Missão, embora alguns paguem

pouco, mas também é verdade que outros pagam mais. Eu digo pagam, mas o que se dá é uma pequena colaboração, porque estas coisas que dizem respeito ao sobrenatural não se podem medir pelo natural.António Fernandes de Sousa

Senhor António,Bem haja por tudo o que faz pela nossa revista. O senhor é um exemplo de missionário no dia a dia. Não só recolhe as assinaturas, como bom colaborador, mas até procura outros assinantes. Quem dera que outros

fizessem o mesmo para que o ideal da Missão fosse mais conhecido e apreciado. Os jornais estão cheios de “más notícias”. Nós procuramos mostrar o positivo das pessoas e das culturas de outros povos para que cresça a fraternidade universal e os povos do mundo inteiro deem as mãos na promoção dos que mais precisam. É esse o nosso objetivo e o senhor dá-nos uma ajuda preciosa.Bem haja!DV

SE TODOS DESSEM AS MÃOSQueridos amigos missionários,Hoje mesmo enviei um vale de correio para pagamento dos calendários que me enviaram. Espero que, antes do Natal, possa enviar também o dinheiro das cinco assinaturas para 2013. O tempo é de grande crise, mas as pessoas têm sido solidárias. Neste mundo em que vivemos de incertezas e austeridade, os pobres são sempre os que mais se disponibilizam para ajudar. Se todos dessem as mãos, teríamos um mundo melhor, mas é o que temos. E quanto tempo não teremos de viver assim!Maria da Encarnação

MISSÃO É TODOS OS DIASCaros missionários da Consolata,A paz e o amor de Cristo estejam com todos vós. Passou o mês das missões, mas para mim a missão é todos os dias. Fiz o peditório junto dos meus amigos para as missões que rendeu 75,00 €, mas vai um cheque de 120,00 € para pagar a assinatura da revista para 2013. O restante é para ajudar quem mais precisa. Sou uma admiradora do vosso trabalho. Leio com muita atenção a revista sempre que ela chega. Gosto de todos os artigos que por vezes me dão muita ajuda

para o trabalho na igreja, sobretudo a “Palavra faz-se missão”. Obrigada.Julieta

ÁLBUM DE RECORDAÇÕESEx.mos senhores,Envio um cheque para pagamento da nossa revista FÁTIMA MISSIONÁRIA para o ano 2013, sendo o restante para aquilo que entenderem. Folheando o álbum de recordações, cheguei ao ano de 1993…, da comemoração dos 50 anos. Aí estive pelo núcleo do Cacém. São datas que me marcaram muito. Ainda conservo uma camisola e uma cassete e recordo com saudade os dois dias que convosco convivi. Joaquim José

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horizontes

TEXTO TERESA CARVALHOILUSTRAÇÃO HUGO LAMI

A BÊNÇÃODO AMOR

voltou. Viu-se ali, sozinha, olhando um casal a viver um momento como ela sonhou para si, agarrada à promessa de fazer com que a vida da sua Ritinha fosse linda desde o princípio. – A senhora Liliana Costa pode entrar.Liliana levantou-se a custo, pegou na malinha com o enxoval de Ritinha e transpôs a porta. Do outro lado, uma pessoa sorridente aguardava-a. – Olha a nossa mamã corajosa! Bem-vinda! Vamos já ver como estão estas duas grandes mulheres!Liliana sorriu, sabendo-se protegida por aquela senhora que desde que a conhecera a tratou com todo o respeito e até com carinho. As tensões desapareceram. No fim da tarde, exausta pelo parto, sentiu-se também ela abençoada, enquanto admirava com encanto o rosto sereno de Ritinha. Agradecida ao céu, por ter consigo um bálsamo para muitas das suas dores. Por sentir nascer uma força que a fará galgar todas as barreiras.– Juntas vamos fazer uma vida linda, Ritinha! A mamã está aqui! – segredou em promessa comovida. E cansada, adormeceu de sorriso tranquilo e olhos humedecidos por tamanha felicidade que nem sabia existir.Era o Amor!

seus medos guardados em silêncio.Na receção identificou-se e entregou a carta da sua médica.– Pode aguardar. Já a chamam.Liliana sentou-se. Ao lado, um casal também aguardava a sua vez. Disfarçadamente centrou neles a sua atenção. Riam-se baixinho, conversando animados. De vez em quando, o rapaz acariciava a barriga da companheira e olhavam-se nos olhos com ternura.

– Dona Mariana da Silva, pode entrar – chamaram ao altifalante. O rapaz ajudou a companheira a levantar-se e ambos atravessaram a porta de acesso ao interior do serviço.À espera, sentada, Liliana ficou a meditar na sua história. Do desejo de ser mãe e na sua confiança em Luís quando prometeram um ao outro construir uma família de amor; do dia em que descobriu que Luís a abandonou; dos momentos aflitivos da sua infância quando via a mãe a ser forçada a entrar na ambulância para ser internada no hospital psiquiátrico e do dia em que levaram o pai algemado e não

O autocarro parou para Liliana entrar. A mãe deu-lhe um beijo envergonhado e pouco usual, entregou-lhe a mala e despediu-se:– “uma hora curta, minha filha! Telefona!”Liliana sentou-se no banco reservado a grávidas. Segurava a malinha preparada com muita antecedência. Entre as amigas e as poupanças que fizera, conseguira reunir tudo o que estava escrito na lista para o bebé. Estava orgulhosa por isso e sentia-se “boa mãe”. Para si levava pouco, porque o que possuía não estava em condições para usar fora de casa.Saiu na paragem em frente à Maternidade.

Saber que a doutora Dalila estava de serviço, dava-lhe tranquilidade mas não resolvia por completo todos os

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mundomissionário

texto E. ASSUNÇÃO fotos LUSA

CERCA DE 300 MIL CRIANÇAS DE ARMAS NA MÃORecrutar crianças para o exército é tido como um delito internacional, além de ser crime de guerra. A UNICEF – organismo das Nações Unidas para a infância – calcula que nos atuais 30 conflitos armados no mundo estejam envolvidas cerca de 300 mil crianças. Todavia o Tribunal Penal Internacional não tem em mãos alguma denúncia de exploração infantil destes conflitos. As crianças são utilizadas nas atividades bélicas mais perigosas, como espionagem, desativação de engenhos explosivos, exploração sexual e outras. São recrutadas por grupos armados, muitas delas entregues até pela própria família na esperança de garantir proteção para os seus membros.

TOBIAS OLIVEIRA, missionário da Consolata portuguêsem Roma

Construir sobre a rochaEra a primeira semana de Advento e no Evangelho da missa da quinta feira Jesus louvava o homem prudente que tinha edificado a sua casa sobre a rocha enquanto o estulto a construíra sobre a areia. Eu encontrava-me nesse dia em Turim cidade berço da grande família missionária da Consolata e estava a poucos metros do túmulo do Pai dessa grande família, o beato José Allamano. Foi essa circunstância que me levou a considerar que a minha vida missionária afinal também está fundada sobre a solidez de lugares e pessoas que a tornaram possível.

SÓ UMA EM QUATRO CRIANÇASSEROPOSITIVAS É TRATADAMais de três milhões de crianças estão contaminadas pelo vírus da SIDA, na África subsariana, e apenas uma em cada quatro tem acesso ao tratamento. Os fármacos antirretrovirais, as campanhas publicitárias e os progressos na luta contra a epidemia, com uma assinalável redução de contágios e de mortes de SIDA, têm ainda muito caminho a fazer. O objetivo das Nações Unidas de erradicar as novas infeções até 2015 ainda está longe. Enquanto 54 por cento dos adultos seropositivos têm acesso ao tratamento, apenas 28 por cento das crianças infetadas são tratadas. A nível mundial a SIDA atinge 34 milhões de seres humanos. Sete milhões ainda estão excluídos do tratamento e sujeitos à exclusão social.

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RADIADORES DE ÁFRICA PARA POBRES DA NORUEGA«Africa for Norway» é um vídeo que, através da rede do Youtube, já terá sido visto por mais de um milhão de pessoas. Trata-se de uma campanha sem precedentes, em que a associação «Radi-Aid» convida os africanos a doar radiadores aos pobres da Noruega que correm o risco de morrer de frio. A campanha foi lançada naquele país nórdico, onde estudantes noruegueses querem mudar as ideias que os países ricos têm de África e banir velhos chavões. O objetivo é educar as pessoas e informar sobre os problemas reais que se vivem em África. No vídeo mostra-se o clima rígido norueguês e, ao mesmo tempo, a África cheia de sol e escaldante, com centenas de radiadores não utilizados, prontos para serem enviados às crianças norueguesas pobres. Esta apresentação contraria as imagens duras de pobreza, violência, fome e SIDA que, em geral, os meios de comunicação difundem. «A verdade é que em muitos países africanos há desenvolvimentos positivos e desejamos que se saiba», afirmam os promotores da iniciativa.Creio que não serei o único a sentir-me desafiado

por lugares e memórias do passado. Gosto de visitar a terra e encontrar-me com as pessoas que me marcaram a infância. Uma pequena aldeia beirã chamada Cabeça do Poço ainda hoje me faz sentir que se sou quem sou a essa terra o devo, e uma cidade como Turim também me diz que se sou o missionário que sou, foi aqui que esse ideal ganhou as raízes e os ramos que hoje abraçam o mundo. Neste início de 2013 desejo aos meus leitores que saibam construir não só sobre a rocha que é Cristo mas também sobre a memória de pessoas e valores que deram solidez às suas vidas.

HAITIANAS COMBATEM SEQUELAS DO TERRAMOTOO terramoto que destruiu o Haiti em 12 de janeiro de 2012 atingiu duramente as mulheres, além das crianças e dos camponeses. Centenas de milhar, até então vendedoras ambulantes, empregadas domésticas e operárias, ficaram sem meios de subsistência e sem casa, de um dia para o outro. Graças à sua criatividade, tiveram de enfrentar enormes desafios e hoje mais de 43 por cento das famílias monoparentais são sustentadas por elas. Em outubro de 2011, através do Serviço de Refugiados dos Jesuítas, 2.040 mulheres envolveram-senum projeto de «melhoramento das próprias condições de vida». Um ano depois, umas estão à frente de cooperativas económicas e outras gerem pequenos negócios. É um exemplo de um caminho de esperança, traçado com criatividade silenciosa, mas eficaz.

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a missãohoje

A partir de uma só ideia, atingiram-se dois objetivos. Centenas de crianças passaram a ter uma refeição diária assegurada e os pais ficaram mais sensibilizados para as necessidades básicas dos seus filhos. O projeto «Pão para as crianças» ainda está a dar os primeiros passos em três aldeias da Tanzânia, mas já apresenta resultados: «Tem influenciado positivamente a saúde dos mais novos, a frequência da escola e melhorado

a aprendizagem», afirma Franco Sordella, um dos missionários da Consolata envolvido na campanha. O projeto foi lançado há três meses, depois dos missionários responsáveis pelas escolas da Casa Faraja, em Mgongo, terem notado que muitas crianças chegavam às aulas de estômago vazio, após percorrerem vários quilómetros a pé. Num universo de

MISSIONÁRIOS ASSEGURAM PÃO A MAIS DE 500 CRIANÇAS

texto FRANCISCO PEDRO foto FRANCO SORDELLA

Começou com um incentivo diário aos alunos mais carenciados e evoluiu para um projeto mais abrangente, a que foi dado o nome «Pão para as crianças». Com a ajuda dos pais dos alunos da Casa Faraja, na Tanzânia, os Missionários da Consolata têm conseguido confortar o estômago todos os dias, a mais de 500 menores

Projeto assegura uma refeição por dia aos alunos da escola da Casa Faraja, na Tanzânia

Franco Sordella, missionário da Consolata

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palavra de colaborador

COM O CORAÇÃONA CONSOLATAMaria Madalena Dias Ferreira é uma pessoa feliz e realizada aos 63 anos. Natural da Trofa, é casada e tem cinco filhos, um dos quais missionário da Consolata

Intensamente envolvida no trabalho da paróquia, é sobretudo uma grande admiradora do trabalho dos missionários. “Tudo o que a paróquia conhece das missões tem passado por mim”, diz com orgulho. “Para a preparação das reuniões em que participo ou oriento leio a FÁTIMA MISSIONÁRIA e vou tirando argumentos para falar das missões às pessoas”.

Destaca-se sobretudo o seu trabalho de colaboradora da revista na cobrança de assinaturas. Começou em 1984 com as 35 da lista do filho Manuel e hoje são 117. A cobrança não tem sido fácil “por causa da saúde e por ter de passar duas ou três vezes pela mesma casa”. Vale-lhe o marido que por vezes a leva de carro, mas confessa que já tem acontecido ela própria pagar do seu bolso para que a assinatura não se perca. “Sei o valor que ela tem na formação das pessoas”.

Não só recolhe as assinaturas, mas procura novos assinantes. “Tenho este feitio: não guardo as revistas em casa. Quando vou ao dentista ou ao posto médico vou deixando aqui e ali uma revista e há pessoas que assinaram a partir dessa leitura”.

texto e foto DARCI VILARINHO

mais de 500 estudantes externos, são «poucos os que têm alguma coisa para comer em casa (normalmente restos de comida), antes de partirem para o colégio». A situação reflete-se negativamente no rendimento escolar, segundo Sordella. «Muitas das crianças estão a uma hora de distância da escola, deslocam-se a pé, e quando regressam a casa, têm de fazer vários trabalhos, como ir buscar água, ir à procura de lenha, fazer a limpeza da habitação, ou tomar conta dos irmãos mais novos, para libertarem as mães para outras tarefas. Enquanto a maior parte dos pais passa a vida na taberna, a passear, a conversar ou a jogar». Em consequência, são inúmeras as famílias que sobrevivem com uma refeição diária, normalmente composta por papas de milho, com feijão ou hortaliça, refere o missionário. Para dar a volta a este problema, era fundamental sensibilizar os pais e envolver toda a comunidade no projeto. Foram feitas reuniões nas aldeias e a adesão não podia ter sido melhor. Um grupo de mães responsabilizou-se por cozer pão e a maioria das famílias concordou em contribuir com um quilo de farinha e com 20 cêntimos de dólar (cerca de 15 cêntimos de euro), para pagar a uma equipa de cozinheiras. Assim, as crianças da escola primária passaram a ter pequeno-almoço com pão, leite e chá, e um almoço de papas de milho e feijão. No jardim de infância, a meio da manhã, começou a ser servida uma refeição à base de pão e papas. Em paralelo, os Missionários da Consolata querem manter o apoio a mais de seis dezenas de crianças de uma aldeia vizinha, oferecendo a cada uma um incentivo diário de 250 xelins tanzanianos (cerca de 11 cêntimos), para poderem comprar na escola um «maandazy» (uma espécie de pão pequeno), ou um «chapati» (bolo). Com estas iniciativas, os religiosos pretendem assegurar «uma educação séria e decente» aos jovens. O que não tem sido fácil, «por falta de professores e pelo desinteresse generalizado por parte dos pais e dos representantes do Estado na região», lamenta Franco Sordella.

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a missãohoje

A alma da Infância Missionária é de abrir a criança à dimensão universal da Igreja. Fazer-lhe descobrir a realidade de outras crianças do mundo, permitindo-lhe rezar por elas e poderem partilhar um pouco do seu dinheiro para financiar projetos de solidariedade, de educação, de saúde, de catequese ao serviço exclusivo das crianças. Não se trata de uma obra de beneficência no sentido clássico do termo, mas um pouco à imagem dos Atos dos Apóstolos (At 4,32-35), o viver uma verdadeira solidariedade

entre crianças de todo o planeta. A criança não é considerada somente um objeto de educação, que é preciso modelar à nossa imagem. Ela é sobretudo um membro de direito da comunidade cristã. É por isso que a Infância Missionária olha a criança com seriedade, ajuda-a a alargar o seu coração, o seu espírito, a sua oração, às verdadeiras dimensões da Igreja, que é universal.

A missão está no coração da vida cristã com a oração e a caridade. Uma noção que por vezes

Ajudar os educadores – pais, catequistas e professores – a desenvolver na formação cristã das crianças a dimensão missionária universal. Suscitar nas crianças – e nos mais velhos – o desejo de partilhar com as outras crianças, através da oração e da ajuda económica a alegria de ser missionários de

CRIANÇAS AJUDAM CRIANÇAS

texto ANTÓNIO LOPES*foto LUSA

A Infância Missionária foi fundada pelo bispo Charles de Forbin-Janson e tem como slogan: “Crianças ajudam crianças”. Está presente em 140 países. Tantos países como rostos de uma mesma realidade

está esquecida. Ora a Infância Missionária permite avivar esta dimensão da vida de todo o batizado. Ela educa à Missão, faz com que as crianças tenham a preocupação pelas dioceses do mundo inteiro.

Em Portugal nos próximos cinco anos vamos propor às crianças uma caminhada pelos cinco Continentes. Primeiro a Ásia em 2013, depois a África em 2014, a Oceânia em 2015, a América em 2016 e por fima Europa em 2017. Durante estes cinco anos viveremos a experiência de Procurar Jesus; Encontrar Jesus; Seguir Jesus; Falar de Jesus e Acolher a todos como Jesus. “Procurar Jesus” é a grande tarefa da Missão. Procurar Jesus para estar com Ele, aprender d’Ele a viver o hoje para construir o amanhã. As crianças da Infância Missionária são “missionários” porque ajudam os outros com a sua amizade a procurarem juntos “Jesus que passou pela vida fazendo o bem”.

*diretor nacional das Obras Missionárias Pontifícias

Objetivos da Infância Missionária

Jesus. Colaborar comoutras crianças da Infância Missionária para, entre todos, ajudar aqueles que mais precisam em qualquer parte do mundo. Este ano vamos apoiar dois projetos: 1. Índia: Ajudar a construir uma escola de ensino básico para as crianças 2. Filipinas: Garantir as refeições de crianças de um orfanato

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destaque

O assassinato de 28 pessoas, entre as quais 20 crianças, ocorrido na escola primária norte-americana de Sandy Hook, na pequena localidade de Newtown, no Connecticut, é considerado o trigésimo incidente do género, desde 1990. Só este ano, contam-se já sete casos de tiroteio em escolas nos EUA. Os órgãos de comunicação social dizem que este caso vai relançar o debate acerca do livre porte de armas no país. Mas o que faz hesitar tanto os cidadãos norte-americanos sobre este assunto?

O porte de armas nos EUA está garantido pela Segunda Emenda à Constituição norte-americana onde se afirma: “Sendo necessária à segurança de um Estado livre a existência de uma milícia bem organizada, o direito do povo

possuir e usar armas não poderá ser impedido”. Este princípio está bem arreigado na tradição liberal norte-americana, onde o direito à segurança é entendido como uma função dos próprios cidadãos, muitas vezes numa relação de desconfiança para com as próprias autoridades federais.

200 milhões de armasOs casos mais mediatizados, como o de Newtown, escondem milhares de outros crimes ocorridos todos osanos com armas de fogo. Apesar disso, a opinião públicanorte-americana conta com uma maioria significativa de pessoasque continua a defender o portede armas.

A indústria de armamento tem um peso importante na economia

e surge como uma das principais fontes de financiamento das forças políticas, para além de contar com o lóbi importante de figuras públicas. Em alguns Estados, os jovens com menos de 21 anos têm mais facilidade em comprar armas do que em adquirir bebidas alcoólicas.

Calcula-se que 34 por cento dos americanos tenham armas de fogo em casa e que cerca de 200 milhões de armas estejam na posse de civis.

Uma tragédia reincidenteNa sua declaração de condolências aos familiares com vítimas nos dramáticos acontecimentos de Newtown, o presidente Obama afirmou que “o país sofreu demasiadas tragédias como esta nos últimos anos”, adiantando ser necessário “tomar medidas significativas para prevenir futuras tragédias como esta”. Mas as dúvidas que subsistem quanto a decisões políticas consistentes neste domínio são mais do que razoáveis. Com efeito, a questão não é se a opinião pública vai mudar depois dos acontecimentos de Newtown. A pergunta mais razoável para se perceber o que virá no futuro, é a de se saber por que razão não mudou em abril de 1999, quando dois estudantes mataram 12 colegas e uma professora no Colégio Columbine, em Littleton (Colorado); quando em setembro de 2006, um estudante invadiu uma escola rural do Condado de Richland, no Wisconsin, com duas armas e feriu gravemente o diretor; ou quando, em 2007, 32 pessoas, na Universidade Técnica da Virgínia, morreram vítimas dos tiros disparados por um estudante.

Quantas pessoas mais terão de morrer em nome de uma liberdade constitucional, pensada para uma América que estava em construção, há mais de 200 anos, e que nada tem a ver com o país que é hoje?

TRAGÉDIA DE NEWTOWN REACENDE DISCUSSÃO SOBRE PORTE DE ARMAS NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

VÍTIMAS DE UMA LIBERDADE DESAJUSTADAtexto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA

No massacre de Newtown foram mortas 28 pessoas, 20 das quais eram crianças

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atualidade NIGÉRIACardeal surpreendido com ataques a igrejas

“O DEUS DOS CRISTÃOS É O MESMO DEUS DOS MUÇULMANOS” Nomeado cardeal no último Consistório, John Onaiyekan, 68 anos, tem-se destacado pelo trabalho desenvolvido na Nigéria, no âmbito do diálogo inter-religioso. Em entrevista à FÁTIMA MISSIONÁRIA, manifesta-se surpreendido pelos recentes ataques sangrentos às igrejas cristãs, em território nigeriano. Diz que se trata de terrorismo islâmico que pode ser combatido com a ajuda dos próprios muçulmanos

texto FRANCISCO PEDRO foto ANA PAULA

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FÁTIMA MISSIONÁRIA É reconhecido internacionalmente por lutar contra o ódio anti-religioso. Como estão as relações entre cristãos e muçulmanos na Nigéria? John Onaiyekan Desde alguns anos que têm surgido alguns problemas neste campo. Frequentemente as partes em conflito têm uma identidade mista. Quando a identidade tribal coincide com a identidade religiosa é difícil destrinçar entre guerra religiosa ou guerra tribal. Esta é a primeira coisa que devemos saber. Depois devemos pensar também no problema político. Os políticos aproveitam muito este fator da identidade das pessoas. Um muçulmano que quer ganhar as eleições, quando chega a uma aldeia onde a maioria são muçulmanos, dirá: sou um bom muçulmano, votai em mim, não voteis naquele que é um cristão. O mesmo político, se chega a uma aldeia onde há pouquíssimos muçulmanos, muda o discurso. Temos ainda o fator histórico. Há territórios da Nigéria onde algumas tribos, há duzentos ou trezentos anos, conquistaram outras tribos. Mas agora vivem no mesmo território. Têm uma espécie de relação, não de senhores e

escravos, mas de conquistadores e de vencidos. Depois da independência ninguém mais aceita ser considerado como vencido ou escravo. E o governo, que devia enfrentar e resolver estes problemas, preocupa-seapenas com os jogos políticos. FM E os ataques às igrejas cristãs? JO É uma coisa totalmente nova, a que não estávamos habituados. Trata-se de terrorismo islâmico, que não representa a face verdadeira do Islão na Nigéria. Eu conheço os chefes muçulmanos. E a maioria é contra estas atitudes. São grupos bem organizados, com contactos com redes internacionais, de onde tiram inspiração e conhecimentos sobre modos de atacar. FM O movimento islâmico Boko Haram, a quem são atribuídos muitos dos ataques, já manifestou abertura para dialogar com o governo. É possível esse diálogo? JO Por enquanto não. Mas antes de passarmos a isso, queria insistir que a comunidade islâmica da Nigéria é contra o Boko Haram. Até porque eles atacam e matam também muçulmanos. O governo tem tomado medidas de segurança, mas penso que a situação não se resolve através da força. O grupo faz reivindicações políticas e sociais que têm fundamento, só que do ponto de vista religioso não se abre a falar com outras religiões. Para os elementos do Boko Haram quem não é muçulmano é pagão. Então não há lugar para o diálogo. A única coisa que sabemos é que na Nigéria há muitos muçulmanos que são abertos ao diálogo e esperamos que eles encontrem forma de falar com os seus extremistas. Trata-se por isso de um diálogo indireto. FM Deve então apostar-se nessa forma de conversação? JO Sim, devemos promover cada vez mais esse tipo de diálogo. O

governo mostrou-se disponível para falar com os extremistas. Mas antes de falar é necessário conhecer as pessoas. Porque – diz o governo – são pessoas sem rosto. Não se sabe quem é o chefe, ou quem é o secretário. Como é que se pode dialogar com quem não tem rosto? Por outro lado, os nigerianos em geral perguntam-se o que quer dizer entrar em diálogo com pessoas que matam nigerianos inocentes. Como é que se pode dialogar com um assassino? Se começamos a dialogar com os assassinos, então dialoga-se também com os raptores, com os ladrões, homicidas… Porque são pessoas que mataram tanta gente. Falar, está bem. Mas que tipo de discurso devemos ter? FM Qual é para si o modelo ideal de diálogo inter-religioso? JO Trata-se de uma atitude mental. De uma mente que se abre a conhecer que todos nós procuramos Deus, que há um só Deus. Que o Deus dos cristãos é o mesmo Deus dos muçulmanos. Um Deus que não quer que nos combatamos, mas que vivamos juntos. Se nós da Igreja Católica seguimos o que diz o Vaticano II, na Lumen gentium, a Igreja deve ser o sacramento da salvação. Sacramento quer dizer sinal e instrumento. Sinal e instrumento da unidade das pessoas entre si e com Deus. Assim, não olhamos para o muçulmano como alguém que não conhece a Deus, mas alguém que partilha connosco tantos valores espirituais. Digo sempre que o facto de acreditarmos num Deus único é já uma coisa grandíssima.

PerfilJohn Olorunfemi Onaiyekan nasceu a 29 de janeiro de 1944, na cidade de Kaba, na Nigéria. Foi ordenado padre em agosto de 1969. Em janeiro de 1983 foi ordenado bispo de Thunusudae em 1994 nomeado arcebispo de Abuja. A 24 de novembrode 2012 foi nomeado cardeal.É presidente da Associação Cristã da Nigéria, desde2007

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atualidade SUCESSÃODoença do Presidente deixa país dividido

Uma operação no hospital Cimeq de Havana, o melhor de Cuba, demorou seis horas e registou complicações várias, tendo havido hemorragia. Com estas notícias em meados de dezembro, os venezuelanos assustaram-se. Afinal, até que ponto o seu Presidente, Hugo Chávez, será capaz de recuperar de um cancro na zona pélvica que chegou a ser dado como resolvido? Mais que o destino de um homem, trata-se do futuro de um país latino-americano de 30 milhões de habitantes e dez vezes maior que Portugal, onde vivem centenas de milhares de portugueses. Para os apoiantes, como Miriam Escobar, que foi a uma igreja de

VENEZUELA COM MEDODO PÓS-CHÁVEZQuando venceu as eleições em outubro de 2012, conquistando um mandato de seis anos, houve quem previsse que Hugo Chávez ficaria duas décadas no poder, contando a partir da sua primeira vitória em 1998. Mas o cancro que era dado como derrotado, reapareceu e o Presidente venezuelano teve de ser operado em Cuba de emergência.E antes de partir até lembrou que se algo lhe acontecesse,o vice-presidente Nicolás Maduro seria o sucessor

texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* foto LUSA

ANTES DE CHÁVEZ E COM CHÁVEZ(O país em 1999 e em 2011) PIB: Era 91 mil milhões de dólares, é 328 mil milhões de dólares. Taxa de crescimento do PIB: Era -6 por cento, é 4,2 por cento. Inflação: Era 20 por cento, é 27,6 por cento. Dívida externa: Era 37 mil milhões de dólares, é 95 mil milhões de dólares. Desemprego: Era 14,9 por cento, é 6,5 por cento. Pobreza extrema: Era 21,7 por cento, é 10,7 por cento. Analfabetismo: Era 9,1 por cento, é 4,9 por cento. Índice de Desenvolvimento Humano: Era 0,792 (48. o), é 0,735 (73.o).

Nicolás Maduro é o homem de confiança de Hugo Chávez, seu vice-presidente e sucessor designado. Com um bigode negro bem sul-americano, Maduro tem 50 anos e uma história pessoal de sucesso, pois estudou só até ao secundário, foi motorista de autocarros em Caracas, a sua cidade natal, e depois de alguns anos como sindicalista tornou-se deputado no partido de Chávez. Em 2006 a sua ligação ao Presidente ficou bem expressa quando este o chamou para chefe da diplomacia. Se algo grave acontecer ao Presidente antes da tomada de posse prevista para 10 de janeiro de 2013, a Constituição venezuelana prevê que o seu vice assuma o cargo. Especula-seque a unidade do Partido Socialista Unido da Venezuela não sobreviveria muito a um afastamento de Chávez.

O vice-presidenteque foi motorista

Caracas rezar pelo “comandante”, o receio é que todo um projeto de sociedade mais justa caia por terra. Para os opositores, que nas eleições de outubro garantiram 6,5 milhões de votos a Enrique Capriles, o medo é sobretudo de instabilidade no poder e que as velhas divisões nas fileiras anti-chavistas reapareçam assim que se perceba que o inimigo comum cedeu. Golpista falhado em 1992, Chávez conseguiu pelo voto o sucesso que lhe fugiu pelas armas. Quando em 1998 ganhou a presidência venezuelana, prometendo a “Revolução Bolivariana”, parecia um fenómeno fugaz. Mas a verdade é que resistiu a um golpe de Estado,

acumula vitórias eleitorais (e uma derrota num referendo) e surge como o inspirador de toda uma corrente de líderes latino--americanos, como o equatoriano Rafael Correa, que também defendem um socialismo inspirado no legado mítico de Simão Bolivar,o libertador das Américas. Graças aos dinheiros do petróleo, produto de que a Venezuela é um grande exportador, Chávez conseguiu reduzir a pobreza no país e conquistar as camadas populares, que sentem que os partidos e políticos tradicionais as desprezam. Mas revelou-se incapaz de desenvolver a economia noutras

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Doença de Hugo Chávez deixa venezuelanos preocupados com o futuro do país

áreas e libertar-se da dependência do crude. Ao mesmo tempo, a posição relativa da Venezuela na hierarquia de desenvolvimento das nações foi baixando, porque outros países tiveram mais sucesso com fórmulas menos populistas. É o caso do Brasil de Lula da Silva, o antigo metalúrgico que chegou a Presidente, onde foi conseguido um compromisso entre maior justiça social e competitividade económica, mesmo que continue atrás da Venezuela em termos de índice de desenvolvimento humano. Sempre acusado pela oposição de tiques ditatoriais, Chávez nunca ousou acabar com a democracia no país, onde uma numerosa classe média e a burguesia o veem com desconfiança, mas no plano internacional tudo fez para ter boas relações com alguns dos inimigos óbvios das democracias ocidentais, como o Irão ou a Líbia da era Kadhafi. Sobretudo, tem uma aliança privilegiada com Cuba, ao ponto de fornecer petróleo à ilha em troca de médicos e professores enviados para trabalhar na Venezuela. Antes de partir para Cuba para ser operado a um cancro na zona pélvica, Chávez, de 58 anos, apareceu na televisão a apresentar o seu vice-presidente, Nicolás Maduro, como sucessor se algum mal lhe acontecesse na sequência da quarta operação desde que lhe foi diagnosticado cancro. Mas otimista, declarou, beijando um crucifixo: “Com a graça de Deus, como nas ocasiões anteriores, sairemos vitoriosos, para a frente, tenhoplena fé”.

*jornalista do Diário de Notícias

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dossier

COSTA DOMARFIMProjeto 2013

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Entre os muitos países africanos, a Costa do Marfim não foge à regra no que se refere ao acolhimento. Há mais de 17 anos que os Missionários da Consolata foram recebidos de braços abertos pelo povo marfinense. Hoje são 15 os missionários, de cinco nacionalidades, que com grande espírito de serviço e entrega ali trabalham. Todos sonham com um ambicioso projeto de alfabetização

SONHOS E DESAFIOS MISSIONÁRIOS

texto LUÍS MAURÍCIO fotos ANA PAULA

A sociedade da Costa do Marfim é extremamente multicultural. O país tem muitos habitantes provenientes de Burquina Faso, do Gana e do Togo. Há também um grande número de refugiados, oriundos de países africanos em conflito, que fazem parte da fisionomia e dos desafios atuais dos Missionários da Consolata.Após o sofrimento da não muito longínqua guerra, os religiosos que trabalham na Costa do Marfim têm procurado abrir as portas da missão para o mundo e assim poderem dar a conhecer a beleza cativante que esconde esta cultura: bosques sagrados, rituais de acolhimento, ritos de iniciação à sabedoria cultural, religiões animistas e uma exótica vegetação criam a paisagem enigmática da grandiosa terra do cacau.

DesafiosMas, nem tudo o que brilha é “cacau”. O alto índice de analfabetismo da população da Costa de Marfim continua a ser motivo de grande preocupação. O trabalho precoce das crianças e jovens tem criado a enorme dificuldade de poderem ter acesso aos estudos. Obrigados a cuidarem do gado, de manhã e à tarde, enquanto o sol ainda deixa ver as pastagens, a noite torna-se a única possibilidade de transformação da realidade deste país onde mais de metade da população não sabe ler nem escrever. Por isso, tornou-se urgente e necessário, nos cinco pontos estratégicos onde os missionários se encontram a

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viver em comunidade, criar espaços para que os mais novos desenvolvam, a partir do património cultural que possuem, capacidades e aptidões que os ajudem a construir um futuro melhor.

Outro desafio que tem feito arder por dentro o coração dos filhos de Allamano é o diálogo inter-religioso com os muçulmanos. O norte da

SAIBA MAIS322 mil metros quadrados de área20,1 milhões de habitantes5 países vizinhos (Mali, Burkina Fasso, Gana, Libéria e Guiné)48 anos é a esperança média de vida3,6 milhões de pessoas residem na cidade de Abidjan, a mais populosa do país42 por cento da população vive abaixo do limiar da pobreza68 por cento dos trabalhadores estão ligado ao setor da agricultura

Costa doMarfim

Abidjan

Libéria

BurkinaFaso

Mali

Gana

Guiné

SerraLeoa

Oceano AtlânticoA maioria das crianças não tem possibilidade de frequentar a escola

Costa do Marfim tem um grande índice de muçulmanos. Existem aldeias inteiras construídas à sombra das mesquitas. E criar um espaço neutro onde é possível o diálogo, a partilha e a amizade, tem sido o grande sonho feito realidade do missionário português, João Nascimento. No interior de um bosque situado na terra de Marandalá, o sacerdote, ajudado por um

grupo de jovens autóctones, conseguiu construir o “Jardim da Amizade” num terreno pertencente ao chefe muçulmano da aldeia onde a missão se encontra desde 2002. Os missionários acreditam que este passo importante é sem dúvida o início de uma nova primavera religiosa onde todos podem trabalhar e dialogar em benefício do crescimento sociocultural do país.

O SONHO QUE OS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA TÊM NESTE MOMENTO PARA A COSTA DO MARFIM É CONSTRUIR AS “TENDAS DO SABER”, NAS CINCO MISSÕES ESPALHADAS PELO PAÍS, COM A AJUDA DO POVO PORTUGUÊS. ESTES ESPAÇOS PRETENDEM ACOLHER CRIANÇAS E JOVENS, APÓS AS DURAS HORAS DE TRABALHO NO CAMPO, PARA AS ENSINAR A LER, A ESCREVER E A COMPREENDER A SABEDORIA MILENAR QUE AS SUAS CULTURAS ENCERRAM

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ajuda do povo português. Estes espaços pretendem acolher crianças e jovens, após as duras horas de trabalho no campo, para as ensinar a ler, a escrever e a compreender a sabedoria milenar que as suas culturas encerram.

É já conhecido o grande papel da mulher africana no crescimento da economia de uma família e de uma aldeia. Na Costa do Marfim a falta de escolarização de muitas mulheres, a incisão genital praticada em várias tribos e o insalubre trabalho no fabrico de carvão, têm provocado sérias interrogações na área da saúde e do bem-estar da mulher no que se refere ao respeito pela sua dignidade.

A possibilidade de intervir de modo eficaz neste ponto é um dos grandes desafios ainda em reflexão no coração inquieto dos religiosos.

O sonhoO sonho que os Missionários da Consolata têm neste momento para a Costa do Marfim é construir as “tendas do saber”, nas cinco missões espalhadas pelo país, com a

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gente nova em missão

Ano novo vida novaJANEIRO

Após o nascimento de Jesus, aproveitemos a entrada de um novo ano para transmitir a sua luz na família, na escola, no círculo de amigos, de forma a que todos caminhem na sua direção, não só para adorá-Lo mas, principalmente, para O anunciarem.

E que alegria é recebermos no nosso coração a luz da estrela que brilhou na noite escura e que se manifestou ao mundo, e transmiti-la aos que ainda não a viram!

Foi o que aconteceu após o nascimento de Jesus quando se manifestou aos judeus: os pastores vigiavam os seus rebanhos quando o Anjo do Senhor surgiu e lhes anunciou a feliz notícia: «Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor.» (Lc 2, 11). Foram

eles os primeiros missionários, acreditaram, foram adorar o Menino e anunciaram o que viram: «Depois de terem visto, começaram a divulgar o que lhes tinham dito a respeito daquele Menino. Todos os que ouviram se admiravam do que lhes diziam os pastores.» (Lc 2, 17-18)

Mas também se manifestou aos pagãos, ou seja, aos povos não judeus representados pelos Reis Magos cuja “estrela” há muito profetizada aguardavam e quando brilhou iluminou os seus corações de forma que largaram tudo e partiram para irem ao encontro do Deus Menino para O adorarem enquanto Salvador do mundo. «Ao ver a estrela, sentiram imensa alegria; e, entrando na casa, viram o Menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-No; e, abrindo os cofres, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra.» (Mt 2, 10-11)

VAMOS REVELAR JESUS AO MUNDO

Olá amiguinhos! Bem vindos ao ano 2013 com a graça de Jesus Menino.Deus fez-se Menino e, humildemente, veio ao mundo como prova do Seu grande amor, na simplicidade de uma gruta, em Belém, sem a ostentação que um Rei como Ele poderia ter.Para nós cristãos, é tempo de Vida Nova, de adotar comportamentos novos, de seguir novos caminhos, de renovar o nosso coração

texto CLAÚDIA FEIJÃO ilustrações RICARDO NETO

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MOMENTO DE ORAÇÃOObrigado, Senhor, pela Graça que é o Teu Filho Jesus, nossa estrela-guia.Ajuda-nos a sermos estrela brilhante para aqueles que ainda não descobriram a verdadeira luz.Dá-nos força e discernimento para

Devemos ser para os que não conhecem Jesus essa estrela, que ilumina o caminho, que aquece e conforta o coração.

Quem conhece a “luz” não pode guardá-la; deve partilhá-la com quem ainda não a viu, pois a “luz” surgiu para ser revelada a toda a humanidade.A nossa missão é revelar Jesus ao mundo através da Sua mensagem, Ele que é a estrela-guia, a luz que ilumina a nossa vida.

Já pensaram como seria belo o mundo iluminado pela luz de Jesus?

CRIEMOS UMA CORRENTE DE “ESTRELAS”

A FESTA DA EPIFANIAEpifania significa manifestação, revelação. É a revelação de Jesus como Messias a toda a humanidade. É Deus que se manifesta no Menino Jesus nascido na gruta de Belém.Na festa da Epifania do Senhor celebramos a adoração de Jesus pelos Reis Magos vindos do Oriente.Os Reis Magos simbolizam todosos povos pagãos que vão ao encontro de Jesus para O acolherem como Senhor. Representam todos os povos de coração puro que se deixam guiar pela mensagem de amor de Jesus, independentemente de raças, tribos, nações.Lembram-se dos nomes e da cor da pele dos Reis Magos?A Bíblia não faz qualquer referência aos nomes ou à cor da pele, mas

tradicionalmente conhecemo-lospor Baltazar, Belchior e Gaspar. Um seria branco, outro amarelo (asiático) e outro negro, representando desta forma os vários povos e nações do mundo.Tal como eles, também nós não devemos temer seguir a estrela do Jesus Menino e presenteá-Lo com os nossos dons: as boas ações, o nosso coração e o nosso amor.

afastar as tentações, para que, à semelhança dos Reis Magos, sigamos firmes no caminho que conduz à Salvação.Pai Nosso …

Não percamos mais tempo! Está na hora de levarmos a nossa “estrela” aos nossos vizinhos de forma que eles a descubram e nela creiam, e também eles a levem a outros.

Criemos uma corrente de “estrelas” para que todos os lugares da terra descubram, acreditem, contemplem, adorem e anunciem Jesus e vivam na paz e no amor de Deus a caminho da vida eterna.

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tempojovem

O Afonso e a Ana são dois jovens da Consolata que, após o curso universitário, decidiram mergulhar na desafiante aventura de viver de modo diferente. Eis uma bela prenda do Natal enviada por e-mail para todos nós.

“Olá! Somos o Afonso e a Ana. Vivemos há cinco meses na Irlanda do Norte após uma decisão louca e arriscada que tomámos em conjunto.Tudo isto começou porque existem alturas da vida em que paramos e sentimos que somos apenas seres que respiram. Seres que deambulam pela vida. Esta paragem aconteceu há um ano. Estávamos em Portugal a discutir os nossos sonhos e o nosso futuro. Com muita tristeza, verificámos que em três anos não fizemos nada daquilo que realmente queríamos. Estávamos a ser engolidos pela típica sociedade onde o que interessa é ter um trabalho. Muitas vezes ouvimos: o que interessa é teres dinheirinho!!! Não interessa se estás no Jumbo ou no Continente! Já tens sorte em ter emprego. Como se o vazio que se sente não importasse ou não existisse.

Estávamos a tornar-nos naquilo que sempre criticamos nos nossos retiros e formações juvenis, naquilo

OS SONHOS CONSTROEM-SE

que mais temíamos.Decidimos rever as nossas opções: A nossa situação em Portugal era frágil, porque um andava a trabalhar em empregos sem relação com a sua vocação e o outro, só por alguma sorte, trabalhava na sua área. No entanto, e com a falta de perspectivas futuras (não só de emprego, mas principalmente de cumprir os nossos sonhos) decidimos mudar a nossa abordagem perante a vida. Nada do que temos é permanente e temos sempre que trabalhar para encontrarmos o nosso lugar de destino. Por isso: Ou continuaríamos a nossa aborrecida e inútil vida ou largaríamos tudo e seguíamos aquilo para que há muito éramos chamados.

Durante o tempo que estivemos na Consolata ouvimos muitas vezes falar em voluntariado no estrangeiro. Começámos a pesquisar e encontrámos em Belfast uma oportunidade, de acordo com os objetivos da Ana, para trabalhar com os sem-abrigo… Perfeito! Pensámos nós! Como diz Allamano: Deus chama-me hoje e não sei se me chamará amanhã.Ao fim de seis meses, estávamos no aeroporto com os nossos pais e alguns amigos. Deixámos para trás aquilo que mais preservávamos na

texto LUÍS MAURÍCIO foto ANA PAULA

Repensar a nossa própria vida a partir da experiência dos outros é uma boa ginástica mental e espiritual para quem procura cumprir os seus sonhos. Descobrir como os outros avaliam o próprio caminhar suscita em nós a vontade de encontrar “não uma, mas dez novas aprendizagens” que a vida tem “escondidas” também para cada um de nós

“Aproveitem este tempo para fugir daquilo que é ordinário e reinventem-se! Acreditem que a mudança é positiva e que Deus estará em vós para vos guiar!Para aqueles que procuram a essência de viver desejamos que encontrem aquilo que procuram!”

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nossa pequena cidade. Muitas lágrimas correram.

Faz agora cinco meses que começámos esta nova aventura e acreditem que nunca nos sentimos tão vivos! Todos os dias é uma bênção e não há uma mas dez novas aprendizagens! E desejamos que continue assim. Pelo meio de muitas peripécias e aventuras, já nos encontramos um pouquinho estabelecidos nas terras de sua majestade e continuamos a integrar-nos.  Todo o risco, todos

os receios, todos os medos que tivemos estão a dar lugar cada vez mais a novas expectativas, alegrias e esperanças no objetivode cumprirmos os nossos sonhos.

Apesar de tudo o que estamos a viver, não nos esquecemos das pessoas que estão em Portugal e não têm tempo para parar e pensar naquilo para que são chamadas. Vivem uma vida incompleta e sem rumo algum. A estes e a estas dizemos: Aproveitem este tempo para fugir daquilo que é ordinário

e reinventem-se! Acreditem que a mudança é positiva e que Deus estará em vós para vos guiar!Para aqueles que procuram a essência de viver desejamos que encontrem aquilo que procuram!”.

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sementesdo reino

LEIO A PALAVRA Mateus 2,1-12O texto em consideração marca o início do 2º capítulo do Evangelho. Pode ser dividido em duas partes distintas tendo como critério a geografia: Jerusalém (2,1-6) e Belém (2, 7-12). Note-se que no coração da história dos Magos encontra-se uma citação bíblica que focaliza a importância de Belém: “E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as principais cidades da Judeia; porque de ti vai sair o Príncipe que há de apascentar o meu povo de Israel.” (2, 6).

SABOREIO A PALAVRAOs Magos, chegados a Jerusalém, afirmam ter visto “a estrela”. Trata-se de uma estrela especial, figura de um novo rei, que guia os Magos até ao local do nascimento. É interessante notar que a estrela desaparece mal se aproximam de Jerusalém, mas reaparece logo que eles se afastam. Igualmente interessante é que os Magos não seguiram a estrela, mas viram o seu surgimento e imediatamente o relacionaram com o nascimento

do Messias. Mais ainda: a viagem não tinha um destino impreciso. Era direta a Jerusalém, cidade para onde convergem as peregrinações de todos os povos, segundo o profeta Isaías.

A cidade, que deveria alegrar-se com a boa nova do nascimento, agita-se com a informação. Herodes vai ainda mais longe e programa desde logo a morte da criança. Esta falta de acolhimento é um prenúncio da condenação que Jesus irá receber, precisamente em Jerusalém. Deste modo, a cidade que deveria oferecer a salvação, torna-se um obstáculo, e tudo passa a ser desviado para Belém, onde David tinha sido proclamado como o grande rei. Belém recebe, a partir de agora, todos os povos, representados pelos Magos, que vêm para contemplar o Emanuel, o Deus connosco, e fazerem experiência da paz e da fé.

REZO A PALAVRAReze com o salmo 71. É um salmo real composto para celebrar o dia em que o rei subiu ao trono. As primeiras

texto PATRICK SILVA foto LUSA

LUZ PARA TODOSA leitura orante da Palavra de Deus exige empenhamento e escuta, com toda a disponibilidade de que o coração for capaz. A qualidade da oração depende do empenho que nela se colocar.A Epifania é a manifestação de Jesus a todos os povos da terra. Não existem povos privilegiados. Jesus revela-se como luz para todos os povos, raças e culturas

comunidades cristãs não tiveram dúvidas em entender este salmo como retrato do novo rei, Jesus.

VIVO A PALAVRAO caminho dos Magos é um autêntico caminho de fé: revela-nosque ela não é propriedade exclusiva de alguns. Todos os povos são chamados a reconhecer no menino de Belém o seu Salvador. E o cristão é chamado a realizar o “seu” caminho, juntamente com os outros povos, rumo a Belém. É um caminho difícil e insidioso, mas o desejo de ver o “Menino” faz ultrapassar tudo para ver o Salvador de Todos.

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intençãomissionária

A PALAVRA FAZ-SE MISSÃO Para que as comunidades do Médio Oriente aprofundem o conhecimento do mistério de Cristo e testemunhem com alegria o dom da fé

Do Orientesurgiu a luzFalar do Médio Oriente é como assanhar um vespeiro. Mal se lhe toca rebenta logo qualquer coisa que parecia adormecida. Isto ao nível social e político. As comunidades cristãs do Médio Oriente são frágeis e, não raro, discriminadas do resto dos outros cidadãos que a nível religioso estão em maioria. Mal parece que assim seja, porquanto foi numa daquelas áreas geográficas que nasceu o cristianismo. Ali nasceu e viveu o próprio Jesus tal como os seus apóstolos que levaram ao mundo então conhecido a chama da fé que lhes ardia na alma. Mas o Evangelho de Cristo tem ainda muito caminho para andar, até chegar ao coração dos milhões de pessoas que vivem a sua fé à moda do antigo testamento, do profeta Maomé ou deoutras denominações. Invoca-se,pois, o Espírito Santo para que ilumine e fortaleça aqueles cristãos a fim de que sejam perseverantes na fé que receberam e se tornem apóstolos pelo exemplo e pela palavra até ao ponto de atraírem para a fé cristã os que aí vivem. Não é tarefa fácil e não pode ser conquistada pela força. Tem de contar com a força do Espírito que, ao tempo dos primeiros apóstolos, se tornava visível nos milagres que se operavam por sua iniciativa e na fé ardente das comunidades.MC

JANEIRO

01Santa Maria, Mãe de DeusNm 6, 22-27; Gal 4, 4-7; Lc 2, 16-21CONSTRUIR A PAZViver em paz é a grande aspiração do coração humano. Ela brota da justiça. Toda a opressão é germe de rebelião e de insegurança. A paz é tarefa e conquista permanente, e os cristãos devem ser os seus artesãos. Onde houver injustiças e desigualdades sociais, políticas e económicas não pode morar o Senhor da Justiça e da Paz.Santa Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, abençoa este novo ano para que o vivamos na paz.

06Epifania do SenhorIs 60, 1-6; Ef 3, 2-6; Mt 2, 1-12PROCURAR E ENCONTRARA festa da Epifania convida-nosa renovar o nosso compromisso missionário. Quem verdadeiramenteencontrou a Cristo não pode guardá-Lo só para si, mas deve anunciá-Lo a quem ainda não o encontrou. Nem todos conseguem ver a sua luz. O cristão tem a missão estupenda de ser o seu “reflexo” para quantos o procuram.Brilhe na nossa vida a estrela de Belém para que nunca percamos o rumo.

132º Domingo ComumIs 62, 1-5; 1Cor 12, 4-11; Jo 2, 1-11“FAZEI TUDO O QUE ELE VOS DISSER”A imagem do vinho, genuíno e abundante, é uma imagem clássica na Sagrada Escritura para exprimir a riqueza do dom de Deus e a alegria que Ele suscita no coração dos homens. Jesus veio transformar a pobreza da nossa água no vinho novo da sua vida.

É essa a sua missão: transformar os corações e renovar o nosso mundo. Não será também a nossa?Ajuda-nos, ó Mãe, a cumprir sempre a Palavra de Jesus em cada momento da nossa vida.

203º Domingo ComumNe 8, 2-10; 1Cor 12, 12-30; Lc 1, 1-4; 4, 14-21 O “HOJE” DE DEUS“Hoje cumpriu-se esta Palavra”, disse Jesus. É Ele, Jesus, a Palavra de Deus dita à humanidade, que se cumpre em cada seu gesto. É Ele o caminho, a verdade e a vida. Todas as vezes que o Evangelho é proclamado e vivido, cumpre-se o “hoje” de Deus na nossa vida. Que este “hoje” de Deus nos converta ao seu reino.Ensina-me, Senhor, a viver o momento presente como o tesouro que me confias todas as manhãs.

274º Domingo ComumJer 1, 4-19; 1Cor 12, 31-13, 13; Lc 4, 21-30A VIDA É UMA MENSAGEMEm Nazaré, as pessoas refutam Jesus, porque pedia uma mudança radical de vida, de hábitos e mentalidades. O mundo precisa destes profetas, que anunciem e testemunhem. Também eu sou convidado a sê-lo na vivência do Evangelho: na família, no trabalho, na escola, nas conversas, nos compromissos. Será a minha vida uma mensagem?Dá-me, Senhor, coerência de vida, no testemunho de cada dia.DV

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o que seescreve

365 dias de féPróprio para começar o novo ano de 2013. Contém um pensamento para cada dia tirado de um autor, um santo, um papa, um bispo, gente que pensava, refletia e depois escrevia. São citações que nos ajudam a viver a fé e a entrarmos diariamente em contacto com Deus. São frases pequeninas que se leem com gosto e por isso não cansam. Pena que os autores tenham o nome tão sumido, tornando-se difícil identificá-los.Autores: Luigi Guglielmoni e Fausto Negri80 páginas | preço: 6,50€Edições Salesianas

DOCUMENTAÇÃO CRÍTICA DE FÁTIMA

Este volumoso tomo de 505 páginas contém uma vasta gama de documentos e dados históricos que abrangem o período que

vai desde 1 de maio até 30 de agosto de 1930. E de acordo com a decisão da comissão científica deste projeto, publicam-se aqui apenas os artigos de imprensa. Pergunta-se: A quem interessará este livro? A muita gente: estudiosos, colecionadores, curiosos, e outros devotos de Nossa Senhora de Fátima e da sua mensagem.Editor: Santuário de Fátima505 páginas | preço: 20.00€

ENCONTRO NA OUTRA MARGEM

Livro extenso, letra miudinha, sem uma única fotografia. O único chamariz é o título verdadeiramente apelativo.

De muitas maneiras Francisco de Assis entra em todas as páginas. A história e todo o enredo, são feitos à sombra dele que é homem de paz. O resto são guerras, cruzadas, lutas entre cristãos e muçulmanos. Enfim, um livro de história, que enriquece quem tiver coragem para o ler. Vale a pena abalançar-seà conquista do que nos falta saber a respeito deste encontro.Autor: Gwenolé256 páginas | preço: 10,50€Editorial Franciscana

O SACERDÓCIO UM SERVIÇO DE AMOR

O leitor não se assuste com o desenho da capa onde aparece o apóstolo Pedro com cara de poucos amigos. Cristolava-lhe os pés. Tudo

isto para significar que a vida de qualquer sacerdote tem de ser um serviço de amor. O livro, além de uma introdução longa de mais, divide-se em 12 capítulos todos eles a começar com a palavra “servir”.Boa apresentação, fácil leitura, útila todos.Autor: João Paulo Pimentel120 páginas | preço: 9,50€ Paulus

OS MISTÉRIOS DA FÉ  Na origem deste livro está uma mulher, mãe de sete filhos, boa escritora e que tem a Bíblia na ponta da unha, quer escreva com a pena quer bata as teclas

do computador. Serve-se da Bíblia para explicar exaustivamente os 20 mistérios do rosário, começando pelos gozosos, até aos gloriosos. Uma  centena e meia de páginas bem empregadas, onde entra a história, a liturgia e o comentário pessoal de quem escreve.Autora: Teresa Power140 páginas | preço: 11,50€Edições Salesianas

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o quese diz

Sinais de esperançaNão estamos perdidos no emaranhado deste mundo e no egoísmo da nossa sociedade. Há muitos sinais de esperança à nossa volta. Muita gente está disposta a partilhar tempo, saber, haveres e até a vida. O voluntariado e a solidariedade estão na ordem do dia, manifestados em muitas ações e instituições, que não enuncio aqui, para não deixar ninguém de fora.Vitalino Dantas | Notícias de Beja | 29 de novembro 2012

Primar pela coerênciaÉ preciso que os bispos “desçam à terra”. Que os padres sejam profetas audazes; que os cristãos não se limitem a ser consumidores de sacramentos e de meros ritos, mas todos sejamos capazes de viver uma fé mais coerente e autêntica no dia a dia. É preciso primarmos por um testemunho de vida mais contagiante e profético. Não termos medo de intervir onde há incoerência com o Evangelho.Nuno Rodrigues | A Voz do Domingo | 2 de dezembro 2012

A pobreza está de voltaA pobreza está de volta e, mesmo que não nos envolva a nós mesmos, não pode deixar de nos inquietar quando ao nosso lado vemos (se quisermos abrir os olhos) gente que já não sonha com uma vida de “nível europeu”, com tantas coisas que nos iam dando a ideia de que já não éramos periféricos, sobretudo alimentando o sonho de um futuro mais brilhante para os vindouros e tantas outras coisas perfeitamente legítimas.Valentim Gonçalves, Contacto SDV | dezembro 2012

Sem pessimismosO nosso mundo está cheio de contradições e de desafios, mas continua a ser criação de Deus; ainda que ferido pelo mal, é sempre objeto do amor de Deus, é o seu terreno, no qual pode ser sempre renovada a semente da Palavra, para que volte a dar fruto. Não há espaço para pessimismo nas mentes e nos corações daqueles que sabem que o Senhor venceu a morte e que o seu Espírito atua com potência na história.Mensagem do Sínodo dos bispos 2012 ao povo de Deus, 6

Notícia desconcertanteHaverá notícia mais desconcertante e inebriante do que esta? Deus que se faz homem: para que o homem se torne capaz de poder ser ele próprio. Não por si só, não contra ou sem Deus, mas com Ele e n’Ele, enxertando o seu desejo veemente e insubstituível de se ultrapassar na ultrapassagem do amor com que Deus se fez como nós, para nos fazer como Ele.Piero Coda | Cidade Nova | 12/2012

ERA UMA VEZ O CREDOPróprio para crianças, mas há um certo desnível entre os desenhos, que se apresentam como sendo para

bebés e os textos que aparentam dificuldades: são longos, com letra miudinha e conceitos elevados.Aliás o tema da fé, e em especial o Credo são mais próprios para teólogos do que para crianças. Com isto não quero dizer que o livro não seja bonito e atraente mesmo para os adultos.Autor: Anna Peiretti e Bruno Ferrero48 páginas | preço: 5,00€ Edições Salesianas

AS MINHAS HISTÓRIAS SOBRE JESUS

Dedicado aos mais pequenos. Este livro contém 20 histórias muito interessantes a respeito de Jesus, desde o nascimento até à Páscoa. Formato grande,

capa dura, tudo muito colorido e muito engraçado.As crianças têm de ser ajudadas pelos pais ou catequistas para entenderem isto bem entendido. Vale a pena investir. As crianças agradecem.Autor: Su Box e Jenny Tulip48 páginas | preço: 7.90€Gailivro

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gestosde partilha

Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA:NIB 0033.0000.45365333548.05IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05SWIFT/BIC: BCOMPTPLou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | [email protected] D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 Águas Santas MAI | Telefone 229 732 047 | [email protected] Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | [email protected] da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRG | Telefone 253 691 307 | [email protected] Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 [email protected] Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | [email protected] São Marcos, 19 – 7º A e B | 2735-010 AGUALVA-CACÉM | Telefone 214 265 414 | [email protected]

CONTACTOS

MALOCA PARA TODOS Anónimo 20,00€; Álvaro Matos – 10,00€; Alfredo Cabral – 20,00€; Maria Santos – 20,00€; Helena Barros – 110,00€; Albina Moreira – 50,00€; Mário Guerra – 20,00€; Solange Maximiano – 50,00€; Alice Eusébio – 100,00€; Madalena Azevedo – 10,00€; Amélia Pais – 30,00€; Anónimo – 50,00€; Maria Matias – 10,00€; Mulheres Missionárias da Consolata (Fátima) - 439,60€; José Lourenço – 20,00€. Total geral = 27.536,50€. BOLSAS DE ESTUDO Marieta Luz – 1.500,00€; Carmelinda Teixeira – 250,00€; Céu Domingos – 250,00€; Anónimo – 250,00€; Ana Antunes – 250,00€; José Almeida – 250,00€; Luís Silva – 250,00€; Irene Silva – 250,00€; Telmo Santos – 250,00€; Lídia Neves – 500,00€; Arminda Vieira – 500,00€; Eugénia Jorge – 250,00€; Natália Oliveira – 250,00€; Lurdes Wiggins – 250,00€; Valentina Boura – 250,00€; Madalena Guerra – 250,00€; Carminda Gameiro – 250,00€; Ermelinda Carneiro – 250,00€; Ana Oliveira – 250,00€; Beatriz (Lisboa) – 250,00€; Balbina Pereira – 250,00€; Família Domingos Pereira – 250,00€; Ilda Cassisi – 500,00€; Anónimos (AMC – Núcleo do Algarve) – 500,00€; Noémia Canavarro – 20,00€; Esmeralda Torres – 50,00€. GURUÉ MOÇAMBIQUE Alice Eusébio – 100,00€. MÃES ADOLESCENTES Alice Eusébio – 100,00€. OFERTAS VÁRIAS Guilhermino Marques – 250,00€; Mariana Barão – 50,00€; Rosa Gomes – 100,00€; Teresa Brites – 50,00€; Padre Weber Pereira – 250,00€; Dulce Alves – 500,00€; Luísa Salvador – 50,00€; Oferta dos irmãos do padre Joaquim Pereira – 200,00€; Anónimo – 50,00€; Maria Paiva – 90,00€; António Bastos – 29,00€; Manuel Neves – 33,90€; Arnaldo Fonte – 100,00€; Fernando Antunes – 30,00€; Anónimos (AMC – Núcleo do Algarve) – 30,00€; Cremilde Diogo – 33,00€; Mechernane Baptista – 50,50€; Manuel Espinheira – 28,00€; Julieta Pereira – 113,00€; Paroquianos do Coimbrão (Leiria) – 40,00€, Ana Falcão – 25,00€; Alzira Henriques – 53,00€; Joaquim Santos – 28,00€; Fátima Portela – 86,00€; Maria Gomes – 93,00€; Armandina Silva – 26,00€; Fernando Zagalo – 93,00€; Simão Gordo – 33,00€; Adelina Neves - 116,00€; Rui Faria – 37,00€; Ana Inês – 100,00€; Conceição Tavares – 54,00€; Lucília Santos – 36,00€; Fernando Ferreira – 43,00€; Manuel Leal – 43,00€; José Pereira – 143,00€; João Leão – 50,00€.

Programa DIA 15Vigília de oração juvenil, às 23h00 DIA 16 09h30 Concentração em frente ao Seminário da Consolata 09h45 Saudação aos peregrinos 10h00 Momento celebrativo

Via-Sacra 13h00 Almoço 15h00 Saudação e consagração a Nossa Senhora na Capelinha das Aparições

Procissão para a Igreja da Santíssima Trindade 15h30 Eucaristia na Igreja da Santíssima Trindade 17h00 Encerramento da peregrinação16 de fevereiro de 2013

Feliz quem acredita23ª PEREGRINAÇÃO DA FAMÍLIA MISSIONÁRIADA CONSOLATAA FÁTIMA

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vida comvida

texto MANUEL CARREIRA ilustração H. MOURATO

Sim, senhores, um galo mais que bom, ótimo! E se não foi um galo daqueles que cantam muito, não deixou de ser um grande missionário. E o que é mais interessante é que nunca esteve nas

MUITOS SE AJOELHARAM DIANTE DELEPadre Carlos Ottimo Gallo nasceu em Savona, Itália, em maio de 1899. Entrou na Consolata em 1914. Foi ordenando sacerdote a 31 de janeiro de 1926. Durante 20 anos exerceu o seu apostolado na Itália. Partiu para o Brasil em 1946 onde veio a falecer a 16 de março de 1962

verdadeiras missões que naquele tempo se situavam na África.Ficou-se pela Itália, nos primeiros 20 anos do seu sacerdócio. Depois, foi nomeado para o Brasil onde esteve 15 anos.

O padre Carlos foi grande, tornando-se pequeno,escondendo-se nas fronteirasdo confessionário. Seria interessante saber o número de penitentes que, durante tantos anos, se ajoelharam diante dele implorando a misericórdia de Deus. Soube-se depois da sua morte, que terão sido muitos, pois tantos foram aqueles e aquelas que derramaram lágrimas de reconhecimento junto da sua urna. É sempre assim: os grandes homens reconhecem-se melhor, depois da morte. Se foram beneméritos, tipo Raul Follereau, ou Luter King erguem-se-lhes monumentos. Se foram tiranos, belicistas, mandam-se para as profundezas.

O padre Gallo em vida foi bastante apagado. Não brilhou muito nas letras, nem teve qualquer rasgo de aventura, como se imaginavam os missionários daquele tempo. Tudo o que ele foi, e não foi pouco, era fruto da sua humildade e bondade. Não gritava, não fazia discursos retumbantes. Era todo obediência: “O que os superiores quiserem eu também quero”, dizia. Foi assim na vida e foi assim na morte. Alguns dias antes de morrer chamou a irmã enfermeira que o assistia e transmitiu-lhe alguns recados: Disse-lhe como queria que o vestissem, como gostava de ser bem composto na urna para não meter medo a ninguém.

E durante o tempo em que o seu corpo esteve na igreja paroquial, muitas foram as pessoas que o visitaram, gratas por tantos favores recebidos. E se em vida os seminaristas, seus colegas, o apelidavam de santinho, e na diocese de Sorocaba, Brasil, o chamavam santo, como queríamos que o chamassem as pessoas que agora o contemplavam inerte e sereno no caixão!? Ficava-lhe bem o adágio popular: “Tal vida tal morte!”.

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outrossaberes

texto MANUEL CARREIRA foto LUSA

Quem não escuta o chefe caminha toda a noite sem destinoApoio à compreensão Neste caso o chefe é a autoridade máxima de uma determinada zona, em África. Presume-se que seja uma pessoa ponderada, honesta, que estuda os problemas dos súbditos e dá pareceres justos. Sendo assim, o normal é consultá-lo sempre que se deva tomar uma decisão

importante: um casamento, um negócio ou uma viagem. Não fazer isto é arriscar-se a caminhar muito e não alcançar o objetivo pretendido.Tanzânia

Para trabalhar no campo não se leva a camisa novaApoio à compreensão Claro! Tudo tem o seu tempo. Para trabalhar qualquer roupa serve. Ninguém diz que uma pessoa anda mal vestida se andar a trabalhar. O mesmo já se não diz para quem participa em qualquer cerimónia pública, ou mesmo para ir à igreja ou a outro lugar onde se junta muita gente. Até se costuma dizer: “vestir o fato do domingo ou domingueiro”.Macua – Moçambique

Saco vazio não se tem em péApoio à compreensão Mais que evidente! Se de dentro de um saco cheio se vão tirando coisas todos os dias, não tarda que o saco, que antes se mantinha em pé, fique vazio e caia para todos os lados. Boa advertência para ajudar as pessoas a serem poupadas e a lançarem dentro do saco aquilo

Desde pequenos começamos logo a pender para um ponto que há de nortear toda a nossa vida. É o que chamamos: Ter queda para isto ou para aquilo. A menina pende para a boneca, o rapaz para a bola

CADA UM É PARA O QUE NASCE

que no dia seguinte precisam de ir buscar. Pode comparar-se ao livro de cheques ou à carga do telemóvel, quando estão a chegar ao fim.Moçambique

Não se ganha a lotaria se não se comprar a cautelaApoio à compreensão Não gostaria – Deus me livre! – que a citação deste provérbio fosse um incentivo ao jogo. Pois o jogo é sempre uma tentação de quem deseja ser rico sem trabalhar. O significado positivo do provérbio é outro. Quer dizer que em certos casos temos de ser ousados, perspicazes; estudar bem os problemas e tomar decisões corajosas; pois como diz o outro: “quem não arrisca não petisca”.Popular

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notasmissionárias

texto CARLOS DOMINGOS ilustração HUGO LAMI

A pesca à cana é um esforço individual, em que prima a habilidade pessoal, o “ter olho” para o tempo, as ocasiões, a maresia, o lugar da passagem dos peixes, etc. Está vocacionada especialmente para a pesca junto à margem derios ou junto à costa marítima.Já ouviram aquela do pescadorchico-esperto que ia pescar debaixo da ponte em dia de chuva porque os peixes iam lá abrigar-se para nãose molharem? A pesca à rede, por outro lado, envolve o esforço coletivo, de grupo, que obriga a puxar em conjunto e a programar em conjunto, até porque se afoita muito mais longe, para águas muito mais profundas e longínquas, em busca de outras qualidades de peixe.

Pescar à cana significa lançar a linha e esperar por resultados. É como lançar o barro à parede e ficar à espera que não caia; pode ser que sim, pode ser que não. Depende de vários factores, muitos deles aleatórios. Pescar à rede, por seu turno, significa mostrar Cristo aos outros, no contexto de uma comunidade, de um grupo. E no grupo não se pode simplesmente improvisar, por muito eloquente que se seja. É preciso dialogar, programar e avaliar em conjunto.

Pescar à cana ajuda as pessoas a “ouvir” a mensagem do Evangelho enquanto pescar à rede leva as pessoas a “ver” o Evangelho vivido na prática. Ora uma imagem vale mais que mil palavras, e até uma

A CANA E A REDE DOIS ESTILOS DE MISSÃO

Com a pesca à cana a técnica é convencer os outros da verdade de Cristo (isto é, “dar informação”), enquanto que a pesca à rede é mostrar o amor de Cristo (isto é, “fazer transformação”). Porque, que interesse há em conquistar o mundo inteiro se depois “perdemos” a nossa alma? E esta só se ganha se nos deixarmos transformar pela graça de Deus, que também em nós pode fazer grandes coisas.

Enquanto a pesca à cana tende a ver a evangelização como uma atividade periódica, às vezes com carácter de passatempo de fim de semana, a pesca à rede encara a evangelização como uma ocupação necessária e permanente porque empenha toda a vida para toda a vida.

Em resumo, na pesca à cana pesca-semais rápido, mas na pesca à rede, pesca-se “mais”.

Assim como há maneiras diferentes de matar pulgas também há modos diversos de “pescar”. “Pescar” é uma das atividades mais normais da vida missionária. Mas há pescar e pescar como há ir e voltar. Vejamos algumas diferenças na pesca com cana, linha e anzole pesca à rede

canção popular proclama que“o vídeo matou a personalidadeda rádio”.

Na pesca à cana a ideia é “chegar a uma decisão”, enquanto que na pesca à rede é “entrar em comunidade” e a comunidade, a seu tempo, chegará a uma decisão. Isto porque decisões, construções e planos não apadrinhados pela comunidade têm as pernas curtas, isto é, correm o risco de ficarem só no projeto, porque ninguém os considera seus.

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fátimainforma

Janeiro em agenda 11/13 Encontro de Animadores

Sócio-Pastorais das Migrações

14/15 Encontro da Associação de Reitores de Santuários de Portugal

19/20 Conversas Contemporâneas Consolata

26/27 Encontro de Guias de Peregrinos a Pé do Movimento da Mensagem de Fátima

Estão quase concluídas as obras da Unidade de Cuidados Continuados Integrados Bento XVI, da União das Misericórdias Portuguesas, no Alto dos Moinhos, em Fátima. A primeira pedra foi lançada a 13 de maio de 2010 pelo Santo Padre. A infraestrutura vai prestar assistência às pessoas com problemas de saúde mental, como por exemplo, doentes com Alzheimer.

Falta apenas 10 por cento de execução da obra: a conclusão da

construção e os arranjos exteriores. Posteriormente será instalado o mobiliário e equipamento necessários ao funcionamento da unidade.

A administração da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) prevê que o estabelecimento comece a funcionar “entre abril e maio de 2013”. A nova unidade pretende “dar respostas a um problema crescente numa sociedade cada vez mais envelhecida como

Testemunhar a fidelidade de Deus“Testemunhar a fidelidade de Deus: onde a confiança vacila” é o tema da conferência de janeiro, dia 13, na Basílica do Rosário de Fátima. O Provincial da Congregação do Espírito Santo e do Imaculado Coração de Maria, padre Tony Neves é o orador da sessão que tem início às 16h00. A iniciativa conta com um apontamento musical: Música de Poesia de Natal – Isabel Nogueira (voz) e Tiago Matias (cordas).

O Espírito de AssisFrei Acílio Mendes orienta o encontro de 19 de janeiro, sob o tema “O Espírito de Assis” do ciclo “Palavra, Fé e Vida”, uma iniciativa dos Frades Franciscanos Capuchinhos que decorre em

Fátima, entre as 10h00 e as 17h30. Para participar, os interessados devem efetuar a inscrição através do email:[email protected] 249530215 ou 249539390

Descobrir a solidez da féFátima acolhe o Fórum de EducaçãoMoral e Religiosa Católica (EMRC)de 25 a 27 de janeiro. Os trabalhosserão subordinados ao tema “Descobrir a solidez da fé: Testemunho e missão do professor de EMRC”. A formação vai refletir sobre o papel do docente de EMRC na escola.

NOVA UNIDADE DE SAÚDE QUASE CONCLUÍDAtexto LUCÍLIA OLIVEIRA foto ANA PAULA

a portuguesa», em particular à comunidade de Fátima.

Terá 60 camas e irá criar entre 30a 40 postos de trabalho. Trata-sede um investimento global de 3,8 milhões de euros, com financiamento de 750 mil euros do programa Modelar, promovido pelas Administrações Regionais de Saúde.

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NÃO TENHAS MEDOÀ frente desta batalha,Espada no ar a brandir,Desfiro golpes ao calhaPara tentar atingirO medo que me amuralhaE me impele a desistir.

Desertar seria a falhaPor me negar a sentirQue a coragem que me talhaPara a frente me faz seguirNão pelo amor à medalhaMas pelo amor a servir.

João Nascimento