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Cozinha com Memoria AF 2 · SOPA DA PEDRA ..... 52 PEIXES Truta e o crocante de pão de França ... 57 CALDEIRADA LÁ DE CASA ... aproveitando um pouco do caldo para que fique cremoso

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  • RECEITASDedico este livro à minha mulher e às minhas filhas.

    Luís Portugal

    Dedico este livro aos meus pais e avós.

    Pedro Jorge

  • PREFÁCIO ........................................ 11INTRODUÇÃO ................................. 13

    E N T R A D A SA trufa de butelo e as casulas ............. 21ALMÔNDEGAS DE LEBRE ........................... 24Escabeche de codorniz na sua horta ... 28TOIRAS ................................................ 33

    S O PA SSOPA DE COENTROS ................................ 37A sopa de bacalhau ............................ 40AÇORDA DE BACALHAU ............................ 44O caldo de castanhas e nabiças ......... 49SOPA DA PEDRA ..................................... 52

    P E I X E STruta e o crocante de pão de França ... 57CALDEIRADA LÁ DE CASA ........................... 61Ensopado de congro à tia Ernestina ... 64ENSOPADO DE ENGUIAS ............................ 68O carolino de polvo com ele ................ 73POLVO À LAGAREIRO ................................ 76Bacalhau confitado com puré de tremoços .........................80COUVE A SOCO COM BACALHAU .................. 85Robalo, gambas e puré de mão de vaca e grão-de-bico ....................... 88

    C A R N E SCabrito frito no azeite ........................ 93PERNA DE BORREGO NO FORNO .................. 96Mão de cordeiro marinada ............... 100Folar de cozido à transmontana ....... 105

    COZIDO BRAVO .................................... 108Lombo de vitela e a batata da serra ... 112NAQUINHOS DE VITELA BRAVA COM CARQUEJA E BATATAS DE REBOLÃO ...... 117Lombelo de porco em caril ................ 120BURRAS DE PORCO ................................ 125Bochechas de porco em cinco vinhos ... 128Leitão em cama da horta .................. 133

    C A Ç ACuscos transmontanos de lebre ........ 136FEIJOADA DE LEBRE ............................... 141Perdiz à morgadinho da Paradinha ... 144COELHO BRAVO FRITO ............................ 148Javali no pote .................................. 153

    D O C E SBELHOSES DA MINHA AVÓ VINA ................. 157PUDIM DE OVOS ................................... 160Cuscos doces com passas de uva ....... 165ARROZ DOCE ........................................ 169

    P E T I S C O SA alheira e a maçã ............................ 172LINGUIÇA FRITA .................................... 176Escabeche de sardinha e pimentos ..... 181MOELAS FRITAS .................................... 185Bife de presunto com vinho do Porto ... 188PICA-PAU ............................................ 192Ensopado de repolgas e torradas de azeite .......................... 197 Boletos e faisão ................................ 198FAVAS COM CHOURIÇO ........................... 202

    AGRADECIMENTOS ..................... 205

    ÍNDICE

  • 11

    Este livro é mais do que um livro de re-ceitas. É a prova de que a cozinha une as pessoas. O Luís Portugal e o Pedro Jorge são exemplo disso. Independentemente da diferença de idades, tornaram-se cúmplices e amigos. Quando a comida é bem confecionada e envolvida numa dose de amor, é o primeiro passo para sermos mais felizes.

    Os seus percursos cruzaram-se no pro-grama MasterChef e foi aí que conheci ambos. Esse foi, também, o programa que lhes mudou a vida. Nesse processo de aproximação à cozinha de referência, houve, desde logo, dois elementos essen-ciais que ambos demonstraram: alma e profissionalismo. Tudo se conjugou num terceiro elemento — a amizade, com es-pírito de Peter Pan. O resultado, ainda que eclético, é muito equilibrado.

    Neste projeto a dois, muito original, a cozinha escreve-se e comunica-se através da correspondência. Os produtos tra-dicionais de qualidade transformam-se em receita por correio eletrónico, an-tecipando, assim mesmo, a cozinha de produto com os saberes dos nossos ante-passados, ou seja, a cozinha de memória.

    Se a cozinha com asas cumprirá o sonho do Pedro Jorge de, um dia, ser piloto, já o Luís Portugal não mais deixará de fazer da cozinha a sua profissão, uma arte que, genuinamente, remete para os sabores das terras de Trás-os-Montes.

    O Luís é empreendedor. Os seus atos de criação na cozinha não se encerram no

    prazer que dão ao próprio, mas também, e essencialmente, naquele que permite chegar ao cliente, com tudo o que pode transpor para cada prato. O Luís é, e será sempre, um «orgulhoso transmontano».

    O Pedro Jorge ganhou popularidade e afirmou-se pelo seu jeito genuíno e doce de ser. O seu talento natural na cozinha revela-se quando o prato tem como ele-mento principal a «chicha».

    Quando estes dois amigos se falam ou se escrevem, o tema é a cozinha.

    Rui Paula

    PREFÁCIO

  • 13

    Este livro conta uma história que come-çou nas histórias esquecidas, mães das culinárias regionais das quais fazem parte as nossas cozinhas, que herdámos de mães e avós. Histórias onde mãos sobre mãos criaram e aprimoraram, durante séculos, um conjunto de receitas base que, a partir dos alimentos disponíveis, identificam o território onde nascemos.

    Pratos e receitas que aprendemos a amar através do trabalho de mães, tias e avós que, diariamente e muitas vezes em dose quádrupla — pequeno-almoço, almoço, lanche, jantar — nos calavam o apetite, criavam o gosto, moldavam-nos os há-bitos e aproximavam-nos do mundo. Restrições e pequenos prazeres, descon-forto e aceitação, habitaram-nos a infân-cia e habituaram-nos à identificação entre casa e terra, entre território e pertença.

    Se somos a nossa circunstância, somos certamente espelho dos rios, das colinas, das pedras, das terras, dos céus, das es-tações que permitiram e impediram bi-chos, árvores, cultivos, afetos, sabores, aromas, de existirem.

    Conhecemo-nos num programa televisivo — o MasterChef — que nos espevitou os sonhos e (talvez pela sorte e o muito em-penho que pomos nos gestos e nas esco-lhas que ensaiamos na cozinha) nos levou a começar a alcançá-los. Rapidamente ficámos amigos porque, apesar da dife-rença de idades, das vivências, das memó-rias, da origem regional, há duas coisas que nos unem: o amor pela cozinha e a origem familiar desse amor.

    Crescemos numa riqueza culinária: não só de cheiros e sabores e de um intenso amor pela cozinha, mas também dos sen-timentos à volta da comida — as ligações familiares, a solidariedade entre todos, a comunhão de princípios e valores.

    As nossas memórias não vivem sozinhas — comemoramo-las sempre que prepa-ramos algo no fogão ou no forno, quando evocamos gestos, palavras, olhares e en-sinamentos. E ainda que os nomes que adotámos entre nós pressuponham uma hierarquia — padrinho e afilhado — eles apenas cristalizam um momento de ini-ciação que, hoje em dia, se renova dos dois lados, sempre que cada um inicia o outro num hábito, num modo, numa ideia, numa criação, numa tradição local…

    Começámos esta troca de mensagens há muito e não nos parece que ela pare tão cedo. Resolvemos registá-la em livro para que a partilha seja extensiva a todos os que nos têm apoiado e incentivado, direta ou indiretamente, seja por mensa-gens ou acompanhando as nossas aven-turas televisivas.

    Estas histórias e estas receitas são o nosso modo de agradecer. Não as vejam como um manual, porque a cozinha regional tem uma dinâmica que nunca deixará de ser livre na sua evolução. Sintam-nas como nós as sentimos — um património que nos moldou e que nos marca os dias e os afetos.

    INTRODUÇÃO

  • 17

    RECEITAS

  • 18

    O butelo e as casulas

  • 19

    Afilhado,

    Este ano vais mascarar-te de quê? Por aqui, a cidade está uma animação com os preparativos do Carnaval, especialmente os que irão andar acima e abaixo como caretos. Bragança vive disto, das festas e das ocasiões especiais, e os caretos serão talvez o que mais se enraíza no tempo. Lembras-te do ano passado? Assustaste-te com o assalto ao fumeiro... já te estavas a ver a ir embora sem o fornecimento que o teu padrinho te tinha arranjado e a pensar como é que irias passar os meses em Coruche sem butelos.

    Falando de meses sem butelo, antigamente era uma chatice porque só se comia bu-telo no Carnaval, ao contrário das casulas que serviam como conservação do feijão e duravam, nas nossas mesas, o ano inteiro.

    Ainda bem que Bragança resolveu elevar a prato do concelho o Butelo e as Casulas (com letra grande, que é o que eles merecem ser: grandes)! Pagamos mais do dobro do preço de antigamente, quando era comida de pobre e desconsiderada por quem achava que só o salpicão é que era bom, não este ensacado (e logo na bexiga!) de ossos da suã com bocadinhos de carne... Mas, acredita, vale todos os cêntimos e eu não conheço sabor mais bragantino do que aquela combinação de porco e pimentão, dos ossinhos chupados e da textura das casulas.

    Depois de há uns anos ter sido convidado para ser o primeiro «arauto» desta nova vida do enchido, achei que a minha Tasca tinha de lhe oferecer residência constante — e assim nasceu esta «Trufa». Quando cá vieres acima, provas esta iguaria, tem um sabor do caraças! Mas envio-te já a receita para o caso de a quereres provar antes.

    É também uma homenagem à minha tia Ernestina. Cozinhava bem — e muito! Lembro-me com saudade dos dias que passava lá em casa. A minha tia fazia-nos o pequeno-almoço, lavava a loiça e começava a fazer o almoço. Almoçávamos, ela lavava a loiça e... começava a fazer o jantar. Todos os dias. E sabia tudo como o céu. Era amor o que a minha tia punha nos tachos e sertãs...

    De: @LuisPortugalPara: Pedro JorgeAssunto: O butelo e as casulas

    ANEXO:A_trufa_de_butelo_e_as_casulas.pdf

  • 21

    A trufa de butelo e as casulas

    Chutney

    1 kg D E P I M E N T O S V E R M E L H O S250 g D E A Ç Ú C A R B R A N C O1 M A L A G U E TA250 ml D E V I N A G R E V I N H O T I N T O

    Juntam-se todos os ingredientes numa panela e deixa-se cozinhar du-rante 2 horas e meia em lume muito brando, sem deixar ferver.

    Passa-se tudo com a varinha mágica, deita-se numa tigela, cobre-se com película aderente, com esta a tocar no preparado, e vai ao frio durante cerca de 4 horas.

    Servem-se as trufas acompanhadas pelo chutney e decoradas com os re-bentos de mostarda.

    Na véspera, colocam-se as casulas em água, e estas têm de demolhar, pelo menos, 24 horas.

    Coze-se o butelo em água durante 1 hora, garantindo que o nível da água esteja sempre acima dele.

    Retira-se o butelo, abre-se e separam--se todos os ossos e cartilagens, adicio-nando-os à água de cozedura.

    Nessa mesma água cozem-se as casu-las durante uma hora e meia.

    Junta-se a carne do butelo e das casu-las e passa-se com a varinha mágica, aproveitando um pouco do caldo para que fique cremoso.

    Coloca-se numa tigela, cobre-se com película aderente, com esta a tocar a massa, e leva-se ao frio durante cerca de 2 horas.

    Moldam-se pedaços em forma de es-fera, passando-os em farinha de trigo e ovo pouco batido, terminando com sementes de papoila.

    Fritam-se «as trufas» em azeite, a uma temperatura máxima de 140 °C.

    250 g D E C A S U L A S1 B U T E L OFA R I N H A D E T R I G O

    2 O V O S S E M E N T E S D E PA P O I L AR E B E N T O S D E M O S TA R D A

  • ALMÔNDEGAS

  • 23

    Padrinho,Essa forma da trufa faz-me lembrar as almôndegas cá de casa. Bom, não é a receita que costumamos fazer quase todas as semanas, que essa é com carninha de vaca picada antes de fritar. É antes uma receita derivada dessa e que fui inven-tando a pensar nas lebres que o meu avô trazia da caça quando ia com os amigos do clube desanuviar da agricultura.Tenho sempre muito cuidado a limpar o bicho porque me lembro de uma lebre à caçador que o meu avô fez e onde a minha avó quase ia lascando um dente com um chumbo que trincou. Fartou-se de protestar porque, segundo ela, era falta de respeito pela «cliente». «Se isto fosse num restaurante, eras logo multado pela ASAE!», dizia ela ao meu avô. Eu ria, a minha mãe ria, o meu avô, então, ria mais que nós todos juntos. «Isto não é desrespeito», respondia o meu avô, «é a prova de que a lebre é mesmo de caça, não é nenhum desses bichanos que a malta à noite anda a apanhar nos telhados!»Isso fi cou-me na cabeça, e, para não ter ninguém com dentes partidos à mesa, tenho sempre o cuidado de os procurar muito bem na chicha enquanto a estou a desfi ar. Mas os chumbinhos também são a prova de que a orelhuda era mesmo verdadeira, não achas?

    De: @pedrojorgePara: Luís PortugalAssunto: Almôndegas

    ANEXOAlmondegas_de_lebre.pdf

  • 24

    Pela-se e desossa-se a lebre, tendo atenção para retirar todos os chumbinhos que a ma-taram. Picam-se a cebola, o alho, o gengibre e a salsa.Passa-se a carne e o toucinho pela máquina de picar. Acrescentam-se a farinha, os ovos e a salsa. Derrete-se a manteiga e adiciona-se ao preparado. Tempera-se com sal e pimenta a gosto.Formam-se umas bolas com cerca de 4 cm de diâmetro e passam-se por farinha.Num tacho largo, refogam-se em banha a cebola e o alho, com o gengibre, o tomi-lho e as bagas de zimbro. Acrescentam-se as almôndegas, deixando-as ganhar cor.Juntam-se o sumo e a raspa do limão, o vinho e água a ferver até ficarem tapadas. Cozinham-se em lume médio, tapado, até cozerem.Servem-se com batatas às rodelas, fritas em azeite, e uma salada de rúcula, sem tempero.

    ALMÔNDEGAS DE LEBRE

    1 L E B R E1 C E B O L A G R A N D E

    2 D E N T E S D E A L H O25 g D E G E N G I B R E F R E S C O

    1 M O L H O D E S A L S A75 g D E T O U C I N H O

    25 g D E FA R I N H A D E T R I G O2 O V O S

    60 g D E M A N T E I G AS A L E P I M E N TA-B R A N C A

    180 g D E B A N H A1 c . de chá D E T O M I L H O

    4 B A G A S D E Z I M B R O1 L I M Ã O M É D I O

    1 dl D E V I N H O B R A N C O

    B ATATA S F R I TA SR Ú C U L A

  • 25