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CRAS Distúrbios de Linguagem Meire Viana Psicóloga CRP:11/0919 [email protected]

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CRAS

Distúrbios de Linguagem

Meire VianaPsicóloga CRP:11/[email protected]

Para falar o ser humano necessita que osórgãos sensoriais, motores e de articulação,estejam perfeitos, caso contrário a fala torna-sedefeituosa. Na criança essa problemática é maior,pois além de torná-la desajustada ao seu meio,essa deficiência provoca reflexos na aprendizageme no desempenho escolar. Sendo assim alinguagem parece preceder a fala, tendo em vistaa criança se comunicar mesmo antes de adquiri-laatravés de gestos, mímicas e olhares.

Ambientais: A forma da fala dos pais é muitoimportante para o desenvolvimento dalinguagem e da fala da criança. Em geral oambiente onde a criança vive fornece o climaemocional, os modelos verbais e asexperiências infantis. A descontração e asegurança afetiva desse meio influenciapositivamente no desenvolvimento das fasesiniciais de vocalização e balbucio.

Biológicos: São considerados sob os aspectos hereditários e o estado de saúde. Hereditariedade: Fornece maior ou menor potencialde aprendizagem das regras e do vocabulário dalíngua. As diferenças individuais formam uma escalaonde na média se encontra a maioria, e nos extremosestão os altamente privilegiados de um lado e no outroos que apresentam inabilidade congênita para alinguagem; O estado de saúde é extremamente importante,especialmente até os 3 anos. Doenças e carêncianutricional nesse período são os principais obstáculospara a aquisição da linguagem.

Durante as 5 ou 6 semanas de vida, a fala aparece com gritos ou choros, onde a criança expressa fome, sede, dor ou desconforto;

A partir de 2m inicia a fase do balbucio, pois os bebêsouvem tanto seus sons como os dos outros edesenvolvem sua capacidade de discriminação;(criançasurda não balbucia)

Aos 12 m a criança usa palavras isoladas; Aos 21m associa 2 palavras; Aos 2 anos usa orações curtas; Aos 3 anos , já pode dominar 500 ou 600 palavras; Aos 5 anos o mecanismo da emissão deve estar

desenvolvido e a linguagem se apresenta estruturada.

Os problemas na área da linguagem e da fala apresentam os aspectos psicológico (ou emocional) e o orgânico e ora um é causa, e ora um é consequência:

Alguns distúrbios cerebrais impedem a passagem dafase do choro e do balbucio.

Há fatores físicos que prejudicam a falaimpossibilitando a comunicação (lábio leporino, defeitono céu da boca)

Fatores emocionais presentes em algumas formas demutismo; A falta de oportunidade prejudica a evolução da falada criança (ficar muito tempo sozinha, ou malacompanhada, sem estimulação e o afeto necessários);

Mudez: Incapacidade de articular palavras, geralmentedecorrente de transtorno do SNC, que atinge a coordenação dasideias e impedindo a sua transmissão em forma de expressãoverbal. Em grande parte decorre por problemas na audição. Quando a criança fica surda antes da idade de adquirir alinguagem, ela não aprende a falar, a não ser com tratamentoespecializado. Se a surdez ocorre antes dos 5anos, mesmo parcial,provocará dificuldades na fala, porque ela esquece o que adquiriu.É necessário então um novo aprendizado com base na visão e notato. A fala não desaparece quando a criança fica surda após os9anos, mas a voz se modifica, torna-se grave e alta, quando onervo auditivo sofre lesão e baixa e monótona se o problema forno ouvido médio.

Voz débil; Baixa inteligibilidade da fala devido a má articulação; Baixa inteligibilidade da fala por lapsos de gramática

(léxicos ou de sintaxe); Fala desagradável ao ouvinte; Características da fala que incomodam pois

apresentam diferença em relação aos padrões deidade e sexo;

Fala acompanhada de sons que perturbam, de gestose caretas.

Na escola qualquer distúrbio da fala toma grandeproporção e deve ser detectado muito cedo, pois osproblemas em geral se transferem para a escrita

Mudez psicológica ou emocional é a eletiva, onde acriança nega a fala somente em algumas situaçõesou na presença de determinadas pessoas ;

Silêncio por tensão excessiva devido a grande sustoou ataque sexual;

Silêncio total como arma contra seus educadores(pais muito perfeccionistas e ansiosos);

Esquizofrenia infantil, quando a criança fala sóconsigo mesma, vive isolada do exterior, conversasó com seres imaginários.

Defeitos anatômicos ou funcionamentofisiológico anormal dos maxilares, da língua e odo véu palatal;

Sentimentos, emoções ou atitudesperturbadoras;

Conceitos inadequados do eu;

Dificuldade de adaptação ao ambiente.

A partir dos 14meses a criança já é capaz depronunciar palavras com significado, espera-se queela tenha sua linguagem estruturada. Quando isso nãoacontece pode-se definir uma forma de atraso nalinguagem. Em algumas crianças esse atraso ésuperado a partir dos 4 anos em outras, o problema setransforma num distúrbio específico de articulaçãoresolvido bem mais tarde naturalmente ou comtratamento especializado.

Características: Deficiência do vocabulário; Deficiência na capacidade de formular ideias; Desenvolvimento retardado da estruturação de

sentenças.

Só por volta dos 7ou 8 anos é que os órgãos dafala têm maturidade para produzir todos ossons linguísticos.

Idade Consoantes que articula3 anos4 anos5 anos6 anos7 anos

M-n-pB-k-g-lNg-dL-r-t-ch-cr-dr-cl-bl-glV-j-s-z-tr-st-sl-sp

Após os 7 anos se a criança não consegue pronunciarcorretamente todas as consoantes com suas combinações,então se apresenta o que chamamos de problema dearticulação. Esse distúrbio da fala se manifesta de váriasformas de acordo com suas características:

Dislalia – Omissão, substituição, distorção ou acréscimo desons na palavra falada. Essa falha da articulação pode terorigem orgânica como defeitos na arcada dentária, lábioleporino, freio da língua curto, língua de tamanho acima donormal; ou origem funcional, quando a criança não sabemudar a posição da língua e dos lábios.

A dislalia funcional ocorre com frequência em filhos caçulas efilhos de estrangeiros. Ela interfere no processo deaprendizagem da escrita.

Disartria – É o distúrbio do ritmo e de entoação. Origem: 1º - Lesões no sistema nervoso alterando a estimulação

e o controle dos nervos, provocando a má articulação, quandosevera, dificulta o reconhecimento da palavra;

2º - Perturbações nos músculos que produzem os sonslinguísticos, resultante de paresia (paralisia incompleta),paralisia ou ataxia dos músculos articulatórios.

A disartria é frequente nos casos de paralisia em geral,associada a outros distúrbios de linguagem. É muito comum empessoas com paralisia periférica do nervo hipoglosso,pneumogástrico e facial, e naquelas que apresentam esclerose emplacas ou intoxicação alcoólica. Também em pessoas com tumoresno cérebro, cerebelo ou tronco encefálico, ou com lesõesvasculares encefálicas.

Chamados de disfonias, podem ser funcionaisquando impedem o controle dos sons e envolvem só osórgãos periféricos; ou orgânicos, quando hácomprometimento do SNC.

Na criança, a disfonia funcional tem a ver com adesarmonia e insegurança no lar (fator psicológico): asque gritam têm voz alta e rouca; as que são manhosas emimadas têm a voz anasalada; a criança tímida tem avoz soprosa e, infantilizada, a voz da criança que imita oirmão menor ou os pais incentivam essa fala.

Voz em falsete – caracteriza-se pelo timbre elevado,às vezes com tom de choro, é comum nos meninosdurante a adolescência (contração exagerada domúsculo cricotireóideo). Nas meninas durante a adolescência costuma ocorrera afonia. A voz monótona é uma disfonia de origem orgânicacausada por doenças no SNC. Apresenta incapacidadede inflexão e pode vir junto com um enfraquecimentoda capacidade auditiva. Os problemas de fonação também podemapresentar-se com pronúncia defeituosa de algunssons como m em vez de b e n em vez de d.

Caracteriza-se pela fala produzida com repetições de sílabas,palavras ou conjunto de palavras, prolongamento de sons,hesitações e bloqueios. Desvios de assunto e a desorganizaçãode relatos também podem se juntar às disfluências. As disfluências patológicas ocorrem por dificuldadesperceptivomoras orais ou por falhas linguísticas presentes emdisfunção cerebral mínima, paralisia cerebral e deficiênciamental e em determinada etapa do desenvolvimento dalinguagem. As de origem emocional são associadas a distúrbios depersonalidade e a conflitos nas relações afetivas. As resultantesde fortes traumas acontecem em crianças e adultos, mas as quese instalam de forma abrupta ocorrem quase exclusivamenteantes dos 8 anos.

Gagueira ou tartamudez é uma das principais disfluências,inicia-se entre os 3 e 4 anos, aos 7 anos e na puberdade. Atinge mais o sexo masculino. Envolve bloqueios, hesitações,prolongamentos e repetições de sons, sílabas, palavras oufrases, é acompanhada também de tensão muscular, rápidopiscar de olhos, irregularidades respiratórias e caretas. Sua origem tem uma base genética (maior incidência emfamília de gagos); mais comum em pessoas canhotas; associadaa nascimento de gêmeos e à prematuridade. Entre os gagos há incidência maior de distúrbio do SNC. Como causas funcionais tem-se a perda de um ente querido,um acidente ou quando a pessoa sobre uma severa repreensão. Em geral os pais de gagos são perfeccionistas e têm altonível de aspiração para os filhos.

Primária: Quando a criança de 2 a 4 anos ainda nãotem consciência de sua dificuldade, mesmoapresentando bloqueios, hesitações e repetições desons. Nesse momento é bom não criticar a criança, falarbaixo e devagar com ela, importância da pré-escola. Secundária: Crescente tensão muscular, medo eesforço. Aqui a pessoa já tem consciência de que égago, o que gera ansiedade ao falar certas palavras. É importante ensinar técnicas de respiração, controledo ritmo e articulação das silabas palavras e aconstruir gradualmente a sua fluência.

Auditivos (queda-d’água, trem em movimento, música)

Impedem que pessoa escute a sua voz, diminuem a ansiedade;

Proporcionam aumento da voz , distraem a pessoa e a fazem falar mais devagar.

Rítmicos Ajudam a regular a respiração; absorvem a atenção da pessoa, facilitam a sincronização dos movimentos da fala.

Canto Atenua a vocalização da consoante, tem efeito rítmico;provoca mudança de tonalidade, altera a intensidade da voz e tem efeito relaxante.

Murmúrio Simplifica e coordena a respiração e a articulação, facilitando a fluência.

Mudança de tonalidade

Baixar a intensidade

Provoca o esquecimento da gagueira, fazendo a pessoa manter seu novo tom de voz.

Facilita a fluência e a pessoa pode aprender a falar em tons sussurrantes.

É associada à perturbação da linguagem decorrentede distúrbios no funcionamento cerebral e semanifesta por uma incapacidade para relacionar o queé percebido com o seu significado. Ou de transformaro pensamento em expressão. Os sintomas envolvem os setores emocional, sistemavisomotor, linguagem (falada, escrita, auditiva, visual). Na afasia incluem-se a agnosia e a apraxia. A agnosia é a incapacidade de ligar a palavrapercebida a seu significado (ligada aos sentidos visão,tato e audição; A apraxia é a incapacidade de relacionar qualquerexperiência com o ato motor correspondente.

Sensorial ou receptiva – a pessoa ouve e vê mas nãocompreende; Motora ou expressiva – É incapaz de falar ou escreveradequadamente; Conceitual – Não consegue encontrar as palavras nemformular conceitos; Global ou mista – Apresenta todas as formas delinguagem afetadas; Não-fluente – Tem dificuldade para dar início à fala epara produzir as sequências articulatórias e gramaticais; Fluente – Articula e produz sequências grandes depalavras em construções gramaticais variadas, mas temdificuldades para encontrar os vocábulos.

A fala, a leitura e a escrita fazem parte do sistema funcionalde linguagem.

O ser humano apresenta três sistemas verbais o auditivo(palavra falada), o visual (palavra lida) e o escrito.

A aprendizagem da fala demanda uma linguagem interna. Osprocessos de linguagem interna são os que possibilitam atransformação da experiência em símbolos. Nesse sentido, arecepção antecede a expressão.

Quando a criança entra na escola espera-se que ela já tenhavivenciado as etapas de compreensão e expressão da palavrafalada para que na sua alfabetização esteja apta adesenvolver os estágios de compreensão da palavra impressa(leitura) e sua expressão (escrita).

O início da leitura e da escrita depende deuma complexa integração dos processosneurológicos e de uma harmoniosa evoluçãode habilidades básicas, como percepção,esquema corporal, lateralidade, etc.

A criança está pronta para ser alfabetizadaquando já tem um nível suficiente para iniciar oprocesso da função simbólica (leitura) e suatransposição gráfica (escrita).

A leitura envolve: a identificação dos símbolos impressos; A relação dos símbolos gráficos com os sons; A compreensão e análise crítica do que foi lido.

Quando a criança tem dificuldade paraaprender por meio da linguagem auditiva evisual, e não consegue reter e integrar na suaexperiência o que ouve e vê, ela podeapresentar distúrbio de leitura.

Memória: a criança apresenta dificuldade auditiva e visual na retenção de informações;

Orientação espaço-temporal: a criança não reconhece direita e esquerda;

Esquema corporal: conhecimento deficiente de seu esquema corporal;

Motricidade: Distúrbio secundário de coordenação motora ampla e fina, atrapalhando o equilíbrio e destreza manual;

Distúrbio topográfico: Incapacidade de algumas crianças em compreender legendas de mapas, gráficos e maquetes;

Soletração: Crianças que são incapazes de revisualizar e reorganizar de forma auditiva as letras.

Dislexia: A criança dislexa apresenta: Demora a aprender a falar, fazer laço nos sapatos, reconhecer as

letras, pegar e chutar bola, pular corda; Escrever números e letras corretamente; Ordenar as letras do alfabeto, meses do ano e sílabas de palavras

compridas; Distinguir esquerda e direita; Precisa de blocos, dedos ou anotações para cálculos; Dificuldade incomum para lembrar a tabuada; Tempo de compreensão de leitura e quatro operações mais lento

que o esperado; Faz confusões de instruções, nº de telefone, lugares, horários e

datas; Dificuldade para planejar e fazer redações.

O processo de escrita requer uma capacidade de conservarideia, ordenando-a numa sequência relacionada.

Podem ser encontrados três tipos básicos de distúrbios deescrita:

1º - Disgrafia: Dificuldade em passar o estímulo visual dapalavra impressa para a escrita. Apresenta lento traçado dasletras;

2º - Disortografia: Incapacidade de transcrever de forma corretaa linguagem oral, trocas ortográficas e confusão de letras;

3º - Erros de formulação e sintaxe: A criança não conseguepassar para a escrita o conhecimento da linguagem oral, emborapossa ler fluentemente e tenha uma linguagem oral perfeita.

Os distúrbios de aprendizagem da leitura e da escrita podem tervárias causas:

Orgânicas: cardiopatias, encefalopatias, deficiências sensoriais,deficiências motoras, deficiências intelectuais, disfunção cerebrale outras enfermidades de longa duração;

Psicológicas: desajustes emocionais provocados pela ansiedade,insegurança e baixa autoestima que a criança tem por suadificuldade de aprendizagem;

Pedagógicas: Métodos inadequados de ensino; Sócio-culturais: Ausência de estimulação, desnutrição, privação

cultural, marginalização das crianças com dificuldades deaprendizagem;

Dislexia: déficit na capacidade de simbolizar. Provoca umadificuldade específica na aprendizagem da identificação dossímbolos gráficos.

Discalculia: Os distúrbios de aritmética estãoligados aos distúrbios de leitura e escrita,tendo em vista que para a criança compreenderinstruções e enunciados matemáticos, assimcomo as operações aritméticas, faz-senecessário a superação das dificuldades acimamencionadas. Nesse sentido a criança comdiscalculia apresenta distúrbios de linguagemreceptivo-auditiva e aritmética, memóriaauditiva e aritmética, distúrbios de leitura earitmética e distúrbios de escrita e aritmética.

As principais questões envolvendo distúrbios de fala,sugere-se a avaliação otorrinolaringologia e se for ocaso também da fonoaudiologia.

Considera-se que a avaliação diagnóstica de dislexia,discalculia, etc. são avaliações clínicas, de processose comportamento.

Importante avaliar a responsabilidade do processoeducativo enquanto aceleração de ritmo.

Efetuar a crítica sobre as condições e aumentonúmero de casos na atualidade, buscando razõessociais também para entender o fenômeno.

FADMAN, James. Teorias da Personalidade. São Paulo.Harper. 1979;

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SISTO, Fermino Fernandes (org). Dificuldades deaprendizagem no contexto psicopedagógico.Petrópolis. Vozes. 2001.