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(I) A observação é a fonte e a função do conhecimento físico. (II) Nada é real a menos que se torne parte da experiência humana. (III) As hipóteses e teorias da física não passam de experiência condensada. (IV) As teorias físicas não são criadas, mas descobertas. (V) O objetivo do estabelecimento de hipóteses e da teorização é sistematizar uma parte do fundo crescente da experiência humana e prever possíveis novas experiências. (VI) As hipóteses e teorias que incluem conceitos não observacionais como os de elétrons e de campo, não tem conteúdo físico. (VII) As hipóteses e teorias da física não são mais ou menos verdadeiras ou adequadas. (VIII) Todo o conceito importante tem de ser definido. (IX) O que atribui significado é a definição. (X) Um símbolo adquire um significado físico através de uma definição operacional. Fonte: BUNGE, M. Filosofia da Física. Lisboa: Edições 70, 1973

Credo Do Físico Inocente, Por Mario Bunge

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O físico contemporâneo, não importa quão sofisticado e critico possa ser em questões técnicas, de modo habitual adota dogmamente o que se pode chamar de Credo do Físico Inocente.

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(I) A observao a fonte e a funo do conhecimento fsico.

(II) Nada real a menos que se torne parte da experincia humana.

(III) As hipteses e teorias da fsica no passam de experincia condensada.

(IV) As teorias fsicas no so criadas, mas descobertas.

(V) O objetivo do estabelecimento de hipteses e da teorizao sistematizar uma parte do fundo crescente da experincia humana e prever possveis novas experincias.

(VI) As hipteses e teorias que incluem conceitos no observacionais como os de eltrons e de campo, no tem contedo fsico.

(VII) As hipteses e teorias da fsica no so mais ou menos verdadeiras ou adequadas.

(VIII) Todo o conceito importante tem de ser definido.

(IX) O que atribui significado a definio.

(X) Um smbolo adquire um significado fsico atravs de uma definio operacional.

Fonte:BUNGE, M. Filosofia da Fsica. Lisboa: Edies 70, 1973

CREDO DO FSICO INOCENTE, por Mario Bunge

O fsico contemporneo, no importa quo sofisticado e crtico possa ser em questes tcnicas, de modo habitual adota dogmaticamente o que se pode chamar o Credo do Fsico Inocente. Os principais dogmas deste credo so os seguintes:

(I) A observao a fonte e a funo do conhecimento fsico.

(II) Nada real a menos que se torne parte da experincia humana. A totalidade da fsica diz respeito experincia mais do que a uma realidade independente. Por isso, a realidade fsica um setor da experincia humana.

(III) As hipteses e teorias da fsica no passam de experincia condensada, i. , snteses indutivas de itens experimentais.

(IV) As teorias fsicas no so criadas, mas descobertas: podem ser descobertas em conjuntos de dados empricos, tal como tabelas laboratoriais. A especulao e a inveno dificilmente desempenham qualquer papel na fsica.

(V) O objetivo do estabelecimento de hipteses e da teorizao sistematizar uma parte do fundo crescente da experinciahumana e prever possveis novas experincias. Em caso algum se deve tentar explicar a realidade. Nunca deveremos tentar apreender o essencial.

(VI) As hipteses e teorias que incluem conceitos no observacionais como os de eltrons e de campo, no tem contedo fsico: so meras pontes matemticas entre observaes reais ou possveis. Estes conceitos transempricos no referem, portanto, objetos reais, apesar de imperceptveis, mas apenas so auxiliares desprovidos de referncia.

(VII) As hipteses e teorias da fsica no so mais ou menos verdadeiras ou adequadas; visto que correspondem a itens que no existem de forma independente, apenas so modos mais ou menos simples e efetivos de sistematizar e enriquecer, e no componentes de uma imagem do mundo.

(VIII) Todo o conceito importante tem de ser definido. Consequentemente, qualquer discurso bem organizado deve comear por definir os termos-chave.

(IX) O que atribui significado a definio: um smbolo indefinido no tem significado fsico e, por conseguinte, s pode ocorrer em fsica como um auxiliar matemtico.

(X) Um smbolo adquire um significado fsico atravs de uma definio operacional. Qualquer coisa que no seja definida em termos de possveis operaes empricas , fisicamente, sem sentido e deveria portanto rejeitar-se.

D-se ou tire-se qualquer mandamento, a maior parte dos fsicos contemporneos parecem, pelo menos, ser pouco fiis ao Declogo precedente- no apenas no Mundo Ocidental, mas tambm noutros mundos. Isto no implica que todos aqueles que se declaram a favor do Declogo vivam de acordo com ele. Na realidade, nenhum fsico iria muito longe se tivesse de agir na suspenso do Declogo, porque este nem reflete a investigao real nem a promove.

FONTE:BUNGE, M. Filosofia da Fsica. Lisboa: Edies 70, 1973