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174 DBO agosto 2015 Empresas DENIS CARDOSO de Mogi Mirim, SP [email protected] F ilho de agrônomo, José Henrique Fortes Pontes, mentor, diretor-presidente e um dos sócios da In Vitro Brasil (IVB), líder mundial na produção in vitro de embriões, é um homem simples. Está quase sem- pre de camisa xadrez e calça jeans; é tranquilo ao falar e gesticular; se mostra à vontade no ambiente de traba- lho, uma saleta de paredes brancas, sem ar condicionado, com móveis e cadeiras comuns – nada de luxo, zero de ostentação. Mas seu semblante muda (pode-se perceber um brilho no olhar e um ar de satisfação, até de supe- rioridade) quando ele começa a relembrar a trajetória de sucesso da In Vitro, que começou a despertar a atenção de multinacionais do setor, interessadas em agregar valor a seu portfólio de produtos. “Fomos cobiçados por vá- rias centrais, mas acabamos aceitando a proposta da ABS Global”, conta Pontes, referindo-se à oferta milionária feita pela companhia do grupo norte-americano Genus, que, em fevereiro, comprou 51% da In Vitro Brasil, por R$ 20 milhões. O contrato ainda prevê a aquisição dos 49% restantes, no primeiro semestre de 2018. O processo de compra foi dividido em duas partes para que a equipe comandada por Pontes comprove, nos próximos três anos, o potencial de crescimento da empre- sa em sinergia com a ABS, que é líder mundial do mer- cado de genética de corte e leite e possui mais de 40.000 clientes em 70 países. “Com a clientela e os contatos da ABS Global, além de mais recursos para investimentos, abriremos laboratórios em todo o mundo”, prevê Pontes. Com o posto de diretor-presidente assegurado até pelo menos 2018, quando deverá ser concluída a venda inte- gral da In Vitro, ele recebeu o aval da ABS para prospec- tar novos mercados e fincar bandeira em países com po- tencial para adoção da tecnologia de embriões. “Nossos próximos alvos são China, Índia e o continente europeu”, diz o empresário, que também pretende fortalecer a atu- ação da In Vitro nos Estados Unidos, onde a empresa já conta com um laboratório próprio, em Huntley, Illinois. Trajetória ímpar A In Vitro surgiu numa época em que a fertiliza- ção de embriões era praticamente desconhecida dos pe- cuaristas brasileiros. Não mais do que duas empresas no mercado dominavam a tecnologia, com destaque para a Vitrogen, de Cravinhos, SP, existente até hoje. “A equipe de Pontes foi uma das primeiras a trabalharem com a FIV no Brasil e também a primeira a apostar em seu uso co- mercial, prevendo que essa nova técnica roubaria espaço da TE (transferência de embriões), método convencional hoje praticamente inexistente”, atesta o veterinário Pietro Baruselli, professor da Faculdade de Medicina Veteriná- ria e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ- -USP) e ex-presidente (gestão 2012-2013) da Sociedade Brasileira de Tecnologia de Embriões (SBTE). A In Vitro detém, atualmente, 45% do mercado mun- dial de FIV. Produziu 305.000 embriões em 2014 e pro- jeta atingir 350.000 neste ano. “Estamos muito à frente da segunda colocada, a empresa norte-americana Trans Ova Genetics, que produz cerca de 140.000 embriões por ano”, compara. Parte desse crescimento, diz o em- presário, é em razão da estratégia agressiva de expansão da empresa no País (está presente em todas as regiões brasileiras) e no exterior. A In Vitro contabiliza 30 labo- ratórios espalhados pelo mundo, entre próprios e afilia- dos (sistema de franquia). São tantos que Pontes até se atrapalha nas contas ao tentar lembrar os países de atua- ção no exterior. Cita à DBO o laboratório da Colômbia (primeiro fora do Brasil, aberto em 2008, em Bogotá); os da África do Sul, Moçambique, Rússia, Estados Uni- dos, Austrália, Panamá, Venezuela, República Domini- cana, Paraguai e, somente depois de algum tempo, se lembra das unidades na Argentina e Uruguai. A trajetória da empresa impressiona, inclusive pela origem. Formado em veterinária pela Unesp (Universi- dade Estadual Paulista) de Jaboticabal, em 1992, e mes- tre em FIV e clonagem pela Universidade de Montre- al, Pontes decidiu fundar a In Vitro em 2002, quando ainda administrava a Fazenda São Francisco, em Mogi- -Mirim, pertencente ao pecuarista Antônio Carlos Can- to Porto Filho (o Totó), que tinha um plantel de 800 va- cas holandesas e abastecia parte do mercado de Leite A da Região Sudeste. Totó encantou-se com a ideia do jo- In Vitro em rota de expansão Empresa tem como alvos Ásia e Europa Com a clientela e os contatos da ABS Global, abriremos laboratórios em todo o mundo. José Henrique Fortes Pontes, diretor-presidente DENIS CADOSO

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174 DBO agosto 2015

Empresas

DENIS CARDOSOde Mogi Mirim, SP

[email protected]

Filho de agrônomo, José Henrique Fortes Pontes, mentor, diretor-presidente e um dos sócios da In Vitro Brasil (IVB), líder mundial na produção in

vitro de embriões, é um homem simples. Está quase sem-pre de camisa xadrez e calça jeans; é tranquilo ao falar e gesticular; se mostra à vontade no ambiente de traba-lho, uma saleta de paredes brancas, sem ar condicionado, com móveis e cadeiras comuns – nada de luxo, zero de ostentação. Mas seu semblante muda (pode-se perceber um brilho no olhar e um ar de satisfação, até de supe-rioridade) quando ele começa a relembrar a trajetória de sucesso da In Vitro, que começou a despertar a atenção de multinacionais do setor, interessadas em agregar valor a seu portfólio de produtos. “Fomos cobiçados por vá-rias centrais, mas acabamos aceitando a proposta da ABS Global”, conta Pontes, referindo-se à oferta milionária feita pela companhia do grupo norte-americano Genus, que, em fevereiro, comprou 51% da In Vitro Brasil, por R$ 20 milhões. O contrato ainda prevê a aquisição dos 49% restantes, no primeiro semestre de 2018.

O processo de compra foi dividido em duas partes para que a equipe comandada por Pontes comprove, nos próximos três anos, o potencial de crescimento da empre-

sa em sinergia com a ABS, que é líder mundial do mer-cado de genética de corte e leite e possui mais de 40.000 clientes em 70 países. “Com a clientela e os contatos da ABS Global, além de mais recursos para investimentos, abriremos laboratórios em todo o mundo”, prevê Pontes. Com o posto de diretor-presidente assegurado até pelo menos 2018, quando deverá ser concluída a venda inte-gral da In Vitro, ele recebeu o aval da ABS para prospec-tar novos mercados e fincar bandeira em países com po-tencial para adoção da tecnologia de embriões. “Nossos próximos alvos são China, Índia e o continente europeu”, diz o empresário, que também pretende fortalecer a atu-ação da In Vitro nos Estados Unidos, onde a empresa já conta com um laboratório próprio, em Huntley, Illinois.

Trajetória ímpar A In Vitro surgiu numa época em que a fertiliza-

ção de embriões era praticamente desconhecida dos pe-cuaristas brasileiros. Não mais do que duas empresas no mercado dominavam a tecnologia, com destaque para a Vitrogen, de Cravinhos, SP, existente até hoje. “A equipe de Pontes foi uma das primeiras a trabalharem com a FIV no Brasil e também a primeira a apostar em seu uso co-mercial, prevendo que essa nova técnica roubaria espaço da TE (transferência de embriões), método convencional hoje praticamente inexistente”, atesta o veterinário Pietro Baruselli, professor da Faculdade de Medicina Veteriná-ria e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ--USP) e ex-presidente (gestão 2012-2013) da Sociedade Brasileira de Tecnologia de Embriões (SBTE).

A In Vitro detém, atualmente, 45% do mercado mun-dial de FIV. Produziu 305.000 embriões em 2014 e pro-jeta atingir 350.000 neste ano. “Estamos muito à frente da segunda colocada, a empresa norte-americana Trans Ova Genetics, que produz cerca de 140.000 embriões por ano”, compara. Parte desse crescimento, diz o em-presário, é em razão da estratégia agressiva de expansão da empresa no País (está presente em todas as regiões brasileiras) e no exterior. A In Vitro contabiliza 30 labo-ratórios espalhados pelo mundo, entre próprios e afilia-dos (sistema de franquia). São tantos que Pontes até se atrapalha nas contas ao tentar lembrar os países de atua-ção no exterior. Cita à DBO o laboratório da Colômbia (primeiro fora do Brasil, aberto em 2008, em Bogotá); os da África do Sul, Moçambique, Rússia, Estados Uni-dos, Austrália, Panamá, Venezuela, República Domini-cana, Paraguai e, somente depois de algum tempo, se lembra das unidades na Argentina e Uruguai.

A trajetória da empresa impressiona, inclusive pela origem. Formado em veterinária pela Unesp (Universi-dade Estadual Paulista) de Jaboticabal, em 1992, e mes-tre em FIV e clonagem pela Universidade de Montre-al, Pontes decidiu fundar a In Vitro em 2002, quando ainda administrava a Fazenda São Francisco, em Mogi--Mirim, pertencente ao pecuarista Antônio Carlos Can-to Porto Filho (o Totó), que tinha um plantel de 800 va-cas holandesas e abastecia parte do mercado de Leite A da Região Sudeste. Totó encantou-se com a ideia do jo-

In Vitro em rota de expansãoEmpresa tem como alvos Ásia e Europa

Com a clientela e os contatos da ABS Global, abriremos laboratórios em todo o mundo.

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vem veterinário, decidiu investir no projeto e lhe propôs participação acionária. “Passei de funcionário a sócio de Totó”, lembra Pontes, que viveu por 20 anos na própria Fazenda São Francisco (sede da empresa), literalmen-te a poucos passos de seu local de trabalho. Somente há quatro anos ele se mudou, com a mulher e os dois filhos pequenos, para Engenheiro Coelho, cidadezinha situada a 20 km de Mogi-Mirim.

Após a venda de parte da In Vitro para a ABS Glo-bal, o executivo tem passado duas semanas seguidas por mês longe do Brasil e da família _ percorrendo al-guns dos 12 países onde a companhia tem laboratórios. “Pelo menos metade desse tempo fico em nossa unida-de nos Estados Unidos”, diz Pontes, que também é re-

cebido respeitosamente pelos novos colegas de trabalho na sede da ABS Global, em DeForest, Wisconsin. No Brasil, essa multinacional norte-americana é representa-da pela ABS Pecplan, em Uberaba, no Triângulo Minei-ro. Apesar da mudança do controle acionário da In Vitro, as duas empresas continuarão operando separadamente, sem que haja mudanças nos produtos e serviços ofere-cidos atualmente aos clientes de ambas as companhias.

Meritocracia e pioneirismoEmbora a ideia de abrir uma empresa de produção

de embriões in vitro no Brasil tenha sido de Pontes, ele faz questão de citar os nomes dos demais sócios-fun-dadores: além de Totó, João Paulo Canto Porto, Carlos Viacava (também pecuaristas) e o veterinário José Car-los Ereno Júnior. Os três últimos já não integram a so-ciedade, embora tenham sido importantes no processo de consolidação da empresa. Pontes destaca, contudo, a contribuição de Totó. “Ele trouxe para a In Vitro a fi-losofia de gerenciamento adotada no Banco Pactual (do qual também é sócio): o modelo de gestão baseado na meritocracia e no partnership, que adotamos até hoje”, diz o veterinário. Pelo sistema de meritocracia, baseado em metas, quem apresenta resultados acima dos previs-tos é recompensado. Já o modelo de partnership (con-cessão de sociedade aos funcionários que se destacam)

In Vitro projeta produzir no

mundo 350.000

embriões este ano

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fortalece a empresa ao manter talentos em casa (atual-mente a empresa tem 12 sócios). Além da valorização dos funcionários e da expansão territorial, Pontes atri-bui o crescimento da In Vitro na última década a investi-mentos pesados na área de pesquisa e desenvolvimento. “Desde 2002, aplicamos, anualmente, 25% do nosso lu-cro operacional nessa área”, afirma. Em função disso, a empresa evoluiu muito em termos tecnológicos. Quando a Produção In Vitro de Embriões (Pive) surgiu no Bra-sil, em 2000, apresentava resultados inconstantes e cus-tos proibitivos (não à toa, sua utilização esteve, por mui-to tempo, restrita ao segmento de gado de elite). Havia também grandes limitações logísticas: os meios de culti-vo de materiais genéticos eram preparados diariamente, antes da saída da equipe de campo para as fazendas, e o tempo máximo para se transportar ovócitos e embriões era de apenas oito horas. Hoje, graças aos investimen-tos em pesquisa, os meios de cultivo têm validade de 60 dias, podendo se estender para mais 30, se necessário.

Outro marco tecnológico da empresa de Mogi-Mi-rim foi o uso de sêmen sexado em projetos de Fertili-zação In Vitro em rebanhos leiteiros, a partir de 2004. “Esse foi um de nossos grandes diferenciais técnicos; nos garantiu um crescimento de 180%, de 2003 para 2004”, relembra Pontes. Em poucos anos, o uso de sê-men sexado associado à FIV avançou fortemente em re-banhos de leite no País, contribuindo para a mudança de

visão da companhia, que, em 2007-2008, passou a atuar em projetos comerciais em larga escala e deixou de fo-car exclusivamente no gado de elite. “A FIV com sêmen sexado eleva para 90% a porcentagem de fêmeas nasci-das nas fazendas leiteiras, além de contribuir para o nas-cimento de bezerras de alta qualidade genética, pois são oriundas de doadoras com grande desempenho em pro-gramas de melhoramento genético”, justifica.

Novas tecnologiasSegundo Pontes, a FIV em gado leiteiro correspon-

de, atualmente, a 75% da produção mundial de embri-ões da In Vitro. Na maioria desses projetos, utiliza-se a técnica de transferência de embriões em tempo fixo (TETF), que permite prenhezes em larga escala, reduz custos e melhora o resultado financeiro da companhia. Atualmente, a In Vitro trabalha somente em projetos que possibilitem aspiração de oócitos em no mínimo 50 va-cas por dia, com a transferência diária de 150 a 200 em-briões. O custo da prenhez de FIV, de acordo com Pon-tes, varia de R$ 300 a R$ 1.000, dependendo da escala de produção e do “pacote tecnológico” usado. “Caso o produtor receba material genético de animais de fora da fazenda que tenham alto valor genético, tanto do lado materno quanto paterno, este custo por prenhez, logica-mente, será maior”, explica.

Embora o setor leiteiro seja o carro-chefe dos labora-tórios de FIV, José Henrique Pontes vislumbra um forte crescimento da tecnologia na pecuária de corte em futu-ro próximo. O ponto de partida desse avanço foi o lan-çamento do Programa Marfrig +, que visa fomentar o uso de embriões sexados de machos, obtidos a partir de oócitos e sêmen de animais de alta qualidade genética, para produção de novilhos cruzados com potencial ele-vado para produção de carne. O programa pretende atin-gir 1 milhão de vacas com prenhez confirmada até 2017. Com base nesses dois pilares – expansão internacional e avanço em projetos de FIV em rebanhos leiteiros e de corte no Brasil – Pontes espera garantir sua permanên-cia na direção da In Vitro a partir de 2018, quando dei-xará de ser sócio da companhia, abrindo espaço para os novos controladores. “A ideia é permanecer na empresa; estou trabalhando duro para isso.” n

Pesquisa e desenvolvimento:

In Vitro aplica todo ano 25%

do seu lucro no setor

nnnO uso de sêmen sexado garantiu

180%de expansão de 2003 para 2004nnn

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A maioridade da FIVProjetos em larga escala e ganho de eficiência viabilizam utilização da técnica em rebanhos comerciais

DEnIs [email protected]

E squeça os projetos com Fertilização In Vi-tro (FIV) do passado, quando técnicos se deslocavam até as fazendas para realizar

um “trabalho de formiga” em rebanhos de gado de elite, aspirando oócitos (células sexuais extraídas do ovário) de apenas meia dúzia de vacas doado-ras, o que resultava na transferência de não mais que 50 embriões por dia, tendo como produto final animais exclusivamente de pista. Hoje, a técnica

Fazenda Novo Horizonte, de Coxim (MS), registra o nascimento, em agosto, dos primeiros lotes de bezerros de FIV do projeto Marfrig +

é sustentada por programas capazes de envolver, numa única propriedade, rebanhos acima de 1.000 receptoras e transferências diárias por veterinário de 200-250 embriões produzidos a partir da utili-zação de oócitos aspirados de mais de uma centena de matrizes de elevado mérito genético. Isso é pos-sível graças ao uso intensivo da técnica de Trans-ferência de Embriões em Tempo Fixo (TETF). Aliado ao conceito de utilização em massa da FIV, a própria tenologia registrou, nos últimos anos, grande salto de eficiência, tanto da porteira para dentro, com melhorias nas taxas de concepção e

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Matrizes do plantel da Agropecuária Jacarezinho, fornecedora de oócitos para o programa Marfrig +

Bruno Grubisich, proprietário da Seleon Bio-tecnologia, de Itatinga, SP, prestadora de servi-ço de coleta e processamento de sêmen, é um dos entusiastas do uso da FIV como instrumento para a produção em série de bezerros de corte. “Essa difusão da técnica em escala traz ao mercado um produto superior e padronizado, atendendo de forma mais precisa a indústria frigorífi-ca, que consegue maior previsibilidade no fornecimento de cortes de alta qualidade para as suas diferentes marcas de carne”, afirma o dono da Seleon que, no fim deste ano, inaugura um moderno laboratório de FIV com capacidade instalada para produ-zir 10.000 embriões por mês. “Trabalharemos com 12 estufas, o que colocará a Seleon entre as maiores centrais de FIV do mundo”.

Para reforçar o projeto, Grubisich comprou uma fazenda em Figueirão (MS) e investiu na aquisição de 2.500 receptoras aneloradas, que re-ceberão embriões dos mais variados cruzamentos industriais, buscando atender a nichos específi-cos do mercado de carne. “Esse projeto funciona-rá como vitrine para os nossos futuros clientes de FIV”, explica. Na sua avaliação, a técnica é a úni-ca ferramenta reprodutiva que permite trabalhar conjuntamente com diferentes raças. “Para aten-

José Bento: “FIV tornou-se acessível aos pecuaristas de corte”

redução de perdas embrionárias, gestacionais ou após (e durante) o nascimento, quanto nas áreas que envolvem a produção de embriões (maturação, fecundação e cultivo in vitro), a sua criopreserva-ção (congelamento) e o seu transporte (logística e equipamentos) até o campo.

O binômio escala/eficiência permitiu conside-ravel redução nos custos da prenhez, abrindo ca-minho para a disseminação da tecnologia no País. “Não tenho dúvidas de que a FIV tornou-se viável e acessível também a pecuaristas de gado de cor-te comercial”, diz o geneticista José Bento Ster-man Ferraz, professor da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da Universida-de de São Paulo (USP). Segundo ele, o custo por prenhez, com sêmen sexado de machos (êxito em 90% dos nascimentos) gira em torno R$ 200-R$ 250, dependendo da dimensão do projeto. “Há dez anos, não saía por menos de R$ 500”, lembra o mé-dico veterinário Rodrigo Mendes Untura, sócio da In Vitro Brasil, de Mogi Mirim, SP, líder mundial na produção de embriões in vitro.

ParceriasNo entanto, o professor José Bento pondera

que, para garantir a viabilidade econômica da FIV em rebanhos de corte, é fundamental que haja sin-tonia entre as fazendas envolvidas nos projetos e os programas de melhoramento genético, tendo, de preferência, a conivência dos laboratórios deten-tores da tecnologia, as indústrias frigoríficas e os consumidores finais de carne. “Se usarmos repro-dutores e/ou matrizes erradas, causaremos enorme prejuízo aos criadores e ao mercado, ‘queiman-do’ novamente a técnica do cruzamento industrial, como já ocorreu no passado”, alerta o geneticista.

Nesse sentido, o programa Marfrig +, lançado na última estação de monta pela Marfrig Foods, parece seguir à risca os conselhos do professor da USP. O frigorífico decidiu apostar pesado na tec-nologia ao colocar em pé um ousado projeto que busca integrar fazendas de corte comprometidas em produzir, por meio da TETF, animais machos 1/2 sangue (cruza Angus-Nelore) superprecoces, abatidos aos 15-16 meses e com 20@. O progra-ma, que prevê a transferência de 60 mil embriões nesta próxima estação de monta, conta com a par-ceria da In Vitro e de três grandes selecionadores de Nelore (Jacarezinho, CFM e Tulipa), responsá-veis pelo fornecimento de oócitos de suas melho-res doadoras Nelore. “O mercado de carne de qua-lidade cresce de maneira exponencial e temos que estar cada vez mais preparados para atender pron-tamente essa demanda”, justifica à DBO o gestor do Programa Marfrig+, David Makin. (veja mais informações na pág. 62).

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Bruno Grubisich, da Seleon, abre laboratório de FIV e aposta pesado no uso da ferramenta em rebanhos comerciais

Ganhos de eficiência alavancam tecnologia

Empresa WTA oferece “laboratórios satélites”, pacote tecnológico que permite trabalhar com equipamentos de FIV (como incubadoras portáteis e microscópios) na própria fazenda ou em locais próximos do campo.

der uma encomenda específica de um frigorífico, pode-se, por exemplo, eleger as melhores carcaças de cruzamento de fêmeas Angus/Nelore, coletar os seus oócitos e promover a fertilização no laborató-rio com sêmen sexado de macho Wagyu”, diz.

Em projetos de FIV de grande escala, tam-bém pode-se utilizar ovários de vacas comuns e recolhidos em abatedouros e levados aos labora-tórios. Nos cálculos de Rodrigo Untura, da In Vi-tro, o custo da prenhez, neste caso, cai para a faixa de “R$ 130 a R$ 150”, lembrando, entretanto, que a empresa, por enquanto, não pensa neste atalho. A Seleon, assim como outros laboratórios de FIV, está de olho justamente nessa brecha de mercado.

Independentemente da direção dada aos embriões de FIV, a médica veterinária Andrea Cristina Basso, da

In Vitro Brasil, destaca as conquistas de eficiência no emprego da técnica registradas na última dé-cada, sobretudo no que se refere aos meios de cultura de oócitos e embriões, que simulam o ambiente intra-uterino. “Avanços científicos

possibilitaram a produção de embriões mais si-milares àqueles gerados in vivo (sistema de fe-

cundação no ventre das doadoras, praticamente em desuso no Brasil), o que resultou não só na redução de perdas embrionárias e de gestação, mas, principalmen-te, no aumento das taxas de concepção da FIV”, atesta.

Segundo Andrea, hoje os resultados de prenhez em FIV, que antigamente giravam em torno de 30%, atingem médias anuais de 45% (transferências a fresco). “Foi essa a média de prenhez registrada pe-los trabalhos da In Vitro na última estação de monta (2014-2015), quando produzimos 305 mil embriões”,

informa. Em projetos de embriões congelados (vitrifi-cados), as taxas de gestação oscilam entre 35% e 40%.

A quase inexistência atualmente de problemas li-gados ao “gigantismo” (peso excessivo de bezerros ao nascimento) foi outra grande conquista da tecnologia, segundo a sócia da In Vitro. No início da aplicação comercial da técnica, era relativamente comum o nas-cimento de bezerros muito acima do peso, o que oca-sionava problemas no parto. “Hoje, o registro de ‘gi-gantismo’ é raro na FIV”, garante Andrea.

Os sistemas de criopreservação dos embriões de FIV também passaram por profundas mudanças, com o emprego da vitrificação (modelo de congelamento ultra-rápido em nitrogênio líquido), que permitiu a formação de bancos genéticos na própria fazenda e, assim, reduzir custos, além de possibilitar a venda de excedentes a terceiros. Porém, um novo sistema de conservação de embriões surge no mercado, o IVB-Transfer, lançado recentemente pela In Vitro. Essa é uma das principais novidades da FIV ao lado do siste-ma de biópsia de células para análise genômica do em-brião (veja mais informações na pág. 67 ).

É preciso destacar ainda as evoluções nos sistemas de transporte e armazenamento. “Hoje há maior flexi-bilidade na logística. É possível coletar e enviar oó-

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Andrea Basso: “Avanços científicos elevam taxa de prenhez em FIV de 30% para 45%”

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Especial Genética

62 DBO setembro 2015

TETF impulsiona programas de carne

Projeto de tetF mostra resultados satisFatórios com uso da FiV*

ProPriedades integradas ao Protocolo de tetF

embriões transFeri-dos

taxa de concePção**

Nelore JaNdaia (MT) 393 44%

Grupo oB (MT) 620 48%

FazeNda São Geraldo (To) 298 41%

pecuária MarTeNdal (ro) 200 38%

FazeNda Terra Boa 180 47,5%

FazeNda palMeiraS (rJ) 190 35%

FazeNda arapuTaNGa (MT) 330 42%

*Realizado na estação de monta 2014-2015 pela FeRtiliza, de Cuiabá, mt, em paRCeRia Com a bioembRyo, de bauRu, sp, e equipe de veteRináRios da univeRsidade de são paulo - usp **diagnóstiCo aos 60 dias de gestação. Fonte: FeRtiliza

citos até o laboratório em 24 h. No passado, o pra-zo era de 8 h”, compara Andrea. Segundo Yeda

Watanabe, da Vitrogen, de Cravinhos, SP, hoje, pode-se iniciar a maturação a partir da cole-ta de oócitos a campo, reduzindo o tempo de corrida ao laboratório. “Os novos equipamen-tos permitiram essa agilidade”, afirma ela, ci-

tando a incubadora portátil Labmix, o aparelho utilizado para o transporte de oócitos. O equipa-

mento foi desenvolvido pela WTA – Watanabe Tec-nologia Aplicada, que também produz outros apare-lhos para a FIV.

Outra inovação que facilitou o avanço da técnica fo-ram os “laboratórios satélites”, um pacote tecnológico oferecido também pela WTA, que inclui incubadoras, ultrassom, transportadoras (de oócitos e embriões), agu-lhas para aspiração folicular e bainhas de transferência de embriões. “Este laboratório pode ser instalado na pró-pria fazenda ou em locais urbanos próximos aos reba-nhos”, diz Yeda, acrescentando que apenas duas salas pe-quenas são suficientes para montar o empreendimento.

O laboratório satélite da WTA tem atraído o interes-se de técnicos que já têm familiaridade com a utiliza-

ção de ferramentas reprodutivas em fazendas de corte e leite,com o médico veterinário Fernando de Moraes, da FBJ Biotecnologia, de Tucumã, PA. “Com esse in-vestimento, conseguimos viabilizar o uso da FIV para muitos criadores do Pará, Estado que fica muito distante dos laboratórios tradicionais”, justifica Moraes.

Com a redução de custos e as melhorias dos resul-tados, a FIV avançou a passos largos no Brasil, saindo do patamar de 50.000 embriões, em 2005, para 366.517, em 2013, segundo os últimos dados da Sociedade In-ternacional de Transferências de Embriões (IETS). “Isso significou um crescimento de 663% em uma década”, compara o professor Pietro Sampaio Baruselli, da Uni-versidade de São Paulo (USP) e ex-presidente da Socie-dade Brasileira de Transferência de Embriões (SBTE).

Em termos mundiais, o Brasil reina sozinho, res-pondendo por 80% produção global (de 450.000 em-briões, segundo dados da IETS de 2013). “Somos hoje referência em Fertilização in Vitro”, diz Baru-selli. O resto do mundo ainda produz embriões pelo sistema in vivo, mas há países que começam a seguir o caminho do Brasil, como é o caso dos Estados Uni-dos, informa o professor.

O uso do sêmen sexado continua proibitivo em proto-colos de IATF, por sofrer alguns danos durante o proces-so de sexagem, tornando os resultados a campo bastan-te inconsistentes, com taxas médias de prenhez em torno de 20%, segundo informa o médico veterinário Claudi-ney Martins, da Fertiliza, de Cuiabá, MT. “Existem touros com potencial para apresentar melhores resultados, mas é difícil acertarmos quais são eles; não vale a pena o risco”,

diz Martins, que na última estação de monta realizou em torno de 6.000 IATFs e 4.000 TETFs. Isso ex-

plica, em parte, a razão da existência do programa de carne de qualidade Marfrig+, lançando no ano passado, em parceria com a In Vitro e participação de grandes fazendas comerciais de corte.

“Com FIV, o sêmen sexado funciona mui-to bem”, garante David Makin, coordenador do

Marfrig+, acrescentando que, das 14.907 transfe-rências de embriões F1 (Angus-Nelore) realizadas em 2014-2015, se conseguiu taxa de prenhez de 36% (diagnóstico realizado aos 90 dias). O executivo diz que algumas fazendas tiveram resultados excelentes, como uma das propriedades do Grupo Bom Futuro, de MT, que registrou taxa média de quase 49%.

Na Fazenda Novo Horizonte, propriedade que fica no município de Coxim (MS) e que pertence a Marcos Moli-

na, fundador e principal sócio da Marfrig, foram transferi-das (a fresco) 10.300 embriões na última estação de mon-ta, com taxa de concepção de 35,5%. “Já nasceram uns 400 bezerros de FIV”, conta o médico veterinário respon-sável pela fazenda, Miguel Feres da Silva, que conside-rou o resultado “satisfatório”. “Como não tínhamos expe-riência, houve dificuldade no manejo das receptoras, mas o projeto vale muito a pena, pela ótima qualidade genéti-ca dos bezerros e a grande quantidade de machos nasci-dos (percentual de 92%)”, afirma Silva. Segundo Douglas Gaitoski, da In Vitro, além da inexperiência, outro proble-ma foi manejar as receptoras em áreas de alagamento e que gerou estresse.

Claudiney Martins: “Eficiência com o uso do sêmen sexado alavanca o emprego da TETF nas fazendas”

Yeda Watanabe, da Vitrogen: “Novos equipamentos para o transporte de oócitos reduzem o tempo de corrida até o laboratório”

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Especial Genética

64 DBO setembro 2015

Fazenda do Grupo OB, de Ovídio Carlos de Brito, teve o melhor desempenho em TETF

Ian Hill, da Jacarezinho: 400 matrizes selecionadas para o Marfrig +

Na FIV, o emprego do sêmen sexado é viável por-que a fertilização é realizada em laboratório e o em-brião é transferido quando já está consolidado. Po-rém, tão importante quanto a eficiência do uso do sêmen sexado, é a garantia de nascimento de pelo menos 90% de animais machos, condição ideal para projetos que têm como objetivo exclusivo a

produção de carne. “Em relação à engorda de fêmeas, os machos representam em torno de 2@ a mais na ter-

minação final”, compara Claudiney Martins, da Fertiliza.

Lado maternoOutro grande diferencial dos programas de FIV

para a produção de carne é a possibilidade de se traba-lhar com o que há de melhor em genética materna. No caso do Marfrig +, o frigorífico fechou parceira com três renomados criatórios de Nelore – a Agropecuária Jacarezinho, a Agro-Pecuária CFM e a Tulipa Agrope-cuária. “No ano passado, fornecemos ao projeto oócitos das 400 melhores matrizes de nosso rebanho”, diz Ian Hill, presidente da Jacarezinho.

Segundo Rodrigo Brüner, dono da Tulipa Agropecu-ária, de Campinorte, GO, que possui plantel de 5.200 va-

cas no programa Delta Gen, os critérios de escolha de suas doadoras para o Marfrig + levaram em conta características de conformação frigorífica e preco-cidade de terminação. “São duas exigências fun-damentais para a produção de animais mais pesa-dos e precoces”, diz. Os oócitos das matrizes da

Tulipa foram direcionados exclusivamente para o Grupo Bom Futuro.Dayla Mayra Scheffer, zootecnista da empresa

agropecuária, informa que o Grupo Bom Futuro utilizou, pela primeira vez, a TETF em três fazendas comerciais diferentes, todas no Mato Grosso. O melhor resultado foi observado na Fazenda Serra Azul (Rosário do Oeste), que teve taxa de prenhez de 48,7% (372 gestações, após a transferência em 764 vacas). Nas outras duas fazendas, a Três Irmãos (Cuiabá), e a São João (Matupá), as taxas ficaram em 47,6% e 40,2%, respectivamente. “Na Serra Azul, usamos, como receptoras, apenas vacas, enquanto nas outras tivemos mais novilhas”, justifica.

Bonificação Na avaliação de David Makin, os ganhos de quali-

dade genética, além da prevalência quase que total de produtos machos, mais que compensam os custos ge-rados pelo Mafrig +, cujo valor de prenhez de FIV gi-rou em torno de R$ 200-250. No entanto, exatamente pelo fato de produzir animais diferenciados, altamente padronizados, precoces, bem acabados e com carcaças pesadas, os participantes vislumbram receber um valor adicional pelos lotes produzidos nesse sistema. “É um projeto maravilhoso, mas aguardamos a definição sobre a bonificação para continuar transferindo embriões”, afirma o pecuarista Wilson Brochmann, da Agropecuá-ria Maragogipe. Assim com a maioria dos participantes do projeto do Marfrig +, Brochmann já produz animais cruzados de qualidade, graças ao trabalho de melhora-mento genético do rebanho e ao emprego em grande es-cala da IATF, que permite usar sêmen de touros supe-riores. “Atualmente, recebemos prêmios pela entrega de animais para Lista Traces e a Cota Hilton”, diz o criador, acrescentando que o projeto Marfrig + é “mais uma ou-tra maneira” de agregar valor à sua produção comercial.

Com fazenda em Itaquiraí, MS, onde mantém 22.000 matrizes em reprodução e um confinamen-to para 30.000 animais meio sangue Angus/Nelore, a Agropecuária Maragogipe utilizou como doadoras 60 matrizes do próprio plantel, todas classificadas como

Dayla Scheffer, da Bom Futuro: taxa de prenhez na FIV de 49%

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Page 9: Crescimento IVB é destaque na Revista DBO

66 DBO setembro 2015

As várias facetas da tecnologia

top 0,1% no programa Delta Gen. “Nesse primeiro ano, fizemos apenas 240 transferências (a fres-co) e conseguimos 48% de prenhez”, diz Bro-chmann. A Maragogipe já possui em estoque 1.530 embriões que não foram transferidos por falta de tempo para aplicação do protocolo.

“Estamos prontos para começar imediatamente a transferência, mas vai depender da premiação

por parte do frigorífico”, afirma Brochmann, com-pletando que espera receber “em torno de R$ 10/@”.

outros projetosNa última estação de monta, um único projeto, con-

duzido por Claudiney Martins, da Fertiliza, realizou cer-ca de 4.000 TETFs em parceria com sete diferentes

selecionadores, entre eles William Koury (Nelore Jandaia, Gaúcha do Norte, MT), e Ovídio Carlos de Brito (Grupo OB, Pontes e Larcerda, MT). Segundo Martins, os resultados gerais do pro-grama, cujos bezerros de FIV começaram a nas-

cer em agosto, foram bastante satisfatórios, com taxa média de 42% (diagnóstico aos 60 dias). A

fazenda do Grupo OB teve o melhor desempenho, com taxa de sucesso de 48% em 620 embriões transferi-dos (veja tabela na pág. 62). Todos os produtos nascidos de FIV, machos e fêmeas, serão avaliados pelo programa Nelore Brasil, da ANCP, e poderão receber o CEIP (Cer-tificado Especial de Identificação a Produção), informa

o veterinário. “Uma das metas do projeto foi avaliar o uso da TETF como estratégia reprodutiva, visando a ma-nutenção da eficiência, o que é uma prerrogativa para a viabilidade da atividade pecuária, independentemente do objetivo final (produção de bezerros para recria e engor-da ou para produção genética)”, avalia.

Segundo Martins, o custo de prenhez de TETF no projeto ficou em torno de R$ 165. O fato de as proprie-dades utilizarem as matrizes do próprio rebanho como doadoras reduziu o custo. Quanto às perdas gestacio-nais, o sócio da Fertiliza diz que, embora ainda não te-nha dados conclusivos, a taxa de nascimento nas sete fazendas, até fim de agosto, era superior a 88% em rela-ção às prenhezes diagnosticadas aos 60 dias.

O projeto de Martins também teve como intuito avaliar a eficiência reprodutiva da TETF em protocolos associados à IATF. “Como a IATF já esta estabelecida, com bons índices de gestação, a TETF pode contribuir ainda mais na questão do melhoramento genético e da padronização na produção dos bezerros”.

No projeto foram observadas taxas de prenhez na TETF de 38%, em média, ante 54% na IATF. Em rela-ção ao custo médio da prenhez, foi registrado R$ 90 para a IATF, ante R$165 para a TETF. “Essa menor eficiência da FIV e custos mais altos são compensados pelo incremen-to do melhoramento genético e pelo uso de sêmen sexa-do, duas portas de entrada para programas de qualidade da carne, como o Marfrig +”, enfatiza o veterinário.

Embora o emprego da FIV em grandes projetos de cruzamento industrial seja a “bola da vez”, a ferramenta continua tendo papel importante no processo de multipli-cação de animais geneticamente superiores, tanto touros quanto vacas. “Existem muitos produtores utilizando a FIV para formar, do zero, um rápido e consistente plantel de matrizes de alto valor genético”, afirma o professor e

médico veterinário Pietro Baruselli, da USP. É o caso do pecuarista Carlos Viacava, selecionador de Nelore, dono da grife CV. Há cinco anos, ele faz a coleta de embriões das melhores fêmeas da fazenda (avaliadas como top até 5% no Programa de Melhoramento Genético da Raça Ne-lore – PMGRN, da ANCP) e usa como receptoras as va-cas com piores desempenhos da propriedade.

“Desde 2010, já contabilizamos mais de 3.800 pre-nhezes de FIV”, conta Ricardo, filho de Carlos Viacava. Os embriões produzidos pela CV são oriundos de ma-trizes jovens, com idades variando entre 10 e 18 meses. “Há no rebanho animais de 24 meses filhos de uma doa-dora com 44 meses e que produziu embriões aos 10 me-ses”, afirma ele.

No momento, a CV realiza um trabalho pioneiro de pesquisa com a própria equipe de Baruselli que tem fei-to aspirações em bezerras de corte Nelore de apenas 60 dias. “Quando essas bezerras atingirem a puberdade, já terão filhos nascidos”, diz Carlos Viacava. Segundo Ba-ruselli, parte dos embriões dessas bezerras de dois meses de idade já foi transferida e com sucesso. “Estamos, no momento (meados de agosto) com 50 prenhezes confir-madas”, informa.

Além de servir como ferramenta reprodutiva, a FIV garante uma fonte de renda adicional para Viacava. Em parceria com a In Vitro, a empresa vende a terceiros

Brasil domina mercado mundial de FiV*País responde por 80% da produção global de embriões in vitro

Fonte: iets. dados de 2013

Rodrigo Untura, da In Vitro: “Custos da FIV caem para R$250”

Wilson Brochmann, da Maragogipe: “Espero receber R$10@ de prêmio”

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Plantel de matrizes da Agropecuária Tulipa: uso da FIV para produzir touros CEIP

Pietro Baruselli: “tecnologia revolucionária”

Inovações na técnica de TETFDuas grandes novidades pro-

metem “chacoalhar” o mercado de FIV. A primeira é a técnica de “con-gelamento lento” de embriões para a transferência direta e que funciona de maneira similar ao sêmen. Ba-tizada de IVBTransfer, foi lançada recentemente pela In Vitro. A outra inovação é a venda de pacotes de embriões com DEPs genômicas, um projeto da Agropecuária Jacarezi-nho, de Valparaíso, SP.

Na avaliação de Pietro Baru-selli, da USP, o sistema de transfe-rência direta representa um divisor de águas no segmento de FIV, com potencial para superar a técnica de vitrificação, lançada em 2009 tam-bém pela In Vitro. “Pela praticidade, é uma tecnologia revolucionária que será empregada com sucesso em todo mundo”, prevê.

Segundo a médica veterinária Andrea Basso, da In Vitro, o IVB-Transfer permite ao produtor estocar

embriões congelados em botijões de nitrogênio na fazenda e transferi--los para a vacada quando quiser. No caso da vitrificação, há um incon-veniente: é necessário lavar os em-briões em diferentes soluções, para retirar os crioprotetores e, posterior-mente, envasá-los novamente para transferência. “Isso torna o trabalho mais demorado e requer a presença de um técnico treinado”, diz ela.

No caso de transferência direta, qualquer veterinário pode fazê-la. Andrea diz que a nova ferramenta já é usada com sucesso por produto-res de leite de Alagoas, reunidos em cooperativas, onde a In Vitro man-tém parceria com o Sebrae.

Em experimentos feitos pela In Vitro, a taxa de prenhez com o uso em baixa escala do produto de transferência direta alcançou 40%, acima do resultado obtido com em-briões vitrificados (35%) e abaixo da transferência a fresco (51,5%).

Sem revelar a data do lança-mento, a Agropecuária Jacarezinho prepara o lançamento primeiros embriões com DEP genômica, um projeto desenvolvido com a In Vitro e a Deoxi Biotecnologia, de Araça-tuba, SP. “Foram feitas biópsias de células embrionárias para análises genômicas dos embriões de nos-sas matrizes, o que possibilita-rá conhecer rapidamente o valor genético do produto”, afirma o presidente da Ja-carezinho, Ian Hill.

No processo normal de genotipagem, o criador tem que transferir todos os embriões nas receptoras e somente quando o bezerro nasce se faz a DEP genô-mica. No caso do da Jacarezinho, o criador transfere somente os em-briões do seu interesse. “Isso, além de economizar no trabalho de trans-ferência, possibilita saber quais as características dos futuros produtos cerca de dois anos antes”, afirma Andrea, da In Vitro.

embriões sexados de machos e de fêmeas, com genéti-ca (paterna e materna) da marca CV. “Só para a próxi-ma estação de monta, já negociamos 4.000 embriões”, afirma Ricardo.

Baruselli diz que a FIV tem sido um eficaz instrumen-to para resolver o problema de déficit na reposição de ma-trizes Nelore em fazendas de corte que fazem cruzamento industrial. Neste caso, a solução é investir na FIV de em-briões sexados de fêmeas Nelore, concebidos a partir do

acasalamento entre matrizes e touros líderes em ca-racterísticas de fertilidade e de habilidade materna. “As próprias novilhas F1 da fazenda se tornam receptoras desses embriões”, sugere Baruselli.

A FIV também é o caminho mais rápido e eficiente para produzir touros candidatos ao re-cebimento de CEIP. É o que faz a Agropecuária Tulipa, de Campinorte, GO. A empresa utiliza a FIV para multiplicação do rebanho há quatro anos. “Da safra de touros, os melhores (até 30% do total) são contemplados com o Ceip, e o restante vai tudo para o abate”, afirma à DBO o proprietário, Rodrigo Brüner, acrescentando que sua fazenda mantém uma estrutura de confinamento para 2.200 cabeças.

Brüner diz que a técnica permite elevar significativa-mente o percentual de touros com selo CEIP, devido ao uso de genética materna e paterna de qualidade superior. “Ainda é cedo para quantificar esse aumento, pois só co-meçamos a utilizar a FIV há três anos, mas com certeza, a cada ano, teremos evolução na produção de tourinhos CEIP”, enfatiza

Em relação às matrizes, o modelo é similar ao adota-do pela família Viacava: os embriões das melhores ma-trizes do rebanho avaliado no Delta Gen são transferidos para as fêmeas mais fracas da fazenda. “Possuímos um excelente plantel de doadoras”, enfatiza Brüner.

Ricardo Viacava: “Desde 2010, já contabilizamos 3.800 prenhezes de FIV”

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