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1 TRATAMENTO DE EFLUENTES DE INDÚSTRIA DE TINTAS AUTOMOTIVAS, REPINTURA E INDUSTRIAL POR RADIAÇÃO IONIZANTE Fernando Codelo Nascimento 1,2 e Celina Lopes Duarte 1 (1)Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares IPEN/CNEN-SP e (2) Faculdade SENAI de Tecnologia Ambiental de São Bernardo do Campo INTRODUÇÃO O Brasil é um dos cinco maiores mercados mundiais de tinta de acordo com a Associação Brasileira de Fabricantes de Tintas, ABRAFATI. O segmento encontra-se dividido em: construção civil, repintura, solventes, complementos e industrial. Este último divide-se em automotivo, tratores, eletrodoméstico, construção naval, gráfico e outros. Somente o setor de tintas para indústria geral consumiu, no ano de 2010, 174 milhões de litros, destes, 51 milhões de litros foram consumidos pelas montadoras, outros 51 milhões de litros pela repintura, totalizando um volume global de 1495 milhões de litros de tinta. De 2005 a 2011 observa-se que houve um aumento de consumo da ordem 24,82 % de tintas para indústria geral, 4,08% de tinta automotiva, 27,5% no em repintura e 45,71% no segmento como um todo (ABRAFATI,2013; SITIVESP, 2013). A fabricação de tintas envolve operações unitárias e processos químicos que geram diversos tipos de resíduos e efluentes líquidos, originados nos processos de fabricação de resinas, tintas à base d’água, tintas de eletroforese, tintas a base de solvente(Dursun,2006; Metcalf & Eddy, 2001, e Nascimento, 2004, Nascimento e Duarte 2011e 2012). A crescente preocupação ambiental, na busca pela sustentabilidade, tem exigido das indústrias a busca por tecnologias limpas, através da melhoria de seus processos produtivos minimizando os impactos ambientais, com produtos mais sustentáveis. Esta nova postura das organizações industriais tem gerado melhoria contínua no planejamento de seus processos produtivos em relação ao meio ambiente (NBR ISO 14001:2004). A eliminação e/ou redução de efluentes e resíduos industriais tem sido considerado um ponto relevante dentro do processo produtivo de tinta (Duarte, 1999, Duarte et al, 2002, Han,2011). Técnicas modernas como: separação por troca iônica, eletrodiálise, ultrafiltração, osmose reversa têm sido aplicadas para tratamento de efluentes industriais. Outras como o Processo de Oxidação Avançada, POA, utilizando aceleradores de feixe de elétrons, que será apresentado no presente projeto (Almeida, 2004; Almeida et al, 2005; APHA, 1997 e Cooper et.all, 1992) representa inovação tecnológica. A radiação com feixe de elétrons tem-se mostrado eficiente na degradação dos compostos orgânicos presentes em efluentes industriais como o benzeno, o tolueno, o xileno e o fenol, bem como em compostos clorados (dicloroetano e, clorofórmio) e oxigenados, como a metilisobutilcetona. Estudos têm demonstrado que a aplicação de técnicas de radiação ionizante para efluentes da produção de petróleo, e, em especial, contaminados com - benzeno, tolueno, Etilbenzeno e xileno, BTEX ( Duarte, 1999, Duarte et al, 2002, IPEN, 2009 e Metcalf & Eddy, 2001) apresenta eficiência elevada. 1.1.Objetivo O objetivo do presente trabalho foi avaliar a utilização da radiação de feixe de elétrons para o tratamento e a reutilização do efluente líquido gerado no processo de fabricação de tintas automotivas, repintura e industrial.

TRATAMENTO DE EFLUENTES DE INDÚSTRIA DE TINTAS ... · Determinação da Demanda Bioquímica de Oxigênio, DBO A medida da DBO foi estabelecida somente na fase 3, para que pudesse

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TRATAMENTO DE EFLUENTES DE INDÚSTRIA DE TINTAS AUTOMOTIVAS, REPINTURA E INDUSTRIAL POR RADIAÇÃO IONIZANTE

Fernando Codelo Nascimento1,2

e Celina Lopes Duarte1

(1)Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares IPEN/CNEN-SP e (2) Faculdade SENAI de Tecnologia Ambiental de São Bernardo do Campo

INTRODUÇÃO

O Brasil é um dos cinco maiores mercados mundiais de tinta de acordo com a Associação Brasileira de Fabricantes de Tintas, ABRAFATI. O segmento encontra-se dividido em: construção civil, repintura, solventes, complementos e industrial. Este último divide-se em automotivo, tratores, eletrodoméstico, construção naval, gráfico e outros. Somente o setor de tintas para indústria geral consumiu, no ano de 2010, 174 milhões de litros, destes, 51 milhões de litros foram consumidos pelas montadoras, outros 51 milhões de litros pela repintura, totalizando um volume global de 1495 milhões de litros de tinta. De 2005 a 2011 observa-se que houve um aumento de consumo da ordem 24,82 % de tintas para indústria geral, 4,08% de tinta automotiva, 27,5% no em repintura e 45,71% no segmento como um todo (ABRAFATI,2013; SITIVESP, 2013). A fabricação de tintas envolve operações unitárias e processos químicos que geram diversos tipos de resíduos e efluentes líquidos, originados nos processos de fabricação de resinas, tintas à base d’água, tintas de eletroforese, tintas a base de solvente(Dursun,2006; Metcalf & Eddy, 2001, e Nascimento, 2004, Nascimento e Duarte 2011e 2012). A crescente preocupação ambiental, na busca pela sustentabilidade, tem exigido das indústrias a busca por tecnologias limpas, através da melhoria de seus processos produtivos minimizando os impactos ambientais, com produtos mais sustentáveis. Esta nova postura das organizações industriais tem gerado melhoria contínua no planejamento de seus processos produtivos em relação ao meio ambiente (NBR ISO 14001:2004). A eliminação e/ou redução de efluentes e resíduos industriais tem sido considerado um ponto relevante dentro do processo produtivo de tinta (Duarte, 1999, Duarte et al, 2002, Han,2011). Técnicas modernas como: separação por troca iônica, eletrodiálise, ultrafiltração, osmose reversa têm sido aplicadas para tratamento de efluentes industriais. Outras como o Processo de Oxidação Avançada, POA, utilizando aceleradores de feixe de elétrons, que será apresentado no presente projeto (Almeida, 2004; Almeida et al, 2005; APHA, 1997 e Cooper et.all, 1992) representa inovação tecnológica. A radiação com feixe de elétrons tem-se mostrado eficiente na degradação dos compostos orgânicos presentes em efluentes industriais como o benzeno, o tolueno, o xileno e o fenol, bem como em compostos clorados (dicloroetano e, clorofórmio) e oxigenados, como a metilisobutilcetona. Estudos têm demonstrado que a aplicação de técnicas de radiação ionizante para efluentes da produção de petróleo, e, em especial, contaminados com - benzeno, tolueno, Etilbenzeno e xileno, BTEX ( Duarte, 1999, Duarte et al, 2002, IPEN, 2009 e Metcalf & Eddy, 2001) apresenta eficiência elevada. 1.1.Objetivo O objetivo do presente trabalho foi avaliar a utilização da radiação de feixe de elétrons para o tratamento e a reutilização do efluente líquido gerado no processo de fabricação de tintas automotivas, repintura e industrial.

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1.2.Originalidade e inovação

Não foi encontrado na literatura consultada casos de tratamento de resíduo e efluente de indústria de tinta e de resina do segmento indústria geral e automotivo através da utilização da técnica de radiação ionizante. Entretanto, há registros de algumas aplicações inovadoras desta tecnologia em outros tipos de efluentes e resíduos, como por exemplo, em água do mar (Nickelsen e Cooper, 1992; Oliveira, 2000), óleo lubrificante (Scapin et al, 2009) , tratamento de água ( Sperling, 1997; Duarte, 1999 e Han, 2011), , tratamento de efluentes industriais contendo compostos orgânicos tóxicos (Duarte, 1999) e de tintas gráficas e de tinturaria (Han, 2011; Selambakkannu et al, 2011). Às fabricas de resinas, tintas e vernizes geram, como subproduto de seus processos, resíduos e efluentes que necessitam ser tratados (Fazenda, 2009), e a utilização da tecnologia de radiação ionizante para o tratamento desses efluentes principalmente pode ser um marco para o segmento. A possibilidade da aplicação dessa técnica tem as seguintes vantagens: a minimização dos possíveis impactos ambientais; a minimização de possíveis danos ao ser humano; a possibilidade de redução de custo; o provável reaproveitamento da água do tratamento, como água de reuso, para lavagem de piso e rega de jardins; além da possibilidade de economia de consumo de água industrial. Todas as oportunidades apresentadas podem significar um diferencial tecnológico, ambiental, econômico, social e competitivo para as organizações. 2.PARTE EXPERIMENTAL O objeto do presente estudo foi o efluente gerado no processo de fabricação de resinas, tinta a base água, eletroforese, tintas automotivas e industriais. As amostras são compostas por efluentes dos processos de limpeza de tanques e máquinas de envase de tintas de eletroforese a base de água. 2.1.Amostragem A coleta de amostras foi realizada de acordo com a norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABNT NBR 10004:2004; NBR 9897:1986, na Estação de Tratamento Industrial da indústria de tinta considerada. Na primeira etapa foram coletadas doze amostras no período de um ano (de abril de 2011 a março de 2012) para verificar o tipo de variação do corpo do efluente ao longo do tempo quando submetidos ao processamento por feixe de elétrons em doses absorvidas de 10 kGy, 30 kGy e 50 kGy. Na segunda etapa foram coletadas mais seis amostras (de abril a setembro de 2012), sendo que nesta fase a dose escolhida foi de 50 kGy, porém adicionou-se H2O2. Conforme análise inicial, para a emissão do Certificado de Aprovação e Destinação de Resíduos Industriais, CADRI, o efluente em questão possui em sua composição: água, xileno, tolueno, BTEX e monobutilglicol com geração média mensal de 125 toneladas. Segundo dados do gerador, responsável pelo objeto de estudo, em 2008, foram produzidas 1444 toneladas do referido efluentes, ao passo que em 2009, o inventário realizado no mês de setembro demonstrou que foi contabilizada a presença de 1023 toneladas produzidas até agosto do mesmo ano. 2.2. Caracterização da amostra da ETE de Tintas. Os ensaios para a determinação de parâmetros qualitativos e quantitativos de compostos orgânicos foram realizados cromatografia gasosa, utilizando-se o Cromatógrafo a Gás associado ao Espectrômetro de Massa GCMS da Shimadzu, modelo QP 5000 tipo quadrupolo. As determinações de Carbono Organico Total foram efetuadas utilizando-se o Analisador de Carbono Orgânico Total, TOC da Shimadzu, modelo 5000A. No

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laboratório da Faculdade SENAI de Tecnologia Ambiental em São Bernardo do Campo, credenciado pelo INMETRO, foram realizadas as determinações dos parâmetros do Decreto Estadual 8468/1976, bem como a caracterização e classificação de resíduos sólidos de acordo com a NBR 10004:2004. 2.3. Processamento por radiação de feixe de elétrons

As amostras foram irradiadas no Acelerador Industrial de Elétrons de 1,5 MeV, 25mA da Radiation Dynamics Inc., USA, em sistema de bateladas. Os parâmetros de irradiação usados foram de 4,0 mm largura da amostra , 112 cm (94,1%) de digitalização e 6,72 m / min de fluxo de transporte de velocidade. As doses aplicadas foram 10 kGy, 30 kGy, 50 kGy para as amostras de 1 a 4 e 50 kGy, 80 kGy e 100 kGy para as amostras de 5 a 18. 2.4.Determinação da eficiência do processo

Para a determinação da eficiência do processo estão sendo analisados os fatores como: o grau de eliminação/ minimização dos compostos orgânicos , os volumes tratados e a relação custo benefício para o atendimento aos requisitos legais. 3.RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Resultados da Fase 1 – de abril a julho de 2011 Na Tabela 1 são apresentados os resultados das análises de acordo com o Padrão do Artigo 19A do Decreto 8468/1976, referente às amostras do ( abril a julho de 2011) efluente bruto e tratados com 50 kGy. Tabela 1. Resultados dos parâmetros físico-químicos das amostras da Fase 1 baseados no artigo 19A

Em relação aos resultados obtidos, é possível notar que todos os parâmetros físico-químicos exigidos pelo Decreto 8468/1976 foram atendidos com a aplicação tecnologia da radiação ionizante. Assim também alguns parâmetros foram melhorados em relação ao efluente bruto.

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3.2. Resultados da Fase 2 – de agosto de 2011 a março de 2012 Das amostras tratadas nessa fase, apenas a de 50 kGy foi submetida à análise físico-química para verificação do atendimento ao Decreto 8468/1976. Com essa medida foi possível comparar, desde o início até a última coleta, ocorrida 18 (dezoito) meses depois, a variação do efluente em função dos diversos tipos de tintas produzidos, as mudanças de temperatura e de clima, as quantidades de produtos residuais que acompanharam o efluente e, finalmente, a evolução do tratamento. Todos os demais resultados atenderam às especificações do Decreto 8458/1976. Os resultados da segunda fase encontram-se dispostos na Tabela 2 com os dados da amostra 5 (agosto de 2011) até a amostra 12 (março de 2012). Tabela 2. Resultados físico químicos das amostras da Fase 2 em comparação com o artigo 19A

Verificando os pontos apresentados, cabe ressaltar que dois pontos estiveram fora em relação ao teor de Estanho, sendo um referente à amostra de novembro de 2011(entrada e saída) e outro fevereiro de 2012. Não foi encontrada ainda explicação para esse desvio. Já em relação à amostra de fevereiro de 2012, muito embora o dado de entrada esteja fora dos padrões, após ser tratada com dose de 50 kGy, atendeu ao requisito.legal. 3.3. Determinação da Demanda Química de Oxigênio, DQO O parâmetro DQO começou a ser medido na fase 2 (agosto de 2011 a março de 2012) para as amostras irradiadas com 50 kGy, 80 kGy e 100 kGy, os quais estão apresentados na Tabela 3 . Já a Tabela 4 apresenta os resultados da fase 3 (de abril a setembro de 2012). Contudo, as amostras dessa fase foram tratadas com Peróxido de Hidrogênio em diferentes concentrações (0,005% ; 0,05% e 0.5%de H2O2) e irradiadas com 50 kGy.. Objetivou-se com essa atitude verificar a melhoria na oxidação e na degradação da matéria orgânica.

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Tabela 3. Resultados DQO(mgO2/L) fase 2 Tabela 4. Resultados DQO(mgO2/L) fase 3

Em relação à variação das médias dos valores da DQO e do desvio padrão médio encontrado para as amostras de efluentes das fases 2 e 3, observa-se que houve um decréscimo à medida em que as doses de radiação ionizante foram aumentando. Outro fato verificado é que o desvio padrão das amostras brutas foram maiores que os das amostras irradiadas. O alto valor encontrado para o parâmetro DQO justifica-se pelo tipo de efluente analisado, que apresenta composição complexa e baixa biodegradabilidade, o que acarreta uma difícil tratabilidade pelos processos convencionais.

Duarte (1999), Ribeiro (2004), Gasparini (2011), dentre outros, demonstram que os POAs representam uma técnica adequada para tratamento de efluentes industriais com baixo grau de biodegradabilidade. Observando os resultados obtidos, nota-se que houve nas amostras da fase 2 uma redução média na taxa de DQO da ordem de 5,17% conforme Tabela 5 e nas amostras da fase 3 a redução foi de 8,73% conforme Tabela 6. Tabela 5. Redução % DQO na fase 2 Tabela 6. Redução % DQO na fase 3

3.4. Determinação da Demanda Bioquímica de Oxigênio, DBO A medida da DBO foi estabelecida somente na fase 3, para que pudesse ser verificada a relação entre a DBO e a DQO e assim a variação na biodegradabilidade das amostras. As leituras dos resultados foram efetuadas para as amostras: ‘Bruto’, 50 kGy, 50 kGy tratada com 0,005% de H2O2, 50 kGy tratada com 0,05% de H2O2 e 50 kGy tratada com 0,5% de H2O2 . De acordo com Duarte (1999) e Ribeiro (2004), a DBO mede a quantidade de oxigênio necessária para oxidar quimicamente a matéria orgânica. Os resultados obtidos com as análises das amostras encontram-se na Tabela 7 e a Taxa de Redução está apresentada na Tabela 8 Tabela 7. Resultados DBO (mgO2/L) fase 3 Tabela 8. Redução % DBO na fase 3

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Em relação aos valores médios obtidos de DQO e DBO, Metcalf & Eddy (2003) e Esplugas, Contreras e Ollis (2004) informam que a relação DBO / DQO é um parâmetro simples que indica a Taxa de Biodegradabilidade (TB) de um efluente. De acordo com essa informação, valores da TB acima de 0,6 indicam que o efluente é muito biodegradável, enquanto que efluentes com valores entre 0,6 e 0,4 são considerados biodegradáveis. E os efluentes com valores abaixo de 0,4 são não biodegradáveis. A FIG.1, a seguir, apresenta o estudo desenvolvido para o objeto de pesquisa em questão e mostra a evolução da relação DBO/DQO.

FIGURA 1 – Resultados da relação entre DBO/DQO na fase 3

Muito embora o processo de tratamento aplicado por radiação ionizante tenha permitido uma redução tanto na DBO (24,14%) quanto na DQO (8,73%), a razão obtida entre os dois foi na média da ordem de 0,30. Diante desse valor e baseando-se nas informações de Metcalf & Eddy (2003) e Esplugas, Contreras e Ollis (2004), portanto, (abaixo de 0,4) pode-se concluir que o efluente estudado é formado basicamente por produtos não biodegradáveis. Outra conclusão que se obtém a partir dos dados da razão DBO / DQO, baseando-se em Gasparini, M. C. (2011), é que Taxas de Biodegradabilidade com valores em torno de 0,3, sugerem ser pouco provável o sucesso da aplicabilidade de tratamento de efluente dessa origem por meio de processos físicos e biológicos. Para esses tipos de efluentes o mais recomendado são processos físico-químicos e os Processos de Oxidação Avançada. 3.5. Determinação de Óleos e Graxas Esses parâmetros foram medidos nas fases 1 e 2 para as doses de 10 kGy, 30 kGy, 50 kGy, 80 kGy e 100 kGy. A evolução dos resultados de óleos e graxas pode ser observada na Tabela 9.

Tabela 9. Resultados do parâmetro óleos e graxas (mg/L) nas fases 1 e 2

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Em relação a esse parâmetro o tratamento não foi eficiente para remover ou reduzir o teor. Ao contrário, houve um discreto aumento na concentração desse poluente, sem, contudo, implicar na adequação do efluente para descarte em corpo de rio, por ainda atender ao requisito legal do Decreto 8468/1976, em seu artigo 19A, o qual estabelece o limite de 150 mg/L. Ainda em relação a esse parâmetro, cumpre informar que de acordo com Perpetuo (2001), óleos e graxas são poluentes cujos tratamentos mais recomendados para removê-los são os biológicos e os químicos. 3.6. Determinação de Carbono Orgânico Total - COT De acordo com Duarte (1999), o “COT é composto de uma variedade de compostos orgânicos em vários estados de oxidação”. A pesquisadora ainda informa que “alguns destes compostos podem ser oxidados por processos químicos ou bioquímicos (DQO e DBO). A determinação do COT é um método mais conveniente de expressão direta do conteúdo de orgânicos, mas não fornece o mesmo tipo de informação dos outros testes.”.

Os resultados obtidos com a determinação desse parâmetro são apresentados na Tabela 10: Tabela 10. Resultados da variação de redução do COT

Como pode ser observado, houve uma diminuição na taxa de remoção do carbono orgânico total. Todavia, como alerta Duarte (1999), o COT não representa somente os compostos orgânicos tóxicos, mas também a carga orgânica das águas residuárias como proteínas, carboidratos, gorduras e óleos, etc. Ressalta-se que em relação a esse parâmetro, para efluentes com altos índices de compostos orgânicos, como é o caso de efluentes domésticos, a taxa de redução seria muito maior. Novamente, como assinala Duarte (1999).

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3.7. Determinação do pH

De acordo com Duarte (1999), tratamento de efluentes industriais por radiação ionizante tem apresentado um decréscimo do pH da ordem média de 3 a 4 unidades em relação aos dados do efluente de entrada. Em termos absolutos a faixa do pH varia de 3 a 9, não afetam a eficiência de remoção dos compostos orgânicos. Contudo, amostras alcalinas podem alterar a degradação de compostos que reagem primariamente com o radical OH - (Tolueno, Xileno, dentre outros). (DUARTE, 1999). A Tabela 11 r, apresenta a variação do valor do pH em cada uma das três fases do estudo, de acordo com a dose de radiação ionizante aplicada. Os resultados obtidos, em geral, estão dentro dos requisitos estabelecidos pelo Decreto

8468/1976, o qual estabelece para descarte do efluente o limite de pH na faixa de 6 a 10, levando-se à concluir, parcialmente, em relação a amostra, que o processamento por radiação ionizante contribui para a diminuição do valor do pH. Outro dado a ser destacado na Tabela 11 é o valor médio do pH e o desvio padrão determinado em cada uma das fases. A hipótese levatanda de utilização do oxidante Peróxido de Hidrogênio fez com que o pH tivesse um resultado ainda menor, à medida em que a concentração aumentou o pH diminuiu para a mesma dose de radiação ionizante aplicada, fato esse observado na fase 3. TABELA 11 – Resultados do valor do pH medidos nas fases 1, 2 e 3

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Conforme já noticiado acima, o único fato a ser destacado foi a diminuição no pH na fase 3 pela adição do Peróxido de Hidrogênio. O único caso em que o valor do pH esteve fora da especificação foi para a concentração de 0,5% de (H2O2). Na Tabela 12 encontram-se os resultados das taxas de redução do valor de pH para as tres fases estudadas.

TABELA 12 – Taxa de redução média do pH medido nas fases 1, 2 e 3

Cabe observar que na fase 1 a redução variou de 3,95 a 13,83% em relação ao resultado inicial, em função da dose aplicada. Já na fase 2 a redução foi de 11,14%. Finalmente, na fase 3, os resultados foram mais expressivos e a redução do pH variou de 5,35% a 33,81%. Muito em função da concentração de Peróxido de Hidrogênio (H2O2) aplicada às amostras.

3.8. Determinação do teor de sólidos sedimentáveis O teor de sólidos em um efluente representa importante parâmetro de controle a ser medido, pois interfere na cor e turbidez. Estes podem estar em suspensão ou dissolvidos no efluente (Duarte, 1999). A FIGURA 2, apresenta o teor de sólidos mensurados nas amostras das fases 1 e 2 dos efluentes Bruto e nos Tratados com 50 kGy.

FIGURA 2 - Teor de sólidos sedimentáveis nas Fases 1 e 2 para a dose aplicada de 50 kGy

Cabe observar que, em geral, os dados de saída atenderam aos requisitos legais do Decreto 8468/1976. Porem, dois pontos do estudo não atenderam à especificação legal, sendo que estes pontos serão ainda estudados. 3.9. Determinação dos compostos orgânicos por Cromatográfia A FIG. 3,demonstra um resumo dos ensaios cromotográficos, parte importante dessa pesquisa. Os resultados obtidos nos ensaios cromatográficos encontram-se dispostos de acordo com a fase (1, 2 e 3) realizada.

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Objetivou-se com a análise cromatográfica verificar as possíveis degradações de compostos orgânicos, em especial o BTEX (Benzeno, Tolueno, Xileno) e o MiC ( Metil, Isobutil Cetona). Esses solventes orgânicos foram escolhidos para serem analisados por que fazem parte do grupo de solventes utilizados nos diluentes e Thinners das resinas e tintas. Os efluentes das indústrias de tinta em geral, Fazenda (2008), Nascimento e Duarte ( 2012), apresentam traços de solventes orgânicos, os quais devem ter as suas concentrações minimizadas e/ou eliminadas para que o efluente possa ser devolvido aos corpos de rio. O odor característico apresentado pelos efluentes de indústria de tinta são, em grande parte, originado pela presença de um ou mais desses solventes citados. .

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FIGURA 3 - Teor de sólidos sedimentáveis nas Fases 1 e 2 (dose aplicada de 50 kGy)

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Analisando os gráficos dispostos na FIG. 3 é possível notar que: a) Na fase 1 o bezeno foi detectado em três das quatro amostras. e, em pelo menos duas (abril e junho), houve uma redução devido à aplicação das doses de radiação. Outro solvente detectado na primeira fase foi o MiC (Metil, Isobutil, Cetona), apontado nas amostras de maio, junho e julho de 2011. Da mesma forma que na análise anterior, o MiC apresentou uma redução razoável. O mesmo comportamento e reduções foram observados para o Xileno e Tolueno; b) Na fase 2 (de agosto de 2011 a março de 2012) foi notório o aparecimento do benzeno em todas as fases e a redução do mesmo pela aplicação das doses de radiação. O MiC foi detectado em seis das oito amostras e com redução de quantidade no efluente. O tolueno foi detectado em duas das oito amostras e com redução singela, já o xileno esteve em duas das oito amostras e apresentou redução.

c) A fase 3 (abril a setembro de 2012) o benzeno foi detectado em cinco das seis amostras e também apresentou redução, aparentemente, mais significativas que na fase 1, possívelmente devido à presença do oxidante. O MiC foi detectado em quatro das seis amostras e apresentou redução, mas não significativa e nem constante em todas as amostras. Em relação ao comportamento do tolueno, que esteve presente nas seis amostras, observou-se uma redução mais evidente em algumas amostras e noutras nem tanto. Finalmente, o xileno foi detectado em quatro das seis amostras com uma redução singela. Estudos devem ser continuados para verificar a redução nos compostos orgânicos, bem como a sua quantificação.

3.10. Determinação da Cor . Em relação ao parâmetro cor destaca-se que processo reduziu a cor do efluente tratado, à medida em que houve um aumento da dose, conforme FIG.4.

FIGURA 4 – Amostras dos efluentes Bruto (esq) e irradiado com 10,30 e 50 kGy (dir)

4. CONCLUSÕES Analisando os resultados obtidos, pautando-se no objetivo proposto , conclui-se que houve o atendimento positivo à proposta de estudo inicialmente apresentada, destacando-se que: a tecnologia da radiação ionizante é um recurso viável e pode ser utilizada como alternativa no tratamento de efluente de industria de tintas e vernizes com fins ao atendimento dos parâmetros legalmente previstos; outro fator relevante dessa conclusão é que o processo apresenta rapidez no tratamento quando comparado com os processos tradicionais, além ser um grande contributivo para a sustentbailidade ambiental, na medida em que não utiliza outro tipo de insumo, ao mesmo tempo em que

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não gera nenhum tipo de residuos e/ou efluentes e independe de temperatura específica para ser realizado. Considerando, então, uma tecnologia de produção limpa. Dessa forma, é possível afirmar que há a possibilidade dos efluentes oriundos do processo de fabricação de tintas, após o tratamento com radiação ionizante, serem utilizados como água de reuso na lavagem de pisos e em banheiros para fins de esgotamento sanitário. É salutar informar, finalmente, ser possível desenvolver um sistema móvel de tratabilidade de efluentes com um equipamento de radiação ionizante acoplado a um caminhão, como ocorre hoje na Ebtech na Coreia do Sul. Este equipamento facilitaria muito a tratabilidade de efluentes de tintas em pequenas fábricas, pois além de ser menos custosa, já que dispensa a instalação e manutençaõ de uma estrutura individual, permite o atendimento ágil e in loco, com um mesmo equipamento, de diversas organizações industriais. 5. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ABRAFATI – Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas. Disponível no endereço eletrônico:http://www.abrafati.com.br/bn_conteudo_secao.asp?opr=94,acessado em 30.04.2013. 2. ALMEIDA, E. et al. Tratamento de efluentes industriais por processos oxidativos na presença de ozônio. Química Nova, São Paulo, v. 27, n. 5, Oct. 2004.

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