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CRESCIMENTO ORGÂNICO: UMA ANÁLISE DA ESTRATÉGIA DE EXPANSÃO DAS LOJAS AMERICANAS Área temática: Gestão Estratégica e Operacional Jéssica de Freitas [email protected] Leonardo Andrade [email protected] Ricardo Bordeaux-Rego [email protected] Resumo: Diversidades nos mecanismos de expansão das empresas para além de seus limites operacionais trouxeram à tona benefícios e riscos da utilização das estratégias de crescimento orgânico (Interno) e crescimento inorgânico (Externo). Este artigo procura entender os impactos gerados pelo crescimento orgânico sobre os indicadores financeiros de uma empresa. A fim de alcançar os objetivos traçados para a pesquisa foram utilizados os métodos de pesquisa descritivo, cujos procedimentos utilizados foram: estudo de caso, pesquisa bibliográfica e documental. No tocante a abordagem do problema, o trabalho exibe um teor quantitativo e qualitativo. Dessa forma, observou-se impactos relevantes gerados a após a implantação do programa de crescimento orgânico, seja no sentido de crescimento de receitas, lucro ou mesmo melhoria de eficiência das operações. Palavras-chaves: Teoria da firma. Estratégia de crescimento. Crescimento orgânico ISSN 1984-9354

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CRESCIMENTO ORGÂNICO: UMA ANÁLISE DA

ESTRATÉGIA DE EXPANSÃO DAS LOJAS AMERICANAS

Área temática: Gestão Estratégica e Operacional

Jéssica de Freitas

[email protected]

Leonardo Andrade

[email protected]

Ricardo Bordeaux-Rego

[email protected]

Resumo: Diversidades nos mecanismos de expansão das empresas para além de seus limites operacionais trouxeram

à tona benefícios e riscos da utilização das estratégias de crescimento orgânico (Interno) e crescimento inorgânico

(Externo). Este artigo procura entender os impactos gerados pelo crescimento orgânico sobre os indicadores

financeiros de uma empresa. A fim de alcançar os objetivos traçados para a pesquisa foram utilizados os métodos de

pesquisa descritivo, cujos procedimentos utilizados foram: estudo de caso, pesquisa bibliográfica e documental. No

tocante a abordagem do problema, o trabalho exibe um teor quantitativo e qualitativo. Dessa forma, observou-se

impactos relevantes gerados a após a implantação do programa de crescimento orgânico, seja no sentido de

crescimento de receitas, lucro ou mesmo melhoria de eficiência das operações.

Palavras-chaves: Teoria da firma. Estratégia de crescimento. Crescimento orgânico

ISSN 1984-9354

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1. INTRODUÇÃO

Os limites horizontais e verticais da firma são fatores importantes a serem considerados pelos

empresários no momento de estruturar sua estratégia de crescimento. Diversos autores veem

discutindo o crescimento da firma e seus impactos na estrutura administrativas e de recursos

(CHANDLER, 1990; PENROSE, 2006; HESS, 2007; BARNEY, 1991).

Ao definir uma estratégia de crescimento a firma deve estar consciente das fragilidades

apresentadas por cada um dos modelos existentes (Orgânico ou Inorgânico), principalmente tendo

em vista que essa decisão poderá impactar indicadores relevantes para saúde de uma companhia

como rentabilidade, endividamento, receita, margem e lucro.

Para que o crescimento esperado se realize, as empresas deverão superar desafios estratégicos,

como a definição de um projeto de financiamento alinhado com os objetivos de expansão e a correta

realização de estudos e análises de mercado, a fim de prever seu desempenho futuro com maior

assertividade e rentabilidade (PINTO e IOOTTY, 2005).

Devido principalmente à sua agilidade, a estratégia de crescimento por fusões e aquisições

apresenta uma vantagem para realizações de pesquisas em relação ao crescimento orgânico, que

necessita de um maior tempo para conclusão de sua implantação. Com o intuito de diversificar os

conhecimentos no campo das estratégias de crescimento, principalmente suas vantagens e os riscos

inerentes, escolhemos o crescimento orgânico como tema central para nossa pesquisa.

O presente trabalho busca, através da análise dos indicadores financeiros de uma empresa, entender

os impactos gerados pela utilização da estratégia de crescimento orgânico. A fim de alcançar o

objetivo traçado nesse estudo, escolhemos as Lojas Americanas como objeto de pesquisa,

principalmente em função da agressividade do seu plano de expansão e da sua completa conclusão.

1. Objetivos do estudo

1.1. Objetivo Geral

O principal objetivo deste estudo é analisar os impactos apresentados pela utilização da expansão

orgânica como estratégia de crescimento em uma empresa. Com esse propósito a pesquisa busca

responder a seguinte pergunta: Quais foram os impactos financeiros gerados pela implantação de

uma estratégia de crescimento orgânico nas Lojas Americanas?

1.2. Objetivo Específico

A fim de alcançar o objetivo geral desta pesquisa, os seguintes objetivos específicos foram

selecionado para norteá-la:

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Revisar a bibliografia relacionada com a teoria de crescimento da firma e as estratégias de

crescimento;

Analisar os indicadores financeiros de uma empresa através de estatística descritiva;

Aprofundar o conhecimento sobre o impactos apresentados pela implantação de uma

estratégia de crescimento orgânico.

2. Fundamentação teórica

2.1. Teoria do crescimento da firma

A teoria do crescimento da firma primeiramente estudada por Penrose (2006) afirma que as

implicações apresentadas pela “teoria neoclássica da firma”, que defende que as firmas possuem

limite de expansão e que as mesmas tendem a apresentar rendimentos decrescentes a partir de um

certo ponto do seu crescimento, podem ser superados através de adaptação de sua estrutura interna e

pelo desenvolvimento de novos mecanismos de produção e comercialização.

Segundo Penrose (2006), o crescimento da firma está condicionado a capacidade do empreendedor

de identificar e explorar novas oportunidades apresentadas pelo mercado. A partir desse conceito, o

limite de crescimento da firma não estaria condicionado à sua capacidade produtiva, mas às

competências de gestão apresentadas pelo seu empresário, assim como sua capacidade de enxergar

alternativas para o negócio e alocar os recursos disponíveis em prol de atacar as oportunidades.

As oportunidades de crescimento exploradas pelas firmas podem ser alcançadas através da

utilização dos recursos disponíveis, que são considerados raros, valiosos e de difícil reprodução,

gerando dessa forma uma vantagem competitiva para aquelas que conseguem utiliza-las na geração

de seu crescimento (BARNEY, 1991).

2.2. Estratégia de crescimento

Devido a diversidade de estrutura, tamanho e posicionamento de mercado apresentado pelas firmas,

é possível proporcionar seu crescimento através de múltiplas estratégias, como consequência várias

classificações para estratégia de crescimento foram estruturadas e estudadas pela academia.

Chandler (1962) distinguiu quatro principais estratégias:

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i. Expansão de volume: Ampliação do volume de venda apresentado pela empresa no

mercado em que atua;

ii. Dispersão geográfica: Ampliação da quantidade total de localidades onde a empresa

oferta seus bens ou serviços;

iii. Integração vertical: Movimentação da empresa ao longo da sua cadeia de valor, tanto à

montante quanto à jusante;

iv. Diversificação da produção: Desenvolvimento de novos produtos, serviços ou

negócios.

Essas estratégias possuem foco no aumento de produtividade da empresa (Produtivas) ou na defesa

do seu posicionamento no mercado em relação às ameaças apresentadas pelo ambiente externo

(Defensivas). Como consequência as empresas podem se movimentar estrategicamente de forma

defensiva, produtiva, híbrida ou nula. (CHANDLER, 1977).

A partir de uma ótica de expansão, diversificação ou crescimento, Sight e Montgomery (1987)

dividem as formas de crescimento empresarial em crescimento inorgânico e orgânico:

i. Crescimento inorgânico: Tipo de crescimento alcançado através da fusão ou aquisição

de outra empresa, que possui riscos no que tange o endividamento, diminuição das

riquezas, perda de controle sobre o processo de transição e enfraquecimento da cultura.

Entretanto se beneficia de menores tempos e custos de implantação e facilidade de

entrada em novos mercados e regiões.

ii. Crescimento orgânico: Expansão alcançada através da abertura de novas plantas,

aumento dos canais de distribuição e exploração de novos mercados. Esse modelo de

expansão apresenta um maior tempo e custo para implantação, porém seu processo pode

ser melhor controlado e o risco de danos à cultura da empresa são reduzidos.

2.3. Crescimento orgânico

O crescimento orgânico (Interno) consiste na utilização dos recursos particulares da firma para

ampliação do volume de venda e inserção em novos mercados (HARRYSON, 2005). Segundo

Hess (2007) o crescimento orgânico é todo aquele que é alcançado quando a empresa se

compromete em satisfazer seus clientes, engajar seus funcionários e garantir a rentabilidade. Tendo

em vista esse conceito, todas as organizações de uma forma ou de outra utilizam o crescimento

orgânico como estratégia de longo prazo, gerando vitalidade e dinamismo à sua administração.

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O crescimento orgânico apresenta benefícios e desafios para as firmas que o utilizam como

estratégia. Devido ao seu caráter de aumento de valor e participação no mercado com preservação

da cultura e maior facilidade de controle do processo, reduzindo dessa forma seus riscos

(HARRISON, 2005), o crescimento a partir de recursos internos apresenta uma vantagem em

relação à estratégia de fusão e aquisição. Além desses fatores o crescimento orgânico apresenta um

maior controle sobre a eficiência, qualidade e preservação da imagem da organização (WRIGHT,

KROLL e PARNELL, 2007).

Porém existem desafios atrelados à escolha desse modelo de crescimento, principalmente quando os

gestores começam a lidar com pressões para manutenção constante do crescimento orgânico

(KAZANJIAN, HESS e DRAZIN, 2006), pois pode acarretar em aumento dos custos

administrativos, fazendo com que o mesmo seja recomendável somente em casos onde os

benefícios financeiros alcançados sejam maiores que os custos inerentes à sua execução (WRIGHT,

KROLL e PARNELL, 2007).

O crescimento interno de uma organização acarreta inevitavelmente no aumento da capacidade

produtiva da firma, mesmo que o impacto não seja diretamente proporcional no que tange à sua

rentabilidade. Esse fenômeno ocorre devido à ampliação dos seus fatores de produção e alteração de

sua estrutura. Em função da sua presença mais frequente nas empresas, também é conhecida como

“crescimento natural” (BARBOSA e TEIXEIRA, 2003).

WRIGHT, KROLL e PARNELL (2007) classificam o crescimento orgânico em horizontal e

vertical. Sendo o primeiro alcançado através da criação de empresas relacionadas ao negócio

principal da firma e o segundo criando empresas ao longo da cadeia de valor, ampliando assim o

relacionamento entre o fornecedor e cliente.

2.4. Indicadores financeiros

Inúmeros autores sinalizam a importância dos indicadores financeiros como mecanismo de

valorização de uma empresa, através do cálculo do valor gerado pela mesma. (COPELAND,

KOLLER e MURRIN, 2002; GRANT, 2003; KOLLER, GOEDHART E WESSELS, 2005). Além

da realização de cálculos baseados em valor, esses indicadores funcionam como mecanismos para

realização de análises financeiras diversas, principalmente quanto à sua saúde organizacional.

A escolha de qual estratégia de crescimento será utilizada no processo de expansão de uma

companhia, assim como sua correta execução, poderão afetar uma gama diversas de indicadores

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financeiros e operacionais. Para realização do presente trabalho foram selecionados os indicadores

financeiros listados abaixo:

i. EBITDA: Sigla em inglês que designa o resultado alcançados por uma organização

antes do desconto de juros, impostos sobre a renda, depreciação e amortização

(COSTA, 2011).

ii. Margem EBITDA: Percentual da receita líquida que compreender o EBITDA, que

poderá ser calculado através da divisão do EBITDA pela Receita Líquida (COSTA,

2011).

iii. Receita Bruta: Valor monetário comercializado por uma empresa, corrigido pela

inflação projetada ao longo do período avaliado (COSTA, 2011).

iv. Lucro Líquido: Diferença positiva do lucro bruto menos o lucro operacional e o não

operacional (GITMAN, 2010).

v. Endividamento Bruto: Índice composto por todas as obrigações da empresa, tanto no

longo como no curto prazo (IQUIAPAZA, AMARAL e ARAUJO, 2008).

2.5. Análises estatísticas

A análise estatística de dados, representada essencialmente pela estatística descritiva e inferencial,

possui como objetivo a descrição dos dados de uma amostra (Descritiva) ou o desenvolvimento de

conclusões gerais a partir da racionalização de dados coletados (Inferencial). A estatística

inferencial, aplicada no presente estudo, consiste em um conjunto de técnicas amplamente utilizadas

para identificação de relações entre variáveis que possuem ou não uma relação direta entre causa e

efeito (TRIOLA, 2008). Para realização da etapa de análise de dados desse trabalho, foram

selecionadas as seguintes técnicas de análise estatística inferencial:

i. Teste de hipótese: O teste de hipótese possui o objetivo de avaliar se determinada

observação ou resultado é compatível com uma hipótese estruturada. Em linguagem

estatística a hipótese estabelecida é denominada “Hipótese nula” (H0), que geralmente

é testa contra uma “Hipótese alternativa”, denotada pela letra H (GUJARATI e

PORTER, 2011).

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ii. Teste correlação: Segundo Garson (2009) a correlação “é uma medida de associação

bivariada (força) do grau de relacionamento entre duas variáveis”. Os testes de

correlação possuem o objetivo de mensurar a direção e o grau da relação linear

existente entre duas variáveis quantitativas (MOORE, 2007).

iii. Coeficiente de correlação de Pearson: Consiste em uma medida de associação linear

entre duas variáveis. “Em termos estatísticos, duas variáveis se associam quando elas

guardam semelhanças na distribuição dos seus escores. Mais precisamente, elas podem

se associar a partir da distribuição das frequências ou pelo compartilhamento de

variância” (FIGUEIREDO e SILVA JR, 2010). A correlação de Pearson (r) baseia-se

no último parâmetro, pois consiste em uma medida da variância compartilhada por

duas variáveis.

3. Empresa estudada

As Lojas Americanas AS (LASA) é uma das mais tradicionais empresas de comércio varejista do

país. Fundada em 1929, a empresa conta com mais de 800 lojas localizadas em todos os estados

brasileiros e no Distrito Federal. Além de suas lojas a empresa conta com 4 centros de distribuição

localizados nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Uberlândia. Em sua rede são

comercializados mais de 6.000 produtos fornecidos por 4.000 diferentes empresas, tendo dessa

forma grande participação no comércio brasileiro de brinquedos, bombonière, lingerie, CD's e

DVD's.

A sua ampla presença no território brasileiro foi em grande parte alcançada por um agressivo plano

de expansão lançado em 2009 que previa a duplicação do número de lojas da companhia em quatro

anos. O programa “Sempre Mais Brasil” foi lançado em comemoração aos 80 anos da companhia e

teve seu objetivo alcançado em 2013 com a abertura de 400 novas lojas.

Além da expansão orgânica de lojas, a companhia também investiu em crescimento inorgânico

através da aquisição em 2007 da BWU, detentora da marca BLOCKBUSTER® no Brasil, que

somou à sua estrutura mais 127 lojas.

Outro fator importante para o crescimento da organização foi a inauguração em 2003 do novo

modelo de lojas denominado “Americanas Express”, concebidas segundo o conceito de

“vizinhança”, são lojas compactas, com sortimento selecionado, mas com os mesmos padrões de

qualidade e preço. Com essa inauguração as Lojas Americanas conseguiu acelerar seu plano de

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expansão e ampliar as possibilidades de locação das lojas devido a vasta oferta de pontos com

metragem quadrada reduzida.

Em Novembro de 2014 a companhia lanço seu novo programa de expansão o “85 anos em 5 -

Somos Mais Brasil” que visa duplicar a número de lojas da companhia nos próximos cinco anos,

alcançando um total de 1.700 lojas até 2019. O programa conta com um investimento previsto de

R$ 4 bilhões e fará com que a empresa alcance 300 novas cidades.

4. Metodologia de pesquisa

O presente estudo utilizou como base metodológica a pesquisa descritiva, pois pretende descrever

as características de uma determinada população ou fenômeno, ou estabelecer relação entre

variáveis cujas as características são conhecidas (SEKARAN, 1992). A partir dessa base, foram

utilizados os procedimentos de estudo de caso, pesquisa bibliográfica e pesquisa documental como

ferramentas para levantamento de dados e o problema foi estudado através das óticas quantitativa e

qualitativa.

O desenho metodológico foi estruturado em quatro principais etapas (Figura 1): Levantamento de

dados (i), análise estatística dos dados coletados (ii), avaliação dos dados conforme resultados da

análise (iii) e elaboração do relatório de pesquisa (iv).

Figura 1

Desenho de pesquisa

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Fonte: Elaborado pelos autores

A primeira etapa do trabalho consistiu no levantamento de dados operacionais da LASA,

considerando os anos antes e após a implantação do programa de crescimento “Sempre mais Brasil”

(2002 à 2013). A coleta desses dados foi feita com base nos balanços contábeis, e relatórios

operacionais e financeiros, disponibilizados no site de relacionamento com investidores da empresa.

Foram considerados somente os resultados da sua operação de lojas físicas e não de todas as

empresas do grupo, para que os dados não fossem afetados pelos resultados das demais operações.

Na segunda etapa, que consistia na análise dos dados, sete indicadores foram escolhidos (Tabela 1):

Quantidade de lojas, Área de Vendas, EBITDA, margem EBITDA, Receita Bruta, Lucro Líquido e

Endividamento Bruto. Foram gerados três novos indicadores, derivados dos indicadores financeiros

e operacionais divulgados: Lucro líquido/Quantidade de lojas, a fim de indicar a eficiência por loja,

Lucro Líquido/área de vendas, que traz a mesma visão do anterior, porém considerando o tamanho

das lojas e Endividamento/EBITDA, para comparação do nível de endividamento com ganho.

Tabela 1

Indicadores operacionais analisados

Indicadores Operacionais

Quantidade de lojas

Área de vendas (Quantidade de m2)

Indicadores Financeiros

EBITDA

Margem EBITDA

Receita Bruta

Lucro Líquido

Endividamento Bruto

Indicadores Derivados

Lucro Líquido/Quantidade de lojas

Lucro Líquido/área de vendas

Endividamento/EBITDA

Fonte: Elaborado pelos autores

Os dados foram agrupados em dois períodos, a fim de avaliar a evolução dos indicadores. Como

marco, foi considerada a divulgação do plano de expansão em 2009 com a proposta de abertura de

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400 novas lojas até 2013, que representa um aumento de 85% na sua base de lojas. Assim, os

períodos utilizados são: “Antes do início do programa de crescimento”, de 2002 a 2009, e “Após o

início do programa de crescimento”, de 2009 a 2013.

Na avaliação dos dados, foram comparadas as médias dos dois períodos a fim de verificar se a

estratégia implantada trouxe melhoria, piora ou manutenção de indicadores como EBITDA,

Margem EBITDA, Receita Bruta e Lucro Líquido. Foi observada também a evolução das médias

dos dois indicadores criados a partir da derivação dos indicadores de resultado definidos como

Lucro Líquido/Quantidade de lojas e Lucro Líquido/área de vendas, a fim de entender se houve

aumento ou redução da eficiência por loja ou área com o crescimento.

Para todas estas análises foi realizado o teste de médias, utilizando o programa Minitab, software

proprietário voltado para realização de análises estatísticas. Dessa forma, testa-se a hipótese nula

(H0), onde não há variação entre os dados antes e depois do início do programa de crescimento. A

rejeição da hipótese nula, leva a aceitação da hipótese alternativa, que significará a variação positiva

ou negativa da média.

Os testes foram realizados com um nível de significância de 0,05, o que significa que a

probabilidade de erro é de 5%. Assim para o valor P menor que 0,05, será rejeitada a Hipótese Nula

(H0). Ao rejeitar a Hipótese nula, será aceita a Hipótese alternativa (HA).

Foi observado também a correlação entre a quantidade de lojas e área de vendas com outros

indicadores, como EBITDA, Receita Bruta e Lucro Líquido, utilizando o coeficiente de correlação

de Person, também por meio do programa Minitab. Neste caso, será possível entender se há

correlação entre a quantidade de lojas e área de vendas com os indicadores operacionais e

financeiros, e se o crescimento orgânico, com a inauguração de lojas, impacta positivamente ou

negativamente esses indicadores.

Para o coeficiente de correlação, quanto mais próximo de 1 mais forte será a correlação entre os

dois indicadores. Dessa forma, valores de 0 a 0,3 representam uma correlação fraca, enquanto o

coeficiente entre 0,3 e 0,7 mostra uma correlação moderada. Valores acima de 0,7 indicam uma

forte correlação.

Por fim, avaliou-se a variação percentual dos indicadores criados derivados dos indicadores

padrões, comparando a eficiência por loja e a eficiência por metro quadrado entre antes e depois do

início do programa de crescimento, a partir das avaliações do Lucro Líquido/Quantidade de lojas e

Lucro Líquido/área de vendas, respectivamente. Essa comparação com a área de vendas, elimina o

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“efeito Express”, onde esse modelo de lojas com tamanhos menores poderiam minimizar o efeito da

abertura de lojas.

Para avaliar uma possível alteração no grau de endividamento com os investimentos para o

crescimento, foi observada a variação do Endividamento Bruto e do produto do Endividamento

Bruto/EBITDA. Comparou-se ainda a Margem EBITDA de antes e de depois do início da

implantação da estratégia de crescimento.

5. Resultado da pesquisa

A tabela abaixo (Tabela 2) apresenta os testes de hipóteses propostos para cada indicador e os

resultados observados nas análises. São apresentados: o indicador avaliado, a hipótese nula e a

hipótese alternativa do teste, o P-Value ou valor-p encontrado e o resultado acerca da aceitação ou

rejeição da Hipótese Nula.

Tabela 2

Testes de Hipótese - Resultados

Indicador Hipótese Nula

(H0)

Hipótese

Alternativa

(HA)

P-Value Resultado

EBITDA Média antes =

média depois

Média antes <

média depois 0,000 Rejeita (H0)

Margem

EBITDA

Média antes =

média depois

Média antes <

média depois 0,002 Rejeita (H0)

Receita Bruta Média antes =

média depois

Média antes <

média depois 0,001 Rejeita (H0)

Lucro Líquido Média antes =

média depois

Média antes <

média depois 0,002 Rejeita (H0)

Fonte: Elaborado pelos autores

Em todas as análises o valor p foi menor que 0,05, ou 50%, dessa forma a hipótese nula foi

rejeitada, o que mostra não haver uma alteração significativa nas médias desses na comparação

entre antes e depois do lançamento do plano de crescimento orgânico. Nos quatro testes realizados,

a hipótese alternativa foi de que a média do indicador depois do início do programa de crescimento

era maior que a média anterior.

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Nos testes do coeficiente de variação, onde foi avaliado a correlação da quantidade de lojas e área

de vendas com EBITDA, Receita Bruta e Lucro Líquido, conseguimos observar quais indicadores

possuem – e se possuem – correlações mais fortes e qual direção das mesmas, se correlação positiva

ou negativa. A matriz abaixo (Tabela 3) traz o valor do coeficiente de variação encontrado para

cada par de indicadores testado.

Tabela 3

Coeficiente de correlação

EBITDA Receita Bruta Lucro Líquido

Quantidade de

lojas

0,990

(FORTE)

0,997

(FORTE)

0,887

(FORTE)

Área de vendas 0,987

(FORTE)

0,989

(FORTE)

0,906

(FORTE)

Fonte: Elaborado pelos autores

Os testes mostraram uma forte correlação entre os resultados de EBITDA, Receita Bruta e Lucro

Líquido tanto com a quantidade de lojas quanto com a área de vendas. Todos os coeficientes de

correlação encontrados trouxeram valores positivos, o que mostra uma correlação positiva.

A avaliação das variações do Lucro Líquido/Quantidade de lojas e Lucro Líquido/área de vendas,

que apontam a eficiência por loja e a eficiência por metro quadrado, demonstrou aumento nesses

dois indicadores, de 49% e 67%, respectivamente. Esse resultado mostra o crescimento da

eficiência acompanhando o crescimento do número de lojas e da quantidade de área para vendas,

ainda que a perda da eficiência por loja pudesse ser um resultado esperado durante um movimento

de abertura de novas lojas.

O EBITDA apresentou uma variação positiva de 69%, o que representa que o crescimento orgânico

trouxe um aumento de receita sem um aumento proporcional de despesas, enquanto a Margem

EBITDA cresceu 3%.

O Endividamento Bruto da empresa mostrou alta de 100%, na comparação dos resultados de 2009,

antes da implantação do programa de crescimento, e de 2013, o último ano após a implantação do

mesmo. Já a taxa do Endividamento Bruto/EBITDA cresceu 18%.

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6. Conclusão

O crescimento orgânico é uma importante opção no desenvolvimento das empresas na busca de

melhores resultados, como aumento de receitas e lucro, e/ou por fatores estratégicos como posição

no mercado frente aos demais players, consolidação da marca, e vantagem competitiva operacional.

Nos setores de varejo, esse modelo é bastante utilizado seja de forma exclusiva ou em conjunto com

ações de crescimento por aquisições.

O objetivo deste trabalho foi mostrar o impacto da estratégia de crescimento orgânico, implantado a

partir do plano de crescimento da LASA em 2009. Dessa forma buscou-se observar os benefícios e

problemas trazidos por esse movimento, que se estenderam aos resultados operacionais e

financeiros.

De forma geral, as análises mostraram uma melhoria de resultados nos indicadores após o início do

programa de crescimento orgânico, quando comparados aos valores anteriores à implantação do

mesmo.

Os testes de médias mostraram que os valores de EBITDA, Margem EBTIDA, Receita Bruta e

Lucro Líquido cresceram significativamente, nas comparações entre as médias antes da implantação

do programa e após. O que leva a correlacionar a melhoria desses indicadores com o crescimento

orgânico.

Reforçando esta interpretação, o coeficiente apontou uma forte correlação entre a quantidade de

lojas e lucro líquido, mostrando que esses indicadores se correlacionam de forma positiva, ou seja,

quando um cresceu o outro cresceu em uma proporção similar. Essa mesma correlação é vista

quando comparada a área de vendas com o lucro líquido. Assim, o aumento na quantidade de lojas

ou de área de vendas mostrou-se relevante no crescimento do lucro líquido.

Ainda que a abertura de novas lojas pudesse significar, no curto prazo, uma perda de eficiência, os

indicadores de Lucro Líquido/Quantidade de lojas e Lucro Líquido/área de vendas apresentaram

aumento na comparação entre 2009 e 2013. Isso representa que apesar do crescimento do número

de lojas e tamanho total de metros para vendas, a empresa conseguiu manter e melhorar a eficiência

operacional.

Contudo, observou-se um crescimento do endividamento, em um percentual, maior que o

crescimento do EBTIDA. Enquanto o primeiro cresceu em 100%, a variação do EBTIDA foi de

cerca de 70%. Assim torna-se um ponto de atenção importante para a empresa.

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Ainda que relevantes, estas evidências precisam ser avaliadas com cautela. Um ponto importante é

que os dados foram avaliados em um período curto após a implantação do plano de crescimento.

Dessa forma, possíveis alterações e readequações de processos operacionais que viriam com a

maturidade das lojas abertas durante o programa podem não ter sido captados.

Dessa forma, o estudo da composição do endividamento torna-se importante para trabalhos futuros.

Além da análise dos dados de resultados após 2013, a fim de avaliar a continuidade dos resultados

observados nesse trabalho, seja com a melhoria ou manutenção desses indicadores.

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