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Crimes Hediondos e Equiparados (Lei 8.072/90) Professor Gladson Miranda www.gladsonmiranda.jur.adv.br

Crimes Hediondos e Equiparados (Lei 8.072/90) Professor … · O terrorismo, o tráfico e a tortura são crimes hediondos? O que a Constituição determina em relação aos crimes

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Crimes Hediondos e Equiparados

(Lei 8.072/90)

Professor Gladson Miranda

www.gladsonmiranda.jur.adv.br

Base normativa (CF art. 5º XLIII): “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de

graça ou anistia a prática de tortura, terrorismo, tráfico e os definidos como crimes hediondos”.

A CF define crime hediondo? O terrorismo, o tráfico e a tortura são crimes hediondos? O que a Constituição determina em relação aos crimes hediondos e equiparados? A CF diz que são inafiançáveis e insuscetíveis de anistia e graça. Qual é o critério adotado pela Lei 8.072/90 para definir crime hediondo, legal, judicial ou misto?

Rol de crimes hediondos: Homicídio simples (art. 121, caput, do CP) quando praticado por grupo de extermínio. O que é grupo de extermínio? Art 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos.

As espécies de homicídio não explicitadas na lei dos crimes hediondos, tal como sua figura privilegiada, são consideradas como hediondos? (STJ; HC 206888 / RS; 5ª Turma; DJe 08/02/2012)

Homicídio qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III, IV e V) Art. 121, § 2°, do CP - Se o homicídio é cometido:

I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;

II - por motivo fútil;

III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;

IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;

V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena - reclusão, de doze a trinta anos.

O homicídio qualificado-privilegiado é hediondo?

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem reiterado entendimento no sentido de que há compatibilidade entre as qualificadoras de ordem objetiva e as causas de diminuição de pena do § 1.º do art. 121 do Código Penal, que, por sua vez, têm natureza subjetiva (STJ; HC 171652 / SP; 5ª Turma; DJe 23/10/2012)

Latrocínio (art. 157, § 3o, in fine)

Roubo Art. 157, do CP - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

§ 3º (...) se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.

Extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o)

Extorsão Art. 158 do CP - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa:

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior. § 3º (...) se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente. O crime de sequestro relâmpago é hediondo?

(art. 158, § 3o do CP)

Extorsão mediante sequestro na forma simples e na sua forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lo, 2o e 3o)

Extorsão mediante seqüestro

Art. 159 do CP - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:

Pena - reclusão, de oito a quinze anos. § 1o Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha. Pena - reclusão, de doze a vinte anos.

§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. § 3º - Se resulta a morte:

Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. § 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.

Estupro na forma simples, na forma qualificada (art. 213, caput e §§ 1o e 2o) e estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o) Estupro

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. § 2o Se da conduta resulta morte:

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos

Estupro de vulnerável

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.

§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.

§ 4o Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

Epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o)

Epidemia

Art. 267 - Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos: Pena - reclusão, de dez a quinze anos. § 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro.

Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais

(art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B,)

Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais:

Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa.

§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda, tem em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado. § 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere este artigo os medicamentos, as matérias-primas, os insumos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de uso em diagnóstico.

§ 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas no § 1º em relação a produtos em qualquer das seguintes condições:

I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente; II - em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior; III - sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização; IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade; V - de procedência ignorada; VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente.

Genocídio (arts. 1o, 2o e 3o da Lei no 2.889/56)

O tipo penal do delito de genocídio protege, em todas as suas modalidades, bem jurídico coletivo ou transindividual, figurado na existência do grupo racial, étnico ou religioso, a qual é posta em risco por ações que podem também ser ofensivas a bens jurídicos individuais, como o direito à vida, a integridade física ou mental, a liberdade de locomoção etc..?

(STF; RE 351487 / RR; Tribunal Pleno; DJ 10-11-2006) Compete ao tribunal do júri da Justiça Federal julgar os delitos de genocídio e de homicídio ou homicídios dolosos que constituíram modalidade de sua execução?

(STF; RE 351487 / RR; Tribunal Pleno; DJ 10-11-2006)

Tentativa e consumação

Se o crime for apenas tentado, também será considerado hediondo?

(Art. 1o, da Lei 8.072/90)

O fato de o iter criminis não ter sido todo percorrido, configurando a forma tentada, afasta o caráter hediondo dos delitos?

(STJ; HC 220978 / RJ; 5ª Turma; DJe 23/10/2012)

Taxatividade do rol

O rol de crimes considerados como hediondos pela Lei 8.072/90 é taxativo? O crime de lavagem de capitais, delito autônomo em relação aos delitos que o antecedam, está inserido no rol dos crimes hediondos? Considera-se crime hediondo o homicídio culposo na condução de veiculo automotor, quando comprovada a embriaguez do condutor?

Tratativa dada aos crimes hediondos Inafiançabilidade (Art. 2º, II, da Lei 8.072/90)

Cabe liberdade provisória sem fiança?

O Plenário Virtual da Corte Suprema reconheceu a possibilidade de concessão de liberdade provisória sem fiança a agentes presos em flagrante pelo cometimento de crimes hediondos e equiparados (STJ; HC 242524 / MG; 5ª Turma; DJe 23/08/2012).

O que deve estar presente para se manter a prisão na hipótese de crime hediondo ou equiparado?

Embora incida sobre os crimes hediondos e a eles equiparados a vedação constitucional insculpida no art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, que proíbe a fiança àqueles que praticam delitos dessa natureza, tal óbice não impede que o magistrado, diante do caso concreto, vislumbrada flagrante ilegalidade ou desnecessidade da medida, afaste a segregação cautelar (STJ; HC 233626 / PA; 5ª Turma; DJe 19/09/2012)

Insuscetíbilidade de graça, anistia e indulto (Art. 2º, I, da Lei 8.072/90)

Os crimes hediondos são insuscetíveis de anistia, graça ou indulto?

O que é graça?

É o “perdão estatal” dado pelo Presidente da República, por meio de decreto, que é

concedida de forma individual e é causa de extinção da punibilidade.

O que é anistia?

Trata-se de atribuição do Congresso Nacional (Art. 21, XVII, e 48, VIII, da CF/88) que por meio de lei federal pode simplesmente extinguir a punibilidade e todos os efeitos de natureza penal deixam de existir.

O que é indulto?

É o “perdão estatal” dado pelo Presidente da República (art. 84, XII, da CF/88), por meio de decreto, que é concedida de forma genérica e é causa de extinção da punibilidade. A referência na Lei à impossibilidade de indulto é inconstitucional?

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que o instituto da graça, previsto no art. 5.º, inc. XLIII, da Constituição Federal, engloba o indulto e a comutação da pena, estando a competência privativa do Presidente da República para a concessão desses benefícios limitada pela vedação estabelecida no referido dispositivo constitucional (STF; HC 115099 / SP; 2ª Turma; 13-03-2013)

O que é comutação?

É possível ser concedida aos que cometeram crimes hediondos?

Trata-se de indulto parcial, que extingue parte da pena.

Regime inicial de cumprimento da pena (Art. 2, § 1o da Lei 8.072/90) A pena por crimes hediondos será cumprida em regime integralmente fechado? Obs¹: em 1990 o regime era integralmente fechado, não havia progressão. A partir de 2007, apenas começa em regime fechado, podendo haver progressão de regime.

Pode ser fixado regime inicial diverso do fechado para os que cometerem crimes hediondos?

O Supremo Tribunal Federal declarou incidentalmente a inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º da Lei n.º 8.072/90 (redação dada pela Lei nº 11.464/07), e afastou a obrigatoriedade Do regime inicial fechado para os crimes hediondos e equiparados (STJ; HC 274245 / MG; 5ª Turma; DJe 22/08/2013).

O que deve o juiz analisar para a fixação

inicial do regime?

Deve haver motivação idônea para a fixação de regime diverso do previsto no art. 33, §§ 2º e 3º, do Código Penal:

Art. 33, § 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso:

a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado; b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto; c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.

Art. 33, § 3º - A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á com observância dos critérios previstos no art. 59 deste Código (STJ, HC 235182 / ES, Ministra LAURITA VAZ (DJe 01/08/2013)

Progressão de regime (Art. 2, § 2o da Lei 8.072/90)

A progressão de regime, no caso dos condenados pela prática de crimes hediondos ou equiparados, dar-se-á após o cumprimento de dois quintos da pena, se o apenado for primário, e de três quintos, se reincidente?

Súmula Vinculante no 26/STF: “Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico.”

Em um crime não hediondo, quanto é necessário cumprir da pena para a progressão de regime? A progressão de regime, no caso dos condenados pelos crimes previstos na Lei n° 8.072/90, ocorre após o cumprimento de 1/6 (um sexto) se o condenado for primário, e de 2/5 (dois quintos), se reincidente?

A progressão de regime, no caso dos condenados pela prática de crimes hediondos ou equiparados, ocorre após o cumprimento de dois quintos da pena, se o apenado for primário, e de dois terços, se for reincidente? Considere que um indivíduo, reincidente, seja condenado, definitivamente, a quinze anos de reclusão em regime inicial fechado, devido à prática de crime hediondo. Nessa situação, é correto afirmar que esse indivíduo somente progredirá de regime do cumprimento da pena após cumprir nove anos de reclusão?

O que é ser reincidente? Serve qualquer reincidência?

O § 2º do art. 2º da Lei n.º 8.072/90, modificado pela Lei n.º 11.464/2007, não faz distinção entre reincidência comum ou específica, devendo, portanto, incidir a fração de 3/5 a todos os agentes reincidentes, independentemente da natureza do delito antes cometido (STJ; HC 264841 / RJ; DJe 12/06/2013)

Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da vigência da Lei n. 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a progressão de regime prisional (1/6)?

Súmula 471/STJ Para efeito de gerar reincidência, é irrelevante que o delito antecedente tenha ocorrido antes da vigência da Lei 11.464/2007, bastando, para a aplicação desse novo regramento, que o crime no qual se pretende a progressão, seja praticado na sua vigência?

(STJ; HC 200249 / MS; 5ª Turma; DJe 24/06/2013)

Apelação (Art. 2, § 3o da Lei 8.072/90)

É vedada a apelação em liberdade? Segundo o STF, essa fundamentação será feita nos requisitos da prisão preventiva. Sobre a Lei n° 8.072/90, é sempre obrigatório o recolhimento do réu à prisão, em caso de sentença condenatória?

Prisão temporária (Art. 2, § 4o da Lei 8.072/90)

de 30 dias + 30 dias (os demais crimes 5 + 5)

A prisão temporária nos crimes hediondos

terá o prazo improrrogável de 10 (dez) dias?

Livramento condicional

Deve ter cumprido 2/3 da pena e não ser reincidente específico.

Delação premiada (X9) Art. 8º, da Lei 8.072/90:

Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.

Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.