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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL CRIOCIRURGIA CUTÂNEA E SUA RELAÇÃO COM A EPINEFRINA NA ANESTESIA LOCAL EM CÃES: ALTERAÇÕES HISTOPATOLOGICAS Marcelo Seixo de Brito e Silva Orientadora: Prof. Dra. Neusa Margarida Paulo GOIÂNIA 2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

CRIOCIRURGIA CUTÂNEA E SUA RELAÇÃO COM A EPINEFRINA

NA ANESTESIA LOCAL EM CÃES: ALTERAÇÕES HISTOPATOLOGICAS

Marcelo Seixo de Brito e Silva Orientadora: Prof. Dra. Neusa Margarida Paulo

GOIÂNIA 2007

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MARCELO SEIXO DE BRITO E SILVA

CRIOCIRURGIA CUTÂNEA E SUA RELAÇÃO COM A

EPINEFRINA NA ANESTESIA LOCAL EM CÃES: ALTERAÇÕES

HISTOPATOLÓGICAS

Dissertação apresentada para obtenção do grau de Mestre em Ciência Animal junto à Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás

Área de Concentração: Patologia, Clínica e Cirurgia Animal Orientadora: Prof. Dra. Neusa Margarida Paulo EV/UFG Comitê de OrientaçãoProf. Dr. Luiz Augusto Batista Brito EV/UFG Prof. Dr. Eugênio Gonçalves de Araújo EV/UFG

GOIÂNIA

2007

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ESPAÇO PARA FOLHA DE APROVAÇÃO

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Dedico esse trabalho à minha mãe

Anete, por tudo que tenho na vida e aos

meus irmãos Alessandra e Demétrius,

por incentivarem e contribuírem para a

realização dos meus ideais.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me dado a graça de me interessar pelos animais, pela

pesquisa e pela docência.

Aos meus sobrinhos Victor, Igor e Gabriel, pela alegria que me dão.

A professora. Neusa Margarida Paulo pela orientação, confiança,

amizade, e por ter acreditado em mim permitindo que eu caminhasse sozinho,

embora estivesse sempre presente.

A minha grande amiga Liliana Borges de Menezes pela orientação e

apoio em todas as fases do projeto, uma pessoa sem a qual o mesmo não se

realizaria.

Ao professor Ronaldo Lucas pela amizade, apoio, orientação e por ter

me mostrado e ensinado a gostar de criocirurgia.

Ao meu co-orientador Prof. Luiz Augusto Batista Brito pela disposição

em auxiliar.

A professora Maria Clorinda Soares Fioravanti que esteve sempre à

disposição para ajudar.

As minhas amigas do PCC, Andréia Vitor Couto do Amaral e Kellen de

Sousa Oliveira pela amizade de muitos anos e apoio durante o período desta

pós-graduação.

Ao professor Luiz Fernando Froes Fleury, pela valiosa orientação.

Aos novos e grandes amigos feitos na pós-graduação, Marina Pacheco

Miguel e Leila Maria Leal Parente pela ajuda que nunca me foi negada.

A Médica Veterinária Daniella Lemes Ramos pelo apoio e compreensão

nos momentos de dificuldade.

Ao professor Eugênio Gonçalves de Araújo que me ajudou sempre que

solicitado.

A minha amiga Ingrid Bueno Atayde, pela valiosa ajuda com a língua

inglesa e apoio durante todo o tempo.

A todos os funcionários do Hospital Veterinário por estarem sempre

dispostos a me ajudar, mas principalmente o funcionário Carlito.

Otávio Cavalcante Barros por auxiliar com a confecção das lâminas.

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A amiga Rachel Soares Juliano por auxiliar com a realização da

estatística deste trabalho.

Aos acadêmicos, Carolina Silva Ramos, Flavia Gontijo de Lima e Gilvan

Cabral que tanto ajudaram na execução dos procedimentos cirúrgicos.

Aos colegas com os quais tive a oportunidade de conviver: Rafael

Costa, Anuzia Barini, Augusto Moscardini, Vanessa Silvestre, Ediane Batista

da Silva e Ursula Raueker

À Escola de Veterinária e ao Programa de Pós-Graduação em Ciência

Animal que permitiram a realização deste trabalho.

Aos animais que contribuíram para a realização deste experimento.

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“A sabedoria não nos é dada. É preciso

descobri-la por nós mesmos, depois de

uma viagem que ninguém nos pode

poupar ou fazer por nós“

Marcel Proust

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................................ 2 2.1 Histórico ........................................................................................................... 2 2.2 Mecanismos indutores da necrose tecidual na criocirurgia .............................. 4 2.2.1 Fase imediata................................................................................................ 5 2.2.2 Fase retardada .............................................................................................. 5 2.2.3 Fase tardia .................................................................................................... 6 2.3 Agentes criogênicos......................................................................................... 6 2.4 Equipamentos utilizados .................................................................................. 7 2.5 Temperatura de congelamento ...................................................................... 10 2.6 Vantagens e desvantagens da crioterapia ..................................................... 11 2.7 Indicações ...................................................................................................... 12 2.8 Anestesia local ............................................................................................... 12 2.8.1 Lidocaína..................................................................................................... 12 2.8.2 Epinefrina .................................................................................................... 13 3 OBJETIVOS...................................................................................................... 15 3.1 Objetivos gerais ............................................................................................. 15 3.2 Objetivos específicos ..................................................................................... 15 4 MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................. 16 4.1 Local de realização ........................................................................................ 16 4.2 Avaliação e escolha dos animais ................................................................... 16 4.3 Procedimento cirúrgico .................................................................................. 16 4.3.1 Colheita das amostras................................................................................. 20 4.4 Fixação e processamento das amostras........................................................ 21 4.5 Avaliação histológica das amostras ............................................................... 21 4.5 Procedimentos estatísticos ............................................................................ 23 5 RESULTADOS.................................................................................................. 24 5.1 Manejo dos animais ....................................................................................... 24 5.2 Aspectos histopatológicos .............................................................................. 25 6 DISCUSSÃO..................................................................................................... 35 7 CONCLUSÕES................................................................................................. 41 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 42 ANEXOS .............................................................................................................. 46

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LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Aparelho de criocirurgia modelo Cryac®. ..............................................3 FIGURA 2 Zaragatoa para pequenas lesões

Fonte: www.cryac.com.br/.................................................................. 8 FIGURA 3 Ponteira para spray

Fonte: www.cryac.com.br/.................................................................. 8 FIGURA 4 Cryochamber para contenção do spray de nitrogênio. Fonte: www.cryac.com.br/................................................................... 8 FIGURA 5 Sonda metálica para criocirurgia. Fonte: www.cryac.com.br/................................................................... 8 FIGURA 6 Esquema das diferentes temperaturas encontradas na área de

congelamento durante a criocirurgia. .................................................9 FIGURA 7 Área de tricotomia com máquina de tosa .......................................... 18 FIGURA 8 Local demarcado sendo anestesiado com lidocaína, pela técnica de

botão anestésico ............................................................................... 18 FIGURA 9 Área de tricotomia demarcada com lápis dermográfico,

identificando os locais alternados das colheitas...............................19 FIGURA 10 Congelamento pelo método de Spray por um minuto do local

demarcado e anestesiado. ...............................................................19 FIGURA 11 Representação dos sítios de colheitas alternadas (seta) e

cicatrização entre duas já colhidas (19º dia após o congelamento)..................................................................................20

FIGURA 12 Detalhe da ferida cicatrizada no 9º dia após o congelamento

(Seta), Nota-se ainda a sutura de ferida de biópsia do quarto dia (Seta vazada). ..................................................................................24

FIGURA 13 Fotomicrografia cutânea do cão número seis, quarto dia após

congelamento: A - Área de transição entre a epiderme íntegra e a necrosada após criocirurgia (seta), lado direito do animal - LCE, HE (400X). B - Aspectos microscópicos característicos da necrose da epiderme com ausência de núcleos e manutenção do arcabouço celular após criocirurgia (seta) e presença de edema na derme superficial (seta vazada), lado esquerdo - LSE, HE (400X). C - Detalhe da derme profunda com os folículos pilosos necrosados (seta), a epiderme também aparece necrosada, lado direito - LCE, HE (100X). D - Detalhe da descamação da camada

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córnea durante a fixação (seta), a epiderme está necrosada e a derme superficial e profunda edemaciadas (seta vazada), lado direito do animal - LCE (400X). ........................................................26

FIGURA 14 Fotomicrografia cutânea de amostra do lado direito - LCE – cão

número dois no quarto dia após a criocirurgia. Notar a degeneração da epiderme. HE (12X)..............................................27

FIGURA 15 Fotomicrografia cutânea da amostra do cão número três, 9º dia

após criocirurgia do lado direito - LCE: A – Detalhe das fibras musculares necrosadas, HE (100X). B - Detalhe das fibras musculares com degeneração hialina (seta) e reação de granulação (circulo), HE (400X). C - Necrose dos folículos pilosos e glândulas anexas (seta), HE (400X). D - Detalhe de uma reação purulenta com infiltrado neutrofílico (seta) e cariorrexe (retângulo), HE (400X) .....................................................................28

FIGURA 16 Fotomicrografia cutânea da amostra do cão número um, ao 9º dia

após a criocirurgia. Evidenciando a presença de úlcera da epiderme (seta) e restos de material necrótico na superfície (seta vazada) Lado direito LCE HE (12X). ................................................29

FIGURA 17 Fotomicrografia cutânea da amostra do cão número um, no 19º

dia após a criocirurgia, evidenciando a formação de cicatriz e espessamento da epiderme (seta). Lado direito LCE. HE (12X).....30

FIGURA 18 Fotomicrografia cutânea da amostra do cão número um, no 19º

dia após a criocirurgia, evidenciando a formação de cicatriz e espessamento da epiderme (seta). Lado esquerdo LSE. HE (12X) ................................................................................................31

FIGURA 19 A - Fotomicrografia cutânea da amostra do cão número dois, no

19º dia após criocirurgia, lado direito - LCE, aspectos microscópicos característicos de uma reação fibrosa, HE (400X); B - Amostra do cão número dois, no 19º dia após criocirurgia, lado direito - LCE, detalhe de uma reação fibrovascular com presença de fibroblastos (seta cheia) e neovascularização (seta vazada), HE (400X); C - Amostra do cão número quatro, no 19º dia após criocirurgia, lado esquerdo - LSE, detalhe de uma reação vascular acentuada com grande formação de neovascularização na derme papilar (seta), HE (400X); D - Amostra do cão número seis, no 19º dia após criocirurgia, lado direito- LCE, detalhe de uma reação fibrosa na derme papilar com predominância de fibroblastos e fibras colágenas, HE (400X). .............................................................................................31

FIGURA 20 Avaliação das lesões da derme quanto ao tipo de reação tecidual

em amostras colhidas nos animais no 19º dia após o congelamento, lado esquerdo – LSE. ..............................................34

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FIGURA 21 Avaliação das lesões da derme quanto ao tipo de reação tecidual em amostras colhidas nos animais no 19º dia após o congelamento, lado direito – LCE. ...................................................34

FIGURA 22 Presença ou ausência de necrose, degeneração e hiperplasia nos

lados direito (LD) e esquerdo (LE) 96 horas após a criocirurgia. Evidenciando a ausência de alterações entre os tratamentos. ........48

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Freqüência do tipo de alteração histológica das lesões da epiderme

quanto à presença ou ausência de degeneração, necrose e hiperplasia tecidual entre as amostras de pele de cães submetidos a criocirurgia com uso de anestesia local com ou sem vasoconstritor.................................................................................... 32

TABELA 2 Freqüência do tipo de reação tecidual no 19º dia das lesões da

derme entre as amostras de pele de cães submetidos a criocirurgia com uso de anestesia local com ou sem vasoconstritor.................................................................................... 33

TABELA 3 Freqüência da reação fibrovascular nas amostras avaliadas

histologicamente no 19º dia após criocirurgia com anestesia local com epinefrina e sem epinefrina...................................................... 48

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LISTA DE QUADROS QUADRO 1 Localização, identificação, tipo de tratamento e métodos de

avaliação dos pares de feridas anestesiadas e congeladas nos seis animais do grupo experimental ............................................... 18

QUADRO 2 Classificação e critérios de avaliação das alterações histológicas

encontradas na epiderme após congelamento por nitrogênio. ....... 22 QUADRO 3 Classificação e critérios de avaliação das alterações histológicas

encontradas na derme após congelamento por nitrogênio............. 22 QUADRO 4 Avaliação histopatológica das lesões da derme quanto ao tipo de

reação tecidual avaliado nas amostras colhidas nos animais no 19º dia após o congelamento. ........................................................ 33

QUADRO 5 Avaliação histopatológica das lesões da epiderme quanto à

presença de degeneração, necrose e hiperplasia das células da epiderme entre as amostras colhidas da ferida controle no quarto dia após o congelamento................................................................ 46

QUADRO 6 Avaliação histopatológica das lesões da epiderme quanto à

presença ou ausência de degeneração, necrose e hiperplasia entre as amostras colhidas no quarto dia após o congelamento. ... 46

QUADRO 7 Avaliação histopatológica das lesões da epiderme quanto à

presença ou ausência de degeneração, necrose e hiperplasia das células da epiderme entre as amostras colhidas no nono dia após o congelamento. .................................................................... 46

QUADRO 8 Avaliação histopatológica das lesões da epiderme quanto à

presença ou ausência de degeneração, necrose e hiperplasia das células da epiderme entre as amostras colhidas no 19º dia após o congelamento. .................................................................... 47

QUADRO 9 Avaliação histopatológica das lesões da derme quanto ao tipo de

reação tecidual entre as amostras colhidas no quarto dia após o congelamento. ................................................................................ 47

QUADRO 10 Avaliação histopatológica das lesões da derme quanto ao tipo de

reação tecidual entre as amostras colhidas no nono dia após o congelamento. ................................................................................ 47

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RESUMO

Atualmente a literatura científica tem apresentado cada vez mais trabalhos relacionados com a utilização da criocirurgia em Medicina Veterinária. O presente trabalho teve como objetivo avaliar fatores que podem influenciar na área de necrose e considerando a existência de anestésicos associados ou não a epinefrina, qual seria a influência da utilização de epinefrina no procedimento anestésico local, para a criocirurgia cutânea com um ciclo de congelamento, e qual seu efeito na celularidade tecidual estimada por histopatologia. Para tanto, utilizou-se seis cães adultos, machos, sem raça definida, em cujos dorsos foram demarcadas duas linhas de tricotomia com a marcação de cinco pontos em cada lado que foram anestesiados localmente. Do lado direito utilizou-se lidocaína a 1% com epinefrina 1:200.000 e do lado esquerdo foi aplicado lidocaína 1% sem vasoconstritor sendo feito o congelamento dos quatro primeiros pares de locais anestesiados com a aplicação de nitrogênio por spray, em um ciclo de congelamento de 60 segundos. O quinto par anestesiado não foi congelado e serviu como controle do efeito dos protocolos anestésicos locais sobre a pele. A colheita deste par foi feita no quarto dia após a aplicação do anestésico local. Os outros quatro pares congelados foram avaliados histologicamente no quarto, nono e 19º dias. O último par foi avaliado macroscopicamente no 25º dia. As amostras foram estimadas durante a evolução do processo cicatricial. A progressão das alterações teciduais foi ordenada e consistente envolvendo um processo inflamatório, proliferação e migração de células teciduais conjuntivas, formação de novos vasos sanguíneos e tecido de granulação com deposição de colágeno e remodelação tecidual. Foi possível concluir, nas condições que foi realizado esse trabalho, que histologicamente para o mesmo período de tempo em ambos os protocolos anestésicos locais propostos, a reação tecidual local foi semelhante, com edema, necrose, granulação e epitelização e não houve diferença na cicatrização de lesões cutâneas causadas por nitrogênio líquido aplicado em spray quando a anestesia local é feita pela aplicação de lidocaína ou lidocaína associado à epinefrina 1:200.000. Palavras chave: cão, cicatrização, congelamento, histologia, lidocaína.

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ABSTRACT

CUTANEOUS CRYOSURGERY AND RELATION WITH THE EPINEFRINE IN DOGS LOCAL ANESTHESIA: HISTOPATOLOGIC ALTERATIONS

Current literature has presented a crescendo of scientific papers on the use of cryosurgery in veterinary medicine. This study had the scope of evaluating some factors which may influence the area of necrosis. It also aimed to assess, considering the use of anesthetic agents associated or not to epinephrine, the influence of epinephrine on the local anesthetic procedure on cryosurgery with one cycle of freezing, as well as its effects on tissue cells, estimated by histopathology. Six adult, male, mongrel dogs had their dorsum marked by two lines of tricotomy, and were marked on five points in each side, which underwent local anesthesia. On the right side 1% lidocaine associated to epinephrine 1:200.000 was employed, whereas on the left side 1% lidocaine with no vasoconstrictor was used. The four cranial pairs were frozen by nitrogen spray in a 60 seconds cycle. The fifth pair was not frozen and served as control of the effects resulting from the anesthesia protocol on the skin; this pair was collected on the forth day after the use of the local anesthetics. The four remaining pairs were evaluated, by histology, on the fourth, ninth and nineteenth day, and, on the 25th (twenty-fifth day), the last pair was evaluated macroscopically. The samples were evaluated along the evolving of the healing process. The progression of the tissues alterations was an orderly and consistent healing, also involving the induction of inflammatory process, proliferation and migration of conjunctive-tissue cells, forming of new blood vessels and granulation tissue with collagen deposition and tissular remodeling. It was concluded, considering the environment in which this study was carried, that in histological means, during the same period of time in both local anesthetic protocols, the local tissue reaction was alike, presenting edema, necrosis, granulation and epithelization. Also there was no difference in the healing of cutaneous lesions due to sprayed liquid nitrogen neither in local anesthesia by plain lidocaine, nor by lidocaine associated to epinephrine 1:200.000. Key words: dog, freezing, healing, histology, lidocaine

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1 INTRODUÇÃO

A utilização do frio como medida terapêutica é muito antiga, tendo sido

referida na literatura médica que antecede a era cristã, por Homero (900 a.C.) e

Hipócrates (400 a.C.) que descreveram os efeitos benéficos do frio no controle

local de hemorragias e na diminuição de edemas quando do tratamento de feridas

(PODKONJAK, 1982).

O conhecimento de diferentes técnicas de congelamento permite tanto

a preservação de tecidos como medula óssea, gametas e sangue, bem como a

destruição por congelamento conhecida como criocirurgia (LUCAS, 1999).

MAYERS & DONOVAN (1981) avaliaram o efeito da lidocaína

associada à epinefrina como anestésico local e seu efeito no tamanho das lesões

provocadas por criocirurgia em suínos, encontrando grande variação no diâmetro

das lesões. Os autores ainda demonstraram que o protocolo anestésico também

é um fator a ser avaliado quando da definição da área a ser tratada.

SOARES & COSTA (1999) verificaram que as reações colaterais

cutâneas pós-anestésicas foram determinantes com relação à associação da

base anestésica com vasoconstritor e que os maiores graus de lesões foram

proporcionais à sua concentração. Atualmente a literatura científica tem apresentado cada vez mais

trabalhos relacionados com a utilização da criocirurgia em Medicina Veterinária,

levando-se em conta a necessidade de estimar com precisão a área de necrose

para evitar a morte celular desnecessária ou então o risco de não se destruir a

totalidade da lesão.

O presente trabalho teve como objetivo avaliar fatores que podem

influenciar a área de necrose cutânea e, considerando a existência de

anestésicos associados ou não a epinefrina, qual seria a influência da utilização

de epinefrina no procedimento anestésico local, para a criocirurgia cutânea com

um ciclo de congelamento e qual seu efeito na celularidade tecidual estimada por

histopatologia.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Histórico

No ano de 70 d.C. Cornélio Celso foi o primeiro a descrever lesões

provocadas pelo frio, classificando-as desde graus leves até a gangrena. Galeno

mencionou a diminuição de sensibilidade após lesões induzidas pelo frio em seu

manuscrito intitulado ”Dor como meio de diagnóstico” (MARQUES, 1989).

Em 1845, James Arnott foi o pioneiro na recomendação da anestesia

dita “pelo frio” (hipotermia), recomendando ainda o uso de uma mistura de gelo e

sal, que atingia temperaturas de -10ºC, para o tratamento de neoplasias

inoperáveis nas regiões cervical e torácica. White em 1899 descreveu a utilização

de “ar liquefeito” para o tratamento de lesões de pele como lúpus, epiteliomas e

cancróides (PODKONJAK, 1982).

Os nazistas utilizaram a hipotermia sem prévia anestesia em

prisioneiros de campos de concentração e, em função disso, houve uma

associação natural da criocirurgia às atrocidades nazistas, o que levou ao atraso

na evolução de procedimentos crioterápicos (PODKONJAK, 1982; MARQUES,

1989). A criocirurgia moderna teve início após a associação do médico Irving

Cooper e do engenheiro Arnold Lee, que desenvolveram um equipamento capaz

de acondicionar e direcionar por meio de sondas, quantidades controladas de

nitrogênio líquido podendo congelar com precisão diversos tecidos. Este aparelho

serviu de protótipo para diversos outros modelos, como o desenvolvido em 1968

pela empresa Brimill Co. Teve então origem o primeiro modelo comercial, que

daria origem ao Cry-ac® (Figura 1), que hoje é o modelo mais utilizado

mundialmente (KUFLIK et al., 2000).

Atualmente diversas técnicas permitem a utilização da criocirurgia para

eliminação de vários tipos de tecidos em diferentes partes do organismo

(MARQUES, 1989; LUCAS, 1999).

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FIGURA 1- Aparelho de criocirurgia

modelo Cryac®.

A criocirurgia foi a primeira técnica pouco invasiva para o tratamento de

lesões neoplásicas, o que levou a um aumento da sua utilização nas décadas de

60 e 70. Por outro lado a dificuldade em definir as margens de segurança tecidual

causaram um grande número de recidivas, que contribuíram para a restrição da

sua utilização na década de 80 apenas para terapias dermatológica e

ginecológica. Com o desenvolvimento de modelos matemáticos e técnicas de

diagnóstico por imagem, como ultrasonografia, tomografia e ressonância

magnética houve o ressurgimento do interesse pela técnica de aplicação do frio

como medida terapêutica (RUBINSKY et al., 1995; KUFLIK et al., 2000;

SANDISON, 2002; ESCUDERO et al., 2003; MALA et al., 2003; LUCAS, 2004).

Em Medicina Veterinária, até meados do século passado eram raros os

trabalhos relativos ao uso de agentes crioterápicos em lesões evidenciadas.

Farrel em 1978 aplicou sob bandagem, um fragmento de gelo seco na pele de um

cão para avaliar um possível controle da dor, mas observou uma despigmentação

pilar. Histologicamente os folículos continuaram intactos, por isso o autor sugeriu

a denominação de criocirurgia homocelular (PODKONJAK, 1982; KUFLIK et al.,

2000). Essa técnica ficou conhecida por ser utilizada como forma de marcação

para identificação de animais. No Brasil LUCAS (1999) utilizou com sucesso em

cães e gatos, diferentes técnicas crioterápicas em uma grande variedade de

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afecções dermatológicas, principalmente as neoplásicas, demonstrando a

efetividade dessa modalidade terapêutica.

2.2 Mecanismos indutores da necrose tecidual na criocirurgia

O objetivo da criocirurgia é a destruição das células anormais

encontradas na área tecidual alvo, com um mínimo dano à área adjacente e ao

tecido considerado normal (HOYT & SEIM lll, 1981). Muitas teorias têm sido

propostas para elucidação do mecanismo de morte tecidual pela criocirurgia. A

mais estudada e comprovada é a da lesão celular direta, na qual a baixa

temperatura provocaria danos às organelas celulares levando à morte celular.

Outro mecanismo envolve as alterações vasculares no tecido congelado e uma

terceira hipótese levantada seria uma possível estimulação imunológica causada

por antígenos intracelulares apresentados após a destruição celular (HOFFMANN

& BISCHOF, 2002). Também está presente nos mecanismos indutores de morte

celular por crioterapia a apoptose, que tem início após oito horas, sendo

encontrada na periferia da área de congelamento. Isso ocorreria em áreas onde a

temperatura não seria capaz de promover a necrose imediata, mas mesmo assim

causam morte celular alguns dias após o congelamento, por um mecanismo ainda

não bem definido (BAUST & GAGE, 2005).

Paradoxalmente pode-se utilizar o frio para duas atividades

antagônicas: conservação e destruição de tecidos. Segundo COOPER (1963) a

criocirurgia foi conceituada com o sendo a aplicação de frio para fins terapêuticos,

objetivando o congelamento de tecidos e assim causando inibição fisiológica ou

destruição tecidual. Já GOLDSTEIN & HESS (1977) a caracterizaram como um

procedimento no qual haveria destruição seletiva de tecidos quando da

interposição em alternância de ciclos de congelamento e descongelamento. De

acordo com GAGE & BAUST (1998) e HOFFMANN & BISCHOF (2002), os

mecanismos de morte celular induzida pelo frio podem ser divididos em três

fases: imediata, retardada e tardia.

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2.2.1 Fase imediata

A fase imediata ocorre durante o ciclo de congelamento, ou

imediatamente após o descongelamento. Durante esta fase alguns modos de

destruição celular acontecem provavelmente de forma simultânea, podendo ser

observados os seguintes eventos:

Formação de cristais de gelo extra ou intracelulares que levam a

alterações na osmolaridade. Após esse evento há desidratação tecidual pela

extração de água do meio intracelular para o meio extracelular seguindo-se à

desnaturação de proteínas, que ocorre por ação direta da temperatura nos

constituintes lipo-protéicos das células, destruindo assim as membranas

celulares, provavelmente em todos os níveis, incluindo as membranas

mitocondriais e nucleares (PODKONJAK, 1982; HOFFMANN & BISCHOF, 2002).

2.2.2 Fase retardada

Na fase retardada a morte celular ocorre devido a estase circulatória

algumas horas após o congelamento. Ela é mais estudada em lesões causadas

pela neve e congelamento de extremidades, sendo desencadeada principalmente

pela parada da circulação e conseqüente anóxia (GAGE & BAUST, 1998). A

perda do suprimento sanguíneo leva à necrose uniforme poupando apenas a

periferia da região previamente congelada (GAGE & BAUST, 1998; HOFFMANN

& BISCHOF, 2002). A área com deficiência de perfusão é sempre menor que a

área congelada, e será ainda menor se próximo a ela houver uma artéria

(MARQUES, 1989). Histologicamente este processo se assemelha a um infarto

com uma tênue linha entre o tecido normal e o que foi congelado. A

microcirculação é comprometida, mas as grandes artérias manterão sua função

mesmo após o congelamento (WITHROW, 1982).

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2.2.3 Fase tardia

A ocorrência de uma reação imunológica durante a fase tardia surgiria

com a formação de anticorpos antineoplásicos, resultantes da criocirurgia que

alteraria a constituição antigênica celular. Este fato é de especial interesse no

tratamento das neoplasias, sendo citado por diversos autores (GAGE & BAUST,

1998; DAWBER et. al., 1999; KUFLIK et. al., 2000; BAUST & GAGE, 2005).

2.3 Agentes criogênicos

Agentes criogênicos são gases que convertidos a seu estado líquido

têm a capacidade de extrair calor de tecidos vivos. Esta propriedade varia de

acordo com o modo de aplicação e com o agente utilizado. Distintos gases

atingem diferentes temperaturas ou pontos de ebulição. O criógeno mais

freqüentemente utilizado é o nitrogênio líquido. O óxido nitroso, dióxido de

carbono, “freons”, oxigênio e o propano líquido são substâncias que foram

abandonados devido ao seu risco durante a manipulação e por induzirem

temperaturas pouco agressivas (DAWBER et. al., 1999; LUCAS, 1999).

O nitrogênio líquido é o agente mais utilizado na criocirurgia em todo o

mundo. Seu ponto de ebulição é alcançado a uma temperatura de -195,8°C. É

incolor, inodoro, não inflamável, atóxico e inerte. Pode ser utilizado com um

mínimo de precauções, que incluem: não manipular metais congelados pelo

nitrogênio, não acondicioná-lo em recipientes selados que não sejam aqueles

apropriados e principalmente, não ter contato direto com o líquido. O seu

acondicionamento deve ser feito em botijões apropriados, com capacidade de

armazenamento de 10 a 50 litros do líquido. O seu custo de aquisição é o menor

dentre todos os agentes crioterápicos e mesmo assim, é um criógeno

extremamente potente, promovendo um congelamento mais rápido em

comparação aos outros (GOLDESTEIN & HESS, 1976; GOLDESTEIN & HESS,

1977; PODKONJAK, 1982; MARQUES, 1989; HOLBERG 1998; DAWBER et. al.,

1999; LUCAS, 1999).

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2.4 Equipamentos utilizados

Os mecanismos para aplicação de nitrogênio incluem normalmente,

zaragatoa (Figura 2), spray, sondas e, com menor freqüência, o derramamento

direto do nitrogênio sobre o tecido (HOLBERG, 1998). Cada lesão deve ser

tratada com o tipo de equipamento mais apropriado, podendo em alguns casos,

serem utilizados mais de um equipamento, dependendo da preferência e

experiência do profissional (DAWBER et. al., 1999).

O spray é o método mais difundido e baseia-se no principio da

volatilização do nitrogênio em recipiente fechado e sua saída por abertura

existente (GOLDSTEIN & HESS, 1977). Tal método permite controlar o fluxo já

que o volume é inversamente proporcional ao diâmetro da abertura que pode ser

modificada de acordo com a necessidade (Figura 3). A velocidade de aplicação é

controlada por um gatilho existente no aparelho (MARQUES, 1989; KUFLIK et. al,

2000). Esta forma de aplicação possibilita o tratamento de lesões dos mais

variados tipos, desde planas a irregulares (LUCAS, 1999).

A aplicação por spray é incluída no sistema aberto de aplicação,

quando o jato é direcionado para a lesão sem nenhum método para contê-lo.

Pode ser classificado como confinado quando se utilizam utensílios para a sua

contenção como cones de neoprene, ou fechado quando da utilização de cones

fechados em uma das extremidades, sendo o excesso expelido por uma saída

lateral (Figura 4). A escolha da ponta e do orifício utilizado varia de acordo com o

tamanho da lesão, sendo que quanto maior a lesão, maior deverá ser o orifício

(MARQUES, 1989; HOLBERG, 1998; LUCAS, 1999; KUFLIK et. al., 2000)

Sondas são compostas por metais por onde circula o nitrogênio

(Figura 5). Sua extremidade congelada é que entrará em contato com a lesão,

podendo ter superfícies planas, arredondadas e até pontiagudas (DAWBER et. al.,

1999). A sonda deve ser colocada ainda em temperatura ambiente em contato

com a lesão, iniciando-se o congelamento. Haverá assim a chamada crioadesão.

Quando houver falha da aderência deve-se suspender o procedimento e reiniciar

o processo. A crioadesão pode ser utilizada para tracionar o tecido, afastando-o

de estruturas importantes como o globo ocular e vasos sanguíneos,

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8

F

FIGURA 2 Zaragatoa para pequenas lesões

Fonte: www.cryac.com.br/

FIGURA 3 PonteiraFonte: w

IGURA 4 Cryochamber para contenção do spay de nitrogênio.

Fonte: www.cryac.com.br/

FIGURA 5 Sondacriocir

Fonte

para spray ww.cryac.com.br/

metálica para urgia. : www.cryac.com.br/

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conseqüentemente lesando apenas o tecido alvo. Quando o halo de

congelamento desejado é atingido, aguarda-se que a sonda se solte para que não

haja lesão tecidual por avulsão. Para vários autores (WITHROW, 1989; DAWBER

et. al., 1999; LUCAS, 1999) o halo de congelamento deve circundar toda a lesão

com uma margem de segurança de 5 milímetros, pois a temperatura diminui do

centro para a borda da área congelada (Figura 6). BAUST et. al(1997)

apresentaram sondas invasivas de pequeno calibre utilizadas em procedimentos

percutâneos delicados, guiadas por monitoramento ultrasonográfico e utilizadas

também em lesões de próstata e de fígado.

Independente do tipo de procedimento crioterápico adotado, em lesões

de grandes dimensões recomenda-se prévia exérese da maior quantidade de

tecido lesionado (shaving). Com isso haverá uma menor quantidade de tecido a

ser congelado, com superfície mais homogênea e com menor tempo requerido

para o congelamento (GOLDESTEIN & HESS, 1977; DAWBER et. al., 1999;

LUCAS, 1999)

LESÃO

FIGURA 6 Esquema dasencontradas nadurante a criocirFonte: Ilustraçwww.aafp.org/af

1 a 5 mm de

Bola de gelo

diferentes temperaturas área de congelamento urgia. ão de David Klemm p/20040515

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2.5 Temperatura de congelamento

Numa temperatura de no mínimo -20ºC, por pelo menos 1 minuto, a

maioria dos tecidos sofrem necrose (PODKONJAK, 1982). Segundo GOLDSTEIN

& HESS (1976) a temperatura a ser atingida para a ocorrência de necrose seria

de no mínimo -25ºC. É difícil precisar uma temperatura como a ideal, já que o

congelamento ocorre de forma distinta nos tecidos, dependendo da concentração

hídrica dos mesmos. Os osteócitos são destruídos a uma temperatura de 0ºC, já

células do epitélio tegumentar e mucosas a -10º. Células de carcinomas

espinocelulares precisariam de uma temperatura de -30ºC (WITHROW 1989; RABIN & SHITZER, 1996). Considera-se que a temperatura de -50ºC é a ideal

para a criocirurgia de tumores malignos (LUCAS, 2004).

Quanto mais rápido for o congelamento, mais intenso será o grau de

crionecrose, e quanto mais lento for o descongelamento, maior será a morte

celular, que no caso de congelamento lento seguido de descongelamento rápido,

haverá menor morte tecidual (GOLDSTEIN & HESS, 1977; PODKONJAK, 1982;

GAGE & BAUST, 1998; HOFFMANN & BISCHOF, 2002; KUFLIK, 2004). Pode-se

considerar o descongelamento como lento quando os tecidos congelados se

descongelam de forma natural em temperatura ambiente, sem artifícios para seu

aquecimento. O tempo que o tecido deve permanecer congelado varia muito entre

os autores, situando-se numa faixa entre 30 segundos a 20 minutos dependendo

do tipo de tecido envolvido (LUCAS, 1999).

PODKONJAK (1982), LUCAS (1999) e HOFFMANN & BISCHOF

(2002) citaram que tecidos com grande aporte sanguíneo como tumores

localizados em regiões ricamente irrigadas ou próximos a grandes vasos,

apresentam um congelamento mais lento e um descongelamento muito mais

rápido. Em casos extremos PODKONJAK (1982) recomenda até a ligadura dos

vasos envolvidos na irrigação da região a ser congelada.

Considera-se o congelamento pelo método do spray, a forma mais

rápida e letal para o tecido alvo, além de ser considerada a que atinge a maior

profundidade durante o procedimento crioterápico (PODKONJAK, 1982;

MARQUES, 1989; HOLBERG, 1998; HOFFMANN & BISCHOF, 2002; LUCAS,

2004).

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2.6 Vantagens e desvantagens da crioterapia

As vantagens e desvantagens da criocirurgia têm sido relacionadas por

diversos autores ao longo dos anos, tanto em Medicina Veterinária como

Humana. Dentre estes, se destacam alguns trabalhos publicados por

GOLDSTEIN & HESS, (1977); PODKONJAK, (1982); MARQUES, (1989); LUCAS

(1999, 2004).

As principais vantagens são: a rapidez da técnica já que o tempo

necessário para a criocirurgia é consideravelmente menor que o utilizado na

exérese cirúrgica tradicional. É uma técnica considerada segura em função de

requerer um curto procedimento anestésico geral, embora em muitos casos se

utilize somente anestesia local. Promove ainda pouca perda de sangue e raras

ocorrências de infecções secundárias, sendo por isso indicada para pacientes

debilitados, idosos ou de risco. Os resultados são cosméticos pelas cicatrizes por

segunda intenção que ocorrem após a criocirurgia, o que permite o seu emprego

em regiões nas quais as suturas são pouco indicadas. As áreas acometidas

podem ser destruídas com um mínimo dano aos tecidos adjacentes (DAWBER et.

al., 1999; GOLOUBEFF & OLIVEIRA, 1999; LUCAS 1999).

As desvantagens da técnica incluem a falta de estética no pós-

operatório imediato, pois o efeito a curto e médio prazo deixa a desejar, em

comparação com a técnica cirúrgica tradicional, devido à formação de crostas,

vesículas, descamação, necrose e o odor exalado após o procedimento. Em

muitos casos pela proximidade da área congelada, ocorrem lesões de nervos,

vasos, tendões, ligamentos e cápsulas articulares bem como a despigmentação

da área congelada, o que pode desagradar aos proprietários. A impossibilidade

de delimitação da margem de segurança comparativamente com a cirurgia

tradicional é um dos principais problemas da criocirurgia (BURLEY, 1995;

DAWBER et. al., 1999; LUCAS 1999; HOFFMANN & BISCHOF, 2002).

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2.7 Indicações

As indicações da criocirurgia citadas na literatura são as mais diversas,

sendo principalmente recomendada para o tratamento de lesões da cavidade oral

como epulis, casos proctológicos, oftalmológicos e dermatológicos, dentre os

quais podemos citar as dermatoviroses e papilomas (GOLDSTEIN & HESS, 1977;

PODKONJAK, 1982; MARQUES, 1989; LUCAS, 1999), piodermites interdigitais e

perianais (LISKA & WITHROW, 1978; PODKONJAK, 1982; LUCAS, 1999),

fístulas perianais e interdigitais (LISKA & WITHROW, 1978; PODKONJAK, 1982;

GOLOUBEFF & OLIVEIRA, 1999; LUCAS, 1999), neoplasias do sistema

tegumentar: adenoma e adenocarcinoma, carcinoma basocelular e espinocelular,

fibroma e fibrosarcoma, hemangioma, hemangiosarcoma, histiocitoma,

mastocitoma, melanoma, sarcoma e tricoepitelioma (WITHROW, 1982; BURLEY,

1995; LUCAS, 1999; SHIBATA et al, 2002). Outras indicações oncológicas

incluem neoplasias como os osteosarcomas e condrosarcomas (ROBINSON et.

al, 2001).

2.8 Anestesia local

2.8.1 Lidocaína

MASSONE (2002) classifica como anestésico local toda substância que

aplicada em concentração adequada, bloqueia de maneira reversível a condução

nervosa.

A lidocaína é uma amida derivada da xilidina, aproximadamente duas

vezes mais potente e mais tóxica quando comparada à procaína. Tem meia vida

em torno de 90 minutos (MALAMED, 2001).

Após o anestésico local ser injetado, há um tempo entre a aplicação e a

sua ação, o que depende entre outros fatores do local de aplicação, já que

regiões ricamente vascularizadas irão apresentar maior nível sérico do agente

anestésico (MASSONE, 1994; MASSONE, 2002).

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A dose anestésica deve ser calculada de acordo com a área e local

eleitos para o procedimento. As mucosas normalmente precisam de doses

ligeiramente maiores para se conseguir o efeito desejado, mas independente da

técnica utilizado não se deve ultrapassar a dose máxima de 7mg/Kg (MASSONE,

2002).

A lidocaína é encontrada sob a forma de cloridrato e possui as

seguintes características: é dez vezes mais potente que a cocaína, tem alto poder

de penetração e promove pouca vasodilatação, possui ação tópica pouco eficaz,

é estável e tem moderada lipossolubilidade (MYERS et. al., 1986; MASSONE,

1994).

Os anestésicos locais do tipo amida são metabolizados pelo fígado,

assim devem ser utilizados com cuidado, especialmente em doses repetidas, em

pacientes com hepatopatias. Reações adversas sistêmicas graves são raras, mas

podem ocorrer na superdosagem ou se houver injeção intravascular acidental. A

toxicidade causada pela lidocaína é similar à observada com outros agentes

anestésicos locais. A acidose acentuada ou hipóxia podem aumentar o risco e a gravidade das reações tóxica (MALAMED, 2001).

2.8.2 Epinefrina

A epinefrina é considerada um potente vasoconstritor, capaz de

estabelecer lesões tissulares resultantes de alteração no fluxo sangüíneo local. A

epinefrina ou adrenalina é um poderoso agonista dos receptores alfa e beta

adrenérgicos, de modo que seus efeitos sobre os órgãos-alvo são complexos e

geralmente variam com a densidade de inervação adrenérgica (MYERS et. al.,

1986). Esse fármaco exerce sua principal ação vascular sobre as arteríolas e os

esfíncteres pré-capilares, embora as veias e as artérias de grande calibre também

respondam ao fármaco. Os vários leitos vasculares reagem de modo diferente,

resultando em redistribuição substancial do fluxo sangüíneo (MALAMED, 2001).

A associação de epinefrina com um anestésico local promove um

aumento do período hábil anestésico, com diminuição da sua absorção. Por isso

deve-se levar em consideração as contra-indicações gerais das diferentes

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técnicas anestésicas locais e regionais. Geralmente a dose de epinefrina

associada aos anestésicos é de 1:200.000, pois doses mais baixas (1:400.000)

não promovem ação vasoconstritora (MASSONE, 1994; 2002).

É importante considerar o grau de vasoconstrição que a epinefrina

provoca na área infiltrada, pois o excesso de vasoconstrição causa isquemia

exagerada e excessivamente prolongada, capaz de provocar alterações tróficas

nos tecidos infiltrados, que podem chegar à necrose (CASOY, 1989; MASSONE,

2002). De modo geral, a concentração de agentes vasoconstritores deve ser

mantida em um nível mínimo eficaz, evitando-se dessa forma os efeitos colaterais

como as isquemias. Assim, o conhecimento e o estudo das reações desejáveis e

indesejáveis desses fármacos tornam-se obrigatórios na prática médica (CASOY,

1989)

A epinefrina é contra-indicada em pacientes com doença cardíaca

grave, particularmente quando a taquicardia está presente. Deve-se evitar o uso

de epinefrina em anestesia nas áreas do corpo supridas por artérias finais ou com

comprometimento do suprimento sanguíneo, como dedos, nariz, ouvido externo,

cauda, etc (MALAMED, 2001; MASSONE, 2002).

MAYERS & DONOVAN (1981) sugeriram que a epinefrina diminui a

perfusão tecidual e retarda o descongelamento da periferia da lesão aumentando

a eficiência da criocirurgia. Em um trabalho realizado em suinos houve uma

variação de até 47% na intensidade da área de necrose pós-criocirurgia cutânea

quando compararam a utilização de lidocaína associada à epinefrina, com

lidocaína sem epinefrina como anestésico local.

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3 OBJETIVOS

3.1 Objetivos gerais

Verificar com o auxilio da histologia o efeito da lidocaína a 1% associada

ou não a epinefrina (1:200.000) na anestesia local pré-operatória, em

criocirurgia cutânea utilizando-se a técnica de spray com um ciclo de

congelamento por 60 segundos.

3.2 Objetivos específicos

Avaliar histologicamente a lesão tecidual nas diversas fases da criocirurgia,

nos diferentes protocolos anestésicos locais propostos.

Comparar a cicatrização tecidual, por histopatologia, nos dois protocolos

anestésicos locais, correlacionando o uso da epinefrina na intensidade da

necrose, tipo de reação tecidual predominante, neovascularização e

granulação da ferida.

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4 MATERIAL E MÉTODOS

4.1 Local de realização

As atividades experimentais foram desenvolvidas no Hospital

Veterinário da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás (EV-UFG)

no período de fevereiro a março de 2006. O processamento histológico das

amostras foi realizado no Setor de Patologia Animal da EV-UFG.

4.2 Avaliação e escolha dos animais

Os cães selecionados junto ao Centro de Zoonoses do município de

Goiânia foram aclimatados por 20 dias em canil no Hospital Veterinário da EV-

UFG, recebendo água ad libitum e ração duas vezes ao dia. Realizou-se ainda

desverminação, controle de ectoparasitas e avaliação sanitária dos mesmos. Em

seguida foi constituido um grupo de seis cães sem raça definida, machos, adultos,

de porte médio entre 5 e 12 kg.

A utilização dos animais foi feita segundo as recomendações de

GOLDENBERG (2000) e à luz das recomendações estabelecidas pelo Colégio

Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA).

4.3 Procedimento cirúrgico

No dorso dos cães foram demarcadas duas linhas de tricotomia com

máquina de tosa da marca Oster e pente número 40 como recomendado por

CONCEIÇÃO (2003), uma do lado direito e outra do lado esquerdo, indo da

escápula a região lombar (Figura 7). Os animais foram sedados pela aplicação

intramuscular de acepromazina a 0,2% na dose de 0,2mg/Kg associado com

petidina na dose de 1mg/kg, segundo o protocolo proposto por FANTONI &

CORTOPASSI (2002). A cada 6cm foi demarcado com lápis dermográfico uma

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amostra ao longo da linha de tricotomia totalizando cinco pontos de cada lado

com diâmetro de 1cm. Os pontos demarcados foram anestesiados localmente

segundo a técnica de botão anestésico descrita por LUCAS (1999), com a

utilização de uma seringa de insulina para cada ponto de anestesia (Figura 8). Do

lado direito utilizou-se lidocaína a 1% com epinefrina 1:200.000 (Xylestesin

Cristalia – Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda, Itapira-Lindoia–SP)

denominado de LCE, lado com epinefrina. No lado esquerdo foi aplicado lidocaína

1% sem vasoconstritor (Xylestesin Cristalia – Produtos Químicos Farmacêuticos

Ltda, Itapira-Lindoia –SP) denominado de LSE, lado sem epinefrina (Quadro 1). O

volume aplicado foi de 0,5ml por ponto de anestesia, segundo o protocolo de

anestesia cutânea proposto por FANTONI & CORTOPASSI (2002).

Após 15 minutos da aplicação do agente anestésico nos cinco pares de

locais definidos como A, B, C, D e E (Figura 9), foi feito o congelamento dos

quatro primeiros pares de locais anestesiados, segundo o protocolo para

criocirurgia proposto por LUCAS (2004), com a aplicação de nitrogênio por spray

utilizando equipamento comercial modelo Cry-AC 700, em um ciclo de

congelamento de 60 segundos. Os locais marcados foram congelados por um jato

continuo até atingir um raio de congelamento de 5mm, e depois mantidos

congelados com jatos intermitentes por 60 segundos, seguido de

descongelamento natural (Figura 10).

O quinto par anestesiado não foi congelado e serviu como controle do

efeito dos protocolos anestésicos locais sobre a pele. A colheita deste par foi feita

no quarto dia após a aplicação do anestésico local.

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QUADRO 1 Localização, identificação, tipo de tratamento e métodos de avaliação dos pares de feridas anestesiadas e congeladas nos seis animais do grupo experimental

Número da amostra

Posição da ferida no animal

Período da avaliação

Método de avaliação

Tratamento

1

A

4º dia

Histológico

Anestesia e criocirurgia

2

C

9º dia

Histológico

Anestesia e criocirurgia

3

B

19º dia

Histológico

Anestesia e criocirurgia

4

D

25º dia

Macroscópico

Anestesia e criocirurgia

5

E

4º dia

Histológico

Anestesia

FIGURA 7 Área de tricotomia com

máquina de tosa FIGURA 8 Local demarcado sendo

anestesiado com lidocaína - técnica de botão anestésico

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5º par 4º par r 3º par

FIGURA 9 Área de tricotomia identificando os locais alte

FIGURA 10 Congelamentum minuto anestesiado.

2º pa

1º par

demarcada com lápis dermográfico, rnados das colheitas

o pelo método de Spray por do local demarcado e

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4.3.1 Colheita das amostras

Os fragmentos para avaliação histopatológica foram obtidos estando os

animais anestesiados pela associação de xilazina e cetamina, segundo o

protocolo anestésico proposto por FANTONI & CORTOPASSI (2002). Nos dias

quatro, nove e 19 após o congelamento, as amostras foram retiradas aos pares

por biópsia em fuso segundo a técnica empregada por LUCAS (2004).

O quarto par não foi colhido sendo utilizado para avaliação

macroscópica da cicatrização tecidual no 25º dia após o congelamento.

Para minimizar a influência da colheita na cicatrização da ferida

adjacente, as amostras foram obtidas de locais alternados conforme mostram as

figuras 9 e 11.

FIGURA 11 Representação dos sítios de colheitas alternadas

(seta) e cicatrização entre duas já colhidas (19º dia após o congelamento).

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21

4.4 Fixação e processamento das amostras

As amostras de pele foram identificadas, fixadas e armazenadas em

frascos individuais contendo formol tamponado a 10%, que após o fechamento

foram deixados à temperatura ambiente durante 12 horas. Os fragmentos foram

então recortados, colocados em caixas plásticas individuais (unicassetes) e

fixadas novamente em formol tamponado a 10% por mais 12 horas.

Posteriormente os unicassetes contendo as amostras foram lavados em água

corrente por 15 min, colocadas em álcool 70%, permanecendo nesse conservante

até o processamento histológico.

Os fragmentos de pele obtidos por biópsia foram processados de

acordo com o método convencional de histologia e laminados para posterior

coloração. Os constituintes da pele e hipoderme foram identificados pela

coloração de hematoxilina e eosina (HE) conforme descrição de LUNA (1968).

4.5 Avaliação histológica das amostras

A avaliação histológica dos cortes foi feita na região central da lesão

circunscrita e na região de transição entre o tecido íntegro e o congelado,

segundo o protocolo proposto por BUSHBY et al (1978). A área de necrose foi

avaliada microscopicamente para determinação das características morfológicas

das células e constatação da morte celular.

As amostras foram avaliadas durante a evolução do processo cicatricial,

pesquisando-se várias alterações em cada um dos componentes da pele e do

tecido subcutâneo. Foi definido um escore numérico para cada tipo de alteração

encontrada. A leitura das lâminas foi realizada pelo mesmo examinador para

evitar diferenças individuais durante as avaliações. As lesões encontradas na

epiderme foram classificadas pela ausência ou presença das alterações

encontradas no exame histopatológico e tabeladas conforme o Quadro 2. Os

critérios de avaliação das lesões foram os mesmos definidos por BUSHBY et. al.

(1978) e descritos por THOMSON (1983).

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QUADRO 2: Classificação e critérios de avaliação das alterações histológicas encontradas na epiderme após congelamento por nitrogênio.

Alterações

histológicas Escore da

reação Classificação

da reação Critérios de avaliação

1 Ausente Ausência da alteração

Degeneração 2 Presente

Células tumefeitas com citoplasma de

aspecto granuloso e acidófilo

1 Ausente Ausência da alteração

Epiderme Necrose 2 Presente

Presença de picnólise, cariorrexe

e/ou cariólise

1 Ausente Ausência da alteração

Hiperplasia

2 Presente

Aumento de no mínimo o dobro da

espessura da epiderme normal

adjacente à lesão.

A derme foi avaliada de acordo com o tipo de reação tecidual existente,

conforme evidencia o Quadro 3.

QUADRO 3 Classificação e critérios de avaliação das alterações histológicas

encontradas na derme após congelamento por nitrogênio Escore da

reação Classificação da reação Critérios de avaliação

1 Inflamação purulenta Neutrófilos como células

predominantes

2 Tecido de granulação vascular

Predominância de angiogênese com poucos

fibroblastos

3 Tecido de granulação fibrovascular

Grande quantidade de angiogênese e fibroblastos

Derme

4 Fibrose Predominância de

fibroblastos e colágeno

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As amostras foram observadas ao microscópio óptico de luz (Modelo

Jenaval. Carl Zeiss GmcH - Alemanha) com ocular de 10X e objetiva de 40X

segundo as recomendações de SCOTT et. al. (1996). As alterações foram

avaliadas na área central da lesão e na região de transição entre o tecido que

sofreu congelamento e o tecido íntegro. Uma lupa modelo Nikon SMZ 800 com

ocular de 12X e objetiva de 2X, também foi utilizada para avaliação visual de todo

o corte histológico e permitiu avaliar os limites do tecido como um todo.

4.5 Procedimentos estatísticos

Devido ao caráter qualitativo, os resultados histológicos foram

analisados estatistícamente, quando possível, por meio de estudo da dispersão

de freqüência. O teste do χ2 foi efetivado para comprovar se houve diferença

entre os grupos (CALLEGARI-JACQUES, 2004), no presente caso foi utilizado

principalmente a analise estatística descritiva para demonstrar a diferença entre

as amostras.

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5 RESULTADOS 5.1 Manejo dos animais

Os animais selecionados adaptaram-se bem ao modelo experimental. O

tamanho dos mesmos, entre cinco e 12kg, permitiu uma fácil manipulação durante

os procedimentos e não houve acidentes durante o manejo anestésico. Todos

apresentaram boa cicatrização da ferida (Figura 12).

FIGURA 12 Detalhe da ferida cicatrizada no nono dia após o

congelamento (Seta), Nota-se ainda a sutura de ferida de biópsia do quarto dia (Seta vazada).

Um rígido controle alimentar com a utilização de um único tipo de ração

a qual os animais já estavam adaptados há 20 dias, associado a um controle

sanitário eficiente ajudou para que não houvesse perda por doença de nenhuma

parcela do experimento. Um animal apresentou ligeira redução de peso sem

diminuição de apetite ou alteração nos seus parâmetros clínicos.

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5.2 Aspectos histopatológicos

O quinto par de lesões foi anestesiado localmente, mas não sofreu

congelamento, sendo considerado amostra controle e foi avaliada no quarto dia

após o tratamento. Não foram identificadas alterações do tipo necrose,

degeneração e hiperplasia. Nestas amostras, tanto do LSE, quanto do LCE foi

possível identificar-se as camadas germinativa, espinhosa, granulosa e córnea,

bem como a derme composta de tecido conjuntivo fibroso, vasos sanguineos e

linfáticos, fibras, nervos, células, glândulas apócrinas e sebáceas, folículos pilosos

e músculos piloeretores.

Nas amostras número um que sofreram congelamento e foram

avaliadas no quarto dia, a alteração microscópica mais evidente foi a necrose da

epiderme, representada pela preservação do arcabouço celular e ausência dos

núcleos, havendo ainda descamação da camada de queratina. Foi possível

observar edema da derme papilar, o qual foi caracterizado pela separação do

tecido conjuntivo e empalidecimento da derme, com presença de raras células

inflamatórias. Evidenciou-se necrose na derme reticular, caracterizada pela

ausência dos fibroblastos, além de necrose de coagulação nos folículos pilosos e

anexos cutâneos e presença de material hialinizado como conseqüência da

agressão tecidual. Observou-se ainda a presença de trombos em alguns vasos do

tecido subcutâneo. A extensão das lesões foi similar à descrita por LUCAS (2004)

atingindo até a derme profunda com a profundidade sendo sempre inferior ao raio

da lesão superficial.

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BA

FIGURA 13 Fotomicrografia cut

congelamento: A - Ánecrosada após crio(400X). B - Aspectoepiderme com ausêcelular após criocirusuperficial (seta vazDetalhe da derme p(seta), a epiderme taHE (100X). D - Detaa fixação (seta), a epprofunda edemaciad(400X).

ânea do cão número seis, quarto dia rea de transição entre a epiderme íntegcirurgia (seta), lado direito do animal - LCs microscópicos característicos da necroncia de núcleos e manutenção do arcargia (seta) e presença de edema na dada), lado esquerdo - LSE, HE (400Xrofunda com os folículos pilosos necrombém aparece necrosada, lado direito -

lhe da descamação da camada córnea duiderme está necrosada e a derme superfas (seta vazada), lado direito do animal

C

rEsb

)s

i-

D

após a e a , HE e da ouço erme . C - ados LCE, rante cial e LCE
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FIGURA 14 - Fotomicrografia cutânea de amostra do lado direito - LCE

– cão número dois no quarto dia após a criocirurgia. Notar a degeneração da epiderme. HE (12X).

No nono dia, a avaliação das amostras número dois de todos animais

mostrou intenso infiltrado inflamatório difuso atingindo todas camadas da pele,

principalmente próximo a região ulcerada. Em uma das amostras o infiltrado

inflamatório na região da úlcera era supurativo, ou seja, apresentou grande

quantidade de neutrófilos e tecido necrosado, o que pode ter sido causado pela

infecção secundária bacteriana. Houve formação de crosta evidenciando o

seqüestro do material necrótico. Este tecido foi caracterizado pela presença de

picnose e cariorrexe. Ainda era possível observar a necrose de coagulação dos

folículos pilosos e glândulas anexas. Na musculatura cutânea foi observada

degeneração de algumas fibras (que apresentavam com aspecto granular e

núcleo basofilico) e necrose. Entretanto foi evidente a presença acentuada de

fibroblastos e angiogênese nesta região indicando reparação (Figuras 15 e 16).

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A

FIGURA 15 Fotomicrografia cuapós criocirurgia musculares necromusculares com d(circulo), HE (400Xanexas (seta), HE infiltrado neutrofílic

D

tânea da amostra do cão número três, ndo lado direito - LCE: A – Detalhe dasadas, HE (100X). B - Detalhe dasegeneração hialina (seta) e reação de gra). C - Necrose dos folículos pilosos e g

(400X). D - Detalhe de uma reação puruleo (seta) e cariorrexe (retângulo), HE (400X

os nlân)

B

C

n

unta

D

o dia fibras fibras lação dulas com

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FIGURA 16 Fotomicrografia cutânea da amostra do cão número

um, ao nono dia após a criocirurgia. Evidenciando a presença de úlcera da epiderme (seta) e restos de material necrótico na superfície (seta vazada) Lado direito LCE HE (12X).

Nas amostras colhidas no 19° dia após a criocirurgia não foi possível

reconhecer tecido necrótico. Houve hiperplasia da epiderme e a proliferação do

tecido de granulação na derme e hipoderme foi extensa. Em alguns animais

houve recuperação de folículos pilosos nas áreas periféricas à lesão (Figura 18).

Entretanto, na maioria das lesões houve além da hiperplasia da epiderme, reação

de granulação fibrovascular (grande quantidade de fibroblasto e presença de

capilares neoformados) e áreas evidentes de cicatrização com ausência de

folículos pilosos e glândulas anexas (Figura 19). As papilas epidérmicas também

foram evidentes em todas as lesões.

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FIGURA 17 - Fotomicrografia cutânea da amostra do cão número

um, no 19º dia após a criocirurgia, evidenciando a formação de cicatriz e espessamento da epiderme (seta). Lado direito LCE. HE (12X)

FIGURA 18 - Fotomicrografia cutânea da amostra do cão número

um, no 19º dia após a criocirurgia, evidenciando a formação de cicatriz e espessamento da epiderme

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(seta), folículo piloso em recuperação (seta vazada). Lado esquerdo LSE. HE (12X)

FIGURA 19 A - Fotomicrograf19º dia após microscópicos carB - Amostra do clado direito - LCpresença de fibrovazada), HE (400dia após criocirureação vascularneovascularizaçãoAmostra do cão ndireito- LCE, detacom predominânc

C

A

ia cutânea da amostra do cão número dcriocirurgia, lado direito - LCE, asacterísticos de uma reação fibrosa, HE (ão número dois, no 19º dia após criocE, detalhe de uma reação fibrovasculablastos (seta cheia) e neovascularizaçãX); C - Amostra do cão número quatro, rgia, lado esquerdo - LSE, detalhe d acentuada com grande formaçã na derme papilar (seta), HE (400Xúmero seis, no 19º dia após criocirurgilhe de uma reação fibrosa na derme

ia de fibroblastos e fibras colágenas, HE

B

op4i

oneo)ap(

D

is, no ectos 00X);

rurgia, r com (seta o 19º uma de

; D - , lado apilar

400X)

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Nas amostras colhidas no quarto e nono dia após a criocirurgia, a

epiderme mostrou-se necrótica em todos animais e nos dois lados de colheita. O

esboço das células ainda era evidente, mas a maioria dos detalhes celulares

haviam sido perdidos (100%).

No 19º dia as amostras já não apresentavam necrose sendo que a

alteração mais evidente em todos os grupos (100%) independentemente do

tratamento utilizado foi a hiperplasia da epiderme (Figura 19.C).

TABELA 1 Freqüência do tipo de alteração histológica das lesões da epiderme quanto à presença ou ausência de degeneração, necrose e hiperplasia tecidual entre as amostras de pele de cães submetidos a criocirurgia com uso de anestesia local com ou sem vasoconstritor

Lado esquerdo

(sem epinefrina) Lado direito

(com epinefrina) Dia de colheita Degeneração Necrose Hiperplasia Degeneração Necrose Hiperplasia

controle 0 0 0 0 0 0

4 dias 0 6 (100%) 0 0 6

(100%) 0

9 dias 0 6 (100%) 0 0 6

(100%) 0

19 dias 0 0 6 (100%) 0 0 6

(100%)

A progressão das alterações teciduais foram ordenadas e consistentes.

Envolveram a indução de um processo inflamatório, proliferação e migração de

células teciduais conjuntivas, formação de novos vasos sanguíneos e tecido de

granulação com deposição de colágeno e remodelação tecidual. Nas amostras

colhidas aos quatro dias do tratamento criocirúrgico a alteração mais evidente na

derme foi edema com um discreto infiltrado inflamatório. No entanto, aos nove

dias, além de um intenso infiltrado inflamatório predominantemente de

polimorfonucleares, observou-se a proliferação de tecido de granulação e

angiogênese no subcutâneo.

Já no 19° dia houve avanço do tecido de granulação na derme. O lado

esquerdo apresentou-se mais vascularizado do que o lado direito onde o tecido

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de granulação apresentava-se mais maduro, o que pode ser observado no quadro

4 e nas figuras 20 e 21.

QUADRO 4 Avaliação histopatológica das lesões da derme quanto ao tipo de reação tecidual avaliado nas amostras colhidas nos animais no 19º dia após o congelamento

Lado esquerdo (sem epinefrina)

Lado direito (com epinefrina)

Cão Vascular Fibrovascular Fibrosa Vascular Fibrovascular Fibrosa 1 X X 2 X X 3 X X 4 X X 5 X X 6 X X

TABELA 2 Freqüência do tipo de reação tecidual no 19º dia das lesões da derme entre as amostras de pele de cães submetidos a criocirurgia com uso de anestesia local com ou sem vasoconstritor

Tipo de reação Tecidual

Lado esquerdo (sem epinefrina)

Lado direito (com epinefrina)

Vascular 2 (33%) 0

Fibrovascular 4 (67%) 4 (67%)

Fibrosa 0 2 (33%)

Total 6 (100%) 6 (100%)

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Tipo de reação tecidualLado esquerdo sem epinefrina 19º dia

0

1

2

3

4

5

6

Vascular Fibrovascular Fibrosa

num

ero

de a

mos

tras

FIGURA 20 Avaliação das lesões da derme quanto ao tipo de reação tecidual em amostras colhidas nos animais no 19º dia após o congelamento, lado esquerdo – LSE

Tipo de reação tecidualLado direito com epinefrina 19º dia

0

1

2

3

4

5

6

Vascular Fibrovascular Fibrosa

num

ero

de a

mos

tras

FIGURA 21 Avaliação das lesões da derme quanto ao tipo de reação tecidual em amostras colhidas nos animais no 19º dia após o congelamento, lado direito – LCE

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6 DISCUSSÃO

O cão foi escolhido para modelo experimental pela alta incidência de

doenças neoplásicas encontradas nesta espécie, conforme relatado por LUCAS

(1999).

Após o experimento todos os animais foram doados, já que não houve

nenhum dano a sua saúde, e nada que impedisse a vida normal dos mesmos

junto aos novos proprietários.

A máquina de tosa recomendada por CONCEIÇÃO (2003) foi utilizada

por não causar irritação na pele durante a tricotomia, esse cuidado teve como

objetivo evitar a irritação mecânica da lâmina de tricotomia no local da lesão para

que não houvesse influência no resultado final da avaliação das células

inflamatórias.

Não foi utilizado analgésico, antibiótico sistêmico ou tópico no

tratamento das lesões para evitar qualquer influência terapêutica no resultado da

histopatologia. Essa conduta não influenciou a cicatrização das lesões, não

havendo problemas na resolução do processo.

Após a primeira colheita observou-se que os animais não

demonstravam interesse pelas lesões o que pôde ser explicado pela baixa

contaminação das mesmas, do diâmetro reduzido da ferida cirúrgica bem como o

fio utilizado na sutura que foi o nylon 4-0. Optou-se então pela não utilização de

colar elizabetano pois isso poderia causar estresse aos animais.

Alguns fatores sistêmicos que levam ao retardo e alteração da

cicatrização incluem as deficiências protéicas, vitamínicas e minerais, as drogas

como os antinflamatórios e antibióticos, alem da idade, sexo, debilidade e

infecções concomitantes (SWAIN, 1980; FIORAVANTI et. al., 1998; KUMAR et.

al., 2005). O impacto destas variáveis não foi levado em consideração no

presente trabalho uma vez que o grupo foi homogêneo, constituído de animais

jovens do mesmo sexo e com o mesmo regime alimentar. A presença de algum

destes fatores não influenciaria o resultado final pois todos os animais receberam

os dois tratamentos criocirúrgicos. Assim alguma alteração na cicatrização seria

observada, igualmente, nas duas respostas teciduais.

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A opção pela não utilização de punch cutâneo recomendado por

CONCEIÇÃO (2003) deveu-se à necessidade de uma colheita mais ampla com

um mínimo dano à área necrosada no centro do fragmento biopsiado. Em média

os fragmentos foram colhidos com 20mm de diâmetro, procurando-se manter uma

margem de tecido íntegro ao redor da área que foi congelada.

A técnica anestésica proposta para a colheita com a utilização de

cloridato de cetamina a 10% associado com xilazina a 2% mostrou-se eficiente

para a contenção dos animais, mas não causou um retorno tranqüilo, fato já

descrito por outros autores (FANTONI & CORTOPASSI 2002; MASSONE, 2002).

Na dose utilizada e recomendada por FANTONI & CORTOPASSI

(2002) para anestesia em botão o anestésico local não causou alterações nas

estruturas celulares, mesmo com a presença de epinefrina 1:200.000 associada.

Tal fato pode ser explicado pela utilização racional do agente anestésico local no

presente trabalho, resultado este diferente do encontrado por SOARES & COSTA

(1999) que descreveram lesões tissulares na pele de bovinos anestesiados com a

mesma concentração de lidocaína associado à epinefrina, mas com volumes

diferentes.

Na avaliação histopatológica a pele foi classificada segundo a definição

de BANKS (1992) como sendo formada pela epiderme, identificando-se as

camadas germinativa, espinhosa, granulosa e córnea e derme composta de

tecido conjuntivo fibroso, vasos sanguíneos, linfáticos, fibras, nervos, células,

glândulas apócrinas e sebáceas, folículos pilosos e músculos piloeretores. Esses

elementos foram observados por CONCEIÇÃO (2003) e também encontrados no

presente trabalho.

As amostras controle colhidas no quarto dia não apresentaram lesões

visualizáveis nos cortes histológicos com a coloração utilizada; as camadas da

epiderme e derme não apresentavam lesões, diferentemente do encontrado nos

animais que sofreram tratamento criocirúrgico. A camada córnea da epiderme

mostrou-se delgada e queratinizada. Parte desta camada foi perdida durante o

processamento o que segundo SCOTT et. al. (1996), é um acontecimento

comum. A camada espinhosa íntegra apresentou mais de uma lâmina celular e a

germinativa monocelular pôde ser observada apoiada na membrana basal

sustentando as descrições de BANKS (1992) e SCOTT et al. (1996).

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Em todas as lesões que sofreram criocirurgia foi evidenciada necrose

das amostras avaliadas no quarto dia. Esse resultado foi esperado devido ao

procedimento criocirúrgico ter sido efetuado em ambos os locais com a mesma

técnica de congelamento com um ciclo por 60 segundos, o que se mostrou

eficiente na formação deste tipo de lesão na epiderme.

A lesão causada pela estase vascular encontrava-se no período

classificado como fase retardada e teve início logo após o ciclo de

congelamento/descongelamento (SEIM III, 1980). HOFFMANN & BISCHOF

(2001) descrevem que as estases sanguíneas associadas às lesões de

reperfusão são os principais mecanismos de necrose celular na criocirurgia, e que

quase todo o tecido congelado e isquêmico sofre necrose após três a sete dias.

No presente trabalho as lesões encontradas no quarto dia apresentavam necrose

isquêmica em todas as regiões congeladas com destruição do núcleo e

manutenção do arcabouço celular compatível com o encontrado por BUSHBY et.

al. (1978) independentemente da utilização de vasoconstritor no procedimento

anestésico local.

Quatro dias após o congelamento, a alteração microscópica mais

evidente na derme foi a necrose. A extensão das lesões apresentava similaridade

a descrita por LUCAS (2004) atingindo até a derme profunda, com a profundidade

sendo sempre inferior ao raio da lesão superficial. Este autor ainda citou que nem

todas as células de uma determinada área submetida a criocirurgia são

destruídas em um único ciclo de congelamento/descongelamento, o que pôde ser

visto em algumas amostras nas quais havia a presença de folículos pilosos em

cicatrização na derme profunda dentro do raio de congelamento. Isso confirmou

que um único ciclo não deve ser utilizado para o tratamento de lesões

dermatológicas quando se busca destruir estruturas presentes na derme. A

maioria dos autores utiliza dois ciclos tanto em lesões benignas como malignas

(MARQUES, 1989; DAWBER et. al. 1999; LUCAS, 1999; DAWBER, 2002;

KUFLIK, 2004). No presente trabalho a utilização de um único ciclo de

congelamento buscou avaliar a necrose com essa técnica e padronizar a lesão

A aplicação em sistema aberto por spray mostrou-se eficiente na

formação de lesões pequenas com 5mm de raio, permitindo um controle exato do

diâmetro do halo de congelamento. A manutenção do tecido congelado com jatos

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intermitentes conforme recomendam vários autores (DAWBER et. al., 1999,

LUCAS, 1999, KUFLIK, 2004) também foi de fácil execução.

Durante avaliação macroscópica da lesão no 25º dia após o

congelamento ficou constatado que mesmo com um único ciclo de

congelamento/descongelamento, em todos animais as feridas controle

apresentaram leucodermia, com formação de cicatriz. Vários autores citam essas

alterações como as seqüelas mais comuns após o tratamento criocirúrgico

(MARQUES, 1989; DAWBER et. al. 1999; LUCAS, 1999). Neste trabalho a

presença de epinefrina no anestésico local não causou diferença perceptível na

formação dessas alterações na pele hígida de cães.

A infecção é considerada um dos fatores que mais adversamente

influenciam a cicatrização, sendo o mecanismo de ação das bactérias na ferida

descrito por SWAIN (1980). Nas amostras avaliadas no 19º dia foi encontrado

infiltrado neutrofílico na epiderme de dois animais, com formação de crostas e um

aumento na intensidade da reação neutrofílica com muitas bactérias na amostra.

Esse resultado não chega a comprometer a cicatrização, pois nas regiões de

derme papilar não houve aumento do infiltrado e esta alteração em uma região

onde ela não interfere na cicatrização é considerada irrelevante (GOLDSTEIN &

HESS,1977; WITHROW, 1989). Após a criocirurgia ocorre colonização da crosta

necrótica pela microbiota normal da pele. O pós-operatório da criocirurgia em

lesões pequenas não requer o uso de antibióticos, pois há destruição das

bactérias pelo efeito do congelamento/descongelamento (HOLBERG, 1998;

LUCAS 1999). Nas feridas controle alguma eventual contaminação do tecido

cicatricial não interferiu no resultado final e nem teve significado clínico.

No exame histológico da epiderme não foram evidenciadas lesões

diferenciadas entre os dois tratamentos. A necrose foi encontrada em ambas

amostras e essa alteração é a resposta tecidual normal depois de uma criocirurgia

(GOLDSTEIN & HESS,1977; DAWBER et. al. 1999; GAGE & BAUST, 1998;

BAUST & GAGE, 2005).

No modelo experimental utilizado, a criocirurgia resultou em alterações

consistentes no tecido cutâneo com resultados similares em ambos os

tratamentos. Microscopicamente as modificações teciduais ocorreram na seguinte

ordem: edema e eritema, infiltrado de células inflamatórias, necrose tecidual,

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desbridamento tecidual, e reparação por granulação e reepitelização. Esta

seqüência também foi descrita por BUSHBY et. al. 1978; DAWBER et. al. 1999;

HOFFMANN & BISCHOF 2001; BAUST & GAGE; 2005.

As lesões produzidas foram extensivas aos tecidos adjacentes e

subjacentes sendo representadas por uma pequena reação inflamatória. A

recuperação da lesão foi caracterizada pelo aumento da espessura da camada

epidérmica e ausência de estruturas anexas como glândulas e folículos.

Segundo KUMAR et. al. (2005), o tecido de granulação é um tipo

especializado de tecido indicador de cicatrização, caracterizado pela formação de

pequenos novos vasos sanguíneos e a proliferação de fibroblastos. Na avaliação

histológica, as amostras do 19º dia apresentaram reações vasculares (33%) e

fibrovasculares (67%). A angiogênese foi proeminente nas regiões da lesão nas

amostras colhidas do lado esquerdo sem epinefrina, mais do que do lado direito

onde não se encontrou nenhuma amostra com reação vascular e ainda houve

amostras com reação tecidual fibrosa (33%). Estatistícamente essa alteração não

foi significativa, mas pode indicar um estágio adiantado de tecido de granulação

no grupo com epinefrina já que o tecido de granulação contém numerosos vasos

sanguíneos recém formados e à medida que a reparação continua, o número de

células endoteliais proliferantes e fibroblastos diminuiu. Os fibroblastos

depositaram, progressivamente, quantidades elevadas de matriz extracelular. Os

colágenos fibrilares formaram uma porção principal do tecido conjuntivo em locais

de reparação. Enquanto a cicatriz amadureceu, a regressão vascular continuou

transformando, eventualmente, o tecido ricamente vascularizado numa cicatriz

avascular e empalidecida. Este quadro encontrado foi condizente com a descrição

de KUMAR et. al. (2005) para a resposta cicatricial.

MAYERS & DONOVAN (1981) encontraram em suinos uma variação de

até 47% na intensidade da área de necrose pós-criocirurgia cutânea quando

compararam a utilização de lidocaína associada à epinefrina, com lidocaína sem

epinefrina como anestésico local. Eles sugeriram que a epinefrina diminui a

perfusão tecidual e retarda o descongelamento da periferia da lesão aumentando

a eficiência da criocirurgia. No presente estudo não se observou diferenças

significativas entre as alterações histológicas encontradas, não havendo grande

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variação na reação tecidual que pudesse corroborar a diferença encontrada por

MAYERS & DONOVAN (1981).

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41

7 CONCLUSÕES

Nas condições em que este experimento foi realizado as seguintes

conclusões podem ser extraídas.

1. Não há diferença macroscópica na cicatrização de lesões cutâneas

causadas por nitrogênio líquido aplicado em spray quando a anestesia

local é feita pela aplicação de lidocaína associado ou não à epinefrina

1:200.000.

2. Histologicamente para o mesmo período de tempo em ambos os

protocolos anestésicos locais propostos, a reação tecidual local foi

semelhante com edema, necrose, granulação e epitelização.

3. Epinefrina associada à lidocaína na concentração e volume propostos não

foi capaz de induzir lesões cutâneas isoladamente.

4. A utilização de lidocaína com epinefrina 1:200.000 na anestesia local em

criocirurgia cutânea na região dorsal de cães acelerou o processo de

reparação tecidual em comparação com a utilização isolada de lidocaína.

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ANEXOS QUADRO 5: Avaliação histopatológica das lesões da epiderme quanto à presença

de degeneração, necrose e hiperplasia das células da epiderme entre as amostras colhidas da ferida controle no quarto dia após o congelamento.

Lado esquerdo (sem epinefrina)

Lado direito (com epinefrina)

Dia de colheita Cão Degeneração Necrose Hiperplasia Degeneração Necrose Hiperplasia

4 1 1 1 1 1 1 1 4 2 1 1 1 1 1 1 4 3 1 1 1 1 1 1 4 4 1 1 1 1 1 1 4 5 1 1 1 1 1 1 4 6 1 1 1 1 1 1

QUADRO 6: Avaliação histopatológica das lesões da epiderme quanto à presença

ou ausência de degeneração, necrose e hiperplasia entre as amostras colhidas no quarto dia após o congelamento.

Lado esquerdo (sem epinefrina)

Lado direito (com epinefrina)

Dia de colheita Cão Degeneração Necrose Hiperplasia Degeneração Necrose Hiperplasia

4 1 1 2 1 1 2 1 4 2 1 2 1 1 2 1 4 3 1 2 1 1 2 1 4 4 1 2 1 1 2 1 4 5 1 2 1 1 2 1 4 6 1 2 1 1 2 1

QUADRO 7: Avaliação histopatológica das lesões da epiderme quanto à presença

ou ausência de degeneração, necrose e hiperplasia das células da epiderme entre as amostras colhidas nono dia após o congelamento.

Lado esquerdo (sem epinefrina)

Lado direito (com epinefrina)

Dia de colheita Cão Degeneração Necrose Hiperplasia Degeneração Necrose Hiperplasia

9 1 1 2 1 1 2 1 9 2 1 2 1 1 2 1 9 3 1 2 1 1 2 1 9 4 1 2 1 1 2 1 9 5 1 2 1 1 2 1 9 6 1 2 1 1 2 1

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QUADRO 8: Avaliação histopatológica das lesões da epiderme quanto à presença ou ausência de degeneração, necrose e hiperplasia das células da epiderme entre as amostras colhidas no 19º dia após o congelamento.

Lado esquerdo (sem epinefrina)

Lado direito (com epinefrina)

Dia de colheita Cão Degeneração Necrose Hiperplasia Degeneração Necrose Hiperplasia

19 1 1 1 2 1 1 2 19 2 1 1 2 1 1 2 19 3 1 1 2 1 1 2 19 4 1 1 2 1 1 2 19 5 1 1 2 1 1 2 19 6 1 1 2 1 1 2

QUADRO 9: Avaliação histopatológica das lesões da derme quanto ao tipo de

reação tecidual entre as amostras colhidas no quarto dia após o congelamento.

Lado esquerdo (sem epinefrina)

Lado direito (com epinefrina)

Dia da colheita Cão Tipo de reação tecidual Tipo de reação tecidual 4 1 1 1 4 2 1 1 4 3 1 1 4 4 1 1 4 5 1 1 4 6 1 1

QUADRO 10: Avaliação histopatológica das lesões da derme quanto ao tipo de

reação tecidual entre as amostras colhidas no nono dia após o congelamento.

Lado esquerdo (sem epinefrina)

Lado direito (com epinefrina)

Dia da colheita Cão Tipo de reação tecidual Tipo de reação tecidual 9 1 1 1 9 2 1 1 9 3 1 1 9 4 1 1 9 5 1 1 9 6 1 1

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0

0,5

1

1,5

2

2,5

1 2 3 4 5 6

animais

pres

ença

de

alte

raçõ

es

Degeneração LENecrose LEhiperplasia LEdegeneração LDnecrose LD"hiperplasia LD

FIGURA 22: Presença ou ausência de necrose, degeneração e hiperplasia nos

lados direito (LD) e esquerdo (LE) 96 horas após a criocirurgia. Evidenciando a ausência de alterações entre os tratamentos.

TABELA 3: Freqüência da reação fibrovascular nas amostras avaliadas

histologicamente no 19º dia após criocirurgia com anestesia local com epinefrina e sem epinefrina.

Reação Fibrovascular

Lado Esquerdo (LSE)

Lado Direito (LCE)

Total

Presente 4 (67%) 4 (67 %) 8 (67 %) Ausente 2 (33 %) 2 (33%) 4 (33 %)

Total 6 (100%) 6 (100%) 12 (100%) Para a realização do teste do χ2 não há diferença é significante entre os grupos (p>0,5)