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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE – UNI-BH DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURIDICAS, POLÍTICAS E GERENCIAIS CRISTIANE DE OLIVEIRA PIASSI A Educação Ambiental como uma Estratégia Global de Evitar Danos Belo Horizonte 2008

Cristiane Piassi - A Educação Ambiental como uma ... · A Educação Ambiental como uma Estratégia Global de Evitar Danos ... aquecimento da terra causado pelo efeito estufa, produzido

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE – UNI-BH DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURIDICAS, POLÍTICAS E GERENCIAIS

CRISTIANE DE OLIVEIRA PIASSI

A Educação Ambiental como uma Estratégia Global de Evitar Danos

Belo Horizonte 2008

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CRISTIANE DE OLIVEIRA PIASSI

A Educação Ambiental como uma Estratégia Global de Evitar Danos

Belo Horizonte

2008

Monografia apresentada ao Departamento de Ciências Jurídicas, Políticas e Gerenciais do Centro Universitário de Belo Horizonte – UNI-BH como pré-requisito para a disciplina Monografia II em Relações Internacionais, sob a orientação do Professor Leandro Rangel.

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Sim, é mesmo possível ter um grande sonho e realizá-lo. Mesmo pertencendo a minorias, mesmo tendo nascido sem grandes oportunidades o universo conspira, sim, quando nosso propósito é legítimo e nos dispomos a aceitar todos os desafios decorrentes dele. Podemos fazer nossa parte aqui mesmo, buscando nosso caminho, a missão real, não apenas a que nos garanta glórias ou lucros. Podemos disseminar a unidade com nosso exemplo, construindo pontes à nossa volta, vivendo com coragem e determinação de fato. E, se chegamos até aqui, somos “Obreiros da Luz”, ainda que recatados, um pouco tímidos, mas estamos, sim, contribuindo consciente e sutilmente para transformar o que aí está. Celebremos com alegria mais este passo fundamental, fortalecendo nossa confiança no universo, com a certeza de uma colheita farta; e de continuar fazendo a nossa parte! (Autor desconhecido)

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AGRADECIMENTOS Quero registrar meu sincero agradecimento às seguintes pessoas: Ao orientador Leandro Rangel, pela atenção, carinho e competência. Ao Rafael pela companhia e força em todos os momentos. E ao profissionalismo dos mestres, sem os quais não haveria norteamento para esse fim.

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DEDICATÓRIA Levo comigo a satisfação de não ter tido medo de realizar os meus sonhos, pois só aquele que ousa lutar, ousa vencer. Mas a conquista de sonhos pode implicar em sacrifícios. Por isso quero dedicar este trabalho à Deus, força espiritual que nunca esteve ausente. Aos meus avós por estarem sempre presentes. À minha querida mãe por compartilhar do meu sonho. À Ana Paula por me mostrar a realidade.

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RESUMO O presente trabalho tem como proposta o desenvolvimento de um estudo sobre a educação

ambiental e sua relação com os acontecimentos ambientais contemporâneos. Sua idéia central

é comprovar, através de análises teóricas e empíricas, a necessidade do desenvolvimento de

uma estratégia internacional de educação ambiental como mecanismo de conscientização e

auxílio nas políticas ambientais em todo o mundo de forma a aprofundar os resultados

benéficos junto à sociedade internacional.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental, Sustentabilidade, Meio-Ambiente, Direito Internacional, Intervencionismo, Responsabilização.

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SIGLAS E ABREVIATURAS

CDI - Comissão de Direito Internacional

CEI - Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental

DDS - Diálogos sobre o Desenvolvimento Sustentável

EA - Educação Ambiental

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPCC - Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas

IUCN- International Union for the Conservation of Nature and Natural Resources

MDMs - Metas de Desenvolvimento do Milênio

NOAA - Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera

ONU - Organização das Nações Unidas

PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente

PPE - Painel de Pessoas Eminentes

TIJ - Tribunal Internacional de Justiça

UNESCO - United Nations Educational, Scietific and Cultural Organization (Organização das

Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).

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TABELA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Anomalias na Temperatura ---------------------------------------------------- 31

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------- 09

2 O NASCIMENTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ---------------------------------- 14

2.1 Estratégia internacional para ações no campo da EA ------------------------------------16

2.2 O que é Educação Ambiental --------------------------------------------------------------- 18

2.2.1 Subsídios para a Promoção da Educação Ambiental ----------------------------------20

2.2.2 Especificidades da Educação Ambiental em âmbito internacional ------------------24

3 A REALIDADE PROBLEMÁTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL -- --------- 30

3.1 A Complexa questão da responsabilização ----------------------------------------------- 34

3.2 Possíveis alternativas de solução -----------------------------------------------------------39

3.2.1 Da intervenção estatal à participação cidadã -------------------------------------------40

4 CONCLUSÃO ---------------------------------------------------------------------------------45

5 BIBLIOGRAFIA ----------------------- -------------------------------------------------------47

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1- INTRODUÇÃO

Nos últimos anos tem havido uma maior conscientização acerca dos problemas ambientais.

Tal fato pode ser percebido com base na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio

Ambiente (Junho, 1992, Rio de Janeiro, Brasil) que desenvolveu uma visão global e

princípios comuns que servem de inspiração e orientação à humanidade em prol da

preservação e melhoria do ambiente humano.

Segundo Genebaldo Freire Dias (1998), gradativamente, seja em âmbito mundial ou

individual, cresce o papel da educação como um meio de se compreender, prevenir e resolver

os problemas ambientais. Problemas estes que têm suas raízes em fatores sociais, econômicos

e culturais e que por isso não podem ser resolvidos por meios puramente técnicos.

Mesmo com a crescente conscientização sobre os problemas ambientais e de evidentes

esforços de alguns países para desenvolver meios técnicos e institucionais no intuito de

solucioná-los, como é o caso daqueles que participam de uma ambiciosa iniciativa do governo

britânico denominada “Diálogos sobre Desenvolvimento Sustentável” (DDS)1, de forma

geral, as ações desenvolvidas provam ser insuficientes para neutralizar o problema.

Fatores influenciadores como jogar papéis pelas janelas de carros e ônibus, jogar pelo ralo

quantidades diárias de óleo doméstico2 e fazer o uso abusivo de sacolas plásticas3 são

1 Os “Diálogos sobre Desenvolvimento Sustentável” (DDS) têm a intenção de engajar as principais nações emergentes numa parceria ativa pelo desenvolvimento sustentável. Os cinco primeiros paises parceiros dos DDS foram as principais potências emergentes: África do Sul, Brasil, China, Índia e México. Para o governo britânico, a escolha não foi à toa, já que os países são atores estratégicos em suas regiões, com economias em crescimento e pressões sociais e ambientais significativas. A promoção de cooperação com essas nações para tornar mais “limpo” seu crescimento econômico, é prioritário para o Reino Unido, que procura exercer um papel de liderança mundial nos debates sobre desenvolvimento sustentável. Disponível em http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/eventos/conteudo_251692.shtml. Acessado em 10/03/2008, 15h43min. 2 De acordo com dados, o óleo de cozinha jogado diariamente no ralo da pia pode contaminar cerca de aproximadamente cinco milhões de litros de água. Disponível em http://www.atitudeverde.com.br. Acessado em 15/04/2008, 15h10min. 3 As inocentes sacolinhas plásticas do supermercado geram resíduos que levam centenas de anos para se decompor na natureza, além de aumentar os custos dos produtos. No oceano, são confundidas por algas pelas tartarugas e outros animais, que as comem e morrem asfixiados. Mais informações em Revista Ciências do Ambiente On-Line, Fevereiro de 2007 Volume 3, Número 1.

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descuidos que hoje em dia exigem novas mudanças de atitudes, de valores e de

comportamentos entre o indivíduo e o seu meio.

Um outro fator desencadeante de problemas é a diferença nos níveis de desenvolvimento e

condições de vida entre as nações, e até dentro de um mesmo país, ajudando a piorar a

perspectiva para o futuro, tornando estes cada vez mais complexos e diversos.

Conforme aponta Dias (1998), em vários países em desenvolvimento o problema básico é a

pobreza, que de forma natural, leva à deterioração dos recursos naturais4, através da

combinação de um aumento populacional muito acelerado e de um desenvolvimento

econômico regressivo, o que traz consigo o agravamento dos processos de desmatamento,

erosão do solo e também a uma diminuição agrícola. E estes mesmos países vêm lutando

contra problemas ambientais como a desertificação, crescimento desordenado de áreas

urbanas e poluição industrial, no entanto, o desmatamento representa um dos problemas mais

graves, uma vez que produz conseqüências perigosas para a população humana e

conseqüentemente para a preservação da flora e da fauna. É também responsável por um

grande número de inundações, pela erosão de terras produtivas e pelo declínio do potencial

hidroelétrico. Contribui para a destruição de espécies de plantas e animais e, em alguns casos,

desestabiliza irreversivelmente os ecossistemas dos quais depende a vida humana.

Nesse sentido, ao avaliar a segunda parte do relatório Painel Intergovernamental de Mudanças

Climáticas (IPCC) de janeiro de 2007, a ex-ministra do Meio Ambiente do Governo

Brasileiro (Janeiro/2003 a Maio/2008) Marina Silva argumenta que é preciso que os países

desenvolvidos assumam uma responsabilidade no que diz respeito ao problema gerado pelas

mudanças climáticas. “Nós temos que dar nossa parcela de contribuição, mas tendo a clareza

de que os países ricos precisam fazer muito mais do que estão fazendo”. Ela ressaltou que os

países em desenvolvimento, contudo, não podem ser transformados em “bode expiatório de

uma questão grave e dramática”. Mais informações ver em Agência Brasil (2008).

Na entrevista exclusiva à Agência Brasil, Marina Silva ressaltou que o combate aos efeitos

das mudanças climáticas requer um esforço global e não apenas local, nacional ou regional.

4 Países como a Índia e Angola, que vivem em condições de miserabilidade, utilizam o solo, ou seja, os recursos naturais como forma de abrigo, busca de alimentos e depósitos de lixo, contribuindo para o aceleramento da degradação do ambiente. Disponível em http://www.migrante.org.br/artigo3outubro.doc. Acessado em 15/04/2008,15h40min.

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Mesmo que os países em desenvolvimento façam 100% do seu dever de casa, reduzindo 20%

de suas emissões (de gases poluentes causadores do efeito estufa), “se os países ricos - que

são responsáveis por 80% dessas emissões - não cumprirem suas metas, nós seremos

drasticamente afetados” (Disponível em: http://mercadoetico.terra.com.br/noticias.view.php?id=97.

Acessado em 05/06/2008, 18h05min).

Já no caso das nações industrializadas Dias (1998) retrata que estas também se mostram

envoltas com problemas ambientais, ligados ao seu modelo de crescimento, o que inclui o

esgotamento de alguns recursos naturais e vários tipos de poluição. Dentre esses, a poluição

industrial continua sendo a maior ameaça à qualidade do meio ambiente. A chuva ácida,

causada pela emissão de partículas sulforosas para o ar, destruiu grande extensão de florestas

na Europa. A diminuição da camada de ozônio pelos clorofluorcarbonos (CFCS), o

aquecimento da terra causado pelo efeito estufa, produzido pela descarga, na atmosfera, de

grandes quantidades de gás carbônico (CO2) e a crescente poluição podem representar

ameaças sem precedentes para a qualidade de vida em nosso planeta.

O ambiente aquático continua sendo alvo de poluição por despejos industriais e esgotos

domésticos. No entanto, a descrição desses problemas se tornaria incompleta caso não fossem

citados alguns acidentes industriais que trouxeram vários tipos de doenças, ferimentos e

mortes como os de Seveso e Chernobil5. Estes são exemplos vivos das ameaças que certas

indústrias operam na qualidade do meio ambiente e da vida humana, sem o devido rigor e

condições de segurança.

De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mesmo com a

melhoria das condições mundiais de saúde, principalmente nos últimos dez anos, as taxas de

mortalidade de países em desenvolvimento aumentaram, trazendo resultados como doenças

infecciosas e parasitárias. Do outro lado, nas nações desenvolvidas, a alta incidência de

5 Ocorrido em 1986, o acidente na Usina Nuclear de Chernobyl - (próximo à cidade de Kiev, na Ucrânia, antiga URSS) se deu em função de um superaquecimento em um dos reatores, como resultado de falhas de engenharia de controle. O superaquecimento provocou uma explosão que deslocou a tampa do reator de duas mil toneladas, lançando na atmosfera uma nuvem contendo isótopos radioativos, contaminando pessoas, animais e o meio ambiente de uma vasta expansão da Europa. Tal nuvem subiu a cerca de 5 km de altitude, sendo detectada a quilômetros de distância. Outro grande acidente foi datado em 1976, quando outro reator químico, com liberação de dioxina, em Seveso (Itália), gerou um profundo impacto na Europa, tornando-se o estímulo para o desenvolvimento da Diretiva de Seveso – EC Directive on Control of Industrial Major Accident Hazards, em 1982. Disponível em: http://www.cetesb.sp.gov.br/emergencia/riscos/estudo/historico.asp. Acessado em 16/04/2008, 13h10min.

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doenças (cardiovasculares e respiratórias, câncer e distúrbios psicossociais) está relacionada

às condições de vida em áreas urbanas, como citou Hans Jonas em matéria especializada na

revista Filosofia Ciência e Vida (2007).

Todos esses são problemas resultantes da situação sócio-econômica e de errôneos padrões de

comportamento. Portanto, as mudanças devem agir sobre os sistemas de conhecimento e

valores para que exista esperança de encontrar soluções para os problemas ambientais. Em

meio a isso, a educação pode se tornar o principal meio de integração, de mudança social e

cultural, empregando métodos que tornem os indivíduos mais conscientes e responsáveis para

enfrentar os desafios impostos pela preservação ambiental.

Dito isto, este estudo objetivará a investigação de uma possível solução para a atual situação

do meio ambiente. Neste cenário, a Educação Ambiental (EA) pode vir a ser o melhor

caminho, propondo uma conscientização sobre o que será do “futuro” se medidas preventivas

não forem tomadas. Medidas estas que possam enfatizar a importância em se respeitar às leis

ambientais, como as Não-Poluentes, as de Não-Emissão de Gás Carbônico e de outros gases

nocivos à saúde e ao meio ambiente, entre outras.

No Brasil, a institucionalização da Educação Ambiental (EA) advinda da Política Nacional de

Meio Ambiente, ocorreu em 1981, ano em que houve a “intenção” da inclusão da EA em

todos os níveis de ensino, para tanto vale a pena mencionar a lei n º 6.938/816, que já orienta

sobre a preservação. Desde então, várias parcerias foram criadas no intuito de divulgar seus

principais Programas, Projetos e Ações, todos desenvolvidos pela Coordenação-Geral de

Educação Ambiental.

No decorrer da pesquisa serão desenvolvidas revisões bibliográficas e observações teóricas de

como se deu o nascimento da educação ambiental, as principais estratégias até então

desenvolvidas pela área assim como, a atuação do cidadão consciente7. E através de uma

6 Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana. Disponível em: http://www.onu-brasil.org.br/agencias_pnuma.php. Acessado em 16/04/2008, 13h14min. 7 Neste caso, o cidadão consciente é aquele tem papel de desenvolver projetos com fim de adaptar-se à realidade sociocultural, econômica e ecológica da sociedade, e particularmente aos objetivos de seu desenvolvimento. Mais informações disponíveis em: http://www.guiarh.com.br/educacao-ambiental.htm. Acessado em 16/04/2008, 13h20min.

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análise sucinta, explicitar os danos causados ao meio ambiente, ou a possibilidade de uma

responsabilidade atribuída a cada cidadão comum ou às autoridades.

E assim, tratar da EA como um instrumento de promoção do exercício responsável e

consciente da cidadania, em busca da manutenção e melhoria da qualidade de vida.

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2- O NASCIMENTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

“Para transformar o Planeta, é preciso antes mudarmos nossa mentalidade, adotarmos uma postura mais harmoniosa e solidária com relação ao mundo.” (Elias Fajardo)

Segundo Dias (1998, p.20), “desde o tempo de nossos antepassados, a preocupação em

relação aos problemas ambientais já existia, cientistas, artistas, filósofos e alguns religiosos já

expressavam sua admiração pela natureza e em conseqüência uma forma de protegê-la”. Um

exemplo são as comunidades na Grécia Clássica e nas culturas orientais onde os antigos

também deixaram reflexões de grande sensibilidade sobre as relações homem-natureza.

Autores como Thomas Huxley em “Evidências sobre o Lugar do Homem e a Natureza”, em

1863, escreviam sobre as interdependências entre os seres humanos e demais seres do nosso

habitat. Um ano mais tarde, foi a vez de George P. Marsh em “O Homem e a Natureza”,

apresentar uma análise da ação do homem sobre os recursos naturais, evidenciando as causas

do declínio de civilizações antigas e a possibilidade das civilizações modernas irem para o

mesmo caminho.

Em 1949, Aldo Leopoldo, através de seus artigos para o periódico “A Sand County Almanac”,

chamava atenção quanto à necessidade de uma ética global dos recursos da terra.

Nos anos de 1950/60, com a capacidade do homem de produzir alterações no ambiente natural

e impulsionado pelos avanços tecnológicos, principalmente nos países mais desenvolvidos,

foram se evidenciando os efeitos negativos sobre a qualidade de vida, já em 1962 a jornalista

Rachel Carson lançava seu livro “Primavera Silenciosa”, se tornando um clássico na história

do movimento ambientalista mundial, com grande repercussão, tratando da perda da

qualidade de vida produzida pelo uso indiscriminado e excessivo dos produtos químicos e

seus efeitos sobre os recursos ambientais, como citado em Dias (1998).

Devido aos questionamentos acima apresentados, em 1968 decidiu-se pela sistematização dos

mesmos, quando trinta especialistas de várias áreas reuniram-se em Roma para discutir a crise

atual e futura da humanidade e então, funda-se o Clube de Roma.

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“O Clube de Roma em 1972 publicava o relatório ‘The Limits of Growth’ e denunciava que o crescente consumo mundial levaria a humanidade a um limite de crescimento e possivelmente a um colapso. Meses depois, realizava-se em Estocolmo, Suécia, a Conferência da ONU sobre o Ambiente Humano. Considerada o marco político internacional para o surgimento de políticas de gerenciamento ambiental, a Conferência de Estocolmo, gerou a Declaração sobre o Ambiente Humano e o Plano de Ação Mundial com a meta de inspirar e orientar a humanidade para a preservação e melhoria do ambiente humano. Reconheceu ainda, o desenvolvimento da Educação Ambiental como o elemento crítico para o combate à crise ambiental no mundo, e enfatizou a urgência da necessidade do homem reordenar suas prioridades”. (Dasmann, 1971, p.473).

Seguindo algumas recomendações, a Unesco8 promoveu em Belgrado, Iugoslávia (1975) o

Encontro de Belgrado, onde foram formulados os princípios e orientações para um programa

internacional de EA. Nesse encontro, foi ainda formulada a Carta de Belgrado9, orientando

sobre a necessidade de uma nova ética global, que fosse capaz de promover a erradicação da

pobreza, da fome, do analfabetismo, da poluição, da exploração e dominação humanas e

censurava o desenvolvimento de uma nação à custa de outra, conforme lembra Leopoldo

(1949).

Após esse encontro outros vários ocorreram e as recomendações foram documentadas e

serviram como recursos para a Conferência Internacional sobre a EA programada pela Unesco

em parceria com o Pnuma10. Trata-se da Conferência de Tbilisi, realizada em Tbilisi, na

Geórgia, tendo como principal resultado a Declaração sobre a Educação Ambiental,

documento este, que apresentava as finalidades, objetivos, princípios orientadores e

estratégias para o desenvolvimento da EA e elegia o treinamento de pessoal, o

desenvolvimento de materiais educativos, a pesquisa de novos métodos, o processamento de

8 Unesco - sigla formada pelas iniciais das palavras inglesas United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), instituição especializada da ONU, constituída em 1946 para proteger as liberdades humanas e incentivar o desenvolvimento cultural. Tem como sede Paris. http://www.redesbr.com.br/dicionario/unesco.html. Acessado em 05/06/2008, 11h9min. 9 A Carta de Belgrado, elaborada no Encontro de Belgrado (Iugoslávia, 1975), é um marco conceitual de relevância no tratamento das questões ambientais e se constitui até o presente em um dos documentos mais lúcidos e importantes gerados naquela década. No fundo a Carta de Belgrado é uma ampliação da Ética da Terra preconizada por Aldo Leopoldo (1949). 10 Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) responsável por catalizar a ação internacional e nacional para a proteção do meio ambiente no contexto do desenvolvimento sustentável. http://www.pnuma.org/brasil1/html/escritorio.htm. Acessado em 05/06/2008, 17h21min.

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dados e a disseminação de informações como o mais urgente dentro das estratégias de

desenvolvimento, segundo Dias (1998).

Neste contexto, a “participação” da Educação Ambiental se faz necessária ao

desenvolvimento de subsídios que possam, enfim mudar o direcionamento da atual situação

mundial.

2.1 – Estratégias internacionais para ações no campo da EA

Principalmente, nos dez últimos anos, órgãos internacionais como a Unesco e o Pnuma, se

esforçaram em prol do intercâmbio de informações e na difusão de novas idéias em questão

de Educação Ambiental. É grande o número de países, grupos e pessoas interessadas nas

atividades de desenvolvimento do projeto, encarregando-se cada vez mais de “divulgar as

informações” tornando o intercâmbio de experiências um imperativo para a universalização

da EA, como afirma Dias (1998).

Dessa forma, com o objetivo de fortalecer a disseminação do sistema internacional de

informações e o intercâmbio de experiências do Programa Internacional de EA, foram

determinadas as seguintes ações:

- Estabelecimento de um serviço computadorizado (International Computerizad Information

Service for Environmental Education);

- Fortalecimento de redes regionais de instituições de excelência e centros de documentação;

- Publicação do Jornal Connect (atualmente o Jornal Connect tem uma tiragem trimestral de

treze mil exemplares, em seis idiomas, distribuído gratuitamente). Tem sido o meio mais

efetivo de divulgação de informações sobre EA, em âmbito internacional.

Logo, “é incumbência da educação e formação como meio fundamental de integração e de mudança social e cultural, conceber objetivos e empregar novos métodos capazes de tornar os indivíduos mais conscientes, mais responsáveis e mais preparados para lidar com os desafios de preservação da qualidade do meio ambiente e da vida, no contexto do desenvolvimento sustentado para todos os povos”. (DIAS, 1998, p.82).

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Em se tratando das orientações para a estratégia internacional em EA, Dias vai dizer que

durante o último decênio muitos países iniciaram trabalhos no campo da educação, com o fim

de proporcionar, a partir da análise das necessidades e problemas, inovações relativas ao

conteúdo, métodos e estratégias de uma educação e formação que correspondam aos

princípios e objetivos da EA.

Para tanto, através dessas pesquisas foi possível conceber novas maneiras de concentrar os

conteúdos educativos, recorrendo a temas integradores ou a perspectivas sistemáticas, bem

como procedimentos pedagógicos ativos que favorecem a participação, o compromisso social

e a responsabilidade dos destinatários do processo de EA.

Dasmann (1971) argumenta que diante de algumas iniciativas um tanto limitadas, somente

alguns professores ou administradores, junto a planejadores se engajam verdadeiramente nas

atividades e, ao retornarem aos seus órgãos de origem depois de seminários, encontros ou

cursos na área, não dispõem de meios para promover a mobilização institucional, estrutural e

financeira que seriam necessárias para influenciar na definição de políticas nacionais de

educação, meio ambiente e desenvolvimento.

Assim, no relatório final da Conferência de Tibilisi11, foram encontradas recomendações de

estratégias para a pesquisa e experimentação em EA. Acentuou-se que todas as atividades

nessa área exigiriam igualmente ações de pesquisa e experimentação sobre as orientações, o

conteúdo, os métodos e os instrumentos necessários para a sua execução. As prioridades

estabelecidas, segundo enumera Dias (1998) foram:

1) pesquisa e experimentação relacionadas a conteúdos e métodos educacionais. Tais

programas devem produzir um refinamento dos conceitos fundamentais de uma

cultura ecológica, estabelecer os padrões de uma ética ambiental, e preparar

metodologias para a EA de todos os grupos sociais;

2) pesquisa e experimentação relativas a outros aspectos integrantes da EA. Devem ser

conduzidas com a finalidade de identificar pontos de convergência e

complementaridade com outras atividades educacionais, cujos conteúdos estejam

11 As recomendações da Conferência de Tibilisi (1977) sobre os objetivos e princípios orientadores da EA devem ser consideradas como os alicerces para a EA em todos os níveis, dentro e fora do sistema escolar.

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relacionados a aspectos fundamentais do ambiente humano, em particular, à educação

voltada à nutrição e saúde;

3) pesquisa relacionada à abordagem pedagógica para a questão dos valores. A EA lida

também com aspectos afetivos e axiológicos. Estes são fundamentais quando se busca

gerar padrões de comportamento permanentes, com vistas à preservação e melhoria da

qualidade do ambiente humano. Faz-se necessário conduzir pesquisas e experimentos

que lidem, no contexto educacional e à luz dos diferentes objetivos das populações,

com questões relativas ao burilamento de atitudes e valores ligados ao ambiente e a

seus problemas associados;

4) pesquisas relacionadas a novas estratégias para a difusão de mensagens, visando ao

desenvolvimento de conscientização ambiental, educação e formação. Diante da

limitação de recursos disponíveis para a EA, tornam-se indispensáveis as pesquisas e

experiências com a função de definir as estratégias mais eficazes para a transmissão

das mensagens educativas, novos enfoques para a formação de pessoal e utilização de

novas tecnologias da informação e comunicação (teleprocessamento, vídeo, etc.);

5) pesquisas sobre avaliação comparada nos diferentes componentes do processo

educacional.

Dessa forma, de acordo com Dasmann (1971) a avaliação em EA deverá ser pesquisada de

modo a se estabelecer a real efetividade do processo, visando à execução dos ajustes

necessários para a sua melhoria. Uma área adicional para pesquisa deveria abordar

conhecimentos e atitudes relativos ao ambiente de certos grupos específicos de aprendizes,

principalmente no que diz respeito ao treinamento de professores que emergem de um

processo tradicional de ensino compartimentado.

2.2 O que é Educação Ambiental

Ao longo de sua criação, a EA recebeu várias definições em sua escalada evolucionária.

Dentre as quais temos, a seguir, Stapp et al. (1969) que definiu a EA como um processo que

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objetiva a formação de cidadãos, cujos conhecimentos sobre o ambiente biofísico e os

problemas associados possam alertá-los a resolver seus problemas.

Mais tarde, em 1970, a IUCN (International Union for the Conservation of Nature and Natural

Resources) definiu a EA como um processo de reconhecimento de valores e esclarecimentos

de conceitos que permitam o desenvolvimento de habilidades e atitudes necessárias ao

entendimento e apreciação das inter-relações entre o homem, sua cultura e o ambiente

biofísico que o circunda.

Já Mellowes (1972), definiu a EA como um processo no qual deveria ocorrer um

desenvolvimento progressivo de um senso de preocupação com o meio ambiente, baseado em

um completo e sensível entendimento das relações do homem com o ambiente à sua volta.

Após analisar estes momentos vemos que: se no início a EA recebeu várias definições,

sobretudo com um papel de alertar o cidadão, em um segundo momento percebe-se que houve

a necessidade de desenvolver certas habilidades carentes ao desenvolvimento necessário à

EA, e em última instância, com Mellowes, vemos a necessidade de criar um processo de

desenvolvimento emergente que não vise apenas à conscientização do dano, como também

uma forma de repará-lo. Através da evolução dos conceitos apresentados, percebe-se o

vínculo entre o meio ambiente e a forma como este era percebido. Pois, no passado, o

conceito de meio ambiente foi reduzido exclusivamente aos seus aspectos naturais e não

permitia apreciar as interdependências, nem mesmo a contribuição das ciências sociais à

compreensão e melhoria do ambiente humano. Ou seja, tratar a questão ambiental abordando

apenas um de seus aspectos – o ecológico, é o mesmo que praticar o mais primário e ingênuo

reducionismo como justifica Dasmann (1971).

E, sob um olhar mais profundo, Dias (1998) ainda analisa que adotar apenas o verde pelo

verde, seria o mesmo que desconsiderar de forma lamentável as profundas raízes das nossas

mazelas ambientais, situadas no nosso modelo de desenvolvimento adotado sob a tutela dos

credores internacionais. E foi a partir desse prisma que novas definições acerca da EA foram

construídas.

Cita-se a Conferência de Tbilisi, ocorrida em (1977), que continha os objetivos e princípios

orientadores da EA, na qual esta foi definida como uma dimensão dada ao conteúdo e à

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prática da educação, orientada para a resolução dos problemas concretos do meio ambiente

através de enfoques interdisciplinares e de uma participação ativa e responsável de cada

indivíduo e da coletividade. Essa definição é válida até hoje, afirma Dasmann (1971).

Nas informações técnicas elaboradas pela Comissão Interministerial para a preparação da

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, na versão

julho/1991, foram apresentadas as bases conceituais da EA onde se lê:

A educação ambiental se caracteriza pela incorporação das dimensões socioeconômica, política, cultural e histórica, não permitindo basear-se em pautas rígidas e de aplicação universal, devendo considerar as condições e estágio de cada país, região e comunidade através de uma perspectiva histórica. Dessa forma, a educação ambiental deve permitir a compreensão da natureza complexa do meio ambiente e interpretar a interdependência entre os diversos elementos que o constituem com vistas a utilizar racionalmente os recursos do meio na satisfação material e espiritual da sociedade, bem como no presente e no futuro. Para que isso ocorra, a educação ambiental deve capacitar ao pleno exercício da cidadania, através da formação de uma base conceitual abrangente, técnica e culturalmente capaz de permitir a superação dos obstáculos à utilização sustentada do meio. O direito à informação e o acesso às tecnologias capazes de viabilizar o desenvolvimento sustentável constituem, assim, um dos pilares deste processo de formação de uma nova consciência em nível planetário, sem perder a ótica local, regional e nacional. O desafio da educação, neste particular, é o de criar as bases para a compreensão holística da realidade. (Educação Ambiental no Brasil, p.63).

Assim, Dias (1998) conclui que muitas foram as definições criadas no decorrer do tempo, no

entanto, as mais recentes guardam entre si vários pontos comuns dentre os quais o seu aspecto

internacionalizante que salienta a necessidade de se considerar os múltiplos aspectos que

compõem a questão ambiental, ou melhor, a necessidade de uma análise mais integradora e

holística.

2.2.1 Subsídios para a Promoção da Educação Ambiental

Desde a Conferência de Tbilisi, e mesmo em outros vários encontros internacionais em prol

da EA, muitas das suas orientações continuam sendo válidas, concretizando o evento como o

de maior importância para o desenvolvimento e afirmação da EA, lembra Dasmann (1971).

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No ano de 1980, a UNESCO publicou um documento com o título “La Educación

Ambiental”, que continha as observações importantes da Conferência de Tbilisi em relação a

vários aspectos. Dada sua importância e pelas proposições de subsidiar as pessoas envolvidas

com a EA, Dias (1998), cita alguns dos tópicos que foram traduzidos (UNESCO, 1980, pp.

13-63.), como segue:

• Quanto aos problemas do meio ambiente:

a) a fome, as grandes disparidades entre as populações humanas em relação à qualidade

da sua existência, a degradação dos ecossistemas e das paisagens, a desertificação, a

escassez crescente dos recursos naturais, as inúmeras causas de contaminação e a

degradação da qualidade de vida têm justificado amplamente o alarma surgido nos

últimos trinta anos;

b) a miséria agrava a vulnerabilidade dos países;

c) nos países em desenvolvimento, as estratégias de crescimento econômico buscam um

aumento máximo dos benefícios e baseiam-se em planos fragmentados que a curto

prazo não são garantia de conservação dos ecossistemas;

d) a satisfação das diversas necessidades humanas, integrada a um consumo excessivo de

recursos e um rápido crescimento demográfico, tem exercido uma pressão crescente

sobre o meio ambiente, seja ela direta, pelo excesso de exploração das riquezas

naturais, ou indireta, na produção de quantidades excessivas de detritos em relação à

capacidade de absorção e depuração do meio ambiente;

e) de modo assíduo, tem-se confundido o crescimento com o desenvolvimento;

f) (...) promover um desenvolvimento que respeite a capacidade de assimilação e

regeneração da biosfera.

• Quanto às finalidades e características da EA:

a) a educação abordava temas sobre a natureza com um tratamento fragmentado, com

freqüência abstração e desligado da realidade ao redor do que se pretendia ensinar;

descuidando da necessidade de criar e valorizar comportamentos de responsabilidade e

respeito;

b) os aspectos biológicos e físicos compõem a base natural do meio ambiente. As

dimensões socioculturais e econômicas definem as orientações e os instrumentos

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conceituais e técnicos através dos quais, o homem poderá compreender, satisfazer suas

necessidades e utilizar melhor os recursos da natureza;

c) as finalidades da EA devem adaptar-se à realidade sociocultural, econômica e

ecológica de cada sociedade e região, e particularmente aos objetivos do seu

desenvolvimento;

d) um dos principais objetivos da EA equivale em permitir que o ser humano

compreenda a natureza complexa do meio ambiente, resultante das interações dos seus

aspectos biológicos, físicos, sociais e culturais. Com função de facilitar os meios de

interpretação da interdependência desses diversos elementos, no espaço e no tempo, a

fim de promover uma utilização mais reflexiva e prudente dos recursos naturais para

satisfazer as necessidades da humanidade;

e) a EA deve mostrar com toda clareza, as interdependências econômicas, políticas e

ecológicas do mundo moderno no qual as decisões e comportamentos de todos os

países podem ter conseqüências de alcance internacional;

f) que a EA não seja uma disciplina nova. Deve ser a contribuição de diversas disciplinas

e experimentos educativos ao conhecimento e à compreensão do meio ambiente, assim

como à resolução dos seus problemas e à sua gestão. Sem o enfoque interdisciplinar

será impossível estudar as inter-relações ou abrir o mundo da educação à comunidade,

estimulando seus membros à ação;

g) a EA (...) constitui o modo mais adequado para promover uma educação mais ajustada

à realidade, às necessidades, aos problemas e aspirações dos indivíduos e das

sociedades no mundo atual.

• Quanto às premissas da EA:

Dadas as observações, conceitos, estratégias e objetivos sociais discutidos nas conferências e

encontros, emergiram algumas premissas12 para a EA, que assim se resumem:

a) a evolução social e a evolução cultural são mais rápidas do que a evolução biológica.

Logo, a evolução biológica não pode acompanhar os desequilíbrios ambientais

produzidos pela evolução sociocultural;

12 Estas premissas apresentam pontos importantes para reflexão e fizeram parte do documento 8 da série de Educação Ambiental da UNESCO/UNEP/IGEP, 1986.

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Neste ponto, Dubos (1981), lembra que o nosso equipamento biológico não dispõe de

plasticidade para mudanças rápidas, pois a constituição genética a nós transmitida pelas

características físicas do nosso berço evolucionário não mudou de modo significativo nos

últimos 50mil anos. Os requisitos fisiológicos13, estruturas anatômicas14 e drives

psicológicos15 dos quais dispomos ainda são governados pelo equipamento genético adquirido

durante a idade da pedra. Portanto, não se pode contar com adaptações biológicas para

suportarmos as possíveis alterações ambientais produzidas pelo homem.

b) os problemas ambientais são complexos e requerem a intervenção de especialistas de

várias disciplinas para as suas soluções, em uma abordagem interdisciplinar;

Aqui, a necessidade de uma contribuição informativa de outras disciplinas com intuito de

alargar os horizontes sobre os problemas ambientais.

c) os problemas ambientais devem ser vistos inicialmente no seu contexto local de

maneira que o indivíduo possa perceber a sua importância e em seguida no contexto

global.

E neste ponto ‘C’ chegamos ao que chamaríamos de uma visão holística sobre os problemas

ambientais. Lembrando sempre que dificuldades globais, como o tema da preservação de

espécies em extinção, acabam sendo ofuscadas por problemas de enfoque local como as

várias crianças que morrem pelo uso de água contaminada, desfazendo-se assim a visão

totalitária do assunto. Desse modo, voltando ao que foi visto anteriormente, a importância do

enfoque ao meio ambiente deve ser total, incluindo todos os seus aspectos.

d) a população humana, mais do que qualquer outra, tem causado danos ao ambiente e,

portanto, deve ser responsável por ações repreensivas e preventivas;

13 Requisitos fisiológicos - um termo da biologia que se refere ao estudo das múltiplas funções mecânicas, físicas e bioquímicas no organismo dos seres vivos. Disponível em http://www.terramater.pt/. Acessado em 03/10/2008, 15h32min. 14 Estruturas anatômicas - outro ramo da biologia no qual se estudam a estrutura e organização dos seres vivos, tanto externa quanto internamente. Disponível em http://www.jinuf.org.br/volume3/expeport/port/Resumo.htm. Acessado em 03/10/2008, 15h47min. 15 Drives Psicológicos - Termo da psicologia que significa (o que direciona) tratando especificamente de traços e comportamentos, atitudes mentais, crenças e valores que diferenciariam as pessoas. Disponível em http://www.biblioteca.sebrae.com.br/bds/BDS.nsf/.Acessado em 09/10/2008, 12h23min.

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Mais uma vez volta-se à necessidade do estabelecimento de uma ética global, tão sonhada por

Aldo Leopoldo, iniciada pelo Encontro de Bruxelas, apoiada pela UNESCO/UNEP e ignorada

pela sociedade tecnocrata16.

e) o bem-estar e a sobrevivência da humanidade dependem do valor que as pessoas

conferem ao respeito e consideração pelos outros; ao cuidado e proteção dos recursos

da humanidade; à promoção de ações que favoreçam a humanidade como um todo e

melhorem a qualidade ambiental.

Logo, dentre os pontos abordados, o enfoque se deu na discussão sobre a possível

participação do homem como um ser atuante na EA. A propósito das características dos

tratados, estes visam a globalidade e realidade sobre os temas que ameaçam de forma direta

ou indiretamente a humanidade e sua interação com o meio. E por fim, a competência dada às

pessoas envolvidas de observar os objetivos, premissas e intenções da EA no intuito de chegar

à intercessão entre a humanidade e o meio ambiente.

2.2.2 Especificidades da Educação Ambiental em âmbito internacional

Como foi proclamada na Declaração das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano em

1972 na cidade de Estocolmo, a defesa e a melhoria do meio ambiente para as próximas

gerações presentes e futuras constituem um objetivo urgente da humanidade. E para que se

chegue a tal ponto, novas estratégias deverão ser adotadas, incorporando-as ao

desenvolvimento, o que representaria especialmente para os países em desenvolvimento um

grande avanço nessa direção. Nesse sentido, a solidariedade e a eqüidade no relacionamento

entre as nações deverão constituir a base de uma nova ordem internacional, como destaca

Dias (1998).

Através da utilização dos avanços da ciência e da tecnologia, Dasmann (1971) ressalta que a

educação deve desempenhar uma conscientização e uma melhor compreensão dos problemas

que afetam o meio ambiente. Essa educação deverá promover a elaboração de

16 Tecnocrata - expressão surgida no séc.XX, nos Estados Unidos com a idéia de uma nova forma de organizar a sociedade, admitindo que a economia poderia ser dirigida por técnicos e organizadores, independente dos proprietários. Disponível em http://topicospoliticos.blogspot.com/2004/10/ tecnocracia-o-que.html. Acessado em 19/09/2008, 16h 42min.

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comportamentos positivos que respeitem o meio ambiente e a utilização de seus recursos

pelas nações.

Tendo como base um enfoque global, sustentado em um amplo leque interdisciplinar, a EA

cria uma perspectiva onde se reconhece uma grande interdependência entre o meio natural e o

meio artificial, destacando a continuidade das conexões dos atos do presente com as

conseqüências do futuro, além da interdependência entre as comunidades nacionais e a

solidariedade necessária entre os povos.

Visto isso, é orientado que a EA deveria dirigir-se ao indivíduo em um processo ativo para

resolver os problemas no contexto de realidades específicas e alimentar a iniciativa, o sentido

de responsabilidade e o empenho em construir um futuro melhor.

Assim sendo, para alcançar seus objetivos, a EA exige a realização de atividades específicas

para preencher lacunas que ainda persistem no sistema de ensino.

Em decorrência, Dias (1998), ressalta alguns pontos que foram reunidos na Conferência de

Tbilisi:

a) um chamado aos Estados membros17 para incluir em suas políticas de educação

medidas que incorporem conteúdos, diretrizes e atividades ambientais a seus

sistemas;

b) convite às autoridades de educação a intensificar seus trabalhos de reflexão, pesquisa

e inovação condizentes com a EA;

c) solicita aos Estados membros a colaboração através do intercâmbio de experiências,

pesquisas, documentação e que os serviços de formação estejam disponíveis aos

docentes e especialistas de outros países;

d) pedido à comunidade internacional que ajude a fortalecer esta colaboração,

enfatizando a necessária solidariedade entre os povos e que possa ser alentadora ante a

compreensão internacional e a causa da paz.

17 A Carta das Nações Unidas (Capítulo II, Artigo 4) salienta que a admissão como membro das Nações Unidas está aberta a todos os Estados amantes da paz que aceitarem as obrigações contidas na Carta. "A admissão de qualquer desses Estados como membro das Nações Unidas será efetuada por decisão da Assembléia Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança." A ONU tem hoje192 Estados-membros. Disponível em http://www.onu-brasil.org.br/index.php. Acessado em 28/10/2008, 16h51min.

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Sendo assim, várias recomendações foram fabricadas pela Conferência Intergovernamental

sobre Educação Ambiental aos países membros, dentre as quais faz-se importante citar

algumas:

A Recomendação de número 2 ao reconhecer que a educação ambiental deverá contribuir para

consolidação da paz, desenvolvimento da compreensão recíproca entre os Estados e

constituição de um verdadeiro instrumento de solidariedade internacional e de eliminação de

todas as formas de discriminação racial, política e econômica.

Observar também que o conceito de meio ambiente abrange uma série de elementos naturais,

criados pelo homem, e sociais, da existência humana, e que os elementos sociais constituem

um conjunto de valores culturais, morais e individuais, assim como de relações interpessoais

na esfera do trabalho e das atividades de tempo livre.

A Recomendação de número 3 ao:

“Considerar que é melhor abordar e tratar as questões relativas ao meio ambiente, em função da política global aplicada pelos governos para o desenvolvimento nacional e para as relações internacionais, na busca de uma nova ordem internacional. Considerando que o meio ambiente diz respeito a todos os habitantes de todos os países, e que sua conservação e melhoria exigem a adesão e a participação ativa da população, a Conferência recomendou aos Estados membros que integrem a educação ambiental em sua política geral e que adotem, no marco de suas estruturas nacionais, as medidas apropriadas, objetivando, sobretudo:

a) sensibilizar o público em relação aos problemas do meio ambiente e às grandes ações em curso, ou previstas;

b) elaborar informações destinadas a permitir uma visão de conjunto dos grandes problemas, das possibilidades de tratamento, e da urgência respectiva das medidas adotadas ou que devam ser adotadas;

c) dirigir-se ao meio familiar e às organizações que se ocupam com a educação pré-escolar com vistas a que os jovens, sobretudo antes da idade escolar obrigatória, recebam uma educação ambiental;

d) confiar à escola um papel determinante no conjunto da educação ambiental e organizar, com esse fim, uma ação sistemática na educação primária e secundária;

e) aumentar os cursos de ensino superior relativos ao meio ambiente; f) transformar progressivamente, mediante a educação ambiental, as atitudes e

o comportamentos para fazer com que todos os membros da comunidade tenham consciência de suas responsabilidades, na concepção, elaboração e aplicação dos programas nacionais ou internacionais relativos ao meio ambiente;

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g) contribuir, desse modo, na busca de uma nova ética fundada no respeito à natureza, ao homem e à sua dignidade, ao futuro e a exigência de uma qualidade de vida acessível a todos, com um espírito geral de participação”. DIAS (1998, p.67) .

Uma outra recomendação que merece destaque é a Recomendação de número 8, que se refere

aos setores da população aos quais está destinada a educação ambiental.

Assim sendo, a conferência recomendou aos setores da população que levassem em

consideração:

- a educação do público em geral, que deverá atingir todas as faixas de idade e níveis de

educação formal, como também as diversas atividades de educação não-formal voltada para

jovens e adultos. Aqui, a recomendação analisa que as organizações voluntárias podem

desempenhar importante papel;

- a educação de grupos profissionais ou sociais específicos e a formação de determinados

grupos de profissionais e cientistas, que se ocupam de problemas específicos do meio

ambiente como os biólogos, ecólogos, hidrólogos, agrônomos, engenheiros, oceanógrafos,

etc.

A Recomendação de número 13, ao considerar que a educação ambiental nas escolas

superiores se diferenciará cada vez mais da educação tradicional e que os conhecimentos

sejam transmitidos aos estudantes para que suas futuras profissões tragam benefícios para o

meio ambiente, para tanto a conferência recomenda:

- que o potencial atual das universidades seja examinado para o desenvolvimento de

pesquisas;

- que a aplicação de um tratamento interdisciplinar à correlação entre o homem e a natureza

seja estimulada em qualquer disciplina;

- que meios auxiliares e manuais sobre os fundamentos teóricos de proteção ao meio ambiente

sejam elaborados.

Ao avaliar que quem produz bens de consumo e faz publicidade é responsável direta ou

indiretamente pela repercussão do produto sobre o meio ambiente, a Recomendação de

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número 16 reconhece a grande influência dos meios de comunicação social no

comportamento do consumidor e recomenda que esses “meios” tenham consciência de sua

função educativa e possam contribuir para a formação de um consumidor atento àqueles bens

que sejam prejudiciais à saúde.

Ao tratar da temática cooperação regional e internacional e tendo em vista os efeitos globais

vindos de evoluções passada, presente e futura de todas as nações do mundo e ao avaliar o

crescimento econômico e o progresso técnico sem precedentes, as mudanças, melhorias e

perigos para o meio ambiente, é importante citar a Recomendação de número 23:

“Conscientes de que somente a cooperação, a compreensão, a ajuda mútua, a boa vontade e as ações sistematicamente preparadas, planejadas e executadas, permitirão resolver, em condições de paz, os problemas ambientais presentes e futuros, a Conferência estima que a EA ofereça à população mundial os conhecimentos necessários para utilizar a natureza e os recursos naturais, controlar a qualidade do meio ambiente de modo que este não somente não se deteriore, como possa ser melhorado acertadamente, assim como para adquirir os conhecimentos, as motivações, o interesse ativo e as atitudes que permitam dedicação para resolver individual e coletivamente os atuais problemas, e prevenir os que possam surgir, dado que nos dias atuais a humanidade dispõe dos meios e conhecimentos necessários para tanto”. (DIAS, 1998, p.78).

Portanto, ao declarar que os documentos preparados pela Conferência de Tbilisi, suas

sugestões e experiências apresentadas tornaram um marco geral para a EA, foi recomendado

aos Estados membros ainda que:

- tomem as medidas necessárias para concretizar de forma ampla e em conformidade com as

necessidades e possibilidades de cada país interessado, os resultados desta Conferência bem

como elaborar planos de ação e agenda para a realização de atividades como:

a) promoção de uma cooperação bilateral, regional e internacional que se baseie em pesquisa

científica, no intercâmbio de informações e experiências para produção de programas em

comum e;

b) facilitar a descoberta de soluções globais aos problemas ambientais que se tornem

competência de cada país interessado fixando os requisitos (legislação, medidas financeiras,

institucionais ou de outra índole), capazes de pôr em curso a Educação Ambiental.

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E por fim, cabe salientar a Recomendação de número 41 sobre o importante papel que as

organizações não-governamentais e os organismos voluntários exercem no campo da EA

local, nacional, regional e internacionalmente.

Tendo presente que a eficácia da ação das organizações não-governamentais e os organismos

voluntários dependem em muito dos vínculos que mantêm com outras organizações não-

governamentais e com os organismos voluntários em âmbito local, sub-regional e nacional,

aconselha-se aos Estados membros que promovam e auxiliem esses organismos, fomentando

e estimulando uma conscientização sobre as questões ambientais.

Contudo, apesar dos documentos de Tbilisi constituírem importantes subsídios para o

desenvolvimento da EA, de conter várias orientações técnicas a serem seguidas, no Brasil, por

exemplo, houve muitas críticas a esses documentos, porém até hoje, por razões que se

desconhecem, ainda são fracas as novas alternativas ou sugestões apresentadas.

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3- A REALIDADE PROBLEMÁTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

“Educação Ambiental significa muito mais do que coleta seletiva, reciclagem de lixo, poluição e

extinção de espécies”. (Genebaldo Dias ao comentar o artigo Iniciação à Temática Ambiental.)

Antes da necessidade em se pensar, falar ou fazer algo sobre a EA, vários fatores, como o

aquecimento global, efeito estufa, aumento da temperatura mundial, degelo das calotas

polares, gases poluentes, furacões, ciclones e outros contribuíram ou continuam colaborando

para os efeitos nocivos provocados ao meio ambiente.

Dentre estes fatores, cita-se, como modelo emblemático da realidade mundial, o aquecimento

global18, uma questão que é, por natureza, ambiental, mas com fortes implicações sociais e

políticas. Como mostra o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla

em inglês), da Organização das Nações Unidas (ONU), em fevereiro de 2007, ano em que

divulga um relatório afirmando que o planeta está ficando mais quente por culpa dos homens.

A partir dessa constatação, impõe-se uma série de desafios, por exemplo, como solucionar um

problema que é mundial?

Se apenas um país ou um grupo de países realizar ações de combate ao aquecimento, isso não

será suficiente para tentar resolver o problema. Segundo Amélia Medeiros (2007) “não há

como resolver um problema que é na essência global, sem uma ampla cooperação

internacional”.

A cooperação, no caso das mudanças climáticas, na medida em que se torna mais necessária,

torna-se também mais difícil. No contexto político atual, os países estão em diferentes

estágios de desenvolvimento, e têm interesses distintos em relação à solução do problema. O

fato é que diferentes países querem se engajar de maneira diferente no esforço, porque uns

entendem que têm mais a perder ou mais a ganhar do que outros, como afirma o professor do

Programa de Planejamento Energético da UFRJ e membro do IPCC, Roberto Schaeffer.

18 O Aquecimento Global ocorre em função do aumento da emissão de gases poluentes, principalmente, derivados da queima de combustíveis fósseis (gasolina, diesel, etc.), na atmosfera. Estes gases (ozônio, dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e monóxido de carbono) formam uma camada de poluentes, de difícil dispersão, causando o famoso efeito estufa. Este fenômeno ocorre, pois, estes gases absorvem grande parte da radiação infra-vermelha emitida pela Terra, dificultando a dispersão do calor. Disponível em http://www.suapesquisa.com/geografia/aquecimento_global.htm. Acessado em 09/10/2008, 12h37min.

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A seguir o gráfico demonstrativo19 de 2008, um ano após a divulgação do relatório do Painel

Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) de fevereiro de 2007, como citado no

texto. Veja a evolução das anomalias de temperatura da Terra desde 1978 pelos dados da

RSS, UAH, HadCRUT e GISS20.

Gráfico 1 – Anomalias na Temperatura

O gráfico mostra a tendência de aquecimento no planeta nos últimos trinta anos e a evidente

comprovação por todos os métodos de medição. É interessante observar que, contrariando as

projeções de uma elevação contínua nesta década, o aquecimento global atingiu um pico

quando do Super El Niño21 de 1998 e manteve-se praticamente estabilizado desde então.

19 Gráfico demonstrativo relativo ao ano de 2008, que analisa o aquecimento do planeta nos últimos 30anos. Disponível em http://www.suapesquisa.com/geografia/aquecimento_global.htm. Acessado em 09/10/2008, 12h33min. 20 RSS, UAH, HadCRUT e GISS são os principais indicadores de temperatura planetária. Disponível em http://www.meteopt.com/forum/climatologia/balanco-inverno-2007-2008-a-2041.html. Acessado em 09/102008, 13h25min. 21 O El Niño representa o aquecimento anormal das águas superficiais e sub-superficiais do Oceano Pacífico Equatorial. Com esse aquecimento do oceano e com o enfraquecimento dos ventos, começam a ser observadas mudanças da circulação da atmosfera nos níveis baixos e altos, determinando mudanças nos padrões de transporte de umidade, e, portanto variações na distribuição das chuvas em regiões tropicais e de latitudes médias e altas. Ver mais informações em: O El Niño e Você - o fenômeno climático - Gilvan Sampaio de Oliveira Editora Transtec - São José dos Campos (SP), março de 2001. Acessado em 14/10/2008, 16h47min.

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Ainda de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da

Organização das Nações Unidas, o aquecimento global é "indiscutível". Susan Solomon,

cientista do Grupo de Trabalho sobre o Aquecimento Global, diz que estudos demonstraram

que o "aquecimento do planeta nos últimos 50 anos foi incomum para o padrão dos últimos

1.300 anos". O relatório aponta, que a temperatura da terra poderia subir até 6,4 graus Celsius.

Houve, segundo a ONU, contribuição humana muito identificável para o aquecimento recente

em todos os continentes. O IPCC também prevê ondas de calor mais intensas e duradouras,

secas mais severas e ciclones tropicais mais fortes.

O relatório indica que as conseqüências do aquecimento global perdurariam pelo milênio com

o contínuo aquecimento do planeta, com mais fome, ondas de calor e a conseqüente elevação

do nível do mar.

Dentre as conclusões apresentadas por Susan Solomon, inclui o alerta de que os níveis de

dióxido carbono se elevam desde 1750 no maior patamar em milhares de anos. Conforme o

relatório, os combustíveis fósseis estão entre os grandes responsáveis pelo aquecimento do

planeta. O documento aponta que o aquecimento global advém 90% dos gases do efeito estufa

liberados na atmosfera e que a atividade solar tem uma contribuição mínima.

De acordo com a história, quem mais contribuiu para a intensificação do efeito estufa, que

hoje resulta no aquecimento global, foram os países que são considerados desenvolvidos. Nos

últimos 200 anos, a industrialização desses países ocorreu por ocasião do uso de combustíveis

e do desmatamento. Os países em desenvolvimento, liderados atualmente por Índia, China e

Brasil, tiveram uma participação relativamente pequena na composição do problema.

Segundo essas nações, adotar medidas de antiaquecimento pode significar neste momento,

abrir mão de desenvolvimento no modelo dos países ricos. Já no caso dos países

desenvolvidos, segundo Roberto Shaeffer, diminuir a emissão de gases não prejudicará o

crescimento, como tem sido afirmado.

Neste sentido, o jornal The New York Times publicou uma reportagem destacando a mudança

na linguagem do governo norte-americano, sobre o ano de aquecimento recorde nos Estados

Unidos. Possivelmente a primeira vez desde o início do governo Bush, que denunciou o

Tratado de Kyoto ratificado pela administração Clinton, o NOAA (Administração Nacional

de Oceanos e Atmosfera) fez menção do efeito estufa como uma das possíveis causas para a

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temperatura acima da média no território norte-americano em 2006. Conforme o The New

York Times, Bush fez dois discursos até o momento sobre o clima. Em um deles, realizado

em julho de 2005 na Dinamarca, Bush afirmou: “Escutem, reconheço que a superfície da terra

está mais quente e que o aumento dos gases do efeito estufa causado pelos humanos pode

estar contribuindo para o problema”. No entanto, enxerga no Tratado de Kyoto um

instrumento ineficiente para reduzir o aquecimento global e à custa de muitos empregos norte-

americanos, sem trazer benefícios expressivos.

Em se tratando das conseqüências das mudanças climáticas, a dinâmica do problema é a

desumana desigualdade. Todos irão sofrer, no entanto, os países que mais poluem

possivelmente serão menos atingidos. Deste modo, os países desenvolvidos, assim como as

classes mais abastadas de todos os países, pelo fato de terem mais recursos econômicos, terão

também mais e melhores condições de se adaptar ao novo clima.

Um exemplo são os gelados países Canadá e Rússia, que poderão usar a seu favor o aumento

da temperatura, como o aproveitamento de muitas áreas ainda hoje inabitadas. Por outro lado,

os países em desenvolvimento, localizados em regiões deveras mais quentes, poderão sofrer

bem mais. A população do continente africano que é responsável por menos de 5% das

emissões dos gases de efeito estufa, já emite sinais de que será uma das maiores vítimas. Na

Tanzânia, as neves do monte Kilimanjaro, já estão derretendo, e em ritmo acelerado, o que

afeta o abastecimento de água a milhões de pessoas.

Outros exemplos pertinentes são: em 2000, oficiais reassentaram 20.000 ilhéus da área

inferior da Ilha de Duke of York, uma das ilhas de Papua Nova Guiné. Além, um relatório das

Nações Unidas sobre os desastres naturais em 2007 afirma que nove dos dez piores ocorridos

se originaram de distúrbios climáticos. Devido à pesca excessiva e à perda de dezenas de

milhões de sardinhas vitais, as águas perto da costa do sudoeste da África ficam cheias de um

gás tóxico que está borbulhando do chão do oceano para cima, matando a vida marinha numa

área equivalente ao estado americano de Nova Jérsei e piorando o efeito estufa. Há ainda uma

previsão feita pelo oceanógrafo australiano Dr. Steve Rintoul que diz que a taxa de

derretimento do gelo indica 100 milhões de pessoas vivendo à cerca de 1 metro do nível do

mar e que essas mesmas pessoas precisarão sair de onde estiverem para escapar dos níveis

ascendentes do mar.

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É o caso dos 300 mil habitantes das Ilhas Maldivas, que poderão ser obrigados a abandonar

sua pátria em conseqüência do aquecimento global e da constante elevação do nível do mar.

Como medida, o presidente das Ilhas Maldivas, pensa em reservar uma parte da receita

proporcionada pelo fluxo turístico para criar um fundo de compra de terras. Pensando na

possibilidade de comprar terras em outro lugar, como Índia e Austrália. No entanto, a questão

gera um impasse na medida em que transferir um povo para um novo país geraria o

desaparecimento de sua pátria. De acordo com Graham Price, diretor do programa para a Ásia

do Royal Institute of International Affairs, existirão problemas de jurisdição e questões de

soberania além da perda cultural de seu Estado.

Conseqüentemente esses, e outros, são problemas de ordem diversa que dificultam não só o

diálogo como o alcance de um regime internacional único.

3.1 A Complexa questão da responsabilização

Ao se tratar dos responsáveis pelos danos ambientais, é necessário que se saiba a princípio

quem institucionalizou o gerenciamento ambiental, fazendo gerar posteriormente a

Declaração sobre o Ambiente Humano.

Através de um Plano de Ação Mundial e com o objetivo de inspirar e orientar a humanidade

para a preservação e melhoria do ambiente humano, foi realizada em Estocolmo, Suécia, a 1ª

Conferência da ONU sobre o meio ambiente.

Considerada um marco histórico político internacional reconheceu o desenvolvimento da

Educação Ambiental (EA) como elemento fundamental de combate à crise ambiental no

mundo e a urgência do homem reordenar suas prioridades. Mais tarde, em 1977, seguindo as

recomendações de outros encontros regionais, houve a grande conferência internacional sobre

EA programada pela UNESCO em cooperação com o PNUMA para a CEI (Conferência

Intergovernamental sobre Educação Ambiental).

Dada a importância da temática responsabilidade e reparação do dano, Guido Soares (2003),

revela a necessidade de uma análise ambiental não só do tema como também de outros que se

entrelaçam, dentre eles: a proteção diplomática, o estudo aprofundado da natureza dos atos e

omissões causadores de danos, seja em processos judiciais, administrativos, e outros, e a

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partir daí, a responsabilidade é tratada como “responsabilidade civil”, ou do “dever de reparar

um dano” e apresenta a norma que regulamenta o regime em dois sistemas distintos.

O primeiro deles vai dizer que:

“O sistema tradicional da responsabilidade subjetiva (ou por culpa) no qual, inexistem normas escritas especiais sobre sua regulamentação, que é deixada a normas esparsas, aos costumes internacionais, as regras da jurisprudência de tribunas e arbítrios, aos princípios gerais de direito e à doutrina. Sua característica fundamental reside no fato de que o dever de reparar, tido como uma obrigação secundária nasce de um ato ilícito (portanto, trata-se de um direito a uma reparação, originária de uma violação de uma norma dita primária) por ato ou omissão (que devem ser atribuídos ao Estado, por meio de um mecanismo de ligadura entre os elementos que compõem o instituto, denominada culpa)”. (SOARES, 2003, p.135)

E o outro dirá que:

“O sistema de responsabilidade objetiva (ou por risco), no qual a responsabilidade e a reparação do dano são reguladas por normas escritas e precisas, e que instituem a obrigação reparatória, independentemente de qualquer consideração sobre a natureza lícita ou ilícita do ato ou omissão causadores dele. Ocorrido um dano, automaticamente já se tem o dever de reparar. Trata se um campo, extremamente novo e dinâmico do Direito Internacional, em que o dever do ato que lhe deu causa (e não por outra razão que tal sistema se denomina na retórica da Comissão de Direito Internacional da Onu, responsabilidade interessante dos Estados por danos causados por atos não proibidos pelo Direito Internacional). Sua regulamentação, por ser excepicionante do sistema geral do Direito Internacional (responsabilidade por culpa, é instituída por um reticulado de normas escritas e muito precisas)”. (SOARES, 2003, p.135)

Assim sendo, percebe-se que a Responsabilidade Ambiental é tratada não como um ato

obrigatório, "de ter que fazer", mas sim como algo a ser reparado. Como se os danos causados

ao ambiente pelos Estados não tivessem que ser apenas indenizados e de outra forma

pudessem ser conservados e reparados.

De uma outra forma Pellet, Dinh e Daillier (2003) vão mencionar que não é abusivo

considerar que o Direito Internacional do Ambiente coloca profundamente em questão as

regras tradicionais da responsabilidade internacional. Embora atenda a uma responsabilidade

“objectiva” do Estado (fundada no risco ou no dano), as tentativas nesse caso, até o presente

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momento, têm permanecido num impasse e de forma paradoxal, em uma diluição e uma

extensão no domínio da responsabilidade de direito comum por um fato internacionalmente

ilícito.

Portanto, segundo os autores acima citados, os impasses da responsabilidade são:

1º “A Responsabilidade objectiva do estado em matéria de proteção do ambiente. Todos os direitos nacionais conhecem hoje em dia os regimes de responsabilidade objectiva, que conduzem à reparação de um dano pelo facto da sua superveniência, sem que a vítima tenha de estabelecer a existência de qualquer falta da parte do responsável. A transposição desta noção no plano internacional – eventualmente enquanto princípio geral do direito – podia parecer tanto mais atraente quanto os danos produzidos pelas actividades de risco são enormes e o Estado é muitas vezes ele próprio em certos domínios um tal operador (energia nuclear, actividades espaciais). E é certamente no domínio do Direito do ambiente que o problema se põe com mais acuidade (sobre os aspectos gerais da questão): a opinião pública é particularmente sensível a este aspecto do problema e o montante dos prejuízos causados por um acidente, sobrevindo muitas vezes na ausência de qualquer falta da parte do operador econômico privado que o ocasionou, ultrapassa geralmente em muito a capacidade financeira deste”. (PELLET, DINH e DAILLIER, 2003, p.1321).

Neste ponto, embora o grupo de trabalho sobre a questão in (Relatório da C.D.I. sobre a sua

48º sessão, 1996, p.301) tenha adotado a título provisório um projeto do artigo 5º dispondo

que uma responsabilidade deriva de um dano transfronteiriço causado por uma atividade (de

risco ou causadora de um dano), e dando lugar a indenização ou outra forma de reparação, os

seus membros divididos quanto à este ponto à imagem da doutrina, não puderam acordar

sobre o sujeito de direito, ao qual incumbe o encargo da reparação. Para alguns existiria uma

responsabilidade objectiva do Estado, já outros contestaram.

Porém, segundo Pellet, Dinh e Daillier (2003) isto não significa que não exista nenhum

regime de responsabilidade objetiva em Direito internacional, nem que este não possa pesar

sobre o Estado. Todavia, se este regime existe, o mesmo não está a cargo do poder público,

como tal, e sim do operador que está na origem de um dano e controla ou deveria controlar a

atividade de risco e, à medida que o próprio Estado pode ser tido por responsável por esse

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título, o mesmo não poderá ser enquanto operador. Este é na verdade, o princípio “poluidor-

pagador22”.

2º A Responsabilidade por facto internacionalmente ilícito em matéria de ambiente. Se a responsabilidade do Estado não pode ser simplesmente comprometida porque um dano foi causado ao ambiente, acontece que ela o é, nesta matéria como em qualquer outra, se um facto internacionalmente ilícito lhe puder ser atribuído, em conformidade com as regras de direito comum. (v. supra, nº. 470). Não podemos, entretanto negar que as regras tradicionais estão mal adaptadas à matéria e evoluíram em três direções: mecanismos de responsabilidade “suave” são parecidos; as regras relativas à prevenção do dano têm sido, ao contrário “duras e precisas”; e, não sem paradoxo, alguns atentados ao ambiente são considerados não como simples delitos, mas como “crimes” internacionais. (PELLET, DINH e DAILLIER, 2003, p.1323).

Para tanto, diante das obrigações internacionais que são atribuídas aos Estados como a luta

contra a poluição, a proteção de domínios particulares da fauna e da flora, dentre outros,

Guido Soares (2003), enfatiza os deveres dos Estados, e em especial, a cooperação

internacional.

A cooperação internacional, como bem demonstra o Prof. Edward Mcwhinney (apud

SOARES, 2003), aparece na linguagem do Direito Internacional, após a Segunda Guerra

Mundial. Empregada, primeiramente para afirmar o direito que os Estados têm no Direito

Internacional de cooperar uns com os outros, conforme a Carta da ONU, mas, também para

designar um domínio particular do Direito Internacional.

De outro modo, a cooperação é também entendida como um conjunto de ações que são

levadas firmemente entre todos os Estados ou por certo número de Estados que objetiva um

determinado fim, seja de forma bilateral ou multilateral. Esta cooperação pode assumir

diferentes formas, dependendo do objetivo a que se propõe, como por exemplo: a cooperação

político-militar, de integração regional ou a cooperação em âmbito ambiental, que é na

verdade, o foco do trabalho.

22 Princípio poluidor-pagador: trata-se de um princípio simples, segundo o qual o operador de uma atividade perigosa que cause um dano ao ambiente deve reparar as conseqüências deste. Ver mais em Pellet, Dinh e Daillier (2003).

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As obrigações de informação e avaliação que pesam sobre os Estados em matéria de

atividades que comportam riscos para o ambiente são conseqüências da obrigação de

cooperar. Além do mais, o princípio da cooperação tem uma importância particular em se

tratando de um dano iminente ou quando se trata de limitar os efeitos. Em todos os casos, a

obrigação de cooperar se traduz para o Estado de origem da poluição, por um dever de

notificação da superveniência do dano e de informação sobre situação e para outros Estados

como um dever de assistência no caso de um outro tipo de acidente, como explica Pellet

(2003).

Deste modo, mesmo na ausência de um tratado impondo às Partes obrigações específicas,

trata-se mais provavelmente de diretivas mais gerais do que obrigações de comportamento

juridicamente sancionáveis, salvo no caso de “dever de alerta”, como por exemplo, os

acórdãos de 1949 e de 1986, respectivamente relativos aos casos do Estreito de Corfu e das

Atividades militares e paramilitares na Nicarágua ( Rec. 1949, p.22, e 1986, p.48), que foram

sancionados pelo TIJ (Tribunal Internacional de Justiça).

Assim, diante da constatação sobre a degradação ambiental em nível regional ou

internacional, junto com desastres internacionais, Guido Soares menciona os estudos sobre a

regulamentação do instituto da responsabilidade internacional do Estado. Se antes, a

responsabilidade era tratada dentro dos direitos e deveres do Estado, agora é executada pelas

formas tradicionais da diplomacia. Logo, o termo responsabilidade internacional divergiu

entre os valores ideológicos gerando conflitos em sua própria natureza jurídica, mostrando

finalidades diferentes entre a acepção tradicional e a moderna.

Guido Soares aborda também as novas frentes de atuação da diplomacia ante os Estados e das

novas questões que exigem do Direito Internacional soluções cada vez mais inovadoras. Por

isso, o fenômeno da globalização do meio ambiente é tido como um fator adicional, que junto

a outros, poderá fazer um mundo menor, universalizando os interesses políticos.

Portanto, a proliferação de tratados e convenções multilaterais significa um interesse

crescente dos Estados pela proteção ambiental e igualmente um entrave na regulamentação do

mesmo, uma vez que inexiste uma organização mundial, com grau de eficiência necessária

para unificar todos os assuntos relacionados ao meio ambiente e capaz de se impor sobre os

demais Estados.

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Finalmente, de acordo com o exposto, o maior desafio da proteção ambiental no nível

internacional, está na falta de harmonia entre as normas internacionais e em sua devida

legitimidade por parte dos atores estatais.

3.2 Possíveis alternativas de solução

Em meio a essa contingência de intenções e interesses distintos, haveria alguma entidade

capaz de liderar articulações e conduzir ações num contexto global?

De acordo com o pesquisador em sociologia da religião Alexandre Cardoso (2008), a Igreja,

que tem se mostrado alerta sobre o tema ambiental no Brasil e no mundo seria uma

possibilidade quase “lunática” e realça dizendo que se a tendência da década de 70 tivesse

continuado, certamente as religiões seriam mais flexíveis e mais próximas das questões

sociais, incluindo o meio ambiente. Já a ONU, embora desempenhe um papel importante em

relação à discussão sobre as mudanças climáticas, não tem poder suficiente para impor

sanções aos demais países. Enquanto isso o Painel Intergovernamental sobre Mudanças

Climáticas (IPCC), embora faça diagnósticos e até sugestões acerca da redução das emissões

de gases na atmosfera, também não dispõe de autonomia para punir ninguém.

Além do mais, como lembra Amélia Medeiros (2007), para os países, engajar-se num esforço

como esse significa, em alguma medida, abrir mão de sua própria soberania. E essa soberania

depende de quanto você está disposto a ceder e de qual posição se encontra no cenário

internacional. O histórico dos organismos multilaterais23 não os intitula a cumprir um papel

mais efetivo nas relações internacionais. Para o representante permanente do Brasil junto às

Nações Unidas, Ronaldo Mota Sardenberg (2005), ainda não existe um órgão capaz de liderar

essas articulações, seria necessário um órgão específico, no âmbito das Nações Unidas ou até

mesmo fora dele.

Uma outra forma de liderança seria a de um país específico, com poder e interesse para a

condução das negociações. Por enquanto esse país não existe, mas sim grupos de países que

têm importância em áreas específicas relacionadas às mudanças climáticas. Como é o caso de 23 O Fundo das Nações Unidas para a Infância - Unicef, a Organização das Nações Unidas - ONU, a Organização Internacional do Trabalho - OIT e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO, são exemplos de organismos multilaterais. Disponível em http://www.cenpec.org.br/modules/xt_conteudo/index.php?id=74. Acessado em 07/11/2008, 17h30min.

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grupos como o G-8 24, que têm estudado propostas mais rígidas na redução dos gases. De

acordo com o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-Moon, os membros do grupo afirmam que

pretendem reduzir as emissões de gases que provocam o efeito estufa em 50% até 2050.

Ban Ki-Moon, que participou da reunião em Hokkaido, no Japão, afirmou que o essencial é

aproveitar o impulso do encontro para chegar a um acordo global de redução de emissões até

2009. Segundo Ban, o acordo que deve ser produzido até dezembro de 2009 em Copenhagen

deve ser equilibrado, inclusivo e ratificado por todos os países.

Sardenberg (2005), destaca ainda o papel do Japão e da União Européia, que mesmo que seja

bem ou mal intencionados, estão dispostos a esforços bem maiores do que os Estados Unidos,

por exemplo. As economias européia e japonesa se mostram muito mais preparadas e

eficientes do que a indústria norte-americana. Para Sardenberg , estas economias têm proposto

políticas de redução de emissões bem mais ambiciosas e acredita que a economia norte-

americana será muito mais penalizada que a deles.

Se a questão fosse mobilização de arsenal militar, a tempos os Estados Unidos já teriam se

mostrado dispostos a resolver o dilema, no entanto a situação é bem diferente. Embora o país

seja responsável por um quarto das emissões de gases de efeito estufa (como já visto

anteriormente), não se mostra disposto a adotar medidas rígidas contra o aquecimento e muito

menos a liderar as negociações. Lagos (2007), explica que a redução de emissões significaria

modificar o modelo energético estadunidense, que é muito dependente do consumo de

petróleo, optando por alternativas com um custo muitas vezes, mais alto.

3.2.1 Da intervenção estatal à participação cidadã

Para os especialistas, a humanidade não caminha a passos lentos e uma das maiores

esperanças para a solução do problema é justamente a ação da sociedade civil. De acordo com

Roberto Schaeffer (2008), a questão ganhou notoriedade, e a pressão pública, inclusive nos

Estados Unidos, pode ser a chave para resolver o problema.

24 G-8 - Grupo dos sete países mais industrializados do mundo acrescido da Rússia.

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Nesse caso, o Oscar recebido pelo documentário sobre mudanças climáticas do ex-candidato à

presidência dos EUA, Al Gore, “Uma Verdade Incoveniente” 25, mostra que “não deixa de ser

emblemático o fato de um filme sobre aquecimento global ter recebido um prêmio de tamanha

repercussão”, como enuncia o diretor de cinema David Guggenheim.

O novo relatório do IPCC, afirma que o homem pode frear o aquecimento global e enfatiza

que os humanos precisam fazer cortes profundos nas emissões de gases nocivos nos próximos

cinqüenta anos para manter o aquecimento global sob controle, o que deverá custar apenas

uma mínima fração da produção mundial.

O Painel ainda mostra no terceiro de uma série de relatórios, que a manutenção do aumento

das temperaturas dentro da margem de dois graus Celsius custaria apenas 0,12 por cento do

produto interno bruto anual. No entanto, para manter a margem de dois graus de aquecimento,

dentro do que os cientistas julgam ser necessários para evitar mudanças desastrosas no clima

mundial, é preciso diminuir as emissões de dióxido de carbono entre 50% e 85% até 2050.

Essas são reduções, que de acordo com os avanços tecnológicos, principalmente na produção

e no uso mais eficiente de energia, são perfeitamente possíveis, afirma o relatório.

O uso da energia nuclear, solar e eólica, mais prédios e iluminação com uso eficiente de

energia, como também a captura e o armazenamento de dióxido expelido por usinas movidas

a carvão, além de plataformas de petróleo e gás, são novos modelos reducionistas que deverão

ser levados mais em conta, ressalta o relatório. Até mesmo, mudanças no estilo de vida podem

ajudar no combate ao aquecimento global, como desligar o termostato e diminuir o consumo

de carne vermelha, o que reduziria nas emissões de metano animal.

Ao levar em conta sobre como a ONU estabilizaria o aquecimento, o relatório aceito por

cientistas e autoridades de mais de cem países, reviu os últimos dados científicos sobre custos

e meios de cortar o aumento das emissões. O maior objetivo é formar uma linha de ação para

25 O filme “Uma verdade inconveniente”, estreado em Ponta Delgada, em 25/01/07 é um documentário onde o ex-candidato à presidência dos Estados Unidos, Al Gore, alerta para os riscos do aquecimento global no planeta. O filme com 100 minutos de duração, mostra números, gráficos, imagens de regiões do planeta que já indicam os efeitos do aquecimento global na Terra. A situação é alarmante, e ao que tudo indica, infelizmente, o questionamento sobre a importância do fato é comum à maioria das pessoas, pelo que mostra o próprio documentário. O filme também indica possíveis saídas para que o planeta não passe por uma catástrofe climática nas próximas décadas. Mas isso vai depender do comportamento de cada um de nós. Disponível em http://spoilermovies.com/tag/cannes-07/page/2/. Acessado em 12/11/2008, 11h29min.

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governos, sem dizer exatamente o que fazer. O Comissário Europeu do Ambiente, Stavros

Dimas diz que “não há desculpas para esperar” e que o alto interesse público pode levar os

governos a agir. O Painel indica que em alguns casos, o uso da tecnologia pode resultar em

benefícios significativos, como cortes nos custos de saúde, ao diminuir a poluição. Até o uso

de calendários para o plantio de arroz, ou um melhor gerenciamento de rebanhos bovinos e

caprinos podem colaborar na redução das emissões de metano, conforme cita o documento.

Ao lado do aquecimento global, o mundo enfrenta problemas como, por exemplo, a escassez

de petróleo. Segundo o ex-presidente do Chile Ricardo Lagos, enviado especial sobre

mudanças climáticas da Organização das Nações Unidas, é preciso encontrar mecanismos que

financiem investimentos em projetos de energia alternativa, seguindo modelos já aplicados

em alguns países, como a Espanha. Ele propôs a criação de um fundo que garanta um preço

mínimo para o petróleo. “Assim garantimos uma quantidade de recursos para energias

alternativas a um preço mínimo, porque a má notícia é que o preço do petróleo está muito

caro, e a boa é que isso viabiliza as energias alternativas”.

Assim sendo, apesar de paradoxal, o acúmulo de problemas pode oferecer o despertar de

soluções. Portanto, de uma forma ou de outra, os modelos energéticos necessitarão ser

rediscutidos e se tornará cada vez mais comum essa tendência em se pensar sobre outros

modelos energéticos.

Segundo Lagos (2007) os países em desenvolvimento deveriam passar a adotar metas para a

redução do desmatamento, diminuição das emissões de carbono e eficiência energética a

partir de 2020, conforme já fazem os países desenvolvidos – com exceção dos Estados

Unidos, que não aderiram ao Protocolo de Kyoto. Na avaliação dele, os países que estão em

vias de crescimento hoje têm acesso a novas tecnologias menos poluentes e poderiam,

portanto, adotá-las para contribuir na luta contra o aquecimento global.

Entretanto, deve haver uma diferenciação entre as metas para cada país, de acordo com o

estágio de desenvolvimento em que cada um se encontra. Há dez anos atrás era razoável

exigir um esforço na redução de emissões de gás carbônico somente dos países desenvolvidos

e apenas um pedido para que os países em desenvolvimento fizessem o que estivesse a seu

alcance, porém a história mudou e é preciso que todos os países se adequem a essa nova

conjuntura.

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Aproximadamente 10 anos depois, talvez a responsabilidade principal volte a ser dos países

desenvolvidos e deverá haver um comprometimento para que até 2020, a redução das

emissões seja real nesses países. Aos demais países deverá haver algumas propostas de

geometria variável, ressalta Lagos (2007), ao participar da Eco Power Conference - Fórum

Internacional de Energia Renovável e Sustentabilidade, em Florianópolis (SC).

Segundo o ex-presidente chileno, países em desenvolvimento como o Brasil poderiam

inclusive se beneficiar financeiramente ao assumir compromissos que já cumprem

internamente diante dos organismos internacionais, como a ONU. Por exemplo, 20% das

emissões carbônicas anuais que chegam à atmosfera se devem ao desmatamento. Portanto, “se

vamos pagar por meio de mecanismos de crédito de carbono, para plantar uma árvore que vai

capturar o gás carbônico, poderíamos pagar para não cortar uma árvore”, sugeriu.

Outro ponto citado por Lagos (2007), seria a relação entre o crescimento econômico e a

demanda energética. Em sua avaliação, uma das metas que poderia ser empregada para os

países em desenvolvimento de renda média seria o compromisso de não aumentar o consumo

de energia na mesma ordem ou mais intenso que o próprio ritmo da economia. Enfatiza,

porém, que não se pode cobrar indistintamente eficiência energética de todos esses países em

desenvolvimento. Como exemplo, cita a diferença entre o Chile e o Haiti, demonstrando que o

Chile poderá fazer um maior esforço para reduzir o desmatamento e crescer com maior

eficiência energética em relação ao Haiti.

Nesse sentido, nas Nações Unidas, foi marcante a comemoração do seu sexagésimo

aniversário em setembro de 2005, ano em que houve a avaliação da implementação das Metas

de Desenvolvimento do Milênio (MDMs), após cinco anos de sua proclamação e a

culminação do processo de reforma das Nações Unidas, notadamente do Conselho de

Segurança, desencadeado pelo ex-secretário-geral Kofi Annan, com a criação do Painel de

Pessoas Eminentes (PPE) sobre Desafios, Ameaças e Mudança, no contexto das Nações

Unidas.

Logo, nesse encontro uma das metas proclamadas foi em relação às áreas protegidas no total

do território nacional que segundo a avaliação deverá garantir a sustentabilidade ambiental,

incorporando os princípios de desenvolvimento sustentável nas políticas públicas e programas

nacionais e a redução da perda dos recursos ambientais.

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Portanto, para uma cooperação internacional há de se unir forças nos campos de ação política,

econômica e social, no intuito de que medidas de salvaguarda dos ecossistemas naturais seja

uma causa comum, e não mais uma simples satisfação de interesses próprios.

Apesar de não ser fácil, a mobilização é essencial, o homem se alia a outros para lutar por

questões coletivas desde que vive em sociedade. A mobilização social é exatamente o

processo onde os sujeitos se reúnem para defender uma causa de interesse comum. Porém não

é suficiente que os homens se reúnam e lutem. Para o pesquisador Rennan Mafra (2007), é

necessário compreender que a mobilização é um processo estratégico, que define objetivos e

como os mesmos podem ser alcançados. Além disso, não basta nos unirmos por uma causa e

amanhã nos desfazermos. Temos que ter estratégias de sobrevivência do projeto e da causa,

enfatiza.

Nesse sentido, a contribuição individual, de acordo, com Miller (1975), deverá se fazer

presente. Em seu decálogo da ação individual, acentuava que não fazer nada, porque não se

pode mudar tudo o que está mal, é uma atitude irresponsável. Quando uma coisa muda, o

resto tende a mudar.

De fato, as mudanças devem começar dentro de cada um de nós. Após uma revisão de nossos hábitos, tendências e necessidades podemos de certa forma, através da adoção de novos comportamentos, dar a nossa contribuição para a diminuição da degradação ambiental e para a defesa e promoção da qualidade de vida. (MILLER, 1975, p.248)

Demonstrar que pequenas atitudes como economizar energia elétrica ao apagar uma lâmpada,

evitar delongas ao abrir a porta da geladeira, tomar banhos menos demorados, dar preferência

aos produtos biodegradáveis, recicláveis e que não utilizem embalagem plástica, jogar lixo

nos locais adequados, zelar pelo patrimônio cultural, evitar o desperdício de água, manter o

patrimônio público, plantar árvores, zelar pela vegetação urbana, informar-se sobre as

questões ambientais pertinentes à nossa cidade, tudo isso ao final, poderá representar muito.

E assim, inserir no conceito de cidadania, pelo qual nos fazemos participantes ativos na

sociedade, a preocupação pela casa comum, pelo ambiente que nos cerca, pelo futuro de

nossos filhos e filhas, pela preservação de toda vida e pelo sentimento de responsabilidade

pelo futuro comum da Terra e da Humanidade.

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4- CONCLUSÃO Diante do exposto, e em sintonia com o que foi apresentado na introdução, encerro a pesquisa

com a crença de que ao menos em parte, houve a revelação da importância das políticas

públicas em Educação Ambiental.

Cada Estado, dependendo do desenvolvimento no qual se encontra, tem à sua maneira uma

contribuição para os atuais problemas e alguns deles têm procurado propostas de solucionar o

problema, como as novas alternativas de energia.

Portanto os problemas, tanto nos países em desenvolvimento quanto nos desenvolvidos,

foram resultantes da situação socioeconômica e de padrões e valores errôneos de

comportamento, sendo que nesse sentido a educação se mostra como o principal meio de

integração, de mudança social e cultural. O caminho se dará no horizonte da contribuição

individual, e na responsabilidade de cada cidadão, conscientes que de que somente a

cooperação, a compreensão, a ajuda mútua, a boa vontade, o interesse ativo e ações

planejadas poderão resolver os problemas tanto presente quanto futuros.

Apesar de ser um tema longe de estar pronto e acabado, cada vez mais o cidadão comum, os

Estados e o sistema internacional (suas instituições, organismos e atores), de forma geral, têm

se mostrado mais alertas à questão, no entanto as medidas e possíveis soluções para o

enfrentamento do problema se mostram insuficientes para evitar o estrago, uma vez que o

principal impasse é a falta de um órgão específico que gerencie os Estados e que possa

sancioná-los à medida que estes sejam causadores de danos nesse espaço comum, que é a

Terra.

O problema global da sustentabilidade do planeta é a ausência de ampla cooperação dos

países e a falta de um regime internacional, que traz dificuldades no diálogo entre as nações

sobre uma solução em comum.

Finalmente, o trabalho conclama sobre a necessidade ou a importância de se respeitar o

princípio 7º da Carta do Rio, que é a obrigação pela cooperação. Logo, a cooperação

internacional mostra-se como a salvaguarda e nesse imbróglio a preservação do ambiente é

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uma necessidade imposta pela globalidade do ecossistema e progressivamente numa série de

obrigações específicas que são descritas por alguns tratados, alguns deles de natureza

costumeira. Assim, os Estados deverão cooperar dentro de um espírito de parceria mundial

com o objetivo de conservar, proteger e restabelecer a saúde e a integridade do ecossistema

terrestre.

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