105
ANTONIO VALDECIR VERA IMPACTOS CAUSADOS COM A MECANIZAÇÃO DO CORTE DA CANA-DE- AÇÚCAR NA REGIÃO DO MÉDIO TIETÊ Monografia apresentada a Faculdade “Orígenes Lessa” como exigência parcial à obtenção do título de Bacharel em Administração de Empresas sob a orientação do Prof. Esp. Luis Fernando Godinho Brígido. LENÇÓIS PAULISTA ANO 2013

Impactos causado com a mecanização da cana

Embed Size (px)

Citation preview

  • 1

    ANTONIO VALDECIR VERA

    IMPACTOS CAUSADOS COM A MECANIZAO DO CORTE DA CANA-DE-

    ACAR NA REGIO DO MDIO TIET

    Monografia apresentada a Faculdade Orgenes Lessa como exigncia parcial obteno do ttulo de Bacharel em Administrao de Empresas sob a orientao do Prof. Esp. Luis Fernando Godinho Brgido.

    LENIS PAULISTA

    ANO 2013

  • 2

    ANTONIO VALDECIR VERA

    IMPACTOS CAUSADOS COM A MECANIZAO DO CORTE DA CANA-DE-

    ACAR NA REGIO DO MDIO TIET

    Monografia apresentada a Faculdade Orgenes Lessa como exigncia parcial obteno do ttulo de Bacharel em Administrao de Empresas sob a orientao do Prof. Esp. Luis Fernando Godinho Brgido.

    BANCA EXAMINADORA

    Presidente: Prof. Esp. Luis Fernando Godinho Brgido

    Instituio: Faculdade Orgenes Lessa

    Assinatura:__________________________________________________________

    Titular: Prof. Eng. Agro. Benedito Luiz Martins

    Instituio: Faculdade Orgenes Lessa

    Assinatura:__________________________________________________________

    Titular: Altair Aparecido Toniolo

    Instituio: Prefeitura Municipal de Lenis Paulista

    Assinatura:__________________________________________________________

    Lenis Paulista, 9 de dezembro de 2013

  • 3

    DEDICATRIA

    Esta obra expressa a unio de conhecimentos

    adquiridos ao longo dos anos de batalhas e

    conquistas, tendo como fonte pessoas

    importantssimas que passaram em minha

    vida. Dentre estas pessoas h a quem eu

    gostaria de dedicar esta obra; minha

    companheira que h 27 anos me aceitou

    como seu esposo, te amo Eliza, aos filhos que

    ela me deu: Henrique o Cientista da

    Computao, a Debora que me presenteou

    com dois lindos netos (Bruna e Arthur), a

    Rebequinha a Pedagoga por natureza, aos

    meus pais, Antonio Vera e Maria Paccola

    Vera que foram base da minha vida me

    educando ao longo dos anos. Ao setor

    sucroenergtico da minha regio, que venha

    passar por dias melhores. Ao meu Deus por

    ter me dado sade e vigor, para que eu

    pudesse persistir no meu alvo: Capacitar-me

    para melhor servi-lo.

  • 4

    AGRADECIMENTO

    Primeiramente agradeo a Deus! Aquele que meu deu o direito a vida,

    mesmo quando aos doze anos de idade fui acometido de uma doena grave, mas o

    Senhor Deus achou por bem que eu aqui ficasse; e que mesmo antes de eu nascer

    j planejava esse momento.

    Agradeo tambm aos meus Pais Antonio Vera e Maria Paccola que

    sempre me mostraram o caminho correto, e que, no se importando com seus

    desejos, sempre fizeram o (im) possvel para que seus filhos pudessem ter o melhor.

    Aos meus irmos, Edenilson, Adilson e Cibele, que sempre me apoiaram, desde o

    incio, para que eu pudesse realizar meu sonho.

    minha querida esposa Eliza por todo apoio e companheirismo; e pela

    compreenso e pacincia nos momentos de ausncia, que foram muitos, aos meus

    filhos Henrique, Debora e Rebeca pelas muitas ajudas. Aos meus colegas de classe

    que de uma forma mpar sempre me respeitaram e apostaram em mim, mesmo com

    idade de ser pai de muitos deles.

    Ao meu orientador Prof. Luis Fernando Godinho Brigido, ao atual

    coordenador do curso Prof. Anderson Maffei, aos Diretores e professores da

    Faculdade Orgenes Lessa que incansavelmente lutam para que o ensino esteja

    cada vez melhor.

  • 5

    Antes crescei na graa e conhecimento

    de nosso Senhor e Salvador, Jesus

    Cristo. A Ele seja dada a glria, assim

    agora, como no dia da eternidade.

    Amm.

    (II Pedro 3.18)

  • 6

    RESUMO

    A presente pesquisa teve por objetivo examinar o processo de avano tecnolgico de mquinas agrcolas e os impactos sociais, econmicos e ambientais causados com a mecanizao do corte da cana na regio do Mdio Tiet a partir da dcada de 1990. A pesquisa exploratria, por terem sido consultados livros, peridicos, e tambm descritiva por ter proporcionado aproximao com a realidade observada, que so os impactos causados pelo corte mecanizado da cana-de-acar. Como procedimento de coleta optou-se por realizar uma pesquisa bibliogrfica e documental, por consider-las mais adequadas para atingir os objetivos da mesma. Conforme resultado da pesquisa, no houve impacto ambiental negativo para a sociedade no que se refere a colheita mecanizada da cana-de-acar, somente h impactos positivos, que se traduz em melhoria na qualidade de vida de todos, alm de promover a sustentabilidade do setor. O desemprego, a doena ocupacional, a operao do corte manual da cana crua podem ser considerados impactos sociais negativos. Entre os benefcios sociais alcanados com essa nova modalidade de corte da cana, pode-se destacar: eliminao das sujeiras ocasionadas ps-queimada, reduo de doenas e alergias nas populaes, ar mais limpo, requalificao profissional e melhor renda para muitos trabalhadores. Sobre o assunto impacto econmico, vale salientar primeiramente que, as convenes coletivas de trabalho definem que o corte manual deve ser de cana queimada, logo o corte manual da cana crua j est fora de questo. Este trabalho contribuir para o debate nas comunidades empresariais e acadmicas pelo fato de os avanos tecnolgicos no campo, terem transformado o espao rural em uma fonte de renda importante para o pas e para os investidores que l aplicam seu dinheiro, trazendo retornos ambientais, financeiros e sociais para todos os que esto ligados produo agrcola.

    Palavras-chave: Cana-de-acar. Mecanizao. Impactos. Lenis Paulista.

    ASCANA.

  • 7

    ABSTRACT

    This research aimed to examine the process of technological advancement of agricultural machinery and the social, economic and environmental damage caused with the mechanization of sugar cane harvesting in the Mdio Tiet from the 1990s. The research is exploratory, having been consulted books, periodicals, and also for having provided the descriptive approach to the reality observed, which are the impacts caused by the mechanization of cane sugar. As collection procedure was decided to conduct a literature and documents, considering them more suitable to achieve the same goals. As a result of the research, there was no negative environmental impact to society with regard to mechanized harvesting of cane sugar, there are only positive impacts, which translates into improved quality of life for all, and promote sustainable sector. Unemployment, occupational illness, operation manual cutting of cane can be considered negative social impacts. Among the social benefits achieved with this new method of cutting cane, can highlight: removal of debris caused post-fire, reduction of diseases and allergies in people, cleaner air, retraining and better income for many workers. Economic impact on the subject, it noted first that the collective bargaining agreements that define manual cutting should be burnt cane, so the manual cutting of sugarcane is already out of the question. This work will contribute to the debate in the academic and business communities because of technological advances in the field, have transformed the countryside into a major source of revenue for the country and for investors to apply their money there, bringing returns environmental, financial and social for all those connected with agricultural production.

    Keywords: Cane Sugar. Mechanization. Impacts. Lenis Paulista. ASCANA.

  • 8

    LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1 Mapa da Regio do Mdio Tiet........................................................ 15

    Figura 2 Viagem da cana-de-acar at chegar ao Brasil............................... 18

    Figura 3 Engenho de Cana-de-acar, Debret................................................ 20

    Figura 4 Braso de armas de Lenis Paulista............................................... 22

    Figura 5 Evoluo das Safras Brasileiras de cana-de-acar......................... 24

    Figura 6 Evoluo do nmero de novas unidades produtoras na Regio

    Centro-Sul..........................................................................................

    25

    Figura 7 Corte de cana crua a esq. e corte de cana queimada a dir. ............. 30

    Figura 8 Colhedora de cana-de-acar da Case IH........................................ 31

    Figura 9 Colhedora de cana em operao...................................................... 32

    Figura 10 Feixes de canas amarrados aguardando para serem carregados.... 33

    Figura 11 Carregadeira de cana em operao.................................................. 34

    Figura 12 Transporte de cana pelo sistema hidrovirio..................................... 35

    Figura 13 Venda de colhedoras de cana-de-acar no Brasil de 2003 a 2013. 42

    Figura 14 Evoluo da Colheita Mecanizada no Centro-Sul............................. 43

    Figura 15 Evoluo da colheita mecanizada de cana-de-acar no Estado de

    So Paulo de 1993 a 2013................................................................

    44

    Figura 16 Custo mdio do CCT 100% mecanizado (em R$)............................. 46

    Figura 17 Solo coberto com palha de rea de cana-de-acar colhida

    mecanicamente sem queima.............................................................

    52

    Figura 18 Evoluo na demanda por trabalhadores na colheita de cana-de-

    acar SP de 1990 a 2013............................................................

    54

    Figura 19 Trabalhador rural cortando a cana-de-acar aps a queima........... 58

    Figura 20 Impactos associados colheita mecanizada.................................... 63

    Figura 21 Colheita de palha na lavoura atravs de um processo de

    enfardamento.....................................................................................

    67

  • 9

    Figura 22 Ilustrao de uma planta industrial do setor sucroenergtico........... 67

    Figura 23 Canteirizao do canavial.................................................................. 69

    Figura 24 Espaamento alterado 1,50 x 0,90.................................................... 69

    Figura 25 Valores do Custo da Colheita Manual realizada pelos produtores

    nas regies de Assis e Ja, no Estado de So Paulo. Maro de

    2010...................................................................................................

    87

    Figura 26 Valores do Custo da Colheita Mecnica realizada pelos produtores

    nas regies de Assis e Ja, no Estado de So Paulo. Maro de

    2010...................................................................................................

    87

    Figura 27 Custo de Produo dos Fornecedores de Cana-de-acar dos

    Principais Sistemas de Produo das Sete Regies Produtoras do

    Estado de So Paulo. Outubro de 2012............................................

    89

  • 10

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Abertura de novas empresas e encerramentos................................. 75

    Tabela 2 Empresas ativas no municpio........................................................... 75

    Tabela 3 Evoluo do emprego e Lenis Paulista nos ltimos 12 anos e 5

    meses................................................................................................

    76

  • 11

    LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS

    ASCANA Associao dos Plantadores de cana do Mdio Tiet

    CAGED Cadastro Geral de Empregados e Desempregados

    CANAOESTE Associao dos Plantadores de Cana do Oeste do Est. S. Paulo

    CCT Corte, carregamento, transporte

    CO2 Dixido de Carbono

    COE Custo Operacional Efetivo

    CONSECANA Conselho de Produtores de cana, acar e lcool do Est. S. Paulo

    COT Custo Operacional Total

    CTC Centro de Tecnologia Canavieira

    DDGER Diretoria de Desenvolvimento e Gerao de Emprego e Renda de Lenis

    ESALQ Escola Superior de Agricultura Luiz de Queirz

    ETEC Escola Tcnica Estadual Centro Paula Souza

    FACOL Faculdade Orgenes Lessa

    GEEs Gases de Efeito Estufa

    IAA Instituto do Acar e do lcool

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    NR Norma Regulamentadora

    ORPLANA Organizao dos Plantadores de cana da Regio Centro Sul do Brasil

    PNAD Pesquisa Nacional por Amostras de Domiclios

    PROLCOOL Programa Nacional do lcool

    PRODER Programa de Gerao de Emprego e Renda

    RAIS Relao Anual de Informaes Sociais

    SEAD Secretaria de Estado da Administrao

    SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas

    SENAI Servio Nacional de Aprendizagem Industrial

    SMA Secretaria do Meio Ambiente

    TCH Toneladas de cana por hectare

    UNICA Unio das indstrias de cana-de-acar

    USP Universidade de So Paulo

    ZILOR Zillo Lorenzetti

  • 12

    SUMRIO

    1. INTRODUO ...................................................................................................... 14

    2. A HISTRIA DA CANA-DE-ACAR ................................................................. 18

    2.1. INCIO DO SETOR SUCROENERGTICO NO BRASIL E NA REGIO DO MDIO TIET ........................................................................................................... 18 2.2. INICIO DO SETOR NO MUNICPIO DE LENIS PAULISTA .......................... 20

    3. O SURGIMENTO DA TECNOLOGIA NO SETOR SUCROENERGTICO .......... 23

    3.1. ABORDAGENS DA EVOLUO DA PRODUO DE CANA-DE-ACAR NO BRASIL E DA EVOLUO DO NMERO DE NOVAS UNIDADES PRODUTORAS NA REGIO CENTRO-SUL A PARTIR DE 1990 ...................................................... 23 3.2. ABORDAGEM ATUAL DO SETOR SUCROENERGTICO NO BRASIL ........... 26 3.3. DESENVOLVIMENTO OPERACIONAL DE CORTE, CARREGAMENTO E TRANSPORTE DE CANA-DE-ACAR................................................................... 28 3.3.1. A evoluo no corte de cana .......................................................................... 28 3.3.2. Caractersticas do corte manual ..................................................................... 29 3.3.3. Caractersticas do corte mecnico .................................................................. 30 3.4. CARACTERSTICAS DO CARREGAMENTO DE CANA .................................... 33 3.5. O SISTEMA DE TRANSPORTE DA CANA NO BRASIL E NA REGIO ............ 34

    4. O SISTEMA DE TERCEIRIZAO NAS OPERAES DE CORTE, CARREGAMENTO E TRANSPORTE ...................................................................... 36

    4.1. IMPLANTAO DO MODELO DE PARCERIA AGRCOLA NA LAVOURA CANAVIEIRA NA REGIO DO MDIO TIET .......................................................... 37 4.2. AS CERTIFICAES DA ZILOR ENERGIA E ALIMENTOS E DAS PARCERIAS AGRCOLAS ............................................................................................................. 38

    5. A IMPORTNCIA DA MECANIZAO AGRCOLA NOS ASPECTOS AMBIENTAIS, ECONMICOS E SOCIAIS NA REGIO PESQUISADA ................ 40

    5.1. DIFERENCIAL DAS REGIES COM MAIOR GRAU DE MECANIZAO ........ 41 5.2. EVOLUO DA COLHEITA MECANIZADA NA REGIO CENTRO-SUL E NAS REGIES BRASILEIRAS.......................................................................................... 42 5.3. CUSTOS DAS COLHEITAS MANUAL E MECANIZADA .................................... 45

    6. PRINCIPAIS IMPACTOS CAUSADOS COM A MECANIZAO DO CORTE DE CANA-DE-ACAR NA REGIO DO MDIO TIET .............................................. 48

    6.1. OS IMPACTOS AMBIENTAIS E OS BENEFCIOS AMBIENTAIS DA MECANIZAO DA COLHEITA ............................................................................... 49 6.2. OS IMPACTOS SOCIAIS E OS BENEFCIOS SOCIAIS DA MECANIZAO DA COLHEITA ................................................................................................................ 52 6.3. OS IMPACTOS ECONMICOS E OS BENEFCIOS ECONMICOS DA MECANIZAO DA COLHEITA ............................................................................... 60 6.3.1. Propostas para reduo de impactos econmicos na colheita ....................... 64 6.4. AES DA REGIO DO MDIO TIET E DA ZILOR PARA REDUO DE IMPACTOS AMBIENTAIS ......................................................................................... 71

  • 13

    7. A POLTICA DE TRABALHO, EMPREGO E RENDA NO CAMPO DA QUALIFICAO PROFISSIONAL DO MUNICPIO DE LENIS PAULISTA. ...... 73

    7.1. O CRESCIMENTO EMPRESARIAL EM LENIS PAULISTA .......................... 75 7.2. A EVOLUO DO EMPREGO NO MUNICPIO NOS LTIMOS 12 ANOS ....... 76 7.3. PROGRAMAS MUNICIPAIS QUE IMPACTAM NO AUMENTO DE EMPREGO 77

    8. METODOLOGIA ................................................................................................... 78

    8.1. CARACTERIZAO DO MUNICPIO DE LENIS PAULISTA ........................ 78 8.2. CARACTERIZAO DAS USINAS DA REGIO................................................ 80 8.3. AVALIAO DO DESEMPENHO OPERACIONAL DOS CONJUNTOS MECANIZADOS E DO CORTE MANUAL ................................................................. 81 8.4. ANLISES DOS CUSTOS DA COLHEITA MECNICA E DA MANUAL ............ 83 8.4.1. Avaliao dos custos da colheita mecnica e da manual na regio de Lenis Paulista...................................................................................................................... 83 8.5. AVALIAO DOS CUSTOS DOS SISTEMAS DE PLANTIO E COLHEITA NA REGIO DE LENIS PAULISTA NA COMPOSIO DO CUSTO TOTAL DA PRODUO DA CANA ............................................................................................. 84

    9. RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................................ 86

    9.1. ANLISES DOS CUSTOS DAS COLHEITAS MANUAL E MECANIZADA NA REGIO DE LENIS PAULISTA. .......................................................................... 86 9.2. ANLISES DOS CUSTOS DOS SISTEMAS DE PLANTIO E COLHEITA NA REGIO DE LENIS PAULISTA NA COMPOSIO DO CUSTO TOTAL DA PRODUO DA CANA-DE-ACAR ...................................................................... 88

    10.CONSIDERAES FINAIS ................................................................................. 95

    11.REFERNCIAS .................................................................................................. 101

  • 14

    1. INTRODUO

    O setor sucroenergtico muito importante para a economia brasileira.

    Do processamento da cana-de-acar pelas usinas, se produz o acar, alimento

    indispensvel para o ser humano e tambm o etanol, cujo combustvel renovvel e

    fabricado em grande escala para atender a demanda dos 47% de veculos que so

    flex e mais 3% exclusivamente movidos a etanol no Brasil.

    O setor tambm fornece matria-prima para a indstria qumica na

    fabricao de remdios, perfumes, etc. e de subprodutos utilizados na alimentao

    animal e tambm na alimentao humana, fertilizantes como a torta de filtro, a

    vinhaa e ainda como cogerao de energia, O volume monetrio movimentado

    pela atividade canavieira muito representativo, envolve toda a cadeia do setor,

    desde os fornecedores de insumos agrcolas ou industriais e fatores de produo

    at o consumidor final (VIEIRA, G.; SIMON, E. J., 2005).

    Tambm considervel o nmero de empregos diretos e indiretos que

    so gerados pelo setor, que vo desde os nos qualificados (boias-frias) at os de

    nvel superior na administrao, na produo e na pesquisa.

    A partir da dcada de 90 ocorreu um maior impulso na mecanizao da

    colheita da cana-de-acar no Brasil. Os benefcios trazidos para a agroindstria

    aucareira, como a reduo dos custos operacionais e maior produtividade do

    trabalho, so os principais fatores que esto contribuindo para a acelerao desse

    processo, consequentemente podemos afirmar que atualmente condio de

    sustentabilidade e subsistncia do setor (VIEIRA, G.; SIMON, E. J., 2005).

    Partindo desse pressuposto, essa pesquisa se torna necessria, a fim de

    conhecermos todo o processo tecnolgico pelo qual o setor est passando e quais

    os seus aspectos ambientais, econmicos e sociais, isso como importante passo

    para o entendimento da necessidade ou no de implantao de contnua tecnologia

    na agricultura canavieira.

    ASCANA a sigla de Associao dos Plantadores de Cana do Mdio

    Tiet, fundada no dia 19 de novembro de 1959 e que at o ano de 2005 levava o

    nome de Associao dos Fornecedores de Cana da Zona de Lenis Paulista, cujo

    objetivo defender as causas da categoria (CARPANEZI, [s.d.]).

  • 15

    Segundo a ASCANA (2008), a regio do Mdio Tiet engloba uma rea

    de cana-de-acar plantada em 20 municpios, conforme a figura 1, em um total de

    125.424,50 ha. Os municpios que fazem parte desta regio so: guas de Santa

    Brbara, Agudos, Arealva, Ava, Avar, Areipolis, Barra Bonita, Bauru, Boracia,

    Borebi, Botucatu, Ja, Igarau do Tiet, Lenis Paulista, Macatuba, Pratnia,

    Pederneiras, Piraju, Presidente Alves e So Manuel.

    Figura 1: Mapa da Regio do Mdio Tiet

    Fonte: Elaborado por Jos Henrique Vera

    O referido trabalho estudou a temtica da tecnologia na produo

    agrcola, especificamente no uso de mquinas colhedoras para o corte da cana de

    acar na regio do Mdio Tiet. O tema em questo apresentado dentro do

    campo de conhecimento da Administrao de Produo.

    Pretendeu-se observar atravs deste trabalho o processo de avano

    tecnolgico e das mquinas agrcolas, principalmente as colhedoras de cana-de-

    acar, ocorridos na regio do Mdio Tiet a partir da dcada de 1990, tomando por

    base a cidade de Lenis Paulista, e ainda demonstrar atravs de dados de que

    forma a mecanizao influenciou no desenvolvimento da regio.

  • 16

    Os objetivos especficos definidos como etapas da pesquisa realizada,

    so de contedo exploratrio. Onde se pretendeu:

    Levantar informaes e demonstrar como a mecanizao no setor

    sucroenergtico na regio do Mdio Tiet teve grande significado

    ambiental, econmico e social.

    Apresentar dados que demonstrem o efeito da colheita de cana-de-

    acar nessa regio e compar-las com informaes obtidas em outras

    regies onde a mecanizao da colheita da cana ainda menor.

    Almejou-se tambm colaborar para a compreenso de como o avano

    tecnolgico contribuiu qualitativamente produo de cana-de-acar na

    regio estudada.

    Levantar os custos provenientes da mo de obra do cortador de cana

    em comparao com o corte mecanizado.

    Apresentar e analisar as taxas de empregos e desempregos em

    Lenis Paulista depois da mecanizao da colheita, mensurando os

    impactos ambientais, econmicos e sociais ocorridos no perodo

    pesquisado.

    Ao ser transferido conhecimentos tecnolgicos para a lavoura, os

    produtores tm ganhado novas alternativas em equipamentos e necessidades de

    investimento. Contudo, pode-se questionar a forma com que esse grande avano da

    tecnologia e de mquinas colhedoras no campo tem contribudo para os impactos

    ambientais, econmicos e sociais na regio do Mdio Tiet, a partir da dcada de

    1990.

    Este trabalho contribuir para o debate nas comunidades empresariais e

    acadmicas pelo fato de os avanos tecnolgicos no campo, terem transformado o

    espao rural em uma fonte de renda importante para o pas e para os investidores,

    trazendo retornos ambientais, financeiros e sociais para todos os que esto ligados

    produo agrcola.

    evidente que, com o aumento da competitividade de preos dos

    produtos agrcolas, surgiu a necessidade de se obter nveis de competitividade

    internacionais e dai a necessidade de se elaborar um estudo sobre a evoluo

    tecnolgica de mquinas para plantao e colheita na agricultura canavieira

    brasileira, principalmente a partir da dcada de 1990, quando a tecnologia e o

  • 17

    surgimento de mquinas mais sofisticadas passaram a ser mais acessveis para os

    produtores.

  • 18

    2. A HISTRIA DA CANA-DE-ACAR

    Segundo Rocia (2008), a cana de acar uma planta conhecida e

    cultivada mundialmente. Alguns estudiosos relatam que ela surgiu nas plancies da

    ndia. Outros, afirma que ela proveniente da Melansia, no Pacfico Sul. Isso h

    mais de dois mil anos antes de Cristo. O certo que tanto indianos quanto chineses

    sabiam extrair da planta o xarope doce, que era considerado uma fina especiaria e

    quando utilizado em pequenas doses funcionava como medicamento.

    A planta chegou s Amricas na 2 viagem de Cristvo Colombo, em

    1493. Foi trazida das Canrias e seu cultivo foi realizado na atual So Domingo

    (Repblica Dominicana). A existncia dessa agricultura nas Amricas antes da

    chegada dos colonizadores assunto contravertido e cada historiador defende sua

    tese. Na figura 2 uma verso da viagem da cana-de-acar at chegar ao Brasil.

    Figura 2: Viagem da cana-de-acar at chegar ao Brasil

    Fonte: Conselho de informaes sobre Biotecnologia, 2013

    2.1. INCIO DO SETOR SUCROENERGTICO NO BRASIL E NA REGIO DO MDIO TIET

  • 19

    Para iniciarmos o debate vlido apresentar um pouco, sem querer

    esgotar o assunto, a histria do cultivo da cana-de-acar no Brasil e a sua

    importncia para o desenvolvimento nacional e da regio do Mdio Tiet no Estado

    de So Paulo, para isso usaremos o trabalho realizado por Rocia (2008).

    Com a descoberta do Brasil em 1500, os portugueses trouxeram em sua

    bagagem as primeiras mudas de cana de acar para serem cultivadas. O rei de

    Portugal, Dom Manuel I, em 1516, ordenou por meio de alvar Que dessem

    machados e enxadas a todas as pessoas que fossem povoar o Brasil e que

    procurassem e elegessem um homem prtico e capaz de ir ao Brasil dar comeo a

    um engenho de acar; que lhe desse uma ajuda e tambm todo o cobre e ferro

    necessrio e mais coisas para o fabrico do referido engenho (CARLI, apud ROCIA,

    2008).

    O que temos comprovado que as mudas chegaram oficialmente com os

    colonizadores portugueses. Em 1532, Martins Afonso de Souza, atendendo

    instrues de D. Joo III, levava muda da Ilha da Madeira para serem plantadas em

    um dos povoados da Ilha da Prata, mas seu navio naufragou nas imediaes da

    Capitania de So Vicente, no Estado de So Paulo, onde ele acabou se

    estabelecendo e fundando trs engenhos.

    Todos queriam ganhar dinheiro com o acar extrado da cana que, por

    volta de 1541, uma arroba, ou 15 quilos, valia o equivalente a R$ 400,00 no Brasil e

    era vendida pelo triplo do preo em Amsterd. Preo equivalente ao salrio mensal

    de um trabalhador comum.

    Em 1590, a Capitania de Pernambuco se tornara a mais importante na

    cultura regular da cana de acar. As primeiras moendas giravam pela fora dos

    braos humanos conforme figura 3, sofrendo lenta evoluo tcnica; em seguida

    movida gua e, posteriormente, trao animal.

  • 20

    Figura 3 - Engenho de Cana de Acar, Debret

    Fonte: http://raquellex.blogspot.com.br/2011_09_01_archive.html

    No perodo da Proclamao da Repblica, em 1889, o acar ocupava o

    terceiro lugar nas exportaes brasileiras, atrs do caf e da borracha. Em 1910,

    caiu para sexto lugar.

    No final do sculo XIX o Brasil vivia a euforia do caf, nada menos de

    70% da produo mundial estavam concentrados em suas terras. Na virada do

    sculo, com terras menos adequadas ao caf, Piracicaba, tornou-se rapidamente o

    maior centro produtor de acar de So Paulo.

    Em setembro de 1946, por meio da Resoluo 125 do Decreto Lei

    9.827-10/09/1946, o governo revisa as cotas de produo do acar em todo o pas

    e concede licenas para a instalao de novas usinas. Essa deciso foi baseada no

    problema de abastecimento ocorrido no Estado de So Paulo no perodo ps-guerra,

    mas foi tambm influenciada pela reivindicao de usineiros e outros setores da

    sociedade, que eram contra a poltica do Instituto do Acar e do lcool (IAA).

    Na dcada de 1950, o acar e o lcool se consolidam como um ponto

    forte da economia nacional, sempre com aumento gradual na produo.

    2.2. INICIO DO SETOR NO MUNICPIO DE LENIS PAULISTA

    Segundo Rocia (2008), a histria conta que em 1886 j havia em Lenis

    Paulista fazendas canavieiras, sendo destinadas apenas produo de acar e

    aguardente para abastecer as comunidades rurais vizinhas.

  • 21

    O cultivo da cana-de-acar estimado que tivesse chegado ao municpio

    antes mesmo do caf. Evidncia disso foi que em 1867, o vereador Manoel Jos de

    Almeida apresentava Cmara lenoense uma indicao, solicitando informaes,

    do por que at ento os senhores de engenho ainda no haviam pagado o imposto

    correspondente. Todos os engenhos da poca eram pequenos, feitos de madeira

    movidos por animais e muitos deles ainda eram manuais. Tambm conhecidos como

    "engenhocas". A produo era voltada para o aguardente, porm mais no fabrico de

    rapadura, acar amarelo (de forma), produo suficiente para atender o consumo

    de stios e fazendas (BLANCO, 2012).

    Segundo os documentos de Blanco (2012), o municpio contava em 1887

    com apenas duas fazendas de cana. Uma das fazendas era de propriedade de

    Faustino Ribeiro da Silva e a outra de Jos Izidoro da Silva. A pinga, ou aguardente,

    era vendida em cargueiros. Cargueiro era denominado um barril de 50 litros.

    Os arquivos de Blanco (2012) apontam que no ano de 1947, j havia no

    municpio 52 fbricas de pinga. Dentre elas pode-se citar: ngelo Paccola Primo (Da

    Melhor); ngelo Zacharias (Cristal); Antnio Langoni (Fortuna); Benjamin Fayad

    (Prata); Felcio Frezza (Ripas); Gernimo Zillo (Chamin); Jos Zillo & Irmo

    (Cora); Dante Andreolli (Alba); Jos Boso (Maria); Luiz Zillo Sobrinho (Carvalho).

    A Usina So Jos fez a sua primeira safra de cana em 1946 e a Usina

    Barra Grande iniciou a sua produo 1947, hoje ambas as Usinas fazem parte do

    Grupo Zilor Energia e Alimentos, cujo escritrio central localiza-se em Lenis

    Paulista.

    Devido a grande importncia que o setor tem para o municpio, na criao

    do braso de armas foi inserido um p de cana ao lado de um p de caf. Em 20 de

    janeiro de 1955 o Prefeito Municipal da poca Vrgilio Capoani (in memorian) criou a

    Lei Municipal n 189, o artigo 1 menciona que o Municpio de Lenis Paulista, ter

    braso de armas prprio (CHITTO E CHITTO, 2008).

    Segundo Chitto e Chitto (2008), no artigo 2 da referida Lei, descreve e

    justifica o braso de armas da figura 4 da seguinte forma:

    Descrio Herldica: - Escudo redondo, portugus, hispnico ou clssico.

    Esquartelado - Separando os quartis, uma cruz romana, retilnea, azul

    celeste. 1 - de prata, com um archote de ouro, empunhada por uma mo viril, de

    sua cor; 2 - de ouro, com um p de cana-de-acar de sua cor; 3 - de branco com

  • 22

    o mapa do Estado de So Paulo, em vermelho, e sobrepostas seis linhas sinuosas

    em azul; 4 - de vermelho, com uma roda de engrenagem e cabea com capacete

    alado, em amarelo sombreado;

    No Memento Justificativo, um p de cana-de-acar ao natural, no campo

    amarelo ouro do segundo quartel, caracteriza o elemento bsico da agricultura e do

    povoamento de Lenis Paulista. Graas cana-de-acar o Municpio ocupa

    posio de destaque no conjunto dos grandes centros do Estado de So Paulo. O

    amarelo ouro do campo lembra a riqueza que representa a cana-de-acar para o

    Municpio, para So Paulo e para o Brasil. Nos suportes, os ramos de cana-de-

    acar e do caf assinalam os produtos agrcolas, que mais tem cooperado para a

    riqueza do Municpio (CHITTO e CHITTO, 2008).

    Figura 4: Braso de armas de Lenis Paulista.

    Fonte: Livro Histria de Nossa Gente, Lenis Paulista, 151 anos. CHITTO, A., S. Paulo 2008,

  • 23

    3. O SURGIMENTO DA TECNOLOGIA NO SETOR SUCROENERGTICO

    Segundo Rocia (2008), desde a II Guerra Mundial os esforos da indstria

    aucareira brasileira se concentraram na multiplicao da capacidade produtiva. Em

    pases como Austrlia e frica do Sul as indstrias aucareiras representavam

    modelo de modernidade que as usinas brasileiras desejavam e foi deste ltimo,

    principalmente, que vieram novidades como a moenda de quatro rolos com

    alimentao por Donelly, o desfibrador, entre outras.

    O setor sucroenergtico sempre foi visto como uma ncora para a

    manuteno de emprego nacional, e de fato por muitas dcadas foi, porm, os

    trabalhadores rurais passaram a procurar mais qualificaes e melhores rendas, o

    que resultou no deslocamento para as cidades. Por consequncia, os agricultores

    visualizando que num futuro prximo poderiam passar por uma escassez de mo de

    obra, passaram a investir em tecnologias agrcolas, para minimizar um possvel

    impacto, no foi o nico motivo, mas objetivando tambm a reduo dos seus custos

    de produo o que os tornaria mais competitivos. Atualmente a tecnologia

    empregada na mecanizao agrcola vista pelos agricultores da cana-de-acar

    como fator preponderante sustentabilidade do setor.

    3.1. ABORDAGENS DA EVOLUO DA PRODUO DE CANA-DE-ACAR NO BRASIL E DA EVOLUO DO NMERO DE NOVAS UNIDADES PRODUTORAS NA REGIO CENTRO-SUL A PARTIR DE 1990

    A figura 5 apresenta o histrico da quantidade total de cana-de-acar

    moda no Brasil aps as safras ano 1990/1991, percebe-se que, desde 1990, houve

    um crescimento na produo de cana-de-acar moda. No total, houve um

    crescimento na produo de cana-de-acar nacional na ordem de 186% em

    relao ao perodo analisado.

    Observa-se que a partir de 1994 ocorre um crescimento contnuo,

    exceo a 2000/01 que apresentou uma quebra de 17% na produo em relao ao

    ano anterior.

  • 24

    Segundo Severo (2004, apud ROJAS LEVI, 2009) vrios so os fatores

    que provocaram essa quebra na produo: forte seca, as mudanas no Conselho

    Interministerial do Acar e do lcool, a continuidade das restries ao acar

    nacional no mercado argentino e a consolidao do Conselho de Produtores de

    Cana, Acar e lcool (Consecana), os quais criaram a necessidade de rever a

    produo e a comercializao do acar e do lcool no ano 2000.

    Vemos ainda que a retomada da produo foi rapidamente recuperada

    nos anos seguintes, esta expanso est relacionada ao aumento da rea plantada

    no pas.

    Figura 5: Evoluo das Safras Brasileiras de cana-de-acar, 1990-2013, ton. *Projeo para safra 2013/2014 da Consultoria Datagro em 05/07/13.

    Fonte: MAPA grfico elaborado pelo autor baseado em informaes do MAPA.

    Como se observa na figura 5 houve uma constante evoluo da produo

    de cana-de-acar no Brasil a partir da safra de 2001/2002 ao que est projetado

    para a safra 2013/2014. De 2001/2002 a 2010/2011 vemos um crescimento anual na

    ordem aproximada de 9% na produo, nas duas prximas safras o que temos

    uma desacelerao do crescimento produtivo, onde no se atinge o patamar de 600

    milhes de toneladas de cana que haviam sido processadas nas duas safras

    anteriores.

  • 25

    Podemos analisar na figura 6 a evoluo do nmero de novas unidades

    produtoras na regio Centro-Sul. Nas safras de 2005/006 a 2008/2009 houve um

    elevado nvel de investimento para a ampliao da produo, o que ainda perdurou

    na safra 2009/2010 com 21 novas unidades produtoras entrando em operao, a

    partir dai se v uma queda conceituada na montagem de novas unidades, at 2015

    apenas 4 unidades devero ser construdas, aps essa data no existe mais

    projetos previstos para inicio de operao.

    Figura 6: Evoluo do nmero de novas unidades produtoras na Regio Centro-Sul

    Fonte: Informativo NICA em 07/08/2012

    A queda no ritmo de crescimento da produo e retrao nos

    investimentos se deu por vrios fatores, entre eles os conjunturais:

    Econmicos/financeiros, onde podemos citar a crise financeira mundial de 2008 e

    preos pouco remuneradores promoveram maior endividamento das unidades,

    deslocamento dos investimentos para a compra de empresas em dificuldade e a

    reduo na taxa de replantio dos canaviais (RODRIGUES, 2012).

    Os fatores Agronmicos e Climticos tambm afetaram o crescimento da

    produo. Nas trs ltimas safras os problemas climticos reduziram a produtividade

    agrcola da lavoura e o rendimento industrial (excesso de chuva em 2009, seca em

    2010 e florescimento e geada em 2011, etc.).

  • 26

    Entre os fatores estruturais podemos citar: aumento no custo da produo

    e teto virtual para o preo do etanol levou reduo de margens do setor produtivo,

    isso tambm afetou o crescimento produtivo e ocasionou a retrao nos

    investimentos (RODRIGUES, 2012).

    3.2. ABORDAGEM ATUAL DO SETOR SUCROENERGTICO NO BRASIL

    O Brasil uma grande potencia na produo de cana-de-acar, gerando

    grandes riquezas para a nao, a regio Centro-Sul o carro chefe desta cultura,

    como descreve Antunes, Azania e Azania (2011).

    O Brasil hoje o maior produtor de cana-de-acar e exportador de acar do mundo gerando mais de 2 bilhes de dlares por ano na balana comercial brasileira. A regio Centro-Sul tem uma participao aproximada de 90% do total da produo de cana-de-acar no Brasil. O Estado de So Paulo o maior produtor, sendo responsvel por mais de 60% de toda produo nacional de acar e etanol e, tambm, por mais de 70% das exportaes. A regio de Ribeiro Preto responsvel por 45% do total produzido no estado e vrios outros municpios tm grandes reas de plantio com diversas usinas instaladas, gerando milhares de empregos diretos e indiretos. Nos ltimos anos, a crescente importncia socioeconmica da cultura canavieira vem refletindo um aumento bastante significativo de rea plantada, com destaque para os Estados de So Paulo, Minas Gerais, Gois, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Paran.

    Segundo estudo de Oliveira (2009, apud CRUZ, 2010), a produo de

    cana-de-acar tornou-se mais dinmica atendendo as demandas de etanol, de

    acar e, em alguns casos, de energia, destacando-se, por isso, tanto no cenrio

    nacional como internacional como o maior produtor de cana e o maior exportador de

    etanol e acar. Pelo fato da ndia, ainda no ter recuperado a sua produo,

    considerado um dos principais importadores do nosso acar, alm da frota

    brasileira de veculos flex-fuel contar com mais de 10 milhes de unidades em

    circulao, com as vendas mensais destes veculos respondendo por 90% do total

    comercializado.

    Outro fato importante que o Brasil tem se preparado no mercado

    internacional para se beneficiar do crescimento da demanda de etanol devido o

    crescente interesse pela adio de etanol na gasolina (SOUZA, 2006 apud CRUZ,

    2010).

  • 27

    Na safra 2009/10 o setor movimentou US$ 87 bilhes. Estudos realizados

    por pesquisadores da Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade de

    Ribeiro Preto (FEARP) da USP aponta que a cadeia sucroalcooleira de

    fundamental importncia para a economia brasileira, movimenta grande quantidade

    de recursos, empregos, impostos. Somente as vendas de bens finais (etanol, acar,

    bioeletricidade, levedura e aditivo e crdito de carbono, entre outros) representam

    1,5% do PIB nacional, ou US$ 28,1 bilhes (FONSECA et. al., 2009 apud CRUZ,

    2010).

    Conforme relata os estudos de Toneto Jr. & Liboni (2007 apud CRUZ

    2010), para a safra 2015/16 so esperados 829 milhes de toneladas de cana-de-

    acar; 41,3 milhes de toneladas de acar; e 46,9 bilhes de litros de etanol, com

    isso haver provveis investimentos em novas unidades no valor de R$ 33 bilhes.

    O desenvolvimento de novas variedades de cana, crescimento da rea

    plantada, equipamentos industriais mais adequados, avanos na logstica e no

    transporte da matria-prima, aumento da produtividade, entre outros, refletir numa

    grande expanso do setor sucroenergtico (CRUZ, 2010).

    Diante deste quadro de crescimento, o setor tem passado por

    transformaes com a adoo por parte das usinas do sistema de colheita

    mecanizada, sendo o corte manual aps a queima substitudo paulatinamente.

    A colheita mecanizada vem ocorrendo em funo principalmente de

    fatores econmicos que so baseados em tcnicos e ambientais. Sendo

    responsvel por essa mudana em mais de 70% dos casos principalmente a

    escassez da mo-de-obra e a legislao ambiental (ZYLBERSZTAJN et. al., 2006,

    apud CRUZ, 2010).

    Por presso de ambientalistas no Estado de So Paulo em 2002 foi

    aprovada a Lei Estadual de Queima (Lei 11.241/02) que prev eliminao gradual do

    uso de fogo na queima da palha da cana, at 2021 para reas mecanizveis e at

    2031 para reas no mecanizveis. A lei tambm probe a queima em reas a

    menos de um quilmetro de centros urbanos. Outro marco da regularizao das

    queimadas de cana-de-acar no estado de So Paulo foi assinatura do Protocolo

    Agro-Ambiental entre o Governo de So Paulo, a Secretaria do Meio Ambiente e a

    Unio da Indstria de cana-de-acar.

  • 28

    Com esse Protocolo fica antecipado o que est previsto na Lei Estadual

    de Queima do Estado de So Paulo (Lei 11.241/02) as usinas esto se antecipando

    para reduzir o prazo estabelecido pela lei de 2002, onde as indstrias da cana de

    acar tomaro medidas para eliminar a queima em 2014 e 2017, respectivamente,

    para as reas consideradas mecanizveis e no mecanizveis. Neste mesmo

    documento assinado de comum acordo, tambm estabelecido que todas as reas

    de expanso do cultivo de cana-de-acar no podero ser colhidas com o uso do

    fogo.

    3.3. DESENVOLVIMENTO OPERACIONAL DE CORTE, CARREGAMENTO E TRANSPORTE DE CANA-DE-ACAR

    Para que a cana-de-acar produzida na lavoura chegue a indstria para

    ser processada, essa matria prima passa pelo sistema de colheita, carregamento e

    transporte (CCT), essa operao funciona da seguinte forma: o corte da cana pode

    ser manual ou mecnico, sem queimadas (cana crua) ou com queimadas. O

    carregamento pode ser feito de forma manual ou mecanizada (com colhedoras ou

    com carregadoras de cana). O transporte feito quase em sua totalidade por

    caminhes, mas em vrias regies so feitas por hidrovias e pode at mesmo ser

    feita o seu transporte por ferrovias.

    3.3.1. A evoluo no corte de cana

    Segundo estudos de Marques et.al. (2006 apud CRUZ, 2010, p. 19), ele

    justifica as modificaes no corte de cana no Brasil com as seguintes palavras:

    Devido expanso do Complexo Agroindustrial Canavieiro Brasileiro e a exigncias da sociedade por aes contra os danos sociais e ambientais causados pela atividade sucroalcooleira algumas operaes tm sofrido modificaes. Dentre as mudanas ocorridas na atualidade o corte o que vem sofrendo as maiores mudanas com a introduo da colheita mecanizada.

    Alves (2009, apud CRUZ, 2010, p. 20) relata em seus estudos tambm,

    que a mecanizao no corte de cana gera benefcios a todos, tanto sociedade como

    usineiros:

  • 29

    Para a sociedade, a reivindicao pela necessidade de eliminao das queimadas e pela melhoria das condies de vida e de trabalho dos cortadores de cana. Para os empresrios, a mecanizao uma alternativa para diminuir os custos das operaes e aumentar as exportaes de etanol. Ou seja, as exportaes de etanol brasileiro para se expandirem, dependem do setor demonstrar, para os importadores internacionais, que a produo do etanol no agride ao meio ambiente e no degrada as condies de trabalho dos trabalhadores. Desta forma, para os usineiros, a mecanizao do corte a ao capaz de solucionar, a um s tempo dois problemas: eliminar a queima de cana e aumentar as exportaes de etanol.

    3.3.2. Caractersticas do corte manual

    Para se efetuar as operaes do corte manual, primeiramente a cana

    queimada antes da sua colheita, como uma forma de eliminar a palha, tendo em

    vista que a palha dificulta as atividades de corte, e por sua vez o fogo tambm

    espanta animais que residem nos canaviais, como cobras, insetos e lagartos e

    outros.

    A colheita manual vista por todos como uma atividade muito

    desgastante, por isso, a cana crua oferece maior resistncia ao trabalho manual, a

    presena do grande volume da palha pode ocasionar risco de acidentes por causa

    das suas extremidades cortantes, e, alm disso, essa atividade quando realizada

    desta forma se torna pouco produtiva, na figura 7 a esquerda visvel a diferena do

    corte da cana crua com o corte da cana queimada a direita.

    Cruz (2010, p. 20), explica em sua pesquisa como feito o corte de cana

    no Brasil e o rendimento desta operao:

    No Brasil, o corte de cana feito predominantemente de forma manual, ou seja, o cortador munido de um faco (ou machete) ou podo de cortar cana, corta a planta rente ao solo para evitar uma m brotao de soqueira e o estabelecimento de pragas. Depois d um golpe com o faco no palmito (ponteiro da cana), procurando retirar apenas o cartucho, deixando tudo o que for colmo. A capacidade de corte manual vai de 5 at 12 toneladas/homem/dia em 10 horas de trabalho e para a cana crua esse valor cai pela metade.

  • 30

    Figura 7: Corte de cana crua a esq. e corte de cana queimada a dir.

    Fonte: sites http://www.jm1.com.br e http://triomaravilhoso.blogspot.com.br

    3.3.3. Caractersticas do corte mecnico

    Os tipos de mquinas que efetuam o corte mecnico da cana so os mais

    variados, algumas cortadoras apenas efetuam o corte basal, a cana fica acumulada

    sobre o terreno, na sequncia realizado o desponte manual, necessrio ainda

    outra mquina carregadeira para efetuar o carregamento. Essas mquinas podem

    ser acopladas a tratores ou podem ser automotrizes. Existem tambm mquinas que

    efetuam o corte basal e o desponte, enleirando a cana, ou deixam montes

    separados sobre o solo. O total da capacidade de corte dessas mquinas pode

    chegar a at 60 toneladas por hora. Outro tipo de mquina que atualmente a mais

    comum, tambm empregada no corte da cana combinada so as colhedoras que,

    apresentam vrias funes operacionais, alm de cortar tanto a base como o

    ponteiro, tambm picam, ventilam, limpam e carregam a cana em toletes de 30 a 40

    centmetros em veculos de transbordos que caminham ao lado da mquina ou nos

    veculos de transporte (MARQUES et. al., 2006, apud CRUZ, 2010).

    Algumas condies fsicas, tcnicas e de produtividade so necessrias

    para bons resultados na operao da mecanizao da colheita da cana, entre essas

    condies esto s exigncias por variedades de porte ereto e uniformidade,

    preparo do solo adequado ao favorecimento da colheita, espaamento do plantio de

    forma a eliminar o pisoteio, entre outros manejos agrcolas.

    Mas no se v atualmente empecilhos para a no mecanizao, tendo em

    vista que os produtores de cana tm adequado as suas mquinas ao tipo de

    condies que cada um tem na sua lavoura, seja uma cana de ano e meio a ser

  • 31

    colhida ou cana j prestes a reforma, as adaptaes que frequentemente so

    elaboradas nas colhedoras produzem bons resultados.

    Ao se referir sobre colhedoras de cana, no se pode deixar de falar que a

    Case IH a lder mundial de produo de colhedoras de cana e com investimento

    macios em tecnologia, pesquisa e desenvolvimento de novos produtos em uma

    fbrica em Piracicaba faz do Brasil uma plataforma mundial de colheitadeiras de

    cana, exportando para sia, frica, Oceania e todo o continente americano (VIA

    RURAL, 2009 apud MOREIRA 2009). Na figura 8 uma colhedora Case IH.

    Figura 8 - Colhedora de cana-de-acar da Case IH:

    Fonte: http://monografias.brasilescola.com/agricultura-pecuaria/as-inovacoes-tecnologicas-no-

    campo.htm

    A estrutura funcional de uma colhedora de cana pode ser descrita da

    seguinte forma:

    1. Discos de corte lateral: Com oito facas e com ajuste hidrulico de

    posio, cortam as pontas das canas emaranhadas e presas que no foram

    separadas pelos divisores de linha, evitando que as soqueiras sejam arrancadas do

    solo.

    2 Divisores de linha: Levantam e separam a linha de cana que est

    sendo colhida das linhas adjacentes de uma forma mais suave, minimizando os

  • 32

    danos soqueira. Cada divisor de linha composto por dois cilindros que giram em

    sentidos opostos, fazendo a separao das linhas.

    3. Despontador: Corta a palha da ponta e o palmito da cana,

    espalhando-os uniformemente sobre o solo.

    4. Extrator Primrio: Faz a limpeza dos toletes, retirando a palha e

    outras impurezas.

    5. Extrator secundrio: Faz a segunda limpeza dos toletes, retirando

    a sujeira remanescente e assegurando uma cana mais limpa.

    6. Flap: Direciona a descarga dos toletes de cana, auxiliando na

    conformao da carga.

    7. Elevador giratrio: Conduz os toletes de cana que saem do picador

    e alimenta a esteira at o extrator secundrio.

    8. Bojo: Recebe os toletes de cana que saem do picador e alimenta a

    esteira do elevador.

    9. Mesa do elevador: Faz o giro do elevador para a descarga, numa

    amplitude de at 85 para cada lado.

    10. Rolos alimentadores: Transportam e distribuem horizontalmente o

    feixe de cana at os rolos picadores.

    11. Rolos picadores: Corta a cana e lana os toletes na cmara do

    extrator primrio rolos com 3 ou 4 facas.

    Observa-se na figura 9 uma colhedora de cana John deere em operao

    de colheita.

    Figura 9: Colhedora de cana em operao

    Fonte: site http://www.lavoro.agr.br

  • 33

    3.4. CARACTERSTICAS DO CARREGAMENTO DE CANA

    Aps a colheita, o carregamento a etapa que ajeita a cana nos

    caminhes e carretas que fazem o transporte at a usina. O sistema de

    carregamento da cana-de-acar ainda pode ser manual ou mecanizado.

    Geralmente se utiliza o sistema mecanizado pela sua agilidade e praticidade. J o

    sistema manual usado quando o terreno apresenta uma declividade grande, acima

    de 25%, onde o trabalho da mquina fica invivel (CORREIA, 2009; RIPOLI &

    RIPOLI, 2004 apud CRUZ, 2010).

    O carregamento manual segundo estudos de CRUZ (2010) era muito

    usado no passado, eram formados feixes de aproximadamente 13 quilos cada um,

    que podiam contar de 10 a 18 colmos amarrados com os prprios ponteiros da cana,

    como na figura 10. Atualmente essa prtica muito limitada e costuma ocorrer em

    regies de relevo acentuado como no sul de Pernambuco, norte de Alagoas e zona

    da mata de Minas Gerais.

    Figura 10: Feixes de canas amarrados aguardando para serem carregados

    Fonte: Benvindo Chantre Neves. Disponvel em www.blogger.com/profile/

    O carregamento mecnico se deu por volta da segunda metade da

    dcada de 50, na regio centro-sul do pas, quando foram desenvolvidas mquinas

    que carregavam os caminhes apanhando a cana cortada no solo e ajeitando-a na

  • 34

    carroceria do caminho. Atualmente os tipos bsicos dessas carregadoras so

    montadas em tratores e as auto-propelidas (FERNANDES, 1984 apud CRUZ, 2010).

    A mquina da figura 11 possui na parte da frente um rastelo que,

    acionado hidraulicamente, amontoa a cana e atravs de uma lana que possui uma

    garra hidrulica na extremidade, apanha a cana amontoada pelo rastelo. Essa garra

    pode levantar de 400 a 900 kg de cana por vez, a uma altura que varia de 4 a 6

    metros girando at 90 conseguindo carregar de 40 a 50 toneladas de cana por

    hora.

    Figura 11: Carregadeira de cana em operao

    Fonte: site http://zipd.eu/exv/yt/?as=1&i=2RFImNfG8Ts

    3.5. O SISTEMA DE TRANSPORTE DA CANA NO BRASIL E NA REGIO

    Marques et. al. (2006, apud CRUZ, 2010, p. 22) escreve sobre a

    importncia do transporte virio, mas destaca tambm a importncia dos demais

    meios de transportes:

    Devido s grandes extenses que caracterizam as unidades canavieiras no Brasil, consagrou-se o transporte virio como a principal opo, apesar de nem sempre ser a mais vivel economicamente. Tal situao atual reflexo de uma poltica de transportes em geral desencadeada nos primrdios da implantao da indstria automobilstica no pas que, a fim de estimular e favorecer a indstria de veculos rodovirios partiu para a construo de rodovias, o que por si no seria negativo. O que se viu por consequncia foi a desativao das linhas frreas que ento existiam nas usinas de acar. Atualmente no mais que duas ou trs unidades aucareiras no Rio de Janeiro e em Pernambuco mantm trechos ferrovirios.

  • 35

    Desta forma os tipos de subsistemas de transporte para a cana-de-acar utilizados no pas so: rodovirio, ferrovirio e hidrovirio, sendo o principal e mais utilizado o rodovirio.

    Hoje em dia poucas usinas canavieiras utilizam outros tipos de transporte

    para a cana-de-acar como o ferrovirio e hidrovirio. Em busca de maior agilidade

    no transporte da matria-prima a Usina da Barra/Raizen localizada no municpio de

    Barra Bonita no Estado de So Paulo, atravs de um sistema logstico direcionado

    s suas caractersticas particulares, realiza o transporte por rodovias, ferrovias e

    hidrovias, o que faz com que a cana-de-acar chegue com rapidez indstria,

    agilizando todo o processo de produo (PIASSI, 2009 apud CRUZ, 2010).

    Na figura 12 uma barcaa carregada de cana-de-acar navega pelo rio

    Tiet em direo a usina.

    Figura 12: Transporte de cana pelo sistema hidrovirio.

    Fonte: site http://www.velejandonotiete.com.br/

  • 36

    4. O SISTEMA DE TERCEIRIZAO NAS OPERAES DE CORTE, CARREGAMENTO E TRANSPORTE

    Segundo Legnaro (2008, apud CRUZ, 2010), define-se terceirizao

    como um processo planejado de repassar a terceiros a realizao de determinada

    atividade. Esse processo abre novas oportunidades na conduo de tornar as

    empresas mais geis e competitivas. Favorece a transformao de custos que eram

    fixos em custos variveis, os quais podem controlar mais adequadamente,

    eliminando parte de operaes no essenciais, intermedirias, liberando capital e

    recursos financeiros para aplicao em melhorias do processo produtivo, em

    inovaes tecnolgicas e desenvolvimento de novos produtos. Esta transformao

    acaba por aumentar as chances de maior lucratividade e reinvestimentos, assim

    como possibilita empresa tornar-se mais competitiva (CHAHAD & ZOCKUN, 2002

    apud CRUZ, 2010).

    Cndido (2002, apud CRUZ, 2010, p. 28), descreve qual o objetivo

    principal da terceirizao:

    O objetivo principal da terceirizao a reduo de custos atravs da transferncia de servios para uma empresa especializada (terceira) que possua competncia tcnica para produzir ou fornecer servios com qualidade similar ou superior firma contratante.

    Outro motivo para a terceirizao a dificuldade de investimento em

    novos equipamentos, devido ao alto valor dos maquinrios, j que em muitas usinas

    h a necessidade de compra de novos e/ou a substituio dos equipamentos

    (ALIMANDRO & FERREIRA, 2005 apud CRUZ 2010).

    Segundo pesquisa de Alimandro e Ferreira (2005, apud Cruz, 2010, p.

    28), a reduo de custo sempre um desafio e a terceirizao contribui para isso:

    A reduo de custos sempre um desafio, particularmente para uma empresa brasileira. A terceirizao, desde que realizada com critrio e permanente superviso do contratante, um dos maiores achados da administrao privada para essa reduo. Sua aplicao no Brasil particularmente bem-vinda. Em outras palavras, a terceirizao indispensvel para as empresas brasileiras que pretendem ser moderna e bem administrada.

  • 37

    4.1. IMPLANTAO DO MODELO DE PARCERIA AGRCOLA NA LAVOURA CANAVIEIRA NA REGIO DO MDIO TIET

    Segundo Pagnoncelli (1993, apud MANFRIN e REPKE, 2011) pode-se

    definir tambm a terceirizao como um processo de planejamento, em que o

    sucesso no negcio requer algo to importante quanto o planejamento, a

    transformao do Terceiro em Parceiro, onde ambos se comportem como se um

    fosse a extenso do outro.

    Para transformar o terceiro em parceiro entende que cada caso um

    caso, porm com a experincia de Pagnoncelli possvel nos mostrar que existem

    quatro condies bsicas, que os nomeiam como degraus da parceria (MANFRIN

    e REPKE, 2011, pg. 55).

    Como relatado na pesquisa de Manfrin e Repke (2011) os quatro

    degraus comuns para as empresas so: O dilogo, a convivncia, a confiana e a

    identificao cultural. Pode-se observar que essa relao de parceria tambm uma

    relao de conquista no s de interesses mtuos como tambm de longevidade do

    negocio, a chegada do sucesso, e sem levar em considerao essas quatro

    condies impossvel sustentar qualquer ideia de parceria.

    Foi pautado nestes degraus que a regio do Mdio Tiet, atravs do

    Grupo Zilor adotou o modelo de Parceria Agrcola. A Zilor (2011) publicou em seu

    relatrio de sustentabilidade como funciona esse modelo na empresa:

    Iniciado em 1999, o programa de Parceria Agrcola foi consolidado em 2003, com a finalidade de dar mais foco ao cultivo da cana-de-acar e melhorar a produtividade, beneficiando os fornecedores e a Empresa. O modelo consiste na cesso de terras a parceiros criteriosamente selecionados, nas regies de Lenis Paulista e Macatuba, por meio de um contrato de longo prazo (mdia de 15 a 20 anos). A Zilor se compromete a comprar 100% da produo, independentemente das oscilaes de oferta e demanda do mercado, a preos acordados no fechamento do contrato, com o Conselho dos Produtores de Cana-de-Acar, Acar e lcool do Estado de So Paulo (Consecana), de acordo com as projees da safra e do cenrio econmico. Atualmente, so 28 Parceiros Agrcolas que assinam o Compromisso de Conduta Socioambiental. Duas vezes por ano, so realizadas reunies com todos os parceiros, para acompanhamento dos resultados da safra e identificao de melhoria, anlise de custos e possveis riscos no mdio prazo. Indiretamente, o programa de Parceria Agrcola gerou impactos sociais positivos na regio. Antes dele, a Zilor concentrava toda a plantao de cana-de-acar e os produtos e servios necessrios para mant-la eram adquiridos de fornecedores com grande escala. Quando o modelo foi

  • 38

    implantado, os parceiros passaram a consumir localmente, impulsionando a economia da regio e aumentando a receita do comrcio e da indstria.

    Segundo Manfrin e Repke (2011), entre as principais vantagens

    observadas para a empresa com relao a esse modelo de gesto, envolvendo

    Parceria, pode-se destacar a Qualidade dos servios; Transferncia de tecnologia;

    Reviso estrutural e cultural da empresa; Melhores resultados no conjunto da

    empresa; Menor custo e Melhorias do meio ambiente de trabalho.

    4.2. AS CERTIFICAES DA ZILOR ENERGIA E ALIMENTOS E DAS PARCERIAS AGRCOLAS

    O mercado atual cada vez mais tem imposto s empresas que os seus

    produtos sejam certificados, resultado das exigncias dos consumidores que visam

    qualidade e preo justo. A certificao de conformidade a demonstrao formal de

    que um produto, devidamente identificado, atende aos requisitos de normas ou

    regulamentos tcnicos especficos.

    A Zilor (2011) divulga atravs do seu Relatrio de Sustentabilidade das

    safras de 2009/2010 e 2010/2011, as suas certificaes e conformidade:

    A Zilor certificada por rigorosas normas internacionais e nacionais, com destaque para a ISO 9001: 2008 e para a ISO 22000: 2005, conquistada na safra 2010/2011 e que qualifica empresas da cadeia de alimentos em mbito internacional, com foco na sade e na segurana dos consumidores. Especificamente para a Biorigin, a Empresa possui, entre outras, as certificaes internacionais GMP B2 da Product Board Animal Feed (PDV), para alimentao animal, e a HACCP (Hazard Analysis Critical Control Point Anlise de Perigos e Pontos Crticos de Controle), da Codex Alimentarius. Na safra 2010/2011, a Zilor conquistou o registro Renewable Fuel Standard (RFS2), concedido pela Environmental Protection Agency (EPA), dos Estados Unidos. Somente com ele possvel exportar etanol ao pas. Tambm foi uma das primeiras empresas brasileiras a conquistar a certificao Bonsucro, que tem como principal objetivo promover a produo sustentvel da cana-de-acar e seus derivados. As trs unidades receberam a certificao no processo industrial e na rea agrcola, o que atesta o cumprimento rigoroso dos quesitos legislao, direitos humanos e trabalhistas, biodiversidade e ecossistemas, sustentabilidade e melhoria contnua.

    A certificao Bonsucro um selo internacional que promove a produo

    sustentvel de cana-de-acar e seus derivados, estabelecendo um padro de

    produo de melhores prticas sociais, ambientais e econmicas.

  • 39

    Segundo a Zilor (2011), as trs unidades da Zilor, em Lenis Paulista,

    Macatuba e Quat, receberam a certificao no processo industrial e na rea

    agrcola, o que atesta que a empresa e os Parceiros Agrcolas cumprem

    rigorosamente os quesitos avaliados: legislao; direitos humanos e trabalhistas;

    biodiversidade e ecossistemas; sustentabilidade e melhoria contnua.

    As empresas parceiras agrcolas PHD Cana e Agrodoce, responsveis

    por parte do abastecimento das unidades industriais Barra Grande e So Jos, em

    Lenis Paulista e Macatuba respectivamente, tambm foram auditadas e apoiaram

    a certificao da Zilor.

    Segundo Blanco (2013), o diretor de Parcerias e Agrcola da empresa

    Zilor Sr. Denis Arroyo Alves, afirma que a certificao mais um resultado do

    trabalho realizado no campo, em conjunto com os parceiros agrcola. Visamos a

    maior produtividade sem abrir mo dos critrios socioambientais, sempre com foco

    em uma produo sustentvel, explica Denis (BLANCO, 2013).

    Conforme Blanco (2013), o Sr. Pedro Luis Lorenzetti, scio proprietrio da

    PHD Cana e presidente da Ascana (Associao dos Plantadores de Cana do Mdio

    Tiet), afirma que participar do processo de certificao Bonsucro um orgulho.

    Enquanto fornecedores parceiros, estamos juntos pelo setor sucroenergtico no

    Brasil, conquistando espao e abrindo mercados sem nenhuma barreira para

    critrios socioambientais disse Lorenzetti (BLANCO, 2013).

  • 40

    5. A IMPORTNCIA DA MECANIZAO AGRCOLA NOS ASPECTOS AMBIENTAIS, ECONMICOS E SOCIAIS NA REGIO

    PESQUISADA

    Na dcada de 1970 o corte mecanizado ganhou espao, quando se

    desenvolveram as colhedoras auto propelidas que cortam, picam, limpam e

    carregam a cana em operaes integradas. Decorrente da grande expanso da

    lavoura naquela poca para atender ao PROLCOOL, procurava-se tecnificar a

    cultura canavieira e suprir a carncia de mo-de-obra. Porm, pode-se dizer que a

    mecanizao da colheita da cana-de-acar no Brasil ganhou maior impulso a partir

    da dcada de 1990 (CRUZ, 2010).

    Foi exatamente nesta dcada de 1990 que as primeiras colhedoras

    chegaram Regio do Mdio Tiet, especificamente nas Usinas do Grupo Zilor.

    Muitos foram os benefcios trazidos que representaram um avano significativo para

    a agroindstria canavieira, assim como a reduo dos custos e a possibilidade de

    aumentar a capacidade de trabalho, so fatores que contribuem para a acelerao

    desse processo e para a sustentabilidade do negcio.

    Segundo Peloia & Milan (2010 apud CRUZ, 2010), a mecanizao

    agrcola tem ganhado destaque na agricultura brasileira, pois representa um fator de

    grande importncia para a competitividade em termos de custo para o setor

    sucroalcooleiro, chegando a ser o segundo fator de produo mais importante,

    sendo inferior apenas posse da terra. A mecanizao pode ser considerada como

    o fator principal, em termos de potencial para reduo dos custos de produo.

    Sem dvida nenhuma, para as usinas o principal fator que as tem levado

    para a adoo da colheita mecanizada de cana crua o da reduo do custo com as

    operaes que ainda impulsionado por outros dois motivos: Dificuldade na

    contratao de mo-de-obra devido escassez de cortadores e a fiscalizao do

    ministrio pblico no que diz respeito s condies de trabalho. A outra causa

    devido legislao ambiental com a Lei Estadual paulista n 11.241/02 que

    regulamenta a prtica das queimadas nos canaviais com a eliminao total da

    queima at 2031 ou 2017 para as Usinas que aderiram ao Protocolo ambiental

    (RODRIGUES, 2006 apud CRUZ, 2010).

    A Zilor, por exemplo, o Grupo pioneiro entre vrias outras usinas que

    aderiram ao protocolo agroambiental com o intuito de receber um Certificado de

  • 41

    Conformidade agroambiental em sintonia com exigncias ambientais de novos

    mercados em contrapartida os prazos para eliminao da queimada em reas

    mecanizadas, com at 12% de declividade, foi estabelecido at 2014 e no

    mecanizadas at 2017. Segundo Cruz (2010) o Protocolo agroambiental visa

    reconhecer e premiar as boas prticas ambientais do setor sucroenergtico com um

    certificado de conformidade, renovado anualmente. Por meio da publicidade do

    certificado concedido s unidades agroindustriais e s associaes de fornecedores

    de cana. O Protocolo acaba por influenciar na imagem das usinas frente ao mercado

    interno e externo, determinando um padro positivo de planos e metas de

    adequao ambiental a ser seguido.

    notrio que h uma demanda crescente por maquinrios, esse

    crescimento uma consequncia da adoo das frentes do corte mecanizado em

    reas j estabelecidas e de que desde o final de 2007 devido ao que foi estabelecido

    no protocolo agroambiental, novos projetos de canaviais tem de ser totalmente

    mecanizados.

    5.1. DIFERENCIAL DAS REGIES COM MAIOR GRAU DE MECANIZAO

    Conforme Nachiluk e Oliveira (2013) Lenis Paulista se destaca por

    apresentar um maior grau de mecanizao e utilizao de mquinas de maior

    potncia, conseguindo dessa forma maior eficincia no uso destas mquinas.

    Ressalta-se ainda que o municpio deu origem a formao de condomnios no setor

    sucroenergtico articulado inicialmente pela Zilor Energia e Alimentos, que vem se

    disseminando por outras regies do Estado de So Paulo. Na pesquisa de Nachiluk

    e Oliveira (2013) observa-se muitas diferenas entre as regies no que diz respeito

    maneira com que as operaes de mecanizao so realizadas, isso indica de um

    modo geral, forte tendncia e mobilizao entre os produtores canavieiros para se

    adequarem s normas e regras ambientais e trabalhistas.

    Segundo matria veiculada no dia 03 de maio de 2013 em meio

    eletrnico1, pelo Secretrio Estadual do Meio Ambiente Bruno Covas, ele afirma que

    desde o incio do Projeto Etanol Verde, em 2007, o Estado de So Paulo deixou de

    1 Site http://www.ambiente.sp.gov.br

  • 42

    queimar 5,53 milhes de hectares e de lanar atmosfera mais de 20,6 milhes de

    toneladas de poluentes e 3,4 milhes de toneladas de gases de efeito estufa.

    Segundo Covas, esses valores so comparveis aos emitidos por 59 mil nibus em

    circulao durante um ano em uma grande cidade. Isso representa ganhos na

    qualidade ambiental para todo o estado, principalmente para a qualidade de vida da

    populao do interior paulista (COVAS, 2013).

    Considerando que Lenis Paulista e regio teve o privilgio de ser o

    pioneiro na adeso ao protocolo agroambiental e de haver o maior grau de

    mecanizao comparado com vrias outras regies, deduz-se que a qualidade de

    vida dos habitantes desta regio estudada maior em comparao com outras

    regies.

    5.2. EVOLUO DA COLHEITA MECANIZADA NA REGIO CENTRO-SUL E NAS REGIES BRASILEIRAS

    Com relao s vendas de colhedoras no Brasil, observa-se, na figura 13,

    a ocorrncia de um aumento acentuado a partir de 2002, com resultados crescentes,

    atingindo o patamar de 1500 unidades vendidas em 2011, e um leve recuo nas

    vendas em 2012 e 2013 devido a fatores econmicos do setor.

    Figura 13: Venda de colhedoras de cana-de-acar no Brasil de 2003 a 2013

    Fonte: Alcoolbrs (2007) apud Ramos (2007); Costa (2008); e sites pesquisados:

    http://revistagloborural.globo.com, http://www.canaoeste.com.br

  • 43

    Quanto evoluo da colheita mecanizada no Centro-Sul, observa-se na

    figura 14 um crescimento contnuo desde o inicio da pesquisa em 2000, quando na

    poca o corte mecanizado representava 28% das reas colhidas e o corte manual

    72%, porm a partir de 2006 at a presente safra que ocorre a acelerao em

    busca pelo novo sistema de corte de cana, onde dos 36% das reas colhidas

    mecanicamente, passou-se para os 85% em 2012. Dos 4 milhes de h da cultura

    na Regio do Centro-Sul, nada mais, nada menos que 3,4 milhes foram colhidos

    atravs do sistema mecanizado.

    Ao contrrio da Regio Centro-Sul, a Regio Nordeste responsvel por

    apenas 12% da produo de cana do pas, apresenta condies inferiores para

    mecanizar a colheita, isso porque boa parte de sua terra se localiza em reas

    acidentadas, onde o emprego de mquinas ou extremamente difcil ou impossvel.

    Tanto que, em Pernambuco e Alagoas, somente 39% da colheita mecanizada,

    sendo 61% ainda realizados com corte manual (LIMA, 2013).

    Figura14: Evoluo da Colheita Mecanizada no Centro-Sul

    Fonte: Informativo NICA (20_12_2012)

    No estado de So Paulo a evoluo para o corte mecanizado da cana-de-

    acar tambm no diferente, pode-se dizer que o setor sucroenergtico no

  • 44

    Estado de So Paulo tambm est colhendo sustentabilidade. Evidncia disso o

    que se v na figura 15, j na safra 2012/2013, o percentual de rea de cana-de-

    acar colhida por meio mecnico alcanou 72,6%. O percentual representa 3,38

    milhes de hectares, comparativamente a uma rea equivalente a 22 cidades de

    So Paulo ou a mais de 4.800.000 campos de futebol. Esse ndice, em 2006/2007,

    era de 34,2% (COVAS, 2013). Cabe destacar que, em 2002, foi assinada a Lei que

    prev a eliminao das queimadas nos canaviais paulistas.

    Figura 15: Evoluo da colheita mecanizada de cana-de-acar no Estado de So Paulo de 1993 a 2013.

    Fontes: Elaborado pelo autor baseado em dados do IDEA NEWS; Kitayama; INPE, sites de pesquisa.

    Nota: Projeo para 2013 da NICA

    A Usina So Manuel se localiza na regio do Mdio Tiet. A empresa do

    setor canavieiro tambm definiu uma agenda comum de sustentabilidade,

    possibilitando canalizar os investimentos ambientais em um dos principais desafios

    do setor. Em apenas cinco anos o ndice de mecanizao da colheita em todo o

    setor no Estado de So Paulo, saltou de 34% na safra 2006/2007 para mais de 65%

    na safra 2011/2012, enquanto que, a Usina So Manoel na mesma safra 2011/2012

    atingiu o percentual de 67% de colheita mecanizada, por meio do emprego de 22

    mquinas colhedoras, atingindo o ndice geral de 59,5% sem a aplicao da queima

    da palha. Esse percentual atende meta estipulada pelo Protocolo Agroambiental

    para o ano atual.

  • 45

    Nas Usinas Barra Grande de Lenis e Aucareira Zillo Lorenzetti de

    Macatuba elas moeram na safra 2010/2011 o equivalente a 75% do volume de cana-

    de-acar com mquinas, dos quais 55% so de cana crua, a colheita proveniente

    dos Parceiros Agrcolas, que aderiram ao Protocolo por meio da Associao dos

    Plantadores de Cana do Mdio Tiet (ASCANA).

    A Aucareira Quat a unidade do Grupo Zilor Energia e Alimentos que

    aderiu voluntariamente ao Protocolo Agroambiental, sendo o primeiro complexo

    agroindustrial a se tornar signatrio. Na safra 2010/2011, a unidade agrcola

    conseguiu alcanar 91,25% de corte mecanizado, dos quais 78,5% corresponderam

    ao corte de cana crua (ZILOR, 2011).

    Na safra de 2012/2013 a unidade Quat da Zilor alcanou os 100% de

    corte de cana crua antes da data-limite, com toda a rea colhida crua na safra.

    5.3. CUSTOS DAS COLHEITAS MANUAL E MECANIZADA

    A substituio da corte manual de cana queimada para o corte mecnico

    de cana crua quanto ao aspecto econmico, exige um considervel investimento

    inicial. Uma colhedora de cana custa hoje em torno de R$ 900.000,00. No entanto, a

    colheita mecanizada gera maior eficincia, essa maior eficincia econmica

    reproduz-se no significativo aumento da produo: enquanto um trabalhador braal

    consegue cortar em torno de dez a quinze toneladas por dia de cana com a palha

    queimada, a mquina tem a possibilidade de colher mais de oitocentas toneladas de

    cana crua, considerando: cana picada, limpa e carregada (RONQUIM, 2010, p. 37).

    Segundo a Unica (2010, apud RONQUIM 2010), a soma dos custos com

    o corte, carregamento e transporte do produto colhido cru e mecanicamente , em

    mdia, 25% menor que a da colheita manual da cana queimada.

    A preferncia tambm pela colheita mecanizada por parte dos

    empregadores do setor devido possibilidade de reduo de custos com encargos

    trabalhistas.

    Uma segunda opinio sobre o assunto custos vem de Rodrigues e Souza

    (2010), que realizaram uma pesquisa no municpio de Rubiataba-Go, junto Usina /

    destilaria Cooper Rubi Ltda. O estudo foi sobre a anlise financeira dos tipos de

    colheita da cana-de-acar naquela regio. Inicialmente, foram levantados os custos

  • 46

    de produo agrcola da cana-de-acar no perodo que vai do ano de 2003 ao ano

    de 2008.

    Rodrigues e Souza (2010, p. 12) apresentam as suas consideraes finais

    sobre os aspectos socioeconmico e ambiental aps o trmino do estudo:

    Os resultados obtidos apontam para um paradoxo socioeconmico e ambiental, pois, no que se refere anlise econmica a colheita manual se apresenta mais rentvel que a mecanizada; e nesse caso a deciso de investimento ou no se d no nvel da empresa. Nos indicadores sociais temos uma contradio, visto que a colheita manual emprega mais mo-de-obra do que a mecanizada, contudo, esta ltima remunera melhor os trabalhadores. A deciso aqui, inicialmente vem da parte da empresa, visto que se o empresrio investir na colheita manual empregar mais pessoas, pagando menos, e se investir na colheita mecnica empregar menos pessoas, remunerando melhor. Contudo, ainda sobre a questo social, cabe ressaltar que as polticas pblicas e a legislao vigente tendem a impelir as usinas a mecanizar a lavoura, e dessa forma, menos postos de trabalho sero gerados, cabendo ao poder pblico, criar outras oportunidades de ocupaes para os trabalhadores dispensados no setor canavieiro. Quanto anlise ambiental, a melhor opo a colheita mecanizada, visto que esta apresenta uma melhor sustentabilidade ambiental por sua maior capacidade de renovabilidade do sistema devido ao fato de eliminar as queimadas do ciclo produtivo da cana-de-acar, evitando assim a poluio ambiental devido a esta prtica to comum na atividade canavieira.

    Na figura 16 observa-se o custo do corte, carregamento e transporte

    100% mecanizado aumentando significativamente da safra 2012/2013 para a safra

    2013/2014 na ordem de 8,8% e espera-se para a prxima safra segundo o cenrio

    presente mais 5% de aumento.

    Figura 16: Custo mdio do CCT 100% mecanizado (em R$)

    Fonte: Agroconsult 2013

  • 47

    Segundo a AR Contabilidade ([s.d.]), pode-se afirmar que o custo com o

    Corte, Carregamento e Transporte de Cana representa aproximadamente 25 % do

    custo da tonelada de cana ou 10% de cada saca de acar, que significativo

    dentro do contexto.

    S a determinao do valor global no permite diagnosticar as causas do

    custo e muito menos verificar quais as providncias a serem tomadas para reduzi-lo,

    uma vez que existem muitos fatores que influenciam diretamente nestas variaes

    (AR CONTABILIDADE, [s.d.]).

    Ainda segundo explica a AR Contabilidade ([s.d.]), entre os fatores que

    influenciam diretamente nestas variaes, destaca-se:

    Caractersticas da regio: o relevo, comprimento do talho, vrias fazendas juntas ou muito distante uma das outras, raio mdio da lavoura a empresa, entre outros; Caractersticas da unidade: tipos de variedades de cana, espaamento, cana crua ou queimada, rendimento da produo (toneladas de cana por hectare), sistema com transbordo ou no, nmeros de turnos de trabalho e outros; Caractersticas da frota: idade mdia, marcas dos equipamentos, quantidade de equipamentos por frente, frota de apoio, qualidade da mo-de-obra, etc; Caractersticas do Gerenciamento: se h um bom controle de manuteno, da rea operacional e de custos, entre outros.

  • 48

    6. PRINCIPAIS IMPACTOS CAUSADOS COM A MECANIZAO DO CORTE DE CANA-DE-ACAR NA REGIO DO MDIO TIET

    A Regio do Mdio Tiet, que forte representante no setor

    sucroenergtico tambm est inserido como participante de conflitos

    socioambientais, o setor em geral, sofre cada vez mais presso de investidores e da

    sociedade em relao as suas prticas de responsabilidade ambiental e social,

    procurando ento construir uma imagem positiva perante seus stakeholders, atravs

    da divulgao de suas aes e da realizao da Gesto Ambiental se defende como

    pode das crticas por eles direcionadas (CEZARINO, 2013).

    Em 2013 a cultura da cana-de-acar no Brasil ocupa 8.893,0 mil

    hectares e faz do Pas o maior produtor mundial de cana e seus derivados. Nesse

    contexto, a regio Centro-Sul responde por cerca de 90% da produo total. O

    Estado de So Paulo, maior produtor, vem buscando viabilizar a sustentabilidade

    desse agronegcio por meio de um protocolo de intenes, regido por lei, em que a

    prtica da queima da palha da cana deve ser gradativamente reduzida at sua

    completa eliminao (RONQUIM, 2010).

    A mecanizao completa da colheita da cana-de-acar possibilitar

    maior ganho ambiental e resultar em menor emisso de poluentes atmosfricos e

    gases de efeito estufa, na melhoria da qualidade do solo, entre tantos outros ganhos.

    Segundo Ronquim (2010, p. 1), ao deixar de queimar a palha da cana e

    fazer a colheita mecanicamente, as usinas e os produtores rurais conseguem reduzir

    os custos de produo e reduzir os encargos trabalhistas.

    O setor sucroenergtico responsvel por gerar grande nmero de

    empregos diretos e indiretos, e a proibio da queima da cana-de-acar como

    mtodo de despalha acelera a mecanizao da colheita e produz impactos negativos

    sobre o nmero de empregados da lavoura canavieira em todas as regies, inclusive

    na Regio do Mdio Tiet. Embora sejam criados empregos na indstria do acar e

    do lcool por meio da expanso do setor, h reduo da fora de trabalho na rea

    agrcola. Com a ausncia das queimadas so evidentes os benefcios alcanados

    sade e ao meio ambiente, alm de maiores ganhos econmicos para todo o setor.

    (RONQUIM, 2010).

  • 49

    Segundo Trindade (2009, apud CRUZ, 2010, p. 29), o agronegcio

    canavieiro est envolvido diretamente com problemas sociais e ambientais:

    O sistema produtivo aliado ao agronegcio da cana-de-acar enraizado por problemas sociais e ambientais que perpetuam em um resultado de explorao dos recursos naturais e da mo-de-obra gerando significativas preocupaes sobre como estas indstrias vem sendo organizadas no pas.

    Na discusso em conjunto sobre o desenvolvimento de novos

    conhecimentos cientficos para o setor sucroenergtico, muito se tem debatido

    tambm sobre os aspectos de sustentabilidade do complexo sucroalcooleiro

    (MORENO & CARLO, 2007, apud CRUZ, 2010). Para que um empreendimento se

    torne sustentvel necessrio diminuir o impacto da companhia de maneira

    economicamente vivel, utilizando abordagens preventivas em conjunto com

    princpios de melhoria contnua (LABODOV, 2004 apud CRUZ, 2010).

    6.1. OS IMPACTOS AMBIENTAIS E OS BENEFCIOS AMBIENTAIS DA MECANIZAO DA COLHEITA

    A mecanizao da colheita um novo processo pelo qual as usinas

    tiveram que se adaptar aps as restries de queima da palha da cana, por sua vez,

    tem relao direta com o aumento da compactao dos solos, prejudicial ao

    desenvolvimento da cana no plantio e nas rebrotas. Esse um impacto negativo que

    afeta diretamente as usinas, tendo em vista, que tanto o pisoteio, a manobra de

    mquinas e veculos de transporte, alm do corte de base e os divisores de linha

    desregulados ocasionam estragos irreversveis em um canavial. As perdas de

    produo so notadamente verificadas de uma safra para a outra, obrigando o

    agricultor a renov-lo em menos tempo de colheita, gerando prejuzos econmicos

    (VEIGA FILHO, 1998 apud CRUZ, 2010).

    Segundo pesquisa de Torquato, et al (s.d.), todo o processo de colheita

    mecanizada favorece a compactao do solo, ocasionado pelo peso das mquinas e

    equipamentos utilizados. Porm, a colheita da cana crua permite que se deixe uma

    cobertura no solo, protegendo-o contra a perda de solo e melhorando suas

    caractersticas de fertilidade e diminuindo a incidncia de plantas invasoras. Mas,

  • 50

    sobretudo, essa condio de cobertura do solo favorece o aparecimento de pragas e

    com elas a aplicao de defensivos agrcolas.

    Em resumo, no h impacto ambiental negativo para a sociedade no que

    se refere a colheita mecanizada da cana-de-acar, nesta pesquisa o que se

    observa que, desde que a cana seja colhida crua, somente h impactos positivos,

    que se traduz em melhoria na qualidade de vida de todos, alm de promover a

    sustentabilidade. Mas para o agricultor esses impactos so sentidos

    economicamente em curto prazo de tempo, tanto no custo para a aquisio desses

    equipamentos, como na compactao do solo, danos nos canaviais, reformas de

    lavoura antecipada, maior percentual de perdas de cana na lavoura com a colheita, e

    outros.

    O que a pesquisa observa so benefcios ambientais, promovido pelo

    setor sucroenergtico com a mecanizao da cana. De acordo com estudos de

    Matsu (2011), ele destaca que os principais ganhos da colheita mecanizada so de

    ordem ambiental. Uma vez que, os grandes volumes de canaviais so queimados

    lanam toneladas de gs carbnico na atmosfera. At dezembro de 2017, somente

    em relao queima da palha da cana, sero 8,5 milhes toneladas de CO2 que

    deixaro de ser emitidas com o fim do uso do fogo.

    Ambientalmente o setor contribui tambm com a substituio dos

    combustveis fsseis pelo combustvel como o etanol, o principal incentivo est na

    menor emisso de partculas poluentes no meio ambiente, vistas ento como

    causadoras das mudanas climticas, e nos efeitos lquidos positivos em relao

    absoro de CO2. Nesse contexto, a queima da cana viria em sentido contrrio a

    esse princpio e seus efeitos impactariam na qualidade do ar nas reas urbanas e

    rurais (TORQUATO, et. al. [s.d.]).

    Ronquim (2010) em suas pesquisas relata que o Intergovernmental Panel

    on Climate Change (IPCC) no ano de 1995, constatou que os resduos da cana-de-

    acar representavam 11% da produo mundial de resduos agrcolas, e que a

    queima desses resduos responsvel por uma liberao substancial de gases de

    efeito estufa (GEEs).

    No Brasil, Lima et al. (1999, apud RONQUIM, 2010) comprovou que a

    cana-de-acar responsvel por 98% das emisses de gases provenientes da

    queima de resduos agrcolas. As queimadas dos canaviais liberam para a atmosfera

  • 51

    grandes concentraes de gases como dixido de carbono (CO2), xido nitroso

    (N2O) e metano (CH4), provocando aumenta no efeito estufa gerando srios

    problemas ambientais.

    A substituio da colheita manual de cana queimada para a colheita

    mecanizada de cana crua, no que diz respeito s emisses de GEEs, tem duas

    consequncias principais segundo Ronquim (2010, p. 19):

    1. A colheita de cana crua emite os gases CH4 e N2O, alm de poluir a atmosfera com fumaa e fuligem. Apesar do consumo de combustveis fsseis da mquina cortadora, a eliminao da queima diminui em quase 80% as emisses totais de GEEs que ocorrem na colheita. 2. A manuteno da palha no terreno preserva os nutrientes, especialmente N e S, mantm bons nveis de umidade e protege a superfcie do solo contra a eroso.

    Ainda completa Ronquim (2010) que a palha eliminada no processo de

    limpeza das colhedoras usada na indstria para a cogerao de energia, fato que

    tambm contribuir para a diminuio da emisso de carbono pela matriz energtica

    brasileira. Segundo o estudo de Ronquim, considera-se que a colheita mecnica

    deixa no solo de 8 t palha ha-1 a 30 t palha ha-1 e que 20% dessa palha devero ser

    recuperadas para produo de energia at 2010 e 40% nos demais anos.

    Colhendo a cana de forma ambientalmente correta, a biodiversidade no

    afetada, nem ocorre a degradao do meio ambiente e nem se elimina um nmero

    incalculvel de espcies da fauna nativa, que podem ser insetos at mamferos, o

    sistema est livre de atingir a flora nativa.

    Agricultores que ainda fazem uso do fogo para eliminar a palha da cana,

    apresentam uma maior conscientizao ambiental no Estado de So Paulo, muitos

    realizam as queimadas somente a partir de dois lados dos canaviais, para diminuir

    os riscos de acidentes com a fauna, esse problema deixa de existir na colheita da

    cana crua, onde se permite que a fauna tenha maior tempo para fuga.

    Segundo Ronquim (2010, p. 25), sobre a palha deixada sobre o solo

    procedente da colheita de cana crua, conforme a figura 17, ele afirma:

    A palha deixada sobre o solo era considerada um transtorno, hoje as pesquisas demonstram que a sua presena pode representar uma importante estratgia para a melhoria da fertilidade e, consequentemente, para aumentar o volume de solo explorado pelas razes de cana. A manuteno da palhada, desde que bem manejada, pode representar importante aporte de nutrientes na camada superficial e na disponibilidade

  • 52

    de nutrientes no solo e para as plantas e, uma vez monitorada, influir nos ndices de fertilidade do solo, com ganhos diretos para as agroindstrias e indiretos para toda a sociedade.

    Figura 17. Solo coberto com palha de rea de cana-de-acar colhida mecanicamente sem queima.

    Fonte: Embrapa, 2010

    6.2. OS IMPACTOS SOCIAIS E OS BENEFCIOS SOCIAIS DA MECANIZAO DA COLHEITA

    O desemprego um impacto social negativo. A pesquisa de Ronquim

    (2010) relata uma estimativa da Unica (2010, apud RONQUIM 2010) que haver

    reduo de aproximadamente 114 mil empregados na lavoura canavieira at a safra

    2020/2021. A substituio da forma de colheita da cana tem grandes implicaes

    sociais, porque uma colhedora realiza o trabalho de 80 a 100 cortadores de cana.

    A lavoura canavieira sempre constituiu importante fonte de emprego para

    uma frao da populao com baixo nvel de instruo. Os trabalhadores rurais do

    corte da cana representam a maior demanda de fora de trabalho agrcola no Estado

    de So Paulo (VILAS BOAS; DIAS, 2008).

    Diante das estimativas de