Cristofani Textos Sobre Palavra de Deus Inspiracao

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  • 7/23/2019 Cristofani Textos Sobre Palavra de Deus Inspiracao

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    RecortesTextos sobre a Palavra de Deus

    TEMAS

    InspiraoInerrncia

    Conceito de Palavra de Deus

    JOS ROBERTO CRISTOFANIORGANIZADOR

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    1Jos Roberto Cristofani - Organizador

    Recortes - Textos sobre a Palavra de Deus

    Nota de Esclarecimento

    Os textos que compem esta coletnea foram compilados para a disciplinaIntroduo Literria Bblia, que lecionei h muito tempo...

    A ementa contemplava temas diversos, tais como: A formao do Antigo e NovoTestamentos; Gneros literrios, Cnon, Apcrifos, Pseudepgrafos, entre outros.

    Entretanto, sabendo da formao dos estudantes que, na sua maioria vinhamde igrejas, acrescentei alguns temas a mais: Inerrncia das Escrituras; Inspirao;

    Conceito de Palavra de Deus.

    Esta coletnea , portanto, o resultado dessa compilao de textos e deve servista dentro desse contexto.

    Alguns textos eu traduzi do ingls, e vocs ho de me perdoar por isso!

    Chamo de Recortes, pois foi isso o que eu z, recortei apenas o que interessavaao desenvolvimento dos temas propostos.

    Boa leitura

    Rev. Prof. Dr. Jos Roberto Cristofani

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    2Jos Roberto Cristofani - Organizador

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    A BBLIA A PALAVRA DE DEUS? (Emil Brunner)

    H unanimidade em que esse livro, chamado Bblia, peculiar. J um livronotvel porque todos o possuem e to poucos o lem. Qual o motivo de quetodos tm uma Bblia, que esse livro foi traduzido para muitas centenas delnguas, e que suas edies anuais somam milhes de exemplares? H 200 anos,o zombeteiro Voltaire, o homem mais conhecido de sua poca, profetizava queem breve ningum mais se interessaria pela Bblia. A casa em que ele escreveuestas palavras hoje um dos muitos escritrios de uma grande Sociedade

    Bblica, O nome de Voltaire j est quase esquecido; a Bblia, nesse tempo, teveuma difuso indita por todo o mundo. Que h com a Bblia? Que motivou essesfatos? Inicialmente, damos uma resposta bem natural. porque a Igreja cristconsidera a Bblia a palavra de Deus, assim como os maometanos consideram oAlcoro e os hindus, a Bhagavadgita como a palavra de Deus. E j que os cristosso melhores na propaganda, a Bblia o livro mais difundido. Certo. Mas nessaexplicao descuidou-se dum fato: A Bblia no vem apenas dos cristos, oscristos, tambm, vm da Bblia. Pode-se dizer: H Bblias porque h cristos.

    Mas antes de tudo vale o inverso: H cristos porque h a Bblia. A Bblia o chodo qual nasce toda f crist. Sem ela nada saberamos de Jesus Cristo, segundo oqual somos chamados. F crist f em Cristo, e Crista marcou encontro conoscoe fala a ns na Bblia. F crist f bblica. Que quer dizer isso?

    Quem Deus? Que que ele quer conosco? Qual o seu plano para com o mundo,com a humanidade, contigo? No podes saber isto, e ningum poder diz-lo. Pois o que tu no podes saber de Deus, outro tambm no poder saber,porque o outro tambm humano. Homem algum capaz de responder essas

    perguntas por sua prpria inteligncia ou sabedoria. Somente Deus o pode. Eleo faz? Ele o diz? Revela ele o mistrio de seu plano com o mundo? Manifestaele suas intenes contigo, comigo e com toda a humanidade? A cristandaderesponde a isso: Sim, Deus revelou o mistrio de sua vontade pelos profetase pelos apstolos nas Sagradas Escrituras. F-los dizer quem ele . E por isso,em princpio, eles todos dizem o mesmo, em outras palavras, assim como sete

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    3Jos Roberto Cristofani - Organizador

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    lhos que tiveram uma boa me, cada qual fala dela a seu modo. Cada um diz omesmo, e, no obstante, cada um diz algo diferente. ~ assim que todos eles falam

    do nico Deus, que no s como eterno est acima de tudo que transitrio, e,com Esprito invisvel, no reina apenas sobre tudo o que terreno, mas que queralgo com os homens. No o abandona qual grande senhor que diz: Posso viversem eles, posso esperar at que venham a mim. No, assim no. Porm ele, onico e verdadeiramente grande Senhor, no o faz como um grand seigneur,no espera at que os pequeninos homenzinhos venham a ele. Tem compaixocom eles, vem queles que a ele no vm, importa-se com aqueles que comele no se importam, d-se trabalho, vai sua procura, assim como um bom

    pastor busca suas ovelhas desgarradas. Ele quer reuni-las, no quer deix-las naperdio, quer t-las consigo. Essa sua inteno. por isso que lhes assobia e aschama, ora ameaando, ora convidando, uma vez coma l dos altos, outra comodas profundezas. E no chama, apenas; vem mesmo at eles, at a sua perdio. realmente o Bom Pastor que vem s suas ovelhas desgarradas e deixa suavida por elas. do bom Deus-Pastor que a Bblia fala. As vozes dos profetas eapstolos so o chamado de Deus. E Jesus Cristo o advento do prprio Deus.

    Nele o Verbo se fez carne, isto , nele est presente aquilo de que os apstolos

    s podem falar, sem que o sejam mesmos. Eles s podem falar do Bom Pastor;mas Jesus o Bom Pastor, pessoalmente. Eles, os profetas e apstolos, qualporteiros, s podem apontar ao que vem, dizendo: olhai para l, l est o queimporta; podem, somente, abrir a porta e dizer: Ei-lo. Ele a palavra de Deus.Nele, isto , em sua vida e morte, Deus revela o que quer, o que tenciona, o quepensa. Manifestei o teu nome aos homens. Ele a palavra de Deus na Bblia.Perguntar-se-: toda a Bblia palavra de Deus? Sim, contanto que fale daquiloque est em Cristo.

    Ser verdade tudo o que se acha na Bblia? Permitam que eu faa uma comparaoum pouco moderna: Por todas as ruas h cartazes de casas de discos His mastersvoice, em portugus: A voz do seu Mestre. O estabelecimento comercial querdizer com isto: Compra um disco, e ouvirs a voz do Mestre, a voz de Caruso. verdade? Claro. realmente sua voz? Sem dvida. No obstante, a eletrola ainda

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    faz o seu prprio rudo. Isso no a voz do Mestre, so arranhaduras na ebonite.Mas no te queixes da ebonite. S pelos discos desse material podes ouvir a

    Voz do Mestre. Assim com a Bblia. Faz com que ouas a voz do verdadeiroMestre, sua voz realmente, suas palavras, aquilo que Ele quer dizer. Mas h rudossecundrios, e isso, porque Deus fala sua palavra pela boca humana. Paulo, Pedro,Isaas e Moiss so homens; mas atravs deles, manifesta sua palavra. E Deusveio ao mundo como homem, verdadeiramente Deus, mas verdadeiramentehomem, tambm. O que diz a Bblia a voz, acompanhada, no entanto, de todasessas dissonncias particularmente humanas. Tolo, quem escutar para os rudossecundrios em vez de dar ouvidos voz do Mestre!

    A grandeza e a importncia da Bblia esto em que Deus atravs dessasimperfeies nos fala.

    E os outros livros, que armam ser tambm palavra de Deus? A resposta dupla: 1 - Voc maometano, voc hindu? Do contrrio, esses livros no lheinteressam. 2 -Se, apesar disso, voc quiser saber o que h com esses livros, slhe posso dizer: L se ouve uma outra voz do que na Bblia. No o mesmo Deus,no o Bom Pastor que vem s suas ovelhas. uma voz estranha. Pode ser que,de alguma forma, seja a voz de Deus, tambm. Se for, est quase irreconhecvel,

    como uma fotograa mal feita.

    E agora, alguma pergunta ainda? Creio que, assim sendo, h uma s conseqncia:Comear, duma vez, a dar ouvidos voz do Mestre!

    ====Emil Brunner, Nossa F. 3 ed., So Leopoldo, Sinodal, 1978. Pp. 12-16=====

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    Lutero e o Princpio Bblico

    Os monumentos a Lutero mostram-no sempre com a Bblia na mo. A imagemno muito boa porque a Igreja Catlica est certa ao armar que j haviabiblicismo na Idade Mdia. J armamos tambm a existncia desse biblicismono nal dessa poca. Vimos que a crtica radical de Ockham, o nominalista, igreja, baseava-se na Bblia. Entretanto, o princpio bblico signicava outra coisapara Lutero. Na teologia nominalista, a Bblia era a lei da igreja que podia serutilizada contra a prpria igreja, mas no deixava de ser lei. Na Renascena, a

    Bblia a fonte da religio verdadeira, editada pelos melhores lsofos, comoErasmo. Essas eram as duas atitudes dominantes: a legalista, do nominalismo, ea doutrinria, do humanismo. Nenhuma delas conseguiu arrasar os fundamentosdo sistema catlico. Para isso era necessrio um novo princpio.

    Lutero conservava certos elementos nominalistas e humanistas em seu ensino.Valorizava altamente a edio do Novo Testamento feita por Erasmo e muitasvezes caiu no legalismo nominalista em sua doutrina da inspirao, ao armarque cada palavra da Bblia havia sido inspirada pelo ditado de Deus. o que se

    v na sua doutrina da Ceia do Senhor, apoiada numa interpretao literalistade certa passagem bblica. Mas, alm disso, Lutero interpretava as Escriturasem harmonia com a sua nova compreenso da relao do homem com Deus.Essa posio aparece em seu conceito da Palavra de Deus. Esse o termo maisempregado na tradio luterana e na teologia neo-reformada de Barth e outros.Mas no nos ajuda muito. O prprio Lutero dava a esse termo seis sentidosdiferentes.

    Lutero armava que a Bblia era a palavra de Deus - mas sabia muito bem o que

    dizia. Mas quando queria realmente expressar o que pensava, dizia que na Bbliase encontrava palavra de Deus, a mensagem de Cristo, a expiao, o perdodos pecados e a ddiva da salvao. Deixava bem claro que a Bblia continha apalavra de Deus no sentido em que transmitia a mensagem do Evangelho. Masentendia que essa mensagem existia antes da Bblia, na pregao dos apstolos.

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    Como Calvino diria mais tarde, Lutero entendia que os livros da Bblia eram umasituao de emergncia, posto que necessrios. Por isso, o que importava era o

    contedo religioso; a mensagem era objeto de experincia. Se eu sei o que creio,conheo o contedo das Escrituras, pois elas no contm outra coisa a no sero Cristo. As Escrituras so o critrio da verdade apostlica; e sabemos se soverdadeiras se tratam de Cristo e sua obra - ob sie Chrstum treben, se tratamde Cristo, se nele se concentram e se nos levam a ele. Somente os livros da Bbliaque tratam de Cristo e sua obra contm poderosa espiritualmente a palavra deDeus.

    A partir dessa idia, Lutero fazia distines entre os livros da Bblia. Os livros que

    tratavam de Cristo mais diretamente eram o quarto Evangelho, as epstolas dePaulo e 1 Pedro. E fazia armaes ousadas. Dizia, por exemplo, que se Judase Pilatos tivessem transmitido a mensagem de Cristo, teriam sido apostlicos,e Paulo e Joo, seno tivessem proclamado essa mensagem, no poderiam serconsiderados apostlicos. Armava at que qualquer pessoa que hoje em diativesse o Esprito to poderosamente como os profetas e os apstolos, poderiacriar declogos e outros testamentos. Bebemos na fonte das Escrituras sporque no temos a plenitude do Esprito. Tal ensino profundamente contrrio

    ao nominalismo e ao humanismo. Salienta o carter espiritual da Bblia. Ela acriao do Esprito divino que a escreveu, embora no tenha sido um ditado. Apartir dessa base, Lutero fazia uma crtica metade religiosa e metade histricados livros da Bblia. No lhe importava se Moiss escreveu ou no os cinco livrosde Moiss. Percebia a grande desordem em que se encontravam os textos dosprofetas. E at mesmo sabia que as profecias concretas dos profetas mostravam-se muitas vezes erradas. O livro de Ester e o Apocalipse de Joo, de fato, nopertenciam s Escrituras. O quarto Evangelho excedia em valor e poder ossinticos, e a epstola de Tiago no tinha carter evanglico.

    Embora a ortodoxia luterana fosse incapaz de preservar esse grande aspectoproftico de Lutero, a sua liberdade conseguiu alcanar pelo menos uma coisa:levou o protestantismo a realizar o que nenhuma outra religio conseguiria,isto , aceitar o tratamento histrico da literatura bblica. Esse procedimento

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    erroneamente chamado de alta crtica ou crtica bblica. Trata-se, na verdade,da aplicao do mtodo histrico aos livros sagrados de qualquer religio. Esse

    tipo de estudo impossvel no catolicismo, ou possvel apenas de modo muitolimitado. No possvel no islamismo. O professor Jeery nos disse certa vezque se os estudiosos islamitas zessem com o Coro o que ele fazia com otexto da Bblia, correriam enorme perigo. Qualquer pesquisa relacionada como texto original do Coro implicaria em crtica histrica do texto atual, e isso impossvel numa religio legalista. Dessa forma, se formos legalistas a respeitoda Bblia, retrocederemos ao estgio religioso em que se encontra o islamismo edeixaremos de participar nessa liberdade protestante presente em Lutero.

    Lutero conseguia interpretar o texto ordinrio da Bblia em seus sermes eescritos sem apelar interpretaes especiais de tipo pneumtico, espiritual oualegrico alm da interpretao losca, Os seminrios teolgicos procuraminterpretar a Bblia combinando o mtodo lolgico exato, que inclui a alta crtica,com a aplicao existencial dos textos bblicos a questes que levantamos e que,se presume, seriam respondidas pela teologia sistemtica. A diviso do corpodocente entre especialistas , de certa forma, desintegradora. O responsvel pelacadeira de Novo Testamento me diz que eu no posso discutir certos problemas

    porque no sou especialista nessa rea, ou eu mesmo me privo de considerarcertas questes alegando no ser especialista em Antigo ou Novo Testamento. Amedida que agimos dessa maneira, pecamos contra o sentido original do esforode Lutero de substituir o mtodo alegrico de interpretao pelo lolgico, queera ao mesmo tempo espiritual. Esses problemas so bem reais hoje em dia, e osestudantes podem ajudar a venc-los exigindo que seus professores no sejamapenas especialistas, mas tambm telogos. Devem exigir dos estudiososda Bblia o sentido existencial do resultado de suas pesquisas, e dos telogossistemticos, a fundamentao bblica de suas declaraes, nos textos bblicosenquanto lologicamente entendidos.

    =====================Paul Tillich. Histria do Pensamento Cristo. 2 ed., SoPaulo, ASTE, 2000. Pp. 241-243========================================

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    Calvino e a Autoridade das Escrituras

    A doutrina da autoridade das Escrituras, em Calvino, importante porqueincentivou o surgimento do biblicismo em todos os grupos protestantes. A Bblia,pata Calvino, era a lei da verdade. Finalmente, para que a verdade pudessepermanecer no mundo instruindo constantemente pelos tempos afora, eledeterminou que os mesmos orculos conados aos profetas aparecessemtambm em registros pblicos. Assim, foi promulgada a lei, qual se anexaram,depois, os profetas na qualidade de seus primeiros intrpretes. A Bblia deve,

    pois, ser obedecida acima de qualquer outra coisa. Ela contm a doutrinacelestial.

    Embora adaptada, essa adaptao se tornou necessria por causa da mutabilidadeda mente humana. Tratava-se de um modo necessrio para a preservao dasdoutrinas do cristianismo. Ao se escrever a Bblia, as instrues de Deus se zeramefetivas. Calvino tambm se referiu Bblia como a escola especca dos lhosde Deus.

    Todas essas idias podem ser incuas - ou bem o seu oposto. Muita discussoainda se faz a respeito da maneira de se interpretar a doutrina das Escrituras deCalvino. Seja como for, a resposta ter sempre de aceitar a autoridade absoluta daBblia. Essa autoridade, no entanto, destina-se apenas aos que, agraciados pelodivino Esprito, dele recebem o testemunho de que a Bblia contm a verdadeabsoluta. Quando essa atividade do Esprito se d, passamos a testemunhara autoridade da Bblia inteira. Essa autoridade vem do fato de a Bblia ter sidocomposta sob o ditado do Esprito Santo. Esse termo ditado do Esprito Santo,desembocou na doutrina da inspirao verbal, transcendendo tudo o que Calvino

    ensinou, ao mesmo tempo em que contradizia o prprio princpio protestante.Os discpulos teriam sido penas (canetas) de Cristo.

    Tudo o que procedia deles, enquanto seres humanos, era sobrepujado peloEsprito Santo, que testicava a presena dos orculos de Deus nesse livro.Entre os apstolos e seus sucessores, contudo, existe ... esta diferena: que os

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    apstolos eram os secretrios do Esprito Santo, e que, portanto, seus escritosdevem ser recebidos como orculos de Deus. A Bblia inteira teria sido escrita a

    partir da boca de Deus. Desaparece qualquer distino entre o Antigo e o NovoTestamento. Essas idias ainda persistem em todos os pases calvinistas.

    ====================Paul Tillich. Histria do Pensamento Cristo. 2 ed., SoPaulo, ASTE, 2000. Pp. 270-271========================================

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    Razo e Revelao na Ortodoxia

    Vamos considerar, agora, os princpios do pensamento ortodoxo. Entre osprincipais, encontra-se a relao com a losoa, assunto bastante debatido noprotestantismo. Lutero, dizem, no estava muito inclinado a aceitar qualquercoisa que viesse da razo. Na realidade, no era assim. verdade que se referiu,muitas vezes, contra os lsofos, at mesmo com desprezo e fria, mas tinhaem mente os escolsticos, em geral, e seu mestre, Aristteles. Mas nas famosaspalavras pronunciadas na Dieta de Worms, armou que no voltaria atrs a

    no ser que fosse refutado pelas Santas Escrituras ou pela razo. Lutero noera irracionalista. Rebelava-se contra quaisquer tentativas de transformao dasubstncia da f pelas categorias da razo. A razo no poderia salvar ningum;ela precisava ser salva.

    Tornou-se, imediatamente claro, que a teologia no pode ser ensinada sem o auxlioda losoa, e que as categorias loscas devem ser utilizada conscientementeou no no que quer que seja. Por essa razo, Lutero no impediu Melanchtonde se relacionar com Aristteles e de utilizar diversos elementos humanistas.

    Entretanto, sempre havia quem atacasse a losoa, o humanismo e Aristteles.Daniel Homann dizia, por exemplo: Os lsofos s~o os patriarcas da heresia. o que muitos telogos tambm armam hoje. Mas quando desenvolvem suasteologias, pode-se demonstrar facilmente de que patriarcas da heresia, isto, de que lsofos, tomam suas categorias. Armavam: a verdade losca erro teolgico; os lsofos no so regenerados enquanto lsofos. Trata-se dedeclarao interessante por armar que e xis te um domnio da vida que nopode ser regenerado. E assim se contradiz a nfase protestante no secularismo.

    Os lsofos, segundo Homann, procuram ser como Deus porque desenvolvemlosoas que no foram dadas teologicamente. Homann no conseguiudesenvolver essa idia, mas produziu constante suspeita contra os lsofos nasigrejas e na teologia, muito major do que a existente na Igreja Romana. Estamesma suspeita persiste, ainda, na situao teolgica contempornea.

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    A vitria nal da losoa, dentro da teologia, v-se na base de todos os sistemasteolgicos da ortodoxia. Johann Gerhard acha-se entre os que desenvolveram

    sistemas clssicos na teologia luterana. Era grande lsofo e telogo, comparvel,at certo ponto, a Toms de Aquino. Foi, na verdade, o ltimo rebento doescolasticismo protestante. Distinguia entre artigos puros e mistos. Puros soos inteiramente revelados; os mistos so, ao mesmo tempo, racionalmentepossveis e revelados. Acreditava, como So Toms de Aquino, que a existnciade Deus podia ser provada racionalmente. Mas tinha conscincia de que a provaracional no nos dava certeza. Embora a prova seja correta, cremos nela porcausa da revelao. Assim, acabamos tendo duas estruturas: a da razo e a

    superestrutura da revelao. As doutrinas bblicas formam a superestrutura. Oque de fato veio a acontecer mais tarde - e j estamos antecipando um pouco ossculos seguintes - que os artigos mistos tornaram-se racionalmente puros, ea subestrutura da teologia racional desbancou a superestrutura da revelao,assumindo-a e apagando o seu sentido. Quando isso aconteceu, j estvamosnos domnios do racionalismo e do iluminismo.

    Princpio formal e princpio material

    A ortodoxia protestante desenvolveu, dois princpios teolgicos, o formal e o

    material. At onde sei, contudo, esses termos pertencem ao sculo dezenove. Oprincpio formal a Bblia o material, a doutrina da justicao. Segundo Lutero,so interdependentes. As passagens que tratam de Cristo, na Bblia, so as queapresentam a mensagem da justicao, e isso que autntico. Por outro lado,essa doutrina tomada da Bblia e, portanto, dela depende. Lutero preservavaessa interdependncia entre Bblia e justicao, de modo livre, criativo e vivo.A atitude da ortodoxia j era diferente. Os dois princpios no se misturavam. Eassim, a Bblia se tornava o verdadeiro princpio no domnio da autoridade.

    Que pensava a ortodoxia sobre a Bblia? A autoridade da Bblia mantinha-se detrs modos: (1) por meio de critrios externos, como poca, milagres, profecia,mrtires etc.; (2) por meio de critrios internos, como estilo, idias sublimes,santidade moral; (3) e pelo testemunho do Esprito Santo. Este testemunho,entretanto, adquiria novo sentido. No mais tinha a ver com o pensamento paulino

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    de que somos lhos de Deus (O Esprito de Deus se une ao nosso esprito paraarmar que somos lhos de Deus, Rm 8,16). Em lugar disso, ele testemunha que

    as doutrinas das Santas Escrituras so verdadeiras e inspiradas por ele. Em lugarda imediatez do Esprito nas relaes entre Deus e seres humanos, o Esprito dtestemunho da autenticidade da Bblia enquanto documento do Esprito divino.A diferena, entre as duas atitudes, que se o Esprito nos diz que somos lhosde Deus, temos uma experincia imediata, e no h lei nessa experincia. Masse o Esprito d testemunho de que a Bblia contm doutrinas verdadeiras, acoisa toda deixa de fazer marte dessa relao entre pessoas e se transforma numrelacionamento objetivo e legalista. Foi exatamente o que fez a ortodoxia.

    A partir desse ponto de vista, surgiram debates bastante vivos sobre a theo/ogiairregenitorum, que era a teologia dos no convertidos, dos no regenerados.Se a Bblia a lei do protestantismo, todos os que podem l-la e interpret-la,objetivamente, poderiam tambm escrever teologias sistemticas mesmo semparticipar na f crist. Teriam apenas que entender o sentido das palavras edas frases da Bblia. Essa postura foi negada inteiramente pelos pietistas, paraos quais s poderia haver tbeologia regenito rum, teologia dos regenerados.Tentando interpretar essa discusso antiga em termos atuais, poderamos

    dizer que a ortodoxia acreditava na possibilidade de teologias sistemticas noexistenciais, enquanto que os pietistas entendiam que qualquer teologia tinhaque ser existencial.

    As duas posies oferecem certas diculdades. Os no regenerados so capazesde saber que a mensagem da igreja ou da Bblia essencial para a salvao,mas no so capazes de aplicar essa mensagem situao presente. A funodo telogo ortodoxo independe de sua qualidade religiosa. No importa se eleestiver completamente fora dessa situao. Por outro lado, o telogo pietista

    pode dizer de si mesmo, e mesmo os outros podem armar, que ele convertido,regenerado e verdadeiro cristo. Mas tudo isso precisa ser dito com certeza. Serque h pessoas capazes de tomar essa atitude e dizer: eu sou um verdadeirocristo? No momento em que faz armaes desse tipo, deixa de ser cristo,pois busca em si mesmo a certeza nas relaes que tem com Deus. Trata-se,

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    certamente, de total impossibilidade. Esse mesmo problema ainda existe hoje emtodas as igrejas protestantes. Na minha TeoIogia Sistemtica, resolvi o problema

    da seguinte maneira: somente quem experimenta a mensagem crist, enquantosua preocupao suprema, capaz de ser telogo. Nada mais alm disso podeser exigido do telogo. Pode bem acontecer que o telogo em dvida, sobre cadadoutrina especca, seja melhor telogo do que outros, medida que sua dvidaa respeito das doutrinas envolve tambm a sua preocupao suprema. Assim,ningum precisa ser convertido para ser telogo - qualquer que seja o sentidodesse termo. Nenhum telogo precisa passar por testes que comprovem se ouno bom cristo, de modo que poderia dizer: Posto que sou bom cristo, posso

    ser telogo. Os pietistas diriam: Antes de ser telogo preciso ser convertido. Aresposta a essas atitudes a seguinte: A nica coisa que vem, em primeiro lugar, a preocupao suprema vinda de Deus que toma conta de mim, de tal maneiraque estou envolvido com ele e com sua mensagem. No posso dizer nada maisalm disso. s vezes, nem mesmo consigo me expressar nesses termos, porqueat a palavra Deus desaparece. De qualquer forma, no posso utilizar esse termopara fundamentar qualquer pretenso de ser bom cristo e, portanto, telogo.

    A doutrina ortodoxa da inspirao apropriou-se de certas idias de Calvino

    tornando-as mais radicais e primitivas. Para os ortodoxos, os autores dasEscrituras foram as mos de Cristo, os notrios do Esprito Santo, as penas comas quais o Esprito teria escrito a Bblia. Tudo seria inspirado, desde as palavrasat mesmo os sinais no texto hebraico. Acreditando nisso, o telogo ortodoxo,Buxtehof, contestava o fato de que as consoantes do texto hebraico haviamrecebido os sinais voclicos, entre os sculos stimo e nono de nossa era; diziaque haviam se originado no prprio Antigo Testamento. Ensinava que os profetasteriam inventado esse sistema, quando na verdade foi inventado quinze sculosmais tarde. Eis uma das conseqncias da doutrina rgida da inspirao; mas se

    no fosse assim, que poderia fazer o Esprito divino com o texto hebraico, poissem as vogais, as palavras hebraicas seriam ambguas em muitos casos. Temos,tambm, problema com a traduo de Lutero, com a traduo do rei Tiago ecom inmeras outras novas tradues. Essa doutrina da inspirao leva-nos averdadeiros absurdos. Para mant-la preciso criar harmonizaes articiais,

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    posto que existem muitas contradies na Bblia, tanto em nvel histrico comoem outros. Tais contradies passam a ser consideradas meramente aparentes,

    e fazem-se malabarismos para inventar jeitos de harmoniz-las.

    Um outro princpio profundo era a analogia scripturae sanctae, a analogia daEscritura Sagrada, signicando que uma parte devia ser interpretada em termosde outra. Por esse meio, podia-se estabelecer credos com base nas SantasEscrituras. Entendia-se que qualquer pessoa seria capaz de encontrar essafrmula na Bblia. Era outra conseqncia inevitvel da doutrina da inspirao.

    Tratava-se de mais uma ajuda ao povo que era obrigado a engolir a doutrina

    da inspirao verbal. A questo era esta: como aceitar as muitas doutrinasencontradas na Bblia? So todas necessrias para a salvao? A Igreja Catlicatinha uma resposta muito boa. Vocs no precisam conhec-las; basta acreditarno que a igreja acredita. Somente os ministros e as pessoas educadas precisamconhecer as doutrinas especcas. O leigo catlico acredita no que a igreja acredita,sem saber muito bem do que se trata. O protestantismo no podia fazer isso.Sendo a f pessoal a coisa mais importante no protestantismo, era impossveldistinguir-se entre lides implcita e explicita (f implcita e explicita).

    Com isso, surgiu uma tarefa impossvel como podem as pessoas simples, oscamponeses, os sapateiros e os proletrios nas cidades e no campo entenderessas inmeras doutrinas encontradas na Bblia, que at mesmo os mais educadostm diculdade de conhecer, por ocasio dos exames teolgicos? A respostaveio na distino entre artigos fundamentais e no fundamentais. Essa distinoainda popular hoje em dia. Mas, em princpio, tal distino no poderia ser feita,porque se o Esprito divino revela alguma coisa, at que ponto se poderia dizerque no fundamental? De qualquer forma, essas doutrinas no fundamentaisacabaram sendo, mais tarde, muito fundamentais, quando certas conseqncias

    apareceram de desvios no fundamentais.

    Embora a coisa fosse perigosa, tinha que ser feita por razes educacionais. Aspessoas, na maioria, no so capazes de entender todas as implicaes dasdoutrinas da igreja. Havia dois interesses conitantes. De um lado, o telogo

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    sistemtico queria aumentar os fundamentais tanto quanto possvel; todas ascoisas so importantes, no s porque ele escreve sobre elas, mas porque esto

    na Bblia. Por outro lado, os educadores contradizem esse interesse do telogosistemtico. O educador deseja o menor nmero possvel de doutrinas, para queseu ensino seja compreensvel. Gostaria de abandonar as doutrinas de importnciasecundria. Na verdade, o educador sempre acaba vencendo. O que encontramosno racionalismo do iluminismo , em geral, a reduo dos fundamentais ao nvelda aceitao popular. A educao foi parcialmente responsvel pelo advento doiluminismo: todos os grandes lsofos do perodo tinham essa preocupao.At hoje, os departamentos de educao inclinam-se mais a tipos de teologia,

    baseados no iluminismo, do que os demais departamentos teolgicos. A razo que as necessidades educacionais foram a reduo do contedo, enquanto queas necessidades teolgicas procuram alarg-lo.

    ======================Paul Tillich. Histria do Pensamento Cristo. 2 ed.,So Paulo, ASTE, 2000. Pp. 274-278=====================================

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    INSPIRAO

    1. Introduo

    A preocupao com humanidade de Cristo foi naturalmente acompanhada por umnovo interesse na humanidade de escritura. Isto se manifestou no orescimentodos estudos textual, lxico, exegtico, histrico, e literrio. Tambm levantounovas perguntas sobre a inspirao e autoridade de escritura como um livro divinoe no apenas humano. De um lado estavam os que sustentavam que a doutrina

    mais antiga, especialmente em sua forma mais fechada do sculo dezessete, nopodia ser harmonizada com a nova perspectiva e as novas descobertas. Do outrolado uma forma atualizada do ensino mais antigo foi tentada, embora no semcertas modicaes sob a presso dos desenvolvimentos mais recentes. Em umaviso mais ampla, o isolamento de escritura de outras atividades do Esprito foivisto como a principal pedra de toque, e a integrao da inspirao na atividadegeral do Esprito foi considerada como a tarefa principal.

    2. Schleiermacher

    a. Escritura e Esprito

    Neste assunto, como em tantos outros, Schleiermacher oferece alguns insightsinteressantes, no s nos vos poticos das Speeches, mas tambm na discussomais sbria de The Christian Faith. Enquanto negando que escritura a basede f, desde que f necessria para l-la ( 128), Schleiermacher est prontoaceitar sua normatividade formal e materialmente. Porm, ele faz assim porqueela a primeira em uma srie de apresentaes da f Crist ( 129). Os livros doNovo Testamento so inspirados no sentido de serem auto-derivados e ento

    colecionados sob a orientao do Esprito ( 130). enfatizado, entretanto, que oEsprito o esprito da comunidade, que a fonte de todos seus dons e obras. Assima teologia dos apstolos pode ser superior a de outros, mas no qualitativamente,da mesma maneira que os escritos deles no so qualitativamente diferente deoutras obras deles. Autoria, ento, diz pouco acerca da autenticidade. Para saber

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    o que cannico precisamos de apenas da experincia Crist e do testemunhodo Esprito, que na prtica a mesma coisa. Atravs do uso crtico e construtivo

    da escritura que o Esprito nos conduzir em toda a verdade ( 131).

    b. O Antigo Testamento

    Vale notar que tudo isso s se aplica ao Novo Testamento. Schleiermacher aceitaa canonicidade do Antigo Testamento por causa do testemunho do Novo e arelao entre igreja e sinagoga. No obstante, ele no outorga a ele a mesmadignidade ou inspirao, desde que a lei difere do evangelho, e a piedade Cristentende a distino. Como ele v isto, o Antigo Testamento no deveria ser posto

    na frente do Novo, mas acrescentado a ele como um tipo de apndice volumoso( 132).

    c. Contribuio

    Todavia, o ponto signicante em Schleiermacher que os escritos do NovoTestamento, embora normativos, constituem apenas uma das obras do Espritona igreja. Conseqentemente eles no desfrutam de um status nico, e nemqualidades especiais precisam ser reivindicadas para eles. Inspirao umtermo geral que se aplica ao todo da escritura, no as partes detalhadas, de

    forma que nem toda parte deve ser igualmente atribuda ao Esprito, nem fazcom que qualquer pergunta sobre a inerrncia surja. Schleiermacher nos deixacom uma sugesto especialmente interessante e instrutiva quando ele comparaa relao do Esprito e os autores da escritura unio hiposttica, isto , a uniodas naturezas divina e humana na pessoa de Jesus Cristo ( 130).

    3. Alexander

    a. A Neo-Ortodoxia

    Como representante da tentativa de restabelecimento da ortodoxia luz deuma situao cambiada, poderamos lanar um breve olhar em ArchibaldAlexander, o pai da Escola de Princeton. O Alexander est muito consciente dosproblemas de epistemologia levantados por Kant, e no surpreendente acharem seu Thoughts on Christian Experience (1841) alguma mudana para um a

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    priori religioso como a base ou garantia do Cristianismo. No obstante, seu focoprincipal est no problema de escritura a reunio de evidncia em seu apoio

    e o exame mais preciso e categorizao de sua inspirao. Este o tema de seuimportante Evidences on the Authenticity, Inspiration and Canonical Authority ofthe Holy Scripture (1836).

    [b., c., d.]

    e. Inspirao

    Alexander dene inspirao, principalmente, em termos de funo. Nisto anova verdade sobre Deus desvelada, ou a verdade obscurecida claricada.

    Iluminao acompanha isto como obra do Esprito Santo que torna possvel acompreenso. Como considera a relao entre inspirao e revelao, Alexanderrejeita uma equao limitada. Revelao um termo mais amplo; inspirao,propriamente, s se aplica aos autores bblicos.

    Se inspirao denida em termos de funo, Alexander investiga sua natureza,tambm. Ele descobre trs formas: direo, sugesto, e elevao. Na primeira,que caracteriza os livros histricos principalmente, o Esprito Santo dirige aseleo de fatos e circunstncias que respondero ao m proposto e d uma

    tal ajuda como para preservar os escritores de todo o erro e engano. Sugesto,a forma central de inspirao, signica a apresentao para e pelos autores danova verdade que eles no puderam alcanar ou conhecer por eles prprios.Elevao, talvez a menos importante das trs, denota uma divina intensicaoda sublimidade das expresses dos autores.

    f. Inspirao Verbal

    Na viso de Alexander esta diferenciao em inspirao no milita contra inspirao

    verbal. Se estiver certo, palavras so sugeridas somente onde inspirao tem aforma de sugesto. Na direo e elevao as palavras humanas so controladas ouacrescentada uma intensidade. Em todo caso, a palavra a poderosa e inerrantePalavra de Deus. Como na narrao de fatos bem conhecidos, o escritor noprecisou de uma contnua sugesto de cada idia, mas foi apenas superintendido

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    para ser preservado do erro; assim no uso da linguagem para o registro de coisasfamiliares, no havia nenhuma necessidade de que cada palavra fosse inspirada;

    mas havia, sim, a necessidade de uma inuncia dirigindo e superintendendo comrespeito s coisas em si (Evidences, pp. 226-227). Isto signica, no uma rejeioda inspirao verbal, mas trs tipos de inspirao verbal que corresponde aostrs tipos de inspirao em geral.

    Considerando que toda a escritura inspirada, nenhuma distino pode ser feitaentre coisas importantes e coisas triviais. Alexander no pode concordar comSchleiermacher que nem todas as partes de escritura so igualmente inspiradas.Ele no acha, realmente, nenhuma objeo a isto em princpio, mas o problema

    prtico de traar uma linha entre as partes inspiradas e as no inspiradas nopode ser superado.

    g. Inerrncia

    O que dizer sobre erros ou enganos? Pouca conana se pode ter na escritura seela est errada em assuntos bsicos, mas importa se houver erros mais triviais?Alexander pensa que sim. A escritura permanece ou cai como uma unidade.Conseqentemente a pessoa deve poder conar nela em qualquer assunto.

    Alexander sustenta o que tem sido freqentemente chamado aqui efeitodomin. Se uma pea cai, todas as outras caem. Se pudesse ser mostrado queos evangelistas tinham cometido enganos palpveis em fatos de importnciasecundria, seria impossvel demonstrar que eles escrevam qualquer coisapor inspirao (Evidences, pp. 228-229). Inspirao implica inerrncia, masjustamente por isso, um erro provado refuta inspirao. O prprio Alexanderest certo que nenhum engano palpvel ser, de fato, provado, mas o ensinodele aqui, indubitavelmente, produz uma leve incerteza e um sentimento deque algum tipo de soluo, porm articial, tem que ser produzido para todo

    problema sugerido.

    h. Concluso

    Trs pontos podem ser assinalados em Alexander. (1) Ele apega-se ortodoxiaracional que dispe de um to grande depsito de evidncia humana para a

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    verdade e autoridade bblica. (2) Ele acha um modo de permitir o fator humanoem autoria bblica, quer dizer, a diferenciao da inspirao, sem comprometer

    a inspirao verbal ou a inerrncia. (3) Ele cede um pouco nova nfase sobrea experincia, tendendo a compara-la com o testemunho interno anterior doEsprito Santo.

    4. Charles Gore

    a. Experincia

    natural que no simpsio Lux Mundi a inspirao deveria ser um tpicoimportante para discusso. O editor mesmo, Charles Gore do Trinity, Oxford,

    elegeu isto como o tema da sua prpria contribuio. Como Schleiermacher, eleacredita que inspirao deveria ser relacionada s outras atividades do EspritoSanto. Todavia, discordando de Schleiermacher, ele descreve essas atividadesem um quadro mais amplo e apenas no m trata mais estreitamente assuntosda inspirao da escritura.

    [...]

    [b., c., d.]

    e. Escritura e Esprito

    Voltando inspirao, Gore estabelece dois princpios. (1) inspirao da escriturano um trabalho qualitativamente diferente do Esprito, mas parte dasua operao geral. Conseqentemente esta convico deve ser sustentadano contexto da crena na ao geral do Esprito Santo na sociedade Crist ealma [Crist] (pg. 248). (2) Escritura e igreja relacionam-se intimamente. Se osapstolos tiverem autoridade nica, eles escrevem para aqueles que tambmtm o Esprito, de forma que o esprito no qual a igreja vive cooperam com e

    at mesmo limitam o esprito no qual os apstolos falam e escrevem (pg. 248).Escritura a mais alta expresso do Esprito, mas o Esprito na igreja interpretao signicado de escritura (pg. 249).

    f. Escritura e F

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    Gore concorda com Schleiermacher que a escritura, ou pelo menos sua inspirao,no a base de f. Os fatos de Cristianismo so aceitos por causa da credibilidade

    geral deles. Crer na inspirao segue, no precede, o crer em Cristo (pg. 250).Objees a esta crena no afetam a historicidade das narrativas de evangelho.Cristianismo traz, realmente, consigo uma doutrina da inspirao da EscrituraSagrada, mas no est baseado nisto (pg. 250).

    g. Sentido de Inspirao

    O que signica inspirao? Gore, em sua resposta, aponta para os Judeus. Comotoda raa tem sua inspirao os Judeus, tendo sido escolhido para restabelecer

    a relao rompida do homem com Deus, tem uma inspirao sobrenatural que mais direta e mais intensa e que envolve uma conscincia direta por parte deseus assuntos (pg. 251). Contudo, h graus diferentes de inspirao em tiposdiferentes de literatura. A liberdade humana importante aqui, mas no envolvenenhum desacordo com o ministrio do Esprito: A atividade humana no menos livre, consciente, racional, porque o Esprito a inspira (pg. 251).

    h. O Antigo e Novo Testamento

    (1) Antigo. No Antigo Testamento inspirao denota mais especicamente um

    ponto de vista. Os escritores vo trabalhar como outros, mas com o objetivo demanter diante do povo escolhido o registro de como Deus tem procedido comeles (pg. 252). Assim os profetas, enquanto nem sempre predizem com preciso,interpretam o que Deus est fazendo e ordenando no seu prprio tempo eprevem o que em julgamento e misericrdia redentora Deus pretende fazer edeve fazer no evento Divino (pg. 254). Uma vez que isto visto, nenhum Cristotem necessidade de achar difcil aceitar a inspirao do Antigo Testamento.

    (2) Novo. Em relao ao Novo Testamento, Gore tem quatro pontos. (a) a inspirao

    dos apstolos para escrever a mesma inspirao para ensinarem. (b) O NovoTestamento repousa sobre o treino de Cristo de seus apstolos perpetuar suarevelao. (c) Ela consiste em um dom para representar, no falseando, o ensinode [Cristo] e Ele mesmo (pg. 255). (d) Em escritores de segunda mo, comoLucas, ela parte do inteiro dom espiritual deles, e tradio ajuda a preservar o

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    material do erro (pp. 255-256).

    i. InerrnciaInspirao implica inerrncia? Gore pensa que no. A historicidade geral daescritura pode ser aceita, e inspirao, indubitavelmente, signica iluminao dojulgamento (pg. 260). Mas no h nenhuma comunicao milagrosa de fatosno ... conhecidos de outra maneira; iluminao no nos pe fora das condiesnaturais de conhecimento (pg. 260). Diferentes gneros ocorrem na Bblia, epreciso no sempre uma questo. At mesmo mito pode ter um lugar semprejuzo para inspirao (pg. 262). O avano do criticismo literria, ento, no

    se constitui nenhuma ameaa doutrina da inspirao, apenas para deniesparticulares dela s quais a igreja no ligada (pp. 262-263).

    [j.]

    k. Escritura e Criticismo

    Gore conclui que, enquanto muito criticismo pode ser arbitrrio e irreverente,a igreja no deve perder-se em discusso ftil. Como compreende os escritosdo Novo Testamento Gore acha que a pesquisa fortaleceu e enriqueceu o

    sentido da inspirao deles. O mesmo poderia acontecer em relao ao AntigoTestamento se fosse perguntado quanto pode legitimamente e sem real perdaser concedido. Oposio, porm, deixa obstculos no caminho de muitos quequerem acreditar (pg. 266). Na viso de Gore, uma inspirao verbal e inerrantej no pode ser mantida. Com uma redenio satisfatria, porm, a inspiraono necessita estar em conito com uma aproximao crtica que no cheguea extremos. Isto alcanado colocando a inspirao no contexto do ministriototal do Esprito, enquanto comparando-a com um ponto de vista particular ouensinamento, e removendo Cristo dos debates sobre historicidade por meio de

    insights da Cristologia kentica.

    5. Nevin

    a. nfases de Mercersburg

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    Um desenvolvimento interessante em teologia Reformada aconteceu quandoPhilip Scha e John Nevin se tornaram colegas na pequena faculdade de

    Mercersburg no nal do sculo dezenove. [...]

    [b., c.]

    d. O Papel da Escritura

    O objetivo principal de Nevin nesse trabalho a tenso sobre a f que acontece scustas do objeto de f. No obstante, ele tambm tem algumas coisas importantesa dizer sobre o papel da escritura. Escritura no revelao em si mesma, masseu instrumento. Cristo, no a escritura, constitui o real objeto de f. [...]

    [e.]

    f. Inspirao

    Tudo isso tem, para Nevin, um peso importante para a inspirao. Nevin noconcorda que quando inspirao est sendo atacada, como em seus dias,evidncias racionais tm que ser encontradas e ordenadas em seu favor. Provara inspirao no uma tarefa primria. Se podemos ou no provar a inspirao, apresena da Palavra o verdadeiro substrato do Cristianismo. como podemos

    provar a realidade da revelao que tambm poderemos provar a inspirao daescritura. Devemos comear, ento, com a verdade de Cristianismo em si mesma,no com a inspirao. Inspirao uma implicao, no um princpio bsico. Parao Cristianismo isto no s uma palavra escrita, mas uma criao nova ... apartir de seu fundador o Jesus Cristo (pg. 310). Como tal tem uma substnciahistrica real. Isto est onde o Credo dos Apstolos introduz no quadro comorepresentando a substncia primria. Mas os detalhes adicionais do argumentono precisam nos deter. J a compreenso de Nevin do papel da escritura e

    inspirao emergiu com claridade suciente. Como Schleiermacher e Gore, elepe a escritura e sua inspirao em um quadro maior no qual o verdadeiro centroe foco o prprio Cristo.

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    Karl Barth Inspirao

    Barth formula agora, em oito proposies, o que ele pensa que pode ser cridosobre a inspirao.

    (1) Primeiro e muito simplesmente a Palavra Deus. Dizer que a Bblia a Palavrade Deus falar principalmente sobre Deus, no sobre a Bblia. falar sobre o serdele e governo na e atravs da Bblia e assim lhe dar a glria (p. 527).

    (2) A Palavra de Deus tambm obra. Nos referimos a um ato, no a um estado.Se a Palavra eterna, tambm toma lugar no tempo como algo novo (pp.527-528).

    (3) O ato de Deus o milagre de Deus. Ele iniciatrio. No est sob nossocontrole. Seu contedo genuno graa. Ele verdadeiramente honrado, ento,se colocado fora da esfera de competncia humana e visto como milagre (p.528).

    (4) Esta Palavra tem forma humana. A ofensa de que os homens falveis falam aPalavra de Deus em palavras falveis que deve ser aceita precisamente porque pela soberania graciosa de Deus que ela acontece. O milagre repousa, exatamente,

    no fato de que a escritura a Palavra de Deus em verdadeira humanidade (pp.528-530).

    (5) A Palavra de Deus no um atributo inerente e manifesto da escritura. Algoespecco acontece como e quando a Bblia a Palavra de Deus. O discurso ea audio da Palavra no idntico existncia do livro como tal. Uma palavrahumana est presente no centro da Palavra de Deus, mas s porque Deus a tomae a usa como tal (p. 530).

    (6) Deus, no o homem, decide como e quando a Bblia a sua Palavra para ns.

    Isto tem duas implicaes. No para decidirmos que partes de escritura so, ouso ajustadas para ser, a Palavra de Deus. Nem uma questo de nosso sensoda presena da Palavra de Deus (pp. 530-532).

    (7) A Bblia como Palavra de Deus envolve uma dupla realidade. Por um lado

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    Deus ... diz o que o texto diz. A obra de Deus feita atravs deste texto.Conseqentemente a inspirao real inspirao verbal. Por outro lado, a

    presena de Deus nosso presente que aceitamos em f, e na aceitao da qualsomos forados a um esforo concreto da exegese (pp. 532-534).

    (8) Finalmente, a inspirao no pode ser reduzida a nossa f nela. Muitofacilmente pensamos que a f o que torna a Bblia a Palavra de Deus. Nestaconsiderao temos que nos precaver de tentar estabelecer nossa prpriaobjetividade de inspirao (p. 534). No nal das contas o fato que a Bblia aPalavra de Deus repousa atrs de seu reconhecimento como tal (p. 537). ParaBarth isto, e no uma experincia subjetiva, o que o testemunho do Esprito

    implica. Na experincia o eu o sujeito, no testemunho do Esprito, Deus osujeito (p.537).

    ===================Georey W. Bromiley. Historical Theology An Introduction.Edinburgh, T&T Clark, 1978. Pp. 379-389; 415.===========================

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    TEOLOGIA

    Entre todas as cincias a teologia a mais bela, a que mais profundamente mexeno corao e na cabea, a que mais se aproxima da realidade humana e queproporciona a mais clara viso da verdade procurada por todas as cincias; aque mais se aproxima daquilo a que se d o venerando e profundo nome defaculdade; uma paisagem com a vista mais distante e mesmo assim muito clara,como da mbria ou da Toscana; uma obra de arte to bem planejada e to bizarracomo a catedral de Colnia ou de Milo. Pobres telogos e pobres pocas da

    teologia que porventura ainda no o perceberam! Mas entre todas as cinciasa teologia tambm a mais difcil e perigosa, aquela que mais facilmente levaao desespero ou, o que quase pior, petulncia; aquela que dentre todas ascincias, esvoaante ou seno esclerosada, pode acabar virando a pior caricaturade si mesma. Haveria alguma cincia que pudesse car to horrenda e, poroutra, to montona como a teologia? No seria telogo quem nunca chegoua se assustar com as suas profundezas abissais, ou mesmo quem deixou de seassustar com elas.

    ===BARTH, Karl. Revelao, Igreja, Teologia. In: ALTMANN, Walter (ed.). Karl Barth Ddiva e Louvor artigos selecionados. So Leopoldo, Sinodal, 1986. P. 193.====

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    Reflexo sobre a Palavra de Deus Karl Barth

    O problema da dogmtica reexo cientca sobre a Palavra de Deus que foifalada por Deus na revelao que est registrada na escritura sagrada dos profetase apstolos e que agora e deveria ser proclamada e ouvida na pregao Crist.Prolegomena dogmtica o que chamamos a tentativa para alcanar umacompreenso bsica do tema, a necessidade, e a linha de tal reexo. (p.3)

    Nesta subseo introdutria gostaria de dizer mais explicitamente o que tenciono

    dizer por reexo sobre a Palavra de Deus. Primeiro, devo dizer algo sobre oacrscimo que z expresso Palavra de Deus na tese desta primeira seo:que foi falada por Deus em revelao, a qual est registrada na Escritura Sagradados profetas e apstolos, e que agora e deveria ser proclamada e ouvida napregao Crist. Voc pode ver condensado nessa adio tudo aquilo que euestou tentando para dizer este semestre na forma de prolegomena dogmtica.Por esta razo qualquer fundamentao ou exposio desse acrscimopoderia antecipar minha srie toda. Neste momento s posso mostrar lgica egramaticalmente qual seu signicado.

    Estou distinguindo a Palavra de Deus em uma primeira forma no qual Deusmesmo e somente Deus quem fala, em uma segunda forma no qual a Palavrade uma categoria especca das pessoas (os profetas e apstolos), e em umaterceira forma no qual o nmero de seus agentes humanos ou proclamadores teoricamente ilimitado. Mas a Palavra de Deus permanece para sempre. No e nem pode ser diferente se tem sua primeira, sua segunda, ou sua terceiraforma, e sempre quando ela uma das trs, ela tambm , em algum sentido,as outras duas. A Palavra de Deus sobre a qual a dogmtica reete preciso

    apenas recorrer frmula comum para mostrar o ponto em debate uma emtrs e trs em uma: revelao, escritura e pregao a Palavra de Deus comorevelao, a Palavra de Deus como Escritura, e a Palavra de Deus como pregao,no pode se nem confundida nem separada. Uma Palavra de Deus, umaautoridade, um poder, e ainda nenhuma, mas trs formas. Trs manifestaes

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    de Deus em revelao, Escritura, e pregao, contudo no trs Palavras de Deus,trs autoridades, verdades, ou poderes, mas uma. Escritura no revelao, mas

    da (from) revelao. Pregao no revelao ou escritura, mas de ambos. Masa Palavra de Deus escritura no menos que revelao, e ela pregao nomenos que escritura. Revelao de Deus s, escritura de revelao s, epregao de revelao e escritura. Contudo, no h primeira ou ltima, maior oumenor. A primeira, a segunda, e a terceira so todas Palavra de Deus na mesmaglria, unidade na trindade e trindade na unidade. No irei dizer com o Credode Atansio que esses que seriam salvos tm que pensar assim na Trindade ,pois como apenas disse e ainda no mostrei que isto assim e por que desta

    forma. Mas penso que esta declarao que deve simplesmente permanecer atque possa ser conrmada ou no no curso de nossa discusso, ser sucientemostrar o que tenho em mente quando chamar o objeto da reexo que atarefa dogmtica a Palavra de Deus.

    =========Karl Barth. The Gttingen Dogmatics Instruction in the ChristianReligion. Grand Rapids, W. B Eerdmans, 1991. Pp. 3; 14-15, vol. I.=============

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    A Palavra de Deus (Karl Barth)

    Sua Trplice Forma

    Localizando o critrio da dogmtica na Palavra de Deus surge a pergunta o quese entende por Palavra de Deus? Funcionalmente, algum poderia equipar-la simplesmente escritura. Na viso de Barth, entretanto, heresia pode serpropriamente conhecida somente se a escritura for colocada no contexto totalda Palavra de Deus. Seguindo as sugestes dos reformadores ele apresenta a

    Palavra em sua forma trplice como Palavra pregada, Palavra escrita, e Palavrarevelada (pp. 88-124). A Palavra pregada proclamao real na pressuposio deque a Palavra de Deus a comisso (pp. 89-90), o tema (pp. 91-92), o julgamento(pp. 92-93), e o evento (pp. 93-94). A Palavra escrita implica que a proclamaorepousa sobre a Palavra j falada pelos profetas e apstolos como umdeterminado fator, quer dizer, o cnon pelo qual a igreja chamada, autorizada, eguiada (pp. 99.). A Palavra revelada a revelao que a escritura relembra comoescrito, e os pontos de proclamao remetem para a promessa (pg. 111). Narevelao nossa preocupao est com a vinda de Jesus Cristo, a prpria Palavra

    de Deus falada pelo prprio Deus (p.113). Revelao no difere da pessoa deJesus Cristo (p.119). Materialmente, esta terceira forma a primeira. A Palavra,embora trplice em forma, a uma Palavra em um perichoresis que forma umaimportante analogia com a triunidade divina. Ns conhecemos a Palavra reveladaapenas da escritura adotada pela proclamao, a Palavra escrita somente atravsda revelao que cumpre a proclamao, e a Palavra pregada s por meio darevelao atestada na escritura (pp. 120-121).

    ==================Georey W. Bromiley. Historical Theology An Introduction.

    Edinburgh, T&T Clark, 1978. P. 408.=====================================

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    A DOUTRINA DA PALAVRA DE DEUS: A NORMA

    DE TEOLOGIA CRIST

    Barth desenvolve o volumoso prolegomena para a sua Church Dogmatics [C.D.]em termos de uma exposio da A Doutrina da Palavra de Deus. Esta aestrutura maior dentro da qual seguindo a seqncia de Barth consideraremosa Revelao de Deus em termos de (1) O Deus Triuno, (2) A Encarnao daPalavra, e (3) A Efuso do Esprito Santo. O que Barth diz nestas reas constitui

    a poro principal dos dois volumes de seu prolegomena (C.D. I/1, I/2). O que eledesenvolve aqui no introdutrio ao contedo positivo de teologia Crist; antes,tudo o que desenvolvido na Church Dogmatics em grande parte se sustenta oucai base das posies fundamentais que Barth desenvolve nas reas acima.

    Embora as referncias de Barth Palavra de Deus sejam inumerveis, ele nonos prov com qualquer denio simples dela. Sua reticncia neste ponto compreensvel, se nos lembramos que a Palavra de Deus sinnimo da auto-revelao de Deus. Mas o Deus bblico que se revela a si mesmo nunca um

    objeto, coisa, ou datum sob o controle humano. Deus como o pssaro em voque no pode ser capturado nem sequer pelo pincel do maior artista. Assim todadenio da Palavra de Deus tem que reconhecer de incio que Deus e a suaPalavra podem ser conhecidas pelo homem apenas como Deus em sua graa serevela.

    A seguinte recente declarao relativa Palavra de Deus tipica a posio deBarth:

    A Palavra de Deus a Palavra que Deus falou, fala, e falar em meio a todos

    os homens. Embora se ouvida ou no, ela , em si mesma, dirigida a todosos homens. a Palavra da obra de Deus sobre homens, para homens, e comhomens. Sua obra no muda; antes, fala com alta voz. Desde ento somenteDeus pode fazer o que ele faz, s ele pode dizer na sua obra o que ele diz. Edesde que sua obra no dividida, mas nica (por todas as mltiplas formas

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    que assume no caminho desde sua origem at sua meta), a sua Palavra tambm (por toda sua excitante riqueza) simples e nica ... . Deus opera, e desde que

    opera, ele tambm fala. Sua Palavra vai adiante ... Estamos falando do Deus doEvangelho, sua obra e ao, e do Evangelho no qual a sua obra e ao ao mesmotempo sua fala. Esta a sua Palavra, o Logos, no qual o logia teolgico, lgica, elinguagem tm a sua base criativa e vida.

    luz desta declarao, estamos numa melhor posio para apreciar a exposiode Barth acerca da Palavra de Deus em termos de sua trplice forma nas pginasiniciais da Church Dogmatics. Ele fala da Palavra de Deus que pregada, da Palavrade Deus escrita na Escritura Sagrada, e nalmente, da Palavra de Deus revelada

    que, em sua forma mais plena, Jesus Cristo. Embora Barth fale freqentementeda Palavra de Deus pregada, escrita e revelada, nessa seqncia, seu signicadotorna-se mais claro se considerarmos, primeiro, a Palavra de Deus revelada.

    A Palavra Revelada de Deus, Jesus Cristo

    caracterstico de Barth concentrar-se na Palavra encarnada, Jesus Cristo, quandofala da forma primria de revelao ou da Palavra de Deus. Seguindo a moldurado Testamento Novo (Joo 1:1, 14,; Hebreus 1:2; Apocalipse 19:13), ele tem por

    legtimo identicar a Palavra de Deus revelada em sua expresso mais alta comJesus Cristo. Assim ele pode escrever:

    Revelao, na realidade, no difere da Pessoa de Jesus Cristo, e novamente nodifere da reconciliao que tomou lugar Nele. Falar revelao dizer A Palavrase fez carne.

    Ns interpretaramos mal a doutrina Cristocentrica da Palavra de Deus de Barth,porm, se o interpretssemos como signicando que a nica forma da Palavrade Deus a Palavra encarnada. Ele diligente ao fazer esta observao nesta

    recente declarao:

    A totalidade de Palavra de Deus em Cristo a palavra a qual teologia tem queescutar e responder. a Palavra de Deus falada na relao da histria de Israelcom a histria de Jesus Cristo e na relao da histria de Jesus Cristo com a

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    histria de Israel ...

    Teologia no responderia totalidade de Palavra de Deus se desejasse apenasouvir e falar da Palavra que se fez carne. ... Como se a reconciliao do mundocom Deus fosse feita s custas de [of], ou em abstrao de [from], as promessasdadas a Israel!

    Se tivermos em mente esta denio compreensvel da Palavra de Deus, omodo no qual Barth localiza o centro da auto-revelao de Deus em Jesus Cristodicilmente se pode enganar. Embora Barth tambm fale da Palavra de Deusescrita e pregada, elas so suas formas secundrias. Escritura e proclamao

    se tornam a Palavra de Deus pela ao graciosa de Deus e a presena no seuEsprito, mas elas so formas secundrias porque elas so, essencialmente,indicadores para os atos concretos de Deus na histria da aliana que culminaem Jesus Cristo.

    A Palavra de Deus Escrita, Escritura Sagrada

    A segunda forma da Palavra de Deus a Escritura Sagrada. Para Barth, osescritores bblicos do Antigo e Novo Testamento ocupam um lugar de autoridadeespecial na igreja porque eles so as testemunhas primrias dos atos poderosos

    de revelao de Deus. ... eles so chamados diretamente pela Palavra para serseus ouvidores, e so designados para a sua comunicao e vericao a outroshomens. pelo testemunho da Bblia que todas as geraes subseqentesaprendem dos atos de Deus. A prpria Bblia no a forma primria de revelao,mas contm o testemunho das testemunhas primrias da revelao de Deus. Ela o meio concreto pelo qual a Igreja recorda a revelao de Deus no passado, chamada para esperar revelao no futuro, e desaada, assim, autorizada, eguiada para proclamar.

    Assim, Barth sempre tem cuidado ao distinguir Deus na sua revelao dotestemunho daquela revelao que nos confronta na Bblia. Apesar de suapreocupao em rearmar a autoridade primria das Escrituras para a igreja comozeram os Reformadores em seus dias, como eles, ele no pretende encorajara bibliolatria! O primeiro artigo da Declarao Teolgica emanada do Snodo

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    de Barmen em 1934 pela Igreja Confessante da Alemanha representa a posioconsistente de Barth nesta considerao: Jesus Cristo, como Ele atestado a ns

    em Escritura Sagrada, a nica Palavra de Deus, quem temos que ouvir e quemtemos que conar e obedecer na vida e na morte.

    De que modo, ento, Barth pode falar da Escritura Sagrada como a Palavra deDeus? Como este testemunhe humano e falvel dos profetas e apstolos se tornaa Palavra de Deus? Novamente, a resposta de Barth consistente: A Bblia Palavra de Deus a ponto de Deus a deixar ser sua Palavra, a ponto de Deus falaratravs dela. Em uma seo subseqente que trata da doutrina da EscrituraSagrada, Barth clarica seu signicado dizendo: Escritura santa e a Palavra

    de Deus, porque pelo Esprito Santo se tornou e se tornar, para a Igreja, umatestemunha da revelao divina. Assim, quando Deus, que em seu Espritoinspirou os escritores bblicos, se faz uma vez mais presente no testemunhodeles pelo seu Esprito podemos confessar que a Bblia a Palavra de Deus. Istosignica que para entender a Bblia e sua relao revelao de Deus temos quereconhecer sua humanidade e sua divindade, at mesmo como reconhecemosambas em Jesus Cristo. Barth escreve:

    Se quisermos pensar na Bblia como uma real testemunha de revelao divina,

    ento claramente temos que constantemente manter duas coisas diante dens e dar-lhes o peso devido; a limitao e o elemento positivo, seus elementosdistintivos da revelao, na medida em que somente uma palavra humana arespeito dela, e sua unidade com ela, na medida em que revelao a base,objeto e contedo desta palavra.

    A declarao precedente indica com bastante clareza porque Barth estabeleceuma correlao ntima entre Escritura Sagrada como a Palavra de Deus escritae a revelao de Deus para a qual ela aponta. O fato de que Barth v o Esprito

    Santo ativo na inspirao dos escritores bblicos e em faze-los testemunhasvivas da Palavra de Deus atravs dos sculos justica sua apreciao positiva dadoutrina da autoridade da Escritura Sagrada desenvolvida pelos Reformadores esustentada, subseqentemente, pela Ortodoxia Protestante. Porm, ele crticodo desenvolvimento da doutrina da ps-reforma da infalibilidade das Escrituras na

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    Ortodoxia Protestante. Em sua tentativa para assegurar a autoridade da EscrituraSagrada contra todos os detratores, a Ortodoxia se moveu em direo de igualar

    a Escritura sem qualquer qualicao com a Palavra de Deus. Presumindoque as Escrituras tm que prover uma histria divina e infalvel, a Ortodoxiatransformou as Escrituras de uma testemunha da revelao em um livro-fonte dedoutrinas. Fazendo assim, a doutrina ortodoxa rgida e racionalista da inspirao,negou, com efeito, o senhorio de Deus sobre o testemunho bblico.

    A tentativa ortodoxa para assegurar a autoridade das Escrituras atravs de umaviso alta de inspirao falhou porque interpretou mal a natureza da Bblia eno deu conta de sua humanidade e, com isso, de sua falibilidade. Como tal,

    isso marcou um retrocesso da doutrina adequada da inspirao e autoridade daEscritura Sagrada sustentada por Lutero e Calvino. Para eles, escreve Barth, ainspirao literal da Bblia no era de jeito nenhum um livro revelado de orculos,mas uma testemunha da revelao, para ser interpretada do ponto de vista de ecom uma viso para seu tema, e em conformidade com aquele tema. A viso deinspirao da Ortodoxia Protestante, todavia, moveu-se em direo da veneraode um Papa de papel. Barth concluiu: Ela armou coisas que no podem sermantidas em face de uma leitura sria e exposio do que a prpria Bblia diz

    sobre si mesma, e em face de uma apreciao honesta dos fatos de sua origeme tradio.

    Apesar do descontentamento de Barth com a forma da doutrina ortodoxaProtestante da inspirao, ele permaneceu simpatizante com sua inteno emarmar a autoridade das Escrituras e com certos aspectos de sua hermenutica.O Protestantismo Moderno seguindo o Iluminismo perdeu completamente acentralidade da Escritura Sagrada. Este eclipse marcou, na viso um de Barth,uma das pocas mais lamentveis na histria da teologia e de Protestantismo em

    particular. Escrevendo em 1939 Barth, contudo, poderia armar que esse agrantesolapamento de uma doutrina bsica da Reforma parecia estar passando. Ele viuo falecimento do neo-Protestantismo sendo produzido, em parte, porque no mais capaz de satisfazer a essncia e obrigao desta Igreja e teologia como vistado ponto de vista da Escritura e da prpria Reforma.

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    A Palavra de Deus Pregada

    A Palavra de Deus proclamada ou pregada a terceira e ltima forma da Palavrade Deus que precisamos considerar. Uma vez mais, Barth desenvolve a concepode pregao como uma forma da Palavra de Deus dominante nos Reformadorese especialmente em Lutero. Olhando para as duas declaraes programticasacerca da pregao desenvolvidas no prolegomena, a posio de Barth torna-seevidente:

    A linguagem sobre Deus a ser encontrada na Igreja pretende ser a proclamao,a ponto dela dirigida para o homem na forma de pregao e sacramento, com

    a reivindicao e em uma atmosfera de expectativa que conforme sua comissotem que lhe contar a Palavra de Deus para ser ouvida em f.

    A Palavra de Deus o prprio Deus na proclamao da Igreja de Jesus Cristo.Na medida em que Deus comissiona a Igreja para falar sobre Ele, e a Igrejadesincumbe esta comisso, o prprio Deus que declara a sua revelao em seutestemunho. A proclamao da Igreja pura doutrina quando a palavra humanafalada nela em conrmao do testemunho bblico da revelao oferece e criaobedincia Palavra de Deus.

    H vrios elementos importantes que precisam ser notados na viso de pregaode Barth. Primeiro, embora haja muitos modos pelos quais a igreja pode falarsobre Deus, a pregao e sacramento ocupam um lugar de destaque porque aigreja comissionada por Jesus Cristo proclamar a revelao de Deus por essesdois meios. Barth dene pregao como a tentativa, experimentada por algumchamado para isso na Igreja, de expressar em suas prprias palavras dele naforma de uma exposio de uma poro do testemunho bblico da revelao, ede fazer compreensvel aos homens de sua poca, a promessa da revelao de

    Deus, reconciliao e chamado, como eles esto esperando aqui e agora.Segundo, pregao se verdadeira pregao deve ser servil Palavra deDeus atestada na Escritura Sagrada e nada alm disto. Desta perspectiva, Barthconsidera a viso da pregao, tanto Catlica Romana quanto a neo-Protestante,deciente. A primeira tem, habitualmente, relegado a pregao a um papel

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    secundrio por causa da primazia do sacramento como o meio pelo qual a graade Deus dispensada ao el. Barth no nega que Deus possa estar presente nos

    sacramentos da igreja, mas ele se ope viso Romana tradicional do sacramentoporque graa no nem permanece aqui a livre e pessoal Palavra de Deus.Por outro lado, o liberalismo Protestante se move em direo ao subjetivismoconcebendo a pregao com um desdobramento da devoo do pregador. Estenivelamento da pregao com a auto-exposio signica sua dissoluo. Aqui opregador j no precisa escutar o testemunho da Escritura da auto-revelao deDeus; em ltima anlise, ento, o liberalismo no tem nenhuma concepo depregao tornando-se a Palavra de Deus pela presena graciosa de Deus.

    Em terceiro lugar, da mesma maneira como as Escrituras se tornam a Palavra deDeus no evento da presena de Deus nelas pelo seu Esprito, assim tambm aspalavras humanas do pregador se tornam a Palavra de Deus viva em todo tempo.O milagre da presena de Deus no mundo no est localizado na transformaofsica do po e do vinho no corpo e no sangue de nosso Senhor como ensinadona Igreja Romana. Antes, de acordo com a boa vontade de Deus, ele santica,como seja, as palavras dos seus servos de forma que, enquanto permanecendopalavras humanas, elas se tornam, ao mesmo tempo, palavras nas quais e

    atravs das quais o prprio Deus fala sobre Ele mesmo. importante concluir esta seo enfatizando o que Barth est armando quea nica Palavra de Deus nos encontra nessas trs formas: no h trs Palavrasde Deus. Embora Barth diga que revelao d origem s outras duas formasda Palavra de Deus que atesta isto, ns nunca sabemos da anterior aparte daEscritura e proclamao. Barth pode, ento, sumarizar as relaes que obtmentre as trs formas da nica Palavra de Deus como segue:

    Somente conhecemos a Palavra de Deus revelada a partir da Escritura adotada

    pela proclamao da Igreja, ou a partir da proclamao da Igreja baseada naEscritura. Somente conhecemos a Palavra de Deus escrita pela revelao quetorna a proclamao possvel, ou pela proclamao tornada possvel atravs darevelao. Somente conhecemos a Palavra de Deus proclamada conhecendoda revelao atestada pela Escritura, ou conhecendo a Escritura que atesta a

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    revelao.

    Em uma seo posterior trataremos da maneira pela qual o homem apropria-se da Palavra de Deus em f. Aqui bastar dizer que no podemos ter nenhumconhecimento da revelao de Deus seno aquele que mediado pelas formascriada e terrena da Escritura e proclamao. Nosso conhecimento da revelao apenas indireto, originando-se da Escritura ou na proclamao.

    ===================David L. Mueller. Karl Barth. Third Printing, Waco, WordBooks, 1975. Pp. 53-61.===============================================