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Cada vez mais brasileiros fazem suas refeições em restaurantes, no trabalho, na escola e na rua. Saiba mais sobre o tema e o que isso representa. Publicação do Conselho Regional de Nutricionistas da 5ª Região (Bahia e Sergipe) Ano 4 – nº. 5 – 2012 pág. 16 Educação Nutricional em ambiente escolar pág. 19 Conselho avança para o bem da categoria pág. 04

CRN5 em Revista nº4

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Publicação trimestral do Conselho Regional de Nutricionistas

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Cada vez mais brasileirosfazem suas refeições emrestaurantes, no trabalho,na escola e na rua.Saiba mais sobre o temae o que isso representa.

Publicação doConselho Regionalde Nutricionistasda 5ª Região(Bahia e Sergipe)

Ano 4 – nº. 5 – 2012

pág. 16

Educação Nutricional em ambienteescolar

pág. 19

Conselho avança para o bemda categoria

pág. 04

Quando nos candidatamos para assumir a gestão

do Conselho Regional de Nutricionistas da 5ª

Região (CRN-5), o fizemos por meio de uma

chapa que chamamos de “Avanço”, porque nos-

sa motivação era – e continua sendo – colaborar

para o avanço da nossa categoria. Olhando para

trás, percebemos que apesar das dificuldades e

dos muitos desafios, conseguimos avançar em

várias frentes. Nossas principais conquistas em

2011 e 2012, assim como as perspectivas para

2013, estão apresentadas no Balanço Parcial da

Gestão, apresentado na reportagem intitulada

“Conselho avança para o bem da categoria” (Pá-

gina 4). Esperamos que você saiba como o CRN-

5 tem colaborado para a melhoria da fiscalização,

orientação, disciplina e valorização do exercício

profissional de Nutricionistas e Técnicos em Nu-

trição e Dietética (TNDs) nos Estados da Bahia e

de Sergipe.

Nesta primeira edição da “CRN-5 em Revista” em

versão exclusivamente eletrônica, destacamos a

“Alimentação Fora do Lar” por ser o tema da cam-

panha anual do sistema CFN/CRNs, inserindo-o

no contexto do novo padrão alimentar brasileiro.

E compartilhamos outros temas atuais, com o

objetivo de informá-lo(a) a respeito da “Educa-

ção Nutricional em ambiente escolar: desafios e

conquistas”; “Comida de rua: um desafio para a

Saúde Pública”; “Nutricionistas: contra agrotóxi-

cos, em defesa da agroecologia”, entre outros

temas relevantes. Desejamos que você interaja

conosco sobre o conteúdo desta publicação en-

viando sugestões, críticas e elogios através do e-

mail [email protected]. Boa leitura!

Valquíria da Conceição AgattePresidente do CRN-5

Alguns links ao longo da revista são interativos, basta clicar para acessá-los. Caso deseje, é pos-sível fazer o download da Revista para o seu computador, tablet ou celular. Para isso, ao abrir o site, logo acima da descrição, no menu de op-ções, clique em

Publicação do Conselho Regional de Nutricioni-stas da 5ª Região (Bahia e Sergipe) - Ano 4 – nº. 5 – 2012Salvador (BA): Avenida Centenário, 2883, Edi-

fício Victoria Center, Sala 106, Chame-Chame.

CEP: 40155-151 – Telefax: (71) 3237-5652.

Aracaju (SE): Praça Tobias Barreto, Centro Médico

Odontológico, Sala 502, São José. CEP: 49.015-

130 - Telefax: (79) 3211-8248.

Diretoria: Valquíria da Conceição Agatte (presi-

dente); Rita de Cássia Ferreira Silva (vice-pre-

sidente); Joelma Claudia Silveira Ribeiro (secre-

tária); Lorenna Marques Fracalossi (tesoureira).

Conselheiros efetivos: Rosemary Lima Barreto;

Tâmara Cristina Ferreira Santos; Thais Madjalane

Queiroz de Oliveira; Gilcélio Gonçalves de Almei-

da; Karla Vila Nova de Araujo Figueiredo.

Conselheiros Suplentes: Ana Karina de Assis

Braga; Bárbara Eduarda Panelli Martins; Lindanor

Gomes Santana Neta; Regiane Assunção Cam-

pos; Maíra Patriarcha Leal.

Redação, Edição, Jornalista responsável: Carla

Santana – DRT 2563

Revisão Técnica: Leny Strauch Ferreira –

CRN-5/1580

Fotos: Arquivo do CRN-5 e sites de domínio pú-

blico.

Editoração eletrônica: Pipa Comunicação

Expediente

Editorial

*

Nesta Edição

04Conselho avança para o bem da categoria.

08Comida de rua: um desafio

para a Saúde Pública.

12Educação Alimentar: lançados espa-ço virtual e Marco de Referência.

14Política Nacional de Alimentação e

Nutrição (PNAN) tem novasdiretrizes.

16Alimentação fora do lar no contexto do novo padrão alimentar brasileiro.

22Nutricionistas: contra agrotóxicos, em defesa da agroecologia.

19Educação Nutricional em ambiente

escolar: desafios e conquistas.

Entre as muitas conquistas do atual colegiado do Conselho

Regional de Nutricionistas da 5ª Região (CRN-5), eleito para

o triênio 2011-2014 após a vitória da Chapa “Avanço” nas últi-

mas eleições da autarquia, destaca-se a realização de dois

importantes convênios. O primeiro, com o Ministério Público

do Trabalho em Salvador, visa preservar o campo de atuação

privativo dos Nutricionistas e apurar os fatos nos quais os pro-

fissionais são submetidos a situações de trabalho exaustivas

e ilegais. O segundo foi firmado com o Ministério Público de

Sergipe (MP-SE), com o mesmo objetivo, mas com um foco

maior na Segurança da Alimentação naquele Estado. “Está

em curso, ainda, a assinatura de um terceiro convênio, desta

vez com a Secretaria de Segurança Pública, objetivando coibir

o exercício da profissão por terceiros não habilitados, garantin-

do a segurança da população e o campo de atuação privativa

do Nutricionista”, anuncia a presidente do CRN-5, Valquíria da

Conceição Agatte.

Também houve avanços na adoção de procedimentos para

ajuizamento de ação de execução fiscal contra as Prefeituras

de vários municípios que se encontram com os cadastros ir-

regulares junto ao CRN-5 e/ou que apresentam irregulari-

dades em relação à contratação de Nutricionistas atuantes

no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). “A

Secretaria Municipal de Educação

do Município de Aracaju (SEMED)

recebeu do MP-SE um prazo para se

pronunciar sobre a necessidade de

contratação de 27 Nutricionistas para

atender a educação infantil e funda-

mental. Isso aconteceu a partir de um

levantamento cuidadoso elaborado

pelo CRN-5 e apresentado ao MP”,

destaca a presidente do Regional.

O mesmo relatório apontou a ne-

cessidade de contratação de 87

Nutricionistas pelo Estado de Ser-

gipe, através de sua Secretaria de

Educação (SEED), fato que também

foi protocolado pelo MP-SE. “Nas

visitas fiscais realizadas pelo CRN-

5, notamos o não cumprimento das

atribuições obrigatórias do nutricio-

nista, prevista pela Resolução CFN

nº 465/10, em decorrência da carga

horária insuficiente e do quadro téc-

nico incompatível, o que compromete

o objetivo do PNAE”, conta a coorde-

nadora da Unidade de Fiscalização

do CRN-5, Mariluze de Pinho Bahia.

“Infelizmente, há casos em que um

mesmo nutricionista é Responsável

por mais de dois municípios, irregu-

laridade que compromete o exercício

profissional. Municípios e estados

precisam adequar os quadros téc-

nicos do PNAE. Só assim será ga-

rantida a qualidade da Alimentação

Escolar, tão importante para os es-

tudantes da rede pública”, pontua a

Nutricionista.

Conselhoavança

para o bem da categoria

04

AVANÇOS JURÍDICOS

De acordo com a assessora jurídica do CRN-5,

Sabrina Batista, entre as conquistas do setor ju-

rídico destacam-se as denúncias apresentadas ao

MP relacionadas à não aceitação, por laboratóri-

os e planos de saúde, de exames clínicos prescri-

tos por nutricionistas. “Habilitamos o Conselho

nos processos judiciais contra os laboratórios e

planos que, ao negarem a liberação dos exames,

estão descumprindo a Lei º 8.234/91, que regula-

menta a profissão de Nutricionista”, informa.

“Também na atual gestão apresentamos recurso

perante o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Su-

premo Tribunal Federal (STF) contra a Associa-

ção Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel),

que em 2009 impetrou um mandado de seguran-

ça contra o CRN-5 de modo a impedir a obriga-

toriedade da presença de Nutricionistas nos es-

tabelecimentos associados. Nosso objetivo não é

outro senão garantir a presença do Nutricionista

Responsável Técnico em bares e restaurantes,

em defesa da segurança alimentar e qualidade

nutricional. Estamos confiantes”, destaca Sabrina

Batista.

UPGRADE DA FISCALIZAÇÃO

De julho de 2011 a novembro de 2012, as Nutri-

cionistas fiscais do CRN-5, Diva Moniz e Izabelle

Gasparini, realizaram mais de 1.350 visitas fiscais

a Nutricionistas e Técnicos em Nutrição e Dieté-

tica (TNDs) registrados no CRN-5. “A maioria das

visitas é direcionada para orientar e disciplinar os

profissionais, mas também estamos atentas às

denúncias referentes ao exercício ilegal da pro-

fissão, as quais têm sido atendidas com agilidade,

inclusive com o apoio da Assessoria Jurídica nos

casos mais graves”, destaca a Nutricionista Mari-

luze Pinho Bahia, coordenadora da Fiscalização

do CRN-5. “No início deste ano, realizamos um

trabalho interno bastante produtivo com análise

de aproximadamente 1.300 processos”, destaca.

Um dos focos da Fiscalização do CRN-5 são os

Hospitais Estaduais da Bahia. “Elaboramos um

relatório referente ao Quadro Técnico de Nutri-

cionistas dessas instituições e detectamos uma

significativa defasagem no número de Nutricio-

nistas contratados. Notificamos as instituições,

mas não recebemos o retorno esperado. Sabe-

mos que muitos profissionais foram aprovados

em concursos públicos para ocupar as vagas

existentes e que poucos foram contratados até o

momento para suprir a real demanda. Por isso,

enviamos o relatório para o MP-BA, do qual espe-

ramos uma ação enérgica no que concerne a este

especial cuidado com a saúde pública”, declara

Mariluze Bahia.

A Unidade de Fiscalização do Conselho também

foi a promotora de Fóruns Itinerantes voltados

para estudantes de Nutrição de Sergipe e de

eventos pilotos voltados para os Nutricionistas do

PNAE, tanto de Salvador e Região Metropolitana

quanto de Sergipe, através de parcerias com o

Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição

do Escolar (Cecane/FNDE/UFBA). “Elaboramos

relatórios importantes sobre o cumprimento das

atribuições dos nutricionistas no PNAE”, conta

Mariluze.

Entre as conquistas do setor de fiscalização na

atual gestão, destaca-se, ainda, a contratação,

através de Concurso Público, de duas novas fis-

cais, as Nutricionistas Andréa Rita Pinto de Al-

meida e Tatiana Rolando dos Santos, que irão

fiscalizar os profissionais que atuam no Estado de

Sergipe e no interior da Bahia, respectivamente.

Estamos atentas às

denúncias referentes

ao exercício ilegal

da profissão.

CRN-5 com Você

05

Mariluze Pinho Bahia

INTEGRAÇÃO E QUALIFICAÇÃO

Com o objetivo de promover a integração da categoria e a qualificação dos profissionais registrados,

o atual colegiado do CRN-5 promoveu ou apoiou encontros e eventos diversos. Confira os principais:

06

MAIS INTERATIVIDADE

Milhares de profissionais passaram a se relacio-

nar com o CRN-5 através do Facebook na atual

gestão, o que demonstra que o relacionamento

do Conselho com a categoria tem se intensifica-

do. Além disso, boletins online continuam sendo

enviados quinzenalmente por e-mail aos profis-

sionais com informações institucionais e de inte-

resse da categoria.

De acordo com a vice-presidente do CRN-5, Rita

de Cássia Ferreira Silva, o site do Conselho tem

sido constantemente atualizado pela assesso-

ria de comunicação do Conselho. A realização

de chats temáticos mensais também tem sido

aprovada pela categoria. “O de maior repercussão

foi o chat sobre o serviço de Personal Diet, que

tem sido alvo de grande interesse da categoria.

Além disso, os veículos de comunicação têm

nos procurado com frequência para mediarmos

entrevistas com Nutricionistas. Entendemos que

quanto mais visibilidade o Nutricionista tiver na

imprensa, mais a nossa profissão será valorizada

perante a opinião pública”, destaca Rita. Para

otimizar a comunicação, o CRN-5 lançará seu

novo site em fevereiro de 2013, muito mais bo-

nito, interativo e funcional. Aguarde!

Entendemos que

a responsabilidade

social do Conselho

permeia tanto

as ações junto

ao Nutricionista quanto

à comunidade.

”07

Rita de Cássia Ferreira Silva

A comida de rua faz parte da história do Brasil.

Como o país é muito extenso, cada região apre-

senta um cardápio de comida de rua próprio, a-

inda que haja influência das migrações e do pro-

cesso de globalização. Nas ruas da Bahia, além

das preparações típicas da culinária africana,

como o acarajé, o abará, o bolinho de estudante e

o mingau, ou ainda de tradição nordestina, como

o queijo de coalho (muito vendido nas praias) e

a tapioca, é possível encontrar uma grande di-

versidade de alimentos e bebidas, como caldo

de cana, cachorro-quente, sanduíches de vários

tipos, salgados (coxinha, quibe, pastel), sucos,

produtos industrializados, refeições completas e

muitas frutas in natura, que variam de acordo com

a estação do ano.

De acordo com a Nutricionista Ryzia de Cassia

Vieira Cardoso, grande parte desses alimentos

e bebidas comercializadas na informalidade não

atende aos critérios de segurança dos alimentos,

seja nos aspectos físicos, químicos ou microbi-

ológicos. Em virtude desta condição, tais alimen-

tos não raramente causam agravos e doenças

diversas. “As pesquisas têm revelado a evidência

de microrganismos patogênicos em diferentes

categorias de alimentos. Entre os microrganis-

mos identificados, há os que desencadeiam um

quadro clínico de menor preocupação, como sen-

sação de desconforto abdominal, náusea, vômito

e diarreia; e os que levam a quadros mais graves,

com a disseminação do patógeno para diversos

sistemas do organismo humano, condição que

pode, inclusive, resultar em morte”, destaca.

Comida de rua: um desafio para a Saúde Pública

Saúde em Dia

08

SUGESTÕES

Para minimizar o problema e reduzir os números relacionados à

toxinfecção alimentar, a nutricionista sugere ações de qualificação

e educação continuada dos vendedores e manipuladores de ali-

mentos que atuam nessa cadeia produtiva através de treinamentos

constantes. “É preciso sensibilizar e qualificar os recursos humanos

do setor público (inclusive os fiscais) para uma melhor atuação junto

ao segmento. Além disso, faz-se necessário o estabelecimento de

uma legislação específica. Os consumidores precisam ser orienta-

dos; os projetos para melhorar as condições estruturais dos pontos

de venda, desenvolvidos e as linhas de crédito para organizar as

redes de fortalecimento do setor precisam ser abertas”, declara a

professora do curso de Nutrição da Universidade Federal da Bahia

(UFBA), Ryzia Cardoso.

Para a especialista, os resultados de um programa de treinamento

devem ser avaliados sob diferentes aspectos, uma vez que educa-

ção em saúde e mudança de comportamento envolvem discussões

complexas. “Para gerar as mudanças esperadas, vale atentar para

algumas questões, tais como: ‘Quem é o público-alvo do treinamen-

to? Qual o seu nível de formação? O que este público demanda, em

termos de conteúdo formativo? Que abordagem pedagógica será

adotada? Qual (is) a(s) metodologia(s) que melhor se aplica(m)

para o desenvolvimento do curso? Qual a duração da atividade?

Como é possível integrar o novo conhecimento à realidade do ma-

nipulador/vendedor, para permitir a troca de saberes?”, detalha.

É preciso sensi-

bilizar e qualifi-

car os recursos

humanos do

setor público

(inclusive os fis-

cais) para uma

melhor atuação

junto ao seg-

mento. Além

disso, faz-se ne-

cessário o esta-

belecimento de

uma legislação

específica...

”Ryzia Cardoso

INFORMALIDADE NA ECONOMIA

A comida de rua constitui-se uma realidade nos

mais diversos municípios brasileiros principal-

mente em virtude da baixa oferta de postos de

trabalho no setor formal. Tanto em metrópoles

quando em pequenos vilarejos, ou mesmo à beira

das estradas – nas paradas, é possível encontrar

este tipo de alimento. “Para grande parte dos tra-

balhadores informais, os ganhos na atividade su-

peram o salário mínimo nacional. De acordo com

um diagnóstico que envolveu 449 vendedores

adultos em Salvador, verificou-se que a média de

renda obtida era de 2,2 salários. Adicionalmente,

novos trabalhos mostram a interface do comércio

da comida de rua com o trabalho infantil, cenário

que encerra grande complexidade social”, desta-

ca a Ryzia Cardoso.

ACARAJÉ

Em Salvador, foi iniciado há 10 anos um movi-

mento pela Associação das Baianas de Acarajé e

Mingau, com apoio de vários órgãos e instituições,

com vistas à formação e qualificação de baianas,

promoção da segurança do acarajé e proteção da

saúde dos consumidores, dado o valor cultural

desta iguaria. A intervenção, chamada “Programa

Acarajé 10”, apresentou resultados positivos,

porém não houve continuidade nas ações, o que

prejudicou o alcance dos objetivos propostos.

Fora do Brasil, existem experiências de interven-

ção em relação à comida de rua, apoiadas pelos

governos locais e por organismos internacionais

como o Fundo das Nações Unidas para Alimen-

tos e Agricultura (FAO), Organização Mundial de

Saúde (OMS), Organizações Não Governamen-

tais (ONGs) e programas de desenvolvimento

mantidos por países desenvolvidos. Na África, a

literatura científica reporta experiências de inter-

venção em Gana e na África do Sul, com adoção

de metodologias estabelecidas pela OMS e pela

FAO, que levaram a resultados positivos para o

segmento.

11

No dia 30 de novembro, foram lançados, em Brasília o Marco

de Referência em Educação Alimentar e Nutricional e o es-

paço virtual “Ideias na Mesa”. O Marco foi lançado pelo Minis-

tério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS),

Ministério da Saúde e Ministério da Educação.

O documento foi construído a partir de discussões entre re-

presentantes dos três ministérios, de universidades e da

sociedade civil, especialmente o Conselho Nacional de Se-

gurança Alimentar e Nutricional (CONSEA). O documento

consolida conceitos e práticas de educação alimentar e nu-

tricional e permite um o-lhar multidisciplinar sobre as políticas

que promovem o direito à alimentação adequada e saudável.

“Essa é uma novidade e uma conquista muito importante,

pois dá visibilidade à discussão sobre os hábitos alimenta-

res da nossa população, além de contribuir para qualificar os

debates e práticas em diferentes setores envolvidos”, avalia

a secretária nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

do MDS, Maya Takagi. “A educação alimentar é uma medida

fundamental para enfrentar questões como a obesidade, a

desnutrição e as doenças ligadas à alimentação insuficiente

ou inadequada”, disse a coordenadora geral de Alimentação

e Nutrição do Ministério da Saúde, Patrícia Jaime.

Como desdobramento do Marco de Referência, também foi

lançado o espaço virtual “Ideias na Mesa”, dedicado ao de-

bate permanente sobre educação alimentar e nutricional. A

rede virtual, que entrou no ar também

na sexta-feira, foi criada para compar-

tilhar experiências de pessoas, insti-

tuições de governo e organizações

da sociedade civil que pratiquem e

ajudem a promover a alimentação a-

dequada e saudável no país.

“O Marco de Referência e a rede vir-

tual são espaços valiosos que reú-

nem tudo o que sabemos e o que

precisamos saber sobre a educação

alimentar e nutricional e que têm o

papel de integrar o saber científico e

os saberes populares e regionais na

promoção do direito humano à ali-

mentação adequada”, ressalta Elisa-

betta Recine, conselheira do CON-

SEA e coordenadora do Observatório

de Políticas de Segurança Nutricional

e Alimentar, da Universidade de Bra-

sília (OPSAN/UnB), parceiro do MDS

na construção do site.

Para conferir a rede virtual “Ideias na

Mesa”, acesse o site, clicando aqui

Fonte: MDS

EducaçãoAlimentar:lançadosespaço virtuale Marcode Referência

12

+

Essa é uma

novidade e uma

conquista muito

importante, pois dá

visibilidade à

discussão sobre

os hábitos

alimentares da

nossa população...

”Maya Takagi

Saúde em Dia

13

Para intensificar as ações de atenção nutricional nas redes

de atenção à saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), o

Ministério da Saúde determinou que seus órgãos e enti-

dades adequem planos, programas, projetos e atividades às

diretrizes da nova Política Nacional de Alimentação e Nu-

trição (PNAN), publicada na portaria nº 2.715, no dia 18 de

novembro de 2011.

“A atualização dessa política envolveu consultas a vários

segmentos envolvidos com o tema, como conselhos de

saúde, trabalhadores e gestores de saúde e de segurança

alimentar e nutricional, especialistas em políticas públicas

de saúde, alimentação e nutrição e representantes da socie-

dade organizada”, observa a coordenadora de Alimentação

e Nutrição do Ministério da Saúde, Patrícia Jaime.

Na prática, isso se traduz em mais apoio do Ministério da

Saúde para ações relacionadas a alimentação e nutrição.

“A Política Nacional de Alimentação e Nutrição prevê, por

exemplo, o fortalecimento da vigilância alimentar e nutri-

cional que terá incentivo para a compra de equipamentos

antropométricos para que Unidades Básicas de Saúde

(UBS) e pólos das Academias da Saúde possam monito-

rar as condições de alimentação e de nutrição das pessoas,

melhorando, inclusive, nossas ações

de prevenção e de tratamento de pro-

blemas nutricionais, como a obesi-

dade”, explica Patrícia.

As diretrizes da PNAN também se

aplicam à promoção da alimentação

saudável de forma intersetorial e ar-

ticulada com diferentes setores, como

nas escolas de educação infantil, fun-

damental e nível médio das redes públi-

cas e privadas.

As ações envolvem ainda capacitação

dos profissionais da atenção básica

para impulsionar a orientação alimen-

tar como atividade de rotina nos ser-

viços de saúde, contemplando a forma-

ção de hábitos alimentares saudáveis

desde a infância, com a introdução da

alimentação complementar em tempo

oportuno e de qualidade, respeitando a

identidade cultural e alimentar das di-

versas regiões brasileiras.

“Os recursos deverão ser aplicados,

pelas secretarias estaduais e munici-

pais de saúde, em medidas relaciona-

das à atenção nutricional no SUS, in-

cluindo prevenção, vigilância e cuidado

integral aos usuários do SUS; princi-

palmente, por meio da atenção bási-

ca”, explica o secretário de Atenção à

Saúde, Helvécio Magalhães.

Conheça a nova versão da PNAN, cli-

cando aqui

Fonte: Instituto Racine

PolíticaNacional deAlimentaçãoe Nutrição (PNAN) tem novasdiretrizes

+

14

Saúde em Dia

15

Segundo pesquisas recentes, os brasileiros estão

gastando pelo menos 30% de sua renda mensal

com alimentação. Não é à toa: boa parte deles

passa mais tempo no trabalho do que em casa,

o que os leva a se alimentarem em um dos 1,5

milhões de bares e restaurantes espalhados pelo

Brasil, quando não no trabalho, nas instituições

de ensino ou até mesmo na rua. De acordo com

os dados do Instituto Data Popular, o hábito de

comer fora de casa faz parte do dia a dia de

65,3% da população. O valor despendido com

este hábito subiu de R$ 59,1 bilhões, em 2002,

para R$ 121,4 bilhões em 2011 – um crescimento

superior a 100% em nove anos.

O faturamento do setor também impressiona.

Conforme a Associação Brasileira das Empresas

de Refeições (Aberc), este passou de R$ 10,9

bilhões em 2010 para R$ 13 bilhões em 2011.

Foram 10,5 milhões de refeições servidas diari-

amente ao longo de 2011, representando um total

11,2% superior ao de unidades distribuídas por

dia em 2010, que ficou em 9,4 milhões. De acordo

com a Aberc, a tendência é de um crescimento de

10% ao ano ao longo desta década até 2020. Em

sete anos, deverá dobrar.

Diante deste quadro, fica a quesão: A qualidade

nutricional e a segurança dos alimentos estão

sendo considerados na hora de escolher o que

comer fora lar? “As pessoas precisam observar

se o local em que costumam se alimentar é se-

guro do ponto de vista higiênico-sanitário. E, so-

bretudo, saber escolher alimentos saudáveis, po-

bres em gordura, sal, açúcares e conservantes, e

ricos em vitaminas, minerais e outros nutrientes

que previnem doenças e promovem qualidade de

vida”, resume a nutricionista Leny Strauch, as-

sessora técnica do CRN-5. “Consumir alimentos

orgânicos é uma boa opção, sobretudo no sentido

de reduzir a quantidade de agrotóxicos, os quais

comprovadamente fazem mal à saúde”, completa.

Alimentaçãofora do lar

no contexto do novopadrão

alimentarbrasileiro

17

PESQUISA

Dados da última Pesquisa de Orçamentos Fa-

miliares (POF 2009), elaborada pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em

parceria com o Ministério do Planejamento, Orça-

mento e Gestão e o Ministério da Saúde, revela

que o consumo alimentar do brasileiro combina a

dieta tradicional brasileira à base de arroz e feijão

com alimentos de teor reduzido de nutrientes e

de alto teor calórico. Segundo a pesquisa, o con-

sumo está aquém do recomendado para frutas,

verduras e legumes: menos de 10% da popula-

ção atinge as recomendações de consumo. É

também o caso do leite, que ficou muito abaixo do

recomendado e se traduz em elevadas prevalên-

cias de inadequação das necessidades diárias de

vitaminas e cálcio.

Ao lado disso, há elevada ingestão de bebidas

com adição de açúcar, como sucos, refrigerantes

e refrescos, particularmente pelos adolescentes.

Mais de 70% da população consome quantidades

superiores ao valor máximo de ingestão tolerável

para o sódio, assim como também há um consu-

mo excessivo de gordura saturada (82%). Além

disso, 68% da população ingere fibras em valores

abaixo do recomendado.

Em relação às faixas etárias, entre os adolescen-

tes destaca-se a forte presença na alimentação

de biscoitos, embutidos (linguiça, salsicha, mor-

tadela), sanduíches e salgados, e os valores per

capita indicam um menor consumo de feijão, sala-

das e verduras.

A POF mostra, ainda, que o consumo médio de

energia fora do domicílio correspondeu a aproxi-

madamente 16% da ingestão calórica total. As

prevalências de inadequação de ingestão de mi-

cronutrientes foram altas em todas as grandes

regiões do País e refletem a baixa qualidade da

dieta do brasileiro. De acordo com a pesquisa,

correções na dieta permitiriam atingir as reco-

mendações para a maioria dos micronutrientes.

“Essas modificações incluem trocar alimentos

muito calóricos e com baixo teor de nutrientes por

frutas, verduras, leguminosas, leite, grãos inte-

grais, oleaginosas e peixes, todos eles produzi-

dos no país”, destaca Leny Strauch.

BEM VIVER NUTRIÇÃO 2012

Atento à importância da Alimentação Fora do Lar

no Brasil, o Sistema Conselho Federal de Nutri-

cionistas/Conselhos Regionais de Nutricionistas

(CFN/CRNs) adotou este assunto como tema

de sua campanha anual. A partir dela, diversas

ações foram desenvolvidas por todo o Brasil, so-

bretudo com o objetivo de conscientizar a popu-

lação acerca da responsabilidade nas escolhas

alimentares.

Uma das ações foi o Bem Viver Nutrição 2012,

evento comemorativo ao Dia do Nutricionista (31

de agosto) realizado no dia 1º de setembro no

Hotel América Towers, em Salvador. O evento,

voltado principalmente para nutricionistas, reuniu

quase 200 pessoas, em torno de uma rica pro-

gramação, que pode ser conferida nesse link

18

+

Além do trabalho de produção, supervisão de

equipes, treinamentos, auditorias internas e ativi-

dades que garantam a qualidade higiênico-sani-

tária e nutricional dos alimentos, com respeito à

cultura alimentar de escolares, é dever do Nutri-

cionista que atua na alimentação escolar promo-

ver a educação nutricional, com vistas a gerar

mudanças de hábitos. A realidade vivenciada

pela Nutricionista Tatiana Medeiros há quase três

anos em cantinas e refeitórios de escolas particu-

lares de Salvador está dentro deste parâmetro.

“Junto com os professores, promovemos ativi-

dades em sala de aula e agendamos visitas

regulares dos alunos ao refeitório. Também pre-

paramos material didático para ser utilizado pe-

los professores, sugerimos material para mural

e área de cantina, escrevemos textos voltados

aos pais”, conta. “A presença de um nutricionista

torna a difusão do tema da alimentação e nutrição

mais consistente. Nossa meta deve ser aliar

ações teóricas, através de informações aos fun-

cionários, alunos e pais, com a vivência prática,

por meio de mudanças implementadas na cantina

ou refeitório”, completa.

Tatiana conta que reuniões com familiares e pro-

fessores são promovidas nas escolas para abor-

dar o tema da alimentação saudável, mostrar o

perfil nutricional dos alunos e sugerir atividades.

“Acompanhamos o almoço dos estudantes, ob-

servando a aceitação das preparações e cuidan-

do de alguns casos especiais. Disponibilizamos

receitas saudáveis e fáceis para serem prepara-

das pelos próprios alunos. Fazemos avaliação

antropométrica e traçamos o perfil nutricional da

comunidade escolar”, detalha a Nutricionista, que

ressalta que também é dever do Nutricionista atu-

alizar as escolas em relação às legislações, tanto

da Vigilância Sanitária quanto às concernentes à

regularização da alimentação escolar.

EducaçãoNutricional

em ambienteescolar:

desafios econquistas

Atuação Profissional

19

BOAS PRÁTICAS

Entre os projetos de educação nutricional adota-

dos por Tatiana Medeiros destaca-se o “Prato

Colorido”, em que ela aborda a importância das

cores dos alimentos para o corpo humano, em

sala de aula. “Combinamos previamente de, na

hora do almoço, cada um fazer um prato bem

colorido e fotografamos. Todos querem ter seu

prato fotografado, por isso acrescentam itens de

salada”, detalha Tatiana.

Para os alunos mais velhos, é desenvolvida,

juntamente com a professora de Ciências, uma

atividade sobre rotulagem, onde a Nutricionista

explica como analisar os rótulos. A partir desta

abordagem, os próprios alunos julgam os itens

da cantina e escolhem as melhores opções de

lanche.

Tatiana costuma incluir no cardápio itens que

remetam a assuntos que os alunos estão estu-

dando. Quando o assunto abordado na sala de

aula é reciclagem, por exemplo, são preparados

pratos com aproveitamento integral dos alimen-

tos. Além disso, “apostamos em pratos africanos

na Copa da África do Sul e pratos ingleses para

serem servidos durante as Olimpíadas de Lon-

dres. Na semana do estudante, pedimos receitas

das famílias dos alunos para preparar em nosso

refeitório. Essas ações motivam os alunos a ex-

perimentar novas preparações e a conhecer ali-

mentos diferentes”, ressalta a Nutricionista.

NEOFOBIA ALIMENTAR

Na infância, a neofobia alimentar, a aversão a

experimentar alimentos desconhecidos, é muito

comum. Este é um dos motivos pelos quais mui-

tas crianças não conhecem grande parte dos ali-

mentos saudáveis, como frutas e verduras. Mui-

tas jamais experimentaram os cereais integrais.

Quando já é hábito da família e a criança já con-

some, ela aceita naturalmente. Além disso, é pre-

ciso considerar que as crianças ainda estão com

o juízo crítico em formação, e a noção de conse-

quências em longo prazo ainda é muito abstrata.

Logo, além de fornecer informação, é preciso

criar um ambiente propício a escolhas saudáveis.

“Não adianta dar a mesma visibilidade a lanches

saudáveis e a opções menos nutritivas. Se, para

a sobremesa, tem fruta e doce, a maioria das cri-

anças opta pelo doce, mas quando só tem fruta,

muitas comem a fruta e adoram”, desta a Nutri-

cionista Tatiana Medeiros. Vale frisar que os ali-

mentos industrializados contam com um enorme

apelo de marketing, com propagandas inseridas

nos desenhos animados e associação com os

personagens. “Tem criança que escolhe o suco

pelo boneco da embalagem e não pelo sabor”,

lembra.

Para incentivar o consumo de itens saudáveis na

escola, o Nutricionista precisa ter persistência. É

comum nas primeiras apresentações haver so-

bra, porém com o tempo, é notável o aumento da

aceitação. “A saída de pratos com soja, arroz in-

tegral, macarrão integral, bolinhos assados com

ricota, tem aumentado. É nítido o aumento do

gosto pelas frutas, mas esta mudança só aconte-

ceu depois de mudarmos a apresentação delas,

que são disponibilizadas já cortadas e bem vi-

síveis, facilitando o acesso. O biscoitinho de aveia

e o misto especial (pão integral com queijo branco

e peito de peru) também tem uma ótima aceitação

atualmente. Esses são resultados à longo prazo”,

conta Tatiana Medeiros.

ESCOLA PÚBLICA

A experiência positiva e exitosa, aplicada nas es-

20

colas da rede privada, podem e devem ser repli-

cadas na rede pública. Mesmo diante das limita-

ções, o nutricionista responsável deve montar um

plano de ação e apresentá-lo junto à direção da

escola e Secretaria de Educação, buscando apoio

para atuar na educação alimentar e nutricional. “É

dever do nutricionista priorizar as atividades pre-

vistas na Resolução CFN nº 380/2005 + ”, res-

salta a Nutricionista Amélia Reis, mestranda em

Alimentos, Nutrição e Saúde pela Universidade

Federal da Bahia (UFBA).

“Sabemos que o número de escolares sob a Res-

ponsabilidade Técnica do Nutricionista da rede

pública é muito grande, o que dificulta a realiza-

ção de todas as atividades previstas para o pro-

fissional. Junte-se a isso a existência de estrutu-

ras físicas precárias, escassez de equipamentos,

mão de obra pouco qualificada, má remuneração

e frágeis vínculos empregatícios, fatores que

aumentam os desafios para o nutricionista Res-

ponsável Técnico, mas não impossibilitam a exe-

cução de um bom trabalho nas escolas estaduais

e municipais”, declara Amélia.

Para a nutricionista, nenhum desses obstácu-

los deve justificar a secundarização das ações

de educação alimentar e nutricional nas escolas

públicas, as quais se limitam, muitas vezes, a

ações pontuais (palestras em dias específicos,

como o Dia Mundial da Alimentação e Feiras de

Saúde). “Devemos seguir as recomendações dos

documentos oficiais, que apontam que a nutrição

seja trabalhada transversalmente nas escolas,

compondo projetos pedagógicos e currículos es-

colares. Devemos fazer isso pelo compromisso

com a qualidade do nosso trabalho e com a nossa

profissão”, pontua.

DESAFIOS

Um dos grandes desafios a serem superados na

Alimentação Escolar é a falta de respaldo das

escolas para a implementação de mudanças.

“Sempre haverá pressão de parte dos alunos,

pais, professores e, se a escola não está de fato

empenhada em promover mudanças, acaba re-

trocedendo”, destaca a Nutricionista Tatiana Me-

deiros. Cada escola determina qual será o des-

taque da alimentação saudável dentro de suas

dependências. Por isso, o Nutricionista deve ali-

nhar sua forma de trabalho para que juntos, es-

cola e cantina, defendam o mesmo ponto de vista.

“É interessante quando a escola estabelece algu-

mas regras, tais como a restrição ou redução da

frequência de exposição de alguns itens menos

saudáveis”, completa.

Em relação à Alimentação Escolar da rede públi-

ca, a ex-agente do PNAE Amélia Reis também

aponta como desafio a sensibilização e a articu-

lação dos gestores municipais para que a Ali-

mentação Escolar de qualidade seja prioridade.

“É preciso desenvolver ações intersetoriais para

atender à complexidade do Programa e incluir

gêneros da Agricultura Familiar”, aponta. Amélia

considera, ainda, que para otimizar os resultados

do PNAE, faz-se necessária a aproximação entre

a Saúde e a Educação, sem deixar de envolver as

famílias e a comunidade como um todo. “Precisa-

mos incluir a Educação Alimentar e Nutricional

em currículos escolares e em projetos pedagógi-

cos numa perspectiva maior, não restrita apenas

à área biomédica”, conclui.

> DICAS DE LEITURA

Livro: “É de pequeno que se aprende?

Promoção da alimentação saudável na

Educação Infantil”, organizado pela pro-

fessora Vera Lúcia Xavier Pinto e publi-

cado pela Edufrn – Natal, em 2010.

Artigo: “Programa de educação nutricio-

nal em escolas de ensino fundamental”,

de autoria da professora Maria Cristina

Faber Boog, publicado na Revista de Nu-

trição de Campinas, nov/dez/2010.

+

De acordo com a Organização Mundial de Saúde

(OMS), as intoxicações por agrotóxicos atingem

três milhões de pessoas por ano, em todo o mun-

do. Destes, 2,1 milhões de casos acontecem nos

países em desenvolvimento, com 20 mil mortes

ocasionadas pelo problema. Neste contexto, o

Brasil se destaca por ser o campeão mundial de

uso de agrotóxico, embora não seja o de maior

produção agrícola. O país ainda é o principal des-

tino de agrotóxicos proibidos no exterior.

Segundo o agrônomo Altino Bonfim, pesquisador

e professor da Universidade Federal da Bahia

(UFBA), “não existe uso seguro para os agrotóxi-

cos. Além disso, o uso de agrotóxicos sempre

deixa resíduos em alimentos, contaminam rios,

ar e lençóis freáticos. Isso sem falar nas alergias,

diversos tipos de neoplasias (cânceres) e outras

doenças que o consumo de agrotóxicos podem

causar”, destaca.

“A população, de modo geral, desconhece os

riscos dos agrotóxicos para a saúde e para o

meio ambiente. No entanto, os nutricionistas,

como categoria social preocupada com a segu-

rança dos alimentos, não podem ficar alheios a

esta questão. Pelo contrário, estes profissionais

devem conhecer e se envolver nas ações re-

lacionadas à qualidade dos alimentos desde sua

produção e processamento até o preparo e distri-

buição para consumo”, defende o agrônomo.

Recentemente, os nutricionistas brasileiros

começaram a se inteirar mais a respeito do as-

sunto, fato que tem motivado a categoria a se

envolver na defesa dos alimentos orgânicos. No

entanto, poucos ainda têm familiaridade com os

conceitos de agricultura ecológica ou agroecolo-

gia, alimentos orgânicos, slow food e afins.

ALIMENTOS ORGÂNICOS

Segundo o agrônomo Altino Junior, para um

produto ser considerado orgânico ou ecológico,

ele precisa ser cultivado à moda antiga, sem o

uso de agentes químicos, como agrotóxicos, pes-

ticidas, fertilizantes artificiais ou organismos ge-

neticamente modificados (transgênicos) e “com o

mínimo possível de uso de máquinas agrícolas, as

quais, ao compactarem o solo, acabam criando

condições para a erosão (perda de solo fértil). Por

isso, deve ser privilegiado o plantio direto, que o

agricultor faz sem revolver o solo, facilitando a

criação de matéria orgânica, utilizada como fertili-

zante natural”, esclarece.

Se o produto for de origem animal, ele não pode

conter hormônios do crescimento, antibióticos

ou drogas veterinárias. Os processados, como

geleias e bebidas, não devem ter aditivos sinté-

ticos na fabricação. A planta ou o grão só pode

receber nutrição natural e devem ter crescido e

amadurecido no tempo certo. No que tange ao

modo de produção, as monoculturas devem ser

substituídas por policulturas, já que as primeiras

são muito mais sensíveis às doenças e infesta-

ções de insetos, além de serem extremamente

frágeis. A fazenda, bem como a fábrica, também

Nutricionistas:contra agrotóxicos,em defesada agroecologia

22

tem que preservar os recursos naturais e respei-

tar todas as leis trabalhistas. “Ou seja, optar pela

agroecologia não é sinônimo apenas de defender

a saúde, mas também significa defender um país

mais justo e menos poluído”, declara o professor

da UFBA.

AGROECOLOGIA NO BRASIL

A agroecologia é um enfoque científico que apoia

a transição dos atuais modelos de desenvolvi-

mento rural e de agricultura convencionais para

estilos de desenvolvimento rural e de agriculturas

sustentáveis. Sobre a utilização em larga escala

de alimentos orgânicos dentro dos padrões da

agroecologia, Altino aponta que os agricultores

familiares são os maiores investidores, embora

já existam no país grandes produtores de orgâni-

cos. O pesquisador, porém, lamenta o fato de

praticamente inexistirem políticas públicas que

incentivem este tipo de produção. “Há exceções,

como no caso do estado de Santa Catarina, onde

30% da alimentação escolar tem que ser, obriga-

toriamente, orgânica. Mas, de modo geral, não

há incentivos nem linhas de crédito específicas

para agricultores orgânicos”, diz Altino Bonfim de

Oliveira Junior.

Para incentivar o consumo de alimentos orgâni-

cos, mercadistas e comerciantes podem colabo-

rar exigindo de seus fornecedores certificações

confiáveis de não contaminação dos alimentos.

“Além disso, eles podem abrir espaços e gôndo-

las específicos para comercialização de produtos

orgânicos”, sugere o agrônomo. “A maior consci-

entização da população em relação aos perigos

do uso de agrotóxicos e demais venenos tem o

poder de estimular o aumento do consumo de ali-

mentos orgânicos”, completa

.

Vale destacar que a contaminação dos alimen-

tos não se dá apenas na produção, mas também

no processamento, quando são adicionados os

estabilizantes, conservantes, aditivos, irradia-

ção, entre outros venenos que se acumulam no

organismo e provocam doenças. Estes químicos

adicionados no processamento de muitos alimen-

tos industrializados são comuns nos chamados

alimentos fast foods, que precisam ser evitados e

substituídos por aqueles da linha ‘slow food’, ex-

plica o agrônomo.

SLOW FOOD

O Slow Food é uma associação internacional sem

fins lucrativos fundada em 1989 como resposta

aos efeitos padronizantes do Fast Food; ao ritmo

frenético da vida atual; ao desaparecimento das

tradições culinárias regionais; ao decrescente in-

teresse das pessoas na procedência e sabor dos

alimentos e em como as escolhas alimentares

pode afetar o mundo.

Segundo o Slow Food, o prazer de saborear comi-

da e bebida de qualidade deve ser combinado

com o esforço para salvar produtos alimentícios

que correm perigo de desaparecer devido ao pre-

domínio das refeições rápidas e ao agronegócio

industrial. “Existe uma convergência interessante

entre os princípios do Slow Food e os da agricul-

tura ecológica ou agroecologia”, resume Altino.

> DICAS DE LEITURA

Título: “Alimentos Orgânicos:

ampliando os conceitos de

saúde humana, ambiental e social”

Autora: Elaine de Azevedo

Editora: Unisul

> DICAS DE FILMES

Título: O veneno está na Mesa

Ano: 2011 / Diretor: Silvio Tendler

Assista aqui

Título: O veneno nosso de cada dia

Ano: 2011 / Diretor: Marrie Monique

Assista aqui

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