"Cuidados Alternativos para Criança:

Práticas para além do Acolhimento.

Como garantir a Convivência Familiar e Comunitária?"

Combinações

DA MATERNAGEM SUBSTITUTIVA À FAMÍLIA ORIGINAL RECUPERADA

OU À FAMILIA SUBSTITUTA:

UM ESBOÇO

Yusaku Soussumi

Datam da década de 1960 meu contato e interesse pelos

estudos da formação da personalidade do ser humano,

principalmente a influência da maternagem no período

imediatamente após o nascimento até a idade de 2 anos.

Importância das ideias de Sigmund Freud

Somente a partir dos trabalhos de seguidores de Freud, e

outros como René Spitz, John Bowlby, Margareth Mahler

e Melanie Klein, é que se começa a correlacionar a

importância do papel da mãe, do pai e da família na

construção da personalidade do ser humano.

O período de 0 a 2 anos do bebê humano passa a ser

considerado período crítico para a constituição da

estrutura afetivo-emocional, sobre a qual vão se

constituir as funções mentais, que tornam o Homem um

ser diferenciado na natureza.

Os investigadores na área da psicologia infantil,

influenciados principalmente pelos trabalhos de John

Bowlby, na Inglaterra, que demonstram a importância do

vinculo afetivo que se estabelece entre mãe e bebê para

o desenvolvimento saudável deste em direção a

transformar-se em pessoa, começam a dar-se conta da

necessidade de criar uma mentalidade e uma postura

social de atenção voltada a essa questão.

Nós, daqui de São Paulo, começamos a investigar e a trabalhar com a

questão das relações do bebê com a mãe, com o pai, com a família,

com o entorno maior, no que concerne aos momentos

e acontecimentos transcorridos no período do nascimento até a

adolescência, e num período anterior ao nascimento, na vida fetal, na

fase intrauterina.

Tivemos a possibilidade de constatar as consequências negativas sobre

o desenvolvimento da criança, que se tornavam permanentes no

indivíduo, e presentes na maturidade.

O trabalho de atendimento precoce a bebês e crianças jovens que

tinham sido objeto de negligência e falta de cuidados maternos, e que

encontravam uma pessoa com capacidade empática para estabelecer

vínculos afetivos, se mostrava capaz de sanar a falta de cuidados

maternos e minimizar ou mesmo anular os efeitos negativos que já

tivessem sido desencadeados e estivessem inscritos no organismo

biopsíquico desses bebês e dessas crianças.

Mais ainda, determinadas condições e recursos pessoais dos cuidadores

e atendentes conseguiam praticamente o mesmo efeito em crianças

maiores, adolescentes e jovens.

Essa condição foi denominada de “MATERNAGEM SUBSTITUTIVA”.

AO LADO DA INVESTIGAÇÃO NA ÁREA PSÍQUICA, ATRAVÉS DO TRABALHO

PSICANALÍTICO, NÓS NOS DEDICÁVAMOS À INVESTIGAÇÃO NO CAMPO DAS

NEUROCIÊNCIAS E DE OUTRAS ÁREAS DO CONHECIMENTO, NUMA ABORDAGEM

TRANSDISCIPLINAR.

Nossos estudos neurocientíficos na vertente evolutiva nos mostraram

evidências que nos levaram a firmar o ponto de vista de que a gravidez

humana ocorre em duas etapas: a primeira, intrauterina, desde a concepção

até os 9 meses, e a segunda, após o nascimento até os 9 meses ou 1 ano de

idade.

FIM DA PRIMEIRA FASE DA GRAVIDEZ

25

II

CEINP

27

CEINP

28

ESTÍMULOS POSITIVOS

(COMIDA, ÁGUA, CALOR

SEXO, CONTATO SOCIAL)

ES

PE

RA

NÇ

AP

RO

CU

RA

DOR E AMEAÇA DE DESTRUIÇÃO

ALARME MEDO

PERDASOCIALPÂNICO LUTO

RA

IVA

AN

GÚ

ST

IA

IRRITAÇÃO DA SUPERFÍCIE DO CORPO RESTRIÇÃO

E FRUSTRAÇÃO

CEINP

Nos momentos precoces da vida do ser humano, no período intra uterino e

logo após o nascimento até a aproximadamente os 2 anos, não existe no

cérebro humano ainda, estruturas que depois vão emergindo com o

desenvolvimento biológico, capazes de gravar os acontecimentos sob a

forma de memórias chamadas declarativas, que podem ser lembradas,

evocadas, tornando-se conscientes.

Neste período que Freud chamou de período da “amnésia infantil”, as

memórias são registradas dentro de uma modalidade chamada de memoria

procedural( de procedimento), espalhadas pelos tecidos do sistema

nervoso, sem se em órgão específico, como na oura modalidade de memória

chamada declarativa, que fica armazenada no hipocampo, na base do

cérebro humano.

Registros básicos de memória- confiança, esperança, desperança, auto-

estima, imoulsividade,traução, perseguição, inveja, cobiça, competição,

impulsividade, agressividade, violência, ataques, defesa violenta, apatia,

Radicalismos, ideologismo, voracidade, muquira,

Estas memórias procedurais, que não se tornam conscientes, não podem

ser evocadas, e nem lembradas. No entanto, elas se manifestam nos nossos

comportamentos, nas nossas formas de funcionamento orgânico, na forma

como o corpo responde ou reage às situações, através de postura gestos,

automatismos.

Eu chamei de Registros Básicos de funcionamento biopsiquico, que no geral

não utilizam as vias da representação para se manifestar. Tais são as

manifestações com que as crianças, adolescentes e depois os adultos se

manifestam nas mais diversas situações, principalmente de adaptação ao

meio, como confiança, esperança, desesperança, auto-estima,

impulsividade, traição, perseguição, inveja, cobiça, competição,

impulsividade, agressividade, violência, ataques, defesa, apatia,

DA FAMÍLIA ORIGINAL RECUPERADA OU FAMILIA SUBSTITUTIVA AO

TRABALHO DESENVOLVIMENTO BIOPSICOSOCIAL E TRANSCEDENTAL DE

CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE RISCO E VULNERABILIDADE.

Estes conhecimentos emergiram em nossos estudos, investigações e no

trabalho em situações restritas, de acompanhamentos individuais, familiares,

grupais, e em comunidades restritas, em que os numerários econômicos

financeiros eram pequenos e eram arcados pelos próprios autores do trabalho

mobilizados pelas suas motivações pessoais.

Chamava-nos a atenção há muito tempo:

1- a questão da ineficácia da maioria dos trabalhos sociais, em todos os níveis

e em todo o mundo. Entre nós, e em outros países em que tanto às custas de

investimentos locais, pessoais, como de organizações internacionais voltados à

ação benemérita de procurar eliminar a miséria humana, em todas as suas

manifestações, bem como as desigualdades sociais, resultavam em fracasso

total, ou em resultados pífios quando se considera as quantias investidas e os

esforços e sacrifícios realizados por pessoas dedicadas;

2- Realização de trabalhos atendimentos a crianças, adolescentes sem levar

em conta estes conhecimentos fundamentais, sem os quais não seria possível

o desenvolvimento integrado da criança e adolescente, em todos seus

aspectos que o fazem humano.

Chamava-nos atenção o fato de que os Projetos Sociais, mesmo aqueles que

buscavam dar condições auto sustentabilidade, funcionavam enquanto a

instituição estava presente, com as pessoas atendidas comportando segundo o

objetivo buscado. Quando cessava a ação das instituições e elas se afastava,

deixando os atendidos à sua própria força, as pessoas atendidas voltavam em

pouco tenho a funcionar como antes de serem trabalhados.

Observava –se que as instituições não se focavam em ações socioeducativas que

pudessem levar a mudanças biopsiquicas, ou por ignorância ou por não dispor

de conhecimento e recursos sobre como promove-las.

A concepção e atuação se fazia de forma fragmentada, não se trabalhando o

todo o todo do indivíduo. Assim, trabalhavam-se crianças dando-lhes somente

conhecimentos e habilidades, mas não se cuidava concomitantemente do

educando dentro da dinâmica de suas famílias,

Por que foi possível a realização do trabalho em escala ampliado?

Sinteticamente qual era o problema desencadeador d e todo o Projeto

Social?

Qual era o Método Sócio Educativo para desencadear o processo de

Desenvolvimento Biopsicosocioespiritual do indivíduo em permanente

transformação integrada, construtiva e adaptativa.

Personagem central e principal: crianças pedintes e malabaristas nos

semáforos avenidas e ruas principais do bairro de Itaim Bibi.

Coadjuvante principal integrado ao personagem principal: sua família.

Outros atores: -famílias do entorno (vizinhança)

-Instituições do bairro, com quem a Instituto R estabeleceu relações de

parcerias em rede para suprir os elementos necessários para atender as

necessidades básicas e outras, das crianças e suas famílias dentro dos

objetivos do desenvolvimento.

-A comunidade local como um todo;

-A comunidade maior, dentro do qual se insere a comunidade local e os

atores do projeto, com seus elementos e dinâmica, que foram afetados

pela ação do projeto e pelos trabalhos específicos do Instituto R, visando a

conscientização pelo contato e vivência integrada dos problemas e razões

que levam a existência destas situações e a existência destes redutos de

marginalização em seu seio.

De forma sintética, as crianças foram cuidadas dentro do processo de

desenvolvimento, as famílias, que na maioria se encontravam em estado de

desagregação, foram trabalhadas para se estruturarem, criando ou recuperando uma

condição perdida, que possibilitasse, dar suporte biopsicosociológico para as crianças.

Outros detalhes de aspectos que compõem o todo do projeto, que se integram às

questões que faz girar a roda da dinâmica da criança e sua família, deixam de ser

tratadas porque fogem ao escopo do tema em foco.

As famílias, bem como as crianças e outros membros que necessitavam de uma

acompanhamento mais específico, medico-psiquiatrico e psicológico eram atendidas,

dentro do projeto de buscar a construção de crianças e famílias suficientemente

estruturadas, para fazer face aos desafios da sobrevivência e das exigências de

desenvolvimento evolutivo.

A presença e a relação com os responsáveis legais, conselhos e juizado de proteção à

criança e adolescente, à pessoa, e à família estavam presentes numa parceria em

rede para poder-se trabalhar de forma integrada.

O conselho tutelar, o Juizado da Criança e Adolescência, era buscado como

parceira para pensar as situações e encontrar as melhores soluções para as

situações de desagregação familiar, e de risco eminente as crianças e

adolescentes em suas condições abrindo-se para uma vulnerabilidade, em

face da negligência, abandono, situações decorrentes de violências e

traumas.

Depois de esgotadas as tentativas de recuperação, fortalecimento das

famílias de origem, junto com as crianças e adolescentes em risco, (quando a

família existia) acompanhavamos os trabalhos das instancias jurídicas nos

seus encaminhamentos.

Todas as experiências em que tivemos situações de crianças e adolescentes em

risco, nos proporcionaram conhecimentos e percepções que apesar de

ocorrerem em condições especificas para cada caso, fortaleceram as ideias

que já vinhamos formulando em função de experiências anteriores.

Sintetizando, indubitavelmente a institucionalização é uma medida de

exceção, depois de esgotadas todas as possibilidades de proporcionar à criança

uma vivência dentro de uma família, que o acolhe, para proporcionar uma

vivência que ele nunca teve. Os malefícios da institucionalização são demais

conhecidos, o que nos permite não retomarmos aqui.

Creio que é também conhecido o fato de que muitas famílias buscam

credenciar-se para se trnarem famílias acolhedoras, motivadas inicamente

pelos ganhos, não tendo nenhuma outra motivação para se comprometer com

os objetivos do acolhimento, que se assemelha a uma adoção temporária.

Os critérios de seleção necessitam que levem em conta o compromisso das pessoas

que compõem a família, com os objetivos da ação estão se propondo realizar.

Devem os participantes da família, terem disponibilidade para aprender, e ir além

do que naturalmente os pessoas de modo geral dão por conhecido, um trabalho de

acolhimento.

Um dos aspectos surpreendentes para os participantes do treinamento dos membros

de famílias, buscando habilitação para se transformarem em familiais acolhedores,

foi o fato relacionado com o universo de referencias diferentes que as crianças e

adolescentes certamente trazem nas relações com a família, no contato com as

experiências no ambiente familiar. Foi sempre uma surpresa para os membros das

famílias o fato de que as pessoas assistidas não conheciam a experiência de

acolhimento, e como tal não podiam no início usufruir,

Os membros das famílias se surpreendiam com o fato de que eles necessitava de um

bom tempo de contato e vivencia compartilhada, junto com disposição para utilizar

a percepção, para conhecer, saber sobre a natureza do acolhido.

O acompanhamento das famílias no trabalho de acolhimento às crianças e

adolescente, foram nos mostrando, a importância de se trabalhar a família

como um todo, nas suas relações, e na dinâmica destas relações, levando os

membros a auto percepção e percepção do outro e da situação está ocorrendo.

Com isto criavam-se as condições de perceber a criança ou adolescente que

estão acolhendo, identificando-lhes as consequências das faltas e das

negligencias, e com condição de compreender a formas como reagem as

situações em função dos registros de memória que têm de experiências

precoces.

Para trabalhar com as famílias e a crianças no projeto de desenvolvimento no

Instituto R, os educadores sociais foram preparados e treinados. Para realizar

trabalho de acolhimento, como família substitutiva, que se coloca no lugar da

família original, necessitamos prepara-las, capacitando-as. Isto demanda

trabalho específico.

E para finalizar, necessitamos capacitar estas famílias para que elas possam

dialogar com as entidades jurídicas, que tutelam e zelam pela integridade das

crianças e adolescentes, para que afinem numa parceria produtiva, e

colaboração mútua.