CUIDADOS INERENTES A AMBIÊNCIA ARQUIVÍSTICA E SEGURANÇA VINCULADA ÀS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELO ARQUIVISTA

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  • Tema 4: Gesto, sade e segurana em arquivos

    CUIDADOS INERENTES A AMBINCIA ARQUIVSTICA E SEGURANA

    VINCULADA S ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELO ARQUIVISTA E

    SEUS AUXILIARES1

    Daniel Beltran Motta*

    1 INTRODUO

    Apesar do grande avano das tecnologias e do grande crescimento dos acervos

    eletrnicos, muitos de nossos registros arquivsticos ainda permanecem e permanecero

    por um bom tempo em mdia papel.

    No ambiente escolar no diferente. Apesar dos diversos sistemas de

    informao, de bases de dados e demais sistemas de suporte a gesto escolar, ainda

    produzimos muitos documentos em papel.

    Para que todos convivam de maneira segura e saudvel num ambiente onde

    exista acervo, alguns aspectos devem ser observados.

    muito importante entender que eventuais maneiras inadequadas de

    armazenagem e acondicionamento de documentos de arquivo podem no ser nocivos

    somente a conservao destes materiais, mas podem eventualmente trazer riscos a sade

    e segurana de todos em uma instituio de ensino.

    Falaremos neste trabalho a respeito de instalaes apropriadas para local de

    acervos e de equipamentos de uso individual para uma maior proteo das pessoas que

    trabalham com acervos. Nosso objetivo chamar ateno para alguns aspectos que

    possam garantir uma boa conservao dos registros documentais produzidos e

    acumulados por uma instituio de ensino, mantendo o ambiente saudvel e seguro.

    2 INSTALAES APROPRIADAS PARA ACERVO

    Quando falamos sobre instalaes, estamos focando em ambientes puramente de

    acondicionamento de acervos. Refiro-me a nossos arquivos intermedirios ou

    permanentes, que em geral acumulam maior quantidade de documentos e por isso

    necessitam de ateno especial em suas instalaes.

    1 Texto referente participao em mesa redonda no II EAEEP, Joo Pessoa, 2010. * Arquivista da Eletrobras. Presidente do Sindicato Nacional dos Arquivistas (SINARQUIVO). E-mail:

    [email protected]

  • O que se leva em conta quando se discute a instalao de um depsito de arquivo

    compreendem normas de segurana, com as quais se pretende salvaguardar o

    patrimnio arquivstico, a integridade do espao onde se encontra instalado, bem como

    a sade e segurana das pessoas que freqentam o arquivo.

    O piso deve ser prioritariamente revestido de material lavvel e no inflamvel,

    como cermica ou azulejos termoplsticos. O piso, caso no seja trreo, merece uma

    ateno especial. Em geral, prdios so construdos para abrigar escritrios, pessoas e

    mobilirio. Estes pisos normalmente no esto preparados para abrigarem acervos, que

    necessitam em mdia capacidade para suportar algo como 1200kg/m2.

    A janelas no devem ocupar mais do que 10% da rea de parede, para que o

    calor externo e a iluminao do sol atinja o acervo. No devem ser fechadas de maneira

    definitiva, possibilitando abertura para garantir um mnimo de ventilao e arejamento.

    As paredes devem ser preferencialmente de cor clara e revestidas de material

    lavvel. Esta caracterstica permite a identificao de eventuais culturas de fungos,

    presena de insetos, como traas e brocas e garante maior controle quanto a limpeza.

    Tambm recomendvel a presena de purificadores de ar.

    As salas de armazenagem de acervo no devem estar prximas a rea com

    grande circulao de gua, como banheiros e cozinhas, pois um rompimento ou

    infiltrao destas tubulaes pode afetar de maneira definitiva os acervos.

    A prioridade pela iluminao fria (lmpadas fluorescentes no lugar das

    incandescentes), pois o calor emanado das lmpadas quentes funciona como catalisador

    do processo de degradao do papel. Porm as lmpadas fluorescentes emitem maior

    quantidade de lux, cuja exposio constante promovem amarelecimento do papel, em

    razo da sua oxidao. Desta forma, o ideal a utilizao de lmpadas fluorescentes

    com filtros de UV. O acervo deve ser totalmente protegido da luz do sol.

    3 EQUIPAMENTOS DE PROTEO INDIVIDUAL PARA ARQUIVISTAS

    Diversos fatores de risco podem afetar a sade dos profissionais de bibliotecas,

    centros de documentao, arquivos, no desenvolvimento de suas tarefas dirias,

    agredindo-o de diferentes modos, de maneiras sutis.

    Geralmente estes profissionais que atuam diretamente com documentos no

    utilizam os Equipamentos de Proteo Individual (EPIs), que os protegem da

    contaminao por agentes nocivos sade, como poeira, fungos e mofo. A

    contaminao pode acarretar manifestaes alrgicas como, dermatites, rinites, irritao

    ocular e problemas respiratrios.

    Ainda h situaes em que acabam enfrentando condies desfavorveis em seu

    ambiente de trabalho, expondo-se ao risco de contrair doenas ou sofrer leses, muitas

    vezes por falta de conhecimento ou informaes, j que os "inimigos" nem sempre so

    visveis a olho nu. Tomando como base o fato de que passamos, em mdia, pelo menos

    um tero de sua vida adulta no local de trabalho, algo que no pode ser ignorado.

  • A sade do funcionrio imprescindvel para a instituio e ela pode ser

    preservada com o uso correto dos equipamentos de proteo.

    O uso dos Equipamentos de Proteo Individual (EPIs) que tm o seu uso

    regularizado pela Norma Regulamentadora n 6 (NR 6) e esta define EPIs como todo dispositivo ou produto, de uso individual, utilizado pelo trabalhador, destinado

    proteo de riscos suscetveis de ameaar a segurana e a sade no trabalho".

    Para o arquivista que atua com arquivos correntes, num ambiente de pouca

    acumulao de documentos, nenhuma grande medida necessita ser tomada com relao

    a sua segurana, exceto as medidas que j so tomadas para este fim para todos os

    demais trabalhadores que atuam no ambiente.

    J para o profissional que atua em Arquivos Centrais, um conjunto de

    equipamentos de proteo individual deve ser considerado justamente por uma maior

    exposio a acervos acumulados e seus potenciais riscos.

    Basicamente, costuma-se utilizar luvas cirrgicas e mscaras de pano, que

    servem como filtro para poeira. Dependendo do grau de contaminao por fungos, mofo

    e outros agentes biolgicos, recomenda-se adicionar o uso de culos, touca, guarda-p

    (ou jaleco) e at mesmo botas ou outro calado fechado.

    Esta diferenciao decorre do fato de que em ambientes bastante contaminados

    todo o risco est presente no ar e no somente na superfcie dos documentos que

    estamos manipulando.

    4 INSALUBRIDADE

    Muitos arquivistas tem curiosidade e afirmam que teriam direito a insalubridade,

    pelo simples fato de serem arquivistas. Vamos verificar algumas informaes a respeito

    desta demanda recorrente.

    A Constituio Federal assegura aos trabalhadores urbanos e rurais, dentre

    outros, o adicional de remunerao para as atividades penosas, insalubres ou perigosas,

    na forma da lei. (Art 7, XXIII).

    O artigo 189 da CLT prescreve:

    Sero consideradas atividades ou operaes insalubres aquelas que, por sua

    natureza, condies ou mtodos de trabalho, exponham os empregados a

    agentes nocivos sade, acima dos limites de tolerncia fixados em razo da

    natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposio aos seus efeitos.

    Sendo assim no h e nem pode haver qualquer lei, que enquadre categoria de

    trabalhador, seja qual for, como trabalhando em insalubridade ou condies insalubres.

    Apenas laudo tcnico pode atestar isto. No pelo fato de uma pessoa ser

    mdica ou enfermeira que ter direito a insalubridade. E sim se laudo tcnico comprovar

    que o risco de contrair doenas por exposio a agentes bacteriolgicos elevado.

    No caso pessoas que atuem com arquivos, salvo arquivos antigos ou em ms

    condies, que possam ter agentes como bactrias a causar doenas e desde que no

  • adotadas medidas de proteo eficazes, no vejo chance de fazer jus a insalubridade.

    Apenas laudo tcnico que determinar o direito ou no a adicional por insalubridade.

    5 CONSIDERAES FINAIS

    Como se pode observar, realizar uma correta manuteno e gesto dos acervos

    arquivsticos, tambm uma questo de sade. Os riscos sade provenientes da m

    gesto de acervos no so limitados aos arquivistas, muito menos aos que tem sua rea

    de atuao restrita aos depsitos de documentos.

    Papel um material orgnico com propenso a acmulo de poeira,

    desenvolvimento de fungos, atrao por insetos. Todos ns em algum momento

    precisamos de documentos, seja para cumprir obrigaes legais, seja para reunir

    informaes para tomar uma deciso ou informar a um cliente ou fornecedor.

    Alm, obviamente da necessidade de um bom programa de gesto documental, que

    estabelea diretrizes, regras, ferramentas para produo, classificao, tramitao, uso,

    arquivamento e destinao dos arquivos, faz-se necessrio que este documento esteja

    devidamente conservado, para que no haja risco sade de todos que necessitam dele.

    REFERNCIAS

    CASSARES, N. C. Como fazer conservao preventiva em arquivos e bibliotecas.

    So Paulo: Arquivo do Estado, 2000. 80 p.

    MEIO ambiente. Coord. Ingrid Beck; trad. de Elizabeth Larkin Nascimento [e]

    Francisco de Castro Azevedo. Rio de Janeiro: Projeto Conservao Preventiva em

    Bibliotecas e Arquivos: Arquivo Nacional, 1997. 36 p. (n. 14-17: meio ambiente).

    MINISTRIO DA SADE DO BRASIL. Doenas relacionadas ao trabalho: manual de

    procedimentos para servios de sade. Braslia: Ministrio da Sade do Brasil, 2001. p.

    17-48.

    NORMA REGULAMENTADORA n6 (NR6) Equipamentos de Proteo Individual -

    PIs, Ministrio do Trabalho e Emprego. Disponvel em: .

    PALETTA, Ftima Aparecida Colombo; PENILHA, Dbora Ferrazoli; YAMASHITA,

    Marina Mayumi. Equipamentos de proteo individual (EPIs) para profissionais de

    bibliotecas, centros de documentao e arquivos. Revista Digital de Biblioteconomia e

    Cincia da Informao, Campinas, v. 2, n.2, p. 67-79, 2005.