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Mc 10,2-16 ABRIR OS OLHOS PARA VER No texto de hoje, Jesus continua dando conselhos sobre o relacionamento entre homem e mulher, e sobre o relacionamento com as mães e as crianças. Naquele tempo, no relacionamento entre homem e mulher, havia muito machismo. Com os pequenos e excluídos Jesus pede o máximo de acolhimento. No relacionamento homem-mulher ele pede o máximo de igualdade. Com as crianças e suas mães, o máximo de ternura. Vamos conversar sobre isso. COMENTANDO Marcos 10,2: A pergunta dos fariseus: "o marido pode mandar a mulher embora?" A pergunta é maliciosa. Ela pretende colocar Jesus à prova: "É lícito a um marido repudiar sua mulher?" Sinal de que Jesus tinha uma opinião diferente, pois do contrário os fariseus não iriam interrogá-lo sobre este assunto. Não perguntaram se é lícito a esposa repudiar o marido. Isto nem passava pela cabeça deles. Sinal claro da forte dominação masculina e da marginalização da mulher. Marcos 10,3-9: A resposta de Jesus: o homem não pode repudiar a mulher Em vez de responder, Jesus pergunta: "O que diz a lei de Moisés?" A lei permitia ao homem escrever uma carta de divórcio e repudiar sua mulher. Esta permissão revela o machismo. O homem podia repudiar a mulher, mas a mulher não tinha este mesmo direito. Jesus explica que Moisés agiu assim por causa da dureza de coração do povo, mas a intenção de Deus era

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Mc 10,2-16  

ABRIR OS OLHOS PARA VER 

No texto de hoje, Jesus continua dando conselhos sobre o relacionamento entre homem e mulher, e sobre o relacionamento com as mães e as crianças. Naquele tempo, no relacionamento entre homem e mulher, havia muito machismo. Com os pequenos e excluídos Jesus pede o máximo de acolhimento. No relacionamento homem-mulher ele pede o máximo de igualdade. Com as crianças e suas mães, o máximo de ternura. Vamos conversar sobre isso. 

COMENTANDO

Marcos 10,2: A pergunta dos fariseus: "o marido pode mandar a mulher embora?"A pergunta é maliciosa. Ela pretende colocar Jesus à prova: "É lícito a um marido repudiar sua mulher?" Sinal de que Jesus tinha uma opinião diferente, pois do contrário os fariseus não iriam interrogá-lo sobre este assunto. Não perguntaram se é lícito a esposa repudiar o marido. Isto nem passava pela cabeça deles. Sinal claro da forte dominação masculina e da marginalização da mulher.

Marcos 10,3-9: A resposta de Jesus: o homem não pode repudiar a mulherEm vez de responder, Jesus pergunta: "O que diz a lei de Moisés?" A lei permitia ao homem escrever uma carta de divórcio e repudiar sua mulher. Esta permissão revela o machismo. O homem podia repudiar a mulher, mas a mulher não tinha este mesmo direito. Jesus explica que Moisés agiu assim por causa da dureza de coração do povo, mas a intenção de Deus era outra quando criou o ser humano. Jesus volta ao projeto do Criador e nega ao homem o direito de repudiar sua mulher. Tira o privilégio do homem frente à mulher e pede o máximo de igualdade.

Marcos 10,10-12: Igualdade de homem e mulherEm casa, os discípulos fazem perguntas sobre este assunto. Jesus tira as conclusões e reafirma a igualdade de direitos e deveres entre homem e mulher. Ele propõe um novo tipo de relacionamento entre os dois. Não permite o casamento em que o homem pode mandar a mulher embora, nem vice-versa.

O evangelho de Mateus (cf. Mt 19,10-12) acrescenta uma pergunta dos

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discípulos sobre este assunto. Eles dizem: "Se a gente não pode dar uma carta de divórcio, é melhor não casar". Preferem não casar do que casar sem o privilégio de poder continuar mandando na mulher. Jesus vai até o fundo da questão. Há somente três casos em que ele permite a uma pessoa não casar: (1) impotência, (2) castração e (3) por causa do Reino. Não casar só porque o fulano se recusa a perder o domínio sobre a mulher, isto a Nova Lei do Amor já não o permite! Tanto o casamento como o celibato, ambos devem estar a serviço do Reino e não a serviço de interesses egoístas. Nenhum dos dois pode ser motivo para manter o domínio machista do homem sobre a mulher.

Marcos 10,13-16: Receber o Reino como uma criançaTrouxeram crianças para que Jesus as tocasse. Os discípulos tentaram impedir. Por que impediram? O texto não diz. Os discípulos não gostam de gente sem importância perto de Jesus. Além disso, conforme as normas rituais da época, crianças pequenas com suas mães viviam quase constantemente na impureza legal. Tocando nelas, Jesus ficaria impuro! Mas a reação de Jesus ensina o contrário. Ele diz: "Quem não receber o Reino como uma criança não vai poder entrar nele!" O que significa essa frase? 1) A criança recebe tudo dos pais. Ela não consegue merecer o que recebe, mas vive no amor gratuito. 2) Os pais recebem a criança como um dom de Deus e cuidam dela com todo o carinho. A preocupação dos pais não é dominar a criança, mas sim amá-la e educá-la para que cresça e se realize!

ACOLHER OS PEQUENOSOs discípulos, de ontem e de hoje, pretendem levantar um muro em torno de Jesus. Atribuem-se o poder de decidir quem pode chegar até Jesus e quem não pode. Interpõem-se entre Ele e os mais pequenos, frágeis e necessitados daquela sociedade. Em vez de facilitar o seu acesso a Jesus, obstaculizam-no.Esqueceram-se já do gesto de Jesus que, uns dias antes, colocou no centro do grupo uma criança para que aprendam bem que são os pequenos os que hão de ser o centro de atenção e cuidado dos Seus discípulos. Esqueceram-se de como o abraçou diante de todos, convidando-os a acolher em Seu nome e com o Seu mesmo carinho.Jesus indigna-se. Aquele comportamento dos Seus discípulos é intolerável. Aborrecido, dá-lhes duas ordens: «Deixai que as crianças se aproximem de Mim. Não o impeçam». Quem os ensinou a actuar de uma forma tão contrária ao Seu Espírito? São, precisamente, os pequenos, débeis e indefesos, os primeiros que hão de ter aberto o acesso a Jesus.A razão é muito profunda pois obedece aos desígnios do Pai: «Dos que são como eles é o reino de Deus». No reino de Deus e no grupo

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de Jesus, os que incomodam não são os pequenos, mas os grandes e poderosos, os que querem dominar e ser os primeiros.O centro da Sua comunidade não tem de estar ocupado por pessoas fortes e poderosas que se impõem aos outros desde cima. Na Sua comunidade necessitam-se homens e mulheres que procuram o último lugar para acolher, servir, abraçar e bendizer os mais débeis e necessitados.O reino de Deus não se difunde com a imposição dos grandes mas desde o acolher e defender os pequenos. Onde estes se convertem no centro da atenção e cuidado, aí está chegando o reino de Deus, a sociedade humana que quer o Pai.

Não se trata do divórcio moderno que conhecemos hoje, mas da situação em que vivia a mulher judia dentro do matrimónio, controlado pelo homem. Segundo a lei de Moisés, o marido podia quebrar o contrato matrimonial e expulsar de casa a sua esposa. A mulher, pelo contrário, submetida em tudo ao homem, não podia fazer o mesmo.A resposta de Jesus surpreende a todos. Não entra nas discussões dos rabinos. Convida a descobrir o projeto original de Deus, que está por cima das leis e normas. Esta lei "machista", em concreto, foi imposta ao povo judeu pela "dureza de coração" dos homens que controlam as mulheres e as submetem à sua vontade.Jesus aprofunda o mistério original do ser humano. Deus "criou homem e mulher". Os dois foram criados em igualdade. Deus não criou o homem com poder sobre a mulher. Não criou a mulher submetida ao homem. Entre homens e mulheres não deve haver dominação por parte de ninguém.Desde esta estrutura original do ser humano, Jesus oferece uma visão do matrimónio que via mais para lá de tudo o estabelecido pela "dureza de coração" dos homens. Mulheres e homens uniram-se para "ser uma só carne" e iniciar uma vida partilhada na mútua entrega sem imposição nem submissão.Este projeto matrimonial é para Jesus a suprema expressão do amor humano. O homem não tem direito algum de controlar a mulher como se fosse dono. A mulher não aceitou viver submetida ao homem. É Deus mesmo quem os atrai a viver unidos por um amor livre e gratuito. Jesus conclui de forma rotunda: "O que Deus uniu que não o separe o homem".Com esta posição, Jesus destrói na raiz o fundamento do sistema patriarcal sob todas as suas formas de controlo, submissão e imposição do homem sobre a mulher. Não só no matrimónio mas em qualquer instituição civil ou religiosa.Temos de escutar a mensagem de Jesus. Não é possível abrir caminhos para o reino de Deus e da Sua justiça sem lutar ativamente

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contra o sistema patriarcal. Quando iremos reagir na Igreja com energia evangélica contra tanto abuso, violência e agressão do homem sobre a mulher? Quando iremos defender a mulher da "dureza de coração" dos homens?

Hoje, o evangelho de Marcos fala de exclusão, desta vez, nas relações humanas, através da família, do casal, das crianças e, mais uma vez, Cristo se coloca na defesa dos excluídos... 

  

1. Primeira exclusão: homem/mulher. “Perguntaram-lhe se a Lei permitia um homem se divorciar da sua mulher” (Mc 10,2). Fazer a pergunta dessa forma é já demonstrar a injustiça e a desigualdade entre o homem e a mulher, porque só o homem podia se divorciar da mulher. Na sociedade judaica do século I, o marido tinha todos os direitos sobre a mulher, de maneira que ele podia se divorciar em qualquer momento e por qualquer motivo. E ainda divorciada, a mulher continuava sendo propriedade do homem que tinha sido seu marido. O homem, por sua vez, podia voltar a casar, mas a mulher não. A lei de Moisés permitia essa injustiça; o homem só tinha que escrever a certidão de divórcio (Mc 10,4).

Como interpretar a resposta de Jesus? “Foi por causa da dureza do coração de vocês que Moisés escreveu esse mandamento. Mas, desde o início da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe, e os dois serão uma só carne. Portanto, eles já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não deve separar” (Mc 10,5-9). A Igreja utiliza este texto evangélico para dizer que o matrimônio é indissolúvel. É, sem dúvida, um ideal proposto por Cristo, e mais: se o Cristo do evangelho de Marcos se opõe à lei de Moisés sobre o divórcio é, primeiro e antes de tudo, para devolver à mulher toda a sua dignidade: “Desde o início da criação, Deus os fez homem e mulher” (Mc 10,6). Isso supõe a igualdade, a mesma dignidade, a complementaridade do ser humano que é homem e mulher. autor do Gênese descreve a criação da mulher, não como os animais que são formados com o barro do solo, mas com a carne do homem tirada da sua costela (côte), daí a expressão: cara a cara (côte-à-côte), que significa a igualdade e a complementaridade. Não é o homem que decide: ele dorme (Ge 2,21). É Deus mesmo que preside fazendo do homem um ser de relação, criando, a partir dele mesmo, um outro, diferente dele, mas que lhe faz existir como ser humano. O

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homem e a mulher são iguais e, juntos, se tornam um só (Ge 2,24).

Então, o que devemos nos perguntar e que os primeiros cristãos se perguntaram é o que os primeiros cristãos se perguntaram e o que o Cristo do evangelho de Marcos, por sua vez, pergunta aos fariseus: Por que Moisés permitiu a um marido se divorciar da sua mulher? Quem deu ao homem esse poder de dominação sobre a mulher? Parece-me que é por essa razão que o Cristo do evangelho de Marcos se opõe à lei do divórcio: é para devolver às mulheres a sua dignidade e a sua igualdade na obra da criação. Não pode haver nenhuma superioridade do homem sobre a mulher. O ser humano foi criado homem e mulher. Se se faz à mulher inferior ao homem, separa-se o que Deus uniu porque nessa unidade há igualdade e complementaridade.

Por outro lado, no contexto da igualdade entre homem e mulher, onde não há superioridade nem inferioridade, será que o divórcio é possível quando não há amor no casal? Eu penso que o evangelho não responde a esta questão explicitamente: se o Amor de Deus se exprime na união do homem e da mulher, não havendo amor, haverá verdadeiro casamento? Será uma união querida por Deus?

Podemos condenar, como faz a grande maioria das Igrejas, e excluir todas aquelas e aqueles que não conseguiram viver esse projeto. Por outro lado, se a Bíblia é cultural, parece-me que a Palavra de Deus que deve se ler e se escrever, hoje, tem que estar e dar conta das nossas realidades. Se não for assim não seria mais do que uma palavra repetida do passado, e que desconsidera as mulheres e os homens de hoje. Quando 50% dos matrimônios terminam em fracasso, não podemos ficar indiferentes a esta realidade contemporânea e fazer como se não existisse o problema. O amor é essencial no matrimônio; se não há amor será que ainda há matrimônio? Fica a pergunta.

É evidente que devemos nos alegrar quando os casais conseguem ter amor, fidelidade e durabilidade no matrimônio. Mas, em relação aos outros, toda atitude de julgamento, de rejeição, de condenação ou de exclusão é contrária ao evangelho. É preciso que aqueles e aquelas que fracassam não se sintam nunca rejeitados e condenados/as por ninguém, nem mesmo por Deus cujo Amor é o maior que as nossas misérias. É por isso que,

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como Igreja, devemos demonstrar o perdão, a misericórdia e a compaixão com os casais quebrados e as famílias reconstituídas.

2. Segunda exclusão: as crianças.  “Vendo isso, Jesus ficou zangado e disse: ‘Deixem as crianças vir a mim. Não lhes proíbam, porque o Reino de Deus pertence a elas’” (Mc 10,14). As crianças, então, foram colocadas como modelo para os adultos, não por causa da sua doçura e da sua inocência, mas exatamente por causa da sua pobreza, da sua dependência em relação aos adultos que têm a responsabilidade sobre elas. Como as mulheres e os doentes, as crianças eram excluídas na sociedade judaica do século I. Tocando-as e impondo-lhes as mãos (Mc 10,16), Cristo lhes dá a sua dignidade e lhes concede um lugar no Reino de Deus.

3. Terceira exclusão: hoje. Não é no evangelho de Marcos, mas se eu continuo a reflexão sobre exclusão, se eu atualizo a Palavra de Deus hoje, precisamos reconhecer outras formas de exclusão em nossa Igreja. Se Cristo se colocou na defesa dos pequenos, dos pobres, dos marginalizados e dos excluídos, o que ele quer nos dizer hoje sobre as novas realidades vividas nas nossas sociedades contemporâneas? A família monoparental? O casal reconstituído? O casamento gay? A pergunta a se fazer para sermos fiéis ao evangelho é a seguinte: Essas novas realidades podem expressar o Amor de Deus pela humanidade? Deus pode unir dois homens ou duas mulheres que se amem verdadeiramente? A complementaridade é somente biológica? Pode ser psíquica e social? Deus se reconhece num casal divorciado e casado de novo? Como cristãos, como Igreja, nós devemos responder a essas perguntas com a mesma atitude que teve o Cristo do evangelho de Marcos.

O teólogo francês Gérard Bessière escreve: “Cada época tem seus problemas e seus ajustes jurídicos. Jesus não quer falar como homem da Lei. Ele rejeita essa questão machista. Ele volatiliza a armadilha das casuísticas mostrando a direção do amor humano nascido do Amor de Deus. Não temos que deduzi-lo a proibições, regras, nem a um código! O olhar de Jesus vem do alto e vai mais longe. Ele nos volta a falar do belo objetivo que esclarece o encontro respeitoso e amante dos homens e das mulheres de todos os tempos”. E terminaria simplesmente com esta frase da carta aos Hebreus que temos na segunda leitura de hoje, e que expressa bem a dignidade de todos os seres humanos, discípulos de Cristo: “Pois, tanto aquele que santifica,

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como aqueles que são santificados, todos têm a mesma origem. Por isso, ele não se envergonha de chamá-los irmãos” (Hb 2,11).

Durante a caminhada d’Ele rumo a Jerusalém, onde o poder central religioso-político vai condená-Lo à morte, no intuito de acabar não somente com a pessoa d’Ele, mas com o seu projeto, Jesus, no texto de hoje, entra primeiro em controvérsia com os fariseus, os guardiães da prática fiel da Lei. Esses, que gozavam de muito prestígio diante da população mais simples, se outorgavam o direito de serem os únicos intérpretes autênticos da vontade de Deus, através da sua interpretação da Lei. Por isso entram em conflito com Jesus, não na busca de conhecer melhor a vontade do Pai, mas, como ressalta o texto “para tentá-lo” (v. 2). O campo de batalha escolhido era o debate sobre o divórcio. O texto de referência para eles era Dt 24, 1-4, onde não se trata da legitimidade do divórcio, mas, dos critérios para que possa acontecer.

O Evangelho de Mateus, no capítulo 19, deixa mais claro do que Marcos o sentido do debate (veja Mt 19, 1-9). O pano de fundo eram os critérios necessários para que um homem pudesse divorciar a sua mulher (nem se cogitava a mulher pudesse divorciar o marido, pois a mulher era considerada “objeto” que pertencia ao homem!). No tempo de Jesus havia duas tendências, simbolizadas pelas escolas rabínicas dos grandes fariseus Hillel e Shammai. Uma escola, mais laxista (Hillel), ensinava que se podia divorciar a mulher por qualquer motivo, mesmo dos mais banais. A escola mais rigorosa - do Shammai - só permitia o divórcio por motivos muito sérios. Por isso, em Mateus a pergunta se define melhor: “é permitido divorciar a mulher por qualquer motivo que seja?” (Mt 19, 4).

Em ambos os evangelhos, Jesus se recusa a entrar no debate de casuística que cercava a questão e se limitava a reafirmar o projeto do Pai para o casamento: “Portanto, o que Deus uniu o homem não deve separar”. Jesus reafirma com toda firmeza o ideal do casamento cristão - uma união permanente, baseada no amor, e fortalecida pela graça do sacramento. Seria inútil buscar nesse trecho uma teologia mais desenvolvida do casamento, muito menos orientações pastorais para os problemas práticos de casamentos malsucedidos, pois, isso não foi a intenção do autor. Marcos simplesmente reafirma o princípio de que “o que Deus uniu, o homem não deve separar”. Deixa em aberto a questão de quando é que Deus realmente uniu o casal! Será que, só porque passaram por uma cerimônia validamente celebrada na igreja, um casal

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é necessariamente unido por Deus? Os problemas reais são muito mais complexos, angustiantes e difíceis de serem solucionados.

O trecho continua com a questão das crianças. A questão aqui não é a criança como símbolo da inocência, mas de dependência. As crianças e os que se assemelham com elas vivem essa situação de dependência, de “sem-poder”. Quem quer entrar no Reino de Deus terá que ab-rogar-se de todo poder dominador, tornando-se como criança. Recusando-se a aceitar a situação em que a mulher era simples objeto de posse do homem e assim passível de ser divorciada, e propondo o fraco e dependente como modelo em uma sociedade que valorizava o prepotente, Jesus mostra que os valores do Reino de Deus estão na contramão dos valores da sociedade do seu tempo - e de hoje. Propõe uma igualdade de dignidade entre homem e mulher, uma fidelidade e compromisso permanentes, e a busca de uma vida de serviço e não de dominação! Realmente, uma proposta no contra fluxo da sociedade pós-moderna que nega o permanente, perpetua o machismo e admira o poderoso e dominador! O texto de hoje nos convida para que entremos “com Jesus na contramão” e para que criemos uma sociedade baseada em outros valores do que os que estão hoje em vigor, às vezes até no seio das próprias igrejas. Gênesis 2,18-24: E serão os dois uma só carne

Salmo 127: Que o Senhor os abençoe todos os dias de sua vida

Hebreus 2,9-11: O que consagra e os consagrados têm todos a mesma origem

Marcos 10,2-16: O que Deus uniu, não separe o homem.

2Chegaram os fariseus e perguntaram-lhe, para o pôr à prova, se era permitido ao homem repudiar sua mulher.3Ele respondeu-lhes: "Que vos ordenou Moisés?"4Eles responderam: "Moisés permitiu escrever carta de divórcio e despedir a mulher."5Continuou Jesus: "Foi devido à dureza do vosso coração que ele vos deu essa lei;6mas, no princípio da criação, Deus os fez homem e mulher.7Por isso, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher;8e os dois não serão senão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne.9Não separe, pois, o homem o que Deus uniu."10Em casa, os discípulos fizeram-lhe perguntas sobre o mesmo assunto.11E ele disse-lhes: "Quem repudia sua mulher e se casa com outra, comete adultério contra a primeira.12E se a mulher repudia o marido e se casa com outro, comete

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adultério."13Apresentaram-lhe então crianças para que as tocasse; mas os discípulos repreendiam os que as apresentavam.14Vendo-o, Jesus indignou-se e disse-lhes: "Deixai vir a mim os pequeninos e não os impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se lhes assemelham.15Em verdade vos digo: todo o que não receber o Reino de Deus com a mentalidade de uma criança, nele não entrará."16Em seguida, ele as abraçou e as abençoou, impondo-lhes as mãos.

Comentário

Na primeira leitura encontramos com o segundo relato da criação, centrado na criação do homem e da mulher, ambos formados de terra e alento divino. Os dois são formados par Deus e, portanto, deveriam ser iguais, apesar de sua diversidade. A relação perfeita entre os dois não é garantida nem escrita em seu sangue: é uma conquista da liberdade que eles devem construir. Um projeto de unidade que compromete a responsabilidade de cada um.

A carta aos Hebreus diz que a paixão e a morte de Jesus não são fins em si mesmos, mas somente um caminho para a ressurreição e a salvação plena. Os cristãos não podemos ficar contemplando o crucificado da sexta-feira santa, construindo nossa vida a partir da dor, do sofrimento e da morte. A mesma epístola diz que o próprio Jesus “nos dias de sua vida mortal apresentou, entre gritos e lágrimas, orações e súplicas, àquele que o podia salvar da morte”. Isto quer dizer que ele mesmo lutou por encontrar uma alternativa que não estava sujeita à sua vontade, mas a fazer a vontade do Pai. Está na hora de superar todo tipo de devoção que fica na contemplação dos sofrimentos e dores de Jesus e construir nossa vida cristã a partir da esperança que a ressurreição nos oferece.

No evangelho os fariseus colocam Jesus à prova perguntando-lhe o que pensa sobre o divórcio e se era licito repudiar a mulher. A resposta de Jesus é significativa quando caímos na conta de que, tanto no judaísmo quanto no mundo greco-romano, o repúdio era algo muito comum e estava regulado pela lei. Se Jesus respondia que não era lícito, estava contra a lei de Moisés. Por isso devolve-lhes a pergunta e lhes diz que a lei de Moisés é provisória e que agora se inauguram os tempos da plenitude dos que constituem uma via a partir de uma nova ordem social, na qual o homem e a mulher fazem parte da harmonia e do equilíbrio da criação. A novidade desta afirmação de Jesus saltava à vista. Ela desautorizava, não somente as opiniões dos mestres da lei que pensavam que a mulher podia ser repudiada, inclusive por uma coisa tão insignificante como deixar queimar a comida, ou também,

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relativizava a mês motivação da lei de Moisés. Além disso, jogava por terra as pretensões de superioridade dos fariseus que desprezavam a mulher como desprezavam as crianças, os pobres, os enfermos, o povo. Novamente, ao defender a mulher, Jesus colocava-se do lado dos rejeitados, dos marginalizados, dos sem direitos.

Porém, como os discípulos nisto compartilhavam as mesmas ideias dos fariseus, não entenderam e, já em casa, lhe perguntaram sobre o que acabara de afirmar. Jesus não explicou muito mais, simplesmente ampliou as consequências: “Quem repudia a sua mulher e se casa com outra, comete adultério contra a primeira, e o mesmo acontece com a mulher: se repudia seu marido e se casa com outro, comete adultério”.

O segundo episódio do evangelho de hoje nos apresenta um debate de Jesus com seus discípulos porque eles não permitem que as crianças se aproximem de Jesus para que ele as abençoe. Os discípulos pensavam que um verdadeiro mestre não devia se entreter com crianças porque perdia autoridade e credibilidade. Decididamente algo não era claro para eles. Não conseguiam assimilar as atitudes de Jesus nem os critérios do Reino. E Jesus chamou a atenção deles: sua paciência também tinha limites e ele não tolerava o desprezo para com os marginalizados. E lhes disse com muita energia: deixem que as crianças se aproximem. Com que direito os impediam, quando o Pai decidiu que seu reinado devia ser precisamente em favor delas? Não entendiam que no Reino de Deus as coisas são entendidas ao contrário do que as entende o mundo.

As crianças que não podem reclamar méritos, carecem de privilégios e não têm poder, são exemplo para os discípulos, porque estão desprovidos de qualquer ambição ou proteção egoísta e por isso podem acolher o reino de Deus como um dom gratuito. Daqueles que são como eles é o Reino de Deus, diz Jesus.

 

É necessário que nossa experiência cristã seja verdadeiramente uma realidade de acolhida e de amor para todos aqueles que são excluídos pelos sistemas injustos e desumanos quem imperam no mundo. Nossa tarefa fundamental é incluir a todos aqueles que a sociedade descartou porque não se ajustam ao modelo de ser humano proposto. Se nos reconhecemos como verdadeiros seguidores de Jesus, é necessário começar a trabalhar por uma humanidade que inclua os frágeis, débeis deste mundo, restituindo-lhes os direitos que lhe foram tirados.

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Oração

Deus de amor e de bondade, nos semeaste em cada coração as sementes do bem e da justiça; faze que nos despojemos de nossas tendências de domínio, voltemos ao teu projeto original e harmonia e de equilíbrio em nossa relação com os demais, na relação com homens e mulheres, e na relação com nossa mãe. Isto te pedimos, inspirados em Jesus, nosso irmão maior, transparência tua. Amém.

Una nota crítica:

Para este tema del evangelio, que centrará hoy la homilía de este domingo en muchas comunidades cristianas, el divorcio, la liturgia propone como primera lectura el relato de la creación del hombre y de la mujer, en el relato del Génesis, lógicamente. Por ser de la Biblia, por ser del Génesis, por ser del relato de la creación... todo pareciera dar a suponer que contiene en sí mismo el fundamento religioso último y máximo de la visión cristiana del matrimonio. Probablemente, en muchas homilías, el relato bíblico se constituirá en la única referencia, en la referencia totalizante y suprema, y se querrá sacar de ella el fundamento integral de la postura actual de la Iglesia sobre el matrimonio. ¿No será eso fundamentalismo?

Hoy ya sabemos que el relato de la «creación» no es un relato científico, de historia natural; más aún: no tiene nada que decir ante lo que la ciencia nos dice hoy sobre el origen de la Tierra, de la Vida, de nuestra especie humana o sobre nuestra sexualidad. El relato no es histórico, no hay que entenderlo como una narración de algo que realmente ocurrió... hoy nadie sostiene lo contrario. En las catequesis bíblicas solemos decir ahora que tenemos que «tratar de captar lo que los autores bíblicos querían decir...», que no era lo que la mera letra dice... En realidad, no se trata ni de eso siquiera, porque los autores bíblicos no escribían para nosotros, ni estaban pensando en un mensaje distinto de lo que leemos.

La verdad es que no deberíamos abandonar una postura de profunda humildad en este campo, porque los cristianos, durante casi toda nuestra historia, hasta hace unos cien años –algo más para los protestantes– hemos estado pensando lo contrario de esto que ahora decimos. Hemos estado pensando que eran textos históricos, que había que entender al pie de la letra y que había que creerlos ciegamente, y que su contenido era real, e incluso «más que científico, estaba por encima de la ciencia» (la ciencia no podría contradecirlos): porque eran textos directamente divinos, revelados, y por tanto dogmáticos. Hace apenas 100 años el Pontificio Instituto Bíblico, la máxima autoridad

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oficial católico-romana, condenó taxativamente a quienes pusieran en duda el «carácter histórico» de los once primeros capítulos del Génesis... y en todo el conjunto de la Iglesia se pensaba así, desafiando arrogantemente a la ciencia.

Durante siglos, durante más de un milenio, el texto del relato de la creación que hoy leemos ha sido utilizado para justificar directa o indirectamente el androcentrismo, o sea, la inferioridad de la mujer, creada «en segundo lugar», y «de una costilla de Adán». Más aún: durante más de dos mil años –y aún hoy, para la mayor parte de la civilización occidental– este texto ha justificado el antropocentrismo, el mirar y entender la realidad toda como puesta al servicio de este ser diferente, superior a todos los demás, «sobre-natural», que sería el ser humano, poniéndolo todo bajo «el valor absoluto de la persona humana», a cuyo servicio y bajo cuyo dominio habría puesto Dios toda la «creación», con el mandato de explotar omnímodamente la naturaleza: «crezcan y multiplíquense, y dominen la Tierra»...

Desde hace medio siglo un coro reciente y creciente de científicos y humanistas achacan a los textos bíblicos la minusvaloración y el desprecio que la tradición cultural occidental ha sentido y ejercido sobre la naturaleza, hasta provocar la actual crisis ambiental que nos ha puesto al borde del colapso y amenaza con colapsar efectivamente.

Viene todo esto a decir que hoy no podemos deducir directamente de los textos bíblicos nuestra visión de los problemas humanos -matrimonio y divorcio incluidos-, como si la construcción de nuestra visión moral y humana dependiera de unos textos que en buena parte contienen las experiencias religiosas de unos pueblos nómadas del desierto hace unos tres mil años... Sería bueno que los oyentes de las homilías supieran discernir con sentido crítico la dosis de fundamentalismo que algunas de nuestras construcciones morales clásicas pueden contener. Sería todavía mejor que los autores de las homilías incorporaran a sus contenidos esta visión crítica y esta superación del fundamentalismo. Debemos salir del bibliocentrismo: no podemos vivir encerrados en un libro, con toda nuestra perspectiva, categorías y normas sometidas al limitado alcance cultural de un libro de hace varios milenios... Si queremos buscar las palabras más profundas que puedan iluminarnos, debemos buscarlas también y sobre todo en la Realidad, en la Naturaleza, en el libro del cosmos, de la Vida y de nuestra propia misteriosa naturaleza...

El evangelio de hoy es dramatizado en el capítulo 71, «Lo que Dios ha unido», de la serie «Un tal Jesús», de los hnos. López Vigil. El guión

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y su comentario pueden ser tomados de aquí:http://untaljesus.net/texesp.php?id=1300071 Puede ser escuchado aquí:http://untaljesus.net/audios/cap71b.mp3

 

Para la revisión de vida ¿Cuál es mi posición respecto al matrimonio católico? ¿Qué pienso sobre las parejas separadas y vueltas a casar? ¿Hay recelos contra ellas? ¿Considero justa la norma según la cual esas personas deben ser excluidas de la comunión? Confronto mis posiciones y las disposiciones de la iglesia católica con el evangelio de Jesús.

Para la reunión de grupo- Siguiendo el método de «lectura popular de la Biblia» volver a tomar el relato de la creación completo, y comentarlo desde una perspectiva de género, con ojos sensibles a la igualdad del hombre y de la mujer. - Hacer lo mismo desde un punto de vista ecológico, enjuiciando la forma como estos textos presentan la relación del hombre con la naturaleza. - Debemos los cristianos hacer que se sancione por ley civil la legislación canónica? ¿Por qué los cristianos no podemos pedir que se exija a todos los ciudadanos lo que nos exigimos a nosotros en razón de nuestra propia fe? Comparar esto con fundamentalismos de otras religiones.

Para la oración de los fieles- Oremos por nuestras iglesias, para que las acciones pastorales que en ellas realizamos sean en verdad un signo creíble del amor y acogida de Dios a los más débiles.- Por quienes dirigen la sociedad para que desde sus puestos de responsabilidad y gobierno impulsen políticas de justicia y reconocimiento a la dignidad de la mujer.- Por nuestras mujeres, para que sepamos ver en ellas la presencia tierna del Padre que nos invita a trabajar por el bien de todos y todas.- Por nosotros, por nuestros grupos, por las parejas de nuestra comunidad, para que en lugar de tanta teoría nos empeñemos en dar testimonio del amor y la misericordia entre nosotros mismos.

IGUALES ANTE DIOS

El tema central de los textos de este domingo es el significado de la pareja humana en la revelación bíblica.

La pareja humana

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Una vez más los fariseos buscan colocar a Jesús en contradicción con las leyes religiosas de su tiempo. Han sido testigos de actitudes de Jesús que prueban el valor que él da a la mujer, por eso le preguntan con ánimo de tentarle: “¿es lícito al marido repudiar a su mujer?” (Mc 10,2). Ellos saben que sí, según sus normas; esta vez quizá Jesús quede entrampado. El Señor hace añicos esta pretensión, les explica con autoridad el por qué de la prescripción de Moisés (por “la dureza de su corazón”, v. 5), pero sobre todo va a lo esencial del asunto, remontándose al “comienzo de la creación” (v. 6).

La mujer no es una cosa, no forma parte del patrimonio del hombre, es una persona. Se trata de la unión de seres iguales que se definen ante todo por su orientación a Dios. Jesús fundamenta su posición refiriéndose a los dos relatos de la creación. El evangelio nos remite así al Génesis.

Seres para Dios

Los primeros capítulos del Génesis nos traen en efecto dos narraciones de la creación del hombre y la mujer. El primero corresponde a la tradición llamada sacerdotal y el segundo a la yahvista. La versión inicial subraya la igualdad fundamental del hombre y la mujer: “Y creó Dios al hombre a su imagen; a imagen de Dios lo creó; varón y hembra los creó” (Gén 1,27) (citado en Mc 10,6). Ambos por igual han sido creados a imagen de Dios y en relación con Él.

El segundo relato del Génesis (el único que nos trae la primera lectura) nos habla de la mujer como ayuda del hombre y pone de relieve la complementariedad más que la igualdad: “El Señor Dios se dijo: No está bien que el hombre esté solo; voy a hacerle el auxiliar que le corresponde” (2,18).

El mensaje central de estos textos es que tanto el hombre como la mujer son seres para Dios e iguales ante El, ese es su rasgo básico. Ellos son también, al mismo tiempo, el uno para el otro. Hombre y mujer son imagen de Dios y esto pone su sello a la vinculación entre ellos. La igualdad es el fundamento de la complementariedad, la segunda no se entiende sin la primera. Se trata de una ayuda en base al amor y no hay amor sino entre iguales. Todos somos hermanos en Jesús (cf. Heb 2,11). Los textos de este domingo son un recuerdo vigoroso de esta igualdad entre hombre y mujer sin la cual no hay una vida de pareja sana humana y cristiana. Son textos que rechazan la pretendida superioridad masculina, el “machismo” tan arraigado en nuestras categorías culturales, que llevan a un trato discriminatorio y muchas veces insultante para la mujer.

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En el marco de estas lecturas -dadas las demás condiciones en que viven tantas familias hoy- digamos que estamos ante la exigencia de un nuevo reparto de responsabilidades entre los esposos en el respeto y la equidad. Hombre y mujer han sido hechos, por igual, a imagen del Dios de la vida; desde allí deben enriquecerse mutuamente.

APRENDER A AMAR

 

         La sociedad judía admitía el llamado “repudio”, por el que el marido podía abandonar a la mujer, por “motivos” que, según diferentes escuelas de rabinos, eran más o menos exigentes o ridículos.

         Los estudiosos no se atreven a asegurar que el episodio evangélico que leemos hoy hubiera sucedido realmente en la época de Jesús; parece que hay indicios de que se trataría de un debate posterior, suscitado en la comunidad postpascual, que se intentó cerrar poniendo la respuesta en boca del Maestro. En apoyo de esta hipótesis suelen traer la variante que aporta el evangelio de Mateo, donde se reconoce una excepción, en virtud de la cual el divorcio estaría permitido: “Si alguien repudia a su mujer –a no ser en caso de fornicación [adulterio]– y se casa con otra comete adulterio” (Mt 19,9).

 

         Sea o no palabra de Jesús, el texto se sitúa en el nivel de los “principios” o, si se prefiere, en el “horizonte” hacia el que aspira toda pareja que siente un movimiento interior a compartir su vida. Pero eso no significa tomarlo en un sentido “normativo”.

         Es evidente que, también en el campo de las relaciones de pareja, como en cualquier otro, mucho depende de los condicionamientos que arrastra cada persona, de las condiciones objetivas, de las dificultades propias de toda relación e incluso del nivel de consciencia donde cada cual se encuentra.

         Dentro de todo ese conjunto de factores –muchos de los cuales, a veces los más decisivos, son inconscientes-, ocupa un lugar destacado lo que cada persona haya crecido –o pueda crecer- en capacidad de amor gratuito.

         Porque toda relación –y de un modo especial, la más íntima- constituye un “campo” privilegiado para ejercitarse en la capacidad de amar, haciendo pie en ella, para crecer en desegocentración y entrega;

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para experimentar el gozo de un amor que quiere ser cada día más gratuito y servicial.

         Al final, el camino de la sabiduría es el mismo que el del amor.  Ambos conducen a una forma de vida desegocentrada. La sabiduría nos lleva a comprender que todos somos uno, compartiendo la misma identidad; el amor nos hace vivirlo. Aquella nos hace ver que el yo es pura ficción; este nos permite hacer pie en nuestra verdad más profunda.