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Cultura do Cotidiano

Cultura do Cotidiano - perse.com.br · Graças a Deus e à criação que tive, minhas lembranças são de momentos e apelos itaunenses. Nada nesta cidade passou desapercebido por

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Cultura do

Cotidiano

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Cultura do

Cotidiano

Talita Alves Morais e Rabelo

1ª Edição

Brasília/DF

2012

@ 2012 by Talita Alves Morais e Rabelo

Capa:

Talita Alves Morais e Rabelo

Sobre fotografias de ladrilhos hidráulicos em edificações em Minas Gerais

Projeto Gráfico:

Talita Alves Morais e Rabelo

Revisão:

Alexandre Pereira Rabelo

___________________________________________________________________________

T83m

RABELO, Talita Alves de Morais

Cultura do Cotidiano / Talita Alves Morais e Rabelo. - Brasília/DF, 2012

117 p

1. L

1. Literatura Brasileira - Crônicas. I. Título

CDD B869.4

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Então, quando aquelas sombras já se encontravam

Fora do alcance da vista, novo pensamento surgiu

Em mim, e deste se originaram vários outros.

E me elevei tanto, pairando sobre eles,

Que embevecido fechei meus olhos.

E meus pensamentos transmutaram-se em sonho.

Dante, “Purgatório”, Canto XVIII, 139-145

(O Círculo da Preguiça)

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Ao meu marido e meu filho

Com todo amor, pois suas vidas são responsáveis pelo deslumbramento da

minha!

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Agradecimentos

Aos itaunenses que sempre encheram minha vida de alegria e

de cor. Ao meu marido e meu filho pelo companheirismo,

paciência, amor e incentivo! À minha mãe e meus avós

(Elizeu e Maria) que foram os primeiros agentes culturais da

minha história! A todos meus amigos minha profunda

gratidão por dividirem suas histórias comigo!

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Sumário

13 Prefácio

15 Ser itaunense é amar

19 Amor – Por uma histérica

23 Brasília Mineira

26 Percy Jackson desconstruindo os clássicos

31 E Agora José?

36 Acumuladores

39 30 anos e 30 milhões de questionamentos

42 Foi assim que descobri que envelheci...

46 A difícil Arte da Convivência

51 Minha fantástica Itaúna

57 O Vírus da Juventude

61 E a tal Surfistinha?

66 Casa de Ariosto

69 Cuidar do solo...

72 Sem tempo para sonhar e imaginar

76 O tal próspero Ano Novo

79 Quando Itaúna era de Gonçalves Dias

82 Ah se essa praça fosse minha!

85 Por que chorar pelos mortos e não agüentar

os vivos?

89 Vers elle s’en va tout mon espoir

92 É na educação dos filhos que se revelam as

virtudes dos pais

96 Você gosta do silêncio?

100 Idoso e Dignidade – Princípio Constitucional

104 Até tu, ó Mickey!

108

112

Cultura inútil, mas essencial!

O Nosso Peixe Grande e suas Histórias

Maravilhosas

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Prefácio

Que fascínio pode exercer uma porta de madeira

velha, já desgastada pelo tempo, trancando o velho

casarão e ajudando suas paredes a esconder os segredos

que guarda o interior da edificação? Para muitos, uma

porta é só uma porta. Entretanto, há pessoas de uma

sensibilidade tão aguçada que conseguem enxergar

naquela porta – e no que há por trás dela – a maior

riqueza do ser humano: a própria história, ajudando a

construir a história de outros e a do lugar em que vive.

A primeira vez em que fui convidado a “olhar além

da porta” foi na cidade de Luisburgo, em Minas Gerais.

Fazia o papel de motorista e fotógrafo da Talita enquanto

ela executava o levantamento para confecção do inventário

de patrimônio cultural em 2007, quando ela olhou para um

pequeno armazém, que ainda tinha exposta a sua velha

placa, mas cujo portão estava cerrado. Era sábado de

manhã, ele deveria estar aberto. De frente para o velho

armazém, Talita pensou um pouco e virou-se. Olhou ao

redor e enfim disse: “está explicado!”. Fiz cara de

interrogação e ela então começou a explicar que o motivo

de o armazém ter fechado tinha sido a inauguração de um

grande mercado na esquina logo em frente. Pra mim era

só mais um mercado na esquina, mas para ela, em sua

genial visão de transformação do contexto sócio-cultural

daquele pequeno município, era a redenção das antigas e

tradicionais relações de comércio local ao início da

implantação do “capitalismo selvagem” naquele finzinho de

mundo.

Uma mente inquieta escreve sobre a cultura oculta

nos mais diversos aspectos do cotidiano, conseguindo

personificar a Rua São Vicente, transformar “Bruna” de

puta em empreendedora, desnudar a alma masculina e

seus anseios, carregar Minas inteira nos ombros e guardar

Santa Catarina dentro de uma caixinha e enterrá-la a sete

palmos, enxergar Percy Jackson como um novo Macunaíma

e utilizá-lo para fomentar no leitor o ímpeto de olhar para

o seu filho e dizer: “será?”.

O que se pode ler nas crônicas que compõem este

livro vai muito além do que as pessoas esperam de uma

coluna de jornal intitulada “Cultur@”... Ao invés de

indicações de livros, peças de teatro, filmes “Cult”,

exposições de arte, “Cultura do Cotidiano” traz reflexões

acerca de nosso potencial transformador da sociedade

através de uma cultura própria e espontânea, sem utilizar

clichês ou idéias pré-concebidas, fugindo do óbvio,

deliciosamente informal e sem nenhuma pretensão em

ditar tendência ou gerar polêmicas de qualquer ordem.

Vejamos o que há por trás da porta...

Alexandre Pereira Rabelo

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Ser itaunense é amar...

Sempre trabalhei com as lembranças dos outros,

com lembranças de outras cidades... E hoje, tão longe de

Itaúna, só tenho vontade de trabalhar minhas lembranças.

Graças a Deus e à criação que tive, minhas lembranças

são de momentos e apelos itaunenses. Nada nesta cidade

passou desapercebido por mim. Hoje, anos depois sei da

importância de tudo que vivi e de grandes momentos que

Itaúna viveu durante esse período. Durante grande parte

da minha infância, eu tinha um compromisso certo aos

sábados de manhã. Na verdade, fui uma criança muito

atarefada, eu tinha uma agenda lotada!! Tenho um grande

amigo, Gregório Reis, que também foi uma dessas

crianças superatarefadas...O importante é que deu certo!

Como diz minha sábia avó: cabeça vazia oficina do

diabo!); mas voltando às minhas manhãs de sábado...

Sempre íamos à barragem... Sempre... Todo santo

sábado. Você, leitor, deve estar pensando que era para

um belo sítio na beira da barragem, não é? Claro que

não! Onde já se viu pobre com casa na barragem!! Não

mesmo! Íamos para a sede da Rádio Clube AM, que

ficava na beirada da barragem... Hoje em dia, se você

passar por lá, vai ver roupas nos varais e nas janelas... Os

atuais moradores da casa lavam muita roupa! Meu avô

(Elizeu Barbeiro), que ainda faz seus programas na rádio

AM de 14:00 às 16:00, todos os dias , fazia seu programa

de manhã, lá na barragem... Como é, ainda hoje, uma

aula cultural, um resgate histórico, um diamante

lapidado... o programa era ainda melhor... Melhor,

porque, antes de fazerem as locuções, alguns dos

radialistas (incluindo meu avô, claro!) nadavam na