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QEORQE WALD: 0 LABIRINTO DA VERDADE NUCLEAR ÍRTU CULTURAI TEATRO mm . POR UM MUNDO MELHOR PELA RENOVAÇÃO POPULAR DA CULTURA NACIONAL POR UMA ABERTURA 'COM UM ROTEIRO DE COMPRAS LDO RIO DE JANEIROi C P v 21 FEV1995 üS C«ci:iMeí»í»ção Cr$ ) MENSÂRIO CULTURAL RIO DE JANEIRO NOVA FASE ANO 2 N. 0 17 Em PORTUGAL 25 Escudos O JORNAL DE OTTO E FLORENCE, DO TALES, RUIZ E BASTOS MELLO, DA BETÍ E DO DAVÍ. DO NEIVA, LICO WAGNER E ANDRÉ, DA ALINA, DO PIRES. JADIR, GEORG, ACÁCIO VIEIRA E GUSTAVO, DA HELENA, DO ELCIO E LUCIANO, O JORNAL DE VOCÊ - SIM DE VOCÊ TAMBÉM POIS A ABERTURA É PARA VALER. LU SHUN: DIÁRIO DE UM LOUCO Os Cascateiros da « Pa z Interior» RENÉ DUMONT FOME: CRISE OU ESCÂNDALO #*J?*K !

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QEORQE WALD: 0 LABIRINTO DA VERDADE NUCLEAR

ÍRTU CULTURAI

TEATRO mm

. POR UM MUNDO MELHOR PELA RENOVAÇÃO POPULAR

DA CULTURA NACIONAL

POR UMA ABERTURA

'COM UM ROTEIRO • DE COMPRAS

LDO RIO DE JANEIROi

C P v

21 FEV1995

üS C«ci:iMeí»í»ção

Cr$ ) MENSÂRIO CULTURAL — RIO DE JANEIRO — NOVA FASE — ANO 2 — N.0 17 — Em PORTUGAL 25 Escudos

O JORNAL DE OTTO E FLORENCE, DO TALES, RUIZ E BASTOS MELLO, DA BETÍ E DO DAVÍ. DO NEIVA, LICO WAGNER E ANDRÉ, DA ALINA, DO PIRES. JADIR, GEORG, ACÁCIO VIEIRA E GUSTAVO, DA HELENA, DO ELCIO E LUCIANO, O JORNAL DE VOCÊ - SIM DE VOCÊ TAMBÉM

POIS A ABERTURA É PARA VALER.

LU SHUN: DIÁRIO DE UM LOUCO

Os Cascateiros da

« Pa z Interior» RENÉ DUMONT

FOME: CRISE OU

ESCÂNDALO #*J?*K!

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Página 2 ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N9 17

Seção de Cartas Escreva para Caixa Postal 12.193 — ZC-07 — 20.000, Rio — RJ)

TEREZINKA PEREIRA (Boulder — Colora- do — USA) APOIA A CAMPANHA DE OTTO BUCHSBAUM CONTRA O ACORDO NUCLEAR BRASIL-ALEMANHA — Otto: Você é uma pes- soa-gente tão enorme que nem sei como respon- der suas cartas, nem comentar suas atividades a favor do povo brasiieirol Falo portanto só o essen- cial: Resolvi publicar independentemente sua mis- siva em inglês (que não está nada mal, porque o assunto tratado está muito acima de correções lingüísticas) e distribui-la como folheto no Cam- pus da Universidade do Colorado, além de enviá- la a vários outros campus (indiana University, Universidade da Califórnia em Los Angeles, Queens Coliege em New York, University Católica om Washington D.C. e outras nos quatro pontos do pafs, como pode ver). Admiro sua coragem e fico daqui torcendo para você e para a turma que verdadeiramente ADERIR à campanha. PARA A FRENTE SEMPRE E COM CORAGEM, Terezinha Pereira.

— Terezinka Pereira, poeta, dramaturga e contista brasileira, publicou o texto acima na re- vista POEMA CONVIDADO que publica em por- tuguês nos Estados Unidos. Acolhe poetas do mundo todo, mas de preferência os latino-ameri- canos (ou Indo-amerlcanos como nosso amigo Mi- guel Grinberg de Buenos Aires prefere dizer). O endereço de Terezinka é: University of Colorado, Dept. of Spanish and Portuguese. Boulder, Colo- rado 80302 — USA.

Robert Murray (Washington D.C.) ... o contato com ABERTURA CULTURAL, com o movimento RESISTÊNCIA ECOLÓGICA o com tudo que esta obra representa tem sido para nos de relevante utilidade. Entreguei os novos números para Jimmy Carter e posso assegurar- lhes que já; tinha lido os números anteriores. O futuro Presidente, já não temos dúvida neste sen- tido, não só fala e lê bem espanhol, mas tem esta tão assombrosa capacidade de trabalho, que em plena campanha das eleições prévias, soube ler e apreciar o tão significativo e invulgar jornal que ABERTURA CULTURAL sem dúvida é. Para nós, para Jimmy Carter, que como vocês tão bem for- mularam " é o Greening of América" é tão bom saber que há lutadores como vocês na América Latina, que também pensam em termos de bonda- de, autenticidade, justiça e solidariedade humana e não só em termos de Produto Nacional Bruto, e nos números frios e impessoais dos eternos buro- cratas ...

— Pode ter certeza que para nós é uma gran- de satisfação poder contar com Jimmy Carter en- tre os leitores de ABERTURA CULTURAL. Um Pre- sidente norte-americano, que não só restabelece a dignidade do cargo, mas que consegue imprimir

à política americana numa nova compreensão ética, já será uma coisa importante. Um Presidente que fala espanhol, que se interessa pela América La- tina, não como quintal a vigiar, mas com uma idéia de fraternidade e interesse humano, é o inicio de uma nova perspectiva para todos nós, uma nova perspectiva na luta que precisamos travar contra a fome e a miséria, e também uma nova perspec- tiva no restabelecimento das práticas democráticas e do respeito aos direitos humanos ao sul do Rio Grande. Acabo de mandar para você dois núme- ros de Abertura com o desiaque: ÍNDIO — Geno- cídio: Pecado Original das Américas. Você sabe, o segundo exemplar se destina ao nosso leitor Jimmy Carter. And Good Luck. With our militant love — Otto.

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■^n ton^' Aírton Souza Pereira (Recife — PE) ABER-

TURA CULTURAL tornou-se para nós o pão de cada dia. Pena que seja mensal. É o pão da co- ragem, da palavra verdadeira, da libertação, do evangelho vivido, da esperança em dias melhores...

— Aírton, irmão, grato por tuas palavras. Lu- tamos por um mundo melhor. Há gente que abana os ombros, céticos, desiludidos. Mas nós vamos para frente. A luta é uma só! A solução é o muti- rão nacional ou melhor mundial. O problema ho- je é a sobrevivência do gênero humano. Como sempre dizemos: Todos são chamados — e todos serão escolhidos.

Maria de Lourdes Braga (Curitiba — PR) ... contem comigo na luta da Resistência Ecológica. Da maneira como vocês colocam a questão todo mundo terá que entender...

— Contamos com você e com todos. Segue carta e material.

Caros irmãos, novamente estamos responden- do apenas duas cartas desta maré de solidarieda- de que nos chega de todo Brasil. Sempre na úl- tima hora o espaço aperta. Todas cartas estão sendo atendidas diretamente. E no próximo nú- mero terá realmente uma seção de cartas com mais espaço.

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mana, como também ao equilíbrio natu- ral em gerai. A natureza, o conjunto dos seres vivos, necessita de proteção contra a nossa "civilização" rapinante.

A construção de usinas nucleares que representa o último estágio de uma ci- vilização doente, coroa este processo, onde a insanidade geral é uma ameaça à própria sobrevivência do gênero hu- mano.

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EXPEDIENTE: ABERTURA CULTURAL Teatro ao Encontro do Povo Publicação mensal da ABERTURA CULTURAL EDITORA LTDA. Diretor responsável: ANDRÉ DELANO BUCHSBAUM Órgão do movimento TEATRO AO ENCONTRO DO POVO dirigido por OTTO e FLORENCE BUCHSBAUM Rio de Janeiro — Ano 2 — N? 17 — 1976 Composto e impresso na Gráfica Castro Ltda. Rua Pedro Ernesto, 85 - Tel.: 243-8565 Distribuído em todo território nacional. Distribuído em Portugal, Ilhas, Angola, Moçambique, restante Europa, África e Ásia — AGÊNCIA PORTUGUESA DE REVIS- TAS — Rua Saraiva de Carvalho, 207 — Lisboa 3 — Portugeí- Em Angola: Rua de Maianga, 83 LUANDA. República Popular do Moçambique: Prédio Negrão 2? andar n? 7 Maputo

ABERTURA CULTURAL é o único jornal em língua portuguesa filiado ao ALTERNATIVE PRESS SYNDICATE, P.O. Box 777 Cooper Station New York, NY, 1003 USA sendo igualmente ligado ao setor do Sindicato acima que coordena a América Latina INDOU-ASP — Sin- dicado de Ia Prensa Alternativa c/o Eco Contemporâneo — C.C. Centrol 1933 — Buenos Aires — Argentina. Em am- bos locais (Nova York e Buenos Aires), poderão ser obtidos tanto os números atrasados como o atual de ABERTURA CULTURAL.

Pela presente fica estabelecido que OTTO BUCHSBAUM assume expressa- mente a responsabilidade com relação a todo conteúdo deste jornal, tanto com relação aos artigos assinados, quanto as matérias sem assinatura.

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Olá Gente Um dos pontos de estrangulamento do

desenvoli/imento nacional encontra-se na área do ensino.

As deficiências crescem e se poten- ciam. Que o ensino das regiões mais atrasadas reflete o subdssenvclvimento, é lógico. A educação não pode ser se- parada do seu contexto social, da desnu- trição, da falta de professores prepara- dos e devidamente pagos e da precarie- dade de meios em geral.

Mas a decadência e o descalabro no ensino acentua-se e aumenta lambem, assustad;ramente, nos centros mais adiantados.

O que aconteceu por exemplo com o ensino colegial?

Quatro fatores principais destruíram as cuas bases:

1) Os alunos chegam ao ciclo colegi- al despreparados pelas deficiências, pe- la falta de cumprimento do programa es- colar e pela desorganização do primeiro ciclo.

2) A baixa remuneração dos professo- res deixa a estes a escolha: Ou proie- tarização total, aceitando um nível de vida inferior ao essencial à subsistência, ou a maratona desumana, correndo de um colégio para o outro, sujeitando-se a uma carga horária incompatível com a qualidade de ensino e com a tão ne- cessária atualização dos professores. Qualquer encanador, marcineiro, jardinei- rO, que trabalha por conta própria, dá a sua hora de trabalho, um valor no míni- mo 3,4 ou 5 vezes maior do que o paga- mento horário do professor.

3) Com o vestibular como meta prin- cipal do ensino colegial, é lógico que este se amolde à meta. Com um vesti- , bular de múltipla escolha, o curso cole- '. qial tende a preparar alunos para este tipo de exame, que requer mais esperteza e técnica, do que criatividade e conhe- cimentos.

4) As refcmas do ensino colegial transformaram este numa verdadeira col- cha de retalhos. Se o ensino colegial fosse um navio, já teria afundado há muito, de bandeiras desfraldadas. A in- trodução do chamado "ensino profissio- nalizante" foi a úl'ima pá de cal da se- qüência de reformas, tratando-se de uma verdadeira TRANSAMAZÔNICA do ensino de segundo grau.

Introduzido a toque de caixa, foi im- posto às escolas sem que houvesse pro- fessores e insíalações adequadas para ensinar as diversas "profissões". No frí- gir dos ovos, o ensino profissionalizante, não dá profissão a niguém. Diminuiu-se as aulas do núcleo comum, substituindo- as por aulas profissionalizantes, para as quais, na maioria dos casos, se dispõe apenas de professores, que p:r sua vez não tem a mínima qualificação de eles mesmos exercer a profissão para a qual preparam. Para completar o quadro do descalabro, não há oficinas, laboratórios, materiais especiais, indispensáveis aos diversos cursos. O ensino profissionali- zante é dado a seco, na base de uma teoretização, na qual em muitos casos, alunos e professores se unem na mesma ignorância e inocência.

Além disso esta nova modalidade de ensino, introduziu nas grandes cidades,

o mais original sistema de busing do mundo. Nos Estados Unidos, o "busing" foi introduzido para com ônibus escolares garantir a integração racial nas escolas. Nosso busing é uma espécie de turismo escolar diário. Como o sistema de pro- fissionalização rompeu totalmente a es- tandardização das escolas, os alunos não vão mais a escola mais próxima a sua casa, mas vão à escola que tem a "es- pecialização profissionalizante" que es- colheram. No Rio, gente da Zona Norte freqüenta colégios da Zona Sul e vice- versa. O número dos pingentes da Cen- tral foi engrossado por alunos em pleno turismo escolar. Tudo isso pesa sobre o nosso vacilante sistema de transportes coietivos e agrava os problemas viários, além do custo do transporte onerar os orçamentos familiares e as horas gastas nas idas e vindas afetarem o rendimento escolar.

Quantos alunos completam este "trei- namento profissional" e conseguem re- almente exercer esta profissão?

O número é mínimo, desesperadamen- te ínfimo!

Os cursinhos pré-vestíbulares tentam remediar a situação de despreparo gene- ralizado;

No passado, antes dos vestibulares adotaram o sistema classificatório, o exa- me vestibular dava notas, aprovava ou desaprovava. Muitas vezes surgia o pro- blema dos "excedentes", pois o número dos aprovados superava o número de vagas.

Agora, com o vestibular classificató- rio, muitos alunos passam com uma mé- dia de acertos que corresponde a notas como 2 ou 3, às vezes exatamente nas matérias mais importantes para a car- reira que escolheram. Constatou-se no último Vestibular Unificado do Rio, que se tivesse sido adotado a nota mínima de 4 em todas matérias, só cerca de 1.400 alunos, isto é, menos de 2% dos vestíbulandos, teriam sido aprovados.

Devido a este despreparo dos alunos que chegam às escolas superiores, ado- lou-se o chamado ciclo básico, pratica- mente só para compensar as deficiências do ensino colegial. Descontando os dois anos do ciclo básico do ensino univer- sitário, para este sobram apenas mais 2 ou 3 anos, como preparo para uma pro- fissão de nível superior. A maioria dos estudantes já sabe, que depois de for- mado, precisa de muito estudo, pós-gra- duação ou reciclagem profissional.

Eu gostaria de saber o que os técnicos em educação realmente pensaram quando criaram apressadamente o ensino profis- sionalizante. A intenção, sem dúvida, era [oferecer, aos que não continuassem os estud s, uma capaciiarão profissional. Se esta fosse efetiva e não prejudicasse a formação geral, seria sem dúvida útil mesmo aos que fizessem depois estudos universitários. Mas como todas as coisas no nosso país, o que vale é a teoria. O planejamento é feito, deixando a reali- dade de lado, pois esta é Incômoda.

Não sou contra o ensino profissiona- lizante. Mas este não se pode criar atra- vés de leis, de regulamentos, de ordens de serviço. Do jeito c~mo as coisas vão, qualquer chefe de repar'írão m;ís afoito vai revoqar a lei da gravidade — com a simplicidade com a qusl se revogam as disposições em contrário.

Para formar alunos para determinadas profissões de nível médio precisa criat em primeiro lugar mais escolas profissi- onais, bem aparelhadas e com professo- res competentes. Criadas as escolas em condições de funcionamento então os alunos que desejassem poderiam optar por tais escolas, onde aprenderiam efe- tivamente uma profissão, sem prejuízo de ainda poder mudar de idéia e tratar de Ingressar numa Universidade.

Isto seria o processo realista, exeqüí- vel.

Mas nossos "técnicos" em ensino op- taram pela reforma chamada "radical", embarcaram na UTOPIA e como era de espeiar — nautragaram no mar das con- tingências adversas, das reaiidades não levadas em conta.

Quem foi o gênio que acreditou que entre a Cidade Universitária do Rio de Janeiro e o Aeroporto Internacional do Galeão haveria uma simbiose ideal? Se- rá que estudantes e professores obser- vando o vôo dos aviões se sentirão es- timulados para os vôos do espírito?

Por causa da falta de diálogo que ca- racteriza as nossas Universidades e também a UFRJ, já se comentou que são UNIVERSIDADES DO SILÊNCIO.

O ruído dos Aviões Super-Sônícos é o remédio adequado?

Numa outra ocasião, comentarei com mais vagar a situação nas Universidades e o significado do nosso subdesenvolvi- mento universitário para o Futuro Nacio- nal. (As maiúsculas são intencionais — sou otimista).

O INFORME JB do Jornal do Brasil no- tícia sob o título: Dólares bem evadidos:

Durante sua viagem ao Brasil, o Se- cretário do Tesouro dos Estados Unidos, Sr. William Símon, foi surpreendido ao negar dois dólares para que sua filha Julie comprasse uma lembrança.

Enquanto se despedia do Sr. Simon, no Aeroporto de Manaus, o Sr. Ary Pin- to, assessor do Ministro Mário Henrique Simonsen, tirou do bolso 20 dólares e os deu de presente à menina, para que comprasse o que quisesse.

Como boa filha de Secretário de Te- souro, ela não titubeou. Agradeceu, es- tendeu a mão, capturou a nota e foi em frente.

Uma notícia interessante! Que conclu- sões podemos tirar?

1) O Secretário do Tesouro dos Esta- dos Unidos conhece o valor do dinheiro e o pessoal do nosso Ministério da Fa- zenda parece desconhecê-lo.

2) A filha do Secretário do Tesouro aceitou o dinheiro, pois não foi previa- mente instruída que deveria polidamente recusá-lo. Pois gafes deste tipo são ra- ras em esfera diplomática.

3) Ficamos sabendo que o equivalen- te para 2 dólares do Secretário do Te- souro dos Estados Unidos — são 20 dó- lares na mão de um assessor do nosso - Ministro da Fazenda.

Que Riqueza! Eis o Milagre Brasileiro em ação!.

OTTO BUCHSBAUM

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Página 4 ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N? 1T

NO LABIRINTO DA

VERDADE-NUCLEAR Qeorge Wald

Um dos mitos que prevalecem na nossa época é que a política governamental se baseia nas melho- res informações d.sponíveis — e que o Governo sa- bendo qual é a melhor política para promover o bem- estar público, irá naturalmente orientar-se neste sen- tido. COKIO base nesta crença, Insiste-se na Intensi- ficação das pesquisas.

Na verdade, a situação é praticamente o oposto. Só depois que se adota uma posição — geralmente por motivos políticos ou econômicos — é que se vai procurar a informação capaz de apoiá-la. Ou seja, a informação vem depois da política e não antes.

Quanto à informação em si, é preciso distinguir entre advocacia e julgamento. Advocacia é o que um advogado pratica em benefício do cliente que está defendendo. É unilateral; ao que se presume, outro advogado, igualmente competente, cuida da outra parte. Mas julgamento é uma coisa completamente diVersa. Tem de sopesar os dois lados, imparcialmen- te — espera-se. Não pode haver preconceito, ao menos abertamente. O julgamento tem de ser desin- teressado .

Essas são considerações Importantes no atual debate público sobre a energia nuclear. Inquieto e perplexo, o público se defronta com problemas emi- nentemente técnicos, muito além de sua capacidade de análise, e por isso é forçado a depender da opi- nião de especialistas. Mas é vital distinguir quais, entre esses especialistas, são os advogados e quais os juizes.

Um dos principais fatores que minaram a confian- ça na Comissão de Energia Atômica dos Estados Uni- dos foi a percepção de que o principal objetivo des- ta repartição pública era a promoção da indústria de energia nuclear e que para alcançá-lo estava disposta a transigir em termos de padrões de segurança.

Foi devido em grande parte a pessoas fora do Go- verno e da indústria — que na verdade tiveram de en- frentar a forte oposição de ambos — que se conseguiu eventualmente reforçar os padrões e controles de segurança.

Confuso, o público se volia para às universidades à procura de uma opin.âo perita e imparcial, e com toda a razão. A insistência na liberdade acadêmica se baseia na suposição de que as universidades estão empenhadas numa pesquisa objetiva e imparcial da verdade.

Busca-se nelas capacidade e Imparcialidade; e se for preciso escolher, entre as duas, a última é a mais importante. O que não faliam são peritos: a in- dústria e o Governo mantêm um grande número de- les sob contrato. A Imparcialidade é o objeto raro e precioso.

Procuro salientar este ponto porque no momen- to o público, tentando chegar a um consenso sobre a energia nuclear, encontra professores dos dois la- dos. Em quem acreditar?

É preciso compreender que, como acontece em tantos outros casos, esses professores não se defron- tam c:m uma situação simétrica. Eles têm de pro- curar o caminho num contexto fortemente parcial.

Uma corrente é favorável à rápida disseminação da energia nuclear, ao relaxamento dos padrões de segurança, à otimização dos benefícios e minimização dos riscos envolvidos. Conta com grande apoio po- lítico e financeiro, e suas idéias recebem aprovação oficial, são prontamente aceitas e ganham grande publicidade.

Outra corrente preocupa-se com os Inquietantes problemas de segurança das usinas nucleares, com o controle da poluição nuclear, com o plutónio 239 que é ao mesmo tempo um produto artificial de altís- sima toxidade e matéria prima de bombas atômicas, além do problema ainda totalmente sem solução, do que fazer com os resíduos nucleares, que continuarão um problema grave daqtii a centenas de milhares de anos.

Os pontos-de-vista dessa oposição não prometem recompensas, refletindo apenas a sua convicção ín- tima. Não tem defensores, a não ser que a sociedade em geral resolva promovê-los.

No início de 1975, um grupo de 32 "notáveis cien- tistas", na maioria físicos, divulgou uma "Declaração de Cientistas sobre a Política Energética" em que instava com uma rápida expansão da energia nuclear como a única solução realística para as futuras ne- cessidades energéticas. Reconhecendo os perigos em potencial, concluía não haver outra alternativa no mo- mento, e que cercada de cuidados adequados essa expansão envolveria benefícios que superariam em muito os riscos.

Essa declaração, que teve ampla circulação, foi advocacia ou julgamento? Espera-se que tenha sido este último, porque se trata de cientistas de renome, muito respeitados por seus colegas. Vinte e seis deles. Inclusive 11 Prêmios Nobel, foram identifica- dos apenas como professores de universidades im- portantes.

Foi por isso que li, um tanto desapontado, uma análise feita por um físico em que revelava que 14 dos 26 signatários acadêmicos faziam parte da direto- ria das principais empresas americanas. Inclusive as envolvidas direta ou indiretamente na produção de energia. Não pretendo questionar a integridade des- sas pessoas, mas é preciso reconhecer que uma afilia- ção dessas não sugere um conflito de interesse: de-

• fine-o

O único elemento censurável nesse relaciona- mento é a não divulgação desse fato. Imaginem a di- ferença no impacto se os signatários tivessem se identificado como dire;o-es da Excon, Nuclear Sys- tems, lowa Electric Light and Power, Detroit Edison e outras! O objetivo de indústria energética não é pro- duzir emergia, mas ganhar dinheiro. Perseguindo esse propósito que lhe absorve todas as atenções, ela in-

filtra repartições federais, mantém grupos de pressão continuamente ocupados, fornece fundos a candidatos a cargos públicos, desvia muitos milhões de dólares para fins de propaganda "educacional" e faz tudo o que pode para fugir dos regulamentos.

Perguntam-nos freqüentemente, a nós, cientis- tas, se será possível eventualmente produzir energia nuclear com segurança. É uma pergunta técnica e a resposta poderia sem sim. Mas essa é a maneira erra- da de formular a pergunta. A questão real com que nos defrontamos é saber se será possível produzir energia nuclear com segurança enquanto se maximiza os lucros. A resposta a essa pergunta é não

Tivemos uma boa visão dessa situação real du- rante uma conferência realizada em Washington em 6 de Agosto de 1975 quando a União dos Cientistas Participantes apresentou ao Governo e ao Congresso uma petição assipada por 2.300 cientistas e enge- nheiros pedindo a proibição da construção de novas usinas nucleares até que os problemas de segurança estivessem sob um real controle.

Um dos oradores foi o Contra-Almirante Ralph Weymouth, que se reformou recentemente. O que o inquietava era a grande disparidade entre as precau- ções de segurança tomadas pela Marinha em suas Instalações nucleares e as de indústria nuclear. Ma» a explicação é muito simples: a Marinha não visa lu- cro, enquanto a indústria põe todos os seus esforços na maximização dos lucros, e regularmente faz con- cessões para alcançar esse objetivo.

Todo mundo é idealista, não apenas você e seus amigos, mas todos os que se acham do outro lado. Basta perguntar, e eles confirmarão.

Tendo de me orientar em meio a um emaranha- do de ideais f.equentemente conflitantes, adotei fi- nalmente uma regra de conduta rígida: se o ideal cus- ta alguma coisa — em termos de dinheiro, privilégio, staíus — isso torna-o um pouco mais digno de crédi- to. Se, ao contrário, é compensado por um ou todos esses Itens, inclino-me pelo principio da parcimônia científica: havendo uma explicação para um fenôme- no, não há necessidade de procurar-se outra.

Aqueles que se opõem à energia nuclear nas suas foi mas atuais não têm nada a lucrar e só visam o bem comum. Nossa oposição faz-nos entrar em conflito com todos os centros de poder. Isto noa custa dinheiro e ameaça, em vez de melhorar o nosso status profissional. Não faz multo, três engenheiros da General Electric e um supervisor de segurança fe- deral renunciaram a seus cargos em usinas de ener- gia nuclear. Ninguém ganha medalhas por um com- portamento desses — só o opróbrlo do Governo e da indústria, apenas o estigma duradouro de não fazer parte do time.

Em que acreditar? Não se pode ter certeza. Mas ajuda saber que aqueles que se opõem à energia nuclear não visam nada para si, só adotando, essa posição no Interesse do bem publico, pelo quai estão dispostos a pagar para ter o privilégio de se fazerem ouvir.

GEORGE WALD, prêmio Nobel de Medicina do 1967, é professor de biologia da Universidade de Ha- vard, Cambridge, Massachusetts.

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AB€R7JRA CULTURAL — ANO 2 N? 17 Página s

TEATRO MEDIEVAL otto Buchsbaum : Prosseguindo o nosso estudo do Teatro Medieval, te-

remos em seguida o enredo e trechos de duas peças. "O milagre da mulher que Nossa Senhora protegeu de ser queimada" representa o típico milagre medieval, cnde o material profano já participa em grande parte do texto. A outra peça Everyman (Tojlohomem) pertence ao gênero «ias moralidades. Trata-se de uma das mais famosas peças medievais.

ENREDO e TRECHOS de O MILAGRE DA MULHER QUE NOSSA SENHORA PROTEGEU DE SER QUEIMADA — ex- traído de Frappier "Le théâtre religieux au moyen âge" em tradução de Otto e Florence Buchsbaum.

Guilherme, alcaide de Chivy e sua mulher Guibour vi- vem felizes junto com sua filha e seu genro Aubino, até que surgem rumores que Guibour e Aubino são amantes, con- forme veremos no diálogo seguinte enire dois vizinhos:

19 VIZINHO: Mas veja, Gautier. Veja a mulher do al- caide andar com o genrol

2? VIZINHO: Todo mundo sabe que ele a goza ccmo sua mulher, é uma vergonha...

1? VIZINHO: Isso é verdade, mas seja lá o que nós pen- sarmos, eles não vão desistir da S'ia ligação. Vamos buscar este barrilzinho de vinho para bebermos. É a melhor cou- sa que podemos fazer.

Guibour fica sabendo destes mfsmantes boatos por in- termédio dum compadre:

COMPADRE: Comadre, eu fico penalizado quando ouço difamar e envergonhar alguém de quem eu gosto.

GUIBOUR: Porque diz isso? Diga compadre. COMPADRE: Eu vou dizer mesmo, comadre. Correm

por toda vila rumores mald:sos sobre vós e vosso genro, di- zendo que há um carinho paçamnoso entre vós.

GUIBOUR: Mas vejam, tem estes boatos na vila sobre mim? Pela fé que vos devi comoadre, nada disso é ve-da- de! Não sei quem Inventou isso, mas cometeu um pecado mortal!

COMPADRE: Comadre, estou avisando de boa fé, que Deus me ajude!

GUIBOUR: Eu confio de bom grado compadre, e vos peço quando ouvir alguém repetir isso, diga com firmeza que é uma falsidade.

Mas os boatos continuam e Guibour no seu desespero resolve mandar assassinar o genro. Ela contrata dois cel- felros que o surpreendem na adeaa e o estrangulam. Quan- do a filha descobre o morto. Guibour oculta sua culpa. Mas afinal se constata que houve um assassinato e que al- guém da família deve ter culpa; a fanrlia toda é presa, até que Guibour confessa, para finalmente ser condenada ao fogo.' Guibour reza à Virgem com toda sua fé. Suas pre- ces são ouvidas no céu como veremos no seguin'e diálo- go entre Deus e Nossa Senhora:

DEUS: Mãe, está na hora, está em tempo de descer pa- ra defender e salvar Guibour que a vós apela tão piedosa- mente, e que a mim pede tão docemente por misericórdia, por perdão do seu crime. Ide a terra para sua proteção, que do fogo que se acender em torno dela, seu corpo não sofra nada, que não lhe seja feito mal, nem dado a morte.

NOSSA SENHORA: Meu filho, eu estou pronta para des- cer. Levante Gabriel, venha também, me acompanha Mi- guel e cantem em caminho.

E assim Nossa Senhora vai srcorrer Guibour que está sendo queimada; teremos um diálogo entre o juiz, o frade e o carrasco.

JUIZ: Certamente eu acho que esta mulher está quei- mada, o fogo lançou chamas grandes e bem vermelhas.

FRADE: Senhor, os gravetos estavam bem secos. Se ela pegou fogo, que ela queime, da sua morte não tenho nem pesar, nem ira.

CARRASCO: Senhor, eu vejo as cordas e laços bem chamuscados, não há nada que não está queimando, mas ela continua incólume, está sem feridas e nem sangra. Ao contrário, ela ficcu ainda mais bela! FRADE: Pelo Sangue e pelas tripas. Assassina! Não escapa- rás assim, serás queimada; tu aí, depressa, vamos procurar tanta palha e tanta madeira que ela há de queimar!

Mas ela es á salva, nada adianta; Guibour se dirige as pessoas em vclta:

GUIBOUR: Senhores, por piedade, eu vos peço humil- demente, façam uma boa ação, poupem-me, estejam certos, eu não sinto nada de tudo que me fizeram, sou pro.egida pela graça de Deus. Não tenham vergonha de serem venci- dos, porque eu tenho como escudo Nossa Senhora, que é a rainha e senhora dos céus.

JUIZ: Senhores, eis aí um milagre e uma grande mara- vilha, destas eu nunca vi nada semelhante. Nós comete- mos um horrendo pecado contra D3us, torturando tão cruelmente este corpo sanllficado. Guib:ur, cara amiga, saia do fogo, eu vós juro por minha alma, eu reconheço que vós so.s uma santa. Nada temais.

Para alguém da atualidade node parecer que esta peça medieval tem uma moralidade estranha. Guibour, sem dú- vida assassinou, mas no final o juiz reconhece: "Vós sois uma santa." Para o mundo medieval, o perdão, a misericór- dia e a intervenção divina, tem um valor tão absoluto, que apaga o pecado sem nenhuma restrição, como S3 nu"ca tivesse acontecido. Nesta meneira de ver ressoa talvez tam- bém a frase de Santo Agostinho: "Etiam peccata" — Quer dizer — mesmo os pecados — fazem parte do mundo e da compreensão infinita de Deus.

"EVERYMAN" (Todohomem) é uma moralidade inglesa do século 15. O enredo e os trechos que sequem foram extratos, adeptadcs e traduz:dos por Otto e Florence Bu- chsbaum da rbra "Epolish Miracle Plays" de Pollard.

No início o narrador diz o prólogo:

NARRADOR: Eu peço a todos prestar atenção de ouvir este assunto com toda unçto uma moralidade que todos aclamam Todotumem é como a chamam. Mostra como nossa vida é apenas uma transição ensina as boas regras que levam a salvação.

No Inicio da peça Deus afirma que os homens se es- queceram dele; vivem no pecado e só se interessam por bens terrenos. Deus chama a Morte para confiar-lha uma missão: MORTE:

Deus todo-poderoso, estou aqui como deseja para suas ordens bem cumprir.

DEUS: Vá — procure Todohomem ordene-lhe em meu nome de fazer sem falta, sem tardança uma peregrinação em penitência santa para aprender honrar seu criador e voltar depois da jornada fatigante com o conhecimento pleno e total das imutáveis e santas verdades para no f m se apresentar diante de mim e ter julgado suas contas

MORTE: Senhor, Irei a terra ligeiro como o vento severamente rôr a prova o-andes e oequenos verei se Todohomem vive bestialmente lonoe das leis de D9"S. sem temor do castigo amando os bens terrenos e rs gozos; se fõr assim conhecerá a minha espada se não se arrepender e achar o bom caminho para cegar a sua vista e do céu separá-lo no Inferno queimará em condenarão sem fim. Lá longe vejo Todohomem a caminhar despreocupado sem minha vinda esperar com sua mente voltada para da carne gozos será grande seu medo, seu sofrimento quando estiver diante seu senhor, diante Deu» Todohomem, pare! Para onde queres Ir? Porque estás tão prazeroso? Esqueceste tu o teu criador?

TODOHOMEM: Porque perguntas? ., , ; O que atinai queres de mim?

MORTE: Sim senhor — eu te mostrarei; com grande pressa fui mandado procurar-te Deus me mandou com toda sua majestade,

TODOHOMEM: O que — procurar a mim?

MORTE: » ? Ce-tamente. i ' ■ Pois tu o esqueceste aqui e ele te chamou a ti e rós partiremos — deves saber

TODOHOMEM: O que deseja Deus de Mim?

MORTE: Isto te mostrarei tuas con!as serão tomadas com iustiça — sem comolascêncla A Morte explica a Todohomem que ele deverá fazer

através da penitência e do conhecimento das verdades; uma grande rereorina^ão e nes'a e'e se poderá redimir; explica também que desta jornada não haverá voPa, pois no final ele se terá que apresentar de qualquer maneira diante de Deus para julgamento.

Na sua jornada encontra primeiro o Companheirismo, com o qual tem o seguinte diálogo: COMPANHEIRISMO:

Todohomem, como vais? Mas como pareces abatido, lastimável. Se aloo aconteceu pe"o oue me digas porie'-ei ajudar para remediar o mal.

TODOHOMEM: Meu bom Companheiro, muito grato, e^ou reolmeníe em grande aflição

COMPANHEIRISMO: Meu bom amiao, mostre teus problemas nãi te abandonarei a'é o Vm dos teus dias no canvnho do Companheirismo leal

Quando Todohomem diz que orec^a fazer um? lonqa perearinp^ão. o Comoanheirismo afrma oue vai junto, mas quando fica sabendo que foi a Morte que trouxe a crdem. ai recua, pois com a Morte não quer contato. As«!im acontece também cem outros: Conhecimento, Dscrerão, Beleza. For- ça, ninguém quer acompanhar Todohomem na lonoa jornada, ao saber que no fim a Morte está espe"ando. Todohomem conhece o Po^s-ar-ões. mas es^ é mui'o fraco nara viajar. Depois que Todohomem lava no rio da ConfissãT seus pe- cados, e que Conhecimento lhe o^ece um traie chamado Arerendiment'1, todos dizem a Todohcmem receber os Sa- camentos e no fim Todohomem recomenda sua alma a Deus e se salva.

Es'es exemrlos do i***i*i n»eH:e,",!'i fnrum evimfdps da obra em elaboração "HISTORIA DO TEATRO M',NDIAL" de Ofo B'!chsbaum. Es** séris de ar"ií»r»s s^bre his'ória 'ea- tral começou no primair-i número de Abertura CuPurai com o escudo do tea'ro da o-é-história e conMnuou des-vevenrJO o teatro egípcio, babilônico, preoo, romano e^. No pró- ximo número esntinuará á descrição do teatro medieval.

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Página 6 ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N? 17

Diário

de

um

Louco

Lu Hsun TRADUÇÃO DO ESPANHOL DE FLORENCE BUCHSBAUM

Lu Hsun (1881/1936) é indiscutivel-

mente o escritor mais importante da

China contemporânea. Perambulou pe-

las redações, universidades e colégios,

dispersos no vasto território da China.

Seus escritos mesclam o cotidiano, a

paranóia, com uma cortante descrição

simbólica da realidade chinesa de então.

O Individualismo, o comodismo e a luta

por um futuro belo, aparecem sem meias

tintas e a esperança do porvir em con-

traste com o presente estancado, feudal,

servil formam a tônica de sua obra. Sua

denúncia é feita sem preâmbulos: Aque-

les que percebem a insensatez da so-

ciedade e das suas relações de produção,

são considerados loucos.

Lu Hsun foi, além de um grande escri-

tpr, um grande pensador e um grande

revolucionário. Representando a maio-

ria do povo, foi um herói nacional sem

precedentes — o mais justo, o mais

valente, o mais firme o mais leal que na

frente cultural iniciara o ataque às po-

sições inimigas,

MAO TSE-TUNG

r — Esla noite tem uma lua belíssima. Há trinta anos que não a via mais, por isso sinto-me especialmente feliz. Co- meço a compreender que tenho vivido esses trinta anos no vazio; porém agora preciso por-me em guarda. Porque ò cachorro da família Chão olhou-me duas vezes?

Tenho motivos de temer.

II — Esta noite não se vê um único raio de luar, e sei que isso não promete nada de bom.

Pela manhã, enquanto eu saia com to- da precaução, o senhor Chão olhou-me com uma expressão estranha, como se tivesse medo de mim, como se quisesse assassinar-me. Havia outras sete ou oito pessoas que falavam de mim em voz baixa e também tinham medo, mê^ do que os tinha visto. Na rua descobri a mesma expressão no rosto dos cam- poneses. O mais feroz deles observou- me, enquanto num esgar mostrou os seus dentes; então um tremor percor- reu-me da cabeça aos pés, pois entendi que os preparativos tinham terminado.

Apesar de tudo não fiquei amedron- tado e pude continuar meu caminho. De repente encontrei-me em frente a um grupo de crianças que também fa- lavam de mim; descobri em seus olhos a mesma estranha expressão que vira no senhor Chão; seus rostos estavam lívi- dos, espectrais. Perguntei-me o que eles poderiam ter contra mim, para compor- tar-se de semelhante maneira e sem po- der conter-me mais gritei: — Falem.

Todos escaparam correndo.

Eu gostaria saber o que o senhor Chão e as pessoas da aldeia tem contra mim. Lembro que há uns vinte anos atrás pi- sei, (sem querer é claro) no livro de contas do senhor Ku chiu; o livro conti- nha anotações feitas durante muitos anos e o senhor Ku chiu enfureceu-se muito. De outro lado estou certo que o senhor Chão não conhece o senhor Ku chiu, mas deve ter sido informado deste inci- dente e resolveu vingar-se. Eis o motivo da conspiração de toda aldeia. Mas, as crianças? Nem tinham nascido ainda. Então porque eles olharam-me dessa maneira tão esquisita, como se tivessem

medo e quisessem assassinar-me? Tudo isso me assusta, surpreende e perturba ao mesmo tempo.

Agora entendo. Ficaram sabendo dos seus pais!

III — De noite não consegui dormir. Todas as coisas para serem compreen- didas, exigem árduas reflexões. Nunca este povo que tem sido levado ao pelou- rinho pelos magistrados, golpeado pe- los chefes locais, estes homens a quem os juizes tiraram suas mulheres a que viram seus pais suicidarem-se para fugir dos credores, nunca mostraram tanto terror nem tanta ferocidade como ontem.

O mais extraordinário é que ontem no meio da rua vi uma mulher batendo no seu filho enquanto gritava: — Canalha! Gostaria despedaçar-te a dentadas para desafogar esta raiva que ferve no meu sangue!

E enquanto gritava, ficou olhando pa- ra mim. Afastei-me, tropeçando, incapaz de reprimir a emoção, e então todos esses homens de rostos lívidos e dentes compridos começaram a rir. O velho Chen abriu caminho imediatamente e e tratou de levar-me para casa a for- ça.

Ele conseguiu: meus parentes fingi- ram não me conhecer; olhavam-me com expressões semelhantes aos cam- poneses. Quando entrei no estúdio, tran- caram-me, como se tranca uma galinha ou um pato num galinheiro. Esse Inci- dente todavia deixou-me ainda mais per- plexo.

Há alguns dias um dos nossos arrenda- tários que vive na aldeia dos lobinhos veio para avisar-nos que a colheita fora péssima, e contou ao meu irmão que mataram a pauladas um famoso bandido. Houve aldeões que se atreveram a arran- car seu coração e fígado para fritá-los no azeite e comer. Dessa maneira con- seguiriam aumentar sua coragem. Quan- do os interrompi, tanto o arrendatário, como meu irmão me olharam fixamente. Percebi que seus olhos não conseguiam esconder a mesma expressão estranha que vi nos olhos daquelas pessoas, na rua. I

Sinto calafrios só em pensar a res- peito .

Se eles comem seres humanos quem poderá impedi-los a devorar-me tam- bém?

Agora compreendo claramente por- que a mulher disse —' Gastaria despa- daçar-te a dentadas —, como estou en- tendendo agora as risadas desses ho- mens de cara lívida e dentes compridos e salientes e a história do arrendatário. Agora compreendo o veneno que se es- conde na sua fala e sua risada cortante. Eles tem dentes duma brancura deslum- brante: são comedores de homens.

Eu não sou uma pessoa má, porém desde o dia em que pisei por descuido no caderno do Senhor Ku, já não eslou certo de mais nada.

Penso que eles tem segredos nos quais não consigo penetrar; quando se enfu- recem, maltratam-me.

- Lembro-me quando meu irmão me dava aulas, enquanto expunha argumen- tos contra alguém, mesmo se fosse o melhor dos homens, sublinhava uma par- te da questão para demonstrar-me a sua aprovação; e se encontrava justificações para algum malvado, dizia-me: — Mui'o bem, muito bem, demonstras teu raciocí- nio duma maneira muito original. Mas como se pode adivinhar seus pensamen- tos mais secretos se ele está disposto a devorar os seus semelhantes?

Para compreender qualquer coisa, pro- fundas reflexões são necessá-ias. ' Na antigüidade, se estou bem lembrado, era comum o homem devorar os seus seme- lhantes, mesmo que eu não tenha idéias muito claras a respeito. Consultei um li- vro de história, mas faltava o índice e em todas as páginas encontrava essas duas palavras: VIRTUDE e MORALIDADE, es- critas em todos os sentidos. Como não conseguia dormir passei metade da noi- te imerso na leitura e de repente notei que entre as linhas estava escrito: — De- vorai os homens — e essas palavras en- chiam todo o livro.

Além do que, os ideogramas contidos no livro, reforçados pelas palavras do arrendatário, olhavam-me de maneira estranha, com um sorriso ambíguo.

Eu também sou um homem; eies que- rem devorar-me.

IV — Esta manhã, permaneci durante uns bons momentos sentado tranqüila- mente. O velho Chen trouxe-me a co- mida; um caldeirão de verduras e outro de peixe cozido no vapor. Os olhos do peixe eram brancos e duros e a boca estava completamente aberta, como a dos devoradores de homens.

Depois de ingerir uns bocados dessa carne viscosa, da qual não sabia se era peixe ou carne humana, tive que vomi- tar.

Disse: — Velho Chen, diga a meu Ir- mão que sinfo-me sufocar aqui dentro e- gostaria de sair e passear no jardm.

O velho Chen saiu silenciosamente e pouco depois voltou a fim de abrir-me a porta.

Permaneci imóvel, perguntando-me o que eles se proporiam a fazer, porque esícva certo de que não iriam deixar-me sair. Realmente, meu irmão chegou; an- dava lentamente, acompanhado dum an- cião. Esse, tinha um olhar terrível, porém com receio de que o observara, inclinou a cabeça, lançando-me uns olhares fur- tivos atrás dos seus óculos.

— Hoje você está com ótimo aspecto, disse meu irmão.

— Sim, respondi.

— Pedi ao senhor Ho para visitar-te, continuou meu irmão.

— Está bem, disse, apesar de que eu sabia perfeitamente que o velho nao passava dum verdugo disfarçado.

Com o pretexto de tomar-me o pulso, esse indivíduo certificou-se da minha gordura (tenho certeza que por esse ser- viço, ele receberá um pedaço da minha carne). Mesmo assim não fiquei assus- tado. Apesar de não comer carne huma- na ,sou mais corajoso que eles. Esten- di os braços e ele com os olhos ce-ra- dos mediu-me o pulso por um longo mo- mento. Durante todo o tempo, ele não disse uma só palavra; depois, abriu final- mente os seus olhos diabólicos e excla- mou:

— Você não deve deixar-se seduzir pela sua fantasia. Deve ficar tranqüilo, ficar de repouso uns dias, e depois vo- cê se sentirá muito melhor.

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ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N? 17 Página 7

Continuação da página anteri:r

Não devo deixar-me seduzir pela fan- tasia! Devo ficar tranqüilo e ficar de re- pouso uns dias! Naturalmente que en- gordarei e eles terão mais carne para comer. Como posso sentir-me melhor desse jeito? Essa gente que quer comer carne humana, mas não se alreve a fa- zê-lo abertamente, só para guardar as aparências, faz-me morrer ds rir! A idéia me divertiu tanto que não consegui con- ter um ataque de riso; eu sabia qve mi- nha risada era uma demonstração de coragem e integridade. O ancião e mau irmão empalideceram; tanta cragem e Integridade os desconcertavam.

Porém a coragem que demons'rei ape- nas serviu para exacerbar sua vontade de comer-me, para apodera-se da sua parte. O velho começou a sair; tinha da- do apenas alguns passos no corredor, quando ouvi o que disse a meu irmão em voz baixa:

— Deve ser comido imediatamente. E meu irmão assenüu, sacudindo a

cabeça. Então você também parJcipa da conspiração! Essa descoberta extraor- dinária, inesperada, nem conseguiu me surpreender tanto. Também meu irmão fazia parte daqueles que me queriam de- vorar!

Meu irmão mais velho é um devorador de homens!

Sou o irmão menor dum devorador de homens!

Eu mesmo serei devorado pelos ou- tros, mas isto não anula o fato que eu sou o irmão mais jovem dum devora- dor de homens!

V — Passei os últimos dias pensando. Mesmo se esse velho não fosse um car- rasco disfarçado mas um médico de ver- dade, de qualquer maneira ele continua sendo um devorador de homens. Num tratado sobre ervas medicinais, escriio pelo seu famoso predecessor Li Shih- chen, ficou estabelecido com toda clare- za que carne humana pode ser comida bem fervida. Como en^ão ele suslenta que não come carne humana?

E com relação a meu irmão mais velho, tenho algumas razões particulares para acusá-lo. Estava dando-me uma aula quando o ouvi dizer, com meus próprios olhes: — As pessoas trocam seus filhos para comê-los —. Numa outra ocasião em que se falou dum homem especial- mente malvado, afirmou que não ssria suficiente matá-lo, mas precisava "comer a sua carne e dormir em cima da sua ptíie".

Naquela época eu era muito jovem, e meu coração bateu descompassadamen- te. Outro dia, quando nosso arrendatá^o da aldeia dos lobinhos contou aquela história dos homens que comeram o co- ração e o fígado dum outro homem, meu irmão não mostrou a menor surpresa, apenas sacudiu sua cabeça num sinal de assentimento. É evidente que ele não mudou nada. Se é possível "trocar seus filhos para comê-los", tamb?m pode-se trocar qualquer coisa que seja comestí- vel.

Em outros tempos gostava dp ^irwif suas explicações, sem me aprofundar demasiadamente nelas, porém aoora eu sei que enquanto me dava aquelas ex- plicações, havia gordura humana nos seus lábios e seu coração ardia de dese- jo para comer carne humana.

VI — Escuridão total. Não sei se é dia ou noite. O cachorro da família Chão recomeçou a latir.

A ferocidade do leão, a timidez da le- bre, a astúcia da raposa...

VII — Conheço os seus métodos: não querem, nem se arriscar a matar dire'a- mente por medo das conseqüências. Pu- seram-se de aerdo a fim de armar-me uma cilada e constranger-me ao suicí- dio. Isso me pareceu muito claro nou- tro dia, pelo comportamento das pessoas da aldeia e a atitude do meu irmão nos últimos tempos.

Querem que alguém tire a trave que sustenta uma viga; dessa maneira reali- zam os seus anseios secretos sem que

possam ser acusados de assassinato. Naturalmente isso os faz rebentar de felicidade. Porém se por outro lado al- guém (ica apavorado, enfraquece, tam- bém ficam satisfeitos.

Eles comem só carne de cadáveres! Lembro-me ter lido em alguma parte que existe um animal imundo, de olhar malig- no, chamado hiena; alimenta-se somente de cadáveres! Tritura mesmo os ossos mais resistentes e depois os vomita; é suficiente para fazer tremer qualquer um. As hienas são parentes dos lobos, e os lobos pertencem à família dos cachorros. Outro dia, o cachorro da família Chão olhou-me várias vezes: o que demonstra que é cúmplice e toma parte na conju- ra. O ancião ficou observando-ms de esguelha, mas não me deixei enganar por seus estratagemas.

Mas o mais deplorável é o caso do meu irmão. Ele é um homem também, e porque não tem medo? Pcrque se asso- cia com os outros para devorar-me? Já se acostumou e já não considera mais isso como um crime? Talvez conseguiu calar a voz da consc:ência e incorre no mal sabendo que o está praticando.

Quando amaldiçoo os devoradores de homens, começarei pelo meu irmão. Po- rém ele também será o primeiro a quem tentarei dissuadir.

VIII — Na realidade eu devia ter com- preendido estas coisas há muitos anos atrás...

De repente entrou alguém. Era um rapaz duns vinte anos, mas não conse- gui distinguir suas feições. Ele esava sorrindo, porém quando cumprimentou- me com um movimento, o sorriso não me pareceu sincero. Perguntei:

— É justo comer carne humana?

Sem deixar de sorrir respondeu-me: — Salvo em caso de fome extrema quem iria comer carne humana?

Compreendi imediatamente que ele era um deles, mas armei-me de coragem e insisti:

— É justo?

— Porque você me pergunta essas coisas. Você está brincando... Hoje é um dia tão bonito!

— Muito bonito, e essa noite teremos uma lua esplendida. Mas o que eu quero é que você me resoonda se considera justo comer carne humana.

Pareceu ficar desconcertado; conse- guiu balbuciar:

— Não... — Não? Então porque vocês o fazem? — O que que você está querendo dizer?

— O que você está querendo dizer? dos lobinhos eles comem carne humana e isso está escrito com letras vermalhas em todos os livros. A tinta ainda nem se- cou.

O rapaz mudou de expressão e ficou lívido como um cadáver.

— Talvez você tenha razão, disse, olhando-me fixamente, sempre tem sido assim.. .

— Que sempre tenha sido assim provaria que é justo?

— Não quero discutir estas co:sas contigo. Além do que não deverias fa- lar. Falar é errado!

Dei um pulo com os olhos bem aber- tos, mas o jovem tinha desaparecido. Eu es.ava empapado de suor. Esse ra- paz é muito mais jovem do que meu ir- mão e sem dúvida é do mesmo bando. Deve ser a educação dos pais. Temo que ensinaram essas coisas aos ssus fi- lhos. Isso explicaria porque as crianças olham-me com olhares ferozes.

IX — Eles tem desejos de carne hu- mana e ao mesmo tempo, tem medo de serem comidos, por isso olham-me de soslaio, com receio, com profunda des- confiança. ..

Seria muito bonito se conseguissem liberar-se dessa obsessão e pudessem trabalhar, passear, comer e dormir In-

teiramente tranqüilos, isso deveria ser o passo certo a ser dado. Porém pais e filhos, maridos e mulheres, irmãos e ami- gos, mestres e discípulos, inimigos mor- tais e até desconhecidos estão unidos nesta conspiração, dissuadindo-se, im- pedlndo-se uns e outros de regenerar-se.

X — Essa manhã, bem cedinho, fui procurar o meu irmão. Encontrei-o no umbral da porta que dá para a rua; con- templava o céu. Aproximei-me; estava de costas para mim. Falei-lhe num tom extremamente sereno e cortês. \

— Quero dizer-te algo, meu irmão.

— Fale então, respondeu, voltando-se e fazendo um sinal de aquiescência.

— É algo muito simples mas não sei como o direi. Irmão, é possível que cs homens primitivos tenham sido todos um pouco canibais. Mais tarde mudaram seu modo de pensar e alguns abandonaram esses costumes em seus afã de melhorar e assim se transformaram em homens, em verdadeiros homens. Porém, outros, ainda hoje, continuam praticando o cani- balismo... A mesma coisa que aconte- ceu com os répteis; alguns se trans;or- maram em peixes, pássaros, símios e fi- nalmente em homens; outros não trata- ram de melhorar de condições e conti- nuam sendo répteis. Mas quando os de- voradores de homens encontram-se fren- te a frente, com aqueles que já não o são mais, devem sentir uma imensa ver- gonha, talvez mais que os répteis fren- te aos símios. Em tempos remotos, se- gundo a história, I Ya cozinhou o seu filho e o serviu num banquete aos tiranos Chieh e Chou. Sem dúvida, a verdade é que os homens começaram a comer-se uns aos outros desde o dia que Pan Ky criou o céu e a terra, e o fizeram sem- pre, desde os tempos de I Ya até os tempos de Hsu-Hsi-lin, e até os dias de hoje como o demonstra a história da- quele homem capturado e devorado na aldeia dos lobinhos. No ano passado, na cidade, executaram um criminoso, e um tuberculoso empapou um pedaço de pão no seu sangue e c:meu-o. Querem também comer-me e você naturalmente não pode fazer nada. Mas porque você tem que estar com eles? Os devoradores de homens são capazes de tudo. Se eles me comem, também podem comer a ti e além d:sso, os memb-os dum mesmo gru- po podem acabar devorando-se uns aos outros. Se você desse um só passo, se mudares os teus costumes, todos pode- riam viver em paz. Ainda que isso ocor- ra desde tempos imemoriais é possível fazer um esforço hoje para sermos me- lhores e proclamar que é necessário ter- minar com esses hábitos. Eu acho que você é capaz de fazê-lo, meu irmão, mesmo se naquele outro dia você ne- gou um abatimento na renda que nosso arrendatário solicitou.

Meu irmão limitou-se a rir cinicamen- te no começo e logo apareceu em seus olhos um relâmpago de ferocidade e quando fiz a revelação dos seus segre- dos, seu rosto tomou uma expressão de desalento. Além do portão, havia um grupo de pessoas, entre elas o senhor Chão e seu cachorro, e todos esticavam o pescoço para ver o que estava acone- cendo aqui dentro. Eu não consegui dis- tinguir todos os rostos porque alguns estavam cobertos de véus; outros tinham a mesma palidez espectral e os lábios contraídos num sorriso forçado. Sabia que faziam parte do mesmo bando, que todos eram devoradores de homens, mas também sabia que nem todos pensavam da mesma maneira.

Alguns consideravam inevitável o ho- mem devorar os seus semelhantes, por- que sempre foi assim; outros apesar de saber que o homem não devia comer carne humana, continuavam a fazê-lo, apenas temiam ser descobertos. Por isso escutavam-me, inchados de raiva, mas continuavam a sorrir cinicamente, com os lábios semi-abertos.

De repente meu irmão estourou, cheio de raiva:

— Fora daqui todos; vocês não estão vendo que ele é louco? O que vocês tem a farejar aqui?

Compreendi então que se tratava du- ma nova tática. Não somente não muda- ria, mas tudo já estava preparado: acu-

sava-me de ser louco. Dessa maneira quando chegasse o momento de devorar- me, não teria nenhum escrúpulo para fazê-lo, além de que as pessoas ainda ficariam agradecidas a ele. Quando nosso arrendatário falou do homem co- mido pelos moradores da aldeia, eis o tinha qualificado de doido; meu irmão recorreu ao mesmo expediente. Não passava tudo dum velho truque!

Mais tarde chegou o velho Chen, tam- bém furibundo; não conseguiu calar-me a boca. Tinha algo para dizer àquela gente, por isso comecei:

— Deveis mudar, mudar do fundo dos vossos corações! Sabeis que no futuro não haverá nesta terra nenhum lugar pa- ra os devoradores de homens. Se não mudarem, também vocês serão devora- dos. E ainda que muitos consigam nas- cer, todos serão exterminados pelos ver- dadeiros homens, como os lobos pelos caçadores, como os répteis.

O velho Chen conseguiu expulsar to- dos e meu irmão desapareceu. O ancião obrigou-me a voltar ao meu quarto. A casa estava envolta na mais densa pe- numbra, as vigas tremiam sobre a minha cabeça, logo as vi crescer e de repente caíram em cima de mim.

O peso foi tanto que não pude mover- me; fizeram aquilo para assassinar-me. Compreendi então que esse peso não era real e tratei de liberar-me. Consegui fa- zê-lo empapado de suor; sem parar, con- tinuei repetindo:

— Deveis mudar imediatamente! Saber que no futuro não haverá lugar em toda terra para os devoradores de homens...

XI — Não consigo ver o sol, a porta não se abre; duas refeições por dia.

Quando peguei os pauzinhos, voltei a pensar no meu irmão. Agora sei que foi ele quem decretou a morte da minha irmãzinha. Ela tinha cinco anos, era mui'o suave e graciosa; ainda a estou vendo. Minha mãe chorou durante dez dias e dez noites, e meu irmão tentava consolá-la, talvez por ter sido ele mesmo que a comeu e as lágrimas da minha mãe o faziam sentir-se envergonhado. Se ainda sabia o que era vergonha!

Foi meu irmão que devorou a minha Irmãzinha, ainda que minha mãe nunca o ficou sabendo.

Penso que minha mãe o sabia, mas enquanto chorava não disse nada a nin- guém, talvez porque achasse que isso era natural. Lembro que numa ocasião em que eu estava sentado no portão to- mando a fresca (tinha então quatro ou cinco anos), meu irmão disse que quan- do os pais ficam doentes, um filho deve estar disposto a cortar um pedaço da sua própria carne e cozinhá-la para eles; somente assim demonstraria ter senti- mentos nobres, e minha mãe não o con- tradisse. Porém se se pode comer um pedaço de carne humana, igualmente se pode comer toda uma pessoa. Sem dú- vida, pensando no choro de então, meu coração sangra ainda; isso é o mais es- tranho de tudo...

XII — Não posso pensar. Apenas hoje notei que vivi toda a mi-

nha vida entre gente que se alimenta de carne humana há quatro mil anos. Minha irmãzinha morreu quando meu irmão as- sumiu a direção da família. E se ele misturou no arroz e em outras comidas, um pouco da sua carne sem que o sou- béssemos?

Talvez sem querer comi muitos boca- dos do corpo de minha irmã; agora che- gou a minha vez.

Como poderei depois de quatro mil anos de canibalismo (antes realmente não o sabia), encontrar um verdadeiro homem?

XIII — Talvez ainda seja possível en- contrar crianças que não tenham, comi- do carne humana.

Salvai as crianças!

Abril 1918

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Página 9 ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N? 17

Dois Contos Populares Africanos

O FILHO DO VENTO Extraído de SPECIMENS OF BUSHMEN FOLKLORE de W. I. BLEEK e L. C. LLOYD

O filho do vento, no princípio, era um homem. Quando era um homem, anciai/a sempre caçando e jogava bola; mas depois transtormo^-sa num passar., e eniãj voava , já não caminhava como fazia quando era homem. Qjando se tnrnsformou num pássaro, voou muüo ai o e foi viver num ninho na mon.anha. O ninho, na montanha, era a sua casa e t.dos os dias ele saía voando e mais tarda voliava. Dor- mia no n.nho e, de msnhã, mal acordada, deixava-o para ir em busca de com.da. Buscava-a por todos os lados e co- m.a, comia alé ficar saciado. Depois voLai/a para o ninho, na montanha, para dormir.

Mas quando era h mem, ele era calado e bom. Uma vez, enquanto- fazia rolar a sua bola, gritou para

Nakalí: — Nakati, olha como corre! — E Nakati exclamou: — Oh! companheiro, e corre mesmo! — Chamou-o de com- panheiro, porque não sabia o seu nome. Mas tinha sido mesmo aquele que é o vento que dissera: — Nakati, olha como corre!

Porém, como não sabia como ele se chamava, Nakati foi pe"gun':cr a sua mãe. — Mãe, — disse — d z-me como se chama aquele nossí companheiro lá debaixo. Ele me cha- ma pelo nome, mas eu não sei o dele e gostaria de saber, quando lhe devolvo a bola.

— Não, por agora não te direi como se chama, dir-to-el e te permi irei oue o diges somente quando teu pai tiver 'al- to um abrigo soldo para a nossa choça. E enão, quando te d;sser o seu nomg, apenas você o tenha pronunciadi, de- ve-5 logo fuqir e correr para casa e poderás te refugiar no abrigo da choca. :

Nakati vcllou a brincar com o companheiro e a jogar b"Ia. Quando Nakati voltou a interroqar. a mâ^, ela excla- mou: — Ele é irríten-kuan-kuan, é gau gaubu-ti!

No dia seguinte. Nakati foi novamenle jogar bola com seu amigo, mas não pronunciou o nome do companheiro de jogo, porque a mãe o havia adi/ertidj que não locasse no assumo, mesmo quando o outro o chamasse pelo nome. El~ lhe dissera: — Quando ciegar o momento em que po- derás chamá-lo pelo n.me, deves correr imediatamente para casa.

E Nakati foi ainda jogar bola com o amigo, continuando a esperar que um dia seu pai terminasse o abrigo para a choça. Finalmente viu que o pai se havia sentado, que tinha mesmo acabado o trabalho. Então, quando viu Isto, gritou: — dha como co re, ó irrKen-kuankuan! Olha como csr.e, ó gaj-gaubu-ti! D.sse isto e imediatamente fugiu, correndo para casa. Sub.amente o seu companheiro começou a va- cilar e depois caiu. Eslendido por terra, da>/a ponlapés terrí- veis sobre ela. E, enquanto ele escoiceava, as choças voavam, as moitas desapareciam e as pessoas não conse- guiam ver por causa da grande poeira. Assim soprava o vento.

Quando a mãe do ven;o saiu de sua choça para o agarrar e pôr de pé, ele se debateu p:rque queria ficar por terra. Mas a mãe o agarrou com força e o pôs de pé.

E assim, de/Ido a tudo isto, nós que somos os bos- químanos dizemos: — Pelo visto, o vento está por terra, por- que s pra forle. Quando o vento esá de pé, então eslá car- iado e bem. Ele é assim. É com os joelhos aue eis faz o barulho que se ouve; eis o que faz aquele barulho. Eu dese- jaria oue, para nós, ele soprasse gentilmente, assim po- deremos sa!r, ir lá embaixo, olhar o leito daquele rio que core p-r detrás da colina. Po-que descobrimos as gazelas daquele lugar. Elas foram ao leito seco daquele rio lá em- baixo, que está por detrás da colina.

A Cidade Onde Ninguém Podia Dormir Extraído de HAUSSA SUPERSTITIONS AND CUSTOMS de A. J. TREMEARNE

Uma mulher tinha duas filhas. Uma delas desposou um homem que vivw numa cidade onde nãj era permilido dormir, a outra casou com um de uma cidade onde ninguém podia cuspir.

Um dia a mulher preparou um prato de doce para levar à filha que vivia na cidade ende não era permitido dormir. Aisim que acabou de prepaar o prato, ela partiu e, quando chegou, toda a fa- mlia lhe disse: — Bem-vinda! Bem-vin- da! — Prepararam-lhe de comer, porque o genro disse: — Vejam, chegou a mi- nha sogra.

Mas a filha disse: — Minha mãe, aqui nlnguím pode dormr. Não coma- djma- siado, para não correres o risco de ader- meceres.

Mas a mãe dsse: — Mui'o an^es que tu nascesses, já eu sabia que aqui não é permitido dormir.

— Oh! enlão está bem — respondeu a filha. — Não direi mais nada. — E a mãe comeu tudo o que lhe trouxeram até à última migalha.

Naquela noite, se bem que estivesse deilada, conseguiu ficar acordada. De manhã a filha pegou a bilha para ir ao rb buscar água e d.sse à mãe: — Pus o café ao lume. Enquanto não es ou aqui, faze-me o favor de não deixar o fogo apagar-se.

Mas depois que a filha saiu, a mãe, duranle algum tempo, conseguiu reavi- var o fogo, mas por fim, venc da prla sonolência, deit:u-se e adomaceu pro- fundamente. Jusiameníe nesse instan- te, uma vizinha veio pedir um DOJCO de fogo e, quando viu a mulher adorme- c:^o ^«nl^rnou: — Ai de mim! A sogra de fulano-de-tal está morta.

Enlão chamaram os tocadores de tam- bor, e em breve toda a cidade se junt u diante da casa e abriram uma co^a. Os tambores diziam:

Birrim, birrim tomem uma esteira mor- tuàría:

A morte entrou na casa do genro.

Mas, onde estava, a filha ouviu e gri- tou:

Parem, oh. oarem, não tomem uma es- teira mortuária,

Nós estamos habituadas a dormir.

E, quendj chegou a casa, sacudiu a mãe e disse: — Acorda, acorda! — En- tão a mãe aco-dou de sob-essallo e to- dos ficaram aterrados, mas logo viram que não tinham de que ter medo, e toda a cdade começou a aprender como se dormia.

A mãe vorou para sua casa e um dia, novamente, preparou doces e decidiu ir visilar a outra filha, aquela que vivia na cidade onde ninguém podia cuspir.

Quando chegou, a família disse: — Bem-vinda! Bem-vinda! — E o genro disse: — Chegou a minha sogra — Então

mataram um frango e mandaram-lhe um prato de arroz. A filha disse à mãe: — Não c:mas demais. Tu sabes que nes'a cidade não é permLido a ninguém cuspir.

A mãe respondej: — Ob-lgada pela Informação. Antes de tu nasceres já eu o sabia.

— Muito bem — disse a filha e não se irmoriou mais. A mãe cemej até fi- car saciada.

Porém, quando anoiteceu, veio-lhe uma grande vontade de cuspir e não sa- bia onde havia de o ir fazer, para que ninguém descobrisse. Por fim foi onde eslavam os cavalos e cuspiu, e cobriu o ponto com um pouco de erva apanha- da que estava Eli. Mas a terra não es- tava habituada e o Ijgar onde ela cjspiu veio à sure fcle e começou a lamen- tar-se, dizendo:

Umm, imm, eu não estou acostumado,

Umm, umm, eu não estou a:os umado. Imediatamente acorreu a população

inlei a e disse: — Quem cuspiu aqJ? — En.ão disseram: — Tragam as ca- be;í:s mágicas, a pequena e a grande e que todes venham andar por cima, mas nnguém ficou preso e Iodos esta- vam espantad s. Enlão alguém dsse: — Lembrem-se que entre nós está uma fo-

rasteira. Que ela venha também andar em cima das cabaças.

Mal ela tinha chegado e levantado uma perna para canvnhar por c"ma, logo fs cabaças a agarraram e todos disseram: — Foi ela que cuspiu, foi ela que cuspiu! •— E as cabaças começaram a cantar estas palavras:

As coisas que prendem e apertam A sogra as teve, a sogra.

Ela não podia sentar-se, po'que tinha as cabaças agarradas ao corpo.

E a cranha, aquela Intrmelda, en- cont'ou-a e dsse: — Ó sogra, como és felz em ter duas cabaças como estas, que cantam uma canção tão bela. Quem me dera que eu es tivesse!

Então ela respondeu: — ÓMmo, cos- ro ^5, terra e diz que não fosle lu a fa- zê-lo.

E qnfndo o fêz, ela disse: — Pronto! Mas nãi fui eu; se fui eu, ó cabaças mágicas, prendam-me!

E imediatamente as cabaças depa- ram a mulher e aaarra^m a aranha. En- tão começaram a cantar:

As c^ís^s rue ore^dem e apertam A aranha das aranhas as tevo.

e a aranha ficou todo contente e se pos a dançar.

Mas loio d°ro's se cansou e dsse: — ó snnra. Devs me Tvre dis*o. vem re- tomar as tuas cabaças. — Mas ela re- cusou.

En'ão a a-anha treoou a uma á-we e q ando c^g-u lá em cima, aMrou-se pa-a baixo ^e c-^vas r-pra n^ahra' PS

caha-as. M3<? elas deslocaram-se para o hHo e pss^m s arpnha quebrou a es- pinha e mo-reu. Entãn as cabaças má- P!C9S voltaram para o luaar de onde ti- nham vindo e todo o rovo da cidade co- me'0'i a e-is^ir. n-rqu-s vimri rve, fa- zendo-o, não sucedia nada de mal.

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Página 10 ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N? 17 ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N? 17 Página 11

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i I CRISE OU ESCÂNDALO? Bastam três dólares para salvar 100 crianças

condenadas à cegueira por falta de vitaminas. Mas o mundo gasta 300 bilhões de dólares em armamentos...

RENÉ DUMONT Extraído de 0 Correio da Unesco

A primeira vista, o progresso da fome no mun- do, sempre crescente, parece um problema inso- lúvel. Na Conferência Mundial da Alimentação em Roma, fiz circular um documento onde mostrava que as estimativas do secretariado dessa Confe- rência pareciam ser otimistas demais. Na verda- de, os números referentes à colheita e produção são lnd;cados pelos governos, interessados em apresentar uma imagem favorável dos resultados de sua administração; em vários casos, os respon- sáveis pelas estatísticas me disseram que os go- vernos aoresentavam estimativas "em alta". As graves carências do outono de 1974 no subcontl- nente indiano não eram "reconhecidas" de boa vontade, assim como não o eram as do Sahel du- rante o inverno de 1972-1973.

Entretanto, o documento preparatório dessa Conferência reconhece: "não há sinal de uma di- minuição da percentagem da população que so- fre de desnutrição... Só no Extremo Oriente, mais de 100.000 crianças ficam cegas por ano, por ca- rência de vitamina A... As anemias devidas à fal- ta de ferro e de folato (fator vitamínico) compro- metem a saúde e a capacidade de levar uma vida ativa... É ainda encontrada a broncocele endê- mica... que se une ao cretinismo endêmico... Nos países em desenvolvimento, me'ade das crian- ças de menos de cinco anos é mal nutrida, e a maioria está condenada à morte prematura".

Dentre os que sobrevivem, muitos, por falta de proteínas, não poderão desenvolver normalmente seus cérebros. Os que, nos países ricos, opõem-se a qualquer medida de controle de natalidade, que- rendo que nasçam mesmo crianças não deseja- das, esquecem que as crianças já vivas não dis- põem do mínimo indispensável, quer pela má dis- tribuição das riquezas produzidas, quer pelo nos- so consumo excessivo, especialmente de carne.

"Nós" (os países ricos) demos ao Sahel, em 1973, o equivamente a 600.000 toneladas de ce- reais e a 150 milhões de dólares. Naquele ano o Sahel precisou de mais 400.000 toneladas de cereais, e por isso morreram milhares de pessoas. Nesse mesmo ano, nossas criações (de bovinos, suínos e aves) receberam 400 milhões de tonela- das de cereais (e 50 milhões de toneladas de re- síduos oleaginosos). Ou seja, mil vezes mais do que o que faltou ao Sahel! E como mais de um décimo do que comemos é jogado no lixo, bas'a- ria "jogar" um pouco menos para poder dispor do necessário.

A renda nacional dos países ricos, naquele ano, foi estimada por volta de 3 bilhões de dóla- res. Portanto, demos a "nossos" pobres não o dí- zimo — a décima parte de que falam os livros san- tos — mas um vinte mil avós (um dividido por 20.000) de nossa renda, ou seia, dois milésimos (um dividido por 2.000) do dízimo!

Naquele ano, os "marketing boards", escritó- rios de exportação dos produtos agrícolas do To- go, renderam aos produtores de cacau, café e al- godão do país 40 por cento do total obtido com a venda e a exportação dessas mercadorias. O camponês, portanto, contribuiu para o orçamen- to nacional com 60 por cento de sua receita bruta; pagou seis vezes o dízimo, 12.000 mais do que nós!

E no entanto, algumas das medidas mais ur- gentes que poderiam ser tomadas para melhorar alguns aspectos da nutrição custam financeira- mente pouco, até mesmo irrisoriamente pouco. Tomemos por exemplo as crianças cuja carência de propinas é dramática, O fornecimentT do complemento necessário ao pleno desenvolvimen- to do cérebro e da saúde de cada criança de me- nos de cinco anos custaria 20 dólares por ano. Ou dois bilhões de dólares para cem milhões de crianças.

A cifra parece à primeira vista impressionan- te, mas um exame mais atento nos faria ver que só nos Estados Unidos gasta-se 20 bilhões de dó- lares com publicidade, 10 vezes mais que o que se gasta para salvar as crianças do mundo; gos'a- se ainda 150 vezes mais com armamentos em es- cala mundial: pelo menos 300 bilhões! Sem falar no volume incrível de despesas suntuárias, como automóveis de luxo, que as "elites" do Terceiro Mundo adauirem, por esoírito de imiVação, e que arruinam esses países. Os gastos com armamen- tos, n^s chamados países subdesenvolvidos, au- mentam duas vezes mais depressa que seu pro- duto interno... E lucra-se com a venda de ar- mas.

Há multas outras medidas ainda mais bara- tas que é difícil entender porque não foram ainda adotadas. Voltemos ao caso da cegueira por falta de vitamina A. O segundo rela'ório ap-esentado à Conferência de Roma, baseando-se em dados fornecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), afirma que: "se déssemos a cada criança duas cápsulas de vitamina A, o custo anual total da proteção de cem milhões de crianças de um a cinco anos contra o risco da xeroftalmia seria de três milhões de dólares". Para salvar cem crianças, três dólares! Até do ponto de vista pura- mente econômico, excluído qualcuer sentimento humanitário, seria um empreendimento rentável, considerando-se o que custa à coleMvidade a ma- nutenção dos cegos — quando existe.

Sigamos este raciocínio, injeções de óleo iodado "asseguram, a um preço de 10 a 20 centa- vos de dólar por pessoa e por ano, uma proteção de três a cinco anos" contra o hiperti-eoidismo. No que se refere ao ferro e ao folato, cuja carên- cia põe em perigo 300 milhões de pessoas (mu- lheres de 15 a 45 anos, crianças de 1a 6 anos) "o preço anual total dos suplementos se situaria por volta de 44 milhões de dólares". Ou seja, um dólar para salvar mais de seis pessoas das ane- mias mais graves.

Poder-se-ia fazer outros cálculos para ava- liar o custo dos parasitas intestinais (vermes, amebas e outros) contra os quais se poderia lan- çar uma campanha mundial, gastando menos que o que já se gastou em campanhas bem sucedidas contra a malária e o impaludismo. A tentativa de erradicação da mosca tsé-tsá, que a Organização das Nações Unidas para a Agriculiura e a Alimen- tação e outras entidades internacionais começa- ram a empreender com bons resultados, poderia ser estendida a áreas muito mais vastas, que co- brissem a maior parte da África Central; se isso fosse feito, os benefícios reverteriam à saúde dos homens e à melhor condição da criação do gado.

Diante de todas essas possibilidades de ação, que poderá acontecer se continuar a evolução

atual, principalmente no que se refe'e à exphsão demográfica? Num "segundo relatório ao Clube de Roma"( Masarovic e Pestel apontaram o caso mais temível que é o da Ásia Meridional, desde o Oriente Médio até as Filipinas, num total de 1 bi- lhão e 300 milhões de habitantes em 1973. Se as medidas de controle de natalidade seguirem o mesmo ritmo dos últimos anos, levará pelo me- nos meio século para que se atinja o equilíbrio natalidade-mortalidade.

Só então, em 2025 — seguindo esta hipótese — a Ásia Meridional teria chegado aos 3 bilhões e 800 milhões de habitantes. Supondo que a essa época a Ásia utilize a quantidade de adubo que os países desenvolvidos utilizavam em 1960 e que tenha melhorado os sistemas de irrigação, as va- riedades selecionadas eíc, os autores estimam que ainda haverá um déficit de 500 milhões de toneladas de cereais por ano. Consideremos os números: por mim, esse déficit estaria entre 300 e 400 milhões de toneladas; de qualquer forma, é bem mais do que o mundo rico poderia dar e transportar, mesmo usando de uma oe^erosidade até agora pouco evidente. (Logo veremos o que farão os países produtores de petróleo.)

Mas vamos supor que esse subcontinente não receba uma "ajuda" de tal envergadura, tão hipo- tética quanto extravagante. Nesse caso, prosse- guem os mesmos autores, o de'icit nutricional se- ria tamanho que a mortalidade de crianças e adolescentes, de 0 a 15 anos, subiria a 500 mi- lhões no próximo meio século! As recentes catás- trofes, do Sahel à Etiópia e a Bangladseh, teriam sido então apenas pequenos sinais precursores de fomes generalizadas muito mais aterradoras.

É chegado o momento de perguntar: "Que fa- zer?" O excesso de população ameaça a própria sobrevivência da espécie humana. Os demógra- fos das Nações Unidas avaliam atualmente que no ano 2000 a população mundial chegará a 6 bi- lhões e meio ou 7 bilhões de pessoas. Eles "es- peram" que se consiga es^bi^zá-la oor volta dos 12 ou 14 bilhões em meados do próximo século. Não acredito nessas previsões.

Tomemos para base de discussão a hipótese "baixa": 12 bilhões de pessoas no ano 2050. Isso significaria mais de 4 bilhões de habitantes para a Ásia Meridional, que já abriga atualmen'e um terço da população mundial, e cuja média de crescimento populacional é maior que a média mundial (2,1 por cento ao ano). Caímos na hi-

Coisa estranha é a fome: No começo, ela não larga a vítima,

nunca. Está com ela no trabalho, quan- do ela dorme e quando sonha. O ven re grita sem trégua, a fome aperta e tor- tura, como se devorasse a vítima, que só pensa em acabar com ela, a todo custo...

Depois o sofrimento agudo cessa, mas a fome mesmo não deixa a vítima.

KAMALA MARKANDAYA (Romancista inoiana)

A crise alimentar é desesperadora pa- ra os países onde grassa a fome. É o maior escândalo do nosso tempo. Em nível planetário, não deveria haver cri- se. O mundo desenvolvido gasta mais cereais com a alimentação do seu aarlo, do que o que é consumido pela totalida- de das populações dos países em de- senvolvimento. Com menos egoísmo e mais equidade, no mundo de hoje, a morte por fome não seria uma realidade para uns e uma ameaça para outros.

Precisamos de uma política mundial de alimentação e nutrição como parte integrante do desenvolvimento global. Não falo apenas de uma política de ali- mentos, mas de um compromisso para a ação.

ADDEKE H. BOERMA (Diretor-Geral da Organização das Na-

ções Unidas para a Alimentação e Agricultura)

pótese de deficits extravagantes e da alta mortali- dade infantil já referida. Se não formos capazes de controlar mais depressa a natalidade, o equilíbrio se realizará por uma alta cada vez mais rápida da mortalidade.

Hipótese? Ponto de vista didático? Não. Em Bangladesh, só nas províncias de Rangpur e de Dinajpur, atingidas pelas inundações, assinalam- se, em estimativas, que um número entre 50.000 e 300.000 pessoas morreu de fome entre agosto e dezembro de 1974. E esta foi apenas uma das conseqüências da fome. Os proprietários "muito modestos" que possuem "menos de 40 ares" de arrozais nessas duas províncias tiveram de vender seus últimos pedaços de terra, para sobreviver. Os kulaks, camponeses ricos, que os compraram a preço baixo, faziam fila até durante a noite dian'e dos escritórios de registro e compravam os selos fiscais no mercado negro, para certificarem-se de não perder "o bom negócio".

Isso nos leva às grandes esperanças de ven- cer "a fome do mundo". Foi ela que fez surgir, entre 1969 e 1971, a revolução verde, generaliza- ção de variedades de trigo e de arroz de alta po- tencialidade. Na índia o trigo obteve grande su- cesso, tendo sua produção dobrada em 7 ou 8 anos, sobretudo no noroeste do país (Pendjab, Haryana). Mas isso ocorreu parcialmente em de- trimento das culturas de leguminosos, cuja pro- dução anual por pessoa caiu de 26 kg em 1956-61 para 18,7 kg em 1971-73. Proteínas preciosas a menos.

A produção de arroz aumentou muito menos, porque a maioria dos arrozais continua a receber apenas a água das chuvas, e as novas variedades precisam de uma alimentação liquida muito regu- lar. Só os grandes proprietários, com acesso aos créditos oficiais, puderam empreender os traba- lhos de irrigação e drenagem necessários, com- prar os adubos, os pesticidas etc. Alguns chega- ram a ganhar tanto dinheiro que compraram de- zenas de milhares de tratores, milhares de ceifa- deiras-debulhadoras; isso aumentou mais ainda o desemprego rural.

Os estudos efetuados sob a direção do Insti- tuto de Pesquisas de Desenvolvimento Social das Nações Unidas (UNSRID) de Genebra, mostraram que muitas vezes essa "revolução verde" agravou as desigualdades sociais e aumentou o subem- prego. Para que ela se generalizasse e atingisse

A sociedade do consumo e do des- peru.c.^ uaiibiomou as prioridades es- senciais do desenvolvimento humano. A fome, que está paralisando as ativi- dades de nações inteiras, foi fabricada com a mesma indiferença empregada na feitura da bomba atômica. A trans- formação progressiva de cereais em car- ne, que torna possível o consumo exage- rado de carne em certas regiões do mundo, anula a possibilidade de haver quantidades suficientes de proteínas em outras.

Grande parte das monoculturas do Terceiro Mundo decorre das necessi- dades específicas de certos impérios ou empresas multinacionais. Como con- seqüência, temos o desequilíbrio ecoló- gico, a erosão e o abandono de milha- res de hectares para se poder continuar ano a ano com a gigantesca empreitada de devastação geográfica.

Propomos um Plano Mundial de Ali- meiUasao que designará áreas de cultu- ra, possibiliiará a ação conjunta, es- tabeiecerá as bases que regularão o emprego de fertilizantes, sementes e água, indicará novas culturas ou novos tipos de produção agrícola e dará tam- bém uma educação verdadeiramente universal sobre o vtlor do alimento e a importância da proteína para o desen- volvimento.

LUIZ ECHEVERRIA ALVAREZ (Presidente do México)

a todos os pequenos camponeses, seria preciso livrá-los dos muitos parasitas que vivem às suas custas.

A lei freqüentemente limita o aluguel do solo ao preço de um quarto da colheita; mas muitos proprietários exigem e obtêm facilmente, diante da grande quantidade de candidatos rendeiros, a me- tade da colheita, em troca apenas do fornecimen- to do campo. Os "pequenos" não têm acesso fá- cil às cooperativas de crédito e o usurário faz em- préstimos a juros de até 75 por cento ao ano. Muitos funcionários deixam "escapar" uma parte do adubo que são encarregados de distribuir; ela vai para o mercado negro, e eles recebem parte do lucro.

E por fim o comerciante, que acumula ainda as funções de usurário e de proprietário, com- pra a preço fora de mercado, durante a colheita, para vender caro na entressafra, às vezes até mes- mo ao próprio produtor, que foi obrigado a vender meses antes para poder pagar suas dívidas.

Mas a fome não é apenas um problema téc- nico. Ê claro que os altos preços do combustível e dos adubos (desperdiçados em nossos grama- dos) constituem um handicap. Mas a fome só será vencida quando os camponeses forem final- mente liberados de todos os que os exploram, se forem alfabetizados, educados social e politica- mente, e motivados para se organizar e defender- se de modo a poder, como dizem os chineses: "contar primeiro com suas próprias forças".

A luta contra a fome comporta um certo número de condições prévias econômicas e sociais, e fi- nalmente políticas. Enquanto não for tirado o po- der dos potentados rurais, não se pode esperar que se organizem cooperativas que realmente be- neficiem a todos os camponeses, nem se pode querer mobilizá-los no sentido de se pôr em prá- tica planos hidráulicos de alcance global e intro- duzir uma série de melhorias na terra, base de autêntico progresso agrícola. Como primeira con- tribuição, os países ricos poderiam deixar de ex- plorar o Terceiro Mundo. Continua-se a comprar por menos que o devido o chá e a juta, cujo poder de compra, nos últimos anos, baixou terrivelmente.

RENÉ DUMONT, agrônomo, professor do Ins- tituto Nacional de Agronomia de Paris, é conhe- cido mundialmente por seus trabalhos sobre eco- logia, principalmente sob o prisma dos problemas do Terceiro Mundo. Autor de Agronome de Ia faim (1974), L'Utopie ou Ia mort (1973) e várias ou- tras obras fundamentais, traduzidas para muitas línguas. Foi candidato a presidência da França com uma plataforma ecológica.

Somos todos passageiros da mesma nave, uma navezinha espacial cujo destino depende de reservas perecíveis de ar e de terra... A nave não pode continuar dividida entre a opulência e a miséria, a confiança e o desespero, metade en- tregue aos velhos inimigos do homem, metade sustentada pela esperança em recursos que até há pouco não sonhávamos que pudessem ser li- berados. Não há piloto nem tripulação que prssa garantir a segurança da viagem nesse oceano de cct^adicões. Solucionar essas contradições é a única condição de sobrevivência.

ADLAI STEVENSON

Dois versículos do Alcorão, em cali- grafia clássica, formando um barco.

Em 1974 o mundo gastou

210 BILHÕES DE DÓLARES em armamentos" ou

20 vezes toda a ajuda aos países em desenvolvimento

O mundo gasta por ano

25 BILHÕES DE DÓLARES em pesquisas militares ou

4 vezes o que é gasto em pesquisas médicas

á QUEBRA-CABEÇA PARA EINSTEIN

Quando lhe perguntaram que armas seriam usadas na eventualidade catastrófica de uma terceira guerra mundial, Àlbert Einstein respondeu que não fazia idéia; mas que numa. quarta guerra mundial as ? únicas armas seriam > machados de pedra.

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Página 12 ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N? 17

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■^ Ilustração: Rõmulo Andrade

A cultura airavés dos séculos tem os- ciladj como um pêndula entre as rea- lidades e cs sonhos. Es.e movimento pendular pode ser calmo, ssreno e har- monioso, in.egrando realidade e s:nho numa visão conjunta e equiLbrada. Mas no mundo de hoje, especialman e nos í-mfrentes metr pol ia~03 e3ia rela ão torna-se frenética e dilacerante — rea- lidades violsnits, agressivas, desumanas encontrem-ss OJ com sonhos infernais, apocalípticos, que são um prolongamento de um cotidiano iniolerável, ou negando a realidade condjzem a um ilusório pa- ra:s3 perdido.

O inderground, o movimento coitra- culfural que tomu foma nos anos 60 se almentou faríamene des^s djas íon- tes, tentando sjperar sjas coniradições. E ao mesmo tempo, conscientemente ou não, procurou superar a realçada hos il, tentando minar e abater a cultura do os- tablishment.

Bob Dylan assume isso quando canta:

When you've n~thin' You've got no'hin' ío loose You're invisible row

(quando você tem nada / vccê íem na-

da a perder / você á invisível agora) Ou quando ela avisa: The vimes

they're changin' (Os tempos es.ão mu- dando) .

A realidade urbana norte-ameMcana, SUL violeniacãj dos nervos, do espíriio, da integridade — o esmagamento do ho- mem dentro da paisagem variical das longas paredes que comprimem o espa- ço, que esiiharam a libe-dade. a auten- ticidade do querer, que emeaçam a con- dição humana, njm mundo domrado pe- IDS objetos, onde tuda é mercadoria, on- de o herdem fe''o boneco, dança ao som do tilintar das caixas re^isradoras — esta realidade r,"bsna universal — mas que ros Esiados Unidos se acentua — sem meddas e sem Tmiíes — teria qup encontrar os seus in'érpre':es.

Esta realidade aljcinan'e. aue na sua loucura perece um pesadelo, é o mundo que o mais orig:nal criador do novo un- derground norte-americano, o gui'arris- ta Frenk Zappa recria nas suas compo- nicees. Frark Zapna iniciou sua carreira com o c^nju^o Mothers rf Inventon, Sua •'ea- ção contra o que ele chama-a "sen I- man^lsmo cretino" foi uma atitude de tíesmislificação contra o predomínio de

um mundo onírico como fuga da realida- de cinzenta. A introduçãj de uma tealri- lização e dramatização do rock teve como base o método de cr ação que utiliza uma técnica invariável: Seu ponto de partida é a c iação do texto, escrito sempre com acentuada violência satírica. Depois cria o conjunto melódico, que é interpretado pelo conjunto. Durante a ln'e-pretação, Frank Zappa muda abrup- tamente o volume de som de certos ins- trumentos, numa seqüência totalmente irregular, que pode parecer casual, mas é cuidadosamente planejada. De posse da fita ele realiza a colagem: Integra sons não musicais — ruídos da rua — britadeiras — marteladas etc. A sua mú- sica deve surpreender-nos a cada ins- tante, da mesma maneira, c:mo em cada esquina de uma cidade no.urna, espera o imprevisto.

A pões a, a música, o sarcasmo, a vio- lenta, os súbitos ins'an es de "atroci- dades" teatrais, que formam a obra de Frank Zappa. são uma espéce de por- rada na cabeça do rock ingênuo, oníri- co, dos p'imei os temp s. A evolurão posterior de Frank Zappa depois de dei- xar os Mothers of Invention é to.aímen e conseqüente. São a realidade e os so- nhos violentos da atual dade urbana em transformarão que cnMnuam lema e meta da sua ob-a e da sua atuação. Te- remos em seguida dois textos de Frank Zappa:

Geme de Plás'ico (Plastic People) Dam£s e cavalheiros O presidente dos Estados Unidos, Meus Compatriotas tem esiado doente creio que sua mulher vai trazer-lhe a canja. Gente da plástico, oh baby, P-r que vocês estão ião maldosos? Sei que é difícil defender uma política impopular de vez em quando. Gente de rlásico, oh beby.

Por que vocês es ão tão rmMosos? E aí es á es'e tipo da CIA que se arrasta por Laurel Canyon Mnha pequena ela m-í espera é o fim de plástico,

pinta a cara com qoma de plástico, estraga o cabelo com shampoo. Gene de plástico, oh baby. Por que vocês esião tão maldosos? Não sei, as vezes cansamos

de você, querida, eu ao menos do teu spray da cabelos. Gente de plás.ica, oh baby, Porque vocês es ão tão msldosos? Ouço o ruído de pés que marcham pelo Sunset Boulevard até- Ctescent

[Heights e aí na caixa Pandora

enfrentamos uma g.ande multidão de gen.e de plástico. ' IUIIJü um u.a i.vre e comece a caminhar observe como os nazistas governam a rua c.aaae. M, voi.e para casa e med.ie porque você pensa q^e talamos o= c.ia„iii tu^ro.

Vocês são gente de plástico, oh baby, como são maldosos. Enxergamos uma luz de néon por cima da lua. Faz anos que busco amor e não encontro.

Estou certo que o amor será jamais um produto da plas'icidade, um produto da ptasVdade, um produto da plasticidade.

Gente de plástico são os pés, cabelos, nariz, braços, joelhos, os beijos ,a lascívia, o coração a boca — tudo de plást.co, gente de plástico. Genie de plástico.

Peste de plástico. Gen'e de plástxo. Peste de plástico. Gente de plástico.

FPEAio? FAMINTOS, PAPÁ (HUNGHY FREAK3, DADDY)

Mr. Am^-ica. oassq nor c'ma das esc^Ns que não ensinam. Mr. América, n"^1! nor cima

Mr. América. tr3te de esconder o v^zio n-K? p<!'-á rio-.tro de íi, O r-ue nrnr"-p<? pfnal? o "ne pre'enHes?

nu-c^ pclm^ão a m-"* montante r1"-^ F"<:i~1<"! Fí"r"r>*'»s. Pa^á. Eles já rão marcharão mVs, ro!s enconfra ão a flosofia dos baza es do ocidente, oue se afasla dos oue tem medo de dizer o que pensam, Os despejos f da Grande Sociedade. Freaks Famintos, Papá.

Mr. Atrrrica passa DT c'ma do sonho dos supermercados Mr. América passa por cima do álcool sublime das tavernas.

Mr. América trate de esconder, o teu orgulho selvagem, a men e livre negada, no dia que encolhestes os ombros e ficasíe de lado (Toando os teus trajes, chorando. Freaks Famintos, Papá.

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ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N? 17 Página 13

STOp

Nuclear Power

Contra

O Veneno

Nuclear FRED SMITH

Tradução de ANDRÉ DELANO BUCHSBAUM

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power pi)

Usinas nucleares são bons vizinh s — diz um cartaz da usina de Poinl Beach em Wisconsin. Ve Ifica-se que Gcsbbels, o cheíe da propaganda da niJsr, fez discípulos, quando afirmou: A mentira audaciosa, sempre repetida, accba sendo aceita ccmo verdade.

Quando os cientistas descobriram o que resuLou da fissão do álomo, elss po- deriam ter descido em lempo, com- preendendo os perigos leleis. Mas cs homens tentados pele poder e pelo di- nheiro, que esta nova espéc e de energia prometia, foram acüanie, tentando Im- por ao mundo suas usinas nucleares, com todas as montanhas de lixo radioa- tivo, seu perigo de catástrofes, suas ra- diações letais, imperceptíveis e insidio- sas...

O resultado disso será o SUICÍDIO ATÔMICO,, a não ser que você cida- dão, que você jovem, que você — que tem senso moral — se levantar — para resistir — para prevenir o fim da humani- dade — o fim da condição humana — das esperanças, dos anseios, do sopro divino — que está era cada um de nós.

Você está sendo chamado para esta luta — você acha que é capaz de parti- cipar na defesa de tudo que é digno, de tudo que é sagrado?

VOCÊ SE TERIA JUNTADO Ã MULTI- DÃO QUE CLAMOU PELA CRUCIFICA- ÇÃO DE JESUS?

Lembre-se de que os temas morais mais decisivos, sempre são dissimulados com a máxima esperteza. A cilada pre- cisa ser bem camuflada pelo engodo, e o anzol tem que ser totalmente enco- berto por uma isca suculenta.

As vitimas dos campos de morte de Hitler, e os próprios algozes, que afinal eram vitimas também — foram engana- dos — foram triturados, até que não lhes restava mais nenhuma salda. Para as vitimas era o desespero e a morte, ou para alguns, depois de atrozes sofr.men- tos, a salvação, por milagre divino. Para os algozes chegara a hora do castigo, do Implacável ajuste de contas.

"Se tivéssemos vivido nos tempos dos profetas, nunca teríamos der, amado o seu sangue." (Mateus 23:30)

Assim, com es as esper ezas, a ver- dade era obscurecida e torcida por estes que crucificaram Cristo.

As ciladas morais e espirituais para iludir o povo sempre conservaram o mes- mo estilo, mas hoje são enfeitadas com linguagem técnica.

Vejamos, na nossa nação, quanta ener- gia na 3 se desperdiça na vaidade, na ostentação, na vida dourada do pecado e da abom,nação.

Quanta energia não se gasta no inútil, na iluminarão feérica das nossas Babilô- nias, enquanto nossos irmãos famin os, esperam por uma migalna de pão que porventura caia da mesa dos ricos.

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"Os úlíimcs serão os primeiros, e os primeiros ssrão os úlíimos".

(.Mateus 20:16) E olhando para as legiões de crianças

famintas e desválidas Jesus disse; "Deixai vir a mim os pequeninos, por-

que deles é o reino do céu". (Marcos 10.14)

E agora querem nos fazer uma nova ci- lada, afirmando que a nossa nação para crescer, para progredir, precisa produ- zir energia elétrica em usinas nucleares, enfrentando a vontade divina!

Já esqueceram que está escrito: "O QUE DEUS JUNTOU — O HOMEM NÃO DEVE SEPARAR". (Mateus 19:6)

Estes que querem construir as usinas nucleares são imorais?

Eles não são só imorais, eles estão espiritualmente mortos — pois eis o maior e o último desafio do homem con- tra tudo no céu e na terra que é puro e sagrado.

Nós lemos que quando Deus fez o céu e a terra, cada aspecto da criação era bom, era perfeito. Mas toda inte- gridade, beleza, consistência e virtude de todas as formas da natureza, tem sua base na estrutura e na enorme estabili- dade e harmonia das formas atômicas elementares. Quando os homens muti- lam e deslróem estas formas fundamen- tais da natureza, eles atacam e mutilam a maravilha da CRIAÇÃO DE DEUS pela raiz, corrompendo insidiosamente os processos vitais de alto a baixo.

CRIME CONTRA OS NÃO-NASCIDOS

A natureza profundamente demonía- ca da fissão nuclear, feita pelos homens, torna-se evidente pelos venenos que produz. Toda árvore, disse Jesus, é conhecida pelos seus frutos. E na ter- ra não existe nada que se possa compa- rar cm as forças mortais que são li- beradas pela subve-são dos processos mais íntimos da natureza nuclear. Os venenos radios.ivcs aue surgem pela fissão dos átomos penetram em todos os lugares e não são no.ados pelos sen- t dos d s homens ou animais, causando horríveis cínesres, anos mais 'arde. Plu- tônio, o mais tóxico e dificilmente con- trolável de todos esses venenos feitos pelo homem, é moríal por 503 mil anos. Inadvertidamente, seus criadoes deram- lhe o nome correto — derivado de Plu- to — o Senhor dos Infernos.

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Os venenos nucleares causam os seus mais sérios danos aos não-nascidos, de- formando e mutilando não somsnte a próxima geração, mas TODAS gerações íuluras, e não só algumas espécies vivas, mas TODAS as espécies vivas. Estes ve- nenos nunca entes existiram na terra, desde que apareceu a vida, assim ne- nhuma espécie viva jamais precisou en- frentá-los.

Brevemente, nenhum outro veneno em toda natureza, poderá nem de longe se comparar, com os efeitos sutis e insidio- ses, de duração milenar, de todos estes produtos mortais que são a conseqüên- cia inevitável de todo processo nuclear desencadeado pelo homem e inspirado pelo diabo.

Os emprendimentos nucleares, como todos os males, são sedutoramente anun- ciados para fazê-los mais facilmente aceitáveis. Mas isto é apenas a isca no anzol do diabo. Engulir esta isca sig- nifica a ruína espiritual, física e econô- mica. Isto inclui todas as riquezas e todos os bens. O chamado "desenvolvi- mento" nuclear irá reduzi-las à bancarro- ta e à mendicância, e nes países que já palmilham esta trilha mortal, o começo do fim já está à vista.

Em favor da indústria nuclear só há tudo que seus investimentos miiltibilioná- rios podem comprar: O prestígio falso e a propaganda mentirosa.

Se não houvesse estes tremendos gas- tos num caudal de mentiras, nenhum homem ou mulher inteligente iria apoiar es^a horrenda tecnologia.

Mas continua havendo homens que p-opa^am as mentiras desta f^l^a c:ên- cia. Eles carregarão o fa'do inteiro des- ta enorme respons=ibil!dade, um fardo erm o peso de montanhas.

Até que ponto voes é responsável? lqnorânc;a não é descMoa — e aceia-

ção submissa é cimrl c;dad9. Os ho- mens que não esão lutando con'ra o monsti-o nuclear, sã^ nar'e do problema.

É muito fácil informar-se, mas você tem are one^e'-!

J"NTE-SE A TOOftS AS PESSOAS IMTEi IGENTES. PREOCUPADAS E PES- PONSAVEia DO MUNDO TODO. QrE FS- T^O Si OPONDO ftO ENVENENAMEN- TO NUCLEAR DA TER'A!

"Aqiieles qve desTcem a Terra serão julgados e destruídos! PENSE!

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Página 14 ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N9 17

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ABERTURA GULTURAL — ANO 2 N9 17 Página 18

Por Que As Hemorróidas Gritam? LICO

Este crazy world em torno de mim, parece um toca- dor de trombone caduco, totalmente tarado para violentar às teclas puras de um piano, nunca antes tocadas por mães profanadoras.

Sou um pingente da vida, um carona constante deste hospício afluente, onde o dia de hoje é apenas um flash- back da caretice de ontem, um video-tape da banalidade, canalidade, canalhice, mais canalha.

Quem quer ser um insider deste dia-dia, diariamente, inclusive o noite-noile com gosto de caviar — de esturjão extraviado, nascido e criado na baia da Guanabara e que nos seus sonhos lascivos deseja velejar na lagoa de Maricá.

Um som lancinante de uma sereia de ambulância des- vairada, precipita-se num Rock ardido, apimentado, que ex- plode violento e balança as estruturas — bagunça o co- reto.

Vejo os amputados dançar com as muletas e os esque- letos chocalhar as ossaturas brancas, no contágio do rit- mo e na ventania dos sonhos.

Qual é a tua, chapa? Você acredita realmente que os talherinis são filhos

pródigos de vermes intestinais? E que enroiá-los no garfo e enguli-los —é uma volta

à origem? Por que será que as hemorróidas gritam e as bocas

calam? Estou com uma azia, não sei se estou... on the trip...

ou... on the road. A vida me parece uma trip-road ou quem sabe road-trip.

Vou mudar de canal, de cidade, de cachorro, de nome, de bar... já tentei suicidar-me com uma canela, mas a porra não dispara e mal escreve, Quem sabe engulindo, que nem pílula, dá certo — mas há o perigo, de uma mão invisível, lá dentro do âmago do meu ser — pegue na caneta — a porqueira começa a funcionar, e escreve o best-seller da minha vida íntima...

... aí, em vez de suicida, bem suicidado e sucedido, viro insider desta esterqueira — já vejo as manchetes nos jornais, as noites de autógrafo, os coquetéis — com uma grã-fina me perguntando: "De onde vem toda inspiração tão fervilhante, Monsífeur Licó?"

"Monsieur Licó, uma porra" digo eu, engolindo o resto, em eterno respeito à "legião de Descenda", farol incan-

descente de moralidade cabocla, internacional e interga- lácuca.

Engulir palavras — traumatiza — assim eu baixo no hospual, ou melhor o hospital se abaixa para apanhar-me. Logo de início fazem um eleíro-encefalograma para ava- liar minha incapacidade de inadaptação e em seguida me submetem a um vestibular sacudido, com milhares de cru- zes .

Esgueiro-me pelos longos, intermináveis corredores, vou ao cemitério, volto com as cruzes necessárias.

O vestibular está salvo e floresce róseo como um car- valho ou uma cerejeira na primavera da vida. Mas nada adianta, os médicos me olham cem severidade: As cruzes que eu trouxe inocentemente do cemitério eram, são e con- tinuam propriedade particular de mortos, ciosos dos seus direitos, tão mortos e tão ciosos — que nenhum vivo Cse houver) pode com eles. . ...

Meu caso é grave. Parece que pequei contra as leis internas deste mausoléu — estou irremediavelmente doente — ou pecador — ou pescador de cruzes (alheias).

Aparece a figura severa de Ivan lllich, estende-me a mão de dedos finos e com um puxão me arranca das gar- ras do Nêmesis.

Ave Maria gratia plena — estou salvo — oima renas- cença pessoal que me traz de volta ao mundo.

Mas que mundo? Eu continuo sendo um best-seller, — e de intimidades

incontestavelmente porno-metafísicas, memórias mortas que se tornam vivas nas letras pretas das páginas brancas.

Temo virar guru, ser guruficado, é incrível, meu sub- consciente com a caneta na mão fez estragos.

"O GONFITEOR MODERNO DE UM HIPPIE-BEAT- NIK GABOGLO — REVELAÇÕES ESTARREGEDORAS — ABERRAÇÕES SEXO-MENTAIS QUE PODEM GONDUZIR VOCÊ TAMBÉM Â BEM-AVENTURANÇA" — Assim diz a propaganda.

Eu maldigo esta minha intimidade tão exibicionista, ser best-seller é terrivelmente ingrato, cansativo — vivo fugindo dos voyeurs da vida e desejo ardentemente ser novamen- te o velhor Lico, pingente da vida, carona humilde deste hospício afluente, ambulante, que cresce, incha, se espalha, tedo dia.

Vou sair pelos fundos...

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A FAMÍLIA QUE MATA UNIDA — de Jules Feiffer. Tradução de Millor Fer- nandes. Direção de Léo Jusi. Feiffer analisa em tom de sátira surrealista, uma típica família americana de classe média envolvida num cotidiano violento.

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JOÃO CAETANO — Praça Tiradentes — Tel. 221-0305.

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Junto com cada jornal remetido ijá a Informação: Oferta por indicação de aí segue seu nome.

A nossa finalidade no caso, não é só conseguir novos assinantes, mas tam- bém lançar sementes, espalhar o nosso Ideário, porque embora nosso jornal ho- je esteja presente em milhares de bancas do Brasil e do mundo, quanta gente não passa Indiferente diante das coisas e nem enxerga o que está diante do seu nariz. Ou enxerga, e lê — ABERTURA — e acha que está na hora do fecha- mento, vai fechar o escritório para-to- mar uma caipirinha — ou perdão — um uisqul on the rock.

Então gente vamos nesta — e se vo- cês quiserem aproveitar e dizer algo so- bre o jornal umas críticas construtivas ou destrutivas, uns elogios rasgados, es»âo convidados para esta também. A me- lhor pixação e a melhor loa serão pre- miados cada uma com um pacotão de livros! Tá?

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Página 16 ABERTURA CULTURAL — ANO 2 *» TT

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A noite desce na encruzilhada e o medo galopa sobre a superstição dos séculos

a luz!, 1 a luz estava apagada \ por Isto a criança chorou...

Não chores meu filho não choies que a vida é lula renhida viver é se Ir morrendo aos poucos

(preciso acertar um soco ■ na cara daquele gringo!)

A luz estava apagada foi a CEEE quem cortou a mesa estava quebrada foi tua mãe quem a quebrou a garrafa estava cheia foi teu pai quem a esvaziou:

um vazio igual a este que tomou conta de mim: vazio malcr, Margarida, me conta se já sentlste?

a CEEE cortou a luz e o fiat-lux não existe

numa noite escura assim teu avô perdeu a vida lutando contra chlmangos numa noiíe escura assim i vó Tereza caiu morta depois de dançar um tango

Terezinha andava solta dançando tangolomango mais solta que Terezinha nem o próprio vento andava ao vento morreu meu filho como uma bandeira, depois veio um estudante e disse: "a arma chama-se fome, quem puxa o gatilho?"

Eu não puxei, mas vontade não faltou: dO'm:ndo na minha cama com o gringo do armazém! Mesmo, eu nem tinha revólver.,.

Clap, calp, clap: é o medo-sem-cabeça a galopar na encruzilhada: lá fora o vento assusta as estrelas com seu lúgubre cantochão a angústia anda solta chorando na voz do vento o medi sai à rua as trevas onipresentes soluçam a última litanla na voz contrita do vento — um vento de ventania que afoga o flébil choro das crianças com medo e, mais que medo, frio

esta luz está apagada minha cerieza apagou-se o homem desfez-se em enxofre porque tinha paks de olks

— paks-de-olks que palavra é esta mis^riosa te-rível paks-de-olks explodindo como eterna danação nos lábios lividos de carmelita com espuma nas comissuras? paks-de-olks paks-de-olks sou muito pequeno para teu significado oculto

Os trêmulos cfrios translúcidos tiriíam transidos de frio o vento gela o cristal da noite que se partiu

rola mundo sopra vento sobre a anqús'la e sobre o frio sopra, vento rolamundo sobre a criança que chora de frio...

. IHfV

^aes

O SACO — uma revista cultural em prosa, poesia e Imagem — acaba de ser lançada em Fortaleza. José Jack- son Coelho Sampaio, Carlos Barreio Corrêa Lima, Nil.on Macedo, Antônio Aírton Machado Monte — arregimentaram a cultura e ar!e cearense em t:rno da "O Saco" que apa- rece com um primeiro número já de alto gabarito. Endere- ço: Rua Liberalo Barroso, 3 — Fortaleza — CE.

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ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N? 17 PAGINA 17

Noites

de

Abril DOMINGOS PELLEGRiNI JR.

Na noite estão os homens que caçam rãs com faroletes. Na noite es.ão os homens que caçam homens com caminhonetas. Negocian.es cobrando sangue, fazendeiros plantando coices, bois derrubando cercas « estacam antes as bibliotecas, e seqüestram livros « ganatas térmicas ; « pensamentos e canetas.

Na noite estão os homens e as mulheres dos homens presos trançando angústia nos dedos.

Na noite estão uns cachorros que latem de estranheza, outros que roncam fcme na barriga ou medo; e gaios que atrasam; e não há estrelas; esta noite estão prendendo homens direitos.

Na noite estão pijamas com suor, sangue, pasta de dente. Não corre trem sem maquinista jornal não roda sem rotativa nem atendem na noite o telefone nem sabem onde se meteu Fulano nem sabem como começou a caça nem sabem quanto caçarão os homens.

Na noite estão caminhonetas que brecam num peito, portas que batem tapas sempre duplos nos ouvidos da noite, céu zonzo ' sangue nos ladrilhos

na noite

Bate longe um sino Uma rádio protesta Um jornal pergunta Um professor pergunta em que noite estamos Vai o professor responder perguntas De repente a rádio com música clássica Jornal notícia sumiu um sineiro.

Na noite estão, noite após noite, as bibliotecas do ventre estraçalhado, cachorros imitando tatus, em buracos, 8 mulheres tranç&ndo esteiras de medo tão compridas que nelas se deitam « dormem de fadiga, de fanadas, com seus úteros de estrelas encardidas.

O desenho acima é de Alolsio Buss. Conforme podem ver — Aloisio é um radical. Radical? Vocês perguntam? Ora, não estão vendo? Ele vai até a raiz das coisas... Buss é um dos colaboradores principais do Cogumelo Atômico — um jornal da imprensa alternativa — de Brusque para o Brasil e o Mundo. Endereço: Cogumelo Atômico Caixa Pos- tal 179 — 88350 — Brusque — SC.

«Equipe» — «Mature» Em NATAL (RN) surgiu um novo jornal alternativo

"EQUIPE". No N? 2 que temos em mãos destacam-se A ERA DE MARAVILHAS DA AMÉRICA de Nelson Patriota Ne- to, uma ENTREVISTA COM RITA LEE e Origens e Evolução do Modernismo de Eduardo Antônio Gosson, como anexo recebemos uma revista em quadrinhos da qual reproduzi- mos ao lado uma página, esta revistinha chamada MATURI, tem com D editor Enoch Domingos — Rua Santo Antônio, 295 Cidade Alta — Nata RN. O endereço de EQUIPE é: Rua Princesa Isabel, 473 Cidade Alta — Natal — RN.

BÁRBARO Inês Matra

SATURAI "^ Mm

GWASnCA AVC0PACABANA,450 GRUPO 401

Sob a direção de Luís Fernando

Bárbaro Esse teu coração vazio Cheio de cinzas Coração frio Pesado como o ferro Cores mortas Um leve adeus apagou todas as brasas ta queimou, te secou Só restou cinzas Bárbaro

Que Importância tem O vento que se joga da colina As flores amarelas no meio do verde da campina Os espinhos que mudaram teus olhos em sangue Que importância tem para um cego? Um berro Bárbaro.

ATENÇÃO para INTRODUÇÃO À MA-

CROBIÕTICA E DIETA DOS DEZ DIAS

de Mareio Bontempo. Um pequeno livro

que oferece um resumo dos princípios

da macrobiótlca, com uma série de re-

ceitas. O livro dá também uma relação

de restaurantes, lojas e comunidades

macrobióticas de todo Brasil. Para obter

o livro dlrija-se a um restaurante macro-

biótico ou escreva para a Editora Ground

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Página 18 ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N? 17

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Resistência Ecológica O movimento Resistência Ecológica

está crescendo, está tomando - forma. As adesões chegam de toda parte.

A finalidade de Resistência Ecológica é o combate à destruição rapinante do nosso amWeate natural, desta estreita camada de ar, água e terra que é o lar de todos seres vivos deste planeta e o lar também do homem.

O nosso meio-ambiente é um eco-sis- tema extremamento complexo de grande equilíbrio natural. Este equilíbrio, o ho- mem com sua sociedade industrial, com sua sociedade de consumo e de desper- dício, está desíruindo sistematicamente, sem querer observar, que além de outros seres vivos, está destruindo-se a si mes- mo.

Nos chamados países desenvolvidos os rios estão mortos, os lagos são cloa- cas, a natureza ttída está sucumbindo. No chamado terceiro mundo, as lixeiras avançam também, e como geralmente falta aos cidadãos o hábito de manifes- tar sua vontade, toda enxurrada de pro- dutos químicos, pesticidas etc, há mui- to proibidos no mundo desenvolvido, es- tá sendo despejada aqui.

De Iodas as formas de poluição, a mais perigosa, a mais definitiva, a mais mortífera, é a poluição radioativa. Esta afeta a vida como um todo, e através dos estragos genéticos que causa, põe em perigo toda nossa descendência. As usi- nas nucleares que se pretende Instalar em nosso país, além da poluição radio- ativa, podem causar ainda grandes ca- tástrofes .

ABERTURA CULTURAL, com a lideran- ça de Otto Buchsbaum, Florence Buchs-

baum, Bastos Mello, Ruiz Llabrés, Tales Lima e outros, está liderando a resistên- cia contra a poluição nuclear.

Já recebemos moções de solidariedade do mundo todo, de todas grandes socie- dades ecológicas, das mais destacadas personalidades do mundo científico, In- telectual, cultural, religipso, político etc. dos Estados Unidos e de dezenas de ou- tros países.

Mas a RESISTÊNCIA ECOLÓGICA só será vitoriosa com a conscientização da nação brasileira. Pretendemos criar nú- cleos locais em todo Brasil, precisamos do apoio e da adesão de todos. RESIS- TÊNCIA ECOLÓGICA está sendo regis- trada como Associação civil. Mas ne- cessitamos desde já a sua assistência financeira, o próprio registro da Asso- ciação Civil.custa dinheiro. Todas con- tribuições financeiras deverão vir por enquanto em nome de Otto Buchsbaum, em cheque comprado, pagável no Rio de Janeiro. Ou, se a importância é pe- quena e não vale a pena comprar um cheque, mande uns selos do correio. Is- to é uma luta de gente pequena em fa- vor de si mesmo, em favor da vida, para viver em paz com a natureza.

Gente pequena, contra corporações grandes, poderosas, cujos chefes não tem capacidade de pensar além do pró- ximo balanço.

Avante Resistência Ecológlcal

Toda correspondência deverá ser man- dada para ABERTURA CULTURAL que é o núcleo aglutinador do movimento:

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ABERTURA CULTURAL — ANO 2 N? 17 Página 1»

OS CASCATEIROS DA «PAZ INTERIOR» William Penn Patrlck, o magnata da

Magia do Lazer, que pretendia inicial- mente tornar-se pregador, chamava sua companhia de cosméticos, de "minha igreja", num certo sentido. Ele descre- via seu estilo de liderança como um cruzamento entre o "carisma" de Jesus Cristo e a "agressividade" de Genghis Khan. Da mesma forma, Stefan Stei- nholz: da Preparação da Consciência Transpessoal adentra pela sala dos "convidados", Impecavelmente vestido e imediatamente estabelece um contato ocular com todos os presentes. Como outros modernos pregadores, ele não ten- ciona fazer uma "venda agressiva" — atinai isto é tarefa dos seus subordina- dos. Ele diz cinicamente para a audiên- cia: 'Agora eu não vou tentar. Eu não vou dizer que vocês DEVEM se inscrever no meu curso introdutório — vossa vida prosseguirá quer entrem quer não entrem no curso". Helnholz ]á foi um vendedor de eletro-domésticos — dizia ele que você estava comprando saúde, e não um simples Electrolux.

Além tíos evangelistas super-vende- dores, existem marcas de gurus menos persuasivos e que operam de maneira mais "pessoal". Isto inclui todos os Charlatões da anti-psiquiatria e alguns pequenos grupos que conduzem ses- sões de terapia. Eles adoram posar co- mo profetas. De fato, muitos deles se- riam profetas, ministros ou doutores de acordo com suas ambições familiares. Eles se apresentam como salvadores e mudam os truques ulilizados nos seus "tratamentos", conforme a moda vigente. fios podemos seguir a carreira de um destes profetas e ganhar ama uma idéia

mais precisa de como eles "trabalham". Sidney Bem opera em New Ycrk

City — Isto quando não está seguin- do algum guru para a índia, ou peram- bulando pela América do Sul a fim de observar curas mágicas de "tribos pri- mUÍvas". Bern é graduado em Psicolo- gia Clínica e começou sua carreira como psicoterapêuta. No começo, muitos de seus pacientes vinham do mundo do tea- tro, de círculos boêmios e da esquerda- liberal. Sidney logo ficou Interessado na "terapia do LSD" e depois na "liberta- ção" do grito-primal e em seguida em R.D. Laing (que parece extrair um dia- bólico prazer de doenças mentais — suprimindo a linha existente entre esqui- zofrenia e comportamento normal, todos têm de se considerar um caso fronteiri- ço) .

A terapia de Bern passou de forma crescente a proporcionar aos seus pa- cientes, viagens ilsérgicas, incluindo re- lações sexuais com as pacientes, e por outro lado encorajando o desenvolvi- mento da "consciência cósmica" de seus clientes. Muitos de seus pacientes eram gente bem sucedida no teatro que em sinal de gratidão ofereciam a Bern, pi- lhas de dinheiro, presentes e também alojamento em várias partes do país, em troca de sua grande terapia. Por um período, ele foi professor na New York University transmitindo seu linguajar excêntrico para os alunos e levando mui- tos deles para o dlvã. No melo dos anos 60, depois de multas viagens de ácido, feitas tanto por ele como por seus pa- cientes, Bern começou a procurar por mais "experiências cósmicas". A te- rapia do ácido estava começando a cha-

teá-lo, e ele sentiu que o mercado para isto principiava a se esgotar. Então ele faturava apenas 30 dólares, a menos, é claro, que houvesse como complemen- to uma terapia de ácido, que custava 75 dólares. Realmente as sessões de gru- po, feitas nos fins de semana em sele- tas casas de campo, compensaram, ren- dendo 8 vezes mais que os modestos 30 dólares.

Bern prestou atenção especial aos seus pacientes ricos, fazendo amizades úteis, enquanto ele lentamente ultrapas- sava o limbo místico. Nos últimos anos da década da 60, ele era visto freqüente- mente conversando com pessoas invisí- veis (e presumivelmente ele converw- ceu seus seguidores da existência dos seus amigos imaginários). No começo dos anos 70, Bern entrou na maluquice das "ondas alfa" e ensinou seus discí- pulos a controlar e usar suas "ondas al- fa mentais". Ele afirmava ousadamente poder curar qualquer pessoa doente no mundo, através da emissão das "ondas alfa" apropriadas. Ele usava seu truque (da mesma maneira que utilizava todos os outros) das "ondas alfa" em cima de todas mulheres que coubessem na sua cama. Aparentemente, Bern descobriu que em algum ponto, seus poderes cura- tivos mágicos não estavam funcionan- do, pois ele subitamente abandonou as "ondas alfa" e foi correndo para o Ja- pão, desta vez, para "estudar" acupun- tura. Depois de um curso intensivo de dois meses, ele voltou para New York e abriu uma "clínica" dentro do seu apar- tamento para a prática ilegal de acupun- tura e medicina das ervas. Além de es- petar agulhas nas pessoas e distribuir

Continuação da úiJtna página

ervas potencialmente letais, Bern (que agora parece estar abandonando a psi- coíerapia); ensina que cores seus pa- cientes deveriam usar para estimular certas "energias" com as quais desco- briria suas "carências". Mesmo se apa- rentemente o freguês não tem nada de errado, Bern insiste em que este venha pelo menos mais três vezes para "tra- tamento", pois somente assim pode "re- cuperar" o corpo do cliente.

Como muitos outros "novos gurus", Sidney Bern se firmou na área da me- dicina popular e está achando meios lu- crativos para usá-la. A medicina tradi- cional do ocidente Ignorou e derrubou a medicina popular — um óbvio engano, dado que esta é baseada em gerações de observações práticas e experiência. Mas os gurus profetas em vez de estu- darem e usarem a medicina popular, de forma prática, tornaram-na algo irreal, mágico e místico. Os chineses que pra- ticam acupuntura sabem exatamente o que estão fazendo e não vêm com essa conversa fiada de cores e fantásticos níveis de energia. Os Sidney Berns pre- tendem que sua linha anti-científica é uma posição contra "o materialismo e diz respeito à saúde do mundo ociden- tal". Mas em verdade, eles estão preo- cupados é com seu bem-estar e se uti- lizam dos cultos místicos para assegu- rá-lo.

Reproduzido do jornal Under- ground "The Drummer" — 4221 Germantown Ave., Phlladelphia, Pa., 19140, USA.

EST— AModa do Treinamento Psíquico BASTOS MELLO

" ' -Qüàl lài passar dôs fins de semana no inferno de Danfe, pára curar-se das neuroses, dos conflitos íntimos e da sshsação do vazio que caracteriza as modernas socie- dades de produção e consumo? ' " "Mas, não há dúvida, o inferno de Dante é demasiada- rrierite literário e bem-cõmporlado para comover um filho não-desmamado da televisão, que desde a inais tenra ida-: de sò alimentou com a violência açucarada e piegas que sai qual rio de tolices desta mamadeira visual,- -

Neste processo de neuroíização'geral contribui ainda o fato que até agora niriôuêm descobriu se a televisão imita as tolices e irrealidades do cotidiano, ou se este por sua vez é. o retrato ampliado da cretinice e violência televi- sada. ...-,.,.

Não é de admirar que o hospício é o símbolo e a me- ta das sociedades afluentes e que os coitados que ainda hão se conseguiram internar, precisem comprar a sua "paz interíor"í o seu "bem-estar-espiritual" nas "bolsas de mer- cadorias psíquicas", que ão menos nos EsfádoS Unidos já funcionam a pleno vapor. 1. . • '

A última'grande onda de comercialização de um siste- ma de treinámenío psíquico, de uma verdadeira massagem da alma, que está conquistando os Estados Unidos numa pandemia macabra é o EST o Erhard — Seminar — Trai-_ ning.

Ò EST oferece esta massagem da alma num conjunto de 4 sessões que ocupam mais de 6(3 horas dedois fins de semana- e que capacitam os diplomados â enfrentar por híais algum tempo,' a sociedade^ massificada e "roilerbali- "cômpetitiva. . ; ;.....

- O inventor do EÔT é Werner Erhard, atualmente com 40 anos, que começou sua carreira de psicólogo de multidões como vendedor de automóveis, para depois dedicar-se ao racket da venda de enciclopédias.

Com toda certeza, para um espírito-atilado, a venda destes dois produtos, oferece uma visão bem mais exata da psicologia epidérmica e profunda e das deformações patológicas da personalidade, do que um bom. curso univer- sitário especializado. Por isso Erhard sentiu a partir de 1971, a vocação irresistível de vender "paz interior" em vez de locomoção e sabedoria encadernada.

Inicialmente o EST foi apenas um sucesso moderado, mas a partir de 1973, o método começou sua ascenção me- teórica, tornou-se um negócio milionário. Erhard conseguiu desvincular o EST da sua pessoa, com uma equipe de trei- nadores e auxiliares, deu ao Erhard — Seminar — Training dimensões continentais, com sessões slmulláneas que se desenrolam nos fins de semana nas grandes cidades ame- ricanas.

Em 1974, o método já alcançou 35 mil pessoas que experimentaram os benefícios da milagrosa massagem da alma que o EST oferece.

Mais de 50 mil participaram das sessões em 75 e dian- te da maré montante do sucesso e da expansão da rede de treinadores de Erhard, espera-se 125 mil convertidos para este ano.

O treino psíquico do EST tem caráter coletivo. Ge- ralmente cada sessão atende de 300 a 400 pacientes.

Cada sessão dura 15, 16 ou até 18 horas. Os partici- pantes são induzidos a libertar-se de todas iniblções até o ponto de atingirem um delírio coletivo, rolando no tape-

te, gritando, chorando, vociferando, espumando, vomitando — no meio disso ouvem-se gargalhadas homéricas, choros convulsivos, imprecações.— De repente vem um: grito se- co de comando do palco. A multidão convulsionada sé re- compõe, busca cadeiras e todos sentam em fileiras cerra- das e olham fixamente para o palco onde aparece o treina- dor. Este senta calmamente numa cadeira alta, toma um gole de um cálice de aço brilhante e depois de uma pausa começa a atacar em voz alta os assistentes: "Cretinos, idiotas..." mas ele não'fica nisso e continua explorando todos os meandros das ofensas escatòlõgicas imagináveis. Sua voz é alta, mas monótona, as mesmas palavras se re- petem... como se quisesse gráyá-lás bém fundo na me- mória dos assistentes.

Horas e horas isso' continua, 6 delírio coletivo con- trastando com a voz fria é cortante do treinador. Altas ho- ras da noite, ou já de madrugada, o rebanho exausto é dis- pensado, com a ordem ciará. Imperiosa de todos estarem de volta no dia seguinte às oito horas da manhã, em ponto. Não se tolera nenhum atfásò, quem chega alguns segun- dos depois das 8 horas, :hão entra mais, perdendo os seus 250 dólares que são o preço do tratamento.

Durante as sessões Hã só duas curtas pausas, para co- mer algo e para as necessidades fisiológicas. Afora disso ninguém pode sair da saia, cujas portas são severamente vigiadas — quem hãó se aíguènfá, faz nas calças — por isso tódás sessões terri na mistura, dó ctieiro dé vômito com o de urina, o seu perfume: própricT.1

Muitas figuras proemlhènfes já passaram pelas sessões do ÈST. Assim ás atrizes JoànneWòòdwàrd e Valerie Hár- per, o cantor pòp John Dehver e Yokp Ono. - : '.

Muitos psicólogos já'se pfóhiihciaràm em'favor tio mé- todo, que baseado nesta aprovação acadêmica já conse- guiu avançar em dinheiros públicos, federais e estaduais.

■ Q.ponto finai das, quatro sessões que se distribuem por dois fins de sefnana consecutivos, é quando o treinador co- munica aos seus pacientes extenuados que eles não passam de umas bundas mecânicas, de umas máquinas cretinas.

O tratamento pretende "iluminar" os seus pacientes pa- ra depois desta lavagem cerebral ou massagem da alma, assumir a responsabilidade total por sua própria vida e seus próprios atos.

Se alguém está na vida numa situação difícil, num be- co sem saída, então ide acordo com o treinador "ele é uma maldita bunda mecânica cretinizada, que se pos a si mes- mo nesta situação".;

EST não precisa fazer propaganda, seus partidários arregimentam constantemente novos participantes, tanto assim que quem deseja participar das sessões, paga a taxa e depois espera dois ou três meses até chegar a sua vez.

O jornal especializado "Psychology Today" reconheceu na terapia de choque do EST grandes méritos e registra no- táveis mudanças de comportamento que resultaram da participação nas sessões.

Não se deve duvidar do sucesso do método, pois este parece que se adapta como uma luva à situação social.

Dizer: "Para grandes males — grandes remédios", é um lugar c"mum. Mas sem dúvitia, entre a sociedade aflu- ente e o EST há uma relação definida. Uma corresponde à outra — uma julga a outra.

Contra os riscos radioativos : por feijão, arroz, rapadura e cultura

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OS CASCATEIROS DA «PAZ INTERIOR» Tradução de

De FREO GARDNER e LYNN OCONNOR ANDRÉ DELANO BUCHSBAUM jllt ({llllltR itllLt^ KHIIILIJ Reproduzido do Jornal UNDERGROUND

Em todas as grandes cidades, muros e postes são invadidos por cartazes dos novos gurus. Em livrarias, "best-sellers" indicam a solução de nossos problemas — Deus, yoga, magia, meditação, pen- samento positivo etc. Gente famosa se diverte promovendo seus líderes espiri- tuais — e parece que cada semana sur- ge um novo. Rennie Davis, um dos maiores promotores de mentiras da "new left", está dando força a um peque- adolescente hindu que diz ser "O Per- feito". Santana está tocando em benefi- cio de um Sr. Sri Chinmoy. O antigo redator dos discursos de Eugene Mc- Carthy está promovendo Richard Alpert, o tomador de ácido, que agora atende pelo nome de Baba Ram Das. John Lennon deixou Maharishi por Janov, o "Terapeuta" do grito primai.

Dizem os historiadores que em tempos de crise que antecedem às grandes mu- danças, há uma forte tendência de sur- girem cultos místicos, sobrenaturais; nestes tempos de insegurança, desem- prego e desespero, as promessas de ale- gria e segurança que os "líderes espiri- tuais" fazem aos seus prosélitos, reve- lam-se bem tentadoras. A "cura" do adepto pode ser efetuada pelo misticis- mo, psicologia, entorpecentes, teologia, medicina popular, filosofia abstrata, po- lítica e feítiçarla... Mas qualquer que seja o campo, estes cultos aderem à idéia básica de que os nossos proble- mas se originam da maneira de pensar, e não do colapso sócio-econômico que estamos presenciando.

Quase todos os cultos falam em "nf- veis de consciência", habilmente esta- belecendo uma hierarquia semelhante à existente na escola. Naturalmente só os gurus e os seus discípulos mais treina- dos podem obter os mais altos estágios de iluminação. As outras pessoas con- seguem baixos níveis de consciência — devido ao seu egoísmo e materialismo, segundo seus mestres — pois não apli- cam dinheiro nesses cultos, além de um certo ponto.

Outra presunção que essas seitas têm em comum, d a separação entre corpo e "alma". A "alma", o "eu" seria uma entidade independente de toda matéria. E os "mestres" poderiam auscultar nos- sa "alma" e nos indicar o "caminho pa- ra o absoluto", poderiam nos falar so- bre nossas "vidas futuras", dizer quem somos etc., sempre realçando o indiví- duo isolado, fora de qualquer contexto social, sem pertencer a uma classe de- finida. É assim que os gurus conseguem levar avante o seu negócio, pois pensar sobre nós e nossos problemas de ma- neira concreta. Iria nos levar & tentativa de mudar nossa condição, através de meios políticos. E isto, os gurus não desejam.

Um terceiro aspecto que esses cultos partilham é a seguinte mensagem: "Não importa quanto» problemas existam em

tua vida, você pode ainda alcançar a fe- licidade tentando fazer os outros felizes". E a felicidade só é alcançável natural- mente através da ajuda do "mestre" ou seus assistentes autorizados. Todas sei- tas nos ensinam como parecer feliz, e ficar "iluminado". Você pode conseguir a felicidade balbuciando uma fórmula silábica "oriental" — ou agradecendo Jesus por Isto ou aquilo etc. Em todas essas situações, você pode alcançar a paz interior (geralmente através de um sorriso bonito).

Para realizar o leu "desejo da paz interior" você deve arranjar um guru e não se deve perder no egoísmo. Se tua situação financeira não for muito boa, azar o teu, você será convidado a pio- rá-la, partilhando o que tem com os J'me.nos afortunados", isto é, com a te- souraria da organização. que preside o teu culto.

Os gurus naturalmente não querem que você se detenha na análise objetiva das suas condições-de vida. Se eles reco- nhecessem a existência de razões con- cretas para tua infelicidade, perderiam um monte de clientes. Por isso, na maioria dos cultos é proibido abordar questões sociais.

Um quarto postulado dessas seitas é que você deverá amar todo mundo sem se preocupar com o que te façam. Se alguém te derruba, te explora, você deve continuar sendo gentil para com ele(s) e/ou ela(s). Suspeita, precaução nas relações humanas é tido como sinal de "doença". Você deve desligar todas as suas defesas para se tornar "saudável" (normal, bom etc). Este é um dos mais perigosos aspectos dos cultos, par- ticularmente os com orientação psico- lógica. As pessoas são literalmente for- çadas a deitar abaixo seus "bloqueios" nas longas maratonas das sessões gru- pais, isto em nome da verdade e honesti- dade. Mas ora bolas, as pessoas não podem abandonar suas defesas — afinal não vivemos num mundo amigável em que cada um poda sossegadamente fi- car na sua. Os hospitais psiquiátricos estão cheios de gente que acreditou nisso, (e os cemitérios também) — Se- gundo o "Time" as sessões feitas pelo Instituto Esalen foram seguidas algumas vezes de suicídios. E nós conhecemos ou ouvimos falar de pessoas, que em busca dessa falsa tranqüilidade se torna- ram zumbis e autômatos, ficando profun- damente envolvidas com um ou outro culto.

Aqueles entre nós que não seguem essas seitas, não importando quão "cô- ticos" ou "indiferentes" sejamos, tam- bém sofrem sua influência. Há uma gran- de pressão para sermos calmos e "gen- tis". " Tente ser uma "pessoa mais elevada" e Ilumine a vida dos seus se- melhantes. Não seja amargo, não fique zangado e pelo amor de Deus não seja agressivo". Quer dizer, nós temos de

confiar em todos, amar tudo, enquanto o mundo em que vivemos permanece com a mesma estrutura canibalesca.

AS NOVAS ROUPAS DO IMPERADOR

Todas essas noções de "níveis de consciência" tão importantes para as "novas" religiões são sem sentido. São aquelas idéias que pessoas famosas co- meçam a namorar, e das quais temos de tomar conhecimento, para não ser- m.s acusados de "carelas". São as No- vas Roupas do imperador.

Os beatniks, nos anos 50, viajavam para a índia, Nepal etc, e voltavam com um novo "karma" e novo haxixe. Leary e Alpert fizeram "experiências cósmi- cas" com ácido. Eles sempre entendiam e viam coisas que estavam além do nos- so alcance — as pessoas mais "ligadas" tinham de compreender estes novos "ní- veis de consciência" e naturalmente só os "carelas" é que ficavam por fora da jogada.

A nudez do imperador, nos cultos, é escondida em nome de expressões co- mo "mente aberta", a qual seria de- monstrada pela "receptividade", ou me- lhor, dociiidade do "convidado". Este tem de se limitar a uma atitude passiva, aceitando e seguindo instruções, sem jamais pensar em questionar (um verbo herético para essas seitas).

Num desses cultos, pediram para os "convidados". "Fechem os olhos. Pen- sem na cadeira em que vocês estão sen- tados. Pensem na cor do tapete da sa- la. Agora pensem num tempo em que vocês eram felizes. Agora pensem num lugar em que vocês poderiam ser feli- zes. Achem seu próprio lugar". Uma mulher não conseguiu entender o signi- ficado da frase "Achem seu próprio lu- gar", e manifestou sua dúvida em voz alta. Disseram-lhe que sofria de um sé- rio "bloqueio" e que ela precisaria se inscrever Imediatamente na Preparação da Consciência (nome daqueias sessões do culto) para se curar (duas sessões de fim de semana por 200 dólares).

NEGÓCIOS COMO SEMPRE

Os cultos dizem que para ser feliz (iluminado), você precisa alegrar (ilu- minar) outras pessoas. Isto traduzido para uma linguagem de negócios quer dizer, "você pode achar a felicidade re- crutando outros elementos para o culto".

Como organizações comerciais, os cultos mantém uma clara hierarquia. Você sempre sabe quem é líder, pois ele é o principal objetivo de tua adoração. Mas o "mestre" nunca aparece ligado a detalhes financeiros. As primeiras ses- sões visam convencer os "convidados" a se inscreverem no "Curso", sendo fei- tas geralmente com seguidores já trei- nados. Estes discípulos ou estão ligados emocionalmente ao guru, ou compraram um diploma de "iluminação", ou mostra-

ram grande habilidade como recruta- dores, ou então se destacaram como eficientes secretários do líder. Muitas vezes são lindas e meigas garotas que te falam com voz doce (pelo menos en- quanto houver possibilidade de te fazer aplicar dinheiro no "treinamento".

Os gurus são freqüentemente patroci- nados pelos "marginais" das ciasses privilegiadas (como a juventude "rebel- de" das famílias ricas que junta-se e dá apoio financeiro à esquerda festiva, os membros "excêntricos" dessas famílias Se tornam discípulos de vários cultos religiosos e soltam liberalmente seu di- nheiro nestes). Mas as chances do gu- ru de ganhar bastante dinheiro, depen- dem — além do apoio constante dos pa- tronos ricos — de sua habilidade em recrutar muitas pessoas nos seus pro- gramas de "treinamento".

Os preços dos cultos variam. No caso das sessões introdutórias dos cursos de Preparação da Consciência Transpes- soal, a entrada custa 200 dólares, mas para você se "libertar" é preciso entrar nos cursos de "treinamento especial". Alguns cultos são bem exclusivos — o "Arica" cobra só no curso de "treina- mento inicial" nada mais nada menos que 3000 dólares. Algumas seitas ten- tam atingir as camadas populares, co- mo por exemplo, o culto Cientológico, que se propõe a "limpar" os nossos pen- samentos negativos pela quantia módica de 25 dólares. Uma vez que estamos preocupados com nossa mente, o culto pretende então "clarificar" ainda mais nossos pensamentos, elevando simulta- neamente os preços e assim por diante. Evidentemente os cultos não noticiam sua renda, pois seus negócios estão crescendo e portanto não querem esti- mular a competição. Os "mestres" sa- bem que estão competindo no mesmo mercado, e observam invejosamente os progressos de outros. Em junho de 1973, um figurão do "Arica" lamentou-se de que um novo culto — o EST (Erhard Semlnar Tralning) estava fazendo 800 dólares por mês"

O VENDEDOR E O PROFETA

Os grandes lídrees de cultos são su- per-vendedores que usam seus discípu- los como assistentes de venda. Eles sempre tem o poder persuaslvo de evan- gelistas. (Aliás, a ligação entre vende- dores e líderes religiosos não é exata- mente nova no cenário americano. Mui- tas vezes, o pregador de antigamente era também o vendedor ambulante de medicamentos milagrosos. Seu tipo é bem conhecido nosso e suas palavras são bem familiares: "Estou falando em nome de Deus. Peguem agora o dinheiro que vocês tem guardado e mandem pa- ra a caixa postal n? tal, aos cuidados de..." O mais bem sucedido evange- lista, Oral Roberts, possui uma organi- zação que vende educação elevada, dis- cos, bíblias etc.).

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