Culturas de Língua Inglesa (60hs_LET)_Unidade I

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  • 8/12/2019 Culturas de Lngua Inglesa (60hs_LET)_Unidade I

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    Autor:Prof. Leandro Dias Carneiro Rodrigues

    Colaboradores:Profa. Cielo Festino

    Profa. Joana Ormundo

    Culturas de Lngua Inglesa

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    Professor conteudista: Leandro Dias Carneiro Rodrigues

    Leandro Dias Carneiro Rodrigues professor de lngua inglesa desde 1996. Trabalhou em alguns cursos delnguas estrangeiras em Braslia. Licenciou-se em Letras em 2003, pela Universidade de Braslia, obtendo na mesmauniversidade o ttulo de especialista em Letras: Leitura, Anlise e Produo de Textos, assim como o de mestre em

    Lingustica Aplicada. O professor elaborou material de lngua inglesa para crianas no programa Pelic (Programa deEnsino de Lngua Inglesa para Crianas), na cidade de Luzinia, Gois, do qual mais de quatorze mil crianas domunicpio fazem parte. Atualmente, professor adjunto do curso de Letras da Universidade Paulista e tem ministradodisciplinas de lngua inglesa e das literaturas norte-americana e britnica.

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ouquaisquer meios (eletrnico, incluindo fotocpia e gravao) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem

    permisso escrita da Universidade Paulista.

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    R696c Rodrigues, Leandro Dias Carneiro

    Culturas de lngua inglesa / Leandro Dias Carneiro Rodrigues. So Paulo: Editora Sol, 2013.

    124 p. il.

    1. Lngua Inglesa. 2. Cultura. 3. Histria. I.Ttulo

    CDU 81

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    Prof. Dr. Joo Carlos Di GenioReitor

    Prof. Fbio Romeu de CarvalhoVice-Reitor de Planejamento, Administrao e Finanas

    Profa. Melnia Dalla TorreVice-Reitora de Unidades Universitrias

    Prof. Dr. Yugo OkidaVice-Reitor de Ps-Graduao e Pesquisa

    Profa. Dra. Marlia Ancona-LopezVice-Reitora de Graduao

    Unip Interativa EaD

    Profa. Elisabete Brihy

    Prof. Marcelo Souza

    Profa. Melissa Larrabure

    Material Didtico EaD

    Comisso editorial:Dra. Anglica L. Carlini (UNIP)

    Dr. Cid Santos Gesteira (UFBA) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Ktia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valria de Carvalho (UNIP)

    Apoio: Profa. Cludia Regina Baptista EaD Profa. Betisa Malaman Comisso de Qualificao e Avaliao de Cursos

    Projeto grfico: Prof. Alexandre Ponzetto

    Reviso: Lucas Ricardi Aiosa Virgnia Bilatto

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    Sumrio

    Culturas de Lngua InglesaAPRESENTAO ......................................................................................................................................................7

    INTRODUO ...........................................................................................................................................................7

    Unidade I

    1 VOZES DO CENTRO: GR-BRETANHA .....................................................................................................261.1 O Reino Unido ....................................................................................................................................... 26

    1.2 Aspectos histricos .............................................................................................................................. 271.2.1 Nasce a Gr-Bretanha ..........................................................................................................................371.2.2 O sculo XIX O Imprio Britnico e a Rainha Vitria ...........................................................401.2.3 O sculo XX ................................................................................................................................................41

    1.3 Os celtas ...................................................................................................................................................421.4 Aspectos culturais gerais miditicos e estereotipias .......................................................... 43

    2 A ESCCIA .......................................................................................................................................................... 472.1 Antecedentes histricos ....................................................................................................................482.2 Mitologia.................................................................................................................................................. 49

    2.3 A questo das tradies .....................................................................................................................503 VOZES DO CENTRO: ESTADOS UNIDOS ..................................................................................................533.1 Antecedentes histricos ....................................................................................................................53

    4 OS ESTADOS UNIDOS NO CONTEXTO ATUAL ........................................................................................584.1 Aspectos culturais ................................................................................................................................ 604.2 Os indgenas norte-americanos ..................................................................................................... 644.3 Os negros americanos (African American).................................................................................654.4 Aspectos culturais dos african american ....................................................................................68

    Unidade II

    5 CANAD ..............................................................................................................................................................745.1 Antecedentes histricos ....................................................................................................................745.2 Questes culturais ................................................................................................................................76

    5.2.1 O hquei no gelo ....................................................................................................................................77

    6 AUSTRLIA .........................................................................................................................................................776.1 Antecedentes histricos ....................................................................................................................786.2 Aspectos culturais ................................................................................................................................ 78

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    Unidade III

    7 AS CULTURAS DIASPRICAS (NDIA, NIGRIA E CARIBE JAMAICA).......................................897.1 O ps-colonial .......................................................................................................................................89

    8 AS NAES DIASPRICAS ...........................................................................................................................918.1 ndia ...........................................................................................................................................................91

    8.1.1 Antecedentes histricos .......................................................................................................................928.1.2 Aspectos culturais...................................................................................................................................95

    8.2 Nigria ...................................................................................................................................................... 998.2.1 Antecedentes histricos .....................................................................................................................1008.2.2 Aspectos culturais.................................................................................................................................101

    8.3 O Caribe (Jamaica) .............................................................................................................................1038.3.1 Antecedentes histricos .....................................................................................................................1048.3.2 Aspectos culturais ...............................................................................................................................1058.3.3 Skinheads as identidades em encontro ...................................................................................1088.3.4 O reggae ...................................................................................................................................................109

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    APRESENTAO

    Caro aluno,

    seja bem-vindo disciplina Culturas de Lngua Inglesa!

    Neste curso voc far uma pequena viagem panormica a alguns pases em que a lngua inglesacontribuiu, de certa forma, formao identitria e cultural. Do ponto de vista cultural, o que naescomo a Jamaica, os Estados Unidos, o Canad, a ndia, a Inglaterra e a Nigria tm em comum? Alngua inglesa. Todavia, ser que todas elas possuem caractersticas comuns devido lngua inglesa ouser que so parcialmente diferentes, mesmo compartilhando a mesma lngua? O que se define comoingls, jamaicano, indiano ou nigeriano? No h uma resposta precisa s questes estabelecidas. Discutirquestes como identidade cultural de pases cuja lngua inglesa contribuiu para a sua histria opropsito deste curso, e o que se prope estabelecer discusses para isso em um contexto de formao

    para a docncia em lngua e cultura de lngua inglesa.

    Bons estudos.

    INTRODUO

    Em geral, comum termos algum conhecimento acerca do conceito de cultura. De fato, h diversostipos de cultura, em diversas reas do conhecimento. Voc, caro aluno, j deve ter ouvido frases comoele no tem cultura, a cultura celta muito interessante ou a cultura do milho est mais difcil.Cultura um termo que faz parte de vrias reas do conhecimento, podendo ser atribudo s cinciasagrrias, sociais e at biolgicas. No nosso curso, entretanto, contemplaremos as noes de cultura noque diz respeito, em geral, ao estilo de vida, bem como tradies, formas de organizao, representaoe identidade de um determinado povo.

    O fenmeno culturatem sido estudado em diversos ramos do conhecimento, sob inmeros enfoquese concepes. Cultura um termo que tem vrias acepes e entendimentos, desde as cincias humanasat as cincias agrrias. Por essa razo, sugeri utilizar os parnteses para denotar a complexidade epossibilidades do conceito de cultura. Mediante esta rica variedade de vises acerca da cultura, seroapresentadas acepes provindas das cincias humanas que coadjuvam no processo de se compreender

    as aes sociais, simblicas, representativas e ideolgicas do ser humano, as quais constituem direta ouindiretamente a linguagem. Por essa razo, tambm se atribui o termo culturano plural.

    Portanto, pretendemos entender alguns conceitos de cultura, partindo-se de uma perspectiva dascincias humanas para, em seguida, chegar ao enfoque dos estudos culturais.

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    Unidade I

    A gnese do conceito de cultura

    Desde o desenvolvimento da complexidade da linguagem humana, das categorizaes e atribuiesde conceitos, se entende que essa essncia at onde se sabe, eminentemente humana a cultura,ainda no claramente categorizada e didaticamente investigada, se fez presente.

    Originalmente, o termo culturaderivou do latim colere, que significa cultivar. Segundo Santos(2004, p. 27), pensadores romanos antigos ampliaram esse significado e a usaram para se referir ao

    refinamento pessoal, e isso est presente na cultura da alma. Esse tipo de concepo pode ser entendidonos dias de hoje, em que pessoas de determinada classe social julgam como refinados os comportamentosoriundos de uma classe economicamente mais abastada, em detrimento das camadas populares, menosprivilegiadas e, portanto, muitas vezes consideradas culturas menos refinadas.

    Em primeira instncia, o termo cultura foi apresentado por Tylor em sua obra Primitive Culture(1817), e sua acepo pode ser considerada o primeiro passo dos estudos antropolgicos dessa naturezahumana. Para ele, cultura todo complexo que inclui conhecimentos, crenas, arte, moral, leis, costumesou qualquer outra capacidade ou hbitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade(TYLOR apud LARAIA, 2001, p. 25). interessante notar que esse conceito abrange o homem como umser social, constitudo e construdo em conjunto. O homem como indivduo no era constitudo somentepor si, mas pela pluralidade dos seres que vivem em uma determinada regio e adotam e categorizamcostumes.

    Tal definio foi elaborada com base nos pensadores iluministas; embora nesse perodo j seconhecesse o fenmeno denominado cultura, no se tinha uma definio clara sobre ela. Muitosestudiosos investigavam a relao entre as atribuies humanas e suas condies fsicas, o que se poderiaentender o fazer do homem atribudo sua origem gentica ou hereditria. Nesse mbito, John Locke(1632-1704) refutou a ideia de verdades inatas impressas hereditariamente e geneticamente concebidas,

    e ensaiou os primeiros passos do relativismo cultural. Como afirma Campos (s. d.), John Locke, em 1690,afirmou que a mente humana era uma caixa vazia no nascimento, dotada de capacidade ilimitadade obter conhecimento, por meio do que atualmente chamamos de endoculturao movimento defora para dentro, de absoro. Nesse sentido, Tylor desenvolve a concepo primitiva entende-se: deprimeira ordem de Locke, de que o homem necessita do contato com outros homens para se constituir,formando, assim, a diversidade, o indivduo. Nas palavras do prprio Tylor: a diversidade explicadacomo o resultado da desigualdade de estgios no processo de evoluo (LARAIA, 2001, p. 33).

    No sculo XVIII, a ideia de cultura estava presente, embora o termo cultura, no incio do sculo,ainda no tivesse sido desenvolvido. Jacques Turgot (1727-1781) contribuiu com o seu pensamentode que o cerne da composio de uma sociedade a passagem de valores de gerao em gerao, o

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    que constitua e preservava, portanto, a cultura de um povo. Ele afirma que [...] o homem capaz deassegurar a reteno de suas ideias eruditas, comunic-las para outros homens e transmiti-las paraos seus descendentes como uma herana crescente (TURGOT apud LARAIA, 2001, p. 27). Entende-se,portanto, ideias eruditas como um modo de vida relevante a uma sociedade e que h a necessidade detransmiti-las s geraes que se sucederiam.

    Tal concepo nos parece to presente nos dias de hoje, no mesmo? Basta nos lembrarmos deconcepes preconceituosas que consistem na ideia de que alguns povos teriam uma cultura mais oumenos desenvolvida que outros.

    Continuando a nossa trajetria histrica do conceito de cultura, no final do sculo XVIII, o termokultur, em alemo, e com a traduo dbia para o francs como civilization(civilizao, em portugus),designava todos os aspectos espirituais de uma comunidade. Em razo da semelhana de conceitos,civilizationdestina-se s realizaes materiais de um povo e reconhecidas em geraes posteriores

    ideia concebida at os dias de hoje como cultura. Portanto, tal questo terminolgica implicaum estudo aprofundado, pois os termos cultura e civilizao esto presentes em vrias lnguas eapresentam problemas de circularidade semntica. Veja, por exemplo, o que se constata brevemente nalngua portuguesa, conforme exemplos retirados do dicionrio eletrnico Aurlio Sculo XXI (FERREIRA,1999):

    Civilizao: [De civilizar + -o; fr. civilisation.]:1. Ato, processo ou efeitode civilizar(-se). 2. Estado ou condio do que se civilizou. 3. O conjuntode caractersticas prprias vida social coletiva; cultura. 4. Processo peloqual os elementos culturais concretos ou abstratos de uma sociedade(conhecimentos, tcnicas, bens e realizaes materiais, valores,

    costumes, gostos etc.) so coletiva e/ou individualmente elaborados,desenvolvidos e aprimorados. 5. P. ext. O estado de aprimoramento oudesenvolvimento social e cultural assim atingido. 6. P. ext.Tipode sociedaderesultante de tal processo, ou o conjunto de suas realizaes;

    em especial, aquele marcado por certo grau de desenvolvimento

    tecnolgico, econmico e intelectual, considerado ger. segundo o

    modelo das sociedades ocidentais modernas, caracterizadas por

    diferenciao social, diviso do trabalho, urbanizao e concentrao

    de poder poltico e econmico.

    Cultura: 5. O conjunto de caractersticas humanas que no so inatas,e que se criam e se preservam ou aprimoram atravs da comunicao

    e cooperao entre indivduos em sociedade. [Nas cincias humanas,ope-se por vezes ideia de natureza, ou de constituio biolgica, eest associada a uma capacidade de simbolizao considerada prpria davida coletiva e que a base das interaes sociais.] 11. Antrop. O conjuntocomplexo dos cdigos e padres que regulam a ao humana individual ecoletiva, tal como se desenvolvem em uma sociedade ou grupo especfico,e que se manifestam em praticamente todos os aspectos da vida: modos

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    de sobrevivncia, normas de comportamento, crenas, instituies,valores espirituais, criaes materiaisetc. [Como conceito das cinciashumanas, esp. da antropologia, cultura pode ser tomada abstratamente,como manifestao de um atributo geral da humanidade (cf. acep. 5), ou,mais concretamente, como patrimnio prprio e distintivo de um grupo ousociedade especfica (cf. acep. 6).] etc.1(grifo nosso).

    Embora examinar o tratamento terminolgico de culturae civilizaono seja o foco do nossotexto, importante verificar as semelhanas de conceitos por meio das palavras destacadas. Emcivilizao, pode-se perceber que a cultura est constituda no seu conceito: conhecimentos tcnicos,valores, gostos etc. H no conceito de cultura algumas palavras que tambm poderiam ser entendidascomo civilizao: crenas, instituies, criaes materiais, normas de comportamento etc. Portanto,devido a essa impreciso de definies, muitas vezes pode-se entender cultura no senso comum comocivilizao e vice-versa; entretanto, embora ambas tenham caractersticas semelhantes, os termos no

    so sinnimos.

    Observao

    bvio, caros alunos, que essa discusso no acaba por aqui. Entretanto,no nos estenderemos aqui nessa questo.

    No decorrer do sculo XIX, a concepo de cultura tornou-se eminentemente laica, geral. Essa visoteve como preocupao o entendimento da origem e transformao da sociedade e das espcies vivas. Oevolucionismo era a principal caracterstica e o paradigma desse tipo de concepo, e os fenmenos docomportamento humano eram explicados sob essa perspectiva. A razo de um determinado costume deum povo existir, por exemplo, teria explicaes de ordem histrica, evolutiva. poca, o expansionismodas naes europeias, assim como o desenvolvimento da cincia e da tomada de territrios, foram fatoresdeterminantes para a colonizao, a qual incorporou a tecnologia e a viso de mundo dominante, e issoconfigurava a ocidentalizao do mundo, entre outras coisas. Assim, a ideia de cultura ainda, muitasvezes, presente nos dias de hoje se fundamentou na dicotomia conceitual: o cultural e o selvagem. Oprimeiro era considerado pertencente cultura dominante, do europeu, e o segundo era atribudo aomodo de vida do povo dominado, indgena, autctone e at mesmo extico.

    A relao entre a cultura e a natureza biolgica humana instigou muitos pensadores. Nesse contexto,Alfred Kroeber (1876-1960) levantou um ponto interessante para se estabelecer um conceito de culturapor meio da afirmao: o homem passou a ser considerado um ser que est acima de suas limitaesorgnicas (KROEBER apud LARAIA, 2000, p. 36). Um pouco desvirtuado da acepo evolucionistaque explicava os fenmenos do comportamento humano via condies fsicas e genticas, o homemconceitua, classifica e categoriza o seu mundo.

    1 Selecionamos somente exemplos em que so consideradas definies de cultura que possuem alguma relaohipnima com a definio de civilizao.

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    Contudo, pode-se afirmar que as ideias de cultura, a partir da gnese de sua concepo e demaisatribuies, estendem-se a outros campos do conhecimento humano. Para os leigos, ou no estudiosos,culturapode ser considerada os aspectos espirituais de uma comunidade, a ao humana, a realizaomaterial ou o complexo de crenas e atributos humanos, como afirmou Tylor, anteriormente.

    Esse termo complexo tem sido definido, adaptado, reformulado e desconstrudo de acordo com cadacincia e fins especficos, conforme os paradigmas de pesquisa e viso do mundo de cada poca. Paratanto, no se pretende entrar a fundo em tais questes de mbito terminolgico, mas apresentar, emseguida, o percurso do que se entenderia acerca de tal fenmeno para, posteriormente, atribuir algunsde seus paradigmas s questes dos estudos culturais relao de disciplinas que apresentam a culturacomo elo comum.

    O desenvolvimento do conceito de cultura

    Primeiramente, considera-se uma definio de cultura bastante interessante aquela doantroplogo Clifford Geertz, referncia em estudos de cultura e antropologia em vrios mbitosdo saber humano:

    Acreditando [...] que o homem um animal suspenso em teias de significadosque ele mesmo teceu, entendo a cultura como sendo essas teias, e suaanlise, portanto, como sendo no uma cincia experimental em busca deleis, mas uma cincia interpretativa em busca de significados [...] [A cultura] o padro de significados incorporados nas formas simblicas que incluiaes, manifestaes verbais e objetos significativos de vrios tipos, emvirtude dos quais os indivduos comunicam-se entre si e partilham suasexperincias, concepes e crenas (CLIFFORD GEERTZ, 1973, p. 5 apudVILA, 2003, p. 28).

    Essa definio abrange a viso de mundo particular que o homem, animal consciente e autoconsciente,tem; a partir desta, categoriza as coisas, atribuindo-lhes nomes e organizando-as de acordo com oseu universo especfico. Esse processo de categorizao complexa uma habilidade eminentementehumana, at onde se sabe pode ser considerado como simbolizao, como bem afirma Geertz. Taissmbolos so construdos pelo social, comum, e estabelecem normas, padres de comportamentos,

    atribuies lingusticas de registro padro, no-padro manifestaes verbais e concepes acercado mundo, entre outros fazeres humanos. Ainda nessa viso, Geertz (1973 apudVILA, 2003) expealgumas palavras-chave no seu entendimento acerca da cultura que podem compreender a rea dosestudos lingusticos e da lingustica aplicada e a rea de ensino e aprendizagem de lnguas. Formassimblicas, aes, manifestaes verbais e objetos significativos comunicam-se. Tais termos utilizadospor Geertz (1973 apudVILA, 2003) irradiam a funo da linguagem nesse processo, ou seja, o uso dalngua(gem) para manifestar aes por vias simblicas constitudas a partir do social a fim de secomunicar objetos significativos deste mundo.

    Contudo, h algumas ideias acerca dessa palavra polissmica que tambm tm suas relevncias,como nos lembra Geertz:

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    Em cerca de vinte e sete pginas do seu captulo sobre o conceito, Kluckhohnconseguiu definir cultura como: (1) modo de vida global de um povo; (2) olegado social que o indivduo adquire do seu grupo; (3) uma forma de pensar,sentir e acreditar; (4) uma abstrao do comportamento; (5) uma teoria,elaborada pelo antroplogo, sobre a forma pela qual um grupo de pessoasse comporta realmente; (6) um celeiro de aprendizagem em comum; (7)um conjunto de orientaes padronizadas para os problemas correntes; (8)um comportamento aprendido; (9) um mecanismo para a regulamentaonormativa do comportamento; (10) um conjunto de tcnicas para seajustar tanto ao ambiente externo como em relao aos outros homens;(11) um precipitado da histria, e voltando-se, talvez em desespero, para ascomparaes, como um mapa, como uma peneira e uma matriz (GEERTZ,1989, p. 4).

    De maneira semelhante ao pensamento de Geertz, outro estudioso da cultura, Nicolau Coll, a definecomo:

    [...] o conjunto de valores, crenas, instituies e prticas que uma sociedadeou grupo humano desenvolve num certo momento do tempo e do espao,em diferentes campos da realidade, a fim de assegurar sua sobrevivnciamaterial e a plenitude espiritual, tanto individualmente como coletivamente(COLL, 2003).

    Esse ponto de vista remete-se ao conceito de cultura de modo geral. O conjunto de valores ecrenas a habilidade do ser humano de categorizar o mundo que o rodeia em forma de regras desistemas simblicos como afirmou Geertz anteriormente dos quais se constroem significadose interpretaes diversas. A partir do que conhecemos a respeito de nossos valores religiosos,morais, ticos etc. avaliamos o sistema alheio de forma categrica, na perspectiva da nossaprpria viso de mundo e de nosso tempo. Por construirmos nosso mundo, temos a capacidade dedefinir, por exemplo, famlia, o que considerado moralmente certo e errado, as noes de crimee pecado, entre outros.

    No processo de desenvolvimento da constituio humana, entende-se que o homem possa

    compreender os seus atos e o porqu deles. Tambm compreende-se o homem como um ser histricoque busca entender o fenmeno da cultura, e tem-se remetido, at certo ponto, ao estudo de suarelao com a natureza. Nesse ngulo, Marilena Chau (apud SANTOS, 2004, p. 13), filsofa que tambmestuda a cultura e os sistemas simblicos, define cultura como o conjunto de criaes humanas, poistudo que criado seria o fruto da cultura e, portanto, das aes humanas. Desse modo, a autora faz umarelao da natureza o reino da repetio , e da cultura o fenmeno de transformao de todo umcomplexo de significados moldados, construdos na interao humana. Sendo o homem capaz de criarlinguagem a partir da comunicao e classific-la em categorias que so transformadas no decorrerda histria, a natureza humana seria a prpria viso do concebido. Em outras palavras, o saber de umindivduo acerca do mundo, a partir da concepo de mundo do social isto , pai, me, irmos, escola,trabalho, regio, pas etc. em que ele esteja inserido, somente o por ser, nesse meio, afirmado como

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    tal. Portanto, as noes de valor, registro lngua e variaes , justia e refinamento, entre outros, sounicamente o resultado de todo o complexo de criaes humanas, como afirma Chau, dentro daquelaviso.

    Essa perspectiva compartilhada por Laraia (2001), atribuindo ainda a questo da reflexo acerca dacultura em comparao aos outros modos de vida e o passado:

    [...] cada cultura o resultado das experincias particulares da populao,passada e presente, que vive de acordo com ela. Deduz-se assim, pois, que acultura s se pode compreender tendo em conta o mais plenamente possvel,o seu passado, utilizando todos os recursos admissveis fontes histricas,comparaes com outros modos de viver, manifestaes arqueolgicas para entender seu contedo e evoluo (LARAIA, 2001, p. 36).

    O tratamento evolutivo atribudo ao estudo da cultura possibilitou outro tipo de anlise a partir dopressuposto de que a cultura dinmica, por meio da anlise comparativa entre modos de vida de povosdiferentes, estudados com o conhecimento do passado e do presente, o que caracteriza a mudanacultural, de fato. Segundo Laraia (2001, p. 96): existem dois tipos de mudana cultural: a interna resultante da dinmica do prprio sistema cultural , e uma segunda, que o resultado do contato deum sistema cultural com outro. Portanto, podemos perceber a dinamicidade cultural a partir de valorese avaliaes, como as mudanas dos padres de beleza, o modo de se vestir e de se comportar, padresde linguagem etc. ao longo dos anos.

    Frente a tal questo, no contexto de uma possvel instruo da cultura, Bennett (1996) apresenta adefinio de cultura sob dois ngulos. O primeiro o que ele denomina Cultura, com C maisculo,que se refere s instituies: msica clssica, dana, literatura, arte, arquitetura, sistemas polticose econmicos. Quando se visita um museu ou se vai a uma palestra ou concerto, segundo Bennett(1996), faz-se algo Cultural. A cultura com c minsculo subdivide-se em: comportamento verbal;comportamento no verbal e como este modifica a linguagem; os estilos de comunicao e as formascomo os padres de comportamento e pensamento so constitudos. Portanto, esse tipo de culturaengloba os valores, normas de comportamento e configuraes simblicas regidas pela sociedade.

    H, portanto, a cultura considerada cannica e a no cannica, a cultura dos valores, comportamento,

    entre outros. Todavia, importante nos atermos para a questo da cultura subordinada, ou culturassubordinadas. Como Jordan e Weedon (1995 apud CAMPBELL, 1996, p. 15) afirmam:

    De que cultura dever ser a oficial e de qual seria a subordinada? Quais culturasdeveriam ser reconhecidas como valorosas de serem disponibilizadas e quaisdeveriam ser resguardadas, ocultadas? Qual Histria deveria ser relembradae qual deveria ser esquecida? Quais imagens da vida social deveriam serprojetadas e quais deveriam ser marginalizadas? Quais vozes deveriam serouvidas e quais [deveriam] ser silenciadas? Quem est representando equem est sendo representado e em qual base? (traduo nossa)

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    A cultura manifestao lingustica. narratividade. As culturas esto intrincadas nos nossossentidos. Nessa realizao ou fazer lingustico, pode-se afirmar que se concebe o cultural tambm.Utilizando o pensamento de Claire Kramsch, as palavras que as pessoas falam designam algo quecompartilham, ou experimentam, em comum.

    Elas expressam fatos, ideias ou eventos que so comunicveis porque elase referem-se a um repertrio de conhecimento acerca do mundo que aspessoas compartilham. Palavras tambm refletem as atitudes e crenas dosseus autores (e criadores), seu ponto de vista, que tambm so palavrasde outras pessoas. Em ambos os casos, a lngua(gem) expressa a realidadecultural (KRAMSCH, 1998, p. 3, traduo nossa).

    O que Kramsch mostra a realizao da cultura via linguagem, a qual engloba a realidade cultural,ou seja, ela um sistema de signos que visto como possuidor de um valor cultural.

    Partindo da forma da linguagem-cultura como um sistema simblico, Palmer (2000, p. 23) afirmaque:

    [...] a linguagem um jogo de smbolos verbais utilizados na imaginao.A imaginao algo que vemos com a mente, mas tambm o sabor deuma manga, a sensao de caminhar embaixo de um chapado tropical, amsica de Mississipi [...]. O que imaginamos est assentado nas experinciasindividuais adquiridas atravs de todas as formas de percepo, e falamos.

    Alm dessa percepo da relao entre linguagem-cultura e mente, por meio da memria e daexperincia, Duranti (1997, p. 337apudKLEIN e SANTOS, 2006, p. 64), dialogando com Palmer, acrescentaque:

    [...] a linguagem est em ns tanto quanto estamos na linguagem. Porconectar pessoas aos passados, presentes e futuros, a linguagem no apenas uma representao de um mundo estabelecido independentemente.A linguagem tambm este mundo. No no sentido simplista de que tudoque ns temos de nosso passado linguagem, mas no sentido de que nossas

    memrias so inscritas em representaes lingusticas, histrias, anedotase nomes tanto quanto elas esto contidas em cheiros, sons e modos deexpresso do nosso corpo.

    De alguma forma, a relao entre linguagem e pensamento pode ser concebida como uma inter-relao entre lngua e cultura, determinando um pensamento.

    Em algum momento de sua existncia histrica, lngua heteroglticade cima para baixo: ela representa a coexistncia de contradies scio-ideolgicas entre o presente e o passado. [...] Estas lnguas/linguagens deheteroglossias intercedem-se de uma variedade de maneiras, formando

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    lnguas/linguagens tipificadas (BAKHTIN, 1990, p. 291 apud CAMPBELL,2006, p. 12).

    Conforme Eagleton:

    [...] o pensamento ps-estruturalista tem reconhecido que os textos no sofechados, mas plurais, em um infinito jogo de significantes, os quais nuncapodem ser rebaixados a um nico centro, essncia ou significado. Impor umnico significado ou tentar encontrar um desrepresentar a complexidadedo texto (ou naes) em si, e nossa conteno que uma variedade deleituras atravs das disciplinas um mtodo de explorar a plenitude deambos o texto e a nao , para ouvirmos as muitas vozes que Bakhtindescreve (EAGLETON, 1983, p. 138 apudCAMPBELL, 2006, p. 15, traduonossa).

    Ainda na perspectiva discursiva, podemos considerar a cultura como poltica (frente aos estudosculturais, nosso ramo de estudo aqui). O que considerado cultural, de valor, necessariamente umadeciso poltica, a partir de uma concepo institucional. O que vemos, de fato, que sempre houveo surgimento de novas identidades, com o contato entre pessoas de nacionalidades diferentes ouat mesmo dentro da mesma nacionalidade. H um senso de que as tradies estariam se perdendo,por se considerar que haveria uma tradio, uma cultura estabelecida, estvel e original. o que vemacontecendo, por exemplo, na Inglaterra um dos focos do nosso estudo desde que MargarethThatcher, primeira ministra britnica nos anos de 1980, legitimou tal questo.

    Nas ltimas duas dcadas, a cultura poltica britnica tambm tem sidomassivamente transformada pelas foras de privatizao e consumismo. Aomesmo tempo, e devido ao vcuo moral que isso tem criado, tem aumentadouma preocupao com a questo de valores. Dessa forma, as duas ltimasdcadas tm testemunhado, contudo, um novo pnico moral na ideia dadecadncia dos valores de famlia e comunidade, associados com o desejonostlgico de recuperar tradies perdidas. Dentre outras coisas, essasansiedades surgem em relao a novas e emergentes formas de identidadesexual e estilo de vida que tm visto as consequncias culturais do mercado

    livre Thatcherista para serem alojados ou considerados comuns e naturais.Por um lado, ento, temos as foras da privatizao e o individualismomovendo-se atravs de todas as esferas da vida, e, por outro, a inovaodos valores de comunidade e comunitrios (MORLEY e ROBINS, 2005, p. 2,traduo nossa).

    Segundo Santos (2004, p. 47):

    cultura uma construo histrica, seja como concepo, seja como dimensodo processo social; logo, cultura um produto coletivo. [...] Nada do que cultural pode ser estanque porque a cultura faz parte de uma realidade em

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    que a mudana um aspecto fundamental. Assim, a dinamicidade da cultura,no mbito diacrnico, possibilita reformas conceituais e o (re)arranjamentode vises de mundo e padres de comportamento. No plano sincrnico,ou seja, com vistas ao momento, de forma atemporal, a cultura pode serconcebida como universal na experincia do homem. Cada manifestaolocal ou regional dela nica.

    O estudo da cultura contribui para o respeito s diferenas e a harmonia das relaes humanas.Procurando ler, compreender a cultura alheia significa entender-se por meio da autorreflexo.

    Na verdade, se a compreenso da cultura exige que se pense nos diversospovos, naes, sociedades e grupos humanos, porque eles esto eminterao. Se no estivessem, no haveria necessidade, nem motivo, nemocasio para que se considerasse variedade nenhuma. [...] Portanto, a

    humanidade, em toda sua riqueza e multiplicidade de formas de existncia, a cultura (SANTOS, 2004, p. 9).

    Por fim,

    [...] se definimos cultura na sua mais ampla perspectiva como uma forma devida, ento torna-se tambm claro que, ao restringir o estudo de produtosculturais a uma pequena gama de textos pr-concebidos, corre-se o risco dese omitir muita coisa. Uma recente sugesto leva posio oposta; textosso simplesmente aquelas estrias que os americanos [por exemplo] contamuns aos outros para que suas vidas tenham sentido (MECHLING, 1989, p.4).De acordo com essa definio, ento, uma completa gama de produtosculturais e artefatos se tornam disponveis para anlise. Deve ser aindaisso que em tal abordagem de estudo tem lugar para anlise qualitativa,que algumas estrias carregam maiores convices e ressonncia do queoutras, mas as possibilidades de se fazer conexes entre diferentes aspectosda cultura mais ampla so consideravelmente mais ampliadas (CAMPBELL,2006, p. 5, traduo nossa).

    Ento, cultura o modo de vida de um povo, o legado cultural (a tradio) de um povo, a formade pensar o conceito e construes de mundo que o indivduo adquire do seu grupo , entre outrasdefinies. Como se sabe, o assunto inesgotvel, portanto no vamos nos ater a toda essa discussoacerca do tema, mas somente ao que mais relevante no aspecto da tradio.

    Lembrete

    A discusso acerca do assunto no se esgota. Porm, no nosso contexto,foram mostrados alguns conceitos para adentrarmos nos estudos culturais.

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    A questo das identidadesculturais

    Na conjuntura atual, o termo cultura tem apresentado uma dimenso mais global. Em outraspalavras, com o advento dos meios de comunicao na era da tecnologia ou, at mesmo, na era digital eda informatizao do conhecimento, as pessoas tm tido a oportunidade de se comunicar em dimensesglobais. Tal fato diz respeito a uma economia global, na qual a interao entre os povos de vriasculturas, originariamente distintas, tem ocorrido de modo freneticamente rpido, instantneo. Isso atpode formar ou constituir uma espcie de civilizao mundial, como afirma Santos (2004, pp. 39-40):

    [...] com a acelerao da interao entre povos, naes e culturasparticulares, diminui a possibilidade de falar em cultura como totalidade,pois a tendncia formao de uma civilizao mundial faz com que ospovos, naes e culturas particulares existentes partilhem de caractersticascomuns fundamentais.

    interessante verificar que a complexidade da definio de cultura se inter-relaciona com o conceitode identidade. Na atual conjuntura, as condies de estabelecimento e afirmao de um indivduoou, por vezes, de um povo, tm atravessado fronteiras devido ao acesso frentico e democrtico comunicao miditica global. Como bem afirma Hall (2005, p. 47):

    No mundo moderno, as culturas nacionais em que nascemos se constituemem uma das principais fontes de identidade cultural. Ao nos definirmos,algumas vezes dizemos que somos ingleses ou gauleses ou indianosou jamaicanos. Obviamente, ao fazer isso estamos falando de formametafrica. Essas identidades no esto literalmente impressas em nossosgenes. Entretanto, ns efetivamente pensamos nelas como se fossem partede nossa natureza essencial.

    Portanto, o indivduo, pertencente a uma sociedade especfica, falante de uma lngua materna, maspossvel conhecedor de outra(s), completa a sua formao formal, escolar, acadmica e cultural, comoindivduo no pertencente a um pas, mas a um conjunto de sociedades que se interajam. No mbitoeducacional, a formao do indivduo ocorre sob perspectiva pluralizada, a partir de percepes que voalm de demarcaes territoriais, que nos fazem e nos constituem como indivduos.

    Tal formao ainda pode entrar em choque com a formao cultural primitiva individual, deprimeira ordem a partir de uma cultura nacional, pois h toda uma constituio de percepo demundo que o indivduo adquiriu ao longo de seu crescimento em possvel confronto rede mundial decomunicao a outros padres, portanto. Como afirma Hall (2005, pp. 49-50):

    [...] a formao de uma cultura nacional contribuiu para criar padres dealfabetizao universais, generalizou uma nica lngua verncula comoo meio dominante de comunicao em toda a nao, criou uma culturahomognea e manteve instituies culturais nacionais como o sistemaeducacional nacional.

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    Essa homogeneizao cultural atribui de forma exacerbada os padres culturais, que, por meio deinvases culturais e guerras, so institudos e forados a serem adotados em sociedades diversas. A partirdessa reflexo, Werneck (2003, p. 61) afirma que:

    [...] o homem nasce no apenas em meio natureza, mas, ainda, numacultura. A criana vem ao mundo num meio cultural determinado e recebenuma fase de sua vida, caracterizada pelo conhecimento preconceitual, umasrie de informaes, de normas de conduta, de usos considerados comovlidos pelo meio social em que nasceu.

    A expresso preconceituala que Werneck refere-se diz respeito cultura homognea de Hall, comoafirmado anteriormente. A criana, ainda em formao individual, recebe o que Werneck (2003, p.61) aprecia como imaginrio social, de uma cultura, uma viso de mundo, uma viso do outro, umainterpretao do real que vai aceitar de modo passivo, acrtico, preconceitual, ou seja, um conceito pr-

    estabelecido e determinado das coisas, que pode ser transformado com o amadurecimento.

    interessante se pensar na cultura, no que se entende por esse fenmeno, em perspectiva de suainstruo, e se isso possvel, no mbito da educao formal. Em que lugar tal fenmeno se encontranesse processo? Como apresentaramos uma cultura de um povo entende-se pas ou nao semcamuflarmos aspectos considerados importantes de seus aspectos culturais? Isso pode ser impossvel.Sempre exporamos alguns aspectos culturais mais relevantes, no mesmo?

    Ento, apesar de toda a acelerao, dos modos de interao e das diversidades e, ainda, daspossibilidades de comunicao no mundo real e no virtual, o homem ainda mantm a sua essncia:produzir significados. Posteriormente, Hall implicaria discutir a questo das identidades culturais na erada ps-modernidade ou, como se afirma, modernidade tardia.

    Nosso objetivo aprender acerca das culturas de pases que apresentam o ingls como lngua oficialou que tenham, de alguma forma, absorvido a contribuio desse idioma para a sua construo cultural.As identidades culturais so um conceito advindo das culturas, as quais podem ultrapassar regiesgeogrficas.

    Nos dias de hoje, discute-se muito a questo das identidades culturais, principalmente por termos

    contato de forma instantnea, virtual, veloz e imediata com vrios pases e culturas. Uma pessoa quenasce no Brasil, por exemplo, pode muito bem se identificar e at se sentir um ingls, principalmentepela possibilidade de contato com esse pas por meio virtual. Entretanto, no se pode considerar somenteesse fator. O mercado e a economia mundial tm selecionado e contratado pessoas de diversas reas doplaneta. A migrao de mo de obra entre pases tem sido uma constante. Esse fato decorre no pelafalta de profissionais qualificados em uma determinada regio, mas, muitas vezes, por plena escolhaindividual, o que constitui e contribui para a hibridez cultural no mundo. Tal fato tambm ilustra a novaconcepo de identidade.

    No mundo moderno, as culturas nacionais em que nascemos se constituemem uma das principais fontes de identidade cultural. Ao nos definirmos,

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    algumas vezes dizemos que somos ingleses ou galeses ou indianos oujamaicanos. Obviamente, ao fazer isso estamos falando de forma metafrica.Essas identidades no esto literalmente impressas em nossos genes.Entretanto, ns efetivamente pensamos nelas como se fossem parte danossa natureza essencial (HALL, 2005, p. 47).

    Saiba mais

    Para aprofundar seus estudos culturais, principalmente, no que dizrespeito s identidades, no deixe de ler as seguintes obras do estudiosojamaicano Stuart Hall:

    A identidade cultural na era da ps-modernidade.Este livro breve,mas muito completo quanto identidade cultural e a problemticada ps-modernidade. Voc pode ler este livro por inteiro.

    Da dispora.Alm de o autor trabalhar com o problema dos estudosculturais, em si, ele aborda tambm a problemtica da dispora assunto que ser tratado na ltima unidade deste livro-texto.Recomenda-se que se faa a leitura do captulo 2 da parte 1, em queele fala sobre a questo multicultural, e de toda a parte 3 do livro.

    Algumas culturas se dizem em crise e pode-se afirmar que elas tm buscado por uma identidade.Fala-se em resgate ao que significa ser eminentemente americano, ingls ou canadense, mediante umaconcepo racionalista de identidade.

    Voc, caro aluno, poder indagar a respeito de parmetros culturais como etnia, msica, costume,estilo de vida, culinria, danas tpicas etc., que definiriam e/ou classificariam tais identidades culturais.Todavia, a grande questo entender a dinmica dos povos e como ela contribui para a criao de novasidentidades culturais. Trata-se aqui de discutir, a partir da concepo do que entendemos por culturaamericana, inglesa, caribenha, nigeriana etc. e sob o ponto de vista geogrfico, outras possibilidades de

    identidades culturais conforme afirma Hall (2005), fenmenos no estticos ou fixos.Hall discute algumas concepes relevantes acerca de identidade. H, basicamente, trs tipos: a)

    sujeito do Iluminismo; b) sujeito sociolgico; c) sujeito ps-moderno.

    O sujeito do Iluminismo diz respeito :

    [...] concepo da pessoa humana como um indivduo totalmente centrado,unificado, dotado das capacidades da razo, de conscincia e de ao,cujo centro consistia num ncleo interior, que emergia pela primeira vez

    quando o sujeito nascia e com ele se desenvolvia, ainda que permanecendo

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    e conceitua de forma incessante. Uma pessoa que nasce no continente americano pode se sentir ouse identificar como sendo pertencente a outro pas Japo ou China, por exemplo , isso devido significativa interao humana via tecnologia e grande rede de comunicao: a internet.

    Observao

    Embora no pretendamos adentrar no assunto, h mais de umaconcepo de ps-modernidade.

    Nossas aes dentro de um pas geralmente apresentam dimenso poltica global. Um exemplo disso a interveno dos Estados Unidos da Amrica no Iraque, que ocasionou a derrubada do ditador SaddamHussein e tambm uma guerra. Movimentos polticos tm sido executados mediante contatos de redessociais, enquanto aes em prol do meio ambiente em todo o mundo, derrubada de governos tiranos

    e passeatas a favor de direitos humanos so algumas ocorrncias de fatos que possivelmente tiveraminterferncia da mdia local e mundial. Frente a essa interao, pode-se at afirmar quais identidadesso formadas.

    A identidade marca o encontro de nosso passado com as relaes sociais,culturais e econmicas nas quais vivemos agora [...]. A identidade ainterseco de nossas vidas cotidianas com as relaes econmicas e polticasde subordinao e dominao (RUTHERFORD, 1990 apud WOODWARD,2000, p. 19).

    Muito alm da migrao fsica de populaes no globo, a formao e/ou construo de novasidentidades tambm realizada pelas definies conceituais miditicas globalizantes.

    Precisamos vincular as discusses sobre identidade a todos aqueles processose prticas que tm perturbado o carter relativamente estabelecido demuitas populaes e culturas: os processos de globalizao, os quais, euargumentaria, coincidem com a modernidade (HALL, 1996), e os processosde migrao forada (ou livre) que tm se tornado um fenmeno global doassim chamado mundo ps-colonial. As identidades parecem invocar uma

    origem que residiria em um passado histrico com o qual elas continuariama manter uma certa correspondncia. Elas tm a ver, entretanto, com aquesto da utilizao dos recursos da histria, linguagem e da cultura paraa produo no daquilo que ns somos, mas daquilo que nos tornamos.Tm a ver no tanto com as questes quem ns somos ou de onde nsviemos, mas muito mais com as questes quem ns podemos nos tornar,como ns temos sido representados e como esta representao afeta aforma como ns podemos representar a ns prprios. Elas tm tanto a vercom a invenoda tradio quanto com a prpria tradio, a qual elas nosobrigam a ler no como uma incessante reiterao, mas como o mesmoque se transforma (GILROY, 1994): no o assim chamado retorno s razes,

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    mas uma negociao com nossas rotas. Elas surgem da narrativizaodo eu [] construda na fantasia ou, ao menos, no interior de um campofantasmagrico.

    precisamente porque as identidades so construdas dentro (e no fora) do discurso que nsprecisamos compreend-las como produzidas em locais histricos e institucionais especficos, nointerior de formaes e prticas discursivas especficas, por estratgias e iniciativas especficas. []As identidades so construdas por meio da diferena e no fora dela. Isso implica o reconhecimentoradicalmente perturbador e que apenas por meio da relao com o outro, da relao com aquilo queno , com precisamente aquilo que falta, com aquilo que tem sido chamado de exterior constitutivo,que o significado positivo de qualquer termo e, assim, sua identidade pode ser construdo(DERRIDA, 1981; LACLAU, 1990; BUTLER, 1993). [] Toda identidade tem, sua margem, um excesso,algo a mais. A unidade, a homogeneidade interna, que o termo identidade assume como fundacional,no uma forma natural, mas uma forma construda de fechamento: toda identidade tem necessidade

    daquilo que lhe falta mesmo que esse outro que lhe falta seja um outro silenciado e inarticulado(HALL, 2005, pp. 109-110).

    Podemos entender, portanto, que as identidades so construdas por instituies sociais queprocuram determinar e classificar culturas.

    A herana tem sido a palavra-chave no nosso vocabulrio nacional;ela o que a Gr-Bretanha vende para turistas que vm visitar oslares do estado e, nas indstrias audiovisuais, na forma do teatro (osfilmes de Merchant-Ivory et al.). Essas imagens afetam no s como osoutros nos veem, mas tambm como ns nos vemos e o nosso futuro,e nossos autores esto preocupados em traar os caminhos pelos quaisns temos tentado simbolizar nossa identidade em (constantemente)formas modernas, do perodo ps-guerra (o Festival da Gr-Bretanha,por exemplo) at as formas culturais (muito comercializadas) da LoteriaNacional, para celebraes do milnio.

    Porm, nosso foco no somente as formas pblicas da poltica eseus smbolos institucionais, mas tambm os desenvolvimentos-

    chave em vrias formas de arte msica, literatura e as artes visuais que refletem o estado da cultura britnica agora. H profundasambivalncias aqui, acerca de repetidas chamadas para algum retornopara identidades culturais estabelecidas ou tradicionais. Tambm importante colocar esses desenvolvimentos artsticos atuais no contextode desenvolvimentos mais amplos do que na Gr-Bretanha (globalizaocultural, europeizao), envolvendo o reposicionamento da identidadebritnica. Desse modo, no ramo da msica, enquanto muitos celebravamo surgimento do britpop nos anos 1990 [...], significante que issoera uma forma quase exclusivamente branca, enquanto a identidadebritnica multicultural tem encontrado sua articulao em reas

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    bastante diferentes da expresso musical (do bhangra ao jungle e aonew asian underground). Semelhantemente, na literatura, se MartinAmis tem sido central para a linha recente da literatura britnica, entoescritores como Salman Rushdie, Hanif Kureishi, Meera Syal e ZadieSmith tm sido cruciais em darem voz s outras culturas britnicas nobrancas (MORLEY e ROBINS, 2005, p. 9, traduo nossa).

    A herana uma busca que nos impulsionada pelas instituies sociais: a Igreja, a escola, a famliae a mdia em geral. No mbito atual, com contato constante com outras vozes, novos falares e novasidentidades so formadas. Trata-se de uma perspectiva hbrida, portanto. impossvel tratarmos daquesto do cultural de forma pura, a partir de uma tradio (por exemplo, a britnica) que, porventura,estaria se perdendo por causa desse contato incessante.

    De forma oportuna, Hall discute em sua obra Da disporaa questo do multicultural. Alm de definir

    multicultural, ele contrasta tal definio com a de multiculturalismo . Vejamos:

    Multicultural um termo qualificativo. Descreve as caractersticassociais e os problemas de governabilidade apresentados por qualquersociedade na qual diferentes comunidades convivem e tentam construiruma vida em comum, ao mesmo tempo em que retm algo de suaidentidade original. Em contrapartida, o termo multiculturalismo substantivo. Refere-se s estratgias e polticas adotadas para governarou administrar problemas de diversidade e multiplicidade geradospelas sociedades multiculturais. usualmente utilizado no singular,significando a filosofia especfica ou a doutrina que sustenta asestratgias multiculturais. Multicultural, entretanto, , por definio,plural. Existem muitos tipos de sociedade multicultural, como porexemplo, os Estados Unidos da Amrica, a Gr-Bretanha, a Frana,a Malsia, o Sri Lanka, a Nova Zelndia, a Indonsia, a frica do Sule a Nigria. Esses so, de forma bastante distinta, multiculturais.Entretanto, todos possuem uma caracterstica em comum. So, pordefinio, culturalmente heterogneos. Eles se distinguem neste sentidodo Estado-nao moderno, constitucional liberal, do Ocidente, que

    se afirma sobre o pressuposto (geralmente tcito) da homogeneidadecultural organizada em torno de valores universais, seculares eindividualistas liberais (GOLDBERG, 1994 apud HALL, 2009, p. 50).

    Vemos ento que esses so termos que, aparentemente, se assemelham e trazem problemticasdistintas. O termo multicultural adjetivo, qualificativo. Por exemplo, a msica brasileira multicultural, ou seja, ela plural, constituda por elementos de vrias culturas, mas possui umacaracterstica comum que a define como brasileira no s a lngua portuguesa, mas a linguagemem si. O termo multiculturalismo singular, substantivo. um fenmeno tratado por meio depolticas pblicas. A imigrao um fenmeno que gera o multiculturalismo.

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    Por fim, a partir de um olhar um tanto quanto tenebroso para a globalizao e suas consequncias,o socilogo polons Zigmunt Bauman desenvolveu uma teoria que complementa o nossoraciocnio quanto questo das identidades em formao. Em vrias obras, como Globalizao,as consequncias humanas (1998), Modernidade lquida (2000) e Amor lquido (2003), entreoutras, ele afirma a metfora do lquido atribudo s aes humanas no mundo ps-moderno.Logo, podemos afirmar, ainda que de modo geral, que as identidades de nossa era so lquidas,ou seja, elas no se solidificam, no se baseiam e nem se fixam. Elas simplesmente se esvaem, setransformam e, principalmente mediante era digital, afirmam e configuram novas identidades demodo instantneo, veloz e voraz.

    Ento, caro(a) aluno(a), pode-se afirmar que as identidades no contexto de globalizao podemser entendidas como um processo de construo, uma mistura de resgate cultural com uma culturavigente e dominante. importante levarmos em considerao esta concepo de Hall (2005), comoafirmado anteriormente, para entendermos as representaes culturais nos pases. Em outras palavras,

    as questes que direcionam esta perspectiva so: o que define o americano como americano?, o quedefine o ingls como ingls?, e assim por diante. Tais questes no sero respondidas, e sim discutidasao longo deste livro-texto.

    Lembrete

    Identidade muito se confunde com ideologia. Embora ambas tenhammuito em comum, so conceitos distintos. Que no confundamos, ok?

    Saiba mais

    Recomendamos alguns filmes cuja temtica o multicultural e/ou ointercultural:

    Babel(2006), com Brad Pitt, Cate Blanchett e Gael Garcia Bernal.Direo: Alejandro Gonzlez Iarritu. Uma srie de acontecimentosocorre no mundo e todas elas se interligam pelo fatorinterculturalidade. Filme interessantssimo para que possamosentender como o mundo se relaciona de alguma forma frente sculturas em dilogo e choque.

    Entre os muros da escola (2007). Direo: Laurent Cantet. Filmefrancs interessantssimo, cuja temtica a educao em umaFrana contempornea e multicultural.

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    1 VOZES DO CENTRO: GR-BRETANHA

    Figura 1 Bandeira do Reino Unido

    constantemente discutido de que modo os pases-centro influenciaram e colonizaram naesdiversas em todo o globo. Abordaremos as naes que difundiram a lngua inglesa: a Inglaterra, emprimeira instncia, e os Estados Unidos, em segunda. Entretanto, importante levarmos em conta alngua inglesa como lngua de trabalho, lngua do colonizador, mas que se transformou em lnguade identidade de vrios povos. A Gr-Bretanha, ou Reino Unido, seria a nao bero da exportaocultural via lngua inglesa, seguida do seu filho, que mais tarde se tornou um rfo, pois agregou vrioscostumes de inmeros povos e se transformou em uma potncia que superou qualquer pas da UnioEuropeia: os Estados Unidos da Amrica, nao que iniciou uma economia de mercado que, de algumaforma, influenciou o globo.

    Nesta unidade, voc estudar as vozes do centro: a Gr-Bretanha e os Estados Unidos. Abordaremosquestes culturais, determinadas geograficamente (do ponto de vista fsico, histrico e econmico,entre outros) e discutiremos, no final, as questes que determinam identidades diversas medianteessas culturas. A pergunta guia : o que define a Inglaterra e os Estados Unidos como tal? Os aspectoshistricos e culturais so levados em conta para respondermos a essa pergunta. Ser que o velho mundoingls definido como o mesmo desde sempre, desde seu estabelecimento como unidade cultural, ou

    hoje em dia se discutem identidades hbridas em um continente antigo?

    1.1 O Reino Unido

    Ser ingls significa pertencer ao Reino Unido? Muitos acreditam que sim, mas a resposta no toassertiva quanto pensarmos no sim. Discutiremos acerca disso adiante.

    A partir de agora falaremos sobre a Gr-Bretanha, ou seja, a Inglaterra, a Esccia, o Pas de Gales ea Irlanda do Norte, que sero abordados como um todo, bem como os Estados Unidos, com ressalvas aalgumas observaes acerca de tradies inventadas, entre outros aspectos.

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    1.2 Aspectos histricos

    A grande ilha que compe os pases Esccia, Pas de Gales e Inglaterra (e ainda incluindo a Irlandado Norte) o que conhecemos como Gr-Bretanha. Bretanha o nome dado pelos romanos quandoestiveram na ilha entre os anos 43 e 409 d.C.

    Quando os romanos se estabeleceram na ilha, chamaram seus habitantesde pretani. Com o uso dirio dessa palavra pelos soldados, pretani setornou britanni. deste termo britanni que o nome britons(bretes,em portugus) se derivou, sendo usado at os dias de hoje para designar osnativos ou os habitantes da Bretanha (SILVA, 2005, p. 2).

    Como nos ensina Silva (2005), os pretani, que atualmente podemos chamar de britnicos, foramconstitudos pela composio de vrios outros povos indo-europeus, resultado de fluxos migratriosconstantes, bem como invases, desde a era do Homem de Neanderthal at os dias de hoje.

    A Inglaterra foi ocupada por povos de vrias culturas por cerca de 35 mil anos. Dentre eles esto: osanglos do qual derivou-se o nome Inglaterra (AngleLand= England) , os saxes, os picts, os jutos e osceltas. Eles, entre outros povos que contriburam para a formao da ilha, constituram grande parte daIrlanda e da Esccia. Os romanos tambm contriburam para a sua formao cultural. Londres (London,em ingls) o nome de uma das tribos que constituram o pas.

    Uns dos primeiros povos residentes na ilha foram os bretes, que atualmente habitam no Pas deGales e falam gals. Posteriormente, no sculo V, a ilha foi invadida por povos brbaros, assim chamados

    pelo fato de no serem cristos. Em seguida, as legies romanas deixaram a ilha e os anglo-saxeschegaram do noroeste da Europa invaso finalizada no sculo VII.

    Os anglo-saxes acreditavam nos deuses germnicos. Como o territrio era habitado por cristos,ambas as religies passaram a conviver, influenciando-se mutuamente. Assim, a ilha tornou-se umarea de contato entre diferentes culturas, revelando como nenhuma cultura homognea, pois seforma a partir da relao com o outro, diferente tanto dentro como fora dos limites nacionais.

    Os vikingschegaram ao territrio no sculo IX. Posteriormente, foram estabelecidos dois importantesreinos: o da Esccia no norte da ilha e o da Inglaterra no sul.

    Figura 2

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    Assim, quando nos referimos ao Reino Unido, podemos considerar que ele uma miscelneacultural, formada por anglos, saxes, celtas, romanos, galeses e gauleses (franceses que tambm queinvadiram a ilha no sculo XII, com William O Conquistador, o qual levou o regime feudal para a ilha,a lngua latina e o francs antigo).

    Lembrete

    Cuidado! Quando falamos de Reino Unido, obrigatoriamente, referimo-nos aos pases Inglaterra, Esccia, Pas de Gales e Irlanda do Norte (emborano abordemos aqui a Irlanda do Norte ou o Pas de Gales). Todavia, muitosconsideram que o Reino Unido seja equivalente Inglaterra, o que no estcorreto.

    Um dos legados desta poca o livro Doomsday Book (O livro do Juzo Final), uma espcie deregistro das terras da Inglaterra. William the Conqueror (Guilherme O Conquistador), delineouas terras da Inglaterra e instituiu o feudalismo, uma vez que o territrio era organizado porcondados (shires).

    O Reino da Inglaterra, que depois de 1284 incluiu Gales, era um Estadosoberano at 1 de maio de 1707, quando os atos de Unio puseram emprtica as condies estabelecidas no Tratado da Unio do ano anterior,resultando em uma unio poltica com o Reino da Esccia para criar o ReinoUnido da Gr-Bretanha. Em 1800, a Gr-Bretanha uniu-se com a Irlandaatravs de outra lei da Unio para se tornar o Reino Unido da Gr-Bretanhae da Irlanda. Em 1922, o Estado Livre Irlands foi estabelecido como umdomnio separado; posteriormente, a Irlanda do Norte foi incorporada aoReino Unido, criando o Reino Unido e da Irlanda do Norte.2

    Como nossa disciplina bastante panormica e no temos tempo e nem espao para explorarmos ahistria por completo, atentemo-nos a partir daqui ao perodo aps o sculo XVII.

    A dinastia dos Tudor (1485-1603) foi muito importante para o reinado, pois trata-se do

    incio de uma poltica que conduziria a Inglaterra ao crescimento econmico e tambm umatransformao cultural. Seus reis e rainhas foram: Henry VII, Henry VIII, Edward VI, Mary I eElizabeth I. Alguns foram mais gastadores, outros mais econmicos; dentre as mulheres (MaryI e Elizabeth I), a primeira foi conhecida como sanguinria, por tentar restaurar o catolicismona ilha, enquanto a segunda, conhecida como Rainha do povo, teve pulso firme e buscou aprosperidade. Durante os reinados de Mary I (1553-1558) e Elizabeth I (1558-1603) ocorreramtambm as reformas protestante, de Martinho Lutero, e calvinista, de Joo Calvino elementosmarcantes que determinaram a perspectiva do reinado.

    2 Disponvel em: . Acesso em: 2jan. 2013.

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    Mary I e Elizabeth I foram duas mulheres de personalidade forte.

    Mary Tudor, a filha catlica de Catarina de Arago, se tornou rainha com amorte de seu irmo mais novo. Antes disso, porm, o apoio do povo, aindaligado f catlica, ajudou a filha mais velha de Henry VIII a sufocar umatentativa do Parlamento de coroar a protestante Jane Grey como regentedo pas. Assim que chegou ao poder, Mary I colocou em prtica seu projetode restabelecer a Igreja Catlica. [] Em tentativa de trazer a Igreja Catlicade volta ao pas durante seu curto reinado de cinco anos, Mary mandouqueimar trezentos protestantes. O povo gradativamente se tonou desgostosode sua rainha, e somente a notcia de que ela estava morrendo impediu umarevolta popular (SILVA, 2005, pp. 107-108).

    Pois , no que a bebida Bloody Mary procede? O drinkvermelho foi batizado de Mary para fazer

    jus rainha sanguinria. Todavia, a rainha que a sucedeu foi diferente. Foi uma mulher voltada para ascausas sociais, de pulso firme e personalidade tambm forte, mas no sanguinria ou perversa. A RainhaElizabeth I foi conhecida como a primeira Rainha do povo da Gr-Bretanha, de fato.

    Utilizando toda a astcia que tinha lhe ajudado a sobreviver at aquelemomento, Elizabeth se cercou dos melhores conselheiros que a ajudarama enfrentar as dificuldades de uma economia arrasada pelas fanfarronicesde seu pai. No Parlamento, Elizabeth demonstrou habilidade ao evitarradicalizaes polticas. Ela conseguiu encontrar um ponto de equilbrioentre os anseios de protestantes e catlicos, ao mesmo tempo em que sefirmou a sua posio como lder da Igreja Anglicana: para mim, h apenasum Jesus Cristo e uma f. O resto so trivialidades, declarou certa vez.

    Uma ameaa constante ao seu reinado eram as tramas encabeadas pelasua prima Mary, chamada de rainha dos escoceses. Apesar de t-la mantidopresa por 17 anos, Elizabeth sempre descobria que Mary estava por trsdas vrias tentativas catlicas de derrub-la. Aps hesitar muito, Elizabethordenou a execuo de Mary em 1587 (SILVA, 2005, pp. 108-109).

    Elizabeth realmente tinha uma personalidade forte, e isso influenciou significativamente nas suasdecises polticas.

    Apesar de toda a turbulncia poltica, religiosa e cultural do sculo XVI,causada pela Reforma Protestante e o Renascimento, o forte sentimentonacionalista representado pela figura de Elizabeth I e a habilidade polticados conselheiros reais nos assuntos internos conseguiram manter o pasunido at a morte da rainha em 1604.

    Como Elizabeth era a rainha virgem, obviamente ela no tinha deixadoherdeiros para a coroa. Pelas leis de sucesso da Inglaterra, a coroa foi para

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    o seu primo, James VI, coroado rei da Esccia desde 1578, quando tinhaapenas doze anos.

    Com James VI, agora James I da Inglaterra, a dinastia Stuart se iniciou. Como se poder constatar,ela foi infinitamente menos bem-sucedida que a dinastia Tudor, mas foi a protagonista dos eventos quelevaram a Inglaterra a um fato indito em sua histria at ento e que at hoje nunca mais se repetiu:um governo republicano (SILVA, 2005, p. 109).

    Figura 3

    James I era teimoso, indolente. Seu governo ocorreu entre 1604 e 1625, trazendo muitos problemaspara a Gr-Bretanha.

    James I tinha a fama de intelectual, presunoso e indolente. Ele tinhauma capacidade tal de falar as coisas certas nos momentos errados queo rei francs Henrique IV foi levado a descrev-lo como o tolo maissbio da cristandade. Apesar disso, o incio do governo do novo reifoi recebido com esperana tanto pelo povo quanto pelo Parlamento

    devido sua experincia bem-sucedida na regncia da Esccia. Mas,como foi dito anteriormente, as coisas no seriam fceis para os Stuart.

    Os problemas comearam quando James I pediu ao Parlamento autorizaopara elevar uma taxa com a finalidade de cobrir os rombos no cofre realdeixados por Elizabeth I. O Parlamento concordou, mas exigiu em troca queJames discutisse com eles a sua poltica interna e externa para a Inglaterra.A comearam os problemas do tolo mais sbio da cristandade. Invocandoseu direito divino, ou seja, a crena de que o rei era um escolhido de Deus,

    James declarou que no precisava discutir seus atos com ningum, criando

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    assim um desentendimento com o Parlamento. Infelizmente para James,o poder efetivo da sociedade inglesa estava cada vez mais nas mos doscomerciantes e donos de terra que constituam o Parlamento.

    Outra crise instalada logo no incio do reinado de James I foi caracterizadapela presso do grupo religioso radical do Parlamento, que exigiu que o reiaprovasse leis contra os catlicos. Apesar de ter cedido presso, JamesI no conseguiu satisfazer os parlamentos protestantes, ao mesmo tempoem que levantou a fria dos catlicos. Em uma tentativa de matar o rei e oParlamento, estes catlicos planejaram um atentado que ficaria conhecidocomo a Conspirao da Plvora (SILVA, 2005, pp. 138-139).

    Com tanto abuso de poder, o que poder acontecer? Insatisfao popular e parlamentar. Um grupode puritanos tentar tomar o poder da Gr-Bretanha.

    O grupo radical religioso no Parlamento que costumava se opor a JamesI eram os puritanos. Seguidores das ideias de Joo Calvino e de outrascorrentes religiosas radicais como o presbiterianismo, os puritanosreceberam esse nome devido s suas investidas em sua estrutura. James, porsua vez, dedicou seu reinado a fazer com que os puritanos se convertessemao anglicanismo: eu vou faz-los se adaptar ou vou varr-los para fora daterra. E foi isso que aconteceu. Em 1620, a perseguio de James I levou umgrupo de puritanos a embarcar no navio Mayflower e partir para a Amrica.Nos prximo vinte anos, mais de vinte mil puritanos partiram para o NovoMundo seguindo os lendrios pioneiros do Mayflower (SILVA, 2005, pp. 139-140).

    Logo depois que James I foi deposto, Charles I assumiu e reinou entre 1625 e 1649. E a qu oMayflower nos remete? Ao Novo Mundo, os Estados Unidos da Amrica, que estavam no rumo de seremencontrados.

    James I morreu em 1625, passando a coroa para o seu filho Charles I. Foicom este que a relao entre rei e Parlamento desandou de vez. Seguindo

    a mesma linha de seu pai incluindo a perseguio religiosa , Charlesinvocou seu direito divino para justificar suas aes arbitrrias, comoa dissoluo do Parlamento. Toda vez que precisava de dinheiro parasuas campanhas militares, ele convocava o Parlamento e descumpria aspromessas feitas aos seus membros em troca de dinheiro. Em agosto de1642, o Parlamento decidiu recusar a liberao de fundos para o rei. Emrepreslia, Charles tentou prender cinco Parlamentares. Foi a gota final. AGuerra Civil foi declarada, dividindo a Inglaterra entre as tropas reais, oscavaliers, e aquelas do Parlamento, os roundheads. Os dois lados da guerraapresentavam caractersticas que a literatura da poca viria a refletir.

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    Do lado do rei havia os despreocupados e imprudentescavaliers(cavalheirosou cavaleiros), referncia aos brutais caballeros espanhis que tinhamoprimido os protestantes dos Pases Baixos durante a luta dos holandesespela independncia. Apesar das conotaes do apelido, Charles autorizouseu uso, comentando que ele significava apenas um gentil homem servindoseu rei a cavalo.

    Os primeiros soldados do lado do Parlamento foram os aprendizes deLondres. Usando cabelos bem curtos exemplificando a austeridade e aresoluo puritana, eles ganhariam o apelido de roundheads (cabeasredondas) (SILVA, 2005, p.140).

    Podemos notar que o poder do Parlamento comeou a ficar cada vez mais forte e influente. Isso sinal de que a forma de governo est abalada. Ningum estava satisfeito com rei algum. O povo queria

    um representante.

    No comeo, parecia que as experientes tropas reais se sairiam melhor naguerra, mas das fileiras puritanas se ergueu um gnio militar com o nome deOliver Cromwell. At a ecloso da guerra, ele era apenas um simples fidalgo docampo com inclinaes religiosas puritanas que participava do Parlamentoe pensara em emigrar para a Amrica. Na guerra, ele uniformizou seushomens com as melhores armas e armaduras disponveis e os exortava paraa batalha com inflamados sermes religiosos. Alm disso, Cromwell passouo comando geral para Thomas Fairfax, que ficou responsvel pela cavalaria.Com isso, a mar da batalha virou a favor do Parlamento. Em pouco tempo,as tropas reais comearam a ficar sem fundos para a batalha e perderam onimo. Em 14 de julho de 1645, elas foram finalmente derrotadas na batalhade Naseby (SILVA, 2005, p. 141).

    Ento, decidiu-se pela morte do Rei Charles I. Ele subiu ao cadafalso e morreu decapitado. Emseguida, a Repblica foi instaurada pela primeira vez na Gr-Bretanha, regime que durou de 1649 a1660. Quem sugerimos para ser o presidente ou seu representante?

    Quando a cabea do rei caiu, tambm caiu a ficha dos que assistiam execuo. O gemido da plateia diante da cabea que lhe foi erguida era umsinal de que o povo no estava confiante nos rumos do pas a partir dali.Muitos dos presentes subiram ao cadafalso para molharem seus lenos nosangue real como uma relquia de uma poca que acabava.

    A execuo de Charles I foi um escndalo ainda maior do que o assassinatode Thomas Becket quinhentos anos antes. Os irlandeses e escocesestransferiram sua lealdade automaticamente para o filho do rei, o prncipeCharles. O exrcito escocs de Charles, no entanto, foi duramente derrotadoe ele fugiu para a Frana. Quanto Irlanda, o exrcito de Cromwell marchou

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    at Drogheda e Wexford e matou todos os seis mil habitantes dessas cidades,protagonizando mais um episdio de violncia inglesa contra os irlandeses.

    Aps sufocar esses ltimos focos de resistncia real, Cromwell esperava queo Parlamento governasse a Inglaterra, mas suas intenes falharam devidos discusses internas entre os membros da cmara. Em 1653, ele resolveutomar para si a responsabilidade de liderar a nao e dissolveu o Parlamento,sendo declarado lorde protetor da Inglaterra. Os poderes de Cromwellpassaram a superar os de Charles quando este fora rei (SILVA, 2005, p. 142).

    O puritano Oliver Cromwell considerado o primeiro representante no monarca.

    A prosperidade da Inglaterra sempre esteve na mente de Cromwell. Aconstruo naval e o comrcio martimo aumentaram, a colonizao foi

    incentivada e os espanhis e holandeses foram derrotados no mar. Elelanou as bases sob as quais a Revoluo Industrial se iniciaria no sculoXVIII. Mas se nos aspectos econmicos a repblica foi um sucesso, no planosocial o governo de Cromwell foi um pesadelo para o povo (SILVA, 2005, p.140).

    Ento, apesar de o povo querer um lder, esse lder, que no incio era um lorde protetor, acabou sendoum pesadelo, pois instituiu uma ditadura puritana.

    Seguindo o mesmo estilo de governo de Calvino em Genebra no sculo XVI,Cromwell fechou teatros, casas de jogos e outros locais que desviassem aateno do povo da Igreja. Alm disso, sancionou diversas leis para assegurara austeridade da sociedade. Xingar era punido com multa, esportes e roupasornamentadas foram proibidos, assim como as festividades do Natal, e sera permitido caminhar no sabbathse a pessoa estivesse indo para a igreja.Durante o perodo do Protetorado, como tambm foi chamado o governode Cromwell, muitos cavaliersemigraram para o Novo Mundo, assim comohaviam feito os puritanos trinta anos antes. O governo de Cromwell haviase tornado uma ditadura pior que qualquer outro governo que a Inglaterra

    j tinha visto.

    Com a morte de Cromwell em 1658, seu filho, Richard Cromwell, tentoudar continuidade ao governo do pai, mas ele no era to habilidoso quantoOliver Cromwell. Alm disso, o exrcito e o povo j estavam cansados deviver sob o puritanismo e convidaram o filho de Charles I a assumir a coroa.Nunca mais em sua histria se tornaria uma repblica. Comeava assim aRestaurao (SILVA, 2005, p. 143).

    E o sculo XVIII? Assim como em toda a Europa, foi um sculo que propiciou muitos avanos para asociedade inglesa. Foi nele que o Iluminismo se juntou ao Racionalismo Razo e Luz como sinnimos,

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    em referncia capacidade humana de criao. Trata-se de uma poca que revolucionou o pensamentocientfico. Nela, o homem visto como um ser autoexplicvel e avalivel, ou seja, h uma certa distnciaem relao s coisas divinas para a explicao dos fenmenos da natureza. Arrisca-se afirmar que essesculo foi o introdutor da fenomenologia.

    Todavia, concentremo-nos no perodo histrico na Inglaterra. O que estava acontecendo na grandeilha Shakespeareana? Vejamos o que nos informa o professor Alexander Silva:

    O sculo XVIII na Inglaterra comeou na realidade quase meio sculo antes,quando Charles II restaurou a monarquia em 1660 no evento que ficariaregistrado na histria como A Restaurao. A sociedade inglesa, porm,havia mudado muito desde a poca de seu pai e de seu av, e mudariamuito mais dali por diante. Quando o sculo terminou, a Inglaterra haviase transformado em uma monarquia constitucional, um novo pas havia se

    erguido do outro lado do Atlntico e um antigo regime havia chegado aofim graas a uma revoluo.

    O sculo XVIII foi regido parte pela casa dos Stuart e parte pela dos Hannover(SILVA, 2005, p. 153)

    Figura 4 Palcio de Westminster

    Vamos imaginar uma Inglaterra possessa com o regime puritano institudo por Oliver Cromwell.Apesar de este ter sido o responsvel pela instaurao da Repblica na nica poca em que ocorreuesse fato na histria da Inglaterra , o povo j estava cansado de tanta restrio. Foi ento necessria arestaurao da Monarquia com Charles II (1660-1685).

    Flores jogadas nas ruas, sinos tocados em capelas e igrejas e tapetesestendidos em sacadas repletas de damas. Esse foi o cenrio que Charles IIencontrou quando entrou em Londres em 29 de maio de 1660. Sua primeira

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    providncia foi reabrir os teatros, bordis e casas de jogos, fechadas pelospuritanos desde 1642, ao esta que mostrava bem a nsia do povo pelavolta do estilo de vida que levavam antes da Repblica. A corte tornou-seum lugar de festividades, frivolidades e excessos constantes, mas o povogradativamente voltou para uma vida mais sbria, assinalando que ospuritanos haviam deixado seu legado sobre a formao da personalidadeinglesa (SILVA, 2005, p.160).

    Assim, podemos concluir que o povo ingls necessitava de um pouco menos de restries e de maisliberdades. A restaurao da Monarquia no ocorreu porque essa forma de governo era melhor do quea Repblica, mas porque essa ltima, na verdade, foi uma ditadura.

    Embora a Monarquia fosse restaurada, o Parlamento ainda tinha uma voz forte: a dos Vaqueiros(Whigs) e a dos Ladres (Tories). o incio da democracia partidria na Inglaterra, na qual esses partidos

    exerciam total poder sobre as decises do rei.

    Apesar das festividades pela sua chegada, Charles II despertou desconfianano Parlamento por suas posies pr-catlicas. Com medo de que o reise convertesse ao catolicismo, o Parlamento passou em 1763 o Test Act,que proibia qualquer catlico de assumir postos pblicos na mquinagovernamental. Outro reflexo do medo da converso de Charles II e doaumento de seu poder foi a criao dos dois partidos polticos da Inglaterracujas bases permanecem at hoje: os Whigse os Tories.

    Os Whigs:um dos partidos foi formado por um grupo de parlamentaresque ficou conhecido como Whigs, uma palavra depreciativa para designarvaqueiros ou boiadeiros. Em linhas gerais, pode ser dito que eles defendiamposies mais liberais, como a liberdade religiosa, o controle do poder namonarquia e as causas sociais inglesas.

    Os Tories: apelidados de Tories, palavra irlandesa que significa ladres,este partido tinha perfil mais conservador e estava ligado ao poder reale Igreja Anglicana. A principal preocupao dos Tories era a causa dos

    produtores e do comrcio (SILVA, 2005, p. 161).

    De um lado havia o lado mais liberal, os Whigs, que controlavam as aes do rei, defendiam aliberdade religiosa e valorizavam as aes sociais. H dois fatos: o primeiro que esses partidossurgiram a partir das tropas fiis ao rei, os cavaliers, e os roundheads, contrrios ao Rei na dinastiados Stuartdurante o reinado de Charles I; o outro fato contexto poltico atual, j que os partidosdo Whigse dos Tories, indiretamente, influenciaram os atuais partidos Democrata e Republicano,respectivamente.

    Na manh de domingo, no dia 1 de setembro de 1666, o prefeito de Londresfoi acordado pela notcia de que havia um incndio em Pudding Lane, perto de

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    sua casa. Ora! At uma mulher pode apag-lo mijando!, disse ele, voltandoa dormir. O descaso do prefeito se justificava pelos constantes incndios emLondres causados pela construo de edifcios e casas de madeira, alm dacurta largura entre as ruas. Mas esse incndio era diferente.

    O desastre que mudou a face de Londres comeou numa padaria pertoda cidade e continuou por trs dias at Charles II mandar explodir todosos prdios que estivessem no caminho das chamas, interrompendo suapropagao. No total, cerca de treze mil casas e 87 igrejas, incluindo acatedral medieval de So Paulo, foram consumidas pelas chamas, deixandoduzentas mil pessoas sem teto.

    O desastre, porm, proporcionou uma oportunidade mpar para Charles IIdemonstrar o poder da Restaurao na Inglaterra. Entre diversos projetos

    de reconstruo da cidade, ele escolheu um apresentado pelo arquitetoe professor de astronomia Christopher Wren. Wren concebeu ruas largase retilneas, dirigidas para o novo ponto central da cidade: a catedral deSo Paulo, reconstruda com um domo em estilo neoclssico para rivalizarcom a baslica de So Pedro, em Roma (esse mesmo estilo seria seguidoposteriormente na construo do Capitlio, em Washington). Por decreto,as casas passaram a ser construdas apenas com pedras e materiais noinflamveis. Wren supervisionou a reconstruo da cidade e, quandoterminaram os trabalhos, Londres havia sido enriquecida com 53 igrejas euma catedral (SILVA, 2005, p. 161).

    Temos, ento, a Revoluo Gloriosa.

    Com a morte de Charles II em 1685, seu irmo se tornou o rei James II,criando um problema. Enquanto era o governante do irmo na Esccia,James j havia demonstrado que no gostava de protestantes. Como reida Inglaterra, ele tentou retirar as leis que impediam catlicos de assumircargos pblicos, ao mesmo tempo em que tentou restabelecer a IgrejaCatlica, colocando-a lado a lado com a Anglicana. Diante dos protestos do

    Parlamento, James apenas invocava o maldito (e azarado) argumento dosStuart: o direito divino. Descontentes e temerosos das aes do rei, Whigse Toriesdepositaram suas esperanas sobre a filha protestante de James II,Mary (SILVA, 2008, p. 169).

    interessante vermos que a histria se repete, no? Recordemos qual foi a razo pela qualo rei fora derrubado e a Repblica instituda: o abuso do poder divino. Dessa vez, aps a mortede Charles II, seu irmo, James II, governante da Esccia, decretado rei e, novamente, traz ospoderes para si. Entretanto, nessa ocasio, Tories e Whigs estiveram do mesmo lado e confiaramna filha de James II, Mary.

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    A Revoluo Gloriosa, nesse contexto, foi uma ao que no teve derramamento de sangue, pelo fatode se direcionar a partes inimigas. Mary, filha de James II, era casada com William de Orange, governanteda Holanda. William, ento, foi convidado a invadir a Gr-Bretanha, mas para qu? Justamente paraderrubar o Rei James II, que fugiu para Frana. Aps o embarque das tropas de William de Orange naInglaterra, ele e sua esposa, Mary, foram coroados.

    O governo de William e Mary (1688-1702), coroados, na verdade, pelo parlamento ou pela eliteparlamentar , significou um maior poder deste sobre o rei, o que configurou uma monarquia institucional.As limitaes do rei esto institudas em uma Bill of Rights (Carta de Direitos), de 16893. Vejamos:

    o rei est proibido de suspender leis e arrecadar dinheiro sob pretexto

    de prerrogativa;

    o rei est proibido de agir contra qualquer membro do Parlamento;

    o rei s poder manter o exrcito com a autorizao do Parlamento;

    haver reunio frequente do Parlamento para discutir os problemas

    do pas;

    haver a realizao de eleies livres. (traduo nossa)

    Em 1701, o Parlamento continuaria as mudanas com o Act of Settlement(Ato de Fixao), paraassegurar que apenas um protestante poderia herdar a coroa. At os dias de hoje, se o filho ou filha deum monarca se converter ao catolicismo, ele ou ela no pode herdar a coroa da Inglaterra.

    1.2.1 Nasce a Gr-Bretanha

    O Parlamento ingls tambm resolveu outra questo. Devido s suasdificuldades econmicas, a Esccia precisava se livrar das barreiras comerciaisinglesas. O Parlamento, ento, usou de sua influncia para forar a Escciaa unir seu governo com o da Inglaterra. Com o Act of Parliament(Ato doParlamento) de 1707 nascia o Parlamento da Gr-Bretanha, novo nome doEstado. A Esccia pde, no entanto, manter seu prprio sistema legal, assimcomo sua prpria Igreja.

    Com a transformao da Inglaterra em uma monarquia constitucional, aluta e os excessos dos tempos passados terminaram. Por fim, as liberdadesbsicas, que homens e mulheres tinham cruzado o Atlntico para buscar emuma outra terra, haviam sido plantadas de forma permanente no solo queeles tinham abandonado.

    Aps a morte de William e Mary, a coroa passou irm de Mary, Anne,que reinaria de 1702 at 1714. Quando Anne morreu sem deixar herdeiros,

    3 Disponvel em: . Acesso em: 8 jan. 2013.

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    provocando o fim da tumultuada dinastia dos Stuart, o Parlamento levouo regente do pequeno reino germnico de Hannover para o trono ingls,uma vez que ele era primo da rainha. Os primeiros reis da Casa de Hannover,George I (1714-1727) e George II (1727-1760), no queriam a coroa porquesentiam muita falta de suas terras (eles nem sequer fizeram questo deaprender ingls). Nessa situao, eles ficaram felizes de passar o exercciode seu poder para seus ministros, e dentre eles o maior foi Robert Walpole(SILVA, 2005, p. 168).

    Surge ento o primeiro primeiro-ministro da Gr-Bretanha. Ele teve papel fundamental, pois fundouo Banco da Inglaterra.

    Robert Walpole chegou ao poder devido sua habilidade com as finanasdo pas. Durante seu governo, ele fundou o Banco da Inglaterra, em 1694, e

    props que os ministros do governo deveriam trabalhar como um pequenogrupo que era chamado de Cabinet. A partir da, introduziu a ideia de quequalquer ministro que se desentendesse com os outros ministros do Cabinetdeveria renunciar. Dessa ideia bsica cresceu outra importante regra dapoltica britnica: que todos os membros do Cabinet eram responsveispelas decises do governo.

    Walpole tambm foi responsvel pela introduo de leis que passaram agarantir que o poder real ficaria sempre limitado pela constituio. Esseslimites eram os seguintes:

    o rei no poder ser catlico;

    o rei no poder extinguir ou alterar leis;

    o rei depender do Parlamento para suas nanas e para aquelas de

    seu exrcito;

    o rei poder escolher seus ministros.

    At hoje, o governo da Gr-Bretanha chamado de Governo de VossaMajestade, mas o fato que os ministros esto muito mais ligados aoParlamento do que ao regente. Por suas realizaes enquanto esteve frentedo governo britnico (1721-1742), Robert Walpole considerado o primeiroprimeiro-ministro da Gr-Bretanha (SILVA, 2005, pp. 170-171).

    Os ideais da Revoluo Francesa estavam prximos da Gr-Bretanha, o que, de certa forma,impulsionou outra revoluo burguesa: a Revoluo Industrial.

    O governo ingls logo percebeu o perigo representado pelos ideais da

    Revoluo Francesa. Todo lder radical era preso antes que comeasse a

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    exaltar nas ruas o exemplo dado