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MANUEL PARRALES ROSPIGLIOSI A TOMADA DA RESIDÊNCIA DO EMBAIXADOR JAPONÊS NO PERÚ POR TERRORISTAS: EXPRESSÃO POLÍTICA E SOCIAL DOS GRUPOS SUBVERSIVOSTrabalho de Conclusão de Curso Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Prof. Gustavo Alberto Trompowsky Heck Rio de Janeiro 2013

Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

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MANUEL PARRALES ROSPIGLIOSI

A TOMADA DA RESIDÊNCIA DO EMBAIXADOR JAPONÊS NO PERÚ POR TERRORISTAS:

“EXPRESSÃO POLÍTICA E SOCIAL DOS GRUPOS SUBVERSIVOS” Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Prof. Gustavo Alberto Trompowsky

Heck

Rio de Janeiro 2013

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C2013 ESG

Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referencia bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG.

Assinatura do autor

Biblioteca General Cordeiro de Farias

Rospigliosi, Manuel Parrales

A tomada da residência do embaixador japonês no Peru por terroristas: “Expressão política e social dos grupos subversivos” / Capitán de Navío A.P. Manuel Parrales Rospigliosi. Rio de Janeiro: ESG, 2013.

67 f.: il. Orientador: Prof. Gustavo Alberto Trompowsky Heck Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao

Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2013.

1. Terrorismo. 2. Movimento Revolucionário Tupac Amaru. 3. Sendero Luminoso. 4. Chavin de Huantar. I.Título.

Page 3: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

A minha esposa que me dá estabilidade e apoio

necessário para lutar pela realização dos meus desejos.

A meus filhos pela compreensão em minhas decisões.

Page 4: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

AGRADECIMENTOS

As Autoridades do Ministério da Defesa brasileiro, pelo convite para

cursar este importante Curso, que faz com que nossas nações se integrem e se

aprimorem mais.

Aos estagiários da Turma Força Brasil do CAEPE, pela amizade recebida

durante a minha estadia.

Ao Corpo Permanente da ESG, por ensinar a importância do Brasil no

cenário americano.

Page 5: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

Finja inferioridade e estimula a sua

arrogância.

Mantenhas bajo tensão e desgastá-lo

Quando este unido, divide-lhe.

Atacá-lo onde ele não está preparado, há que sair quando ele não espera...

A Arte da Guerra. (SUN TZU)

Page 6: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

RESUMO

Esta monografia tem como objetivo apresentar a história, o desenvolvimento dos

grupos subversivos, os problemas sociais e atos de terrorismo no Peru, buscando

compreender as razões pelas quais foram desenvolvidos estes grupos. Relantando

o ocorrido durante a operação, com experiência própria de ter combatido o

terrorismo no Peru e participado da chamada Operação “Chavín Huántar”,

integrando uma das equipes de resgate de reféns, além de mostrar a situação

política, econômica e social vivida no Peru na década de oitenta e noventa; a

implementação da estratégia contra o terrorismo e as atividades terroristas antes do

assalto a residência do Embaixador do Japão, em Lima, por terroristas do

Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA), a tomada de reféns, o processo

de negociação para uma solução pacífica diante da crise dos reféns, bem como, o

desenvolvimento da Operação de Resgate. Verificando a estratégia do Governo

peruano durante a crise dos reféns e as responsabilidades assumidas pelo Estado;

as atividades realizadas para evitar o risco com os reféns e a adoção de alternativas

para chegar a uma solução pacífica. A decisão da opção militar e do uso da força,

executando a Operação Militar "Chavín de Huántar", em 22 de abril de 1997,

descreve os eventos da operação que libertou 72 reféns das mãos dos terroristas.

Apresenta ainda, os acontecimentos após a Operação, as atividades subsequentes

das Organizações Políticas de Esquerda com o apoio de organizações de fachada

do terrorismo que procuravam desacreditar a operação e as consequências políticas

e sociais. Analisando como o Estado deve estar preparado para lidar com situações

de crise; o impacto sobre as Forças Armadas e a importância de se manter

Unidades Especiais Contraterroristas em constante treinamento e pronta quando

necessário.

Palavras chave: Terrorismo, Movimento Revolucionário Tupac Amaru. Sendero

Luminoso. Chavin de Huantar.

Page 7: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

RESUMEN

Esta monografía tiene como objetivo dar a conocer los antecedentes, el desarrollo

de los grupos subversivos, los problemas sociales y los actos de terrorismo en el

Perú, buscando comprender los motivos por las cuales se desarrollaron estos

grupos. Relatando lo ocurrido durante la operación, al contar con la experiencia de

haber luchado contra el terrorismo en el Perú y participado en la operación “Chavín

Huantar”, integrando uno de los equipos de equipos de rescate de rehenes , también

muestra la situación política, social y económica vivida en el Perú en los años

ochenta y noventa, la aplicación de la estrategia antiterrorista y las actividades

terroristas previas al asalto de la residencia del embajador del Japón en Lima por los

terroristas del Movimiento Revolucionario Túpac Amaru (MRTA), la toma de rehenes,

el proceso de negociación para una salida pacífica a la crisis de rehenes, y el

desarrollo de la operación de rescate. Verifica la estrategia del gobierno peruano

durante la crisis de rehenes y las responsabilidades asumidas por el estado, las

actividades llevadas a cabo para evitar el riesgo de los rehenes y la adopción de

diversas alternativas para llegar a una solución pacífica. La decisión de la alternativa

militar y el uso de la fuerza mediante la ejecución de la operación militar "Chavín de

Huantar" el 22 de abril de 1997, describe los acontecimientos de la operación que

libero a 72 rehenes de manos de los terroristas. Y presenta los acontecimientos

posteriores a la operación, las consecuentes actividades de las organizaciones

políticas de izquierda con el apoyo de organismos de fachada del terrorismo

intentando desacreditar la operación, y las consecuencias políticas y sociales.

Analiza cómo el Estado debe estar preparado para hacer frente a situaciones de

crisis, el impacto en las Fuerzas Armadas y la importancia de mantener Unidades

Especiales Contraterroristas en constante entrenamiento y listas para cuando sea

necesario.

Palabras Clave: Terrorismo. Movimiento Revolucionario Túpac Amaru. Sendero

Luminoso. Chavín de Huantar

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 Bandeira de Sendero Luminoso .........................................................12 FIGURA 2 Bandeira do Movimento Revolucionário Tupac Amaru ......................20 FIGURA 3 Mapa para 2003 da presença de Sendero Luminoso ........................21 FIGURA 4 Mapa atual da presença de Sendero Luminoso .................................27 FIGURA 5 Representação da casa de negociação .............................................46

Page 9: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APRA Ação Popular Revolucionária Americano

BPR Bloco Popular Revolucionário

CVR Comissão de Verdade e da Reconciliação

DINCOTE Direcção Nacional Contra o Terrorismo

FARC Forças Armadas Revolucionáriasda Colômbia

FMLN Frente Farabundo Martí para Libertação Nacional

FOCEP Frente Trabalhadora Campesino Estudante do Peru

FSLN Frente Sandinista de Libertação Nacional

JMG Junta Militar de Governo

M-19 Movimento 19 de Abril

MPL Movimento Patriótico Livre

MRTA Movimento Revolucionário Tupac Amaru

PCP Partido Comunista do Peru

PCP-SL. Partido Comunista do Peru-Sendero Luminoso

PRT Partido Revolucionário dos Trabalhadores

PSR Partido Socialista Revolucionário marxista-leninista

PSR-ml Partido Socialista Revolucionário marxista-leninista

SL Sendero Luminoso

UEC Unidade Especial de Combate

Page 10: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 10

2 MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO TUPAC AMARU ................................. 12

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA .......................................................................... 12

2.2 VÍNCULOS INTERNACIONAIS .................................... .............................. 17

2.3 PRINCIPAIS AÇÕES TERRORISTAS ...... ................................................... 18

2.4 PRÁTICA DE SEQUESTRO ... .................................................................... 18

3 SENDERO LUMINOSO (PCP-SL) ................................................................. 20

3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA .............................................................................. 20

3.2 GUERRA FRENTE AO ESTADO ..................................................................... 21

3.3 AÇÕES DO GOVERNO PERUANO ............................................................. 24

3.3.1 Captura de Abimael Guzman .................................................................... 24

3.3.2 Captura de Artemio .................................................................................... 26

4 POLÍTICA ANTITERRORISMO .................................................................... 28

4.1 O CONFISCO DA RESIDÊNCIA DO EMBAIXADOS DO JAPÃO EM LIMA .. 29

4.2 O INÍCIO DA INVASÃO ................................................................................ 35

5 OPERAÇÃO CHAVÍN DE HUÁNTAR .......................................................... 52

5.1 FASE 1: PLANEJAMENTO, PREPARAÇÃO E ENSAIO ... ............................. 52

5.2 FASE 2: APROXIMAÇÃO E ASSALTO .......................................................... 54

5.3 FASE 3: FINAL DO ASSALTO ...................................................................... 55

6 PRINCÍPIOS DAS OPERAÇÕES DE RESGATE DOS REFÉNS .................. 57

6.1 INTELIGÊNCIA ............................................................................................. 58

6.2 SURPRESA .................................................................................................... 58

6.3 HABILIDADES DO OPERADOR ................................................................... 59

6.4 ENGANO ...................................................................................................... 59

7 ANÁLISE ....................................................................................................... 61

7.1 POLÍTICA SOCIAL ......................................................................................... 61

7.2 MILITAR ........................................................................................................ 62

8 RECOMENDAÇÕES ...................................................................................... 64

9 CONCLUSÕES ............................................................................................... 65

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 66

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1 INTRODUÇÃO

Há mais de 10 anos se desenvolverem, no Peru, dois movimentos

subversivos, tendo causado desolação, terror e morte nas casas, ruas e campos, de

modo que a política de Governo, levou ao sucesso ao combate contra-insurgência

contra as organizações terroristas Sendero Luminoso (SL) e Movimento

Revolucionário Tupac Amarú (MRTA), com o estabelecimento de uma legislação

anti-terrorismo; o Movimento Revolucionário Túpac Amaru, numa ação de

sobrevivência, tomou reféns na residência da Embaixador do Japão, no Peru. Estes

terroristas eram pessoas que foram trazidas para a prática de atos de terrorismo,

convencidas por pseudo-líderes, que os apresentou ao ódio e ressentimento, levou-

os a perder suas vidas tentando desestabilizar o Estado peruano Jurídico-Político e

Social, aproveitando-se de certas vulnerabilidades do Governo, com a pretenção de

impor assim suas demandas. Para por em prática essas ações usavam a elite

diplomática, a qual era cativa, expondo-os a privação desumana e ilegal de sua

liberdade. O Governo peruano, tentou lidar com essa situação delicada de crise de

maneira pacífica, sem deixar de lado a opção militar de resgate dos valiosos reféns.

A solução pacífica infelizmente, não ocorreu. O resgate dos reféns foi executado

através da Operação chamada “Chavin de Huantar”.

A Crise aconteceu depois que 14 terroristas do MRTA invadiram a residência

do embaixador japonês, em Lima, e capturaram cerca de 800 convidados, incluindo

empresários, diplomatas, religiosos, militares e políticos. Eles participavam de uma

recepção para o Imperador japonês no dia do seu aniversário, em 17 de dezembro

de 1996.

Os terroristas conseguiram surpreender os convidados, quando apareceram

na multidão. Durante o evento, alguns estavam disfarçados de garçons e outros

chegaram em uma ambulância que tinha armas de fogo. Foram bem armados e

poderiam facilmente sequestrar todos os convidados.

Vendo que havia muitas pessoas, libertaram as mulheres e os idosos para

ficar com as autoridades civis e militares, num total de 72 reféns. Obviamente, a

situação foi controlada pelos criminosos.

O grupo terrorista pediu entre outras coisas, que 400 prisioneiros terroristas,

fossem libertados das prisões no Peru.

Page 12: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

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Na época, alguns políticos concordaram, pressionando o Governo a aceitar

as condições dos terroristas. Enquanto isso, o Governo percebeu que uma solução

pacífica seria impossível. Então, reuniu-se em segredo com o grupo de comandos

das Forças Armadas e iniciaram o planejamento do resgate, através de uma

operação militar.

Depois de alguns meses de árduo trabalho de Inteligência para introduzir

microfones e algumas câmeras no interior da residência, a operação estava pronta,

com túneis escavados pelos mineiros trazidos de diferentes partes do Peru, que

trabalham contra o tempo, com muito cuidado para não serem percebidos pelos

terroristas.

No dia 22 de abril de 1997, ocorreu uma explosão no interior da Residência,

dando início a operação, levando consigo a vida de vários terroristas.O outro grupo

ficou atordoado, facilitando a entrada dos militares que estavam nas posições

designadas, ingressando pela rede de túneis dos jardins e entrada traseira, através

de aberturas feitas pelos grupos dos explosivos no perímetro da residência,

apoiados por atiradores de elite, com a missão de derrubar alvos oportunamente.

Infelizmente, a operação terminou com a vida um refém e dois comandantes.

Durante os 126 dias, que durou a crise da Embaixada, a atenção do mundo estava

no Peru, jornalistas estrangeiros estavam seguindo as ações e os possíveis

resultados que estavam por acontecer.

Apesar do sucesso da operação de resgate de reféns, existiam grupos pro-

terroristas que usaram a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH),

para desvirtuar e manchar o nome dos comandos que participaram da operação e

eliminou os terroristas.

A operação hoje é um exemplo e é ensinada em todas as Forças de elite do

mundo.

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2 MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO TUPAC AMARU

Figura 1: Bandeira do MRTA Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Movimento_Revolucion

Tupac_Amaru

O Movimento Revolucionário Tupac Amaru, uma organização terrorista

peruana, fundado em 1984 e inspirado nos guerrilheiros esquerdistas em outros

países da região, que iniciou suas atividades terroristas em julho de 1985. Hoje,

essa organização está quase desarticulada militarmente, mas continua em parceria

com o narcotráfico e existem indícios de que alguns dos membros estão tentando

reconstituir sua estrutura e organização.

Em conjunto com outros grupos terroristas revolucionários auto-

denominados da mesma época como Sendero Luminoso e MRTA, tendo como

função seqüestros, assassinatos e ataques com carro-bomba, aterrorizando a

população urbana.

O MRTA foi liderado por Victor Polay e depois de sua captura e prisão em

julho de 1992, passa a ser liderado por Nestor Cerpa Cartolini, até sua morte,

durante a tomada da residência do embaixador do Japão, em Lima, em 22 de abril

de 1997.

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

O MRTA, nasceu como tal, em 1982, como resultado da união da facção do

Partido Socialista Revolucionário Marxista-Leninista (PSR)1, liderado por Luis

Varesse Scotto e por elementos migrantes do Movimento de Esquerda

Revolucionária – o Militante (MIR-EM)2, de Hugo Avellaneda, Antonio Meza, Elio

1 Partido Socialista Revolucionário marxista-leninista.

2 Movimento de Esquerda Revolucionária – O Militante.

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Portocarrero e Victor Polay, afiliados ao MIR-EM, no ano de 1977, depois de

regressarem da Europa.

Quando surge públicamente o MRTA, muitos pensavam que era um título de

fachada urbana do Sendero Luminoso (SL)3. Porém, o antecedente histórico de

alguns componentes do MRTA, particularmente do MIR retornar ao ano de 1959,

quando o APRA4, sofre um fracionamento, nascendo o “APRA Rebelde”, de Luis de

Puente Uceda, Elio Portocarreno Ríos e Gonzalo Fernández Gasco.

Em 1962, forma-se o MIR II ETAPA, baseado no “APRA Rebelde” e nos

quadros políticos do Partido Comunista Peruano (PCP)5, adotando a partir de 1965 a

denominação MIR III ETAPA, que com o Exército da Libertação Nacional (ELN)6,

comandado por Héctor Béjar Rivera, inicia as guerrilhas no país. Desarticuladas as

guerrilhas (o presidente Belaúde7 chamou-os de ladrões), o MIR então dividiu-se em

MIR-Histórico e em MIR-Reconstrução; em 1968 se reagrupou ao MIR-Histórico,

mas sem ter maior figuração política, debido entre outros fatores o golpe militar do

General Juan Velasco Alvarado8.

O MRTA, no documento emitido por “conquistando o por vir”, III Comitê

Central, em 1991, onde disse-se sobre sua história:

Os militares que tomaram o Poder, em 3 de outubro de 1968, apareceram para a América Latina, como um fenómeno social inédito e completamente incomum, pois muitas das ações que executaram foram reenvindicações que a esquerda a anos reclamava.

Então, se diz por isto, que a Junta Militar do Governo (JMG)9, arrebatou a

bandeira da esquerda.

Em 23 de novembro de 1976, foi fundado o Partido Socialista Revolucionário

(PSR), liderado pelo General Leónidas Rodriguez Figueroa, quando se uniu as

facções do Exército de Libertação Nacional (ELN) e a Frente Trabalhadora

Camponesa Estudantil, do Peru (FOCEP)10. Em 1977, o PSR, sofre uma divisão

nascendo o PSR-Ml11, comandada por Varesse Scotto (ex-combatente, capitão

3 Sendero Luminoso – Movimento Terrorista.

4 Aliança Popular Revolucionária Americana.

5 Partido Comunista Peruana.

6 Exército de Libertação Nacional.

7 Presidente Belaúnde (1963-1968 e 1980-1985).

8 General Juan Velasco Alvarado (presidente do Governo Revolucionário das Forças Armadas de 1968-1975).

9 Junta Militar de Governo (durante o Governo do General Velasco).

10 Frente de Trabalhadores Camponeses Estudantil do Peru.

11 Partido Socialista Revolucionário-marxista-leninista.

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guerrilheiro do FSLN12, da Nicarágua). Neste ano, Polay se afilia ao Movimento de

Esquerda Revolucionária, o Militante (MIR-EM), viajaram alguns deles para integrar

ao Partido Revolucionário dos Trabalhadores (PRT)13, da Argentina, para adquirirem

experiencia.

O PSR, se estabeleceu em dois níveis: um o “público”, como personalidades

prestigiadas políticamente, com um trabalho “aberto”, com fins eleitoreiros e outro

nível, fechado, clandestino, encarregado do trabalho conspiratório que foi

denominado de “Orga”.

Em 4 de fevereiro de 1979, ocorreu um fato importante para a esquerda, a

greve dos trabalhadores da fábrica Cromotex, que resultou em varios feridos e

detidos, debido a radicalização de suas revindicações e também ao enfrentamento

com a policía. A greve foi liderada por Néstor Cerpa Cartolini, militante do SL, quem

depois viria a integrar o MRTA.

Em março de 1982, se autodenominou Movimento Revolucionário Túpac

Amaru, em memoria ao grande rebelde peruano José Gabriel Condorcanqui

Noguera, Túpac Amaru II, cacique de Tungasuca, Pampamarca e Surimana, que se

rebelou contra a denominação esponhola, em 1780.

A primeira ação armada públicamente conhecida do MRTA, foi o ataque de

um comando tupacamarista com armas de fogo, sobre o posto policial da Vila El

Salvador – Lima, em 22 de janeiro de 1984, através da esquadra de combate

“Micaela Bastidas”; porém, em 31 de maio de 1982, um grupo embrionário do MRTA,

sob o comando de Polay, assaltaram uma agencia do Banco de Crédito, em Lima,

quando morreu Jorge Talledo Feria, pseudônimo “Daniel”, militante considerado

como o primeiro martire revolucionário tupacamarista, integrante do Comitê Central.

Em julho de 1985, ao asumir o Governo, o partido Aliança Popular

Revolucionária Americana (APRA), a organização terrorista “Túpac Amaru”,

concedeu um ano de tregua, aproveitando para organizar os quadros guerrilheiros

de selva do departamento de Cusco, centro desarticulado pelas Forças da Ordem,

em meados de 1986. Após isto, o MRTA, mudou seu centro operativo, quando forma

suas frentes guerrilheiras que permitiram establecer uma aliança com as máfias do

Tráfego Ilícito de Drogas (TID).

12

Frente Sandenista de Libertação Nacional, na Nicarágua. 13

Partido Revolucionário dos Trabalhadores.

Page 16: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

16

O líder do MRTA, desde o início e depois de duras lutas internas, era o

senhor Victor Potay Campos, cujo nome de guerra era “Rolando”, foi quem

organizou os primeiros atos. Sua captura em fevereiro de 1989, desarticulou o

Comitê Regional do Centro, localizado nos departamentos de Junín e Pasco; a

captura ocorreu após uma operação em que foram mortos 106 terroristas; o MRTA

atribuiu como sendo uma iniciativa do ex-Ministro da Defesa, o General (Rfm)

Enrique López Albújar14, o que levou a ser assassinado em 1990, sendo este um

dos atos mais desastrosos de sua atividade no começo dessa década.

O período da denominada “Guerra Revolucionária do Povo”, o MRTA,

experimentou um paulatino crescimento de sua estrutura política e militar, prova

disto, é que a partir de 1984, registram-se dezenove atos terroristas, seguindo uma

escala de 198, 219, 392, 413, até chegar a 580 ações em 1989, quantidade trinta

vezes superior as cometidas em seu início.

No começo da década de 90, a organização terrorista “Túpac Amaru”,

contava com quatro frentes guerrilheiras, localizadas nos departamentos de San

Martín, Ucayali, Pasco, Junín, Cusco e Puno. Sua atividade urbana se centralizava

principalmente nas ciudades de Lima, Trujillo, Huancayo e Arequipa. Em julho de

1990, durante o governo do Presidente Alan García Pérez15, sucedeu a astuta fuga

de Victor Polay Campos, “Rolando”, com outros quarenta de seus militantes do

presídio Castro Castro, localizado no departamento de Lima; realizado através de

um túnel que foi construido sigilosamente, embora não se descartem complicidades

de dentro do presídio. Polay retoma a condição, mas precisa esforça-se para impor

suas decisões.

Em seguida, o chamado Bloco Popular Revolucionário (BPR) e o Movimento

Pátria Livre (MPL), facções legais, ambas de esquerda radical, teriam então se

convertido nos principais instrumentos de capacitação e formação ideológica dos

quadros para o MRTA, porém calcula-se que em 1991, teriam uma força que não

superava mil homens, dos quais 60% estavam armados, isto graças a sequestros e

a vínculos estabelecidos com os narcotraficantes, quando adquiriram uma apreciável

quantidade de metralhadoras e outros elementos bélicos. Neste mesmo ano, o

MRTA continua mostrando um aparente fortalecimento político e militar, dando uma

devida importancia a quantidade de militantes que fugiam do presídio.

14

Gral Enrique López Albújar (Ministro de defensa 1987-1989). 15

Presidente Alan García Pérez (1985 a1990 y de 2006 a 2011).

Page 17: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

17

Esta recuperação lhe permitiu desenvolver suas ações violentas, tanto na

área urbana como na rural.

Mas, a partir de 1992, começa sua decadencia, devido a ação das Forças de

Ordem, que entre outros éxitos, obtiveram a recaptura de Victor Polay Campos, em

9 de junho de 1992 e de outros integrantes de alta hierarquia. A isto, adcionou-se

que dentro do BPR e do MPL surgiram discrepancias e disputas pelo comando. Em

1993, como consequência de sucessivos fracassos, uma delibitada estrutura política

e militar, a atividade violenta do MRTA diminui ostensivamente, sendo seus atos, na

maioria, orientados para fins claramente propagandistas. Sua atividade diminui, mas

ainda em 1994, devido sobretudo a condução nacional, o movimento foi

desarticulado com a captura de seus principais níveis de comando e devido também

a outros deserções, pelo efeito da “Lei do Arrependimento”16. Vários desertores

passaram a colaborar com as Forças da Ordem, o que aumentou a dissolução de

seus efetivos.

No ano de 1995, sua atividade concentra-se no Comitê Regional do Centro,

cuja ineficacia põe em evidencia a total falta de condução, direção e a transparência

da desorganização que existe em sua estrutura militar e política. Enquanto, a

direção nacional segue sofrendo reveses, em particular pela captura no distrito de La

Molina, localizado no departamento de Lima, do dirigente Miguel Wenceslao Rincón

Ricón, membro dessa direção nacional que cai conjuntamente com outros vintes

dirigentes hierárquicos, entre eles a norte americana Lori Berenson o paramenho

Pacífico Castrillón Santamaria e Nancy Gilvonio Conde, mulher de Néstor Cerpa

Cartolini.

Como consequência da aplicação da estratégia contraterrorista para a

pacificação nacional17, o MRTA sofreu duros golpes na sua estrutura política e

militar. A ação mais significativa de toda a história, está representada pela incursão

realizada em 17 de dezembro de 1996, dirigida por Néstor Cerpa Catolini,

conjuntamente com outros membros do grupo, a residencia do Embaixador do

Japão, em Lima.

O MRTA, ficou reduzido a uma mínima expressão, virtualmente. Desde

então, começou sua decadencia e sua atividade vem limitando-se cada vez mais a 16

Lei de Arrependimento (lei promulgada pelo governo do presidente Fujimori, para terroristas

sentenciados por traição a pátria, que proporcionavam informações as autoridades para localizar outros terroristas em actividades). 17

Estratégia contraterrorista para a Pacificação Nacional dirigida pelo governo do presidente Fujimori.

Page 18: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

18

sequestros imprudentes de pessoas importantes por poucas horas, com a finalidade

de dar sinais de vida (GALVEZ, 1993, P.201).

2.2 VÍNCULOS INTERNACIONAIS

Quanto aos vínculos, o MRTA, desde do início, mantém relações de caráter

subversivo a nível internacional com movimentos similares, prioritariamente na

América, que contribuíram para sua formação inicial e para uma consolidação

posterior, como uma organização político-militar e assim tentando subverter o

sistema democrático. Na América, as diversas organizações rebeldes principalmente

as de Cuba, El Salvador, Nicarágua e Colômbia, foram sua inspiração que deram o

tom marxista-leninista. O FSLN da Nicarágua, contribuiu inicialmente, em dar as

primeiras diretrizes, com a participação na denominada convergência18, o M-19, da

Colômbia19, de sua parte, forneceu instruções de guerrilha a seus primeiros

combatentes, no chamado “Batalhão América”20. O FMLN21, de El Salvador

(desativado), enviou ao Peru instrutores militares para treinar os guerrilheiros do

MRTA, na selva, na província de Huallaga22.

Os grupos subversivos do Chile, não ficaram atrás, pois foi comprovada a

participação de subversivos chilenos na invasão ao centro de comunicações do

MRTA, na localidade de Surco – Lima, em 14 de julo de 1993, são eles Marcela

Ximena, Gonzáles(a) “Márcia” e Alejandro Valdivia López, que entraram no Peru

através do departamento de Puno. A nível mundial, se aproveita da situação

democrática particular, que alguns países da Europa estavam enfrentando, para

desenvolver assim propagandas e assim conseguir diferentes apoios de

organizações e grupos afins, alinhados com o Movimento Comunista Internacional

(MCI), especialmente na Suécia, França, Itália e Alemanha.

18

A Convergência Nacional surge no momento eleitoral, pois desde o começo tem como perspectiva

a criação da consolidação de uma nova aliança política. A aliança com o FSLN. 19

O Movimento (M-19) foi uma organização de guerrilla urbana colombiana, surgida nos anos de

1970. 20

Em janeiro de 1986 junto com o grupo Quintín Lame, o MRTA no Peru, e Alfaro Vive Carajo no

Ecuador, Tupamaros no Uruguay fundaram o Batalhão América. Logo reúne a dirección nacional do

M-19, para estudar os caminhos a seguir. 21

FMLN, é um partido político socialista de El Salvador. 22

A província de Huallaga é uma das dez que formam o Departamento de San Martin.

Page 19: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

19

2.3 PRINCIPAIS AÇÕES TERRORISTAS

As ações mais importantes deste grupo foram os assassinatos de policiais,

militares e civis, atentados com carro bomba, sequestros, queda da torre de alta

voltagem e incurssões com armas de guerra em centros urbanos, inclusive em Lima.

Estas ações foram o principal mecanismo para fazer-se notar o seu

descontentamento com os setores públicos e privados peruanos. Se estima em 1247

(1,8% do total de vítimas de acordo com a Comissão da Verdade e Reconciliação -

CVR)23, são os números de vítimas de suas ações ao longo dos anos. A diferença

entre o MRTA e o movimiento “senderista” é que os militantes do MRTA, vestiam

uniforme para não serem confundidos com a população civil nas zonas do alto

andino, mas nas ciudades se escondiam entre a população civil.

2.4 PRÁTICA DE SEQUESTRO

Quando se priva a liberdade pessoal através da ação de um grupo armado

de maneira generalizada ou sistemática, constitui-se num crime contra a

humanidade. Entre 1984 a 1996, a CVR, obteve evidencias que o MRTA, teria

realizado dezenas de sequestros individuais e coletivos. Estes sequestros eram uma

prática frequente, orientada pela obtenção de beneficios políticos ou económicos.

Os membros do MRTA atuavam com grande precisão no momento da

apreensão de suas vítimas. Em muitos casos, disparavam a sangue frio, contra

quem tentasse impedir o sequestro ou mesmo contra suas vítimas se as mesmas

oferecem resistência, como foi o caso do empresario vidraceiro Pedro Miyasato

Miyasato, ocorrido em 22 de abril de 199324. Também, segundo a CVR, o cativeiro

implicava em tratos cruéis, desumanos e degradantes.

Em 31 de maio de 1989, um grupo de seis do MRTA, numa ação violenta a

um bar, na cidade de Tarapoto, assassinando oito travestis. Poucos días depois, o

semanário Cambio25, órgão oficial do MRTA, reinvidicou a ação e argumentou que

23

Comição da Verdade e Reconciliação, Elaborou um informe sobre a violência armada interna vivida

no Peru, desde 1980 a 2000. 24

Empresario vidraceiro Pedro Miyasato Miyasato sequestrado pelo MRTA. 25

Semanário Cambio (órgão oficioso do MRTA).

Page 20: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

20

era devido esta ação a suposta proteção que as Forças de Ordem, dispensavam a

“estes flagelos sociais, que eram utilizados para corromper a juventude”. O

semanário, também mencionou um assassinato de similares características ao que

aconteceu em fevereiro do mesmo ano, quando o MRTA, executou “um jovem

„homo‟ muito conhecido em Tarapoto”26 (GALVEZ, 1993, P.230).

26

Tarapoto é uma cidade do norte oriente peruano.

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21

3 SENDERO LUMINOSO (PCP-SL)

Figura 2: Bandeira do Sendero Luminoso Fonte:http://es.wikipedia.org/wiki/Sendero_Luminoso #cite_note-PGT2003-27

É uma organização terrorista peruana de tendencia maoística. A meta do

Sendero Luminoso é substituir as institutições burguesas peruanas por um regime

revolucionário camponês comunista, inicialmente através do conceito maoísta da

Nova Democracia. Amplamente condenado por sua brutalidade, inclusive violencia

aplicada contra os camponeneses, dirigentes sindiciais, autoridades eleitas

popularmente e a população civil em geral. Considerada como uma organização

terrorista pelo Governo do Peu, pela União Europeia e Canadá, os quais proíbem

fornecimento de fundos ou qualquer outro apoio financiero. Além disto, o Sendero

Luminoso está na lista de organizações terroristas estrangeiras do Departamento

dos Estados Unidos. Os seguidores do grupo são geralmente chamados de

“senderistas”.

3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

O grupo comunista Sendero Luminoso foi fundado no final da década de 60,

pelo então profesor de filosofía Abimael Guzmán27. Foi uma organização que se

separou do Partido Comunista do Peru – Bandeira Vermelha28, que por sua vez se

separou do original Partido Comunista peruano e que é uma derivação do Partido

Socialista do Peru, fundado por José Carlos Mariátegui29, em 1928. O Sendero

Luminoso primeiro estabeleceu uma base na Universidade Nacional de São 27

Abimael Guzmán (líder da organização subversiva e terrorista de tendências marxista-leninista-

sendero luminoso). 28

Partido Comunista do Peru - Bandeira Vermelha. 29

José Carlos Mariátegui (pensador político marxista peruano).

Page 22: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

22

Cristóvão de Huamanga30, onde Guzmán ensinava filosofía. Entre 1973 a 1975, o

Sendero Luminoso obteve o controle dos conselhos estudantis das universidades do

Centro, em Huancayo e na Cantuta31, desenvolvendo uma presença significativa na

Universidade Nacional de Engenharia e na Universidade Nacional Maior de São

Marcos32. Há indícios de que em 1980, o Sendero Luminoso teve uma série de

encontros clandestinos em Ayacucho. Estes encontros ficaram conhecidos como o

“Segundo Plenário do Comitê Central”. Se formou, então, um “Diretório

Revolucionário”, que tinha a natureza política e militar, onde se ordenaram as

milicias que se movimentavam nas áreas estratégicas das províncias, para iniciarem

a “luta armada”. O grupo também teve sua “Primeira Escola Militar”, onde os

militantes foram instruídos em táticas militares e no uso de armas. Também se levou

a cabo a “crítica e autocrítica”, uma prática maoísta, cuja finalidade era a de evitar a

repetição de erros e eliminar maus hábitos de trabalho. Durante a Primeira Escola

Militar, os membros do Comitê Central cairam sob uma grande crítica. Guzmán se

livrou desta crítica e baseado nisto, emergiu a Primeira Escola Militar, com um líder

visível e inquestionável do Sendero Luminoso.

3.2 GUERRA FRENTE NO ESTADO

Figura 3: Áreas do Peru das quais o Sendero Luminoso teve influência. Fonte:Terrorismo en Perú-Wikipedia, la enciclopédia libre

30

Universidade Nacional de San Cristóvão de Huamanga (situada no departamento peruano de

Ayacucho). 31

Universidades peruanas do Centro em Huancayo e Cantuta. 32

Universidades peruanas Nacional de Engenharia e da Universidade Nacional Maior de San Marcos.

Page 23: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

23

Optaram por iniciar uma luta armada nas provínciais do norte do

departamento de Ayacucho. Em 17 de maio de 1980, na véspera das eleições

presidenciais, o Sendero Luminoso queimou as urnas e as cédulas de votação do

povo ayacuchano de Chuschi. Este foi o primeiro ato terrorista levado a cabo pelo

Sendero Luminoso. Através dos anos da década de 80, o Sendero Luminoso,

cresceu tanto em território que controlava, com um número de militantes formado por

parte da organização, principalmente, da serra central e com algum apoio de parte

dos camponeses. Também foram assassinados os capatazes das granjas coletivas,

controladas pelo Estado, e comerciantes acomodados que eram impopulares, entre

os camponeses pobres das zonas rurais. Estas ações contribuíram para que os

camponenese passassem a apoiar ao Sendero Luminoso, dispertando alguma

simpatia pela sua luta, principalmente nos departamentos de Ayacucho, Apurímac e

Huancavelica. A credibilidade do Sendero Luminoso foi agrava devido à insípida

resposta inicial do Governo peruano contra a insurgência terrorista. Durante um bom

tempo o Governo simplesmente ignorou o Sendero Luminoso, crendo que se tratava

de um movimento relativamente inofensivo e mesmo até benigno (no início, as

autoridades municipais ayacuchanas saudaram as ações reinvindicatórias do

Sendero), simples “lunáticos”. Em abril de 1982, um grupo de senderistas tomou de

assalto o presídio da cidade de Ayacucho, matando alguns policiais do efetivo e

liberando vários senderistas detidos. Este epsódio foi, evidentemente o fato que

confirmou que o Sendero Luminoso representava uma ameaça para o Estado

peruano. O Governo, então declarou estado de emergência em todo o departamento

de Ayacucho, incuntindo restrições aos direitos civis e políticos, ortorgando o

controle das Forças Armadas. Como resposta a agressão sofrida, as Forças

Armadas organizaram uma repressão igual de violência, que acarretou em muitas

vítimas.

Por sua vez, o Sendero Luminoso, continuou sua luta armada, desde zonas

rurais, iniciando uma temporada de aniquilação de autoridades civis, políticas e

qualquer vestígio de autoridade estadual. Quando também foram assassinados

supostos informantes, pessoas que foram acusadas de enviar notícias e apoio

logístico aos militares. Em casos como o do povo ayacuchano de Lucanamarca, com

estas matanças, acabaram aniquilando praticamente a toda a comunidade. O efeito

midiático da luta armada era ainda pequeno em relação ao resto do país. No

Page 24: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

24

entanto, o incidente de Uchuraccay33, fez com que todo o país viesse a tomar

consciência da situação que vivia os departamentos de Ayacucho, Apurimac e

Huancavelia. Nesta localidade, os aldeões assassinaram seis jornalistas que vieram

de Lima, esses aldeões confundiram os jornalistas com senderistas, linchando-os e

enterrando-os em túmulos anônimos. Quando descoberto este fato, formou-se uma

Comissão para investigar, encabeçada pelo escritor Mario Vargas Llosa34. A partir

de 1983 (ano de maior número de vítimas), os ataques do Sendero Luminoso não

iriam limitar-se somente ao campo. Passando a atacar a infraestrutura das cidades

de Huancayo, Huancavelica, Cerro de Pasco, Huánuco, Andahuaylas, Abancay,

Ayacucho e Lima. Começaram os ataques as linhas de alta tensão, causando

apagões, deixando cidades inteiras sem energia elétrica.

As estratégias do Sendero Luminoso incluíam também a utilização de carros

bomba. Diversas cidades do interior do país, ocorreram ataques armados, durante

os quais os senderistas tomavam o controle da cidade e suspendiam todas as

atividades produtivas das mesmas. O Sendero Luminoso, realizou atentados contra

dirigentes sindicais, dirigentes de partidos de esquerda ou autoridades estatais. Em

24 de abril de 1985, nas vésperas das eleições presidenciais desse ano, o Sendero

Luminoso atacou Domingo García Rada35, presidente do Jurí Nacional de Eleições

do Peru. Também foram assassinados sacerdotes católicos e pastores protestantes,

por serem consideradas suas pregações contrárias a doutrina do partido. Na cidade

de Lima, o Sendero iniciou sua introdução, através dos chamados povos jovens36,

como Huaycán (localizado no atual distrito de Ate) e a Vila El Salvador. Neste último

assassinou em 1992, Maria Elena Moyano37(MATIAS, 1988, P.63), uma dirigente

local, que lutava pelas ações sociais, conhecida por seu trabalho social e

antisenderista. No início de 1991, o Sendero Luminoso apresenta muita influência

nas grandes zonas do país, principalmente na zona central, neste momento ainda

não se podia afirmar que exercia total controle sobre a dita zona. Com o início das

operações do Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA), o Sendero,

enfrentam-se entre si e também os grupos de camponeses de autodefesa ou

33

Uchuraccay, comunidade do alto andino em Ayacucho-Peru. 34

Mario Vargas Llosa, escritor y politico peruano. 35

Domingo García Rada, Presidente do Juri Nacional de Eleições do Peru, 1980. 36

Pvlos jovens, nome dado a grandes barros que rodeavam Lima. 37

María Elena Moyano, lutava pela ação social peruana, dirigente local e feminista, assassinada por

terroristas do Sendero Luminoso.

Page 25: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

25

patrulhas camponesas, que se organizaram autonomamente, recebendo ajuda das

Forças Armadas peruanas.

3.3 AÇÕES DO GOVERNO PERUANO

Em 1991, o presidente Alberto Fujimori, promulgou decretos que deram a

patrulha camponesa estatuto legal, os chamados Comitês de Autodefesa38, quando

foram entregues armas e participaram de treinamentos militares. Existiram nesta

época cerca de 7.226 Comitês de Autodefesa, dois quais aproximadamente 4.000

estavam localizados na zona central do país, principalmente na zona de influência

do Sendero Luminoso. Durante o Governo de Fernando Belaúnde Terry, os esforços

estatais foram pouco efetivos. Posteriormente, durante o Governo de Alan García

Pérez, tentou-se aplicar zonas rígidas nas áreas de influência do Sendero Luminoso,

quando foram planejados então os primeiros projetos de inteligência. Mas, foi no

Governo de Alberto Fujimori que se obtiveram melhores resultados, mediante uma

efetiva utilização da inteligência contrasubversiva.

3.3.1 Captura do Abimael Guzman

Em 12 de setembro de 1992, as 08:45 da noite, Abimael Guzmán Reynoso,

principal cabeça do Sendero Luminoso, foi capturado pelo GEIN (Grupo Especial de

Inteligência)39 da polícia, na casa do distrito de Surquillo, na cidade de Lima,

rodeado por quatro mulheres. Uma delas era Elena Iparraguirre, sua segunda

esposa. As outras eram Laura Zambrano Padilla, encarregada de arrecadar os

dólares cobrados do narcotráfego; María Pantoja e Maritza Garrido Lecca. A

captura se deu depois de longos meses de investigação. Policiais disfarçados de

coletores de lixo tiveram a certeza da localização de Guzmán e de suas condições

de saúde (onde foram encontrados vários medicamentos para o tratamento de

Psoríase, enfermidade que sofria Guzmán). Depois dessa captura, foram presas 38

Comitês de autodefensa, organização comum de defensa criado para participar da luta

antiterrorista. 39

GEIN (Grupo Especial de Inteligência da policía peruana reconhecido por sua participação na

captura de Abimael Guzman).

Page 26: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

26

outras figuras principais da organização terrorista. Além deste fato, a organização

terrorista começa a perder ações militares, frente as patrulhas camponesas,

ocasionando a divisão da mesma, fazendo com que ficasse sob a direção de vários

comandantes, muitos dos quais estavam enfrentando-se entre eles mesmos. O

papel principal de Guzmán foi assumido por Óscar Ramírez Durand40, pseudônimo

Feliciano, que foi capturado num anexo a cidade de Huancayo, em 1999.

Apesar de virtualmente a organização terrorista ter desaparecido, uma

pequena facção do Sendero Luminoso, autodenominada “Prosseguir”, continua

esporadicamente ativa, na região dos rios Ene e Apurimac, chamado VRAE, na zona

andina oriental. De acordo com o Governo peruano, a facção possui cerca de 200

militantes de outras unidades regionais do Sendero Luminoso, que foram

desativadas. O “Prosseguir” atua em aliança com os narcotraficantes, sendo

responsabilizado por ter iniciado a atividade guerrilheira, em 2003. Em 9 de junho de

2003, um grupo senderista, atacou um campo militar, em Tocate, província do Mar

Ayacucho, tomando como reféns sessenta e oito trabalhadores da empresa

argentina Techint e três policiais. Esta empresa trabalhava no projeto Camisea,

gaseoduto que levaria gás natural desde departamento de Cusco a Lima41. Depois

desta ação as forças do Governo tiveram êxito e conseguiram capturar alguns

membros dessa facção. Em novembro, desse mesmo ano, Jaime Zuñiga,

pseudônimo Cirilo ou Dalton, foi detido depois de uma luta, onde quatro senderistas

morreram e um oficial militar foi ferido, Cirilo fez parte também do planejamento do

seqüestro dos trabalhadores de Techint; liderou uma emboscada contra um

helicóptero do exército, em 1991, onde morreram cindo soldados. Em 2003, as

Forças Armadas encontraram e desativaram vários campos de treinamento

senderistas, capturando vários membros dessa organização, quando liberou cerca

de cem indígenas que estavam sendo mantidos em escravidão (JARRIN,2001,P.65).

Em janeiro de 2004, um homem conhecido como o “camarada Artemio”42 é

identificado como um dos últimos líderes do Sendero Luminoso, isto dito em uma

entrevista televisiva em declaração, ele avisa: o grupo reiniciaria suas operações

violentas, a menos que o Governo peruano anistiase outros líderes senderistas,

40

Oscar Ramirez Durant, pseudônimo camarada Feliciano, foi um dos lideres do Sendero Luminoso. 41

Projeto Camisea, gasoducto de gás natural desde o departamento de Cusco a Lima. 42

Camarada Artemio, ou Florindo Flores Hala, líder do Sendero Luminoso.

Page 27: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

27

dentre os próximos sessenta dias. O Ministro do Interior Fernando Rospigliosi43,

disse que o Governo responderia “firme e drasticamente” a qualquer ação violenta.

Em setembro desse mesmo ano em uma operação policial, em cinco cidades do

país foram encontrados dezessete suspeitos. De acordo com o Ministro do Interior,

oito dos presos eram professores escolares e outros dois eram administradores

escolares de alto nível.

Em 22 de dezembro de 2005, o Sendero Luminoso, emboscou uma patrulha

policial no departamento de Huanuco, assassinando oito oficiais. Mais tarde, nesse

mesmo dia, o presidente Alejandro Toledo44, declarou esse departamento em estado

de emergênia. Em outubro de 2006, Abimael Guzmán e sua companheira Elena

Iparraguirre foram condenados a prisão perpétua, pela “Sala Penal Nacional de

Terrorismo do Peru” (JARRIN,2001,P.76).

3.3.2 Captura de Artemio

Em fevereiro de 2012, durante um confronto, cai ferido o camarada Artemio,

cabeça dos grupos remanecentes do Sendero Luminoso. Em 12 de fevereiro de

2012, o presidente Ollanta Humala45 confirmou a captura de Artemio, capturado vivo

porém gravemente ferido46. Este ataque foi fruto do paciente trabalho de inteligência,

com um golpe certeiro contra os grupos senderistas remanecentes, já que Artemio

não tem quem o suceda ao comando. Atualmente como organismo de fachada do

Sendero Luminoso foi criado o Movimento pela Anistia e Direitos Fundamentais

(Movadef)47. Esta organização tratou de se registrar como partido político legal, de

acordo com a legislação peruana, porém, seu registro foi negado pelo Júri Nacional

de Eleições.

O Movimento pela Anístia e Direitos Fundamentais (Movadef) reinvindica a

ideologia do Sendero Luminoso, faixada do terrorismo, afirmou a Defensoria do

43

Fernando Rospigliosi, Ministro do Interior (2004). 44

Alejandro Toledo presidente peruano (2001-2006). 45

Presidente Ollanta Humala, presidente do Peru. 46

Presidente Ollanta Humala confirma a captura de Artemio. 47

Movimiento pela Anístia e Dereitos Fundamentais (Movadef) Organismo de fachada do Sendero

Luminoso.

Page 28: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

28

Povo48, que pediu aos peruanos não esquecer o dano que a subversão causou ao

país.

Figura 4:Mapa actual de la presencia de Sendero Luminoso Fonte: Imágenes-La historia de sendero luminoso bajo el ojo critico de la contrainsurgenciahttp://www.izquierdanacional.org/soclat/articulos/ cuando_el_error_teorico_politico_conduce_al_desacierto_estrategico/

48

A Defensoria do Povo é um órgão constitucional autônomo criado pela Constitução de 1993. Sua

missão é proteger os direitos constitucionais e fundamentais da pessoa e da comunidade.

Page 29: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

29

4 POLITICA ANTITERRORISTA

Até 1990, a situação do Peru era de um país que apresentava uma

economía em falencia, com um Estado que não tinha como responder aos principais

problemas do país. Em 10 de junho de 1990, se elege como presidente Alberto

Fujimori, que reduziu o tamaño do Estado, abriu a economía ao mercado

internacional, privatizou uma série de empresas estatais, que davam prejuízo ao

país. Em 5 de abril de 1992, Fujimori, encabeça um golpe cívico-militar, através do

qual dividiu o Congresso e inteviu no Poder Judiciário. Depois disso, convocou uma

assembleia constitutuinte e promulgou a Constituição de 1993. Simultaneamente,

iniciou a recuperação económica, mediante uma drástica política de choque

económico. Também estabeleceu uma política antisubversiva de pacificação,

concebida, implementada executada pelo mesmo, que estabelece as diretrizes do

seu plano de Governo no que refere ao novo papel das Forças Armadas, da Polícia

Nacional e também qual seria o objetivos da Polícia antisubversiva a curto prazo,

recuperando assim a confiança da população urbana marginal; combater a fundo o

Sendero Luminoso, o MRTA; isto sustentando-se em quatro pilares fundamentais:

- Uma estratégia integral;

- Potenciação e integração da Comunidade de Inteligência sob sua direção

objetiva, o Serviço de Inteligência Nacional (SIN);

- Marco legal adequado para afrontar eficazmente a ação do SL e do

MRTA; e

- Organização voluntária da população para sua própria autodefesa.

(JARRIN,2001,P.84).

Em reconhecimento ao seu trabalho, Fujimori foi releito em 1995 e inicia

então varias importantes melhorias macroeconômicas e sociais. Durante as eleições

de 2000, Fujimori novamente é reeleito e nesse mesmo ano renunciou a

presidencia, estando no Japão, durante uma visita oficial, devido ao escândalo dos

“vladivideos”, que demonstraram a rede de corrupção, encabeçada por Montesinos.

O Congresso, elegeu como presidente interino o então congresista Valentín

Paniagua49, que foi quem levou adiante as eleições de 2001.

49

Com a renúncia e posterior destitução de Albeto Fujimori, foi nomeado Presidente Interino do Peru

desde Novembr de 2000 até 28 de Julho de 2001 com o fim principal de levar a cabo as eleições presidenciais que ganhou Alejandro Toledo Manrique.

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30

4.1 O CONFISCO DA RESIDÊNCIA DO EMBAIXADOR DO JAPÃO EM LIMA

O Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA), formado em 1983, a

partir do que sobrou do Movimento de Esquerda Revolucionária, tinha como objetivo

a criação de um Regime Marxista, que viria a libertar o Peru dos elementos

imperialistas.

A fim de entender o que projetou os membros do MRTA, através de atos tão

desesperados de reconhecimento, devemos olhar para trás e compreender o início

desta organização e seus comandantes da violencia nas últimas três décadas no

Peru.

No principio de 1982, varios partidos de esquerda deram origem ao

Movimento Revolucionário Túpac Amaru, trazendo uma série de negoiações

conhecidas como: “A Convergência” (MOCORMIK, 1993, P.6). Em 31 de maio,

ocorreu o primeiro ataque ao Banco de Crédito de Lima. No ano seguinte, o

movimento adota oficialmente o nome de Movimento Revolucionário Túpac Amaru,

seguindo desenvolvendo-se e organizando-se até o início de 1984. Um esquadrão

do MRTA, ataca a Embaixada dos EUA, em Lima. Em 1984, ainda, o primeiro

manifesto público do MRTA, reivindica as ações militares em todo o país. Nesta

publicação foi pedido a todas as organizações de esquerda, elementos progresistas

dentro da igreja e ao Sendero Luminoso (SL) unir-se pela luta armada comum em

todo o país. Em janeiro, o primeiro Comitê Central do MRTA foi designado com a

indicação de Jorge Talledo Feria50. Em 22 de janeiro, o MRTA, realiza um ataque

contra a estação de policía de Vila El Salvador51, marcando este como o primeiro

objetivo político explícito da organização. Em fevereiro, o MRTA sequestra pessoas

que trabalhavam no noticiario do rádio, emisora Imperial, obrigando-os a difundirem

através de mensagens subversivas, que declaravam seu propósito, suas intenções

de destruir o atual regime. Esta ação se repete varios días na estação de Rádio

Independência. Em 8 de outubro, o MRTA queimou uma igreja evangélica, dirigida

por missionários norte americanos, na cidade de Ayacucho. Em fevereiro de 1985,

foi formado o segundo Comitê Central do MRTA, com o nome de Carlos Sánches

50

Jorge Talledo Feria, membro do Comitê Central do MRTA, morto durante um assalto a um banco de

Lima. 51

Villa El Salvador, Distrito da cidade de Lima.

Page 31: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

31

Neyra52. Em abril, o primeiro folheto do MRTA foi publicado e editado sob o título de

“Vencedores”. Em 20 de março, no local de Kentucky Fried Chicken, em Lima foi

atacado com bombas incendiárias. Vários outros restaurantes de comida rápida

também foram atacados e queimados nas localidades de San Isidro, Surco e

Miraflores. Em maio, a liderança do MRTA, esboça um documento onde pretende

explicar a sua existencia, as expectativas políticas. Em 30 de março, atacam dois

arsenais, levando com eles grande quantidade de armas e munições. Em 16 de

junho, o MRTA intercepta o Canal 5 e transmite sua primeira mensagem de rádio

clandestino. Em 12 de julho, o MRTA ataca sete estações simultáneamente. Em 25

de julho, lançam uma bomba incendiária no veículo do Ministro do Interior, enquanto

estava no estacionamento. Em 4 de novembro, um grupo do MRTA tomou o Diário

La Nación e fez propaganda da organização. Em dezembro, o MRTA enviou varias

equipes militares para treinar com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia

(FARC)53.

Em janeiro de 1986, o MRTA tomou mais de cinco emisoras de rádio,

obrigando-os a difundir sua propaganda. De 9 a 14 de fevereiro organizou- se o

terceiro Comitê Central. Em 8 de agosto os membros do MRTA atacaram o

Governo. Durante este ano, em junho, realiza-se a rebelião dos Carceres54,

deixando 244 presos mortos por membros das Forças Armadas. Em 21 de abril, o

MRTA detonou um veículo que transportava 60kg de dinamite da residencia do

embaxador dos EUA, um civil foi assassinado e outras oito pessoas ficaram feridas.

Também em abril, terroristas do MRTA colocaram bombas nos escritorios do

Citibank, no centro de Lima e no distrito de San Borja; no armazém das lojas Sears

no distrito de San Luis; no armazém da IBM, no distrito de Breña; no centro

Binacional, em Lima, na cidade de Chiclayo; nas instalações de engarrafamento da

Coca-Cola, na cidade de Trujillo.

Foram colocadas bombas em outros lugares durante o mês de abril, no

armazém da Chancelaria; no escritorio da Dinner‟s Club, no distrito de San Isidro; no

Instituto Lingüístico de Verano, em Lima; no escritorio do Citibank, no distrito de

52

Carlos Sánchez Neyra membro do Comite Central do MRTA falecido. 53

As FARC, é a mais antiga e a maior insurgência marxista da Colômbia. 54

Membros encarcelados do Sendero Luminoso protagonizaram levantamentos coordenados em três

cárceres de Lima: Callao: Penal de Lurigancho, Lima, O Frontón prisão, Lima, e a prisão de Mulheres de Santa Bárbara, Callao, Peru. O governo reaccionou com violência, se declara uma zona de guerra dos cárceres ese chama as Forças Armadas para sufocar os distúrbios.

Page 32: Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE-2010)

32

Miraflores; e nas instalações da Kodak, no distrito de San Luis. Em dezembro, o

MRTA, uniu-se ao Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), no primeiro

Comitê Central.

Em 1987, o MRTA expande suas operações para diferentes regiões do país.

Cria a frente Noreste na selva peruana. Em outubro, Lucero Cumpa55, membro do

Comitê Central, é preso. Em 6 de novembro, um esquadrão do MRTA toma a cidade

de Juanjui durante cinco horas. Em 10 de agosto, os generais Hector Jerí e Enrique

Ferreyros, da polícia, são sequestrados. Nesse mesmo dia, um carro bomba explode

os escritorios do Centromin, em Lima. Em setembro, os membros do MRTA

atacaram os escritorios da Sociedade de Mineração do Peru. Durante ese mesmo

ano, o MRTA atacou a residencia do Embaixador dos EUA. Em 13 de março de

1989, um esqueadrão do MRTA toma a cidade de Pichanaki, no Distrito de

Cahanchamayo. Em 1 de maio, um esquadrão do MRTA ataca uma estação de

policía na localidade de Tablada de Lurín. Em 5 de outubro, o diretor de televisão

Hector Delgado Parker é sequestrado. Durante este ano, Victor Polay Campos,

fundador do MRTA e atual líder, é capturado pela primeira vez e colocado na prisão

de Canto Grande, em Lima.

Em 9 de julo de 1990, Victor Polay Campos, com 47 membros do MRTA,

escapa da penitenciária Canto Grande, através de um túnel subterráneo de 332

metros de comprimento. Depois de sua fuga, realizaram um ataque com morteiros

ao Comando Conjunto das Forças Armadas. Durante ese ano os membros do MRTA

assassinaram o general do Exército peruano Enrique López Albújar; lançaram

bombas contra a Embaixada dos EUA; roubaram armazéns de armas; atacaram ao

Kentucky Fried Chicken, em Lima; no Centro Binacional em Trujillo atacaram o

Consulado e a residencia do Embaixador dos EUA. Nessas circunstancias, Alberto

Fujimori, um profesor universitário, asume a presidencia pela primeira vez no Peru.

Em 14 de janeiro de 1991, o MRTA, ataca o Ministério do Interior, com um

carro bomba. Em 5 de fevereiro, um carro bomba explode a Embaixada dos EUA.

Em 11 de março, uma equipe do MRTA, liberta Lucero Cumpa (pseudônimo

comandante “Liliana”), o motorista é morto durante o resgate. Em maio, o MRTA

sequestrou o novo membro do PNP, na cidade de Rioja.

55

Lucero Cumpa integrante do MRTA e membro do Comitê Central.

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33

Em agosto, a Lei nº 25.237, que estabelece o Conselho de Paz é aprobada

com a iniciativa de Carlos Torres e Torres Lara, chefe de gabinete. Este Conselho

de Paz estableu-se com a finalidade de envolver diversos setores da sociedade civil

na elaboração de um plano nacional de paz (ARNSON, 1999, p. 212).

Em novembro de 1991, foi aprovado o fortalecimento de uma resposta

exclusivamente militar ao problema da violencia no Peru. O MRTA continua

colocando carros bombas durante todo o ano nos Centros Binacionais das ciudades

de Huancayo e Cuzco, Kentucky-Pizza Hut, em Lima; Centro Binacional de Trujillo; a

Iglesia Mormona, em Huaraz; Kentucky Fried Chicken, em San Isidro; na empresa

de segurança Wackenhut, onde morreu um guarda e dois foram feridos. Também

um lança foguete (RPG) foi lançado contra a Chancelaria peruana. Em 1992, quatro

soldados do Exército peruano foram assassinados durante o fechamento temporário

do tráfego, em Túpac Avenida Amaru. Em 5 de abril deste ano, Fujimori, realiza seu

famoso auto golpe, impossando a si mesmo, dando-lhe poderes ilimitados, fecha o

Congresso, assume o controle dos Poderes Judiciais, põe fim aos Governos

regionais, concentrando todo o Poder no Governo de sua pessoa, começa a

governar (ARNSON, 1999, p. 213). Coloca sua total confiança nas Forças Armadas

e conjuntamente com o estabelecimento de sua política antiterrorista, aprovada

através do golpe de estado, acelerando assim a derrota das organizações

terroristas. Em 24 de julho, o MRTA, atacou com morteiro o Quartel General do

Exército e no dia 9 de agosto atacaram outro comboio militar, em Miraflores. Em 11

de setembro sequestraram o empresario David Ballón Vera. Em 12 de setembro,

Abimael Guzmán foi capturado pelo general Antonio Ketín Vidal, chefe da Diretoria

Contra Terrorismo (DINCOTE – Direção Nacional contra o Terrorismo). Em 10 de

outubro, o MRTA atacou a residencia do Embaixador dos EUA. Em 17 de novembro

a chancelaria dos EUA. Em 15 de dezembro, sequestraram e assassinaram o

empresario Fernando Manrique Acevedo. Em 16 de janeiro de 1993, o MRTA lançou

granadas de RPG contra a Binacional Central de Miraflores. Em 22 de janeiro,

disparam com armas de pequeño calibre num avião da Companhia Estadual

American Airlines, durante a aterrizagem. Em 11 de fevereiro, o MRTA sequestra o

empresário Antonio Furukawa Obara. Em 22 de abril, sequestraram o empresario

Pedro Miyasato Muyasato. Em 7 de junho, sequestraram o empresario Luis Salcedo

Marsano. Em 9 de julho, sequestraram o empresario Raúl Hiraoka Torres. Em 23 de

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34

setembro sequestraram o empresario Enrique Uribe Tasayco. Neste mesmo ano,

Víctor Polay Campos e alguns tenentes mais importantes são capturados num

restaurante chinês, em Lima.

Enquanto, Néstor Cerpa Cartolini torna-se o novo homem número um, na

hierarquia do MRTA. Em 1994, os membros do MRTA lançam uma bomba

incendiária nas lojas Wong, Saga e Hiraoka e supermercados, em Lima. Em 21 de

abril, o MRTA emboscou um caminhão do exército, matando três soldados e quinze

civis. Em 28 de abril o MRTA rodea e bloqueia as ciudades de Chanchamayo e

Oxapampa. No dia seguinte interceptaram e queimaram quatro caminhões na

estrada de Satipo. Em 1º de julho, realizaram uma incursão na localidade de Alto

Cuyani e assassinaram o vice-prefeito. Em 12 de julho, o MRTA emboscou um

caminhão do exército matando a dois soldados. Em 26 de julho, o MRTA toma o

controle da cidade de Chanchamayo, por três días. Em 22 de outubro, sequestraram

o prefeito Pedro Vargas da cidade de Pichanaki. O presidente Fujimori, promete

“esmagar” o MRTA, até o final do ano. Embora não obtivesse éxito, a atividade do

MRTA se reduziu drásticamente. A “Lei de Arrependimento”, através da qual, até

5000 guerrilheiros entragaram suas armas, foi revogada. Em 25 de janeiro de 1995,

membros do MRTA emboscaram uma patrulha do PNP em Chanchamayo. Alberto

Fujimori é reeleito. Em 12 de maio, o MRTA distribui copias da primeira edição de

seu folheto “A Voz Rebelde”, na universidade de La Cantuta e San Marcos. Em 12

de junho, o MRTA emboscou uma patrulha militar nos distritos de Pichanaki e

Chanchamayo. Em 9 de julho, um caminhão levando dinamite, explode no centro da

cidade de Chimbote. Em dezembro, um grupo de quarenta terroristas do MRTA são

detidos, os quais estavam preparados para tomar o Congresso da República. A PNP

encontra planos, mapas e desenhos que detalhavam a incurssão, prevista pelo

MRTA. Entre os detidos estava Miguel Rincón Rincón, um dos poucos líderes livre e

o homem número dois, na hierarquia do MRTA; a norte americana Lori Berenson56 e

Nancy Gibonio, esposa de Néstor Cerpa Cartolini. Néstor Cerpa conseguiu escapar

e posteriormente, tomou a decisão de invadir a residencia do Embaixador do Japão,

em 1997.

56

Lori Berenson,cumpre uma condenação de 20 anos, despois de um veredito militar de 1996,

culpada de ajudar a planejar um ataque contra o edificio do Congreso do Peru, sendo posta em liberdade condicional a los 15 anos de prisão. Ela recentemente se casou con um cidadão peruano que ajudou ao MRTA, durante o mesmo plano de ataque congresso. Ambos se enamoraram, embora cumple prisão, em Yanamayo-Peru.

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35

Em 1996, as autoridades peruanas afirmaram que o MRTA é uma “força

desgastada”. A liderança do grupo, foi encarregada a Néstor Cerpa que estava fora

da prisão. Sua esposa e seu irmão se encontravam entre os quatrocentos ou mais

membros do MRTA que foram detidos e os fundos de atividades criminosas estavam

acabando. Em 20 de janeiro, o MRTA realiza uma manifestação na cidade de

Tarma. Nesse mesmo dia, atacaram a base militar de Oxapampa, em Pasco.

Durante o mesmo mês, Lori Berenson é condenada a prisão pérputua pelo chamado

“juiz sem rosto”, acusada por traição a patria, por ter atuado dando apoio ao MRTA.

Em fevereiro, Cartolini envia uma fita de vídeo ao diario “A República”, anunciando

que o MRTA continuará com os atos de violencia e com seus planos para liberar

seus camaradas aprisionados. Em 20 de março, o MRTA ataca as bases do Exército

de Pachacútec e Oxapampa. Em 3 de abril, realizam uma incrusão na cidade de

Collique, no setor de Jaén. Em 28 de abril, os membros do MRTA se enfrentam com

a PNP, na localidade de San José de Sisa, no departamento de San Martín. Em 16

de junho, o MRTA realiza ataques a base de San Juan de Cacazú em Oxapampa.

Em 9 de julho, emboscou uma patrulha do Exército de Pichanaki, em Chanchamayo,

Junín, Em 10 de julho, esquadrões do MRTA realizam incursões na zona de

aterrizagem de um campo petrolífero de Satipo. Em 1° de setembro, atacaram a

Base de Pichinaki. Também neste dia, o MRTA difunde propaganda na cidade de

Arequipa. No dia seguinte, emboscaram uma patrulha do Exército na cidade de

Junín. Em 18 de setembro, assaltaram a cidade de Oxapampa. Em 16 de outubro,

difundiram propagandas no setor de La Loma, em Maynas, Loreto.

No principio de outubro, Néstor Cerpa e vários terroristas do MRTA alugam e

ocupam uma casa próxima da residencia do embaixador japonés. A casa estava

localizada na rua Marconi, 225, justo atrás da residencia. Os membros do MRTA

desenvolveram um plano perfeito para realizarem um assalto ousado a residência

japonesa. O novo comandante do MRTA planejou a operação denominada “Edgar

Sánchez”, composta por 14 membros: Néstor Cerpa Cartolini “Comandante Huerta”,

líder do grupo, Rolly Rojas (O Arabe), Eduardo Cruz Sánchez (Tito), Salvador, Luz

Meléndez Cueva Berta (Melisa), Giovanna Vilas Plascencia (Gringa), Rolandro o

Dante Córdoba (O Cuzqueño), Lucas (Gato Seco), Alex, (O Mejicano), Marcos, Leo

(22), Cone (Palestino), Levi e Víctor Huáscar. Em segredo acumularam explosivos e

esconderam armas automáticas, granadas RPGs impulsionadas por foguetes,

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36

disfaçaram um veículo para parecer uma ambulancia, a qual utilizariam durante a

entrada inicial.

Enquanto isso os membros do Serviço de Inteligência (SIN) estudavam

várias pistas sobre um possível ataque do MRTA. Sabiam que o MRTA estava

planejando uma grande operação, porém não podiam determinar a localização. Sem

nenhum tipo de indicação adcional para um ataque iminente, a segurança enviada

para a residência do embaixador japonês não foi suficiente.

4.2 O INÍCIO DA INVASÃO

Em 17 de dezembro de 1996, membros do Movimento Revolucionário Túpac

Amaru (MRTA), assaltaram a residencia do Embaixador do Japão (Morihisa Aoki),

em Lima, Peru, tomando como reféns mais de 700 de seus hospédes. Em 22 de

abril de 1977, uma operação de resgate foi realizada pelas Forças Antiterroristas

peruanas, matando os quatorze terroristas do MRTA, inclusive o líder do grupo,

Néstor Cerpa, resgatando com éxito a 71 dos 72 reféns.

A Operação colocou fim a uma dominação de 126 dias e segue sendo uma

das mais bem sucedidas operações de resgate do mundo.

O Embaixador do Japão no Peru, Morihisa Aoki e sua esposa organizavam

uma festa em sua resdiência para comemorar o aniversário de 63 anos do

embaixador japonês, com um número de convidados previstos aproximadamente de

mil personalidades ilustres do Peru e funcionarios do Governo. As 19:00h do dia 17

de dezembro de 1996, o embaixador do Japão começou a receber os convidados e

as 20:00h haviam mais de setecentas pessoas dentro da residência.

Enquanto isso, os quatorzes membros do MRTA escondidos na ambulância

entraram no perímetro da segurança em torno da residencia, afirmando que estavam

repondendo a uma chamada de emergência. A parte de tras da ambulância estava

cheia de explosivos, armas e munições que seriam utilizadas inicialmente e durante

o assalto.

O Membros do MRTA estacionaram a ambulância na Casa de Serviço

Alemã de Cooperação Social Técnica. Nesta casa, dois membros do MRTA falavam

com um guarda e afirmavam que estavam respondendo a uma chamada de alguém

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37

de dentro da casa. O guarda disse ao MRTA que não havia emergência e que

ninguém havia chamado uma ambulância. O membro do MRTA aceita e pede ao

guarda que assine uns papéis para confirmar que ninguém havia chamado uma

ambulância e que estavam presentes no lugar respondendo ao suposto chamado

como procedimento padrão. Enquanto o guarda assinava os documentos falsos, os

membros do MRTA o submetem e ocupam a casa passando para a próxima fase

prevista.

A segurança da residencia nas áreas ao redor era normal para um evento

desse tipo no Peru: policiais de trânsito da PNP se encontravam nas esquinas e

interseções da residencia, com a tarefa de verificar a identificação correspondente

do pessoal com uma lista de convidados. Motocicletas da PNP estavam

constantemente rondando o perímetro e um veículo especial da Unidade da

Desarticulação de Explosivos (UDEX) se encontrava estacionada perto da praia e do

estacionamento da residência. Fora da residência havia mais de cinquenta

seguranças privados. Oito seguranças membros da residência do Embaixador do

Japão (peruanos e japoneses) se encontravam na entrada principal verificando o

ingresso das pessoas através de um detector de metais. Aproximadamente as

19:45h, o embaixador do EUA no Peru, Dennis Jett e 0 Embaixador de Israel, Joel

Salpak, saem da residencia.

As 20:23h, uma forte explosão foi escutada na casa, todas as pesoas dentro

da residência pensaram se tratar de carro bomba e correm para se esconder dentro

da residência. Numa medida contraproducente, o pessoal da segurança

imediatamente bloquiou todos os acessos à residência, colocando um cordão de

segurança.

No interior os terroristas do MRTA fizeram um buraco de 5 x 4 polegadas, na

parte posterior da parede próxima que dividia a residência com a casa que o MRTA

ocupou. Os terroristas do MRTA imediatamente entraram na residência, disparando

suas armas para alto, gritando ordens e slongans do MRTA. As pessoas confundem

os terroristas com os policiais que vieram para os ajudarem. Esta ilusão rápidamente

se desfez quando se dão conta dos lenços brancos e vermelhos cobrindo os rostos

dos terroristas do MRTA e seus uniformes.

O pessoal da segurança e demais pessoas se dão conta de que o lugar mais

seguro para eles estava fora da residência. Pelas 20:30h, os membros da

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38

Subunidade de Ações Táticas (SUAT), UDEX e unidades antidistúrbios foram

mobilizados e imediatamente são envolvidos num furioso tiroteio com os terroristas.

Todos os convidados mantiveram-se deitados de bruço no chão da residência,

tentando se proteger de uma chuva de balas.

Aproximadamente as 21:00h, o PNP ordenou que fosse lançado gás

lacrimôgeno na residência, esperando que os terroristas do MRTA saíssem. O

MRTA coloca imediatamente suas máscaras de gás e trata de controlar o caos que

se estalou no interior da residência com os reféns em pánico. Mais de seiscentos

reféns cobrem seus rostos com o que podem encontrar. O embaixador do Japão,

Morihisa Aoki, pegou um megafone e pediu a polícia que parasse com os disparos

ao interior da residência.

Depois, Michel Minning, representante da Cruz Roja Internacional, pega o

megafone do embaixador e pede a polícia para deter os lançamentos desvairados

de gás lacrimogênio e balas, que colocam em risco a todos dentro da residência.

O general da PNP Ketín Vidal e o Ministro do Interior General Juan Briones

Dávila aparecem no perímetro de segurança para tomarem o controle da situação e

as 21:30h, os disparos terminaram; quatorze membros do MRTA tem o controle total

da residência. Somente um dos terroristas Edgard Cruz Sánchez (Tito), foi ferido por

uma bala na perna direita disparado de sua própria arma Kalashnikov (AKM).

As 21:35h, a primeira comunicação telefônica foi estabelecida com o líder

terrorista conhecido como “Comandante Huertas” (Néstor Cerpa Cartolín), que emite

uma série de demandas dirigidas ao Governo do Peru, inclusive a liberação de mais

de 450 membros do MRTA presos em todo o país. Por sua própria vontade, Michael

Minning, imediatamente, começava a negociar com Néstor Cerpa para a liberação

de todas as mulheres e pessoas de idade avançada.

Aproximadamente as 21:45h, o primeiro dos dois grupos de reféns foram

liberados. Sem o conhecimento dos terroristas, a mãe e a irmã do presidente Alberto

Fujimori sairam com estes dois grupos. Isto marcou o primeiro erro importante do

MRTA. O irmão do presidente Fujimori, Pedro Fujimori, foi ao interior e se manteve

como refém até o final da crise. O proceso de liberação dos reféns das pessoas de

idade avançada continuou até a meia noite. Depois que as mulheres e anciões

foram postos em liberdade, os terroristas do MRTA decidiram liberar a todos os vinte

camareiros ajudantes e o pessoal da festa. Os terroristas começam a identificar

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39

todos os reféns e os colocaram numa determinada habitação ao redor da residência

para facilitar seu controle.

Os reféns estavam separados por função de seus trabalhos e funções: cento

e cinquenta reféns foram postos no primeiro piso da residência, os restantes

duzentois e trinta e um no segundo piso. Os reféns mais importantes ficaram no

segundo: congresistas, líderes militares, representantes estatais, embaixadores,

ministros e empreários japoneses. Uma única operadora de câmara da América

Televisão, está dentro dos terrenos da residência e Néstor Cerpa, permite que

permaneça ali durante as seguintes 23:00h e filme o drama.

Na madrugada de 18 de dezembro, a segunda conversação entre os

terroristas e o pessoal da PNP se estabelece, Néstor Cerpa anuncia que os reféns

são considerados “prisioneiros de guerra”. Nesse momento, o Comando Operativo

da Frente Interno (Quartel General), se estabelece e começa o planejamento e

preparação para um plano de ação de emergência militar para resgatar os reféns.

As 01:47h, o prefeito de Miraflores Fernando Andrade Carmona escapou

através de uma pequena janela em um dos banheiros dentro da residência, onde se

escondeu. O solitário operador de câmera capta toda a cena na televisão ao vivo.

Umas horas mais tarde, vinte e um membros da Cruz Roja Internacional, chegam ao

local e começam a trabalhar fornecendo ajuda da melhor maneira possível.

As 02:20h, os membros da SUAT, ocupam casas ao redor e posicionam

franco atiradores nos telhados. Mais tarde, nessa manhã as 11:30h, Cerpa anuncia

com um megafone sua primeira ameaça oficial: iriei executar o primeiro refén ao

meio dia se não se cumprirem minhas exigências.

As 11:45h, repetiu a ameaça, desta vez pede ao presidente Fujimori que

responda sua exigência, inclusive sua primeira vítima seria o Ministro das Relações

Exteriores Francisco Tudela (de maior classificação entre os reféns dentro da

residência).

Ao meio dia, Cerpa extende o tempo de execução para as 13:00h. Nunca

realizou sua ameaça e o presidente Fujimori nunca respondeu a suas exigências.

Mais tarde, Nesta noite, os terroristas do MRTA recolhem todos os celulares e

“beepers” de todos os reféns, colocando-os num saco de lixo.

Michel Minning segue negociando a libertação de outros reféns que

necessitavam de atenção médica, as 18:30h Juan Gunther (presidente da Lima

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40

Patrimonial), José de Cossío Ruiz de Somocurcio (Embaixador peruano aposentado)

e o Sr. Kotaro Kanashiro são liberados. Este último tinha desmaiado durante as

explosões iniciais e permanecia inconsciente detrás de umas árvores no terreno da

residência durante todo o dia. Quando voltou a si, não sabia o que tinha acontecido

e o operador de câmara ajudou ao Sr. Kotaro e lhe explicou o que havia ocorrido

enquanto estava inconciente.

Os terroristas do MRTA decidem designar vários outros embaixadores como

portadores e negociadores principais: Anthony Vincent (Canadá), Heribert Woeckel

(Alemanha), Alcibíades Carokis (Grécia), o francês Hyancinthe D‟Montera e o

ajudante peruano Armando Lecaros. Uma vez liberados, leem uma declaração dada

a eles pelos terroristas e começaram imediatamente uma comissão para establecer

negociações com os membros do MRTA.

Anthony Vicent tornou-se fundamental com sua informação inicial sobre os

terroristas, graças a sua experiencia como chefe do grupo de trabalho de luta contra

o terrorismo junto ao Ministério da Relações Exteriores do Canadá.

O presidente Fujimori, já tinha designado ao Ministro da Educação Domingo

Palermo, como principal porta voz em seu nome, dissolve rápidamente esta

comissão ad-hoc atribuída pelo MRTA.

Nessa noite, a PNP e SIN ordenaram o corte de todas linhas telefônicas da

residência, assim como o sinal do telefone celular num raio de quatrocentros metros

para restringir as comunicações dentro e fora da residência.

Em 19 de dezembro de 1996, o Presidente Fujimori se reuniu com o

conselheiro japonês Yukihiko Ikedo e as 18:05h, três empresários são libertados,

Juan Yamashiro Shimabukuro, Fidel Aray e Noka Seitoko Sueyoshu. Além do

presidente da Nissan Motors, Carlos Chiappori Cambana, que foi liberto por

questões de saúde.

Os reféns começaram a colocar letreiros de papelão ao redor das janelas da

residência, solicitando alimentação e agua. O representante das Nações Unidas Luis

Thays envía quinhentas rações para a residência. As rações foram divididas em dois

grupos de dietas: um específicamente para os reféns japoneses e outro para os

reféns com dieta normal peruana. Enquanto isto, na Embaixada dos EUA, os

membros de uma equipe de reação a crise do Departamento dos Estados Unidos

estabeleceram um centro de reação a crise, supervisinada pelo estado de crise,

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específicamente para os setes reféns dos EUA57, que se mantiveram no interior. O

elemento da reação crise cresce cerca de cinquenta pessoas durantes as semanas

seguintes.

Aproximadamente as 19:30h, Cerpa se dirige aos reféns com o nome de

“Comandante Hermigidio Huerta”, em honra seu amigo MRTA que tinha sido morto

no incidente a empresa Têxtil Cromotex58. Em sue discurso, Cerpa explicou as

origens de sua organização, sua ideología, as diferenças do Sendero Luminoso,

conflitos anteriores com Abimael Guzmán Reynoso59, as histórias de guerra dos

encontros com as forças da PNP e Forças Armadas nas selvas peruanas.

Mencionou que seu traje era designado Pelotão de Forças Especiais Edgar

Sánchez, que está operação teve como nome chave de “Operação Torre Condesú”,

sob o tema “Rompendo o silêncio, o povo os querem libres” (LÓPEZ, 1998, p. 51).

Durante as primeiras horas da manhã de 20 de dezembro de 1996, varios

reféns penduram cartazes na janela do segundo piso do banheiro que deziam: “não

temos comida, água e pedem que voltem a concectr os telefones” (LÓPEZ, p.55).

Aproximadamente as 19:25h, Michael Minning negocia a liberação de trinta e oito

reféns. O congresista peruano Javier Diez Canseco neste grupo e, em seguida, o

MRTA tem uma lista oficial de exigências:

- A liberação de quatrocentros de sessenta e cinco de seus membros das

prisões em todo país (inclusive a recente prisioneira norteamericana Lori

Berenson e da esposa de Cerpa);

- Uma revisão das reformas governamentias neoliberais de livre mercado;

- A transferência do grupo comando que atacou a residência do

embaixador do Japão, junto com seus companheiros prisioneiros do

MRTA para um zona na selva. (Vários reféns devidamente seleccionados

viajariam com o grupo como garantía e seriam libertados numa zona

guerrilheira do MRTA);

- O pagamento de um imposto de guerra; e

57

Os reféns norte americanos foram: Os Assistentes de Narcóticos John Crow, AID Oficial Andrew

Maxey, Conselheiro de Economia John Riddle, Conselheiro Político Jimmie Wagner, AID FSN Pedro Carrillo, Diretor AID Donald Boyd, AID Adjunto Executivo David Bayer, e a AID Oficial Kris Merschod. 58

CROMOTEX se desenvolveu um conflito de trabalhadores em que seis manifestantes sindicais

foram assassindos pelas forças da PNP, ao tratar de tomarem o controle da fábrica. Néstor Cerpa participou da greve e foi detenido e encarcelado durante um ano. A disputa foi uma das razões que conduziram a formação do movimiento MRTA. 59

Abimael Guzmán Reynoso, líder do movimiento terrorista Sendero Luminoso, foi capturado em

1992, junto com alguns de seus tenentes mais importantes.

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42

Em 21 de dezembro de 1996, o Presidente Fujimori rompe seu silêncio e

reponde aos terroristas que não iria negociar, que deixem as armas e liberem a

todos os reféns sãs e salvos.

Em resposta, Cerpa menciona que seriam mais reféns liberados nos

próximos días. Posteriormente, o Ministro das Relações Exteriores Francisco Tudela

e o Embaixador do Japão Morihisa Aoki enviaram mensagens solicitando que o

Governo peruano negocie com os terroristas do MRTA.

Os rumores se “filtraram” as agências de noticias locais que os Governos:

británicos, Israel e nortamericano, estavam enviando uma Unidade de Forças

Especiais Antiterroristas de élite para resolver essa situação com os reféns. A

imprensa panamenha informou que “haviam elementos dos EUA no Panamá

preparados para realizar uma missão de resgate”. Vários meios de comunicação de

toda Lima mencionaram sobre o uso previsto de agentes e havia o receio pelo

envolvimento de diferentes forças antiterroristas durante um possível intento de

resgate. Durante uma noite, em torno de 8.000 pessoas se reuniram na Catedral de

Lima, para orar por uma solução pacífica da crise dos reféns.

Em 22 de dezembro, os terroristas do MRTA colocaram mensagens nas

janelas da residência pintadas em folhas brancas, solicitando restaurar a

eletricidade, o telefone e a água. As 21:40h, um total de duzentos e vinte e cinco

reféns, sem vículos com o Governo peruano foram liberados como um gesto de

“espírito de Natal”. Os sete reféns norteamericanos foram liberados com este grupo.

Em audacioso ato de desafio, o sacerdote jesuíta Juan Julio Wicht, decidiu coloca-

se como refén, por sua própria vontade, se ofereceu numa missa no interior da

residência para todos os presente. Cento e seis reféns ainda se encontravam no

interior da residência. Um dos reféns liberados, o ex Ministro do Trabalho, Sandro

Fuentes, leu uma nova declaração dada a ele pelo MRTA, solicitando a liberação

dos presos do MRTA.

Na manhã seguinte, o Presidente Fujimori e o Ministro do Interior Juan

Briones Dávila manteveram uma reunião com o chefe das Forças Policiais, o

General Luis Malásquez Durand. Desde Europa, o representante do MRTA Isaac

Velazco, emitiu uma declaração e advertiu ao Presidente Fujimori que em caso de

intenção de um resgate militar, todos os reféns morreriam.

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43

Em 24 de dezembro de 1996, a primeira dama Keiko Sofía, filha do

Presidente Fujimori, forneceu oito perus a residência. Os terrorista não deixaram que

os reféns comessem os perus, por temerem que tivessem armas ou outros artefatos

escondidos dentro deles. Nesse dia o Governo do Uruguai libera dois terroristas

peruanos do MRTA da prisão: Luis Alberto Miguel Saaniego e Silvia Soria Gora.

As 18:30h, o Embaixador do Uruguai no Peru Tabard Bocalandro Yapeyú, foi

liberado pelo MRTA. Está ação vai contra as intenções e os esforços do Presidente

Fujimori, em represáli contra o Governo do Uruguai, Fujimori retira o Embaixador.

Durante os seguintes días o SIN começa a infiltrar numerosos equipamentos

eletrônicos e dispositivos de vigilancia no interior em artigos como garrafa térmica,

molduras, vassouras e equipamentos de limpeza. Em 25 de dezembro de 1996, o

arcebispo Juan Luis Cipriani entre na residencia pela primeira vez e permaneceu ali

por cerca de sete horas, oferecendo uma missa de Natal, junto ao Padre Wicht. A as

17:20h, Cipriani sai com o Primeiro Secretário da Missão Diplomática do Japão,

Kenyi Hirota é liberado devido a uma grave desidratação. No mesmo dia, o

Presidente ruso Boris Yeltsin se ofereceu para enviar uma unidade antiterrorista

para intervir na crise. O Presidente Fujimori rejeita toda assistência internacional, em

relação a ajuda antiterrorista. Ainda há 104 reféns dentro da residencia.

Em 26 de dezembro de 1996, as 01:47h, ocorreu uma explosão na

residencia e alertou todas as forças da PNP. Acredita-se que um gato ativou uma

das armadilhas colocadas pelos membros do MRTA no perímetro da residencia. O

MRTA tinha colocado obstáculos e armadilhas no perímetro da residencia nas

janelas e as portas da mesma. As 14:45h, o MRTA libera o Embaixador da

Guatemala, José Maria Argueta. Nesse mesmo dia, o Governo boliviano rejeita

negociar a liberação dos cincos terroristas do MRTA da prisão em seu país pela

liberação de seu Embaixador Jorge Gumucio.

No dia seguinte, o governo peruano declara o estado de emeregência em

Callao e nos distritos de Lima. Membros da Cruz Roja Internacional indicam que o

MRTA tinha colocado minas nos terrenos da residencia. O SIN contrata em segredo

e transporta trinta e dois mineiros da cidade de Cerro de Pasco, em Oroya, para

começar a escavação de túneis subterráneos e assim se poder chegar ao interior da

residencia. Os mineiros trabalham em turnos de oito horas sob as ordens do Corpo

de Engenheiros do Exército e o controle do SIN.

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44

Em 28 de dezembro de 1996, o porta voz do Governo, Domingo Palermo, e

o Arcebispo Cipriani entram na residencia e mantem conversas com os terroristas.

Eles permanencem no interior por mais de três horas, as 16:00h, 20 reféns são

liberados, incluindo os embaixadores da República Dominicana e Malásia. Domingo

Palermo comenta que a reunião com Néstor Cerpa foi muito produtiva. Enquanto

isso, os escombros da escavação dos túneis são constantemente retirados para

longe do perímetro, nos porta malas dos veículos policiais, nas ambulâncias e nos

veículos de serviço. Também, um grupo de agentes de inteligência do SIN entra na

residência vestidos como jardineiros e pega amostras da terra para analizar a

composição do solo ao redor da residência. Os resultados foram utilizados pelo

Corpo de Engenheiros na construção dos túneis. Há agora oitenta e três reféns,

dentro da casa.

Em 29 de dezembro de 1996, a Cruz Roja Internaional e o MRTA estão de

acordó em permitir que os reféns escrevam cartas para seus familiares. O primeiro

Ministro japonés, Ryutaro Hashimoto, anunciou em Tokio que as medidas adotadas

pelo Presidente Fujimori, foram trabalhadas. Enquanto os terroristas do MRTA

perduram três mensagens na janelas da residência que lia-se “o povo quer a paz om

justiça social”. “Nossos presos não recebem tratamento humanitário”, e “os que

lutam pelo social também merecem a liberdade” (LÓPEZ, 1998, p. 87).

No dia seguinte as primeira oitenta e três cartas dos reféns são recebidas

pela Cruz Roja Internacional e enviadas a seus familiares. Todas as cartas foram

cuidadosamente revisadas e examinadas pelo MRTA. Porém, os reféns já haviam

desenvolvido um sistema para enviar mensagens secretas por escrito dentro do lixo

que era retirado todos os días da residencia pela Cruz Roja Internacional.

Em 31 de dezembro de 1996, vários equipes de noticias são autorizadas a

entrarem na residencia para uma conferencia da imprensa com os terroristas do

MRTA. Néstor Cerpa Cartolini foi entrevistado junto com Francisco Tudela e Morihisa

Aoki, o Embaxador do Japão, aproveitou a oportunidade para pedir desculpas

publicamente pela situação, culpando-se pela crise.

O SIN aproveita esta situação e envía operadores de câmeras com os

jornalistas para fazer trabalho de inteligencia, informação sobre a residencia, armas

e munições dos terroristas, assim como sua força e disposição. As 17:00h, o

Embaixador de Honduras e o Consul argentino foram libertos.

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45

Oitenta e um reféns ainda estão na residencia. Em 1° de janeiro de 1997, o

Monsenhor Cipriani entra na residencia para oferecer uma nova Missa de Ano. Os

eclesiásticos deixam a casa em torno das 17:00h As 17:25h sete novos reféns foram

liberados: cinco homens de negocios japoneses e dois funcionarios do Governo

peruano. Setenta e quatro reféns permanecem na residência até 17 de janeiro e em

26 de janeiro, são liberados mais dois reféns, sendo estes altas autoridades da PNP,

liberados devido a suas condições críticas de saúde.

Em 2 de janeiro de 1997, o embaixador dos EUA, no Peru, Dennis Jett,

manifestou seu apoio a postura de não negociação de Fujimori, com os terroristas

do MRTA. Nesse mesmo dia, o Imperador Japonês Akihito pediu a Fujimori uma

solução pacífica para crise. Em um imprudente ato da imprensa, se revela a

identidade do Vice-Almirante (Rfm) Luis Giampietri, como o oficial a cargo das FOE

(Força de Operações Especiais da Marinha peruana), durante a década de 1980, e

como resultado, Giampietri foi interrogado, submetido a uma perseguição continua e

simuladas execuções pelos terroristas do MRTA durante os próximos dias. Os

policiais continuavam pela busca por informações dos reféns, que eram colocadas

no lixo que saía da residência.

Em 4 de janeiro de 1997, os terroristas do MRTA penduram três mensagens

a mais no telhado, reinterando suas exigencias ao Governo peruano e as críticas as

declarações do Presidente Fujimori. O diario japonés Mianichi Shimbun, informou

que o MRTA estava pedindo 30 milhões de dólares pela libertação dos reféns

japoneses. No dia seguinte, o Monsenhor Cipriani volta a residencia levando um

violão, desconhecendo que esta guitarra tinha um transmisor oculto para os reféns,

específicamente para o Vice-Almirante (Rfm) Giampietri para comunicar-se com o

SIN. Em 6 de janeiro de 1997, os membros do MRTA realizaram dois disparos para

o alto no interior da residencia. O Vice-Almirante (Rfm) Giampietri começa a

tramitação de mensagens, utilizando um violão dado pela Cruz Roja Internacional e

recebe informações através de um localizador que foi ocultado os terroristas durante

o período da tomada da residencia (responde e fala diretamente no violão para

transmitir). Giampietri passa a enviar entre 30-40 mensagens todos os días,

informando detalhes necessários para desenvolver a operação de resgate. Durante

a manhã, um repórter da televisão japonesa Asahi (Sr. Tsuyoshi Hitomi) e seu

tradutor se infiltram dentro do perímetro de segurança da residência sem serem

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46

detectados. E obtém uma entrevista de 10 minutos com Cerpa, sendo detidos pela

DINCOTE (Direção Nacional Contra o Terrorismo). Em 8 de janeiro de 1997, o

Presidente Fujimori exige novamente a libertação dos reféns que ainda estavam no

interior da residencia reafirmando que não terá negociações. No dia seguinte, o

Governo peruano anuncia que Francisco Tudela se mantinha como ministro. Nesse

mesmo dia, os terroristas do MRTA penduram novos cartazes dizendo: “Sr. Fujimori,

não minta. O dinheiro não nos importa, a demanda é a liberdade de nossos presos”

(EL COMERCIO, 10 de janeiro de 1997, p. A-5).

Em 10 de janeiro de 1997, as 03:45h, o MRTA dispara no agente da PNP,

fora da residência. Fujimori anuncia que não haverá negociações entre Domingo

Palermo e Cerpa, devido a presença no interior da residencia de Tsuyoshi (o

repórter japonês). Na manhã seguinte, Fujimori anuncia que varios países estão

dispostos a oferecer asilo aos terroristas. Também afirma que não necessitaria de

alguma ajuda externa das forças antiterrorismo internacionais.

As 15:30h, se reiniciam as negociações com o MRTA e o Monsenhor

Cipriani, junto com um representante da Cruz Roja Internacional. As 19:30h, o

jornalista japonês é liberado. Em 12 de janeiro de 1997, os meios de imprensa

difundem informações críticas sobre uma das negociações entre Cerpa e Cipriani,

provocando a paralização das negociações futuras.

O Presidente Fujimori anunciou que faria uso das forças, se algum dos

reféns sofresse algum dano. As 11:21h, 12 disparos foram realizados

esporadicamente no interior da residencia. Durante a madrugada do dia 14 de

janeiro, mais disparos foram escultados. Numa conferencia de imprensa, o

Presidente do Equador, Abdalá Bucaram, pediu ao Governo peruano não ceder as

exigencias dos terroristas e declarou que apoiava plenamente a dura postura do

Presidente Fujimori.

Em 15 janeiro de 1997, os terroristas do MRTA aceitam a proposta do

Governo peruano para criarem uma Comissão que garanta uma solução pacífica da

crise.

O MRTA solicita um representante da Guatemala e outro da Europa para

tomarem parte da Comissão. As negociações se detem devido as diferenças não

resolvidas.

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Yolanda Vila Placencia, mãe de um dos terroristas do MRTA ingressa na

residência e pede ao terrorista que deixe o MRTA e ceda a residência. Todavia,

ainda há 73 reféns na residencia. Na manhã seguinte, se observa que no telhado

dois reféns japoneses tinham colocado novas mensagens do MRTA, solicitando a

libertação de seus prisioneiros.

Em 21 de janeiro de 1997, Michael Minning se instala numa casa perto da

residência (Avenida Tomas Alva Edison, 257), para seu o porta voz de Palermo e

realizar as negociações com o MRTA.

No seguinte diagrama se descreve os seguintes procedimentos utilizados

em cada sessão de negociações entre a Comissão Garante e o representante do

MRTA (O Arábe):

Figura 5: Representação da casa de Negociação. Fonte: Grafico realizado pelo autor

O dia seguinte, o Presidente Fujimori afirma que não haverá diálogo com os

terroristas se insistirem pela libertação de seus prisioneiros. Também nesse dia e

por razões se segurança, a Cruz Roja Internacional limita a quantidade de visitas a

residência. Numa demonstração de força para incomodar os terroristas um

helicóptero da PNP sobrevoa a residência e veículos blindados da PNP rondeam

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48

também o perímetro da residência. Os terroristas disparam seus fuzis AKM para o

alto através das janelas.

Em 23 de janeiro de 1997, o Presidente Fujimori, viaja para a Bolívia e

conversa com o Presidente da Bolívia, Gonzalo Sánchez de Lozada, sobre a crise

dos reféns. No dia seguinte, Fujimori se reúne com 150 turistas japoneses e fala

com eles sobre uma solução pacífica para a crise dos reféns.

Graças a um pedido do Monsenhor Cipriani, o General da PNP José Rivas

Rodrigues foi libertado, devido ao seu crítico estado de saúde às 00:54h, em 26 de

janeiro de 1997. Sendo este o último refém libertado até o dia 22 de abril de 1997,

com o operativo “Chavín de Huantar”60

No dia seguinte, doze alto falantes foram instalados na entrada principal da

residência, com uma música a todo volume de hinos patrióticos reproduzindo-se

durante todo o dia em que ocorreu a batalha de operações psicológicas, entre a

PNP e os terroristas. As 17:15h um terrorista do MRTA disparou sua arma contra um

oficial da PNP que estava no interior de seu veículo.

Em 28 de janeiro de 1997, os terroristas do MRTA e a PNP continuam a

batalha de propaganda com música e diferentes jogos de ruídos que iam e voltavam.

O principal propósito dos alto falantes da PNP era de reduzir os ruídos dos mineiros

cavando os túneis subterrâneos sob a residência. Os reféns não podiam dormir e se

mostravam cada vez mais nervosos e estresados com a música a todo volume e

ruídos.

As 06:00h, do dia 29 de janeiro, a primeira marcha miltiar foi ouvida durante

vinte minutos e depois as 18:00h. As 13:15h, um grupo de médicos do Hospital

Arzobispo Loayza, entra na residência e oferece ajuda a vários reféns em

dificuldades devido ao ruído existente. A PNP acreditava que o MRTA tinha

informantes fora da residência, que informavam todas as medidas adotadas pela

polícia e as forças militares no exterior da residência.

Também que várias agências de notícias proporcionam informações aos

terroristas através das radio comunicações. Em 30 de janeiro de 1997, o presidente

60

“Chavín de Huántar, nome dado pelo presidente Alberto Fujimori no dia da operação de resgate dos reféns, a chamada durante os últimos quatros meses, operação “Tenaz”. O nome de Chavén de Huántar se inspirou na antigua civilização pré Inca do mesmo nome, que data de 3000 AC e está localizado a 100 km da capital de Huaraz, o setor de Ancash no centro da região do Peru. A civilização e a cultura Chavín de Huántar são conhecidas por sua espetacular arquitetura que destaca-se por suas redes de túneis e sistemas de irrigação de água subterrânea que se correm por toda a cidade. Também seus guerreiros utilizam estes túneis para lutar e defender a cidade dos ataques.

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Fujimori se reuniu com quarenta e três esposas dos reféns e outros membros da

família, para falar sobre a crise e solicitar seu apoio e que mantivessem a calma. Um

pequeno hospital se estabeleceu dentro dos terrenos da residência junto ao edifício

principal. Esta zona era o novo sítio de negociações para todas as próximas

reuniões entre o MRTA e a equipe de negociação.

Quatro médicos e uma enfermeira permaneceram no local para tratar os

reféns, assim como dos terroristas. No dia seguinte, os membros da SUAT

realizaram uma demostração de uma operação de resgate de reféns, em frente das

câmeras dos jornalistas japoneses, para mostrar o poder de força contra o MRTA.

Em 1º de fevereiro de 1997, o presidente Fujimori e o Primeiro Ministro do

Japão, Hashimoto enviam uma mensagem aos terroristas confirmando que

manteriam um diálogo direto com eles, sendo nomeado Terusuke Tarada como novo

membro da Comissão Garante. Mais tarde, nesse mesmo dia, o presidente Fujimori

viaja para o Canadá, onde se reúne com o Primeiro Ministro do Japão, Ryutaro

Hashimoto e firmam uma Declaração Conjunta de Toronto. Esta declaração reafirma

as intenções de ambas as partes (Peru e Japão) de terminarem com a crise de

maneira pacífica, dando prioridade a salvar as vidas humanas (LÓPEZ, 1998, p.

122).

No dia seguinte, o presidente Fujimori viaja a Washington e se reúne com o

presidente Clinton. Revelando que os terroristas do MRTA não continuam exigindo a

liberação de seus companheiros, mas, que estavam dispostos a iniciar um diálogo

mais uma vez. O presidente Clinton elogia os esforços de Fujimori e sua postura

dura. Em 14 de fevereiro, o presidente Fujimori viaja para a República Dominicana e

se reúne com o presidente Leonel Fernández. O presidente Fernández destaca ao

presidente Fujimori e encoraja para que ocorra uma resolução rápida e pacífica para

a crise. De volta à residência japonesa, seis disparos são realizados durante a noite

pelos terroristas do MRTA. Quando se pediu que explicassem o que estava

acontecendo, Cerpa respondeu que era para comemorar a morte de Hermigidio

Huerta e dos cinco trabalhadores da instalação têxtil Cromotex, que teriam sido

mortos há quase vinte anos numa manifestação hostil liderada por Cerpa.

Em 6 de fevereiro de 1997, as 10:30h, Monsenhor Cipriani e Michael

Minning começam as negociações com os terroristas do MRTA, uma vez más. No

dia seguinte, entre as 10:30h e às 17:00h, todos os reféns fazem uma avaliação

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médica. Em 9 de fevereiro de 1997, Monsenhor Cipriani realiza uma missa dentro da

residência, ouvindo as confissões de dezenas de reféns. No dia seguinte, os

terroristas do MRTA lançam uma granada contra membros da PNP que estavam

numa casa próxima, em resposta as provocações feitas pela polícia.

Durante os próximos três dias, Domingo Palermo procura conversar com o

terrorista Rolly Rojas (homem número dois do MRTA, também conhecido como “O

Arábe”).

Em 10 de fevereiro, Fujimori viajou a Londres e se reuniu com o Primeiro

Ministro John Major, que apóia plenamente as intenções de Fujimori e o aconselha a

continuar com o processo de negociações. Em 20 de fevereiro de 1997, Palermo

conversa com Rolly Rojas pela quarta vez. Durante estas negociações, Néstor

Cerpa assiste pela primeira vez. Membros do SIN, se infiltram como parte da equipe

de negociações e recolhem valiosas informações de inteligência. Quatro dias mais

tarde, Cerpa Cartolini sai da residência e solicita falar com Palermo. Cerpa anuncia

que mais reféns serão libertados nos próximos dias. A quinta rodada de negociações

conduziu a um progresso real no mesmo dia. Em 25 e 27 de fevereiro de 1997,

Palermo conversa com o MRTA, pela sexta vez e a sétima vez com um progresso

real, uma vez mais. Dois terroristas do MRTA foram vistos na noite patrulhando o

telhado da residência com uniforme de combate, carregando suas armas, munição e

granada. No dia seguinte, o presidente Fujimori faz uma visita surpresa a República

Dominicana para reuniu-se com o presidente Leonel Fernández e pede asilo para os

terroristas. Em 3 de março, o presidente Fujimori viaja para Cuba e se reúne com o

presidente Fidel Castro para solicitar asilo aos quatorze terroristas do MRTA. Castro

declara por escrito que não aprova as ações do MRTA, porém estaria disposto a

recebê-los em seu país. De 4 a 5 de março de 1997, as nona e décima rodadas de

negociações foram realizadas entre Palermo e o MRTA. Para Palermo, torna-se

evidente que o MRTA não está disposto a negociar contra qualquer de suas

exigências originais, nem tampouco esperam que a crise durasse tanto tempo. Em 6

de março de 1997, os terroristas do MRTA suspeitam que um túnel foi escavado na

residência, ouvem ruídos da construção sob a residência e vem rachaduras frescas

no piso da sala de estar. O General da PNP Tomás Castillo Meza nega qualquer

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conhecimento de um túnel quando foi perguntado pelos terroristas quando

inspecionavam o piso61

As negociações entre o MRTA e o porta voz param imediatamente. Fujimori,

admite que esta considerando todas as opções militares para resolver a crise,

inclusive ações aéreas e o uso de tanques.

Os jornais locais publicam imagens de veículos do Governo que são

removidos do perímetro. Estas fotos são transmitidas pela televisão nacional para

que todos as vejam, inclusive os terroristas do MRTA, dentro da residência.

Em 9 de março de 1997, o MRTA está disposto a iniciar as negociações,

uma vez mais. O Papa Paulo II, pede a liberação dos setenta e dois reféns ao

MRTA. Durante os próximos dias aumenta a tensão dentro da residência e o

embaixador boliviano Jorge Gumucio enfrenta os terroristas do MRTA depois de ter

sido insultado e ofendido por eles com insultos sobre a Bolívia. A postura de

Gumucio contra Cerpa incita a todos os reféns a cantar os hinos nacionais do Peru e

da Bolívia, até que Cerpa peça desculpa. Esta confrontação marca um ponto de

inflexão dos reféns.

Em 19 de março de 1997, o Exército peruano captura trinta e dois membros

de Juan Santos Atahualpa do MRTA62. Durante os dias seguintes, o vice Ministro

japonês volta a Tokio e assegura que não haverá uma solução rápida para a crise.

Durante a semana, o MRTA anuncia que aceitará o asilo em Cuba. Também durante

essa semana, as unidades militares descobrem um carregamento de armas

destinadas a Juan Santos Atahualpa, do MRTA, entrando no país através da

fronteira com o Equador. O envio incluía rifles de assalto AK-47, lançadores de

granadas, mísseis e metralhadoras.

Em 28 de março de 1997, o sacerdote jesuíta Juan Julio Wicht, realiza um

serviço na Sexta Feira Santa; vários dos terroristas do MRTA assistem. Na manhã

seguinte, Néstor Cerpa paraliza todas as negociações, insistindo na liberação dos

presos do MRTA. Nesse dia, Francisco Tudela e Morihisa Aoki se vem brevemente

a uma das janelas da residência. Outra vez, em 30 de março, o Papa Juan Paulo II,

pede pela libertação dos setenta e dois reféns ao MRTA.

61

O grupo mineiro responsável pela construção dos túneis chegou a ser conhecido como "Los Topos

del Silencio" e contratou a quase 60 pessoas ao final do projecto (Chávez López, 1998, p. 171). 62

Sub Frente Gerrillero Juan Santos Atahualpa do MRTA, nome do dirigente indígena que quebrou

em 1742, que cujo propósito era restaurar o Inca expulsar os espanhois.

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52

Fujimori insiste que não negociará com o MRTA se continuar insistindo pela

libertação dos presos do MRTA.

Em 3 de abril de 1997, uma equipe médica da Cruz Roja Internacional, entra

na residência com uma máquina de resonância magnética portátil para comprovar o

estado de saúde de vários reféns. Vários dias depois, Fujimori visita o presidente

boliviano Gonzalo Sánchez de Lozada, na Bolívia. Em uma conferência com a

imprensa em Santa Cruz, o presidente Fujimori afirma que uma operação militar será

o último recurso para a resolução da crise. Em 14 de abril, pede que os jornalistas

se afastem uns dez metros do perímetro e voltem à localização original.

Em 16 de abril de 1997, um dos reféns estabeleceu contato com sua família,

através de um megafone, do interior da residência. Nesse mesmo momento, Jean

Pierre Schaerer membro da Cruz Roja Internacional foi expulso do país, por ter

ajudado os terroristas do MRTA. Na manhã seguinte, o ministro das Relações

Exteriores cubano, Roberto Robaina, se reúne com o Primeiro Ministro japonês

Ryutaro Hashimoto, em Tokio, e ofereceu uma vez mais ajuda. O Vice-Almirante

(Rfm) Giampietri enviou mensagem que indica que os reféns estão considerando

seriamento colocar em prática um plano de fuga. O SIN respondeu com outra

mensagem que mantivessem a calma e não tentassem nada, que a crise seria

resolvida. Durante a missa do padre Juan Julio Wicht, o sacerdote chama os

terroristas do MRTA “...irmãos, todos somos filhos de Deus, somo todos peruanos”

(WICHT, 1998, p. 216).

Em 18 de abril de 1997, durante celebração de aniversário de Juan Julio

Wicht, os membros do MRTA propõem um Bride com vinho para o sacerdote. Wicht

reconhece que os terroristas realmente tem feito uma conexão com ele e brinda com

a segurança de que Deus tenha a última palavra. Na manhã seguinte, o Ministro do

Interior e o chefe da PNP renunciam a seus cargos, como protesto a intervenção

militar para resgatar os reféns.

Em 21 de abril de 1997, Domingo Palermo sai do Congresso e insiste no fato

de que as negociações ainda estão em curso. O Vice-Almirante (Rfm) Giampietri,

enviou mais de oitenta mensagens diárias, detalhando tudo o que estavam fazendo

os terroristas. E informa a alguns dos reféns que o resgate é eminente, orientando-

os a vestirem com roupas claras para ajudar a força de resgate em sua identificação.

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5 OPERAÇÃO CHAVÍN DE HUÁNTAR

Em 22 de abril de 1997, as 14:20h, 140 integrantes das Forças Especiais do

Exército e da Unidade Especiais de Combate (UEC) de Infantaria de Marinha

peruana, ocuparam posições nos túneis subterrâneos, esperando as ordens para

começarem o ataque. Treze terroristas do MRTA foram até o segundo andar para

começarem seu futebol de todos os dias.

Todavia, um terrorista do MRTA estava em cima como guarda e cinco

estavam em baixo vendo o jogo, enquanto os outros estavam jogando. As 15:14h, o

Vice-Almirante (Rfm) Giampietri enviou a palavra chave: “Maria está enferma”,

através do rádio transmissor que estava no fundo falso do violão, dado pela Cruz

Roja Internacional, indicando que haviam cumprido todas as condições prévias para

se iniciar o resgate dos reféns. Vinte comandos de franco atirador assumem suas

posições ao longo dos telhados aos redores da residência, apenas aguardando a

autorização para disparar. Imediatamente depois, um helicópetro da agência de

notícias sobrevoa a residência e quase compromete toda a operação.

As 15:23h, três cargas simultâneas explodem o piso da sala de estar, sala

de jantar e cozinha da residência japonesa, matando imediatamente quatro

terroristas que estavam jogando futebol e vários feridos. Os 140 integrantes das

Forças Especiais saem dos cinco túneis de lados diferentes da residência e tomam o

edifício, matando os outros terroristas. Dois dos integrantes das Forças Especiais

também morreram durante o resgate: o Coronel Juan Valer e o Capitão Raúl

Jiménez. A operação dura aproximadamente trinta e cinco minutos e obteve pleno

êxito, elogiada por todo o mundo.

5.1 FASE 1: PLANEJAMENTO, PREPARAÇÃO E ENSAIOS

A Força de Resgate na Operação Chavín de Huántar, teve cento e vinte seis

dias para sua preparação. Logo após, tomarem a residência dos terroristas, a PNP

desenvolve um plano de assalto de emergência com a SUAT, mantida no local com

uma tarefa de vários dias, até que a unidade designada se organizasse

corretamente, dada a magnitude e designação da “força de regaste”.

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Em quanto isto, as forças da PNP e SUAT uniam esforços para realizarem o

resgate de emergência. Alguns integrantes da PNP estavam frustrados e

impacientes e queriam terminar logo com a crise, desenvolvendo uma grande

variedade de planos de resgate,elaborados apressadamente. Finalmente, o

presidente Fujimori, como comandante e chefe de todas as Forças, estabeleceu que

o General Hermosa Ríos seria o comandante da Força de Resgate e que o Sr.

Vladimiro Montesinos, ficaria a cargo de todas as Operações de Inteligência.

Deu-se início no princípio de janeiro para a construção de uma réplica da

residência, com o intuito de treinar os integrantes das Forças Especiais, a fim de

obterem sucesso em situações iguais de confronto. Quarenta trabalhadores civis

foram contratados para iniciarem a construção de uma maquete em tamanho real,

na Brigada das Forças Especiais do Exército peruano. Inicialmente, o local estava

destinado a replica somente do Primeiro piso da residência, que seria feita de tijolos.

Como se prolongou a captura dos reféns, deu-se início a construção de uma

maquete do segundo piso da residência, construída ao lado da primeira instalação.

Conforme passou o tempo, a construção continuou com um segundo piso

adicionado a parte superior desta última maquete como a segunda distribução da

instalação, convertendo-se numa construção de dois pisos. Com o tempo, os túneis

foram construídos, o que permitiu realizar ensaios com fogo real e explosivos pelas

Forças de Resgate. Os planos inciais e disponíveis da residência japonesa não

coincidiram com a construção real da residência; pois haviam sido realizadas

modificações estruturais na sua construção original. Finalmente, através de uma

série de esforços, foram atualizadas as plantas da residência com fax enviados do

Japão, que permitiu a construção da maquete fosse idêntica a original.

Foram realizadas numerosas provas e ensaios com diferentes tipos de

cargas explosivas perfeitas que deveriam serem utilizadas durante o resgate. A

principal preocupação era de que a explosão tivesse a força suficiente para fazer um

buraco no piso da residência e eliminasse a maior quantidade de terroristas

possíveis, sem afetar o segundo piso, onde estavam os reféns. Tiveram que

improvisar e elaborar uma série de cargas explosivas que seriam colocadas nos

túneis, no solo em baixo da residência.

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55

5.2 FASE 2: APROXIMAÇÃO E ASSALTO

O mais engenhoso do plano de resgate da Operação Chavín de Huántar, foi

desenvolver um ataque com explosivos no subsolo. Os terroristas do MRTA nunca

imaginariam que o ataque viria do subsolo. Ao longo de quatro meses de

planejamento e preparação, nove túneis foram cavados por debaixo da residência

num excelente trabalho de engenharia, os túneis começaram desde habitações

alugadas pelo Governo, do outro lado da rua principal da residência, nas ruas, sob o

muro perimetral, através da zona do jardim, por debaixo da residência real. Estes

túneis não somente proporcionaram uma excelente maneira de infiltrar-se na área

objetiva sem ser detectado, mas também, proporcionou uma zona de segurança

para realizar-se a vigilância, reconhecimento e planejamento do último minuto. Duas

pessoas ajustavam as condições dos túneis durante o dia, para que fossem bem

ventilados, que tivessem iluminação adequada e piso acochoado para eliminar o

ruído. Os túneis estavam conectados por três centros operativos tácticos, com

equipes de comunicações, mesas de planejamento e gráficos, um sistema de alarme

único de sinalização. No dia da execução os 140 membros da Força Resgate foram

ordenados que entrasse nos túneis e assumissem suas respectivas posições. Foi

realizado este treinamento três vezes, até que se completarem todas as condições

pré estabelecidas para se realizar o resgate, era fundamental que pelo menos treze

membros do MRTA estivessem no primeiro piso, num só lugar, de preferência na

zona da sala de jantar e assim se poderia eliminar a todos com uma carga de

explosivos. Uma vez que os trezes terroristas do MRTA estavam no primeiro piso, o

Vice-Almirante (Rfm) Giampietri, deu um sinal e abriu a trava da porta da entrada

que dá acesso do pátio para o segundo piso. Nesse momento, o General Hermosa

Ríos chamou a Vladimiro Montesinos e informou que as Forças Especiais estavam

prontas. Montesinos, chamou pelo telefone a Fujimori, informando o estado alvo.

Fujimori aprovou. As 15:21h, a Força iniciou a incursão depois de cinco segundos da

contagem regressiva, a qual seria o sinal da detonação de três cargas explosivas

debaixo da residência. Imediatamente depois das exploções, os integrantes do

Exército e os Infantes da Marinha da UEC, ingressaram em todas as direções,

equipes especiais, com áreas de responsabilidade específicas, dividiando a

residência em nove zonas das respectivas missões e pontos de coordenação.

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56

Em questão de minutos, a residência japonesa estava sob o controle dos

140 integrantes das Forças Especiais. Um terrrorista se entricheirou no segundo

piso e desta posição lutou contra os integrantes das Forças Especiais, durante trinta

minutos mais ou menos, até que dois integrantes que estavam no telhado,

detonaram uma carga no telhado, finalmente neutralizando está ação. Uma equipe

de franco atiradores-observadores do outro lado da rua, informaram a dois dos

militares onde deveriam ser colocadas a carga através do rádio, tendo como objetivo

matar este último terrorista do MRTA. Uma vez que o objetivo foi alcançado,

constatou que vinte e cinco membros da Força Especiais tinham sido feridos e dois

deles foram mortos, assim como um dos reféns (Carlos Giusti), que morreu na

realidade devido a um ataque cardíaco, devido a perda de sangue ocasionado pelo

ferimento a bala que cortou a artéria femoral, na perna direita (CELI,1997,P 58).

5.3 FASE 3: FINAL DO ASSALTO

O presidente Fujimori imediatamente assumiu a situação, diante a realização

do ocorrido, entrou na residência assim que terminou o resgate. Elogiou as Forças

Armadas peruanas publicamente, cantando o hino nacional peruano, conjuntamente

com os Integrantes das Forças Especiais.

Internacionalmente, a operação militar foi vista com bons olhos pelos outros

Governos. Vários presidentes da Região Andina (André Pastrana, da Colômbia,

Gonzalo Sánchez de Lozada, da Bolívia e Rafael Caldera, da Venezuela),

aprovaram as decisões de Alberto Fujimori. Esta informação foi feita numa

declaração pública no IX Conselho Persidencial Andino, embora existam algumas

exceções:

- No dia 25 de abril, ocorreram protestos na embaixada peruana, em

Santiago do Chile. Alguns manifestantes disseram aos repórteres de televisão, que

”Nós somos totalmente contra atos de crueldade e que nunca deveriam ocorrer”;

- Como resposta, o Ministro das Relações Exteriores do Chile, declarou que

“o Governo chileno tem manifestado sua satisfação com o resultado da crise. É

verdade que devemos lamentar a perda de várias vidas, porém é também

importante reconhecer que não havia outra saída possível”; e

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57

- Na cidade do México, em 23 de abril, dezenas de pessoas se reuniram em

frente à Embaixada do Peru para protestar. Os manifestantes lançaram pintura

vermelha e tomates contra o edifício, gritando “Fujimori assassino” e “América Latina

está de luto”.

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6 PRINCÍPIOS DAS OPERAÇÕES DE RESGATE DOS REFÉNS

6.1 INTELIGÊNCIA

O fator mais crítico para o êxito da Operação Chavín de Huántar foram às

operações de espionagem. Através da comunicação constante, se obteve uma

vantagem substancial, desde primeiras etapas do desenvolvimento da incursão, pois

o grupo de resgate e as células de planejamento contaram com as ligações

recebidas do beeper, que um dos reféns mantinha em seu poder desde início,

ocultado dos terroristas do MRTA e entregues ao Vice-Almirante (Rfm) Giampietri,

que enviou do número do localizador para as Forças da PNP. Também se

estabeleceu comunicação por meio dos aparatos eletrônicos, a contar do início,

dentro da residência com o material que entrou pela Cruz Vermelha Internacional.

Esta linha aberta de comunicação foi sem precedente, também proporcinou

uma linha de salvamento para os reféns que manteve sua moral e ânimo ao longo

da crise, ao saberem que um plano de resgate estava sendo desenvolvido. Além das

comunicações eletrônicas, os reféns estabeleceram um plano de comunicações com

as Forças Especiais, através de um sistema de sinais com uma toalha pela janela do

banheiro. Eles recebiam mensagens no localizador (beeper) e respondiam com uma

toalha e com o polegar para cima ou para baixo, assim confirmavam ou negavam.

Foi ativada a Inteligência Humana (HUMINT), em torno da residência com o objetivo

de pegar os membros do MRTA ou seus colaboradores. Também houve uma

interferência eletrônica do rádio de cinco kilômetros ao redor da residência, visando

à prevenção das comunicações por telefone celular na zona. Quatro equipes de

observadores-franco atiradores foram enviadas de imediato pela SUAT, ficando

reservados junto com o pessoal de francos atiradores da UEC. Estas equipes

proporcionavam informações constantes do objetivo, dando condições necessárias

para serem disparados tiros de precisão em direção aos terroristas. O SIN alugou

cinco casas ao longo do setor sul da residência, que foram usadas para comandar,

controlar, fazer o reconhecimento, vigilância, sustento da tropa na área durante os

últimos dias prévios ao resgate. “Sabiamos que era indispensável saber o que os

terroristas estavam pensando e ao mesmo tempo ocultar nossas intenções” (RIOS,

1997, p. 144).

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O pessoal de inteligência utilizou periscópios, dispositivos de escuta dentro

do interior dos túneis para reunir informações sobre os terroristas, sobre as minas e

armadilhas explosivas, que foram colocadas ao redor da residência, além das

informações de interesse.

6.2 SURPRESA

Os terroristas do MRTA nunca esperavam uma incursão em plena luz do dia,

muito menos proveniente do subsolo. A única maneira possível que pensavam seria

através de helicóperos. Os terroristas colocaram armadilhas no jardim e acessos à

residência, pois estavam seguros que qualquer intenção de resgate viria pelo ar. A

detonação dos explosivos na residência, supreendeu a incursão.

À hora eleita, o curso das negociações, as ações de uma inteligência

dissimulada e a inteligência no tempo real alimentaram as Forças Especiais, todos

estes fatores contribuíram então para êxito total do fator surpresa. Treze terroristas

estavam na área da sala de jantar da residência durante a detonação das cargas

explosivas. Acreditaram que somente quatro terroristas morreram por causa da

explosão inicial. Isto devido ao fato que um helicópetro de uma agência de notícias,

sobrevoava a área próxima, vinte segundos antes da explosão; quando os terroristas

escutaram o helicóptero deixaram de jogar futebol e passaram a observar pela

janela. Do contrário, muitos mais terroristas teriam sido mortos durante explosão

inicial. O efeito do choque da explosão inicial deu as Forças Especiais os precisosos

segundos necessários para uma rápida entrada na área objeto, ganhando vantagem

com o choque e o caos produzidos pelas explosões. O princípio da surpresa permitiu

que as Forças Especiais entrassem, apontando rapidamente e assim dominando

todos os pontos vulneráveis, neutralizando a ameaça discrimnada. Imediatamente a

explosão, o pessoal dos túneis retirou as tábuas que sustentava a pouca terra que

cobria as aberturas dos túneis saindo correndo para se localizarem junto às entradas

respectivamente. Uma equipe não pode retirar todas as tábuas e teve que sair

usando um túnel diferente. Os militares responsáveis por abrir a parte superior do

solo, freneticamente rasparam o solo tirando as raízes e as articulações isto com

suas próprias mãos num intento desesperado para eliminarem a terra que estava na

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entrada. Incapaz de sair do túnel, tendo que voltar atrás e se dirigirem a outro túnel.

Este já testado durante parte do planejamento de contingência nos ensaios,

decidindo-se rapidamente irem ao ponto de entrada alternativo.

Numa missão de Operações Especiais, o conceito de velocidade é simples.

Chegar a seu objetivo o mais rápido que seja possível. Qualquer atraso ampliará sua

área de vulnerabilidade e diminuirá sua oportunidade de obter a superioridade

necessária. (MCRAVEN, 1995, p. 19).

6.3 HABILIDADES DO OPERADOR

As Forças Especiais de cento e quarenta homens, ensaiaram a operação

centenas de vezes, realizando treinamento de tiro real e explosões, simulando o

resgate na replica da residência.

Os militares tinham experiência em situações de stress e combate real.

Cada membro das Forças Especiais sabia exatamente da quantidade de

passos que tinham que tomar e o que fazer diante de uma situação diferente.

Um fator importante para as contigências previstas era o uso de uma ajuda

pré planejada de outros elementos como apoio, equipes específicas que entrariam

como parte da incursão para proporcionar apoio durante o resgate tais como:

bombeiros, médicos e equipes de reserva, todos entrariam imediatamente atrás das

Forças Especiais e todos foram necessários e utilizados durante a incursão.

Os planos de emergência para chamar estas equipes especiais foram

ensaiadas como parte da missão, assinalando códigos específicos para cada

situação particular. Cada contigência foi programada durante os ensaios.

6.4 ENGANO

A Operação Chavín de Huántar foi também um exemplo clássico do

coordenado plano de ilusão nos níveis estratégico, operacional e tático. O

Presidente Fujimori enganou ao MRTA para ganhar tempo, guiando-os através de

uma negociação astuta sem fim. As operações para iludir aos terroristas, utilizaram

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o SIN e as Forças Armadas, criadas especificamente para aumentar o fator

surpresa. A surpresa foi uma conseqüência direta da utilização com êxito das

operações para iludirem aos terroristas durante cento e vinte e seis dias. O uso de

alto falantes para ocultar os ruídos das escavações do túnel, a propaganda, as

demonstrações de força da Polícia Nacional e do Exército, os sobrevôos, o uso de

pessoal de inteligência como jornalistas, tudo contribui para uma completa estratégia

ilusória bem planejada. Isto permitiu que as Forças Especiais se movessem sob a

residência por mais de trinta horas antes da operação. O Governo peruano dominou

a segurança operacional, inclusive o controle dos meios de comunicação e da

comunidade internacional ao longo do prolongado processo até se planejar o

resgaste.

Os terroristas do MRTA foram enganados e levados a acreditar que tinham

vantagens superiores ao longo de todas as negociações. Foram levados a crer que

o uso da Força não seria considerado, especialmente com o irmão do presidente

Fujimori ainda dentro da residência.

O presidente Fujimori se dirigiu ao MRTA para fazer-los crer que

eventualmente concederia suas exigências, dando-lhes vantagens no processo de

negociações; esgotados os terroristas foram levados a cometer erros críticos.

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7 ANÁLISE

7.1 POLÍTICO – SOCIAL

O surgimento dos movimentos terroristas no Peru, é realizado nas zonas

mais necessitados do país devido às seguintes razões:

- Nestas regiões existem populações que vivem em extrema pobreza com

pouco ou nenhuma presença do Estado, nos quais o controle e a ordem são

mínimos;

- As escassas vias de comunicação permitem que estas populações possam

sere facilmente controladas por organizações terroristas, desenvolvendo então sua

política de adoutrinamento;

- Os terrenos montanhosos e agrestes facilitam a clandestinidade e ajudam

a escondem os terroristas que acabam obtendo amplo campo de batalha para poder

enfrentar ao Estado, já que conhecem melhor o terreno; e

- Inicialmente eram conhecidos estes movimentos como simples

delinqüentes, mafiosos ou ladrões, nunca como um problema social produzido pela

falta da presença do Estado e o centraritarismo imperante no país.

A situação do Peru nos anos 90 era de um país em queda econômica e com

dois grupos terroristas abalando o país. O presidente Alberto Fujimori realiza trocas

drásticas na política econômica, iniciando assim a recuperação econômica,

mediante uma política radical de choque econômico; na política contra o terrorismo

implementa uma importante e efetiva política antisubversiva de pacificação, com

novos papéis para as Forças Armadas e para a Polícia Nacional com o objetivo de

reconquistar a confiança da população marginal urbana, combatendo a fundo o

Sendero Luminoso, ao MRTA, para isto sustentando-se em quatro pilares

fundamentais:

- Uma estratégia integrada;

- Valorização e integração da Comunidade de Inteligência sob a direção de

sua entidade, o Serviço de Inteligência Nacional (SIN);

- Marco legal adequado face a uma eficaz ação do SL e do MRTA; e

- Organização voluntária da população para sua própria defesa.

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Obtendo com estas medidas ser reconhecido e reeleito o presidente, porém,

as graves repercussões políticas produzidas por vários anos depois do resgate,

principalmente devido às investigações efetuadas pela CVR, em resposta as

denuncias de assassinato no interior da residência. Denúncias que são instigadas

pelos movimentos de esquerda peruanos, num esforço para prejudicar Fujimori e

levá-lo ao tribunal por sua relação com o Chefe da Inteligência Vladimiro

Montesinos, por supostos vínculos com drogas, extorsão, lavagem de dinheiro e

suborno de funcionários públicos. A CVR indica que o presidente Fujimori ordenou

as Forças Armadas a entrarem na residência e assassinarem a todos os terroristas

do MRTA. Estas acusações enfraqueceram o prestígio das Forças Especiais, logo

depois de executarem uma excelente operação de resgate. Membros das Forças

Especiais foram chamados para responderem um processo judicial, enfrentando

acusações de assassinato e assassinato premeditado. Obviamente, a CVR não

reconhece a natureza deste tipo de operações.

A Comissão da Verdade tem ido tão longe para investigar utilizando-se da

análise forense nos cadáveres do MRTA, para estudar os lugares de impacto da

bala e o número de disparos feitos em cada um dos corpos, tratando de demonstrar

que os terroristas do MRTA foram assassinados. Eles argumentam que dado a

posição dos corpos dos terroristas apresentam tiros nas áreas do peito e de frente,

em todo grupo, portanto estes teriam sido assassinados. Suas conclusões somente

demonstram a excelente pontaria e a disciplina das Forças Especiais do Peru.

7.2 MILITAR

- Quando ocorreu a crise com os reféns no Peru, existiam três Unidades

Militares capacitadas em missões de resgate de reféns: a Unidade Especial de

Combate (UEC) de Infantaria da Marinha; os Comandos do Exército e a Sub-

Unidade de Ações Táticas (SUAT) da PNP. A maioria dos membros destas unidades

tinha participado anteriormente em programas de intercâmbio antiterrorismos nos os

EUA e em Israel, portanto tinham experiência de combate contra o Sendero

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Luminoso e na Guerra contra o Equador63. Individualmente, estas unidades não

podiam manusear um objetivo de tal magnitude, devido a escassez de pessoal e

equipes. Finalmente, o Presidente do Comando Conjunto das Forças Armadas,

General Hermosa Ríos, deu a direção para se estabelecer uma Unidade Conjunta,

composta principalmente pelos comandos do Exército e dos Infantes da Marinha da

UEC.

- Os EUA, Grã Bretanha e Israel oferecem ajuda mediante envios de

representantes de suas respectivas unidades antiterroristas como assessores, mas

o presidente Fujimori não aceitou.

- A operação foi bem planejada e executda, sendo considerada como uma

das mais exitosas operações de todos os tempos.

- Os militares tiveram quase 25% de baixas, sinalizando a dificuldade da

operação pela fanática resistência dos terroristas e as armadilhas explosivas que

foram plantadas em toda a parte.

- As acusações sobre direitos humanos nos processos contra os militares se

instrumentalizaram com o desprezível fim de saciar uma sede de vingança contra os

que combateram o terrorismo.

O propósito da missão deve ser meticulosamente ser compreendido antes de entrar em ação e os homens devem estar inspirados com uma sensação de dedicação pessoal que não conhece limites. McRaven cit o Capitão alemão Otto Skorzeny quando fala: “Quando um homem é movido pelo puro entusiasmo e pela convicção de que está arriscando sua vida numa nobre causa...proporciona os elementos esenciais para o êxito.

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Guerra entre Equador e Peru, 26 de janeiro de 1995, nas montanhas seváticas da Cordilheira do Cóndor, um fogo alto entrando em trégua em 1º de março de 1995, depois da paz e tensas conversações, as fronteiras foram desmilitarizadas nas disputas na selva. Em 26 de outubro de 1998, os dois países firmaram um tratado de paz (informaçõ obtida de news.bbc.co.uk/hi/Spanish/latin_america/newsid_7274000/7274638.stm).

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8 RECOMENDAÇÕES

- Ter a decisão política para enfrentar a subversão frontalmente de forma

aberta, em todas as expressões do Poder Nacional.

- Condições para um marco legal adequado para que o Governo atual não

faça uso destas leis antiterroristas como armas políticas para prender os opositores

ao regime ou desprestigiar os rivais políticos.

- Contar com o funcionamento de uma adequada lei que leve em conta o

arrependimento, evitando que esta lei seja usada como arma política.

- Unificar os sistemas de inteligência para que esta seja controlada pelo

Estado.

- A implementação de uma pena de prisão perpétua para líderes

comprovados e terroristas confessos, evitando que esta lei seja usada como arma

política.

- Atenção a ações socioeconômicas nas zonas mais necessitadas do país,

organizando-as para sua própria defesa.

- Efetivação do controle e erradicação do narcotráfico;

- Continuação da aplicação das normas e princípios dos direitos humanos

por parte das Forças de Ordem do Estado; e

- Que o Estado assuma a subversão como um problema social, produto da

grave situação que vive o país nas últimas décadas.

- Em qualquer situação de crise ocasinada pelos terroristas é necessário

considerar particularmente duas alternativas de solução: Pacífica e Militar.

- Não se deve ceder à extorsão ou a chantagem que seja imposta pelos

terroristas.

- Necessário se faz poder contar pernamente com uma força de intervenção

altamente capacitada para seu empregada em caso de emergência.

- As ações terroristas são imprevisíveis, já que podem se manifestar em

qualquer circunstância, tempo ou lugar, empregando meios que vão desde mais

simples até os mais engenhosos.

- De particular importância contar com uma inteligência preditiva e altamente

eficiente (antecipando-se aos fatos).

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9 CONCLUSÕES

- A particularidade desta operação e os fatores que contribuíram para o êxito

desta operação de resgate se deveram pela: estratégia utilizada pelo Governo que

permitiu que se tivesse o tempo necessário para a escavação dos túneis

subterrâneos; o profissionalismo do pessoal das Forças Especiais; a ingenuidade

dos terroristas; e a vontade dos países que como Cuba ofereceram asilo aos

terroristas;

- Durante o processo de negociação poderia ter acontecido, que os

terroristas acreditassem que não estavam fazendo nenhum progresso através do

processo de negociação prolongado, elevando-se as tensões e pondo em risco a

segurança da operação e dos reféns. Porém, a Operação Chavín de Huántar teve

pleno êxito e foi um exemplo de uma operação de resgate, utilizando-se dos quatros

princípios para um resgate: Inteligência, Surpresa, Habilidade do Operador e

Engano, que trata de tais fatos:

- A paciência do Estado com os terroristas, esperando realizar o resgate logo

que os terroristas chegaram ao seu limite e assim cometeram erros táticos;

- Esta operação é uma ilustração perfeita da vantagem de que prolongando

o processo de negociações se ganha tempo, se desgasta os terroristas e

desenvolve um plano de resgate que pode ser executado no momento adequado;

- O presidente Fujimori nunca negociou com os terroristas. Nunca lhes deu a

idéia que iria libertar os presos que a solicitavam. Até o dia anterior a incursão;

O MRTA acreditava que tinha a vantagem, quando realmente era tudo ao

contrário;

- Fujimori manipulou a confiança até o ponto que se julgou ter o êxito da

incursão; e

Na operação de resgate dos reféns, buscou-se deter e prender os

terroristas, evitando que muitos reféns morressem.

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REFERÊNCIAS

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